FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO
REVOLUCIONÁRIO
PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,
TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
MUNDIAL
SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM
EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES
CARTA DE FRIEDRICH ENGELS
a Karl Kautsky
26 de Junho de 1884
FRIEDRICH ENGELS[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução Emil Asturig von
München
Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von
Köln
Fevereiro 2008 emilvonmuenchen@web.de
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Londres, 26 de junho de 1884
Caro Kautsky,
O manuscrito Anti-Rodbertus será reenviado, amanhã.[2]
Encontro apenas poucas coisas a serem observadas. Realizei algumas glosas, a lápis. Além disso, destaco ainda o
seguinte :
1. O Direito Romano é o Direito
primoroso da produção simples de mercadorias, vale dizer, é, portanto,
o Direito
pré-capitalista que, porém, em sua maior parte, também inclui as relações
jurídicas do período capitalista.
Em vista disso, é, precisamente,
aquilo que necessitavam nossos burgueses, em seu período de ascensão nas
cidades, não o havendo encontrado, porém, no Direito Consuetudinário
de suas localidades.
Á p. 10, eu teria diversas coisas a criticar (EvM.: na
exposição de Kautsky) :
1. A mais-valia é apenas a
exceção na produção realizada por escravos antigos e servos medievais. Aí,
caberia ter sido dito mais-produto o qual, na maioria das
vezes, era consumido diretamente, porém não tranformado em valor.
2. A história ocorrida com os meios de
produção não é inteiramente assim, do modo como está apresentado. Em todas as
sociedades, fundadas na divisão natural do trabalho, é o
produto que domina. Portanto, em certa medida – no mínimo em parte –, o
meio
de produção também domina o produtor, i.e. na Idade Média, a terra
domina o camponês, o qual é apenas um acessório da terra, a ferramenta de
artesanato domina o artesão da corporação de ofício. A divisão do trabalho é,
aqui, diretamente a dominação do meio de trabalho sobre o trabalhador, ainda
que não o seja em sentido capitalista.
Coisa semalhante ocorre com sua exposição (EvM.: a de Kautsky),
em sua conclusão, quando trata, dos
meios de produção :
1. Você não pode separar assim a agricultura
da economia
política e tanto menos ainda essa última da técnica, como se dá às
pp. 21 e 22. A economia de trocas, os fertilizantes químicos, a máquina a
vapor, o tear mecânico não devem ser separados da produção capitalista,
tampouco como as ferramentas dos selvagens e bárbaros devem ser separada da produção,
realizada por estes.
As ferramentas dos selvagens condicionam sua sociedade
tão precisamente quanto as ferramentas mais modernas condicionam a produção
capitalista. A concepção que você defende conduz a que a produção
determina, com efeito, presentemente
a instituição social, não o tendo feito, porém, antes da produção capitalista,
porque as ferramentas não haviam cometido ainda o pecado original.
Ao dizer meios de produção, você está dizendo
sociedade
e, através desses meios de produção, sociedade co-determinada.
Tampouco existem meios de produção em si mesmos, fora
da sociedade e sem influência sobre esta, como existe capital em si mesmo.
Porém, a maneira como os meios de produção - os quais, nos períodos anteriores, inclusive
na produção simples de mercadorias, exerceram apenas uma dominação
muito branda em comparação com a dominação da atualidade – vieram a exercer a
atual dominação despótica é aquilo que
deve ser provado.
E, a prova que você apresenta, parece-me insuficiente, porque
não menciona um dos pólos : a formação de uma classe que já não possui para ela
mesma nenhum meio de produção e, portanto, nenhum meio de vida também, tendo,
assim, de vender a si mesma, a retalho.
No que diz respeito às propostas positivas de Rodbertus,
há que destacar o seu proudhonismo, pois ele próprio se
declara adepto de Proudhon I que antecipou o surgimento do Proudhon francês.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA
A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO
PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU
- SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Karl Kautsky in Zürich (Carta a K.
Kautsky em Zurique)(26 de Junho de 1884), in: ibidem, Vol. 36, Berlim : Dietz,
1967, pp. 167 e 168.
[2] Anoto que, em 23 de
junho de 1884, Karl Kautsky havia enviado a primeira parte de sua crítica ao
livro de Johann Karl Rodbertus, intitulado “O Capital”, a Engels, a fim de este a
examinasse e a reexpedisse, tão logo quanto possível, ao endereço de Kautsky. A crítica em referência pode ser encontrada
em KAUTSKY, KARL. “Das Kapital” von
Rodbertus (“O Capital” de Rodbertus), in : Die Neue Zeit (O Novo Tempo), Semanário da Social-Democracia Alemã,
Cadernos Nrs. 8 e 9 de 1884. Esse artigo de Kautsky, essencialmente corrigido
por Engels, deu início a uma acesa polêmica, travada contra Carl
August Schramm, renomado arquiteto alemão. Ademais, vide RODBERTUS-JAGETZOW, JOHANN KARL. Soziale Briefe an von Kirchmann
(Cartas Sociais a von Kirchmann)(1850 – 1852), especialmente Vierter Sozialer
Brief an von Kirchmann : Das Kapital (Quarta Carta Social a von Kirchmann,
Berlim : Rud Meyer, 1884, pp. 3 e s.; LASSALLE,
FERDINAND. Briefwechsel Lassalles mit Karl Rodbertus-Jagetzow
(Correspondência de Lassalle com K. Rodbertus-Jagetzow), in : Ferdinand
Lassalle Nachgelassene Briefe und Schriften; Vol: 6, Stuttgart – Berlim : Dt.
Verlagsanstallt – Julius Springer, 1925, pp.
17 e s.