FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO
SOCIALISMO CIENTÍFICO
PARA A LUTA DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIA,
TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
MUNDIAL
SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM
EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES
CARTA ABERTA AOS BOLCHEVIQUES
FRANZ MEHRING[1]
Concepção e Organização, Compilação e
Tradução Asturig Emil von München
Janeiro 2019 emilvonmuenchen@web.de
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Übersetzung ins Deutsche
Honrados companheiros!
Pode parecer pretensioso que
eu – um único de vossos companheiros de fé na Alemanha – envie saudações
fraternais e cordiais congratulações aos camaradas russos.
Porém, em verdade, vos escrevo
não como o único, senão como o mais veterano do Grupo Internacional, o Grupo
Spartakista, aquela orientação social-democrática na Alemanha que, já
há muitos anos, luta sob as circunstâncias mais difíceis no mesmo terreno e com
a mesma tática que foram empregadas por vocês antes de a revolução gloriosa
haver coroado vossos esforços com a vitória.
Dotado de orgulho sem inveja,
sentimos a vitória dos bolcheviques como nossa vitória e nos reconheceríamos
jubilosamente em prol de vocês, se nossas fileiras não estivessem terrivelmente
dissipadas e muitos dos nossos – e, em verdade, não os piores dentre nós, tal
qual a companheira Rosa Luxemburg – não estivessem por detrás dos muros das
prisões ou por detrás das paredes das penitenciárias, tal qual o companheiro Karl
Liebknecht.
Quem dera pudera eu ao menos
enviar-vos melhores notícias sobre a vida no interior do mundo dos
trabalhadores da Alemanha!
Porém, o Socialismo de Governo
continua a devorar tudo, ao seu redor, tal como uma mancha de óleo, embora já
se tenha deteriorado moral e politicamente e, dia a dia, ainda mais se degrade.
Trata-se ainda do mínimo posto que, sob a proteção do estado de sítio,
apoderou-se, mediante todos os tipos de artimanhas e engodos, de quase todos os
jornais operários, podendo despejar, diariamente, sobre as massas proletárias
seu veneno, através de centenas de canais.
Incomparevelmente mais
preocupante é o fato de essas mesmas massas demonstrarem receptividade ao Socialismo
de Governo, de modo a possibilitar-lhe, já em três batalhas eleitorais,
golpear a cabeça da Social-Democracia Independente. (...)
Em gritante contradição com a posição da Social-Democracia Independente,
o Grupo
Internacional rompeu com todos os auto-enganos, desde o início da Guerra
Mundial, não se esquivando jamais ao reconhecimento, no seio de suas
“diretrizes” e demais proclamações programáticas, de que, depois da horrível
falência do 4 de agosto de 1914, é imprescendível e possível apenas uma total
reconstrução da Internacional.
Desde de o início, hostilizado
e perseguido por todos os lados, e, não menos, pelos atuais dirigentes dos Social-Democratas
Independentes, tivemos sempre a fortuna de encontrar os ouvidos e os
corações abertos dos trabalhadores e o mesmo espírito de sacrifício que,
outrora, seus antepassados comprovaram ter, sob o domínio da Lei
dos Socialistas.
Equivocamo-nos apenas em uma
coisa: quando, depois da fundação da Social-Democracia Independente –
evidentemente preservando nosso ponto de vista com autonomia – aderimos,
organizatoriamente, a eles, na esperança de podermos fazê-los avançar.
Essa esperança, tivemos de
abandoná-la: todas as iniciativas desse gênero fracassaram, pois os dirigentes
dos Social-Democratas
Independentes suspeitaram que nossos melhores e mais provados
companheiros fossem agentes provocadores, o que representa uma bela parte da
herança da “velha tática comprovada”.
A respeito disso, poder-se-ia,
no fim das contas, simplesmente manifestar-se indiferença, mas o que acabou
rasgando o tecido da paciência de nossos companheiros, é a luta sem sentido que
Karl
Kautsky e seus associados conduzem contra os bolcheviques.
Entendemos o descontentamento
tremulante deste pensador com o fato de que os bolcheviques até aqui
transpuseram as fronteiras da “velha tática comprovada”.
Porém, pode-se alimentar uma
réstia de esperança no fato de que Kautsky teria aprendido, a partir de
seu Marx
que conhece – segundo suas próprias indicações – de cor e salteado,
conseguindo declamá-lo muito seguramente de modo literal, a lição de que não
compete às pessoas sentadas, tranqüilas e seguras no exterior, dificultar para
a satisfação da burguesia e de seus governos a situação dos lutadores
revolucionários que atuam sob as mais difíceis relações e grandes sacrifícios
pessoais.
Entretanto, não tinha de ser
assim e, deste modo, permito-me, prazeirosamente, por meio da presente carta,
ao desejo que emergiu repetidamente nos círculos do Grupo Internacional e foi
a mim dirigido, nos últimos tempos: o desejo de comunicar aos amigos russos e
companheiros de fé que nos sentimos ligados a vocês, por todos os laços de
profunda simpatia e de emoção e admiramos vocês – e não, p. ex., os fantasmas
da “velha
tática comprovada”. – por serem
os precursores vigorosos da nova Internacional, aquela que escreve em
nossos princípios norteadores:
“A Pátria dos Proletários, a
cuja Defesa todas as demais coisas devem subordinar-se, é a Internacional
Socialista.”
Berlim, 3 de junho de 1918,
Com saudações e cumprimentos,
Vosso Franz Mehring
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
– DIVERSIDADE J. M. SVERDLOV”
PARA
A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO CIENTÍFICO-SOCIALISTA
DAS
MASSAS OPRIMIDAS E SEUS ALIADOS POLÍTICOS
MOSCOU
- SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MEHRING, FRANZ. Offenes Schreiben an die Bolschewiki, 3. Juni 1918 (Carta
Aberta aos Bolcheviques de 3 de Junho de 1918), in: Dokumente und Materialien
zur Geschichte der deutschen Arbeiterbewegung (Documentos e Materiais sobre a
História do Movimento dos Trabalhadores Alemão), Série II, Berlim: Dietz, 1957,
p. 158 s.