ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :
A
ARTE PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA
ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS
O
Programa Militar
da
Revolução Proletária
VLADIMIR
I. LENIN[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers
Dezembro 2004, emilvonmuenchen@web.de
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„O Comitê Central de 1871 permitiu
que os heróis da «manifestação
pacífica »
saíssem
simplesmente correndo e, assim,
logo
depois de dois dias, foram capazes de se reunirem,
sob o
comando do Almirante Saisset, em uma
manifestação armada,
que
terminou com sua partida consciente rumo a Versalhes.
Em sua
recusa de assumir a Guerra Civil,
inaugurada
com a invasão noturna de Thiers em Montmarte,
o Comitê Central tornou-se, dessa vez,
culpado do erro decisivo
de não
marchar, imediatamente, sobre Versalhes,
então inteiramente indefesa,
e,
assim, colocar um termo às conspirações de Thiers
e seus aristocratas latifundiários.
Ao invés
disso, foi permitido ao Partido da Ordem
(CRvG : Partido dos Proprietários
Fundiários e Capitalistas) testar, mais uma vez,
suas
forças nas urnas eleitorais, quando, em 26 de março de 1871, foi eleita a Comuna.
Nesse
dia, os homens da ordem trocaram, nas prefeituras distritais, palavras
benfazejas de conciliação
com seus
vencedores, demonstrando-se muito generosos em relação a eles, ao mesmo tempo
em que,
em seus
corações, rosnavam votos festivos
de empreenderem vingança
sangrenta, no momento adequado.”
Karl Marx
A
Guerra Civil na França.
Relatório do Conselho Geral da
Associação Internacional dos Trabalhadores
(Abril –Maio de 1871),
in : Marx und Engels Werke
(Obras de Marx e Engels), Vol. XXII,
Berlim : Dietz Verlag, 1962, p. 313.
Na Holanda, na Escandinávia, na Suíça,
levantam-se vozes dos meios dos sociais-democratas revolucionários que lutam
contra as mentiras dos sociais-chauvinistas acerca da "defesa da pátria"
nessa guerra imperialista, propugnando que se substitua a velha consigna do
programa mínimo social-democrático sobre "milícia" ou "armamento
do povo" por um novo ponto intitulado o "desarmamento".
A "Jugend-Internationale(Internacional da Juventude)"
abriu uma discussão acerca dessa questão e publicou, em seu Nr. 3, um artigo
editorial em favor do desarmamento.
Nas teses mais recentes do companheiro R. Grimm, fez-se, lamentavelmente,
também uma concessão à idéia do “desarmamento”[2].
Nas revistas "Neues Leben(Nova Vida)" e "Vorbote(O Precursor)"
foi igualmente lançada a discussão.
Pretendemos examinar aqui os argumentos dos adeptos do desarmamento[3].
I.
O seu argumento fundamental consiste em afirmar que a consigna de desarmamento
seria a expressão mais clara, decidida e conseqüente da luta contra todo e
qualquer militarismo e contra toda e qualquer guerra.
Porém, precisamente nesse argumento fundamental, reside o erro basilar dos
adeptos do desarmamento.
Os socialistas não podem ser contra toda e qualquer guerra, sem deixarem de
ser socialistas.
Em primeiro lugar, os socialistas nunca foram e não jamais poderão ser
adversários das guerras revolucionárias.
A burguesia das "grandes" potências imperialistas tornou-se
completamente reacionária e entendemos que a guerra que essa burguesia agora
conduz é uma guerra reacionária, escravista e criminosa.
Porém, como ficam as coisas, então, no que concerne a uma guerra
contra essa burguesia ?
P.ex., uma guerra de libertação, impulsionada por nações coloniais, i.e.
por povos oprimidos por essa burguesia e dela dependentes ?
Nas "teses diretrizes" do Grupo "Internacional",
lemos, no parágrafo 5 o seguinte :
"Na era desse imperialismo desatravancado, já não
são possíveis as guerras nacionais."
Isso é evidentemente equivocado.
A história do século XX, esse século do "imperialismo
desatravancado", encontra-se repleta de guerras coloniais.
Porém, aquilo que nós, europeus, opressores imperialistas da maioria dos
povos do mundo, denominamos de "guerras coloniais",
valendo-nos do nosso chauvinismo europeu imundo que nos é peculiar, são,
freqüentemente, guerras nacionais ou insurreições nacionais desses povos oprimidos.
Uma das principais características do imperialismo consiste precisamente no
fato de que acelera o desenvolvimento capitalista nos países mais atrasados e,
com isso, expande e aguça a luta contra a opressão nacional.
Isso é um fato e disso decorre, inevitavelmente, que o imperialismo tem de
produzir, com grande freqüência, guerra nacionais.
Junius (CRvG.:
Lenin
emprega aqui o pseudônimo de Rosa Luxemburg) que defende, em sua
brochura, as referidas "teses diretrizes",
afirma que, na época imperialista, toda e qualquer guerra nacional, travada
contra uma das grandes potências imperialistas, conduz à intervenção de uma
outra grande potência igualmente imperialista e concorrente da primeira.
Assim, toda e qualquer guerra nacional tranforma-se em uma guerra
imperialista.
Porém, esse argumento é também incorreto.
Pode ser que isso ocorra, porém nem sempre isso de fato ocorre.
Muitas guerras coloniais, travadas entre 1900 e 1914, não percorreram
esse caminho.
Seria simplesmente ridículo declarar que, p. ex., depois da guerra atual –
concluindo-se esta com o extremo esgotamento dos países beligerantes -, não
"poderá" existir "nenhuma" guerra nacional, progressiva,
revolucionária, digamos, impulsionada pela China, em aliança com a Índia,
a Pérsia
e o Sião
etc. contra as grandes potências.
Negar toda e qualquer possibilidade de guerras nacionais sob o imperialismo
é teoricamente incorreto e obviamente falso, em sentido histórico, sendo que,
em sentido prático, equivale ao chauvinismo europeu : nós que pertencemos às
nações que oprimem centenas de milhões de seres humanos na Europa, África,
Ásia
etc., declaramos aos povos oprimidos que sua guerra contra "nossas" nações
é "impossível"!
Em segundo lugar, guerras civis são também guerras
como todas as outras.
Quem reconhece a luta de classes não pode deixar de reconhecer também as guerras
civis que, em toda sociedade de classes, constituem a continuação, o
desenvolvimento e o aguçamento natural - e, em determinadas circunstâncias,
inevitável - da luta de classes.
Todas as grandes revoluções confirmam isso.
Rechaçar ou esquecer as guerras civis, significa
precipitar-se no mais extremo oportunismo, recusando a revolução socialista.
Em terceiro lugar, a vitória do socialismo em um país não exclui,
absolutamente, de uma vez por todas, todas as guerras em geral.
Pelo contrário : ela as pressupõe.
O desenvolvimento do capitalismo processa-se de maneira altamente desigual
nos mais diferentes países.
Isso não pode ser de outra forma, no contexto da produção de mercadorias.
Disso extrai-se a inafastável conclusão de que o socialismo não pode
vencer, simultaneamente, em todos os países.
Ele vencerá, de início, em um ou alguns países, ao passo que outros
permanecerão, por certo tempo, sendo burgueses ou pré-burgueses.
Essa situação há de produzir não apenas fricções, senão ainda o intento da
burguesia de outros países de esmargar o proletariado vitorioso do Estado
socialista.
Em tais casos, uma guerra de nossa parte seria legítima e justa.
Seria uma guerra pelo socialismo, pela libertação de outras nações em
face da burguesia.
Engels tinha
inteira razão quando declarou, expressamente, em sua Carta de 12 de setembro de 1882,
dirigida a Kautsky, que seria possível para o socialismo já vitorioso
ter de travar "guerras defensivas".
O que Engels tinha em mente era, nomeadamente, a defesa do
proletariado vitorioso contra a burguesia de outros países.
Apenas depois de termos derrubado, finalmente vencido e expropriado a
burguesia no mundo inteiro - e não apenas em um único país -, as guerras se
tornarão impossíveis.
De um ponto de vista científico, seria plenamente incorreto – como
extremamente não revolucionário – contornamos ou obscurecermos o mais
importante : a destruição da resistência da burguesia, i.e. a
tarefa mais difícil, a tarefa que exige o maior volume de luta na transição
para o socialismo.
Os padres e os oportunistas "sociais"
estão sempre dispostos a construir sonhos sobre o socialismo pacífico do
futuro.
Porém, eles distinguem-se dos sociais-democratas revolucionários
precisamente pelo fato de que não querem pensar nem se preocupar com a ferozes
lutas e guerras de classes, necessárias para tornarem esse belo futuro uma
realidade.
Não nos podemos deixar enganar com palavras.
Por exemplo : o conceito de "defesa da pátria" é
odiado por muitos porque com ele os oportunistas declarados e os kautskystas encobrem
e disfarçam as mentiras da burguesia sobre a guerra de rapina em andamento.
Isso é um fato.
Porém, daqui não decorre que devemos desaprender quando refletimos acerca
do significado das consignas políticas.
Aceitar a "defesa da pátria" na presente guerra não significa
nada mais além do que considerar essa guerra como se fosse "justa", como
se fosse uma guerra travada no interesse do proletariado.
Nada senão isso, pois a invasão não se encontra excluída de nenhuma guerra.
Porém, seria simplesmente estúpido pretender não aceitar a "defesa
da pátria" das nações oprimidas em sua guerra,
travada contra as grandes potências imperialistas ou a "defesa
da pátria" do proletariado vitorioso, em sua
guerra impulsionada contra um Gallifet qualquer de um Estado burguês[4].
Em sentido teórico, seria fundamentalmente equivocado esquecer que toda
e qualquer guerra é apenas a continuação da política com outros meios.
A presente guerra imperialista é a continuação das políticas imperialistas
de dois grupos de grandes potências e essas políticas foram geradas e
alimentadas por todo o conjunto das relações da época imperialista.
Porém, essa mesma época deve necessariamente engendrar e fomentar políticas
de luta contra a opressão nacional, bem como a política de luta do proletariado
contra a burguesia, gerando, conseqüentemente, em primeiro lugar, a
possibilidade e a inevitabilidade de insurreições e guerras nacionais
revolucionárias, em segundo lugar, guerras e sublevações do proletariado contra
a burguesia e, em terceiro lugar, a combinação de ambos esses tipos de guerras
revolucionárias etc.
II.
Além disso, surge ainda a seguinte ponderação de ordem geral.
Uma classe oprimida que não aspira a aprender usar armas, treinando-se com armas,
obtendo armas, uma semelhante classe vale apenas para ser oprimida, insultada e
tratada como escrava.
A menos que nos degrademos como pacifistas e oportunistas burgueses, não
nos podemos esquecer do fato de que vivemos em uma sociedade de classes, para a
qual não existe e não pode existir salvação, senão por meio da luta de classes.
Em toda e qualquer sociedade de classes - assentando-se ela na escravidão,
na servidão ou, tal como presentemente, no trabalho assalariado -, a classe
opressora encontra-se sempre armada.
Não apenas as forças armadas regulares modernas, senão também a milícia da
atualidade – e mesmo as mais democráticas repúblicas burguesas, como p.ex. a
Suíça, -, representam a burguesia armada contra o proletariado.
Essa verdade é tão elementar que mal carece de ser examinada mais
demoradamente.
Basta mencionar o uso de comandos militares, acionados contra os grevistas,
em todos os países capitalistas.
O armamento da burguesia contra o proletariado é um dos fatos mais
fundamentais e cardeais da moderna sociedade capitalista.
Em vista desse fato, pretende-se que os sociais-democratas revolucionários
levantem a "consigna de desarmamento" !
Isso equivaleria a um inteiro abandono do ponto de vista da luta de
classes, à renúncia de todo pensamento acerca da revolução.
Nossa consigna há de ser : armamento do proletariado, com o
objetivo de derrotar, expropriar e desarmar a burguesia.
Essa é a única tática possível para uma classe revolucionária, uma tática
que decorre logicamente de todo desenvolvimento objetivo do militarismo
capitalista e é por ele ditada.
Apenas depois de o proletariado desarmar a burguesia, poderá, sem
praticar uma traição à sua tarefa histórico-mundial, lançar suas armas em um
ferro velho.
Sem dúvida, o proletariado fará isso, porém apenas depois
de cumprir essa sua tarefa - não antes.
Se, para os socialistas cristãos-reacionários, para os pequeno-burgueses
choramingas, a presente guerra produz apenas horrores e execrações, apenas
aversão ao uso de armas, mortes, derramento de sangue etc., devemos dizer, pelo
contrário : a sociedade capitalista é e sempre foi um horror sem fim.
Se a presente guerra, a mais reacionária entre todas, está preparando agora
para essa sociedade um fim com horrores, não temos motivo algum para
desesperar-nos.
Porém, a “consigna” de desarmamento ou, mais acertadamente, o sonho
do “desarmamento” não constitui, objetivamente, senão uma
expressão do desespero em um momento em que, tal como todos vêem, a própria
burguesia encontra-se preparando o caminho para a única guerra legítima e
revolucionária, i.e. a guerra civil contra a burguesia imperialista.
Quem considera isso uma “teoria sem vida”, gostaríamos de que se recordasse de
dois fatos histórico-mundiais: o
papel dos trusts e o trabalho fabril das mulheres, de um lado, e, d’outro lado,
a Comuna
de Paris de 1871 e a Insurreição de Dezembro de 1905 na Rússia.
A burguesia dedica-se a fomentar os conglomerados empresariais, i.e. os
trusts, arrastar crianças e mulheres para as fábricas, submetendo-as à
corrupção e ao sofrimento, condenando-as à extrema miséria.
Não “reivindicamos” esse desenvolvimento, não “apoiamos” algo do
gênero.
Lutamos contra isso.
Porém, de que maneira lutamos
?
Esclarecemos que os conglomerados empresariais, os trusts, e o trabalho
fabril das mulheres são progressivos.
Não queremos voltar atrás, i.e. para o sistema artesanal, para o
capitalismo pré-monopolista, para a exploração doméstica das mulheres.
Devemos seguir para diante, para além dos trusts etc., e, através dele,
rumo ao socialismo!
O mesmo vale, mutatis mutandis, para a atual militarização do povo.
Hoje, a burguesia imperialista – e outras burguesias – militarizam tanto a
juventude como os adultos.
Amanhã, começará a militarizar as mulheres.
Nossa atitude em face disso deve ser : tanto melhor !
Que o faça, porém, apenas de modo mais rápido para adiante!
Quanto mais rapidamente nos movermos, tanto mais próximo estaremos da insurreição
armada contra o capitalismo.
Como podem os sociais-democratas se intimidarem ou desanimarem com a
militarização da juvetude etc., se não se esqueceram do exemplo da Comuna?
Não se trata aqui de “teoria sem vida”, não se trata de
nenhum sonho, mas sim de um fato.
E seria, realmente, desesperador se os sociais-democratas, apesar de todos
os fatos econômicos e políticos, começassem a duvidar de que a época
imperialista e a guerra imperialista
não devam conduzir, natural, necessária e inevitavelmente, à repetição desses fatos.
Foi um certo observador burguês da Comuna de Paris que, em maio de
1871, escreveu, para um jornal inglês :
“Se a nação francesa fosse constituída apenas por
mulheres, que nação terrível ela seria! ”
Durante a Comuna de Paris, mulheres e jovens com mais de 10 anos, lutaram
ao lado dos homens e não será diferente nas lutas vindouras, voltadas à
derrubada da burguesia.
As mulheres proletárias não ficarão olhando passivamente o modo segundo o
qual as forças da burguesia bem armadas disparam, mortalmente, contra o
proletariado pobremente armado ou absolutamente desarmado.
Elas pegaram em armas novamente, tal como em 1871, e, cedo ou tarde,
emergirá da nação, atualmente apavorada, ou, mais corretamente, do movimento
dos trabalhadores, atualmente mais desorganizado pelos oportunistas do que
pelos governos – porém, emergirá indubitavelmente e com absoluta certeza - uma liga
internacional das “nações terríveis” do proletariado revolucionário.
Hoje, a militarização penetra toda a vida social.
A militarização torna-se tudo.
O imperialismo é a luta feroz das grandes potências pela divisão e
redivisão do mundo.
Por isso, ele tem de conduzir à militarização suplementar em todos os países,
até mesmo nos países pequenos e neutros.
O que as mulheres proletárias devem fazer contra isso ?
Apenas execrar toda a guerra e tudo aquilo que é militar, exigindo apenas o
desarmamento ?
Jamais as mulheres de uma classe oprimida que é realmente revolucionária
contentar-se-ão com um papel tão vergonhoso.
Dirão, pelo contrário, a seus filhos :
“Você logo ficará grande. Vão-lhe dar um fuzil.
Pegue-o e aprenda bem toda a arte militar : isso é
necessário para o proletariado.
Faça isso não para atirar contra os seus irmãos, os
trabalhadores de outros países, tal como presentemente ocorre nessa guerra de rapina
e lhe aconselham para fazer os traidores do socialismo, mas sim para lutar
contra a burguesia do seu próprio país.
Faça isso para pôr um fim à exploração, à miséria e às
guerras, não através de desejos piedosos, mas sim por meio da derrota da burguesia
e o seu desarmamento.”
Caso não queiramos impulsionar uma tal propaganda e, precisamente, uma tal
propaganda no contexto da guerra atual, faríamos melhor em parar com a
utilização de palavras altissonantes sobre a guerra contra a guerra, sobre a
revolução socialista, sobre a social-democracia revolucionária internacional.
III.
Os adeptos do desarmamento estão contra a consigna programática de “armamento
do povo” também porque essa última reinvindicação conduziria, segundo
eles, mais facilmente, a concessões feitas ao oportunismo.
Já examinamos acima o ponto mais importante, i.e a relação do desarmamento
para com a luta de classes e para com a revolução socialista.
Agora, pretendemos abordar a relação existente entre a consigna de
desarmamento e o oportunismo.
Uma das principais razões pela qual é inaceitável a consigna de desarmamento
consiste precisamente no fato de que, por meio dela e das ilusões por ela
criadas, torna-se inevitavelmente enfraquecida e desvitalizada nossa luta
contra o oportunismo.
Não há nenhuma dúvida quanto ao fato de que essa luta é a questão principal
e a mais imediata que confunde presentemente a Internacional.
A luta contra o imperialismo que não se encontra vinculada estreitamente à luta
contra o oportunismo é ou uma frase vazia ou uma farsa.
Um dos principais erros de Zimmerwald e Kienthal e uma das
principais causas do possível fiasco desse embrião de III Internacional reside
no fato de que a questão da luta contra o oportunismo não foi sequer colocada
de maneira aberta, para nem falar em ter sido solucionada no sentido de
proclamar-se a necessidade de romper com os oportunistas[5].
O oportunismo prevaleceu – temporariamente - no movimento europeu dos
trabalhadores.
Em todos os grandes países, formaram-se dois matizes evidentes desse
oportunismo :
em primeiro lugar, o imperialismo social, declarado, cínico e, portanto,
menos perigoso, dos Srs. Plekhanov, Scheidemman, Legien,
Albert Thomas e Marcel Sembat, Vandelverde, Hyndman,
Henderson
etc.; em segundo lugar, o oportunismo kautskysta, disfarçado de Karl
Kautsky - Rudolf Haase e da "Associação Social-Democrática do
Trabalho", na Alemanha, Longuet, Pressemane, Mayeras
etc., na França, Ramsay McDonald e outros dirigentes do "Partido Independente dos
Trabalhadores", na Inglaterra, Martov, Tcheidze
e seus seguidores, na Rússia, Treves e outros assim chamados
reformistas de esquerda, na Itália[6].
O oportunismo declarado opõe-se ostensiva e diretamente à revolução, bem
como aos movimentos e irrupções revolucionárias que se iniciam.
Ele se encontra em aliança direta com os governos, ainda que possam ser
variadas as formas dessa aliança - indo
da aceitação de pastas ministeriais à participação nos Comitês de Indústria de Guerra
(na Rússia)[7].
Os oportunistas disfarçados, os kautskystas, são muito mais perigosos e
prejudiciais para o movimento dos trabalhadores porque encobrem sua defesa da
aliança com os oportunistas declarados mediante o manto de palavras pseudo-"marxistas"
plausíveis e consignas
pacifistas.
A luta contra ambas essas formas de oportunismo dominante há de ser
empreendida em todos os domínios da política proletária : nos parlamentos,
nos sindicatos, nas greves, nas forças armadas etc.
Porém, o principal traço distintivo de ambas essas formas do oportunismo
dominante reside na questão concreta da conexão da guerra atual com a
revolução, sendo que as outras questões concretas da revolução são
dissimuladas, escondidas ou tratadas com as regras das proibições policiais.
E tudo isso a despeito do fato de, antes da guerra, ter sido enfatizada,
por inúmeras vezes, quer inoficialmente, quer oficialmente no Manifesto
da Basiléia, à relação existente entre essa guerra - então
iminente - e a revolução proletária.[8]
O principal erro da consigna de
desarmamento é o de esquivar-se em face de todas questões
concretas da revolução.
Ou será que os adeptos do desarmamento estão a favor de um tipo
inteiramente novo de revolução, uma revolução desarmada ?
Mais do que isso: não somos absolutamente contrários à luta por reformas.
Não pretendemos ignorar a desagradável possibilidade de a humanidade, no
pior dos casos, ter de percorrer uma Segunda Guerra Imperialista, na
hipótese de a revolução não emergir da presente guerra, a despeito dos nossos
esforços.
Somos favoráveis a um programa de reformas que se deve voltar também
contra os oportunistas.
Os oportunistas ficariam muito felizes se deixássemos inteiramente para
eles a luta em favor das reformas e procurássemos escapar da triste realidade,
refugiando-nos na fantasia nebulosa do "desarmamento".
“Desarmamento” significa simplesmente uma fuga da desagradável realidade, de nenhuma
forma, porém, uma luta contra ela.
Em um tal programa, diríamos algo assim :
"A
aceitação da consigna de defesa da
pátria, na guerra imperialista de
1914 a 1916, constitui, tão somente, corrupção do movimento dos
trabalhadores, mediante o auxílio de uma mentira burguesa."
Uma tal resposta concreta a uma tal questão concreta seria teoricamente
mais correta, mais útil para o proletariado e muito mais insuportável para os
oportunistas do que a consigna de desarmamento e repudio de "toda
e qualquer" defesa da pátria !
E, poderíamos acrescentar : "
"A burguesia de todas as grandes
potências imperialistas - i.e. a Inglaterra, a França, a Alemanha, a Áustria, a
Rússia, a Itália, o Japão, os EUA -, tornou-se tão reacionária e tão penetrada
da aspiração de dominação do mundo que toda
e qualquer guerra impulsionada pela
burguesia desses países pode ser apenas uma guerra reacionária.
O
proletariado não deve apenas ser contra toda e qualquer guerra desse tipo,
senão ainda deve desejar a derrota
"de seu" governo em tais guerras, por meio de uma insurreição revolucionária, se uma tal insurreição falhar em impedir
a própria eclosão da guerra."
No que concerne à milícia, diríamos o seguinte :
"Não somos a favor de uma milícia burguesa, mas sim a favor de
uma milícia proletária.
Por isso, « nenhum homem e nenhum centavo » nem para as forças armadas permanentes nem
para a milícia burguesa, mesmo em países como os EUA, a Suíça, a Noruega
etc.
Tanto mais
quando assistimos a progressiva
prussificação da milícia, nos países republicanos mais livres (p.ex. na
Suíça), particularmente a partir de 1907 e 1911, e sua prostituição, ao ser
acionada contra grevistas."
Podemos reinvindicar :
"Eleição popular dos oficiais, supressão de
toda Justiça Militar, igualdade de Direitos entre trabalhadores estrangeiros e trabalhadores
nativos (um ponto particularmente importante para os Estados imperialistas
que, p. ex., tal como a Suíça, estão cada vez mais explorando
desavergonhadamente grande número de trabalhadores estrangeiros e negando-lhes
todos e quaisquer Direitos).”
Ademais, podemos reivindicar :
“o Direito de
cada centena de moradores - digamos assim – de um determinado país de formar associações voluntárias de
treinamento militar, com livre escolha de instrutores, a serem pagos pelo
Estado etc."
Apenas nessas condições, o proletariado poderia adquirir treinamento
militar realmente para si mesmo e não para seu escravistas.
A necessidade do referido treinamento é ditado imperativamente pelos
interesses do próprio proletariado.
A Revolução Russa demonstrou que todo êxito do movimento
revolucionário - seja mesmo apenas um êxito parcial do movimento
revolucionário, como p.ex. a conquista de uma certa cidade, de uma certa
localidade industrial ou de um determinado setor das forças armadas – impele
inevitavelmente a que o proletariado vitorioso execute um programa
semelhante a esse.
Por fim, é naturalmente evidente que não se pode derrotar o oportunismo com
meros programas : ele pode vir a ser derrotado apenas por meio de ações.
O erro mais expressivo e fatal da falida II Internacional consistiu
em que suas palavras não correspondiam a suas ações, ao mesmo tempo que
fomentava o hábito da hipocrisia e da fraseologia revolucionária inescrupulosa
(vide a presente postura de Kautsky & Cia. em face do Manifesto da Basiléia).
O desarmamento enquanto idéia social, i.e. idéia que nasce de um
certo ambiente social, podendo atuar sobre ele, não sendo, porém, a invenção de
algum celerado, emerge, obviamente, das condições peculiarmente "tranqüilas"
que prevalecem, excepcionalmente, em alguns pequenos Estados que se situaram
por um bom e razoável tempo à margem do sendeiro da guerra e do derramento de
sangue, sonhando com o permanecer nessa mesma situação.
Para nos convencermos disso, devemos apenas considerar p.ex. a argumentação
dos adeptos noruegueses do desarmamento que dizem o seguinte :
"Somos
um país pequeno. Nosso exército é pequeno.
Nada podemos
fazer contra as grandes potências (e, portanto, nada podemos fazer para
resistir contra nossa violenta
incorporação em uma aliança imperialista, provocada por um ou outro grupo das grandes
potências...).
Queremos que
nos deixem em paz em nosso canto florestal, para continuarmos com nossa
política de canto florestal, exigindo
desarmamento, tribunais arbitrais vinculantes, neutralidade permanente (“permanente”
à maneira da Bélgica, sem dúvida?) etc."
A limitada pretensão dos pequenos Estados de permanecer à parte, a
aspiração pequeno-burguesa de permanecer tanto quanto possível distante das
grandes batalhas da história mundial, tirando vantagem da da posição
relativamente monopolista de alguma nação em prol de sua própria passividade
estreita : esse é o meio social objetivo que pode assegurar à idéia de desarmamento
um certo grau de êxito e popularidade em alguns pequenos Estados.
Evidentemente, uma tal aspiração é ilusória e reacionária, visto que, de
todas as maneiras, o imperialismo arrastará os pequenos Estados no vórtice da
economia mundial e da política mundial.
Na Suíça, p.ex., o ambiente imperialista prescreve duas linhas ao movimento
dos trabalhadores :
Os oportunistas, em aliança com a burguesia, procuram fazer com que o país
ingresse em uma federação democrático-republicana monopolista, visando à
recepção dos lucros dos turistas da burguesia imperialista, mantendo essa "tranqüila"
posição monopolista tão lucrativa quanto possível seja.
Enquanto autênticos sociais-democratas atuantes na Suíça, pretendemos
utilizar a relativa liberdade suiça e a posição "internacional"
desse país para ajudar na vitória da estreita aliança dos elementos
revolucionários no interior dos partidos de trabalhadores da Europa.
Graças aos céus, a Suíça não fala nenhuma língua "exclusivamente sua", mas sim três línguas internacionais
e, em verdade, as três línguas faladas nos países beligerantes limítrofes.
Se 20.000 membros do Partido
Suíço pagassem dois centavos, semanalmente, a título de "imposto
extra de guerra", teríamos 20.000 francos por ano, montante esse
superior ao necessário para a publicação periódica, em três línguas, e
distribuição, entre os trabalhadores e soldados dos países em guerra, de toda a
verdadeira prova sobre a revolta dos trabalhadores que se inicia, sua
confraternização nas trincheiras, suas esperanças de que as armas serão utilizadas para a
luta revolucionária contra a burguesia imperialista de "seus"
próprios países etc., apesar de toda proibição imposta pelos
estados-maiores e quartéis-generais.
Isso não é novo.
Isso já está sendo realizado pelos melhores jornais, tais como "La
Sentinelle(A Sentinela)", "Volksrecht(O Direito do Povo)",
"Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna)", lamentavelmente,
porém, apenas em medida insuficiente[9].
Tão somente através dessa atividade, pode-se fazer da esplêndida Resolução
do Congresso de Aarau algo mais do que uma simples resolução esplêndida[10].
A questão que agora nos interessa é a seguinte : a consigna de "desarmamento"
corresponde a essa orientação revolucionária dos sociais-democratas suíços ?
É evidente que não corresponde.
O desarmamento corresponde, claramente, à linha
oportunista, estreitamente nacional,
limitadamente micro-estatal do movimento dos trabalhadores.
Ele é, objetivamente, um programa extremamente nacional, especificamente
nacional, dos pequenos Estados.
Certamente, não é o programa internacional da
Social-Democracia Internacional e Revolucionária.
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Voennaia Programma Proletarskoi
Revoliutsii(O Programa Militar da Revolução Proletária)(Setembro de 1916), in :
V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas),
Moscou : GIPL, 1961, Vol 30,
pp. 131 e s.; IDEM. Das
Militärprogram der proletarischen Revolution(O Programa Militar da Revolução
Proletária)(Dezembro de 1916), in : W. I. Lenin Werke (Obras de V. I. Lenin),
Vol. 23, Berlim : Dietz, 1962, pp. 72 e s.
O presente artigo encontra-se publicado, igualmente, em IDEM. Die Militärfrage der
proletatischen Revolution (A Questão Militar da Revolução Proletária)(Setembro
de 1916), in : Drei Aufsätze von W. I Lenin, Leo Trotzki, Karl Liebknecht.
Gegen den bürgerlichen Militarismus ! Gegen den Pazifismus ! Für die Bewaffnung
des Proletariats (Três Ensaios de V. I. Lenin, Léon Trotsky, Karl Liebknecht.
Contra o Militarismo Burguês ! Contra o Pacifismo ! Pelo Armamento do
Proletariado), Schriftreihe Internationale Jugendbibliothek (Série de Escritos
da Biblioteca Internacional da Juventude), Nr. 17, Berlim : Verlag
Jungendinternationale - Junge Garde, 1921, pp. 20 e s. Cumpre anotar, de modo
elucidador, que o artigo em tela, objeto da presente tradução para o idioma
português, surgiu, originalmente, em língua alemã, em setembro de 1916, tendo
sido destinado à publicação na imprensa escandinava social-democrática de
esquerda. Essa última havia intervindo, durante a guerra mundial imperialista
de 1914-1918, contra o ponto do programa social-democrático de "armamento
do povo", levantando a errônea consigna de "desarmamento".
Em dezembro de 1916, o artigo objeto da presente tradução foi publicado, em
língua russa, no Nr. 2 do "Sbornik Sozial-Demokrata(Compêndio
Social-Democrata), em versão adaptada, sob o título "Acerca
da Consigna de «Desarmamento»". Em abril de 1917, pouco antes de
sua partida para a Rússia, Lenin repassou o primeiro artigo,
redigido em língua alemã, à redação da revista alemã "Internacional da Juventude". Essa versão original foi publicada, então, em outubro
de 1917, nos Nrs. 9 e 10 dessa revista.
[2]
Anote-se que Lenin refere-se, nesse passo, às teses sobre a questão militar,
elaboradas, no verão de 1916, por R. Grimm, um dos dirigentes do Partido
Social-Democrático Suíço. Tais teses de R. Grimm surgiram no
quadro da preparação do Congresso Extraordinário do Partido
Social-Democrático da Suíça, o qual havia sido agendado, de início,
para fevereiro de 1917, devendo deliberar sobre a posição dos socialistas
suíços acerca da guerra.
[3]
Observe-se que o jornal "Neues Leben(Nova Vida)"
era o órgão do Partido Social-Democrático Suíço, dotado de publicação mensal.
Esse jornal foi editado em Berna, de janeiro de 1915 a dezembro
de 1917, tendo como objetivo central a promoção da defesa das posições da Direita
de Zimmerwald. No início de 1917, esse jornal
assumiu posições sociais-chauvinistas.
[4]
Com sua referência ao nome do General Galiffet, Lenin
refere-se ao célebre militar francês, renomado pela promoção de carnificinas
perpetradas no quadro do esmagamento da Comuna de Paris. Atribui-se a Galiffet, a
sumária execução de mais de cem mil trabalhadores e trabalhadoras da
Comuna de Paris.
[5] Lenin
refere-se aqui às Conferências Socialistas Internacionais de Zimmerwald e Kienthal,
cidades essas situadas na Suíça. A I Conferência Socialista
Internacional realizou-se, entre os dias 5 e 8 de setembro de 1915, em Zimmerwald.
Nessa conferência, registrou-se, sobretudo, um
embate entre os bolcheviques, encabeçados por Lenin, e a maioria pacifista-democratista, dirigida
por Kautsky.
Com apoio dos internacionalistas de esquerda, Lenin formou a Esquerda
de Zimmerwald, em cujo quadro apenas o POSDR
(Bolchevique) assumiu até o fim posição revolucionária
internacionalista conseqüente contra a guerra. A conferência em tela, dominada majoritariamente pelo social-pacifismo e
pelo oportunismo social-democrático, adotou, não obstante, um manifesto que
caracterizou a guerra mundial então em curso como guerra imperialista,
condenando a posição dos "socialistas" que haviam votado em favor dos créditos de
guerra e ingressado nos governos burgueses. Ela conclamou, ainda, trabalhadores
e trabalhadoras de toda a Europa à luta contra a guerra e pela
paz sem anexações e contribuições. Essa conferência acolheu, além disso, uma
declaração de simpatia em relação às vítimas da guerra e
elegeu uma Comissão Socialista
Internacional (CSI). A despeito dessas resoluções, a I Conferência Socialista Internacional de Zimmerwald negou-se a acolher a orientação de Lenin consistente na
transformação da guerra imperialista em guerra civil revolucionária e em
luta pela derrota dos próprios governos imperialistas na
guerra mundial. A II Conferência Socialista Internacional reuniu-se, então, entre 24 e 30 de abril de 1916, em Kienthal. Nessa conferência, a ala
de esquerda demonstrou-se mais decidida e fortalecida do que o fora na Conferência
de Zimmerwald. Lenin logrou, dessa forma, fazer
adotar uma resolução que desferia uma crítica ao
social-pacifismo e à atividade oportunista da Comissão Socialista Internacional(CSI). O
manifesto e as resoluções, adotados
em Kienthal,
representam um progresso no desenvolvimento do movimento
proletário-revolucionário internacionalista contra a guerra imperialista.
Dentro desses limites, as Conferências de Zimmerwald e de Kienthal
contribuíram para a formação e a unificação de todos os
lutadores internacionalistas. Não lograram, entretanto,
postular um ponto de vista conseqüentemente revolucionário-internacionalista,
por não adotarem manifestamente as principais diretrizes da política
bolchevique, consistente na transformação da guerra
imperialista em guerra civil revolucionária,
derrota dos próprios governos imperialistas na guerra mundial, bem como
decidido emprego de esforços visando à construção
de uma nova
Internacional Revolucionária, centralizada orgânica e democraticamente.
[6] Anote-se que a Associação
Social-Democrática do Trabalho (Sozialdemokratische Arbeitsgemeinschaft)
foi a organização dos centristas alemães que, em março de 1916, veio a ser
formada pelos deputados que romperam com a fração social-democrática do Parlamento
Alemão. Esse grupo tornou-se o embrião do Partido Social-Democrático
Independente da Alemanha (Unabhängige Arbeiterpartei Deutschlands), de
orientação centrista-oportunista e pacifista-democratista, criado em 1917. Esse
último partido veio, posteriormente, a defender a política dos
sociais-chauvinistas declarados, tais como Scheidemann, Ebert e Legien,
defendendo a unidade a ser com eles selada, no quadro do primeiro Governo
Coalizão ou de Frente Popular da história da Alemanha.
O Partido Independente dos
Trabalhadores (Independent Labour Party) foi fundado em 1893. Na
direção desse partido encontravam-se James Keir Hardy, Ramsay McDonald e
outros. Esse Partido reinvindicava sua independência política em face dos
partidos burgueses. Porém, tornou-se, tal como Lenin bem assinalou, "independente
do socialismo, mas dependente do
liberalismo". Durante a guerra mundial imperialista, de 1914 a
1918, o Partido Independente dos Trabalhadores de Hardy e McDonald interviu,
de início, defendendo seu Manifesto contra a Guerra, de 13 de
agosto de 1914. Mais tarde, entretanto, na Conferência dos Socialistas dos Países da
Entente, realizada em Londres, em fevereiro de 1915, os independentes
britânicos votaram a resolução social-chauvinista, adotada nessa conferência.
Desde então, os dirigentes “independentes”, disfarçados com frases
pacifistas-democratistas, colocaram-se em favor das posições do
social-chauvinismo. Após a fundação da Internacional Comunista, em 1919, os
dirigentes do Partido Independente dos Trabalhadores de Hardy e McDonald,
decidiu, sob pressão de grande parte de seus membros, deslocados, então, para a
esquerda, romper com a II Internacional. Em 1921, os
independentes aderirarm à assim denominada II ½ Internacional e regressaram,
após a falência dessa última, às fileiras da II Internacional.
[7] Anote-se que os Comitês de Indústria de Guerra foram
formados, na Rússia, em 1915, pela grande burguesia imperialista. A
burguesia que pretendia influenciar os trabalhadores e entusiasmá-los para a “defesa
da pátria”, adotou a idéia de formar, no interior desses comitês, "Grupos
de Trabalhadores". Para a burguesia era evidentemente vantajoso
conquistar para tais grupos representantes de trabalhadores que agitassem junto
às massas operárias em benefício do aumento da produtividade do trabalho nas
indústrias de armamentos, devendo, por isso, permanecerem em efetivas condições
de emprego nos locais de trabalho. Os mencheviques participaram, ativamente,
desses empreendimentos pseudo-patrióticos, organizados pela burguesia. Os
bolcheviques declararam o boicote aos Comitês de Indústria de Guerra e
executaram-no, exitosamente, contando com o apoio da ampla maioria das massas
trabalhadoras.
[8] Observe-se que o Manifesto da Basiléia sobre a Guerra
foi adotado, unanimemente, no Congresso Extraordinário da II Internacional
que teve lugar, nos dias 24 e 25 de novembro de 1912, na cidade da Basiléia.
Esse manifesto referiu-se aos objetivos de rapinha da então iminente guerra
imperialista e conclamou trabalhadores de todos os países a travarem enérgica
luta contra a guerra. No caso de eclosão de uma guerra imperialista, o
manifesto recomendava a todos os socialistas que explorassem a crise econômica
e política, a ser provocada pela guerra, em prol da luta pela revolução
socialista.
[9] Observe-se que "La Sentinelle(A Sentinela)” foi o órgão da organização
social-democrática do Cantão de Neuchâtel, situado na Suíça
Francesa. Ele foi fundado em 1884, em Chaux-de-Fonds. Nos
primeiros anos da guerra mundial imperialista de 1914 a 1918, posicionou-se ao
lado dos socialistas internacionalistas. Em 13 de novembro de 1914, publicou,
em seu Nr. 265, em versão resumida, o Manifesto do Comitê Central do Partido
Operário Social-Democrático Russo(POSDR), intitulado "A
Guerra e a Social-Democracia da Rússia". O "Volksrecht(O Direito do
Povo)" foi o diário do Partido Social-Democrático da Suíça
e do Cantão
de Zurique e apareceu, desde 1898, na cidade de Zurique. Na guerra
mundial imperialista de 1914 a 1918, esse jornal publicou artigos dos membros
da Esquerda
de Zimmerwald e, entre outros, também os artigos de Lenin
"Doze
Curtas Teses sobre a Defesa da Pátria de H. Greulich", "Acerca
das Tarefas do POSDR na Revolução Russa", "As Maquinações dos
Chauvinistas Republicanos". Depois da Revolução de Outubro de 1917,
o diário em tela passou a defender posições contra-revolucionárias. O "Berner
Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna)" foi o órgão do Partido
Social-Democrático da Suíça, tendo sido fundado em 1893, na cidade de Berna.
No início da guerra mundial imperialista de 1914 a 1918, foram nele publicados
artigos de Karl Liebknecht, Franz Mehring e outros sociais-democratas de
esquerda. Em 1917, esse jornal começou a defender abertamente posições
sociais-chauvinistas.
[10] Anote-se que Lenin refere-se aqui ao Congresso do Partido Social-Democrático da
Suíça, que teve lugar na cidade de Aarau, nos dias 20 e 21 de novembro
de 1915. Um dos pontos centrais da ordem-do-dia desse congresso foi o
posicionamento da Social-Democracia Suíça em face do processo de unificação dos
internacionalistas, em Zimmerwald. Em torno dessa questão,
desencadeou-se uma luta entre três frações da Social-Democracia Suíça :
1. a dos anti-zimmerwaldianos, social-chauvinistas, encabecados por Greulich,
Pflüger etc.; 2. os adeptos da Direita de Zimmerwald, representados
por Grimm
etc.; 3. os adeptos da Esquerda de Zimmerwald, comandados
por Platten
e outros. Grimm apresentou uma resolução que conclamava todo o Partido
Social-Democrático Suíço a aderir à unificação de Zimmerwald e aprovar a
linha política da Direita de Zimmerwald. Os sociais-democratas suíços de esquerda
opuseram à resolução de Grimm um requerimento de emenda que,
entre outras coisas, reconhecia como necessário o desenvolvimento de uma luta
de massas revolucionária contra a guerra e declarava ser possível colocar-se um
fim à guerra imperialista apenas mediante a revolução vitoriosa do proletariado
Com maioria de votos, o congresso em tela adotou o requerimento de emenda
apresentado por Platten.