ACADEMIA VERMELHA DE
ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :
A ARTE
PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA
ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS
Insurreição e História da Revolução de Outubro de 1917:
Sobre os Papéis de Trotsky e de Stalin Nesses Eventos
LEV D. TROTSKY[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers
Fevereiro 2005 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/ArteCapa.htm
SOBRE A INSURREIÇÃO DE OUTUBRO
Sobre
a minha participação na Revolução
de Outubro afirma-se nas notas do tomo XIV das Obras Escolhidas de Lenin :
“Depois de que
o Soviete de Petersburgo passou para as mãos dos bolcheviques, (Trotsky) foi
eleito seu Presidente e nessa qualidade organizou e dirigiu a Insurreição de 25
de Outubro.”
O
que aí se revela como verdadeiro e como falso deve-se permitir ao Istpart decidir, se não no presente,
então no futuro.
De
todas as maneiras, Stalin negou, nos últimos
anos, categoricamente, a correção dessa afirmação.
Tal
como disse :
”Devo afirmar que o
camarada Trotsky não desempenhou nenhum papel especial na Insurreição de
Outubro, sendo que não o podia fazer, na medida em que, sendo o Presidente do
Soviete de Petrogrado, apenas executou a vontade das respectivas instâncias
partidárias que dirigiram cada um dos passos de Trotsky.”
E,
além disso :
“Trotsky não
desempenhou e nem podia desempenhar nenhum papel especial, seja no Partido,
seja na Insurreição de Outubro, visto que, no período de Outubro, era uma
pessoa relativamente nova em nosso Partido.” (J. Stalin. Trotskysmo ou
Leninismo, pp. 68-69.)
Em
verdade, ao dar essa declaração testemunhal, Stalin esqueceu-se daquilo que ele mesmo precisamente falou, em
6 de novembro de 1918, i.e. no primeiro aniversário da Revolução, quando os fatos e os
acontecimentos se encontravam, ainda, bastante frescos, na memória de todos.
Stalin conduzía, já então,
contra mim o trabalho que desenvolve, tão amplamente, agora.
No
entanto, outrora, era obrigado a impulsioná-lo, com o mais extremo cuidado e da
maneira mais subreptícia possível.
Eis
o que escreveu, então, no “Pravda (A Verdade)”, Nr. 241, sob o título “O Papel das Personalidades Mais Proeminentes do Partido” :
“Todo trabalho
de organização prática da Insurreição transcorreu sob a direção imediata do
Presidente do Soviete de Petrogrado, Trotsky.
Pode-se dizer,
com certeza, que a rápida passagem da guarnição para o lado do Soviete e a
ousada efetuação do trabalho do Comitê Militar Revolucionário do Partido são
devidas, antes de tudo e em grande medida, ao companheiro Trotsky.”
Essas
palavras ditas, de nenhuma maneira, por exagero laudatório – pelo contrário, o
objetivo de Stalin era, então,
diretamente, o oposto disso, pois pretendia, com seu artigo, “advertir” contra a exageração do papel de
Trotsky (para isso,
especialmente, tal artigo foi efetivamente redigido) -, essas palavras soam,
presentemente, colocadas sob a pena de Stalin, como um panegírico inteiramente inacreditável.
Porém,
naquele então, era impossível que se expressasse diferentemente !
SOBRE O “COMITÊ
MILITAR-REVOLUCIONÁRIO”,
E O “CENTRO PRÁTICO DE
DIREÇÃO ORGANIZATIVA
DA INSURREIÇÃO”
Há
muito tempo, disseram que um homem honesto possui a vantagem de
que, mesmo com má recordação, não se contradiz a si mesmo, ao passo que o homem desleal deve sempre recordar-se
daquilo que disse no passado, a fim de não se humilhar.
Stalin, com o auxílio de Yaroslavsky, procura, agora, construir um
nova história da organização da Revolução de Outubro, fundando-se sobre a criação, junto ao Comitê Central, de “um centro prático de direção organizativa da
Insurreição”, no qual, por assim dizer, Trotsky não ingressou. Também Lenin não tomou parte dessa comissão.
Apenas
esse fato já demonstra que a comissão em causa não podia possuir senão um significado organizativo subordinado.
Não
desempenhou nenhum papel autônomo.
A
lenda sobre essa comissão foi construída, apenas presentemente e tão somente
porque, nela, Stalin esteve presente.
Eis
a composição dessa comissão, “centro prático de direção organizativa da
Insurreição” :
“Sverdlov, Stalin, Dzerjinsky, Bubnov, Uritsky.”
Como
se não fosse nojento mergulhar na imundície, seja-me permitido indicar,
enquanto participante bastante próximo e testemunha dos acontecimentos daqueles
tempos, já mesmo na qualidade de testemunha, os seguintes pontos :
1.
O papel de Lenin
não necessita de esclarecimento;
2.
Com Sverdlov, encontrei-me, então,
muito freqüentemente, dirigindo-me a ele para obter conselhos e pessoas apoiadoras;
3.
O companheiro Kamenev - que, tal como se sabe, ocupava, naquela ocasião, uma posição especial
- cuja incorreção foi por ele mesmo reconhecida já há bastante tempo -,
assumiu, entretanto, uma participação mais ativa nos eventos da Revolução.
A
noite decisiva de 25 para 26 de outubro de 1917, passamos a dois, eu e Kamenev, no alojamento do Comitê Militar Revolucionário, dando ordens e
respondendo, por telefone, às perguntas formuladas.
Porém,
mesmo com toda a amplidão de minha memória, não consigo, de maneira nenhuma,
responder, para mim mesmo, à questão de saber em que, precisamente, consistiu o
papel de Stalin, naqueles dias decisivos.
Nenhuma
vez sequer, precisei dirigir-me a ele para obter conselhos ou assistência.
Não
demonstrou possuir nenhuma iniciativa.
Não
formulou nenhuma proposta autônoma.
Esse
fato não pode ser modificado por nenhum “historiador marxista”, dotado de nova formação.
Tal
como já ficou assinalado, Stalin e Yaroslavsky despenderam, nos
últimos meses, muitos esforços para comprovar que o centro
militar-revolucionário, criado pelo Comitê Central e composto por Sverdlov, Stalin, Bubnov, Uritsky e Dzerjinsky teria dirigido todo o curso da
Insurreição.
Stalin sublinhou, de todas as
maneiras possíveis, o fato de que Trotsky não havia ingressado nesse centro.
Porém,
que desgraça: por profunda negligência dos historiadores
stalinistas, publicou-se, no “Pravda
(A Verdade)”, de 2 de novembro de 1927 (i.e. depois de ter sido redigida toda essa
carta), um excerto detalhado, extraído dos Protocolos do Comitê Central, de 16 (29) de outubro
de 1917.
Eis
o que é afirmado, nessa sede :
“O Comitê Central organiza o centro
militar-revolucionário com a seguinte composição : Sverdlov, Stalin, Bubnov,
Uritsky e Dzerjinsky.
Esse centro é parte integrante do Comitê Soviético
Revolucionário.”
Esse
Comitê Soviético
Revolucionário nada era senão o Comitê Militar Revolucionário, criado pelo Soviete de Petrogrado.
Não
existiu nenhum outro órgão soviético para a direção da Insurreição de Outubro de 1917.
Dessa
forma, esses cinco companheiros, nomeados pelo Comitê Central, tinham de ingressar,
suplementarmente, na composição daquele mesmo Comitê Militar Revolucionário, cujo presidente era Trotsky.
É
claro que não valia a pena introduzir Trotsky, por uma vez mais, na composição daquela organização, cuja presidência
já exercia.
Como
resulta difícil corrigir a história, posteriormente à data dos acontecimentos !
(Texto Redigido em 2 de novembro de 1927).
SOBRE A
HISTÓRIA DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO
Em
Brest, escrevi um pequeno
esboço acerca da Revolução
de Outubro. Esse livrinho teve uma grande quantidade de edições, em diversos
idiomas.
Ninguém
jamais me disse que, nele, existiria uma omissão flagrante, a saber: a de que,
em nenhuma de suas páginas, indica-se o principal dirigente da Insurreição, “o centro militar-revolucionário”, no qual haviam
ingressado Stalin e
Bubnov.
Se
conheço tão mal assim a história da Revolução de Outubro, por que é que ninguém me aconselhou, resolutamente, sobre
o tema?
Por
que é que meu livrinho foi estudado, impunimente, em todas as Escolas do Partido, nos primeiros anos da Revolução ?
Mais
ainda : mesmo em 1922, o Bureau
de Organização (Orgbureau) do Comitê Central do Partido considerou que eu
conhecia bastante bem a história da Revolução de Outubro.
Eis
aqui uma pequena, porém eloquente, comprovação disso :
“Nr. 14.302, Moscou, 24 de maio de 1922
Ao Comp. Trotsky
Em comunicação do excerto do Protocolo da Reunião
do Bureau de Organização (Orgbureau) do Comitê Central, de 22 de maio de 1922,
Nr. 21.
« Encarregar o comp. Yakovlev para que, por volta
de 1° de outubro, elabore, sob a redação do comp. Trotsky, um manual relativo à
história da Revolução de Outubro. »
Secretário do II Departamento de Propaganda
(assinatura)”
Isso
se deu em maio de 1922.
Tanto
o meu livro sobre a Revolução
de Outubro quanto meu livro sobre 1905,
surgidos, até então, em diversas edições, tinham de ser bem conhecidos do Bureau de Organização (Orgbureau), à cabeça do qual, já
naquele período, encontrava-se Stalin.
Nada
obstante, o Bureau de
Organização (Orgbureau) entendeu ser indispensável atribuir-me a tarefa de redação
de um manual sobre a história da Revolução de Outubro!
Como
pode ser que isso fosse, exatamente, assim ?
Evidentemente,
os olhos de Stalin e dos stalinistas
abriram-se em relação ao “trotskysmo” tão somente depois de
que os olhos de Lenin fecharam-se, para
sempre. (...)
POSTURA EM RELAÇÃO AO CAMPESINATO
E POLÍTICA
E ORGANIZAÇÃO MILITAR
Depois
de que Bukharin abandonou sua pura rejeição inicial ou
ignorância do campesinato, transitando para a consigna defensora dos Kulaks que proclama “Enquecei-vos !”, decidiu que, através dessa
mesma reivindicação, havia corrigido, para sempre, todos os seus antigos erros.
Mais
do que isso : procurou alinhar os desacordos de Brest-Litovsk, bem como as outras
divergências havidas entre eu e Vladimir I. Lenin, ao fio condutor de uma única e de uma mesmíssima questão,
a saber: minha postura em
relação ao campesinato.
As
idiotices e as infâmias, colocadas, por esse motivo, em circulação pela Escola Bukharinista são absolutamente
inumeráveis.
Para
uma sua refutação especial, seria necessário um livro.
Aqui,
indicarei apenas o mais fundamental :
a) Não me referirei, aqui, aos
antigos desacordos que tiveram lugar, efetivamente, no período
pós-revolucionário. Direi apenas que foram monstruosamente exagerados,
deformados e deturpados pelos agentes de Stalin e pela Escola Bukharinista;
b) Em 1917, não existia
qualquer desentendimento entre eu e Lenin, relativamente a essa questão;
c) A “adoção” das consignas agrárias dos Socialistas-Revolucionários (SRs.) foi promovida por Lenin, em total acordo comigo ;
d) Ocorreu-me de ser o primeiro
a ler o Decreto de Lenin
sobre a Terra, redigido a lápis. Ali, não havia nem mesmo um sinal de desarcordo.
Possuíamos inteiramente a mesma concepção.
e) Na política de abastecimento de alimentos, a questão
relativa ao campesinato ocupou, evidentemente, não um posto secundário. Os filistinos,
de estilo Martinov, afirmam que essa
política era “trotskysta”
- vide
o artigo de Martinov, publicado em “Krasnoi Novi (Notícias Vermelhas)”, em 1923. Porém, isso
não é assim : era uma política
bolchevique. Participei de sua implementação, de braços dados com Lenin. Não havia nem sequer sombra
de desacordo.
f) O giro rumo ao campesinato médio foi adotado com a minha
mais ativa participação. Os membros do Bureau Político (Politbureau) do Comitê
Central do Partido sabem que, depois da morte de Sverdlov, o primeiro pensamento de Lenin foi o de nomear Kamenev, como Presidente do Supremo Comitê Executivo Central (VTsIK). Entretanto, a proposta
de escolher uma figura “operário-camponesa” partiu de mim.
Postulei a candidatura de Kalinin. Em conformidade precisamente com minha proposta, Kalinin foi denominado Starostoi Vcerossiiskim (O Decano de Toda a
Rússia). Naturalmente,
tudo isso constituem trivialidades, nas quais não valeria a pena determo-nos,
nem mesmo por um momento. Porém, agora, essas mesquinharias, esses sintomas,
revelam-se como provas mortíferas contra os falsificadores dos dias do nosso
passado.
g) Toda a nossa política e organização militar era constituída, em
nove décimos, pela questão concernente à relação dos trabalhadores com os
camponeses. Essa política, dinamizada contra os partisãos pequeno-burgueses e
os autonomistas (Stalin,
Voroshilov e Cia.), conduzi-a, de mãos dadas, com Lenin.
Eis aqui, por exemplo, uma
série de meus telegramas de Simbirsk e Ruzaevka (datados de março de
1919) sobre a questão relativa à necessidade de adotar medidas enérgicas,
visando à melhoria das relações a serem mantidas com o campesinato médio.
Exigi o envio de uma comissão
dotada de autoridade, à região do Volga,
com vistas a examinar as atividades dos responsáveis locais e elaborar um
estudo acerca das causas da insatisfação camponesa. O terceiro desses meus
telegramas, passado por linha direta a Stalin, situado no Kremlin, em Moscou, dizia o seguinte :
“A tarefa da comissão consiste em fortalecer a confiança do campesinato do
Volga no Poder Soviético Central, eliminar as desordens mais gritantes nas
localidades, punir os representantes mais culpados do Poder Soviético e
recolher reclamações e materiais que possam servir para a fundamentação de
decretos demonstrativos, em favor dos camponeses médios.
Um de seus membros seria Smilga.
Outro membro recomendável seria Kamenev ou uma outra personalidade de
autoridade.” (Datado de 22 de março de 1919, Nr. 813)
Esse
telegrama – um dos muitos – acerca da necessidade de Decretos em favor dos Camponeses Médios não me foi enviado por Stalin, senão pelo contrário : fui eu
quem o enviou a Stalin.
Esse
fato ocorreu não na época do XIV Congresso, mas sim no início de 1919, quando a concepção de Stalin acerca do campesinato médio ainda não era conhecida por
ninguém.
Em
verdade, cada uma das páginas dos velhos arquivos – sem qualquer tipo de
seleção que o seja – soa, presentemente, tal como uma devastadora denúncia de absurdos
inventados, produzidos depois dos fatos, concernentes à minha subestimação do campesinato ou à minha subestimação do campesinato médio!
h) No início de 1920, fundando-me na análise da formação da
economia camponesa, introduzi, no Bureau Político (Politbureau) do Comitê Central uma proposta relativa a uma
série de medidas de estilo da Nova Política Econômica (NEP).
Essa proposta não podia, de nenhuma maneira, ser ditada por
”menosprezo” ao campesinato.
i) A discussão
sobre os sindicatos representou, tal como já assinalado, a procura de uma
saída para um impasse econômico. A transição para a Nova Política Econômica (NEP) foi executada de modo
plenamente unânime.
ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR
PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE
ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS
DEDICADOS À FORMAÇÃO
DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS
REVOLUCIONÁRIOS
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU -
[1] Cf. TROTSKY, LEV.
O Poddelke Istorii Oktiabrskovo Pierievorota, Istorii Revolutsii i Istorii
Partii (Acerca da Falsificação da História da Insurreição de Outubro, da História da Revolução e da
História do Partido)(1927), in: Lev D. Trotsky. Stalinskaia Schkola
Falsifikatsii : Popravki i Dopolnienia k Literature Epigonov (A Escola de Falsificação
Stalinista : Correções e Complementações à Literatura dos Epígonos)(1937),
Moscou-Berlim : Granit, 1932, pp. 24 e s.