ACADEMIA VERMELHA DE
ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :
A ARTE
PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA
ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS
Considerações sobre o Surgimento do Livro
“A Insurreição Armada : Tentativa de uma
Apresentação Teórica”
ERICH WOLLENBERG[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers
Fevereiro 2005 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/ArteCapa.htm
No inicío de 1928,
Ossip
Piatnitsky, secretário de organização do Komintern, convocou-me para comparecer em seu
gabinete[2].
Naquela época, eu
era um trabalhador científico do Instituto Marx-Engels de
Moscou,
sendo que dirigia seu Setor Militar e ministrava aulas nas
escolas militares em que comunistas alemães eram formados como especialistas de
insurreições[3].
Na conversação que
entretivemos, tomaram parte, além de Piatnitsky, o General de Exército Unschlicht
- segundo representante do Comissariado do Povo para a Defesa e
coordenador das ligações mantidas entre o Estado-Maior Geral das Forças Armadas
Vermelhas e o Komintern - , bem como “Ercoli”,
i.e. Palmiro
Togliatti, dirigente do Agitprop (Divisão de Agitação e
Propaganda) do Komintern, e dois ou três altos oficiais soviéticos que, tal
como eu, ensinavam nas escolas militares para comunistas alemães[4].
Além desses,
participaram ainda, nessa ocasião, alguns trabalhadores do Komintern.
Piatnitsky esclareceu-nos o objetivo de nossa conversação.
O livro publicado
ilegalmente na Alemanha, intitulado “Alfred Langer, O Caminho da Vitória. A Arte da Insurreição Armada”, constituiria, segundo ele, um manual
extraordinário para a formação de quadros, segundo a maneira
marxista-leninista.
O livro em tela havia sido publicado, de maneira
clandestina, pela primeira vez, na Alemanha, em 1928, sendo editado
pela segunda vez em 1931.
Foi, em verdade, o trabalho de uma equipe de
especialistas militares comunistas alemães, realizado em Moscou, sob a direção de “Alfred”
- epíteto de Ture Lehen, militar
finlandês, a seguir, oficial das Forças Armadas Vermelhas.
“Alfred” havia sido
enviado a Piatnitsky, no Komintern, a partir das fileiras do Exército Vermelho.
De início, todos os nomes dos colaboradores na redação
desse livro - também o epíteto “Walter” (RvG.: nome de guerra de Erich
Wollenberg) deveriam ser nomeados na capa.
Tendo em conta, porém, que, para um escrito relativamente
pequeno, surgiria um nome terrivelmente extenso,
acordamos, então, na utilização do nome “Alfred Langer”.
Segundo Piatnitsky,
uma nova edição mais aprimorada e completada haveria de ser, agora, preparada.
Além disso,
haveria chegado o momento de publicar um livro popular sobre a Insurreição
Armada, destinado a atingir as mais largas camadas de comunistas e
simpatizantes.
Para tanto,
demonstrar-se-ia como apropriado o material de ensino elaborado pelo Estado-Maior
das Forças Armadas Vermelhas para as escolas militares de comunistas
alemães.
Os diversos
capítulos do novo livro deveriam ser entregues pelo Estado-Maior em
refererência ao companheiro Ercoli (Togliatti) que se
responsabilizaria pela composição e pela rápida publicação do material.
O novo livro
deveria chamar-se “A Insurreição Armada”, também com vistas a diferenciar-se do “Livro-Langer”.
Para impedir a suspeita
de intromissão da União Soviética nas matérias internas dos outros países,
dever-se-ia renunciar às importantes experiências das insurreições armadas de
1919, na Hungria e na Baviera que conduziram à formação de
forças armadas vermelhas e à tomada do poder pelo proletariado.
Tratava-se aqui seja do livro de um comunista húngaro -
cujo nome, no momento, não me recordo – seja do meu livro, lançado pela Editora
Militar Estatal, em 1928 - 2a. Ed. 1931 -, intitulado ”Boí
Bavarskoi Krasnoi Armii (As Lutas do Exército Vermelho Bávaro)”.
O novo livro
haveria de ter também o nome de um “autor”, naturalmente nenhum nome em
russo ou de um quadro comunista qualquer.
Na medida em que
deveria ser publicado, em primeira linha, em língua alemã e surgir como um novo livro sobre a insurreição armada,
escolhemos o nome Neuberg, colocando ainda um “A.” diante do nome de família.
Um “B.” teria prestado o mesmo serviço.
Pode parecer
surpreendente que um livro comunista ilegal tenha de possuir um “nome de
autor” e, além disso, o de uma “editora”.
Na edição alemã,
que porta adicionalmente o título : “Tentativa
de uma Apresentação Teórica”, surge ainda a seguinte indicação : “1928. Impressão e Editora Otto Meyer,
Zurique”.
Essas referências
possibilitam ao companheiro, junto ao qual for encontrado esse “Livro de
Alta Traição”, destacar que o teria comprado em uma assembléia ou
manifestação pública de um livreiro desconhecido, com a boa fé de que se
tratava de uma publicação legal.
Nessa introdução
ao “Livro-Neuberg”,
coloquei-me a seguinte tarefa :
1. demonstrar os contextos
políticos que conduziram às diferentes insurreições ;
2.
desmarcarar certas
manipulações que, “no interesse do Estado Soviético, do Komintern e dos
respectivos núcleos dirigentes de determinados Partidos Comunistas”, foram
efetuadas na descrição dos eventos revolucionários.
Além disso,
designei com nomes, por mim conhecidos, os autores individuais dos diversos
capítulos.
Os dois primeiros
capítulos, intitulados “A II
Internacional e a Insurreição” e o “Bolchevismo e a Insurreição” foram redigidos por Ossip
Piatnitsky.
Nada acrescentei
às exposições desse bolchevique da velha guarda que já militava em prol da
revolução, há vários anos antes da eclosão da I Guerra Mundial.
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU -
______________________________________
BREVES REFERÊNCIAS
BIOGRÁFICAS DE
PIATNITSKY,
OSSIP ARONOVITCH
por
Rochel von Gennevilliers
Ossip
A. Piatnitsky foi o pseudônimo
partidário de Iossif Aronovitch Tarschisse que utilizou ainda os
pseudônimos “Freitag” e “Mikhail Sonntag”.
Piatnitsky
nasceu em 1882, na
cidade de Villekomire, região de Kovno, na Lituânia
Czarista, no seio de uma família hebraico-operária.
Em
1895, por ocasião da morte de seu pai, Piatnitsky abandonou a
escola e tornou-se aprendiz de alfaite. Trabalhou, inicialmente, então, como
alfaite e eletricista, em Kovno e Vilno, entre 1897
e 1902.
Ingressou
nas fileiras do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR),
por ocasião de sua fundação, em 1898.
Em
1901, tornou-se propagandista do jornal “Iskra (A Centelha)”, dirigido
por V. I. Lenin. Preso, em 1902, conseguiu fugir da Prisão
de Kiev logo a seguir, dirigindo-se, então, para a Alemanha.
Acerca
desse episódio, Léon Trotsky fez questão de destacar,
nitidamente:
“Piatnitsky
relatou como, depois de sua prisão em Vilno, em 1902, a polícia propôs que
fosse ele - então um trabalhador ainda inteiramente jovem – enviado para a sede
da Polícia Distrital, renomada por seus espancamentos, a fim de o forçarem a
prestar testemunho.
Porém,
o policial mais velho respondeu :
«Também
lá, ele não dirá absolutamente nada. Ele pertence à organização do Iskra».”[5]
Depois
do II Congresso do POSDR de 1903, Piatnitsky aderiu
ao bolchevismo e retornou à Rússia, em 1905, tornando-se um dos
organizadores das lutas insurrecionais de Odessa e membro do Comitê
do POSDR dessa cidade.
Foi
novamente preso em 1906.
Depois
de sua libertação, dirigiu-se para Moscou. Tornou-se, então,
nessa cidade um dos organizadores do trabalho clandestino dos bolcheviques.
Novamente
preso, em janeiro de 1908, conseguiu emigrar, após sua libertação, ocorrida no
final desse mesmo ano, para Geneva e, depois, para Leipzig.
Tornou-se,
então, um dos principais organizadores no exterior da difusão das publicações
bolcheviques na Rússia.
Piatnitsky
interviu como delegado,
na VI Conferência do POSDR (Bolchevique), ocorrida em Praga,
em janeiro de 1912, a qual consagrou a ruptura dos bolcheviques com o
menchevismo-liquidacionista, extinguindo o sistema de frações públicas, até
então existente no interior desse Partido.
No
outono de 1912, regressou à Rússia e passou a trabalhar como
eletricista, impulsionando, concomitantemente, a organização do trabalho
clandestino bolchevique, nas cidades de Volsk e em Samara,
situadas na região do Volga.
Preso
em junho de 1914, foi exilado na Sibéria, onde permaneceu de
março de 1915 a março de 1917.
Depois
da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, Piatnisky regressou
à Moscou, onde tornou-se membro do Comitê Municipal do
POSDR (Bolchevique) e de seu Comitê Executivo.
Participou
ativamente da Insurreição Socialista de Outubro, na cidade de Moscou.
A
seguir, tornou-se renomado dirigente do movimento sindical russo e foi eleito
suplente do Comitê Central do PCR (Bolchevique), em
1920 e 1921.
Tornou-se
quadro profissional do Partido Comunista da Rússia (Bolchevique) e
da Internacional Comunista (Komintern), já no início de 1921.
A
partir de 1921, tornou-se representante do Departamento de Relações
Internacionais do Komintern (OMS), sendo o principal encarregado pela
criação de centros clandestinos em diversos países, estruturação do transporte
ilegal de quadros e militantes do Komintern e supervisão da
produção de falsos documentos e publicações.
Aderindo
ao stalinismo burocrático-soviético contra-revolucionário, tornou-se membro do Comitê
Executivo Central do PCR (Bolchevique), entre 1924 e 1937.
Na Internacional
Comunista (Komintern), Piatnitsky exerceu o cargo de responsável pelas
finanças, entre 1921 e 1935, bem como o de Secretário do Comitê Executivo
Internacional, entre 1922 e 1935.
Nessa
condição, foi o organizador direto, a partir de 1924, da stalinização do Partido
Comunista Alemão (PCA) e de tantos outros.
Foi
membro do Comitê Executivo do Komintern, entre 1924 e 1935,
membro de seu Secretariado Político, entre 1926 e 1935, e
integrou a sua Presidência, entre 1928 e 1935.
Piatnitsky
foi o principal
organizador da obra A. Neuberg “A Insurreição Armada. Tentativa de uma Apresentação
Teórica”, surgida,
pela primeira vez, em 1928 e, efetivamente, dedicada à difusão da ideologia
stalinista do Terceiro Período, em todo mundo.
Foi
executado, em 1938, sob as acusações de “inimigo do povo” e
“sabotador terrorista trotskysta”, no quadro brutalmente
contra-revolucionário da assim chamada “Depuração Stalinista” – dirigida por
Stalin
e seus prosélitos – a qual exterminou massivamente com a vida de milhares de
revolucionários bolcheviques, companheiros indobráveis de luta de Lenin,
Sverdlov e Trotsky durante as jornadas da Revolução Proletária
Socialista-Internacionalista de Outubro e da subseqüente Guerra
Civil Russa contra o Capital, o Latifúndio e o Imperialismo
Intervencionista.
Trotsky
assinalou o seguinte
acerca das atividades revolucionárias de Piatnitsky, precisamente
anos antes da eliminação desse último pelas forças contra-revolucionárias do
stalinismo :
“Em suas memórias, formuladas cuidadosamente e, em
geral, de modo inteiramente
consciencioso, as quais abarcam o período de 1896 a 1917, Piatnitsky - que
esteve ininterruptamente em contato com a inteira história do Partido, tanto
com o seu corpo de comando estrangeiro quanto com a sua representação ilegal na
Rússia, tanto com os literatos quanto com os transportadores clandestinos –
fala sobre todos os bolcheviques proeminentes, porém jamais menciona o nome de
Stalin : esse nome não é nem sequer incluído no índice do final do livro.
Esse fato merece a maior atenção, porque Piatnitsky
estava longe de ser hostil a Stalin.
Pelo contrário, permanece, até o presente momento, no
segundo escalão que o rodeia.”[6]
UNSCHLICHT,
IOSSIF STANISLAVOVITCH
por
Rochel von Gennevilliers
Iossif Stanislavovitch Unschlicht foi um bolchevique
da velha guarda e revolucionário profissional.
Nasceu em 1879, na cidada de Mlava, na Polônia,
e ingressou nas fileiras do Partido Operário Social-Democrático Russo(POSDR), em 1900.
Em
virtude de suas atividades revolucionárias, sofreu inúmeras prisões e foi por
três vezes desterrado.
Unschlicht
gozou de grande
popularidade entre os trabalhadores de Varsóvia, Lodzi e outras
cidades da Polônia.
Em
1914, ao eclodir a I Guerra Mundial Imperialista, foi detido em Moscou.
Em
1916, o Tribunal de Alçada dessa cidade condenou-o ao exílio, em
um assentamento na aldeia de Tutur, na Província de
Irkutsk.
Poucas
semanas antes da vitória da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro
de 1917, fugiu de seu cativeiro, em Tutur.
Permaneceu,
a seguir, em ativo contato com militantes bolcheviques locais dessa região.
Depois da derrubada da autocracia czarista, em fevereiro de 1917, tornou-se
membro do Comitê Executivo de Irkutsk.
Em
abril do mesmo ano, chegou a Petrogrado, onde foi eleito membro
do Soviete de Deputados Trabalhadores e Soldados dessa cidade.
Nos Dias
de Julho, foi preso pelo Governo Provisório Frente-Populista
e encarcerado em penitenciária.
Depois
de sua libertação, participou da preparação da Insurreição Socialista de
Petrogrado.
No
quadro da Revolução Proletária de Outubro, Unschlicht
tornou-se membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de
Petrogrado – presidido por Pavel Lazimir –, órgão militar esse
siituado sob a presidência geral do Soviete Petrogrado, exercida por Léon
D. Trotsky.
Nos
primeiros meses de 1918, ocupou-se com a organização da defesa da cidade de Pskov,
assediada pelas forças militares do imperialismo alemão.
A
seguir, tornou-se membro do Comissariado do Povo para Assuntos Internos.
No
final de 1918, comandou atividades de luta deflagradas contra a ocupação das tropas
alemães na cidade de Minsk, na Belorússia.
Aqui,
foi eleito membro do Comitê Central do Partido Comunista da Lituânia e da
Belorússia (PCLB) e assumiu o posto de Comissário do Povo para
Assuntos de Guerra da então emergente República Soviética Belorussa-Lituana.
Em 27
de abril de 1919, Unschlicht foi nomeado membro do Conselho
Militar-Revolucionário do 16° Exército e, em dezembro, membro do Conselho
Militar-Revolucionário do Fronte Ocidental.
Em
abril de 1921, tornou-se Vice-Presidente da Polícia Política
Soviética (Tcheka - Comissão
Extraordinária), posto que ocupou até o outono de 1923.
Depois disso, foi nomeado membro do Conselho Supremo Militar Revolucionário da URSS.
Tendo aderido ao stalinismo burocrático-soviético
contra-revolucionário, em 1924, empreendeu, juntamente, com Mikhail Frunze – esse último
adepto de Zinoviev e Kamenev e sustentador de sua política de Troika,
mantida
com Stalin - medidas de reforma do sistema
militar.
Em sua
implacável luta contra o burocratismo soviético-stalinista que penetrava no
interior do Comissariado do Povo para a Guerra, Léon
Trotsky referiu-se a Unschlicht, da seguinte maneira :
“O
primeiro golpe no Departamento da Guerra foi desferido contra Sklyansky.
Foi ele
que sobretudo teve de suportar a vingança de Stalin por seus próprios revéses
em Tsaritsyn, seu fracasso no Fronte do Sudeste e sua aventura em Lvov.
A
intriga soerguia para o alto a cabeça da serpente.
Visando
a minar as posições havidas sob Sklyansky – e, no futuro, as minhas próprias –
foi instalado diante dele, no Departamento da Guerra, pouco meses antes,
Unschlicht, um intrigante ambicioso e deprovido de talento.
Sklyansky
foi demitido.
Em seu
lugar, foi nomeado Frunze, que se encontrava no comando dos exércitos da
Ucrânia.”[7]
Em
janeiro de 1925, por ocasião da nomeação de Frunze como Comissário
do Povo para a Guerra – em substituição a Léon Trotsky –
e Presidente do Conselho Militar-Revolucionário da URSS, Unschlicht foi
indicado para assumir o cargo de Vice-Presidente desses órgãos de
direção militar do Estado Soviético, já em processo
de crescente e irreversível burocratização.
Nesse
posto, permaneceu até junho de 1930.
A seguir, alcançou
a patente de General do Exército Vermelho e tornou-se coordenador da conexão
mantida entre o Estado-Maior Geral desse exército e a Internacional
Comunista (Komintern).
Após
a morte de Felix Dzerjinky, ocorrida
em 1926, foi nomeado, além disso, chefe da Polícia Política Soviética (Tcheca).
Por
fim, sob as traiçoeiras acusações de “inimigo
do povo” e “sabotador terrorista trotskysta”, formuladas por Stalin
e seus asseclas, foi liquidado, em lugar e circunstâncias inteiramente
desconhecidas, durante a “Depuração Stalinista” dos anos de 1936
a 1938, que aniquilou massivamente a vida de milhares de revolucionários
bolcheviques, antigos companheiros indobráveis de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky.
WOLLENBERG,
ERICH
por
Rochel von Gennevilliers
Erich
Wolleberg nasceu em 1892, na Alemanha.
Seu pai exerceu a profissão de médico.
Após
concluir seus estudos secundários, decidiu-se também por estudar medicina.
Recrutado,
porém, em 1914, para combater na I Guerra Mundial Imperialista,
veio a alcançar o posto de tenente nas Forças Armadas do Império Alemão
(Reichswehr) e foi ferido, por cinco vezes.
Em
1918, no encerramento dessa conflagração bélica mundial, ingressou
nas fileiras do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD)
e
defendeu posições manifestamente pacifistas.
A
seguir, participando da Revolução Democrático-Burguesa Alemã de Outubro
de 1918, comandou um destacamento de marinheiros revolucionários, na
cidade de Könisberg.
Em
abril de 1919, colocando-se em favor da defesa da Revolução Bávara, tornou-se
um dos comandantes do Exército Vermelho do Norte da
República Soviética da Baviera e atuou nas lutas travadas contra o Exército
Branco, de Friedrich Noske e Gustav Noske.
Entre
maio de 1919 e março de 1922, foi preso e foragiu-se, por diversas vezes.
No
curso desses meses, enriqueceu sua prática revolucionária com a teoria
marxista-revolucionária do socialismo científico.
Entre
1922 e 1923, atuou como jornalista em Könisberg, dedicando-se às tarefas
de agitação política, no quadro do Partido Comunista da Alemanha (KPD),
junto à juventude proletária, estivadores e ferroviários, pequenos camponeses e
trabalhadores rurais dessa cidade, bem como ocupou-se com atividades
propagandistas e organizativas entre as fileiras das Forças Armadas do
Império Alemão (Reichswehr).
No fim
de abril de 1923, transferiu-se de Könisberg para a região do Ruhr
e realizou trabalho clandestino de agitação entre as tropas francesas e belgas,
acionadas na Ocupação do Vale do Ruhr, na Alemanha.
Aqui,
militou entre mineiros, metalúrgicos, jovens socialistas e comunistas, soldados
franceses e belgas da ocupação, difundindo a linha política do jornal “Humanité
du Soldat (A Humanidade do Soldado)”, editado pela secretária da Internacional
Comunista da Juventude (III Internacional) e do Partido Comunista
Francês (PCF).
Durante
o todo o verão de 1923, participou de manifestações revolucionárias
internacionalistas de luta contra a ocupação franco-belga do Vale
do Ruhr e o Governo Burguês Alemão, clamando por “Golpear Poincaré e
Cuno, no Ruhr e na Spree !”
Foi um
dos principais articuladores, em abril de 1923, da transformação da Greve
Geral de Bochum, no Vale do Ruhr – na qual tomam parte
cerca de 500.000 mineiros e metalúrgicos -, em insurreição armada
proletária.
A
direção do Partido Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich
Brandler e Ruth Fischer – por entender se tratar essa insurreição de um
ato inteiramente precipitado, ultra-esquerdista e provocativo, exigiu que Wollenberg
contribuísse para o desarmamento dos trabalhadores revolucionários do Vale
do Ruhr.
Em
agosto de 1923, é nomeado pelo Comitê Central do Partido Comunista da
Alemanha (KPD), pela III Internacional e pelo Estado-Maior
das Forças Armadas Vermelhas da URSS, dirigente supremo político-militar,
responsável pela Alemanha do Sudoeste, sendo encarregado das operações de luta
em Württemberg,
Baden, Hessen e, em parte, na Baviera, objetivando à preparação de
uma insurreição armada proletária ainda no curso do mesmo ano.
Frustada
a insurreição em tela pela direção centrista-oportunista do Partido
Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich Brandler e
Karl Radek –, Wollenberg
refugiou-se, em abril de 1924, na URSS, onde efetuou
estudos militares junto à Escola Militar do Estado-Maior das Forças
Armadas Vermelhas, em Moscou.
Entre
1924 e 1927, exerceu diversos postos de comando nas Forças Armadas
Vermelhas, tanto no interior na URSS quanto no exterior.
Tendo
capitulado à contra-revolução operário-burocrática stalinista, por intermédio
de Bukharin,
tornou-se, em 1928, especialista militar do Instituto Marx-Engels de
Moscou,
vindo
a dirigir seu Gabinete Militar.
Ministrou aulas nos cursos militares em que lutadores
alemães eram formados como especialistas em insurreições armadas proletárias.
Em fins
dos anos 20, aderiu à Oposição Soviética de Direita,
protagonizada por Bukharin, Rykov, Tomsky e outros.
Conseguindo
regressar à Alemanha, foi dirigente, no quadro do Partido Comunista da Alemanha
(KPD), da Liga dos Lutadores do Fronte Vermelho na Alemanha (Roter
Frontkämpferbund), de abril de 1931 a dezembro de 1932,
combatendo o ascenso nazista e permanecendo crítico, porém, em face da política
stalinista de então, protagonizada por Ernst Thälmann e seus adeptos,
consistente em contemplar a Social-Democracia Alemã enquanto
expressão fática do social-fascismo e principal inimigo a ser derrotado.
A
seguir, foi novamente encarcerado e, mais uma vez, liberado.
Opôs-se,
então, ativamente à linha stalinista de aliança eleitoral, selada, no quadro do
“Referendo
Prussiano Vermelho de 21 de julho de 1931”, entre o Partido
Comunista da Alemanha(KPD), o Partido Nazista de Hitler (NSDAP), o
Partido Nacional Alemão de Hugenberg (NDP) e os Capacetes
de Aço de Hindenburg (Stahlhelm), com forma de derrubar o
Governo de Frente-Popular, encabeçado pela Social-Democracia
Alemã.
Opôs-se
resolutamente à política stalinista de realização de “greve comum”, encabeçada
pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) em conjunto com o Partido Nazista de
Hitler (NSDAP), em novembro de 1932, contra a administração municipal
social-democrática, na cidade de Berlim.
Depois
da tomada do poder por Hitler na Alemanha, por criticar,
desde uma perpectiva trotskysta, a direção stalinista burocrático-contra-revolucionária
do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e do Komintern Stalinista, foi
expulso dessas organizações, em 4 de abril de 1933, juntamente com Felix
Wolf.
Aproximou-se
do trotskysmo, em 1934.
Foragido
na cidade de Praga, em julho de 1934, organiza um grupo de oposição
trotskysta no interior do Partido Comunista da Tchecoslováquia (CKP).
Durante
o período da Grande Depuração Stalinista, foi intensamente perseguido pela NKVD
(Polícia Secreta Stalinista), sob a acusação de liderar - juntamente
com o revolucionário alemão Max Hoelz - o “centro terrorista-trotskysta
contra-revolucionário”.
Emigrou,
em agosto de 1938, para a França e colaborou, militarmente, com
diversos grupos guerrilheiros anti-nazistas, até ser preso em 1940.
Tendo
conseguido fugir do campo de concentração Le Vernet, por contar com o auxílio
de alguns oficiais franceses, dirigiu-se para Casablanca e aí
participou da Resistência de Marrocos.
Mesmo
perseguido intensamente pelos serviços secretos stalinistas e nazistas, seu pedido
de ingresso nos EUA como refugiado político é rejeitado pelo Consulado
Norte-Americano, em outubro de 1941, a despeito de ter recebido, em
janeiro do mesmo ano, 1.200 francos do Centro Americano de Recursos para
poder organizar sua fuga em direção ao México.
Mais
uma vez preso, foi libertado pelo desembarque aliado e veio a tornar-se,
temporariamente, em 1946, correspondente de imprensa dos Estados-Unidos
na Baviera para assuntos concernentes à desnazificação.
A
seguir, passou a trabalhar como jornalista e autor independente.
Em 5 de
abril de 1971, aos 79 anos, referindo-se à sua profissão de fé revolucionária,
assinalou ter permanecido fiel à luta aberta contra o nazismo e o stalinismo, “contra
Hitler e Stalin”, esses “dois irmãos hostis”, e em favor de
um “socialismo
com face humana” que, segundo o próprio Wollenberg,
corresponderia às concepções de Marx, Engels, Rosa Luxemburg, Lenin e
Bukharin”[8].
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES -
MUNIQUE – PARIS
[1] O presente texto em língua portuguesa foi traduzido do
idioma alemão conforme NEUBERG, A.
Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung (A Insurreição
Armada. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Eingeleitet von Erich
Wollenberg (Introduzido por Erich Wollenberg), Frankfurt a.M. : Europäische
Verlanganstalt, 1971, pp. III e s.
[2] Assinale-se, de passagem, que Ossip
A. Piatnitsky foi liquidado, então, em 1938, por Stalin e seus asseclas,
no quadro brutalmente contra-revolucionário de sua assim chamada “Depuração
Stalinista” que exterminou massivamente com a vida de milhares de
revolucionários bolcheviques – acusados de “inimigos do povo”, “sabotadores terroristas
trotskystas”, “espiões nazistas” “dissidentes
desorganizadores” etc. - , em verdade, porém, companheiros indobráveis
de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky durante as jornadas da Revolução
Proletária Socialista-Internacionalista de Outubro e da subseqüente Guerra
Civil Russa contra o Capital, o Latifúndio e o Imperialismo
Intervencionista.
[3] O historiador Hermann Weber refere-se, por
diversas vezes, a Wollenberg ao tratar de questões relativas à preparação e execução
de insurreições. Nesse sentido, vide WEBER, HERMANN, Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht.
Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa Luxemburg a Walter Ulbricht.
Mudanças do Comunismo Alemão), Hanover, 1961, pp. 28 e s. Acerca de Erich
Wollenberg, Pierre Broué escreveu: „Erich Wolleberg. Nascido em 1892.
Filho de médico. Estudante de medicina. Recrutado em 1914 : tenente, por cinco
vezes ferido. No Partido Social-Democrático Alemão Independente(USPD), em 1918.
Comandou um destacamento de marinheiros revolucionários, em Könisberg. Um dos
comandantes do Exército Vermelho da Baviera, em 1919. Preso e foragido, por
diversas vezes. Transferido de Könisberg para o Ruhr, em 1923. Responsável
político-militar do sudoeste, no verão de 1923. (Estudos militares em Moscou.
Exerceu diversos comandos no Exército Vermelho, até 1927. De novo na URSS,
lecionou a partir de 1928. Chefe clandestino dos combatentes do Fronte Vermelho
na Alemanha, em 1931. Novamente preso. Critíca a direção: excluído, em 1933,
com Felix Wolf. Emigra para a França, em 1934. Colabora com diversos grupos
anti-nazistas. Preso em 1940. Foragido, participa na Resistência de Marrocos.
Preso e libertado pelo desembarque aliado. Funcionário de imprensa dos
Estados-Unidos na Baviera, em 1946. Jornalista independente.).” Cf. BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne.
1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, p. 935. Cumpre, porém, destacar que,
ao longo de sua obra retro-mencionada, Broué refere-se muito escassamente a
Erich
Wollenberg. À página 661, Broué assinala, porém : “Ruth
Fischer escreve que, no dia posterior à aparição dessa manchete no “Die Rote
Fahne”(i.e. em a “Bandeira Vermelha”, órgão jornalístico do Partido Comunista
Alemão <KPD>)(obs.: Broué refere-se aqui à manchete da edição de 23 de
fevereiro de 1923, consistente em “Golpear Poincaré e Cuno no Ruhr e na Spree
!”), Radek afastou os dois jornalistas por ela responsáveis, dentre os quais
Gerhard Eisler, e levou a que fosse retomado o título com a seguinte
modificação “Contra Cuno na Spree e no Ruhr contra Poincaré”. Em nenhum número
do “Die Rote Fahne” encontramos uma tal manchete. Além disso, Ruth Fischer diz
sobre a manchete que ela rimava e era apresentada em duas linhas : “Contra Cuno
e Poincaré no Ruhr e na Spree”, o que não é o caso. Em sua entrevista sobre o
ano de 1923, Erich Wollenberg transmitiu à Buchot
praticamente a mesma referência, porém substituindo o nome de Radek
pelo de Thälmann, apresentando este como membro do Bureau
Político, enquanto que Thälmann não deve ter entrado na
direção central senão três meses depois(p. 661).” Referindo-se à preparação da Insurreição
Alemã de Outubro de 1923, Broué funda sua narrativa histórica
na obra de BAJANOV, B. Avec Staline dans le Kremlin(Com Stalin no
Kremlin), Paris, 1930, pp. 190 e s., e, muito mais amplamente, na de WENZEL, OTTO. Die Kommunistische Partei Deutschlands im Jahre 1923(O Partido
Comunista da Alemanha no Ano de 1923), Tese, Universidade Livre de
Berlim, 1955, pp. 193 e s. Quanto a Otto Wenzel, Broué assinala que esse
historiador teria “seguido bastante de
perto as informações fornecidas por Erich Wollenberg(p. 720)”. Páginas a seguir, Broué, apoiando-se repetidamente nas
indicações prestadas por Wollenberg, assinala :
“Freqüentemente, tem-se exagerado o número de oficiais e técnicos russos
enviados para a Alemanha, a fim de dinamizar a insurreição projetada: Wilhelm
Zaisser, passado para o lado dos partisãos ucranianos em 1918, um dos
dirigentes dos combates do Ruhr de 1919 e 1920(na Espanha, ele será o General
Gomez), Albert Schreiner, conhecido sob o nome de Baumann(na Espanha, ele será
o Major Schindler), Hans Kahle(na Espanha, ele será o Coronel Hans), Erich
Wollenberg, combatente da velha guarda do Exército Vermelho da Baviera, Artur
Illner, Albert Gromulat, o jovem Hans Kippenberger, tenente da reserva - um dos
mais devotados e mais intrépidos responsáveis do aparelho clandestino do
PCA(KPD) -, os antigos oficiais e suboficiais Karl Frank, Christian Heuck,
Stefan Heymann, dito Dietrich, Lengnink, Merker, Strötzel, o velho major do
antigo Exército Imperial Hans von Hentig.(p. 731)” Cf. BROUÉ, PIERRE.
ibidem, pp. retro-mencionadas.
[4] Observe-se, por
oportuno, que Iossif S. Unschlicht, revolucionário bolchevique, de origem polonesa,
um dos mais destacados quadros militares da Revolução de Outubro de 1917 e
da Guerra
Civil Russa, aderiu abertamente ao stalinismo burocrático-operário
contra-revolucionário, após a morte de Lenin. Tornou-se, em 1926, chefe da Tcheka
e do serviço secreto do Komintern, tendo sido igualmente
liquidado durante a “Depuração Stalinista” dos anos de 1936 a 1938.
[5] Cf. TROTSKY,
LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin (1941), Vol. I, Capítulo : Period
Reaktsy (O Período da Reação), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 171.
[6] Cf. IDEM.
Stalin (1941), Livro I, Capítulo : Voina i Ssylka (Guerra e Exílio),
Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 253.
[7] Cf. IDEM.
Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Tentativa de Auto-Biografia), Cap.
XLI : A Morte de Lenin e o Deslocamento do Poder, Berlim : Granit, 1930, pp.
253 e 254.
[8] Acerca do tema, vide
p.ex. WOLLENBERG, ERICH. Sinn und
Zielrichtung meines Lebens (Sentido e Direção Finalística da Minha Vida), in :
Schwarze Protokolle (Protocolos Negros), Nr. 6, Hamburg, 04.1971, pp. 3 e s.