ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :

ESCRITOS MILITARES SOBRE A GUERRA CIVIL RUSSA

E A LUTA CONTRA A INTERVENÇÃO IMPERIALISTA 

 

A Construção das Forças Armadas

 Vermelhas na Revolução 

 

VLADIMIR A. ANTONOV-OVSEIENKO[1]

(tb. V. A. ANTONOV-OVSEENKO, W. A. ANTONOW-OWSSEJENKO)

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers

Dezember 2004 emilvonmuenchen@web.de

Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/ArteCapa.htm

Clique aqui para a versão em língua alemã  

  Übersetzung ins Deutsch

 

 

I.

As Tradições de Luta Revolucionária do Partido

e os Preconceitos Pré-Revolucionários da Época.

A Preparação das Forças Armadas da Revolução de Outubro.

A Estratégia de Outubro.

A Aventura de Krasnov.

 As Próximas Tarefas Militares.

 

A preparação da forças armadas que foram capazes de apoiar as aspirações do proletariado foi empreendida por nosso Partido desde muito tempo antes dos eventos revolucionários decisivos de Outubro.

As tradições gloriosas de luta do Partido que levantou a consigna de preparação da insurreição armada já na primeira Revolução de 1905-1907 e preparou, praticamente, essa insurreição em nome da tomada do poder pelo proletariado, apoiado na pobreza das aldeias rurais, essas tradições estiveram permanentemente vivas entre os bolcheviques.

O espírito ativo de luta do Partido surgiu já nos primeiros dias da Guerra Imperialista.

Representado por seu centro dirigente, o Partido levantou a consigna de converter a guerra imperialista em guerra civil.

Declarou “guerra à guerra” e conclamou os soldados a saírem das trincheiras da carnificina rapaz para dirigirem-se às barricadas da insurreição de classe.

Nas questões do militarismo, a posição do Partido sempre se caracterizou por ser plenamente resoluta.

Livre de todas as ilusões do pacifismo social, o Partido levantou-se em Kiental contra as palavras de ordem de desarmamento geral, mesmo quando até mesmo alguns da “Esquerda de Zimmerwald” (p. ex. o Grupo Norueguês) pagavam um profuso tributo a essas ilusões etc.

Destaque-se que essa orientação de larga perspectiva de seus dirigentes embateu-se, porém, contra resistências mesmo nos círculos responsáveis do Partido, no que respeitava à sua aplicação à realidade russa.

Nas discussões relacionadas com as célebres Teses de Lênin, ocorridas particularmente na Conferência do Partido de Abril de 1917, reapareceram os preconceitos ainda vivos no Partido relativamente ao caráter puramente democrático da revolução subseqüente, em nome da concretização dos chamados “três pontos de luta” (recorde-se, ademais, que o órgão estrangeiro do Partido “O Social-Democrata” já havia defendido antes, por diversas vezes, essa mesma estreita plataforma).

A Conferência de Abril declarou-se resolutamente em favor da Ditadura do Proletariado e contra a Democracia Burguesa, em favor da Guerra Civil e contra o assim denominado “defensismo revolucionário” e “colaboracionismo social”.

Porém, ainda durante muito tempo, no curso de todo ano de 1917, o eco dos preconceitos da velha época pré-revolucionária tornou-se perceptível na hesitação de alguns grupos do Partido relativamente às questões fundamentais de nossa tática.

Ainda assim, a Conferência de Abril conferiu a linha da Insurreição Armada ao curso do Partido, sendo assim o Partido dirigido, energicamente, nesse rumo pela maioria do Comitê Central.

A preparação das forças armadas para a “tomada do poder” foi assumida pelo Partido em dois sentidos : nas unidades de tropa das velhas forças armadas - visando à criação de uma reserva armada - e entre os trabalhadores, com o objetivo de criação de um poder armado de classe na forma da Guarda Vermelha Proletária.

Naturalmente, o Partido impulsionava um certo trabalho revolucionário entre as massas de soldados, já mesmo antes da Revolução de Fevereiro.

Porém, apenas depois do surgimento da organização militar em Petrogrado (em abril de 1917), esse trabalho começou a adquirir uma forma correta.

Em meados de junho, 50 organizações militares (entre elas 43 organizações do fronte), com um número geral de membros correspondente a 30.000 soldatos bolcheviques estavam representadas na Conferência Militar de Toda a Rússia do Partido.

Essa conferência definiu como tarefa principal da organização militar a criação :

 

“ ... de uma reserva armada material para a revolução e para as reivindicações da ordem do dia a serem agitadas entre os elementos democrático-revolucionários das forças armadas.”

 

De particular importância, foi a relação estabelecida por essa conferência em face do “defensismo revolucionário”.

A Conferência de Abril condenou “o defensismo revolucionário” enquanto posição na qual se apoiava a burguesia imperialista para atrair as massas camponesas dos pequenos proprietários que - segundo as palavras de Lênin - eram “autenticamente defensistas”.

A Conferência Militar de Junho seguiu esse mesmo caminho.

Levantou a questão relativa à possibilidade de uma guerra ofensiva revolucionária.

Na resolução redigida por essa conferência acerca do informe de LeninSobre a Guerra, a Paz e a Ofensiva”, consta precisamente o seguinte :

 

“A conclamação à ofensiva seria apenas admissível para a social-democracia revolucionária se o poder passasse para as mãos dos Conselhos da Democracia Revolucionária e da Social-Democracia, dirigindo-se a democracia revolucionária, aberta e inequivocamente, a todos os países beligerantes com uma proposta de paz.

Uma tal situação geraria a confiança geral dos trabalhadores de todos os países em guerra entre si e conduziria, infalivelmente, a um levante do proletariado contra todos os governos imperialistas que se oporiam a uma tal paz.

Apenas uma tal ofensiva tornar-se-ia uma luta pela paz e pela liberdade geral”.

 

Nessa conferência, foi eleito o “Bureau Central das Organizações Militares”, o qual iniciou, sob a direção do Comitê Central, um trabalho enérgico entre as massas de soldados.

O trabalho de agitação do nosso Partido entre os soldados não possuiu, de nenhuma forma, o caráter de uma resistência passiva.

A tarefa de nossa agitação orientava-se não apenas para a simples decomposição das antigas forças armadas.

Essas forças armadas encontravam-se, em verdade, assoladas por uma insofreável decomposição, pois, na medida em que, em sua organização, refletia-se a estrutura da antiga ordem social, haviam elas também de dividir o destino desta última.

Nós “empurrávamos um ser em queda” e, ao mesmo tempo, procurávamos ligar, uns com os outros, os elementos revolucionários sãos das forças armadas, mediante novos fios de conexão.                                         

Os Comitês de Regimento por nós conquistados tranformaram-se em um cimento para os elementos “democrático-revolucionários” das forças armadas.

A consigna que levantávamos de confraternização organizada no fronte foi executada inteligente e energicamente pelos Comitês de Soldados que se encontravam sobre nossa influência, contribuindo para a decomposição das tropas imperialistas alemães.

O Comando Supremo Alemão foi forçado a promover freqüente substituição de seus regimentos nos frontes norte e oeste.

Entretanto, esse trabalho revolucionário, impulsionado entre os trabalhadores alemães foi conduzido ao fracasso com a “Grande Ofensiva”, empreendida por Kerensky, precisamente um dia após a manifestação de toda a Rússia, realizada sob a direção de consignas “bolcheviques”.

Obviamente, a aplicação da Resolução da Conferência Militar sobre a Ofensiva chocou-se, na prática, com dificuldades tremendas. 

Isso vale especialmente para o segundo período de Kerensky, no qual a relação de forças parecia ter assumido uma forma inteiramente clara : a aventura de Kornilov fracassara em seus primeiros passos, na medida em que não encontrara qualquer apoio entre os soldados das trincheiras e, muito pelo contrário, confrontara-se com uma resistência enérgica dos proletários revolucionários.

Os destinos estavam selados, quando o Comandante Militar da Democracia Imperialista viu-se forçado a absorver uma tão miserável derrota.   

Em face dos bolcheviques que lutavam no fronte e estavam em estreito contato com os alemães, as tropas do imperialismo germânico surgiam como um perigo ainda maior para a revolução proletária que inevitavelmente se aproximava, se comparadas com os diversos batalhões de choque, os cadetes militares e a divisão selvagem, sobre cujos ombros o domínio de Kerensky se apoiava.

Na Conferência dos Soldados Bolcheviques da Letônia, ocorrida em setembro de 1917, na cidade de Valki, essa ponderação surgiu, precisamente, de modo plenamente nítido.

Quando, nessa conferência, apresentei, na qualidade de representante de Petrogrado, meu informe acerca da situação na capital e referi-me à imprescindibilidade de um procedimento armado contra o Governo Provisório, foi afirmado que, no próximo período, nem um único setor de tropa poderia ser deslocado do fronte norte, pois, caso contrário, este último resultaria descoberto :

 

“Exercemos uma influência extraordinária sobre os corpos siberianos que se situam do nosso lado, sendo que se abandonarmos nossas posições também eles abandonaram a deles.

Nesse caso, os alemães invadirão e a revolução estará ameaçada de sofrer um duro golpe.” 

 

Dúvidas semelhantes foram igualmente expressadas pelo Comitê Central das Frotas do Báltico, ainda nos dias de julho.

Com particular clareza, emergiu a ponderação do defensismo revolucionário (escrevo aqui essas palavras odiosas sem aspas) no II Congresso dos Marinheiros que teve lugar no início de outubro.

Nessa época, as coisas em Petrogrado haviam amadurecido tão imensamente que a irrupção da insurreição parecia totalmente inevitável, bem como indubitável a sua vitória.

Não obstante, a frota alemã passou para a ofensiva e, na luta contra ela, nossa frota começou a sofrer uma derrota.

O II Congresso dos Marinheiros das Frotas do Báltico lançou um chamado “A Todos os Oprimidos de Todos os Países”, penetrado pela firme convicção de triumfo da revolução e pela disposição de morrer em seu posto.

Além disso, esse último congresso tomou uma série de medidas para a elevação da capacidade de luta das frotas.

Essa concepção do defensismo verdadeiramente revolucionário prevalecia decididamente naquelas unidades de tropa em que possuíamos a mais expressiva influência.

Essas unidades conservavam uma alta capacidade de luta e seu papel de combate foi muito significativo no primeiro período da revolução.

As velhas forças armadas czaristas, assaltadas pela decomposição, eliminaram, assim, os elementos sãos que vieram a servir de fundamento para as novas forças armadas, as Forças Armadas Soviéticas.     

Paralelamente à luta pela influência sobre as forças armadas e concomitantemente com o trabalho de unificação e disciplina revolucionárias de nossos quadros bolcheviques militares, fluía o trabalho de criação de nossa divisão de luta de classes, a Guarda Vermelha dos Trabalhadores.

Essa atividade de construção, iniciada, já no mês de março de 1917, nas fábricas e empresas do distrito de Vyborg (Petrogrado), desenvolveu-se rapidamente não apenas entre os trabalhadores dessa cidade, senão ainda entre todos os centros de trabalhadores da Rússia.

No marco da total diversidade (inicial) de impulsionamento desse trabalho, a construção da Guarda Vermelha possuía traços comuns por todos os lados.

Em primeiro lugar, os instrutores das divisões dos trabalhadores eram os melhores elementos das velhas forças armadas, sendo que, nesse sentido, desempenhavam um papel muito importante.

Além disso : os trabalhadores da Guarda Vermelha eram selecionados e armados com base no parecer dos Comitês de Fábrica e Empresas.

Porém, mantinham sua posição de trabalhador nas fábricas e, freqüentemente, não deixavam também de nelas trabalhar, assim que eram formados militarmente apenas em determinadas horas.

Em Petrogrado, registrou-se logo a tendência de conceder-se uma formação geral militar aos trabalhadores, procedendo-se pela ordem e conservando-se, ao mesmo tempo, as unidades de luta de maneira ordenada.

Essas unidades eram organizadas, aqui e ali, sob a aparência de uma milícia de trabalhadores para a manutenção da ordem na cidade.

De modo particularmente ágil, desenvolveu-se tanto a construção da Guarda Vermelha, depois dos Dias de Kornilov, como a criação de um centro para a unificação desse trabalho.

Nessa época, a Guarda Vermelha adquiriu também uma certa forma estrutural.

A unidade de luta fundamental era o batalhão (360 homens) composto por três companhias (centúrias), dotadas de um comando de metralhadoras, um comando de ligação, uma divisão de saúde e uma unidade de abastecimento (ou unidade econômica).

Em Moscou, a organização da Guarda Vermelha iniciou-se, em grande medida, apenas nos dias anteriores a outubro, uma vez que se chocava com dificuldades seríssimas, decorrentes da falta de armas.

No momento das lutas armadas, pudemos conduzir à luta, em Petrogrado, cerca de 10.000 guardas vermelhos, sendo que, em Moscou, apenas 3.000.

O princípio do voluntarismo, o caráter de milícia e o princípio da elegibilidade são os traços fundamentais da guarda dos trabalhadores.

Paralelamente à organização das forças de luta da insurreição, transcorria a rigorosa preparação estratégica do levante.


A campanha política conduzida esplendidamente pelo Comitê Central garantiu-nos, até o início de outubro, não apenas uma maioria decidida no Soviete dos Deputados dos Trabalhadores de Petrogrado e, a partir daí, também no Soviete dos Deputados dos Soldados dessa cidade.

Ela consolidou também não apenas a exclusiva influência do Partido em todos os Comitês de Fábrica e de Empresas.

Ela fundiu, além disso, em torno do nosso Partido, em torno do seu programa objetivamente revolucionário, densas camadas da pequena burguesia da cidade.

Em uma série de bairros, apoderamo-nos das “Dumas” e nelas começamos a realizar um trabalho dinamicamente prático.

No mesmo compasso em que essa Petrogrado Revolucionária resultava solidamente envolvida por um firme anel de sovietes bolcheviques, foi conquistada a maioria nos sovietes das cidades situadas nas proximidades da capital, criando-se uma união de todos os Sovietes da Província de Petrogrado entre si e, a partir daí, uma união com a área setentrional que abarcou o trabalho de toda a Finlândia, as Frotas do Báltico, o fronte norte, as Províncias de Novgorod, Pskov e até mesmo Arkhangels, conduzindo-as todas a um acordo.

Pela ordem,  conquistamos as mais importantes posições militares.

Em Kronstadt, nos frontes norte e oeste, nas guarnições da Finlândia e nas Frotas do Báltico, conquistamos, passo a passo, a maioria decisiva entre as amplas massas (isso pôde ser percebido, entre outras coisas, também nas eleições para a Assembléia Constituinte ).

Os frontes norte e oeste cobriam Petrogrado pelo lado do fronte do sudoeste e do fronte romeno, de onde podia ser esperado um ataque das unidades de tropa fiéis a Kerensky.

Kronstadt e as Frotas do Báltico tinham de ser o poder ativo da “derrubada”.

As guarnições vermelhas da Finlândia eram capazes não apenas de manterem em cheque a irresoluta 5a. Divisão Caucasiana dos Cossacos – disposta cautelosamente, de antemão, por Kerensky contra Petrogrado -, senão ainda encontravam-se em condições enviarem expressivas unidades em auxílio dessa cidade.

A tarefa imediata do Comitê Revolucionário Militar em Petrogrado consistiu principalmente em fortalecer a ligação mantida com a Finlândia Revolucionária.

Por isso, foi conferida particular atenção à segurança do flanco de Vyborg, a partir do qual parte a estrada de ferro para a Finlândia e em cujas proximidades se situa a Fortaleza de Pedro e Paulo, com todo o seu arsenal.

Como tarefa de luta subseqüente do Comitê Militar Revolucionário, foi fixada a ocupação da Fortaleza de Pedro e Paulo e de seu arsenal.

Essa tarefa foi cumprida magistralmente, em 23 de Outubro, sem o disparo de um único tiro, com base na realização de assembléias militares.

Preparamos, então, o levante armado por ocasião da abertura do II Congresso dos Sovietes.

O Governo Kerensky tudo empreendeu, através de sua atividade provocatória, para que a história não se equivocasse com respeito à data.

O Comitê Militar Revolucionário foi criado por proposta dos mencheviques que sonhavam poder com isso atrair trabalhadores e guarnições para a idéia da defesa de Petrogrado, reunindo-os em torno do Governo Provisório.

Porém, desde o primeiro dia de sua existência, esse comitê entrou em brutal contradição com o Quartel-General Distrital Militar e até mesmo com o frouxo Governo Provisório.               

Na luta pela influência sobre as massas de soldados, o Comitê Militar Revolucionário conseguiu atingir a “neutralização” de três regimentos de cossacos, trabalhando em seu interior, i.e. de dentro para fora.

Esses regimentos haviam sido trazidos por Kerensky a Petrogrado nos Dias de Julho, para a defesa do Governo Provisório.                         

O comitê em tela conseguiu também a neutralização dos Regimentos de Guarda de Reserva Preobrajensky e Semionov.

Através dos Comitês de Regimentos e dos comissários enviados sobre controle do Comitê Militar Revolucionário, esse último colocou sob sua ordem os demais regimentos da guarnição.

Porém, quando o Governo Kerensky empreendeu a tentativa de concentrar em torno do Palácio de Inverno unidades de cadetes militares fiéis a ele e distribuídos em volta de Petrogrado, as guarnições de Gatchina, Oranienbaum etc., fiéis ao nosso comando, barram o caminho a esses quadros.

No dia decisivo, o Governo Kerensky pôde reunir, para sua defesa, apenas forças inteiramente inexpressivas, porém também elas muito paralisadas pelo vácuo virtualmente físico que notoriamente envolvia esse governo.

De tal sorte, poderiam tão somente ter oposto resistência relativamente séria ao nosso ataque pouco ordenado.

O batismo de fogo das primeiras unidades das Forças Armadas Proletárias – a Insurreição de Outubro – proporcionou-nos uma vitória fácil e decisiva.

Porém, também essa vitória foi, em última instância, alcançada pela preparação prolongada, multifacetada e exemplarmente executada pelo Comitê Central do Partido.

Entretanto, a áspera prova não se fez esperar por muito tempo.

Mediante fraude, Kerensky conseguiu instigar a Divisão dos Cossacos do General Krasnov a marchar contra Petrogrado.

Essa divisão era escassa em números. Provavelmente, não possuía nem mesmo 1.000 cavaleiros e apenas algumas baterias de campo.

Porém, com ela operava, conjuntamente, uma forte coluna de blindados.

Já nos primeiros embates, travados contra esse adversário móvel e hábil, desvendaram-se claramente todas as deficiências de nossa organização militar de outrora.

Não dispúnhamos nem de cavalaria nem de artilharia de campo.

A Guarda Vermelha demonstrou-se despreparada para a batalha campal.

Setores da guarnição não possuíam nenhuma composição de comando confiável e não estavam, por isso, acessível a nenhuma precisa direção militar.

Apenas o então dirigente da Divisão de Choque, o Tenente-Coronel Muraviov que fora nomeado para o posto de Comandante Supremo do Distrito Militar de Petrogrado conseguiu movimentar para a ação o corpo de oficiais e, em 31 de outubro (RvG.: no novo estilo, em 12 de novembro), organizar algo semelhante a um fronte de combate.

Nesse fronte, o papel ativo foi executado, por sua vez, pelas unidades da Guarda Vermelha e dos Marinheiros.

Esses últimos haviam chegado, então, em número de aproximadamente 1.500 homens, vindos de Helsingfors.

Em face da firmeza dessas unidades, desvaneceram os primeiros entusiasmos dos combatentes de Krasnov. 

Elas constituíram também o poder que haviam conduzido à derrota da Insurreição dos Latifundiários, ocorrida no interior de Petrogrado, em 30 de outubro(RvG.: no novo estilo, em 11 de novembro).

A aventura de Krasnov permitiu-nos, porém, conhecer nossas próprias debilidades e desencadeou uma atividade mais intensa, no domínio da construção militar.

A primeira tarefa a ser concretizada nesse domínio foi o apossamento do velho aparato militar.

Depois da nomeação de Muraviov para o posto de Comandante Supremo do Distrito Militar de Petrogrado, teve prosseguimento a cooptação por ele iniciada da composição do velho comando em nosso trabalho militar, buscando-se mover o quartel-general a dar continuidade às suas funções, sob nosso controle.

Para o objetivo de controle e depuração gradual do Quartel-General Distrital, foi empreendida a fusão do corpo de pessoal do Estado-Maior do Comitê Militar Revolucionário (surgido nos primeiros dias das Lutas de Outubro) com as específicas divisões desse quartel-general.

Em posição adjunta a esse Estado-Maior, foi colocado um conselho especial de especialistas militares fiéis à nossa causa.

Esse conselho esboçou as questões de preparação da defesa de Petrogrado (pois, temíamos um avance dos alemães) e da elevação da capacidade de luta dos diversos setores de tropa.

Muito freqüentemente, tiveram lugar assembléias de representantes dos Comitês de Regimentos, nas quais todas as questões agudas relacionadas com as forças armadas eram discutidas, em particular eram-no as questões relativas à elevação da disciplina revolucionária em setores de tropa, à luta contra o alcoolismo, à desmobilização, à nationalização de setores de tropa etc.

A questão concernente à nacionalização de setores de tropa deve ser especialmente destacada.

Em conexão com a proclamação do Direito de Auto-Determinação das Nações Oprimidas, emergiu o pensamento entre os soldados de formar setores de tropa separados, segundo soldados de determinadas nacionalidades.

Em regra, opusemo-nos a isso.

Fomos, porém, forçados a declararmo-nos de acordo com o prosseguimento da criação - já iniciada sob o governo de Kerensky - de setores à parte de tropa dos ucranianos e com sua partida para a Ucrânia.

Armas e equipamentos foram, nesse contexto, repartidos em quantidade proporcional.

Dos que partiam obtivemos o compromisso, expressado em resolução de sua assembléia geral, de não se levantarem em armas contra o Poder Soviético.

Declaramo-nos também de acordo com a formação de setores separados de tropa da Belorússia, na esperança de neles encontrarmos um contra-peso às unidades de tropa polonesas que se posicionavam nas proximidades do Grande Quartel Principal, representando um verdadeiro perigo, sob a direção de seus oficiais reacionários.

As questões relativas à desmobilização foram especialmente debatidas em um congresso militar, convocado em dezembro de 1917 (sob a direção de Kedrov).

Nesse congresso, foi adotada uma resolução sobre a necessidade de “empreender imediatamente a organização de corpos das Forças Armadas Socialistas”, sendo que seus quadros deveriam ser extraídos dos setores de tropa da reserva e dos soldados do fronte.

Pretendeu-se realizar a desmobilização gradativamente, na medida em que setores de tropa fossem substituídos por formações de voluntários, criadas na retaguarda das tropas do fronte.

Visando à execução da campanha de recrutamento para as nossas Forças Armadas Voluntárias, foi formado pelo congresso, a partir de seu meio, um Colégio Especial de Agitação.

Porém, não pôde ficar esperando, então, pela formação das novas Forças Armadas Socialistas Regulares.

Diante do novo poder, emergiu, a partir de seu primeiro dia de vida, uma série de tarefas estratégicas impostergáveis.

Foi necessário garantir a segurança do Grande Quartel Principal, bem como ajudar os moscovitas que haviam iniciado sua luta.

Também a segurança do abastecimento de meios alimentícios provenientes da Sibéria tornou-se uma necessidade vital para a cidade de Petrogrado.

Com vistas ao cumprimento dessas tarefas, o Estado-Maior do Comitê Militar Revolucionário enviou :

 

1) para o Quartel Principal, unidades combinadas, compostas por marinheiros de Helsingfors e pelo Batalhão do Regimento da Lituânia, colocadas sob o comando geral do companheiro Ter-Arutiniants ;

2) para Moscou, unidades combinadas, compostas pelo Batalhão do 245° Regimento Finlandês e uma unidade da Guarda Vermelha de Petrogrado, com um blindado motorizado dos trabalhadores da Fábrica Putilov, colocadas sob o comando geral de Potapov e

3) para Tcheliabinsk, visando à sua defesa contra Dutov, unidades combinadas, compostas pelo Batalhão de Marinheiros de Helsingfors e pelo 17° Regimento de Infantaria da Sibéria, sob o comando geral do guarda-marinha Pavlov, ao qual o comissário Schtchukin encontrava-se adjunto.

 

A divisão de Ter-Arutiniants ocupou o Quartel Principal, sem travar luta.

A divisão de Potapov chegou com atraso em Moscou, depois de ter se apoderado, no caminho, de um trem blindado de Kerensky, à vista do qual os trabalhadores de Bologoye dilaceraram os trilhos.

A divisão de Pavlov participou da campanha prolongada – porém, vitoriosa – deflagrada contra o caudilho militar Dutov.

Orenburgo foi por nós ocupada em 16 de janeiro (RvG.:  no novo estilo, 29 de janeiro).

 

ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE

ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS

DEDICADOS À FORMAÇÃO

DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS

 

______________________________________

 

 

BREVES REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS DE

ANTONOV-OVSEIENKO, VLADIMIR A. 

 

por Rochel von Gennevilliers

 

Vladimir Alexandrovitch Antonov-Ovseienko nasceu em 1884, na cidade de Tchernigov, no seio de uma família de um comandante da reserva de regimentos de infantaria da Rússia Czarista.

Foi um dos mais ativos dirigentes da Grande Revolução Proletária Internacionalista de Outubro de 1917 e a da subseqüente Guerra Civil Russa, travada também contra a Intervenção Imperialista, entre 1918 e 1921.

Seu pseudônimo partidário foi “Schtyk” e o literário, “A. Galsky”.

Antonov-Ovseienko ingressou no movimento revolucionário russo, em 1901, quando, então, era cadete da Escola Militar de Voronez e da Escola de Engenharia Militar de Nikolaievsk.

Nesse mesmo ano, foi expulso dessas instituições militares, por recusar-se a prestar juramento de lealdade ao Czar Nikolau II.

Tornou-se membro do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR), em 1902. Em 1904 - agrupado, então, entre os mencheviques -, concluiu a Escola de Cadetes Militares de Petersburgo.

Desertou das Forças Armadas Czaristas, durante o ascenso revolucionário de 1905, passando a colaborar para a edição do jornal militar-clandestino “Kazarma (Caserna)”.

A Revolução Russa de 1905-1907 envolveu Antonov-Ovseienko em atividades desenvolvidas na cidade de Novaia Alexandra, na Polônia, onde tomou parte ativa da organização da Insurreição Armada dessa localidade.

Depois desse episódio, foi preso.

Ao ser libertado, a seguir, em virtude da concessão de uma ampla anistia, retomou a realização de seu trabalho revolucionário.

Enquanto representante da organização militar do POSDR, ingressou, em 1906, na composição do Comitê de Petersburgo.

Depois de participar da Conferência da Organização Militar do POSDR, ocorrida nesse mesmo ano, na cidade finlandesa de Tammersfors, ocupou-se com a organização da Insurreição Armada de Sebastopol.

A seguir, foi condenado com sentença de morte, convertida, então, em 20 anos de trabalhos forçados.

Porém, em junho de 1907, um grupo de mencheviques logrou libertá-lo, ao produzir um buraco na parede da prisão em que se encontrava.

Tendo conseguido fugir, passou a militar na Finlândia e, novamente, em Petersburgo, vindo a entrar em contato com a Associação  Moscovita de Editores de Livros.

Depois de mais dois encarceramentos, emigrou para a França, em 1910.

Nos anos da I Guerra Mundial Imperialista que precederam à Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, Antonov-Ovseienko atuou, juntamente, com L. D. Trotsky, na redação do jornal “Noshe Slovo (Nossa Palavra)”.

Tornou-se também Secretário do Bureau de Trabalho Partisão, sendo responsável pela edição do jornal “Golos (A Voz)”.

Em maio de 1917, regressou do exílio e, de imediato, ingressou nas fileiras do POSDR (Bolchevique), passando a exercer funções de direção da organização militar-partidária e tornando-se membro de seu Comitê Central, vindo a atuar preponderantemente na cidade finlandesa de Helsingfors (Helsinki).

Ao lado de P. I. Dybenko e I. T. Smilga, rapidamente, notabilizou-se como organizador experiente, jornalista e orador de massas.

Nos Dias de Julho de 1917, Antonov-Ovseienko foi preso pelo Governo Provisório Frente Populista e encarcerado no “Presídio das Cruzes”.

Nos dias que precederam à Revolução Proletária de Outubro de 1917, foi eleito membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de Petrogrado, presidido por L. D. Trotsky, e, juntamente, com N. I. Podvoisky e G. I. Tchudnovsky, assumiu a direção militar imediata das operações de arte proletária da Insurreição Socialista, deflagrada nessa cidade, visando à tomada do Palácio de Inverno e à prisão do Governo Provisório Frente-Populista de Kerenky e do General Krasnov.

Foi um dos principais estrategistas e comandantes militares da captura do Palácio de Inverno, tendo dirigido, pessoalmente, a Guarda Vermelha dos Trabalhadores e a Divisão dos Marinheiros de Kronstadt na execução de tal tarefa, em 25 de Outubro de 1917.

Acerca das características de Antonov-Ovseienko, ardente dirigente militar da Insurreição de Outubro, situado sob sua direta direção política, Trotsky destacou, precisamente o seguinte :

 

“Por seu caráter, Antonov-Ovseienko era um otimista impulsivo, extraordinariamente mais apto para a improvisação do que para cálculos.

Enquanto antigo oficial de patente inferior, possuía um certo volume de informação militar.

Durante a Grande Guerra, enquanto emigrante, formulou, no jornal parisiense « Nashe Slovo », análises militares e revelou, freqüentemente, possuir instinto estratégico.

Seu diletantismo impressionante nesse domínio não podia criar contrapesos às incomensuráveis divagações de Podvoisky.”[2]

 

 

Assim, o partido dirigente de Lenin, sob o comando imediato de Trotsky, foi capaz de desempenhar, em 25 de outubro de 1917,  com talento e habilidade, a Arte Proletária da Insurreção Socialista, tendo em conta as experiências práticas da Comuna de Paris de 1871 e da Insurreição de Moscou de Dezembro de 1905, observando, com triplicada audácia, as regras de atuação revolucionária de Georges-Jacques Danton e recomendadas com perspicácia proletária por Marx e Engels.[3]

 

 

O impacto da vitória revolucionária, orquestrada por Lenin, Sverdlov e Trotsky, pôde, então, ser lida nos olhos de Antonov-Ovseienko, às 2 horas e 10 minutos da madrugada, de 26 de outubro de 1917, quando, na Tomada do Palácio de Inverno, exclamou, em nome do Comitê Militar Revolucionário :

 

“- Comunico-lhes, membros do Governo Provisório, que vocês estão todos presos.”[4]

 

 

No II Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, Antonov-Ovseienko foi eleito – juntamente com P. I. Dybenko e N. V. Krylenko - membro do Comissariado Colegiado do Povo para Assuntos de Guerra e de Marinha.

Nesse contexto, Antonov-Ovseienko assumiu o posto de Comissário para a Guerra e o Fronte Interno, ao passo que Dybenko, o de Comissário para a Marinha, e Krylenko, o de Comissário para o Fronte Externo.  

No período da Guerra Civil, dirigiu o Fronte da Ucrânia, tendo mantido estreitas relações com L. D. Trotsky, durante esse período.

Tornou-se, então, Comissário do Povo da Ucrânia para a Guerra e assumiu uma série de outras obrigações de comando militar.

Em 1920, foi nomeado membro do colegiado do Comissariado do Povo para o Trabalho e, posteriormente, Vice-Presidente do Comissariado Soviético da Juventude, bem como membro do colegiado do Comissariado do Povo para Assuntos Estrangeiros.

Em 1922, voltou-se, porém, contra Lenin, acusando-o de estabelecer compromissos com os kulaks e o capitalismo estrangeiro.

Apesar disso, foi nomeado pelo Governo de Lenin, nesse mesmo ano, Chefe da Administração Política das Forças Armadas Vermelhas, função que exerceu até o início de 1924.

Entre 1922 e 1924, exerceu também a função de chefe da Direção Política do Conselho Revolucionário da República Russa Soviética.

Integrou o Conselho Revolucionário de Guerra da Rússia Soviética, juntamente com L. D. Trotsky, M. V. Frunze, K. A. Mekhonoschin, V. I. Nevsky, A. I. Okulov, F. F. Raskolnikov e I. T. Smilga.

Já em fins de 1923, Antonov-Ovseienko aderiu à Oposição de Esquerda, encabeçada por L. D. Trotsky.

Em virtude disso, foi prontamente afastado de seu comando militar pela troika burocrática e contra-revolucionária de Stalin, Kamenev e Zinoviev e removido, em 1925, do cenário da luta política, travada no interior da URSS.

Nesse ano, foi transferido por Stalin para a função de Representante Político da URSS, na Tchecoslováquia.

Antonov-Ovseienko permaneceu nas fileiras da Oposição de Esquerda até 1928, quando, então, capitulou ao stalinismo burocrático contra-revolucionário, sem que Stalin jamais nele viesse a devidamente confiar para a cega execução de seus planos ditatoriais-sanguinários.

Em 1928, foi, então, no cargo de Representante Político da URSS, enviado para Lituânia e, a partir de janeiro de 1930, para a Polônia.

A seguir, tornou-se Cônsul Geral da URSS, em Barcelona, na Espanha.

Nesse último contexto, cooperou com a articulação da intervenção de dirigentes stalinistas contra-revolucionários na sustentação do Governo de Frente Popular e Colaboracionista da Espanha.

Aparentemente persuadido pela suposta veracidade das provas falsificadas por Stalin nos autos do “Processo contra os 17 Assassinos Trotskystas-Zinovievistas de Sergei Minovitch Kirov” – em verdade, assassinado pelo próprio Stalin e seus agendes da NKVD -, processo esse encenado, em 1936, na “Sala de Outubro da Casa dos Sindicatos”, sobretudo contra Kamenev e Zinoviev, Antonov-Ovseienko posicionou-se, no âmbito do Tribunal Supremo do Colégio Militar e em artigo publicado então no jornal “Izvestia (Notícias)” em que repudiava suas “ilusões trotskysta”, em favor da punição de todos os acusados pela burocracia contra-revolucionária.[5]

 

Isso não impediu que Stalin se convencesse, a seguir, definitivamente, de que Antonov-Ovseienko conspirava contra suas ordens e, em fins de agosto de 1937, exigiu seu retorno à URSS, quando, sob o pretexto de destituí-lo de suas funções militares na Espanha, nomeou, dissimuladamente, Comissário do Povo para a Justiça da URSS.

Poucas semanas depois, na noite de 11 de outubro de 1937, foi preso em sua casa em Moscou, sob a acusação de prática de « crime contra o Estado Soviético » e encarcerado nos Presídios de Lubianka e, então, Butyrka.

Como se negasse inflexivelmente a assinar a confissão de culpa, falsificada por Stalin e Vyschinsky, foi por estes condenado, em 8 de fevereiro de 1938, a 10 anos de prisão. 

Em fins desse mesmo ano, em meio ao paranóico morticínio organizado por Stalin contra os principais dirigentes da Revolução Proletária de Outubro de 1917,  Antonov-Ovseienko  foi torturado até que se produzisse a sua morte.

Algumas fontes soviéticas afirmam que, em verdade, teria sucumbido em 1939.

Acerca do extermínio stalinista dos principais dirigentes militares da Revolução de Outubro e Criadores das Forças Armadas Vermelhas – entres eles, em primeira linha, Antonov-Ovseienko, escreveu Trotsky, de maneira plenamente elucidativa :

 

“Em 1923, a editora do Comitê Executivo Central dos Sovietes publicou um volume de 400 páginas intitulado “A Cultura Soviética”.

Na seção dedicada às Forças Armadas, foram inseridos inúmeros retratos dos «Criadores das Forças Armadas Vermelhas».

Stalin não se encontra entre eles.

No capítulo intitulado “As Forças Armadas da Revolução durante os Primeiros Sete Anos de Outubro”, o nome de Stalin não é sequer mencionado.

Aí, são referidas e ilustradas as seguintes personalidades : Trotsky,  Budenny, Blücher, Voroshilov e, além disso, mencionados Antonov-Ovseienko, Bubnov, Dybenko, Yegorov, Tukhatchevsky, Uborevitch e outros, sendo que quase todos eles foram, a seguir, declarados inimigos do povo e assassinados.

Entre os mencionados, apenas dois – Frunze e S. Kamenev – tiveram uma morte natural.

Também Raskolnikov foi mencionado, enquanto comandante do Báltico e das Frotas do Cáspio.”[6]

 

 

Após a sua morte, o “trotskysta, inimigo do bolchevismo” Antonov-Ovseienko foi amplamente caluniado pelos lacaios e historiadores do burocratismo contra-revolucionário de Stalin, vindo a ser qualificado mais genericamente de « inimigo do povo ».

De maneira hipócrita e praticamente inexpressiva, foi reabilitado por Khrushtchov e Mikoian, no quadro do XX. Congresso do PC da URSS, ocorrido em 1956.

A extensa obra literário-militar de Antonov-Ovseienko, suas centenas de publicações jornalísticas, ensaios, análises e perspectivas permanecem, ainda hoje, pouco conhecidos do grande público, interessado na história da Revolução Proletária de Outubro de 1917.

 

 

ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE

ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS

DEDICADOS À FORMAÇÃO

DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS



[1] Cf. ANTONOV-OVSEIENKO, VLADIMIR ALEXANDROVITCH. Der Aufbau der Roten Armee in der Revolution (A Construção das Forças Armadas Vermelhas na Revolução), in : Kleine Bibliothek der Russischen Korrespondenz, Nr. 84-88, Verlag Carl Hoym Nachf. Louis Cahnbley, Hamburg 8, 1923, pp. 3 e s.  

[2] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revolução Russa)(1930-1933), Volume II, Segunda Parte, Oktiabrskoe Vosstanie (A Insurreição de Outubro), Moscou : Terra – Respublika, 1997, p. 267.

[3] Nesse sentido, vide ENGELS, FRIEDRICH. Revolution und Konterrevolution in Deutschland (Revolução e Contra-Revolução na Alemanha) (Agosto de 1851 - Setembro de 1852), Cap. 17: Der Aufstand (A Insurreição) (Agosto de 1852), in: ibidem, Vol. 8, pp. 95 e s.; LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Markiszm i Vosstanie(Marxismo e Insurreição)(13-14.09.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 242 e s.; IDEM. Soviety Postoronnevo (Conselhos de um Ausente)(08.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 382 e s. Para um estudo mais amplo acerca do tema, vide CIENFUEGOS, ANÍBAL & ROCHEL VON GENNEVILLIERS, CASTELNAU. A Arte da Insurreição Socialista. Aspectos Introdutórios, Moscou – Buenos Aires - São Paulo - Paris : Escola de Agitadores e Instrutores “Universidade Comunista Revolucionária J. M. Sverdlov” para a Organização e Direção Marxista-Revolucionária do Proletariado e de seus Aliados Oprimidos , 2001, pp. 7 e s.    

[4] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revoluçao Russa)(1930-1933), Vziatie Zimnevo Dvortsa (A Tomada do Palácio de Inverno), Vol. 2, Parte 2, Moscou : Terra – Respublika, 1997, pp. 261 e s.    

[5] Acerca do tema, vide ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 166 e 167. 

[6] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH. Stalin (1941), Vol. II, Cap.: Grajdanskaia Voina(A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 58.