ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE :

A ARTE PROLETÁRIA DA INSURREIÇÃO SOCIALISTA

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

 

O Trabalho Militar Revolucionário

Entre as Forças Armadas da Burguesia

 

IOSSIF S. UNSCHLICHT[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Rochel von Gennevilliers

Fevereiro 2005 emilvonmuenchen@web.de

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A Internacional Comunista (Komintern) ocupou-se, repetidamente, em suas resoluções, com a questão de saber qual comportamento deve assumir o proletariado em relação às forças armadas regulares e para-militares da burguesia.

O claro posicionamento da questão concernente à relação mantida pelo proletariado revolucionário em face das forças armadas da burguesia e à determinação de sua linha tática revolucionária ante estas possui um extraordinário significado prático e principista.  

 

AS FORÇAS ARMADAS DA BURGUESIA

 EM MEIO À SITUAÇÃO DIRETAMENTE REVOLUCIONÁRIA

 

As forças armadas da burguesia são a parte mais importante do organismo de Estado Burguês.

Do grau de solidez das forças armadas da burguesia e de sua situação, depende, em larga medida, o grau de firmeza do aparato do Estado Burguês como um todo.

Do grau de desintegração das forças armadas da burguesia dependerá, pois, em grande medida, a questão da derrubada da burguesia e do despedaçamento do Estado Burguês pelo proletariado revolucionário que se desenvolverá no momento de uma situação diretamente revolucionária, quando a direção revolucionária do proletariado será forçado a levantar a questão do esmagamento da classe dominante enquanto tarefa do dia.

A experiência de todas as revoluções demonstra que forças armadas da burguesia, bem formadas no sistema militar e equipadas com os meios mais modernos de ataque e de defesa  - i.e. metralhadoras, carros armados e blindados de combate, bombas de gases venenosos, navios, aviões etc. -, e dotadas uma tropa policial que possui, em seu corpo de oficiais, um seleto núcleo de comando, apoiado, por todos os lados, por bandos fascistas, caso assumam realmente a luta contra a revolução proletária, conseguirão, possivelmente, dificultar, em grande medida, o êxito do processo revolucionário, apesar de todas as demais condições favoráveis à vitória socialista-revolucionária.

Esse é um fato inteiramente comprovado, resultante da experiência das precedentes insurreições armadas proletárias, ocorridas em diversos países.

Toda e qualquer direção revolucionária do proletariado, preparada para a tomada do poder deve seriamente contar com esse fato.

Nesse sentido, Lenin assinalou o seguinte :

 

“Se a revolução não adquirir caráter de massas e não atacar por si mesma as tropas regulares, é absolutamente impossível falar de uma verdadeira luta.”

 

Entretanto, não resta nenhuma dúvida de que, em tempos de crise, se, em um país, existir uma situação agudamente revolucionária, as forças armadas regulares da burguesia – i.e. o exército, a polícia etc. - não podem permanecer subtraídas à influência da situação revolucionária geral.

O composição das classes no interior das forças armadas da burguesia torna inevitável que as massas de soldados sejam mais ou menos tomadas por um forte grau de fermentação revolucionária.

Porém, seria ingênuo admitir que seria possível ocorrer uma aberta passagem das tropas regulares da burguesia - ou mesmo de alguns de seus setores para o lado da revolução proletária -, sem a necessária influência exercida sobre elas por parte do proletariado revolucionário ou, então, ainda acreditar que o processo de revolucionamento das forças armadas da burguesia – i.e. do exército, da polícia etc. – teria lugar por si mesmo, desenvolvendo-se a partir de si mesmo.

A fermentação revolucionária entre as tropas, a sua oscilação entre revolução e contra-revolução será tanto mais forte, a passagem de determinados setores das tropas regulares da burguesia para o lado do proletariado revolucionário será tanto mais freqüente, quanto mais intensamente a direção revolucionária do proletariado impulsionar o trabalho revolucionário, político e organizativo, entre elas, seja antes do advento da situação diretamente revolucionária, seja, particularmente, durante o seu curso desta.

 

IMPORTÂNCIA DO TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO

PARA O DESFECHO DA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA

 

Na insurreição proletária, os métodos do trabalho revolucionário político e organizativo, a ser desenvolvido no interior das forças armadas regulares da burguesia, devem ser adaptados aos métodos da luta física em torno de suas fileiras militares.

De fato, entre nós, na Alemanha, se tivesse sido realizado um trabalho revolucionário correspondente entre os setores das tropas  regulares do Exército Imperial e da Polícia - e um tal trabalho era perfeitamente possível de ser executado, apesar da isolação em particular do Exército Imperial -, teria sido bem difícil para seus comandantes conseguir, por determinação do Poder Executivo do Império, levar a que as tropas regulares invadissem a Saxônia e a Turíngea revolucionárias de modo tão desembargado, tal como foi o caso em setembro e outubro de 1923.

Se, na Estônia, durante o outono de 1924, existissem à disposição ligações organizativas – i.e. células de comunistas revolucionárias, grupos de soldados revolucionários etc. – se, dessa maneira, houvesse sido consolidada a significativa influência do Partido Comunista da Estônia sobre as forças armadas – influência essa que efetivamente possuía -, as forças reacionárias não teriam conseguido reprimir tão rapidamente a Insurreição de Reval (RvG.: Tallin, capital da Estônia), em 1° de dezembro de 1924, tal como facticamente veio a ocorrer.

Se, finalmente, o Partido Comunista da China houvesse sido capaz, na Província de Kwangtung, de executar trabalho revolucionário de desintegração, ainda que em uma mínima dimensão, visando à conquista política dos setores das tropas dos Generais Tschang Fat-kwai, Li Ti-sin e Li Fu-lin, generais esses situados entre os militares acionados para o esmagamento da Cantão Vermelha  - não nos referimos aqui ao regimento de cadetes e a uma série de outros setores das tropas regulares, nos quais a organização comunista-partidária de Cantão havia realizado um esplêndido trabalho - , as condições de luta do proletariado revolucionário de Cantão teriam sido, inquestionavelmente, muito mais favoráveis do que foi o caso, sob as circunstâncias de 11 a 13 de dezembro de 1927.

Por outro lado, a própria Insurreição de Cantão começou precisamente no quadro de uma sublevação ocorrida entre os setores das tropas regulares da burguesia, i.e. com a rebelião do regimento de cadetes.

Sem o levante desse regimento teria sido um absurdo eclodir uma insurreição geral, sob as condições existentes em Cantão, no início de dezembro de 1927.

Em todos as insurreições ocorridas até o presente momento  - i.e. Shangai, Petrogrado, Moscou, Cracóvia, a série de insurreições proletárias, ocorridas na Alemanha etc. -, as forças armadas da burguesia cumpriram sempre um papel extraordinário.

Do grau segundo o qual as tropas regulares da burguesia simpatizam com a revolução proletária, da medida segundo a qual o núcleo de comando consegue utilizá-las para impulsionar sua luta contra o proletário revolucionário depende, não raramente, a decisão da questão relativa ao desfecho da revolução proletária, visto que o problema da passagem do poder das mãos de uma classe às mãos de outra é resolvida, em última instância, pela força material.

O exército da burguesia representa o elemento decisivo dessa força material.

 

EXECUÇÃO DO TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO

EM TEMPOS DE GUERRA E EM TEMPOS DE PAZ

 

O amadurecimento de uma situação agudamente revolucionária em um certo país não é apenas possível e provável como resultado de uma guerra aberta – pois, em decorrência desta, é-o, sem dúvida, inevitavelmente -, senão ainda é viável e verossímil nos "tempos de paz", a despeito da provisória e relativa estabilização, ostentada pelo capitalismo.

Porém, em "tempos de paz", sob a Ditadura da Burguesia, o proletariado revolucionário conseguirá, apenas com imensas dificuldades, em virtude de toda uma série de causas, construir suas próprias forças armadas revolucionárias de combate, compostas por membros de sua própria classe, capazes de golpear decididamente as forças armadas da burguesia, debilmente desintegradas.

De toda sorte, disso não decorre que a revolução proletária seria possível apenas em decorrência de uma guerra.

Disso se extrái simplesmente que a preparação da insurreição proletária deve ocorrer não apenas mediante o trabalho revolucionário no interior das forças armadas da burguesia como também através da criação de unidades armadas próprias do proletariado que estejam em condições de se baterem, de armas na mão, com os setores das tropas regulares da burguesia que permaneceram intactos.

Não se deve esquecer que, no momento da insurreição proletária, a luta pelas forças armadas há de também ser conduzida com armas.

Quanto mais profundamente estiverem desintegradas as forças armadas burguesas, tanto mais poderosas se tornarão as forças armadas do proletariado revolucionário, tanto mais fácil será a luta insurrecional e vive-versa.

Em uma situação de guerra aberta, essa tese possui inteiramente o mesmo significado.

Há que ter claridade acerca do fato de que a consigna de Transformação da Guerra Imperialista em Guerra Civil permanece sendo uma reivindicação vazia de conteúdo se a direção revolucionária do proletariado não tomar em suas mãos, com toda seriedade e do modo mais adequado, a execução do trabalho revolucionário no interior das forças armadas da burguesia.

Em conexão com a Resolução da Internacional dos Trabalhadores Metalúrgicos de Hannover sobre a necessidade de dar uma resposta à guerra mediante greve, Lenin escreveu, em uma nota aos membros do Bureau Político do Comitê Executivo da Internacional Comunista:

 

"Na próxima sessão do Executivo Ampliado da Internacional Comunista (Komintern), devemos colocar na ordem-do-dia a questão da luta contra a guerra e deliberar resoluções exaustivas, nas quais resulte esclarecido que apenas um Partido tempestivamente preparado e provado, dotado de um aparato ilegal, é capaz de dirigir uma luta vitoriosa contra a guerra, não vindo propriamente ao caso, como meio de luta, a greve contra a guerra, mas sim a formação de células revolucionárias nas forças armadas dos senhores da guerra e a preparação dessas tropas para a execução da revolução."[2]

 

Porém, a correspondente execução do trabalho revolucionário, político e organizativo, no interior das forças armadas da burguesia, durante a guerra, é substancialmente facilitada se a direção revolucionária do proletariado em causa se ocupar sistematicamente com esse trabalho já nos "tempos de paz".

 

REGRA FUNDAMENTAL E DURADOURA DE TRABALHO

PARA TODAS DIREÇÕES REVOLUCIONÁRIAS

 

A Internacional Comunista (Komintern) acentuou, repetidamente, em suas resoluções, a importância do impulsionamento do trabalho militar revolucionário no interior das forças armadas da burguesia.

Regra fundamental, válida para toda e qualquer direção revolucionária do proletariado, é a realização do trabalho militar revolucionário ali onde estejam concentradas as massas.

Nos exércitos, nas marinhas etc. da burguesia de todos os países, encontram-se concentradas dezenas ou até mesmo centenas de milhares de jovens proletários e camponeses, não menos capazes de acolher as consignas revolucionárias do que a classe trabalhadora, situada nas fábricas e nas indústrias, e certas camadas do campesinato.

Considerando-se, nesse contexto, o fato de que o exército, a polícia e a marinha etc. constituem os principais meios de coerção, o instrumento mais  importante do Estado Burguês  - e de todo outro Estado não proletário - na luta contra o proletariado revolucionário, não se pode, em nenhuma circunstância, negligenciar o trabalho militar revolucionário no interior das fileiras de suas tropas.

Uma renúncia direta ou indireta à execução do trabalho militar revolucionário nesse domínio extremamente importante para a revolução proletária acarreta conseqüências extraordinariamente imponentes.

O trabalho revolucionário em causa deve ser impulsionado ininterruptamente por toda direção revolucionária do proletariado, tanto no período de aglutinação das forças revolucionárias quanto, em particular, no período de ascenso da revolução.

 

SOBRE A EXTRAODINÁRIA DIFICULDADE DE DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO

 

Partindo das ponderações retro-apresentadas, consideramos a execução do trabalho militar revolucionário não menos importante do que o trabalho revolucionário geral, realizado nas fileiras de outros setores sociais, em particular a conquista de camadas da classe média pelo proletariado insurgente etc.

Uma das causas da ausência de todo ou de um certo trabalho suficiente do proletariado revolucionário nas forças armadas da burguesia reside, indubitavelmente, na circunstância de que esse trabalho é extraordinariamente difícil, encontrando-se vinculado a grandes sacrifícios.

Isso vale inteiramente para atividades militares revolucionárias, desenvolvidas tanto junto aos exércitos de mercenários do tipo chinês quanto junto a alguns exércitos europeus, i.e. o nosso, aqui da Alemanha, o da Bulgária etc.

Palavras são desnecessárias para expressar o fato de que a estrutura das forças armadas da burguesia, sua disciplina militar, sua isolação em relação à população, dificultam extraordinariamente a execução do trabalho militar revolucionário.

A burguesia e o Estado Burguês agem com terror brutal contra os proletários e suas organizações que executam trabalho revolucionário no interior de suas forças armadas regulares.

Assim, com tanto maior coragem, energia e tenacidade deve, por isso, toda direção revolucionária do proletariado impulsionar esse trabalho.

A principal tarefa do trabalho revolucionário, realizado no interior das forças armadas da burguesia – i.e. no exército, na marinha, na polícia militar, na polícia civil etc. -, deve ser a conquista das massas de soldados, marinheiros e policiais, para atuarem no fronte geral da luta de classes do proletariado revolucionário, na medida em que se familiarizem com as consignas proletário-revolucionárias, tornando-se receptivos ante elas.

 

 

DOIS PRINCIPAIS SENTIDOS

DO TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO

 

O trabalho revolucionário, impulsionado pela direção revolucionária do proletariado e sua organização da juventude, voltado à desintegração das forças armadas da burguesia deve processar-se em dois sentidos principais :

 

a)o trabalho revolucionário no interior das forças armadas da burguesia, i.e. o exército, a marinha etc. ;

 

b)o trabalho geral do proletariado de conjunto em relação às forças armadas da burguesia – i.e. o trabalho efetuado no exterior das forças armadas da burguesia, p.ex. a atividade da bancada parlamentar de deputados operários nas questões concernentes ao exército, a agitação oral e jornalística das organizações proletárias entre as massas em prol da difusão dessas ou daquelas consignas nas forças armadas da burguesia, o apelo de manifestantes, dirigido ao exército, à marinha, à polícia etc.

 

Esses dois tipos de trabalho revolucionário dentro das forças armadas e fora delas devem ser interconectados da maneira mais estreita possível  e conduzido por um centro dirigente, i.e. o organismo central do proletariado revolucionário.

Os métodos e as formas do trabalho de agitação e de propaganda nas forças armadas da burguesia são diferentes de um país para o outro.

Cada uma das direções revolucionárias proletárias deve elaborar as formas e os métodos correspondentes à execução desse trabalho revolucionário, adequando-os às respectivas condições do país em causa.

 

SOBRE A ORGANIZAÇÃO MILITAR

DA DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO

 

O fundamental consiste, aqui, em que o trabalho revolucionário de desintegração das forças armadas da burguesia deve ser tratado e executado com toda seriedade.

Para isso, uma organização militar específica do proletariado há de ser criada.

Em linha geral, a atuação da direção revolucionária do proletariado em seu conjunto deve ser orientada para a desintegração militar burguesa.

Nesse mesmo âmbito, o trabalho da organização militar da direção revolucionária, desenvolvido no interior das forças armadas da burguesia, deve ser entrelaçado, da maneira mais estreita, com o trabalho político quotidiano e as consignas gerais das lutas proletárias.

A organização militar revolucionária levanta permanentemente as consignas revolucionárias da direção revolucionária do proletariado enquanto reinvidicações militares práticas das lutas quotidianas.

 

TRABALHO CONSPIRATIVO, RIGOROSAMENTE ILEGAL,

E TRABALHO REVOLUCIONÁRIO DE MASSAS

NA LUTA PELAS FORÇAS ARMADAS DA BURGUESIA

 

O trabalho revolucionário, empreendido no seio das forças armadas da burguesia deve ser impulsionado, em todos os países, de modo conspirativo, rigorosamente ilegal.

A burguesia e o seu Estado Burguês aspiram a preservar, com todas as forças e todos os meios, suas forças armadas militares da influência comunista-revolucionária que ameaça as desintegrar, recorrendo às medidas mais draconianas possíveis, em face dos elementos revolucionários, atuantes no interior de suas tropas armadas regulares.

Porém, em conexão com o aguçamento da luta de classes em determinado país - e particularmente com o surgimento de uma situação diretamente revolucionária - muito independentemente de se tratar de "tempos de paz" ou de tempo de guerra -, i.e. no momento em que começarem as lutas abertas entre o proletariado revolucionário e as classes dominantes em torno das forças armadas, poderão ser, pouco a pouco, estendidos os limites do trabalho conspirativo ilegal do proletariado no seio das forças armadas, conquistando-se, cada vez mais, amplas massas de soldados do exército em questão para a luta revolucionária proletária, sob as consignas revolucionárias.

Em tais momentos, a direção revolucionária do proletariado deve combinar, de maneira conveniente, os métodos do trabalho conspirativo nas forças armadas da burguesia com o trabalho revolucionário de massas na luta por aquelas.

 

A EXPERIÊNCIA DO PARTIDO BOLCHEVIQUE

 

Nesse sentido, pode servir de esplêndida ilustração o trabalho do Partido Bolchevique nas forças armadas da burguesia, ao longo dos diversos períodos de desenvolvimento das revoluções na Rússia.

O Partido Bolchevique prestou, a partir de 1902, um pequeno trabalho revolucionário, ilegal, fatigante, no interior das Forças Armadas Czaristas.

Durante a Revolução de 1905, o trabalho revolucionário do Partido já havia sido inserido entre as tropas regulares do Estado Czarista, em uma série de guarnições, sobre uma base de massas relativamente ampla.

O Partido entrelaçou, de maneira habilidosa, o trabalho organizativo conspirativo com o trabalho de agitação de massas entre as fileiras das tropas regulares das classes dominantes.

 

Depois da derrota da Revolução de 1905, quando o Partido imergiu na mais rigorosa ilegalidade, em decorrência do terror promivido pelas autoridades czaristas.

Desde então, teve de conduzir a preparação das massas para novas lutas revolucionárias.

A partir desse momento, o trabalho revolucionário, executado no interior das forças armadas das classes dominantes assumiu, novamente, um caráter conspirativo, escrupulosamente ilegal.

 

Essa situação prosseguiu até o desabrochar da Revolução de Fevereiro de 1917.

Logo após a derrubada do Governo Czarista, porém, o Partido desenvolveu um trabalho de massas, amplamente impulsionado entre as tropas regulares da burguesia.

Os métodos ilegais de trabalho revolucionário foram substituídos por um trabalho legal revolucionário de massas, voltado à desintegração das forças armadas regulares do Estado Russo - células bolcheviques, comitês de soldados, conferências de deputados soldados, jornais de soldados etc.

O posicionamento leninista-principista do proletariado revolucionário sobre a Guerra Imperialista é a transformação dessa guerra em Guerra Civil.

Em face das forças armadas da burguesia que constitui o mais importante fator da Guerra Imperialista, o posicionamento da direção revolucionária de todo proletariado revolucionário deve ser o de trabalhar, visando a promover a integral desintegração das forças armadas regulares, bem como a passagem das massas de soldados para o lado do proletariado revolucionário.

Esse é o objetivo central do trabalho da direção revolucionária, impulsionado no interior das forças armadas da burguesia.

Porém, só pode ser alcançado concomitantentemente com a vitória definitiva da Revolução Proletária em geral.

 

A DESINTEGRAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS DA BURGUESIA

EM FACE DA AGITAÇÃO EM TORNO DE CONSIGNAS PARCIAIS

E A LUTA POR REFORMAS

 

Enquanto o poder encontrar-se nas mãos do Estado Burguês, as forças armadas da burguesia continuirá sendo uma das partes integrantes mais decisivas de sua dominação de classe.

A tarefa do proletariado revolucionário é a de desintegrar as forças armadas da burguesia, da maneira mais ampla possível, revolucionando-o, independentemente da situação política no país.

De grande significado para a ação revolucionadora, desenvolvida no bojo das forças armadas da burguesia em face de suas hesitações, é a agitação em torno de consignas parciais, bem como a luta revolucionária em prol de reformas nos domínios singulares que concernem às forças armadas regulares de combate do Estado Burguês.

Em cada país, considerado específicamente, serão de diferentes tipos as consignas e reividicações parciais do proletariado revolucionário, levantadas em face das forças armadas da burguesia, tendo em consideração:

 

a)    o sistema das forças armadas de combate em causa;

 

b)    os seus métodos de recrutamento;

 

c)    a duração do serviço militar;

 

d)    o modo e a maneira de prestação do serviço militar nas forças armadas, recrutadas ou não sobre a base do dever de serviço militar geral;

 

e)    a situação material e jurídica do corpo de oficiais e de soldados etc.

 

A direção revolucionária do proletariado deve levantar, em todos os momentos, essas reivindicações parciais, por cuja concretização se interessam, na maioria das vezes, as massas de soldados.

Semlhantes revindicações surgem também da maneira mais compreensível para as amplas massas da população trabalhadora, em uma determinada situação em concreto.

Enquanto exemplos de referidas reividicações podemos elencar as seguintes :

 

A) Reivindicações a serem levantadas no domínio da organização das forças armadas:

 

1)   Dissolução das forças armadas mercenárias, tropas de quadros e comandos profissionais;

 

2)   Desarmamento e dissolução da polícia civil, da polícia militar e de outras tropas especiais de guerra da burguesia;

 

3)   Armamento e dissolução dos bandos fascistas para-militares;

 

4)   Reivindicações concretas concernentes à redução do tempo de serviço militar;

 

5)   Regime territorial de prestação do serviço militar.

 

6)   Fim do sistema de internamento em casernas de soldados;

 

7)   Direito de as organizações de trabalhadores terem os seus membros exercitados no uso das armas, com livre eleição de seus instrutores.

 

No que concerne às forças armadas mercenárias e às tropas de quadros e comandos profissionais deve-se exigir, em geral, não a reivindicação de redução do tempo de serviço militar, mas sim a de  direito de exoneração, a qualquer tempo.

 

B)  Reivindicações a serem levadas no domínio dos direitos e condições materiais dos soldados:

 

1)   Elevação dos soldos;

 

2)   Melhoria da alimentação;

 

3)   Comissoes de orçamento do pessoal;

 

4)   Abolição das penas disciplinares;

 

5)   Abolição do dever de continência;

 

6)   Punição rigorosa de aplicação todo e qualquer castigo corporal, por parte dos oficiais e sargentos;

 

7)   Direito a portar o traje civil fora do serviço militar;

 

8)   Saída diária determiada;

 

                                            9)Férias remuneradas;

 

10  ) Direito de casamento;

 

                                            11) Garantia dos dependentes;

 

                                            12) Direito de pronunciamento em e relacionamento com jornais;

 

13  ) Direito de organizaçao sindical ;

 

14  ) Direito de voto ;

 

                                           15) Direito de participação ativa em assembléias políticas.

 

O fato de descender, nas forças armadas da burguesia de muitos países imperialistas, um percentual significativo de soldados de minorias nacionais e étnicas oprimidas, pertecendo, porém, o corpo de oficiais, em seu conjunto ou, dado o caso, em grande parte, à nação e à etnia opressoras -, cria um terreno multilateralmente favorável ao trabalho revolucionário proletário no interior das forças armadas burguesas.

Por essa razão, essa temática deve encontrar um lugar respectivo entre as reividicações parciais que levantamos no interesse das massas de soldados.

Também são de significativa importância as reividicações de matiz nacional, tais quais prestação de serviço militar no país de origem, utilização da língua materna como língua de formação e de comando etc.”[3]

 

O elenco das reividicações parciais aqui apresentadas possibilita facilmente a elaboração de reivindicações suplementares.

Aqui, encontram-se catalogadas apenas aquelas mais relevantes e fundamentais que podem ser levantadas ante as forças armadas da burguesia de diversos Estados Capitalistas. 

Nesse sentido, convém destacar:

 

“Reivindicações de ambas essas categorias - o elenco acima mencionado fornece apenas alguns exemplos - devem ser defendidas não apenas dentro das forças armadas, senão ainda fora delas, i.e. nos parlamentos, assembléias de massas etc.

Um propaganda exitosa em torno dessas consignas é apenas, porém, possível quando adquirir um caráter efetivamente concreto.

Com efeito, isso pressupõe a existência dos seguintes fatores :

 

1.    Conhecimento muito preciso das forças armadas da burguesia de dado país e de seu funcionamento e serviço;

 

2.    Conhecimento das necessidades e aspirações dos soldados etc., o que é apenas possível mediante contato pessoal permanente com as tropas regulares ;

 

3.    Adaptação à forma concreta de organização das forças armadas da burguesia do país em causa, bem como exame e colocação atualizado da questão militar ;

 

4.    Apreciação da situação moral das forças armadas da burguesia e da situação política do país em realce, em determinado momento histórico. Assim, p. ex., a reivindicação de eleição dos oficiais pode, em geral, ser apenas levantada em tempos de avançada desintegração das forças armadas burguesas.

 

5.    Vinculação das consignas parciais com as principais consignas da direção revolucionária do proletariado;

 

6.    Armamento do proletariado;

 

7.    Milícia proletária etc.

 

Todas essas reinvidicações possuem, porém, significado revolucionário quando levantadas em conexão com o programa político claro de derrotismo relativamente às forças armadas da burguesia.

Um particular acento deve ser colocado sobre a organização dos soldados visando à representação de seus interesses em aliança com o proletariado revolucionário, seja antes do início da prestação do serviço militar – i.e. associações de recrutas, caixas de apoio etc.-, seja durante o serviço militar - comitês de soldados -, seja, finalmente, depois do serviço militar - associações de militares veteranos, aliados à revolução socialista.

Constitui particular tarefa dos sindicatos de trabalhadores acolher seus membros, durante o tempo militar, fomentando todas essas formas de organização de interconexão operário-militar.

 

As condiçõs de realização do trabalho militar revolucionário no interior das forças armadas mercenárias diferenciam-se daquelas existentes nas forças armadas, dotados de dever geral de serviço militar.

No primeiro caso, a agitação com reivindicações parciais no estilo das mencionadas acima torna-se, geralmente, mais difícil.

Sem embargo, não se pode, em nenhuma circunstância, renunciar a esse trabalho.

O fato de as forças armadas mercenárias serem compostas, em grande parte, por elementos proletários desempregados e camponeses pobres, fornece a base social para um trabalho de massas entre os soldados.

As formas desse trabalho militar revolucionário devem ser adaptadas, de modo cuidadosamente especial, à composição social e à particularidade das tropas em questão.

 

Cumpre conduzir uma aguda agitação entre as massas contra as tropas de guerra especiais da burguesia – i.e. a polícia civil, a polícia militar -, em particular, porém, contra os bandos armados de voluntários, para-militares e fascistas.

Devem ser combatidas, implacavelmente, as frases reformistas de:

 

1)“utilidade pública” dessas tropas;

 

2) “polícia popular”;

 

3) “igualdade de direitos para os fascistas” etc.

 

Desnudado seu verdadeiro caráter, essas tropas regulares da burguesia devem ser particularmente execradas pela população.

Porém, também aqui, é necessário tudo tentar para introduzir, em suas fileiras, a desintegração social, procurando reconquistar-se os elementos proletários para sua classe social.

O trabalho revolucionário, executado no interior das forças armadas da burguesia, deve ser dinamizado, fora delas, em compasso com o movimento revolucionário das massas dos trabalhadores e dos camponeses pobres.

Em uma situação diretamente revolucionária, quando o proletariado das fábricas se dedica à criação de sovietes, torna-se atual a consigna de Conselhos de Soldados, a qual vincula as massas de soldados com o proletariado e os camponeses pobres na luta pelo poder.”[4]

   

PORTADORES DO TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO

NO SEIO DAS FORÇAS ARMADAS DA BURGUESIA

 

Os portadores do trabalho militar revolucionário no interior das forças armadas da burguesia – i.e. o exército, a marinha etc. - devem ser as células ilegais do proletariado revolucionário e da juventude comunista-revolucionária.

Essas células poder-se-ão tornar legais ou semi-legais, em conformidade com o irromper de uma situação agudamente revolucionária.

Naqueles setores das tropas regulares da burguesia em que não exista nenhum proletário revolucionário ou jovém comunista, há de serem criados grupos dos soldados revolucionários.

Toda e qualquer direção revolucionária do proletariado deve dedicar toda a sua mais séria atenção à criação de tais pontos de apoio organizativos no interior dos setores das tropa ddas forças armadas da burguesia – i.e. no bojo das colunas, esquadrões, baterias, parques de artilharia, instituições de estágios militares, comandos militares, unidades navais e suas bases etc.

Para esse objetivo, torna-se necessário registrar e instruir oportunamente todos os lutadores proletários e jovens comunistas convocados à prestação de serviço militar, antes mesmo ainda de serem incorporaddos como recrutas e reservistas.

Cumpre conferir-lhes determinadas diretivas de trabalho a serem realizadas após a sua incorporação nas forças armadas da burguesia, p. ex. visando à produção de conexão com as suas organizações revolucionárias proletárias respectivas da cidade ou do campo etc.

 

ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO MILITAR DO PROLETARIADO NO SEIO DAS FORÇAS ARMADAS DA BURGUESIA

 

Sem a criação de uma dinâmica organização militar do proletariado revolucionário nas forças armadas da burguesia – i.e. em seu exército, marinha etc. -  não se pode falar absolutamente de um trabalho militar revolucionário no interior dos mesmos.

Ênfase especial deve ser direcionada para o trabalho militar revolucionário, impulsionado entre as tropas regulares, visando à formação de células de proletários revolucionárias e de jóvens comunistas, em particular nos distritos e nas cidades de guarnições que, segundo o seu significado, sejam decisivas para a vitória da revolução proletária-socialista – i.e. nas capitais, áreas industriais etc., vale dizer, naqueles distritos e cidades de guarnições em que o poder deva ser em primeira linha conquistado.

Em conexão com isso, cumprirá formar uma base, um bastião, a partir do qual possa ter lugar a expansão da revolução proletária-socialista para outros domínios.

Para o trabalho militar revolucionário, empreendido nesses distritos e cidades, a direção revolucionária do proletariado deverá acionar um número mais elevado de funcionários quadros do proletariado, bem como movimentar mais meios do que o necessário para realização do mesmo trabalho militar revolucionário em distritos de significado secundário.

Deve-se ter em consideração que o êxito do trabalho entre as tropas regulares da burguesia dependerá, em grande parte, de como se encontra estruturada a composição social de cada setor das tropas burguesas.

 

ESCOLAS DE CADETES, CÍRCULOS DE OFICIAIS, 

UNIDADES ESPECIAIS REACIONÁRIAS, SETORES DE TROPAS:

ONDE CONCENTRAR O TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO?

 

Em todas forças armadas, existem setores, associações e instituições reacionárias das quais a direção revolucionária do proletariado não pode, devido à composição social destas, esperar ser possível que nelas penetrem importantes elementos revolucionários da luta de classes.

Trata-se, aqui, das escolas de cadetes, das unidades especiais destinadas ao cumprimento de missões reacionárias, em certos casos também a cavalaria que, em uma série de países, é recrutada no seio de camadas de camponeses abastados.

Essas tropas reacionárias e tropas semelhantes a essas podem e devem ser desintegradas exclusivamente mediante o poder das armas do proletariado sublevado.

Inversamente, o trabalho da direção revolucionária do proletariado no interior das forças armadas da burguesia deve ser concentrado, em primeira linha, nos setores das tropas da artilharia, engenharia e marinha.

Estes, em regra, apresentam um maior percentual de elementos proletários entre seus soldados do que na situação verificada em outros setores das tropas regulares burguesas.

Pelo contrário, no que concerne à questão de revolucionar os círculos de oficiais das forças armadas, a possibilidade de fazê-lo é extremamente limitada, tal como o demonstra a experiência e, nomeadamente,  o trabalho militar revolucionário empreendido no seio das forças armadas burguesas, em “tempos de paz”.

Não carece dizer que a direção revolucionária do proletariado, em seu trabalho de desintegração, impulsionado entre setores das tropas regulares da burguesia, não pode e nem há de renunciar ao emprego de certos oficiais revolucionários.

Entretanto, o princípio revolucionário-fundamental em face desse trabalho deve ser o de que há de se atuar, sobretudo, entre as massas de soldados das forças armadas da burguesia.

Sobre o trabalho do Partido Bolchevique, impulsionado entre os oficiais, afirma-se, p. ex., na Resolução da Conferência das Organizações Militares e de Luta do Partido Operário Social-Democrático Russo (Bolchevique), aprovada no ano de 1906 :

 

”Tendo em conta o fato de que :

 

1.    tanto a composição social de classes quanto os interesses do corpo de oficiais, considerado enquanto casta das forças militares profissionais, obrigam-no a aspirar à manutenção das forças armadas regulares e à carência de direitos das massas poulares;

 

2.    consegüintemente, o corpo de oficiais desempenha, na revolução democrática em execução, um papel reacionário;

 

 

3.    os grupos de orientação oposicionista, existentes no corpo de oficiais, não cumprem nenhum importante papel ;

 

4.    a despeito disso, seja, ao mesmo tempo, possível a passagem de alguns oficiais isolados para o lado da revolução proletária, podendo prestar serviços essenciais à insurreição armada, mediante sua preparação técnica, bem como, no momento da rebelião das forças armadas das classes dominantes e de sua passagem para o lado do povo, mediante seus conhecimentos especializados e especial formação militar,

5.    atesta a Conferência das Organizações Militares e de Luta os seguintes pontos :

 

6.    que as organizações militares não podem construir nenhuma organização social-democrática autônoma no seio do corpo de oficiais ;

 

7.    que os os grupos existentes de orientação oposicionista devem ser utilizados para sondar alguns membros isolados, ganhando-os para as organizações militares e de luta de nosso Partido enquanto instrutores e dirigentes práticos.”

 

ACATAMENTO DA LINHA GERAL

DA DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO

 

As células de proletários revolucionários e de jovens comunistas, atuantes no interior dos setores das forças armadas da burguesia, tais quais as células da direção proletária do proletariado e da organização comunista da juventude, atuantes nas unidades de fábricas, indústrias e sindicatos, bem como nas organizações de massas do proletariado, são representantes do proletariado.

Em seu trabalho, realizado em cada um dos setores específicos das tropas regulares da burguesia, essas células devem fazer valer a linha geral da direção proletário-revolucionária, em literalmente todas as questões.

A organização militar do proletariado, intervindo nas forças armadas da burguesia, não possui, de nenhuma maneira, qualquer tipo de linha política especial ou própria  e também nem mesmo pode ter.

Constitui, antes de tudo, um setor do proletariado revolucionário, devendo executar a linha geral da direção revolucionária do proletariado.

No momento de uma situação diretamente revolucionária, as massas são conclamas pela direção revolucionária do proletariado a desencadear uma insurreição com o objetivo de conquistar o poder do Estado, a principal tarefa das células, atuantes nas forças armadas, consiste em fazer frente ao núcleo de comando reacionário, arrastando as massas de soldados para o cumprimento das tarefas revolucionárias em conjunto com o proletariado.

A Conferência das Organizações Militares e de Luta do Partido Operário Social-Democrático Russo (Bolchevique), de 1906, estabeleceu o seguinte, em sua Resolução sobre as Tarefas da Organização Militar nas Forças Armadas :

 

“Enquanto tarefa das organizações militares cabe, no presente momento:

 

1.           criar células partidárias da Social-Democracia solidamente implantadas, em sentido organizativo, em cada uma das unidades dos setores de tropa ;

 

2.           organizar e fundir todos os elementos revolucionários das forças armadas em torno e através dessas células, visando ao ativo apoio das reivindicações populares e à aberta passagem dessas forças para o lado do povo sublevado ;

 

3.           coordenar inteiramente suas próprias atividades com a atividade das organizações proletárias em geral e suas organizações de luta, promovendo um apoio recíproco, bem como subordinando todo o seu trabalho às tarefas quotidianas de política geral e à direção política das organizações proletárias em geral.

 

Além disso, a Conferência entende :

 

1.           que o caráter do trabalho nas forças armadas, em si mesmo, deve ser determinado pelas tarefas levantadas pelo proletariado enquanto vanguarda do povo lutador ;

 

2.           que tanto essas tarefas quanto a composição dos próprios elementos das forças armdas, acessíveis à ação revolucionadora, apontam para o caminho do atingimento dos melhores resultados concebíveis no trabalho das organizações militares do Partido Operário Social-Democrático Russo, concernente seja à influência ideológica e organizativa da Social-Democracia, seja à propaganda e agitação das idéias social-democráticas, no seio das forças armadas ;

 

3.           que apenas uma estreita colaboração de todas organizações militares do Partido Operário Social-Democrático Russo, selada nesse preciso sentido, pode assegurar a passagem de amplas camadas democráticas das forças armadas para o lado do povo sublevado.”     

 

 

MANUTENÇÃO DO CONTATO ENTRE

ORGANIZAÇÃO MILITAR REVOLUCIONÁRIA

E DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO

Visando a capacitar a organização militar revolucionária ao cumprimento de suas tarefas, é imprescindível assegurar que permaneça em estreito contato com a organização revolucionária local do proletariado.

Em conseqüência das condições particulares de trabalho dessas organizações, o contato em tela deve ser processado mediante agentes especiais, acionados pelos órgãos da direção revolucionária do proletariado, visando à organização do trabalho militar revolucionário entre as tropas regulares da burguesia.

Os agentes especiais em referência, enquanto quadros organizadores devem receber das células das forças armadas, compostas por proletários e jovens comunistas, considerados singularmente, informações necessárias sobre a situação de um determinado setor das tropas -  sobre a atmosfera reinante entre seus elos intermediários singulares, bem como junto ao núcleo de oficiais e esquadrões, relativamente ao regulamento do quartel etc.

Com base nisso, instruem, por sua vez, as células e os companheiros revolucionários individuais sobre suas tarefas e métodos de trabalho revolucionário a serem impulsionados entre os setores das tropas regulares da burguesia, fornecendo-lhes a literatura correspondente - jornais revolucionários, panfletos e conclamações especiais etc.

As específicas relações de trabalho, prevalentes no interior das forças armadas da burguesia - em especial as rigorosas condições de conspiração -,  tornam indispensável que os órgãos da direção do proletariado acionem o número necessário de funcionários quadros revolucionários para a execução desse trabalho.

Estes devem ser de absoluta confiança, em sentido revolucionário.

Algumas vezes, tornar-se-á conveniente fazer com que participem de cursos de curta duração, especialmente organizados, em que devam receber as instruções necessárias sobre os métodos de trabalho conspirativo a serem considerados entre as tropas regulares da burguesia, em especial no que respeita ao comportamento a ser observado na ilegalidade.

As organizações revolucionárias dirigentes do proletariado devem, por sua vez, manter conversações de instrução sobre essa mesma questão com os proletários e os jovens comunistas, ativos entre os soldados.

A observância das regras necessárias à conspiração na execução do trabalho revolucionário entre as tropas regulares da burguesia, em tempos normais - i.e. não eminentemente revolucionários -, possui grande significado em todos os sentidos, tendo em conta a existência da espionagem e do terror do aparato de Estado Burguês em face de todas e quaisquer organizações e sujeitos que impulsionam esse trabalho.

 

 

EXPERIÊNCIA DO TRABALHO MILITAR REVOLUCIIONÁRIO ENTRE AS FORÇAS ARMADAS DA BURGUESIA,

EMPREENDIDO PELOS PARTIDOS COMUNISTAS

 

No que concerne ao trabalho, realizado nas fileiras das forças armadas da burguesia, as seções da Internacional Comunista (Komintern) elaboraram, em todos os aspectos, úteis instruções, fundadas nas experiências obtidas no trabalho do Partido Bolchevique, na Rússia.

O velho bolchevique russo, Emelian Yaroslavsky, formula as seguintes considerações acerca do trabalho dos bolcheviques nas forças armadas, no quadro do período pré-revolucionário :

 

“Sob as mais difíceis condições de ilegalidade, criamos, de 1905 a 1907, mais de 20 jornais ilegais, dedicados à propaganda revolucionária impulsionada no seio das forças armadas do Estado Czarista.

Todas as grandes cidades dotadas de guarnição, tais quais Reval (RvG.: Tallin, capital da Estônia), Riga, Dvinsk, Batum, Odessa, Yekaterinoslav, Varsóvia, Sveaborg, Kronstadt, Petesburgo, Moscou e outras, possuíam seus jornais de soldados, editados por nossa organização ilegal e distribuidos nas forças armadas governamentais por nossos membros e trabalhadores que possuíam ligações com as tropas.

Quanto ao número dos panfletos que editávamos, devo dizer que não existiu nenhum acontecimento político relativamente significativo sob cujo pretexto não tivéssemos editado um panfleto endereçado aos soldados.

Esses panfletos eram editados em quantidades bastante grandes e, dado o caso, contando até mesmo com alguns milhares de exemplares.

Eram distribuidos não apenas na cidade da guarnição respectiva, senão ainda em todo o distrito militar, resultando explorada toda e qualquer possibilidade, por mais ínfima que fosse.

Nossa forma de organização militar revolucionária era a seguinte :

Tinhamos em conta o fato de que as forças armadas do Estado Czarista não eram homogêneas.

Além disso, não nos colocávamos a tarefa de trazer, a todo custo, para o nosso lado, todos os setores das tropas, mas sim selecionávamos os setores que, de acordo com sua composição de classe, encontravam-se maximamente inclinados a seguir nossa propaganda revolucionária.

Escolhíamos os setores das tropas em que existia maior número de trabalhadores, p. ex. os artilheiros, os sapadores, os marinheiros e todos setores técnicos das tropas, nos quais o número de trabalhadores era maior.

A esses setores, dirigíamos nossa principal atenção.

Evidentemente, o papel desses setores das tropas, i.e. a marinha, a artilharia e as tropas de engenharia, é, nas forças armadas modernas, por todos os lados, de grande importância.

Em dimensão mínima, lográvamos obter êxito em setores das tropas como o da cavalaria, composta preponderantemente por camponeses abastados, precisamente como sucedia na Europa Ocidental, onde a cavalaria é constituida, principalmente, por elementos pertencentes ao campesinato rico.

Segundo a possibilidade, criávamos, em todos os setores das tropas governamentais, pequenos grupos conspirativos, cujos representantes formavam os comitês ilegais de batalhões e regimentos.

Eles permaneciam em contato com nossas células militares conspirativas, situadas fora dos quartéis.

É obviamente compreensível o fato de que todos os contatos, mantidos com as organizações militares revolucionárias, fossem particularmente conspirativos.

Para isso, escolhíamos companheiros particularmente confiáveis.

Jamais prevíamos o número de membros dessas organizações, pois que não as considerávamos, de nenhuma maneira, como uma força acabada que pudesse intervir autonomamente.

Considerávamo-las como uma força de organização que, no momento necessário, poderia arrastar para a revolução proletária a massa dos soldados e marinheiros que conosco simpatizavam.

Por isso, jamais fizemos previsões sobre um número determinado.

Contudo, devo dizer que, nessa organização, possuíamos, às vezes, algumas centenas de homens, como p.ex. em Kronstadt, Sevastopol e outras localidades. ...

 

Gostaria igualmente de mencionar que, sob condições de ilegalidade, dificultosas em todos sentidos, conseguimos organizar uma série de conferências militares revolucionárias.

No início de 1906, tivemos uma destas aqui em Moscou.

Entretanto, já na sua primeira sessão, foram presos quase todos os seus participantes.

Porém, essa conferência não passou em brancas nuvens.

Em novembro de 1906, tivemos um ampla conferência de organizações militares revolucionárias e de luta que se reuniu em Tammersfors, na Finlândia.

Essa conferência assumiu grande importância, em todos os sentidos.

Vocês podem examinar um artigo especial de Lenin dedicado a ela.

Nesse artigo, Lenin ocupa-se exaustivamente com as resoluções nela adotadas, tendo em grande apreço seu significado para a execução dos protocolos da Conferência de Novembro das Organizações Militares e de Luta do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR).”[5]

 

Uma certa experiência, relativamente rica, haurida do trabalho militar revolucionário, impulsionado entre as forças armadas da burguesia – i.e.  exército, marinha etc. -, foi reunida, nos últimos anos, pelo Partido Comunista da Alemanha, pelo Partido Comunista Francês e por outros.

Infelizmente, essa experiência não pôde se tornar patrimônio comum do proletariado revolucionário alemão por razões inteiramente óbvias.

As condições policiais dos anos 20 e 30, vigentes na Alemanha,  tornaram impossível fazer publicar e circular algo sobre o trabalho ilegal, executado por essa organização proletária, no seio do exército e da marinha do Império Alemão.

Porém, cumpre acentuar que o trabalho militar revolucionário, efetuado,  com base em um fundamento sério e sistemático, sob a direção revolucionária do proletariado, no interior das forças armadas regulares - precisamente naquelas cidades dotadas de guarnições e setores de tropas, em certos países particulares -, produziu e continua a produzir, ainda presentemente, resultados palpáveis por todos os lados.

No que tange, então, ao trabalho militar revolucionário, executado no bojo das forças armadas da burguesia, em uma situação diretamente revolucionária e em tempo de guerra, importa destacar que a luta pelas forças armadas e pelo seu revolucionamento - luta essa outrora organizada e dirigida pelo Partido Bolchevique depois da Revolução de Fevereiro de 1917, na Rússia, representa uma experiência extremamente valiosa.

Aqui, nossa tarefa não consiste em delinear esse trabalho, pois que isso já ocorreu em uma série de brochuras e artigos, em diversos livros e revistas. 

Cabe-nos destacar apenas que as seções da Internacional Comunista (Komintern) possuem, à luz dessas experiências, fontes materiais extraordinariamente preciosas, bem como instruções proficuamente instrutivas sobre os métodos de trabalho militar revolucionário, político e organizativo, a ser dinamizado nas forças armadas da burguesia, visando ao impulsionamento da ação revolucionadora, conquistando as massas de soldados para a frente de luta comum com o proletariado e o campesinato pobre.

 

BANDOS PARA-MILITARES E FASCISTAS

DA BURGUESIA E DO ESTADO BURGUÊS

 

Além do trabalho militar revolucionário, executado no interior das fileiras das forças armadas da burguesia, as direções do proletariado revolucionário devem assumir a tarefa de desintegração das organizações militares burguesas, compostas por voluntários para-militares e fascistas, existentes em praticamente todos os países.

A tarefa fundamental dessas organizações reacionárias, cujas forças numéricas em uma série de países supera - tal como, p.ex., aqui entre nós na Alemanha -, o montante da composição de esquadrões das forças armadas regulares da burguesia desses países, consiste, sobretudo :

 

1.           na mobilização da opinião pública em favor da guerra contra o proletariado e a União Soviética;

 

2.           na preparação técnica de seus membros na arte de guerrear;

 

3.           e, principalmente, tal como demonstra-o a experiência, na defesa da ordem burguesa, i.e. na deflagração da luta contra o proletariado revolucionário no interior do país.

 

Na Alemanha, p.ex., o ativo dos membros de todas as organizações para-militares possíveis, i.e. "Stahlhelm (Os Capecetes de Aço)", "Reichsbanner (As Bandeiras do Império)", "Jungdo (As Ordens dos Jovens Alemães)" etc., atinge, presentemente, a cifra de 4 milhões de combatentes.

Na Finlândia, os "Corpos de Defesa" e outras organizações militares reunem de 140 a 150 mil homens e, além disso, também mulheres.

O número dos membros da "Liga de Defesa" da Estônia, corresponde a aproximadamente 37 mil combatentes, ao passo que o da "Liga de Defesa" da Letônia, à aproximadamente 30 mil lutadores.

Na Polônia, as diferentes organizações militares e semi-militares contam com mais de 500.000 membros.

Organizações semelhantes existem praticamente em todo e qualquer país de hoje.

Na Letônia, na Estônia, na Finlândia e, parcialmente, na Polônia, essas associações recebem recursos financeiros bastantes consideráveis do Estado Burguês, são aprovisionadas com armas, realizam exercícios militares, sob a direção de oficiais da reserva etc.

Segundo sua configuração social, uma série dessas organizações compõe-se, em grande medida, de elementos proletários.

As direções revolucionárias do proletariado dos países em que existam organizações para-militares e fascistas devem encontrar meios e caminhos para subtrair os elementos proletários à influência da burguesia.

Devem dirigir a luta pela dissolução dessas formações.

Concomitantemente com a campanha direcionada para a liquidação dessas organizações militares reacionárias das classes dominantes, hão de ser encontradas os métodos e os modos de desintegrar tais organizações a partir de seu interior.

A experiência demonstra que cumpre levar em conta a criação de organizações proletárias, revolucionárias e semi-militares, do tipo da Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte (Roter Frontkämpferbund), na Alemanha, enquanto meio efetivamente sério, destinado à promoção da desintegração das organizações militares burguesas reacionárias, favorecendo-se a ruptura de seus elementos proletários em relação a elas.

Por essa razão, também as direções revolucionárias do proletariado dos países em que isso é possível de ser realizado devem aspirar à criação de organizações proletárias desse tipo.

Uma das tarefas dessas organizações militares do proletariado consistirá na efetuação do trabalho organizativo e político de desintegração das uniões e associações militares burguesas reacionárias.

A Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte (Roter Frontkämpferbund), da Alemanha que, p.ex.,  representa uma tal organização é constituida por mais de 100.000 membros combatentes, encontrando-se situada entre o Partido Comunista da Alemanha, a classe trabalhadora e as unidades comunistas.

É um dos centros de mobilização revolucionária das massas proletárias alemãs, através do qual são conquistados lutadores proletários de "As Bandeiras do Império",  organização burguesa-reformista, situada sob a influência dos Partidos da Social-Democracia e do Centro.

A atenção da Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte (Roter Frontkämpferbund) não se dirige apenas à desintegração de "As Bandeiras do Império", ao fomentar no interior dessas uma oposição revolucionária, senão conduz ainda, ao mesmo tempo, a uma luta política ativa contra a reação, em geral, e, especificamente, ali onde se expressa particularmente tal reação nas atividades das organizações militares monárquico-burguesas reacionárias, tais qual "Stalhelm(Os Capacetes de Aço)" etc.

No mesmo compasso, a Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte (Roter Frontkämpferbund) impulsiona a luta contra as novas guerras imperialistas e todo e qualquer tipo de guerra de rapina contra a União Soviética[6].

 

TRABALHO MILITAR REVOLUCIONÁRIO

NAS FILEIRAS  DA POLÍCIA DA BURGUESIA

 

A direção revolucionária do proletariado deve levantar também a questão do trabalho militar revolucionário, impulsionado no seio da polícia da buguesia, resolvendo-a da maneira correspondente.

Segundo sua inteira composição social, em uma série de países, as organizações da polícia burguesa são constituidas, igualmente, em grau elevado, por elementos proletários.

Conseqüentemente, torna-se objetivamente possível a realização de um trabalho revolucionário nas fileiras da polícia da burguesia e do Estado Burguês.

A experiência da Revolução Alema de 1923 confirma essa afirmação.

Assim, p. ex., na Saxônia, na Turíngea e em outras regiões da Alemanha, um certo setor da Polícia Alemã simpatizava com o Partido Comunista da Alemanha.

E, em verdade, fazia-o a despeito do fato de o Partido Comunista da Alemanha não realizar praticamente nenhum tipo de trabalho especial no seio das forças policiais fardadas.

Algumas pessoas das forças da polícia demonstravam sua simpatia com o proletariado não apenas com palavras, senão ainda mediante atos.

Não raro ocorreu, p.ex., de policiais fardados haverem cientificado antecipadamente membros do Partido acerca de batidas policiais planejadas e detenções de alguns comunistas etc.

A Polícia Alemã não representa absolutamente nenhuma exceção à regra entres as tropas policiais de quaisquer outros países em específico.

Seja como for, o trabalho revolucionário entre os membros da corporação policial da burguesia é possível e indispensável. 

Se considerarmos o peso específico da polícia enquanto instrumento de coerção, situado nas mãos das classes dominantes, bem como a circunstância de que um tal trabalho militar revolucionário entre as forças policiais da burguesia pode levar a resultados consideráveis, já em tempos de desenvolvimento "pacífico" - para nem falar do fato de que, em tempos revolucionários, o sucesso da luta do proletariado revolucionário pelo poder dependerá, em certa medida, da situação política, verificada no seio da polícia -, há de se afirmar que esse domínio de trabalho não deve ser, de nenhuma maneira, subestimado e descurado pela direção revolucionária do proletariado.

 

 

 

ACADEMIA VERMELHA DE ARTE MILITAR PROLETÁRIO-REVOLUCIONÁRIA MIKHAIL V. FRUNZE

ESTUDOS MILITARES SOCIALISTAS-INTERNACIONALISTAS

DEDICADOS À FORMAÇÃO

DE TRABALHADORES, SOLDADOS E MARINHEIROS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 

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UNSCHLICHT, IOSSIF STANISLAVOVITCH  

 

por Rochel von Gennevilliers

 

Iossif Stanislavovitch Unschlicht foi um bolchevique da velha guarda e revolucionário profissional.

Nasceu em 1879, na cidada de Mlava, na Polônia, e ingressou nas fileiras do Partido Operário Social-Democrático Russo(POSDR), em 1900.

Em virtude de suas atividades revolucionárias, sofreu inúmeras prisões e foi por três vezes desterrado.

Unschlicht gozou de grande popularidade entre os trabalhadores de Varsóvia, Lodzi e outras cidades da Polônia.

Em 1914, ao eclodir a I Guerra Mundial Imperialista, foi detido em Moscou.

Em 1916, o Tribunal de Alçada dessa cidade condenou-o ao exílio, em um assentamento na aldeia de Tutur, na Província de Irkutsk.

Poucas semanas antes da vitória da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, fugiu de seu cativeiro, em Tutur.

Permaneceu, a seguir, em ativo contato com militantes bolcheviques locais dessa região. Depois da derrubada da autocracia czarista, em fevereiro de 1917, tornou-se membro do Comitê Executivo de Irkutsk.

Em abril do mesmo ano, chegou a Petrogrado, onde foi eleito membro do Soviete de Deputados Trabalhadores e Soldados dessa cidade.

Nos Dias de Julho, foi preso pelo Governo Provisório Frente-Populista e encarcerado em penitenciária.

Depois de sua libertação, participou da preparação da Insurreição Socialista de Petrogrado.

No quadro da Revolução Proletária de Outubro, Unschlicht tornou-se membro do Comitê Militar Revolucionário (CMR) do Soviete de Petrogrado – presidido por Pavel Lazimir –, órgão militar esse siituado sob a presidência geral do Soviete Petrogrado, exercida por Léon D. Trotsky.

Nos primeiros meses de 1918, ocupou-se com a organização da defesa da cidade de Pskov, assediada pelas forças militares do imperialismo alemão.

A seguir, tornou-se membro do Comissariado do Povo para Assuntos Internos.

No final de 1918, comandou atividades de luta deflagradas contra a ocupação das tropas alemães na cidade de Minsk, na Belorússia.

Aqui, foi eleito membro do Comitê Central do Partido Comunista da Lituânia e da Belorússia (PCLB) e assumiu o posto de Comissário do Povo para Assuntos de Guerra da então emergente República Soviética Belorussa-Lituana.

Em 27 de abril de 1919, Unschlicht foi nomeado membro do Conselho Militar-Revolucionário do 16° Exército e, em dezembro, membro do Conselho Militar-Revolucionário do Fronte Ocidental.

Em abril de 1921, tornou-se Vice-Presidente da Polícia Política Soviética (Tcheka - Comissão Extraordinária), posto que ocupou até o outono de 1923.

Depois disso, foi nomeado membro do Conselho Supremo Militar Revolucionário da URSS.

Tendo aderido ao stalinismo burocrático-soviético contra-revolucionário, em 1924, empreendeu, juntamente, com Mikhail Frunze – esse último adepto de Zinoviev e Kamenev e sustentador de sua política de Troika, mantida com Stalin - medidas de reforma do sistema militar.

Em sua implacável luta contra o burocratismo soviético-stalinista que penetrava no interior do Comissariado do Povo para a Guerra, Léon Trotsky referiu-se a Unschlicht, da seguinte maneira :

 

“O primeiro golpe no Departamento da Guerra foi desferido contra Sklyansky.

Foi ele que sobretudo teve de suportar a vingança de Stalin por seus próprios revéses em Tsaritsyn, seu fracasso no Fronte do Sudeste e sua aventura em Lvov.

A intriga soerguia para o alto a cabeça da serpente.

Visando a minar as posições havidas sob Sklyansky – e, no futuro, as minhas próprias – foi instalado diante dele, no Departamento da Guerra, pouco meses antes, Unschlicht, um intrigante ambicioso e deprovido de talento.

Sklyansky foi demitido.

Em seu lugar, foi nomeado Frunze, que se encontrava no comando dos exércitos da Ucrânia.”[7]

 

 

Em janeiro de 1925, por ocasião da nomeação de Frunze como Comissário do Povo para a Guerra – em substituição a Léon Trotsky – e Presidente do Conselho Militar-Revolucionário da URSS, Unschlicht foi indicado para assumir o cargo de Vice-Presidente desses órgãos de direção militar do Estado Soviético, em processo de crescente e irreversível burocratização.

Nesse posto, permaneceu até junho de 1930.

A seguir, alcançou a patente de General do Exército Vermelho e tornou-se coordenador da conexão mantida entre o Estado-Maior Geral desse exército e a Internacional Comunista (Komintern).

Após a morte de Felix Dzerjinky, ocorrida em 1926, foi nomeado, além disso, chefe da Polícia Política Soviética (Tcheca).

Por fim, sob as traiçoeiras acusações de “inimigo do povo” e “sabotador terrorista trotskysta”, formuladas por Stalin e seus asseclas, foi liquidado, em lugar e circunstâncias inteiramente desconhecidas, durante a “Depuração Stalinista” dos anos de 1936 a 1938, que aniquilou massivamente a vida de milhares de revolucionários bolcheviques, antigos companheiros indobráveis de luta de Lenin, Sverdlov e Trotsky.

 

 

 

 

 

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[1] O presente texto em língua portuguesa foi traduzido a partir do idioma alemão conforme UNSCHLICHT, IOSSIF STANISLAVOVITCH. Die Arbeit unter den Streitkräften der Bourgeoisie (O Trabalho entre as Forças Armadas da Burguesia) (1928), in: A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(A Insurreição Armada. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 149 e s.  

[2] Nesse passo, Unschlicht formula a seguinte referência : ”Extraímos essa citação do órgão central do Partido Russo, o "Pravda(A Verdade)", de 20 de janeiro de 1929.”

[3]Observação de Rochel von Gennevilliers.: Anoto que as reivindicações aqui elencadas por Unschlicht remetem-nos ao Protocolo do VI. Congresso da Internacional Comunista (Komintern), devendo, portanto, serem devida e criticamente examinadas pelos marxistas-revolucionários. Vide, nesse sentido, PROTOKOLL DES VI. WELTKONGRESSES DER KOMUNISTISCHEN INTERNATIONALE (Protocolo do VI Congresso da Internacional Comunista), Vol. IV, Hamburg : Carl Hoym, 1928, pp. 135 e 136.

[4] Cf. IDEM. ibidem, pp. 137 e 138.

[5] Observação de Rochel von Gennevilliers : Anoto, por oportuno, que a presente de citação de Unschlicht remete à intervenção de Yaroslavsky, realizada no quadro do VI. Congresso do Komintern. Acerca do tema, vide, mais detalhadamente, PROTOKOLL DES VI. WELTKONGRESSES DER KOMUNISTISCHEN INTERNATIONALE (Protocolo do VI Congresso da Internacional Comunista), Vol. IV, Hamburg : Carl Hoym, 1928, pp. 781 à 783.   Por ser de grande interesse as considerações de Yaroslavsky sobre a organiziação do trabalho dos bolcheviques nas forças armadas, externadas ainda que no âmbito de um congresso situado em meio ao processo de stalinização burocrática da Internacional Comunista (Komintern), apresento ao leitor, no presente livro, o inteiro teor da intervenção desse velho bolchevique, proferida naquela oportunidade,  sob o título YAROSLAVSKY, EMILIAN M. Bericht über die Erfahrungen der bolschewistischen Arbeit unter den Truppen (Relatório acerca das Experiências dos Bolcheviques entre as Tropas), in : Protokoll des VI. Weltkongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo do VI Congresso Mundial da Internacional Comunista), Vol. IV, Hamburg : Carl Hoym, 1928, pp. 781 e s. Vide tb. minha tradução desse material em http://www.scientific-socialism.de/ArteYaroslavsky1.htm

[6] Agrege-se, por oportuno, às palavras de Unschlicht que, em 1923, foram proibidos o Partido Comunista da Alemanha e as centúrias proletárias, os quais, até então, haviam operado como grupos de luta dos proletários revolucionários. Apesar da readmissão do PCA ao regime da legalidade burguesa, em 1° de março de 1924, permaneceram proibidas as centúrias proletárias. Diante disso, o PCA passou a agitar em favor da criação de uma nova formação de luta de massas que, em maio de 1924, assumiu a forma da "Roter Frontkämpferbund - RFB (Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte)", criada nos Estados Alemães Federados da Saxônia e da Turíngea. Em 18 de julho de 1924, a Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte (Roter Frontkämpferbund) foi, então, criada como organização de luta para-militar do Partido Comunista da Alemanha (KPD), sendo presidida por Wilhelm Pieck e Ernst Thälmann, segundo as instruções e determinações do stalinismo burocrático-internacional. Reivindicava-se como oposicionista tanto dos "Stahlhelm (Capacetes de Aço)", de orientação monárquico-burguesa, nacional-populista, quanto das "Reichsbanner (Bandeiras Vermelhas)", situadas sob a direção da Social-Democracia Alemã e o Centro, que reuniam grande número de trabalhadores alemães organizados. A intervenção da Liga Vermelha era preponderantemente de estilo militar, em cujo âmbito prevalecia a disciplina e a obediência enquanto importantes componentes de sua atuação, ainda que isso não impedisse atividades de formação de uma consciência de luta contra o militarismo burguês-imperialista. A partir de 1924, com o ascenso crescente e paulatina consolidação da burocracia stalinista contra-revolucionária no Partido Comunista da URSS e na Internacional Comunista (Komintern), a Liga Vermelha degenerou-se, rapidamente, contribuindo, a seguir, substancialmente para o processo de stalinização do Partido Comunista da Alemanha. Os grupos da Liga Vermelha encontravam-se dirigidos, em sua grande maioria, por funcionários quadros do PCA, em cuja direção encontraram-se, a partir de 1924, Ernst Thälmann e Willi Leov. A essa Liga Vermelha pertenceram, entretanto, mais de 100.000 membros. O primeiro grupo local da RFB surgiu em 31 de julho de 1924, na cidade de Halle. Também nesse ano, foi fundada a Sektion Rote Marine RFB (Seção da Marinha Vermelha da RFB), com o objetivo de arregimentar os lutadores ligados à vida marinha, nas cidades alemães portuárias. Além disso, criou-se, segundo esse critério, a Sektion Roter Sturmvogel RFB (Seção Pássaro Vermelho de Ataque da RFB). Já em 1927, a RFB contava com 110.000 lutadores combatentes. Nas fábricas alemães de então, criavam-se, por todos os lados, inúmeros grupos de trabalhadores de fábrica. O jornal da RFB chamava-se Die Rote Front (O Fronte Vermelho). Paralelamente à RFB, operava, também, sua organização de jovens, sob o nome Rote Jungfront (Fronte Vermelha da Juventude), reunindo jovens de 16 a 23 anos. A organização das mulheres da RFB chamava-se, por sua vez, Roter Frauen- und Mädchenbund (Liga Vermelha das Mulheres e Moças). No quadro do regime da República de Weimar e da Grande Depressão Norte-Americana de 1929, grande crise e enorme insatisfação campeavam pela Alemanha Imperial. No ato de 1° de Maio de 1929, iniciou-se, então, uma sangrenta confrontação entre a RFB e a Polícia do Estado Alemão  que se acabou prolongando, ativamente, até o dia 3 de maio. Nesse episódio, morreram 33 lutadores, aproximadamente 200 foram feridos e 1.200 aprisionados. Em 6 de maio, o Ministro do Império Alemão, Carl Severing, impôs a proibição da RFB, em todo o território nacional. Apesar de sua proibição, a RFB continuou a atuar no país. Sob a direção stalinista traidora do Partido Comunista da Alemanha (KPD), a RFB acabou sendo gravemente debilitada, em particular após a política falida de Stalin e Thälmann de apoiar os nazistas alemães contra a Social-Democracia Alemã, no quadro do “Plebiscito Vermelho” de 21 de julho de 1931. Com a tomada do poder por Adolf Hitler, a RFB foi despedaçada, no quadro de algumas lutas de rua, desprovidas de direção proletária revolucionária conseqüente, travadas contra as SA nazistas. Os nazistas eliminaram, subseqüentemente, mediante rigorosa perseguição, a continuidade de sua subsistência na ilegalidade, conduzida na base de células que constituíam unidades de um planejado futuro Exército Vermelho, articulado à maneira burocrática-stalinista. Trabalhadores alemães, membros da RFB, que, a seguir, emigraram para a União Soviética, fundaram, nesse último país, diversas células da Liga Vermelha. Alguns destes foram, a seguir, deslocados por Stalin para combaterem na Guerra Civil Espanhola, a serviço da Frente Popular. Muitos membros da RFB atuaram, porém, na resistência proletária à dominação nazista, sendo encarcerados, torturados e, finalmente, executados.  Sobre o tema, vide TROTSKY, LEV DAVIDOVITCH., Against National Communism. Lessons of the “Red” Referendum (Contra o Comunismo Nacionalista. Lições do Referendo “Vermelho”)(25 de Agosto de 1931), in: Bulletin of the Opposition, Nr. 24, Setembro de 1931; SCHUSTER, KARL.  Der rote Frontkämpferbund 1924-1929. Beiträge zur Geschichte und Organisationsstruktur eines politischen Kampfbundes (A Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte de 1924-1929. Contribuições à História e à Estrutura Organizativa de uma Liga Política de Luta), Düsseldorf, 1975, pp. 7 e s.;  WEBER, HERMANN. Die Wandlung des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der Weimarer Republik (A Transformação do Comunismo Alemão. A Stalinização do Partido Comunista da Alemanha na República de Weimar), em 2 Volumes, Frankfurt a.M., 1968, pp. 13 e s.; FINKER, KURT. Geschichte des Roten Frontkämpferbundes (História da Liga Vermelha dos Lutadores do Fronte), Berlim, 1981, pp. 5 e s.

[7] Cf. IDEM. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Tentativa de Auto-Biografia), Cap. XLI : A Morte de Lenin e o Deslocamento do Poder, Berlim : Granit, 1930, pp. 253 e 254.