PRODUÇÕES
LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS
MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Carta
a P. V. Annenkov :
Propriedade Burguesa,
Propriedade Feudal, Propriedade Antiga :
Sobre a Liberdade e a
Escravidão
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Janeiro de 2009
Para Palestras, Cursos
e Publicações sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
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Geral
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Bruxelas, 28 de dezembro de 1846
Rue d’Orléans 42, Fbg. Namur
Caro Sr. Annenkov![2]
O Sr. já teria, há muito tempo, recebido minha resposta à
sua carta de 1° de novembro, se meu livreiro não me tivesse enviado o livro do
Sr. Proudhon,
intitulado “Philosophie de la misère (EvM.: Filosofia da Miséria)”, apenas
na semana passada.[3]
Passeio em revista, em dois dias, a fim de poder
comunicar-lhe, imediatamente, minha opinião.
Como li o livro muito rapidamente, não poderei entrar em
detalhes. Poderei, apenas, transmitir-lhe a impressão geral que esse livro me
causou.
Se o Sr. desejar, poder-me-ia dedicar a maiores detalhes,
em uma segunda carta.
Confesso-lhe, francamente, que achei o livro, em geral,
ruim, em verdade, muito ruim.
Em sua missiva, o Sr. mesmo se diverte “sobre
o pouquinho de filosofia alemã” que o Sr. Proudhon ostenta, nessa
sua obra informe e presumida.[4]
Porém, o Sr. admite que a apresentação econômica não
esteja infectada pelo veneno filosófico.
Encontro-me, certamente, também muito longe de atribuir
os erros da apresentação econômica à filosofia do Sr. Proudhon.
O Sr. Proudhon fornece uma falsa crítica
da economia política não porque possui uma filosofia ridícula, mas sim
subminstra uma filosofia ridícula, porque não entendeu as situações sociais da
atualidade em seu encadeamento - engrènement
(EvM.: engrenagem) -, para usar uma palavra que o Sr. Proudhon toma emprestado
de Charles
Fourier, tal como tantas outras coisas.
Por que é que o Sr. Proudhon fala de Deus,
da razão
universal, da razão impessoal da humanidade que jamais
erra, que sempre foi igual a si mesma, acerca da qual basta que se
adquira corretamente consciência para que a verdade seja encontrada ?
Por que é que pratica um hegelianismo impotente,
para posar de poderoso pensador ?
É ele próprio que fornece a solução desse enigma.
O Sr. Proudhon contempla na história uma
série determinada de desenvolvimentos sociais. Encontra o progresso realizado
na história. Acha, finalmente, que os seres humanos como indivíduos não sabiam
o que faziam, que se enganavam com o seu próprio desenvolvimento, i.e. que seu
desenvolvimento social surge, à primeira vista, independente, separada e
diferentemente de seu desenvolvimento individual.
Não pode esclarecer esses fatos e, assim, a hipótese da razão
universal que se revela é uma pura invenção.
Nada é mais fácil do que inventar causas místicas, i.e. frases,
às quais carece todo tipo de sentido.
Porém, se o Sr. Proudhon confessa toda a sua
incompreensão acerca do desenvolvimento histórico da humanidade – e o admite,
servindo-se de palavras tão exclamativas, tais quais razão universal, Deus
etc. -, não revela, com isso, implícita e necessariamente, que é incapaz de
compreender o desenvolvimento econômico ?
O que é a sociedade, seja lá qual for a sua
forma ?
É o produto do agir recíproco dos seres humanos.
Compete livremente aos seres humanos escolherem essa ou
aquela forma de sociedade ?
De modo algum.
Se o Sr. pressupuser um determinado nível de
desenvolvimento das forças produtivas dos seres humanos, obterá uma forma
determinada de circulação, <commerce> (EvM.: comércio) e de consumo.
Se o Sr. pressupuser determinados níveis de desenvolvimento
da produção, da circulação e do consumo, obterá uma ordem social correspondente,
uma organização correspondente da família, dos estamentos ou das classes, em
suma : uma respectiva sociedade, <société civile> (EvM.:
sociedade civil).
Se o Sr. pressupuser uma tal sociedade, obterá uma ordem
política correspondente, <état politique> (EvM.: estado político,
situação política), que é apenas a expressão oficial da sociedade.
O Sr. Proudhon jamais entenderá isso, pois
acredita estar fazendo algo de grande se apela do Estado, <état> (EvM.:
Estado), à sociedade, i.e. da síntese oficial da sociedade à sociedade
oficial.
É desnecessário acrescentar que os seres humanos não
escolhem livremente suas forças produtivas – a base de toda a sua história.
Pois, toda e qualquer força produtiva é uma força
adquirida, o produto da atividade precedente.
Portanto, as forças produtivas são o resultado da
energia aplicada dos seres humanos.
Porém, essa própria energia é limitada pelas
circunstâncias, nas quais os seres humanos se encontram inseridos, pelas forças
produtivas, já adquiridas, pela forma da sociedade, existente antes deles
mesmos e a qual não criam, visto que é o produto da geração precedente.
Devido ao simples fato de que toda nova geração encontra
as forças produtivas, adquiridas pelas velhas gerações e que lhe servem de
matéria prima para a nova produção, surge um nexo causal na história
dos seres humanos, surge a história da humanidade, que é tanto
mais história da humanidade quanto mais se expandem as forças produtivas dos
seres humanos e, por consegüinte, as suas relações sociais.
Disso, a conseqüência necessária é a seguinte : a
história social dos seres humanos é sempre apenas a história de seu desenvolvimento
individual, independemente de serem disso conscientes ou não.
Suas relações materiais são a base
de todas as suas relações.
Essas relações materiais nada são senão as formas
necessárias, nas quais se realizam sua atividade material e individual.
O Sr. Proudhon confunde as idéias com as
coisas.
Os seres humanos não renunciam jamais àquilo que
adquiriram, porém isso não quer dizer que jamais renunciam à forma
social, na qual adquiriram determinadas forças produtivas.
Muito pelo contrário. Para não serem despojados do
resultado alcançado, para não perderem os frutos da civilização, os seres
humanos são forçados a modificar todas as formas sociais tradicionais, tão logo
o modo e o tipo de sua circulação, < commerce> (EvM.: comércio),
não mais corresponda às forças produtivas adquiridas.
Utilizo, aqui, a palavra commerce (EvM.: comércio)
em lato senso, i.e. no sentido que possui na língua alemã : Verkehr
(EvM.: circulação).
P.ex., o privilégio, a instituição dos grêmios e das
corporações de ofício, toda a regulamentação da Idade
Média, eram relações sociais que apenas correspondiam às forças
produtivas adquiridas e à situação social, existente outrora, a partir das
quais essas instituições procederam.
Sob os auspícios do regime corporativo e regulamentador,
os capitalistas reuniram-se, o comércio marítimo desenvolveu-se, fundaram-se
colônias – e os seres humanos teriam perdido precisamente esses frutos se
houvessem tentado preservar as formas sob cuja proteção amadureceram.
Assim, existiram, então, também dois trovões : as Revoluções
de 1640 e de 1688.
Todas as antigas formas econômicas, todas as relações
sociais que lhes correspondiam, a ordem política, <état politique> (EvM.:
estado político, situação política), que era a expressão oficial da velha
sociedade, foram destruídas, na Inglaterra.
Portanto, as formas econômicas, sob as quais os
seres humanos produzem, consomem, trocam, são transitórias e históricas.
Com a aquisição de novas forças produtivas, os
seres humanos modificam seu modo de produção e, com o modo de
produção, modificam todas as relações econômicas que eram,
meramente, as relações necessárias para esse modo de produção determinado.
Isso precisamente é o que o Sr. Proudhon não compreendeu
e, muito menos, foi capaz de demonstrar.
Incapaz de perseguir o movimento real da história, o Sr. Proudhon
fornece uma fantasmagoria que levanta a pretensão de ser dialética.
Não sente a necessidade de falar dos séculos XVII, XVIII,
XIX, pois sua história desenvolve-se no reino nebuloso da imaginação,
pairando alto, acima do tempo e do espaço.
Em suma: temos aí lixo hegeliano remoído. Não se trata
aqui de nenhuma história, de nenhuma história profana – história dos seres
humanos -. mas sim se trata de história sagrada – história
das idéias.
Segundo a opinião do Sr. Proudhon, o ser humano é
apenas a ferramenta da qual se serve a idéia ou a razão eterna para o seu
desenvolvimento.
As evoluções, acerca das quais discorre o Sr. Proudhon,
pretendem ser evoluções, tais quais ocorrem no berço místico da idéia
absoluta.
Rasgando-se o véu desse modo de expressão místico,
significa que o Sr. Proudhon fornece-nos a ordem, na qual se encontram arrumadas as
categorias
econômicas, no interior de seu cérebro.
Não me custará muito trabalho para demonstrar-lhe que
essa arrumação é a arrumação, produzida por uma cabeça bem desordenada.
O Sr. Proudhon abre seu livro com uma
dissertação sobre o valor, o qual é o seu cavalo de batalha.
Aqui, não me ocuparei com o exame dessa dissertação.
Pois, a série das evoluções econômicas da razão universal
tem início com a divisão do trabalho.
Para o Sr. Proudhon, a divisão do trabalho é
uma coisa inteiramente simples.
Porém, o regime de castas não era uma determinada divisão
do trabalho ?
E o sistema das corporações de ofício não era uma outra
divisão do trabalho ?
E a divisão do trabalho do período da manufatura - que começou, na Inglaterra, em meados do
século XVII, terminando por volta do fim do século XVIII – não é, por sua vez,
completamente diferente da divisão de
trabalho, existente na grande indústria moderna ?
O Sr. Proudhon encontra-se tão distante da
verdade
a ponto de negligenciar o que até mesmo os economistas profanos fazem.
Para discorrer sobre a divisão do trabalho, não
considerou necessário falar do mercado mundial.
Ora ! A divisão do trabalho dos séculos XIV e XV – quando
ainda não existiam colônias, quando a América ainda não existia para a Europa,
quando a Ásia Oriental existia apenas por intermédio de Constantinopla
- não havia de ser fundamentalmente diferente da divisão do trabalho do século
XVII que já possuía colônias desenvolvidas ?
E isso ainda não é tudo : toda a organização interna dos povos,
todas as suas relações internacionais são, por acaso, alguma coisa distinta
da expressão de uma determinada divisão do trabalho ?
E estas não têm de se modificar, juntamente com a
modificação da divisão do trabalho ?
O Sr. Proudhon entendeu tão pouco a
questão da divisão do trabalho que nem sequer menciona a separação, existente
entre cidade e campo, que teve lugar, p.ex. na Alemanha, entre os séculos IX e
XII.
Assim, para o Sr. Proudhon, essa separação haveria de
se tornar uma lei eterna, porque desconhece tanto sua origem quanto seu
desenvolvimento.
Por isso, ao longo de todo o seu livro, fala como se a
criação de um determinado modo de produção continuasse a durar até o dia do
juízo final.
Tudo o que o Sr. Proudhon apresenta sobre a divisão
do trabalho é meramente um resumo – e, além disso, um resumo bem superficial,
bem incompleto – daquilo que Adam Smith e milhares de outros
disseram antes dele.
A segunda evolução é o maquinaria.
A inter-relação, existente entre divisão do trabalho e
maquinaria, é, para o Sr. Proudhon, inteiramente mística.
Cada um dos modos de divisão do trabalho teve
seus instrumentos
específicos de produção.
P.ex. , os seres humanos de meados do século XVII até
meados do século XVIII não faziam todas as coisas com as mãos.
Possuíam instrumentos que eram, até mesmo, muito
complicados, tais quais teares, navios, alavancas etc. etc.
Portanto, nada é mais ridículo do que permitir que as máquinas
surjam como uma conseqüência da divisão do trabalho.
De passagem, observarei que o Sr. Proudhon, por não
compreender a origem histórica da maquinaria, tampouco entende o seu
desenvolvimento.
Pode-se dizer que, até 1825 –época da primeira crise
universal -, as necessidades do consumo cresceram, em geral, mais rapidamente
do que a produção, sendo que o desenvolvimento das máquinas acompanharam, necessariamente,
as necessidades do mercado.
Desde 1825, a invenção e a aplicação das máquinas é
apenas o resultado da guerra, travada entre os empresários e os trabalhadores.
E isso vale apenas para a Inglaterra.
As nações européias foram forçadas a empregarem as
máquinas pela concorrência que os ingleses lhe fizeram, tanto no mercado
interno quanto no mercado mundial.
Finalmente, nos EUA, a introdução das máquinas foi
conseqüencia tanto da concorrência, travada com outros
povos, quanto da carência de forças de trabalho. i.e. resultado
da desproporção, havida entre quantidade populacional e necessidades
industriais dos EUA.
A partir desses fatos, o Sr. pode deduzir que tipo de
perspicácia desenvolve o Sr. Proudhon quando conjura o fantasma da concorrência
como terceira evolução, como antítese das máquinas!
Conclusivamente, é verdadeiramente absurdo, de um modo
geral, fazer da maquinaria uma categoria econômica, situada ao lado
da divisão
do trabalho, da concorrência, do crédito etc.
Assim como a máquina não é uma categoria
econômica, tampouco o é o boi que puxa o arado.
A atual aplicação das máquinas pertence às
relações do nosso presente sistema econômico, porém o modo, segundo o qual as máquinas
são exploradas, é algo inteiramente diferente das próprias máquinas.
Pólvora continua a ser pólvora, independemente de ser
utilizada para ferir um ser humano ou curar as feridas de uma pessoa lesionada.
O Sr. Proudhon consegue superar a si mesmo
quando permite surgir, em sua cabeça, a concorrência, o monopólio, os impostos
ou a polícia,
o balanço
comercial, o crédito, a propriedade, na seqüência
aqui referida.
Quase todo o sistema de crédito encontrava-se
desenvolvido, na Inglaterra do século XVIII, antes da invenção das máquinas.
O crédito estatal era tão somente um
novo modo de aumentar impostos e satisfazer as novas necessidades, criadas pelo
início da dominação da classe burguesa.
A propriedade constitui, finalmente, a
última categoria, no sistema do Sr. Proudhon.
Pelo contrário, no mundo real, a divisão do trabalho e todas as
demais categorias do Sr. Proudhon são relações sociais, cujo
conjunto forma o que, hoje, é denominado de propriedade: fora dessas relações, a propriedade burguesa nada
é senão uma ilusão metafísica ou jurídica.
A propriedade de uma outra época, a propriedade feudal,
desenvolveu-se sob relações sociais inteiramente distintas.
Se o Sr. Proudhon apresenta a
propriedade
como uma relação autônoma, comete mais do que apenas um erro de método:
demonstra, claramente, que não apreendeu o laço que liga todas as formas da produção
burguesa, que não entendeu o caráter histórico e transitório das formas
de produção, em uma determinada época.
O Sr. Proudhon, que não é capaz de
vislumbrar nossas instituições sociais como produtos da história, ignorando
tanto a sua origem quanto o seu desenvolvimento, pode apenas formular contra
elas uma crítica dogmática.
Assim, o Sr. Proudhon é também forçado a recorrer
a uma ficção, com vistas a explicar o desenvolvimento.
Imagina que que a divisão do trabalho, o crédito,
as máquinas
etc. tudo foi inventado para servir à sua idée fixe (EvM.: idéia fixa), à idéia
de igualdade.
Seu esclarecimento é de uma graciosa ingenuidade.
Inventaram-se essas coisas justamente para a promoção da igualdade,
porém, desgraçadamente, viraram-se contra a igualdade. Esse é todo o
seu raciocínio.
Vale dizer, parte de uma hipótese arbitrária e, visto que
o desenvolvimento real e a sua própria ficção se contradizem, a cada passo,
conclui que aqui subjaz uma contradição.
Nisso, oculta o fato de que se trata apenas de uma
contradição, existente entre sua idée fixe (EvM.: idéia fixa) e o
movimento real.
Desse modo, o Sr. Proudhon - principalmente por falta
de conhecimentos históricos - não percebe que os seres humanos, ao
desenvolverem suas forças produtivas, i.e. ao viverem, desenvolvem
determinadas relações entre si e que o modo dessas relações se
modifica com a transformação e a expansão dessas forças produtivas.
Não compreendeu que as categorias econômicas são
apenas abstrações dessas relações reais, que são verdades apenas
enquanto essas relações existem.
Assim, incide no erro dos economistas burgueses que,
nessas categorias econômicas, vêem leis eternas – e não leis
históricas, válidas apenas para um desenvolvimento histórico determinado, para
um desenvolvimento determinado das forças produtivas.
Por isso, em vez de contemplar as categorias político-econômicas
como abstrações
das relações histórico-sociais, reais e passageiras, o Sr. Proudhon,
devido a uma inversão mística, vislumbra, nas relações reais, apenas a incorporação
dessas abstrações.
Essas próprias abstrações são fórmulas que dormitaram,
desde o início do mundo, no berço de Deus Pai.
Aqui, porém, o bom Sr. Proudhon é assaltado por veementes
convulsões espirituais.
Se todas essas categorias econômicas são emanações
do coração divino, se são a vida oculta e eterna dos seres humanos, como é que,
então, ocorre, em primeiro lugar, de existir um desenvolvimento e, em segundo
lugar, de o Sr. Proudhon não ser um conservador ?
Ele esclarece essas evidentes contradições por meio de um
sistema inteiro de antagonismos.
A fim de elucidar esse sistema de antagonismos, tomemos
um exemplo.
O monopólio é bom, pois é uma
categoria econômica, i.e. uma emanação de Deus.
A concorrência é boa, pois é,
igualmente, uma categoria econômica.
O que, porém, não é bom é a realidade do monopólio e
a realidade
da concorrência.
O que é ainda pior é o fato de que o monopólio e a concorrência
devoram-se um ao outro.
Que fazer ?
Como esses ambos pensamentos eternos de Deus
contradizem um ao outro, parece ostensivamente ao Sr. Proudhon que, no berço do
Senhor,
existe também uma síntese de ambos esses pensamentos, na qual o mal do
monopólio é compensado pela conconcorrência e vice-versa.
A luta, travada entre ambas essas idéias, permitirá
surgir, como resultado final, apenas o lado bom.
Há de se retirar de Deus esse pensamento secreto,
aplicá-lo, a seguir, à prática, e tudo ficará na mais perfeita ordem.
É necessário revelar as fórmulas síntéticas, ocultas na
noite da razão impessoal da humanidade.
O Sr. Proudhon não hesita, nem por um
momento sequer, em atuar como revelador.
Porém, o Sr. deve contemplar, por um instante, a vida
real.
Na vida econômica de nosso tempo, encontrará não apenas a
concorrência
e o monopólio,
senão também a sua síntese que não é uma fórmula, mas sim um movimento.
O monopólio produz a concorrência, a concorrência produz
o monopólio.
Contudo, essa equação não elimina absolutamente a dificuldade
da situação atual, tal como imaginam os economistas burgueses, senão dá
surgimento apenas a uma situação ainda mais difícil e embaralhada.
Se o Sr. modificar, porém, a base, sobre a qual se
assentam as relações econômicas atuais, se o Sr. eliminar o modo
de produção dos nossos dias, aniquilará não apenas a concorrência,
o monopólio
e o antagonismo,
existente entre estes, senão ainda sua unidade, sua síntese, o movimento
que representa o equilíbrio real da concorrência e do monopólio.
Gostaria, agora, de apresentar-lhe um exemplo da
dialética do Sr. Proudhon.
A liberdade e a escravidão constituem um
antagonismo.
Não preciso falar nem dos aspectos bons nem dos aspectos
maus da liberdade.
No que respeita à escravidão, não é necessário falar
de seus aspectos maus.
A única coisa que carece de elucidação é o aspecto
bom da escravidão.
Não me refiro à escravidão indireta, i.e. a escravidão
dos proletários.
Refiro-me à escravidão direta, à escravidão
negra, existente no Suriname, no Brasil, nos Estados do
sul dos EUA.
A escravidão direta é o ponto decisivo
de nossa indústria contemporânea, tal quais o são as máquinas, o crédito
etc.
Sem escravidão, não há algodão. Sem algodão, não há
indústria moderna.
Só o advento da escravidão conferiu às colônias o seu
valor, só as colônias criaram o mercado mundial.
O mercado mundial é a condição
necessária da grande indústria de máquinas.
Assim, antes do tráfico negreiro, também as colônias do
velho mundo forneciam, portanto, apenas muito poucos produtos e não modificavam,
perceptivelmente, a face do mundo.
Consegüintemente, a escravidão é uma categoria
econômica de suprema importância.
Sem a escravidão, os EUA, a nação mais avançada,
transformar-se-iam em um país patriarcal.
Riscando-se os EUA do mapa mundi, teríamos a
anarquia, a total decadência do comércio e da civilização moderna.
Porém, permitir que a escravidão desaparecesse,
significaria riscar os EUA do mapa mundi.
Assim, como também a escravidão é uma categoria
econômica, é ela, pois, encontrada desde o início do mundo, em todos os povos.
Os povos modernos apenas mascararam a escravidão em seus
países e introduziram-na, conscientemente, no Novo Mundo.
Ora, depois dessas reflexões acerca da escravidão, o que
é que fará o bom Sr. Proudhon ?
Procurará a síntese de liberdade e escravidão, o
verdadeiro juste-milieu (EvM.: o justo-meio), em suma: o equilíbrio
entre escravidão e liberdade.
O Sr. Proudhon compreendeu muito bem que
os seres humanos produzem panos, telas, sedas – em verdade,
trata-se de um grande mérito ter compreendido uma bagatela do gênero!
Pelo contrário, o Sr. Proudhon não compreendeu
que os seres humanos produzem, de acordo com as suas forças produtivas, também
as relações
sociais, nas quais produzem o pano e a tela.
Tanto menos o Sr. Proudhon entendeu que os seres
humanos produzem as relações sociais que correspondem à sua produtividade material,
<productivité
matérielle> (EvM.: produtividade material), que produzem também as idéias,
as categorias, i.e. a expressão abstrata, ideal, precisamente
dessas relações sociais.
Portanto, as categorias não são
eternas, tampouco como o são as relações que expressam.
São produtos históricos e transitórios.
Para o Sr. Produhon, as abstrações, as categorias,
são, muito pelo contrário, causas primárias.
Em seu entendimento, são elas que produzem a história – e
não os seres humanos.
A abstração - a categoria enquanto tal, i.e.
separada dos seres humanos e da atividade material - é, naturalmente,
imortal, imutável, imóvel.
É apenas a essência da razão pura, o que quer
meramente dizer que a abstração enquanto tal é abstrata – uma brilhante tautologia
!
Assim, as relações econômicas, consideradas como
categorias,
são, pois, para o Sr. Proudhon, fórmulas eternas que não
possuem nem origem nem progresso.
Digamo-lo de outra maneira : o Sr. Proudhon não afirma,
diretamente, que, para ele, a vida burguesa é uma verdade
eterna.
Dí-lo de maneira indireta, na medida em que diviniza
as categorias que expressam as relações burguesas, na forma do
pensamento.
Considera os produtos da sociedade burguesa como essências
eternas, surgidas espontaneamente e dotadas de vida própria, porque se
apresentam diante dele na forma de categorias, na forma do pensamento.
Assim, não ultrapassa o horizonte burguês.
Como opera com os pensamentos burgueses dessa maneira,
tal como se fossem eternamente verdadeiros, fica procurando a síntese desses
pensamentos, seu equilíbrio, sem perceber que o modo segundo o qual
presentemente mantêm o equilíbrio é o único possível.
Na realidade, faz aquilo que todo bom burguês faz.
Todos eles dizem que a concorrência, o monopólio etc.,
em princípio, i.e. enquanto pensamentos abstratos, são os únicos
fundamentos da vida, deixando, porém, na prática, muito a desejar.
Querem todos a concorrência, sem as perniciosas
conseqüências da concorrência.
Querem todos o impossível, i.e. as condições burguesas de
vida, sem as necessárias conseqüências dessas condições.
Todos eles não entendem que a forma burguesa da produção é
histórica e transitória, examente como o é a forma feudal.
Portanto, esse erro é devido ao fato de que, para eles, o
ser
humano burguês é o único fundamento possível de toda a
sociedade.
Não podem imaginar nenhuma ordem social em que o ser
humano deixaria de ser burguês.
O Sr. Proudhon é, assim, necessariamente, doutrinário.
Para ele, o movimento histórico que convulsiona o mundo
de hoje resume-se ao problema de descobrir o equilíbrio correto, a síntese
de dois pensamentos burgueses.
Assim, graças à sua perspicácia, esse sujeito esperto
descobre o pensamento oculto de Deus, a unidade dos dois pensamentos
isolados que são dois pensamentos isolados apenas porque o Sr. Proudhon
os isolou da vida prática, da atual produção que é a combinação das realidades,
expressadas por esses pensamentos.
No lugar do grande movimento histórico que
procede do conflito, existente entre as forças produtivas dos seres humanos já
adquiridas e suas relações sociais que não mais correspondem a essas forças
produtivas.
No lugar das guerras terríveis que preparam entre
as diferentes classes de uma nação, entre as diferentes nações, no lugar da ação
prática e violenta das massas que apenas pode trazer a solução para
essas colisões : no lugar desse movimento vasto, prolongado e complexo,
o Sr. Proudhon coloca o movimento de evacuação, <cacadauphin>,
da sua própria cabeça.[5]
Assim, seriam os sábios – vale dizer, os ser humanos que
sabem extrair de Deus os seus íntimos pensamentos – que fariam a história.
A plebe há apenas de colocar na prática as revelações,
formuladas por eles.
O Sr. entende, agora, porque o Sr. Proudhon é o inimigo
declarado de todo e qualquer movimento político.
Para ele, a solução dos problemas da atualidade não
residem na ação pública, mas sim no movimento dialético de rotação que tem
lugar no interior de seu cérebro.
Como, para ele, as categorias são as forças propulsoras,
não é necessário modificar a vida prática, para modificar as
categorias.
Muito pelo contrário : é necessário modificar as
categorias, pois isso acarretará a modificação da sociedade real.
Movido pelo desejo de conciliar as contradições, o Sr. Proudhon
não levanta nem mesmo a questão de saber se não seria propriamente necessário revolucionar
o fundamento dessas contradições.
Em tudo, equipara-se ao político doutrinário que pretende
considerar o rei, a câmara dos deputados e dos pares, como partes
componentes integrantes da vida social,
i.e. categorias
eternas.
Procura, apenas, um nova fórmula, a fim de produzir o equilíbrio
desses poderes, cujo balanceamento se estriba, precisamente, no
movimento atual, no qual um desses poderes é ora o vencedor ora o escravo do
outro.
Assim, no século XVIII,
uma série de cabeças medíocres ocuparam-se em encontrar a única
fórmula correta para colocar em equilíbrio os estamentos sociais, a
nobreza, o rei, o parlamento etc.
E, da noite para o dia,
tudo isso – rei, paralmento e nobreza – desapareceu.
O equilíbrio correto desse antagonismo foi a revolução
de todas as relações sociais que serviam como fundamento a essas
entidades feudais e ao antagonismo, havido entre estas.
Como o Sr. Proudhon posiciona, de um lado, as idéias
eternas, as categorias da razão pura, e, d’outro, os seres humanos e sua
vida prática, a qual segundo ele, é a aplicação dessas categorias, o Sr.
encontra, nele, desde o início, um dualismo, havido entre a vida e as idéias,
entre a alma e o corpo – um dualismo recorrente, em muitas formas.
O Sr. pode ver, agora, que esse antagonismo nada é senão
a incapacidade do Sr. Proudhon de compreender a origem
terrena, a história profana das categorias que diviniza.
Minha carta já se tornou longa demais para que pudesse
ter a oportunidade de discorrer ainda acerca do ridículo processo que o Sr. Proudhon
move contra o comunismo.
O Sr. admitirá, porém, de antemão, que um homem que não
entende a ordem social da atualidade, há de ser muito menos capaz de
entender o movimento que a pretende revolucionar, bem como a expressão
literária desse movimento revolucionário.
O único ponto em que me encontro
inteiramente de acordo com o Sr. Proudhon relaciona-se com a sua
repugnância para com o sentimentalismo socialista desvairado.
Já antes dele, tornei-me muito impopular por causa de
minhas paródias, elaboradas contra o socialismo cabeça de ovelha,
sentimentalista, utópico.
Porém, o Sr. Proudhon não se expõe a estranhas
ilusões, quando opõe seu sentimentalismo pequeno-burguês – quero dizer, suas
homilias sobre a vida doméstica, o amor conjugal e todas essas banalidades – ao
sentimentalismo
socialista que, p.ex,, em Charles Fourier, é muito mais
profundo do que as trivialidades presunçosas do nosso bom Proudhon ?
Ele próprio percebe tão bem a nulidade de seus
argumentos, sua inteira incapacidade de falar dessas coisas, que irrompe,
insofreadamente, em ira e gritaria, irae hominis probi (EvM.: ira do
homem probo), espumando, vituperando, denunciando, gritando infâmia! e acudam!,
batendo no peito e glorificando a si mesmo ante Deus e os seres humanos,
por não ter nada a ver com as vilanias socialistas!
Não critica as sentimentalidades socialistas ou o que
considera como sentimentalidades.
Tal como um santo, tal como um papa, excomunga os pobres
pecadores, cantando hinos de louvor à pequena burguesia e às miseráveis
ilusões amorosas patriarcais do lar-doce-lar.
E não se trata absolutamente de um acaso.
O Sr. Proudhon é, da cabeça aos pés, um filósofo, um
economista da pequena burguesia.
Em uma sociedade avançada e por causa da coação da sua situação,
o pequeno
burguês torna-se, por um lado, socialista, por outro lado, economista,
i.e. é alucinado pela magnificência da grande burguesia e
sente compaixão para com o sofrimento do povo.
É burguês e povo, ao mesmo tempo.
No fundo da sua consciência, desvanece-se por ser
apartidário, por ter encontrado o justo equilíbrio que levanta a
pretensão de ser algo diferente do correto juste-milieu (EVM.: justo
meio).
Um semelhante pequeno burguês diviniza a contradição,
porque a contradição é o cerne de seu caráter.
Ele próprio é apenas a contradição social em ação.
Tem de justificar através da teoria aquilo que é na
prática e o Sr. Proudhon possui o mérito de ser o intérprete científico da pequena
burguesia francesa, o que é um verdadeiro mérito, visto que a pequena
burguesia será uma parte integrante de todas as revoluções sociais que se
encontram em preparação.
Com a presente carta, ter-lhe-ia enviado, com grande
prazer, meu livro sobre a economia política, porém, até o presente, não me foi
possível fazer imprimir nem essa obra nem a crítica dos filósofos e socialistas
alemães, das quais lhe falei em Bruxelas. [6]
O Sr. não poderá conseguirá imaginar as dificuldades,
contra as quais uma publicação do gênero esbarra na Alemanha, seja, de um lado,
por causa da polícia, seja, d’outro lado, por causa dos editores que são, em
verdade, eles mesmos, os representantes interessados de todas as correntes que
ataco.[7]
No que concerne ao nosso próprio Partido, cumpre destacar
que não é apenas pobre, senão também que existe um forte grupo no interior do
Partido comunista alemão que leva a mal, porque me oponho às suas utopias e
declamações.
Cordialmente, do seu
Charles Marx
PS.: O Sr. perguntar-se-á por que é que lhe escrevo em um mau francês, em vez
de em um bom alemão? Porque trato aqui de um escritor francês. Ser—lhe-ia muito
grato, se o Sr. não postergasse demais a sua resposta, a fim de que fique
sabendo se o Sr., de fato, entendeu-me, sob o invólucro do meu francês
selvagem.[8]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief
an Pavel Vassilievitch Annenkov in Paris (Carta a P.V. Annenkov em Paris)(28 de
Dezembro de 1846), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx
e Friedrich Engels), Vol. 27, Berlim : Dietz, 1963, pp. 451 e s. A presente
carta de Marx a Annenkov foi, originariamente,
redigida em língua francesa e publicada, pela primeira vez, parcialmente, em
1880, por ANNENKOV, PAVEL V.
Reminescências da Década Notável, in : Vestnik Evropy (Mensageiro da Europa),
editado por M.M. Stassiulevitch e, a seguir, em 1883, nas páginas de “Die
Neue Zeit (O Novo Tempo)” e “New Yorker Volkszeitung (Jornal Popular
de Nova Iorque)”. De modo
completo, surgiu, em conformidade com o original francês, apenas em M. M. STASSIULEVITCH I YEVO SOVREMENNIKI V
NIRR PEREPISK’ (M.M. Stassiulevitch e seus Contemporâneos em suas
Correspondências), Vol. 3, 1912. Nessa carta, Marx a pedido de Annenkov,
elaborou um parecer sobre o livro de PROUDHON,
PIERRE-JOSEPH. Système des Contradictions Économiques, ou, Philosophie de
la Misère, em 2. Vol., Paris : Chez Guillaumin, 1846, pp. 3 e s. Em dezembro de
1846 e nos meses iniciais de 1847, dedicar-se-ia, então, à redação de seu MARX, KARL. Das Elend der Philosophie. Antwort auf
Proudhons “Philosophie des Elends” (A Miséria da Filosofia. Resposta à
“Filosofia da Miséria” de Proudhon)(Dezembro de 1846 – Abril 1847) , in :
ibidem, Vol. 4, pp. 63 e s. A carta em tela apresenta, novidadeiramente, as diretrizes
fundamentais do pensamento de Marx que conformaram a criação, no
início de 1846, em Bruxelas, do Comitê de Correspondência Comunista,
antagonista, entre outros, das concepções dos corifeus da Esquerda Hegeliana,
encabeçada por David Strauß, Ludwig Feuerbach e Bruno Bauer, das
posições dos arautos da Liga dos Justos, capitaneada por Wilhelm
Weitling, e dos protagonistas do “Verdadeiro” Socialismo, inspirado
por Karl
Grün e Moses Heß, bem como opositor das posições socialistas
pequeno-burguesas anarquistas de Pierre-Joseph Proudhon.
[2] Anotação de Emil
Asturig von München: Destaco que Annenkov (1812 – 1887) foi um
proprietário fundiário, crítico e publicista russo de orientação liberal. Após
ter conhecido Marx em 1846, manteve contato, em 30 de março de 1847, com Wilhelm
Weitling, principal representante da Liga dos Justos e do
comunismo alemão primitivo, fundado na idéia de igualitarismo social. Viveu com
o primeiro célebre escritor realista russo Nikolai Gogol, em Roma,
o qual lhe ditou, em 1842, o primeiro volume de “Almas Mortas”. Foi amigo
também de Ivan Turguenev. Entre 1853 e 1856, formou, com Nikolai
Nekrassov e Turgunev, uma espécie de triumvirato, ocupado da gestão da
literatura de São Petersburgo, colaborando com as principais revistas
democrático-liberais que polemizavam com os jornais conservadores eslavófilos. Annenkov
foi quem, em 1871, escreveu a primeira biografia de Alexandr Pushkin,
escritor romântico, fundador da moderna literatura russa, defensor de idéias de
liberais e reformas sociais.
[3] Anotação de Emil Asturig von München: Sobre o tema, vide PROUDHON, PIERRE-JOSEPH. Système des
contradictions économiques, ou, Philosophie de la misère (Sistema de
Contradições Econômicas ou a Filosofia da Miséria), Paris : Chez Guillaumin et
cie, 1846, pp. 5 e s.
[4] Anotação de Emil Asturig von München:
Em 1° de novembro de 1846, Annenkov endereçou a Marx uma
carta, escrita em língua francesa, traçando comentários acerca do livro de PROUDHON, PIERRE-JOSEPH. Système des
Contradictions Économiques, ou, Philosophie de la Misère, em 2. Vol., Paris :
Chez Guillaumin, 1846, pp. 3 e s. Nela, Annenkov assinalou o seguinte:
“Confesso-lhe que o próprio plano da obra me parece muito mais um jogo do
espírito, ao qual se atribui um pouquinho de filosofia alemã, do que uma coisa
produzida naturalmente, pelo sujeito e pelas necessidades de seu
desenvolvimento lógico.” Cf. ANNENKOV,
PAVIEL, V. Brief an Karl Marx (Carta a K. Marx)(1° de Novembro de 1846),
passim: ibidem, Vol. 27, p. 669 e s.
[5] Anotação de Emil Asturig von München:
A referência à expressão cacadauphin, aqui empreendida por
Marx, relaciona-se ao fato de que, durante a Grande Revolução Francesa de 1789, os oponentes republicanos do Ancien
Régime assim denominavam, sarcasticamemente, a cor caqui do lenço do príncipe
herdeiro francês, i.e. o delfim, celebrizada pela Rainha Maria Antonieta.
[6] Anotação de Emil Asturig von München: Marx
refere-se, aqui, por um lado, à obra de economia política que planejava, em verdade,
fazer editar, já mesmo a partir de fevereiro de 1845, a ser denominada de “Kritik
der Politik und Nationalökonomie(Crítica da Política e da Economia Nacional)”,
e, por outro, à sua obra “Die deutsche Ideologie (A Ideologia Alemã)”,
redigida em conjunto com Engels, em 1845 e 1846. Sobre a
última dessas obras aqui referidas, vide MARX,
KARL & ENGELS, FRIEDRICH. Die deutsche Ideologie. Kritik der neusten
deutschen Philosophie in ihren Repräsentanten Feuerbach, B. Bauer und Stirner
und des deutschen Sozialismus in seinen verschiedenen Propheten (A Ideologia
Alemã. Crítica da Filosofia Alemã Mais Moderna, em Seus Representantes
Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do Socialismo Alemão, em Seus Diferentes
Profetas)(1845 – 1846), in : ibidem, Vol. 3, pp. 5 e s.
[7] Anotação de Emil Asturig von München:
Importa salientar que, já em 19 de setembro de 1846, a Editora de Carl Wilhelm Leske,
situada em Darmstadt, comunicara a Marx, mediante carta, que, devido à
rigorosa censura e às perseguições policiais, empreendidas por parte do Estado
Prussiano, pretendia distanciar-se da edição dos trabalhos literários
de Marx.
Em seguida, o contrato que Marx firmara com a Editora
de C. Leske, em 1° de fevereiro de 1845, visando à edição de uma obra,
dotada de dois volumes, intitulada “Kritik der Politik und
Nationalökonomie(Crítica da Política e da Economia Nacional)”, foi
cancelado, unilateralmente, por parte da editora, em fevereiro de 1847,
desobrigando-se, assim, ao pagamento de 3.000 (três mil) francos a Marx,
correspondentes ao lançamento da primeira edição da obra em referência, em
2.000 exemplares. Vide IDEM. ibidem,
Vol. 27, pp. 669 e s.
[8] Anotação de Emil Asturig von München: Em verdade, já em 6 de janeiro de 1847, Annenkov – ainda se encontrando distante do materialismo e do socialismo científico - dirigiu-se, mediante carta, a Marx, expressando sua opinião sobre sobre a explanação da concepção materialista histórico-dialética e a crítica profunda e precisa, elaborada por Marx contra Proudhon, nos seguintes termos: “Sua opinião sobre o livro de Proudhon produziu em mm um efeito verdadeiramente vivificante, devido à sua precisão, clareza e, sobretudo, toda essa tendência de manter.se nos limites da realidade.” Cf. ANNENKOV, PAVEL V. Brief an Karl Marx (Carta a K. Marx), in : Marx-Engels-Gesamtausage (MEGA), Seção III : Correspondência, Vol. 2 (Maio de 1846 – Dezembro de 1848), Berlim : Dietz, 1979, p. 321.