FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO
REVOLUCIONÁRIO
PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,
TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
MUNDIAL
SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM
EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES
CARTA DE KARL MARX
a Nikolai Franzewitsch Danielson
19 de Fevereiro de 1881
KARL MARX[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução Emil Asturig von
München
Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von Köln
Fevereiro 2008 emilvonmuenchen@web.de
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Londres, 19 de fevereiro de 1881
Valoroso Senhor,
(...) Na minha família, tudo está na
maior confusão, no presente momento, pois que minha filha mais velha, a Sra. Longuet,
está-se mudando, com seus filhos, de Londres para Paris, onde seu marido, Charles
Longuet tornou-se co-editor do jornal “Justice (EvM.: Justiça)”
- desde a amnistia. Entrementes, foi professor do King’s College (EvM.:
Colégio Real) em Londres. Charles Longuet foi quem inspirou o discurso
semi-socialista de Georges Clemenceau, em Marselha. [2]
(...) Li com grande interesse o
artigo que o Sr. redigiu, o qual é “original”, no melhor sentido da palavra. A
isso se deve também o boicote.
Quando se abandona com o próprio
pensamento a trilha percorrida, pode-se ter sempre a certeza de que haverá,
inicialmente, um “boicote”.
Essa é a única arma de defesa que
os routiniers
(EvM.: os indivíduos rotineiros) sabem manusear em seu primeiro momento de
confusão.
Durante muitos anos, eu fui “boicotado”
na Alemanha
e continuo a sê-lo ainda, na Inglaterra, com a pequena variação
de que, de tempos em tempos, algo de tão absurdo e estúpido é editado que eu me
haveria de envergonhar de tomar conhecimento disso.
Porém, o Sr. deve continuar a
produzir seus artigos! [3]
(...) Nos EUA, os reis das estradas de ferro tornaram-se ,não apenas, tal como
antes, o ponto central do ataque, desferido por
parte dos fazendeiros e de outros entrepreneurs (EvM.: empresários)
industriais do oeste, senão também por parte dos grandes representantes do comércio,
a Câmera
de Comércio de Nova Iorque.
Jay Gould, rei da estrada de ferro e
especulador das finanças, esse gigantesco octópus, respondeu aos magnatas do
comércio de Nova Iorque, dizendo :
“ - Vós atacais, agora, as empresas
ferroviárias porque acreditais serem elas mais facilmente vulneráveis, tendo em
consideração sua impopularidade momentânea. Porém, tomai cuidado! Depois das estradas de ferro, chegará a vez
de todo tipo de corporation (Karl Marx: vale dizer, no dialeto
ianque, sociedade por ações), mais
tarde, de todos os gêneros de capital
associado e, finalmente, a vez do capital,
puro e simples.
Assim, vós abris o caminho ao
comunismo, cuja tendência já se difunde, cada vez mais, entre o povo.”
O Sr. Gould, com efeito, “a le flair bon (EvM.: tem um bom
faro)”.
Na Índia, sérias
complicações aguardam pelo Governo Britânico, se não uma
rebelião geral.
O que os ingleses recebem,
anualmente, em rendimentos, dividendos, pagos pelas estradas de ferro – que são
inúteis para os indianos -, pensões, pagas aos militares e servidores do
Estado, o que arrancam do país para a Guerra contra o Afeganistão e outras
guerras etc. etc., o que obtém, sem qualquer contra-partida e,
independentemente de tudo isso, o que, anualmente, convertem em sua propriedade,
no interior da Índia – falo aqui, portanto, apenas do valor das mercadorias
que a Índia deve enviar, gratuitamente, todos os anos, à Inglaterra
-, tudo isso monta já mais do que a receita global dos 60 milhões de
trabalhadores industriais e agrícolas indianos !
Eis um processo de sangria que há que
ser vingado!
Uns após os outros, os anos de fome
perseguem os indianos e em um medida que, até o presente, não se considerava,
na Europa,
como sendo possível.
Presentemente, há em curso uma séria
conspiração, unificando hindus e muçulmanos.
O Governo Britânico foi
informado de que alguma coisa está “preparada”, mas esses cabeças de
vento (digo, a gente do Governo), que estão abobados com o seu próprio modo
parlamentar de pensar e de discursar, não querem nem sequer abrir os olhos e
conceber toda a extensão do perigo iminente!
Enganar aos outros, enganan-do a si
próprio : essa é a sabedoria parlamentar, em seu cerne mais profundo.
Tant mieux (EvM.: tanto melhor assim) ! [4]
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA
A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO
PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU
- SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief an Nikolai Franzewitsch Danielson in St.
Petersburg (Carta à N. F. Danielson em São Petersburgo)(19 de Fevereiro de
1881), in : ibidem, Vol. 35, Berlim : Dietz, 1967, pp. 154 e s.
[2] Destaco que Marx
se refere ao Discuso de Marselha de Georges Clemenceau, pronunciado em 29 de
outubro de 1880, enquanto representante do radicalismo burguês parisiense. Esse
discurso apresentou um programa de medidas singulares de cunho
reformistas democráticas e sociais, tais quais substituição dos
impostos indiretos por impostos progressivos sobre a renda e a herança;
supressão das carteiras de trabalho; participação dos trabalhadores na
regulação da ordem interna das fábricas; auto-administração das caixas
operárias de assistência pelos trabalhadores; proibição do trabalho infantil
até uma determinada idade; redução da
jornada de trabalho etc. Algumas das reivindicações desse seu programa, Clemenceau
retirara do Programa Mínimo do Parti Ouvrier, Partido dos
Trabalhadores da França, cujos considerandos foram ditados por Karl
Marx a Jules Guesde, em maio de 1880.
Marx denomina o discurso em referência de Clemenceau de semi-socialista,
pois demonstrou, através da incorporação de diversas consignas do Parti
Ouvrier, a pretensão dos radicais burgueses franceses, encabeçados por Clemenceau,
de fortalecerem sua influência política entre os trabalhadores franceses.
[3] Marx refere-se aqui à produção
literária de DANIELSON, NIKOLAI
FRANZEWITSCH (NICKOLAI-ON). Otcherki Nashevo Poreformenovo Obschschestvennovo
Rroziaistva (Esboços da Nossa Economia Nacional Posterior à Reforma), in :
Slovo (A Palavra), Moscou, Outubro de 1880, pp. 5 e s.
[4] Cf. MARX, KARL. Brief an Nikolai Franzewitsch Danielson in St.
Petersburg (Carta à N. F. Danielson em São Petersburgo)(19 de Fevereiro de
1881), in : ibidem, Vol. 35, Berlim : Dietz, 1967, pp. 156 e 157.