PRODUÇÕES
LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS
MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
A Miséria da Filosofia. Resposta
à “Filosofia da Miséria” de Proudhon :
O Direito Proclama Apenas
a Vontade Emergente das Relações Econômicas :
Revolução Total contra a
Dominação do Capital
Por uma Sociedade Sem
Classes e Sem Poder Político
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Janeiro de 2009
Para Palestras, Cursos
e Publicações sobre o Tema em Destaque
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Geral
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(…) Assim, para o Sr. Proudhon, a conveniência
do soberano é o fundamento supremo na
economia política!
Na realidade, é necessário possuir a mais completa ignorância da história para não
saber que são os soberanos que tiveram de se submeter, em todos os tempos, às relações econômicas
e que, pelo contrário, jamais
foram os soberanos que ditaram a lei às relações econômicas.
Tanto a legislação política quanto a legislação civil nada fazem
senão proclamar, protocolar a vontade emergente das relações econômicas.[2]
(...) Afirmar que „toda
mercadoria é, a todo momento, permutável, senão faticamente, ao menos por força do Direito”, fazendo-se
referência à função que o ouro e a prata desempenham, significa, em verdade,
desconhecer essa referida função.
Ouro e prata são, apenas, permutáveis, a todo momento, por
força do Direito, porque são ouro e prata faticamente.
E o são faticamente, porque a organização atual da produção
necessita um meio geral de troca.
O Direito é apenas o reconhecimento oficial do fato.[3]
(...) A burguesia começa com um proletariado que, por sua vez, é,
ele mesmo, um resquício do proletariado do feudalismo. No curso
de seu desenvolvimento histórico, a burguesia desenvolve, necessariamente, seu
caráter antagônico que se encontra, de antemão, de modo mais ou menos velado e em
situação latente, em seu primeiro aparecimento. À medida que a burguesia se
desenvolve, desenvolve-se, em seu seio, um novo proletariado, um proletariado
moderno : desenrola-se uma luta entre a classe proletária e a classe
burguesa, uma luta que, antes de ser sentida, percebida, apreciada,
compreendida, confessada e, finalmente, proclamada, em alta voz, por ambas as
partes, manifesta-se, transitoriamente, apenas, em conflitos parciais e
passageiros, em obras de destruição.
Por outro lado, se todos os membros da burguesia moderna têm o
mesmo interesse e na medida em que
formam uma classe diante de uma outra, possuem essas classes interesses
opostos, conflitantes, logo que elas próprias se oponham uma à outra. Essa oposição
de interesses emana das condições econômicas de sua vida burguesa.
Assim, torna-se, diariamente, mais claro que as relações de produção, no
interior das quais a burguesia se move, não possuem caráter simples e unitário,
mas sim dicotômico : nas mesmas relações em que a riqueza é produzida,
produz-se também a miséria, nas mesmas relações em que se processa o
desenvolvimento das forças produtivas, desenvolve-se uma força de repressão.
Essas relações produzem apenas a riqueza burguesa, i.e. a riqueza
da classe burguesa, com a contínua aniquilação da riqueza dos membros
individuais dessa classe e o com a criação de um proletariado permanentente
crescente.
Quanto mais emerge esse caráter antitético, tanto mais os economistas,
os representantes
científicos da produção burguesa, entram em contradição com sua própria
teoria e formam-se diferentes escolas.
Temos os economistas fatalistas que, em suas
teorias, são tão indiferentes em relação àquilo que denominam desgraças do modo
de produção burguês quanto o são os próprios burgueses, na prática, em relação
aos sofrimentos dos proletários que os auxiliam a adquirir as suas riquezas.
Nessa Escola Fatalista, existem clássicos e românticos :
Os clássicos – tais quais Adam Smith e David Ricardo,
representam a burguesia que, ainda em luta contra os restos da sociedade
feudal, trabalha apenas na purificação das relações econômicas de suas manchas
feudais, incrementando as forças produtivas, conferindo novo impulso à
indústria e ao comércio. Absorvido por esse trabalho febril, o proletariado que
participa dessa luta conhece apenas os sofrimentos passageiros e casuais,
contemplando estes mesmos como tais. Os economistas, tais quais Adam
Smith e David Ricardo, historiadores dessa época, têm apenas a missão
de demonstrar como a riqueza é adquirida, sob as relações da produção
burguesa, formulando essas relações em categorias, bem como quão
superiores são essas leis, essas categorias para a produção das riquezas, em
relação às leis e categorias da sociedade feudal. Aos seus olhos, a miséria
é apenas a dor que acompanha todo e qualquer parto, tanto na natureza quanto na
indústria.
Os românticos pertencem à nossa época, em que a burguesia se
encontra em direta oposição ao proletariado, em que a miséria cresce em tão
grande excesso quanto a riqueza. Esses economistas atuam, então, como
fatalistas descarados, lançando da altura de seu ponto de vista um olhar
orgulhoso de menosprezo às máquinas humanas que criam a riqueza.
Repetem todas as realizações empreendidas por seus predecessores, porém a
indiferença, que junto àqueles era
ingenuidade, torna-se, junto a esses, jactância.
Surgem, então, a Escola Humanitarista que se comove
com o mau lado das relações de produção contemporâneas. Esta, para tranqüilizar
a sua consciência, procura pelos contrastes reais, a fim de, tão bem quanto
possível, dissimulá-los. Sinceramente, verte lágrimas por causa da penúria
do proletariado e da desenfreada concorrência dos burgueses, mantida
entre si. Aconselha os trabalhadores a serem moderados, trabalharem
assiduamente e gerarem poucos filhos. Recomenda ao burguês prudência, em sua
avidez de produção. Toda a teoria dessa Escola consiste em estabelecer
infinitas diferenciações entre teoria e prática, entre princípios e resultados,
idéia e execução, conteúdo e forma, essência e realidade, Direito e fato, lado
bom e lado mau.
A Escola Filantrópica é a perfeita Escola Humanitarista.
Desmente a necessidade da oposição. Quer fazer burgueses de todos os seres
humanos. Pretende realizar a teoria, desde que esta se diferencie da
prática, não incluindo o antagonismo. Obviamente, é fácil, na teoria, abstrair
das contradições, contra as quais se esbarra, a passo e passo, no terreno da
realidade. Essa teoria tornar-se-ia, então, a realidade idealizada. Os
filantropos desejam, portanto, preservar as categorias que são a expressão
das relações burguesas, sem a contradição que constitui a sua essência
e delas é inextricável. Imaginam combater, seriamente, a prática burguesa e são
mais burgueses do que os outros.
Os economistas são os representantes científicos da classe
burguesa, assim como os socialistas
e comunistas são os teóricos da classe do proletariado.
Enquanto o proletariado ainda não estiver suficientemente desenvolvido
para se constituir como classe, não possuindo, portanto, a luta do proletariado
contra a burguesia ainda nenhum caráter político, enquanto as forças
produtivas ainda não estiverem bastante desenvolvidas, no próprio seio da
burguesia, para permitir contemplar as condições materiais, necessárias à
libertação do proletariado e à formação de uma nova sociedade, serão esses
teóricos apenas utopistas que, para remediar as necessidades das classes
oprimidas, excogitam sistemas, procurando por uma Ciência Regeneradora.
Porém, à medida que a história avança, configurando-se, com ela, mais
nitidamente a luta do proletariado, não carecerão mais de procurar
a Ciência em suas cabeças: basta que se dêem conta do processo que se
desenrola diante de seus olhos, tornando-se órgão deste.
Ao procurarem a ciência, ao construirem apenas sistemas, encontrando-se
apenas no início da luta, vislumbram na miséria apenas a miséria,
sem nela contemplar o aspecto subversor-revolucionário que
derrubará a velha sociedade.
A partir desse momento, a Ciência tornar-se-á produto consciente do
movimento histórico, deixando de ser doutrinária, passando a ser
revolucionária.[4]
(...) A
grande indústria ajunta, em um local, uma quantidade de pessoas desconhecidas,
entre si.
A concorrência
divide-as em seus interesses.
Porém, a
manutenção do salário - esse interesse comum em face de seu mestre - unifica-as
em um pensamento comum de resistência : a coalizão.
Assim, a
coalizão possui, sempre, um duplo objetivo, o da resistência e o de suspender
a concorrência dos trabalhadores entre si, a fim de poderem fazer uma concorrência
geral contra o capitalista.
Se o
primeiro objetivo da resistência era apenas o de manutenção dos salários,
formam-se, então, as coalizões, de início isoladas, na
medida em que os capitalistas, por sua vez, unificam-se, em grupos, visando à repressão.
E, em face
do capital permanentemente unificado, torna-se a manutenção das associações
mais necessária para elas mesmas do que a manutenção do salário.
Isso é
tanto verdade que os economistas ingleses vêem com total admiração o modo como
os trabalhadores sacrificam uma grande parte de seu salário em prol das
associações que, aos olhos dos economistas, apenas foram instituídas em prol do
salário.
Nessa luta
– uma verdadeira Guerra Civil – unificam-se e desenvolvem-se todos os elementos
para uma batalha vindoura.
Uma vez
atingido esse ponto, a coalizão assume um caráter
político.
As
relações econômicas transformaram, de início, a massa da população em trabalhadores.
A dominação
do capital criou para essa massa uma situação comum, um interesse
comum.
Assim, essa
massa já é uma classe diante do capital, porém ainda não é uma classe
para si mesmo.
Na luta
que acabamos de caracterizar apenas em algumas fases, essa massa encontra-se
coesa e se constitui como classe para si mesmo.
Os
interesses que defende tornam-se interesses de classe.
Porém, a luta
de classe contra classe é uma luta política.
Em relação
à burguesia, devemos diferenciar duas fases :
Uma,
durante a qual esta se constituiu como classe, sob a dominação do feudalismo e
da monarquia
absoluta.
Outra, em
que, já enquanto classe constituída, derrubou a dominação feudal e a monarquia,
com vistas a conformar a sociedade em uma sociedade burguesa.
A primeira
dessas fases foi a mais longa e exigiu os maiores esforços.
Também a
burguesia tinha começado com coalizões parciais contra os senhores
feudais.
Foram
empreendidas muitas pesquisas, visando a investigar as diversas fases
históricas que a burguesia percorreu a partir da comunidade municipal até à sua
constituição enquanto classe.
Porém,
quando se trata de, devidamente, prestar contas às greves, coalizões e outras
formas sob as quais os proletários executam sua
organização enquanto classe diante de nossos olhos, são estes
assaltados por um verdadeiro temor, enquanto outros exibem um menosprezo
transcendental.
Uma classe
oprimida é a condição de vida de toda sociedade, fundada no antagonismo
de classes.
A libertação
da classe oprimida inclui, assim, necessariamente, a criação
de uma nova sociedade.
Se a
classe oprimida deve poder libertar-se, um nível tem de ser atingido no qual as
forças produtivas já adquiridas e as instituições sociais existentes não mais
possam existir umas ao lado das outras.
Dentre
todos os instrumentos de produção, a própria classe revolucionária
é
a maior força produtiva.
A
organização dos elementos revolucionários como classe pressupõe a existência
acabada de todas as forças produtivas que se podem desenvolver, no seio da
velha sociedade.
Quer isso
dizer que existirá, depois da derrubada da velha sociedade, uma nova dominação
de classe que culmine em um novo poder político?
Não.
A condição
da libertação
da classe trabalhadora é a abolição de todas as classes, tal como a
condição da libertação do terceiro estado, i.e. da ordem burguesa, era a
abolição de todos os estamentos.
No curso do desenvolvimento, a classe trabalhadora substituirá a velha sociedade burguesa por uma associação que excluirá as classes e o seu antagonismo.
E não existirá
mais nenhum poder propriamente
politico, porque precisamente
o poder político
é a expressão oficial
do antagonismo de classes, existente
no interior da sociedade civil.
Entrementes, o antagonismo, havido entre proletariado e
burguesia, significa um luta de classe contra classe, uma luta que, levada à sua expressão maxima, significa uma revolução
total.
É necessário
admirarmo-nos com o fato de
que uma sociedade, fundada
no antagonismo de
classes, conduz à contradição
brutal, ao embate, travado
de ser humano contra ser humano,
enquanto solução última?
Nem se diga
que o movimento social exclui
o movimento politico.
Não existe
nenhum movimento politico
que, concomitantemente, não
seja um movimento social.
Apenas em uma ordem de coisas em que não exista nenhuma classe e nenhum antagonismo de classes, deixarão
as evoluções sociais
de ser revoluções políticas.
Até lá, sempre
na véspera
de toda e qualquer reconformação geral da sociedade, a última palavra da Ciência
Social soará, da seguinte
forma:
“Luta ou morte, guerra
sangrenta ou nada.
Assim, é colocada a questão, implacavelmente.
George
Sand“ [5]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Das Elend der Philosophie. Antwort auf Proudhons
“Philosophie des Elends” (A Miséria da Filosofia. Resposta à “Filosofia da Miséria”
de Proudhon) (Dezembro de 1846 – Abril de 1847), especialmente Kapitel II : Die
Metaphysik der politischen Ökonomie (Capítulo II : A Metafísica da Economia
Política), § 5°. Strikes und Arbeiterkoalitionen (§5°. Greves e Coalizoes de
Trabalhadores), in : ibidem, Vol. 4, pp.
63 – 182. A presente obra de Marx foi publicada, pela primeira
vez, em língua alemã, apenas em 1885, na redação que lhe atribuíram Karl
Kautsky e Eduard Bernstein. Essa primeira edição alemã foi, porém,
examinada detidamente por Friedrich Engels que lhe forneceu,
então, um prefácio inteiramente circunstanciado.
[2] Cf. IDEM. ibidem, Capítulo I: Uma Descoberta Científica, §3. Aplicação da Lei da Proporcionalidade do Valor, Letra A. O Dinheiro, in : Karl Marx & Friedrich Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 4, p. 109.
[3] Cf. IDEM. ibidem, in : ibidem, Vol. 4, pp. 111 e s.
[4] Cf. IDEM. ibidem,
Capítulo II : A Metafísica da Economia
Política, §1. O
Método, Sétima e Última Observação, in : ibidem,
Vol. 4, pp. 141 e s.
[5] Cf. IDEM, ibidem, Capítulo II: A
Metafísica da Economia Política, §5. Greves e Coalizões de Trabalhadores, pp.
180 e s.