PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Introdução à Crítica da Economia Política
O Concreto é Concreto
Porque é a Síntese de Muitas Determinações, i.e. a Unidade do Diverso.
Por Intermédio do
Pensamento, as Determinações Abstratas Conduzem à Reprodução do Concreto :
Hegel Inicia, Corretamente,
a Filosofia do Direito com a Posse, Enquanto Relação Jurídica Mais Simples do
Sujeito.
Porém, Não Existe Nenhuma
Posse Antes da Família ou das Relações de Dominação e de Servidão Que São
Relações Muito Mais Concretas.
Até Mesmo as Categorias
Mais Abstratas São o Produto de Relações Históricas e Possuem Plena Validade Apenas e no Interior
dessas Relações.
Na Idade Média, o Próprio
Capital Possui Caráter Proprietário-Fundiário.
Na Sociedade Burguesa,
Trata-se do Inverso: O Capital é o Poder Econômico Que Tudo Domina.
Formas de Estado e de
Consciência Relativamente às Relações de Produção e de Circulação. Relações
Jurídicas. Relações de Família.
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Agosto de 2008
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
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Geral
http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoCapa.htm
(...) Tal como em geral em toda ciência social, histórica, deve-se
sempre levar em consideração no movimento das categorias econômicas
que, tanto na realidade quanto no cérebro, o sujeito – nesse caso, a moderna
sociedade burguesa – encontra-se dado e que, por isso, as
categorias expressam formas do ser, condições existenciais, freqüentemente
apenas lados isolados dessa sociedade determinada, desse sujeito e que essa
última, por consegüinte, também em sentido científico, de nenhuma forma
começa apenas onde dela, enquanto tal, agora se passa a falar.
(...)
Se contemplamos um dado país em sentido econômico-político, começamos com sua população,
sua divisão
em classes, cidade, campo, mar, os diferentes setores de produção,
exportação e importação, produção e consumo anual, preços de mercadorias etc.
Parece
ser o correto começar com o real e o concreto, com o pressuposto verdadeiro,
i.e., p.ex., na Economia, com a população que constitui o fundamento
e o sujeito de todo o ato de produção social.
No
entanto, em uma apreciação mais detida, isso se revela como errado.
A população é
uma abstração, se deixo de considerar, p. ex., as classes das quais ela se compõe.
As classes
são, por sua vez, uma palavra vazia, se não conheço os
elementos sobre os quais elas assentam, p. ex. o trabalho assalariado, o capital
etc.
Estes supõem a troca, a divisão do trabalho, o preço
etc.
P.ex., o capital não é nada sem trabalho assalariado, valor,
dinheiro, preço etc.
Portanto, se eu começasse com a população, tal proceder constituiria
uma representação
caótica do todo e, através de uma determinação mais particular,
chegaria, analiticamente, cada vez mais, a conceitos mais simples.
Do concreto representado, chegaria aos abstratos cada vez mais tênues,
até que acedesse às determinações mais simples.
A partir destas, deveria empreender, novamente, a viagem de retorno, até
que chegasse, novamente, por fim, à população, desta feita, porém, não
como em uma representação caótica de um todo, mas sim como rica totalidade de muitas
determinações e relações.
O primeiro caminho é aquele historicamente adotado pela Economia,
em seu surgimento.
Os economistas do século XVII, p. ex., começavam sempre com o
todo vivo, a população, a nação, o Estado,
vários
Estados etc.
Terminavam, porém, sempre descobrindo algumas relações abstratas, gerais,
tais quais a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor etc.
Tão logo eram mais ou menos fixados ou abstraídos esses momentos
específicos, começavam os sistemas econômicos que ascendiam
dos elementos
mais simples – tais quais o trabalho, a divisão do trabalho, a necessidade,
o valor
de troca -, ao Estado, à troca entre as nações e
ao mercado
mundial.
Este constitui, manifestamente, o método científico correto.
O concreto é concreto porque é a síntese de muitas
determinações, i.e. a unidade do diverso.
No pensamento, surge enquanto processo de síntese, enquanto resultado,
não
enquanto ponto de partida, ainda que constitua o verdadeiro ponto de
partida e, por essa razão, também o ponto de partida da contemplação
e da representação.
No primeiro caminho, a inteira representação foi evaporada
em determinação
abstrata.
No segundo, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto por
intermédio do pensamento.
Hegel sucumbiu, por
isso, à ilusão de conceber o real enquanto processo do pensamento que
se sintetiza em si mesmo, aprofundando-se em si mesmo e
movimentando-se por si mesmo, ao passo que o método de ascender do abstrato
para o concreto é apenas o modo para o pensamento de apropriar-se do concreto,
de o reproduzir enquanto espiritualmente concreto.
De nenhuma maneira, porém, esse é o processo de surgimento do concreto.
P.ex., a categoria econômica mais simples, digamos pois, o valor
de troca, supõe a população – a população que produz
em determinadas relações -, bem como certos tipos de sistemas de família ou de
comunidade
ou de Estado etc.
Esse processo não pode jamais existir como relação abstrata, unilateral,
de um todo vivo, concreto, já dado.
Como categoria, o valor de troca possui, pelo contrário, uma
existência ante-diluviana.
Por isso, para a consciência - e a consciência
filosófica é dessa forma determinada -, para a consciência, pois, para
a qual o pensamento conceitual é o homem real e, por essa razão, o mundo
concebível enquanto tal é, em primeiro lugar, o mundo real, para ela
surge, assim, o movimento das categorias como o ato real de produção -
que apenas lamentavelmente recebe um impulso vindo de fora -, cujo resultado
é o mundo.
E isso é apenas, porém, mais uma vez, uma tautologia - correta, na medida
em que a totalidade concreta, enquanto totalidade do pensamento,
enquanto concreto do pensamento, é, de fato, um produto do pensamento, do
conceber,
porém, de nenhuma forma, do
conceito que pensa além ou acima da contemplação e representação, que gera a si
mesmo, mas sim constitui, pois, um produto do processamento da contemplação
e da representação em conceitos.
(...) A totalidade, tal como surge no cérebro enquanto todo
do pensamento, é um produto do cérebro pensante que
se apropria do mundo do único modo que lhe é possível :
um modo que é diferente da apropriação prático-espiritual, religiosa,
artística, desse mundo.
Tanto antes como depois, o sujeito real continua a existir fora do
cérebro, em sua autonomia, i.e. enquanto o cérebro
se comporta apenas de modo especulativo, apenas de modo
teórico.
Por essa razão, também no método teórico, o sujeito, a sociedade,
devem ser contemplados sempre como pressuposto da representação.
Porém, não possuem essas categorias simples também uma existência
histórica ou natural, independente, antes das categorias mais concretas?
Ça dépend (EvM.: Isso
depende). P. ex., Hegel inicia, corretamente, a Filosofia do Direito com
a posse,
enquanto relação jurídica mais simples do sujeito.
Porém, não existe nenhuma posse antes da família ou das relações
de dominação e de servidão, que são relações muito mais concretas.
Pelo contrário, seria correto afirmar que existem ainda famílias,
complexos
tribais, que apenas possuem, não possuindo propriedade.
A categoria mais simples surge, portanto, como relação
de associações familiares ou tribais simples, em comparação com a propriedade.
Na sociedade de nível mais elevado, essa categoria aparece como relação
mais simples de uma organização mais desenvolvida.
O substrato mais concreto, cuja relação é a posse, é, porém, sempre
pressuposto.
Pode-se imaginar um selvagem individual que possui. Porém,
nesse caso, a posse não constitui nenhuma relação jurídica.
Não é correto afirmar que a posse se desenvolveu,
historicamente, rumo à família.
Pelo contrário, a posse pressupõe sempre essa "categoria
jurídica mais concreta".
No entanto, poder-se-ia sempre concluir que as categorias simples são
expressão de relações nas quais o concreto subdesenvolvido pode ter-se
realizado, sem terem ainda colocado a relação ou a correlação mais multifacetada que é expressada
espiritualmente na categoria mais concreta, ao passo que o concreto mais
desenvolvido comporta a mesma categoria enquanto uma relação subordinada.
O dinheiro pode existir e existiu, historicamente, antes que o capital
tivese existido, antes que os bancos tivessem existido, antes que
o trabalho
assalariado tivesse existido etc.
Nesse sentido, pode-se, portanto, dizer que a categoria mais simples
pode expressar as relações dominantes de uma totalidade mais subdesenvolvida ou
as relações subordinadas de um todo mais desenvolvido que, historicamente, já
possuíam existência, antes que a totalidade se desenvolvesse no sentido
expressado em uma categoria concreta.
Nessa medida, o curso do pensamento abstrato que
ascende do mais simples para o mais combinado corresponderia ao real
processo histórico.[2]
Por outro lado, pode-se dizer que existem formas sociais muito
desenvolvidas, porém, historicamente, imaturas, nas quais ocorrem as formas
mais elevadas da Economia, p.ex., a cooperação, a divisão desenvolvida do
trabalho etc., sem que exista qualquer forma de dinheiro, p.ex. no Perú.
Também junto às comunidades eslavas, não surge ou,
então, pouco surge o dinheiro e a troca, que o condiciona, no interior das
comunidades consideradas singularmente, mas sim emerge em sua fronteira, no
tráfico com outras comunidades, pelo que é, em geral, equivocado pressupor
a troca em meio da comunidade, enquanto elemento originariamente constituinte.
A troca surge, pelo contrário, inicialmente, muito mais na relação
recíproca mantida entre as comunidades do que entre os membros de uma ou da
mesma comunidade.
Além disso : ainda que o dinheiro desempenhe um papel desde muito cedo e
por todos os lados, foi atribuído, porém, na Antigüidade, apenas
unilateralmente a certas nações, às nações comerciantes, enquanto
elemento dominante.
E, até mesmo na Antigüidade mais culta, junto aos gregos
e romanos,
seu pleno desenvolvimento - o qual é pressuposto na sociedade burguesa moderna
- surge tão somente no período de sua dissolução.
Portanto, essa categoria inteiramente simples surge, em sua intensidade, em
sentido histórico, apenas nas condições mais desenvolvidas da sociedade, i.e.,
de nenhuma maneira processando todas as relações econômicas.
P.ex., no Império Romano, no seu desenvolvimento mais avançado, o seu
fundamento permaneceu sendo os impostos naturais e as prestações
naturais.
O sistema pecuniário propriamente encontrou-se, ali, apenas
inteiramente desenvolvido no exército.
Jamais atendeu, igualmente, a totalidade do trabalho.
Assim, ainda que a categoria mais simples possa ter
existido, historicamente, antes da categoria mais concreta, poderá
pertencer, em seu desenvolvimento plenamente intenso e abrangente, precisamente
a uma forma combinada de sociedade, enquanto que a categoria mais concreta foi
desenvolvida mais plenamente em uma forma de sociedade menos desenvolvida.
O trabalho parece ser uma categoria inteiramente simples.
Também a representação do mesmo nessa generalidade - enquanto trabalho em
geral – é muito antiga.
Entretanto, em sentido econômico, nessa simplicidade, o "trabalho"
é uma categoria tão moderna como as relações que produzem essa simples
abstração.
O sistema monetário, p.ex., supõe a riqueza ainda totalmente objetiva,
enquanto objeto fora de si, em dinheiro.
Em face desse ponto de vista, constituiu um grande progresso quando o sistema
manufatureiro ou comercial colocou a fonte da riqueza do objeto na atividade
subjetiva - o trabalho manufatureiro e comercial
-concebendo, porém, ainda enquanto remunerável apenas essa atividade mesma, em
sua limitação.
Em face desse sistema, situa-se o sistema fisiocrático, que supõe uma
forma determinada de trabalho - a agricultura - enquanto a forma que
cria riqueza, bem como o objeto mesmo, não mais na vestimenta de dinheiro,
mas sim enquanto produto em geral, enquanto resultado geral do trabalho.
Esse produto, em conformidade com a limitação da atividade, surge ainda
enquanto produto sempre determinado naturalmente, produto agrícola, produto da
terra, par excellence.
Tratou-se
de um monstruoso progresso de Adam Smith quando rejeitou toda a
determinabilidade da atividade producente de riqueza, reconhecendo pura e
simplesmente o trabalho : nem a manufatura, nem o trabalho comercial,
nem o trabalho agrícola, senão tanto uns como outros.
Nesse
sentido, reconhecendo, com a generalidade abstrata da atividade criadora de
riqueza, também a generalidade do objeto determinado enquanto riqueza, o
produto em geral, ou, novamente, trabalho em geral, porém, como trabalho
passado, objetivado.
Quão
difícil e grandiosa foi essa transição, deduz-se do fato de que o próprio Adam
Smith recaía, ainda novamente, de tempos em tempos, no sistema
fisiocrático.
Então,
poderia parecer que, com isso, apenas haveria sido encontrada a expressão
abstrata para a mais simples e mais primitiva relação na qual os homens surgem
como producentes – seja qual for a forma de sociedade.Isso é, por um lado, correto. Por
outro lado, porém, não o é.
A
indiferença em relação a um determinado tipo de trabalho pressupõe uma totalidade
muito desenvolvida de tipos reais de trabalho, entre os quais nenhum
deles constitui mais aquele que domina todos os demais. Assim, as abstrações
mais gerais, em seu conjunto, surgem apenas junto ao desenvolvimento
concreto mais rico, em cujo contexto uma característica surge em comum
a muitos fenômenos ou a todos eles.
Então, deixa-se
de poder pensar apenas em uma forma específica.
Por
outro lado, essa abstração do trabalho em geral não constitui apenas o resultado
espiritual de uma totalidade concreta de trabalhos.
A
indiferença em relação ao trabalho determinado corresponde a uma forma
de sociedade na qual os indivíduos transitam, com facilidade, de um trabalho
para o outro, sendo-lhes casual o tipo determinado de trabalho
ocasional e, por isso, indiferente.
O trabalho
transformou-se, aqui, não apenas em categoria, senão na
realidade, em meio para a criação da riqueza em geral e, enquanto
determinação, deixou de emergir juntamente com os indivíduos em uma
particularidade.
Uma
tal situação encontra-se, da maneira mais desenvolvida, na forma existencial
mais moderna de sociedade burguesa, i.e. nos Estados Unidos da América.
Apenas
aqui, pois, torna-se praticamente verdadeira a abstração da categoria “trabalho”,
“trabalho em geral”, trabalho sans phrase, o ponto de partida da
economia moderna.
Portanto,
a mais
simples abstração que a economia moderna coloca na cumeeira,
expressando a relação primitiva, válida para todas as formas de sociedade,
parece ser, porém, apenas praticamente verdadeira nessa abstração enquanto
categoria da sociedade mais moderna.
Poder-se-ia
dizer que aquilo que surge nos Estados Unidos da América enquanto
produto histórico – essa indiferença em relação ao trabalho determinado -,
emerge, entre os russos, p.ex., enquanto uma predisposição que se desenvolve
naturalmente.
Só
que, em primeiro lugar, existe uma diferença dos demônios se bárbaros possuem a
predisposição de serem empregados em todas as atividades ou se seres
civilizados empregam-se a si mesmo em todas as atividades.
Além
disso, no que diz respeito aos russos, a essa indiferença em relação a determinabilidade
do trabalho corresponde, praticamente, o hábito tradicional de
atrelarem-se firmemente a trabalhos inteiramente determinados, dos quais são
expelidos apenas mediante influências externas.
(...) O exemplo do trabalho demonstra,
contundentemente, como até mesmo as categorias mais abstratas, apesar
de sua validade para todas as épocas – precisamente em virtude de sua
abstração, porém na determinação dessa própria abstração -, são tanto o produto
de relações históricas quanto possuem sua plena validade apenas e no
interior dessas relações.
A sociedade
burguesa é a organização histórica mais desenvolvida e a mais complexa
da produção.
As
categorias que expressam as suas relações, a compreensão de sua articulação,
asseguram, por isso, ao mesmo tempo, uma visualização da organização e das
relações de produção de todas as formas sociais perecidas, com cujas ruínas e
elementos a sociedade burguesa se formou - restos dos quais, em parte ainda
não superados, continuam ainda a ser nela arrastados, sendo que meras
insinuações se desenvolveram em significados plenamente formados etc.
A
anatomia do ser humano é uma chave para a anatomia do macaco.
As
indicações de elementos mais avançados nas espécies animais mais inferiores
podem ser, pelo contrário, apenas compreendidas se o próprio elemento mais
elevado já é conhecido.
A economia
burguesa fornece, assim, a chave para a economia da Antigüidade
etc.
Não
o faz, porém, de nenhuma forma, à maneira dos economistas que obliteram todas
as diferenças históricas, vendo em todas as formas sociais a forma
social burguesa.
Pode-se
compreender o tributo, os dízimos etc., conhecendo-se a renda
fundiária.
Não
se deve, entretanto, concebê-los como idênticos.
Além
disso, como a própria sociedade burguesa é apenas uma
forma antagônica do desenvolvimento, as relações das formas precedentes deverão
ser nela encontradas, freqüentemente, apenas de maneira inteiramente atrofiada
ou, até mesmo, travestida : p.ex. a propriedade comunal.
Por
isso, se é verdade que as categorias da economia burguesa
contêm uma verdade para todas as outras formas sociais, deve-se tomar isso
apenas cum grano salis (EvM.:
com a necessária limitação).
Podem
contê-las de forma desenvolvida, atrofiada, caricaturada etc., sempre, porém,
com uma diferença essencial.
O
assim chamado desenvolvimento histórico assenta-se, em geral, sobre o fato de
que a última forma contempla as formas passadas enquanto estágios que conduzem
a ela mesma e, tendo-se em conta que esta é, raramente e apenas em condições
plenamente determinadas, capaz de criticar a si própria, sempre conceberá de
modo unilateral.[3]
Aqui,
não estamos falando, naturalmente, daqueles períodos históricos que visualizam
a si mesmo como um tempo de decadência.
A religião
cristã foi capaz, pela primeira vez, de contribuir para a compreensão
objetiva das mitologias antigas, apenas quando resultou acabada sua
auto-crítica, em um determinado grau e, por assim dizer, dunamei (i.e. em conformidade com
o possível).
Assim,
a economia
burguesa atingiu apenas a consciência acerca das economias feudal, antiga,
oriental, quando iniciou-se a auto-crítica da sociedade burguesa.
No momento em que a economia burguesa não se identificou mais, pura e
simplesmente, de modo mitológico, com o passado, equiparou-se sua crítica
dirigida contra a economia precedente – nomeadamente à economia feudal, com a
qual ainda tinha de lutar diretamente -, à crítica que o cristianismo dinamizou
contra o paganismo ou àquela que o protestantismo impulsionou contra o catolicismo.
(...)
Tal como, em geral, em toda ciência social, histórica, também no
movimento das categorias econômicas, deve-se sempre recordar que o sujeito -
aqui a moderna sociedade burguesa – encontra-se dado, tanto na realidade quanto
no cérebro, sendo que, por isso, as categorias expressam
formas do ser, condições existenciais, freqüentemente apenas aspectos singulares
dessa sociedade determinada, desse sujeito.
E,
por essa razão, também em sentido científico, a categoria não se inicia,
de nenhuma forma, apenas ali onde dela se passa, então, a falar como
tal.
Isso
deve ser levado em conta porque fornece, desde logo, elementos decisivos para a
organização do material.
Por
ex., nada parece mais natural do que começar com a renda fundiária, com a propriedade
fundiária, porque estas se
encontram ligadas à terra, à fonte de toda produção e de toda
existência, bem como à primeira forma de produção de todas as sociedades, em
certa medida consolidadas : i.e. a agricultura.
Porém, nada
seria mais errado.
Em todas as
formas sociais, é uma produção determinada que ordena a hierarquia e a
influência de todas as demais, bem como de suas relações, e estas ordenam
também todas as demais.
Trata-se
de uma iluminação geral, na qual todas as demais cores encontram-se imersas, e
que as modifica, em sua especificidade.
Trata-se,
pois, de um éter particular que determina o peso específico de toda existência
que sobre ele impende.
Por
ex., no caso dos povos pastoris. (Meros povos de caçadores e de pescadores
situam-se fora do ponto em que se inicia o desenvolvimento real).
Entre
estes, surge determinada forma esporádica de agricultura.
A propriedade
fundiária é determinada através dela. É uma propriedade comum,
preservando, mais ou menos, essa forma, conforme o caso de esses povos se
apegarem, mais ou menos, à sua tradição - tal como, p.ex., no caso da propriedade
comunal dos eslavos.
Entre povos de agricultura assentada – esse assentamento dotado já de larga
escala -, em que a agricultura predomina, tal qual entre os antigos
e os feudais
-, até mesmo a indústria e sua organização, bem como as formas de
propriedade que a ela correspondem, possuem, mais ou menos, caráter
proprietário-fundiário, sendo deste inteiramente dependente - tal qual entre os velhos romanos ou tal
como na Idade Média -, e imitam a organização do campo, na cidade e em
suas próprias relações.
Na Idade Média, o próprio capital – na medida em que não seja
puro capital monetário -, enquanto ferramenta artesanal tradicional etc. etc.,
possui esse caráter proprietário-fundiário.
Na sociedade burguesa, trata-se do inverso.
A agricultura torna-se, cada vez mais, um mero setor industrial,
sendo dominada, completamente, pelo capital.
O mesmo se passa com a renda fundiária.
Em todas as formas em que a propriedade fundiária domina, é a relação
natural ainda predominante.
Naquelas em que domina o capital, o elemento criado
socialmente, historicamente, surge como predominante.
A renda fundiária não pode ser entendida sem o capital.
O capital, porém, pode ser bem entendido sem a renda
fundiária.
O capital é o poder econômico da sociedade burguesa que tudo
domina.
Deve constituir tanto o ponto de partida quanto o ponto de chegada, sendo
desenvolvido precedentemente à propriedade fundiária.
Depois de ambos terem sido particularmente considerados, deve ser
contemplada sua inter-relação.
Portanto, seria
inadequado e errado permitir-se que as categorias econômicas fossem
apresentadas, sucessivamente, em uma série na qual foram, historicamente,
determinantes.
Pelo
contrário, sua ordem de sucessão é determinada pela relação mútua que possuem na
sociedade
burguesa moderna, sendo que essa relação é precisamente o inverso
daquilo que surge como o aspecto natural dessas categorias ou do que
corresponde à seqüência do desenvolvimento histórico.
Não
se trata da relação que as relações econômicas assumem, historicamente, na ordem
seqüencial das diversas formas de sociedade.
Tanto
menos ainda de uma seqüência “no âmbito da idéia” (Proudhon)(uma
representação nebulosa do movimento histórico).
Trata-se, isto sim, de sua articulação, existente no interior da sociedade
burguesa moderna.[4]
(...) Ponto 4. Produção. Meios de Produção e Relações de
Produção. Relações de Produção e Relações de Circulação.
Formas de Estado e de Consciência relativamente
às Relações
de Produção e de Circulação. Relações Jurídicas. Relações de
Família.
Nota bene : Em relação aos pontos a serem aqui mencionados,
não devem ser esquecidos os seguintes :
...........................................................................................................................................................................
6. A relação desigual do desenvolvimento da
produção material, p.ex. em relação à arte. Não se deve conceber, de
modo algum, o conceito de progresso, na abstração costumeira.
Arte moderna etc.
Essa desproporção não é ainda tão importante e difícil
de conceber como no interior das próprias relações prático-sociais. P.ex.
educação.
Relação dos Estados Unidos com a Europa.
O ponto propriamente complicado de ser aqui analizado é,
porém, o de como as relações de produção surgem como relações jurídicas, com desenvolvimento
desigual.
Portanto, p.ex., a relação do Direito Privado Romano (no
Direito
Criminal e no Direito Público é menos o
caso) para com a produção moderna.[5]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MARX,
KARL. Einleitung zur Kritik der Politischen Ökonomie (Introdução à Crítica
da Economia Política),(Agosto – Setembro de 1857), in : ibidem, Vol. 13, Berlim
: Dietz, 1961, pp. 615 e s. Destaco que o presente texto de Marx
foi publicado, pela primeira vez, apenas em 1903, nas páginas de “Die
Neue Zeit (O Novo Tempo)”, semanário da Social-Democracia Alemã.
[2] Cf. IDEM. ibidem, Parte I : Produção,
Consumo, Distribuição, Troca (Circulação), Nr. 3. O Método da Economia
Política, Vol. 13, p. 633.
[3] Cf. IDEM, ibidem, p. 636.
[4] Cf. IDEM, ibidem, p. 637.
[5] Cf. IDEM.
ibidem, Parte I : Produção, Consumo, Distribuição, Troca (Circulação), Nr. 4. Produção. Meios de Produção e Relações
de Produção. Relações de Produção e Relações de Circulação. Formas de Estado e de Consciência relativamente
às Relações de Produção e de Circulação. Relações Jurídicas. Relações de
Família, Vol. 13, p. 640.