PRODUÇÕES
LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS
MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Diferença Entre a
Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro :
Em Uma Palavra, Odeio
Todos os Deuses :
O Direito Entre a
Causalidade e a Casualidade,
Entre a Dominação e a
Liberdade, Entre Demócrito e Epicuro
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Fevereiro de 2009
Para Palestras, Cursos
e Publicações sobre o Tema em Destaque
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Geral
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“Em uma
palavra, odeio todos os Deuses.”
(EvM.: Verso extraído da tragédia grega
de Ésquilo “Prometeu Acorrentado”.)
Se sua
destinação originária não tivesse sido a de uma Tese de Doutorado, a
forma desta investigação teria sido realizada, por um lado, de modo mais rigorosamente
científico, por outro, em muitas de suas considerações, de modo menos pedante.
A despeito
disso, encontro-me forçado por razões externas a entregá-la ao prelo, na forma
em que se encontra.
Além
disso, acredito ter resolvido neste estudo um problema histórico da Filosofia
Grega até o presente irresolvido.
Os
especialistas sabem que não existe nenhum trabalho precedente que pudesse ser
de alguma maneira útil ao objeto dessa investigação.
O que Cícero
e Plutarco tagarelaram foi, repetidamente, até os dias de hoje,
bazofiado.
Petri
Gassendi que libertou Epicuro do interdito que
lhe foi imposto pelos Patronos da Igreja e por toda a Idade
Média, época da irracionalidade concretizada, apresenta, em suas
exposições, apenas um interessante momento.[2]
Procura
acomodar sua consciência ético-moral católica com o seu saber herético, assim
como Epicuro, com a Igreja, o que, evidentemente, tratou-se de um
esforço baldado.
É como se
quiséssemos lançar uma bata cristã de freira por cima do corpo jovial e florescente
da Laís grega (EvM.: i.e. da Democracia Grega).
Gassendi
aprende muito mais Filosofia com Epicuro
do que poderia nos ensinar acerca da Filosofia de Epicuro.
Esta
investigação deve ser apenas considerada uma produção precursora de uma obra
mais extensa, na qual apresentarei, detalhadamente, o ciclo da Filosofia
Epicurista, Estóica e Cética em sua relação mantida com toda a
especulação grega.
As
deficiências dessa investigação relativas à forma, assim que outras coisas
semelhantes, serão ali eliminadas.
Em
verdade, Hegel definiu corretamente, em seu conjunto, os aspectos
gerais do sistema acima referido.
Porém, no
plano admiravelmente amplo e ousado de sua História da Filosofia - a partir do qual apenas então pode ser
datada a História da Filosofia - foi, em parte, impossível
penetrar nos aspectos específicos, e sua visão do que denominou par
excellence (EvM.: por excelência) de especulativo impediu, em parte,
esse gigantesco pensador de reconhecer nesses sistemas o elevado significado
que possuem para a História da Filosofia Grega e para o espírito
grego, em geral.
Eles
constituem, pois, a chave para a verdadeira História da Filosofia Grega.
No escrito
de meu amigo Karl Friedrich Köppen, intitulado “Frederico, o Grande, e seus Adversários”,
encontra-se uma referência mais profunda acerca do contexto existente entre
esses sistemas e a vida grega.[3]
Se uma Crítica
da Polêmica de Plutarco contra a Teologia de Epicuro é agregada em
apenso, deve-se isso ao fato de que a polêmica em realce não é absolutamente
isolada : surge enquanto representante de uma espèce (EvM.:
espécie), na medida em que a relação do entendimento teologizador para com a
Filosofia se apresenta, em si mesma, de modo muito penetrante.
Nessa
crítica, permanece, entre outras coisas, também intocado o modo falso segundo o
qual é, em geral, formulado o ponto de vista de Plutarco, ao
arrastar a Filosofia para diante do foro da religião.
Acerca
disso, basta referir uma citação de David Hume, no lugar de todos
os raciocínios :
“Trata-se,
certamente, de uma espécie de difamação desferida contra a Filosofia, cujo soberano
respeito deve ser reconhecido por todos os lados, se é forçada a
defender-se, em todas as ocasiões, por causa de suas conseqüências,
justificando-se perante todas as artes e ciências por ela ofendidas.
Isso
nos faz imaginar um rei que é acusado de alta traição contra seus próprios
súditos. »
Enquanto
uma gota de sangue fizer pulsar-lhe ainda o coração absolutamente livre e
senhor do mundo, a Filosofia há de clamar, permanentemente, juntamente com Epicuro,
contra seus adversários:
« Άσεβήζ
δέ ούχ ό τούζ
τών πολλών
Θεούζ άναιρών,
άλλ̉
ό τάζ τών
πολλών δόξαζ
Θεοίζ
προζάπτων. »
No vernáculo:
“O ímpio não é o que despreza os Deuses da multidão,
mas o que adere à idéia que a multidão tem dos Deuses.”
(EvM.: Carta
de Epicuro a Menoikos)
A
Filosofia não oculta a profissão de fé de Prometeu:
«άπλώ λόγω,
τούς πάντας
εχθαίρω θεούς »
No
vernáculo:
“Em uma palavra, odeio todos os Deuses.”
(EvM.: Verso
extraído da tragédia grega
de Ésquilo
“Prometeu Acorrentado”.)
Dela, faz
a sua própria profissão de fé, a sua própria divisa contra todos os Deuses
celestiais e terrenos que não reconhecem a auto-consciência
humana como a Suprema Divindade.
Ninguém
deve ao lado dela situar-se.
Porém,
àqueles tristes coelhinhos da Páscoa que se rejubilam com a posição
civil aparentemente piorada da Filosofia, reponde com as palavras que Prometeu
opôs a Hermes, serviçal dos Deuses :
«Τής σής λατρείας τήν έμήν δυςπραξίαν
σαφώς έπίστασ’, ούκ άν άλλάξαιμ’ έγώ.
Κρείσσον γάρ οίμαι τήδε λατρεύειν πέτρά,
ή πατρί φυναι Ζηνί πιστόν άγγελον.»
No
vernáculo:
“Fique certo de
que eu jamais trocaria
minha sorte
miserável por tua servidão,
porque prefiro mil
vezes a prisão neste rochedo
do que ser, de
Zeus pai, fiel lacaio e mensageiro.”
(EvM.: ibidem.)
Prometeu é o santo e o mártir mais eminente
do calendário filosófico.
(...)
Letra B)
Porém, enquanto Demócrito procurava
aprender como padres
egípcios, caldeus persas e gimnosofistas indianos, regozijava-se Epicuro
com o fato de não ter tido nenhum professor, por seu autodidata.
“Alguns lutam pela verdade, sem possuir qualquer tipo de
auxílio”, afirmou Epicuro, segundo Seneca.
Entre estes, Epicuro por si mesmo teria
aberto o seu sendeiro e louvado ao máximo os autodidatas.
Outros seriam cérebros de segudo escalão.
Enquanto Demócrito é levado por todos os
lugares do mundo, Epicuro mal abandona duas ou três vezes seus
jardins de Atenas, para viajar à Jônia, não para
realizar pesquisas, mas para visitar os amigos.
Por fim, enquanto Demócrito,
desesperando-se por adquirir o saber, cega a si mesmo, entra Epicuro em
um banho de água morna, ao sentir aproximar-se a hora de sua morte, pedindo que
lhe sirvam puro vinho e recomendando a seus amigos permanecerem fiéis à
Filosofia.
As diferenças que acabamos de desenvolver não devem ser
atribuídas à individualidade casual de ambos esses filósofos.
Trata-se de duas orientações opostas, por eles
incorporadas.
Vemos como diferença de energia prática o que acima foi
expressado enquanto diferença de consciência teórica.
Finalmente, consideraremos a forma de reflexão
que representa a relação do pensamento para com o ser, a
inter-relação mantida entre eles.
Na relação geral que o filósofo confere ao
mundo e ao pensamento, na reciprocidade mantida entre ambos, apenas torna
objetividado para si mesmo o modo segundo o qual sua consciência particular se
comporta em relação ao mundo real.
Agora, Demócrito emprega enquanto forma de
reflexão da realidade a necessidade.
Aristóteles diz que Demócrito
reduz tudo à necessidade.
Diógenes Laércio relata que o
turbilhão dos átomos, do qual tudo haveria emergido, constituiria a necessidade
de Demócrito.
De modo mais satisfatório, o autor da obra intitulada “De
placitis philosophorum (EvM.: trata-se de Plutarco e de sua obra “Acerca das
Opinões dos Filósofos”) assinala :
“A necessidade é para Demócrito o destino e o Direito,
a providência e o criador do mundo.
Porém, a substância dessa necessidade é o anti-tipo, o
movimento e o impulso da matéria.”
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Differenz
der demokritischen und epikureischen Naturphilosophie (Diferença entre a
Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro)(Março de 1841), in : Erhard Lange
et alii, Die Promotion von Karl Marx. Jena 1841. Eine Quellenedition (A Tese de
Doutorado de Karl Marx. Jena 1841. Uma Edição de Fontes), Berlim : Dietz Verlag, 1983, pp. 41 e s. A primeira publicação desse trabalho de Marx
surgiu, apesar de algumas omissões, em MARX, KARL / ENGELS, FRIEDRICH / LASSALLE, FERDINAND.
Aus dem Literarischen Nachlass (Legado Literário), Vol. 1, Stuttgart, 1902, pp.
7 e s. Posteriormente, em 1927, toda a
presente Tese de Doutorado de Marx foi publicada em MARX UND ENGELS GESAMTAUSGABE MEGA
(Obras de Marx e Engels: Edição Completa MEGA), Seção I, Vol. 1, Berlim : Dietz
Verlag, 1985, pp. 3 – 81.
[2] Acerca do tema, vide GASSENDI,
PETRI. Animadversiones in Decimum Librum Diogenis Laertii, Qui Est De Vita,
Moribus, Placitisque Epicuri (Advertências sobre o Décimo Livro de Diógenes
Laércio Que Se Refere à Vida, Aos Costumes e às Opiniões de Epicuro), Ludguni,
1649, pp. 3 e s.
[3] A esse respeito, vide, mais detalhadamente, KÖPPEN, KARL FRIEDRICH. Friedrich der Grosse und seine Widersacher (Frederico, o Grande, e seus Adversários) Leipzig, 1840, pp. 7 e s.