ACADEMIA VERMELHA DE
ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :
A ARTE
PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA
ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS
A Tomada do Palácio de Inverno
LÉON D. TROTSKY[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers
Fevereiro 2005 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/ArteCapa.htm
“As falhas ocorridas na
tomada do Palácio são esclarecidas, em certa medida,
pelas qualidades
pessoais de seus principais dirigentes.
Podvoisky, Antonov-Ovseienko e Tchudnovsky são homens de caráter heróico.
Porém, em meu parecer, encontram-se longe de serem
homens de sistema e pensamento disciplinado.”
Léon D. Trotsky
“Não é difícil de
acreditar que suas roupas e seu chapéu encontravam-se em desordem:
basta recordar a jornada
noturna através das poças de lama da Fortaleza de Pedro e Paulo.
A alegria da vitória
podia, também, ser lida em seus olhos, porém, neles, dificilmente,
existia qualquer maldade
contra os conquistados :
« - Comunico-lhes, membros do Governo Provisório, que vocês estão presos »,
exclamou Antonov-Ovseienko,
em nome do Comitê Militar Revolucionário (CMR).
O relógio marcava,
então, 2 horas e 10 minutos da madrugada de 26 de outubro de 1917.”
Léon D. Trotsky
Em cálculos preliminares, havia sido proposto ocupar o Palácio
de Inverno, na noite de 25 de outubro, fazendo-o concomitantemente com
a tomada de outros altos pontos de comando da capital.
Um trio especial já havia sido formado, anteriormente, em
23 de outubro, para assumir a direção da tomada do palácio, sendo que Podvoisky
e Antonov-Ovseienko eram suas figuras centrais.
O engenheiro Sadovsky - homem que prestava
serviço militar - foi incluído como terceira figura, porém, resultou
rapidamente afastado, em virtude do fato de encontrar-se essencialmente ocupado
com os negócios da guarnição.
Sadovsky foi substituído por Tchudnovsky
que havia chegado com Trotsky, em maio de 1917, de um campo de
concentração no Canadá e passado três meses no fronte, como
soldado.
Lashevitch desempenhou também um papel
importante nas operações. Era um velho bolchevique que havia prestado
considerável serviço nas Forças Armadas, a ponto de ter-se
tornado um oficial não comissionado.
Três anos depois, Sadovsky veio a recordar-se
como Podvoisky e Tchudnovsky discutiram
furiosamente, em sua pequena sala, no Smolny, sobre o mapa de Petrogrado
e a melhor forma de ação, a ser adotada contra o palácio.
Por fim, decidiu-se sitiar a região do palácio, com um
cerco oval ininterrupto cujo eixo mais longo havia de ser o cais do Neva.
Do lado do rio, o círculo devia ser fechado pela Fortaleza
de Pedro e Paulo, pelo Aurora e por outros navios,
convocados a partir de Kronstadt, bem como pelas forças da marinha.
A fim de evitar ou paralisar tentativas de golpear a
retaguarda com destacamentos de cossacos e de cadetes militares, decidiu-se
estabelecer imponentes flancos defensivos, compostos de destacamentos
revolucionários.
Em seu conjunto, o plano era por demais obscuro e
complicado para o problema que cumpria solucionar.
O tempo conferido à sua preparação demonstrou ser
inadequado.
Tal como era possível esperar-se, pequenas faltas de
coordenação e omissões surgiam, a cada passo.
Em um certo local, a direção foi incorretamente indicada,
em outro, o dirigente chegou atrasado, por ter lido erroneamente as instruções,
em um terceiro, tiveram de esperar o resgate de um carro blindado.
Conclamar as unidades militares, uní-las à Guarda
Vermelha, ocupar as posições de combate, assegurar-se da existência de
comunicações entre todas elas e os bairros : tudo isso exigiu bem mais tempo do
que o imaginado pelos líderes que discutiam sobre o mapa de Petrogrado de que dispunham.
Quando o Comitê Militar Revolucionário (CMR) anunciou,
por volta das 10 horas da manhã, que o Governo havia sido
derrubado, a extensão do atraso havido não era ainda nem mesmo clara para os
que estavam situados no comando direto da operação.
Podvoisky havia prometido a queda do palácio
para “não depois das 12 horas”.
Até essa hora, tudo havia corrido tão suavemente, no
domínio militar, que ninguém possuía razão alguma para questionar acerca das
horas.
Porém, ao meio dia, comprovou-se que a força de assalto
não havia sido ainda acionada, que os lutadores de Kronstadt não
haviam chegado e que, entrementes, a defesa do palácio havia sido reforçada.
Essa perda de tempo – tal como quase sempre costuma
ocorrer – tornou necessário novos atrasos.
Sob a urgente pressão do Comitê Militar
Revolucionário (CMR), a tomada do palácio havia sido, agora, fixada
para as três horas, sendo esse horário o “definitivo”.
Contando com essa nova decisão, o porta-voz do Comitê
Militar Revolucionário (CMR) expressou, na sessão vespertina do Soviete,
a esperança de que a queda do Palácio de Inverno seria uma questão
a ser resolvida nos próximos minutos.
Porém, outra hora se passou, sem que nenhuma decisão
surgisse.
Podvoisky, ele mesmo, em um estado de
excitação, declarou, ao telefone, que, por volta das seis horas, o palácio
seria tomado, custe o que custasse.
Contudo, essa sua última promessa não se realizou.
E, de fato, bateram seis horas e o despregar não havia
ainda começado.
Expostos às pressões vindas do Smolny, Podvoisky e
Antonov-Ovseienko recusaram-se, então, a fixar absolutamente uma
hora determinada.
Isso causou uma séria ansiedade.
Em sentido político, considerou-se necessário que, no
momento da abertura do congresso, toda a capital deveria estar nas mãos do Comitê
Militar Revolucionário (CMR) : isso seria para simplicar a tarefa de
lidar com a oposição congressual, colocando-os diante de um fato consumado.
Entrementes, a hora indicada para a abertura do congresso
havia chegado e, a seguir, fora postergada, e, depois, retornara, novamente,
sendo que o Palácio de Inverno seguia, ainda, de pé.
Assim, graças a esse atraso, o assalto do palácio
tornou-se o problema central da insurreição, durante não menos do que 12 horas.
O principal Estado-Maior da operação permaneceu
no Smolny, onde Lashevitch mantinha as ligações
em suas mãos. Os quartéis-generais encontravam-se na Fortaleza de Pedro e
Paulo, onde Blagonravov era o homem responsável. Existiam
três quartés-generais subordinados : um no Aurora, outro no
quartel do Regimento Pavlovsky e um terceiro no quartel dos
marinheiros.
No campo da
ação, os líderes eram Podvoisky e Antonov-Ovseienko –
aparentemente, sem qualquer ordem de prioridade.
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V.
FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU -
______________________________________
BREVES REFERÊNCIAS
BIOGRÁFICAS DE
ANTONOV-OVSEIENKO,
VLADIMIR ALEXANDROVITCH
por
Rochel von Gennevilliers
Vladimir
Alexandrovitch Antonov-Ovseienko nasceu em 1884, na cidade de Tchernigov, no seio de uma
família de um comandante da reserva de regimentos de infantaria da Rússia
Czarista.
Foi um
dos mais ativos dirigentes da Grande Revolução Proletária
Internacionalista de Outubro de 1917 e a da subseqüente Guerra Civil Russa,
travada também contra a Intervenção Imperialista, entre 1918 e
1921.
Seu
pseudônimo partidário foi “Schtyk” e o literário, “A.
Galsky”.
Antonov-Ovseienko ingressou no movimento revolucionário russo, em 1901,
quando, então, era cadete da Escola Militar de Voronez e da Escola
de Engenharia Militar de Nikolaievsk.
Nesse
mesmo ano, foi expulso dessas instituições militares, por recusar-se a prestar
juramento de lealdade ao Czar Nikolau II.
Tornou-se
membro do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR), em
1902. Em 1904 - agrupado, então, entre os mencheviques -, concluiu a Escola
de Cadetes Militares de Petersburgo.
Desertou
das Forças Armadas Czaristas, durante o ascenso revolucionário de
1905, passando a colaborar para a edição do jornal militar-clandestino “Kazarma
(Caserna)”.
A Revolução
Russa de 1905-1907 envolveu Antonov-Ovseienko em
atividades desenvolvidas na cidade de Novaia Alexandra, na Polônia,
onde tomou parte ativa da organização da Insurreição Armada dessa localidade.
Depois
desse episódio, foi preso.
Ao ser
libertado, a seguir, em virtude da concessão de uma ampla anistia, retomou a
realização de seu trabalho revolucionário.
Enquanto
representante da organização militar do POSDR, ingressou, em
1906, na composição do Comitê de Petersburgo.
Depois
de participar da Conferência da Organização Militar do POSDR, ocorrida
nesse mesmo ano, na cidade finlandesa de Tammersfors, ocupou-se
com a organização da Insurreição Armada de Sebastopol.
A
seguir, foi condenado com sentença de morte, convertida, então, em 20 anos de
trabalhos forçados.
Porém,
em junho de 1907, um grupo de mencheviques logrou libertá-lo, ao produzir um
buraco na parede da prisão em que se encontrava.
Tendo
conseguido fugir, passou a militar na Finlândia e, novamente, em Petersburgo,
vindo a entrar em contato com a Associação Moscovita de Editores de Livros.
Depois
de mais dois encarceramentos, emigrou para a França, em 1910.
Nos
anos da I Guerra Mundial Imperialista que precederam à Revolução
Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, Antonov-Ovseienko atuou,
juntamente, com L. D. Trotsky, na redação do jornal “Noshe
Slovo (Nossa Palavra)”.
Tornou-se
também Secretário do Bureau de Trabalho Partisão, sendo
responsável pela edição do jornal “Golos (Voz)”.
Em maio
de 1917, regressou do exílio e, de imediato, ingressou nas fileiras do POSDR
(Bolchevique), passando a exercer funções de direção da organização militar-partidária
e tornando-se membro de seu Comitê Central, vindo a atuar preponderantemente na cidade
finlandesa de Helsingfors (Helsinki).
Ao lado
de P.
I. Dybenko e I. T. Smilga, rapidamente,
notabilizou-se como organizador experiente, jornalista e orador de massas.
Nos Dias
de Julho de 1917, Antonov-Ovseienko foi preso pelo Governo
Provisório Frente Populista e encarcerado no “Presídio das
Cruzes”.
Nos
dias que precederam à Revolução Proletária de Outubro de 1917, foi
eleito membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de
Petrogrado, presidido por L. D. Trotsky, e,
juntamente, com N. I. Podvoisky e G. I. Tchudnovsky, assumiu
a direção militar imediata das operações de arte proletária da Insurreição
Socialista, deflagrada nessa cidade, visando à tomada do Palácio
de Inverno e à prisão do Governo Provisório Frente-Populista de
Kerenky e do General Krasnov.
Foi um
dos principais estrategistas e comandantes militares da captura do Palácio
de Inverno, tendo dirigido, pessoalmente, a Guarda Vermelha dos
Trabalhadores e a Divisão dos Marinheiros de Kronstadt na
execução de tal tarefa, em 25 de Outubro de 1917.
Acerca
das características de Antonov-Ovseienko, ardente dirigente
militar da Insurreição de Outubro, situado sob sua direta direção
política, Trotsky destacou, precisamente o seguinte :
“Por
seu caráter, Antonov-Ovseienko era
um otimista impulsivo, extraordinariamente mais apto para a improvisação do que
para cálculos.
Enquanto
antigo oficial de patente inferior, possuía um certo volume de informação
militar.
Durante
a Grande Guerra, enquanto emigrante, formulou, no jornal parisiense « Nashe
Slovo », análises militares e revelou, freqüentemente, possuir instinto estratégico.
Seu
diletantismo impressionante nesse domínio não podia criar contrapesos às
incomensuráveis divagações de Podvoisky.”[2]
Assim, o partido dirigente de Lenin, sob o comando imediato de Trotsky,
foi capaz de desempenhar, em 25 de outubro de 1917, com talento e habilidade, a Arte
da Insurreção Socialista, tendo em conta as experiências práticas da Comuna
de Paris de 1871 e da Insurreição de Moscou de Dezembro
de 1905, observando, com triplicada audácia, as regras de atuação
revolucionária de Georges-Jacques Danton e recomendadas com perspicácia
proletária por Marx e Engels[3].
O impacto da vitória revolucionária, orquestrada sobretudo por Lenin,
Sverdlov e Trotsky, pôde, então, ser lida nos olhos de Antonov-Ovseienko,
às 2 horas e 10 minutos da madrugada, de 26 de outubro de 1917, quando,
na Tomada
do Palácio de Inverno, exclamou, em nome do Comitê Militar Revolucionário :
“- Comunico-lhes, membros do Governo Provisório, que vocês estão todos
presos.”[4]
No II
Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, Antonov-Ovseienko foi eleito –
juntamente com P. I. Dybenko e N. V. Krylenko - membro
do Comissariado Colegiado do Povo para Assuntos de Guerra e de Marinha.
Nesse contexto, Antonov-Ovseienko
assumiu o posto de Comissário para a Guerra e o Fronte Interno,
ao passo que Dybenko, o de Comissário para a Marinha, e
Krylenko, o de Comissário para o Fronte Externo.
No
período da Guerra Civil, dirigiu o Fronte da Ucrânia,
tendo mantido estreitas relações com L. D. Trotsky,
durante esse período.
Tornou-se,
então, Comissário do Povo da Ucrânia para a Guerra e assumiu uma
série de outras obrigações de comando militar.
Em
1920, foi nomeado membro do colegiado do Comissariado do Povo para o
Trabalho e, posteriormente, Vice-Presidente do Comissariado
Soviético da Juventude, bem como membro do colegiado do Comissariado
do Povo para Assuntos Estrangeiros.
Em
1922, voltou-se, porém, contra Lenin, acusando-o de estabelecer
compromissos com os kulaks e o capitalismo estrangeiro.
Apesar
disso, foi nomeado pelo Governo de Lenin, nesse mesmo ano, Chefe
da Administração Política das Forças Armadas Vermelhas, função que
exerceu até o início de 1924.
Entre
1922 e 1924, exerceu também a função de chefe da Direção Política do Conselho
Revolucionário da República Russa Soviética.
Integrou
o Conselho
Revolucionário de Guerra da Rússia Soviética, juntamente com L. D.
Trotsky, M. V. Frunze, K. A. Mekhonoschin, V. I. Nevsky, A. I. Okulov, F. F.
Raskolnikov e I. T. Smilga.
Já em
fins de 1923, Antonov-Ovseienko aderiu à Oposição de Esquerda,
encabeçada
por L. D. Trotsky.
Em
virtude disso, foi prontamente afastado de seu comando militar pela troika
burocrática e contra-revolucionária de Stalin, Kamenev e Zinoviev e
removido, em 1925, do cenário da luta política, travada no interior da URSS.
Nesse
ano, foi transferido por Stalin para a função de Representante
Político da URSS, na Tchecoslováquia.
Antonov-Ovseienko
permaneceu nas fileiras
da Oposição de Esquerda até 1928, quando, então, capitulou ao
stalinismo burocrático contra-revolucionário, sem que Stalin jamais
nele viesse a devidamente confiar para a cega execução de seus planos
ditatoriais-sanguinários.
Em
1928, foi, então, no cargo de Representante Político da URSS,
enviado para Lituânia e, a partir de janeiro de 1930, para a Polônia.
A
seguir, tornou-se Cônsul Geral da URSS, em Barcelona,
na Espanha.
Nesse
último contexto, cooperou com a articulação da intervenção de dirigentes
stalinistas contra-revolucionários na sustentação do Governo de Frente
Popular e Colaboracionista da Espanha.
Aparentemente
persuadido pela suposta veracidade das provas falsificadas por Stalin
nos autos do “Processo contra os 17 Assassinos Trotskystas-Zinovievistas de Sergei
Minovitch Kirov” – em verdade, assassinado pelo próprio Stalin
e seus agendes da NKVD -, processo esse encenado, em 1936, na
“Sala
de Outubro da Casa dos Sindicatos”, sobretudo contra Kamenev
e Zinoviev, Antonov-Ovseienko
posicionou-se,
no âmbito do Tribunal Supremo do Colégio Militar e em artigo
publicado então no jornal “Izvestia (Notícias)” em que repudiava
suas “ilusões trotskysta”, em favor da punição de todos os
acusados pela burocracia contra-revolucionária[5].
Isso não impediu que Stalin se convencesse, a seguir, definitivamente, de que Antonov-Ovseienko
conspirava contra suas ordens e, em fins de agosto de 1937, exigiu seu
retorno à URSS, quando, sob o pretexto de destituí-lo de suas funções militares na Espanha,
nomeou, dissimuladamente, Comissário do Povo para a Justiça da URSS.
Poucas
semanas depois, na noite de 11 de outubro de 1937, foi preso em sua casa em Moscou,
sob a acusação de prática de « crime contra o Estado Soviético »
e encarcerado nos Presídios de Lubianka e, então, Butyrka.
Como se
negasse inflexivelmente a assinar a confissão de culpa, falsificada por Stalin
e Vyschinsky, foi por estes condenado, em 8 de fevereiro de 1938, a 10
anos de prisão.
Em fins
desse mesmo ano, em meio ao paranóico morticínio organizado por Stalin
contra os principais dirigentes da Revolução Proletária de Outubro de 1917, Antonov-Ovseienko foi torturado até que se produzisse a sua
morte.
Algumas
fontes soviéticas afirmam que, em verdade, teria sucumbido em 1939.
Acerca
do extermínio stalinista dos principais dirigentes militares da Revolução
de Outubro e Criadores das Forças Armadas Vermelhas – entres eles, em
primeira linha, Antonov-Ovseienko, escreveu Trotsky, de
maneira plenamente elucidativa :
“Em
1923, a editora do Comitê Executivo Central dos Sovietes publicou um volume de
400 páginas intitulado “A Cultura Soviética”.
Na
seção dedicada às Forças Armadas, foram inseridos inúmeros retratos dos
«Criadores das Forças Armadas Vermelhas».
Stalin não se encontra entre eles.
No
capítulo intitulado “As Forças Armadas da Revolução durante os Primeiros Sete
Anos de Outubro”, o nome de Stalin
não é sequer mencionado.
Aí, são
referidas e ilustradas as seguintes personalidades : Trotsky, Budionny, Blücher, Voroshilov e,
além disso, mencionados Antonov-Ovseienko,
Bubnov, Dybenko, Yegorov, Tukhatchevsky, Uborevitch e outros, sendo que
quase todos eles foram, a seguir, declarados inimigos do povo e assassinados.
Entre
os mencionados, apenas dois – Frunze
e S. Kamenev – tiveram uma morte
natural.
Também Raskolnikov foi mencionado, enquanto
comandante do Báltico e das Frotas do Cáspio.”[6]
Após a sua morte, o “trotskysta,
inimigo do bolchevismo” Antonov-Ovseienko foi amplamente
caluniado pelos lacaios e historiadores do burocratismo contra-revolucionário
de Stalin, vindo a ser qualificado mais genericamente de «
inimigo do povo ».
De maneira inteiramente
hipócrita e praticamente inexpressiva, foi reabilitado por Khrushtchov e
Mikoian, no quadro do XX. Congresso do PC da URSS,
ocorrido em 1956.
A extensa obra literário-militar
de Antonov-Ovseienko, suas centenas de publicações jornalísticas,
ensaios, análises e perspectivas permanecem, ainda hoje, pouco conhecidos do
grande público, interessado na história da Revolução Proletária de
Outubro de 1917.
BREVES REFERÊNCIAS
BIOGRÁFICAS DE
TCHUDNOVSKY,
G. I.
por
Rochel von Gennevilliers
G. I.
Tchudnosky foi um dos
lutadores mais extraordinariamente ardentes e corajosos da Revolução
Socialista de Outubro. Nasceu, provavelmente, em 1899, e morreu bastante
jovem, sendo que, precisamente por isso, pouco ficou-se sabendo sobre ele.
Certo é
que foi um marxista-revolucionário fervoroso, e já como adolescente ingressou
nas fileiras do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR).
Tchudnosky era dotado de grande entusiasmo prático e expressivo
interesse para as questões teóricas do marxismo revolucionário.
Tendo
sido preso e exilado em decorrência de suas atividades revolucionárias, logrou
fugir, pouco depois, para além das fronteiras do Império Czarista,
emigrando, afinal, para os EUA.
No
quadro da I Guerra Mundial Imperialista, tornou-se, então, um dos
grandes colaboradores do jornal “Nashe Slovo (Nossa Palavra)”, dirigido
por Léon Trotsky, entre janeiro de 1915 e setembro de 1916.
Logo
depois da Revolução de Fevereiro de 1917 – mais precisamente em
maio de 1917 -, regressou à Rússia, procedente de
um campo de concentração no Canadá, em companhia de Trotsky.
Por
dever de prestação de serviço militar, Tchudnosky ingressou nas
fileiras das Forças Armadas do Governo Provisório
Frente-Populista, e, rapidamente, após atuar durante três meses no
fronte de guerra, conquistou postos de direção, em uma das corporações
militares de então. A partir dos primeiros dias da Revolução Socialista
de Outubro, Tchudnosky
não mais se separou dos campos de batalha proletário-revolucionários.
Em 23
de outubro de 1917, quando, no quadro da Insurreição Socialista, formou-se
um trio especial para assumir a direção da tomada do Palácio de Inverno, tendo
como figuras centrais Podvoisky e Antonov-Ovseienko,
Tchudnovsky veio a substituir Sadovsky que havia sido
incluído, inicialmente, como terceiro componente do trio em destaque, mas que
fora, a seguir, afastado por encontrar-se manifestamente ocupado com os
negócios da guarnição.
Podvoisky
e Tchudnovsky
foram os responsáveis pela formulação técnica da ação militar a ser
empreendida, visando à tomada do Palácio de Inverno.
Sobre
as características de Tchudnovsky, o terceiro dos comandantes
militares da Insurreição Socialista de Outubro, e de todos os
demais ousados comandantes militares, situados sob sua direta direção política,
Trotsky destacou, precisamente :
“O
terceiro desses dirigentes militares, Tchudnovsky,
despendeu alguns meses em um fronte inativo, como agitador : esse era o total
de seu estágio militar.
Embora
gravitando em torno da ala de direita, Tchudnovsky
foi o primeiro a entrar em combate e sempre procurou por aquele lugar, onde as
coisas estavam mais quentes.
Ousadia
pessoal e audácia política não se encontram sempre – como se sabe – em
equilíbrio. Alguns dias depois da Revolução, Tchudnovsky foi ferido perto de Petrogrado, em uma desavença havida
com os cossacos de Kerensky e, alguns meses depois, assassinado na Ucrânia.
É claro
que o loquaz e impulsivo Tchudnovsky
não podia substituir o que faltava nos outros dois dirigentes. Nenhum deles era
inclinado para os detalhes, já porque não eram dedicados aos segredos do
negócio.
Sentindo
sua própria fraqueza em questões como reconhecimento, comunicações, manobras,
esses marechais vermelhos sentiram-se obrigados a fazer rolar contra o Palácio de Inverno uma tal
superioridade de forças que fosse capaz de suprimir a própria possibilidade de
direção prática : uma grandiosidade desmedida do plano é quase equivalente à
sua inexistência.
O que
aqui foi dito não significa, absolutamente, que seria possível encontrar, na
composição do Comitê Militar
Revolucionário ou em volta dele, dirigentes militares mais capazes.
Em
última instância, seria certamente impossível ter encontrado dirigentes mais
devotados e altruísticos.”[7]
Encontrando-se
sob fogo cruzado, Tchudnovsky destacou-se no combate desfraldado
contra os destacamentos militares de Kerensky e do General Krasnov.
Segundo
Trotsky:
“Tchudnovsky comandou um dos destacamentos:
não porque conhecesse questões militares melhor do que outros, mas sim porque
era mais resoluto e corajoso do que eles.”[8]
Mesmo
ferido à bala, regressou, imediatamente, ao campo de combate e expôs-se, mais
uma vez, à linha de fogo, não a abandonando até o cessar das atividades
bélicas.
Tão
logo as lutas se incendiaram na Ucrânia, nos primeiros meses de
1918, Tchudnovsky para lá se dirigiu. Em meios aos partisãos
revolucionários, combateu, ativamente, as tropas imperialistas dos ocupantes
alemães e austríacos e os bandos armados da Rada Central, organismo
contra-revolucionário unificador dos partidos nacionalistas burgueses e
pequeno-burgueses da Ucrânia. Esses últimos capturaram-no e
condenaram-no à pena de morte, sem lograrem, porém, executá-la.
Ao
penetrarem em Kiev, as Forças Armadas Vermelhas
libertaram-no, porém não por muito tempo. Logo a seguir, forçadas a baterem em
retirada da cidade de Kharkov, Tchudnovsky foi assassinado,
possivelmente por inimigos imperialistas alemães ou por algum de seus aliados
político-militares, nacionalistas-democratas, socialistas-revolucionários (SRs)
e sociais-democratas reformistas, cujos bandos armados atuavam amplamente no
interior da Rada Central.
A data e o local da morte de Tchudnovsky
permanece inteiramente desconhecida.
BREVES REFERÊNCIAS
BIOGRÁFICAS DE
PODVOISKY,
NIKOLAI ILITCH
por
Rochel von Gennevilliers
Nikolai
Ilitch Podvoisky nasceu
em 1880. Foi um expressivo militante do movimento revolucionário da Rússia
Czarista e um dos mais ativos dirigentes político-militares, envolvidos
na preparação e execução da insurreição armada da Grande Revolução
Socialista de Outubro.
Ingressou
no movimento revolucionário, em 1898. Foi membro do Partido Operário
Social-Democrático Russo (POSDR), a partir de 1901. Desde então,
dirigiu trabalho partidário clandestino-revolucionário na Ucrânia,
em Yaroslavl, Ivanovo-Voznecensk, Kostrom, Baku, Petersburgo e em
outras cidades.
Podvoisky
surgiu, em 1905, como um
dos principais dirigentes bolcherviques das greves políticas e um dos mais
notáveis organizadores do Soviete de Deputados Trabalhadores da
cidade de Ivanovo-Voznecensk. Ainda em outubro de 1905, organizou
grupos operários de luta, no quadro das ações revolucionárias dos trabalhadores
da cidade de Yaroslavl.
Podvoisky foi, a seguir, encarcerado, por diversas vezes, em
prisões e penitenciárias. Em 1906, emigrou. Logo a seguir, porém, regressou à Rússia,
ocupando-se com a direção do trabalho bolchevique
clandestino-revolucionário de Petersburgo.
Entre
os anos de 1912 e 1914, participou da organização e do trabalho dos jornais
bolcheviques “Zvezda (A Estrela)” e “Pravda(A Verdade)”.
Nos
dias da Revolução de Fevereiro de 1917, Podvoisky participou dos
combates de rua, na cidade de Petrogrado e defendeu posições políticas de apoio crítico ao Governo
Provisório Frente-Populista, avançado para a defesa da Revolução
Proletária apenas no quadro das Teses de Abril, redigidas
por Lenin.
Entre
os meses de fevereiro e outubro de 1917, tornou-se membro do Comitê de
Petrogrado do POSDR (Bolchevique) e do Soviete dos Deputados
Trabalhadores e Soldados dessa cidade.
Nesse
mesmo período, Podvoisky emergiu como um dos principais
dirigentes da Organização Militar do Comitê Central do POSDR
(Bolchevique). Participou, ativamente, dos Dias de Julho de 1917 e
foi eleito delegado ao VI Congresso da Reunificação do POSDR
(Bolchevique). Trabalhou, a seguir, nas atividades de armamento,
instrução e formação militar das unidades da Guarda Vermelha.
Nos
dias da Revolução Socialista de Outubro, tornou-se membro do
Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de Petrogrado – presidido por Pavel
Lazimir –, órgão militar esse siituado sob a presidência geral
do Soviete
Petrogrado de Léon Trotsky.
Após a vitória da Revolução
Proletária de Outubro de 1917, foi por Lenin nomeado, em
11 de novembro de 1917, um dos Vice-Comissários do Povo para Assuntos
Militares e Navais.
Podvoisky
foi também um dos
principais dirigentes militares das operações de combate visando à aniquilação
do motim, impulsionado por Kerensky e Krasnov, e à
tomada do Palácio de Inverno.
Acerca
das características de Podvoisky, enquanto dirigente militar da Insurreição
Armada de Outubro, situado sob sua direta direção política, Trotsky
destacou, precisamente:
“As
falhas ocorridas na tomada do Palácio são esclarecidas, em certa medida, pelas
qualidades pessoais de seus principais dirigentes.
Podvoisky, Antonov-Ovseienko e Tchudnovsky são homens de
caráter heróico.
Porém, em meu parecer, encontram-se longe de serem homens
de sistema e pensamento disciplinado.
Tendo
sido excessivamente impetuoso nos Dias de Julho, Podvoisky tornara-se muito
mais precavido e, até mesmo, cético em relação às perspectivas imediatas.
Porém,
no fundamental, permaneceu fiel a si mesmo : face à face com tarefas práticas
das mais diversas naturezas, inclinava-se, organicamente, a irromper seus
limites, ampliar o plano, abarcar todos e tudo, dar o máximo, quando o mínimo
apresentava-se como suficiente.
Na
hipérbole do plano insurrecional, pode-se, facilmente, encontrar a marca do
espírito de Podvoisky.”[9]
Nos
meses de fevereiro e março de 1918, comandou, nas cidades de Pskov e
Narva, atividades militares contra forças capitalistas-imperialistas e Guardas
Brancos.
Por
ordem do Comitê Central do Partido Comunista Russo (Bolchevique),
Podvoisky trabalhou na criação do Comissariado do Povo para
Assuntos Militares e assumiu a direção da Instrução Militar de
Todo o Povo.
Ocupou,
então, a função de Presidente do Colegiado de Formação das Unidades das
Forças Armadas Vermelhas.
No
período da Guerra Civil e da intervenção militar imperialista
atuou na defesa militar de Petrogrado, do Volga, dos
Urais, do Fronte do Sul e do Danúbio.
Em
virtude de seus trabalhos militares, foi condecorado, então, com a Ordem
da Bandeira Vermelha. A seguir, em 1919, Podvoisky foi
nomeado Comissário do Povo para Assuntos Militares da Ucrânia.
Nada
obstante, durante o Governo de Lenin, Podvoisky jamais exerceu funções de comando
supremo ou essencialmente dirigentes, sendo removido, pelo contrário, por Lenin
de algumas de suas mais importantes atribuições.
Após a
morte de Lenin, aderiu, abertamente, ao stalinismo burocrático-soviético
contra-revolucionário.
Nesse
último contexto, foi eleito membro do Comitê Central, nos XIII,
XIV e XV Congressos do PCR (Bolchevique), agora inteiramente deformado
pelo stalinismo burocrático-policialesco, ainda que sob o Governo de Lenin jamais
houvesse sido eleito delegado para um congresso do POSDR ou do PCR
(Bolchevique).
Em
1939, i.e. dois anos após a Grande Depuração Stalinista, dos 20
membros do heróico Comitê de Petrogrado do POSDR (Bolchevique) de 1917, que
contribuira ativamente para a Insurreição Socialista de Outubro, apenas
Nikolai Ilitch Podvoisky havia sobrevivido, sendo que, porém, já
então sofria de profundas perturbações mentais, não podendo mais impulsionar
sistematica e regularmente nenhum tipo de trabalho político ou organizativo.
Nos derradeiros anos de sua vida, ocupou-se com
atividades propagandistas e literárias relacionadas com questões militares.
Faleceu, então, em 1948.
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA
MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. TROTSKY, LÉON
DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Vziatie Zimnevo Dvortsa (A Tomada do Palácio de
Inverno), in : Léon Trotsky. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revoluçao
Russa)(1930-1933), Volume II, Segunda Parte, Moscou : Terra – Respublika, 1997,
pp. 216 e s.
[2] Cf. IDEM.
Oktiabrskoe Vosstanie (A Insurreição de Outubro), in: Léon Trotsky. Istoria
Russkoi Revolutsii (História da Revolução Russa)(1930-1933), Volume II, Segunda
Parte, Moscou : Terra – Respublika, 1997, p. 267.
[3] Nesse sentido, vide ENGELS,
FRIEDRICH
[4] Cf. TROTSKY, LÉON
DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Vziatie Zimnevo Dvortsa (A Tomada do Palácio de
Inverno), in : Léon Trotsky. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revoluçao
Russa)(1930-1933), Vol. 2, Parte 2, Moscou : Terra – Respublika, 1997, pp. 261
e s.
[5] Acerca do tema, vide ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin.
Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R.
Piper & Co., 1983, pp. 166 e 167.
[6] Cf. TROTSKY,
LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin (1941), Vol. II, Cap.: Grajdanskaia
Voina(A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 58.
[7] Cf. IDEM.
Oktiabrskoe Vosstanie (A Insurreição de Outubro), in: Léon Trotsky. Istoria
Russkoi Revolutsii (História da Revoluçao Russa)(1930-1933), Volume II, Segunda
Parte, Moscou : Terra – Respublika, 1997, pp. 267 e 268 e s.
[8] Cf. IDEM. G. I.
Tchudnovsky(04.1922), in : A. Lunatcharsky, K. Radek, L. Trotsky. Siluety :
Polititcheskie Portrety (Silhuetas. Retratos Políticos), Moscou : Politizdat,
1911, p. 367.)”
[9] Cf. IDEM. Oktiabrskoe
Vosstanie (A Insurreição de Outubro), in: Léon Trotsky. Istoria Russkoi
Revolutsii (História da Revoluçao Russa)(1930-1933), Volume II, Segunda Parte,
Moscou : Terra – Respublika, 1997, p. 267.