ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :
A ARTE
PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA
ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS
A Política
Militar Leninista
ERICH
WOLLENBERG[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers
Janeiro 2005 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/ArteCapa.htm
Vladimir
Ilitch Ulianov, tal como era o nome civil de Lenin, nasceu em 10 (22) de abril de
1870, na cidade de Simbirsk, hoje Ulianovsk, cidade do Volga, foi filho de um professor de ginásio superior e faleceu
em 21 de janeiro de 1924, em Gorki, nas proximidades de Moscou.
Em 1888, Lenin foi expulso da Universidade
de Kazan em
razão de sua participação no movimento estudantil revolucionário de então.
Em 1893, militou na cidade de Petersburgo,
junto a círculos marxistas que se unificaram, em 1895, no quadro da “Liga
de Luta pela Libertação da Classe Trabalhadora”.
Quando, em 1898, foi fundado o Partido
Operário Social-Democrático Russo (POSDR), Lenin nele ingressou[2].
O início da carreira política de Lenin coincidiu, portanto, em algo,
com a morte de Friedrich Engels, ocorrida em 1895, o qual ainda
chegou a avistar a aurora do imperialismo.
No entanto, Lenin não pôde simplesmente continuar
a partir do ponto em que Engels havia-se detido, em sua atividade de clarificar o mundo.
Na virada do século, o jovem Lenin defrontava-se, em seu país, i.e.
a Rússia
dos Czares e do absolutismo czarista, com relações políticas e sócio-econômicas
semelhantes àquelas encontradas pelo jovem Engels no início dos anos 40 do século
XIX, na Alemanha.
Porém, essa mesma Rússia atrasada e semi-bárbara
constituía uma parte integrante daquele mundo que Engels, amigo e companheiro de lutas de Karl
Marx, havia
abandonado, quando falecera aos 75 anos.
Apenas na medida em que se contemple
permanentemente as condições históricas em que se processou o inteiro
desenvolvimento político de Lenin - tal como apreciadas diante de um espelho côncavo de dois
mundos -, é que se pode avaliar e compreender o leninismo, em geral, bem como a
política militar-leninista, em particular.
Na Rússia Czarista, os resquícios da ordem feudal
ainda não haviam sido superados na virada do século do século XX, tal como foi
o caso da Alemanha, no contexto dos anos 40 do século XIX.
Tanto aqui como ali, a revolução
democrático-burguesa situava-se na ordem-do-dia.
Tanto aqui como ali, a parte mais
avançada de todas as classes sociais lutava pelas liberdades democráticas que
constituem o pressuposto da moderna sociedade burguesa e, dessa maneira, a
précondição para o desenvolvimento dos meios capitalistas de produção e das
forças produtivas.
Disso resultava que, na
Rússia Czarista, não se encontrava absolutamente envelhecida também “a rebelião
de velho estilo, i.e. a luta de ruas com barricadas que, até 1848, conferiu,
por todos os lados, a última decisão” – em comparação com o que Engels havia escrito, em 1895, em seu Prefácio
à Luta de Classes na França de Marx[3].
Em Petrogrado, em Moscou e em muitas cidades russas de
província, “a luta de ruas com barricadas ...” conferiu a
última decisão” ...
Com efeito, segundo Engels
:
“A rebelião de velho estilo, a luta de ruas com barricadas,
que, até 1848, conferiu, por todos os lados, a última decisão, envelheceu
significativamente.
Não nos iludamos com isso : um verdadeira vitória da
insurreição sobre as forças militares na luta de ruas, uma vitória tal como
entre dois exércitos, pertence às maiores raridades. ...
Em contrapartida, tornaram-se piores, do lado do
insurgente, todas as condições.
Uma insurreição com a qual simpatizem todas as camadas
populares dificilmente surgirá de novo.
Na luta de classes, provavelmente jamais se agruparão todas
as camadas médias em volta do proletariado tão exclusivamente a ponto de
desaparecer inteiramente, do outro lado, o partido da reação que se aglutina em
torno da burguesia.
O “povo” sempre surgirá dividido e, com isso, faltará uma
alavanca poderosa, tão extremamente eficaz, como a de 1848.
Se surgirem do lado dos sublevados mais soldados
prestativos, tanto mais difícil tornar-se-á armá-los.
As armas de fogo de caça e de luxo das lojas de armamentos
– mesmo se não inutilizadas, de antemão, por intervenção policial, mediante
retirada de uma peça necessária ao disparo – nem de longe estão à altura do
fuzil do depósito de armas, no marco de uma luta de corpo a corpo.
Até 1848, podia-se fazer para si mesmo a munição
necessária, com pólvora e chumbo.
Hoje, o cartucho é diferente para cada tipo de fuzil e revela-se,
apenas em um ponto, de igual natureza : ele constitui um artefato produzido
pela grande indústria, i.e. não são produzíveis ex tempore, vale dizer, são
inúteis para a maioria dos fuzis, desde que não se possua a munição para estes
especialmente adequada.
E, finalmente, os bairros das grandes cidades,
reconstruídos desde 1848 e projetados em ruas longas, retilíneas e amplas, tal
como construídas para a atuação das novas artilharias e fuzis.
O revolucionário tem de ser um louco se escolher para si os
novos distritos de trabalhadores no norte e no leste de Berlim, visando a
travar uma luta de barricadas.
Isso
quer dizer que, no futuro, a luta de ruas não desempenhará papel algum?
De
maneira nenhuma.
Significa
apenas que as condições, a partir de 1848, tornaram-se amplamente desfavoráveis
para os lutadores civis e amplamente favoráveis para as forças armadas
militares.
Uma
futura luta de ruas pode, portanto, apenas vencer se essa desvantagem da
situação for contrabalançada por outros momentos.
Por
isso, ela ocorrerá, mais raramente, no início de uma grande revolução do que
será o caso no transcurso subseqüente dessa última, havendo de ser empreendida
com forças muito maiores.
Essas
forças darão preferência, provavelmente, porém, – tal como durante toda a
Revolução Francesa, bem como em 4 de setembro e em 31 de outubro de 1870, em
Paris – ao ataque aberto ao invés da técnica passiva das barricadas.”[4]
Ao marxista revolucionário Lenin,
amadurecido
sob as condições do despotismo czarista, as rasuras apostas pela direção da Social-Democracia
Alemã a
essas últimas passagens do artigo de Engels, em que são analisadas “as chances das futuras lutas
de rua”,
haveriam de surgir como uma falsificação do marxismo, muito particularmente
abominável e manifestamente nociva.
Se afirmamos que as relações
econômicas e sócio-políticas da Rússia Czarista, por volta de 1900, encontravam-se
posicionadas de modo semelhante àquelas existentes em 1848, na Alemanha, não quer isso dizer que eram
as mesmas.
A vida é infinitamente multiforme.
Todas as coisas - e mesmo as
aparentemente mais simples – espelham-se, em incontáveis variações.
Por isso, não se pode jamais
transferir mecanicamente aquilo que era correto se fazer em um país e em um
dado momento temporal para um outro país ou para um outro momento temporal.
Assim, todos os ensinamentos que podem
ser extraídos da história são apenas muito relativos, sendo que um político ou,
dado o caso, um homem de Estado não deve jamais meter-se na circunstância
lamentável dos espíritos servis que não se dedicam à detectação de novos
caminhos, lançando mão de seu próprio cérebro, através da postura
histórico-contemplativa e inteligente apreciação das experiências do passado,
em face de situações semelhantes do presente, porém jamais idênticas.
Nesse truísmo situa-se o limite de
toda doutrina social e também do marxismo.
Lenin referiu-se a isso por diversas
vezes, quando, entre as fileiras de seu próprio Partido ou no seio da III
Internacional Comunista, teve de combater a aplicação mecânica do patrimônio marxista e a
transferência autômata das experiências russas ao movimento dos trabalhadores
de outros países.
Lenin gostava de contar a seguinte anedota, com o objetivo de
denunciar os “marxistas literais”, em meio às fileiras de seu próprio
Partido :
“Durante as lutas revolucionárias de 1905, o Governador de
Odessa mandou disparar sobre o povo indefeso.
Os marinheiros do Encouraçado Potemkin colocaram seus
oficiais para correr e içaram a bandeira vermelha.
Enviaram, então, uma delegação ao Comitê Local do Partido
Operário Social-Democrático Russo (POSDR) com a indigação acerca de deverem ou
não intervir na luta, passando para o lado dos sublevados, com a pesada
artilharia naval.
O presidente do Comitê Local do Partido pediu ao delegados dos marinheiros para que
esperassem algumas horas.
Entrementes, a artilharia, deslocada para o parque, diante
do Palácio de Governo, perpetrou um massacre da população.
No horário combinado, os marinheiros apresentaram-se no
Comitê Local do Partido que ainda conferenciava, atrás de portas fechadas.
Não se permitiu o ingresso dos marinheiros.
Por fim, os marinheiros botaram abaixo a porta da sala de
reunião, a golpes desfechados com as coronhas de suas carabinas, e ali
encontraram os membros do Comitê Local do Partido - companheiros inteiramente
maduros, com barbas longas - folheando, assiduamente, livros grossos.
O presidente do Comitê Local do Partido dirigiu-se aos
marinheiros, repreendendo-lhes :
« É necessário que vocês tenham mais paciência, caros
companheiros !
Já examinamos quase todas as obras de Marx e Engels para
certificar-nos se a pretensão de vocês é realmente marxista.
Porém, até agora, não encontramos nada sobre o Palácio de
Governo de Odessa e sobre o Encoraçado Potemkin ... “[5]
O programa agrário que o czarismo
absolutista não havia resolvido e nem podia resolver sem destruir os
pressupostos existenciais de seu regime autocrático - a despeito da supressão
da servidão, ocorrida em 1861, e das diversas reformas empreendidas -,
contituía a principal questão da revolução democrático-burguesa na Rússia.
Com isso não se pretende dizer que, no
Império
Czarista, não
havia nenhuma questão nacional irresolúvel que, na Alemanha, obscurecera todos os demais
problemas sociais, durante a Revolução de 1848 e 1849, vindo a ser resolvida apenas no
quadro das Guerras Dinásticas e Nacionais de 1864, 1866 e 1870/1871,
no interior
dos pequenos limites alemães (i.e. sem a Áustria Alemã) e sob a direção prussiana, em
conformidade com a célebre consigna de Bismarck : “Mediante Sangue e Ferro”, ou, como Marx destacou, de maneira menos
poética, porém tanto mais precisa : “Mediante Guerras e Contra-Revoluções”.
Na Rússia Czarista, a questão nacional posicionava-se,
de certa forma, de modo inverso àquele da Alemanha pré-bismarckiana.
O próprio povo grão-russo que, sob o
jugo do despotismo e das relações de produção semi-feudais do campo, não podia nem
viver e nem morrer, oprimia outras nações eslavas e não-eslavas[6].
Os grão-russos dominantes tinham de
abrir o “cárcere dos povos”, situado em seu próprio país, para
tornarem-se eles mesmos livres.
Também as relações agrárias russas eram
inteiramente diferentes, se comparadas com as existentes na Alemanha
Prussiana,
revestida por seus latifundiários junkers, do lado leste do Rio Elba, que faziam lavrar suas imensas
propriedades por encarregados e trabalhadores assalariados, tal como grandes
empresas capitalistas.
Os magnatas rurais russos exploravam
suas propriedades gigantescas com métodos pré-capitalistas, fazendo-o de modo
muito irracional.
Transferiam sua terra a alguns grandes
arrendatários que, por sua vez, faziam com que sub-arrendatários pagassem os
elevados juros do arrendamento.
O trabalho rural efetivo era realizado
pelo mujik, camponês sem terra, cultivador de uma parcela tão ínfima de
solo que mal dava para alimentar uma família carente.[7]
Além disso, esse mujik tinha de entregar ao
arrendatário e ao sub-arrendatário a maior parte dos rendimentos de sua “terrinha
miúda”, na
forma de juros de arrendamento, sendo que, para fazê-lo, complicava-se, cada
vez mais profundamente, com dívidas contraídas junto ao usurário da aldeia.
Desse mujik miserável e cada vez mais faminto,
vivia um reinado inteiro de ratos parasitários da sociedade.
A revolução democrático-burguesa que
prometia a terra àqueles que a cultivavam, havia de desencadear uma força
revolucionária explosiva inaudita na aldeia russa.
Se as relações agrárias da Rússia
Czarista, na
virada do século XX, eram muito mais atrasadas do que aquelas das províncias do
leste do Rio Elba, no início do século XIX, a indústria russa, tão pequena
como era em relação à dimensao gigantesca do país e, expressados em números
absolutos, igualmente pequena em face das indústrias da Inglaterra e da Alemanha,
podia
medir-se, em organização e concentração com as indústrias dos países
capitalistas mais extremamente desenvolvidos.
A jovem indústria russa, na que o
exterior investia, em particular a França, a Inglaterra, a Bélgica e os grandes capitalistas,
possuía, em face dos velhos países industrializados, a vantagem de que não
tinha de arrastar o fardo de um parque de máquinas envelhecido e instituições
fabris ultrapassadas, podendo iniciar, de modo virgem, no nível de
desenvolvimento mais elevado que a técnica moderna e a organização empresarial
haviam atingido.
Na Rússia, preponderava a grande indústria
em face da pequena e média indústria.
Um forte grau de concentração do
proletariado industrial correspondia ao elevado grau de centralização da
indústria russa.
Esse proletariado recebia permanentes
incrementos, advindos da aldeia russa, colossalmente sufocada.
Outrora, a Guerra Alemã dos Camponeses, de 1525, esteve fadada ao fracasso,
posto que os camponeses não puderam encontrar um firme apoio nem junto às
cidades nem junto aos cavaleiros feudais que simpatizavam com a libertação do
campesinato.
Não puderam encontrar um aliado,
enfim, que reunisse e organizasse as massas de camponesas, espalhadas em
unidades maiores.
Assim, esses camponeses alemães, em
sua manifesta dispersão, caminharam rumo ao fracasso.
A massa de milhões de mujiks, insatisfeita e faminta, veio a
encontrar, porém, esse suporte e força de organização junto ao proletariado
industrial russo, altamente concentrado.
Por essa razão, a Rússia
Czarista era o
terreno fértil para a materialização da hegemonia do proletariado na revolução
democrático-burguesa.
Faltava apenas a centelha que
incendiasse o barril de pólvora junto à aldeia russa.
Essa centelha foi a guerra ou, muito
mais, a derrota militar que desvendou a podridão e a fragilidade do regime
czarista-absolutista.
A primeira centelha – a derrota na Guerra
Russo-Japonesa – fez arder o fogo das insurreições que irromperam, em 1905 e 1906,
através de todo o país, podendo ser, porém, posteriormente, apagado.
Mais uma vez, triunfou a
contra-revolução czarista.
Os revolucionários desapareceram,
sucumbindo nos campos penais siberanianos e nos locais de banimento ou partiram
para o exílio.
Lenin havia compartido, inicialmente,
o destino dos primeiros, depois, compartiu o dos últimos.
Em 1917, inflamou-se a segunda
centelha.
O flácido edifício do absolutismo desabou,
sob os golpes das derrotas militares aniquiladoras e da ruína econômica.
A Revolução de Fevereiro fez da Rússia
Czarista uma República
Democrática.
Porém, essa última não resolveu nenhuma das
candentes questões, colocadas diante do povo russo : nem terminou com a guerra e nem
concedeu aos camponeses sem terra, i.e. aos mujiks, a terra que faminta e
miseravelmente cultivavam, com o suor de seus rostos.
Assim, a Revolução de Fevereiro foi seguida pela Revolução
de Outubro.
Ambos esses marcos de pedra da
história do povo russo, constituídos por duas guerras perdidas e por duas, ou
melhor, três revoluções, representaram pilastras de mármore na vida e na
atividade de Lenin.
Por isso, resulta adequado organizar
seus escritos político-militares não segundo pontos de vista temáticos - tal
como no caso de Engels – mas sim segundo uma ordem cronológica :
I.
A Guerra Russo-Japonesa e a Revolução de 1905 e
1906.
II.
A Primeira Guerra Mundial e as Revoluções de 1917.
No que concerne ao caráter
democrático-burguês da revolução que se aproximava, não existia, antes de Fevereiro
de 1917, diferenças
de opiniões entre bolcheviques e mencheviques.
Uns e outros concordavam em que, na Rússia atrasada, com suas relações
agrárias semi-feudais, seria apenas possível uma revolução
democrático-burguesa.[8]
A diferença fundamental existente
entre bolcheviques e mencheviques encontrava-se na questão relativa à direção e
ao objetivo dessa revolução.
Os mencheviques opinavam que a classe
trabalhadora deveria intervir de modo domesticado e manso, no quadro de uma
revolução democrático-burguesa, com vistas a não amedrontar a burguesia liberal
com consignas socialistas, provocando a reação czarista no seio das forças
armadas.
Lenin defendia, nessa questão, um
ponto de vista inteiramente diverso, apoiando-se justamente em Marx e
Engels.
Argumentava assinalando que, em
virtude de a burguesia não se encontrar mais disposta e não ser mais capaz de
realizar sua própria revolução – por temor de seu coveiro, i.e. por medo do
proletariado -, cumpria a esse último, i.e. ao proletariado, a tarefa de
assumir o papel da hegemonia, executar a função dirigente na Revolução
Democrático-Burguesa, impedindo, de antemão, que a burguesia construisse e sedimentasse seu
poder.
Em contraste com os bolcheviques e mencheviques,
Trotsky declarava, porém, ser possível,
na Rússia, uma Revolução
Socialista, visto que, em escala mundial, essa revolução já estava colocada na
ordem do dia, sendo o proletariado russo uma parte integrante do proletariado
europeu e mundial. (...)
“Observe-se
que, em seu Prefácio à Reedição de “Resultados e Perspectivas”, surgido em
1919, Trotsky elaborou as seguintes
considerações sobre seus posicionamentos de luta no interior do POSDR, a partir dos primeiros anos do
século XX:
« Defendendo o
ponto de vista da revolução permanente durante um período de 15 anos, o autor
incidiu em erro, entretanto, em sua análise das frações do movimento
social-democrático.
Na
medida em que ambas partiam do ponto de vista da revolução burguesa, o autor
era da opinião de que as divergências existentes entre elas não seriam tão
profundas para justificar uma ruptura.
Ao mesmo tempo, esperava que o curso subseqüente dos
acontecimentos provaria claramente a
fraqueza e a insignificância da democracia burguesa russa, de um lado, e,
d’outro lado, a impossibilidade objetiva
do proletariado de limitar-se a si mesmo a um programa democrático.
Pensou que isso pudesse remover o fundamento das
diferenças fracionais.
Situando-se no exterior das duas frações, no período
de sua emigração, o autor não apreciou inteiramente a circunstância mais
importante de que, na realidade, juntamente com a linha de desacordo entre
bolcheviques e mencheviques, ali estavam agrupados revolucionários inflexíveis,
por um lado, e, por outro, elementos que se tornavam cada vez mais oportunistas
e acomodados.
Quando
a revolução de 1917 estourou, o Partido Bolchevique constituía uma organização
fortemente centralizada, unindo todos os melhores elementos dos trabalhadores
avançados e intelectuais revolucionários que – depois de alguma luta interna –
adotaram abertamente táticas direcionadas para a Ditadura Socialista da Classe
Trabalhadora, em total harmonia com a inteira situação internacional e a
relação de classes na Rússia.
No que diz respeito à fração
menchevique, tinha suficientemente amadurecido, já naquele momento, para ser
capaz de assumir – tal como dito antes – os deveres de uma democracia
burguesa.»[9]
“Cumpre
também destacar que, no quadro de um autêntico debate, travado entre
revolucionários-proletários, empenhados ambos em fundar as bases de uma
concepção dialético-materialista da hegemonia
do proletariado nas Revoluções Russas, segundo os estritos critérios da
doutrina Marx e Engels, Lenin criticou,
em seu famoso artigo Acerca de Duas Linhas
da Revolução, de 1915, a
interpretação que Trotsky fazia do
ponto de vista revolucionário, também plenamente permanentista, impulsionado
pelo bolchevismo de Lenin,
assinalando, porém, o seguinte, ao final de sua análise :
«Elucidar as relações entre as classes na futura
revolução é a tarefa principal de um partido revolucionário. ...
Essa tarefa não é resolvida corretamente por Trotsky, em “Nasche Slovo(Nossa Palavra)”.
Ele repete sua teoria
“original” de 1905 e não quer refletir acerca das razões devido às quais a
vida transcorreu ao largo dessa teoria maravilhosa ao longo de dez anos
inteiros.
A original
teoria de Trotsky resgata o apelo dos bolcheviques relativo à luta
revolucionária decidida do proletariado e à conquista do poder político pelo proletariado,
porém, dos mencheviques, a “negação” do papel do campesinato.
O campesinato estaria, segundo Trotsky, fragmentado em
camadas, tendo-se diferenciado.
Seu possível papel revolucionário teria sido sempre
muito pequeno.
Na Rússia
seria impossível uma revolução “nacional”: “Vivemos na época do imperialismo”, “o imperialismo” coloca frente à
frente, porém, “não a nação burguesa perante o velho regime, senão o
proletariado à nação burguesa”.
Aí temos um exemplo curioso para o “jogo com a
palavrinha” imperialismo !
Se na Rússia opõe-se
o proletariado já “à nação burguesa”, então quer dizer que : a Rússia
coloca-se, diretamente, diante da Revolução
Socialista !
Então, é
errada a consigna (levantada por Trotsky na Conferência de Janeiro de 1912 e
repetida, depois, em 1905) “confiscação das terras dos latifundiários”.
Sendo
assim, deve-se falar não de governo “dos trabalhadores revolucionários”, mas
sim de governo “socialista dos trabalhadores”!!” »
Nesse contexto, conclui Lenin, da seguinte forma, manifesta e incorruptivelmente :
« Quão longe vai a confusão com Trotsky, é possível
perceber pela sua frase de que o
proletariado irá arrastar consigo, por sua resolução, também as “massas
não-proletárias(!)”!!(Nr. 217).
Trotsky não refletiu que, se o proletariado conseguir
arrastar consigo as massas rurais não-proletárias para a confiscação das terras
dos latifundiários e derrubar a monarquia, isso
será precisamente a consumação da “revolução burguesa nacional” na Rússia, a
Ditadura Democrático-Revolucionária do Proletariado e do Campesinato ! ...
Porém, o
seguinte é agora o essencial :
O proletariado luta – e irá lutar desinteressadamente
-, pela conquista do poder, pela república, pela confiscação das terras, i.e. pelo arrastamento do campesinato,
pelo esgotamento de suas forças
revolucionárias, pela participação das “massas não-proletárias” na libertação da Rússia burguesa do “imperialismo”
feudal-militar(=czarismo).
Essa libertação da Rússia burguesa do czarismo, da
propriedade fundiária e da dominação do proprietário fundiário, o proletariado aproveitará, sem demora, não para ajudar o
camponês próspero na luta contra os trabalhadores rurais, mas sim para executar
a Revolução Socialista, em aliança com os proletários da Europa. »[10]
Entre fevereiro e outubro de 1917, Lenin, diante de um novo contexto histórico, pôde avançar em seu ponto de vista e aproximar-se à
concepção de Trotsky acerca do caráter socialista da Revolução Russa.
Pela primeira vez, Lenin falou inequivocamente sobre a Revolução
Socialista na Rússia,
em suas
cinco ”Cartas de Longe”, por ele enviadas à redação do “Pravda(A
Verdade)”, de Petrogrado, órgão central dos bolcheviques, a partir da Suíça, pouco antes de seu regresso à Rússia[11].
Essa “mudança do fronte de luta” do dirigente do POSDR
(Bolchevique) provocou, entre os bolcheviques, um pânico de não pequena dimensão.
Um deles era, outrora, secretário de
redação do “Pravda(A Verdade)”.
Esse secretário leu com estranheza as “Cartas
de Longe”, que chegaram às suas mãos, por intermédio da companheira Kollontai, através da Suécia, sendo que, a seguir, as
enclausurou em sua mesa de redação.
Quando Lenin chegou em Petrogrado, no mês de abril, o secretário
de redação em tela apanhou-as da gaveta de sua mesa e fez publicar a quarta
dessas “Cartas de Longe” que propagandeava a consigna da Revolução
Socialista, da maneira mais ampla e sem reservas.[12]
O nome desse secretário de redação não
é hoje desconhecido : ele se chamava Iossif Vissarionovitch Djugaschivili, i.e. Stalin.
Nas disputas que se travaram no Comitê
Central do Partido Bolchevique, às vésperas do 25 de Outubro (7 de novembro) de 1917, sobre
a pertinência da Insurreição Armada, tendo, de um lado, Lenin
e Trotsky, e,
de outro, Zinoviev, Kamenev, Rykov e outros – as quais conduziram à demissão transitória desses últimos do Comitê
Central – uma
importância decisiva assumiu a questão relacionada com o caráter da revolução,
i.e. com o saber se a classe trabalhadora russa encontrava-se capaz de, sob as
condições dadas, conquistar o poder e consolidá-lo, no interesse do
desenvolvimento, orientando rumo ao socialismo.[13]
“Rochel von Gennevilliers.: Caberia a Wollenberg inclusive justamente acrescentar que, no ápice das
disputas por ele referidas sobre a conveniência da Insurreição
Armada, também Stalin apresentou ao Comitê Central Bolchevique sua demissão da Redação do Pravda (A Verdade), em 20 de outubro de 1917, como forma de protesto em face
da rigorosa política de Lenin de promover a expulsão de Zinoviev
e Kamenev do Partido Bolchevique, em vista de sua atitude de revelação pública “fura-greve”
dos planos insurrecionais bolcheviques, nas colunas do jornal “Novaia
Jizn’(Vida Nova).
No protocolo da reunião do Comitê Central Bolchevique, de 20 de outubro de 1917, presidida por Sverdlov, consta expressamente o seguinte :
“Companheiro Stalin :
Declara que se demite da redação (no original: Tov. Stalin :
Zaiavliaiet, shto vykhodit iz redaktsii).
Deliberação : Em vista do fato de que a declaração do Companheiro
Stalin é feita, no quadro do Nr. atual, em
nome da redação, devendo ser apreciada pela redação, delibera-se
que sua declaração não será apreciada e sua demissão não será acolhida, passando-se, agora, para o exame dos problemas imediatos
(no original : Postanovlieno : Vvidu tovo, shto zaiavlienie tov. Stalin v
sevodniashiem N° sdelano ot imieni redaktsii i doljno byt’ obssujdeno v
redaktsii, resheno, ne obsujdaia zaiavlienia tov. Stalina i ne prinimaia evo
otstavki, pereiti k otcherednym delam.”[14]
Com a Revolução de Outubro, com a tomada do poder pelos
bolcheviques, a política-militar leninista ingressou em um novo estágio.
Agora, Lenin já não mais se posicionava como
um revolucionário que perseguia a tarefa de derrubar as classes dominantes e o
regime opressor de seu país, mas sim surgia, ele mesmo, na cumeeira de um poder
de Estado que tinha de se defender contra os inimigos internos e externos, no
quadro de guerras civis burguesas e intervencionistas, implacáveis e
sangrentas.
Essa tarefa político-militar foi
confiada pelo Governo Soviético, sob proposta de Lenin,
a L. D.
Trotsky, o
qual de fevereiro de 1918 até a morte de Lenin, dirigiu as Forças
Armadas Vermelhas (Exército Vermelho), na qualidade de Comissário
do Povo para o Exército e a Marinha (Ministério da Guerra), influenciando decisivamente a
política militar da União Soviética.
Uma abordagem dos fundamentos
político-militares da União Soviética e de suas formas de organização, bem
como das ações de guerra das Forças Armadas Vermelhas(Exército Vermelho), situa-se fora das tarefas que
o editor e o lançador desse livro podiam colocar a si mesmos.
Por isso, a Revolução
de Outubro constitui a conclusão dos escritos político-militares aqui
apresentados.
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA
MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU -
______________________________________
BREVES REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS DE
WOLLENBERG, ERICH
por Rochel von
Gennevilliers
Erich
Wolleberg nasceu em 1892, na Alemanha.
Seu pai exerceu a profissão de médico.
Após
concluir seus estudos secundários, decidiu-se também por estudar medicina.
Recrutado,
porém, em 1914, para combater na I Guerra Mundial Imperialista,
veio a alcançar o posto de tenente nas Forças Armadas do Império Alemão
(Reichswehr) e foi ferido, por cinco vezes.
Em
1918, no encerramento dessa conflagração bélica mundial, ingressou
nas fileiras do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD)
e
defendeu posições manifestamente pacifistas.
A
seguir, participando da Revolução Democrático-Burguesa Alemã de Outubro
de 1918, comandou um destacamento de marinheiros revolucionários, na
cidade de Könisberg.
Em
abril de 1919, colocando-se em favor da defesa da Revolução Bávara,
tornou-se um dos comandantes do Exército Vermelho do Norte da
República Soviética da Baviera e atuou nas lutas travadas contra o Exército
Branco, de Friedrich Noske e Gustav Noske.
Entre
maio de 1919 e março de 1922, foi preso e foragiu-se, por diversas vezes.
No
curso desses meses, enriqueceu sua prática revolucionária com a teoria
marxista-revolucionária do socialismo científico.
Entre
1922 e 1923, atuou como jornalista em Könisberg, dedicando-se às tarefas
de agitação política, no quadro do Partido Comunista da Alemanha (KPD),
junto à juventude proletária, estivadores e ferroviários, pequenos camponeses e
trabalhadores rurais dessa cidade, bem como ocupou-se com atividades
propagandistas e organizativas entre as fileiras das Forças Armadas do
Império Alemão (Reichswehr).
No fim
de abril de 1923, transferiu-se de Könisberg para a região do Ruhr
e realizou trabalho clandestino de agitação entre as tropas francesas e belgas,
acionadas na Ocupação do Vale do Ruhr, na Alemanha.
Aqui,
militou entre mineiros, metalúrgicos, jovens socialistas e comunistas, soldados
franceses e belgas da ocupação, difundindo a linha política do jornal “Humanité
du Soldat (A Humanidade do Soldado)”, editado pela secretária da Internacional
Comunista da Juventude (III Internacional) e do Partido Comunista
Francês (PCF).
Durante
o todo o verão de 1923, participou de manifestações revolucionárias
internacionalistas de luta contra a ocupação franco-belga do Vale
do Ruhr e o Governo Burguês Alemão, clamando por “Golpear Poincaré e
Cuno, no Ruhr e na Spree !”
Foi um
dos principais articuladores, em abril de 1923, da transformação da Greve
Geral de Bochum, no Vale do Ruhr – na qual tomam parte
cerca de 500.000 mineiros e metalúrgicos -, em insurreição armada
proletária.
A
direção do Partido Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich
Brandler e Ruth Fischer – por entender se tratar essa insurreição de um
ato inteiramente precipitado, ultra-esquerdista e provocativo, exigiu que Wollenberg
contribuísse para o desarmamento dos trabalhadores revolucionários do Vale
do Ruhr.
Em
agosto de 1923, é nomeado pelo Comitê Central do Partido Comunista da
Alemanha (KPD), pela III Internacional e pelo Estado-Maior
das Forças Armadas Vermelhas da URSS, dirigente supremo
político-militar, responsável pela Alemanha do Sudoeste, sendo
encarregado das operações de luta em Württemberg, Baden, Hessen e, em
parte, na Baviera, objetivando à preparação de uma insurreição armada
proletária ainda no curso do mesmo ano.
Frustada
a insurreição em tela pela direção centrista-oportunista do Partido
Comunista da Alemanha (KPD) – exercida, então, por Heinrich Brandler e
Karl Radek –, Wollenberg
refugiou-se, em abril de 1924, na URSS, onde efetuou
estudos militares junto à Escola Militar do Estado-Maior das Forças
Armadas Vermelhas, em Moscou.
Entre
1924 e 1927, exerceu diversos postos de comando nas Forças Armadas
Vermelhas, tanto no interior na URSS quanto no exterior.
Tendo
capitulado à contra-revolução operário-burocrática stalinista, por intermédio
de Bukharin,
tornou-se, em 1928, especialista militar do Instituto Marx-Engels de
Moscou,
vindo
a dirigir seu Gabinete Militar.
Ministrou aulas nos cursos militares em que lutadores
alemães eram formados como especialistas em insurreições armadas proletárias.
Em fins
dos anos 20, aderiu à Oposição Soviética de Direita,
protagonizada por Bukharin, Rykov, Tomsky e outros.
Conseguindo
regressar à Alemanha, foi dirigente, no quadro do Partido Comunista da Alemanha
(KPD), da Liga dos Lutadores do Fronte Vermelho na Alemanha (Roter
Frontkämpferbund), de abril de 1931 a dezembro de 1932,
combatendo o ascenso nazista e permanecendo crítico, porém, em face da política
stalinista de então, protagonizada por Ernst Thälmann e seus adeptos,
consistente em contemplar a Social-Democracia Alemã enquanto
expressão fática do social-fascismo e principal inimigo a ser derrotado.
A
seguir, foi novamente encarcerado e, mais uma vez, liberado.
Opôs-se,
então, ativamente à linha stalinista de aliança eleitoral, selada, no quadro do
“Referendo
Prussiano Vermelho de 21 de julho de 1931”, entre o Partido
Comunista da Alemanha(KPD), o Partido Nazista de Hitler (NSDAP), o
Partido Nacional Alemão de Hugenberg (NDP) e os Capacetes
de Aço de Hindenburg (Stahlhelm), com forma de derrubar o
Governo de Frente-Popular, encabeçado pela Social-Democracia
Alemã.
Opôs-se
resolutamente à política stalinista de realização de “greve comum”, encabeçada
pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) em conjunto com o Partido Nazista de
Hitler (NSDAP), em novembro de 1932, contra a administração municipal
social-democrática, na cidade de Berlim.
Depois
da tomada do poder por Hitler na Alemanha, por criticar,
desde uma perpectiva trotskysta, a direção stalinista
burocrático-contra-revolucionária do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e do Komintern
Stalinista, foi expulso dessas organizações, em 4 de abril de
1933, juntamente com Felix Wolf.
Aproximou-se
do trotskysmo, em 1934.
Foragido
na cidade de Praga, em julho de 1934, organiza um grupo de oposição
trotskysta no interior do Partido Comunista da Tchecoslováquia (CKP).
Durante
o período da Grande Depuração Stalinista, foi intensamente perseguido pela NKVD
(Polícia Secreta Stalinista), sob a acusação de liderar - juntamente
com o revolucionário alemão Max Hoelz - o “centro terrorista-trotskysta
contra-revolucionário”.
Emigrou,
em agosto de 1938, para a França e colaborou, militarmente, com
diversos grupos guerrilheiros anti-nazistas, até ser preso em 1940.
Tendo
conseguido fugir do campo de concentração Le Vernet, por contar com o auxílio
de alguns oficiais franceses, dirigiu-se para Casablanca e aí
participou da Resistência de Marrocos.
Mesmo
perseguido intensamente pelos serviços secretos stalinistas e nazistas, seu
pedido de ingresso nos EUA como refugiado político é
rejeitado pelo Consulado Norte-Americano, em outubro de 1941, a despeito de
ter recebido, em janeiro do mesmo ano, 1.200 francos do Centro Americano de Recursos para
poder organizar sua fuga em direção ao México.
Mais
uma vez preso, foi libertado pelo desembarque aliado e veio a tornar-se,
temporariamente, em 1946, correspondente de imprensa dos Estados-Unidos
na Baviera para assuntos concernentes à desnazificação.
A
seguir, passou a trabalhar como jornalista e autor independente.
Em 5 de
abril de 1971, aos 79 anos, referindo-se à sua profissão de fé revolucionária,
assinalou ter permanecido fiel à luta aberta contra o nazismo e o stalinismo, “contra
Hitler e Stalin”, esses “dois irmãos hostis”, e em favor de
um “socialismo
com face humana” que, segundo o próprio Wollenberg,
corresponderia às concepções de Marx, Engels, Rosa Luxemburg, Lenin e
Bukharin[15].
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DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES -
MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. WOLLENBERG, ERICH. Engels und Lenin. Militärpolische Schriften
(Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), especialmente : Einteilung zu
Teil II : Lenin (Introduçao à Parte II : Lenin), Offenbach-Frankfurt a.M. :
Bollwerk-Verlag, 1953, pp. 35 e s.
[2]
Nesse passo, Wollenberg formula a seguinte nota, em seu artigo
agora traduzido para o nosso idioma : “No II Congresso do Partido
Operário Social-Democrático Russo (segundo sua designação em russo :
RSDRP), congresso esse realizado em julho de 1903, inicialmente em Bruxelas e,
posteriormente, em Londres, produziu-se uma cisão, em cujo contexto o grupo
dirigido por Lenin logrou obter maioria. Desde então, os adeptos
de Lenin passaram a chamar-se “bolcheviques”, i.e.
adeptos da fração da maioria, enquanto que os da outra fração do POSDR
passaram a ser chamados de “mencheviques”, i.e. adeptos da fração
da minoria. Transitoriamente, processou-se, então, novamente, um estreito
trabalho comum de ambas essas frações. Depois da derrota da Revolução
Russa de 1905-1907, teve lugar
uma ruptura irreversível. Em 1912, na quadro de seu Congresso de Praga,
os bolcheviques formaram um partido autônomo, que passou
chamar-se POSDR (Bolchevique). Esse partido – tal como o POSDR
(Menchevique) – pertenceu à II Internacional Socialista. Apenas
depois da Revolução de Outubro, os bolcheviques assumiram
o nome de “comunistas”, seguindo o exemplo de Marx e
Engels. Assim, ocorre que Lenin, em seus escritos que vão
até a Revolução de Outubro, denomina sempre a si mesmo e a seus
adeptos de sociais-democratas. Cf. IDEM. Engels und Lenin. Militärpolische Schriften (Engels e Lenin.
Escritos Político-Militares), Hinweisnoten (Notas Indicativas),
Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 75.
[3] Acerca do tema, vide ENGELS,
FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx‘ „Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis
1850“(Introdução a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx)(14
de Fevereiro – 6 de Março de 1895), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e
Engels), Vol. 22, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 509 e s.
[4] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx‘ „Klassenkämpfe in
Frankreich 1848 bis 1850“(Introduçao a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850
de Karl Marx)(14 de Fevereiro – 6 de Março de 1895), in : Marx und Engels Werke
(Obras de Marx e Engels), Vol. XXII, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 519 e s.
Esse extrato do texto original de Engels de 1895 não se encontra, expressamente,
inserido no artigo de Wollenberg ora traduzido. Resolvi
incorporá-lo, portanto, aqui, como vistas a contribuir para a divulgação e
elucidação das posições de Engels acerca do tema, destacando,
concomitantemente, a grave falsificação teórico-doutrinária da disciplina
militar-proletária que adquiriu, à época, a rasura empreendida pela direção da Social-Democracia
Alemã - encabeçada por Wilhelm Liebknecht, August Bebel, Eduard
Bernstein et alii - ao último parágrafo de Engels,
destacado, acima, em letras de destaque. A rasura em questão, efetuada na
primeira edição de Introdução a “Lutas de Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx”, organizada
pela Social-Democracia
Alemã, visava a desacreditar e desmoralizar, inteiramente, a
perspectiva das lutas revolucionárias violentas do proletariado para a
derrubada da burguesia. Tratou-se, pois, de uma verdadeira falsificação do
marxismo revolucionário realizada, à época e posteriormente sempre repetida,
pelos defensores da democratização do Estado, como forma de ascender
pacificamente ao socialismo.
[5] Cf. WOLLENBERG,
ERICH. Engels und Lenin. Militärpolitische Schriften (Engels e Lenin.
Escritos Político-Militares), especialmente : Hinweisnoten (Notas Indicativas),
Offenbach-Frankfurt a. M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 75.
[6] Nesse passo, Wollenberg
assinala o seguinte em seu texto em destaque : “A família dos povos dos
eslavos divide-se nos seguintes grupos linguísticos e populares : grão-russos,
russos brancos e pequenos-russos. As capitais dos grão-russos foram Moscou, a
seguir, Petersburgo, e, então, novamente, Moscou. Os grão-russos foram, sob o
czarismo, a nação dominante, conformando cerca de 75% da população total,
voltando a sê-lo sob o stalinismo. Minsk é a capital dos russos brancos, aos quais
os poloneses se aproximam, quer em sentido linguístico, quer em sentido de
composição popular. A velha capital dos pequenos-russos (também ucranianos) foi
Kiev, sendo, a seguir, porém, transferida por Stalin para Tcharkov, cidade esta
densamente povoada por grão-russos. Pertenciam às minoiras nacionais e às
nações não-eslavas oprimidas pelos grão-russos, sob o czarismo, entre outras,
as seguintes: os lituânos, os letões, os estonianos, os finlandeses, os
georgianos, os tatáros, os guirguises, os armênios, os turquestões, diversas
populações mongólicas, os alemães do Rio Volga etc. etc. “ Cf. IDEM. ibidem, especialmente :
Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag,
1953, p. 76.
[7]
A esse respeito, Wollenberg ainda acrescenta o seguinte
esclarecimento : “Mujik : forma designação dos camponeses russos
pobres, em contraste com os camponeses médios e, em particular, os kulaks,
i.e. os camponeses ricos, junto aos quais, na maioria dos casos,
encontrava-se o mujik endividado. Kulak significa,
em russo, “punho”. O Kulak é, portanto, o duro
punho pesado que sobrecarrega o mujik e estrangula-lhe o pescoço.
Cf. WOLLENBERG,
ERICH. Engels und Lenin. Militärpolitische Schriften (Engels e Lenin.
Escritos Político-Militares), especialmente : Hinweisnoten (Notas Indicativas),
Offenbach-Frankfurt a. M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 76.
[8] Nesse sentido, vide tb. IDEM. ibidem, especialmente : Die
Militärpolitik des Stalinismus (A Política Militar do Stalinismo),
Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 60.
[9] Cf. TROTSKY. LÉON DAVIDOVITCH. Itogi i Perspektivy (Resultados e Perspectivas)(1906), Predislovie (Prefácio), Moscou:
Gosud. Izdatel’stvo, 1919, pp. 3 e s. O presente extrato desse texto original
de Trotsky
não se encontra, expressamente, inserido no artigo de Wollenberg
ora traduzido. Resolvi incorporá-lo, portanto,
aqui, como vistas a contribuir para a divulgação e elucidação das concepções de
Trotsky
relativamente ao desenvolvimento dos processos revolucionários na Rússia.
[10] Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH. O Dvukh Liniakh Revoliutsii(Acerca de Duas
Linhas da Revolução)(20.11.1915), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii
(Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 27, pp. 76 e s. A presente citação
e extrato do texto original de Lenin não se encontra,
expressamente, inserido no artigo de Wollenberg ora traduzido. Resolvi
incorporá-lo, portanto, aqui, como vistas a contribuir para a divulgação e
elucidação das concepções de Lenin e de Trotsky relativamente ao
desenvolvimento dos processos revolucionários na Rússia. Acerca do tema,
vide, além disso, SCHIMIDT VON KÖLN,
PORTAU. A Enfermidade Gramsciana no Movimento Trotsksyta Contemporâneo e
nas Lutas de Emancipação do Proletariado. Polêmica Trotsky e Gramsci : Gramsci
e Trotsky. O SU- QI e a Corrente Franco-Gramsciana de Atualização, Correção e
Superação do Marxismo (O Meta-Marxismo de Actuel Marx), especialmente Cap.
II.A.2: Conquista da Hegemonia do Proletariado na Perspectiva do Idealismo
Gramsciano para a Colaboração de Classes e a Capitulação diante do Estado
Burguês, Moscou-Buenos Aires-São Paulo-Paris : Editora da Escola de Agitadores
e Instrutores “UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA Sverdlov”, 11.2000 –
10-2002, in: http://www.scientific-socialism.de/SUCAPIIA2.htm
[11] Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH. Pis’ma iz Dalieka (Cartas de Longe)(07.03 a
26.03.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 23, 34, 48 e s. Em virtude da nova
elaboração tática de Lenin
opor-se abertamente à orientação defendida pela maioria de seu próprio
partido, composta, em março de 1917, por bolcheviques frente-populistas,
irrestritos e condicionados, bem como etapistas-defensistas da pátria burguesa
reacionária na guerra imperialista e apoiadores da mais indistinta unificação
dos adeptos de todos os gêneros da Social-Democracia Russa (Stalin,
Kamenev, Muranov, Rykov, Noguin e seus seguidores), apenas a primeira
das cartas de Lênin foi publicada no “Pravda (A Verdade)”, em 21 e 22 de
março, ainda assim com diversas censuras. Por iniciativa desses bolcheviques,
todas as demais cartas de Lênin não vieram a ser publicadas em
1917. Surgiriam apenas em 1924, ao passo
que a redação integral de sua primeira carta viria a ser conhecida tão somente
em 1949. Acerca do tema, vide SCHIMIDT
VON KÖLN, PORTAU. Lenin e a Revolução Russa de Outubro de 1917, especialmente III.Tática Revolucionária do
Proletariado para a Tomada do Poder na Rússia de 1917, Moscou-São
Paulo-Munique-Paris : Editora da Escola de Agitadores e Instrutores
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA Sverdlov”, 10.2004, in:
http://www.scientific-socialism.de/LeninRev.htm
[12] Acerca de Kollontai,
Wollenberg assinala : “Kollontai foi uma bolchevique da
velha guarda, amiga de Lenin e de Trotsky, que se tornou literariamente
renomada através de seu romance “Os Caminhos do Amor”. Depois de ter
sido afastada de todas suas funções partidárias, por haver pertencido à Oposição
Operária, Kollontai exerceu, durante muitos anos, o cargo de Embaixadora
Soviética, de início, no México, depois na Suécia.
Há pouco tempo, faleceu na Uniao Soviética. Ao lado de Stalin, Kollontai
foi o único membro do Comitê Central da época da Revolução de Outubro que Stalin
nao mandou fuzilar, durante os anos da “Depuração Stalinista”, de 1936 a
1939.” Cf. WOLLENBERG, ERICH. Engels und Lenin. Militärpolitische
Schriften (Engels e Lenin. Escritos Político-Militares), especialmente :
Hinweisnoten (Notas Indicativas), Offenbach-Frankfurt a. M. : Bollwerk-Verlag,
1953, p. 79.
[13] Nesse sentido, vide, IDEM,
ibidem, especialmente : Die Militärpolitik des Stalinismus (A Política Militar
do Stalinismo), Offenbach-Frankfurt a.M. : Bollwerk-Verlag, 1953, p. 63.
[14] Cf. VELIKAIA OKTIABR’SKAIA SOTSIALISTITCHESKAIA
REVOLIUTSIA. OKTRIABR’SKOE VOORUJENNOE VOSSTANIE V PETROGRADE (Grande Revolução Socialista de Outubro.
A Insurreição Armada de Outubro
em Petrogrado), especialmente Protocolo da Reunião do Comitê
Central do POSDR (b) sobre o Exame
da Declaração Fura-Greve de Kamenev e Zinoviev, Publicada
no Jornal “Novaia Jizn (Vida Nova)””, Moscou : G. N. Golikov, 1957, p. 65.; tb. PROTOKOLY
TSENTRAL’NOVO KOMITETA RSDRP(b) : AVGUST 1917 – FEVRAL’ 1918 (Protocolos do
Comitê Central do POSDR (b) : Agosto de 1917 a Fevereiro de 1918), Moscou : M.
D. Stutchebnikov et al., 1958, pp. 106 e s.
[15] Acerca do tema, vide p.ex. WOLLENBERG, ERICH. Sinn und
Zielrichtung meines Lebens (Sentido e Direção Finalística da Minha Vida), in : Schwarze Protokolle (Protocolos
Negros), Nr. 6, Hamburg, 04.1971, pp. 3 e s.