FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO
REVOLUCIONÁRIO
PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,
TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
MUNDIAL
SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM
EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES
CARTA DE KARL MARX
a Ferdinand Domela Nieuwenhuis
22 de Fevereiro de 1881
KARL MARX[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução Emil Asturig von
München
Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von
Köln
Outubro 2007 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngelsCapa.htm
41,
Maitland Park Road
Londres,
N.W.
Prezado
companheiro de Partido,
Meu
longo silêncio foi motivado pelo fato de que desejava apensar, simultaneamente,
à minha resposta à sua missiva de 6 de janeiro uma sinopse das modificaçãoes
que deveriam ser empreendidas pelo Sr., p.ex. no caso de uma segunda edição de “Kapitaal
en Arbeid (EvM.: Capital e Trabalho).[2]
Em
decorrência de problemas domésticos, trabalhos imprevistos e outras
interrupções, não consegui ainda encerrá-las, razão por que, de início, envio
essas linhas sem o apenso, tendo em conta que um silêncio prolongado poderia
ser mal-interpretado pelo Sr.. As modificações que me parecem necessárias dizem
respeito a detalhes. O principal, o espírito da coisa, já está dado. (...)
A “questão”
do Congresso
de Zurique vindouro, sobre a qual o Sr. me informa, parece-me ser um
equívoco.[3]
Evidentemente,
o que deve ser feito em um momento certo e determinado do futuro
e o que deve ser feito imediatamente, depende,
inteiramente, das circunstâncias históricas dadas, nas quais cumpre agir.
Aquela
questão situa-se, porém, no país da nuvens, i.e. levanta, na
realidade, um problema fantasma, ao qual a única resposta deve ser a crítica
da própria questão.
Não
podemos resolver nenhuma equação que não inclua em seus dados os elementos de
sua solução.
Além
disso, os embaraços de um Governo surgido repentinamente
através de uma vitória popular não são, de nenhuma forma, algo especificamente
“socialista”.
Pelo
contrário.
Os
políticos burgueses vitoriosos sentem-se, imediatamente, embaraçados com sua “vitória”,
ao passo que o socialista pode intervir, no mínimo, desembaraçadamente.
Em uma
coisa, você pode confiar : um Governo Socialista não assume o
timão de um país sem que hajam condições tão desenvolvidas em que possa tomar,
sobretudo, as medidas necessárias para intimidar (EvM.: no original alemão :
ins Bockhorn jagen, i.e. lançar no corno do bode) tanto a massa da burguesia
que o primeiro desideratum (EvM.: desiderato, aspiração) seja conquistado :
obtenção de tempo para uma ação sustentável.
Você me
remeterá talvez à Comuna de Paris.
Porém,
independentemente do fato de que se tratou meramente de uma sublevação de uma
cidade, sob condições excepcionais, a maioria da Comuna não era, de
nenhuma forma, socialista e nem podia sê-lo.
Contudo,
com um mínimo quantum common sense (EvM.: quantidade de bom senso), a Comuna
de Paris teria podido alcançar um compromisso com Versalhes, útil a toda a
massa popular – a única coisa que podia ser atingida outrora.
Tão
somente a apropriação do Banque de France (EvM.: Banco
Central da França) teria posto um fim à arrogância de Versalhes,
em meio ao terror etc. etc.
As
consignas gerais da burguesia francesa, sacadas antes de 1789, eram, mutatis
mutandis (EvM.: feitas as devidas modificações), aproximadamente, as
mesmas, tal como, nos dias de hoje, as primeiras consignas imediatas do
proletariado são bastante uniformes, em todos os países de produção
capitalistas.
Porém,
algum cidadão francês do século XVIII possuía, de antemão, a priori, a mínima noção
do modo segundo o qual foram implementadas as consignas da burguesia francesa ?
A
antecipação doutrinária e necessariamente fantástica do programa de ação de uma
revolução do futuro apenas nos desvia da luta atual.
O sonho
do fim do mundo, situado bem próximo, inflamava os cristãos primitivos, na
sua luta contra o Império Romano, dando-lhes a certeza da vitória.
A compreensão
científica da inevitável desintegração da ordem social dominante que
permanentemente avança diante dos nossos olhos, as massas, cada vez mais
ferventemente açoitadas pelos velhos fantasmas do próprio Governo, o concomitante
desenvolvimento positivo, gigantescamente progressivo, dos meios de produção
: tudo isso já basta como garantia de que, juntamente com o momento da irrupção
de uma revolução realmente proletária serão dadas também as condições de seu modus
operandi (EvM.: de modo de agir) imediato e próximo (ainda que
seguramente não idílico).
Estou
convencido de que a conjutura crítica para uma nova associação internacional
dos trabalhadores ainda não existe.
Considero,
por isso, todos os congressos de trabalhadores e, em particular, os congressos
socialistas – na medida em que não se reportem a relações imediatas e dadas
nessa ou naquela nação determinada – não apenas como algo inútil, senão ainda
nocivo.
Esses
congressos hão de redundar sempre em banalidades generalizadas, incontavelmente
ruminadas.
De seu
amigavelmente devotado,
Karl
Marx
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA
A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO
PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU
- SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief
an Ferdinand Domela Nieuwenhuis in Den Haag (Carta a F. D. Nieuwenhuis em
Haia)(22 de Fevereiro de 1881), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke
(Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 35, Berlim : Dietz, 1967, pp. 159
e s.
[2] Assinale-se que, em 1881, Nieuwenhuis publicou, em
língua holandesa, uma curta exposição popular do primeiro volume de “O
Capital” de Marx , sob o
título “Karl Marx. Kapitaal en Arbeid (Karl Marx. Capital e Trabalho)”. Uma
segunda edição surgiu, efetivamente, em 1889. Cumpre destacar que Nieuwenhuis
(1846 – 1991) foi um dirigente do movimento operário holandês, fundador da Liga
Social-Democrática da Holanda e, em seguida, do Partido Social-Democrático da
Holanda. Atuou como deputado do Parlamento Holandês, a partir de 1888.
Desde os anos 90 do século XIX, passou a militar nas fileiras do anarquismo.
[3] Vale observar que, em sua carta, datada de 6 de
janeiro de 1881, Nieuwenhuis pedia a Marx que fornecesse resposta à
seguinte questão : quais medidas
legislativas os socialistas haveriam de, inicialmente, adotar no domínio
da política e da economia, no caso da tomada do poder. Nieuwenhuis
comunicou a Marx que os social-democratas holandeses pretendiam colocar
essa questão em discussão, no quadro do Congresso Mundial Socialista de Zurique
que se aproximava. Neste comenos, cumpre anotar que o congresso em causa acabou
considerando a discussão dessa questão como, de fato, inadequada. Convocado sob
iniciativa dos socialistas belgas, teve lugar entre 2 e 4 de outubro de 1881,
na cidade de Chur, na Suíça, visto que o Conselho
Cantonal de Zurique resolveu não conceder permissão para que fosse
realizado nessa última cidade. 12 (doze) países participaram de seus trabalhos.
Na ordem do dia, colocou-se a questão relativa à unificação internacional das
forças socialistas. O congresso chegou, porém, à constatação de que não havia
ainda amadurecido o tempo para semelhante iniciativa, pois o período de
construção dos partidos socialistas, em escala nacional, ainda não se
encontrava concluído. Adotou-se, além disso, uma resolução de realização de um
novo congresso internacional na cidade de Paris.