PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
Luta
de Classes Proletária e Governos de Colaboração de Classes
na
Alemanha da Virada do Século XX
Na Disjuntiva:
Assembléia Nacional Constituinte Apoiada em Órgãos de Poder Proletário Rumo ao
Socialismo Democrático
Ou Órgãos de Poder
Proletário na Construção da Ditadura Revolucionária Democrático-Proletária Para
a Instituição de uma Sociedade Socialista Sem Classes
Fundamentos
Históricos Para uma Análise da Política Stalinista de Frente Popular
EMIL
ASTURIG VON MÜNCHEN
PORTAU
SCHMIDT VON KÖLN
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
Fevereiro de 2002
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ÍNDICE
À Guisa de Introdução
O Alvoroço do “Bloco Histórico Trotskysta-Gramsciano-
Altamira-Coggioliano”
do PO / PTS / MAS / MTS / CS à luz dos Elementos Político-Estratégicos
da Luta Revolucionária da Argentina de 2001-2002 em face das Perspectivas da
Revolução Proletária Alemã de 1918-1919 na disjuntiva : Assembléia Nacional
Constituinte apoiada em órgãos de poder proletário rumo ao socialismo
democrático ou órgãos de poder proletário na construção da Ditadura
Revolucionária Democrático-Proletária para a instituição de uma sociedade socialista
sem classes
Capítulo I.
O Partido Social-Democrático
da Alemanha (SPD) na virada do século XX
e o Marxismo Revolucionário
Capítulo II.
Lênin e Luxemburg : Duas Concepções
Marxistas no Movimento Proletário-Revolucionário Europeu do Início do Século XX
II.1.
A Questão Organizativa do
Partido Revolucionário
II.2.
Acerca do Imperialismo
II.3.
A Questão Militar da Revolução
Proletária
II.4.
O Direito de Auto-Determinação
das Nações Oprimidas
II.5.
Em Face da Questão da
Assembléia Nacional Constituinte
Capítulo III
I Guerra Mundial do
Capitalismo Imperialista e a Paz Civil
Capítulo IV
Ascenso Revolucionário de 1918-1919
: A Reorganização do Movimento dos Trabalhadores Alemães e o Surgimento de um
Governo Aparente dos Trabalhadores
Capítulo V
O Congresso Geral dos
Conselhos de Trabalhadores e Soldados : Assembléia Nacional Constituinte ou
Impulsão dos Órgãos de Poder Proletário
Capítulo VI
A Fundação do Partido
Comunista da Alemanha (KPD) sob o signo da ascensão de Karl Radek : Diferenças
de Matizes Políticos entre Liebknecht e Luxemburg no Quadro da Greve Geral de
1919
Capítulo VII
A Constituição Jurídico-Normativa
do Socialismo Democrático : Constituição Menos Democrática e Mais Socialista,
ainda que resultante não de um Socialismo Superpoderoso, porém Renovado ...
À Guisa de Conclusão
À GUISA DE INTRODUÇÃO
O ALVOROÇO DO
“BLOCO HISTÓRICO TROTSKYSTA-GRAMSCIANO
ALTAMIRA-COGGIOLIANO”
DO PO / PTS / MAS /
MTS / CS
À LUZ DOS ELEMENTOS
POLÍTICO-ESTRATÉGICOS
DA LUTA
REVOLUCIONÁRIA DA ARGENTINA DE 2001-2002
Foi nos idos da turbulenta alvorada do século XX, porém, que se
estruturou um núcleo “ácido” de marxistas revolucionários
proletários, em território europeu, o qual, sofregamente interessado em “mover-se
em direção da classe trabalhadora” e progressivamente em amadurecimento
revolucionário - não, porém, sem alguns pontos
movediços e arenosos –, entendeu a necessidade imperiosa de e logrou contribuir
para preservar-se a doutrina proletário-emancipadora mais genuína, fundada em
uma concepção rigorosamente dialético-materialista, contra os ensaios
“desapiedados e frívolos” dos revisores e corretores do pensamento de Marx
e Engels de sua época :
“Nós, marxistas, entendemos
sob o conceito de Estado não meramente uma organização de seres humanos que se
encontram ligados pela descendência, pela nacionalidade ou pelo local de
residência.
Em nossa concepção, o Estado
pressupõe, antes de tudo, o fato de que, no interior das organizações de seres
humanos, existem diversas camadas que possuem interesses distintos.
No conceito de Estado, já está
incluído o conceito de Justiça de Classe. ...
Poder-se-ia perguntar : por
que a maioria não se apropria, simplesmente, da posse da minoria ?
Porém, sabemos que, em certos
períodos da história, é necessário – e, até mesmo, é uma lei natural – o fato
de que uma maioria seja governada pela minoria, no interesse continuado
desenvolvimento da humanidade.
Assim, também o capitalismo
foi algo inteiramente útil para o continuado progresso da humanidade, não tendo
sido, pois, criado por uma invenção demoníaca de homens maliciosos, senão
surgiu como uma necessidade do desenvolvimento econômico.
E apenas sobre suas ruínas
podemos continuar a construir.”[1]
Em face das alegativas de celebrizados revisores, amargamente críticos das
concepções insculpidas no Manifesto do Partido Comunista, de Marx
e Engels, alegativas essas lançadas enquanto suposta alternativa para “mover-se
em direção da classe trabalhadora” ... -, em face de argumentos de que
os movimentos adotam uma série de reinvindicações e alternativas programáticas
– o que é positivo e importante – porém, “falta-lhes uma compreensão teórica da
natureza da evolução do sistema imperial” ... -, em face das instâncias
de homens “frívolos e desapiedados”, imunizados, genialmente, de todo “sentimentalismo
filistino”, de que uma das questões que ainda restaria por
solucionar-se seria “a desunião dos movimentos urbanos e rurais ...”, posto que os
movimentos existentes juntos, se estivessem unificados em um só movimento
coerente, estariam mais próximos de “disputar o poder estatal”[2] ... -, a acidez dos “marxistas”,
envelhecidos, porém vivificados, nas páginas de 1848, contestava,
argutamente, o velado pano de fundo deshistoricizado de tais objeções,
fundando-se em sua larga experiência fática de lutas fracionais impiedosas,
deflagradas implacavelmente contra todos os revisores, glosadores,
remendadores, corretores e pretensos atualizadores “da verve de Marx e Engels e de
sua celebraçao acrítica do potencial revolucionário do desenvolvimento das
forças de produção”:
“«Já não reconheço mais nenhum Partido. Reconheço apenas alemães. » - essa sentença enganosa foi colocada no
início da Guerra Mundial ...
« Já não reconhecemos mais diferentes Partidos
Socialistas. Reconhecemos apenas socialistas », assim soa essa sentença no
final da Guerra Mundial.
A bandeira de uma nova Paz Civil encontra-se
eriçada ...
E, novamente, aí estão em disputa os que gritam
mais alto, os Scheidemann e consortes ...
Porém, nem toda “unidade” fortalece.
A unidade entre o fogo e a água apaga o fogo e
volatiza a água.
A unidade entre o lobo e o cordeiro entrega o
cordeiro ao lobo para ser devorado.
A unidade entre o proletariado e as classes
dominantes sacrifica o proletariado
A unidade com traidores significa derrota ...
Podemos nos unificar com aqueles que não são senão representantes dos
exploradores caplitalistas, vestidos de socialistas ?
Podemos e estamos autorizados a ligar-nos a eles, sem nos tornarmos
culpados por seus golpes ? ...
As massas trabalhadoras são os executores da
revolução social.
A consciência clara, o conhecimento claro de
suas tarefas históricas, a vontade clara de seu cumprimento são as qualidades
sem as quais elas não podem realizar sua obra ....
Apenas a partir da crítica mais implacável, pode
surgir a claridade.
Apenas a partir da claridade, pode surgir a
unidade.
Apenas a partir da unidade na ideologia, no
objetivo e na vontade, pode surgir a força de criação de um novo mundo do
socialismo.”[3]
Nesse cenário de profundas disputas ideológicas e partidárias,
procurando, desesperadamente, fundar-se na defesa aguerrida e heróica das
concepções fundamentais de Marx e Engels – expostas ao tufão
das epidemias sociais-revisionistas e centristas-oportunistas de construção das
“novas
teorias da ação revolucionária” -, como forma de mover-se em direção
da classe trabalhadora, em sentido efetivamente socialista-revolucionário – e
não filo-oportunista -, preocupados, sim, em reunir, solidamente, os homens que
manejariam as armas para assestar um golpe efetivamente mortal ao capitalismo –
não o fazendo com contemporização de dualidade de poderes das classes sociais
inconciliavelmente antagônicas -, com vistas a ser materialmente possível a
edificação de uma República Socialista Livre da Alemanha, viram-se forçados os
revolucionários marxistas do proletariado alemão a enfrentar a voracidade da
tempestade insurrecional dos anos 1918 e 1919.
Essa Unwetter, esse thunderstorm, foi
marcado pelos mais perversos estratagemas colocados em prática por um Estado
burguês-imperialista e seus colaboradores, vestidos em trajes socialistas, na
luta desesperada contra o massacre e o extermínio, sem trégua e sem armistício,
do movimento socialista-revolucionário, proletário e internacionalista, mais
poderoso que a Europa continental havia, até então, conhecido.
O cenário para essa degola selvagem encontrava o seu palco de exibição
nas ruelas e nos becos, nas avenidas e nos prédios, nos emaranhados de pedra e
de cimento, das mais importantes cidades de um dos principais bastiões do
imperialismo capitalista do início do século XX : o II Império
da Alemanha.
“Uma dificuldade que possui a direção da luta de
rua é condicionada pelo caráter da cidade, por seu plano urbanístico e por suas
características arquitetônicas.
Para os que não estão familiarizados com a
cidade, surge essa última como um gigantesco amontoado de pedras de construções
e prédios irregularmente imbricados, tal como um labirinto de ruas, ruelas,
praças etc., no interior das quais torna-se inconcebível quaisquer tipos de
ações planejadas de luta e onde tudo tem de permanecer reservado à
improvisação, ao poder do acaso.”[4]
Se o Deus Marte, sedento de sangue, lograsse derrotar,
devastadoramente e no menor espaço de tempo, o ascenso revolucionário
proletário dos focos de combate indômitos, entrincheirados nas cidades
altamente industrializadas do país de trânsito por excelência para o Leste
Europeu, muitas melhores chances possuiria uma ofensiva
contra-revolucionária imperialista arrasadora, deflagrada contra a República
Socialista Soviética da Rússia, comandada, desimpedidamente, pelos Exércitos
Brancos de diversos Estados burgueses-imperialistas, em colaboração até
mesmo com os Freikorps da Alemanha :
“Esse dia, em que aqui se
reuni o I Congresso dos Conselhos dos
Trabalhadores e Soldados, possui significado histórico.
A primeira tarefa do Congresso
é a de proteger a revolução, derrotando a contra-revolução. ...
Momentaneamente, não temos, na
Alemanha, uma República Socialista, mas sim uma República Capitalista.
A República Socialista deve
ser instaurada apenas pelo proletariado, mediante a luta contra o Governo atual
que se tornou o portador do capitalismo.
Exigimos do Congresso que ele tome em suas mãos
o inteiro poder político, visando à implementação do socialismo, não
transferindo seu poder a uma Assembléia Nacional, que não representaria o órgão
da revolução.
Exigimos do Congresso dos
Conselhos que ele estenda a mão aos nossos irmãos russos, conclamando os
delegados da Rússia a aqui comparecerem.
Queremos a Revolução Mundial e
a unificação dos proletários de todos os países, consagrada entre Conselhos de
Trabalhadores e Soldados.”[5]
Eis a orientação política, brilhantemente sintetizada e energicamente
defendida, em discurso público, por Karl Liebknecht, perante as massas
berlinenses que se acotovelavam nas ruas da cidade, no dia 16 de Dezembro de 1918,
data da abertura dos trabalhos do I Congresso dos Conselhos de Trabalhadores e
Soldados da Alemanha, a partir da Sacada do Edifício da Assembléia Estadual, em
face da disjuntiva que postulámos como sub-título da presente investigação : Assembléia
Nacional Constituinte, apoiada
em órgãos de poder proletário, rumo ao Socialismo Democrático ou órgãos de
poder proletário, na construção da Ditadura Revolucionária
Democrático-Proletária, visando à instituição de uma sociedade
socialista, sem classes e sem Estado.
Acerca do significado efetivamente social-colaboracionista da consigna
de Assembléia
Nacional Constituinte, sustentada sobre órgãos de poder proletário, Karl
Liebknecht ainda teve oportunidade de ressaltar, em 15 de
janeiro de 1919, no último dia de vida de suas espetaculares lutas
proletário-marxistas[6], já inteiramente acificado
por sua sólida e brilhante defesa dos mais legítimos interesses do proletariado
mundial, em sua luta inconciliável pela derrubada violenta da exploração e da
dominação burguesa-imperialista, em prol da tomada militarmente orquestrada de
todo o poder de Estado em mãos proletárias :
“ « Ataque geral contra
Spartakus ! Abaixo os spartakistas ! », uivam através dos becos. « Agarrem, torturem, apunhalem,
transpassem, atropelem, fritem os spartakistas na gordura !»
Horrores estão sendo
perpetrados que obscurecem aquelas barbaridades belgas, empreendidas pelas
tropas alemãs.
«Spartakus está derrotado »,
clamam, com júbilo, do prédio dos Correios até o do “Vorwärts (Avante) (obs.:
prédio esse o do órgão jornalístico da Social-Democracia Alemã (SPD)” .
« Spartakus está derrotado » !
E os sabres, e os revólveres e
as carabinas da velha polícia germânica, reconstituída, juntamente com o
desarmamento dos trabalhadores revolucionários, selarão sua derrota. « Spartakus
está derrotado » !
Sob as baionetas do Coronel Reinhard, sob as
metralhadoras e canhões do General Lüttwitz, devem ser realizadas as eleições
da Assembléia Nacional – um plebiscito para o Napoleão Ebert. « Spartakus está derrotado » !
Sim, Senhor ! Os trabalhadores
revolucionários de Berlim foram batidos !
Sim, Senhor ! Massacrados às
centenas como bestas !
Sim, Senhor ! Lançados no
cárcere, estão várias centenas de seus mais fiéis !
Sim Senhor ! Foram batidos.
Posto que foram abandonados
pelos marinheiros, pelos soldados, pelas tropas de segurança, pelas guardas
populares, com cujo auxílio eles haviam contado firmemente.
E suas forças foram
paralisadas, mediante a irresolução e a fraqueza de sua direção.
E a monstruosa torrente de
lama contra-revolucionária das partes atrasadas da população e das classes
possuidoras dragaram-nos.
Sim, Senhor, foram batidos. E
havia de ser um mandamento histórico que fossem batidos. Pois, o tempo ainda
não estava maduro.
E, sem embargo – a luta foi
inevitável.
Pois, entregar, sem combate, a
Central de Polícia, esse palácio da revolução, a Eugen Ernst e a Hirsch, seria
uma derrota degradante.
A luta estava imposta ao
proletariado pelos bandos de Ebert e, de modo elementar, o proletariado gritou
a partir das massas de Berlim – superando todas as dúvidas e ponderações.
Sim, Senhor ! Os trabalhadores
revolucionários de Berlim foram batidos.
E os Ebert-Scheidemann-Noske
venceram.
Venceram, pois o generalato, a
burocracia, os latifundiários, de pele e osso, os padres e os sacos de dinheiro
e tudo que é atrasado, limitado, sectário, estava do lados deles. E venceram
com tiros, bombas de gás e morteiros.
Porém, há derrotas que são
vitórias. E há vitórias que são mais implacáveis que as derrotas. Os vencidos
da semana sangrenta de janeiro impuseram-se gloriosamente. Eles disputaram por
grandes coisas : pela linha mais preciosa da humanidade sofredora, pela
redenção espiritual e material das massas famintas, derramaram seu sangue
sagrado que, desse modo, foi santificado.
E das gotas desse sangue,
dessas sementes de dragão para as vitórias de hoje, ressurgirão as vinganças
dos caídos, de cada fibra dilacerada, novos lutadores da elevada causa que é
eterna e imperecível, tal como o firmamento.
Os derrotados de hoje serão os
vencedores de amanhã ...
Ainda não está encerrado o
caminho de Gólgata da classe trabalhadora alemã, porém o dia da emancipação
aproxima-se. O dia do Tribunal dos Ebert-Scheidemann-Noske e dos poderosos
capitalistas, os quais ainda hoje escondem-se atrás daqueles. As ondas dos
acontecimentos batem na altura dos céus : estamos acostumados a ser lançados da cumeeira ao abismo.
Porém, nosso navio segue seu
curso direto, firme e orgulhoso, rumo ao
seu objetivo. E se ainda, então, vamos viver quando isso for alcançado ?
Vivamos nosso programa ! Ele dominará o mundo da humanidade
emancipada.
Apesar de tudo !”[7]
Sem embargo, na grandiosa história de luta em prol do socialismo sobre o
solo da Alemanha, esse lendário e relevantíssimo congresso proletário que
insinuava irromper suas portas à instauração de uma República Socialista, fundada
pelos trabalhadores e soldados revolucionários, tomando todo poder político em
suas mãos, não transferindo nenhum átomo de suas atribuições jurídico-políticas
a uma Assembléia Nacional Constituinte, deflagrando, pelo contrário,
uma luta encarniçada contra o Governo Provisório de Coalizão,
formado no quadro de negociações eminentemente burocráticas e ilegítimas
travadas entre o Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), representado por Ebert,
Scheidemann e Landsberg, e pelo Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha (USPD), encabeçado por Kautsky, Haase e Bernstein, esse
congresso de trabalhadores e soldados haveria de avalizar precisamente a
fórmula antagônica às posições defendidas aguçadamente pelo mais intrépido e
ousado dirigente revolucionário-marxista do proletariado alemão desses dias : por
400 votos a 50, a posição favorável à convocação imediata de eleições
para uma Assembléia Nacional Constituinte, a realizar-se em 19 de
janeiro de 1919, bem como por 344 votos a 98, a rejeição
categórica da convocação imediata de um novo Congresso dos Conselhos.[8]
“Art. 165. Os trabalhadores e
empregados devem atuar, em comunidade com os empresários, e com igualdade de
Direitos, na regulação das condições salariais e de trabalho, bem como no
desenvolvimento econômico conjunto das forças produtivas.
As organizações de ambos os
lados e seus acordos serão reconhecidos para a implementação de seus interesses
sociais e econômicos, os trabalhadores e empregados manterão representações
legais nos Conselhos de Trabalhadores de Fábrica, bem como em Conselhos
Distritais de Trabalhadores de Fábrica, organizados segundo o domínio da
economia, e em um Conselho de Trabalhadores do Império.
Os Conselhos de Trabalhadores
Distritais e o Conselho de Trabalhadores do Império intervêm visando ao
cumprimento das atividades econômicas conjuntas e à atuação na execução das
Leis de Socialização, conjuntamente com as representações dos empresários e
demais círculos populares participantes, em Conselhos Econômicos Distritais e
em um Conselho Econômico Imperial.
Os Conselhos Econômicos
Distritais e o Conselho Econômico Imperial devem ser conformados de modo que
todos os grupos profissionais importantes sejam neles respectivamente
representados, em seu significado econômico e social.
Os projetos de lei
político-sociais e econômicos de significado fundamental devem ser apresentados
pelo Governo do Império, antes de sua introdução, ao Conselho Econômico do
Império para parecer.
O Conselho Econômico do
Império tem o Direito de requerer, ele mesmo, tais projetos de lei.
Caso o Governo Federal não
lhes autorize, deve, apesar disso, apresentar tais projetos ao Parlamento do
Império, com a exposição de seu ponto de vista.
O Conselho Econômico do
Império pode mandar representar o projeto mediante um de seus membros, diante
do Parlamento do Império. Podem ser transferidos aos Conselhos de Trabalhadores
e da Economia atribuições de controle e de administração, nos domínios que lhe
forem repassados.
Regular a construção e as
tarefas dos Conselhos de Trabalhadores e da Economia, bem como sua relação para
com outras corporações sociais auto-administrativas, é matéria que pertence
exclusivamente ao Império.”
“Art. 181. O povo alemão
resolveu e decidiu essa Constituição através da Assembléia Nacional.
Ela entra em vigor no dia de
sua promulgação.”[9]
Eis aí, nesses dois artigos normativos da Constituiçao de Weimar, promulgada,
a seguir, no dia 11 de agosto de 1919 – há praticamente oito meses depois do
discurso público de Karl Liebknecht retro-referido -, até onde pôde chegar a
expressão mais elevada do mais disforme mostrengo político, produto do mais
desbragado conciliacionismo de poderes de classes, protagonizado pelos
frente-populistas, dualistas-colaboracionistas, que a história contemporânea de
todo o mundo teve a oportunidade de conhecer.
Esse prodígio resultante da defesa preambular de uma orientação política
de Assembléia
Nacional Constituinte, livre e soberana, escorada sobre e legitimada
por órgãos de luta de massas, tais como conselhos (verbi gratia : assembléias)
de trabalhadores e soldados piqueteiros, fortalecidos através de greves gerais
e de massas, encontra-se plasmado, no documento constitucional acima citado,
mediante a força vinculante de normas jurídico-positivas consagradoras de um
suposto “Socialismo Democrático”, edificado após o fim da I
Guerra Imperialista Mundial, no quadro da República de Weimar, por
obra e arte da Social-Democracia Alemã (SPD), dirigida, então, por Friedrich
Ebert e Philipp Scheidemann, em conluio com seus mais legítimos aliados
políticos, entre os quais se descataram Karl Kautsky, Rudolf Hilferding e Eduard
Bernstein.
Da investigação desse tema histórico-político, dedicar-nos-emos, mais
adiante, no curso do presente estudo.
Entretanto, cumpre assinalar, desde logo, à
guisa de introdução, que os fenômenos históricos, avançando tal como uma espiral
cronológica, não dogmaticamente delineada, de antemão, por seus diversos
protagonistas sociais e políticos, reproduzem, reiteradamente, também outros Quasímodos democrático-socialistas, outros
atentados teóricos, políticos e históricos perpetrados contra a longa e
encarniçada, acirrada e sangrenta, luta de libertação do proletariado explorado
e de seus aliados socialmente oprimidos.
Foi, assim, que Antonio Gramsci, ao colocar de cabeça para baixo a concepção
dialético-materialista de Marx e
Engels, Lênin e Trotsky, em seus fundamentos mais essenciais,
desfigurou-a, distorceu-a, deturpou-a, deformou-a, do modo mais completo e
radical, sobretudo por menosprezar e renegar, desde seu prisma de análise
idealista-subjetivista, a importância decisiva e cardeal da imprescindibilidade
da violência revolucionária do proletariado hegemônico em sua missão histórica
de despedaçar o Estado Burguês
e edificar a Ditadura Revolucionária
do Proletariado, incorporadora da mais ampla e historicamente superior Democracia Proletária.[10]
Já tivemos a oportunidade de assinalar,
alhures, que a concepção de hegemonia
do proletariado de Gramsci encontrou sua mais eminente consagração nas Teses de Lyon do Partido Comunista
Italiano(PCI), redigidas em janeiro de 1926, enquanto produto da obra
intelectual conjunta de Antonio
Gramsci e Palmiro Togliatti
(Ercoli).
Tais teses nada mais fizeram senão ratificar
a validade da famosa palavra de ordem anti-monárquica, de natureza supostamente
democrático-intermediária, que já ordenava toda a intervenção do PCI, desde o assassinato do
deputado socialista Giacomo
Matteotti, em 1924 : Assembléia
Republicana Constituinte, apoiada nos Comitês de Operários e Camponeses
ou, por assim dizer, em Assembléias
Operárias e Camponesas.
Gramsci e Togliatti alegaram,
à época, conceber esses comitês operários e camponeses como instrumentos de
mobilização das massas e embriões de sovietes em face da ditatura fascista de Benito Mussolini.[11]
Extraordinariamente atento ao tema, Trotsky teve a oportunidade de assinalar,
entretanto, já mesmo em novembro de 1929 :
“No que concerne à direção oficial do Partido Italiano, não tive a
oportunidade de observá-la senão a partir do Executivo da Internacional, na
pessoa de Ercoli (i.e. Palmiro Togliatti).
Dotado de uma espírito de adaptação e de um bom palavreado, Ercoli é
adequado (não se poderia dizer melhor) para os discursos de um procurador ou de
um advogado, acerca de um tema de encomenda e, de modo geral, para executar
ordens. ...
A propósito, não é Ercoli que tenta adaptar à Itália a idéia de “ditadura democrática do proletariado e dos
camponeses”, sob a forma de uma palavra de ordem de assembléia constituinte,
apoiada sobre uma assembléia operária e camponesa.
Nas questões acerca da URSS, da Revolução Chinesa, da Greve Geral da
Inglaterra, da Revolução da Polônia e da luta contra o fascismo italiano,
Ercoli, como também outros dirigentes de formação burocrática, adota,
inevitavelmente, uma posição oportunista para, depois, eventualmente, a seguir,
retificá-la, mediante aventuras de ultra-esquerda.
Parece que, atualmente, trata-se precisamente da estação do ano dessas
aventuras.” [12]
Em maio de 1930, regressando ao mesmo tema, Trotsky, então, observou, incisivamente,
fornecendo um ensinamento histórico inolvidável para as futuras gerações de
marxistas-revolucionários :
“A Assembléia Republicana
constitui, inegavelmente, um organismo do Estado Burguês.
O que são, pelo contrário, os
Comitês Operários e Camponeses ?
É evidente que, de alguma forma, são um equivalente dos Sovietes de
Operários e Camponeses. ...
Como é possível, nessas
condições, que uma assembléia republicana – órgão supremo do Estado Burguês –
tenha como base organismos do Estado Proletário.”[13]
Nesse mesmo sentido, é igualmente
indispensável ter-se sempre presente, a forma segundo a qual Lênin sintetizou sua concepção
acerca da problemática da consigna de Assembléia
Nacional Constituinte, quando se a pretende unificar, fundar, apoiar
em órgãos de poder proletário,
tal como exsurge das Teses e
Exposição acerca da Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado, de
4 de março de 1919 :
“A mais completa bancarrota dos socialistas que se reuniram em Berna
(obs.: Lênin refere-se aqui aos socialistas da Internacional Amarela, Kautsky,
Hilferding, Martov, Longuet, Turati, Branting etc.), sua mais completa
incompreensão para a nova, i.e. para a Democracia Proletária, pode ser atestada
no seguinte :
Em 10 de fevereiro de 1919, Branting declarou encerrada a Conferência
Internacional da Internacional Amarela, em Berna.
Em 11 de fevereiro de 1919, seus participantes publicaram, em Berlim, no
jornal “A Liberdade” um apelo do Partido dos “Independentes” ao proletariado.
Nesse apelo aceita-se o caráter burguês do governo Scheidemann,
acusa-se-o de querer eliminar os Conselhos (Räte), que são chamados de
portadores e guardiães (Träger und Schützer) da revolução, e formula-se a
proposta de legalizar os Conselhos (Räte), conferindo-se-lhes Direitos de
Estado, dando-se-lhes o Direito de Impugnação contra as decisões da Assembléia
Nacional, com o efeito de ter de decidir um plebiscito nacional.
Uma tal proposta desmascara a total falência ideológica dos teóricos que
defendem a democracia e não entenderam seu caráter burguês.
A tentativa ridícula de unificar o Sistema dos Conselhos, i.e. a Ditadura do Proletariado, com
a Assembléia Nacional, i.e. a Ditadura da Burguesia, desvenda, definitivamente, às forças incessantemente crescentes da nova
Democracia Proletária, tanto a pobreza de espírito dos Socialistas Amarelos e
dos Sociais-Democrátas e sua essência politicamente
reacionário-pequeno-burguesa quanto suas concessões medrosas(p. 479)...
Nos primeiros oito meses da Revolução Russa foi por demais discutida a
questão da organização dos Sovietes.
Para os trabalhadores não estava claro no que consistiria o novo sistema
e se seria possível fazer dos Conselhos um aparelho de Estado.
Procedemos em nossa revolução de modo prático e não teórico.
A questão da Constituinte, p.ex., não a havíamos colocado, teoricamente,
antes.
Não havíamos dito que não
reconhecíamos a Assembléia Constituinte.
Apenas depois, i.e. depois de que as organizações soviéticas se
espalharam por todo o país e conquistaram o poder político, apenas então
ocupamo-nos de desbaratar a Constituinte(p. 486).”[14]
Na cadeia dos mais contraditórios portentos histórico-políticos, está
cumprindo, porém, ao Partido Obrero
(PO), encabeçado por Jorge
Altamira, Pablo Rieznik e Osvaldo Coggiola – esse último o corifeu trotskysta-gramsciano
da América Latina -
e aos seus aliados universalmente democráticos do PTS, do MAS, do MTS, da CS e
seus seguidores[15],
protagonizarem a atualização temporal consistente em tentar adaptar à Argentina dos Cacerolazos, nos
primeiros anos da alvorada do século XXI, em meio à tempestade de um imenso “Argentinazo”, a concepção
social-colaboracionista e idealista-gramsciana de defender – como forma de
contemporização de poderes antagônicos de classes sociais – a instituição de
uma Assembléia Constituinte, apoiada
sobre Assembléias Nacionais Piqueteiras e Populares, enquanto órgãos de luta de
massa e da greve geral.
Nesse sentido, Jorge Altamira
dirigiu-se ao Presidente da
Legislatura Burguesa de Buenos Aires clamando ingentemente pelo
seguinte :
“Una Asamblea Popular Constituyente, que exprese a la voluntad soberana
del pueblo y, en esa medida, se convierta en el ámbito apropiado para discutir
y resolver los problemas que interesan a la población trabajadora y comience a
reorganizar integralmente a la Ciudad sobre nuevas bases sociales.”[16]
Para isso,
declarou expressamente Altamira :
“La
Legislatura tiene la oportunidad de encabezar este proceso político de
renovación.
Si fuera capaz de dar ese paso *aún tardíamente por
relación a la vorágine con que se están precipitando los acontecimientos*
tendría reservado un lugar en la historia.
De lo contrario, como ha pasado con otras
instituciones anacrónicas, será presa de esos acontecimientos y será devorada
por los mismos.”[17]
E,
conclusivamente, em seu Proyecto de Ley, apresentado à Legislatura
Burguesa de Buenos Aires, submeteu Altamira à aprovação dessa última os
seguintes artigos de lei, referentes à convocação por ela mesma, no prazo de 45
dias, de uma Assembléia Constituinte, sendo que, até o advento dessa
convacação, Altamira reivindicou a formação de um “governo colegiado, integrado por
representantes de todos os blocos parlamentares da ex-legislatura da cidade”, i.e.
a formação de mais um organismo inequivocamente burguês, um governo burguês
provisório de frente-popular :
“PROYECTO DE LEY
Articulo 1º. Se convoca a una Asamblea Constituyente en el ámbito de la Ciudad de
Buenos Aires en un plazo máximo de 45 días. Esta Asamblea asumirá el
gobierno general de la Ciudad, sustituyendo a los actuales poderes Ejecutivo y
Legislativo.
Articulo 2º. Hasta la asunción de la Asamblea Constituyente, se constituye un
gobierno colegiado integrado por representantes de todos los bloques
parlamentarios de la ex Legislatura de la Ciudad, en sustitución del poder
Ejecutivo y de la Legislatura de la Ciudad de Buenos Aires.
Artículo 3º. Comuníquese.”[18]
Desse modo, o Partido Obrero (PO) julgou acertado empreender, além de
tudo, uma grande inovação histórica, situada no campo da mais extrema
deformação da tradição marxista-revolucionária : a secularmente conhecida e
típica consigna de conciliação dos paradoxos dialéticos em destaque,
reivindicadora de um status supostamente democrático-intermediário
transicional, haveria de ser postulada e defendida, ostensivamente, mesmo em um
contexto de luta dirigido para a derrubada não de uma ordem monárquico-imperial
ou manifestamente fascista, mas sim de um regime democrático-burguês.
A inovação estrambótica da orientação
dualista-contemporizadora em tela reinvidica constituir-se, portanto, em
patrimônio original e intransferível do Partido
Obrero (PO), no marco de sua revisão do marxismo-revolucionário, desde
a perspectiva das lentes dos óculos do social-conciliacionismo dos organismos
de poder das classes sociais antagônicas, no sentido mais próprio do gramscismo subjetivista.
O percurso que “elevou” Jorge
Altamira ao “trotskysmo
gramscista” já procuramos desvendar aos leitores em outra sede, há
algum tempo atrás, e tal fenômeno extraordinário de manifesta involução
ideológica – a despeito de possuir sua profunda importância para o atual
processo revolucionário em curso na Argentina
– não será, porém, objeto central da presente investigação.[19]
Assinale-se, apenas, que, tanto em sua
intervenção oral no II Fórum Social
Mundial de Porto Alegre, como nas mais diversas publicações jornalísticas
das “Tapas de Prensa Obrera”, surgidas
já segundo a temperatura do levante das massas argentinas de dezembro de 2001,
exprimiu-se, fática e documentalmente, o Partido
Obrero (PO) defendendo, ostensivamente, a malsinada orientação
político-estratégica dualista-contemporizadora, social-colaboracionista, acima
referida, consistente em tentar conciliar as atividades de um órgão supremo de
um Estado Burguês com organismos revolucionários marcadamente proletários :
“Que se vayan todos”, ya es consigna
nacional.
Por una Asamblea Constituyente libre y
soberana.
Por el desarrollo de las Asambleas
nacionales piqueteras y populares,
como órganos de una lucha de masa y de la
huelga general.”[20]
Eis o que clama, perante os sete céus, a mais
nova edição de Prensa Obrera,
de 28 de fevereiro de 2002.
No editoral do mesmo periódico, o artigo Qué debaten las assembleas populares exprime-se,
ainda mais detalhadamente, acerca da questão, ao desvendar a atual estratégia
estaferma, “trotskysta –gramsciana” ébria,
do Partido Obrero (PO) :
“Asamblea Constituyente
La Asamblea Interbarrial
aprobó por unanimidad la consigna de Asamblea Constituyente. A partir de ese momento el debate sobre el alcance de esta consigna
está lejos de cerrarse.
La consigna de Asamblea Constituyente permite plantear el problema del
poder y la
lucha por el poder en las condiciones concretas de la presente
situación.
Pero, ¿quién convoca a la Asamblea Constituyente?, se preguntan en las
asambleas.
La respuesta es muy sencilla: la convocatoria estará en manos de quien
luche por ella.
Es decir que si las asambleas
populares luchan por la Constituyente y derriban a los gobiernos capitalistas
incapaces de realizarla, van a ser ellas las que tengan la misión de
convocarla.
Luchando por la Constituyente lo que equivale, insistimos, a la única forma
de luchar por el poder en las actuales condiciones, las propias asambleas
populares o piqueteras se convierten en una herramienta de poder de los
explotados.
Los que plantean que el poder
pase ya a las asambleas populares, sin que tengan que luchar por el poder para
la Constituyente, es decir sin acreditar autoridad nacional, organización y
fuerza, no hacen más que propagandismo.
La otra inquietud es si algún
político o partido enemigo es capaz de convocar a la constituyente. La pregunta
expresa el interés por evitar una expropiación del movimiento popular.
Pero la Asamblea Constituyente soberana plantea el derrocamiento del
actual gobierno, en primer lugar, y debe abarcar a todos los poderes del estado
nacional, provincial y municipal.
Los políticos patronales no hablan de Constituyente soberana, porque lo
que quieren evitar es precisamente el derrocamiento del régimen.”[21]
Portanto : a Assembléia Inter-Bairros, por força e impulso do Partido Obrero e seus aliados
universalmente democráticos, veio a ser chamada a dar sustentação e legitimar –
sendo que, de fato, já teria até mesmo aprovado – a falaciosa consigna de
convocação de uma futura, e ainda precisamente imponderável, Assembléia Constituinte, livre e
soberana, organismo jurídico supremo de um Estado Burguês, cujo
funcionamento resultaria, desde logo, reconhecido e sacramentado pelos órgãos de luta de massa e de greve
geral, “si las asambleas populares luchan por la Constituyente y derriban a los gobiernos capitalistas
incapaces de realizarla, ... si algún político o partido enemigo es
capaz de convocar a la constituyente ...”
A Assembléia
Inter-Bairros teria decido, assim, mediante esse ato jurídico-político,
tranferir a uma futura Assembléia
Constituinte, livre e soberana poderes e atribuições legislativas
essencias que, originariamente, repousam em suas próprias mãos.
Acerca da natureza da Asamblea Interbarrial, escreveu, além disso, o MST – UIT en Izquierda Unida, até
mesmo da seguinte forma :
“A partir de diciembre, con los cacerolazos, en muchos barrios de la
ciudad se organizaron asambleas.
La gente quiere participar y decidir por sí misma.
Fue surgiendo la necesidad de coordinar con las otras asambleas para
fortalecer la pelea porque los reclamos centrales son los mismos.
No sólo el corralito, sino los problemas de fondo del país : el plan
económico, qué gobierno hace falta ...
Así empezó a crecer esta Asamblea Inter-barrial, que es una experiencia
totalmente nueva de organización popular para la lucha.
Las que deciden son las asambleas de cada barrio.
Participan pequeños comerciantes, estudiantes, jubilados y trabajadores.
En la última se sumaron los delegados del Hospital Italiano.
La Interbarrial funciona como un ámbito de coordinación, porque los
vecinos quieren debatir propuestas y también resolver acciones concretas.
Nadie quiere imposiciones.
La participación es abierta, pero hablan los representantes de cada
barrio trayendo las propuestas.
Los 70 que nos anotamos hoy representamos cada uno a una asamblea
barrial.
Por razones de tiempo hablamos 25 y después se pasó a votar.”[22]
Cumpre, pois, indagar : o Partido Obrero (PO) e seus
aliados político-estratégicos, em
seu empenho de lutar, em meio aos Piquetes
y Cacerolas, por uma Assembléia
Constituinte, que esteja fundada no desenvolvimento das Assembléias Nacionais
Piqueteiras e Populares, enquanto órgãos de luta de massa e da greve geral
adotam, defendem e operam com que versão de conquista da hegemonia do
proletariado : a versão
dialético-materialista, desenvolvida por Lênin e devidamente concebida por Trotsky, ou a versão
idealista-subjetivista, equacionada por Gramsci, destinada à promoção de um específico social-conciliacionismo
de classes, como forma de capitulação diante dos Estados Burgueses ?
Estaria
o Partido Obrero (PO) e
seus aliados político-estratégicos penetrados da concepção irrevogavelmente
subjetivista-idealista de que o desate da luta impiedosa travada entre classes
dialeticamente antagônicas poderia conduzir a um termo de conciliação dos
opostos materiais, emergindo da história, no quadro da revolta das massas
exploradas e oprimidas, a possibilidade de um equacionamento de vertentes
contraditórias, mediante o surgimento de uma síntese contemporizadora entre o
velho e o novo : a racionalidade retórico-parlamentar vinculante, extraída da
positividade jurídico-estatal de uma Assembléia
Constituinte, tendo na sua base o desenvolvimento dos órgãos de luta de massa e
de greve geral ?
Por força da convocação efetiva de uma Assembléia Constituinte, livre e
soberana, assentada sobre esses órgãos de luta de massa e de greve
geral e incumbida de estabelecer uma nova Carta
Magna Jurídico-Constitucional da Argentina, tornar-se-ia a impulsão da
inevitável e inadiável Revolução
Proletária Latino-Americana e Mundial extraordinariamente mais
dificultosa ou substancialmente mais simplificada?
Essa convocação fortaleceria ou não a
concepção jurídico-constitucional, ilusória e fantasiosa, de que apenas um Parlamento Constituinte, livremente
eleito e soberano, legitimado junto às Assembléias Nacionais Piqueteiras e Populares, estaria
efetivamente autorizado a operar intervenções estatais, severas e implacáveis,
nas relações sócio-econômico-privadas do modo de produção capitalista
remundializado ?
Eis algumas questões para cuja análise o
presente estudo teórico-doutrinário pretende, de algum modo – ainda que
limitada e escassamente – contribuir, ao ter em conta aquela formulação
apresentada por Alícia Sagra, contida
em seu artigo intitulado ¿
Salida Democrática o Salida Obrera ? :
“Un logro del proceso revolucionario es haber hecho reflexionar a las
organizaciones de izquierda que están dando pasos para superar la dispersión
existente.
Se ha formado una Mesa de la Izquierda, de donde surgieron declaraciones
y acciones conjuntas.
Esa nueva realidad permitió que participásemos como bloque de los
enfrentamientos del 20 de diciembre y que enfrentáramos unitariamente a la
patota de Duhalde el 1 de enero....
Si leemos las declaraciones comunes, aparentemente no habría diferencias
en ese aspecto, ya que hablamos de «salida obrera y popular », «gobierno de los
trabajadores », «plan obrero alternativo », llamamos a construir coordinadoras,
asambleas populares, etc.
Pero si vamos a la prensa y al accionar cotidiano de los partidos vemos
que las cosas no son tan así.
Por ejemplo en los periódicos, volantes, pancartas del Partido Obrero,
sin ninguna duda la consigna central no es el gobierno de los trabajadores, ni
las asembleas populares, sino la Asamblea Constituyente.
Ese es planteo que hacen a los nuevos organismos que están surgiendo.
Y esa política, aunque con diferente intensidad, tambiém está siendo
asumida por el MST, Izquieda Unida, y el PST.
Por eso decimos que a nivel de la Izquierda no está claro si la salida
central planteada (para ahora, no para un futuro incierto) es obrera o es
democrática.”[23]
CAPÍTULO I.
O PARTIDO SOCIAL-DEMOCRÁTICO DA ALEMANHA (SPD)
NA VIRADA DO SÉCULO XX
E O MARXISMO-REVOLUCIONÁRIO
Antes da irrupção da I Guerra Mundial Imperialista, o
movimento dos trabalhadores alemães era o mais poderoso do mundo e servia de
paradigma para muito partidos socialistas.
No último congresso do Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD),
realizado na cidade de Jena, em 1913, nas vésperas da
deflagração da conflagração bélica de 1914, esse partido contava com cerca de 1
milhão de membros, 90 jornais diários e conformava, com seus 4 milhões e 250
mil votos obtidos em eleições parlamentares, o maior partido alemão de todos os
tempos.
110 deputados federais, 220 deputados estaduais e 2.886 vereadores
representavam o partido da Social-Democracia Alemã no
parlamento do país.
Os sindicatos associados livremente à Social-Democracia Alemã incorporavam
cerca de 2,5 milhões de trabalhadores e possuíam, sob seu controle, um
patrimônio de cerca de 88 milhões de marcos alemães[24].
Com seu crescimento, o Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD) havia,
entretanto, deformado-se profundamente, sem que isso se tornasse manifestamente
visível e compreensível, à primeira vista, para muitos analíticos políticos.
Com efeito, para o público externo em geral, a Social-Democracia Alemã, herdeira
legítima das tradições revolucionárias de Marx e Engels, seguia representando
um partido autenticamente socialista-revolucionário radical[25].
Nada obstante, tal organismo político havia-se transformado,
efetivamente, em seu interior, em um partido essencialmente social-reformista e
centrista-oportunista que, apoiando-se sobre o proletariado alemão e falando em
seu nome, secundarizava o objetivo de luta revolucionária pelo socialismo em
relação à perspectiva de movimentos em favor da obtenção de reinvidicações
sócio-econômicas imediatas, mediante negociações sindicais e intervenções
políticas junto aos parlamentos.
Os principais dirigentes da Social-Democracia Alemã promoviam,
além disso, a cada nova oportunidade que surgia, a mais integral deformação
oportunista das premissas estratégicas mais fundamentais do
marxismo-revolucionário, com principal destaque para a questão do levante
armado da classe trabalhadora, visando à implosão do Estado Burguês, a
imprescindibilidade de instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado,
incorporadora da mais ampla e historicamente superior Democracia Proletária, bem
como a necessária compreensão do fenômeno da violência revolucionária para a
derrubada da burguesia, enquanto fenômenos de transição inevitáveis para o
atingimento da sociedade socialista.
Já mesmo no Projeto do Programa de Coalizão de Gotha, de 1875, a Social-Democracia
Alemã, rumando para a fusão dos Eisenachianos e Lassalleanos, não
reivindicou absolutamente, em seu “Congresso do Compromisso de Gotha”, ocorrido
entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, a consigna programática da Ditadura
Revolucionária do Proletariado, bem como a indispensabilidade de
destruição armada do aparelho de Estado Burguês pelo proletariado – apesar da
experiência da Comuna de Paris - , mas sim a edificação de um Estado
Popular Livre, a ser introduzido em substituição do então existente Estado
Prussiano, assentado sobre a dominação de classe burguesa-capitalista e
latifundista[26].
Cumpre assinalar,
porém, que a elaboraçao esse Projeto do Programa de Coalizão de Gotha, de
1875 foi em grande parte, inspirada
intelectualmente pelos lassalleanos Johann Baptist von Schweitzer e
Wilhelm Hasselmann, sustentada enfaticamente por Eduard Bernstein[27],
admitida politicamente, apesar de leves e inofensivas críticas, por August
Bebel e Wilhelm Liebknecht – e rechaçada aguda e intrepidamente por Marx
e Engels[28].
Em verdade, cumprira a Wilhelm Liebknecht iniciar, sem o
conhecimento expresso de Marx e Engels, contatos com o dirigente
lassalleano, Wilhelm Hasselmann, representante
da Allgemeine Deutsche Arbeiterverein (Associaçao Geral dos Trabalhadores
Alemaes), de
modo a permitir a elaboraçao do Projeto do Programa de Coalizão de Gotha, de
1875, expressao apodrecida de um amontoado de frases intrincadamente
oportunistas e pensamentos extremamente inconsistentes, empurrados solertemente
para o interior do movimento dos trabalhadores alemaes.
Em sua renomadíssima carta a August Bebel, redigida entre 18 e 28
de março de 1875, Friedrich Engels teve oportunidade de escrever nitida e
irrefutavelmente acerca do tema:
“O Estado Popular Livre transformou-se
em Estado Livre.
Considerando-se em sentido gramatical, um Estado Livre é aquele em que o
Estado é livre em face de seus cidadãos, i.e. um Estado com governo despótico.
Dever-se-ia abandonar todo o palavreado acerca do Estado,
particularmente desde a Comuna que, em sentido próprio, já não era mais nenhum
Estado.
O Estado Popular foi-nos atirado na cara, até não se poder mais, pelos
anarquistas, ainda que os escritos de Marx contra Proudhon e, posteriormente, o
“Manifesto Comunista” digam diretamente que com a introdução da ordem social
socialista o Estado dissolve-se por si mesmo e desaparece.
Uma vez que o Estado é, porém, apenas uma instituição transitória da
qual se lança mão na luta, na revolução, a fim de reprimir violentamente seus
adversários, torna-se puramente absurdo falar-se de um Estado Popular Livre :
enquanto o proletariado ainda necessita do Estado, dele necessita não no
interesse da liberdade, mas sim para a repressão de seus adversários e, tão
logo pode-se falar em liberdade, deixa o Estado de existir enquanto tal.
Por essa razão, proporíamos colocar, em todos os lugares, ao invés de
Estado “Gemeinwesen(comunidade)”,
uma boa e velha palavra alemã que pode muito bem representar a “Comuna”
francesa.”[29]
Em uma carta dirigida a Ferdinand Domela Nieuwenhuis, Karl
Marx, ainda em 1881, dois anos antes de sua morte, teve a oportunidade
de confirmar sua concepção de luta revolucionária do proletariado, no quadro da
perspectiva de formação de um Governo Socialista :
“Não podemos resolver nenhuma
equação que não inclua em seus dados os elementos de sua solução.
Além disso, os embaraços de um
Governo surgido repentinamente através de uma vitória popular não são, de
nenhuma forma, algo especificamente “socialista”. Pelo contrário.
Os políticos burgueses
vitoriosos sentem-se, imediatamente, embaraçados com sua “vitória”, quando o
socialista pode intervir, no mínimo, desembaraçadamente.
Em uma coisa, você pode
acreditar :
um Governo Socialista não
assume o timão de um país sem situações tão desenvolvidas em que possa tomar
sobretudo as medidas necessárias para intimidar (no original alemão : ins
Bockhorn jagen, i.e. lançar no corno do bode) a tal ponto a massa da burguesia
que o primeiro desideratum(i.e. objetivo) seja conquistado : tempo para uma
ação cerrada.
Você me remeterá talvez para a
Comuna de Paris.
Porém, independentemente do
fato de que isso se tratou meramente de uma sublevação de uma cidade, em
condições excepcionais, a maioria da Comuna não era, de nenhuma forma,
socialista e nem podia sê-lo.
Com uma mínima quantidade de
common sense(i.e. de senso comum), ela teria, entretanto, podido alcançar um
útil compromisso para toda a massa popular – atingível apenas outrora.
Tão somente a apropriação do
Banque de France teria colocado, com terror, um fim à arrogância de Versalhes
etc. Etc. ...
A visão científica da
desagregação inevitável da ordem social dominante, sempre em processamento
diante de nossos olhos, as massas cada vez mais flageladas com sofrimentos
pelos velhos fantasmas de governo, o concomitante desenvolvimento positivo,
gigantescamente progressivo, dos meios de produção – isso tudo já basta como
garantia para que, no momento da irrupção de uma revolução realmente
proletária, sejam dadas também as condições de seu modus operandi(i.e. modo de
agir) direto, próximo – ainda que seguramente não idílico.”[30]
Wilhelm Liebknecht logrou, porém, empreender, durante anos,
diversas manobras políticas, visando a impedir que Friedrich Engels desse,
manifesta e sistematicamente, publicidade às suas críticas e às de Marx
contra o Programa de Coalizão de Gotha, de
1875.
Tão somente no início dos anos 90, Engels, opondo-se,
entao, abertamente, às resistências de Wilhelm Liebknecht e de
seus aliados mais estreitos, logrou, finalmente, organizar a publicaçao da Crítica
ao Programa de Gotha, a qual surgiu estampada no Nr. 18, Volume
I, do “Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, dos anos de 1890 e
1891.
Em uma carta dirigida a F. A. Sorge, Friedrich Engels pronunciou-se,
entao, da seguinte forma, contra as reaçoes de desapontamento de Wilhelm
Liebknecht e de seus colaboradores lassalleanos, entre eles,
especialmente Wilhelm Hasselmann :
“Liebknecht está, naturalmente, furioso, posto que toda a crítica foi
cunhada, especialmente, contra ele.
Ele é o pai que, juntamente com o veado pederasta do Hasselmann (no
original : Arschficker Hasselmann, i.e. o Hasselmann, comedor de cú), pariu
esse programa podre ...”[31]
De toda sorte, cumpre ainda recordar, retrospectivamente, que o período
da luta de classes travada na Alemanha que se estendeu de 1878 a
1890 foi marcado, enfática e decididamente, pela vigência da Lei Contra
os Socialistas, em cujo contexto colocou-se à prova as convicções e as
intervenções autenticamente revolucionárias dos militantes da Social-Democracia
Alemã.
A Lei Contra os Socialistas, planejada pelo “Chanceler
de Ferro”, Otto von Bismarck, surgiu, oportunisticamente,
enquanto resposta repressiva ao segundo atentado fracassado contra a vida do Imperador
Wilhelm I, empresa essa por ele atribuída à conta dos militantes da Social-Democracia
Alemã, ainda que não subsistisse qualquer prova judiciariamente cabal
nesse sentido.
Com
efeito, em 11 de maio de 1878, um homem chamado Emil Max Hödel disparou,
pela primeira vez, um velho revólver contra o Imperador Alemão, Wilhelm I sem lograr atingí-lo e – tal como pôde-se
atestar, indubitavelmente, a partir da constituição da arma o caráter e as
declarações do homem desclassificado – sem a séria intenção de promover um
atentado.
Apesar
disso, sua cabeça caiu por debaixo da guilhotina do verdugo imperial.
Todas
as tentativas de fazer de Hödel um
social-democrata não surtiram qualquer resultado.
Em 2
de junho de 1878, um tal Dr. Nobiling,
sujeito depravado, saído de um círculo pequeno-burguês, disparou, então, com
uma espingarda, contra o Imperador Alemão, que passeava nas ruas, conseguindo
ferí-lo.
Também
Nobiling não
possuia nenhuma ligação com a Social-Democracia.
Porém,
já na noite posterior ao atentado, Bismarck,
mandou distribuir, através do Bureau Telegráfico de Wolff, um telegrama, com o seguinte conteúdo,
portando a marca de “oficial” :
«
Berlim, 2 hs. Da madrugada. Na audiência judiciária posterior, Nobiling
reconheceu que ele rende homenagem às tendências sociais-democráticas, tendo
freqüentado, repetidamente, aqui, assembléias socialistas, havendo, desde oito
dias, a intenção de assassinar Sua Majestade o Imperador, porque considerava
ser frutífero para o Bem-Estar do Estado eliminar o Chefe de Estado.»[32]
Com
base nesse telegrama, deu-se início à instauração de uma terrível dominação
contra o movimento dos trabalhadores alemães.
A seguir, Bismarck decretou a dissolução do Parlamento
Alemão e, dinamizando toda a máquina do aparelho do Estado, oficial e
inoficial, composta milhares de policiais e de agentes espiões denunciadores,
convocou novas eleições em um clima de totalitarismo ideológico
anti-socialista, visando à formação de um novo órgão parlamentar que aprovasse
seu projeto de Lei Contra os Socialistas.
Formado nesse contexto de terror de Estado, o novo Parlamento do
Império Alemão empreendeu, em 9 de setembro de 1878, a votação do
projeto de lei formulado por Otto von Bismarck que clamava pela
mais resoluta repressão das aspirações e atividades sociais-democráticas.
Em 21 de outubro do mesmo ano, foi publicada no Diário do Império a
Lei Contra os Socialistas.
Em conformidade com o diploma legislativo em tela, o Parlamento do
Império Alemão conferiu poderes às autoridades policiais estaduais para
:
“proibir associações e ligações de todos os tipos, em particular as
caixas corporativas, como também impressos, que sirvam às aspirações
sociais-democráticas, socialistas ou comunistas, voltadas à subversão da ordem
social e estatal existente em uma forma ameaçadora da paz pública e, em
particular, da harmonia das classes da população.”[33]
Com a lei em destaque, foram proibidas, igualmente, todas e quaisquer
assembléias e editoras de publicações em que se pressupusesse a defesa das
tendências políticas em destaque, todo e qualquer recolhimento de fundos e
contribuições financeiras destinadas à sutentação de ideais de luta, ao mesmo
tempo que todas e quaisquer violações contra os dispositivos da Lei
Contra os Socialistas haveriam de ser reprimidas com pesadas punições
de restrição de liberdade e de ordem pecuniária, deflagrando-se, assim, uma
intensa e odiosa campanha de perseguição contra todos e quaisquer ativistas
proletários.
Nesse contexto, a imprensa e as publicações sociais-democráticas – com
destaque para os seus três jornais de maior circulação, contando com cerca de
45.000 assinantes – foram imediatamente proibidas.
Segundo o historiador revolucionário alemão Fritz Rück, foram,
até 31 de junho de 1879, proibidos, além disso, 317 associações, 5 caixas, 127
jornais e 278 publicações não periódicas[34].
Em novembro de 1878, foi imposto o estado de sítio, sobre a cidade de Berlim,
por ordem de Otto von Bismarck, culminando com o
banimento de dezenas e dezenas de militantes sociais-democráticos[35].
Contando-se a partir do ano de 1878, tal estado sítio perdurou,
rigorosamente, durante o período dos 12 anos subseqüentes, ao longo dos quais Bismarck
procurou, sofrega, porém inutilmente, quebrar a espinha dorsal do
movimento revolucionário-socialista alemão.
Esse último fortaleceu-se, ano após ano, de eleição parlamentar em
eleição parlamentar, no quadro de um trabalho essencialmente clandestino,
criando novas forças, a partir da amarga luta travada contra os órgãos de
repressão do “Chanceler de Ferro”, produzindo, além disso,
diversas novas formas de resistência contra a exploração do capitalismo
industrial e comercial alemão, em face das proibições dos sindicatos operários,
do esmagamento dos salários e do prolongamento da jornada de trabalho
Nesse sentido, Fritz Rück assinala, precisamente :
“Uma outra estatística demonstra o que a classe dominante da Alemanha alcançou
com a Lei Contra os Socialistas.
Ao tempo de sua promulgação, em 1878, o Partido Social-Democrático
contava com 437.158 votos e possuia 42 jornais políticos.
As organizações sindicais dirigiam 50.000 membros e 14 órgãos.
No momento da abolição da Lei Contra os Socialistas, em 1890, a
Social-Democracia obteve 1.427.298 votos e possuia 60 jornais políticos.
Os sindicatos possuiam 200.000 membros e 41 órgãos.”[36]
Acerca do tema, escreveu Franz Mehring, da seguinte forma
:
“Porém, tal como a perda, não se pode resumir também o ganho da Lei
Contra os Socialistas em alguns números, ainda que tão gloriosos.
Segundo a conhecida lei dialética, a quantidade convertia-se, em certo
ponto, em qualidade.
Na luta de 12 anos, o Partido havia-se tornado não apenas maior e mais
forte, senão ainda desevolvido-se, em sua realidade essencial, mais ricamente.
Ele havia não apenas lutado e batido, mas também trabalhado e aprendido.
Não apenas fornecido a prova de sua força, senão ainda a prova de seu
espírito.
Foram êxitos inestimáveis que não se podiam, de nenhuma maneira,
expressar em números, tampouco quanto a consciência da invencibilidade que
penetrou o Partido, desde que superou, exitosamente, a guerra, com todos os
meios de poder de um grande Estado moderno, ao longo de 12 anos.
As massas foram o protaginista da Idade Heróica do Proletariado.
Nisso precisamente residiu sua própria grandeza e sublimidade.”[37]
Tais ponderados depoimentos de Rück e Mehring acerca da Lei
Contra os Socialistas, não pode, entretanto, obscurecer o fato de que,
precisamente entre os anos de 1878 a 1890, cristalizou-se a mais integral
deformação oportunista das premissas estratégicas mais fundamentais do
marxismo-revolucionário no seio da direção da Social-Democracia Alemã,
já registradas, anteriormente, por ocasião do Congresso do Compromisso de
Gotha, ocorrido entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, em cuja
oportunidade abriu-se mão da consigna programática da Ditadura Revolucionária do
Proletariado e desdenhou-se da concepção relativa à necessidade da destruição
armada do aparelho de Estado Burguês pelo proletariado.
A cruzada repressiva de Bismarck, desencadeada em 1878,
não encontrou os mais prestigiados dirigentes sociais-democráticos em um
espírito de disposição de combate revolucionário e de promoção de imediato
trabalho de contra-corrente.
A concepção relativa à necessidade de desenvolver-se um trabalho
clandestino, secreto e ilegal foi, de início, inteiramente rejeitado por parte
da da direção da Social-Democracia Alemã, então composta por Eisenachianos
e Lassalleanos, por August Bebel e Wilhelm Liebknecht, por Johann
Baptist von Schweitzer e Wilhelm Hasselmann : clamava-se por
desarmar os homens do “Chanceler de Ferro” mediante indulgência.
Esse estado de grande condescendência com as formas mais perversas de
degenerescência das orientações de Marx e Engels, foi, à época,
denunciado, publicamente, por Wilhelm Bracke, um dos fundadores
da corrente marxista dos Eisenachianos, em aberta crítica
à direção oportunista de August Bebel e Wilhelm Liebknecht de então :
“Nós
vaiamos a Lei.
Porém,
em 17 de março de 1879, Wilhelm Liebknecht fez um discurso no Parlamento do
Império no qual declarou, com base na tática adotada pelos dirigentes do
Partido alemão : «o Partido respeitará a Lei Contra os Socialistas, porque é um
Partido Reformista, no sentido estrito da palavra, sendo, de modo geral, um
absurdo a realização violenta da revolução. »
As
vaias de Bracke contra a Lei em tela não significou que o Partido não irá aderir
a ela, senão constatou apenas a verdade histórica de que o Partido não se
reprimirá, mediante essa Lei.”[38]
A posição defendida pelos principais dirigentes da Social-Democracia
Alemã era, nesse contexto, a de acreditar que, não se fornecendo nenhum
pretexto para a sua prorrogação, poderia ser a Lei Contra os Socialistas abrogada,
em um breve período de tempo.
Insensível a qualquer crítica formulada contra seu curso patentemente
oportunista, a presidência do Partido chegou ao ponto de dissolver-se,
formalmente, antes mesmo que a lei em destaque entrasse em vigor.
No que tange à intervenção parlamentar social-democrática, registrou-se,
também, desoladores episódios de debilitamente do espírito revolucionário.
No quadro dos debates parlamentares relativos à nova tarifa alfandegária
a ser introduzida pelo Império Alemão, ainda durante a vigência
da Lei Contra os Socialistas, o Deputado Social-Democrata
Kayser posicionou-se em favor do estabelecimento de tarifas protecionistas
especiais, criadas em favorecimento da indústria nacional.
Acerca da aberta capitulação parlamentar da Social-Democracia
Alemã, Karl Marx teve a oportunidade de assinalar, expressamente :
“Vocês já estão tão tomados pelo idiotismo parlamentar que acreditam
situar-se acima da crítica, de modo a amaldiçoá-la com um «crime de lése
majesté».”[39]
Engels, por sua vez, escreveu em sua carta dirigida a August Bebel, em
14 de novembro de 1879 :
“A tempestade que desabou após a Comuna sobre os socialistas franceses
era, porém, algo totalmente diferente da Lei Nobiling, na Alemanha.
E, de modo muito mais orgulhoso e mais consciente, comportaram-se os
franceses.
Onde é que você lá encontra essas fraquezas, esses cumprimentos
dirigidos ao adversário ?
Eles se calaram, quando não puderam falar livremente.
Eles deixaram que os filistinos choramingassem.
Eles sabiam que o seu tempo voltaria novamente e, agora, esse tempo lá
voltou.”[40]
No quadro da votação acerca do Projeto Militar Imperial de 1880,
August Bebel formulou críticas ao esboço do projeto, ressaltou,
entretanto, que a Social-Democracia Alemã encontrava-se disposta
a defender, agüerridamente, o solo pátrio contra as pretensões estrangeiras de
conquista.
Quando desde a perspectiva anarquista, Johann Most criticou,
em seu órgão jornalístico “Die Freiheit (A Liberdade)”, as
declarações de August Bebel, esse último procurou embasá-las,
pormenorizadamente, em “Sozialdemokrat (O Social-Democráta), diário
da Social-Democracia Alemã[41].
No contexto da votação acerca da prorrogação da vigência da Lei
Contra os Socialistas, o
dirigente social-democrata Julius Vahlteich considerou ser
essencial protestar, notoriamente, em sua intervenção pública, contra acusações
lançadas no sentido de que a Social-Democracia Alemã pretenderia osquestrar uma revolução em “Heugabelsinne”,
i.e. em claro português, uma revolução promovida com a luta armada para
a derrubada violenta da dominação burguesa de classe.
De maneira exemplar e ostensiva, Vahlteich demonstrou
afastar-se dos “revolucionários russos nihilistas”, declarando
que :
“a revolução, no velho sentido da palavra, realizada com barricadas e
coisas semelhantes, tornou-se já impossível, devido ao aperfeiçoamento das
armas e à formação das forças armadas, em virtude de motivos puramente
militares.”[42]
Diante desse quadro, foi-se formando, em meio aos melhores militantes e
quadros revolucionários da Social-Democracia Alemã, um movimento
de protesto dirigido contra as posturas da direção partidária majoritária e os
membros da fração do Parlamento do Império Alemão, devido à sua
atuação em face da Lei Contra os Socialistas.
Já mesmo no Congresso da Social-Democracia Alemã de 1880, celebrado
no Castelo Wyden, a organização partidária da cidade de Berlim
submeteu ao plenário um voto de desconfiança em relação à maioria, dotado do
seguinte conteúdo :
“Deve-se expender um voto de desconfiança aos deputados
sociais-democráticos relativamente ao seu comportamento no Parlamento do
Império Alemão.
Motivos :
a) a intervenção de Kayser em favor das tarifas protecionistas ;
b) o apelo de Bebel ao “patriotismo” dos companheiros, como também sua
“expectativa” no sentido de que esses últimos golpeassem os inimigos da pátria
;
c) o protesto de Hasenclever contra a declaração de Hasselmann ;
d) as declarações de Wilhelm Liebknecht que levantaram a discussão
pessoal, entre os deputados.”[43]
A concepção manifestamente oportunista da Social-Democracia Alemã
acerca da essência do Estado e do papel da violência revolucionária - considerada por Karl Marx enquanto
parteira de toda velha sociedade que se encontraria grávida de uma nova -, foi
ocultada plenamente, a seguir, passando em brancas nuvens, pelo Programa
de Erfurt, de 1891, considerado o Evangélio do Reformismo da II Internacional.
Nenhuma palavra acerca da Ditadura Revolucionária do Proletariado
e da necessidade de preparação da luta armada proletária – quanto menos acerca
da questão da Democracia Burguesa, enquanto forma de Estado em que a última
luta decisiva do proletariado há de ter lugar
- foi consagrada pelo Programa de Erfurt.
Voltando sua atenção para as resoluções do Programa de Erfurt, Karl Kautsky,
à época o principal mentor ideológico da Social-Democracia Alemã e
da II
Internacional, assinalou, expressa e cabalmente, em 1892 :
“Uma tal derrubada (i.e. a
derrubada do poder político pelo proletariado) pode assumir as formas mais
variadas, conforme as relações sob as quais se executar.
De nenhuma maneira, ela tem de
necessariamente estar vinculada a atividades de violência e a derramento de
sangue.
Já existiram casos na história
mundial em que as classes dominantes foram particulamente compreensivas – ou
particularmente fracas e medrosas -, de modo que abdicaram voluntariamente em
face de uma situação de coação.”[44]
E com efeito !
Dando embasamento às palavras de Karl Kautsky, é de destacar-se que Wilhelm
Liebknecht, no quadro do Congresso de Erfurt, realizado em
1891, há um ano antes da publicação da obra em referência de Kautsky,
pronunciou-se, categoricamente, da seguinte forma acerca da temática em
destaque :
“O elemento revolucionário não
se situa nos meios, mais sim no objetivo.
A violência é, desde há
séculos, um fator reacionário.”[45]
Wilhelm Liebknecht negava, além disso, a necessidade histórica da Ditadura
Revolucionária do Proletariado para
o atingimento do socialismo – admitindo-a apenas como medida excepcional em
caso de guerras[46].
Com tal concepção claramente oportunista de Wilhelm Leibknecht, encontrava-se
também plenamente de acordo August Bebel, o mais célebre e
renomado dirigente operário da Social-Democracia Alemã de então.
Em seus pronuncionamentos no Congresso de Erfurt, de 1891, August Bebel manifestou
sua crença de que, mediante propaganda e agitação, oral e escrita, bem como por
meio de atividade junto ao parlamento do Estado, o proletariado lograria chegar
ao poder.
Nessa mesma oportunidade, Bebel declarou-se, formalmente, da
maneira mais peremptória, contra o emprego de métodos revolucionários violentos
para a tomada do poder político por parte do proletariado[47].
Em suma : Wilhelm Liebknecht, August Bebel, e Karl Kautsky expressavam,
já na última década do século XIX, concepções irrevogavelmente oportunistas e
notoriamente incompatíveis com os princípios revolucionários fundamentais de Marx
e Engels.
As posições dos fundadores do socialismo científico quanto ao papel da
violência revolucionária na história, bem como quanto à tarefa da luta
proletária para destruição do Estado Burguês, passaram a colidir
diamentralmente com as posições dos mais prestigiados dirigentes da Social-Democracia
Alemã e da II Internacional, do século passado.
Acerca do pano de fundo dos métodos utilizados pela corrente oportunista
de Liebknecht,
Bebel e Kautsky para impulsionarem suas disputas políticas de outrora,
dá-nos conta, precisamente, Friedrich Engels, em 3 de abril de
1895, poucos meses antes de sua morte, em uma de suas cartas enviadas a Paul
Lafargue, ao protestar contra as amputações literárias realizadas por Wilhelm
Liebknecht em sua Introdução à Guerra Civil na França :
“Liebknecht permitiu-se a
aplicar-me um golpe de mau gosto.
Ele retirou de minha
introdução aos ensaios de Marx sobre a França, de 1848-1850, tudo aquilo que
lhe servia para a apoiar, a todo custo, a tática pacífica e refutadora da
violência.
Essa tática ele adora pregar
desde há algum tempo e particularmente nesse momento em que, em Berlim, estão
sendo preparadas Leis de Exceção.
Recomento uma tal tática
apenas e tão somente para a Alemanha de
hoje, sendo que ainda com reservas
consideráveis.
Para a França, a Bélgica, a
Itália e a Áustria, essa tática não é adequada, como um todo, e, para a
Alemanha, pode ela se demonstrar inaplicável já amanhã.
Peço-lhe, portanto, esperar
por todo o artigo, antes de você o julgar – provavelmente ele aparecerá no Neue
Zeit(Novo Tempo) -, sendo que espero, de um dia para o outro, exemplares das
brochuras.
É lamentável que Liebknecht
veja apenas o preto e o branco.
As nuances não existem para
ele.
Além disso, as coisas estão
quentes na Alemanha, o que promete um fim de século grandioso. ...”[48]
Acerca dessa carta de Engels a Lafargue, importa ainda
assinalar, elucidativamente, que, examinando-se o correio dirigido por Richard
Fischer a Engels, em 6 de março de 1895, é de verificar-se a decisão da Presidência
da Social-Democracia Alemã da época no sentido de que seria imperioso
fosse moderado o tom por demais revolucionário empregado por Engels
em sua Introdução à Luta de Classes na França, de 1848 a 1850, de Karl
Marx, aludindo-se ao perigo de reedição de uma Lei contra os Socialistas.
Como resposta a Richard Fischer, Engels fortaleceu,
em 8 de março, seu ponto de vista inequivocamente proletário-revolucionário,
voltando-se, claramente, contra a posição centrista-oportunista da direção
social-democrática, consistente em agir, politica e estrategicamente, sempre
nos limites da legalidade burguesa.
Visando à publicação da Introdução no Neue Zeit(Novo Tempo), órgão
teórico da Social-Democracia Alemã, Engels resolveu-se por alterar e
suprimir certas formulações terminológicas mais sobressalientes de seu texto
original, referentes à inevitabilidade da luta armada a ser travada pelo
proletariado alemão, sem modificar, entretanto, o sentido e significado
inapelavelmente revolucionário de sua produção literária.
Entretanto, alguns dirigentes sociais-democráticos, entre eles Wilhelm
Liebknecht, aproveitaram-se do fato de Engels ter operado
alterações redacionais para, imprimirem nas colunas do Vorwärts(Avante), órgão
quotidiano da Social-Democracia Alemã, o famoso artigo intitulado “Como
se faz Revolução Hoje”, portador de várias amputações linguísticas do
texto original da Introdução, procurando apresentar seu autor, i.e. Friedrich
Engels, como um “pacífico venerador da legalidade quand
même”.
O
texto original de Engels, datado de 1895, cumpre, pois, ser incorporado
ao presente trabalho, com vistas a contribuir para a clarificação de suas
próprias colocações acerca do tema, destacando-se, ao mesmo tempo, a grave
falsificação teórico-doutrinária da disciplina militar-proletária que adquiriu,
à época, a rasura empreendida pela direção da Social-Democracia
Alemã ao
seu último parágrafo que é destacado abaixo, com letras grifadas.
A
rasura em questão, efetuada na primeira edição de ”Introdução
a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx”, organizada,
então, pela Social-Democracia Alemã, visava
a descreditar, inteiramente, a perspectiva das lutas revolucionárias violentas do
proletariado para a derrubada da burguesia.
Tratou-se,
pois, de uma verdadeira falsificação do marxismo-revolucionário realizada, à
época e posteriormente sempre repetida, pelos defensores da democratização
do Estado,
como forma de ascender pacificamente ao socialismo.
Com efeito, segundo Engels :
“A rebelião de velho estilo, a luta de ruas com barricadas, que, até
1848, conferiu, por todos os lados, a última decisão, envelheceu
significativamente.
Não nos iludamos acerca disso : um verdadeira vitória do levante sobre as
forças militares na luta de ruas, uma vitória tal como entre dois exércitos,
pertence às maiores raridades. ...
Do lado do insurgente, pelo contrário, todas as condições tornaram-se
piores.
Um levante com o qual simpatizem todas as camadas populares surgirá
dificilmente de novo.
Na luta de classes, provavelmente jamais se agruparão todas as camadas
médias tão exclusivamente em torno do proletariado a ponto de desaparecer
inteiramente, pelo contrário, o partido da reação que se aglutina em torno da
burguesia.
O “povo” sempre surgirá dividido e, com isso, faltará uma alavanca
poderosa, tão extremamente eficaz, como a de 1848.
Se surgirem do lado dos sublevados mais soldados prestativos, tanto mais
difícil tornar-se-á armá-los.
As armas de fogo de caça e de luxo das lojas de armamentos – mesmo se não
inutilizadas, de antemão, por intervenção policial, mediante apreensão da parte
trancafiada – nem de longe estão à altura do fuzil de depósito de armas, no
âmbito da luta corporal.
Até 1848, podia-se fazer para si mesmo a munição necessária com pólvora e
chumbo.
Hoje, o cartucho é diferente para cada tipo de fuzil e apenas em um
ponto, de igual natureza : ele constitui um artefato da grande indústria, i.e.
não produzíveis ex tempore, i.e. inúteis para a maioria dos fuzis desde que não
se possua a munição para eles especialmente adequada.
E, finalmente, os bairros das grandes cidades, reconstruídos desde 1848,
projetados em ruas longas, retilíneas e amplas, tal como construídas para a
atuação das novas artilharias e fuzis.
O revolucionário tem de ser um louco se escolher para si os novos
distritos de trabalhadores no norte e no leste de Berlim, visando a travar uma
luta de barricadas.
Isso
quer dizer que, no futuro, a luta de ruas não desempenhará nenhum papel?
De
maneira nenhuma.
Significa
apenas que as condições, a partir de 1848, tornaram-se amplamente desfavoráveis
para os lutadores civis e amplamente favoráveis para as forças militares.
Uma
futura luta de ruas pode, portanto, apenas vencer se essa desvantagem da
situação for contrabalançada por outros momentos.
Por
isso, ela ocorrerá, mais raramente, no início de uma grande revolução, do que
será o caso no transcurso subseqüente dessa última, havendo de ser empreendida
com forças muito maiores.
Essas forças darão preferência, provavelmente , porém,
– tal como na inteira Revolução Francesa, bem como em 4 de setembro e em 31 de
outubro de 1870, em Paris – ao ataque aberto ao invés da técnica passiva das barricadas.”[49]
Depois da morte de Engels, em 5 de agosto de 1895, Eduard
Bernstein, encarregado da administração do conjunto das obras
literárias de Engels, negou-se a publicar o texto original não-alterado da Introdução,
em sua versão integral.
Desse modo, os principais dirigentes revisionistas da Social-Democracia
Alemã colocaram em circulação a lenda pueril de que Engels
haveria, no final de sua vida, sopesado devidamente seus antigos pontos
de vista revolucionários, renegando-os em favor do reformismo[50].
Em sua luta contra a falsificação política, marxista-revisionista, do Programa
de Erfurt relativa à questão
da conquista do poder político e da necessidade histórica da Ditadura
Revolucionária do Proletariado para
o atingimento do socialismo, falsificação essa defendida não apenas pelos
centristas-oportunistas sociais-pacifistas, i.e. por Wilhelm Liebknecht, August Bebel
e Karl Kustsky, senão ainda pelos sociais-reformistas da Social-Democracia
Alemã, esses últimos representados, antes de tudo, por Eduard
Bernstein e Conrad Schmidt, escreveu
Rosa
Luxemburg, já em 1903, de
modo claro e preciso :
„Partindo do fundamento do
socialismo científico de que „a libertação da classe trabalhadora pode ser
apenas obra da classe trabalhadora“, a Social-Democracia reconhece que a
subversão, i.e. a revolução para concretização da reconformação socialista,
pode ser realizada apenas pela classe trabalhadora enquanto tal, e, em verdade,
enquanto propriamente a ampla massa, sobretudo a massa do proletariado
industrial.
A primeira ação da
transformação socialista tem de ser, portanto, a conquista do poder político
através da classe trabalhadora e a edificação da Ditadura do Proletariado,
incondicionalmente necessária à materialização das medidas de transição.“[51]
Assim, importa assinalar, em linhas gerais, que, já a partir dos
primeiros anos do século do século XX, quatro correntes doutrinariamente
sedimentadas, pelo menos, combatiam no seio da Social-Democracia Alemã da
época:
1.
os reformistas economicistas-parlamentaristas, defensores da colaboração
de classes entre proletários e burgueses, comandados por Eduard Bernstein, clamando
pela ampla revisão dos fundamentos da teoria de Marx e Engels, em
benefício praticamente das posições doutrinárias de Ferdinand Lassalle[52];
2.
os centristas-oportunistas, repudiadores da violência
proletário-revolucionária e protagonistas da democratização do Estado
Burguês, coroada por uma pretensa independência política do partido
proletário e um pretendido Governo dos Trabalhadores como forma
de ascensão ao socialismo, comandandos por Karl Kautsky e pelos mais renomados
dirigentes políticos alemães do proletariado, August Bebel e Wilhelm Liebknecht,
empenhados em conciliar a política quotidiana reformista com a doutrina de Marx
e Engels, desde um ponto de vista constitucional-pacifista ;
3.
os proletários revolucionários, fundados, porém, na equivocada defesa
dos direitos e liberdades fundamentais de todos os indivíduos e organizações
sociais e desprovidos de uma teoria partidária centralizada e clandestina,
entre os quais figuravam Rosa Luxemburg, Karl Liebknecht, Franz
Mehring, Clara Zetkin, Leo Jogliches, Julian Marchlevski, ocupados em
combater, pricipiologicamente, o reformismo economicista e o centrismo oportunista
na Social-Democracia
Alemã, retomando e defendendo diversas bases fundamentais da teoria
intelectual e da prática política proletário-revolucionária internacionalista
de Marx
e Engels, de modo a inclinararem-se em direção das posições marxistas-revolucionárias
de Lênin,
em certos episódios históricos da luta de classes mundial.
4.
os proletários-revolucionários de muito menor dimensão numérica,
situados mais proximamente do Partido Bolchevique de Lênin, inclinado
a adotar, esporadicamente, posições
manifestamente sectárias, reunidos em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e
Julian
Borchard.
Nesse contexto, haveria de germinar, no seio das correntes
revisionistas, i.e. social-reformista e centrista-oportunista, da Social-Democracia
Alemã, delas se diferenciando expressivamente, já no curso da primeira
década do século XX – sobretudo após a indicação de Friedrich Ebert, em 1905,
para o posto de Secretário da Presidência do Partido -, e impor-se,
crescentemente, como corrente inquestionavelmente dominante, em particular a
partir da morte de August Bebel, em 13 de agosto de 1913, um ala mais propriamente
social-chauvinista, encabeçada por Friedrich Ebert, Philip Scheidemann e Gustav
Noske.
Essa corrente social-chauvinista, aprofundando a revisão da doutrina do
marxismo, desde um ângulo lassalleano, passou a considerar como sua principal
tarefa política a defesa do Princípio de Defesa da Pátria(Prinzip der
Vaterlandsverteidigung), contra as potenciais nações imperialistas
hostis à Alemanha, em total detrimento da defesa dos interesses
materiais de classe do proletariado revolucionário.
CAPÍTULO II.
LÊNIN E LUXEMBURG :
DUAS CONCEPÇÕES MARXISTAS
NO MOVIMENTO
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIO EUROPEU
DO INÍCIO DO SÉCULO XX
“Rosa equivocou-se na
questao da independência da Polônia.
Ela equivocou-se, em
1903, na apreciaçao do menchevismo.
Equivocou-se quando,
em julho de 1914, ao lado de Plekhanov, Vandervelde, Kautsky, entre outros,
aspirou à unificação dos bolcheviques com os mencheviques.
Ela equivocou-se em
suas anotações do cárcere de 1918 (nesse sentido, corrigiu grande parte de seus
erros, depois de abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919).
Porém, apesar de todos
os seus erros, Rosa foi e permanece sendo uma águia.”[53]
Apreciando, resgatando e defendendo, devidamente, a tradição
essencialmente marxista de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, apesar de seus tantos equívocos,
porém sempre comprometidos, antes e acima de tudo, com a perspectiva de
organização da revolução violenta do proletariado para a edificação da Ditadura
Revolucionária do Proletariado na Alemanha, Lênin afirmou, solenemente, em seu Discurso de Abertura do I
Congresso do Komintern :
„Em nome do Comitê Central do
Partido Comunista da Rússia declaro aberto o I Congresso da Internacional
Comunista. Em primeiro lugar, peço a todos os presentes que se levantem de suas
cadeiras em memória dos melhores representantes da III Internacional : Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg.“[54]
Essas palavras de Lênin, relacionadas com sua
interpretação do papel histórico de Liebknecht e Luxemburg, enquanto os melhores representantes da Internacional
Comunista, deveriam, em princípio, servir, por si mesmas, como um
látego desferido frontalmente contra as desavergonhadas tentativas doutrinárias
dos principais ideólogos franco-gramscianos de Actuel Marx e do SU-QI, voltadas a transformar Rosa Luxemburg em uma
social-oportunista vulgar, que carrega, eternamente, consigo, no caminho da
luta pelo socialismo, a auréola santificada da defesa de fórmulas de liberdade
essencialmente democrático-burguesas[55].
Nesse sentido, destaque-se, entretanto, à guisa de exemplo, entre os
diversos e renomados textos de Rosa Luxemburg, aquele intitulado E Pela Terceira Vez o Experimento Belga, vindo à luz já em 4 de junho de 1902,
quando essa autora teve a oportunidade de escrever, de modo incorruptivelmente
claro, contra os legalistas belgas, i.e. Émile Vandervelde e outros :
„Entretanto, não por predileção
às ações violentas ou ao romantismo revolucionário devem os partidos
socialistas, mais cedo ou mais tarde, estar preparados também para embates
violentos com a sociedade burguesa, em casos em que nossas aspirações se
direcionem contra os interesses vitais das classes dominantes, senão em razão
também da amarga necessidade histórica.
O parlamentarismo enquanto meio de luta político da classe trabalhadora,
individualizador do espírito, é tão fantástico e, em primeira linha,
reacionário, como o é a greve geral, individualizadora do espírito, ou a
barricada, individualizadora do espírito. Evidentemente, a revolução violenta
é, nas condições atuais, um meio de dupla-face, aplicável de modo extremamente
difícil.
E podemos esperar que o proletariado apenas faça uso desse meio quando
se apresentar o único caminho adequado para sua implementação e, evidentemente,
apenas em condições em que a situação política de conjunto e a relação de
forças assegurem, mais ou menos, a probabilidade de êxito.
Porém, a concepção clara da necessidade da aplicação da violência, seja
nos episódios individuais da luta de classes seja para a conquista definitiva
do poder de Estado é nisso, de antemão, imprescindível. Ela representa isso que
consegue conferir também à nossa atividade legal, pacífica, a apropriada ênfase
e efetividade.“[56]
Com efeito, em sua luta contra a falsificação política da consigna
contida no Programa de Erfurt relativa
à „conquista
do poder político“, falsificação essa empreendida pelos
marxistas-revisionistas e sociais-reformistas do Partido Social-Democrático da
Alemanha(SPD), representados,
antes de tudo, por Eduard Bernstein, Conrad Schmidt e Karl Kautsky – e, em
parte, também por Wilhelm Liebknecht que
renegava a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do Proletariado para o atingimento do socialismo –
admitindo-a apenas como medida excepcional em caso de guerras – escreveu Luxemburg, já em 1903, de modo claro e preciso :
„Partindo do fundamento do
socialismo científico de que „a libertação da classe trabalhadora pode ser
apenas ser obra da classe trabalhadora“, a Social-Democracia reconhece que
subversão, i.e. a revolução para concretização da reconformação socialista,
pode ser realizada apenas pela classe trabalhadora enquanto tal, e, em verdade,
enquanto a ampla massa propriamente, sobretudo a massa do proletariado
industrial.
A primeira ação da
transformação socialista tem de ser, portanto, a conquista do poder político
através da classe trabalhadora e a edificação da Ditadura do Proletariado,
necessária incondicionalmente à materialização das medidas de transição.“[57]
O assassinato de Luxemburg e Liebknecht, em 1919, pela Social-Democracia Alemã e seus aliados políticos e militares
burgueses representou um evento de significado histórico-mundial não apenas porque,
segundo Lênin :
„Os melhores dirigentes da Internacional
Comunista foram exterminados, senão ainda por ter-se revelado, definitivamente,
o caráter de classe de um Estado Europeu desenvolvido, podendo-se dizer, sem
exagero, o caráter de classe de um
Estado desenvolvido em escala mundial. ... „Liberdade“ significa em uma das
repúblicas mais livres e desenvolvidas do mundo, na República Alemã, a
liberdade para assassinar impunemente os dirigentes presos do proletariado.“[58]
Torna-se, pois, nos dias de hoje, cada vez mais necessário, resgatar-se
e defender-se, devidamente, a tradição essencialmente marxista de Karl
Liebknecht e Rosa Luxemburg, comprometida, antes e acima de tudo, com a
perspectiva de organização da revolução violenta do proletariado para a
edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado.
II.1.
A QUESTÃO ORGANIZATIVA
DO PARTIDO REVOLUCIONÁRIO
Quando em 1911, o célebre politólogo alemao, Robert Michels, elaborou
sua obra clássica, intitulada Sociologia do Sistema de Partidos na
Democracia Moderna. Investigaçoes acerca das Tendências Oligárquicas da Vida em
Grupo, tratando preponderantemente, dos partidos políticos e de sua
forma de organizaçao, nao se referiu, por uma única vez, a Lênin ou a Trotsky,
ao passo que mencionou, pelo contrário, no mínimo, por dez vezes, o
nome de Rosa Luxermburg.[59]
Lênin deslocou-se para os países da Europa
Ocidental, em 1900, proveniente de seu exílio na Sibéria, poucos anos
depois da chegada de Luxemburg nessa área geográfica do
continente europeu.
Seus livros, suas anotações, suas brochuras, suas concepçoes
partidário-organizativas, redigidas originalmente em língua russa, permaneceram
sendo pouco conhecidas da militância socialista-revolucionária do ocidente,
durante largos anos[60].
Um debate mais profundo acerca dos critérios defendidos por Lênin
relativamente à teoria de organizaçao do Partido revolucionário foi, de
início, estritamente restrito aos pouquíssimos especialistas de vanguarda do
socialismo ocidental, que possuíam laços especiais com a causa da luta de
classes travada na Rússia Czarista.
Entretanto, sua concepçao de Partido conquistou, desde logo, uma grande
atençao, em particular, junto aos agrupamentos revolucionários da Europa
do Leste, por conformar-se ela no próprio cerne do leninismo ou do
bolchevismo.
Quando a avançada teoria de organizaçao do Partido revolucionário de
Lênin, elaborada já nos primeiros anos do século XX, começou a
encontrar sua aplicaçao prático-concreta, contando com o apoio de uma grande
parte de russos socialistas emigrados ou politicamente asilados na Europa
Ocidental, passou a ser amplamente debatida nao apenas pelos
sociais-democrátas russos, senao ainda pelos polonêses, letoes, caucasianos,
bem como pelo membros judeus do Bund.
No II Congresso do Partido Social-Democrático Russo (POSDR),
ocorrido em 1903, na cidade de Londres, processou-se, entao, a ruptura entre
bolcheviques(adeptos da fraçao da maioria) e mencheviques (adeptos da fraçao da
minoria), relacionada essencialmente com a questao da organizaçao estrutural do
Partido.
Se essa ruptura e os incontáveis artigos e polêmicas relacionados com a
questao da teoria de organizaçao do Partido revolucionário encontrou, logo a
seguir, apenas pequena repercussao entre os socialistas europeus do ocidente,
verificar-se-ia precisamente o contrário entre os marxistas-revolucionários
provenientes do ou politicamente ativos no Leste Europeu.
Entre esses últimos, encontrava-se, entao, Luxemburg, enquanto
militante engajada e proveniente da organizaçao revolucionária polonesa da II
Internacional Socialista.
Se tanto Luxemburg como Lênin eram efetivamente refugiados
políticos, perseguidos pelo despotismo czarista, certo é que Lênin
incorporou, conseqüentemente, em sua atividade militante-partidária,
sempre fundalmentalmente norteada para a deflagraçao de processos
revolucionários na Rússia, uma longa e intensiva experiência histórica de ação
clandestina e insurrecional.
A presença de Lênin nas diversas localidades e
cidades da Europa Ocidental em que viveu, ao longo de praticamente 15
anos, era impulsionada, essencialmente, tendo como base as necessidades do
trabalho de sua organizaçao revolucionária russa.
O atento estudo do socialismo europeu-ocidental, altamente cultivado,
era empreendido detidamente por Lênin, tomando, porém,
constantemente em consideração suas implicaçoes para o movimento revolucionário
de seu país.
Lênin nao contava com aspiraçoes de
militância estruturada, de longo-prazo, em um Partido europeu-ocidental.
Pelo contrário, Luxemburg, depois de sua fuga do
território polonês, aspirava a intervir, centralmente, em um Partido de massas
legal da Europa Ocidental, precisamente na Alemanha, enquanto
seguia, também, suas atividades revolucionárias, paralelamente, no território
da Polônia.
Hanecki e Warski, delegados polonêses ao II
Congresso do Partido Social-Democrático Russo (POSDR), de 1903, e, ao
mesmo tempo, representantes do Comitê Central do Partido polônes a que
pertencia Luxemburg, informaram essa última, detalhadamente, acerca da
polêmica introduzida por Lênin relativamente à teoria de
organizaçao do Partido revolucionário.
Com base nessas minuciosas informaçoes, Luxemburg fez publicar,
no ”Die
Neue Zeit(O Novo Tempo)”, órgao
jornalístico do Partido Social-Democrático da Alemanha
(SPD), em 1904, o artigo intitulado Questoes de Organizaçao da
Social-Democracia Russa, atacando, frontalmente, as posiçoes
partidário-organizativas defendidas por Lênin.[61]
Quando Lênin enviou, a seguir, sua resposta ao artigo de Luxemburg,
resposta essa intitulada Roxinóis Podem Ser Iludidos com Contos de
Fadas, à redaçao de ”Die
Neue Zeit(O Novo Tempo)”, essa última decidiu-se por nao a
publicar, alegando falta de clareza por parte de Lênin na apresentaçao da
matéria[62].
Com efeito, Luxemburg pronunciava-se, nessa época, enquanto representante
de um movimento de massas em ascensao na Europa Ocidental, antes mesmo de
desenhados os primeiros sinais de sua decadência e degeneraçao, ao passo que Lênin
surgia como represetante de um agrupamento conspirativo ilegal, ativo
em um país despótico, semi-feudal e semi-bárbaro, que, apenas anos depois,
seria sacudido por uma imensa revoluçao.
Sintetizando, brevemente, a concepçao de Lênin, expressada em suas
obras magistrais acerca da teoria de organizaçao do Partido revolucionário[63],
visando a confrontá-la com aquela de Luxemburg, cumpre assinalar que, aos
olhos de Lênin, o movimento dos trabalhadores é um efetivo produto dos
antagonismos da sociedade burguesa, os quais, em sua ativa dinâmica, sao
capazes de produzir apenas consciência acerca de questoes sindicais,
nomeadamente a consciência da classe trabalhadora de que seus interesses sao,
em sentido econômico, diamentralmente opostos e inconciliáveis em relaçao
àqueles da classe capitalista.
De modo espontâneo, poderiam os trabalhadores desenvolver, entretanto,
apenas essa consciência sindical, jamais, porém, o nível superior de
consciência, o nível de consciência política, em que a luta de classes
revolucionária conduz, inevitavelmente, à derrubada violenta das instituiçoes
de exploraçao econômica e dominaçao político-ideológica do capitalismo, no rumo
de edificaçao de um Estado e de uma ordem social proletário-ditatorial,
prelúdio à emergência de uma sociedade socialista, fase inferior do comunismo.
Segundo Lênin, a luta de classes nao se desenvolve, automaticamente, em
formas políticas e jurídicas, nao se conforma em revoluçao socialista.
As concepçoes socialistas sao, pelo contrário, produtos de elaboraçoes
fundamentalmente científicas.
Admitindo como correta uma categórica reflexao de Kautsky, Lênin destacará
precisamente que o proletariado nao é, porém, o portador da ciência moderna :
é-o, porém, a inteligência burguesa.
Isso nao pode, entretanto, significar que os trabalhadores nao
participem das elaboraçoes científicas concernentes ao socialismo, porém ao
fazê-lo, fazem-no nao como trabalhadores, mas sim como teóricos do socialismo,
apropriando-se do saber de seu tempo e enriquecendo-o.
Nesse sentido, Lênin assinala, em sua obra maior Que
Fazer :
“Como suplemento ao dito acima, queremos citar ainda as seguintes
palavras, muito apropriadas e valiosas, de Karl Kautsky acerca do Esboço do
Novo Programa do Partido Social-Democrático Austríaco :
« Muitos de nossos críticos revisionistas admitem que Marx teria
afirmado que o desenvolvimento econômico e a luta de classes criariam nao
apenas as pré-condiçoes da produçao socialista, senao também diretamente o conhecimento(grifado por K.K.) de sua
necessidade e, aí, os críticos terminam logo com a objeçao de que o país com o
desenvolvimento capitalista mais avançado, a Inglaterra, seria dotado, entre
todos os países modernos, desse conhecimento, da maneira mais ampla.
Segundo a nova versao, poder-se-ia admitir que também a Comissao
Austríaca de Programa dividiria o ponto de vista “marxista-ortodoxo”,
pretensamente reproduzido dessa forma.
Pois, afirma-se ali : “Quanto mais o desenvolvimento do capitalismo faz
inflar o proletariado, tanto mais esse último será forçado e capaz de assumir a
luta contra o capitalismo. O proletariado alcança a consciência“ da
possibilidade e necessidade do socialismo etc. Nesse contexto, a consciência
socialista surge enquanto o resultado necessário e direto da luta de classes
proletária.
Porém, isso é errado.
O socialismo enquanto doutrina enraiza-se, porém, tanto nas relaçoes
econômicas contemporâneas como o faz a luta de classes do proletariado,
emergindo, tal como essa última, da luta contra a pobreza de massas e a miséria
de massas, que sao produzidas pelo capitalismo.
Porém, ambos surgem um ao lado do outro, nao um a partir do outro, e sob
pressupostos diferentes.
A moderna consciência socialista pode surgir apenas na base de uma
profunda concepçao científica.
Na realidade, a ciência econômica contemporânea forma uma pré-condiçao
da produçao socialista tal como o faz, por exemplo, a técnica moderna, apenas
que o proletariado nao pode, mesmo com a melhor das vontades, criar nem um nem
outro. Ambos surgem do processo social contemporâneo.
O portador da ciência nao é, porém, o proletariado, mas sim a inteligência burguesa (grifado por
K.K.).
Em membros isolados dessa camada surgiu, pois, também, o socialismo moderno
e, apenas através deles, foi transmitido, espiritualmente, a proletários
extraordinários que o introduziram, entao, na luta de classes do proletariado,
onde as relaçoes permitiram-no.
A consciência socialista é, portanto, algo trazido de fora, para dentro
da luta de classes do proletariado (etwas in den Klassenkampf des Proletariats
von aussen Hineingetragenes), nao algo surgido originariamente a partir desse
último.
Em conformidade com isso, o velho Programa de Hainfeld afirma, de modo
inteiramente correto, que pertence às tarefas da Social-Democracia encher o
proletariado com a consciência
(grifado por K.K.) acerca de sua situaçao e de sua tarefa.
Isso nao seria necessário dizer-se caso essa consciência emergisse, por
si mesma, da luta de classes.
A nova versao tomou essa frase do velho Programa, apensando-o
precisamente ao citado.
Através disso, porém, a dinâmica do pensamento foi inteiramente
dilacerada...»”[64]
Em observaçao a essas linhas de Karl Kautsky, Lênin assinalou,
ainda, precisamente :
“Se entao nao se pode falar de uma ideologia autônoma, elaborada pelas
massas trabalhadoras por si mesmas, no curso de seu desenvolvimento, pode-se
colocar a questao apenas da seguinte forma : ideologia burguesa ou ideologia
socialista.
Nota : Isso nao quer dizer, evidentemente, que os trabalhadores nao
tomam parte nesse elaboraçao. Porém, fazem-no nao como trabalhadores, mas sim
como teóricos do socialismo, como os Proudhon e Weitling, com outras palavras :
eles tomam parte apenas e na medida em que conseguem, em maior ou menor medida,
apropriar-se desse saber e enriquecê-lo.
Porém, para que os trabalhadores consigam fazê-lo mais freqüentemente é necessário fazer tudo para elevar o nível de
consciência dos trabalhadores, em geral.
É necessário que os trabalhadores nao se recluam nos limites
artificialmente estreitos de uma “Literatura para Trabalhadores”, mas sim
sempre mais aprendam a apropriar-se da literatura geral.
Seria até mesmo mais correto dizer, ao invés de “nao se recluir”, nao
serem recluídos, pois os trabalhadores mesmos lêem tudo e querem tudo ler,
também aquilo que é redigido para a inteligência, sendo que apenas alguns
(maus) intelectuais acreditam que “aos trabalhadores” basta se se lhes conta
acerca das condiçoes na fábrica e mastiga, mais uma vez, coisas há muito tempo
conhecidas.”[65]
Tal como Engels,
Lênin destaca que o socialismo, uma vez tornado ciência, deve ser
estudado, tal como toda qualquer outra ciência.
Assim, resulta que uma ideologia proletária
nao se poderia desenvolver espontaneamente, sendo que a limitaçao do movimento
dos trabalhadores à dimensao econômica, sindical-reivindicatória, recusando-se
a luta político-revolucionária socialista pela tomada do poder do Estado e, por
consegüinte, à tarefa de organizaçao do Partido revolucionário incumbido de
assegurar essa última tarefa, fundado na revoluçao impulsionada pelas massas
proletárias, significaria precisamente lutar-se nao para emancipar os
explorados e dominados pelo jugo capitalista, nao para derrubar a ordem social
capitalista, mas sim para promover a adaptaçao da luta de classes dos
trabalhadores às vicissitudes do jugo capitalista.
A libertaçao das massas trabalhadoras é obra
das próprias massas trabalhadoras, porém tal fenômeno torna-se apenas possível quando
adquirirem elas a consciência político-revolucionária acerca de sua própria
condiçao, sendo uma das tarefas do Partido revolucionário ajudá-las a
adquirí-la.
Os trabalhadores e seu Partido revolucionário
haveriam, assim, de posicionar-se nos embates de interesses defendidos por
todas as demais classes sociais, compreendendo e respondendo respectivamente às
suas premissas intelectuais, morais, políticas e econômicas.
Um Partido rigorosamente organizado, segundo Lênin, seria, assim, uma
exigência decorrente da luta de classes altamente desenvolvida e complexa de
nossos dias, devendo constituir um fato ativo no processo histórico, intervindo
conscientemente : nao configurando um simples produto passivo e reativo dos
fenômenos históricos.
Supostas essas condições objetivas, a direçao desse Partido funda sua açao política
legal e parlamentar, bem como clandestina e insurrecional, sobre a análise
científica do processo histórico e protege-se de falsificaçoes, através de uma
luta permanente em prol da correta interpretaçao e aplicaçao dos princípios
marxistas-engelsianos revolucionários.
É imprescindível, pois, que a direçao desse
Partido funcione ininterruptamente, sendo capaz de desenvolver sua teoria,
propaganda e organizaçao de modo impertubável, razao pela qual a constituiçao
de um quartel-general revolucionário funcionante no exterior torna-se
indispensável, sempre que necessário seja, em funçao da conjuntura histórica.
Segundo a teoria organizativa do Partido
revolucionário de Lênin, as
células partidárias vinculam-se aos organismos centrais e ao Congresso do
Partido, ao mesmo tempo em que reconhecem o valor, a visao e a política
defendidos por esses últimos, resultantes da síntese do processamento das
experiências locais formada, unificada e unitariamente, em nível superior.
Os organismos do centro transmitem às células
do Partido suas diretivas mediante profissionais revolucionários, i.e. mediante
homens que dedicam disciplinadamente sua inteira existência profissional à
necessidade de execuçao de estritas diretivas político-revolucionárias e
constituem a ligaçao estreita da militância com o centro do Partido, suas
concepçoes, seu programa e suas resoluçoes principistas, estratégicas e táticas
revolucionárias.
Esses profissionais revolucionários constituem
o eixo em torno do qual gira o conjunto da organizaçao.
Esse agrupamento de revolucionários,
intervindo unitaria e centralizadamente, constitui uma organizaçao
essencialmente conspirativa, em funçao dos objetivos insurrecionais perseguidos,
sem que suas açoes parlamentares-institucionais sejam negligenciadas.
Pois, segundo Lênin :
“Trata-se de uma obrigaçao combinar as formas de luta ilegais e legais.”[66]
Nesse Partido revolucionário nao se ingressa,
enquanto membro, apenas para expressar-se tendências políticas e aderir aos
princípios fundamentais da ideologia do marxismo-revolucionário – nisso
baseando seu comportamento social -, senao também para dedicar-se uma
existência a uma causa revolucionária, no quadro de uma estrutura organizativa
centralizada, unitária e disciplinada.
Notoriamente, as concepçoes organizativas de Lênin acerca do Partido
revolucionário descendem tanto dos jacobinos como dos revolucionários russos
que o antecederam, defensores da formaçao de grupos de vanguarda, compostos por
dedicados revolucionários, empenhados na tarefa da tomada violenta do poder, no
quadro da revoluçao socialista desencadeada pelas massas trabalhadoras – a
exemplo das concepçoes de Nicolai
Tchernyshevski, Sergei Netchaiev, Peter Tkatchev -, devendo tais tradiçoes insurrecionais estarem
inseparavelmente vinculadas ao papel revolucionário do proletariado moderno.
Além de sua magnífica obra
literário-conspirativa, intitulada Que
Fazer ? Relatos sobre Gente Nova, Tchernyshevski
assinalou, com grande clareza, já por volta de 1861, por ocasiao de sua ativa
intervençao nas lutas de emancipaçao dos servos russos :
“Quem é o responsável pela servidao ? Apenas os nobres e alguns
burocratas ?
Mas, o próprio Czar é proprietário de terras.
Entao, por que deixaria de levar em conta exclusivamente os interesses
dos senhores de terra ?
Quando haverá liberdade de fato para os camponeses ?
Quando o povo irá se governar ?
Quando o camponês nao terá de pagar imposto e quando ele nao será
separado da família e da sua aldeia para servir o Exército durante décadas ?
Como se conseguirá isso ?
Através de uma revoluçao.
É preciso que os camponeses troquem idéias entre si, aproximem-se de
seus irmaos que servem como soldados e preparem-se para o grande o dia.
Mas, até entao, eles nao devem se envolver em rebelioes menores e
isoladas contra o Governo.
Só quando o movimento ganhar caráter nacional é que a revoluçao poderá
conseguir sucesso.”[67]
No que concerne a Netchaiev, precisamente sua característica de recorrer às
técnicas especiais de conspiraçao – a despeito de sua marcada influência
anarco-bakhuninista -, foi devidamente apreciada por Lênin, sem prejuízo das pesadas críticas desferidas contra
aquele revolucionário russo, em Os
Possessos, pelo expoente literário do conservadorismo russo, Dostoievski.
Paralelamente, segundo Tkatchev, a perspectiva de acreditar-se em rebelioes
populares espontâneas, tal como defendidas por Michail Bakhunin, representava um sonho improvável de ser
realizado[68].
Por outro lado, suas formulaçoes definiam já
claramente um traço de separaçao e repúdio das iniciativas isoladas adotadas
pelo terrorismo individual.
Sendo assim, observou Tkatchev, por volta de 1873 :
“Nós admitimos a anarquia ... apenas como o ideal desejável de um futuro
distante.”[69]
O que poderia, entao, salvar a Rússia Czarista de uma
catástrofe, representada por uma transiçao pacífica para o constitucionalismo
burguês, explorador e usurário, seria precisamente o fervor revolucionário de uma
organizaçao minoritária e rigorosamente centralizada de revolucionários, pois,
segundo Tkatchev :
“Em virtude de seu desenvolvimento mental e moral, essa minioria sempre
teve e terá de ter força intelectual e moral sobre a maioria.
A essência da revoluçao está na coerçao, por isso a organizaçao
revolucionária exige centralizaçao, disciplina rigorosa, rapidez, decisao e
coordenaçao de atividades.”[70]
A acentuada insistência na centralizaçao e na
disciplina da organizaçao conspirativa e
revolucionária de vanguarda, o agudo criticismo quanto à possibilidade
de rebelioes socialistas espontâneas das massas, a rejeiçao do terrorismo
individual, por significar esse a dispersao de energias e de recursos
revolucionários, o desprezo pela possibilidade de persuasao pacífica das
classes dominantes, constituem fortes pontos de contato entre os
jacobinos-radicais russos, encabeçados por Peter
Tkatchev – jacobinos na forma de ainda “verdes estudantes secundaristas”, na apropriada expressao
de Friedrich Engels – e a avançada
concepçao socialista-revolucionária de Lênin,
em cujo quadro, porém, o tipo de organizaçao revolucionária centralizada,
incumbida da tarefa consciente de destruiçao do Estado Burguês e construçao de
uma transitória Ditadura
Revolucionária do Proletariado, combina-se com a elaboraçao de uma
ideologia socialista-proletária avançada e a incorporaçao partidária da
inteligência científico-socialista na direçao da revoluçao feita pelas massas.
Com efeito, Lênin contemplava no jacobinismo uma das etapas mais altas do
movimento ascensional da classe oprimida na luta por sua emancipaçao,
considerando que, nas principais cidades européias ocidentais da Rússia
do século XX, o jacobinismo seria o Governo da Classe do Proletariado
Revolucionário, que apoiado nos camponeses pobres e solidificado sobre
bases materiais que já existiam para o movimento até o socialismo, conseguiria
renovar não somente a grandeza, a força indestrutível dos jacobinos do século
XVIII, senao ainda levar os trabalhadores do mundo inteiro ao triunfo
definitivo.
No entendimento de Lênin, o jacobino que uniu sua
causa para sempre à organização do proletariado e que tem consciência dos seus
interesses de classe, seria o lutador bolchevique.
Nessa medida, o Partido revolucionário
haveria de ser também uma organizaçao de vanguarda de luta, incumbida de
dirigir as massas proletárias e erigir a Ditadura
Revolucionária do Proletariado, após destruir integralmente o Estado
Burguês.
Luxemburg, ao publicar, no ”Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, órgao jornalístico do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), em
1904, o artigo intitulado Questoes de
Organizaçao da Social-Democracia Russa, atacando, frontalmente, as
posiçoes partidário-organizativas defendidas por Lênin, teve a oportunidade de destacar, inicialmente, que a
questao da teoria de organizaçao do Partido revolucionário diria respeito “a
toda jovem geraçao socialista (ganze jüngere sozialistische Generation)” da
Rússia, militante sob
as difíceis condiçoes impostas pelo despotismo czarista[71].
Sem embargo, Luxemburg censurou na concepçao de Lênin sua pretensao de construir um Partido de elite,
organizado concentricamente, bem como de demarcar estritamente esse Partido de
todos os demais.
Luxemburg criticou,
duramente, as prerrogativas possuidas pelos organismos centrais do Partido de
intervir na vida política das células e agrupamentos partidários, até mesmo com
medidas de dissoluçao e reconstituiçao de células, com o que poderia influir,
decisivamente, na mesma assembléia partidária no qual haveria de ser eleito.
Tais prerrogativas haveriam de transformar os
organismos centrais no único núcleo propriamente ativo do Partido, ao passo que
todas as demais células locais e regionais converter-se-iam em simples ferramentas
de implementaçao de medidas, em total contradiçao com o desenvolvimento natural
da luta de classes.
Segundo Luxemburg,
à parte os princípios gerais de luta, nao existiriam quaisquer diretrizes,
particularmente de ordem tática ou estratégica, que poderiam ser estabelecidas,
de antemao, e impostas, por parte dos organismos centrais, aos militantes
sociais-democrátas.
Existiriao, muito mais, permanentes
flutuaçoes, sendo que dirigentes, militantes e massa do Partido revolucionário
nao deveriam encontrar-se rigidamente separados.
Os Partidos da Social-Democracia deveriam
constituir, na ótica de Luxemburg, nao
apenas a organizaçao externa da classe trabalhadora, senao ainda a forma de
movimento a ela apropriada.
A teoria organizativa do Partido revolucionário
de Lênin seria uma mera
transferência mecanicista do funcionamento dos grupos conspirativos de Auguste Blanqui, de matiz
putchista, para o interior do movimento social-democrático revolucionário, do
início do século XX[72].
Além disso, segundo Luxemburg, a Rússia
Czarista situava-se, incontrastavel e puramente, diante de uma
revoluçao democrático-burguesa e nao proletária.
Na Alemanha,
pelo contrário, existiriam já fortes e inúmeros quadros proletários, cujo
estrato dirigentes era constituido naturalmente pela Social-Democracia Alema.
Se levada adiante, efetivamente, a concepçao
partidária de Lênin, o
fortalecimento exponencial das prerrogativas dos organismos centrais, até o
estágio de instauraçao de uma Ditadura
do Comitê Central, acarretar-se-ia, tendencialmente, o crescimento do
oportunismo e do burocratismo da organizaçao de luta revolucionária dos
trabalhadores.
Apenas o desenvolvimento espontâneo da luta
de classes poderia, finalmente, superar todos os obstáculos históricos,
direcionando a luta de classes para os trilhos corretos.
Nesse sentido, Luxemburg enfatizou, nitidamente :
“Passos falsos que um movimento realmente revolucionário dos
trabalhadores empreende sao, em sentido histórico, incomensuravelmente mais
frutíferos e valiosos do que a infalibilidade do melhor Comitê Central de
todos.”[73]
Observe-se ainda que, no domínio da teoria de
organizaçao do Partido revolucionário, Lênin
defendeu, à época, suas posiçoes nao apenas contra Luxemburg, senao ainda contra muitos adversários ativos no
interior do movimento proletário russo, entre os quais se encontrava Jules Martov, Georgi Plekhanov, Pavel
Axelrod, Irakli Tsereteli, Lev Deich, Vladimir Antonov-Ovseienko, Mosei
Uritsky, Noi Zhordania, Theodor Dan, Léon Trotsky entre outros.
Enquanto defensores e apoiadores da teoria
organizativa de Partido revolucionário de Lênin,
no contexto desse início do século XX, cumpre citar, porém, sobretudo, Jakov Sverdlov, Anatoli Lunatcharsky,
Nadejda Krupskaya, Félix Dzerjinsky, Gregori Zinoviev, Lev Kamenev, Josef
Stálin, Mikhail Lashevich, Mikhail Frunze, Aleksei Rykov, Maxim Litvinov,
Vladimir Antonov, Gregori Ordjonikidze, Alexander Bogdanov entre
outros.
Trotsky,
muito próximo das posiçoes de Luxemburg,
no domínio da teoria organizativa do Partido revolucionário,
qualificou, em 1904, em seu artigo intitulado Nossas Tarefas Políticas, a defesa do centralismo
democrático de Lênin como
sendo expressao de autêntica autocracia
e regime autoritário de Partido, reivindincando, pelo contrário, vida longa à
auto-atividade do proletariado e fim ao substitucionalismo político :
“Nas políticas internas do Partido, esses métodos conduzem, tal como
veremos abaixo, a que a organizaçao do Partido « substitua-se » ao Partido, o
Comitê Central substitua-se à organizaçao partidária e, finalmente, o ditador
substitua-se ao Comitê Central.”[74]
Em sua obra Minha Vida, encontramos, entao, as seguintes palavras de Trotsky,
acerca desse tema :
“Tendo vindo ao estrangeiro,
trazia o convencimento de que a redaçao deveria estar «submetida» ao Comitê
Central.
E esse era o modo de pensar da maioria dos partidários do Iskra.
-
“Nao, isso nao pode ser
assim”, respondeu-me Lênin, quando falávamos sobre isso, “as forças sao muito desproporcionais.
Como podem querer nos dirigir, a partir da Rússia ? Isso nao pode ser ... Nós
formamos um centro fixo, somos os mais fortes ideologicamente e vamos dirigir o
movimento a partir daqui.”
-
“Entao, será instaurado um
regime de plena ditadura, por parte da redaçao”, objetei.
-
“O que se perderá com isso ?”,
respondeu-me Lênin. “Nas circunstâncias atuais, nao há um outro remédio”
......
Separei-me de Lênin por
motivos que tinham muito de “moral” e até de pessoal.
Nada obstante, ainda que
aparentemente assim fosse, a divergência possuía, no fundo, um caráter político
que se refletia no campo organizativo.
Eu me encontrava entre os
centristas. Porém, é certo que, entao, nao podia ainda dar-me clara conta do
centralismo severo e imperioso que o Partido revolucionário devia reclamar para
lançar milhoes de homens no combate da velha sociedade.”[75]
O choque de concepçoes organizativas acerca do Partido revolucionário,
protagonizado por Lênin, de um lado, e, de outro lado, Luxemburg e tantos outros
mencheviques e seus aliados, nos primeiros anos do século XX, revela, antes de
tudo e respectivamente, o embate entre uma teoria consideravelmente dinâmica de
Partido marxista-revolucionário insurrecional e conspirativo – Partido esse de
vanguarda cujo componente essencial seriam os revolucionários profissionais,
atuantes sobre uma larga massa de militantes, apoiadores e simpatizantes
claramente entrevistos no quadro de uma estrutura organizativa centralizada e
unitária – e uma doutrina de Partido concebido enquanto reuniam de ativistas,
simplesmente defensores de princípios fundamentais de uma ideologia
revolucionária, organizado segundo a forma e imagem dos Partidos socialistas
efetivamente entao existentes na Europa Ocidental, a exemplo do British
Labour Party.
Lênin foi meridianamente claro ao
acrescentar que o contexto da luta de classes proletária era essencialmente
distinto na Rússia, situada essa sob o governo da autocracia czarista, na
medida em que a formaçao de qualquer Partido de linhagem socialista resultava
ser plenamente ilegal.
De toda sorte, tal aspecto permaneceu desconsiderado ou considerado
insuficientemente nas posiçoes de Luxemburg, seja no que respeitava a mais clara situaçao de autocracia
vivida, entao, pela Rússia Czarista, seja naquilo que concernia aos regimes
democráticos-burgueses ocidentais-europeus do início do século XX, onde o
ascenso do militarismo e do burocratismo dos Estados capitalistas imperialistas
tornavam-se, progressivamente, uma realidade irrefutável.
De toda sorte, o debate acerca da teoria organizativa do Partido
revolucionário demonstra claramente o marcante antagonismo de posiçoes
existentes entre Partido leninista e Partido luxemburguista.
Após a derrota da Revoluçao Russa de 1905,
registrou-se um momento de reaproximaçao entre Lênin e Luxemburg, no
domínio de diversas questoes político-analíticas, situadas no marco do Congresso
Socialista Internacional de Stuttgart, de 1907, quando ambos cerraram
fileiras na luta contra o oportunismo social-reformista de Eduard Bernstein e Eduard David, clamando
por uma retomada da luta revolucionária em prol da derrubada do capitalismo
durante a guerra imperialista que se anunciava no horizonte.
Importa anotar que o Congresso Socialista Internacional de
Stuttgart foi o VII Congresso da II Internacional, sendo
que se reuniu entre os dias 18 e 24 de agosto de 1907.
O Partido Social-Democrático Russo(POSDR) encontrava-se
representado nesse congresso por 37 delegados. Por parte dos bolcheviques,
tomaram parte nesse congresso Lênin, Lunatcharsky, Litvinov e
outros.
O congresso em referência ocupou-se com as seguintes questoes :
1.
Militarismo e Conflitos Internacionais ;
2.
Relaçoes entre os Partidos Políticos e os Sindicatos ;
3.
Questao Colonial ;
4.
Imigraçao e Emigraçao de Trabalhadores e
5.
Direito de Voto das Mulheres.
O trabalho principal desse congresso concentrou-se nas comissoes que
elaboravam os projetos de resoluçao para as sessoes do plenário.
Lênin interviu na Comissao
sobre Militarismo e Conflitos Internacionais.
Com seus requerimentos de emendas, colaborou para uma modificaçao
fundamental, em sentido do marxismo-revolucionário, do projeto de resoluçao
original acerca do tema,
No cerne da resoluçao congressual em tela redigiu-se o seguinte :
“Se a guerra ameaçar-nos, as
classes trabalhadoras e seus representantes parlamentares de todos os países
participantes que apóiam e compoem o Bureau Internacional obrigam-se a
mobilizar todas as suas forças para impedir sua eclosao, mediante aquelas
medidas que lhes pareçam ser as mais efetivas, o que modificar-se-á, segundo o
aguçamento da luta de classes e a situaçao política geral.
Se a guerra irromper, apesar
disso, eles obrigam-se a intervir em favor de sua mais rápida conclusao e
explorar, com todas as forças, a crise econômica e política, criada pela
guerra, para instigar o povo a acelerar o fim da dominaçao capitalista de
classe ... “[76]
Nada obstante, apesar dessa reaproximaçao de Lênin e Luxemburg em
diversos pontos políticos da luta de classes revolucionária, a questao da
doutrina de organizaçao do Partido revolucionário permaneceu intocada e
inconciliável.
A posiçao assumida pelos bolcheviques no quadro da II Internacional Socialista permaneceu
sendo singular e marginal.
Os dirigentes dos Partidos de massas dos países do mundo ocidental
entreviam na forma organizativa dos bolcheviques a expressao de um fanatismo
insurrecional e conspirativo plenamente incomum no contexto do movimento
socialista internacional, sendo que também Luxemburg esposava esse tipo de
apreciaçao.
Nos anos que precederam a eclosao da I Guerra Mundial, a luta
fracional no interior do movimento social-democrático russo atingiu um ponto de
destaque.
Agora, nao apenas os mencheviques situavam-se em oposiçao aos
bolcheviques, senao ainda quase todos os Partidos e agrupamentos socialistas
ligados ou interessados, de alguma forma, na situaçao política da Rússia
Czarista colidiam contra a concepçao de organizaçao partidária de Lênin.
Em maio de 1914, os mencheviques solicitaram à direçao da II
Internacional Socialista que interviessem, visando a coartar a tática
de ruptura dos bolcheviques, já bastante avançada, depois da realizaçao da Conferência
dos Bolcheviques, realizada em Praga, em 1912, a qual abriu a
perspectiva de fundaçao do novo jornal ”Pravda(A Verdade)”, enquanto
instrumento de propaganda ideológico-socialista e de organizaçao
partidário-revolucionária insurrecional[77].
O dirigente belga, Emil Vandervelde, enquanto
representante da Internacional, foi destacado para o cumprimento da tarefa de
averiguar, em Petersburgo, em maio de 1914, a possibilidade de unificaçao das
fraçoes em luta no interior do Partido Social-Democrático Russo (POSDR).
A despeito dos sinais clarevidentes da vindoura eclosao da I
Guerra Mundial, a II Internacional Socialista planejou,
entao, a realizaçao de uma conferência, reunindo as fraçoes em referência, para
o mês de agosto de 1914, na cidade de Viena, sendo que um encontro
preparatório teve lugar em Bruxelas, nos dias 16 e 17 de julho
do mesmo ano, dando criaçao a uma Comissao Especial, que acolheu o
relatório político de Vandelverde acerca do Partido
Social-Democrático Russo (POSDR).
Nada obstante, a própria composiçao
dessa Comissao Especial demonstra a avançada situaçao de
decomposiçao e reorganizaçao na qual se encontrava a Social-Democracia Russa.
Nela, estavam representadas os seguintes agrupamentos :
1.
os mencheviques, encabeçados por Martov ;
2. o Bloco de Agosto, composto
pelos mencheviques em conjuto com Trotsky, Axelrod e a Bund
Judaica, uma formaçao do ano de 1912, contraposta ao bolchevismo e
celebrizada por suas posiçoes liquidacionistas ;
3.
o grupo dirigido por Plekhanov ;
4.
o grupo liderado por Lunatcharky ;
5.
uma fraçao dos sociais-democratas polonêses, comandada por Luxemburg
;
6.
uma fraçao dos sociais-democratas polonêses, atuantes sobretudo na
cidade de Varsóvia, comandados por Unschlicht e Hanecki, influenciados
teoricamente por Radek e objetivamente situados do lado dos bolcheviques ;
7.
os sociais-democratas letoes, comandados por Stutchka, alinhados
rigorosamente com as posiçoes de Lênin ;
8.
os bolcheviques, dirigidos por Lênin e Zinoviev.
Os bolcheviques designaram Inès Armand, como sua representante
nos trabalhos da Comissao Especial em tela.
O próprio fato de que nem Lênin nem Zinoviev viajaram da Suíça
à Bruxelas para participar, diretamente, das discussoes e tarefas
abordadas pela comissao, ilustra quais as impressoes de ambos relativamente ao
possível conteúdo e decisoes que poderiam vir a ser adotadas na conferência,
planejada para realizar-se em agosto de 1914.
Em verdade, os bolcheviques e seus aliados abstiveram-se na votaçao que
estabeleceu que todos os grupos do Partido Social-Democrático Russo (POSDR) dever-se-iam
unificar sobre a base comum de um programa a ser objeto de uma resoluçao
do Bureau Internacional da II Internacional
Socialista, sendo que para sua execuçao haveria de ser convocado um
congresso geral de todo Partido.
Acerca desse episódio, Jules Martov relata-nos o seguinte :
“Axelrod e Luxemburg foram
encarregados de elaborar um Manifesto acerca da necessidade da unificaçao,
dirigido contra a política rupturista dos bolcheviques.
A fraçao de Lênin
encontrava-se, dessa forma, inteiramente isolada ...
Porém, a Guerra Mundial, que
eclodiu depois de algumas semanas, colocou um fim na obra de unificaçao
iniciada.”[78]
A aplicaçao dessa resoluçao de unificaçao significaria, evidentemente, a
separaçao dos bolcheviques da II Internacional Socialista, pois
nao existem quaisquer indícios no sentido de que Lênin se submeteria à disciplina
de uma maioria liquidacionista.
Luxemburg e Axelrod estavam, naturalmente,
convictos disso, no momento em que aceitaram a incumbência de redigir o
manifesto em referência.
A postura de Luxemburg quanto à questao organizativa do Partido revolucionário,
em particular suas diferenças metológicas em face da concepçao de Lênin
referente ao tema, aguçaram-se ainda mais, depois de que teve lugar a Revoluçao
de Outubro de 1917.
Acerca do tema, Fritz Rück, dirigente da Liga
Spartakus, em Baden-Württemberg, formula o
seguinte relato, digno de ser reproduzido aos leitores, referentemente ao
trabalho jornalístico, empreendido por sua organizaçao, nos últimos meses de
1917 e início de 1918 :
“Às vezes, foi difícil
conferir uma fisionomia ao jornal, porém, ao mesmo tempo, tratou-se de uma
ótima escola para mim isso de poder dizer sempre novamente, no mínimo, uma
parte daquilo que a política beligerante descortinava, chamando a atençao dos
leitores – muitos deles nos campos de batalha – sobre o colapso vindouro do
sistema dominante e a necessidade de uma postura revolucionária.
A censura, outrora dotada de
uma visao tao afiada, que riscava, freqüentemente, algumas frases ou palavras
sem que se pudesse tornar o texto visível ao leitor, era cego, porém, quanto a
um contexto : ele admitia, tranqüilamente, que se trouxesse artigos detalhados
e séries de artigos sobre a revoluçao na Rússia, seus problemas e a política
dos bolcheviques.
Por essa razao, servi-me, mais
do que de outra forma seria o caso, do material que continha uma
correspondência, surgida em Stockholm, redigida por Karl Radek, em colaboraçao
com o Comitê Central Bolchevique de Petrogrado.
Porém, um dia recebi um carta na qual Leo
Jogliches alertava-me para o fato de que os revolucionários russos possuíam
seus próprios métodos e concepçoes, agindo em conformidade com eles.
A oposiçao alema e, sobretudo, o Grupo
Spartakus, deveria, em verdade, apoiar a Revoluçao Russa, distanciando-se,
porém, de Lênin e de seu Partido.
Sobretudo, a publicaçao dos artigos
da pena de Radek nao seriam recomendáveis.
“As velhas histórias
polonesas”, disse-me Paul Levi, sendo que nao nos preocupámos muito, por um
certo tempo, com essas coisas.
A análise da política de paz
dos bolcheviques e das transformaçoes ocorridas na Rússia fornecia a única
perspectiva frutífera do fim da guerra, mediante uma revoluçao socialista.
Nem eu nem a organizaçao de
Württemberg ou de Stuttgart possuía qualque tipo de ligaçao direta organizativa
ou de outro gênero com os revolucionários russos.”[79]
A posiçao de Luxemburg acerca da questao organizativa do Partido
revolucionário, projetou-se até mesmo nos debates preambulares de fundaçao do Partido
Comunista da Alemanha, entendido como nova parte integrante e
inseparável da revoluçao proletária mundial, inaugurada com a Revoluçao
de Outubro de 1917.
Enquanto Karl Liebknecht, a partir de 9 de novembro de 1918, tornou-se
um dos principais encabeçadores da iniciativa de criaçao do Partido
Comunista da Alemanha – que viria a ocorrer em 30 de dezembro de 1918,
no Salao
de Festas da Câmara de Deputados de Berlim – [80], é
imperioso assinalar que Luxemburg seguiu opondo sérias
resistências a que esse processo se concretizasse efetivamente.
Acerca do tema, Wilhelm Pieck registrou as seguintes
consideraçoes :
“Cada vez mais fortemente,
surgiu a concepçao de que a fundaçao de um próprio Partido seria necessária
para consolidar o movimento, também em sentido organizativo.
Jogiches e também Rosa
Luxemburg podiam apenas contentar-se pouco com esse pensamento.
Eles procuravam muito mais
atingir seu velho objetivo de, no interior do Partido Social-Democrático
Independente (USPD), influenciar tao fortemente os trabalhadores a ponto de a
política da Liga Spartakus impor-se nesse Partido, trazendo a direçao desse último
para as maos de Spartakus.
Porém, para tanto, existia
precisamente o pressuposto de que o Congresso Imperial do USPD fosse convocado,
de modo a tormar-se posiçao acerca da política da direçao do USPD.
Uma vez que, sob nossa
reivindicaçao, nao ocorreu, até 25 de dezembro, uma resposta da direçao do USPD
acerca da convocaçao do Congresso do Partido, havendo ela declarado, em 24 de
dezembro, no “Freiheit (Liberdade)” que nao poderiam realizar o Congresso por
causa das dificuldades de tráfego e da agitaçao eleitoral (obs. De SVK:
agitaçao para as eleiçoes da Assembléia Nacional Constituinte), estabeleceu-se
uma convocaçao de uma conferência de todo Império da Liga Spartakus, para o
domingo, 29 de dezembro, na qual haver-se-ia de adotar um posicionamento sobre
a crise do USPD e a fundaçao de uma Partido próprio.
A conferência que ocorreu no
Salao de Festas do Câmara de Deputados, nao foi pública.
Depois de um curto debate,
decidiu-se, contra três votos, em favor da fundaçao do Partido.
Acerca do nome do Partido
existiram diferenças de opiniao, na medida em que Rosa Luxemburg e Jogiches
eram a favor do nome “Partido Socialista dos Trabalhadores”, ao passo que um
número de outros delegados posicionaram-se em prol do nome “Partido Comunista
da Alemanha”.
Por isso, foi acionada uma
comissao que, depois de prolongadas discussoes, decidiu em favor desse último
nome, com o acréscimo (Spartakusbund – Liga Spartakus).
A conferência foi interrompida
pela participaçao no funeral dos marinheiros, assassinados em 24 de dezembro
... “[81]
Cumpriu, entao, a Karl Liebknecht, ao apresentar,
nessa ocasiao, seu informe acerca da crise do Partido Social-Democrático
Independente (USPD), destacando o papel dessa organizaçao na alta
traiçao cometida por ela contra a revoluçao proletária mundial, concluir
resolutamente, defendendo a criaçao do Partido Comunista da Alemanha (KPD),
destacando o seguinte :
“Hoje, é necessário, perante
todo o público, traçar uma linha de separaçao, constituindo-nos enquanto novo
Partido autônomo, resoluto e implacável, coeso e unitário, no espírito e na
vontade, dotado de programa, objetivos e meios claros, determinados segundo os
interesses da revoluçao mundial socialista.
Nosso programa e nossos
fundamentos fáticos, aplicámo-los desde há muito tempo.
Temos de os estabelecer ainda
apenas de modo formal.
Nao temos de criar uma
novidade.
As massas já sabem o que somos
e o que queremos.
Devemos confirmar apenas
formalmente o que somos desde há muito tempo e continuar nossa obra, sobre uma
base mais ampla.”[82]
Com efeito, uma grande deficiência das lutas revolucionárias do
proletariado alemao do início do século XX consistiu, seguramente, no fato de
nao se ter formado, absolutamente, nesse país, um sólido Partido marxista-revolucionário,
enriquecido com a concepçao de Partido de Lênin.
No que concerne ao movimento Spartakus, esse último jamais chegou
a possuir uma orientaçao clara e determinada no sentido da criaçao de um
Partido de massas, firmemente organizado e disciplinadamente centralizado.
Ele permaneceu sendo um grupo relativamente restrito que, embora lutando
corajosa e ousadamente contra o imperialismo capitalista alemao e sua política
militarista, jamais foi capaz de conferir ao movimento proletário alemao a força
imprescindível para o cumprimento de suas tarefas revolucionárias.
A luta implacável de Karl Liebknecht contra as diferentes
variantes do oportunismo social-democrático na Alemanha, suas
intervençoes resolutas contra a flagrante traiçao revolucionária dos dirigentes
do SPD
e do
USPD, seu decidido impulsionamento da Revoluçao Alema de 1918-1919,
tornou possível o seu amadurecimento de aço, de modo a torná-lo o mais decidido
protagonista da fundaçao do Partido Comunista da Alemanha (KPD –
Spartakusbund), fundamentalmente inspirado no paradigma fornecido à
história pelo Partido Comunista da Rússia (Bolchevique), de Lênin, sentido-se
vinculado a esse último por sólida amizade.
Porém, o Partido Comunista da Alemanha (KPD – Spartakusbund) nasceu,
tardiamente, já ao fogo da Guerra Civil da Alemanha, sem dispor
das mais rudimentares possibilidades de conformar, dirigente e
preponderantemente, esse processo revolucionário.
A importância histórica de seu surgimento reside, portanto, precisamente
no fato de ter fixado uma pedra fundamental que deveria pavimentar o caminho
que haverá de ser percorrido pelas novas geraçoes de revolucionários na Alemanha,
no campo da concepçao de Partido marxista-revolucionário e de unidade da classe
trabalhadora alema, sobre bases combativas e revolucionárias.
II.2.
ACERCA DO IMPERIALISMO
As agudas diferenças ideológicas existentes entre Lênin e Luxemburg
no domínio da doutrina organizativa do Partido revolucionário estendiam-se,
porém, a outros domínios teórico-analíticos, em particular àquele concernente à
caracterizaçao acerca do imperialismo.
Se ambos concordavam, em linhas gerais, na apreciaçao geral da nova fase
histórica que perpassava o capitalismo no ínicio do século XX – em que a
concorrência das naçoes imperialistas tornava a guerra mundial inevitável – bem
como na análise de que os Partidos socialistas nao poderiam vencer mediante
reformas gradativas das relaçoes sócio-econômicas e político-institucionais do
capitalismo, fato é que divergiam, consideravelmente, quanto ao caráter
fundamental e ao método de luta a serem valorizados pelos
marxistas-revolucionários no cumprimento de sua tarefa de derrubada da
exploraçao e dominaçao capitalistas.
Destacando a influência da ofensiva militar e colonial promovida pelas
naçoes imperialistas européias, na virada do século XX, Luxemburg concebeu como
traço característico da nova fase do capitalismo a aspiraçao irrenunciável de
todos os Estados Capitalistas de lutarem por mercados estrangeiros e novas
áreas de investimentos[83].
Tomando como exemplo paradigmático a Gra-Bretanha e sua
dominaçao colonial na Índia e no Egíto, Luxemburg
enfatizou o fenômeno de criaçao de novas indústrias imperialistas,
fundadas no trabalho barato dos nativos, em um meio especialmente favorável à
intensificaçao da acumulaçao do capital.
Sua conclusao era, sobretudo, a de que, enquanto o mundo oferecesse aos
capitalistas tais possibilidades de exploraçao e extraçao de mais-valia,
poderiam as naçoes concorrentes deter o colapso do sistema por um certo
período.
Se, porém, todos os povos nao
dotados de relaçoes capitalistas avançadas fossem engulidos pelas naçoes
capitalistas-imperialistas, afundaria a acumulaçao do capital até um ponto
morto e a sociedade capitalista mergulharia em uma guerra mundial, a qual poderia
ser efetivamente impedida, senao combatida através da mobilizaçao do conjunto
da classe trabalhadora, com uma série de greves de massas.
Com base em tal concepçao, Luxemburg pretendia responder à
realidade econômica e política, profundamente marcada pelo advento do
imperialismo capitalista.
Lênin opôs-se a essa concepçao de
imperialismo de Luxemburg.
Partindo das análises de J. Hobson e R. Hilferding acerca da
ascensao do capital financeiro, Lênin desenvolveu suas concepçoes
acerca da dominaçao expansiva imperialista dos Estados capitalistas,
assinalando que a luta pela repartiçao do mundo já havia se iniciado[84].
Nesse contexto, a fase de desenvolvimento pacífica do capitalismo
imperialista, existente entre 1872 e 1914, havia sido superada, convertendo-se
toda a Europa em um barril de pólvora.
Nesse sentido, o capitalismo monopolista aspiraria a controlar todos os
fatores de produçao e todos os mercados do mundo, sendo que apenas a posse
desses poderia assegurar um mais pleno controle.
Segundo Lênin, apenas a intervençao consciente do proletariado, tomando
o poder em vários países, mediante a realizaçao de uma série de revoluçoes
socialistas vitoriosas, convertendo a guerra mundial imperialista em guerras civis,
poderiam colocar termo ao período de decadência e de martírio das massas
trabalhadoras.
Em verdade, para Lênin, a guerra mundial já tornara-se efetivamente
iminente, desde dos primeiros anos do século XX, havendo-se tornado um
pressuposto fundamental da realidade da luta de classes que se relacionava à
toda política de entao.
Nesse contexto, situou-se a concepçao de Lênin acerca das
revoluçoes a serem empreendidas na Rússia e do programa de seu Partido
revolucionário.
Quanto mais agudas se tornassem as contradiçoes internas do czarismo
russo, tanto mais intensa haveria de se tornar sua ambiçao por conquistas
territoriais, subjulgaçao de países, aventuras coloniais, marcada pela
pretensao de escravizar os povos do Cáucaso, de avançar até a China
e concretizar a aspiraçao pan-eslava de dominaçao expansiva até os Balcas.
Apenas a derrubada violenta do czarismo, mediante a conversao da guerra
imperialista em guerra civil russa, poderia apontar-se, igualmente, para a
consagraçao do Direito de auto-determinaçao das naçoes oprimidas, temática essa
suplementarmente polemizada agudamente entre Lênin e Luxemburg.
II.3.
A QUESTÃO MILITAR
DA REVOLUÇAO PROLETÁRIA
É sabido que Lênin combateu, agudamente, a concepçao defendida por muitos
socialistas europeus de que o desarmamento seria a expressao mais clara, mais
decidida e mais conseqüente da luta contra todo e qualquer militarismo e contra
toda e qualquer guerra[85].
Sendo assim, os socialistas nao poderiam, segundo sua ótica, ser contra
toda e qualquer guerra, sem deixarem de ser socialistas.
Em primeiro lugar, os socialistas nao poderiam ser jamais adversários
das guerras revolucionárias.
Segundo Lênin, a burguesia das grandes potências imperialistas tendo-se
tornado plenamente reacionária no quadro da eclosao da I Guerra Mundial, haver-se-ia
de reconhecer a guerra, que essa burguesia estava conduzindo, como sendo
reacionária, escravista e criminosa.
A problemática levantada a esse respeito por Luxemburg concernia,
precisamente, a como ficariam as coisas em caso de uma guerra deflagrada contra
essa burguesia, uma guerra dos povos que sao oprimidos por essa burguesia,
povos coloniais ou dela dependentes.
Nas “proposiçoes diretrizes” do grupo “Internacional”, dirigido
por Luxemburg,
constou, expressamente, de seu parágrafo 5 :
“Na era desse imperialismo desatravancado, nao
podem mais existir quaisquer guerras nacionais.”
No entendimento de Lênin, isso representava um equívoco
manifesto de Luxemburg.
Pois, a história do século XX, esse século do “imperialismo desatravancado”,
encontrava-se já repleta de guerras coloniais, guerras nacionais ou levantes
nacionais da parte desses povos oprimidos.
Uma das propriedades mais fundamentais do imperialismo consistiria,
precisamente, em que ele aceleraria o desenvolvimento do capitalismo nos países
mais atrasados, expandindo e aguçando a
luta contra a opressao nacional.
Disso decorreria, inevitavelmente, que o imperialismo teria de produzir,
com grande freqüência, guerra nacionais.
Pelo contrário, em sua brochura intitulada A Crise da Social-Democracia, redigida
sob o pseudônimo Junius, Luxemburg defendeu as referidas “proposiçoes diretrizes”,
afirmando que, na época imperialista, toda e qualquer guerra nacional contra
uma das grandes potências imperialistas conduziria à intervençao de uma outra
grande potência igualmente imperialista, concorrente da primeira, de modo que
toda e qualquer guerra nacional tranformar-se-ia em uma guerra imperialista[86].
Segundo Lênin, porém, diversas guerras coloniais, realizadas entre os
anos de 1900 e 1914, nao haviam percorrido esse caminho, sendo plenamente
equivocado afirmar-se que, depois do findar da I Guerra Mundial, nao
poderia vir a existir nenhuma guerra nacional, progressiva, revolucionária,
como p.ex. da parte da China, em aliança com a Índia,
a Pérsia
e o Siao
etc. Contra as grandes potências.
A negaçao de toda possibilidade de guerras nacionais sob o imperialismo
resultou ser, para Lênin, teoricamente incorreta, bem como manifestamente falsa,
em sentido histórico, sendo que, em termos prático-concretos, equivaleria ao
chauvinismo europeu : os pertencentes às naçoes opressoras de centenas de
milhoes de seres humanos na Europa, na África, na Ásia
etc., declarariam aos povos oprimidos que sua guerra contra as naçoes
capitalistas-imperialistas seria “impossível”.
Em segundo lugar, em conformidade com o pensamento de Lênin,
as guerras civis seriam também guerras, sendo que quem reconhecese a luta de
classes nao poderia deixar de reconhecer também as guerras civis que, em toda
sociedade de classes, representam uma continuaçao natural e inevitável, em
determinadas circunstâncias, da luta de classes, seu desenvolvimento e
aguçamento.
Negar ou esquecer as guerras civis, significaria precipitar-se no mais
extremo oportunismo, recusando a revoluçao socialista.
Em terceiro lugar, na ótica de Lênin, a revoluçao socialista
vitoriosa em um país nao excluiria, de nenhuma forma, de uma vez por todas,
todas as guerras em geral.
Pelo contrário : ela as pressuporia.
Partindo do pressuposto marxista que o desenvolvimento do capitalismo
processar-se-ia de maneira altamente desigual nos mais diferentes países, Lênin
formulou a conclusao de que o socialismo
nao poderia vencer, simultaneamente, em todos os países.
Ele venceria, de início, em um ou alguns países, sendo que outros
permaneceriam, por um certo tempo, burgueses ou pré-burgueses.
Essa situaçao haveria de produzir nao apenas fricçoes, senao ainda a
aspiraçao direta da burguesia de outros países a esmargar o proletariado
vitorioso em um certo país.
Em tais casos, uma guerra desencadeada pelo proteriado seria legítima e
justa.
Representaria uma guerra pelo socialismo, pela libertaçao de outros
povos da burguesia.
Destaque-se, além disso, que Engels teve a oportunidade de
reconhecer, expressamente, em sua carta de 12 de setembro de 1882,
dirigida a Kautsky, a possibilidade de “guerras defensivas do
socialismo”, que já teria vencido.
Ele referiu-se, nomeadamente, à defesa do proletariado vitorioso contra
a burguesia de outros países.
Assim, para Lênin, apenas depois de derrubada a burguesia no mundo inteiro
– e nao apenas em um país -, apenas depois de ter-se-a vencido completamente e
expropriado, tornar-se-iam as guerras impossíveis.
Cientificamente, resultaria, pois, plenamente incorreto como plenamente
nao revolucionário, contornar-se ou obscurecer-se o mais importante, a
derrubada da resistência da burguesia, i.e. o mais difícil, aquilo que se
exige, na maioria das lutas, na transiçao rumo ao socialismo, sonhando com a
possibilidade de um futuro socialismo pacífico.
Sendo assim, o conceito de “defesa da naçao” resultaria odiado
por alguns marxistas-revolucionários porque, através dele, os
sociais-pacifistas encobrem e disfarçam, na guerra de rapina em causa, as
mentiras da burguesia.
Porém, seria simplesmente estúpido nao pretender aceitar a “defesa
da naçao” por parte dos povos oprimidos, em sua guerra contra as
grandes potências imperialistas ou por parte do proletariado vitorioso, em sua
guerra contra qualquer Gallifet de um país burguês[87].
Seria fundamentalmente equivocado, em sentido teórico, esquecer-se de
que toda e qualquer guerra é apenas a continuaçao da política com outros meios.
A I Guerra Mundial seria, pois, a continuaçao da política imperialista
de dois grupos de grandes potências e essa política teria sido gerada e
alimentada pelo conjunto das relaçoes da época imperialista.
Porém, essa mesma época haveria, segundo Lênin, de produzir
necessariamente a política da luta contra a opressao nacional, bem como da luta
do proletariado contra a burguesia, e, por isso, gerar a possibilidade e a
inevitabilidade, em primeiro lugar, dos levantes nacionais revolucionários, em
segundo lugar, das guerras e levantes do proletariado contra a burguesia, em
terceiro lugar, da unificaçao de ambos esses tipos de guerras revolucionárias
etc.
II.4.
O DIREITO DE AUTO-DETERMINAÇÃO
DAS NAÇÕES OPRIMIDAS
O Direito de auto-determinaçao das naçoes oprimidas foi, antes de tudo,
concebido por Lênin enquanto uma arma de fortalecimento e formaçao da unidade
do proletariado na luta anti-imperialista.
Em torno da questao do Direito de auto-determinaçao, em particular do
Direito de auto-determinaçao da naçao polonesa, eclodiu uma profunda
controvérsia entre Lênin e Luxemburg.
Essa última entendia, em princípio, que o Direito de auto-determinaçao
era irrealizável sob o sistema de exploraçao econômica e dominaçao política
capitalista.
A idéia de uma futura sociedade autentica e integralmente socialista,
fundada na planificaçao avançada da economia, segundo Luxemburg, estaria, já
por si mesma, por indicar que as hostilidades nacionais viriam a ser limitadas
à esfera essencialmente cultural, tornando sem razao de ser as diferenças
nacionais.
Nesse sentido, Luxemburg enfatizava a
artificialidade das fronteiras nacionais, existente sob a égide do capitalismo.
Luxemburg defendeu essas suas posiçoes
em diversas oportunidades, já a partir dos primeiros anos de sua ativa vida
política, seja nos anos que precederam a deflagraçao da guerra, seja naqueles
que a sucederam.
Ao longo dos anos de guerra, porém, Luxemburg tornou mais complexa o
desvendar da essência de sua concepçao ao assinalar que a tendência do
capitalismo financeiro de expandir-se para além dos maiores entes estatais,
mesmo sem ocorrendo isso sem consideraçao da nacionalidade dos povos afetados,
representaria, em última instância, um progresso econômico, pois as formas
brutais da dominaçao imperialista preparariam o socialismo, no interior das
relaçoes sociais capitalistas, mediante o fenômeno da maior concentraçao das
forças produtivas.
Sendo assim, os sociais-democratas nao poderiam reivindicar, nos países
capitalistas plenamente desenvolvidos, o retorno às velhas formas, i.e. nao
poderiam lutar nem em favor do restabelecimento dos velhos Estados nacionais
nem em prol da edificaçao de novos.
Sua consigna deveria soar, entao : “Abaixo com as fronteiras.”
A luta contra a repressao de uma naçao poderia, assim, ser empreendida,
unicamente, enquanto parte inseparável
da luta geral contra o imperialismo e pelo socialismo, resultando as consignas
relacionadas com o Direito de auto-determinaçao das naçoes oprimidas atendidas,
por si mesmas e automaticamente, em uma nova ordem socialista.
Sua oposiçao política em face dos nacionalistas polonêses, era
sustentada por Luxemburg em nome de seu pretenso internacionalismo
socialista-proletário mais conseqüente.
A concepçao luxemburgista tornou-se celebrizada e aperfeiçoada, antes de
tudo, na resoluçao de seu partido polonês, firmada dois anos depois da eclosao
da I
Guerra Mundial Imperialista, nos seguintes termos :
“Nao temos nenhuma razao para admitir que, na sociedade socialista, será
conferida à naçao um caráter de unidade político-econômica.
Segundo todas as
probabilidades, ela possuirá apenas o caráter de uma unidade cultural e
linguística, dado que a divisao territorial do círculo cultural socialista,
enquanto essa existir, poderá resultar apenas segundo as necessidades da
produçao, com o que acerca dessa divisao, entao, teriam que decidir nao
naturalmente naçoes isoladas, a partir da própria plenitude de poder (tal como
o “Direito de auto-determinaçao” o exige), mas sim todos os cidadaos
interessados.
A transferência da fórmula do
“Direito de auto-determinaçao” para o socialismo consiste em um total
desconhecimento do caráter da comunidade socialista.
A guerra mundial comprovou que
o período de formaçao dos Estados Nacionais na Europa acabou ...
A postura da burguesia
política em todos os Estados repartidos demonstrou, de maneira crassa, que o
ideal do Estado Nacional é um anacronismo, na época imperialista, confirmando a
correçao da postura dos sociais-democratas polonêses-russos, em face das
aspiraçoes independentistas ...
O proletariado polonês jamais
fez da independência política o seu objetivo ...
Hoje, em vista das
experiências da guerra mundial, o levantamento da consigna da independência
enquanto meio de luta contra a opressao nacional representaria nao apenas uma
utopia perniciosa, senao ainda a negaçao dos fundamentos mais simples do
socialismo.”[88]
Munida de uu suposto saber inabalável acerca do futuro do socialismo, Luxemburg
impugnou, aguçada e habilmente, o Direito de auto-determinaçao das
naçoes oprimidas, destacando, antes de tudo, tratar-se de uma consigna inerente
à típica cadaverizaçao da II Internacional Socialista, cujos
paradoxos haviam conduzido, necessariamente, à defesa das respectivas pátrias
capitalistas pelo proletariado dos diversos países do mundo.
Lênin esforçou-se, ao máximo, por
combater também essa concepçao de Luxemburg, tendo sempre em conta,
porém, as dificuldades da luta dos sociais-democratas polonêses contra as
correntes nacionalistas.
A defesa das naçoes oprimidas e combatentes em favor de sua
auto-determinaçao representou, nesse sentido, parte integrante da doutrina
revolucionária de Lênin.
Em sua luta contra o Estado Czarista Semi-Feudal, Lênin conduziu
uma luta de duas décadas, denunciando como sendo uma traiçao ao socialismo
renunciar-se à defesa do Direito de auto-determinaçao das naçoes oprimidas.
Nesse sentido, teve oportunidade de destacar que a análise dos
revolucionários polonêses, comandados por Luxemburg, negligenciaria,
inteiramente, a questao contemporânea do Estado Burguês e da luta de classes
revolucionária do proletariado, super-dimensionando o papel da planificaçao da
economia do socialismo, enquanto, em verdade, constituiria apenas um aspecto da
sociedade socialista.
Citando o artigo de Friedrich Engels intitulado “O Pó
e o Reno”, Lênin afirma que as fronteiras naturais européias formaram-se
ao longo de séculos, sobre a base de um parentesco linguístico e
cultural-nacional.
No curso do processo histórico, os Estados maiores e mais ativos
engoliram os Estados menores e mais débeis, assim que as fronteiras naturais de
um período original foram suprimidas :
“O capitalismo
imperialista-reacionário deixará ao socialismo, que o substituirá, uma série de
anexoes, na Europa, e em outras partes do globo, tidas como herança.
Sendo assim, o socialismo
vitorioso, que, em toda linha, restabelecerá e levará até o final a mais plena
democracia, renunciará à determinaçao democrática das fronteiras do Estado ?
Ele nao deverá ter de contar
com as “simpatias” da populaçao ?
Basta levantar essas perguntas
para ver claramente o quanto nossos colegas polonêses afastam-se para longe do
marxismo, rumo ao economicismo imperialista.”[89]
O principal exemplo de trabalho de Lênin era seu próprio país :
“Na Rússia, onde pertencem às
naçoes oprimidas nao menos do 57 % da populaçao, i.e. mais 100 milhoes de pessoas,
onde as naçoes moram em suas principais massas nas áreas fronteiriças, onde uma
parte dessas naçoes é, no domínio da cultura, mais ampla do que os grao-russos,
onde a ordem político-estatal caracteriza-se através de um caráter bárbaro e
medieval inteiramente particular, onde a revoluçao democrático-burguesa ainda
nao foi levada até o fim : nessa Rússia é, para os sociais-democratas,
incondicionalmente obrigatório o reconhecimento do Direito de livre separaçao
das naçoes oprimidas desse país, em nome de suas tarefas democráticas e
socialistas ...
Os socialistas russos que nao
exigem a liberdade de separaçao para a Finlândia, a Polônia, a Ucrânia e assim
por diante ..., agem como chauvinistas, como lacaios dos monarquistas
imperialistas e da burguesia imperialista, cobertos com sangue e sujeira.”[90]
II.5.
EM FACE DA QUESTÃO DA
ASSEMBLÉIA NACIONAL
CONSTITUINTE
Cumpre, nesse passo, apresentar ao leitor, em breves linhas, a polêmica
travada entre Luxemburg e Lênin, enquanto revolucionários proletários marxistas,
acerca da natureza, extensão e limites da Democracia Proletária em face da
consigna de Assembléia Nacional Constituinte, Direito Geral Eleitoral, Liberdade de
Reunião e de Imprensa, no quadro da Revolução de Outubro, tendo
como esteio o debate em torno do Direito de Auto-Determinação da Naçoes
Oprimidas e a Questão Agrária Russa.
Com efeito, acerca do tema, Luxemburg teve a oportunidade de
escrever criticamente contra Lênin e os bolcheviques, em sua
celebrizada Acerca da Revolução Russa, de junho de 1918 :
„A consigna sacada pelos
bolcheviques : imediato apossamento e repartição do solo e da terra pelos
camponeses teve, precisamente, de atuar em sentido oposto.
Ela não representa não apenas
nenhuma medida socialista, senão ainda corta o caminho para uma tal medida, ela
produz em face da transformação das relações agrárias, em sentido socialista,
dificuldades insuperáveis(p. 343). ...
A Reforma Agrária de Lênin
criou para o socialismo no campo uma nova camada popular poderosa de inimigos.
Nisso, os bolcheviques possuem
parte de culpa.
Essas dificuldades objetivas
da situação, os próprios bolcheviques aguçaram, em grande medida, através de
uma consigna, que lançaram no primeiro plano de sua política : o assim-chamado
Direito de Auto-Determinação das Nações ou, o que se esconde debaixo dessa
frase na realidade : a decomposição estatal da Rússia. ...
De início, embate-se contra a
estultice e a rígida conseqüência com que Lênin e seus companheiros
atrelaram-se a essa palavra de ordem o fato de que se situam tanto em crassa
contradiçao com o seu centralismo da política, apregoado em outros momentos,
quanto em relaçao à posiçao que assumiram em face dos demais fundamentos
democráticos.
Enquanto demonstram um
desprêzo frio relativamente à Assembléia
Constituinte, ao Direito Geral Eleitoral, à Liberdade de Reunião e de Imprensa,
em suma, relativamente a todo o aparato das liberdades fundamentais
democráticas das massas populares (p. 346) que formam, todas juntas, o „Direito
de Auto-Determinação“ na própria Rússia, tratam o Direito de Auto-Determinação
das Nações enquanto um nó górgio da política democrática, em amor ao qual todos
os pontos de vista práticos da crítica real deveriam silenciar.
Enquanto eles não se
permitiram minimamente influenciar pelo plebiscito da Assembléia Constituinte na Rússia – um plebiscito conduzido na base do Direito Eleitoral Geral e em
total liberdade de uma República Popular -, e, dirigidos por ponderações
críticas insensatas, declararam, simplesmente, ser nulo e anulado seus
resultados, combateram eles, em Brest, pelo „plebiscito“ das nações
estrangeiras da Rússia acerca de sua apartenência estatal, enquanto o
verdadeiro guardião de toda liberdade e democracia, enquanto a qüintessência
inadulterada da vontade popular e a instância máxima decisiva na questão do
destino político das nações.(p. 347).“[91]
Adstringindo-se aqui à questao da Democracia Proletária na Ditadura
Revolucionária do Proletariado, cumpre assinalar que Rosa
Luxemburg abandona notoriamente, na passagem de sua crítica em
destaque, o critério de classe revolucionário-proletário, ao empreender sua
defesa „em geral“ da Assembléia Constituinte, do Direito
Geral Eleitoral, da Liberdade de Reunião e de Imprensa,
em suma, de todo o aparato das supostas liberdades fundamentais democráticas
das massas populares.
Em verdade, Luxemburg omite o fato fundamental e decisivo de que a Assembléia
Constituinte de que fala negou-se, expressamente, em 5 de Janeiro de
1918, a sufragar a Declaraçao dos Direitos do Povo Trabalhador e Oprimido e o Programa
do Poder Soviético, e, em 6 de janeiro de 1918, a aprovar a Política
de Paz do Governo Soviético.
Fosse essa Assembléia Constituinte realmente representativa das „massas
populares“(no original alemao : Volksmassen), não teria, de nenhuma
forma, embargado a votação da Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador
e Oprimido, justamente em sua sessão de abertura[92].
De toda sorte, seria pretender reduzir Rosa Luxemburg à condição
de uma social-oportunista vulgar – como o fazem os meta-marxistas
franco-gramscianos e os principais ideólogos do SU-QI – caso não
destacássemos, em letras garrafais, que Luxemburg, mais uma vez no texto em
destaque, Acerca da Revolução Russa, de junho de 1918, colocou-se, clara
e abertamente, em defesa da Ditadura Revolucionária do Proletariado, quando
assinalou, enfaticamente :
„Os bolcheviques colocaram,
imediatamente, enquanto objetivo dessa tomada do poder, todo o programa revolucionário
mais amplo : não, por ex., a garantia da Democracia Burguesa, mas a Ditadura do
Proletariado, com o objetivo de concretização do socialismo.
Com isso, conquistaram o
mérito histórico imortal de proclamar, pela primeira vez, os objetivos finais
do socialismo, enquanto programa imediato da prática política(p.341). ...
Isso é o essencial o
remanescente da política bolchevique.
Nesse sentido, cabe-lhes o
mérito histórico imortal por terem se adiantado ao proletariado internacional
com a conquista do poder político e da colocação prática da concretização do
socialismo, bem como por terem impulsionado, poderosamente, a disputa entre
capital e trabalho no mundo inteiro.
Na Rússia, o problema pode ser
apenas colocado.
Na Rússia não pôde, porém, ser
resolvido. Esse problema pode apenas ser resolvido em escala internacional.
E, nesse sentido, o futuro
pertence, em todas as partes, ao „bolchevismo“(p.
365).”[93]
Nada obstante, convém destacar,
documentalmente, como Lênin abordou
a problemática da consigna da Assembléia
Nacional Constituinte, nas Teses
e Exposição acerca da Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado, de
4 de março de 1919 :
“A mais completa bancarrota dos socialistas que se reuniram em Berna
(Lênin refere-se aqui aos socialistas da Internacional Amarela, Kautsky,
Hilferding, Martov, Longuet, Turati, Branting etc.), sua mais completa
incompreensão para a nova, i.e. para a Democracia Proletária, pode ser atestada
no seguinte :
Em 10 de fevereiro de 1919, Branting declarou encerrada a Conferência
Internacional da Internacional Amarela, em Berna.
Em 11 de fevereiro de 1919, seus participantes publicaram, em Berlim, no
jornal “A Liberdade” um apelo do Partido dos “Independentes” ao proletariado.
Nesse apelo aceita-se o caráter burguês do governo Scheidemann,
acusa-se-o de querer eliminar os Conselhos (Räte), que são chamados de
portadores e guardiães (Träger und Schützer) da revolução, e formula-se a
proposta de legalizar os Conselhos
(Räte), conferindo-se-lhes Direitos de Estado, dando-se-lhes o Direito de
Impugnação contra as decisões da Assembléia Nacional, com o efeito de ter
de decidir um plebiscito nacional.
Uma tal proposta desmascara a total falência ideológica dos teóricos que
defendem a democracia e não entenderam seu caráter burguês.
A tentativa ridícula de unificar o Sistema dos Conselhos, i.e. a Ditadura do Proletariado, com
a Assembléia Nacional, i.e. a Ditadura da Burguesia, desvenda,
definitivamente, às forças incessantemente crescentes da nova Democracia
Proletária, tanto a pobreza de espírito dos Socialistas Amarelos e dos
Sociais-Democrátas e sua essência politicamente reacionário-pequeno-burguesa
quanto suas concessões medrosas(p. 479)...
Nos primeiros oito meses da Revolução Russa foi por demais discutida a
questão da organização dos Soviets.
Para os trabalhadores não estava claro no que consistiria o novo sistema
e se seria possível fazer dos Conselhos um aparelho de Estado.
Procedemos em nossa revolução de modo prático e não teoricamente.
A questão da Constituinte, p.ex., não a havíamos colocado, teoricamente,
antes.
Não havíamos dito que não
reconhecíamos a Assembléia Constituinte.
Apenas depois, i.e. depois de que as
organizações soviéticas se espalharam por todo o país e conquistaram o poder político,
apenas então ocupamo-nos de desbaratar a Constituinte(p. 486).”[94]
É,
precisamente, nesse sentido que o artigo 9° da Constituição de Lênin e Sverdlov, a Constituição da Guerra
Civil, promulgada em 10 de julho
de 1918, poucos meses após a fundação da Internacional
Comunista, proclamou,
expressamente :
“Art. 9°. O problema fundamental da Constituição da República Federal
Socialista Soviética Russa envolve, em vista do presente período de transição,
o estabelecimento da Ditadura do Proletariado urbano e rural e dos camponeses
pobres, na forma de um poderoso poder soviético de toda a Rússia, com o
objetivo de derrotar completamente a burguesia, de aniquilar a exploração do
homem pelo homem e de instaurar o socialismo, no qual não existirá nem divisão
de classes nem poder estatal.”[95]
Em suas Teses
e Exposição acerca da Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado, de
4 de março de 1919, Lênin teve
a oportunidade de esclarecer, notoriamente, no quadro do I Congresso da Internacional Comunista – que indicou como
seus melhores representantes Karl
Liebnecht e Rosa Luxemburg [96] -, o significado do exercício da Democracia Proletária na Ditadura do Proletariado :
“A diferença fundamental entre a Ditadura do Proletariado e a Ditadura
das outras classes, da Ditadura dos Latifundiários na Idade Média, da Ditadura
da Burguesia em todos os países capitalistas civilizados, reside em que a
Ditadura dos Latifundiários e da Burguesia representava a opressão violenta da
resistência da maioria esmagadora da população, nomeadamente a opressão dos
trabalhadores.
Pelo contrário, a Ditadura do Proletariado é a opressão violenta da
resistência dos exploradores, i.e. de uma minoria ínfima da população, dos
Latifundiários e Capitalistas.
Disso resulta que a Ditadura do Proletariado deverá portar, consigo,
inegavelmente, não apenas, dito genericamente, uma modificação das formas e das
instituições da democracia, mas sim um tal modificação delas que os
escravizados pelo capitalismo, as classes trabalhadoras, execerão,
efetivamente, a democracia em uma medida jamais vista no mundo antes.
Realmente, a forma da Ditadura do Proletariado, que já foi praticamente
elaborada, i.e. o Poder Soviético na
Rússia, o Sistema de Conselhos na Alemanha, os Comitês de Fábrica e outras
instituições soviéticas análogas em outros países, significa e materializa
precisamente para as classes trabalhadoras, i.e. para a maioria esmagadora da
população, uma grande oportunidade para se servir dos direitos democráticos e
liberdades, tal como jamais existiu, mesmo que aproximadamente, nas melhores e
mais democráticas repúblicas burguesas(p. 479).”[97]
Precisando seu raciocínio acerca da Democracia Proletária, assinalou
Lênin, em suas teses 16 e 20
:
“16. A velha, i.e. a Democracia Burguesa e o Parlamentarismo foram
organizados de tal forma que precisamente as massas trabalhadoras eram
estranhas ao aparelho administrativo, na medida mais extrema.
O Poder Soviético, i.e. a Ditadura do Proletariado é, pelo contrário,
organizado de modo a aproximar as massas trabalhadoras do aparelho
administrativo.
Ao mesmo objetivo serve, igualmente, a unificação do Poder Executivo e
do Poder Legislativo na organização soviética do Estado e a substituição das
circunscrições eleitorais territoriais pelas unidades de produção, tais como
oficinais e fábricas(p. 480). ....
20. A cessação (no original alemão : Aufhebung) do Poder de Estado é o
objetivo que todos os socialistas colocaram a si mesmos, entre eles e, em seu
ápice, Marx.
Sem a materialização desse objetivo, o verdadeiro democratismo, i.e. a
igualdade e a liberdade são inatingíveis.
Apenas a Democracia Soviética, ou Proletária, conduz, praticamente, a
esse objetivo, pois ela ruma, imediatamente, para a preparação do total
perecimento de todo Estado, na medida em que incorpora as organizações das
massas dos trabalhadores na participação permanente e incondicional da
administração do Estado(p. 481).”[98]
Diante
dessas colocações iniciais, resulta claro que a Ditadura Revolucionária do Proletariado, sendo incorporadora da mais ampla e, em sentido histórico,
incomparavelmente, mais elevada Democracia
Proletária, indispensável à
construção de uma sociedade socialista, não pode e não deve incorporar, de
nenhuma forma, a mais ampla liberdade política para as forças
contra-revolucionárias, capitalistas-restauracionistas, no marco de uma Assembléia Nacional Constituinte.
Se tomados como base já mesmo os extratos,
acima reproduzidos, das Teses e
Exposição acerca da Democracia Burguesa e a Ditadura do Proletariado, de
4 de março de 1919, formuladas por Lênin,
na abertura do I Congresso da
Internacional Comunista, pode-se verificar que a Ditadura Revolucionária do Proletariado pressupõe a idéia de
opressão violenta da resistência dos exploradores, i.e. de uma minoria ínfima
da população de capitalistas e latifundiários.
Além disso, nessa mesma sede, Lênin reconhece, expressamente,
a possibilidade do uso da violência até mesmo contra certos setores do
proletariado, empenhados em destruir, direta ou indiretamente, a Ditadura Revolucionária do Proletariado,
incorporadora da mais ampla Democracia
Proletária :
“Nossos mencheviques percorreram, passo a passo, quase o mesmo
desenvolvimento dos teóricos dos Independentes na Alemanha (Lênin refere-se,
nesse momento, a Kautsky e Hilferding, entre outros).
Antes, quando neles tinham a maioria, eram a favor dos Soviets.
Diziam : “Viva os Soviets!” “Em defesa dos Soviets!”, “Os Soviets são a
Democracia Revolucionária!”.
Depois de que nós,
bolcheviques, alcançamos a maioria nos Soviets dizem que os Soviets não podem
existir ao lado da Assembléia Constituinte.
Diversos teóricos dos mencheviques fizeram, além disso, a mesma proposta
formulada pelos Independentes Alemães de acoplar
o Sistema Soviético à Assembléia Constituinte, organizando-os nos limites do
Estado(p. 484).”[99]
E, da maneira mais evidente, escreve Lênin, a seguir :
“A grande maioria dos mencheviques passou para o lado da burguesia e
luta na guerra civil contra nós.
Nós perseguimos, naturalmente, os mencheviques, nós até mesmo os
matamos, se eles lutam na guerra contra nós, contra o Exército Vermelho, se
eles assassinam nossos oficiais vermelhos.
À guerra da burguesia respondemos com a guerra do proletariado.
Uma outra saída não pode existir(p. 485).”[100]
Sendo assim, cumpre destacar ser plenamente
coerente com o patrimônio doutrinário e os ensinamentos político-práticos de Marx e Engels, Lênin e Trotsky, o
fato de que a Ditadura Revolucionária
do Proletariado pressupõe, evidentemente, não apenas a estrita
restrição de liberdade política e direitos democráticos para forças
contra-revolucionárias, p.ex. (neo)-fascistas ou
capitalistas-restauracionistas, senão ainda a possibilidade de uso da violência
até mesmo contra certos setores do proletariado que procurem destruir, direta
ou indiretamente, tal Ditadura,
incorporadora da mais ampla Democracia
Proletária.
Nesse mesmo sentido, Nahuel Moreno teve a oportunidade de assinalar, de maneira
notoriamente clara, o seguinte :
“Para Lênin, não era a liberdade política, porém apenas o poder
ditatorial que era “ilimitado”, após a Revolução de Outubro : « O termo
científico « Ditadura » significa nada mais nada menos do que
autoridade desvinculada de quaisquer leis, absolutamente irrestringida por
regras, quaisquer que forem, e baseada diretamente sobre a força » (Lênin,
Uma Contribuição à História das Questões da Ditadura, 1920).
Em O Estado e a Revolução, Lênin cita Engels : « Enquanto o proletariado ainda necessitar
(grifo no original) do Estado, ele não o faz no interesse da liberdade, porém a
fim de oprimir seus adversários e, tão logo se torne possível falar de
liberdade, o Estado enquanto tal deixará de existir. » (Lênin,
O Estado e a Revolução, 1917).
No « Programa do Partido Comunista », por ele escrito e
ratificado por Trotsky, em 1936, Lênin enfatiza as « restrições .... de
liberdade » até que o socialismo tenha vencido e a exploração do homem pelo
homem desapareça : « ...supressão de direitos políticos e outras
restrições de liberdade são meramente medidas provisórias que deixarão de ser
necessárias quando a possibilidade objetiva de exploração do homem pelo homem
deixar de existir... ».
Na Revolução Traída, o volume no qual o SU-QI procura basear sua
« norma programática e principista », Trotsky insiste que, sob a
Ditadura do Proletariado, devem existir « limitações estritas de
liberdade » (« Para estar assegurada, uma Ditadura Revolucionária significa,
por sua própria essência, estritas limitações de liberdade »). (Trotsky, A
Revolução Traída, 1936).
Próximo do exílio, ele nos alertou que « a Ditadura do Proletariado
é inconcebível sem o uso da força mesmo contra seções mesmo do
proletariado ».
Em 1938, o « Programa de Transição » repete essa declaração
« ... as fórmulas de democracia (liberdade de imprensa, direito sindical
etc.) significam, para nós, apenas consignas incidentais e episódicas no
movimento independente do proletariado ... »(Trotsky, A Agonia Mortal do
Capitalismo e as Tarefas da IV Internacional, 1938).“[101]
No que concerne à extensão da Ditadura Revolucionária do Proletariado,
portadora histórica da mais ampla Democracia
Proletária, já é possível deduzir-se, coerentemente, a partir das
citações e argumentações retro-apresentadas, qual seria a postura dela
exigível, no quadro dos processos revolucionários do proletariado, em face das
instituições mais típicas e inseparáveis do Parlamentarismo Burguês, tal como aquela consubstanciadora
da concepção jurídico-burguesa de Assembléia
Nacional Constituinte.
CAPÍTULO III
I GUERRA MUNDIAL
DO CAPITALISMO IMPERIALISTA
E A PAZ CIVIL
“Sobem os dividendos e caem os proletários.”
Com tais palavras Rosa Luxemburg descreveu a I Guerra
Mundial[102],
iniciada, formalmente, em 28 de julho de 1914, com a declaraçao de guerra da Áustria-Hungria
à Sérvia,
seguida da declaraçao de guerra da Alemanha à Rússia, em 1 de agosto, e
à França,
em 3 de agosto.
Nessa conflagraçao mundial, a guerra concorrencial das potências
imperialistas deixou de ser travada exclusivamente nos galpoes das empresas,
nos mercados mundiais e nos espaços diplomáticos, fundando-se em extorsoes de
mais-valia e conquista de esferas de influência : ela passou a invadir, suplementarmente, os campos
militares de batalha, no quadro de uma confrontaçao diretamente sangrenta.
Nessa medida, a I Guerra Mundial constituiu a
conseqüência estritamente lógica da época burguesa-imperialista, que desenvolve
a níveis inauditos as forças materiais de destruiçao militarista e a formaçao
de trustes empresariais mundiais, visando à conquista da vitória na luta pela
repartiçao dos mercados e das colônias: todos esses fenômenos conformadores de
efeitos necessariamente decorrentes da sociedade capitalista de classes mais
aguçadamente constituída e enebriada pelo veneno nacional-chauvinista.
Todos os elementos característicos da civilizaçao burguesa do século XX
encontram-se devidamente espelhados na I Guerra Mundial, de modo que ela pôde
configurar a primeira guerra total (totaler Krieg), na
qual passou a ser decisiva nao apenas a capacidade estritamente militar, senao
ainda a força de produçao econômica de toda a naçao.
Para que essa última alcançasse o nível mais elevado possível, o
empreendimento de guerra teve de ser ideologizado, ocultando-se os motivos
efetivos da confrontaçao militar, declarando-se a morte nos campos de batalha
com um “dever sagrado (heilige Pflicht)”.
Nesse preciso sentido, assinalou Rosa Luxemburg :
“A guerra é um assassinato
metódico, organizado e gigantesco.
Para um assassinato sistemático, deve-se, porém, criar a respectiva
embriaguez, junto a seres humanos que atuam normalmente.
Desde sempre, esse é o método
bem fundado dos dirigentes da guerra.
À bestialidade da práxis deve
corresponder a bestialidade do pensamento e da consciência : essa última deve
preparar e acompanhar a primeira.”[103]
Essa embriaguez ideológica, criada pela burguesia imperialista da Alemanha,
já antes mesmo de 1914 e intensificada exponencialmente, a partir de
agosto de 1914, assumiu a forma do conceito jurídico-político do nacionalismo
alemao, decantado, poeticamente, nos célebres versos de Rudolf
Herzog e Gerhard Hauptman :
“Oh! Tu, Alemanha, agora hás
de odiar,
blindada com jazidas :
A cada inimigo, um golpe de
baioneta no coraçao !
Nao faças nenhum prisioneiro !
Emudeças a todos, de igual
maneira !
Faz do cinto dos países que te
circundam um deserto.”[104]
Para os trabalhadores e camponeses alemaes, a fraseologia nacionalista
nao surgia, naturalmente, como expressao de um lirismo dramático, porém também
eles encontravam-se contaminados pelo entusiasmo militarista, devido à doutrina
da ”guerra
defensiva(Verteidigungskrieg)”, difundida pelos mais expressivos
sindicalistas e os mais renomados protagonistas do já degenerado Partido
Social-Democrático da Alemanha (SPD), como também por força da crença
de que, enquanto outrora “companheiros sem pátria (vaterlandslose
Gesellen)”, viriam a ser considerados, em seu próprio país, após a “comunidade
popular das trincheiras (Volksgemeinschaft des Schützengrabens)”, como
membros de uma nova naçao vitoriosa na guerra e emancipada dos preconceitos de
classe.
Com efeito, grandes massas populares, situadas sob o impacto da
conflagraçao mortífera e a dominante orientaçao social-chauvinista do
Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), especulavam com as
promessas de ganhos materiais que adviriam da nova Alemanha, convertida no
principal poder hegemônico-europeu vitorioso.
Com a eclosao da I Guerra Mundial, transformando-se a
II
Internacional Socialista em um cadáver mal-cheiroso, o
social-reformismo chauvinista adquiriu, na Alemanha, um novo estágio de traiçao
do proletariado mundial : postular sistematicamente reformas sociais,
valendo-se agora, porém, da tragédia da guerra e de suas injunçoes.
Em 4 de agosto de 1914, a fraçao do Partido Social-Democrático (SPD)
junto ao Parlamento Imperial votou em favor da concessao dos créditos de
guerra, exigidos pelo Governo do Império Monárquico Alemao,
rompendo, aberta e despudoradamente com toda e qualquer perspectiva de
solidariedade internacional proletária.
Nessa primeira votaçao, Karl Liebnecht e uma minoria
oposicionista, submetendo-se à disciplina partidária social-democrática,
somou-se aos demais deputados de sua fraçao, votando também em favor dos
créditos de guerra.
Em 26 de agosto de 1914, o Imperador Wilhelm II proclamou,
entao, de modo categórico e exultante :
“Já nao reconheço mais nenhum
Partido.
Reconheço apenas alemaes.”
Com essas palavras, foi introduzida, em solo alemao, a doutrina
burguesa-imperialista da “Paz Civil (Burgfrieden)”.
Através da aprovaçao dos créditos de guerra, a Social-Democracia Alema (SPD), consagrando,
historicamente, sua orientaçao política dominante de linhagem
social-chauvinista e de aberta colaboraçao de classes, expressando a
prelavência dos princípios lassalleanos em total prejuízo do
marxismo-revolucionário, converteu-se em fator sustentador da ordem e do Estado
burgueses.
Os fundamentos doutrinários equacionados por Ferdinand Lassalle,
fundidos ao social-reformismo de Eduard Bernstein, haveria de lograr
assegurar a renúncia por parte do Partido Social-Democrático (SPD) da perspectiva
revolucionária da luta de classes, promovendo sua subjulgaçao aos objetivos da
conduçao imperialista da guerra mundial, dado o fato de que a deflagraçao de
uma “guerra
total(totaler Krieg)” seria virtualmente impossível em face da
agüerrida oposiçao das massas trabalhadoras alemas.
Em 1916, a doutrina da “Paz Civil (Burgfrieden)” encontrou,
entao, a sua expressao mais bem acabada, em sentido estritamente
jurídico-legal, com a promulgaçao da “Lei de Serviço Patriótico Auxiliar
(Vaterländisches Hilfsdienstgesetz)”.
Com base nesse instrumento legal, o Comando Supremo das Forças Armadas Alemas, encabeçado
por Hindenburg
e Ludendorff, lograram obter junto aos principais dirigentes sindicais
do Partido
Social-Democrático (SPD) seu consentimento para o mais amplo
esgotamento das forças da classe trabalhadora, bem como a máxima elevaçao da
produçao militarista.
No quadro das tratativas relacionadas com a lei em tela, os dirigentes
sociais-democráticos negaram-se, ostensivamente, a opor qualquer resistência às
novas obrigaçoes trabalhistas introduzidas e à supressao da liberdade de
circulaçao dos trabalhadores, no interior do mercado de trabalhos alemao,
preferindo tomar parte dos debates acerca da redaçao desses dispositivos
normativos, a fim de alcançarem algumas poucas alteraçoes no texto legislativo
final, em particular relativamente à previsao de Juntas Arbitrais
(Schlichtungsausschüsse), a serem compostas, paritariamente por
empresários e representantes sindicais e presididas por um oficial das forças armadas
alemas.
Esse importante instrumento de colaboracionismo de classes, firmado por
sindicalistas, empresários e oficiais militares alemaes, veio a desempenhar um
importante papel reacionário na Revoluçao Alema de 1918-1919, tal
como restará demonstrado.
Anote-se aqui, apenas de passagem, que a orientaçao original, firmada já
em 1875, por ocasiao do congresso de fusao dos Eisenachianos e Lassalleanos,
relativa a conformar-se os sindicatos alemaes, enquanto representantes dos
interesses econômicos do proletariado alemao, seja como instrumentos de
conquistas de reformas sociais relacionadas com a melhoria do nível salarial e
condiçoes de trabalho, seja como ferramentas políticas de luta para a supressao
do sistema de escravidao assalariada, resultou integralmente eliminada, com a
promulgaçao da “Lei de Serviço Patriótico Auxiliar (Vaterländisches
Hilfsdienstgesetz)”.
A partir daqui, a confrontaçao existente entre trabalhadores,
empresários e governo foi substituída por um complexo mecanismo de trabalho-capital-Estado,
no qual os sindicatos deixaram de desempenhar um papel categoricamente definido
e claro, do que resultou em passarem a defender, desde entao, os interesses nao
mais os interesses dos trabalhadores, mas sim aquele do Estado Burguês e dos trabalhadores.
Os sindicatos alemaes foram, assim, integrados na organizaço da economia
de guerra imperialista, na medida em que o capitalismo alemao necessitava de
elementos estabilizadores, resultantes do fato de que, superada a perspectiva
de uma vitoria militar rápida, exigia a total incorporaçao das forças
integrantes da econômica nacional, impedindo-se greves e distúrbios operários.
A burguesia alema e seus dirigentes militares encontravam, assim, no Partido
Social-Democrático (SPD) e nos sindicatos sociais-democráticos
patrióticos, organismos supostamente capazes de domesticar as massas
trabalhadoras potencialmente revolucionárias, sempre que julgassem
encontrarem-se à vista as mais ínfimas possibilidades de obter-se concessoes
ainda que de secundária importância do capitalismo imperialista alemao.
CAPÍTULO IV.
ASCENSO REVOLUCIONÁRIO DE 1918-1919 :
A REORGANIZAÇAO DO MOVIMENTO
DOS TRABALHADORES ALEMAES
E O SURGIMENTO
DE UM GOVERNO APARENTE DOS TRABALHADORES
Essa orientaçao consistente na domesticaçao da própria base sindical,
visando à obtençao de reformas, tornou-se, gradativamente, irrealista, com o
acirrar dos conflitos bélicos.
O discurso sobre a “guerra defensiva” foi
progressivamente desmascarado, visto que as conquistas territoriais alemas em
face da Rússia Soviética, advindas da Paz de Brest-Litovsk,
possuiam um caráter inconfundível.
Ademais disso, a situaçao relativa ao abastecimento de alimentos
tornou-se catastrófica e o “campo da honra (Feld der Ehre)”, uma
superfície de carnifica de massas.
Nesse contexto, os proletários revolucionários, fundados, porém, na
defesa dos direitos e liberdades fundamentais de todos os indivíduos e
organizações sociais, entre os quais figuravam Rosa Luxemburg, Karl Liebknecht,
Franz Mehring, Clara Zetkin, Leo Jogliches, Julian Marchlevski,
ocuparam-se do combate principiológico do reformismo economicista e do
centrismo oportunista na Social-Democracia Alemã, levantaram-se contra a ideologia da “guerra
defensiva” e do social-chauvinismo, incorporado na tarefa política a defesa do Princípio de Defesa da Pátria(Prinzip der
Vaterlandsverteidigung), retomando e defendendo
diversas bases fundamentais da teoria intelectual e da prática política
proletário-revolucionária internacionalista de Marx e Engels, de modo a inclinararem-se em direção
das posições marxistas revolucionárias de Lênin.
Quando em 2 de dezembro de 1914, Karl Liebknecht quebrou a férrea disciplina partidária da Social-Democracia Alemã –
empenhada desde o início da I Guerra Mundial, em 4 de agosto de 1914, em
postular a Aprovação dos Créditos de Guerra(Bewillingung der Kriegskredite) – votando abertamente, enquanto
primeiro e único Deputado do Parlamento Imperial Alemao, contra esse projeto
social-chauvinista, consagrador da tormenta e do martírio do proletariado
europeu e mundial[105].
Nesse ato, Liebknecht revigorou a melhor e mais genuína tradiçao
marxista-internacionalista revolucionária dos anos 70 do século XIX,
brilhantemente defendida, entao, por August Bebel e Wilhelm Liebknecht,
hostil às ambiçoes beligerantes e de rapina do Estado Alemao.
Reagindo à ousada postura revolucionária de Karl Liebknecht, o
imperialismo alemao recrutou-o, em 1915, para a prestaçao de serviço militar
obrigatório, na qualidade de soldado de armamento (Armierungssoldat),
proibindo-lhe de exercer toda e qualquer atividade política, a nao ser aquelas
relacionadas com suas atividades institucionais-parlamentares.
Com base em seus posicionamentos resolutos, Liebknecht abriu o
caminho para a fundação de um novo organismo marxista-revolucionário em solo
alemão[106].
Esse novo agrupamento de proletários revolucionários haveria de surgir,
inicialmente, sob a bandeira do Gruppe Internationale(Grupo Internacional), que, desde logo, em razão de seu órgão
político, denominado Spartakusbriefe(As Cartas de Spartakus), passou a ser denominado de Spartakusbund(Liga
Spartakus).
No 1° de Maio de 1916, Karl Liebknecht conseguiu, até
mesmo, comandar uma manifestaçao, na Praça de Postdam, em Berlim,
tendo como consignas “Abaixo a Guerra ! Abaixo o Governo !”.
Desprovido de todos os seus mandatos parlamentares, Karl Liebknecht foi,
imediatamente, aprisionado e, em 23 de agosto de 1916, condenado, em segunda
instância, pelo Supremo Tribunal da Guerra de Berlim, a quatro anos e um mês de
penitenciária.
Tao somente em 23 de outubro de 1918 – após dois anos e dois mêses de
reclusao -, foi novamente libertado.
Porém, seu voto de 2 de dezembro contra os créditos de guerra e sua
declaraçao de guerra à guerra imperialista, lançada em 1° de maio de 1916,
logrou representar, historicamente, o fim da Paz Civil, celebrada
entre sindicatos, empresários e as instituiçoes alemaes do Estado.
O agrupamento encabeçado por Luxemburg e Liebknecht, tendo
aproximado-se da Esquerda de Zimmerwald, a
partir de setembro de 1915, porém não a ela expressamente aderindo, optou por
ingressar, então, no primeiro semestre de 1917, no Partido Social-Democrático
Independente da Alemanha(USPD), comandado, entao, por Karl
Kautsky, Hugo Haase e Eduard Bernstein.
Com efeito, quando a confirmaçao dos Direitos de anexaçao do
capitalismo imperalista alemao tornaram-se inconfundíveis, a ala esquerda do Partido
Social-Democrático (SPD), encabeçada pelos agora sociais-pacifistas Kautsky,
Haase e Bernstein, estando paralisada desde 1914,
decidiu-se por romper com a orientaçao e a disciplina partidária dos dirigentes
sociais-chauvinistas, reunidos em
torno de Ebert, Scheidemann e Noske.
Em março de 1917, fundou-se, na cidade de Gotha, o Partido
Social-Democrático Independente (USPD), sob cujo teto foi também se
reunir o Grupo Spartakus, dirigido por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht.
Nas empresas, dirigentes de comissoes de fábrica do USPD passaram a assumir
importantes posiçoes e atingir um grande auditório.
Em setembro de 1918, entrou em colapso o fronte alemao do oeste, e, em
no curso do mês de outro, o fronte alemao do leste : a Alemanha havia sido
derrotada na I Guerra Imperialista Mundial[107].
Tendo-se incrementado a resistência das massas contra a baldada conduçao
da guerra, seja em particular entre tropas combatentes, como também junto à
populaçao trabalhadora, expressando-se na forma de deserçoes e greves, a Direçao Suprema do Exército
Alemao viu-se forçada a exigir do Imperador Alemao e do Governo
Imperial fossem iniciadas, imediatamente, tratativas para a celebraçao de um
armistício.
Esse ato teve como imediata conseqüência a imediata renúncia do Governo
do Chanceler Hertling.
Nesse contexto, a orientaçao política da Social-Democracia Alema
(SPD) foi a de continuar propagandeando integralmente em favor da concessao de
créditos de guerra ao Imperador Alemao e seus generais,
com o argumento de que, desse modo, uma paz honrosa poderia ser alcançada, da
maneira mais rápida e exitosa.
Ainda em outubro de 1918, a Social-Democracia Alema (SPD) fez
publicar as seguintes linhas, em seu órgao jornalístico-partidário central,
denominado Vortwärts ! (Avante !), sobre a IX subscriçao dos empréstimos
de guerra :
“Um grande êxito dos
empréstimos de guerra fortalecerá, no interior do país, a credibilidade, e, em
face do exterior, elevará nosso respeito, contestando as esperanças dos
inimigos acerca de um colapso financeiro da Alemanha, conferirá ao Império os
meios para a continuaçao da luta, caso deva ela ser necessária, e, para o caso
de celebrar-se a paz, facilitará a transiçao de nossas relaçoes econômicas para
bases pacíficas.”[108]
Após a derrubada do Chanceler Hertling, um novo governo
da maioria parlamentar formou-se sob a direçao do Príncipe Max von Baden.
Em seu governo, ingressaram, em 3 de Outubro de 1918, nao apenas os
representantes do Partidos Nacional-Liberal e do Centro, senao ainda os da Social-Democracia
Alema (SPD), em particular os Deputados Philip Scheidemann e Gustav Bauer.
Acerca desse contexto histórico, Paul Fröhlich, renomado dirigente
revolucionário marxista-leninista alemao, teve a ocasiao de assinalar :
“A agonia da dominaçao
guilhermina havia começado.
Como sempre, em tais casos,
a febre de mudança, que assaltou a velha ordem, produziu o pânico.
Ele descarregou-se nas
regras mais contraditórias possíveis.
O velho haveria de ser
salvo através de reformas.
Um governo “parlamentar”
foi criado, em cujo ápice colocou-se o futuro Arquiduque de Baden (segurança da
monarquia), a cujos ministros pertencia o Social-Democrata Scheidemann
(apaziguamento das massas populares).”[109]
Esse novo governo deveria, entao, assumir a responsabilidade pela
formulaçao das justificativas esclarecedoras da derrota do país, dando início à
entabulaçao das negociaçoes de paz.
Através dessa tática política, Paul Hindenburg, Erich Ludendorff e
o conjunto do Estado-Maior Alemao procuraram subtrair-se a qualquer imputaçao
de culpa pela derrota militar.
Agora, nao mais sob a consigna de ”guerra defensiva(Verteidigungskrieg)”, mas
sim
de “defesa nacional (nationale Verteidigung)” – tendo-se em vista
o iminente contexto de derrota militar – haveriam de ser mobilizadas as
derradeiras forças do proletariado alemao para a continuaçao dos combates que
propiciassem a celebraçao de uma paz honrosa.
A nova política de “defesa nacional (nationale Verteidigung)”, visando
à conquista de uma paz honrosa, formulada e defendida por Ludendorff, correpondia,
pois, inteiramente, aos anseios dos principais dirigentes da Social-Democracia
Alema (SPD), entre eles sobretudo Friedrich Ebert, que, mediante seu
social-chauvinismo desbragado, pretendia conquistar pontos decisivos de
sustentaçao e simpatia, no seio das forças armadas alemaes, para a sua política
social-democrática.
Em análise desse novo contexto, uma das Cartas de Spartakus assinalou
o seguinte :
“ ... Scheidemann e Bauer, que
começam dando um beijo na mao da monarquia alema, terminarao ainda dando
hematomas (feijoes azuis) nos trabalhadores alemas, grevistas e manifestantes.
O socialismo de governo, com o
seu atual ingresso no governo, coloca-se, enquanto salvador do capitalismo, no
caminho da revoluçao proletária vindoura.
A revoluçao proletária
caminhará por cima de seus cadáveres.
Seu primeiro chamado, sua
primeira etapa deverá ser : Alemanha – República.”[110]
Com efeito, Friedrich Ebert entendia que, mediante a participaçao ativa da Social-Democracia
Alema (SPD), no Governo do Príncipe Max von Baden,
seria possível impedir-se o desencadeamento de uma revoluçao
proletário-socialista, no estilo da Revoluçao Russa de Outubro de 1917, fortalecendo-se
as perpectivas de uma saída monárquico-constitucional,
democrático-parlamentarista.
Com a instituiçao do parlamentarismo democrático no Império Monárquico Alemao, o
objetivo político defendido pela Social-Democracia Alema (SPD)
haveria sido atingido, sendo que essa última haveria de opor-se,
conseqüentemente, a qualquer tentativa adicional de impulsionar-se uma revoluçao
das relaçoes sociais entao existentes.
Em conformidade com isso, a Social-Democracia Alema (SPD) fez
publicar a seguinte conclamaçao, em 17 de outubro de 1918 :
“Aos homens e às mulheres
alemaes !
As relaçoes
político-internas do Império Alemao conheceram, em poucos dias, uma profunda
transformaçao, cujo significado nao atingiu à consciência ainda dos mais amplos
círculos populares.
A Alemanha encontra-se no
rumo que vai de um Estado Autoritário a um Estado Popular.
Na Prússia, está assegurado
o Direito Eleitoral Igual e, com isso, foi dado o primeiro passo decisivo para
o despedaçamento da dominaçao do latifúndio.
Também em todos os outros
Estados Federados, agitam-se as massas populares para eliminar os obstáculos
que se situam no caminho da livre efetivaçao da autêntica vontade popular.
A vontade do povo, enquanto
lei suprema, deverá tornar-se e permanecer sendo, dentro em breve, o motivo
principal decisivo para o Governo do Império e
dos Estados Federados.
Lamentavelmente, a situaçao
político-externa de nosso país teve de se conformar tao desfavoravelmente para
provocar essa transformaçao, em favor da qual a Social-Democracia tem lutado
desde há décadas.
Milhoes de vidas humanas
florescentes e bens culturais incomensuráveis teriam sido preservados da
destruiçao se o povo alemao, em sua maioria, nao tivesse confiado nos
dominadores, mas sim, desde há muito tempo, tomado seus destinos em suas
próprias maos.
Agora, a situaçao de nosso
país é amargamente séria.
O fronte do sudeste entrou
em colapso e, no fronte do oeste, atacam contra nossas tropas os exércitos de
massas da Entente que possuem à disposiçao os homens e as forças econômicas de
três continentes da terra, com terrível sobrepeso em homens e material.
A Alemanha e o povo alemao
encontram-se expostos ao perigo de se tornarem a vítima da ambiçao de conquista
dos chauvinistas britânicos-franceses e dos políticos conquistadores.
O que declarámos, no dia 4 de agosto de 1914 :
“Na hora do perigo, nao abandonaremos a nossa Pátria.”, vale hoje, em medida
fortalecida.
Com uma paz de estupro, da
humilhaçao e da violaçao de seus interesses vitais, nao se contentará jamais o
povo alemao.
Os trabalhadores dotados de
consciência de classe devem rejeitar deixar-se abusar
enquanto bode de ataque da
contra-revoluçao e cúmplice dos políticos do poder imperialista, desse e do
outro lado do fronte.
Nao é através da provocaçao do caos
bolchevique, através do desencadeamento da guerra civil que, além do rio de sangue fluente nos frontes
para desgraça vinda ao povo alemao, traria nova desgraça e novos rios de
sangue, fazendo crescer apenas a necessidade e a miséria e excitando a gana de
conquista de nossos inimigos, nao é através disso que ocorreria a renovaçao interna da Alemanha.
Exclusivamente para preservar nosso país e
sua vida econômica do colapso, assumiram os representantes de nosso Partido o
sacrífico de ingressar no Governo.
Nessa terrível situaçao,
eles assumiram seus ofícios de grande responsabilidade, dotados da aspiraçao de
trazer paz e liberdade para o nosso povo.
O Governo ao qual pertencem
sociais-democratas deve ser um governo da paz e da conformaçao democrática de
nosso país.
Apenas na medida em que o
for, nele permanecerao os sociais-democratas.
Visando a finalizar as
horripilantes mortandades, o novo Governo propôs, da maneira mais rápida
possível, um armistício, declarando-se disposto a concluir uma paz de Direito e
de confraternizaçao dos povos, tal como o Partido Social-Democrático a aspirou,
desde o início da guerra.
Também a parlamentarizaçao
e democratizaçao de nosso país foram assumidas, de modo enérgico.
O Partido
Social-Democrático coloca-se, com todas as forças, em favor de que a
transformaçao político-interna necessária ocorra de modo rápido e integral.
Quanto mais rapida e
decididamente colocarem-se as grandes massas populares atrás desse Partido,
tanto mais rapidamente alcançara ele seu objetivo, tanto mais facilmente
superará ele as forças que se colocam no caminho, de modo impeditivo e
obstaculizador.
Os poderes obscuros da contra-revoluçao já se
agitam contra essa revoluçao pacífica.
Aqueles políticos de
interesses e de conquista, conservadores pan-germânicos da indústria pesada,
aqueles chauvinistas demagogos e visionários que, apoiados pelos milhoes dos
lucradores com a guerra de todos os gêneros e estimulados pela camarilha
militar irresponsável, que envolveu, desde ano e dia, o povo alemao em uma
nuvem de fumaça artificial cheia de mentiras e engôdos, com cartazes coloridos,
asquerosos, enganadores e frases nacionalistas de vitória das assembléias do
Partido da Pátria e seus escritos, tal como em uma imprensa complacente, todos
aqueles culpados que conduziram o povo alemao à pior situaçao, escalam, agora,
depois de que seu castelo de cartas desabou, à cumeeira da sem-vergonhice,
caindo em cima do povo como piolhos diante dos olhos : eles tentam direcionar a
insatisfaçao do povo contra o novo Governo ... “[111]
Na medida, porém, em que cresciam o número de vítimas no quadro da I
Guerra Mundial e prolongava-se, indefinidamente, a conflagraçao bélica,
tornando-se, cada vez mais, difícil disfarçar a carnificina humana como
constituindo, agora, uma forma de “defesa nacional (nationale Verteidigung)” – comportou-se a classe
trabalhadora alema, progressivamente, de maneira mais hostil em relaçao às
batalhas de campo.
A Social-Democracia Alema (SPD) percebera apenas muito lentamente
essa mudança de postura dos trabalhadores e, ainda mais lentamente, relocalizou
sua posiçao política em face do novo contexto, de tal sorte que o abismo
existente entre a política oficial, defendida pela direçao social-democrática,
tornou-se tao grande a ponto de conduzir, inevitavelmente, a uma ruptura
verificada em grande parte do movimento dos trabalhadores, crescentemente
insatisfeito como estado de coisas da época.
A seguir, em 23 de outubro de 1918, no quadro de uma anistia geral concedida
a presos políticos, Karl Liebknecht foi libertado de sua reclusao carcerária, sendo
recebido entusiasticamente pelas massas trabalhadoras alemaes.
Juntamente com Rosa Luxemburg, Liebknecht assumiu,
entao, a direçao da Liga Spartakus, contribuindo para a ediçao de seu novo órgao
jornalístico, Rote Fahne (Bandeira Vermelha).
Nesse contexto, de intenso ascenso revolucionário, foi-se tornando
inevitável a rejeiçao pela Liga Spartakus de toda e qualquer
colaboraçao político-partidária nao apenas com a Social-Democracia Alema (SPD), de
Ebert
e Scheidemann, senao ainda com o Partido Social-Democrático Independente
(USPD), de Kautsky e Bernstein, em face do qual tornou-se inadiável uma
ruptura pela esquerda.[112]
Em 4 de novembro de 1918, eclodiu a revoluçao das massas alemas.
Seu prelúdio foi o Levante dos Marinheiros de Kiel que se
negaram, ainda no último minuto, a acatar ordens para zarpar e atacar as forças
armadas britânicas.
Em Kiel, surgiu, nesse quadro, o primeiro Conselho de Trabalhadores e
Soldados, que fez com que a onda revolucionária se espraiasse dessa
cidade para as outras grandes cidades do resto da Alemanha, tais como Berlim,
Frankfurt a.M., Bremen etc.
Pelo contrário, nas localidades do interior do país, onde a Social-Democracia
Alema (SPD) possuía mais pleno controle do movimento de massas, logrou
ela impedir que o mesmo fenômeno de surgimento de Conselho de Trabalhadores e
Soldados pudesse ser verificado[113].
Em observaçao a esse episódio lendário, escreveu o historiador alemao Evelyn
Anderson :
“A Revoluçao Alema nao foi
uma obra de qualquer uma das organizaçoes tradicionais da classe trabalhadora
alema.
Nao foi nem obra dos
Partidos ou grupos socialistas, como nao o foi dos sindicatos.
Até mesmo os dirigentes
revolucionários que tinham antecipado, em sua própria organizaçao, algo
similar, tal como os conselhos de trabalhadores (desempenhando um papel
dirigente no Comitê Executivo de Berlim do Conselho de Trabalhadores e
Soldados), tornaram-se tao somente ativos depois de que a revoluçao já havia
estourado em outras localidades.”[114]
Logo a seguir, em 9 de novembro de 1918, irrompeu a
greve geral na cidade de Berlim.
Trabalhadores e soldados armados dominaram as ruas, de modo ameaçador.
Tal movimento provocou o colapso definitivo do Império Monárquico Alemao.
O Chanceler do Império, Princípe Max von Banden, tranferiu
seu cargo, entao, oficialmente, para Friedrich Ebert, o Presidente
da Social-Democracia Alema (SPD), naquele contexto.
Acerca do tema, assinalou o renomado biógrafo de Rosa Luxemburg, Peter Nettl :
“Imediatamente, ambos os
Partidos Socialistas empreenderam negociaçoes acerca da formaçao do governo.
O SPD ofereceu,
generosamente, composiçao paritária do gabinete.
Em troca, os Independentes
(obs.: o USPD) retiraram, “a fim de consolidar as conquistas socialistas
revolucionárias”, quase todas as consignas radicais contra as quais embatia-se
o SPD.
Agora que o grande dia
havia chegado, os dirigentes sentiam um impulso para a unidade.
O novo governo do Império
designou a si mesmo “Conselho dos
Comissários do Povo”, compondo-se, respectivamente, de três representantes
do SPD e outros três do USPD.”[115]
Nesse mesmo dia 9 de novembro de 1918, Karl
Liebknecht proclamou, da sacada do Castelo de Berlim, a fundaçao da “República
Socialista Livre da Alemanha”.
Há duas horas antes do mesmo dia, porém, Philipp Scheidemann havia
instituído, no Parlamento Imperial Alemao, desde uma perspectiva notoriamente
burguesa-imperialista, a “República Livre Alema”.[116]
No dia seguinte, em 10 de novembro de 1918, reuniu-se,
no Circo
Busch, a Assembléia Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados de Berlim
e deu vida, mediante eleiçao, a um Conselho Executivo que, enquanto
órgao supremo de representaçao dos conselhos, haveria de funcionar até a
convocaçao de um Congresso dos Conselhos do Império.
Suas funçoes nao foram, porém, claramente, definidas.
Nada obstante, o resultado mais relevante dessa Assembléia Geral foi o de
haver optado pelo reconhecimento do Conselho dos Comissários do Povo, composto
por três membros da Social-Democracia Alema(SPD) – Ebert, Scheidemann e Landsberg –
e três membros do Partido Social-Democrático Independente(USPD) – Haase, Dittman e Barth
-, enquanto Governo Provisório da Alemanha, confirmando, pois, sua
existência e atribuiçoes.
A natureza política mais relevante desse Conselho dos Comissários do Povo,
formados
pelos principais representantes políticos do SPD e do USPD,
foi
a de constituir-se em um Governo Aparente dos Trabalhadores, i.e. de um Governo
Social-Democrático dos Trabalhadores[117].
Nessa ocasiao, os dirigentes do SPD e do USPD exigiram que Karl
Liebknecht ingressasse, igualmente, nesse Governo Provisório da Alemanha, sustentado
pela Assembléia
Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados de Berlim e por seu Conselho
Executivo.
Na agitaçao demagógica do do SPD e do USPD todos os
estratagemas desempenhavam um papel decisivo, sendo que, tornadas urgentes as
negociaçoes de paz, o nome de Liebknecht, consagrando o novo Governo
Provisório, adquiria uma extraordinária dimensao.
Karl Liebknecht, em sua intervençao oral
nessa Assembléia Geral, discursou de modo a desmarcar,
implacavelmente, a política nitidamente traidora desses dois Partidos
sociais-democráticos referidos.
A seguir, rechaçou a idéia de ingressar em um governo, integrado por
sociais-chauvinistas.
Visando a convencer os trabalhadores e soldados reunidos no Circo
Busch de que um governo comum com a direçao do SPD e do USPD representaria
exclusivamente o apoio da contra-revoluçao, Liebknecht justificou seu
repúdio, formulando, desafiadoramente, uma série de reivindicaçoes, cujo
atendimento conduziria à própria consolidaçao da revoluçao
proletário-socialista na Alemanha.
A mais importante delas enunciava a condiçao de que a Alemanha
haveria de se converter em uma República Socialista, com todos os
poderes institucionais, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder
Judiciário, concentrados exclusivamente nas maos dos organismos dos
trabalhadores e soldados, i.e. nas maos da Assembléia Geral dos Conselhos e do
Conselho
Executivo dos Trabalhadores e Soldados de Berlim.
Como se os dirigentes do SPD e do USPD do novo Governo
Provisório em processo de constituiçao rejeitassem tal proposta,
resultou fora de questao para Karl Liebknecht o ingresso em um tal
governo.
Nessa Assembléia Geral, Karl Liebnecht ainda admoestou, em alto e bom
tom : “A contra-revoluçao encontra-se no meio de vocês !”[118]
Na formaçao desse Governo Social-Democrático
dos Trabalhadores, funçao de primeira importância foi desempenhada pelo dirigente do USPD e principal doutrinador da II Internacional Socialita, Karl Kautsky.
Com efeito, Kautsky cumpriu efetiva
posiçao de estadista político no seio desse governo, demonstrando sua
conivência com e sua participaçao efetivamente minoritária em um governo de
colaboracao de classes.
Isso veio a claramente
invalidar sua posiçao político-histórica, defendida ainda em sua renomada obra Der
Weg zur Macht (O Caminho para o Poder), de 1909, em que frizava, de
modo aparentemente principista, deve ser condenada toda e qualquer participaçao
minoritária ou majoritária dos marxistas em um governo de coalizao, em virtude
de o proletariado dever sempre exigir de um governo em que seu próprio partido
esteja representando a assistência dos órgaos do Estado nas suas lutas contra o
capital[119].
Tal posicionamento
envelhecido de Kautsky situou-se, efetivamente, apenas no meio do
sendeiro político percorrido por ele, rumo à mais plena deformaçao do
marxismo-revolucionário.
Em face do ascenso
revolucionário dos anos de 1918 e 1919, Kautsky viria nao apenas
a defender a participaçao em governos de coalizao marcado pela colaboracao de
classes (i.e. um governo do USPD e do SPD), senao
ainda tornar-se ele mesmo Secretário de Estado do Ministério do Exterior
da Alemanha, em um dos piores momentos da contra-revolução em defesa do
capital na Alemanha, precisamente nos dias em que se tratava de
esmagar os lutadores comandados por Liebknecht e Luxemburg.
Sobre a participaçao de Kautsky
nesse governo de coalizao, pode-se ler até mesmo em um interessante estudo
histórico da ediçao Nr. 68 de “Der Spiegel”, de 1968, o seguinte
:
“Apesar de a funçao do Conselho
Executivo dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados residia,
preponderantemente, no controle do Conselho dos Comissários do Povo,
a concretizaçao dessa tarefa permaneceu em acordos existentes entre ambos esses
grêmios.
De fato, o poder
situava-se, porém, nas maos da Social-Democracia.
Contra a vontade do USPD,
o Conselho dos Comissários do Povo continuou a cooperar com os
secretários de Estado imperiais, com os juízes, com o aparato de administraçao
transmitido e com os militares ...
« Tratava-se de », soava a
divisa que proclamou o Dr. Jakov Reichert, dirigente de negócios
da Uniao dos Industriais Alemaes do Ferro e do Aço, « saber como
preservar também o empresariado da socializaçao ameaçadora, que varreria todos
os domínios da economia ».
Para desarticular as
preocupaçoes do USPD e do Conselho Executivo, foram
nomeados dois assessores para cada ministro (um do USPD e outro
do SPD), que, porém, ou por falta de conhecimentos específicos de
sua funçao de controle nao podiam agir ou por habilidade dos ministros eram
manipulados.
Assim, o Chefe do
Ministério do Exterior, Sr. Solf, ordenou ao Assessor do USPD,
Karl Kautsky, outrora um dos proeminentes teóricos do SPD,
devesse ele tomar conhecimento de “peças processuais que nao toleravam nenhuma
procrastinaçao... apenas depois de seu decurso”.
O Assessor do
Ministério da Guerra Prussiana, Paul Göhre, foi acusado por seus próprios
companheiros de se comportar, simplesmente, como uma « máquina de vistar papéis
».”[120]
Porém, também seria
possível entrever-se Kautsky participando também ativamente da Comissao
de Sozializaçao (SK) que, a requerimento do Comissário do Povo,
Hugo Hasse (USPD), foi instituida em 18 de novembro de 1918 e reunida,
em 5 de dezembro de 1918, pela primeira vez, na Rua Bunsen, de Berlim.
Acerca do tema, o conhecido
historiador berlinense, Manfred Behrend escreve, adequadamente, o
seguinte :
“ A direçao governamental «
puramente socialista» poderia editar decretos, com força de lei, para, com o
apoio dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados, impulsionar o
processo de socializaçao.
Nada fez, porém, nesse
sentido. ...
A composiçao (obs.: dessa comissao)
era adequada para isso.
Em verdade, nao se logrou,
em razao de um veto do USPD – tal como planejara o SPD
– conduzir-se à nomeaçao na comissao de Walther Rathenau, um
senhor dirigente monopolista, o Presidente da Sociedade Geral de
Eletricidade, proprietário de cerca de 100 cadeiras do conselho
administrativo e dirigente de longa data da Divisao da Matérias-Primas de
Guerra junto ao Ministério da Guerra Prussiano.
Porém, pertenciam a ela, ao
lado do Dr. Theodor M. Vogelstein, da Sociedade Auer,
antigo diretor da Metais de Guerra S.A. e, mais tarde, banqueiro,
ao lado do socialista de cátedra, Prof. Ernst Francke e o Professor
Docente, Dr. Emil Lederer, também o editor do jornal teórico
social-democrático “Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, Heinrich Cunow,
e o Presidente da Associaçao dos Trabalhadores Mineiros, Otto Hué,
igualmente um adversário da socializaçao, que, igualmente, defendia o acordo de
solidariedade de trabalho das associaçoes empresarias e dos sindicatos, voltado
para a conciliaçao de classes e salvaçao da dominaçao burguesa, acordo esse
datado de 15 de novembro de 1918.
A ala esquerda da Comissao
de Socializaçao (SK) – se assim se quer – era composta pelos Professores
Carl Ballod e Robert Wilbrandt, pelo ideólogo do USPD,
Karl Kautsky e por Rudolf Hilferding, Chefe Redator
da “Freiheit(Liberdade)”.”[121]
No contexto daqueles anos
de intenso ascenso revolucionário, foi-se tornando, por isso, inevitável a
rejeiçao pela Liga Spartakus de toda e qualquer colaboraçao
político-partidária nao apenas com a Social-Democracia Alema (SPD), de Ebert
e Scheidemann, senao ainda com o Partido Social-Democrático Independente
(USPD), de Haase, Kautsky e Bernstein, em face do qual
tornou-se inadiável uma ruptura pela esquerda.
Anote-se que, em verdade,
ainda em 24 de dezembro de 1918, Kautsky seguia integrando o Governo
Aparente dos Trabalhadores, de Ebert e Scheidemann, contribuindo para o
fomento do dualismo contemporizador-colaboracionista entre as forças do capital
e do trabalho.
De colossal importância para o desenrolar da Revoluçao Alema de 1918-1919 veio
a representar, imediatamente a seguir, porém, os trabalhos do I Congresso dos Conselhos de Trabalhadores e
Soldados do Império, o qual teve lugar, a seguir, entre os dias 16 e 20
de dezembro de 1918.
Particularmente, sobre esse tema estarei tratando no próximo capítulo.
CAPÍTULO V.
O CONGRESSO GERAL
DOS CONSELHOS DE TRABALHADORES
E SOLDADOS :
ASSEMBLÉIA NACIONAL
CONSTITUINTE
OU
IMPULSÃO DOS
ÓRGAOS DE PODER PROLETÁRIO
Os eventos de 6 de dezembro de 1918 demonstraram, claramente, as
concepçoes de Friedrich Ebert e Otto Wels, ordenaradores de disparos
contra os trabalhadores.
Em 10 de dezembro, retornaram à grande cidade as primeiras unidades das
tropas berlinenses do fronte.
Porém, ainda resultava ser muito cedo para desferir-se o grande golpe
contra-revolucionário.
De início, seria necessário esperar-se pelo I Congresso Geral dos Conselhos
de Trabalhadores e Soldados da Alemanha.
Esse congresso reuniu-se, entao, de 16 a 21 de dezembro de 1918, na Câmara
dos Deputados da Prússia, situada na Rua Prinz Albrecht, hoje Rua
Niederkirchner, sob a presidência de Richard Müller, renomado
dirigente do Partido Social-Democrático Independente (USPD).
Nas manifestaçoes de rua que acompanharam e guarneceram os debates desse
importante congresso de trabalhadores e soldados, as massas populares alemas
marchavam, por todos os lados da cidade de Berlim, portando faixas que, a
exemplo da Revoluçao de Outubro de 1917, postulavam “Todo Poder aos Conselhos ! (Alle
Macht den Räten !).”
Por diversas vezes, o congresso foi interrompido por representantes e
delegados de base dos trabalhadores e soldados que protestavam,
ininterruptamente, nas imediaçoes, exigindo a ”Proclamaçao da República
Socialista(Ausrufung der sozialistischen Republik)” e a ”Passagem
de Todo Poder aos Conselhos der Trabalhadores e Soldados (Übergabe aller Macht
an die Arbeiter- und Soldatenräte !)”.[122]
Inesperadamente, ingressaram, no salao de assembléia, 30 soldados,
portando sua bandeira de regimento, e cercaram a tribuna.
O soldado Felchner tomou, entao, a palavra, em nome dos Conselhos
de Soldados de Berlim e reinvindicou a aprovaçao das seguintes medidas
:
“1.O Conselho Supremo de
Soldados, composto pelos delegados eleitos por todos os Conselhos de Soldados,
assumirá o comando de todas as tropas e da marinha ;
2. Todas as insígnas
hierárquicas ficarao abolidas ;
3. Todos os oficiais serao
desarmados.”
A seguir, Felchner agregou :
“Essas medidas entram em vigor
tão logo ocorrer a entrega de armas, nas casernas das tropas regressadas.
Os Conselhos de Soldados sao
responsáveis pela lealdade e disciplina das tropas.”[123]
Tais postulaçoes apresentadas por Felchner sao, com efeito, típicas à
orientaçao geral das organizaçoes de soldados que pululavam por todo o Império
Alemao, nos últimos meses de outubro de 1918, logo após a derrota
sofrida por esse último nos campos de batalha.
Nesse mesmo sentido, o reconhecidamente moderado Conselho de Soldados de Hamburg apoiavam,
em essência, o conjunto das posiçoes de Felchner, dele divergindo, porém,
quanto à proibiçao de portar-se insígnas hierárquicas.
No desenrolar dos trabalhos congressuais, porém, a questao central que consumiu,
desde o início, os debates dos delegados presentes foi a disjuntiva : Assembléia
Nacional Constituinte ou República dos Conselhos.
Paralelamente, polemizou-se acerca da temática : estabilizaçao das velhas
estruturas sociais ou conformaçao revolucionária do sistema social.
Os aspectos fundamentais desses últimos debates resultavam claro,
provavelmente, apenas para a ínfima minoria dos representantes dirigentes dos
delegados, sendo que a abordagem acerca do acolhimento ou repúdio da
consigna de Assembléia Nacional Constituinte demonstrava-se para a grande
massa dos delegados presentes ser muito mais apenas expressao de sua mais
íntima e espontânea persuasao política do momento em causa do que da efetiva
compreensao e aplicaçao da concepçao e prática do marxismo revolucionário.
Os delegados foram eleitos em clima de grande confusao, sem procedimento
eleitoral regular, sem tese-guia[124].
Cada delegado era eleito na proporçao de 200.000 trabalhadores e
soldados, tendo como base o resultado de cálculo da populaçao alema de 1910.
Nessas condiçoes, foram eleitos 489 delegados trabalhadores e soldados,
sendo 405 deles oriundos dos Conselhos de Trabalhadores e 84
deles, dos Conselhos de Soldados[125].
Desses, 288 eram adeptos do Partido Social-Democrático (SPD) –
sendo 164 deles profissionais do Partido -, 90 do Partido Social-Democrático
Independente (USPD) – dos quais 31 profissionais do Partido -, 11
eram ligados a Heinrich Laufenberg e denominavam-se revolucionários unidos,
sendo que 10 eram membros da Liga Spartakus, dirigida por Rosa
Luxemburg e Karl Liebknecht.
Além disso, 25 delegados eram adeptos do Partido Democrático Alemao (DDP),
de orientaçao social-liberal, sendo que os 65 restantes nao possuiam
organizaçao partidária (tal como diversos delegados dos soldados).
No que tange a origem social dos delegados em causa, anote-se que 195
deles haviam sido eleitos pelos organismos de partidos e de sindicatos, 71 eram
intelectuais, 84 militares ativos das forças armadas alemas, 139 eram
trabalhores diretamente eleitos pela base[126].
Desde logo, esse I Congresso negou-se,
pereptoriamente, a permitir que Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg obtivessem
um mandato e participassem ativamente dos debates.
“Nem Liebknecht nem Luxemburg
receberam mandatos.
O USPD foi dirigido por Richard Müller, Däumig e Lebedour.
A Liga Spartakus, por Leviné e Heckert.
Uma grande manifestaçao,
organizada pela Liga Spartakus e pelos dirigentes saudaram o Congresso.
Porém, logo esse último
decepcionou os militantes de esquerda.
Por 344 votos a 98, foi
rejeitado o requerimento de Däumig que clamava pela convocaçao de um novo
Congresso de Conselhos.
Por 400 votos a 50, o
Congresso declarou-se em favor da Assembléia Nacional, fixando a data das
eleiçoes para 19 de janeiro.”[127]
O dirigente mais representativo que interviu nesse congresso em prol da
consigna de Assembléia Nacional Constituinte foi, inquestionavelmente, o
líder do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), Max Cohen.
Em sua intervençao do período da manha de 19 de dezembro, Max Cohen
exprimiu-se da seguinte forma acerca do tema :
“Karl
Marx concebeu o desenvolvimento de modo que as forças produtivas cresceriam
gradativamente a uma tal intensidade na qual essas forças de produçao,
monstruosamente expandidas, fariam saltar os limites capitalistas.
Asimm,
em decorrência do gigantesco crescimento das forças produtivas, a maioria do
povo viria a compor-se de proletários.
Nesse
contexto, Karl Marx afirmou : entao, soaria a hora da expropriaçao dos
expropriadores, entao, o socialismo substituiria o capitalismo e, entao, o
proletariado, tornado maioria no povo, assumiria a Ditadura, no período de
transiçao.”[128]
Seguramente, as alusoes de Max Cohen às posiçoes políticas de Karl
Marx resultavam fundamentalmente equivocadas e negligenciavam,
ostensivamente, as novas oportunidades revolucionárias, abertas com a Revoluçao
Alema de 1918-1919.
Fiel à sua visao nitidamente social-reformista, reprodutora das ilusoes
burguesas-constitucionais, assinalou, adicionalmente, Max Cohen :
“A socializaçao é um processo orgânico de desenvolvimento e de
reconformaçao, no qual novas formas econômicas existirao ao lado de formas
futuras e também de velhas formas.
Porém, caso nao se estimule
esse processo de desenvolvimento do modo mais cuidadoso, a catástrofe será
inevitável ...
Se a produçao paralisar-se –
tal como entre nós ocorre – se nao resultarem disponíveis nem matérias-primas
nem fábricas, o que se deverá, entao, propriamente socializar ?
Nessas condiçoes, o repentino
socializar significa uma loucura desabrida, posto que, nesse quadro, nao existe
absolutamente nada a ser socializado.”[129]
Nas palavras de Max Cohen, expressavam-se,
notoriamente, a orientaçao lassaleana-reformista de que apenas quando o
proletariado viesse a adquirir a maioria parlamentar, poder-se-ia refletir
acerca de medidas de socializaçao.
Para que o socialismo se convertesse em realidade fático-social, seria
de exigir-se ainda, segundo Cohen, a verificaçao de um segundo
pressuposto : as relaçoes econômicas haveriam de tornar-se, objetivamente, tao
maduras ao ponto de que uma transiçao orgânica do capitalismo para o socialismo
pudesse ser produzida sem grandes abalos econômicos e políticos.
Nisso, revelava-se a trágica cegueira dos reformistas e revisionistas
sociais-democratas em face da realidade, existente entao na Alemanha,
os quais, desde antes mesmo de 1914, levantavam a exigência de afirmar-se
contra os principais teóricos marxistas-revolucionários das crises sistêmicas a
perspectiva de desenvolvimento gradativo e exponencial do capitalismo,
despregado de modo pretensamente isento de crises, como forma de transitar-se,
pacificamente e sem grandes comoçoes sociais, ao socialismo.
A partir desse ponto de vista, formou-se a concepçao, defendida por Max
Cohen e pelos mais célebres dirigentes do Partido Social-Democrático da
Alemanha (SPD), de que o socialismo haveria de ser conquistado
nao mais através da mais impiedosa luta de classes revolucionária, fundada na
crise econômica e político-estatal do sistema capitalista, mas sim atingido
mediante a tomada pacífica do poder político, viabilizada pelos mecanismos
parlamentares.
De outro lado, cumpriu ao dirigente do Partido Social-Democrático
Independente (USPD), Ernst Däumig, enquanto defensor da República
dos Conselhos[130],
rebater os posicionamentos sustentados por Max Cohen.
Com efeito, Däumig clamou, ao dirigir-se aos delegados da classe
trabalhadora alema, presentes por ocasiao do congresso em destaque :
“Companheiros e Camaradas !
Poucos momentos atrás, quando
o companheiro Cohen de modo tao candente defendeu a Assembléia Nacional e
posiciou-se em favor de uma data fixada brevemente para sua convocaçao, vocês
aplaudiram, em parte, entusiasticamente.
Porém, com isso, vocês
declararam, indubitavelmente, a sua própria sentença de morte ...
O que deverá fazer esse
Sistema de Conselhos ao lado de um Sistema Burguês Democrático-Parlamentar, tao
amplamente assentado, tal como há de decorrer da Assembléia Nacional, uma vez
instituída !
Uma armaçao vazia, uma
marionete !
Na vida econômica, os
sindicatos de velho estilo e, naturalmente, os Conselhos de Trabalhadores serao
expulsos das fábricas, de modo inteiramente rápido, contando ainda com o
auxílio da Assembléia Nacional e da burguesia. ...
Porém, eu lhes digo : todas as
suas ilusoes em relaçao a uma nova Alemanha livre, livre também em sentido
cultural e espiritual, ilusoes em relaçao a um povo alemao que lançou para
longe de si esse velho espírito de vassalagem, cravado, ainda hoje, muito
profundamente, no fundo do povo alemao, ilusoes em relaçao a uma Alemanha na
qual o povo também assuma também uma parte realmente ativa em seus destinos – e
nao corra, a cada dois anos ou três anos, com uma cédula eleitoral na mao, rumo
às urnas eleitorais – vocês nao obterao com esse velho sistema.”[131]
Essa intervençao de Ernst Däumig resultou, entretanto,
derrotada.
Após esses debates, o congresso em causa fracionou-se profundamente,
apesar das discussoes turvas e obscuras levadas adiante, já antes mesmo que o
congresso se iniciasse, no quadro das diversas organizaçoes partidárias e
sindicais.
Por um lado, os representantes da Social-Democracia Alema (SPD) afirmam
defender o socialismo e ser ele efetivamente necessário para a Alemanha,
de modo a poder conquistar a confiança de uma larga base dos delegados
presentes, por outro lado, sustentavam ser o socialismo, no momento histórico
em andamento, plenamente irrealizável, devido ao caos econômico decorrente das
destruiçoes provocadas pela I Guerra Mundial.
Além disso, as ponderaçoes e as dúvidas surgidas junto a alguns
delegados sociais-democratas acerca do curso essencialmente parlamentar de seu
próprio Partido foram superadas, em regra, pela perversa propaganda
social-democrática, repleta de referências ameaçadoras ao “exemplo caótico”
fornecido, entao, pela Rússia Soviética.
Em verdade, as revoluçoes russas haviam sempre possuido uma grande
repercussao no movimento dos trabalhadores alemaes, encontrando sempre seus
grandes defensores em Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht.
A Revoluçao de 1905 influenciou, decisivamente, o debate sobre as
greves de massas.
Em verdade, desde esse ano, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg passaram
a protagonizar, intelectual e praticamente, a fraçao de extrema esquerda da Social-Democracia
Alema (SPD), difundindo, integralmente, os métodos de luta dinamizados
pelos trabalhadores oprimidos da Revoluçao de 1905, na Rússia,
propagando a necessidade do impulsionamento de greves de massas e
greves gerais, bem como de uma específica campanha antimilitarista, visando à
derrubada da exploraçao e da dominaçao do imperialismo capitalista alemao[132].
Em 1912, a posiçao antimilitarista radical de Karl Liebknecht
tornara-se internacionalmente renomada, constituindo-se como eixo diferenciador
em face do antimilitarismo anarquista e semi-anarquista, postulados por Gustave
Hervé, Ferdinand Domela Nieuwenhuis, Henriette Roland-Host e outros.
A Revoluçao de Fevereiro de 1917 estimulou o movimento alemao
anti-militarista e republicano.
A Revoluçao de Outubro de 1917 proporcionou aos revolucionários
alemaes nova orientaçao e impulso.
Para Rosa Luxemburg, esse último evento consistiu no fato mais
poderoso, produzido pela conflagraçao bélica mundial :
“Na Rússia, o problema pode
apenas ser colocado, nao podendo ser aí resolvido.
Tal problema pode ser
resolvido apenas em nível internacional.
E, nesse sentido, o futuro
pertence, por todos os lados, ao bolchevismo.”[133]
A partir da Revoluçao de Outubro de 1917, cresceu junto a Rosa
Luxemburg e Karl Liebknecht o compromisso de impulsionar a revoluçao
proletária alema, precisamente tendo em conta o fato de que o isolamento da Rússia
Soviética haveria de conduzir à sua inevitável degenaraçao e fracasso.
Diversamente comportavam-se os sociais-democratas e Karl Kautsky, que
condenavam, asperamente, os supostos absurdos e dificuldades decorrentes do ”Movimentismo
Revolucionário Russo”.
Nesse preciso sentido, Max Cohen contestou aos
posicionamentos de Ernst Däumig, por ocasiao do I Congresso Geral dos Conselhos
de Trabalhadores e Soldados da Alemanha, enfatizando, prazerosamente,
as dificuldades de abastecimento, conhecidas durante o primeiro ano do Comunismo
de Guerra, impulsionado pelo Estado Russo-Soviético :
“Nao se pode introduzir o
socialismo precisamente através da violência e decretos.
Isso foi-nos demonstrado pelo
exemplo russo.”[134]
Esse contexto de manobras, intrigas, ambiçoes e disputas pessoais
permitiu que os principais dirigetens da Social-Democracia Alema (SPD), comandados
nos bastidores por Friedrich Ebert e Philipp Scheidemann, obtivessem as melhores
posiçoes, efetivamente alcançavel devido ao fato de que imperava grande
indefiniçao nas fileiras dos mais variados partidos e sindicados do congresso
em tela, inclusive do próprio SPD.
Para os dirigentes da Social-Democracia Alema (SPD) e para
alguns renomados dirigentes do Partido Social-Democrático Independente
(USPD), o ressentimento anti-russo do período anterior à I
Guerra Mundial conformou-se na nova ideologia anti-comunista, em cujo
quadro deixaram de ser formuladas análises objetivas acerca dos problemas da Revoluçao
de Outubro.
A essa circunstância agregava-se a deficiência entao existente de
informaçoes confiáveis, o que concedia amplo espaço para que pudesse ser
desenvolvida uma densa propaganda socia-democrática contra-revolucionária
dirigida contra os bolcheviques e o governo de Lênin.
Em vista da maioria social-democrática, verificada no I
Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha, defensora
da consigna de Assembléia Nacional Constituinte, nao puderam se impor os
defensores da República dos Conselhos.
Em verdade, os delegados da maioria colocaram-se nao apenas em favor da
consigna de Assembléia Nacional Constituinte, senao ainda em prol da
fixaçao de uma mais breve data para a realizaçao das eleiçoes em tela, i.e. o
dia 19
de Janeiro de 1919, ao invés do anteriormente programado 16 de
março de 1919.
Ademais, conferiu-se ao Conselho dos Comissários do Povo o
exercício dos Poderes Legislativo e Executivo e a um Conselho Central da República
Socialista da Alemanha, eleito no congresso enquanto sucessor do
temporário Conselho Executivo, a funçao de “supervisao parlamentar”
das atividades do Conselho dos Comissários do Povo e do Governo Prussiano.
Na medida em que o Partido Social-Democrático Independente
(USPD) negou-se a participar do recém-instaurado Conselho Central, todos
os 27 membros integrantes desse novo órgao vieram a ser representantes do Partido
Social-Democrático (SPD), denominados à época os “mamelucos de Friedrich Ebert
(Eberts Mamelucken).”[135]
O mais expressivo contraste a essas ilusoes constitucionais, acolhidas
pelo I
Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha, revelou-se
no grande acolhimento dos delegados presentes da luta contra a organizaçao
burguesa-imperial das forças armadas alemas.
Fundando-se nos “7 Pontos de Hamburg”, o congresso
em referência decidiu-se em favor da constituiçao de Forças Armadas Democráticas.
Nesse sentido, o novo regime de funcionamento das corporaçoes militares
haveriam de ser o seguinte :
1.
o Conselho Central haveria de exercer o poder de comando sobre o
exército, a marinha e as tropas de defesa (Ponto Nr. 1) ;
2.
as qualificaçoes hierárquicas e o porte extraordinário de armamentos
haveriam de ser suprimidos (Ponto Nr. 2) ;
3.
os Conselhos de Trabalhadores estariam incumbidos da manutençao da
disciplina (Ponto Nr. 3) :
4.
bem como, incumbidos do afastamento de oficiais linha-dura, com o que se
haveria de assegurar “distúrbios” (Ponto Nr. 4) ;
5.
a eleiçao de dirigentes das forças armadas haveria de ser realizada
pelos soldados (Ponto Nr. 5) ;
6.
aprovaçao da admissao de oficiais em ofícios militares administrativos e
hierárquicos, tendo em conta a concretizaçao do objetivo de desmobilizaçao e o
critério de lealdade dos oficiais militares em face do processo revolucionário
em curso (Ponto Nr. 6).
7.
supressao das forças armadas regulares e a instituiçao de forças armadas
populares (Ponto Nr. 7)[136].
De toda sorte, essas últimas exigências nao eram aceitáveis para o
oficialato burguês alemao, sendo que os principais representantes do Partido
Social-Democrático (SPD), Friedrich
Ebert e Philipp Scheidemann, eram disso plenamente conscientes e
apressaram-se por assegurar ao Supremo Comandante das Forças Armadas em
Exercício, General Groener, que essas resoluçoes permaneceriam sendo
palavras vazias, na medida em que o I Congresso Geral dos Conselhos de
Trabalhadores e Soldados da Alemanha haveria de ser considerado apenas
sob o ponto de vista tático de contençao das forças revolucionárias, sem
qualquer vinculaçao política efetiva.
Sua insistência sobre a preservaçao dos princípios basilares
jurídico-burgueses de Assembléia Nacional Constituinte e República
Democrática Parlamentar, enquanto pressupostos de toda e qualquer
política de conformaçao social, significava, precisamente, que Ebert,
Scheidemann, Noske e seus seguidores manobravam, segundo os interesses
do colaboracionismo de classes, procurando submeter e domesticar os órgaos de
expressao da vontade proletária de massas da Alemanha de 1918 : o Congresso
dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados, o Conselho dos Comissários do Povo,
o Conselho Executivo ou o Conselho Central, furtando-se,
muitas vezes, ao dever de efetiva prestaçao de contas aos órgaos
revolucionários de controle de suas negociaçoes entabuladas com a Direçao
Suprema do Exército.
Ebert lutava, desesperadamente, pela
preservaçao da estrutura das velhas forças armadas imperiais alemas,
pretendo-as converter apenas em forças armadas republicanas em plena harmonia
com as forças armadas proletárias, em espírito de colaboraboracionismo,
conciliacionismo, e, nesse sentido, alegava pretender apenas depositar grande
importância na manutençao das divisoes de defesa das fronteiras do país.
Nessa esteira de raciocínio, Ebert argumentou, despudoradamente,
diante do I Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha
em referência :
“Existiu um tempo em que
nossas fronteiras polonesas em particular estiveram em perigo em razao dos
ataques de tropas irregulares, vândalos etc.
Estávamos obrigados a tudo
realizar no interesse de nosso povo abalado, a fim de que protegê-lo na direçao
do Leste ...
No que diz respeito agora ao
Oeste, recebemos, no domingo, da Suprema Direçao do Exército a proposta de que
se deve criar uma proteçao aqui, diante da zona neutra desocupada, sendo que,
para isso, deve ser organizada uma certa tropa.
Houve também, simultaneamente,
propostas acerca de como conectar essas novas tropas com aquelas tropas de
segurança dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados.
Solicitamos, de início,
determinadas informaçoes junto à Suprema Direçao do Exército ...
Essa é a situaçao concreta,
apresentada calma e objetivamente.
É, pois, justo que o colega
Barth (obs.: trata-se aqui de Emil Barth) desfira ataques contra isso ?”[137]
Solidários e compromissados com o militarismo burguês-imperialista
alemao, Ebert, Scheidemann e Noske seguiam dando ouvidos e
amedrontavam-se com as palavras do Marechal Imperial de Campo, Paul Hinderburg,
quando afirmava :
“Nao reconheço a resoluçao
acerca do poder de comando dos oficiais, redigida pelo Congresso dos Conselhos
de Trabalhadores e Soldados.
Para o exército, permancem
válidos os acordos firmados com o governo Ebert.
Apenas se esse último mantiver
suas declaraçoes precedentes ..., permanecerá tudo como antes no exército.”[138]
Nada obstante, a Revoluçao Alema de 1918-1919 tinha-se
desenvolvido muito diversamente em relaçao ao que conceberam os “realistas”
sociais-reformistas.
As contradiçoes da acumulaçao capitalista conduzira ao imperialismo
capitalista e esse último à I Guerra Mundial, evento
político-militar de monstruosa aniquilaçao de riquezas econômicas, humanas e
materiais, a partir de cuja base o socialismo poderia, de fato, inicialmente,
começar a ser introduzido, caso se lograsse destruir, integralmente, o velho
aparato de Estado Burguês-Imperialista e erigir-se a Ditadura Revolucionária do
Proletariado, incorporadora da mais avançada e historicamente superior
democracia dos trabalhadores, materializada politicamente no Governo
dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha.
Ao invés de nao permitir permanecerem existindo as reminescências
capitalistas decaídas, o Sisyphus social-democrático de 1918
tratou de defendê-lo e empurrá-lo, novamente, com sangue e suor, para o “ápice
do desenvolvimento”.
Por força das resoluçoes do I Congresso dos Conselhos dos Trabalhadores
e Soldados, realizado de 16 a 21 de dezembro de 1918, a impulsão da Revoluçao
Alema de 1918-1919 haveria de se tornar extraordinariamente mais
dificultosa, precisamente porque, com a decisao em favor da consigna de Assembléia
Constituinte, fortaleceu-se a concepçao constitucional, ilusória e
fantasiosa, de que apenas um Parlamento livremente eleito estaria
legitimado para a efetuaçao de intervençoes mais amplas do Estado nas relaçoes
sócio-econômicas, ainda que se acoplasse aos Conselhos de Trabalhadores e
Soldados.
Os grupos marxistas-revolucionários que se esforçavam por acelerar o
processo de transformaçoes sociais viram-se, após a ocorrência do congresso em
tela, expostos à dificuldade adicional de serem, falsificadamente, considerados
como suspeitos de putchismo e de desconsiderarem, em absoluto, a vontade
formalmente expressada pela maioria do proletariado alemao, em uma palavra : de
serem “bolcheviques”.
Por outro lado, os resultados extraídos do I Congresso dos Conselhos dos
Trabalhadores e Soldados, realizado de 16 a 21 de dezembro de 1918,
estimulou, consideravelmente, a presença das tropas contra-revolucionárias em e
nas imediaçoes de Berlim, no curso de dezembro de 1918 e nos primeiros meses de
1919.
Particularmente depois dos trabalhos congressuais, Ebert nao se sentiu
vinculado a qualquer representaçao dos trabalhadores e soldados no desenrolar
de seu plano sigiloso de colaboraçao com os dirigentes das forças armadas
alemas.
Logo após o fim desse congresso, começou-se a executar os planos
militares traçados pelo Estado-Maior dos Generais Groener e
Hindenburg, consistente em eliminar, decisivamente, os principais
representantes da revoluçao proletária alema.
O que nao havia sido plenamente conseguido com os eventos de 6 de
dezembro de 1918, pode ser expressivamente conseguido no quadro do I
Congresso dos Conselhos dos Trabalhadores e Soldados, celebrado de 16 a
21 de dezembro de 1918 : em 23 de dezembro, Ebert solicitou ao General
von Lequis, comandante da guarniçao de Brandenburgo, marchar
sobre a cidade de Berlim e ocupá-la militarmente.
Essa solicitaçao haveria de cumular-se à decisao de dissoluçao da Divisao
de Marinha Popular.
Com efeito, essa divisao havia-se convertido no símbolo mais expressivo
daqueles meses, sendo que contou, de início, com cerca de 6.000 marinheiros rebelados,
até que, posteriormente, diversos milhares de marinheiros e soldados a ela se
filiaram.
Desde a Revolta de Kiel, pairava sobre a Divisao de Marinha Popular uma
verdadeira auréola de glória revolucionária.
Durante os primeiros dias de outubro de 1918, haviam os membros dessa
tropa ocupado, provisoriamente, o bairro do antigo Castelo Imperial.
Sem aderir forlmamente a qualquer organizaçao partidária da época, a Divisao
de Marinha Popular colocara-se à disposiçao de Ebert, sendo que esse último procurou se livrar dessas forças
indesejáveis, tao logo quanto fosse possível.
Após diversos choques e embates violentos, os marinheiros haviam
levantado sua pretensao ao recebimento regular de soldo militar.
Em 23 de dezembro, a divisao em causa ocupou, por algumas horas, a Chancelaria
do Império e o Departamento de Telégrafos, visando
a protestar contra o nao pagamento de seus soldos.
Emil Barth, delegado de polícia de Berlim
e representante do Partido Social-Democrático Independente (USPD), conseguiu,
entao, que os marinheiros levantassem sua ocupaçao dos prédios públicos, sob a
promessa de que negociaria, pessoalmente, com o governo de Ebert e Scheidemann.
Entrementes, interviu o General von Lequis, bombardeando
pesadamente o bairro do antigo Castelo Imperial, porém, uma vez que
resistisse, bravamente, a Divisao de Marinha Popular, agora na
regiao do Marstall, Ebert e seus seguidores foram forçados a reconhecer o
Direito de permanência dos marinheiros nessa localidade, desde que fosse
firmado o compromisso de essa divisao de rebelados cessar com seus
recrutamentos de novos combatentes.
Quando as notícias sobre a resistência encarnecida da Divisao
de Marinha Popular chegou ao conhecimento da Direçao Suprema do Exército abateu-se
sobre essa última um profundo desânimo e um marcado abatimento[139].
O militarismo burguês-imperialista alemao pretendeu, a partir de entao,
romper, definitivamente, com os principais representantes do conciliacionismo
de classes de entao, Ebert e Scheidemann.
Porém, a resposta de Ebert ao Estado-Maior Alemao,
incorporado na figura do General Groener, foi inequívoca :
“Saiba o Sr. De uma coisa :
agora, eu vou-me embora.
Vou deitar-me por três dias.
Tenho urgente necessidade disso.
Vou sumir totalmente da
Chancelaria do Império e vou dormir.
Providenciarei para que todos
os demais senhores partam também, nesses dias.
Só porteiro vai ficar.
Se o grupo de Liebknecht
aproveitar agora a oportunidade de puxar o Governo para o seu lado, niguém
estará por aqui.
Nao sendo encontrado nada, ele
fará um golpe de vento.
Entao, depois de alguns dias,
em algum outro lugar, talvez em Potsdam, estaremos em condiçoes de abrir nosso
Governo novamente.”[140]
Diante desse contexto, estavam lançados alguns dos pressupostos fundamentais para a eclosao da Greve
Geral de Janeiro de 1919, que viria a ser encabeçada pelo USPD,
pelos sindicalistas independentes revolucionários (revolutionäre Obleute)
e Karl
Liebkencht.
A despeito disso, resulta inteiramente surpreendente, à primeira vista,
os motivos e as razoes pelas quais, ao reunir-se o II Congresso Geral dos Conselhos
de Trabalhadores e Soldados da Alemanha, em 15 de abril de 1919, também
na cidade de Berlim, já não possuir esse órgão de poder proletário qualquer
maior significado palpável, tendo em vista que, no período intermediário entre
janeiro e abril de 1919, inúmeros dirigentes revolucionários de fábricas haviam
sido exterminados ou aprisionados, no quadro da Guerra Civil da Alemanha,
despregada durante esses meses[141].
Finalmente, em 23 de agosto de 1919,o Ministro do Interior da
Social-Democracia Alemã, Gustav Noske, mandou confiscar o Bureau
do Conselho dos Trabalhadores e Soldados da Grande Berlim[142].
CAPÍTULO VI.
A FUNDAÇAO DO PARTIDO COMUNISTA DA ALEMANHA (KPD) SOB O SIGNO DA ASCENSÃO
DE KARL RADEK :
DIFERENÇAS DE MATIZES POLÍTICOS ENTRE LIEBKNECHT E LUXEMBURG NO QUADRO
DA GREVE GERAL DE 1919
Nos dias 29 e 30 de dezembro de 1918, reuniu-se, na Sala de Festas da Câmara dos
Deputados de Berlim, o Congresso de Fundação do Partido Comunista
da Alemanha(KPD – Liga Spartakus).
Em uma sessão fechada, ocorrida nas vésperas, a Liga Spartakus posicionara-se
apenas com três votos contra a saída do Partido Social-Democrático
Independente(USPD), resolvendo-se em prol da fundação de um partido
próprio.
A esse projeto associou-se também o grupo dos Radicais de Brêmen, denominado
Comunistas
Internacionais da Alemanha, encabeçado por Paul Fröhlich e Johan Knief, redatores
do jornal Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores).
Esse último agrupamento encontrava-se, em verdade, muito mais próximo do
Partido
Bolchevique de Lênin do que a Liga Spartakus, à época ainda
dirigida pela orientação política de Rosa Luxemburg, apesar da grande
simpatia que Karl Liebknecht, Clara Zetkin e Franz Mehring, desde a Revolução
de Outubro de 1917, nutriram pelo bolchevismo.
Um terceiro grupo de pequena dimensão, encabeçado por Julian
Borchard, denominado Socialistas Internacionais da Alemanha, igualmente
próximos ao bolchevismo, já não possuiam praticamente qualquer significado
existencial à época do Congresso de Fundação.
Acerca do tema, Hermann Weber assinalou o seguinte,
destacando a influência de Karl Radek sobre o movimento
marxista-revolucionário alemão dessa época :
“No interior da esquerda radical
alemã formou-se, durante a guerra três grupos.
O mais expressivo (e
propriamente precursor do PCA(KPD)) foi o Grupo Internacional(p. 11). ...
O segundo grupo radical, os
radicais de esquerda de Brêmen, posicionavam-se muito mais próximos do que a Liga
Spartakus.
Além de seu centro em Brêmen,
possuíam pontos de sustentação, no norte, na Saxônia e no Reno.
Sob a direção de Johann Knief
e Paul Fröhlich, editavam o Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores), um
semanário legal, e concordavam com a Liga Spartakus nas questões fundamentais.
Colaboradores de
Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores) eram também os dirigentes
bolcheviques Lênin, Radek, Zinoviev e Bronski(p. 12).
O representante do grupo, Paul
Fröhlich, aderiu, em Kienthal, à Esqueda de Zimmerwald (leninista) –
diferentemente dos representantes da Liga Spartakus.
Plenamente no sentido
leninista, os radicais de esquerda de Brêmen também não entraram no USPD, mas
sim lutaram pela fundação de uma partido próprio da esquerda radical.
Esse grupo chamava-se, desde
1918, “Comunistas Internacionais da Alemanha”.
Um terceiro grupo da radical
de esquerda situava-se, sob a direção de Julian Borchardt, um grande amigo de
Radek, igualmente bem próximo dos bolcheviques.
Esses “Socialistas
Internacionais da Alemanha”, como seu órgão “Lichtstrahlen(O Brilho da Luz)”
não possuíam, entretanto, nenhuma influência sobre as massas digna de menção.
O próprio Borchadt já havia
aderido, na Primeira Conferência de Zimmerwald, a todas as teses leninistas e
recusou-se, também, a ingressar no USPD.
A influência de Karl Radek,
que já havia atuado na Alemanha antes da guerra, foi decisiva para o posicionamento
pró-leninista de ambos os grupos mencionados por último.
Apesar de todas as reservas de
Rosa Luxemburg, a Liga Spartakus fez, a todo tempo, propaganda para os
bolcheviques, após a Revolução Russa, pois essa liga situava-se,
fundamentalmente, sobre o terreno da Revolução de Outubro(p.13).”[143]
No Congresso Fundacional do Partido Comunista da Alemanha(KPD – Liga Spartakus)
tomaram parte 100 participantes, dentro os quais 83 delegados eleitos
por de 43 localidades.
Na ordem do dia, apresentavam informes Karl Liebknecht, acerca
da crise do USPD, Paul Levi, sobre a Assembléia Nacional da República, Rosa
Luxemburg, discorrendo sobre o programa e situação política, Hugo
Eberlein, sobre a organização do partido, Paul Lange, acerca das
lutas econômicas e Hermann Dubcker, tratando das conferências internacionais.
Wilhelm Pieck e Jacob Walcher foram indicados para a Presidência
do Congresso.
No quadro de uma missão clandestina em Berlim, Radek veio a
tomar parte, em dezembro de 1918, do Congresso de Fundação do Partido Comunista
da Alemanha(KPD – Liga Spartakus), sendo que contribui, ativamente,
para o aceleramento da decisão fundacional[144].
Com grande entusiasmo, o Congresso Fundacional saudou Karl
Radek, que interviu na qualidade de representante do Governo
Revolucionário Bolchevique, provocando tempestuosos aplausos.
Radek assinalou, nessa oportunidade,
que o novo PCA(KPD) surgiria como um partido débil, porém não mais débil
do que o Partido Bolchevique, em abril de 1917.
“Para o vosso Congresso,
olhamos com grande esperança(p. 18).
Não como se a Revolução Russa
se permitisse a ser copiada ...
O caminho da classe trabalhadora
será distinto em cada um dos diferentes países(p.31).”[145]
Em seu discurso proferido nesse Congresso Fundacional é plenamente
possível identificar-se argumentos sibilinos de Radek no sentido de que
um processo revolucionário do proletariado alemão já não se apresentava como
iminente, apesar de a revolução mundial caminhar a passos rápidos. Com efeito :
“Nada mais provoca um tal
entusiasmo junto aos trabalhadores russos do que quando lhe dizemos que o tempo
poderá vir em que os trabalhadores alemães serão chamados para ajudá-los e em
que vocês terão de lutar com eles no Vale do Ruhr, tal como eles, de nosso
lado, nos Urais.
Estamos convencidos de que a
revolução mundial virá em passo acelerado, que é mentira ser o bolchevismo a
enfermidade dos povos vencidos.
Isso significaria que a classe
trabalhadora das nações vitoriosas teria de permanecer escrava para sempre.
Estamos convencidos que a
guerra civil internacional libertar-nos-á da luta entre os povos.
Porém, ninguém pode calcular a
dinâmica de desenvolvimento.”[146]
Desvendando praticamente o significado enigmático
de seu discurso retro-mencionado, Radek opôs-se, logo no mês seguinte,
à iniciativa de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg de apoiar a Greve
Geral de Janeiro de 1919, com ocupação de prédios (Vorwärts – órgão do SPD -,
Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a
Tipografia Büxenstein e o Escritório de
Telégrafo Wolff) e armamento das massas, objetivando à recondução de Emil
Eichhorn ao cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de
Berlim, qualificando-a de putschismo blanquista, por
supostamente pretender derrubar imediatamente o Governo de Ebert, Scheidemann e Noske,
sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz, destruindo, de um
golpe, o Estado Burguês Alemão e edificando uma República Socialista Livre dos
Conselhos dos Trabalhadores, mesmo contando com a minoria da classe
trabalhadora.
Com efeito, nos primeiros dias desse novo ano, foram os
sociais-democratas independentes Bretscheid, Rosenfeld e Hoffman, excluídos,
sumariamente, do Governo Imperial Prussiano, comandado pela Social-Democracia Alemã.
Juntamente com esse ato de exclusão, Emil Eichhorn, Presidente
da Polícia de Berlim, igualmente adepto dos independentes, foi
imediatamente deposto.
Logo a seguir, o Partido Social-Democrático
Independente(USPD) e os principais dirigentes do PCA(KPD) conclamaram os
trabalhadores berlinenses a mobilizaram-se e deflagarem greve.
Dos protestos operários surgiram embates armados que, embora desaconselhados
pelos principais dirigentes do PCA(KPD), não vieram a ser por eles
resolutamente condenados e desconvocados.
Acerca desse evento histórico, Radek assinalou, então, com base em
sua acusação de putschismo dirigida não apenas contra Karl Liebknecht, senão
também contra Rosa Luxemburg :
“Em sua Brochura de Programa
“O Que Quer a Liga Spartakus ?”, vocês declaram quererem apenas assumir o
governo se tiverem atrás de si a maioria da classe trabalhadora.
Esse ponto de vista
inteiramente correto encontra sua fundamentação no simples fato de que o
Governo dos Trabalhadores sem organização de massas do proletariado é
inconcebível. ...
Nessa situação, não se pode
pensar absolutamente na tomada do poder pelo proletariado. Se ele caisse nas
mãos de vocês, mediante um golpe de Estado, tal governo seria estrangulado e
esmagado em alguns dias a partir da província. ...
A única força de freio que
pode impedir essa infelicidade são vocês, o Partido Comunista. Vocês possuem
suficientemente visão para saber que a luta não tem perspectiva. Que vocês
sabem disso, já me disseram os vossos membros, os companheiros Levi e Dunckers
...
Nada impede o mais fraco de
recuar diante de poder superior.
Detivemos, em julho de 1917,
as massas com todas as forças, apesar de sermos então mais fortes do que vocês
e, onde isso não foi possível, retiramo-las, mediante intervenção abusiva, de
uma batalha vindoura sem perspectiva.”[147]
A seguir, Karl Radek procurou formular suas acusações de putchismo
contra Karl Liebknecht da seguinte forma, mesmo já diante da
impossibilidade desse último esclarecer
suas decisões político-revolucionárias[148]
:
“O Distúrbio de Janeiro foi,
sem dúvida, um putsch, uma tentativa de atropelar a burguesia.
A desculpa – não das massas
que não precisam se desculpar, pois elas no início da revolução tinham de estar
confusas, mas sim a desculpa de dirigentes, como Lebedour e Liebknecht – reside
em que o poder da burguesia era ainda extraordinariamente débil, que ela
provocava diretamente para um assalto.”[149]
Comentando as posições políticas de Karl Radek, transmitidas
apressuradamente a seus mais diversos simpatizantes por meio de cartas, Alfons
Paquet, um dos mais renomados poetas alemães, permeado nitidamente pelo
espírito democráta-burguês, assinalou acerca da missiva de Radek, que lhe havia sido
endereçada em 20 de março de 1919 :
“Radek acentuou mais uma vez
que, tal como todos os outros, ele esteve contra os Putsches de Janeiro(nos
quais ele não desempenhou nenhum papel), pois, segundo ele, “a conquista do
poder político é apenas possível, de nosso ponto de vista, se temos a maioria
da classe trabalhadora atrás de nós. Isso não tínhamos em janeiro e ainda hoje
não o temos.” ...
Recordo-me bem das
conversações em Moscou e das declarações da Radek acerca do caráter da Guerra
Civil na Alemanha.
Com coração constrito, também
eu era da opinião que, na Alemanha, podia-se chegar tão longe a ponto de que
regimentos de trabalhadores industriais e regimentos das ligas rurais se
entregassem a combates de uns contra os outros. ...
Ao mesmo tempo, em oposição às
expectativas sangüinárias produzidas em Moscou, no outono de 1918 e,
particularmente, no quadro da irrupção da Revolução Alemã, também eu era da opinião que a dinâmica da
revolução na Alemanha não poderia nem ser acelerada nem atrasada desde fora,
sem colocá-la ao máximo em perigo. ...
É possível que também Radek
tenha estado contra o ataque, porém vejo nos lutadores implacáveis o precursor
natural de uma tática russa não apenas nervosa como também brutal.
Rejeito-a, tal como repudio
toda violência e vingança em geral, sendo que não gostaria de ver substituído
um militarismo por um outro.”[150]
Impactado pela brutal repressão da Greve Geral de Janeiro de 1919, em
que os Freikorps ceifaram, sumariamente, as vidas de Karl
Liebknecht e Rosa Luxemburg, bem como impressionado pelo Fevereiro
da Covardia, em que Leo Jogiches foi assassinado pelas
costas sob o pretexto que pretendia escapar de sua prisão, Karl Radek, pretendendo
preencher, logo a seguir, o vazio de direção que se produzira no seio do
recém-nascido Partido Comunista da Alemanha(KPD), passou a intervir,
literariamente, nas discussões sindicais alemães, já mesmo do verão de 1919,
quando ainda encontrava-se na prisão de Moabit, em Berlim, gozando de tratamento
privilegiado decorrente de seu status de diplomata soviético ucraniano.
Tendo sido preso em fevereiro de 1919, Radek gozou do benefício
de um tratamento privilegiado, por ser considerado pelas autoridades militares
alemães como um representante do Estado Soviético Russo.
A partir da prisão de Moabit, Radek logrou tomar parte
ativa na reconformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD) recentemente
decapitado, postulando-se como o melhor especialista bolchevique em matérias
concernentes à luta de classes na Alemanha, em um momento inicial em
que inexistia um contato direto, regular e orgânico entre os organismos
dirigentes revolucionários da URSS e da Alemanha.
Contando com o beneplácito dos Generais Alemães Staff e Ludendorff, de
grandes empresários e políticos, como Felix Deutsch e Walther Rathenau, que
decidiram poupar-lhe a vida a fim de utilizá-lo como contato entre os
interesses do capitalismo alemão e o jovem governo revolucionário de Lênin,
Radek
entrevistava-se não apenas com esses representantes do imperialismo da Alemanha,
senão ainda instruía, em sua vasta e agradável cela de prisão, os principais
dirigentes do comunismo alemão, tais como Paul Levi, August Thalheimer e Ruth
Fischer.[151]
Desfrutando de sua qualidade de membro do Comitê Central do PC da URSS e,
ao mesmo tempo, de representante do Estado Soviético Russo em uma missão
militar e diplomática junto ao Governo Alemão, e, posteriormente,
como membro da Presidência do Komintern, ainda que sem exerçer permanentemente
as funções de membro do Politburo da PC da URSS, Radek logrou
desempenhar um papel de primeiríssima relevância para a definição da nova
orientação política a ser observada pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) no
ínicio dos anos 20.
Acerca do tema, Trotsky forneceu, precisamente, as
seguintes valiosas observações :
“Por um certo tempo, Radek foi
membro do Comitê Central e, nessa condição, possuiu o Direito de estar presente
nas sessões do Politburo.
Por iniciativa de Lênin, as
questões sigilosas eram examinadas invariavelmente na ausência de Radek.
Lênin considerava Radek como
jornalista, porém, ao mesmo tempo, não suportava sua impulsividade, seu
comportamento risível em face de questões sérias, seu cinismo.
É necessário referir aqui a
apreciação de Radek, fornecida por Lênin, no VII Congresso do Partido(em 1918),
à época das divergências sobre a Paz de Brest-Litovsk.
Por ocasião das palavras de
Radek : “Lênin abandona a sala, a fim de ganhar tempo”.
Lênin observou : “- Dirijo-me
ao camarada Radek e, aqui, quero registrar que ele consegue dizer, por acaso, uma frase séria.” ...
E depois, novamente : “Dessa
vez, resultou que se recebeu do camarada Radek uma frase inteiramente séria.”
Essas observações repetidas
por duas vezes expressam a própria essência da relação para com Radek não
apenas por parte do próprio Lênin, senão ainda de seus colaboradores mais
próximos.”[152]
Quando Radek foi liberado de sua detenção, no fim de 1919, tornou-se Secretário
Executivo da Internacional Comunista, de cuja função veio a ser,
posteriormente, afastado por defender, no caso do tratamento do Partido
Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), a orientação política de Paul
Levi e do Partido Comunista da Alemanha(KPD), contra o PC da
URSS, comandado por Lênin.
É certo que as limitações intelectuais, a típica abordagem jornalística
das questões políticas, bem como o método de apreciação impressionista de Karl
Radek, eram já bastante conhecidas por Lênin, Sverdlov e Trotsky.
Ainda que as caracterizações formuladas pelo Politburo da PC da URSS acerca
da luta de classe na Alemanha não viessem a se fundar
preponderantemente nos relatórios e informes a ele fornecido por Radek,
sendo que muitas vezes as propostas desse último não eram aceitas ou
substancialmente modificadas, era notório o fato de que Radek lograva,
paulatinamente, construir-se como um dos mais importantes dirigentes dos
comunistas alemães do início dos anos 20.
Todos os principais dirigentes bolcheviques de então velavam por suas
conexões com grupos de comunistas estrangeiros.
Lênin e Zinoviev eram, particularmente,
interessados pela Alemanha.
Trotsky era um dos principais
especialistas do Politburo da PC da URSS e do Komintern para questões
relacionadas com a luta de classes da França e da Espanha.
Rykov, Bucharin e Zinoviev dedicavam-se, além disso, às
questões italianas.
A predisposição de Radek em envolver-se nas questões
relativas à construção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e
dedicar-se à análise da dinâmica da luta de classes revolucionárias da Alemanha,
situada no quadro de sua pretensão de ingressar em um importante Politburo
a fim de desempenhar um papel de primeira importância na definição dos
planos partidários mais decisivos, fazia com que Radek fosse considerado,
no início dos anos 20, o membro do Comitê Central do PC da URSS mais
profundamente conhecedor do movimento revolucionário da Alemanha e mais bem
informado de todos os detalhes da vida política comunista e
contra-revolucionária desse país.
Com efeito, fundado na experiência de sua militância na Social-Democracia
Alemã, entre os anos de 1908 e 1913, esse último ano em que foi expulso
de suas fileiras no quadro de um processo escandaloso, orquestrado por Rosa
Luxemburg e Leo Jogiches desde a Social-Democracia Polonesa, Radek voltou
a intensificar suas viagens à Alemanha, entre os anos de 1918 e
1921.
Como saldo dessa atividade, resultou que conhecia centenas de militantes
alemães pessoalmente, inúmeras cidades e províncias, bem como dispunha do saber
relacionado com a elaboração de diversos documentos partidários muito
condizentes com a realidade político-institucional desse país.
Aliado desde 1908 com os agrupamentos sociais-democráticos de August
Thalheimer, de Göppingen, e de Anton Pannekoek, de Brêmen,
Radek
possuía, além disso, um núcleo militantes alemães sempre dispostos a
fazer publicar suas concepções políticas acerca da dinâmica da revolução
socialista internacional, seja nas colunas do Freie Volkszeitung(Gazeta Livre
do Povo), de Thalheimer, seja nas páginas do Arbeiterpolitik(Política dos
Trabalhadores), de Pannekoek, seja ainda na editora
comunista Carl Hoym, de Hamburg.
Muitos dos trabalhos de Radek, produzidos diretamente em
língua alemã, no início dos anos 20, haviam se convertido em manuais para a
militância, sendo estudados intensamente e tomados como orientação
verdadeiramente bolchevique, em sua direta aplicação na realidade objetiva da
luta de classes da Alemanha, como o que adquiriam mais relevância do que os textos
produzidos pelos dirigentes alemães de então, como Paul Levi, August Thalheimer,
Clara Zetkin, Jacob Walcher, Wilhelm Pieck e Heinrich Brandler.
Depois da morte da velha direção revolucionária alemã de Karl
Liebknecht, Rosa Luxemburg e Leo
Jogiches, apesar de suas expressivas diferenças políticas com esses
últimos e, no caso de Luxemburg e Jogiches, apesar de suas
marcadas disputas pessoais de intrigas e perseguições, Radek conseguiu atrair
para sua influência a grande maioria dos dirigentes alemães sobreviventes.
Todos os principais dirigentes do Partido Comunista da Alemanha(KPD) passaram, em fins de 1919 e início dos anos
20, a sustentar a direção política de Karl Radek, considerado como o mais
legítimo representante do bolchevismo leninista em solo alemão.
Nada obstante, a orientação política de Radek, formulada segundo
sua metodologia e concepção próprias, primava, constantemente, por uma
tonalidade pessimística, hesitante e cética acerca da possibilidade de
desenvolvimento das lutas revolucionárias na Alemanha e, nesse
sentido, da capacidade de construção politicamente independente do Partido
Comunista da Alemanha(KPD).
Em um primeiro momento, Radek ligou-se, intensamente, a Paul
Levi, que assumiu a função de Presidente do PCA(KPD) desde os mêses
subseqüentes a morte de Liebknecht e Luxemburg, ocorrida em
janeiro de 1919, até fevereiro de 1921, pretendendo persuadí-lo acerca da
necessidade de conquistar as massas para a revolução proletária socialista
alemã, renunciar às tendências esquerdistas de Liebknecht e seus
admiradores, trabalhar mais intensamente nos sindicatos e prestigiar
grandiosamente as tribunas eleitorais e parlamentares.
Já no início de outubro de 1919, em uma sua famosa carta ao II
Congresso de Heidelberg e Mannheim, do Partido Comunista da Alemanha(KPD),
Radek pronunciava-se da seguinte forma :
“Porém, se é uma ilusão
oportunista procurar tranqüilamente por vitórias, então é uma ilusão
revolucionária pensar em um ascenso linear, em um avanço ininterrupto da
revolução.
A revolução mundial é um
processo muito lento, durante o qual existirá mais do que uma derrota.
Com efeito, não tenho dúvida
de que em todos os países (obs. Por consegüinte também na Rússia Soviética !), o proletariado será
forçado a, por diversas vezes, construir sua ditadura e vê-la desabar, até que
vença definitivamente.”[153]
Além disso, em sua renomadíssima broschura, redigida especialmente para
o congresso em destaque, denominada O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as
Tarefas do Partido Comunista, Radek assinalou, expressamente, após
destacar que o “Distúrbio de Janeiro” havia sido, sem dúvida, um Putsch,
i.e. um Golpe de Estado, ou ainda “uma tentativa de atropelar a burguesia” :
“Entendemos que o Partido
Comunista pode fazer como ponto de partida de sua política a perspectiva de uma
próxima onda ascendente da revolução, de um alargamento da revolução mundial.
...
Não existe a menor dúvida para
nós que a burguesia não será capaz de estabilizar sua dominação, por isso
rejeitamos a adaptação oportunista ao período de empantanamento.
Porém, é muito provável que a
luta revolucionária de massas pela Ditadura Proletária requeira muito tempo.
É preciso investigar os
motivos disso, bem como as questões de tática na luta econômica e política que
daí decorrem.
A investigação da mecânica
dessa luta dará, por si mesmo, a resposta às nossas controvérsias táticas.”[154]
Em sentido lógico-político, Radek estava, já em 1919,
profundamente convencido de que, durante um longo período, o
Partido Comunista da Alemanha(KPD) não mais poderia fazer senão
organizar a vanguarda de lutadores proletários e impulsionar atividades de
propaganda, impedindo confrontações das massas sublevadas contra o poder do Estado
Burguês Alemão.
Quando essa sua orientação manifestamente cético-pessimística reavivou a
defesa de posições abertamente oportunistas por Paul Levi, discípulo
inseparavelmente fiel à doutrina teórico-política e partidário-organizativa de Rosa
Luxemburg, Radek lançou mão de apreciações entusiasticamente
combativas, fundadas nas posições bolcheviques de Lênin e Trotsky, para
polemizar contra Paul Levi acerca do caráter, sentido e significado das Revoluções Bávara e Húngara,
de 1919.
Isso não impediu, entretanto, que Radek e Levi continuassem
compartindo a direção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e
já em seu balanço histórico acerca dos anos de 1918 e 1919, Radek
formulou a seguinte caracterização, formulada em seu discurso proferido
junto ao III Congresso Mundial do Komintern, entre 22 de junho e 12 de julho
de 1921, sugido sob o título “O
Caminho da Internacional Comunista” :
“Em 1918-1919, o partido
consistia de diversos milhares de trabalhadores, sendo que a Liga Spartakus
tinha o papel de segurar a classe trabalhadora e evitar choques desnecessários.”[155]
De maneira cético-jornalística, Radek procurou, em suas publicações
e discursos do início dos primeiros anos do anos 20, fundar sua orientação
política central para o desenvolvimento das lutas revolucionárias de classes na
Alemanha,
consistente em demonstrar a impossibilidade de desenvolverem-se as
forças do Partido Comunista da Alemanha(KPD) no campo das lutas, dos
embates e dos conflitos abertos de classes contra as instituições de exploração
e dominação do Estado Burguês, conquistando crescentemente a confiança da
classe trabalhadora, hegemônica sobre todas demais massas socialmente oprimidas
sob sua direção social e política.
Com efeito, no fundamento de seu marcado tom pessimista, Radek
admitia abertamente a possibilidade de a Ditadura Revolucionária do
Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser capaz de
resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.
Em função dessa premissa originária, competiria ao Partido Comunista da
Alemanha(KPD), dedicando-se preponderantemente a atividades
propagandísticas, atrelar-se, mediado por críticas e denúncias, à dinâmica de
luta da Social-Democracia Alemã, como forma de, através de cooperação,
infiltração, desintegração e reconsolidação,
arrebatar-lhe a influência sobre as grandes massas proletárias alemães.
Dessa forma, a minoria comunista revolucionária haveria de ser educada
de maneira a poder intervir sobre a maioria dos quadros da Social-Democracia, sob
pena de permanecer inteiramente isolado no quadro dos eventos políticos
subseqüentes.
As atividades dos comunistas haveriam, assim, segundo Radek,
de concentrarem-se em uma luta propagandista de defesa do socialismo
revolucionário e da Rússia Soviética.
Nesse contexto, os diversos eventos da luta de classes mundial surgiam
interpretados como expressões cabais e confirmatórias dessa abordagem hesitante
e pessimista, sendo que a proposta de Radek de luta comum do
Partido Comunista da Alemanha(KPD) com o Partido Social-Democrático
Alemão(SPD) e as organizações sindicais situadas sob sua órbita de
influência, haveria de ser enfocada e compreendida nos termos daquele seu
enfoque fundamental, permeado de críticas e denúncias elucidadoras.
Essa perspectiva haveria de marcar profundamente o despregar da luta de
classes travada na Alemanha, durante todos os anos subseqüentes, até o culminar
com a derrota histórica da Revoluçao Alema de Outubro 1923.
CAPÍTULO VII
A CONSTITUIÇAO JURÍDICO-NORMATIVA DO
SOCIALISMO DEMOCRÁTICO :
CONSTITUIÇAO MENOS
DEMOCRÁTICA
E MAIS SOCIALISTA, AINDA
QUE
RESULTANTE NÃO DE UM
SOCIALISMO SUPERPODEROSO,
PORÉM RENOVADO ...
Em 19 de janeiro de 1919, tiveram lugar as eleiçoes para a Assembléia
Nacional Constituinte da Alemanha, sendo que a sessao inaugural desse
máximo organismo burguês jurídico-legislativo foi marcada para o dia 6 de
fevereiro de 1919.
Com a realizaçao das eleiçoes em tela, o Conselho Central da República
Socialista da Alemanha - eleito
no Congresso
dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados, de 16 a 21 de dezembro de 1918, enquanto
sucessor do antigo e temporário Conselho Executivo, para o exercício
da funçao de “supervisao parlamentar” das atividades do Conselho dos Comissários do Povo e
do Governo
Prussiano até a ocasiao das eleiçoes programadas para o dia 19 de janeiro – haveria de conhecer a
proximidade de seu fim.
Em 4 de fevereiro de 1919, o Conselho Central haveria de
transferir, mediante declaraçao escrita, seu poder à Assembléia Nacional Constituinte,
tal como, efetivamente, ocorreu.
Tal como se depreende do exposto nos capítulos precedentes, esse Conselho Central possuiu sua natureza
existencial, desde sua mais tênue origem, no inexorável cumprimento da tarefa
de fortalecer a posiçao da direçao da Social-Democracia Alema (SPD), encabeçada
por Ebert
e Scheidemann, incorporada, institucionalmente, no Governo Provisório, operante
no contexto de um regime político social-colaboracionista de contemporizaçao de
um dualismo de poderes.
Ele nao serviu, absolutamente, enquanto organismo de representaçao dos Conselhos
de Trabalhadores e Soldados, para o exercício mesmo das débeis e
escassas funçoes que lhe haviam sido formalmente atribuídas.
No novo contexto da luta de classes da Alemanha, mesmo já
estando implacavelmente superados todos os esforços de intervenção marxista-revolucionária
no quadro do I Congresso dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha,
o recém-fundado Partido Comunista da Alemanha (KPD – Spartakusbund) posicionou-se,
de modo ultra-esquerdista, em seu congresso fundacional, realizado nos dias 29 e
30 de dezembro de 1918 -
opondo-se manifestamente às posições anti-boicotistas, defendidas de Karl
Liebknecht e Rosa Luxemburg - em favor do boicote às eleições vindouras
para a Assembléia Nacional Constituinte, por temor de, uma vez
constituída essa última, poder ela eventualmente sufocar de modo integral um
dos últimos embriões dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados.
Agindo desse modo, o recém-fundado Partido Comunista da Alemanha (KPD –
Spartakusbund) haveria de desperdiçar a possibilidade de mobilizar as
grandes massas contra o Governo de Frente Popular em torno
de um tema de decisiva importância que envolvia todos os fundamentos da secular
mitologia jurídico-constitucional.
Acerca do tema, Wilhelm Pieck teve a oportunidade de
assinalar, permitindo, porém, entrever inequivocamente seu posicionamento
político-estratégico, defendido à época :
“Confrontaçoes maiores
surgiram, no Congresso, acerca da participaçao nas eleiçoes da Assembléia
Constituinte.
O Comitê Central da Liga
Spartakus colocou-se em favor da participaçao, com vistas a, através disso, ter
a possibilidade de mobilizar as massas contra o Governo e contra a Assembléia
Nacional.
Porém, os motivos apresentados
em favor disso nao encontraram nenhuma recepçao junto à maioria dos participantes
do Congresso.
A maioria opinou que nao era
momento para eleiçoes, mas sim de obrigatoriamente conduzir a luta contra a
Assembléia Nacional com greves de massa e metralhadoras.
A participaçao nas eleiçoes
apenas confundiria os trabalhadores e desviaria da luta.
A votaçao resultou em que
apenas 23 participantes votaram em favor, sendo 62 votaram contra a
participaçao nas eleiçoes.
A companheira Luxemburg e o
companheiro Jogiches ficaram extremamente decepcionados com essa votaçao.
Eles vislumbraram nesse
posicionamento a incompreensao para com as tarefas do Partido e temeram, com a
preponderância de tais votos, a ocorrência de um desenvolvimento perigoso.
Porém, nao permitiram que se
chegasse a uma ruptura entre os participantes, porque estavam convencidos de
que a militância do Partido convencer-se-ia muito brevemente da incorreçao
dessa resoluçao.”[156]
As eleiçoes em tela realizaram-se sob o clima ilusoriamente alvissareiro
das entao iniciadas Negociaçoes de Paz, entabuladas no Castelo de Versalhes, na França,
desde 18 de janeiro de 1919, bem como sob o predomínio do terrorismo político e
da vulgar hipocrisia do imperialismo e de seus aliados, desferido sobre os
cadáveres dos Spartakistas :
Nesse sentido, a Social-Democracia Alema (SPD),
defendendo os interesses do capital com seus mais belos trajes socialistas,
clamou, debragadamente, em seus cartazes afixados por toda cidade, às massas
berlinenses eleitoras :
“Crianças dos Trabalhadores, Empregados,
Auxiliares de Atividades e Funcionários,
peçam a seus pais, parentes e conhecidos que
todos pensem em vocês durante a eleiçao !
Pois, a vocês pertence o
futuro !
A velha ordem social privilegia o pequeno número de crianças dos
pais abastados.
A nova ordem social assegura a toda criança os mesmos meios para
a educaçao e formaçao profissional.
O Estado Capitalista faz o progresso dependente do acaso do
nascimento, da grandeza do saco de dinheiro dos pais.
O Estado Socialista assegura pleno desenvolvimento de todos os
talentos, cria caminho livre para os realmente capazes, sem consideraçao da
origem ou do patrimônio.
Por isso, jovens, conclamem, em voz alta, a
todos os eleitores :
Pensem em nós !
Votem na
Lista do Partido Social-Democrático da
Alemanha
(SPD)” [157]
Algo mais esquerda, clamavam os sociais-reformistas colaboracionistas,
adeptos do Partido Social-Democrático Independente (USPD), agora
pretendidamente oposicionistas conseqüentes ao regime de Ebert e Scheidemann :
“Partido
Social-Democrático Independente da Alemanha (USPD) !
Diante da Decisão !
Trabalhadores ! Soldados ! Senhoras e
Senhoritas da Populaçao Economicamente Ativa !
No próximo domingo, dia 19 de janeiro, deve-se
decidir acerca da representaçao para a Assembléia Nacional Constituinte.
Todos os membros do Império, homens e
mulheres acima de 20 anos, sao chamados a manifestar sua vontade política.
Uma série de Partidos candidatam-se ao seus
votos !
O Partido Nacional Alemao
(DNVP) pretende reconstituir os
velhos estamentos.
O Partido Democrático do
Povo (DDP) quer reunir a burguesia.
Que eles o consigam !
A populaçao economicamente ativa deve, em
contraposiçao a esses velhos Partidos, novamente disfarçados, caminhar o seu
próprio caminho.
Ela nao possui nada que ver com esses
Partidos.
Para ela resta apenas a escolha de votar
pelos representantes de seus próprios interesses, na medida em que nao queira
eleger os seus próprios açougueiros.
Que Partido é esse ?
Dois Partidos Sociais-Democráticos pedem
pelos seus votos !
E agora perguntamos :
Quem mandou rolar, em 24 de dezembro, os
canhoes contra os marinheiros ? (obs.SVK : Anote-se que, em verdade, ainda em
24 de dezembro, também os Sociais-Democratas Independentes, i.e. Karl Kautsky,
Hugo Haase, Emil Barth e tantos outros, encontravam-se no Governo Provisório,
contribuindo para fomentar o dualismo
contemporizador-colaboracionista entre esse Governo e o Conselho Executivo
dos Conselhos dos Trabalhadores e Soldados ... )
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem mandou na Noite Sagrada de Natal
derramar sangue inutilmente ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem mantém os antigos militares poderosos,
os Generais e os Oficiais, em seus postos ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem fomenta e estimula a formaçao da nova
Guarda, composta de estamentos de estudantes e oficiais, inimigos dos
trabalhadores ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem é responsável pela fúria da Guarda de Reinhardt
e a Guarda de Grupo, em Berlim, pelo fato de que ninguém mais encontra-se
seguro em sua vida ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem constrói a velha dominaçao militar
novamente ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem aniquila as conquistas da Revoluçao de
Novembro ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem promoveu, conscientemente, nas últimas
semanas, o fratricídio ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem deixou sem ouvidos e friamente esmorecer
o grito dos trabalhadores em favor da abdicaçao das pessoas comprometidas e da
unificaçao dos trabalhadores e trabalhadoras amantes da liberdade ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Quem é responsável pelo fato de que presos
indefesos estejam sendo seviciados e fuzilados indiscriminadamente por tropas
mercenárias ?
O Governo Ebert-Scheidemann
!
Um trabalhador, um soldado, uma trabalhadora
pode dar seu voto ao representantes desse Partido-Scheidemann, em 19 de janeiro
?
Nao ! E mais uma vez, nao !
Dêem a esse Partido, em 19 de janeiro, o
desdenho !
Proteste, através de votaçao, contra a
instituiçao de uma nova dominaçao da violência e do arbítrio !
Estejam prevenidos ! Nao se deixem enganar !
Porque defendemos a verdade, estamos sendo
caluniados e injuriados.
Preste atençao na armadilha. A verdade foi
sempre objeto de mentira.
Apenas o Partido Social-Democrático
Independente conduziu a luta contra o sistema dominante, já durante a horrível
guerra e apesar de todas as perseguiçoes.
Apenas o Partido Social-Democrático
Independente levou à derrubada do velho sistema apodrecido.
Apenas o Partido Social-Democrático
Independente continua a lutar contra toda a dominaçao arbitrária, contra a
exploraçao capitalista das massas, em prol da felicidade humana e do
socialismo.
Quem deseja isso, deve aderir a esse Partido,
considerando, no dia 19 de janeiro, a lista do Partido Social-Democrático
Independente como sua lista.
Apenas os seus representantes asseguram que
as conquistas da revoluçao serao garantidas e que o desenvolvimento será levado
adiante, em sentido socialista.
Para vocês, nao existe, pois, em 19 de
janeiro, nenhuma outra escolha senao a de votar nos representantes do Partido
Social-Democrático Independente, a lista que começa com
Eichhorn, Haase.
Todas as demais listas devem ser repudiadas.
Nao deixem que nenhum eleitor, nenhuma
eleitora, deixe de fazer uso de seu Direito Eleitoral, no dia 19 de janeiro.
Quem ficar em casa, fortalece a força da
contra-revoluçao !
Todos à eleiçao em favor da lista dp Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha (USPD) !
Nossos candidatos sao :
Emil Eichhorn, Redator, Berlim
Hugo Haase, Advogado, Berlim
Gustav Laukant, Trabalhador Metalúrgico,
Berlim
Luise Zietz, Secretária, Berlim
Richard Herbst, Secretário. Berlim
Margarete Wengels, Berlim
Dr. Herman Wenl, Médico, Berlim
Dr. Siegfried Weinberg, Advogado, Berlim
Agnes Fuhrenwald, Berlim
Hermann Müller, Secretário, Berlim
Alfred Schwahn, Comerciante, Berlim
Herman Claius, Pintor, Berlim
Karl Siegle, Carpinteiro, Berlim
Wilhelm Thiel, Restaurador, Berlim”[158]
Do outro lado, à direita, alardeavam, sofregamente, a malta dos sequazes
do Partido
Nacional do Povo Alemao (DNVP), de orientaçao proto-fascista :
“Os
Judeus – Vampiros da Alemanha
Tendo alcançado o poder dominante na
Inglaterra, os judeus instigaram, incessantemente, contra a Alemanha. O Rei
Eduardo possuíram eles como ferramenta.Porque eles fizeram isso ?
Porque a Alemanha colocou-se freqüentemente
no caminho da dominaçao mundial já possuída pelos judeus e porque eles queriam,
em uma Guerra Mundial, ofuscá-la.
Em virtude do último motivo, eles agitaram e
empurram para a Guerra Mundial, também na Alemanha.
Eles alcançaram o seu objetivo : a Alemanha
encontra-se esmagada sobre o solo.
72 bilhoes passaram, durante a Guerra
Mundial, das maos dos cristaos às maos dos judeus. Nove décimos do capital
circulante, três quartos de todas as empresas industriais encontram-se em suas
maos.
Apenas nao conseguiram eles ainda
apropriarem-se da posse do solo, como na realidade desejavam.
Apenas e tao somente os Judeus tiram vantagem
da Guerra Mundial !
Abandonamos, por isso, nossos filhos e nossos
irmaos, nossos homens e nossos noivos ?
Por essa razao, definhamos e passamos fome
durante quatro longos anos ?
Evidentemente que nao !
E os judeus carregaram, por acaso, junto
conosco os fardos da Guerra Mundial ?
Nao !
A partir do início da guerra, possuíam eles
em suas maos o abastecimento dos meios de alimentaçao, velaram por suas mesas
fartas, deixaram que se assasse até paes em suas panelas, fizeram bolos e
lambuzaram com manteiga o pao, com dedos gordos, enquanto nós tivemos de optar
voluntariosamente por legumes sem centeio, batatas e margarina mal-cheirosa.
Os judeus nao queriam ir para as trincheiras,
pois suas valiosas vidas correria assim perigo. ...
Quase um milhao e meio de de irmaos alemaes
tiveram de sacrificar suas vidas nos campos de batalha.
E qual foi o fim disso ? Leiam ainda mais uma
vez a conclamaçao de Hindenburg contra a falta de acionismo, cujos principais
protagonistas eram os judeus, cuja preguiça é conhecida mundialmente.
Pensem no fato de que a
Embaixada Russa de Berlim, totalmente convertida ao judaísmo, infiltrou o
veneno bolchevique na Alemanha, com o auxílio do judeu Dr. Kohn, velando para
que esse veneno fosse levado ao fronte por turistas inescrupulosos.
Lá, esse veneno desmoralizou nosso Exército
orgulhoso e vitorioso, sendo que no mundo jamais desenrolou-se um tal cenário
ocorrido em que os vencedores de tantas batalhas tivessem de refugiar-se na
Pátria, tal como se tivessem eles sofrido a maior das derrotas.
Eis o armistício mais desavergonhado no qual
a Alemanha teve de entregar-se ao inimigo de maos atadas, ao qual uma paz nao
menos desavergonhada seguir-se-á !
A quem devemos isso ? À traiçao da Pátria do
judaísmo. ...
O judeu agrediu a coroa.
Estamos sendo governados pelos Landsberg e Haase, John e Davidson, por Levi e
Rosa Luxemburg ! ...
Nao vote em nenhum deputado senao naqueles do
Partido Nacional do Povo Alemao (DNVP)
!” [159]
“Violência contra a a Assembléia Nacional.
Nao é a Democracia, mas sim o Despotismo.
Spartakus quer impedir as eleiçoes.
Na segunda-feira, uma Assembléia do Grupo
Spartakista decidiu, unanimemente, declarar greve geral no dia 19 de janeiro, dia
das eleiçoes para a Assembléia Nacional e, com todos os meios, acabar com a
eleiçao.
Ouçam, trabalhadores e cidadaos !
O sangue custoso da Revoluçao, a liberdade
política, a democracia, o Direito de Auto-Determinaçao de nosso povo deve vir a
ser destruído por uma descarada contra-revoluçao de esquerda.
Todos às filas !
Saíam às ruas vocês todos !
Trata-se de defender as conquistas mais
sagradas da Revoluçao.
Editora Lehmann, Berlim SW.”[160]
Situados na centro-direita, o Partido Cristao Popular (Zentrum), coligado
ao
Partido Popular da Baviera (BVP), defendia a seguinte tônica de
propaganda eleitoral, especialmente voltada ao voto feminino :
“MULHERES
ALEMÃES
Raiou o ano do destino do nosso povo alemao !
As forças de nossa Pátria encontram-se
despedaçadas, a construçao do Estado do Império Alemao encontra-se caída no
chao !
Nessa hora mais difícil, fomos nós, mulheres
alemas, conclamada a contribuir para a nova construçao da Alemanha. Nós
queremos contribuir !
Com toda a nossa lealdade do dever, com forte
sentimento de responsabilidade, queremos refletir acerca do que pode salvar
nossa Pátria a superar sua profunda derrota. Quebrou-se a poderosa força que
durante 4 anos resistiu ao inimigo.
Através das reivindicaçoes de liberdade
ilimitada que coloca sobre todas as leis cristas, destrui-se nossa vida
familiar e a pureza da nossa juventude.
Através do afastamento da religiao da escola e
da vida do Estado arranca-se ao nosso povo a fonte mais poderosa de sua força
moral.
Um fardo monstruoso foi-nos imposto : temos de
suportar 100 bilhoes de dívida própria e duras reivindicaçoes de nossos
inimigos.
Como podemos realizar isso empobrecidos e
esgotados, tal como estamos ?
Temos de velar para que se trate com o máximo de
poupança nosso patrimônio popular.
Nao pode ser que os Conselhos
de Trabalhadores e Soldados desperdicem tanto dinheiro, que a populaçao pobre,
das Igrejas dos fiéis, p.ex., seja obrigada a pagar o dobro dos impostos, para
fazer-se novamente o mesmo.
Temos de velar para que o
comércio e a indústria, fontes de nossa riqueza, nao sejam destruídos.
As greves que sempre retornam,
o tempo de trabalho reduzido, as elevadas exigências salariais, empurram,
porém, muitas empresas para a falência.
A Siemens, p.ex., tem de pagar 70 milhoes a mais
de salários, mesmo recebendo entradas de 13 ½ milhoes. Entao, as empresas sao
estatizadas, dizem eles.
Porém, como se encontram as empresas estatais ?
As companhias ferroviárias da Prússia e de
Hessen possuem, no ano contábil corrente, um déficit de 118 milhoes de marcos,
nesse quadro, porém, uma despesa adicional de salários de 1.309 milhao de
marcos. Quem deve pagar essa conta ?
Nós, na medida em que os preços de viagem sejam
fortemente aumentados, tanto para pessoas quanto para cargas.
A Krupp foi forçada pelos
Conselhos de Trabalhadores e Soldados a admitir esquadroes de segurança para os
estoques de meios alimentícios de seus trabalhadores que lhe custou tanto
dinheiro que poderia ela contratar com isso 500 funcionários, vindos dos campos
de batalha.
Mulheres alemas, reflitam para onde segue a
viagem.
A terra e o solo alemaes podem alimentar apenas
35 milhoes de pessoas.
Se a nossa indústria for orientada para o
despenhadeiro, 30 milhoes de pessoas terao de emigrar e implorarao aos nossos
inimigos por meios de sobrevivência.
Como devemos pagar nossas dívidas ?
Nosso dinheiro nao tem mais nenhum valor no
estrangeiro.
Dia e noite, sao impressas novas notas bancárias
que terao, em breve, apenas o valor de trapos de papel.
Pois, os bilhetes monetários constituem títulos
de dívida.
Ninguém no mundo acredita, porém, que nós os
possamos honrar, arruinando-se tanto a nossa vida econômica, tal como nas
últimas quatro semanas.
Nossos inimgos confiscarao, entao, nossas
empresas estatais e nossa propriedade popular e poderemos apenas trabalhar para
eles como escravos assalariados.
Nós, porém, nós, mulheres alemas, queremos que,
dos escombros, um novo Estado Popular seja construido, no qual domine a moral e
o Direito, a liberdade e o respeito diante do membro do povo.
Queremos lutar contra o poder selvaticamente
destruidor que aniquila nossa vida econômica com a bandeira da liberdade,
entregando-nos à fome e à miséria, à mais sórdida servidao.
Queremos que, mediante uma legislaçao
social fortemente elaborada, sejam prestados a todo trabalhador e a toda
trabalhadora proteçao contra a exploraçao, bem como auxílio nos dias de
enfermidade e de velhice.
Possibilitaremos que, mediante
forte colonizaçao interna, todo alemao viva sobre terra e solo própriosm, em
sua Pátria.
Ao invés da luta de classes e do ódio que prega
a Social-Democracia, queremos que o respeito e a confiança regule a relaçao dos
membros individuais do povo.
Queremos nos colocar sobre o campo do cristianismo,
que venera em Deus a fonte de todo o Direito e de toda a Justiça, que estimula
as santidade da família, o respeito para com a mulher enquanto esposa e mae, o
Direito dos pais sobre seus filhoes. Em 19 de janeiro, queremos entregar nosso
voto ao
Centro, Partido Cristao Popular
e estamos certos de que, sobre o fundamento de
seu programa de trabalho, as feridas de nossa Pátria serao curadas e que viverá
uma nova e feliz Alemanha.”[161]
No cenário dessa luta de classes acirradamente polarizada, as eleiçoes
para a Assembléia Nacional Constituinte acabaram concedendo,
fracionariamente, maioria de votos aos Partidos burgueses alemaes, ainda que a Social-Democracia
Alema (SPD), beneficiando-se da máquina de propaganda movida pelo Governo
de Ebert e Scheidemann, lograsse consagrar-se como o Partido mais bem
votado.
Se nao, vejamos, tendo em conta os dados estatísticos abaixo :
RESULTADO DAS ELEIÇÕES
DE 19 DE JANEIRO DE 1919
PARA A ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE
Número de eleitores (em 33 circunscriçoes
eleitorais) .......................................34.046.366
Índice de participaçao (em 33
circunscriçoes eleitorais) .................................... 83%
Votos válidos
......................................................................................................
30.400.344
Porcentagem de votos válidos
...........................................................................
99,6%
Votos nulos
........................................................................................................
124. 504
Porcentagem de votos nulos
..............................................................................
0,4%
Votaçao conferida a cada
Partido :
Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD)
....................................... 11.509.048
Percentual dos votos obtidos
............................................................................. 37,9 %
Deputados eleitos
............................................................................................... 163
Partido Cristao Popular (Zentrum) e Partido
Popular da Baviera (BVP) .....
5.980.216
Percentual dos votos obtidos
..............................................................................
19,7 %
Deputados eleitos
................................................................................................
91
Partido Democrático Alemao (DDP) .................................................................
5.641.825
Percentual dos votos obtidos
...............................................................................
18,5 %
Deputados eleitos
.................................................................................................
75
Partido Nacional do Povo Alemao (DNVP) .......................................................
3.121.479
Percentual de votos obtidos
..................................................................................
10,3%
Deputados eleitos
..................................................................................................
44
Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha (USPD) ................. 2.317.290
Percentual de votos obtidos
.................................................................................
7,6%
Deputados eleitos
.................................................................................................
22
Partido do Povo Alemao (DVP) .........................................................................
1.345.638
Percentual de votos obtidos
................................................................................. 4,4%
Deputados eleitos
................................................................................................. 19
Outros ................................................................................................................. 484.848
Percentual de votos obtidos
.................................................................................. 1,6%
Deputados eleitos
.................................................................................................
7
Número Total de Deputados
Eleitos à Assenbléia Nacional Constituinte ............. 421[162]
No que tange, porém, às eleiçoes para a Assembléia Estadual Constituinte
da Prússia, cuja capital era Berlim, cumpre anotar os seguintes
resultados :
RESULTADO DAS ELEIÇÕES DE 19 DE JANEIRO DE 1919
PARA A ASSEMBLÉIA ESTADUAL CONSTITUINTE DA PRÚSSIA
Índice de participaçao nas
eleiçoes ...................................................................
75%
Votaçao conferida a cada
Partido :
Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD)
Percentual dos votos obtidos
............................................................................. 36,4 %
Deputados eleitos
............................................................................................... 145
Partido Cristao Popular (Zentrum) e Partido do
Centro Alemao-Hanoveriano (DHZP)
Percentual dos votos obtidos
.............................................................................. 22,3%
Deputados eleitos
................................................................................................ 87 + 7
Partido Democrático Alemao (DDP)
Percentual dos votos obtidos
...............................................................................
16,2 %
Deputados eleitos
.................................................................................................
65
Partido Nacional do Povo Alemao (DNVP)
Percentual de votos obtidos
..................................................................................
11,2%
Deputados eleitos
..................................................................................................
48
Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha (USPD)
Percentual de votos obtidos
.................................................................................
7,4%
Deputados eleitos
.................................................................................................
24
Partido do Povo Alemao (DVP)
Percentual de votos obtidos ................................................................................. 5,7%
Deputados eleitos
................................................................................................. 23
Partido Alemao-Hanoveriano (DHP) e Democracia dos
Trabalhadores Rurais
e Camponeses de Schleswig-Holstein (SHBLAP)
Percentual de votos obtidos
..................................................................................
0,8%
Deputados eleitos
..................................................................................................
2 + 1
Número Total de Deputados
Eleitos à Assembléia Estadual
Constituinte da Prússia
......................................................................................... 402[163]
Gerhard Anschütz, o grande vulto do positivismo
jurídico-constitucional da Alemanha do século XX, formulou as seguintes linhas
em sua renomada obra A Constituiçao do Império Alemao de 11 de
Agosto de 1919, acentuando que esse diploma constitucional havia
nascido de uma revoluçao socialista-democrática :
“Aqui, demonstra-se quão longe
alcançou a influência do mundo especulativo socialista, na nova Alemanha.
E nao se pode negar que essa
influência alcança, de fato, muito longe.
Muito do que surge na Parte V é,
decidamente, socialista.
Assim deve ser entendida a autorizaçao, conferida ao Império, de
transferir ao domínio comum empreendimentos econômicos privados, apropriados à
comunidade (Art. 156), os preceitos sobre a proteçao da força de trabalho, a
previdência social, o dever de trabalho e o direito ao trabalho (Art. 157,
161-163).
Totalmente localizado no campo
do socialismo surge também o Art. 165, inciso I, alínea I, que autoriza o
trabalhador e o empregado, a produzir, conjuntamente, com os empresários, a
regulamentaçao das condiçoes salariais e laborais, assim como a atuar, conjuntamente, no
desenvolvimento econômico comum das forças produtivas.”[164]
Eis como, após a aprovaçao da consigna de Assembléia Nacional Constituinte,
no seio do I Congresso Geral dos Conselhos dos Trabalhadores e Soldados, realizado
entre os dias 16 e 21 de dezembro de 1918, sua abertura e início de trabalhos,
em 4 de feveiro de 1919, e posteriormente à eliminaçao física dos mais
expressivos dirigentes marxistas-revolucionários da classe trabalhadora alema,
os principais dirigentes do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD)
e seus aliados, através da aplicaçao dos mecanismos sociais-reformistas
e do revisionismo do marxismo, conduziram, pela via parlamentar-institucional
as massas exploradas e oprimidas alemas ao socialismo democrático e dos
trabalhadores !
A Constituiçao do Império Alemao de 11 de Agosto de 1919 demonstra,
efetivamente, o que poderia resultar, na prática, na hipótese de os
bolcheviques, sob a direçao de Lênin, houvessem se decidido em
favor do nao fechamento da Assembléia Nacional Constituinte, em
5 de fevereiro de 1918 : rumar-se para instituiçao de um Socialismo Democrático
Porém, cumpre permitir que o renomado jurista alemao em tela, Gerhard
Anschütz diga com suas próprias palavras :
“A Parte V dos Direitos
Fundamentais e dos Deveres Fundamentais é aquela parte da Constituiçao na qual
emerge, da maneira mais nítida, que essa Constituiçao nasceu de uma revoluçao
nao tanto democrática quanto socialista.
Nenhuma outra parte da
Constituiçao demonstra traços tao marcadamente socialistas como essa.
Isso é compreensível, pois o
Socialismo é uma concepçao econômica e, aqui, trata-se da Vida Econômica.”[165]
Nao achando conveniente ainda utilizar o uso do vocábulo “socialista”
para a qualificaçao da Constituiçao de Weimar de 1919,
outro consagrado professor alemao, ligado ao nacional-socialismo(nazismo),
Ernst
Rudolf Huber, designou os preceitos desse diploma constitucional como “desvios
da ordem de relaçoes puramente individualistas, entre Estado e economia”[166].
Para o mais distinguido professor Gerhard
Anschütz, porém, Ernst Huber equivocava-se acerca de sua
análise da Constituiçao de Weimar de 1919.
Tudo estava a indicar que a Alemanha, sob a égide da República
Imperial de 1919, colocava-se diante de um novo período sócio-político
inteiramente novo, imprecisamente definido com antigas expressoes, vinculadas
ao sistema de Direitos fundamentais liberais.
“Huber evita apenas,
conseqüente e fluentemente, falar de intervençoes e efeitos socialistas.
Ele prefere, ao invés disso,
palavras que exprimem o oposto de “liberal” e “liberalismo”.
Com isso, desconhece-se,
porém, que as disposiçoes, renegadoras do individualismo, que se situam no
discurso, nao se enraizam em um anti-liberalismo de um novo e próprio tipo e
origem (i.e. nao socialista) (em particular, nao nas idéias “de economia
planificada”, mais aparentada, essencialmente, ao fascismo do que ao socialismo
democrático), mas sim enraizam-se em um socialismo do século XIX e início do
século XX, tradicional e muito poderoso,
vindo do período de surgimento da Constituiçao do Império, ainda que nao
superpoderoso.”[167]
A Constituiçao de Weimar de 1919, produto da Assembléia Nacional Constituinte,
votada pelo I Congresso Geral dos Conselhos dos Trabalhadores e Soldados, de
dezembro de 1918 – consoante o pensamento jurídico-político largamente
dominante na Alemanha, expressado por esse célebre professor de Heidelberg
– retrataria, por assim dizer, nao um período de anti-liberalismo, mas sim
propriamente de socialismo renovado, nao “superpoderoso”, distinto das
concepçoes de socialismo proletário-revolucionário.
Nesse sentido, os preceitos da Vida Econômica da República de Weimar representariam,
segundo Anschütz, uma forte influência da doutrina socialista, de
nenhuma forma, porém, sua total concretizaçao.
O célebre artigo 151 da Constituiçao de Weimar, de 11 de agosto de 1919,
prescreveu, entao, em plena harmonia com o quadro da época histórica, marcado
pelo Socialismo
Democrático, renovado e nao superpoderoso :
“Art. 151. A ordem da vida
econômica deve corresponder aos fundamentos da Justiça, com o objetivo de
garantir uma existência digna a todos.
Nesses limites, assegura-se a
liberdade econômica do indivíduo.
A coaçao legal será apenas
permitida para a efetivaçao de Direitos ameraçados ou colocada a serviço dos
reclamos prementes do bem comum.
É assegurada a liberdade do
comércio e da indústria, nos termos da lei do Império.”[168]
Ainda que o primeiro governo republicano de Ebert e Scheidemann,
exercido através do Conselho dos Comissários do Povo (Rat der Volksbeauftragten), declarasse,
na proclamaçao de 12 de novembro de 1918, pretender concretizar o socialismo,
isso nao poderia, naturalmente, significar que a Constituiçao de Weimar tivesse
dele se aproximado substancialmente.
A Parte V da Constituiçao da República de Weimar nao ordenava e nem
permitia, evidentemente, a organizaçao da relaçao do Estado com a economia de
modo efetivamente socialista.
E isso mesmo, no quadro da concepçao jurídico-dominante à época de
socialismo renovado, promovido pela Social-Democracia Alema (SPD), era,
assim, apresentada pelo mesmo constitucionalista Anschütz da seguinte
forma :
“Ela (a Constituiçao de Weimar
de 1919) é também nessa sua parte econômico-política a obra de um parlamento no
qual a parte do povo que pensa de modo socialista era, em verdade, muito forte,
porém nao representada de modo dominante.
E, em razao disso, o
acolhimento de exigências e diretrizes socialistas foram plasmadas na
Constituiçao, por todos os lados, apenas ao preço de consideráveis
enfraquecimentos e fortes concessoes à
concepçao econômica individualista – ou, como os socialistas falam :
capitalista, herdada : um resultado com o qual o radicalismo dos socialistas
que se posicionam de modo comunista pôde ter todos as razoes para se tornar
insatisfeito.”[169]
Em verdade, mister é reconhecer que a Constituiçao da República de
Weimar, de 11 de agosto de 1919 nada mais representou senao a
consagraçao da orientaçao social-reformista do capitalismo imperialista alemao,
dando expressao jurídico-constitucional à tentativa de colaboracionismo de
classes, i.e. de conciliacionismo dos interesses materiais do proletariado e da
burguesia, algo impossível de ser efetivamente realizado, no marco da
preservaçao da exploraçao econômica e dominaçao política assegurada pelo Estado
Burguês : tal contexto foi denominado pelos principais diregentes
sociais-democráticos e pelo pensamento jurídico-dominante da época como sendo o
de um Socialismo Democrático Renovado.
Nesse diploma constitucional, as instituiçoes e as liberdades burguesas
egoístas-individualistas, legadas pelo capitalismo imperialista, surgiam, em
termos linguístico-formais, reformadas por diversos novos institutos,
instituiçoes e programas sociais, timidamente dotadas de alguma eficácia e
efetividade concreta.
Tal como assinalou, um dos preceptores ideológicos do nazismo alemao, o
renomado jurista alemao Carl Schmitt, nas garantias de
liberdade contratual, de propriedade privada e no direito de herança, dos
Artigos 152, 153 e 154 da vida econômica da República Constitucional de
Weimar, ressurgiam consolidados três grandes pilares da ordem social,
econômica e jurídica capitalista, que a Revoluçao de 1918-1919 logrou
abalar, porém, de nenhuma forma, revolucionar[170].
Quanto aos Direitos da Ordem Econômica, a Constituiçao Imperial em
tela dispôs, expressamente :
“Art. 151. A ordem da vida
econômica deve corresponder aos fundamentos da Justiça, com o objetivo de
assegurar a todos uma existência digna.
Nesses limites, garante-se a
liberdade econômica.
A coaçao legal é apenas admitida
para a efetivaçao de Direitos ameaçados ou a serviço das exigências
extraordinárias do bem comum.
A liberdade de comércio e de
indústria é assegurada, em conformidade com as Leis do Império.
Art. 152. Na circulaçao econômica
vale a liberdade contratual, em conformidade com as Leis.
A usúria é proibida. Os
negócios jurídicos que violem os bons costumes sao nulos.
Art. 153. A propriedade é
assegurada pela Constituiçao.
Seu conteúdo e seus limites
resultam da lei.
Uma desapropriaçao poderá
apenas ocorrer em favor do bem geral, com base em fundamento estabelecido em
lei.
Ela ocorrerá mediante
indenizaçao adequada, na medida em que uma Lei do Império nao disponha
diversamente.
Em caso de litígio motivado
pelo montante da indenizaçao, há de manter-se aberta a via jurídica junto aos
Tribunais ordinários, desde que Leis do Império nao determinem diversamente.
A desapropriaçao feita pelo Império em face dos
Estados membros, Municípios e associaçoes de utilidade comum pode ocorrer
apenas mediante indenizaçao.
A propriedade obriga.
Seu uso deve, ao mesmo tempo,
ser útil ao bem comum.
......
Art. 157. A força de trabalho
encontra-se sob especial proteçao do Império.
O Império criará um Direito do
Trabalho unitário.
.....
Art. 161. Para a manutençao da
saúde e da capacidade de trabalho, para a proteçao da maternidade e para a
previdência contra as consequências econômicas da velhice, da fraqueza, dos
imprevistos da vida, o Império criará um sistema de seguro abrangente, com a participaçao
decisiva dos segurados.”[171]
Em comentário às prescriçoes normativas em tela, Gerhard Anschütz assinalou
:
“As velhas Constituiçoes
(tipicamente : a Constituiçao Prussiana de 1850, Art. 9) afirmaram : “A
propriedade é intocávell”.
Se houvessemos dado ao invés
dessa expressao aquela menos patética “A propriedade é assegurada pela
Constituiçao”, isso nao significaria, porém, nenhuma mudança objetiva.
As expressoes “é intocável” e
“é assegurada” dizem a mesma coisa.
Nenhuma delas proclama a
soberania do indivíduo e de sua
propriedade.
Ambas afirmam, porém, que o
indivíduo “pode proceder com sua propriedade segundo seu bel prazer, na medida
em que a lei ou os Direitos de terceiras pessoas nao se oponham.”[172]
Eis, portanto, alguns dos segredos insofismáveis do Socialismo Democrático e
de uma Constituiçao menos democrática e mais socialista, ainda que emergente
nao de um socialismo superpoderoso, porém renovado, tal como
protagonizado pelos principais dirigentes da Social-Democracia Alema (SPD) e
seus aliados mais solidários, no projeto de defender a consigna de Assembléia
Nacional Constituinte, erigida sobre o apoio do I Congresso Geral dos Conselhos
dos Trabalhadores e Soldados, em um clima de mais pleno
social-colaboracionismo dualista-contemporizador.
Eis porque ainda retumbam nos ouvidos dos marxistas revolucionários as
categóricas palavras paradigmáticas, firmes, proféticas e cristalinas de Karl
Liebknecht que, a partir da Sacada
do Edifício da Assembléia Estadual, em 16 de Dezembro de 1918, dia da abertura dos
trabalhos do I Congresso dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha – há
cerca de 10 meses antes da vinda ao mundo do estafermo constitucional de Weimar
-, pontificavam às massas
berlinenses presentes nas ruas da cidade :
“Esse dia, em que aqui se
reuni o I Congresso dos Conselhos dos
Trabalhadores e Soldados, possui significado histórico.
A primeira tarefa do
Congresso é a de proteger a revolução, derrotando a contra-revolução. ...
Momentaneamente, não temos,
na Alemanha, uma República Socialista, mas sim uma República Capitalista.
A República Socialista deve
ser instaurada apenas pelo proletariado, mediante a luta contra o Governo atual
que se tornou o portador do capitalismo.
Exigimos do Congresso que ele tome em suas
mãos o inteiro poder político, visando à implementação do socialismo, não
transferindo seu poder a uma Assembléia Nacional, que não representaria o órgão
da revolução.
Exigimos do Congresso dos
Conselhos que ele estenda a mão aos nossos irmãos russos, conclamando os
delegados da Rússia a aqui comparecerem.
Queremos a Revolução
Mundial e a unificação dos proletários de todos os países, consagrada entre
Conselhos de Trabalhadores e Soldados.”[173]
À GUISA DE CONCLUSÃO
O balanço histórico
sobre o processo revoucionário na Alemanha do século XIX e XX é extremamente
complexo e não há ainda lições muito claras a estudar e a ensinar
categoricamente, já que, nesse terreno, domina a histografia de frações
burguesas e pequeno-burguesas, revisionistas, stalinistas e até mesmo não
conseqüentemente leninistas.
Pois, se reina
acordo quanto ao fato de que a Social-Democracia Alemã superara o
desafio da ilegalidade, expressado pela Lei Contra os Socialistas de Bismarck,
o Partido já se encontrava, segundo Marx e Engels, seriamente
degenerado, em sentido teórico e programático, mesmo na década de 70 do século
XIX, por capitular crescentemente ao
lassalleanismo.
Poucos
reconheciam isso, porque a Social-Democracia Alemã crescia
quantitativamente, e, daí, fechavam os ouvidos aos posicionamentos de Marx
e Engels que destacavam sua decadência qualitativa, em termos
proletário-revolucionários, agravada a partir das negociações do Programa
de Gotha, de 1875. Costuma-se contemplar, superficialmente, August
Bebel e Wilhelm Liebknecht como os grandes organizadores numéricos da Social-Democracia
Alemã, deixando-se de destacar que o Partido havia, simplesmente,
inchado, tornado-se incapaz de lutar, revolucionariamente, nos anos 90 do
século XIX, devido ao crescente oportunismo teórico e programático, fomentado
pelos próprios August Bebel e Wilhelm Liebknecht. Além disso, é de praxe
criticar o reformismo de Eduard Bernstein e pouco se destaca
o oportunismo de August Bebel em sua colaboração militante com Friedrich
Ebert, a partir de 1905.
Entre 1871 e
1918, a Prússia, assumindo a forma estatal de Império Alemão, havia-se
tornado a grande nação imperialista da Europa Continental que derrotara,
militarmente, a Áustria e a França, esmagara a insurreição da
Comuna de Paris, ampliara suas colônias desde a China (Shantong)
até a África.
A I
Guerra Mundial imprimiu uma “derrota técnica” ao imperialism
alemão que capitulara, sem que nenhum soldado da Entente Franco-Britânico-Estadounidense
houvesse invadido o seu solo, sem que a retirada de suas tropas dos
territórios ainda ocupados na Europa se desse de modo desordenado,
sem que o Comando Supremo de suas Forças Militares – composto por Paul
von Hindenburg e Erich Ludendorff – houvesse sido
aniquilado ou, ao menos, encarcerado.
Após a Revolução
de 9 de Novembro de 1918, impulsionada pela
insurreição dos trabalhadores, soldados e marinheiros alemães amotinados,
formou-se um Governo de Coalizão, composto pela Social-Democracia Patriótica,
encabeçada por Ebert, Scheidemann e Landsberg, e pela Social-Democracia Independente e
Pacifista, dirigida por Hugo Haase, Wilhelm Dittman e Emil Barth.
Perante o público, apoiaram-se, de início, em
10 de novembro, sobre a Assembléia Geral dos Conselhos de
Trabalhadores e Soldados, representante de todos os conselhos do Império
Alemão.
Porém, no mesmo
dia, surgia o Pacto Militarista selado entre o SPD, comandado com Friedrich
Ebert, e o Alto Comando do Exército Imperial, dirigido, agora, pelo General
Wilhelm Groener, visando, sobretudo, a preservar a estrutura hierárquica
das forças armadas imperiais, manter o velho aparato militarista do Estado,
reconstruir o imperialismo alemão, proteger o novo Estado contra a “Revolução
Bolchevique” e seus representantes imaginários na Alemanha, i.e. os spartakistas,
dirigidos por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg.
Diretamente
interessados no Pacto Ebert-Groener estavam, além disso, os grandes
capitalistas alemães Siemens, Stinnes, Borsig e outros.
Esse contexto
favorecera imensamente a difusão da “Lenda da Punhalada pelas Costas
(Dolchstoßlegende)”, criada pelos Generais von Hindenburg e Ludendorff e
defendida pelo Comando Supremo do Exército Imperial, segundo a qual os únicos
culpados pela derrota da Alemanha na I Guerra Mundial teriam
sido os socialistas de todos os gêneros que insuflavam as massas para a
revolução, os social-democratas, sim, mas, particularmente, os marxistas
de todos os gêneros e, sobretudo, os bolcheviques e, por essa
via, os judeus, responsáveis pela conspiração internacional judia, em
uma palavra: todos os criminosos da Revolução de Novembro
(Novemberverbrecher), que assinaram a Paz de Versalhes, em 11
de novembro de 1918, “sem que os últimos meios de resistência
estivessem esgotados” …
Aos “criminosos
de novembro” não cumpriria conceder tréguas: caberia responder com os
métodos mais impiedosos e implacáveis do imperialismo alemão, tão bem demonstrado
no massacre da Comuna de Paris, comandado pelo Chanceler de Ferro, Otto von
Bismarck.
Valeria esmagar
os marxistas
revolucionários,
valendo-se, de início, da Social-Democracia Patriótica de Ebert e
Scheidemann, para, depois do esmagamento daqueles, destroçar também
estes, de modo a acertar contas com todos os que supostamente “apunhalaram
e espetaram pelas costas o sagrado Exército imperial, o Siegfried alemão, a
cada momento em que combatia no fronte.”
Tanto pior eram
as palavras de Friedrich Ebert que saudava os soldados imperiais que
retornavam do fronte, em 1918, proclamando que não haviam sido derrotados nos
campos de batalha (“im Felde unbesiegt”), ou mesmo de Konrad
Adenauer, do Partido do Centro cristão-democrata
burguês, que afirmava que o Exército Imperial regressava
ser ter sido vencido sem, ter sido derrotado, (“nicht besiegt und nicht
geschlagen in die Heimat zurück”).
A “punhalada”
(Dolchstoß) haveria sido desferida no interior do país, convulsionado pelos
insurgentes
marxistas…, pela mão do judeu bolchevique …
No período da I
Guerra Mundial e imediatamente depois dela, em face da crise do Imperialismo
Alemão e seu ímpeto selvagem de reorganização, alimentado pela “Lenda
da Punhalada nas Costas (Dolchstoßlegende)”, os mais complexos
problemas surgidos no interior das filerias dos revolucionários alemães
advinham das visões da águia Rosa Luxemburg sobre a questão
organizativa e seu revisionismo teórico do marxismo,
permanecendo em descompasso com a nova idade do imperialismo, fase superior do capitalismo.
De modo nenhum,
emergiam do que se alega pudesse ser o “putschismo” de Karl Liebknecht, aliás o que
nunca foi efetivamente provado, pois as acusações de tentativa de derrubada
imediata do governo de Ebert, Scheidemann e Noske, aliado
dos Generais
Groener, Lequis e von Lüttwitz, em Janeiro de 1919, mediante
insurreição armada, acusações essas dirigidas sobretudo contra Karl
Liebknecht, partem, majoritariamente, entre as fileiras da esquerda, de
Paul
Levi e luxemburguistas e também de Radek, Brandler e Richard Müller, e,
d’entre as fileiras burguesas, do habermasiano Heinrich August Winkler.
Um elemento de
complicação nessa equação da luta de classes na Alemanha era, sem
dúvida, o fato que a III Internacional não se encontrava
nem sequer fundada, no período que se estende de novembro de 1918 e janeiro de
1919.
Depois da morte de Rosa Luxemburg, Lenin
assinalou, em 1920, em tom de síntese:
“Rosa equivocou-se na questão da independência
da Polônia.
Ela equivocou-se, em 1903, na apreciação do
menchevismo.
Equivocou-se quando, em julho de 1914, ao lado
de Plekhanov, Vandervelde, Kautsky, entre outros, aspirou à unificação dos
bolcheviques com os mencheviques.
Ela equivocou-se em suas anotações do cárcere
de 1918 (nesse sentido, corrigiu grande parte de seus erros, depois de
abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919).
Porém, apesar de todos os seus erros, Rosa foi
e permanece sendo uma águia.”[174]
Mas, a Greve Geral de Janeiro de 1919, com ocupação de prédios (Vorwärts –
órgão do SPD -, Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein
e Mosse, a Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff) e com
armamento das massas, objetivando à recondução de Emil Eichhorn ao cargo de
Presidente
do Comissariado de Polícia de Berlim, entrou na historiografia burguesa
e mesmo de boa parte da esquerda revisionista como a “Insurreição de Spartakus” ou o
“Levante de Spartakus”.
Nesse contexto, sobretudo Karl Liebknecht teria pretendido empreender
um putschismo
blanquista, supostamente destinado a derrubar imediatamente o Governo
de Ebert,
Scheidemann e Noske, sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von
Lüttwitz, destruindo, de um golpe, o Estado Burguês Alemão e
edificando uma República Socialista Livre dos Conselhos dos Trabalhadores,
mesmo contando com a minoria da classe trabalhadora.
Nesse contexto, teriam os companheiros de Karl Liebknecht do KPD
Sparktakista, Rosa Luxemburg, Paul Levi, Leo Jogliches
permanecido dotados de bom senso contra o putschismo de Karl Liebknecht,
quando se posicionaram e votaram contra uma resolução de derrubar o Governo
do SPD, aliado ao Generalato Imperarlista Alemão.
Diz a lenda popular que Karl Liebknecht teria assinado,
juntamente com Georg Lebedour (USPD) e Paul Scholze (Revolutionäre
Obleute), em uma “Junta Revolucionária (Revolutionsausschuss)”, já em 4 de
janeiro (!), no mesmo dia em que Emil Eichhorn, um membro do USPD,
foi deposto da Presidência do Comissariado de Polícia de Berlim, uma “declaração”(!),
defendendo a derrubada imediata do Governo Ebert e Scheidemann.
Outras voces afirmam que Karl Liebknecht,
entusiasmado pelas manifestações de rua de 5 de janeiro de 1919, teria,
juntamente com Lebedour e Scholze, votado, “na seqüência”,
embriagado pela pressão dos acontecimentos, uma efêmera “resolução”(!), em um
organismo comum de três organizações, contando com 33 membros e um “secretariado”(!)
de três dirigentes, clamando pela derrubada do Governo Ebert e Scheidemann
– “a
qual não teve maiores desdobramentos(!)”.
Outros acentuam que, em 6 de janeiro, a “Junta
Revolucionária (Revolutionsausschuss)”, buscando cooptar as tropas
imperiais alemães, declarou, ao sessionar no próprio Parlamento Imperial (Reichstag),
o Governo
Ebert e Scheidemann como já derrubado
(“abgesetzt”), o que teria sido comunicado à população mediante
panfleto, cujo responsável seria, “como de costume (wie üblich)”, Karl
Liebknecht e Wilhelm Pieck, membro da direção do KPD Spartakista.
Outros, por fim, alegam que Karl Liebknecht teria
votado uma “resolução” (!) de derrubada depois da Greve Geral de 7 de Janeiro,
clamando por invadir, com armas em punho, a Chancelaria do Império de Ebert,
situado na Wilhelmstraße 77, antigo Palácio do Príncipe Anton Radziwill,
bairro de Kreuzberg.
Ora, é importante destacar que mesmo a Greve
Geral de Janeiro de 1919 não foi, absolutamente, planejada,
desencadeada ou dirigida pelo KPD Spartakista, senão um produto
da manifestação
de massas, com ocupação de prédios que ocorrera em
5 de janeiro de 1919, sob convocação da Presidência da Social-Democracia
Independente (USPD) da cidade de Berlim, em colaboração
com maioria dos delegados sindicais
independentes revolucionários (revolutionäre Obleute), ligados
estes ao USPD, na base do movimento operário berlinense, objetivando a impedir a demissão de Emil
Eichhorn do cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de
Berlim, ordenada em 4 de janeiro de 1919 pelo Governo de Ebert, Scheidemann e Noske.
Estas foram as forças que, em verdade, dirigiram as
manifestações de massas e a Greve Geral de Janeiro de 1919,
sobre a qual Karl Liebknecht, Rosa Luxemburg e o KPD Spartakista incidiam, em condição de absoluta
minoria.
O próprio USPD de Georg Lebedour, Hugo Haase,
Wilhelm Dittman, Emil Barth – tal quais os spartakistas, saído bem
derrotado do Congresso do Império dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados
(Reichskongress der Arbeiter- und Soldatenräte) de 16 a 21 de dezembro de 1918 que,
por 400
a 50, posicionou-se, em favor, da imediata convocação de eleições para uma Assembléia
Nacional Constituinte, a realizar-se em 19 de janeiro de 1919, bem como
por 344
votos a 98, a rejeição categórica da convocação imediata de um novo Congresso
dos Conselhos - encontrando-se também em
esmagadora minoria no movimento operário alemão, procurava reconquistar
suas posições perdidas no quadro de seu projeto de Governo Frente
Popular, formado com o SPD de Ebert e Scheidemann, em 9
de novembro de 1918, e imerso em crise, depois de o USPD ter
abandonado o Conselho dos Comissários do Povo (Rat der
Volksbeauftragten), em 28 de dezembro de 1918, em virtude da repressão
militar dos protestos da Divisão de Marinha do Povo
(Volksmarinendivision), promovida pelo Pacto Ebert-Groener,
durante o transcurso das Festas de Natal de 1918.
O próprio USPD não possuía sérias ambições de
derrubar o Governo: era, por princípio, pacifista e defendia uma estratégia
frentepopulista, estando disposto a colaborar com o social-patriotismo
de Ebert e Scheidemann – que sabia pactuar com o Generalato Imperialista Alemão
-, desde que não houvesse esmagamento de massas. Era seu projeto político cavalgar
as lutas das massas, desde que necessárias para imprimir mais impulso à
sua perspectiva de fazer instaurar em solo alemão uma “República dos Conselhos”
e a “Democratização
das Forças Armadas Imperialistas.”
Karl
Liebknecht – enquanto o mais
prestigiado quadro político do KPD Spartakista – veio a declarar,
publicamente, na noite de 5 de janeiro, seu apoio às todas as lutas e
mobilizações sociais das massas berlinenses - ademais sustentadas também por Rosa
Luxemburg e demais membros do KPD Spartakista - e, assim, passou a tomar parte no então formado Comando de Greve (Streikleitung),
composto por 53 destacados militantes, funcionando em Marstall,
o qual entraria para a historiografia dominante como a “Junta Revolucionária (Revolutionsauschuss)”.
Em essência, o Comando
de Greve de Janeiro de 1919 – Georg Lebedour, Paul Scholze e Karl
Liebknecht - expressava a
composição dirigente da antiga Junta Executiva do Conselho de Trabalhadores
e Soldados da Grande Berlim (Vollzugsrat des Arbeiter- und Soldatenrates
Groß-Berlin), surgida em outubro de 1918, e não era, em verdade, alheia
às visões de planejamento consciente de ações revolucionárias e insurreições em
Berlim, pois que já rompera com a velha concepção predominante no SPD
de que o capitalismo e o seu Estado se desagregam e desabam por si mesmos, não
devendo ser destroçados pela derrubada planejada do proletariado
revolucionário.
Porém, de 5 para 6
de janeiro, no quadro das mobilizações de massas, o que, de fato, ocorreu foi a
ocupação de vários prédios relacionados com a imprensa berlinense (Vorwärts – órgão do SPD -,
Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a
Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff). Em vez do Vorwärts, jornal do SPD
que publicará a demissão de Emil Eichhorn, passou a circular o Revolutionäre Vorwärts, sob
a redação de Eugen Leviné, Wolfgang Fernbach e Werner
Möller, contando com o apoio dos operários da Knorr-Bremse, AEG e Schwarzkopff.
A seguir, a Greve
Geral, convocada para 7 de janeiro de 1919, foi, freneticamente,
sustentada por mais 500 mil berlinenses que ocuparam as ruas e as praças da
capital, clamando, até 9 de janeiro, pelo desarmamento das tropas estacionadas
na cidade, ao mesmo tempo em que os ocupantes dos prédios armavam-se, para
eventual defesa contra a repressão. Dos depósitos do Estado de Spandau
e Wittenau, distribuiram-se armas a cerca de 3.000 pessoas, diante do Comissariado
de Polícia de Emil Eichhorn.
De toda sorte, não
se registrou a passagem de tropas imperiais berlinenses para as fileiras dos
grevistas, bem como resultou que a Divisão de Marinha do Povo (Volksmarinedivision)
declarara sua neutralidade, a despeito das mobilizações de massas.
De 9 a 11 de
janeiro, em um momento de descenso do movimento grevista e estagnação na
dinâmica da ocupação de prédios, tomados como escudos proterores, passaram,
porém, a manifestarem-se claros desacordos internos no Comando de Greve (Streikleitung),
cujo conteúdo não se encontra, historicamente, bem comprovado, nos documentos
historiográficos alemães.
De um lado, parece
claro que estariam os adeptos de Georg Lebedour (USPD), defendendo a
retomada de negociações com o Governo de Ebert e o Generalato
Imperialista Alemão – as quais já haviam sido supostamente iniciadas
mesmo em 6 de janeiro - , d’outro, os adeptos de Karl
Liebknecht que, supostamente, segundo se conta, teriam defendido –
contra a posição de Rosa Luxemburg e Leo Jogliches – uma absurda tentativa de
assaltar, com armas na mão, o prédio de Ebert, Scheidemann e do Conselho dos
Comissários do Povo (Rat der Volksbeauftragten), o que implicaria, na
prática, dispor de tropas revolucionárias proletárias móveis, inexistentes
naqueles dias, que percorressem quilômetros de Spandau, da Jerusalemstraße,
da Zimmerstraße
e da Kochstraße até a sede de Governo de Ebert, Scheidemann e Noske,
na Chancelaria
do Governo, em Kreuzberg, passando de uma situação
já defensiva e estagnada das ocupações para uma impossível ofensiva extrema de ataque
arriscado, sendo capaz de desferir golpes militares.
No entanto, em 8 de
janeiro, é consenso afirmar que Liebknecht e o KPD Spartakista já
haviam decidido abandonar o Comando de Greve (Streikleitung),
devido a terem descoberto que Lebedour e o USPD negociavam, em
suas costas, uma trégua com o Governo de Ebert e Scheidemann.
Era evidente que Karl
Liebknecht sabia que se encontrava em absoluta minoria no Comando
de Greve (Streikleitung). Como poderia, naquelas circustâncias, então, o
revolucionário tão experiente que era pretender postular a deflagração de um “putsch”
contra Ebert e Scheidemann?
Além disso, haviam
fracassado, até mesmo em 8 de janeiro, as tentativas de arrastar para a Greve
Geral os marinheiros da Divisão de Marinha do Povo
(Volksmarinedivision) e, desde esse dia, as tropas e os paramilitares
de Ebert
proclamavam o lema de que: “a hora do acerto de contas se
aproximava!”(Die Stunde der Abrechnung naht!).
Como planejar a
derrubada imediata de um governo, quando a tarefa essencial do momento era a de
defesa?
Tratava-se, como se
dizia, de assegurar a tarefa de lutar contra a “traição de Judas no Governo” (“Kampf
gegen die Judasse in der Regierung”), contra as tropas que estavam
sendo financiadas pelo industrial Heinrich Sklarz e deslocadas por Nokse
e Reinhardt para o centro de Berlim, com as ostensivas conclamações dos
jornais burgueses à população para que integrasse as fileiras paramilitares dos
Freikorps,
ali mesmo no Café Vaterland, na Praça de Potsdam, como se depreende
dos tantos panfletos operários publicados à época em Berlim.
Todos sabiam que a “Liga
Anti-Bolchevique” de Eduard Stadler e Waldemar Pabst –
que, entre 9 e 15 de janeiro, participara da execução sumária de Liebknecht
e Luxemburg, bem como do massacre de cerca de 170 pessoas (anote-se que
a Greve
de Março de 1919 custou a vida de mais de 1.000 pessoas) -, encontrava-se
enriquecendo-se com as doações dos grandes capitalistas Siemens, Stinnes, Borsig, repassadas
aos Freikorps,
armados com lança-chamas, metralhadoras e artilharia pesada.
Em 9, quando as
tropas imperiais, as Guardas Brancas e os Freikorps
avançaram, o Comando de Greve (Streikleitung) não clamou pela derrubada do
governo, senão para que se utilizasse as armas “contra vossos inimigos
mortais”(Gebraucht die Waffen gegen Eure Todfeinde!).
Em verdade, toda e
qualquer análise rigorosamente fundada, sob o ângulo dialético-materialista –
i.e. não oportunisticamente social-filistino -, acerca do perfil revolucionário
de Karl
Liebknecht há de iniciar-se, sempre e invariavelmente, com o preclaro e
lapidar parecer expendido por Lenin sobre um dos mais destemidos
lutadores revolucionários de vanguarda que o proletariado internacional
conheceu.
Em sua carta dirigida aos trabalhadores da Europa
e dos EUA, Lenin escreveu da seguinte maneira:
“Karl Liebknecht
: esse nome é conhecido pelos trabalhadores de todos os países.
Por todos os lados ..., esse nome é símbolo da devoção de
um dirigente em prol dos interesses do proletariado, da fidelidade à revolução
socialista.
Esse nome é o símbolo da luta realmente verdadeira,
realmente sacrificante, incomplacente, contra o capitalismo.
Esse nome é o símbolo da luta inconciliável contra o
imperialismo, não em palavras, senão em ações, símbolo de uma luta que é
disposta ao sacrifício precisamente quando a “própria” nação é envolvida pelo
delírio de vitórias imperialistas.”[175]
O luxemburguismo,
a seguir desenvolvido por Paul Levi representou uma forma
alienada de representações das idéias de Rosa e sua cristalização
anti-leninista, o que ficou, em 1921, meridianamente evidenciado com as tomadas
de posições declaradas de Levi, culminando em sua expulsão da III
Internacional, em um momento em que Lenin, Trotsky e Zinoviev
a dirigiam. Depois disso, em 1922, Levi regressou… à II
Internacional.
As apreciações
de Rosa,
Levi, Radek e, mais modernamente, Pierre Broué (e, por essa via, Grant
e Woods) dominam, hoje, o tema e devem ser vistas com reservas. São
contraditórias e representam visões equivocadas sobre o desenvolvimento do
processo revolucionário da Alemanha.
As escassas
análises de Lenin e Trotsky e mesmo da III Internacional sobre o processo
revolucionário alemão de novembro de 1918 a janeiro de 1919 quase nunca são
investigadas e citadas, o que abre ainda mais espaço ao luxemburguismo e sua
suposta correção no tratamento das revoluções e o projeto de “socialismo
democrático”, nos termos da obra clássica de Rosa Luxemburg, de 1918: Sobre
a Revolução Russa. Essa historiografia dominou e ainda domina a
esquerda, depois da stalinização da União Soviética, tendo-se tornado a
base ideológica de inúmeros partidos da esquerda alegadamente democrática,
reformista, oportunista e liquidacionista, que evitam o bolchevismo,
valorizando a suposta posição “alternativa” de organização e moderação de Rosa
Luxemburg.
Mas, certo é que
nem Lenin,
nem Sverdlov,
nem Trotsky,
jamais se pôs a afirmar que Karl Liebknecht pretendera derrubar
imediatamente o governo de Ebert, Scheidemann e Noske,
sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz e pelas unidades
paramilitares dos Freikorps, em Janeiro de 1919 ou coisa do gênero.
Não lhe censuraram ou o corrigiram por ter sido um “putschista” aventureiro
e querer imediatamente derrubar o governo, em meio à sua visível minoria, no
seio da classe trabalhadora alemã.
Ainda no quadro
histórico do ascenso insurrecional espontâneo das massas trabalhadoras,
soldados e marinheiros de Berlim, provocado pela conclamação de Greve
Geral de Janeiro de 1919, Karl Liebknecht escreveu, em 23 de
dezembro 1918, demonstrando ter clareza do que pretendia e do que acusavam os
spartakistas:
“Agora, atacam
os spartakistas com todos os meios imagináveis. A imprensa da burguesia e dos
social-patriotas, do Vorwärts (Avante) ao Kreuz-Zeitung (Jornal da Cruz),
debordando com mentiras aventureiras, exagerando com as mais insolentes
distorsões, deformações e injúrias. O que é que nos lançam na cara de todas as
maneiras? Que proclamamos o terror; Que queremos desencadear a mais sanguinolenta
das guerras civis; Que nos equipamos com armas e munições, preparando-nos para
uma insurreição armada. Em uma palavra: que somos os mais perigosos e
inescrupulosos cães sangrentos do mundo. Essas mentiras são fáceis de
compreender.”[176]
Diferentemente
das Jornadas
de Julho de 1917 na Rússia – e das posições de Podvoisky,
Nevsky, Volodarsky e da Organização Militar Bolchevique em Petrogrado
(antagonizadas por Trotsky, Zinoviev e Kamenev) – certo é que Karl Liebknecht não
propôs, na semana de 4 Janeiro de 1919, retomar sequer a
cosigna “Todo Poder aos Conselhos de Trabalhadores” – que aparecera em
dezembro de 1918, por ocasião do Congresso dos Conselhos de Fábrica,
cuja vitória coube ao SPD de Ebert e Scheideman.
Em Janeiro
de 1919, o intuito de Karl Liebknecht não era
absolutamente derrubar o governo, mas sim mobilizar permanentemente as massas,
inclusive armando-as ainda mais – o que era a regra naquele período posterior à
derrota da I Guerra Mundial, com ruas tomadas por soldados da Divisão
da Marinha do Povo (Volksmarinedivision), delegados sindicais
revolucionários independentes, eleitos por conselhos de fábrica (revolutionäre
Obleute), presididos por Paul Scholze, militantes da
Social-Democracia Independente (USPD) e do comunistas-spartakistas (KPD)
-, ocupando prédios públicos, e, por essa via, reverter, no curto
prazo, a demissão do Presidente do Comissariado de Polícia de
Berlim, Emil Eichhorn.
Seu método era o
seguinte: acreditava que as massas trabalhadoras, soldados e marinheiros,
sobretudo através das lutas, das greves gerais, avançariam em sua consciência
política, arrastando, finalmente, para o campo dos revolucionários a tão
esperada maioria. Esta seria a précondição para a tomada consciente do poder.
Sua grande debilidade era a questão organizativa, presidida pela visão de Rosa
Luxemburg.
Mas, a Greve
Geral de Janeiro de 1919 foi reprimida brutalmente pelo Governo
Ebert e Scheidemann, através de combates armados. Um novo capítulo da
luta de classes se abrira, pois, diferentemente, das Jornadas de Julho de 1917 –
em que dirigentes das lutas proletárias – como Trotsky, Lunatcharky e Zinoviev
- foram encarcerados e depois simplemente liberados -, o Janeiro de 1919 na Alemanha
foi o início de uma barbárie no centro do capitalismo avançado europeu: os
dirigentes não eram presos e soltos, eram executados sumariamente. Pelas suas
cabeças ofereciam-se recompensas milionárias.
Lenin sabia que o bolchevismo revolucionário tinha de
chegar à Alemanha para que fosse possível vencer e que Karl
Liebknecht – depois deste, Mehring – era precisamente o
dirigente que mais ansiava por implantá-lo. A resistência mais encarnecida e
insuperável, no interior das fileiras dos revolucionários alemães contra o
bolchevismo, provinha de Rosa Luxemburg, Leo Jogliches, Paul Levi e
seus aliados, destacadíssimos dirigentes do marxismo revolucionário alemão.
Depois da morte
de Karl
Liebknecht, Luxemburg e Jogliches, procurou Radek, desonestamente, a
fim de surgir como o grande representante da III Internacional na Alemanha, “provar”
que putschistas eram não apenas Liebknecht e seus seguidores, mas
também Rosa Luxemburg e Jogliches, por que haviam participado do
projeto de levante, concordando com ele ou não.
Uma crítica
justa sobre Karl Liebknecht deveria referir-se muito mais ao seu
revisionismo teórico, no campo da economia política, não ao fato de poder ser
acusado de putschista, tal quais quiseram Radek, Levi e o luxemburguismo.[177]
Por fim,
cumpriria frisar que não foi o “putschismo” ou a “estratégia
da ofensiva” – tal como diz a lenda de Levi, Däumig, luxemburguistas,
Brandler, Radek etc. - que destruiu o KPD alemão: pelo
contrário, enquanto o Partido lutava, apesar de todos os erros de
caracterização, atraia mais lutadores combativos para suas fileiras. Em fins de
1920, toda a ala esquerda do USPD ingressou no KPD.
Emil
Eichhorn foi eleito pelo
KPD
repeditamente Deputado no Parlamento Alemão, até 1924, apesar de, contra ele,
circular, desde janeiro de 1919, um mandato de prisão. Nos
entreatos das eleições parlamentares, voltava à clandestinidade. Novamente
eleito, gozando de imunidade parlamentar, voltava à cena pública. Morreu em julho de 1925.
O KPD foi destruido, paulatinamente, a
passo e passo, pelo stalinismo, a partir de 1924, tendo sido a direção Radek-Brandler
o veículo de transmissão intermediária dessa transformação gradativa. Em suma,
foram as capitulações, a parálise, a falta de luta e impulso combativo, o
oportunismo do bloco do Plebiscito Vermelho KPD-Nazistas,
que apodreceu o projeto de Partido marxista-revolucionário alemão, levando a
que, em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, o KPD
permancesse inteiramente paralisado, não ousando nem sequer convocar uma Greve
Geral.
Por tudo isso,
creio que a questão da experiência alemã deveria ser examinada mais
profundamente, mesmo sabendo que, dessa experiência histórica, pouco pode ser
extraído positiva e categoricamente, senão apenas contraditoria e
exortativamente, sendo o mais importante contrastar as posições equivocadas de Rosa
em relação à questão da organização do Partido marxista-revolucionário, visando
corrigí-las.
EDITORA DA UNIVERSIDADE
COMUNISTA SVERDLOV
PARA A ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA DO
PROLETARIADO
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
FEVEREIRO DE 2002
[1] Vide,
nesse sentido, LIEBKNECHT, KARL. Acerca da Justiça de Classe, São
Paulo-Munique-Paris : Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2002,
especialmente : Estado de Direito e Justiça de Classe, pp. 21 e 22.
[2] Passim PETRAS, JAMES. La Contraofensiva Imperial : Contradicciones,
Desafíos y Oportunidades, in : Marxismo Vivo. Revista del
Koorkom, Nr. 4, Deciembre de 2001, p. 44.
[3]
Cf. LIEBKNECHT, KARL. Der neue Burgfrieden ( A Nova Paz Cidadã)(19 de Novembro de
1918), in : Dokumente und Materialien zur Geschichte der deutschen
Arbeiterbewegung (Documentos e Materiais acerca da História do Movimento dos
Trabalhadores Alemães), Série II, Vol. II, Berlim : Dietz, 1958, pp. 428 a 430.
[4]
Cf. TUKHATCHEVSKY, MICHAIL N. Die Kampfhandlungen von Aufständischen während
eines Aufstandes. Fortsetzung des letzten Kapitels(As Ações de Luta dos
Sublevados Durante um Levante. Continuação do Capítulo Anterior), in : A.
Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(A
Insurreição Armada. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. :
Georg Wagner, 1971, p. 241.
[5]
Cf. LIEBKNECHT, KARL. Dokumente und Materialien zur Geschichte der deutschen
Arbeiterbewegung (Documentos e Materiais acerca da História do Movimento dos
Trabalhadores Alemaes), Série II, Vol. II, Berlim : Dietz, 1957, pp. 273 e 274.
[6]Presentemente, segue sendo decisivo ressaltar o
efetivo caráter marxista-revolucionário de Karl Liebknecht, em face das
atualíssimas produções corrosivamente oportunistas, delineadas por intelectuais
vinculados ao Partido do Socialismo Democrático da Alemanha (PDS), os quais
pretendem apresentar Liebknecht como um simples “político (Politiker)”,
marcadamente identificável por seu matiz essencialmente idealista, desprovido
de grande discernimento marxista-engelsiano. Em sentido paradigmático,
examine-se o recentíssimo texto, inteiramente canhestro, da – assim designada
pelo jornal alemão Junge Welt – proeminente Professora Doutora Laschitza,
Annelies. Rosa Luxemburg und Karl Liebknecht – Ein
biographischer Vergleich (Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht – Uma Comparação
Biográfica), in : Mitteilungen der Kommunistischen Plattform, 8 de Janeiro de
2002.; tb. Junge Welt. An Sonnabend zu den Gräbern von Karl und Rosa (No
Domingo, Vamos ao Túmulo de Karl e Rosa), 13 de Janeiro de 2000. Ora ! Toda e
qualquer análise rigorosamente fundada, sob o ângulo dialético-materialista –
i.e. não oportunisticamente social-filistina -, acerca do perfil revolucionário
de Karl Liebknecht há de iniciar-se, sempre e invariavelmente, com o preclaro e
lapidar parecer expendido por Lênin sobre um dos mais destemidos lutadores
revolucionários de vanguarda que o proletariado alemão conheceu : “Karl
Liebknecht : esse nome é conhecido pelos trabalhadores de todos os países. Por
todos os lados ..., esse nome é símbolo da devoção de um dirigente em prol dos
interesses do proletariado, da fidelidade à revolução socialista. Esse nome é o símbolo da luta realmente verdadeira,
realmente sacrificante, incomplacente, contra o capitalismo. Esse nome é o
símbolo da luta inconciliável contra o imperialismo, não em palavras, senão em
ações, símbolo de uma luta que é disposta ao sacrifício precisamente quando a
“própria” nação é envolvida pelo delírio de vitórias imperialistas.” LÊNIN,
VLADIMIR I. Brief an die Arbeiter Europas und Amerikas (Carta aos Trabalhadores
da Europa e da América), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXIII, Berlim, 1959, p.
384.
[7]Cf.
LIEBKECHT, KARL. Trotz alledem ! (Apesar de Tudo !), in : Rote Fahne (A
Bandeira Vermelha), 15 de Janeiro de 1919.
[8]
Cf. FLECHTHEIM, OSSIP K. Die KPD in der Weimarer Republik (O PCA na República
de Weimar), Frankfurt a.M., 1969, p. 126.
[9]Cf. VERFASSUNG DES DEUTSCHEN REICHS VOM 11. AUGUST 1919 (Constituiçao do Império Alemao, de 11 de
Agosto de 1919), in : Reichsgesetzblatt (Diário Legal do Império), 1919, Nr.
152, pp. 1.383 e s.
[10] Acerca
do tema, vide, mais amplamente, VON KÖLN, SCHMIDT. O Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI) e a Corrente
Franco-Gramsciana de Atualização, Correção e Superação do Marxismo
(Meta-Marxismo de Actuel Marx). A Enfermidade Gramsciana no Movimento
Trotskysta Contemporâneo e nas Lutas de Emancipação do Proletariado, Moscou –
São Paulo – Munique – Paris : Editora da Universidade Comunista Sverdlov,
Novembro de 2000, pp. 3 e s.
[11] Nesse sentido,
examine-se, mais profundamente, GRAMSCI, ANTONIO. Il Significato e i Risultati
del III Congresso del Partito Comunista d’Italia (L’Unità, 24 de Fevereiro de
1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 651 e s.
[12] Cf.
TROTSKY, LÉON. Lettera ai Bordighisti
(Constantinopla, 25 de Novembro de 1929). Scritti sull’Italia (1921-1938), a
cura di Dario Romero, in : http:// www. marxists.org /archive /noneng /trotsky,
1999.
[13] Cf. IDEM. Scritti sull’Italia (1921-1938), Roma :
Controcorrente, p. 184.
[14]
Cf. LÊNIN, VLADIMIR I. Thesen und Referat über bürgerliche Demokratie und
Diktatur des Proletariats 4. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Teses e
Exposição acerca da Democracia Burguesa e Ditadura do Proletariado de 4 de
Março. I Congresso da Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol.
XXVIII (De Julho de 1918 à Março de 1919), Berlim, 1959, pp. retro-mencionadas.
[15] Nesse sentido, vide, paradigmaticamente, os argumentos
contidos no artigo publicístico do Professor Titular de Economia na Faculdade
de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires (UBA), RIEZNIK, PABLO. A
Revolução Argentina. Bancarrota, Dissolução e Rebelião Popular, Tradução de
Osvaldo Coggiola e Pedro Pomar, in : Outras Palavras, Revista Eletrônica do
Grupo de Estudos e Pesquisas Teoria
Crítica e Educação, Ano 2, 2002.
[16] Cf. PRENSA OBRERA. Altamira Planteó la Constituyente
en la Legislatura de Buenos Aires, in: Prensa Obrera, Nr. 735, 27 de Dezembro
de 2001.
[17]
Cf. Ibidem.
[18]
Cf. Ibidem.
[19]
Acerca desse tema, vide mais detalhadamente VON KÖLN, SCHMIDT. ibidem,
sobretudo Capítulo II.A : Atual Linha Político-Programática do SU-QI sob o
Impacto do Gramscismo em Cinco Casos Específicos, pp. 76 e s.
[20] Cf. PARTIDO OBRERO. Marcha Nacional
: 11-15 de Marzo, in : Prensa Obrera, Nr. 743, 28 de Fevereiro de 2002.
[21] Cf. IDEM. Editoral, Qué Debaten Las Asembleas
Populares, in : ibidem..
[22]
Cf. MST – UIT EN IZQUIERDA UNIDA. Surge la Asamblea Interbarrial en la Capital del País,
in : Correspondencia Internacional. Argentinazo. Contra el Modelo del FMI y la
Glöobalización, Nr. 17, Janeiro – Abril 2002, p. 8.
[23] Cf. FRENTE OBRERO SOCIALISTA – LIGA INTERNACIONAL DE
LOS TRABAJADORES. ¿Salida Democrática o Salida Obrera ?, in : Lucha Socialista,
Nr. 43, de 23 de Janeiro de 2002.
[24]
A respeito desses dados empíricos, vide, sobretudo, Weber, Hermann. Von Rosa
Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa
Luxemburgo a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover :
Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp. 7 e s.
[25] Acerca do tema, vide tb. Möller,
Dietrich. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl
Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag
Wissenschaft und Politik, 1976, pp. 18 e s.
[26] Recentemente, em 20 de maio de 2000, o Chanceler
Federal da Alemanha, Gerhard Schröder, Presidente da Social-Democracia Alemã,
exaltou, efusivamente, os méritos do Programa de Gotha, no quadro das Festividades
dos 125 Anos do “Congresso da Unificação” dos Lassalleanos e Eisenachianos,
ocorridas na cidade de Gotha, não deixando, porém, de assinalar, com a mais
típica sagacidade sicofanta-filistina : “Mais uma vez em sua longa história, a
Social-Democracia Alemã situa-se diante da tarefa de votar sua questão
programática, o que é denominado de “realidade social”. ... Em 22 de maio de
1875, começou aqui em Gotha, em Tivoli, o “Congresso da Unificação da
Social-Democracia da Alemanha”. Nele, fundiram-se o Partido dos Trabalhadores
Social-Democrático (SDAP), fundado por August Bebel e Wilhelm Liebknecht, os
assim-chamados “eisenachianos”, e a “Associação Geral dos Trabalhadores
Alemães”, criada por Ferdinand Lassalle. Na história da teoria da esquerda
alemã, essa data encontra-se, sobretudo, em mente em virtude da crítica mordaz
de Karl Marx ao “Programa de Gotha” aqui firmado. Além disso, por causa de uma parte corrupta
da literatura – totalmente independente daquilo tudo que foi produzido em nome
da doutrina marxista, nesse século, que ainda hoje vale a leitura. Retornarei
mais tarde a isso, porque no que concerne ao teor do programa nada
absolutamente surgia, em primeira linha, em diferenciação da programática
social-democrática. O significado histórico do Congresso de Unificação de Gotha
reside no poderoso passo rumo à unificação e à
unidade do movimento social-democrático dos trabalhadores. Apenas
através dessa unificação a Social-Democracia, cujas raízes remontam até o
ante-março e os anos da Revolução de 1848/49, tornou-se um partido relevante
para toda a Nação. ... A sociedade civil burguesa que queremos criar é uma
sociedade da liberdade e da auto-determinação, da solidariedade e da justiça.
Uma sociedade que não seja dominada por uma classe, senão que conceda aos
cidadãos soberanos sua independência e responsabilidade própria. Nisso –
dizemo-lo com a mesma responsabilidade histórica – não permitimos que ninguém
fique de lado. A Social-Democracia permanece sendo o poder de defesa dos
fracos. Porém, ela permanece sendo a única força política em nosso país que é
favorável à renovação de parte de sua tradição. Uma densa renovação tornou-se,
em nossa sociedade, apenas sempre possível quando a Social-Democracia logrou
impor o princípio da participação : participação no bem-estar, porém também nas
decisões políticas da sociedade. E precisamente esse princípio abrir-nos-á o
caminho para o futuro. Por isso, somos um partido forte que é consciente de seu
passado e permanece vinculado às suas tarefas do futuro.” Cf.
Schröder, Gerhard. Rede des SPD-Parteivorsitzenden, Bundeskanzler Gerhard
Schröder, anlässlich der Festveranstaltung 125
Jahre "Vereinigungs-Congress" der Lassalleaner und der Eisenacher (Discurso do
Presidente do Partido Social-Democrático da Alemanha, Chanceler Federal Gerhard
Schröder, por ocasiao do Ato de Festejo de 125 Anos do “Congresso da
Unificação” dos Lassaleanos e dos Eisenachianos), in :
http://www.spd.de/events/congress/schroeder.htmlGotha, 20 de maio de 2000.
[27] Nesse sentido, vide p.ex. Detlef, Joseph. Rechtsstaat
und Klassenjustiz. Texte aus der sozialdemokratischen “Neue Zeit”
1883-1914(Estado de Direito e Justiça de Classe. Textos do “Neue Zeit(Novo
Tempo) Social-Democrático), Freiburg-Berlim : Rudolf Haufe, 1996, p. 402.
[28]
Nesse sentido, vide sobretudo Marx, Karl. Kritik des Gothaer Programms(Crítica
ao Programa de Gotha) (Abril e Início de Maio de 1875), in : Marx und Engels
Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 13 e
s.
[29]
Cf. Engels, Friedrich. Brief an August Bebel (Carta à August Bebel) (18 – 28 de
Março de 1875), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XIX,
Berlim : Dietz Verlag, 1961, p. 6.
[30]
Cf. Marx, Karl. Brief an Ferdinand Domela Nieuwenhuis (Carta à Ferdinand Domela
Nieuwenhuis)(22 de Fevereiro de 1881), in : ibidem, Vol. XXXV, pp. 160 e 161.
[31]
Cf. Engels, Friedrich. Brief an F. A. Sorge (Carta à F. A. Sorge) (11 de
Fevereiro de 1891), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol.
XXXVIII, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 30 e 31. Acerca dos posicionamentos
de Friedrich Engels em face da questao do homossexualismo, vide, em particular,
seus comentários acerca do livro de Karl Heinz Ulrichs, um dos primeiros e mais
célebres propagandistas do movimento homossexual da Alemanha, Cf. Engels,
Friedrich. Brief an Marx (Carta à Marx)(22 de Junho de 1869), in : Marx und
Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XXXII, Berlim : Dietz Verlag, 1961,
pp. 324 e 325.; também Idem, Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und
des Staats (A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado)(Fim de
Março à 26 de Maio de 1884), in : ibidem, Vol. XXI, p. 67.
[32]
Cf. Rück, Fritz. Von Bismack bis H. Müller. Vom Sozialistengesetz zur Koalitionsregierung.
Der Weg der deutschen Sozialdemokratie vom Sozialistengesetz zum Panzerkreuz A
1878 – 1928 (De Bismarck a H. Müller. Da Lei Contra os Socialistas ao Governo de Coalizão. O Caminho da
Social-Democracia Alemã da Lei Contra os Socialistas ao Cruzador Blindado A
1878 – 1928), Berlim : Internationaler Arbeiterverlag, 1928, p. 4.
[33] Cf. Idem. ibidem, p. 3.
[34] Vide, nesse sentidom, o excelente trabalho
investigativo de Rück, Fritz. ibidem, p. 4.
[35] Procurando elaborar um balanço
político acerca desse período da luta de classes da Alemanha, escreve Rück, com
grande propriedade : “Segundo uma estatística imprecisa, foram proibidos, sob a
vigência da Lei Contra os Socialistas, 1.300 publicações períodicas e não
periódicas e 332 organizações de trabalhadores de um tipo ou do outro.
Ocorreram 900 expulsões das áreas ocupadas, que atingiram mais de 500 pais de
família. O volume dos penas de privação de liberdade, impostas judiciariamente,
atingiu cerca de 1.000 anos, distribuidos entre 1.500 pessoas. Em face, porém,
das vítimas que os trabalhadores revolucionários da Alemanha tiveram, nos anos
desde o esmagamento da Revolução de 1918, no quadro da luta pela imposição de
seus objetivos de classe, esses números não são demasiadamente elevados. Também
a derrota da Comuna custou consideravelmente mais ao proletariado francês do
que a Lei Contra os Socialistas, ao movimento dos trabalhadores alemães. Porém,
a Lei Contra os Socialistas não foi a conseqüência de uma revolução derrotada,
na qual se discutisse sobre toda a intervenção havida, mas sim a tentativa de
Bismarck de impedir o desenvolvimento de um Partido classista-revolucionário do
proletariado alemão.” Cf. Rück, Fritz. ibidem, p. 5.
[36]
Cf. Rück, Fritz. ibidem, p. 6.
[37]
Cf. Mehring, Franz.
[38]
Cf. Bracke, Wilhelm.
[39]
Cf. Marx, Karl.
[40]
Cf. Engels, Friedrich.
[41]
Nesse sentido, vide, precisamente, Rück, Fritz. ibidem, p. 7.
[42]
Cf. Idem, ibidem, p. 7.
[43]
Cf. Idem, ibidem, p. 7.
[44]
Cf. Kautsky, Karl. Das Erfurter Programm(O Programa de Erfurt)(1892), Berlim :
Dietz Verlag, 1919, p. 102.
[45]
Cf. Liebknecht, Wilhelm. Protokoll des Erfurter Parteitages (Protocolo do
Congresso de Erfurt), Berlim : Dietz Verlag, 1891, p. 206.
[46]
Nesse sentido, vide Idem. Zukunftstaatlisches (Coisas do Estado Futuro), in :
Cosmopolis, Berlim, 1898, pp. 218 e 219.
[47]
Cf. Bebel, August. Protokoll des Erfurter Parteitages (Protocolo do Congresso
de Erfurt), Berlim : Dietz Verlag, 1891, p. 172.
[48]
Cf. Engels, Friedrich. Brief an Paul Lafargue(Carta a Paul Lafargue)(3 de Abril
de 1895), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XXXIX,
Berlim : Dietz Verlag, 1961, p. 458.
[49]
Cf. Idem. Einleitung zu Karl Marx‘ „Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis
1850“(Introduçao a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx)(14
de Fevereiro – 6 de Março de 1895), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e
Engels), Vol. XXII, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 519 e s.
[50]
Acerca do tema, vide Marx und Engels Werke(Obras de Marx e Engels), Vol. XXXIX,
Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 605 e 606.
[51]
Cf. Luxemburg, Rosa. Dem Andenken des „Proletariat“ (Em Lembrança do
„Proletariado“)(1903), in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 317.
[52] Continua sempre sendo muito importante estudar e
desvendar-se, detidamente, o lassalleismo pacifista de Eduard Bernstein. No
presente trabalho, limito-me a salientar que Bernstein surge, na história do
movimento proletário internacional, como o principal editor e defensor da doutrina
de matiz idealista-oportunista e reformista-colaboracionista de Ferdinand
Lassalle. Nesse sentido, vide as introduções, elaboradas por
Bernstein, aos volumes de Lassalle, Ferdinand. Gesammelte Reden und Schriften.
Herausgegeben und Eingeleitet von Eduard Bernstein(Discursos e Escritos
Reunidos. Editados e Prefaciados por Eduard Bernstein), Berlim : Paul Cassirer,
1919, Vol. I e s. Em seu prefácio ao Vol. II das obras em tela, Bernstein
assinala acerca do discurso de Lassalle, intitulado Sobre o Sistema
Constitucional, de 1862 : “Na realidade, pode-se dizer que, no que concerne à
aplicação da concepção materialista da história às questões do desenvolvimento
político dos povos, não existe nenhum escrito que demonstre aquela relação de
dependência em ilustração mais clara do que esse discurso. Ele encontra seu eqüivalente apenas nos capítulos “A
Teoria do Poder” de Friedrich Engels, contida no Anti-Dühring.” Cf.
Bernstein, Eduard. Vorbermekung(Nota Preliminar), in : Ferdinand Lassalle,
ibidem, Vol. II : Discursos Constitucionais. O Programa dos Trabalhadores e os
Subseqüentes Discursos de Defesa, Berlim : Paul Cassirer, 1919, p. 12. No que
concerne à obra-prima econômica de Ferdinand Lassalle, denominada O Sr.
Bastiat-Schulze von Delitzsch, dedicada por Lassalle expressamente Dem
Deutschen Arbeiterstande und der Deutschen Bourgeoisie, i.e. ao “Estamento dos
Trabalhadores Alemães e à Burguesia Alemã”, Eduard Bernstein anota o seguinte :
“Em “Bastiat-Schulze” temos diante de nós o principal trabalho sócio-econômico
de Lassalle. O “Sistema dos
Direitos Adquiridos” foi, em seu último objetivo, a tentativa de uma
fundamentação jurídico-científica das idéias socialistas. Lassalle pretendeu,
então, ingressar na fundamentação econômica do socialismo, para o que realizou
estudos antecipatórios, por todos os lados, no curso dos anos, quando, de
início, o conflito constitucional-prussiano lançaram-no no movimento político
e, a seguir, no movimento ascendente dos trabalhadores, bem como na agitação
prática socialista.” Cf. Idem. Vorbermekung(Nota Preliminar),
in : Ferdinand Lassalle, ibidem, Vol. V : Principal Obra Econômica de Lassalle, Berlim : Paul Cassirer, 1919,
p. 9.
[53]
Cf. Lênin, Vladimir I. Der „linke Radikalismus“, die Kinderkrankheit im
Kommunismus (O „Radicalismo de Esquerda“ : Enfermidade Infantil no
Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in : W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol.
XXXI, pp. 20 e s.
[54]
Cf. Lênin, Vladimir I. Rede bei der Eröffnung des Kongresses 2. März. I Kongreß
der Komm. Internationale (Discurso na Abertura do Congresso de 2 de Março. I
Congresso da Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII (De
Julho de 1918 à Março de 1919), Berlim, 1959, p. 469. Ainda em defesa de Rosa
Luxemburg, vide Lênin, Vladimir I. Brief an die Arbeiter Europas und Amerikas
(Carta aos Trabalhadores da Europa e da América) (21 de Janeiro de 1919), in :
W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII, Berlim, 1962, p. 446 e s.; IDEM. Rede Anläßlich
der Ermordung Luxemburgs und Liebknechts (Discurso Por Ocasião do Assassinato
de Luxemburg e Liebknecht)(19 de Janeiro de 1919), in : ibidem, Vol. XXVIII, p.
422.
[55]
Acerca dessa polêmica, com referências claras aos posicionamentos de Jacques
Texier e François Vercammen, como também à posição de Rosa Luxemburg, vide mais
precisamente Von Köln, Schmidt. O
Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI) e a Corrente
Franco-Gramsciana de Atualização, Correção e Superação do Marxismo (O
Meta-Marxismo de Actuel Marx). A Enfermidade Gramsciana no Movimento Trotskysta
Contemporâneo e nas Lutas de Emancipação do Proletariado, Munique : 2000, pp. 1
e s.
[56]
Cf. Luxemburg, Rosa. Und Zum Dritten Male das Belgische Experiment (E Pela
Terceira Vez o Experimento Belga)(4 de Junho de 1902) , in : Rosa Luxemburg
Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 247.
[57]
Cf. Idem. Dem Andenken des „Proletariat“ (Em Lembrança do „Proletariado“), in :
ibidem, p. 317. Acerca de W. Liebkencht, vide Liebknecht, Wilhelm.
Zukunftstaatlisches (Coisas do Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898,
pp. 218 e 219.
[58]
Cf. Lênin, Vladimir I. I. Kongreß der Kommunistischen Internationale (I
Congresso da Internacional Comunista)(2 de Março de 1919), in : ibidem, Vol.
XXVIII, p. 477. No mesmo sentido, vide Idem. Über die Gründung der Komintern
(Acerca da Fundaçao da Internacional Comunista) (6 de Março de 1919), in :
ibidem, Vol. XVIII, p. 499.; Idem. Erfolge und Schwierigkeiten der Sowjetmacht
(Sucessos e Dificuldades do Poder Soviético) (17 de Abril de 1919), in :
ibidem, Vol. XXIX, p. 56.; Idem. Plenum des Gesamtrussischen Zentralrats der
Gewerkschaften (Plenária do Conselho Central de Toda Rússia dos Sindicatos) (11
de Abril de 1919), in : ibidem, Vol. XXIX, p. 283.; Idem. Über die Aufgaben der
III. Internationale (Sobre as Tarefas da III Internacional)(14 de Julho de 1919),
in : ibidem, Vol. XXIX, p. 501.; Idem. Wie die Bougeoisie die Renegaten
Ausnutzt (Como a Burguesia Usa os Renegados) (Setembro de 1919), in : ibidem,
Vol. XXX, pp. 9 e s.; IDEM. Rede auf dem I. Gesamtrussischen Verbandstag der
Bergarbeiter (Discurso na I Conferência de Toda a Rússia da Associaçao dos
Mineiros) (5 de Abril de 1920), in : ibidem, Vol. XXX, pp. 490 e s.
[59]
Vide, nesse sentido, Michels, Robert. Soziologie des Parteiswesens in der
modernen Demokratie. Untersuchungen über die oligarchischen Tendenzen des
Gruppenlebens (Sociologia do Sistema
Partidário na Democracia Moderna. Investigaçoes acerca das Tendências
Oligárquicas da Vida em Grupo)(1911), ed. Werner Conze, Stuttgart : Kröner,
1957, pp. 7 e s.
[60] Acerca do tema, coteje-se a obra de Fischer, Ruth. Stalin
und der deutsche Kommunismus. Der Übergang zur Konterrevolution(Stálin e o
Comunismo Alemão. A Transição para a Contra-Revoluçao), Frankfurt a. M. :
Verlag der Frankfurter Hefte, 1948, pp. 9 e s.
[61]
Acerca do tema, vide Luxemburg Rosa. Organisationsfrage der russischen
Sozialdemokratie(Questoes de Organizaçao da Social-Democracia Russa), in : Die
Neue Zeit (O Novo Tempo), 1904, pp. 484 e s.
[62]
Vide, nesse sentido, sobretudo Lênin, Vladimir I. Nachtigallen Mag Man mit
Märchen Abspeisen(Roxinóis Podem Ser Iludidos com Contos de Fadas)(1904), in :
W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. III, pp. 17 e s.
[63]
Acerca do tema, vide, sobretudo, Idem, Womit Beginnen ? (Com O Que
Começar)(Maio de 1901), in : ibidem, Vol V, pp. 1 e s.; Idem, Was Tun ?
Brennende Fragen unserer Bewegung (Que Fazer ? Questoes Cadentes do Nosso
Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro de 1902), in : ibidem, Vol. V, pp. 355 e s.
[64]
Cf. Idem, Was Tun ? Brennende Fragen unserer Bewegung (Que Fazer ? Questoes Cadentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 –
Fevereiro de 1902), in : ibidem, Vol. V, p. 367 e s.
[65]
Cf. Idem, ibidem, p. 368.
[66]
Cf. Idem, ibidem, p. 370.
[67] Cf. Steklov, Y. M. N. G. Tchernyshevski, Moscou,
1928, Vol. I, p. 294.
[68] Cabe assinalar que Tkatchev, apesar
de considerar-se discípulo de Tchernyshevski, divergia do grande mestre por não
entender que o tempo corresse em favor da revolução e o futuro pertencesse,
inquestionável e necessariamente, ao homem novo e à gente nova, de Que Fazer?.
Deixando-se escapar a oportunidade revolucionária e o ímpeto de luta da
vanguarda, diluindo-se, de maneira baldada, o cataclismo de protestos, o futuro
pertenceria à classe média, exploradora e usurária. Nesse
sentido, vide Ulam, Adam B. Die Bolshewiki. Vorgeschichte und Verlauf der
kommunistischen Revolution in Russland, Köln-Berlin, 1967, p. 97.
[69] Cf. Tkatchev, Peter N. Sobranie Sotchinenii (Obras
Completas), Moscou, 1933, Vol. III, p. 223.
[70]
Cf. Idem. ibidem, p. 225.
[71]
Acerca do tema, vide Luxemburg Rosa. Organisationsfrage der russischen
Sozialdemokratie(Questoes de Organizaçao da Social-Democracia Russa), in : Die
Neue Zeit (O Novo Tempo), 1904, pp. 484 e s.
[72] Observe-se que Auguste Blanqui foi o célebre
revolucionário francês que, em 1839, intentou realizar um levante armado, na
França. Libertado do cárcere, Blanqui tomou parte ativa na Revolução de 1848.
Em 1871, cerca da metade dos dirigentes da Comuna de Paris eram declaramente
blanquistas, sendo que o próprio Blanqui encontrava-se, a esse tempo,
aprisionado. Blanqui celebrizou-se por organizar clubes revolucionários ilegais
e por doutrinar que “a luta a ser travada entre ricos e pobres haverá de ser
vencida pela Ditadura Revolucionária.” Entretanto, Marx advertiu, no Segundo Relatório
do Conselho Geral da Internacional, de 9 de setembro de 1870, contra Blanqui que fundara, em 1870, “La
Patrie en danger(A Pátria está em Perigo)”: “Nao se deixar dominar pelas
recordaçoes nacionais de 1792”, “Executar exaustivamente a organizaçao de sua
própria classe”, “Nao se colocar como objetivo a derrubada do governo (“uma
estupidez deseperada”. Em novembro de
1880, Blanqui censurou, em seu livro intitulado Ni Dieu ni maître(Nem Deus nem
Mestre), a teoria da luta de classes e a separaçao dos interesses do
proletariado dos interesses da naçao. Com efeito, Blanqui nao operava qualquer
separaçao entre entre trabalhadores e burguesia revolucionária. Acerca
do tema, vide os próprios argumentos de Lênin, Vladimir I. Plan einer Vorlesung
über die Kommune (Plano de uma Exposiçao sobre a Comuna)(Fevereiro – Março de 1905), in : W. I. Lenin Werke (Obras de V. I. Lênin),
Vol. VIII, Berlim : Dietz Verlag, 1962, pp. 195 e s.
[73]
vide Luxemburg Rosa. Organisationsfrage der russischen Sozialdemokratie(Questoes
de Organizaçao da Social-Democracia Russa), in : Die Neue Zeit (O Novo Tempo),
1904, pp. 527.
[74] Nesse sentido, vide Trotsky, Léon. Our Political
Tasks (Nossas Tarefas Políticas)(1904), in : http: // www. marxists. org. /
archive/ trotsky/works /1904, em particular Part II : Tactical Tasks. The
Content of Our Activity in the Proletariat – To Work Then ! Long Live the
Self-Activity of the Proletariat ! Down with the Political Substitutionalism !
(Parte II : Tarefas Táticas. O Conteúdo de Nossa Atividade no Proletariado –
Entao ao Trabalho ! Vida Longa à Auto-Atividade do Proletariado ! Abaixo o
Substitucionalismo Político !)
[75] Cf. Idem. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma
Tentativa de Auto-Biografia), Berlim : Granit, 1930, pp. 213 e s.
[76]
Acerca do tema, vide, mais precisamente, Lênin, Vladimir I. Der Internationale
Sozialistenkongress in Stuttgart(O Congresso Internacional Socialista de
Stuttgart)(Agosto-Setembro de 1907) in : W.I. Lenin Werke (Obras de V.I.
Lênin), Vol. XIII, Berlim : Dietz Verlag, 1962, pp. 71 e s.; Idem. Der
Internationale Sozialistenkongress in Stuttgart (O Congresso Internacional
Socialista de Stuttgart) (Meados de Setembro de 1907) in : W.I. Lenin Werke
(Obras de V.I. Lênin), Vol. XIII, Berlim
: Dietz Verlag, 1962, pp. 83 e s.
[77]
Acerca do tema, vide, tb., Idem. Unsere Liquidatoren (Nossos
Liquidadores)(1911), in : ibidem, Vol. XVII, pp. 62 e s.
[78]
Cf. Martov, Jules A. Geschichte der Russischen Sozialdemokratie, mit einem
Nachtrag von Theodor Dan : Die Sozialdemokratie Russlands nach dem Jahre 1908
(História da Social-Democracia Russa, com um Apenso de Theodor Dan : A
Social-Democracia da Rússia após 1908), Berlim, 1926, p. 268.
[79]
Cf. Rück, Fritz. November 1918. Die
Revolution in Württemberg(Novembro de 1918. A Revoluçao em Württemberg)(1958),
in : Fritz Rück. Schriften zur Deutschen November-Revolution 1918 (Escritos
Acerca da Revoluçao Alema de Novembro de 1918), Stuttgart : Studiengruppe zur
Geschichte der Arbeiterbewegung, 1978, p. 14.
[80]
Vide, nesse sentido, Liebknecht, Karl. Acerca da Justiça de Classe, Sao Paulo-Munique-Paris :
Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2002, especialmente Introduçao : O
Revolucionário Karl Liebknecht, p. 16.
[81]
Cf. Pieck, Wilhelm. Erinnerungen an die Novemberrevolution und an die Gründung
der KPD (Recordaçoes da Revoluçao de Novembro e da Fundaçao do PCA), in :
Vorwärts und nicht Vergessen : Erlebnisberichte aktiver Teilnehmer der
Novemberrevolution 1918/1919. (Avante e
Sem Se Esquecer : Relatórios de Vida dos Ativos Participantes da Revoluçao de
Novembro 191871919), ed. Instituto de Marxismo-Leninismo junto ao Comitê
Central do Partido da Unidade Socialista, Berlim : Dietz, 1958, pp. 64 e s.
[82]
Cf. Bericht über den Gründungsparteitag der Kommunistischen Partei Deutschlands
(Spartakusbund) vom 30. Dezember 1918 bis 1. Januar 1919 (Relatório sobre o
Congresso de Fundaçao do Partido Comunista da Alemanha (Liga Spartakus) de 30
de dezembro a 1° de janeiro de 1919), Berlim : Kommunistische Partei
Deutschlands, 1919, p. 6.
[83]
Acerca dessa temática, vide, sobretudo, Luxemburg, Rosa. Die Akkumulation des
Kapitals : Ein Beitrag zur ökonomischen Erklärung des Imperialismus (A
Acumulaçao do Capital : Uma Contribuição à Clarificação Econômica do
Imperialismo), Berlim, 1913, pp. 5 e s.
[84]
Acerca do tema, vide, sobretudo, Lênin, Vladimir I. Der Imperialismus als
höchste Stufe des Kapitalismus (O Imperialismo enquanto Fase Superior do
Capitalismo) in : W.I. Lenin Werke (Obras de V.I. Lênin) (1916), Vol. XI, Berlim : Dietz Verlag, 1962, pp. 83 e s.
[85]
Nesse sentido, vide, sobretudo, Lênin, Vladimir I. Die Militärfrage der
proletatischen Revolution (A Questao Militar da Revoluçao Proletária) (Setembro
de 1916), in : Drei Aufsätze von W. I Lenin, Leo Trotzki, Karl Liebknecht.
Gegen den bürgerlichen Militarismus ! Gegen den Pazifismus ! Für die Bewaffnung
des Proletariats (Três Ensaios de V. I. Lênin, Léon Trotsky, Karl Liebknecht.
Contra o Militarismo Burguês ! Contra o Pacifismo ! Pelo Armamento do
Proletariado), Schriftreihe Internationale Jugendbibliothek (Série de Escritos
da Biblioteca Internacional da Juventude), Nr. 17, Berlim : Verlag
Jungendinternationale - Junge Garde, 1921, pp. 20 e s. Esse artigo de Lênin encontra-se publicado,
igualmente, da seguinte forma, Idem. Das Militärprogram der proletarischen
Revolution(O Programa Militar da Revoluçao Proletária)(Dezembro de 1916), in
: W. I. Lenin Werke (Obras de V. I.
Lênin), Vol. XXIII, Berlim : Dietz Verlag, 1962, pp. 72 e s. Cumpre anotar, de
modo elucidador, que o artigo em tela, foi objeto de tradução para o idioma
português, por Schmidt von Köln. O
seu original surgiu, originalmente, em língua alemã, em setembro de 1916, tendo
sido destinado à publicação na imprensa escandinava social-democrática de
esquerda. Essa última havia intervindo, durante a guerra mundial imperialista
de 1914-1918, contra o ponto do programa social-democrático de "armamento
do povo", levantando a falsa consigna de "desarmamento". Em
dezembro de 1916, o artigo objeto da presente tradução foi publicado, em língua
russa, no Nr. 2 do "Sbornik Sozial-Demokrata (Compêndio Social-Democrata),
em versão adaptada, sob o título "Acerca da Consigna de
«Desarmamento»". Em abril de 1917, pouco antes de sua partida para a
Rússia, Lênin repassou o primeiro artigo, redigido em língua alemã, à redação
de "Internacional da Juventude". Essa versao original
foi publicada, entao, em 1917, no Nr. 9 e 10 dessa revista.
[86]
Cf. Luxemburg, Rosa. Krise der Sozialdemokratie (A Crise da
Social-Democracia)(Abril 1915), in: Rosa Luxemburg, Gesammelte Werke, Band IV,
Berlim : Dietz Verlag, 1974, p. 11 e s.
[87] Observe-se que o General Galiffet foi o célebre
militar francês, renomado pela autoria de suas carnificinas perpetradas no
quadro do esmagamento da Comuna de Paris. Atribui-se a Galiffet, a sumária execuçao
de mais de 100.000 trabalhadores communards.
[88]
Cf. Thesen über Imperialismus und
Nationale Unterdrückung angenommen vom Zentralkomitee der Sozialdemokratischen
Partei Russisch-Polens(Teses acerca do Imperialismo e a Opressao Nacional,
adotadas pelo Comitê Central do Partido Social-Democrático da Polônia Russa),
in : Gazeta Robotnicza (Jornal dos Trabalhadores), 2 de abril de 1916.
[89]
Cf. Lênin, Vladimir I. Die Ergebnisse der Diskussion über die Selbstbestimmung,
in : W. I. Lenin Werke (Obras de V. I. Lênin), Vol. XIX, Berlim : Dietz Verlag,
1962, pp. 295 e s.
[90]
Cf. Idem, Das Selbstbestimmungsrecht der Völker (O Direito de Auto-Determinação
dos Povos), especialmente títulos “Das Verhalten der russischen und polnischen Sozialdemokratie
und der II Internationale (O Comportamento da Social-Democracia Russa e
Polonesa com a II Internacional)”, in : ibidem, Vol. XVIII, pp. 54 e s.
[91]
Cf. Luxemburg, Rosa. Zur Russischen Revolution (Acerca da Revoluçao Russa)
(Junho de 1918), in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. 4, Berlim, 1972,
pp. retro-mencionadas.
[92]
Acerca do tema, vide, p.ex., Lênin, Vladimir I. Außerordentlicher
Gesamtrussischer Eisenbahnerkongreß (Congresso Extraordinário de Toda Rússia
dos Ferroviários) (13 de Janeiro de 1918), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVI,
Berlim, 1962, p. 489 e s.; Idem. Die Dritte Internationale und ihr Platz in der
Geschichte(A III Internacional e Seu Lugar na História)(15 de Agosto de 1919),
in : ibidem, Bd. XXIX, pp. 299 e s.; Lunatscharsky, Anatoly. Jakob
Michailovitsch Sverdlov(Traduçao para a Língua Portuguesa de Emil von München),
in : Textos sobre o Grande Organizador da Revoluçao Proletária Russa e
Representante da Primeira República Soviética Socialista J. M. Sverdlov, Sao
Paulo-Munique-Paris : Editora Sverdlov para a Organizaçao
Socialista-Revolucionária dos Trabalhadores, 4 de Agosto de 1999.
[93]
Cf. Luxemburg, Rosa. Zur Russischen Revolution (Acerca da Revoluçao Russa)
(Junho de 1918), in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Bd. 4, Berlim, 1972, pp.
retro-mencionadas.
[94]
Cf. Lênin, Vladimir I. Thesen und Referat über bürgerliche Demokratie und
Diktatur des Proletariats 4. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Teses e
Exposição acerca da Democracia Burguesa e Ditadura do Proletariado de 4 de
Março. I Congresso da Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol.
XXVIII (De Julho de 1918 à Março de 1919), Berlim, 1959, pp. retro-mencionadas.
[95] Vide, acerca do tema, CONSTITUTION OF THE RUSSIAN
SOCIALIST FEDERATED SOVIET REPUBLIC, Adopted by the Fifth All-Russia Congress
of Soviets (Adotada pelo V Congresso dos Soviets de Toda Rússia), Moscou, 10 de
Julho de 1918, Chapter V, art. 9°. Vide tb. comentários de STUTCHKA,
PIOTR. Constitutsia Grajdanskoi Voinyi
(1918 - A Constituição da Guerra Civil. Tradução em Língua Portuguesa de Emil
von München), in: Textos Jurídicos de Formação dos Juristas Socialistas da
Classe Trabalhadora. Instituto Luís e Rosa Sunderman : Ed. Jurídica Socialista
dos Trabalhadores, São Paulo-Munique-Paris, 2000.
[96] Apreciando, resgatando e defendendo, devidamente, a
tradição essencialmente marxista de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg,
comprometida, antes e acima de tudo, com a perspectiva de organização da
revolução violenta do proletariado para a edificação da Ditadura Revolucionária
do Proletariado na Alemanha, Lênin afirmou, solenemente, em seu Discurso de
Abertura do I Congresso do Komintern : „Em nome do Comitê Central do Partido
Comunista da Rússia, declaro aberto o I Congresso da Internacional Comunista.
Em primeiro lugar, peço a todos os presentes que se levantem de suas cadeiras
em memória dos melhores representantes da III Internacional : Karl Liebknecht e
Rosa Luxemburg.“ Cf. LÊNIN, VLADIMIR I. Rede bei der
Eröffnung des Kongresses 2. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Discurso
na Abertura do Congresso de 2 de Março. I Congresso da Internacional
Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII (De Julho de 1918 à Março de
1919), Berlim, 1959, p. 469. Essas
palavras de Lênin, relacionadas com sua interpretação do papel histórico de
Liebknecht e Luxemburg, enquanto os melhores representantes da Internacional
Comunista, deveriam, em princípio, servir, por si mesmas, como látego desferido
frontalmente contra as desavergonhadas tentativas doutrinárias dos principais
ideólogos franco-gramscianos de Actuel Marx e do SU-QI, voltadas a transformar
Rosa Luxemburg em uma social-oportunista vulgar, que carrega, eternamente,
consigo, no caminho da luta pelo socialismo, a auréola santificada da defesa de
fórmulas de liberdade essencialmente democrático-burguesas. Acerca dessa
polêmica, com referências claras aos posicionamentos de Jacques Texier e
François Vercammen, como também às
próprias posições de Rosa Luxemburg, vide mais precisamente o Capítulo II do
presente texto.
[97]
Cf. Lênin, Vladimir I. Thesen und Referat über bürgerliche Demokratie und
Diktatur des Proletariats 4. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Teses e
Exposição acerca da Democracia Burguesa e Ditadura do Proletariado de 4 de
Março. I Congresso da Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol.
XXVIII (De Julho de 1918 à Março de 1919), Berlim, 1959, p. 479.
[98]
Cf. Idem. ibidem, pp. 480 e 481.
[99]
Cf. Idem. ibidem, p. 484.
[100]
Cf. Idem. ibidem, p. 485.
[101] Cf. Karim, Darioush. The Revolutionary Dictatorship
of the Proletariat, Bogotá: Partido Socialista de los Trabajadores of Colombia,
1979, pp. 25 e 26.
[102]
Cf. Luxemburg, Rosa. Krise der Sozialdemokratie (A Crise da
Social-Democracia)(Abril de 1915), in: Rosa Luxemburg, Gesammelte Werke, Band
IV, Berlim : Dietz Verlag, 1974, p. 163.
[103]
Cf. Idem, ibidem, p. 64.
[104]
Cf. Kuczynski, Jürgen. Darstellung der Lage der Arbeiter in Deutschland von
1900 bis 1917/18 (Apresentaçao da Situaçao dos Trabalhadores na Alemanha de 1900
a 1917/18), Vol. IV : Die Geschichte der Lage der Arbeiter unter dem
Kapitalismus (A História da Situaçao dos Trabalhadores sob o Capitalismo),
Berlim : Akademie-Verlag, 1967, p. 233. A poesia em referência soa, no
vernáculo : “O du Deutschland, jetzt hasse; geharnischt in Erz : Jedem Feind
einen Bajonettstich ins Herz ! Nimm keinen gefangenen ! Mach jeden gleich stumm
! Schaff zur Wüste den Gürtel der Länder rundum!”
[105]
Nesse sentido, vide, sobretudo, Liebknecht, Karl. Acerca da Justiça de Classe, Sao Paulo-Munique-Paris :
Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2002, especialmente Introduçao : O
Revolucionário Karl Liebknecht, p. 15.
[106] Em verdade, não se permitiu a Karl Liebknecht nem
sequer expressar-se oralmente durante os debates de votação, sendo que as
razões jurídico-políticas justificadoras de sua rejeição de concessão dos
créditos de guerra não constam de qualquer protocolo parlamentar oficial. Nesse
sentido, vide Friedrich, Thomas. Revolution und Konterrevolution 1918/19.
Chronik der wichtigsten Ereignisse (Revolução e Contra-Revolução de 1918-1919.
Crônica dos Eventos Mais Importantes), in : Neue Gesellschaft für Bildende
Kunst (Nova Sociedade para a Arte Cultural), Revolution und Fotografie. Berlin
1918/19 (Revolução e Fotografia. Berlim 1918-1919), Berlim : Verlag Dirk
Nishen, 1989, p. 85.
[107] Acerca desse episódio histórico, um representante do
Estado-Maior das Forças Armadas Alemaes relatou os seguintes fatos ao
Ministério do Interior do Império acerca do ascenso da temperatura
revolucionária entre os soldados e trabalhadores alemaes : “... É
lamentavelmente verdadeiro o fato de que segue progredindo a decomposiçao das
associaçoes das tropas do fronte e do interior país. O Departamento de Polícia
Central do Leste comunicou, repetidamente, que setores de tropa que estavam
concentrados nas guarniçoes orientais, rejeitaram, no momento de seu
transporte, embarcar nos vagoes,
desfraldando bandeiras vermelhas ou distribuindo fitas vermelhas. Em várias
ocasioes, foram também disparados tiros reais no ar ...” Cf.
Kunstamt Kreuzberg und Institut für Theaterwissenschaft der Universität Köln.
Weimarer Republik, Berlin-Köln : Elefanten Press, 1977, p. 104.
[108]
Cf. Vortwärts. Berliner Volksblatt (Avante. Diário Berlinense do Povo). Aufruf
zur Zeichnung der IX. Kriegsanleihe
(Conclamaçao para a Subscriçao do IX Empréstimo de Guerra), Berlim, 27 de
Outubro de 1918.
[109]
Cf. Fröhlich, Paul. Rosa Luxemburg. Gedanke und Tat(Rosa Luxemburg. Pensamento
e Açao), Frankfurt am Main, 1967, p. 303.
[110]
Cf. Spartakusbrief (Carta de Spartakus), Nr. 12, Outubro de 1918.
[111]
Cf. Vortwärts. Berliner Volksblatt (Avante. Diário Berlinense do Povo). Aufruf
des Parteivorstandes zum Eintritt der SPD in die Regierung (Conclamaçao da
Presidência do Partido para o Ingresso do SPD no Governo), Berlim, 17 de
Outubro de 1918.
[112] Vide, acerca
do tema, Liebknecht, Karl. Acerca da Justiça de Classe, Sao Paulo-Munique-Paris
: Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2002, especialmente Introduçao : O
Revolucionário Karl Liebknecht, p. 16.
[113]
Nesse sentido, vide, de modo mais preciso, Winkel, Udo. November-Revolution
1918(A Revoluçao de Novembro de 1918), in : Fritz Rück. Schriften zur Deutschen
November-Revolution 1918 (Escritos sobre a Revoluçao Alema de Novembro de
1918), Stuttgart : Selbstverlag Studiengruppe zur Geschichte der
Arbeiterbewegung, 1978, p. 10.
[114]
Cf. Anderson, Evelyn. Hammer oder Amboß (Martelo ou Bigorna), Nürnberg, 1948,
p. 65.
[115]
Cf. Nettl, Peter. Rosa Luxemburg, Köln-Berlin, 1969, p. 677.
[116]
Vide, nesse sentido, Liebknecht, Karl. Acerca da Justiça de Classe, Sao Paulo-Munique-Paris :
Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2002, especialmente Introduçao : O
Revolucionário Karl Liebknecht, p. 16.
[117] Acerca dessa caracterizaçao político-doutrinária,
vide, mais precisamente, PROTOKOLL DES VIERTEN KONGRESSES DER KOMMUNISTISCHEN
INTERNATIONALE (Protocolo do IV Comgresso da Internacional Comunista)(De 5 de
Novembro a 5 de Dezembro de 1922), especialmente : Aufrufe, Thesen,
Resolutionen. Beilage VII. Thesen über die Taktik der Komintern
(Conclamações, Teses, Resoluções. Anexo VII. Teses acerca da Tática do Komintern) Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 1.007 e s.
[118] Acerca do tema, vide Pieck, Wilhelm. Vorwort
zum Karl Liebknechts Gesammelte Werke (Prefácio às Obras Completas de Karl
Liebknecht), in : Karl Liebknecht. Gesammelte Werke, Berlim : Dietz, 1958, p.
44.
[119]
Acerca do tema, vide Kautsky, Karl. Dr Weg zur Macht(O Caminho para o
Poder)(1909), Frankfurt a.M. : Europäischer Verlag-Anstalt, 1972, pp. 13 e s.
[120]
Cf. Der Spiegel, Nr. 68, 1968, pp. 7 e s.
[121]
Cf. Behrend, Manfred. Der Wandschirm, hinter dem nichts geschiet. Bildung,
Tätigkeit und Ende der ersten deutschen Sozialisierungskomission (A Tela de
Parede, Atrás da Qual Nada Acontece. Formaçao, Atividade e Fim da Primeira
Comissao de Socializaçao), in : Glasnost Archiv, Berlim, www. glasnost. de/
autoren/ behrend/ sokomm.html. Cumpre anotar que esse artigo de Manfred Behrend
em referência baseia-se, largamente, em seu trabalho da maior amplitude e de
grande interesse histórico, intitulado “Die erste deutsche
Sozialisierungskomission in ihrem Verhältnis zu den Reichsbehörden(A Primeira
Comissao de Socializaçao Alema em Relaçao com as Autoridades Imperiais),
produzido em 1957. Adicionalmente
acerca do tema, permito-me remeter o leitor à importante obra de Habedank,
Heinz. Um
Mitbestimmung und Nationalisierung während der Novemberrevolution und im
Frühjahr 1919(Acerca da Decisao Participativa e da Nacionalizaçao Durante a
Revoluçao de Novembro e o Início do Ano de 1919), Berlim, 1967, pp. 7 e s.
[122]
Nesse sentido, vide, claramente, Dingel, Frank. Die Revolution 1918/19 in
Deutschland (A Revoluçao de 1918-1919 na Alemanha), in : Neue Gesellschaft für
Bildende Kunst (Nova Sociedade para a Arte Cultural), Revolution und
Fotografie. Berlin 1918/19 (Revolução e Fotografia. Berlim 1918-1919), Berlim :
Verlag Dirk Nishen, 1989, p. 40.
[123] Nesse sentido, vide as citações apresentadas por
Fischer, Ruth. Stalin und der deutsche Kommunismus. Der
Übergang zur Konterrevolution(Stálin e o Comunismo Alemão. A Transição para a
Contra-Revoluçao), Frankfurt a. M. : Verlag der Frankfurter Hefte, 1948, p. 86.
[124] Acerca do tema, vide o relato do presidente do
congresso Muller, Richard. Vom Kaiserreich zur Republik (Do
Império Cesarista à República), Vol. II, Berlim, pp. 203 e s.
[125]
Sobre esses números, vide Flechtheim, Ossip K. Die KPD in der Weimarer Republik
(O PCA na República de Weimar), Frankfurt a.M., 1969, p. 125.
[126]
Relativamente a esses números – que divergem, porém, apenas sensivelmente nos
diversos livros publicados sobre o tema – vide, sobretudo, Cf. Kunstamt
Kreuzberg und Institut für Theaterwissenschaft der Universität Köln. Weimarer
Republik, Berlin-Köln : Elefanten Press, 1977, p. 104.
[127]
Cf. Flechtheim, Ossip K. Die KPD in der Weimarer Republik (O PCA na República
de Weimar), Frankfurt a.M., 1969, p. 126.
[128]
Cf. Cohen, Max. in : Allgemeiner Kongress der Arbeiter- und Soldatenräte
Deutschlands vom 16 bis 21 Dezember 1918 im Abgeordnetenhause zu Berlin.
Stenographische Berichte.(Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e
Soldados da Alemanha de 16 a 21 de Dezembro de 1921, ocorrido na Câmara dos
Deputados de Berlim. Relatórios Estenográficos), ed. Zentralrat der
sozialistischen Republik Deutschlands (Conselho Central da República Socialista
da Alemanha), Berlim : Herrenhaus, 1919, Coluna 216.
[129] Cf. Idem, ibidem, Coluna 217 f.
[130] Anote-se que foi apenas em dezembro de 1920, no
quadro do Congresso Extraordinário dos Sociais-Democratas Independentes, que se
operou a esperada ruptura entre a ala majoritária de esquerda, comandada por
Ernst Däumig (237 delegados), e a ala de direita, dirigida por Rudolf
Hilferding (156 delegados), sob o impacto da intervenção oral de Grigori
Zinoviev que clamava : “Vocês têm de decidir claramente em prol do menchevismo
ou do bolchevismo !” Acerca do tema, vide Weber, Hermann. Die
Wandlungen des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der
Weimarer Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar),
Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926, p. 24. A seguir, teve lugar a fusão da ala
esquerda do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD) com o
Partido Comunista da Alemanha(KPD), operada entre os dias 4 e 7 do mesmo mês de
dezembro de 1920, no quadro do Congresso de Halle, dando nascimento ao Partido
Comunista Unificado da Alemanha(VKPD), sob a Presidência de Paul Levi e Ernst
Däumig. Depois da expulsão de Paul Levi do novo KPD, em 15 de abril 1921, Ernst
Däumig veio a abandonar esse Partido. Junto com ele, seguiram o mesmo caminho
diversos deputados comunistas, entre os quais Clara Zetkin, Adolph Hoffmann,
Kurt Geyer e Wilhelm Düwell. A partir do momento de sua expulsão, Paul Levi
fundou, transitoriamente, a Comunidade dos Trabalhadores Comunistas(KAG) e
dirigiu-se, a seguir, para o Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha (USPD), de Karl Kautsky e Rudolf Hilferding.
[131]
Cf. Däumig, Ernst. in : Allgemeiner Kongress der Arbeiter- und Soldatenräte
Deutschlands vom 16 bis 21 Dezember 1918 im Abgeordnetenhause zu Berlin.
Stenographische Berichte.(Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e
Soldados da Alemanha de 16 a 21 de Dezembro de 1921, ocorrido na Câmara dos
Deputados de Berlim. Relatórios Estenográficos), ed. Zentralrat der sozialistischen
Republik Deutschlands (Conselho Central da República Socialista da Alemanha),
Berlim : Herrenhaus, 1919, Coluna 229.
[132] Acerca do tema, vide ainda Liebknecht, Karl. Acerca
da Justiça de Classe, Sao Paulo-Munique-Paris : Instituto José Luís e Rosa Sundermann,
2002, especialmente Introduçao : O Revolucionário Karl Liebknecht, p. 14.
[133]
Cf. Luxemburg, Rosa. Zur Russischen Revolution (Acerca da Revolução Russa), in
: Rosa Luxemburg. Gesammelte Werke, Vol. IV, Berlim : Dietz Verlag, 1974, p.
365.
[134]
Cf. Cohen, Max. in : Allgemeiner Kongress der Arbeiter- und Soldatenräte
Deutschlands vom 16 bis 21 Dezember 1918 im Abgeordnetenhause zu Berlin.
Stenographische Berichte.(Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e
Soldados da Alemanha de 16 a 21 de Dezembro de 1921, ocorrido na Câmara dos
Deputados de Berlim. Relatórios Estenográficos), ed. Zentralrat der
sozialistischen Republik Deutschlands (Conselho Central da República Socialista
da Alemanha), Berlim : Herrenhaus, 1919, Coluna 217.
[135]
Essa designação foi empregada, criativamente, em Rote Fahne (Bandeira
Vermelha), Berlim, 20 de Dezembro de
1918.
[136]
Cf. Anhang. Allgemeiner Kongress der Arbeiter- und Soldatenräte Deutschlands
vom 16 bis 21 Dezember 1918 im Abgeordnetenhause zu Berlin. Stenographische Berichte.(Anexo.
Congresso Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados da Alemanha de 16 a
21 de Dezembro de 1921, ocorrido na Câmara dos Deputados de Berlim. Relatórios
Estenográficos), ed. Zentralrat der sozialistischen Republik Deutschlands
(Conselho Central da República Socialista da Alemanha), Berlim : Herrenhaus,
1919.
[137]
Cf. Ebert, Friedrich. Stenographischer Bericht (Relatório Estenográfico), in :
Heinrich Schäfer. Tagebuchblätter eines rheinischen Sozialisten (Páginas do
Diário de um Socialista Renano), Bonn, 1919, pp. 220 e 221.
[138]
Cf. Volkmann, E. O. Revolution über Deutschland (Revoluçao Através da
Alemanha), Oldenburg, 1930, p. 147.
[139]
Cf. Idem. Ibidem, p. 163.
[140]
Ebert, Friedrich. Stenographischer Bericht (Relatório Estenográfico), in : Heinrich
Schäfer. Tagebuchblätter eines rheinischen Sozialisten (Páginas do Diário de um
Socialista Renano), Bonn, 1919, pp. 225.
[141]
Cf. Fischer, Ruth. Stalin und der deutsche Kommunismus. Der Übergang zur
Konterrevolution(Stálin e o Comunismo Alemão. A Transição para a
Contra-Revoluçao), Frankfurt a. M. : Verlag der Frankfurter Hefte, 1948, p. 84.
[142]
Acerca do tema, Schäfer, Heinrich. Tagebuchblätter eines rheinischen
Sozialisten (Páginas do Diário de um Socialista Renano), Bonn, 1919, pp. 11 e
s.
[143]
Cf. Weber, Hermann. Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des
deutschen Kommunismus (De Rosa Luxemburgo a Walter Ulbricht. Mudanças do
Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp.
retro-mencionadas.
[144]
Nesse sentido, vide Radek, Karl. Unterm eigenen Banner(Debaixo de Bandeiras
Próprias)(Fevereiro-Março de 1918), in : Karl Radek. In den Reihein der
deutschen Revolution 1909-1919. Gesammelte Aufsätze und Abhandlungen (Karl
Radek. Nas Fileiras da Revolução Alemã de 1909 a 1919. Ensaios e Dissertações
Escolhidas), München : Kurt Wolff, 1921, pp. 406 e s.
[145]
Cf. Idem. Die russische Revolution, die deutsche Revolution und die Weltlage.
Begrüßungsrede auf dem Gründungsparteitag der KPD(A Revolução Russa, a
Revolução Alemã e a Situação Mundial. Discurso de Saudação no Congresso de
Fundação do PCA(KPD))(30 de Dezembro de 1918), Berlim : Druck Chemnitz, 1919,
pp. retro-mencionadas.
[146]
Cf. Idem. ibidem, p. 32.
[147]
Cf. Idem. Brief an das Zentralkomitee der KPD (Carta ao Comitê do PCA(KPD))(9
de Janeiro de 1919), in : Illustrierte Geschichte der Deutschen Revolution
(História Ilustrada da Revolução Alemã), Berlim, 1929, p. 282.
[148] É imprescindível, porém, resgatar e defender,
devidamente, a tradição essencialmente marxista-revolucionária de Karl Liebknecht
e Rosa Luxemburg, comprometida, antes e acima de tudo, com a perspectiva de
organização da revolução violenta do proletariado para a edificação de sua
Ditadura Revolucionária. Esse posicionamento foi, precisamente, reconhecido e
postulado por Lênin no contexto de seu Discurso de Abertura do I Congresso do
Komintern, quando se referiu a Liebknecht e Luxemburg, enquanto os melhores
representantes da Internacional Comunista. Vide Lênin, Vladimir I.
Rede bei der Eröffnung des Kongresses 2. März. I Kongreß der Komm.
Internationale (Discurso na Abertura do Congresso de 2 de Março. I Congresso da
Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII (De Julho de 1918
à Março de 1919), Berlim, 1959, p. 469. Destaque-se, entretanto, à guisa de exemplo, entre os
diversos e renomados textos de Rosa Luxemburg, aquele intitulado E Pela
Terceira Vez o Experimento Belga, vindo à luz já em 4 de junho de 1902, quando
essa autora teve a oportunidade de escrever, de modo incorrumptivelmente claro,
contra os legalistas belgas, i.e. Émile Vandervelde e outros : „Entretanto, não
por predileção às ações violentas ou ao romantismo revolucionário devem os
partidos socialistas, mais cedo ou mais tarde, estar preparados também para
embates violentos com a sociedade burguesa, em casos em que nossas aspirações
se direcionem contra os interesses vitais das classes dominantes, senão em
razão também da amarga necessidade histórica. O parlamentarismo enquanto meio
de luta político da classe trabalhadora, individualizador do espírito, é tão
fantástico e, em primeira linha, reacionário, como o é a greve geral,
individualizadora do espírito, ou a barricada, individualizadora do espírito.
Evidentemente, a revolução violenta é, nas condições atuais, um meio de
dupla-face, aplicável de modo extremamente difícil. E podemos esperar que o
proletariado apenas fará uso desse meio quando se apresentar o único caminho
adequado para sua implementação e, evidentemente, apenas em condições em que a
situação política de conjunto e a relação de forças assegurem, mais ou menos, a
probabilidade de êxito. Porém, a concepção clara da necessidade da aplicação da
violência, seja nos episódios individuais da luta de classes seja para a
conquista definitiva do poder de Estado é nisso, de antemão, imprescindível.
Ela representa aquilo que consegue conferir também à nossa atividade legal,
pacífica, a apropriada ênfase e efetividade.“ Cf. Luxemburg,
Rosa. Und Zum Dritten Male das Belgische
Experiment (E Pela Terceira Vez o Experimento Belga)(4 de Junho de 1902) , in :
Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 247.
[149]
Cf. Radek, Karl. Die Entwicklung der deutschen Revolution und die Aufgaben der
Kommunistischen Partei (O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as Tarefas do
Partido Comunista), Berlim : Rote Fahne, 1919, pp. 32 e s.
[150]
Cf. Paquet, Alfons. Der Geist der russischen Revolution(O Espírito da Revolução
Russa), Leipzig : Nyland, 1919, pp. VII e s.
[151] Nesse sentido, desde a perspectiva da minoria
zinovievista do Partido Comunista da Alemanha(KPD), Ruth Fischer assinala : “O
Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha novamente formado não estava
oficialmente informado acerca desses contatos entre Radek e o General Staff,
porém dois ou três de suas pessoas íntimas, tal como Paul Levi e August
Thalheimer, sabiam, inquestionavelmente, sobre eles. Muitas figuras políticas
da República de Weimar ficavam contentes de ter a oportunidade de ver Radek e
com ele discutir acerca de política alemã. Ele desempenhava seu duplo papel
habilmente – ele era, de um lado, o representante do Politburo Russo, e, de
outro, fez-se como o enviado do Estado Russo em uma missão militar e
diplomática semi-oficial junto ao Governo Alemão.” Cf.
Fischer, Ruth. Fischer, Ruth. Stalin und der deutsche Kommunismus. Der Übergang
zur Konterrevolution(Stálin e o Comunismo Alemão. A Transição para a
Contra-Revoluçao), Frankfurt a. M. : Verlag der Frankfurter Hefte, 1948, pp.
207 e 208.
[152] Cf. Trotsky, Léon. Prestuplienia Stalina (Os Crimes
de Stálin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 152.
[153]
Cf. Radek, Karl. Zur Taktik des Kommunismus : Ein Schreiben an den
Oktoberparteitag der KPD(Acerca da Tática do Comunismo : Uma Carta ao Congresso
de Outubro do PCA(KPD)), Berlim : Editora do KPD-Spartakusbund, 1919, p. 5.
[154]
Cf. Idem. Die Entwicklung der deutschen Revolution und die Aufgaben der
Kommunistischen Partei (O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as Tarefas do
Partido Comunista), Berlim : Rote Fahne, 1919, pp. 36 e s.
[155]
Cf. Idem. Der Weg der Kommunistischen Internationale. Rede auf dem III.
Weltkongress der Kommunistischen Internationale(O Caminho da Intenacional
Comunista. Discurso no III Congresso Mundial da Internacional Comunista), in :
Bibliothek der Kommunistischen Internationale, Hamburg : Carl Hoym, 1921, p.34.
[156]
Cf. Pieck, Wilhelm. Erinnerungen an die Novemberrevolution und an die Gründung
der KPD (Recordaçoes da Revoluçao de Novembro e da Fundaçao do PCA), in :
Vorwärts und nicht Vergessen : Erlebnisberichte aktiver Teilnehmer der
Novemberrevolution 1918/1919. (Avante e
Sem Se Esquecer : Relatórios de Vida dos Ativos Participantes da Revoluçao de
Novembro 191871919), ed. Instituto de Marxismo-Leninismo junto ao Comitê
Central do Partido da Unidade Socialista, Berlim : Dietz, 1958, pp. 65 e s.
[157]
Cf. Kunstamt Kreuzberg und Institut für Theaterwissenschaft der Universität
Köln. Weimarer Republik, Berlin-Köln : Elefanten Press, 1977, p. 148.
[158]
Cf. Idem, ibidem, p. 149.
[159]
Cf. Idem, ibidem, p. 148.
[160]
Cf. Idem, ibidem, p. 148.
[161]
Cf. Idem, ibidem, p. 150.
[162]
Cf. Die deutsche Revolution 1918-1919, Frankfurt a. M., 1968, p. 315.
[163]
Cf. Idem, ibidem, p. 316.
[164]
Cf. Anschütz, Gerhard. Die Verfassung des Deutschen Reiches vom 11. August 1919 (A Constituiçao do Império Alemão de 11 de
Agosto de 1919), Berlin-Darmstadt : v. Stilke, 14. ed, 1933, pp. 697 e s. Vide,
ainda, os comentários de Astuto R. Gomes, Emílio. Banco
Central e Ordem Jurídica, Sao Paulo : Tese de Doutorado da USP, 1997, pp. 56 e
s.
[165]
Cf. Idem. ibidem, p. 698.
[166]
Nesse sentido, vide Huber, Ernst Rudolf. Bedeutungswandel der Grundrechte
(Transformação do Significado dos Direitos Fundamentais), in : Archiv des
öffentlichen Rechts (Arquivo do Direito Público), Vol. LXII, pp. 38 e s.
[167]
Cf. Anschütz, Gerhard. Die Verfassung des Deutschen Reiches vom 11. August 1919 (A Constituiçao do Império Alemão de 11 de
Agosto de 1919), Berlin-Darmstadt : v. Stilke, 14. ed, 1933, p. 697.
[168]
Cf. Verfassung des Deutschen Reichs vom 11. August 1919 (Constituiçao do Império Alemao, de 11 de
Agosto de 1919), in : Reichsgesetzblatt (Diário Legal do Império), 1919, Nr.
152, p. 1.383.
[169]
Cf. Anschütz, Gerhard. Die Verfassung des Deutschen Reiches vom 11. August 1919 (A Constituiçao do Império Alemão de 11 de
Agosto de 1919), Berlin-Darmstadt : v. Stilke, 14. ed, 1933, p. 698.
[170]
Nesse sentido, vide Schmitt, Carl. Inhalt und Bedeutung des zweiten Hauptteils
der Reichsverfassung (Conteúdo e Significado da Segunda Parte Principal da
Constituição do Império), in : Handbuch des Deutschen Staatsrechts (Manual de
Direito Alemão do Império), Vol. II, Berlim-Leipzig, 1932, pp. 574 e s.
[171]
Cf. Verfassung des Deutschen Reichs vom 11. August 1919 (Constituiçao do Império Alemao, de 11 de
Agosto de 1919), in : Reichsgesetzblatt (Diário Legal do Império), 1919, Nr.
152, p. 1.383.
[172]
Cf. Anschütz, Gerhard. Die Verfassung des Deutschen Reiches vom 11. August 1919 (A Constituiçao do Império Alemão de 11 de
Agosto de 1919), Berlin-Darmstadt : v. Stilke, 14. ed, 1933, p. 705.
[173]
Cf. Karl Liebknecht. Dokumente und Materialien zur Geschichte der deutschen
Arbeiterbewegung (Documentos e Materiais acerca da História do Movimento dos
Trabalhadores Alemaes), Série II, Vol. II, Berlim : Dietz, 1957, pp. 273 e 274.
[174] Cf. Lenin, Vladimir I. Der
„linke Radikalismus“, die Kinderkrankheit im Kommunismus (O „Radicalismo de
Esquerda“ : Enfermidade Infantil no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in : W. I.
Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXI, pp. 20 e s.
[175] Cf. Lenin, Vladimir I. Brief
an die Arbeiter Europas und Amerikas (Carta aos Trabalhadores da Europa e da
América), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXIII, Berlim, 1959, p. 384.
[176]
vide
LIEBKNECHT, KARL. Was Will der Spartakusbund? (O Que Quer a Liga Spartakus), 23
de Dezembro de 1918, p. 519.
[177]
Vide LIEBKNECHT, KARL. Grundzüge
einer Marxkritik (Traços Fundamentais de uma Crítica de Marx), in: Studien über die
Bewegungsgesetze der Gesellschaftlichen Entwicklung (Estudos sobre as Leis de
Movimento do Desenvolvimento Social), Kurt Wolff Verlag, Munique,
1922, pp. 247 e s.