FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO
REVOLUCIONÁRIO
PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,
TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
MUNDIAL
SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM
EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES
CARTA DE KARL MARX
a Pavel Vassilievitch Annenkov
28 de Dezembro de 1846
KARL MARX[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução Emil Asturig von
München
Publicação em Homenagem a Portau Schmidt von
Köln
Outubro 2007 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngelsCapa.htm
Bruxelas,
28 de dezembro de 1846
Rue
d’Orléans 42, Fbg. Namur
Caro
Sr. Annenkov![2]
O Sr.
já teria, há muito tempo, recebido minha resposta à sua carta de 1° de
novembro, se meu livreiro não me tivesse enviado o livro do Sr. Proudhon,
intitulado “Philosophie de la misère (EvM.: Filosofia da Miséria)”, apenas
na semana passada.
Passeio
em revista, em dois dias, a fim de poder comunicar-lhe, imediatamente, minha
opinião.
Como li
o livro muito rapidamente, não poderei entrar em detalhes. Poderei, apenas,
transmitir-lhe a impressão geral que esse livro me causou.
Se o
Sr. desejar, poder-me-ia dedicar a maiores detalhes, em uma segunda carta.
Confesso-lhe,
francamente, que achei o livro, em geral, ruim, em verdade, muito ruim.
Em sua missiva,
o Sr. mesmo se diverte “sobre o pouquinho de filosofia alemã”
que o Sr. Proudhon ostenta, nessa sua obra informe e presumida. [3]
Porém,
o Sr. admite que a apresentação econômica não esteja infectada pelo veneno
filosófico.
Encontro-me,
certamente, também muito longe de atribuir os erros da apresentação econômica à
filosofia do Sr. Proudhon.
O Sr. Proudhon
fornece uma falsa crítica da economia política não porque possui uma filosofia
ridícula, mas sim subminstra uma filosofia ridícula, porque não entendeu as
situações sociais da atualidade em seu encadeamento - engrènement (EvM.: engrenagem) -,
para usar uma palavra que o Sr. Proudhon toma emprestado de Charles
Fourier, tal como tantas outras coisas.
Por que
é que o Sr. Proudhon fala de Deus, da razão universal, da razão
impessoal da humanidade que jamais erra, que sempre foi igual a si
mesma, acerca da qual basta que se adquira corretamente consciência para que a
verdade seja encontrada ?
Por que
é que pratica um hegelianismo impotente, para posar de poderoso pensador ?
É ele
próprio que fornece a solução desse enigma.
O Sr. Proudhon
contempla na história uma série determinada de desenvolvimentos sociais.
Encontra o progresso realizado na história. Acha, finalmente, que os seres
humanos como indivíduos não sabiam o que faziam, que se enganavam com o seu
próprio desenvolvimento, i.e. que seu desenvolvimento social surge, à primeira
vista, independente, separada e diferentemente de seu desenvolvimento
individual.
Não
pode esclarecer esses fatos e, assim, a hipótese da razão universal que se revela é
uma pura invenção.
Nada é
mais fácil do que inventar causas místicas, i.e. frases,
às quais carece todo tipo de sentido.
Porém,
se o Sr. Proudhon confessa toda a sua incompreensão acerca do
desenvolvimento histórico da humanidade – e o admite, servindo-se de palavras
tão exclamativas, tais quais razão universal, Deus etc. -, não
revela, com isso, implícita e necessariamente, que é incapaz de compreender o desenvolvimento
econômico ?
O que é
a sociedade,
seja lá qual for a sua forma ?
É o
produto do agir recíproco dos seres humanos.
Compete
livremente aos seres humanos escolherem essa ou aquela forma de sociedade ?
De modo
algum.
Se o
Sr. pressupuser um determinado nível de desenvolvimento das forças produtivas dos
seres humanos, obterá uma forma determinada de circulação,
<commerce> (EvM.: comércio) e de consumo.
Se o
Sr. pressupuser determinados níveis de desenvolvimento da produção, da
circulação e do consumo, obterá uma ordem social correspondente, uma
organização correspondente da família, dos estamentos ou das classes, em suma :
uma
respectiva sociedade, <société civile> (EvM.: sociedade
civil).
Se o
Sr. pressupuser uma tal sociedade, obterá uma ordem política correspondente,
<état politique> (EvM.: estado político, situação política), que
é apenas a expressão oficial da sociedade.
O Sr. Proudhon
jamais entenderá isso, pois acredita estar fazendo algo de grande se apela do Estado,
<état> (EvM.: Estado), à sociedade, i.e. da síntese oficial da sociedade
à sociedade oficial.
É
desnecessário acrescentar que os seres humanos não escolhem livremente suas
forças produtivas – a base de toda a sua história.
Pois,
toda e qualquer força produtiva é uma força adquirida, o produto da atividade
precedente.
Portanto,
as
forças produtivas são o resultado da energia aplicada dos seres humanos.
Porém,
essa própria energia é limitada pelas circunstâncias, nas quais os seres
humanos se encontram inseridos, pelas forças produtivas, já adquiridas,
pela forma
da sociedade, existente antes deles mesmos e a qual não criam, visto que é o
produto da geração precedente.
Devido
ao simples fato de que toda nova geração encontra as forças produtivas, adquiridas
pelas velhas gerações e que lhe servem de matéria prima para a nova produção,
surge um nexo causal na história dos seres humanos, surge a história
da humanidade, que é tanto mais história da humanidade quanto mais se expandem
as forças produtivas dos seres humanos e, por consegüinte, as suas relações
sociais.
Disso,
a conseqüência necessária é a seguinte : a história social dos seres humanos é
sempre apenas a história de seu desenvolvimento individual, independemente de
serem disso conscientes ou não.
Suas relações
materiais são a base de todas as suas relações.
Essas
relações materiais nada são senão as formas necessárias, nas quais se realizam
sua atividade material e individual.
O Sr. Proudhon
confunde as idéias com as coisas.
Os
seres humanos não renunciam jamais àquilo que adquiriram, porém isso não quer
dizer que jamais renunciam à forma social, na qual adquiriram determinadas
forças produtivas.
Muito
pelo contrário. Para não serem despojados do resultado alcançado, para não
perderem os frutos da civilização, os seres humanos são forçados a modificar
todas as formas sociais tradicionais, tão logo o modo e o tipo de sua
circulação, < commerce> (EvM.: comércio), não mais corresponda às
forças produtivas adquiridas.
Utilizo,
aqui, a palavra commerce (EvM.: comércio) em lato senso, i.e. no sentido que
possui na língua alemã : Verkehr (EvM.: circulação).
P.ex.,
o privilégio, a instituição dos grêmios e das corporações de ofício, toda a regulamentação
da Idade Média, eram relações sociais que apenas correspondiam às
forças produtivas adquiridas e à situação social, existente outrora, a partir
das quais essas instituições procederam.
Sob os
auspícios do regime corporativo e regulamentador, os capitalistas reuniram-se,
o comércio marítimo desenvolveu-se, fundaram-se colônias – e os seres humanos
teriam perdido precisamente esses frutos se houvessem tentado preservar as
formas sob cuja proteção amadureceram.
Assim,
existiram, então, também dois trovões : as Revoluções de 1640 e de 1688.
Todas
as antigas formas econômicas, todas as relações sociais que lhes correspondiam,
a ordem política, <état politique> (EvM.: estado político, situação
política), que era a expressão oficial da velha sociedade, foram destruídas, na
Inglaterra.
Portanto,
as formas
econômicas, sob as quais os seres humanos produzem, consomem, trocam,
são transitórias
e históricas.
Com a
aquisição de novas forças produtivas, os seres humanos modificam seu modo
de produção e, com o modo de produção, modificam todas as relações
econômicas que eram, meramente, as relações necessárias para esse modo
de produção determinado.
Isso
precisamente é o que o Sr. Proudhon não compreendeu e, muito
menos, foi capaz de demonstrar.
Incapaz
de perseguir o movimento real da história, o Sr. Proudhon fornece uma
fantasmagoria que levanta a pretensão de ser dialética.
Não
sente a necessidade de falar dos séculos XVII, XVIII, XIX, pois sua história
desenvolve-se no reino nebuloso da imaginação, pairando alto, acima do tempo
e do espaço.
Em
suma: temos aí lixo hegeliano remoído. Não se trata aqui de nenhuma história,
de nenhuma história profana – história dos seres humanos -. mas sim se
trata de história sagrada – história das idéias.
Segundo
a opinião do Sr. Proudhon, o ser humano é apenas a ferramenta da qual se serve a
idéia
ou a razão eterna para o seu desenvolvimento.
As
evoluções, acerca das quais discorre o Sr. Proudhon, pretendem ser evoluções,
tais quais ocorrem no berço místico da idéia absoluta.
Rasgando-se
o véu desse modo de expressão místico, significa que o Sr. Proudhon fornece-nos a
ordem, na qual se encontram arrumadas as categorias econômicas, no interior
de seu cérebro.
Não me
custará muito trabalho para demonstrar-lhe que essa arrumação é a arrumação,
produzida por uma cabeça bem desordenada.
O Sr. Proudhon
abre seu livro com uma dissertação sobre o valor, o qual é o seu cavalo de
batalha.
Aqui,
não me ocuparei com o exame dessa dissertação.
Pois, a
série das evoluções econômicas da razão universal tem início com a divisão
do trabalho.
Para o
Sr. Proudhon,
a divisão do trabalho é uma coisa inteiramente simples.
Porém,
o regime de castas não era uma determinada divisão do trabalho ?
E o
sistema das corporações de ofício não era uma outra divisão do trabalho ?
E a
divisão do trabalho do período da manufatura
- que começou, na Inglaterra, em meados do século
XVII, terminando por volta do fim do século XVIII – não é, por sua vez,
completamente diferente da divisão de
trabalho, existente na grande indústria moderna ?
O Sr. Proudhon
encontra-se tão distante da verdade a ponto de negligenciar o
que até mesmo os economistas profanos fazem.
Para
discorrer sobre a divisão do trabalho, não considerou necessário falar do mercado
mundial.
Ora ! A
divisão do trabalho dos séculos XIV e XV – quando ainda não existiam colônias,
quando a América ainda não existia para a Europa, quando a Ásia
Oriental existia apenas por intermédio de Constantinopla - não havia
de ser fundamentalmente diferente da divisão do trabalho do século XVII que já
possuía colônias desenvolvidas ?
E isso
ainda não é tudo : toda a organização interna dos povos, todas
as suas
relações internacionais são, por acaso, alguma coisa distinta da
expressão de uma determinada divisão do trabalho ?
E estas
não têm de se modificar, juntamente com a modificação da divisão do trabalho
?
O Sr. Proudhon
entendeu tão pouco a questão da divisão do trabalho que nem sequer menciona a
separação, existente entre cidade e campo, que teve lugar, p.ex. na Alemanha,
entre os séculos IX e XII.
Assim,
para o Sr. Proudhon, essa separação haveria de se tornar uma lei
eterna, porque desconhece tanto sua origem quanto seu desenvolvimento.
Por
isso, ao longo de todo o seu livro, fala como se a criação de um determinado
modo de produção continuasse a durar até o dia do juízo final.
Tudo o
que o Sr. Proudhon apresenta sobre a divisão do trabalho é meramente um
resumo – e, além disso, um resumo bem superficial, bem incompleto – daquilo que
Adam
Smith e milhares de outros disseram antes dele.
A
segunda evolução é o maquinaria.
A
inter-relação, existente entre divisão do trabalho e maquinaria, é, para o Sr. Proudhon,
inteiramente mística.
Cada um
dos modos
de divisão do trabalho teve seus instrumentos específicos de produção.
P.ex. ,
os seres humanos de meados do século XVII até meados do século XVIII não faziam
todas as coisas com as mãos.
Possuíam
instrumentos que eram, até mesmo, muito complicados, tais quais teares, navios,
alavancas etc. etc.
Portanto,
nada é mais ridículo do que permitir que as máquinas surjam como uma
conseqüência da divisão do trabalho.
De
passagem, observarei que o Sr. Proudhon, por não compreender a
origem histórica da maquinaria, tampouco entende o seu desenvolvimento.
Pode-se
dizer que, até 1825 –época da primeira crise universal -, as necessidades do
consumo cresceram, em geral, mais rapidamente do que a produção, sendo que o
desenvolvimento das máquinas acompanharam, necessariamente, as necessidades do
mercado.
Desde
1825, a invenção e a aplicação das máquinas é apenas o resultado da guerra,
travada entre os empresários e os trabalhadores.
E isso
vale apenas para a Inglaterra.
As
nações européias foram forçadas a empregarem as máquinas pela concorrência
que os ingleses lhe fizeram, tanto no mercado interno quanto no mercado
mundial.
Finalmente,
nos EUA,
a introdução das máquinas foi conseqüencia tanto da concorrência, travada com
outros povos, quanto da carência de forças de trabalho. i.e. resultado
da desproporção, havida entre quantidade populacional e necessidades
industriais dos EUA.
A
partir desses fatos, o Sr. pode deduzir que tipo de perspicácia desenvolve o
Sr. Proudhon quando conjura o fantasma da concorrência como terceira evolução,
como antítese das máquinas!
Conclusivamente,
é verdadeiramente absurdo, de um modo geral, fazer da maquinaria uma categoria
econômica, situada ao lado da divisão do trabalho, da
concorrência, do crédito etc.
Assim
como a máquina não é uma categoria econômica, tampouco o é o
boi que puxa o arado.
A atual
aplicação
das
máquinas pertence às relações do nosso presente sistema econômico,
porém o modo, segundo o qual as máquinas são exploradas, é algo
inteiramente diferente das próprias máquinas.
Pólvora
continua a ser pólvora, independemente de ser utilizada para ferir um ser
humano ou curar as feridas de uma pessoa lesionada.
O Sr. Proudhon
consegue superar a si mesmo quando permite surgir, em sua cabeça, a concorrência,
o monopólio,
os impostos
ou a polícia,
o balanço
comercial, o crédito, a propriedade, na seqüência
aqui referida.
Quase
todo o sistema de crédito encontrava-se desenvolvido, na Inglaterra
do século XVIII, antes da invenção das máquinas.
O crédito
estatal era tão somente um novo modo de aumentar impostos e satisfazer
as novas necessidades, criadas pelo início da dominação da classe burguesa.
A propriedade
constitui, finalmente, a última categoria, no sistema do Sr. Proudhon.
Pelo
contrário, no mundo real, a divisão do trabalho e todas as demais
categorias do Sr. Proudhon são relações sociais, cujo
conjunto forma o que, hoje, é denominado de propriedade: fora dessas relações, a propriedade burguesa nada
é senão uma ilusão metafísica ou jurídica.
A propriedade
de uma outra época, a propriedade feudal, desenvolveu-se
sob relações sociais inteiramente distintas.
Se o
Sr. Proudhon
apresenta a propriedade como uma relação autônoma, comete mais do que
apenas um erro de método: demonstra, claramente, que não apreendeu o laço que
liga todas
as formas da produção burguesa, que não entendeu
o caráter
histórico e transitório das formas de produção, em uma determinada
época.
O Sr. Proudhon,
que não é capaz de vislumbrar nossas instituições sociais como produtos
da história, ignorando tanto a sua origem quanto o seu desenvolvimento,
pode apenas formular contra elas uma crítica dogmática.
Assim,
o Sr. Proudhon é também forçado a recorrer a uma ficção, com vistas a
explicar o desenvolvimento.
Imagina
que que a divisão do trabalho, o crédito, as máquinas etc. tudo foi
inventado para servir à sua idée fixe (EvM.: idéia fixa), à idéia
de igualdade.
Seu
esclarecimento é de uma graciosa ingenuidade.
Inventaram-se
essas coisas justamente para a promoção da igualdade, porém, desgraçadamente,
viraram-se contra a igualdade.
Esse é
todo o seu raciocínio.
Vale
dizer, parte de uma hipótese arbitrária e, visto que o desenvolvimento real e a
sua própria ficção se contradizem, a cada passo, conclui que aqui subjaz uma
contradição.
Nisso,
oculta o fato de que se trata apenas de uma contradição, existente entre sua idée
fixe (EvM.: idéia fixa) e o movimento real.
Desse
modo, o Sr. Proudhon - principalmente por falta de conhecimentos históricos
- não percebe que os seres humanos, ao desenvolverem suas forças produtivas, i.e. ao
viverem, desenvolvem determinadas relações entre si e que o modo
dessas relações se modifica com a transformação e a expansão
dessas forças produtivas.
Não
compreendeu que as categorias econômicas são apenas abstrações dessas relações reais,
que são
verdades apenas enquanto essas relações existem.
Assim,
incide no erro dos economistas burgueses que, nessas categorias econômicas,
vêem leis
eternas – e não leis históricas, válidas apenas para um
desenvolvimento histórico determinado, para um desenvolvimento determinado das
forças produtivas.
Por
isso, em vez de contemplar as categorias político-econômicas como abstrações
das relações histórico-sociais, reais e passageiras, o Sr. Proudhon,
devido a uma inversão mística, vislumbra, nas relações reais, apenas a incorporação
dessas abstrações.
Essas
próprias abstrações são fórmulas que dormitaram, desde o início do mundo, no
berço de Deus Pai.
Aqui, porém,
o bom Sr. Proudhon é assaltado por veementes convulsões espirituais.
Se
todas essas categorias econômicas são emanações do coração divino, se são a
vida oculta e eterna dos seres humanos, como é que, então, ocorre, em primeiro
lugar, de existir um desenvolvimento e, em segundo lugar, de o Sr. Proudhon
não ser um conservador ?
Ele
esclarece essas evidentes contradições por meio de um sistema inteiro de
antagonismos.
A fim
de elucidar esse sistema de antagonismos, tomemos um exemplo.
O monopólio
é bom, pois é uma categoria econômica, i.e. uma emanação de Deus.
A concorrência
é boa, pois é, igualmente, uma categoria econômica.
O que,
porém, não é bom é a realidade do monopólio e a realidade
da concorrência.
O que é
ainda pior é o fato de que o monopólio e a concorrência devoram-se
um ao outro.
Que
fazer ?
Como
esses ambos pensamentos eternos de Deus contradizem um ao outro, parece
ostensivamente ao Sr. Proudhon que, no berço do Senhor,
existe também uma síntese de ambos esses pensamentos, na qual o mal do
monopólio é compensado pela conconcorrência e vice-versa.
A luta,
travada entre ambas essas idéias, permitirá surgir, como resultado final,
apenas o lado bom.
Há de
se retirar de Deus esse pensamento secreto, aplicá-lo, a seguir, à prática, e
tudo ficará na mais perfeita ordem.
É
necessário revelar as fórmulas síntéticas, ocultas na noite da razão impessoal
da humanidade.
O Sr. Proudhon
não hesita, nem por um momento sequer, em atuar como revelador.
Porém,
o Sr. deve contemplar, por um instante, a vida real.
Na vida
econômica de nosso tempo, encontrará não apenas a concorrência e o monopólio,
senão também a sua síntese que não uma fórmula, mas sim um movimento.
O
monopólio produz a concorrência, a concorrência produz o monopólio.
Contudo,
essa equação não elimina absolutamente a dificuldade da situação atual, tal
como imaginam os economistas burgueses, senão dá surgimento apenas a uma
situação ainda mais difícil e embaralhada.
Se o
Sr. modificar, porém, a base, sobre a qual se assentam as relações econômicas
atuais, se o Sr. eliminar o modo de produção dos nossos dias,
aniquilará não apenas a concorrência, o monopólio e o antagonismo,
existente entre estes, senão ainda sua unidade, sua síntese, o movimento
que representa o equilíbrio real da concorrência e do monopólio.
Gostaria,
agora, de apresentar-lhe um exemplo da dialética do Sr. Proudhon.
A liberdade
e a escravidão
constituem um antagonismo.
Não
preciso falar nem dos aspectos bons nem dos aspectos maus da liberdade.
No que
respeita à escravidão, não é necessário falar de seus aspectos maus.
A única
coisa que carece de elucidação é o aspecto bom da escravidão.
Não me
refiro à escravidão indireta, i.e. a escravidão dos proletários.
Refiro-me
à escravidão
direta, à escravidão negra, existente no Suriname, no Brasil,
nos Estados do sul dos EUA.
A escravidão
direta é o ponto decisivo de nossa indústria contemporânea, tal quais o
são as máquinas, o crédito etc.
Sem
escravidão, não há algodão. Sem algodão, não há indústria moderna.
Só o
advento da escravidão conferiu às colônias o seu valor, só as colônias
criaram o mercado mundial.
O mercado
mundial é a condição necessária da grande indústria de máquinas.
Assim,
antes do tráfico negreiro, também as colônias do velho mundo forneciam,
portanto, apenas muito poucos produtos e não modificavam, perceptivelmente, a
face do mundo.
Consegüintemente,
a escravidão
é uma categoria econômica de suprema importância.
Sem a
escravidão, os EUA, a nação mais avançada, transformar-se-iam em um país
patriarcal.
Riscando-se
os EUA
do mapa
mundi, teríamos a anarquia, a total decadência do comércio e da
civilização moderna.
Porém,
permitir que a escravidão desaparecesse, significaria riscar os EUA
do mapa
mundi.
Assim,
como também a escravidão é uma categoria econômica, é ela, pois, encontrada
desde o início do mundo, em todos os povos.
Os
povos modernos apenas mascararam a escravidão em seus países e introduziram-na,
conscientemente, no Novo Mundo.
Ora,
depois dessas reflexões acerca da escravidão, o que é que fará o bom Sr. Proudhon
?
Procurará
a síntese
de liberdade e escravidão, o verdadeiro juste-milieu (EvM.: o
justo-meio), em suma: o equilíbrio entre escravidão e liberdade.
O Sr. Proudhon
compreendeu muito bem que os seres humanos produzem panos, telas, sedas – em
verdade, trata-se de um grande mérito ter compreendido uma bagatela do gênero!
Pelo
contrário, o Sr. Proudhon não compreendeu que os seres humanos produzem, de
acordo com as suas forças produtivas, também as relações sociais, nas
quais produzem o pano e a tela.
Tanto
menos o Sr. Proudhon entendeu que os seres humanos produzem as relações
sociais que correspondem à sua produtividade material, <productivité
matérielle> (EvM.: produtividade material), que produzem também as idéias,
as categorias, i.e. a expressão abstrata, ideal, precisamente
dessas relações sociais.
Portanto,
as categorias
não são eternas, tampouco como o são as relações que expressam.
São produtos
históricos e transitórios.
Para o
Sr. Produhon,
as
abstrações, as categorias, são, muito pelo contrário, causas
primárias.
Em seu
entendimento, são elas que produzem a história – e não os seres humanos.
A
abstração - a categoria enquanto tal, i.e. separada dos
seres humanos e da atividade material - é, naturalmente, imortal, imutável, imóvel.
É
apenas a essência da razão pura, o que quer meramente dizer que a
abstração enquanto tal é abstrata – uma brilhante tautologia !
Assim,
as relações
econômicas, consideradas como categorias, são, pois, para o Sr. Proudhon,
fórmulas
eternas que não possuem nem origem nem progresso.
Digamo-lo
de outra maneira : o Sr. Proudhon não afirma, diretamente,
que, para ele, a vida burguesa é uma verdade eterna.
Dí-lo
de maneira indireta, na medida em que diviniza as categorias que expressam as relações
burguesas, na forma do pensamento.
Considera
os produtos
da sociedade burguesa como essências eternas, surgidas espontaneamente
e dotadas de vida própria, porque se apresentam diante dele na forma de
categorias, na forma do pensamento.
Assim,
não ultrapassa o horizonte burguês.
Como
opera com os pensamentos burgueses dessa maneira, tal como se fossem
eternamente verdadeiros, fica procurando a síntese desses pensamentos, seu
equilíbrio, sem perceber que o modo segundo o qual presentemente mantêm o equilíbrio
é o único possível.
Na
realidade, faz aquilo que todo bom burguês faz.
Todos
eles dizem que a concorrência, o monopólio etc., em princípio, i.e. enquanto pensamentos
abstratos, são os únicos fundamentos da vida,
deixando, porém, na prática, muito a desejar.
Querem
todos a concorrência, sem as perniciosas conseqüências da concorrência.
Querem
todos o impossível, i.e. as condições burguesas de vida, sem as necessárias
conseqüências dessas condições.
Todos
eles não entendem que a forma burguesa da produção é histórica e
transitória, examente como o é a forma feudal.
Portanto,
esse erro é devido ao fato de que, para eles, o ser humano burguês é o único
fundamento possível de toda a sociedade.
Não
podem imaginar nenhuma ordem social em que o ser humano deixaria de ser
burguês.
O Sr. Proudhon
é, assim, necessariamente, doutrinário.
Para
ele, o movimento histórico que convulsiona o mundo de hoje resume-se ao
problema de descobrir o equilíbrio correto, a síntese
de dois pensamentos burgueses.
Assim,
graças à sua perspicácia, esse sujeito esperto descobre o pensamento oculto de Deus,
a unidade dos dois pensamentos isolados que são dois pensamentos isolados
apenas porque o Sr. Proudhon os isolou da vida prática, da atual produção que é a
combinação das realidades, expressadas por esses pensamentos.
No
lugar do grande movimento histórico que procede do conflito, existente entre as
forças produtivas dos seres humanos já adquiridas e suas relações sociais que
não mais correspondem a essas forças produtivas.
No lugar
das guerras
terríveis que preparam entre as diferentes classes de uma nação, entre
as diferentes nações, no lugar da ação prática e violenta das massas
que apenas pode trazer a solução para essas colisões : no lugar desse movimento
vasto, prolongado e complexo, o Sr. Proudhon coloca o movimento
de evacuação, <cacadauphin>, da sua própria cabeça.[4]
Assim,
seriam os sábios – vale dizer, os ser humanos que sabem extrair de Deus
os seus íntimos pensamentos – que fariam a história.
A plebe
há apenas de colocar na prática as revelações, formuladas por eles.
O Sr.
entende, agora, porque o Sr. Proudhon é o inimigo declarado de
todo e qualquer movimento político.
Para
ele, a solução dos problemas da atualidade não residem na ação pública, mas sim
no movimento dialético de rotação que tem lugar no interior de seu cérebro.
Como,
para ele, as categorias são as forças propulsoras, não é necessário modificar a
vida
prática, para modificar as categorias.
Muito
pelo contrário : é necessário modificar as categorias, pois isso acarretará a
modificação da sociedade real.
Movido
pelo desejo de conciliar as contradições, o Sr. Proudhon não levanta nem
mesmo a questão de saber se não seria propriamente necessário revolucionar
o fundamento dessas contradições.
Em tudo,
equipara-se ao político doutrinário que pretende considerar o rei,
a câmara dos deputados e dos pares, como sendo partes componentes
integrantes da vida social, i.e. categorias
eternas.
Procura,
apenas, um nova fórmula, a fim de produzir o equilíbrio desses poderes,
cujo balanceamento se estriba, precisamente, no movimento atual, no qual um
desses poderes é ora o vencedor ora o escravo do outro.
Assim,
no século XVIII, uma série de cabeças
medíocres ocuparam-se em encontrar a única fórmula correta para colocar em
equilíbrio os estamentos sociais, a nobreza, o rei, o parlamento etc.
E, da
noite para o dia, tudo isso – rei,
paralmento e nobreza – desapareceu.
O equilíbrio
correto desse antagonismo foi a revolução de todas as relações sociais que
serviam como fundamento a essas entidades feudais e ao antagonismo, havido
entre estas.
Como o
Sr. Proudhon
posiciona, de um lado, as idéias eternas, as categorias
da razão pura, e, d’outro, os seres humanos e sua vida prática, a qual
segundo ele, é a aplicação dessas categorias, o Sr. encontra, nele, desde o
início, um dualismo, havido entre a vida e as idéias, entre a alma e o corpo –
um dualismo recorrente, em muitas formas.
O Sr.
pode ver, agora, que esse antagonismo nada é senão a incapacidade do Sr. Proudhon
de compreender a origem terrena, a história profana das categorias que
diviniza.
Minha
carta já se tornou longa demais para que pudesse ter a oportunidade de
discorrer ainda acerca do ridículo processo que o Sr. Proudhon move contra o
comunismo.
O Sr.
admitirá, porém, de antemão, que um homem que não entende a ordem
social da atualidade, há de ser muito menos capaz de entender o movimento
que a pretende revolucionar, bem como a expressão literária desse
movimento revolucionário.
O único
ponto em que me encontro inteiramente de acordo com o Sr. Proudhon
relaciona-se com a sua repugnância para com o sentimentalismo socialista
desvairado.
Já
antes dele, tornei-me muito impopular por causa de minhas paródias, elaboradas
contra o socialismo cabeça de ovelha, sentimentalista, utópico.
Porém,
o Sr. Proudhon não se expõe a estranhas ilusões, quando opõe seu
sentimentalismo pequeno-burguês – quero dizer, suas homilias sobre a vida
doméstica, o amor conjugal e todas essas banalidades – ao sentimentalismo socialista
que, p.ex,, em Charles Fourier, é muito mais profundo do que as trivialidades
presunçosas do nosso bom Proudhon ?
Ele
próprio percebe tão bem a nulidade de seus argumentos, sua inteira incapacidade
de falar dessas coisas, que irrompe, insofreadamente, em ira e gritaria, irae
hominis probi (EvM.: ira do homem probo), espumando, vituperando,
denunciando, gritando infâmia! e acudam!, batendo no peito e glorificando a si
mesmo ante Deus e os seres humanos, por não ter nada a ver com as vilanias
socialistas!
Não
critica as sentimentalidades socialistas ou o que considera como
sentimentalidades.
Tal
como um santo, tal como um papa, excomunga os pobres pecadores, cantando hinos
de louvor à pequena burguesia e às miseráveis ilusões amorosas patriarcais
do lar-doce-lar.
E não
se trata absolutamente de um acaso.
O Sr.
Proudhon é, da cabeça aos pés, um filósofo, um economista da pequena
burguesia.
Em uma
sociedade avançada e por causa da coação da sua situação, o pequeno
burguês torna-se, por um lado, socialista, por outro lado, economista,
i.e. é alucinado pela magnificência da grande burguesia e
sente compaixão para com o sofrimento do povo.
É
burguês e povo, ao mesmo tempo.
No
fundo da sua consciência, desvanece-se por ser apartidário, por ter encontrado
o justo
equilíbrio que levanta a pretensão de ser algo diferente do correto juste-milieu
(EVM.: justo meio).
Um
semelhante pequeno burguês diviniza a contradição, porque a contradição
é o cerne de seu caráter.
Ele
próprio é apenas a contradição social em ação.
Tem de
justificar através da teoria aquilo que é na prática e o Sr. Proudhon
possui o mérito de ser o intérprete científico da pequena burguesia
francesa, o que é um verdadeiro mérito, visto que a pequena burguesia
será uma parte integrante de todas as revoluções sociais que se encontram em
preparação.
Com a
presente carta, ter-lhe-ia enviado, com grande prazer, meu livro sobre a
economia política, porém, até o presente, não me foi possível fazer imprimir
nem essa obra nem a crítica dos filósofos e socialistas alemães, das quais lhe
falei em Bruxelas. [5]
O Sr.
não poderá conseguirá imaginar as dificuldades, contra as quais uma publicação
do gênero esbarra na Alemanha, seja, de um lado, por causa da polícia, seja, d’outro
lado, por causa dos editores que são, em verdade, eles mesmos, os
representantes interessados de todas as correntes que ataco.[6]
No que
concerne ao nosso próprio Partido, cumpre destacar que não é apenas pobre,
senão também que existe um forte grupo no interior do Partido comunista alemão
que leva a mal, porque me oponho às suas utopias e declamações.
Cordialmente,
do seu
Charles
Marx
PS.: O Sr. perguntar-se-á por que é que lhe escrevo em um mau francês, em vez de
em um bom alemão? Porque trato aqui de um escritor francês. Ser—lhe-ia muito
grato, se o Sr. não postergasse demais a sua resposta, a fim de que fique
sabendo se o Sr., de fato, entendeu-me, sob o invólucro do meu francês
selvagem.[7]
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA
A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO
PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU
- SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief
an Pavel Vassilievitch Annenkov in Paris (Carta a P.V. Annenkov em Paris)(28 de
Dezembro de 1846), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl
Marx e Friedrich Engels), Vol. 27, Berlim : Dietz, 1963, pp. 451 e s. A
presente carta de Marx a Annenkov foi, originariamente,
redigida em língua francesa e publicada, pela primeira vez, parcialmente, em
1880, por ANNENKOV, PAVEL V.
Reminescências da Década Notável, in : Vestnik Evropy (Mensageiro da Europa),
editado por M.M. Stassiulevitch e, a seguir, em 1883, nas páginas de “Die
Neue Zeit (O Novo Tempo)” e “New Yorker Volkszeitung (Jornal Popular
de Nova Iorque)”. De modo
completo, surgiu, em conformidade com o original francês, apenas em M. M. STASSIULEVITCH I YEVO SOVREMENNIKI V
NIRR PEREPISK’ (M.M. Stassiulevitch e seus Contemporâneos em suas
Correspondências), Vol. 3, 1912. Nessa carta, Marx a pedido de Annenkov,
elaborou um parecer sobre o livro de PROUDHON,
PIERRE-JOSEPH. Système des Contradictions Économiques, ou, Philosophie de
la Misère, em 2. Vol., Paris : Chez Guillaumin, 1846, pp. 3 e s. Em dezembro de
1846 e nos meses iniciais de 1847, dedicar-se-ia, então, à redação de seu MARX, KARL. Das Elend der Philosophie. Antwort auf
Proudhons “Philosophie des Elends” (A Miséria da Filosofia. Resposta à
“Filosofia da Miséria” de Proudhon)(Dezembro de 1846 – Abril 1847) , in :
ibidem, Vol. 4, pp. 63 e s. A carta em tela apresenta, novidadeiramente, as
diretrizes fundamentais do pensamento de Marx que conformaram a criação, no
início de 1846, em Bruxelas, do Comitê de Correspondência Comunista,
antagonista, entre outros, das concepções dos corifeus da Esquerda Hegeliana,
encabeçada por David Strauß, Ludwig Feuerbach e Bruno Bauer, das
posições dos arautos da Liga dos Justos, capitaneada por Wilhelm
Weitling, e dos protagonistas do “Verdadeiro” Socialismo, inspirado
por Karl
Grün e Moses Heß, bem como opositor das posições socialistas
pequeno-burguesas anarquistas de Pierre-Joseph Proudhon.
[2] Anoto que Annenkov (1812 – 1887) foi um
proprietário fundiário, crítico e publicista russo de orientação liberal. Após
ter conhecido Marx em 1846, manteve contato, em 30 de março de 1847, com Wilhelm
Weitling, principal representante da Liga dos Justos e do
comunismo alemão primitivo, fundado na idéia de igualitarismo social. Viveu com
o primeiro célebre escritor realista russo Nikolai Gogol, em Roma,
o qual lhe ditou, em 1842, o primeiro volume de “Almas Mortas”. Foi amigo
também de Ivan Turguenev. Entre 1853 e 1856, formou, com Nikolai
Nekrassov e Turgunev, uma espécie de triumvirato, ocupado da gestão da
literatura de São Petersburgo, colaborando com as principais revistas
democrático-liberais que polemizavam com os jornais conservadores eslavófilos. Annenkov
foi quem, em 1871, escreveu a primeira biografia de Alexandr Pushkin,
escritor romântico, fundador da moderna literatura russa, defensor de idéias de
liberais e reformas sociais.
[3] Em 1° de novembro de
1846, Annenkov endereçou a Marx uma carta, escrita em língua
francesa, traçando comentários acerca do livro de PROUDHON, PIERRE-JOSEPH. Système des Contradictions Économiques,
ou, Philosophie de la Misère, em 2. Vol., Paris : Chez Guillaumin, 1846, pp. 3
e s. Nela, Annenkov assinalou o seguinte: “Confesso-lhe que o próprio
plano da obra me parece muito mais um jogo do espírito, ao qual se atribui um
pouquinho de filosofia alemã, do que uma coisa produzida naturalmente, pelo
sujeito e pelas necessidades de seu desenvolvimento lógico.” Cf. ANNENKOV, PAVIEL, V. Brief an Karl Marx
(Carta a K. Marx)(1° de Novembro de 1846), passim: ibidem, Vol. 27, p. 669 e
s.
[4] A referência à expressão
cacadauphin, aqui empreendida por Marx, relaciona-se ao fato de que,
durante a Grande Revolução Francesa de 1789, os oponentes republicanos do Ancien
Régime assim denominavam, sarcasticamemente, a cor caqui do lenço do príncipe
herdeiro francês, i.e. o delfim, celebrizada pela Rainha Maria Antonieta.
[5] Marx refere-se, aqui, por um lado, à obra de economia
política que planejava, em verdade, fazer editar, já mesmo a partir de fevereiro
de 1845, a ser denominada de “Kritik der Politik und
Nationalökonomie(Crítica da Política e da Economia Nacional)”, e, por
outro, à sua obra “Die deutsche Ideologie (A Ideologia Alemã)”, redigida em
conjunto com Engels, em 1845 e 1846. Sobre a última dessas obras aqui
referidas, vide MARX, KARL & ENGELS,
FRIEDRICH. Die deutsche Ideologie. Kritik der neusten deutschen Philosophie
in ihren Repräsentanten Feuerbach, B. Bauer und Stirner und des deutschen
Sozialismus in seinen verschiedenen Propheten (A Ideologia Alemã. Crítica da
Filosofia Alemã Mais Moderna, em Seus Representantes Feuerbach, B. Bauer e
Stirner, e do Socialismo Alemão, em Seus Diferentes Profetas)(1845 – 1846), in
: ibidem, Vol. 3, pp. 5 e ss.
[6] Anoto que, já em 19 de setembro de 1846, a Editora
de Carl Wilhelm Leske, situada em Darmstadt, comunicara a Marx,
mediante carta, que, devido à rigorosa censura e às perseguições policiais,
empreendidas por parte do Estado Prussiano, pretendia
distanciar-se da edição dos trabalhos literários de Marx. Em seguida, o
contrato que Marx firmara com a Editora de C. Leske, em 1° de
fevereiro de 1845, visando à edição de uma obra, dotada de dois volumes,
intitulada “Kritik der Politik und Nationalökonomie(Crítica da Política e da
Economia Nacional)”, foi cancelado, unilateralmente, por parte da
editora, em fevereiro de 1847, desobrigando-se, assim, ao pagamento de 3.000
(três mil) francos a Marx, correspondentes ao lançamento
da primeira edição da obra em referência, em 2.000 exemplares. Vide IDEM. ibidem, Vol. 27, pp. 669 e
s.
[7] Em verdade, já em 6 de janeiro de 1847, Annenkov – ainda se encontrando distante do materialismo e do socialismo científico - dirigiu-se, mediante carta, a Marx, expressando sua opinião sobre sobre a explanação da concepção materialista histórico-dialética e a crítica profunda e precisa, elaborada por Marx contra Proudhon, nos seguintes termos: “Sua opinião sobre o livro de Proudhon produziu em mm um efeito verdadeiramente vivificante, devido à sua precisão, clareza e, sobretudo, toda essa tendência de manter.se nos limites da realidade.” Cf. ANNENKOV, PAVEL V. Brief an Karl Marx (Carta a K. Marx), in : Marx-Engels-Gesamtausage (MEGA), Seção III : Correspondência, Vol. 2 (Maio de 1846 – Dezembro de 1848), Berlim : Dietz, 1979, p. 321.