PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Teorias da Mais-Valia – O Capital
Sobre Adam Smith e Sua
Concepção Acerca de Trabalho Produtivo e Trabalho Improdutivo :
Os Trabalhadores “Mais
Elevados” – Tais Quais Juízes, Advogados Etc. – São Não Apenas, Em Parte,
Improdutivos, Senão Ainda, Por Essência, Destrutivos
E Apropriam-Se De Uma
Parte Muito Grande da Riqueza “Material” Por Meio da Venda De Suas Mercadorias
“Imateriais” e Imposição Violenta Destas
Em Sentido Econômico,
Foram Relegados à Classe dos Palhaços e Meninos de Recados da Burguesia
Sobre a Dessacralização De
Suas Funções Até Então Envolvidas Por Auréola e Veneração Supersticiosa
Dependência das Classes
Ideológicas Em Relação Aos Capitalistas
Necessidade da Herdada
Combinação Social de Todas Essas Classes, Em Parte Completamente Improdutivas
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Agosto de 2008
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
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Geral
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(...) O que particularmente evoca a polêmica,
travada contra a diferenciação de Adam
Smith, estabelecida entre trabalho produtivo e trabalho
improdutivo - uma polêmica que se limita, porém, principalmente, aos diebus minorum gentium (EvM.: aos
deuses dos povos menores)(dentre os quais Storch ainda é o mais
expressivo), não se encontrando em nenhum
economista importante, em nenhum dos que se possa dizer que
tenha feito uma qualquer descoberta no campo da Economia Política, representando,
pelo contrário, o cavalo de batalha dos second-rate fellows (EvM.: compadres de segunda
linha) e, muito especialmente, dos pedantes compiladores
e escritores compendiadores, incluindo os diletantes beletristas e
vulgarisadores desse domínio -, são as seguintes circunstâncias:
Não foi absolutamente agradável para a grande massa
dos assim-denominados trabalhadores
"mais elevados" - tais quais funcionários públicos,
militares, virtuosos, médicos, padres, juízes,
advogados etc. - aqueles que, em parte, são não apenas
improdutivos, senão ainda, por essência, destrutivos, mas que
sabem apropriar-se de uma parte muito grande da riqueza "material",
seja mediante venda de suas mercadorias "imateriais",
seja mediante imposição violenta destas -, serem relegados, em sentido econômico, à mesma
classe dos bouffons
e menial servants (EvM.: palhaços e meninos de recados),
surgindo apenas como consumidores e parasitas dos verdadeiros
produtores (ou, mais propriamente, dos agentes de produção).
Tratou-se de uma estranha dessacralização
precisamente das funções que, até o presente momento, encontravam-se
envolvidas por uma auréola, gozando de veneração supersticiosa.
Em seu período clássico, a Economia Política - de modo inteiramente
semelhante à própria burguesia, em seu Parvenuperiode (EvM.: período adventício) - comporta-se rigorosa
e criticamente em relação à maquinaria do Estado etc.
Apenas posteriormente é que reconhece e -
intervindo também praticamente - aprende, por meio da experiência, que, a
partir de sua própria organização, emerge a necessidade da herdada
combinação social de todas essas classes, em parte completamente
improdutivas.
Na medida em que aqueles "trabalhadores improdutivos"
não produzem satisfações, dependendo, por isso, o seu comprar inteiramente
do modo segundo o qual o agente de produção queira gastar seu salário ou
seu ganho - na medida em que, mais propriamente, tornam-se
necessários ou fazem de si mesmos algo de necessário, em parte devido às
doenças físicas (p.ex. os médicos) ou às fraquezas espirituais (p.ex.
os padres), ou ainda por causa dos conflitos dos interesses privados e dos
interesses nacionais (p.ex. funcionários do Estado, também lawyers (EvM.: advogados),
policiais, soldados), surgem aos olhos tanto de Adam Smith quanto do
próprio capitalista industrial e da classe trabalhadora como faux frais de production (EvM.: falsos
custos de produção), que, portanto, devem ser, tanto quanto
possível, reduzidos ao mínimo necessário, e, tanto quanto possível,
produzidos sem qualquer incorrência em
gastos.
Porém, a sociedade burguesa reproduz, em
sua própria forma, tudo aquilo que havia combatido, quando existente na forma
feudal e absolutista.
Portanto, reproduz, de início, para os sicofantas dessa sociedade,
especialmente dos estamentos mais elevados, um negócio principal de
restaurar, teoricamente, o próprio segmento meramente parasitário
desses "trabalhadores
improdutivos" ou ainda de justificar as
excessivas pretensões do segmento necessário dos mesmos.
Na realidade, havia sido, assim, proclamada a dependência das classes ideológicas
etc. em relação aos capitalistas.[2]
(...) Finalmente, a balança inclina-se, a seguir, para o
lado dos
"trabalhadores improdutivos".
Sob determinadas condições de produção, sabe-se,
precisamente, quantos trabalhadores são necessários para fazer uma mesa, quão
grande há de ser o quantum de um certo tipo de trabalho para gerar um
determinado produto.
Esse não é o caso, tratando-se de muitos "produtos imateriais",
envolvendo o quantum de trabalho exigido para atingir um certo resultado,
seja de maneira conjectural, seja quanto ao resultado mesmo.
Vinte (20) padres juntos são capazes de produzir,
talvez, a conversão que apenas um deles não consegue obter.
Seis (6) médicos, dando consultas, encontram, talvez,
o meio de cura que apenas um deles não encontra.
Em uma câmara
de juízes, produzir-se-á, talvez, mais justiça do que
aquela produzida por apenas um desses juízes,
que controla a si mesmo.
A massa dos soldatos, necessária para proteger o
país, a massa dos policiais, para nele preservar a ordem, a
massa dos funcionários públicos, para bem "governar"
esse país etc., todas essas coisas são problemáticas e surgem discutidas,
muito freqüentemente, no Parlamento
da Inglaterra.
Apesar de que, na Inglaterra, sabe-se muito exatamente
que quantidade de trabalho de fiação é necessário para tecer 1.000 libras
(EvM.: 453,5 kg) de tecido.
Outros trabalhadores
"produtivos" desse mesmo tipo incluem em seu
conceito o fato de que a utilidade que produzem depende apenas precisamente de
seu número, estando presente em sua própria quantidade numérica.
P.ex. os lacaios que devem ser testemunhas da riqueza
e da distinção de seus masters
(EvM.: senhores).
Quanto maior a quantidade deles, tanto maior o efeito
que devem "produzir".
Portanto, encontra-se, na obra do Sr. Jean-Baptiste Say,
ainda que : os "trabalhadores improdutivos" jamais poderão
ser suficientemente aumentados em seu número.[3]
(...) Agora, antes de concluirmos o tema com Adam Smith, queremos
citar ainda duas passagens.
A primeira, na qual dá vazão ao seu ódio que
possui contra o government
(EvM.: governo) improdutivo.
A segunda, na qual procura desenvolver o motivo por
que o progresso da indústria etc. pressupõe trabalho livre.
Em Sobre
o Ódio contra os Padres de Smith, a primeira
passagem afirma o seguinte :
"Por isso, é a maior das insolências e das
petulâncias quando reis e ministros formulam a pretensão de velar
pela capacidade de poupança das pessoas privadas, limitando
suas despesas, mediante leis sobre
gastos ou proibição de importação de
mercadorias de luxo estrangeiras.
Eles mesmos são - e são-no sem exceção - os maiores
esbanjadores da sociedade.
Apenas cuidem eles bem de seus próprios gastos e
poderão confiar, seguramente, às pessoas privadas o cuidado destas com
os seus próprios gastos.
Se as extravagâncias deles mesmos não arruinarem o Estado,
não serão as de seus súditos que o farão. (T.II, l. II, ch. III, ed. McCulloch,
p. 122)."
E, mais ainda, a seguinte passagem :
"O trabalho de alguns
estamentos mais prestigiosos da sociedade é tal qual o trabalho dos serviçais,
incapaz de criar valor, < K.M.:
possui value (EvM. :valor), custa, por isso, um equivalente, porém não produz
nenhum value (EvM.: valor) > e fixa ou não se
realiza em um objeto duradouro ou em uma coisa vendável ...
Assim, p.ex., são trabalhadores improdutivos o soberano, com todos os
seus funcionários do Poder Judiciário e oficiais das forças armadas, a eles subordinados, bem
como todo o exército e a frota.
Estes são serviçais da sociedade
e mantidos por uma parte do produto anual, gerado pelo esforço de outras pessoas ...
A essa mesma classe
pertencem ... os padres, os juristas, os médicos, os
literatos e intelectuais de todos os gêneros, os artistas,
os fanfarrões, os músicos, os cantores de ópera, os dançarinos de ballet
etc. (l.c. p. 94, 95)."
Eis a linguagem da burguesia
ainda revolucionária que ainda não havia subjulgado a sociedade
inteira, o Estado etc.
Essas ocupações transcendentes, patriarcais :
soberano, juiz, oficiais, sacerdotes
etc., o conjunto dos velhos estamentos ideológicos que produzem,
seus sábios, professores e padres são equiparados, do ponto de
vista econômico, ao
enxame de seus próprios lacaios e bobos da corte, na medida em que
mantidos pela burguesia e pela richesse oisive (EvM.: a riqueza ociosa), a nobreza
fundiária e os capitalistas oisifs (EvM.: ociosos).
São meros servants
du public (EvM.: servos do público), tais quais os
seus outros servos.
Vivem do produce
of other people's industry (EvM.: do produto do esforço de outras
pessoas), devendo, portanto, ser reduzidos ao
mínimo possível.
O Estado, a Igreja etc. são meramente
justificados, na medida em que constituam comitês para a administração
ou tratamento dos interesses comuns da burguesia produtiva.
E seus custos, por pertencerem, em si e por si
mesmos, aos
faux frais de production (EvM.: falsos custos de produção) devem
ser restringidos ao nível mínimo indispensável.
Essa concepção possui interesse histórico, em seu agudo
contraste, mantido, em parte, em relação à Antigüidade Clássica - onde o trabalho materialmente
produtivo carregava consigo o estigma da escravidão, sendo
contemplado simplesmente como pedestal para o citoyen oisif (EvM.: cidadão
ocioso) -, em parte, em relação à noção da Monarquia absoluta ou
aristrocrático-constitucional, emergente a partir da
dissolução da Idade Média, tal como o próprio Montesquieu, ainda
aprisionado por essas idéias, expressa-as, tão ingenuamente na seguinte frase
(Esprit des lois, l. VII, ch. IV <EvM.: Espírito das Leis, obra mais
renomada de Montesquieu):
"Se os ricos não gastarem muito, os pobres vão morrer
de fome."
Pelo contrário, tão logo a burguesia assenhorou-se do
campo de batalha, apoderando-se, em parte, do próprio Estado, estabelecendo, em
parte, um compromisso com os seus antigos detentores, reconhecendo, igualmente,
os estamentos
ideológicos como sangue do seu sangue, convertendo-os, assim, por todos
os lados, em seus funcionários; tão logo ela mesma não mais
se opõe a estes como representante do trabalho produtivo, levantando-se,
porém, diante dela os verdadeiros trabalhadores produtivos,
dizendo-lhe, do mesmo modo, que ela também vive do other people's industry (EvM.: do
esforço de outras pessoas); tão logo se torna suficientemente culta
para não ser absorvida inteiramente pela produção, aspirando,
porém, também a consumir "de
modo culto"; tão logo os próprios trabalhadores
intelectuais desempenhem, cada vez mais, o seu Dienst (EvM.: serviço), intervindo a
serviço da produção capitalista, modificam-se as coisas, procurando,
então, a burguesia justificar, economicamente, do seu próprio ponto de
vista, o que antes combatia criticamente.
Nessa linha, seus porta-vozes e os suavizadores de
sua consciência pesada são os Garniers
etc.
A isso tudo agrega-se o zelo desses economistas que são,
eles mesmos, padres, professores etc., procurando comprovar a sua utilidade "produtiva",
de modo a justificar seus salários "economicamente".[4]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E
INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA
REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Das Kapital. Bd. IV : Theorien über den
Mehrwert (O Capital. Vol. 4 : Teorias sobre a Mais
Valia)(1863), in: ibidem, Vol. 26.1, Dietz : Berlim, 1956, pp. 3 e s.
A obra de Marx aqui mencionada foi redigida em 1863 e publicada, pela primeira
vez, entre 1905 e 1910.
[2] IDEM. ibidem, Capítulo
IV: Theorien über produktive und unproduktive Arbeit. Bd.
I (Teoria do Trabalho Produtivo e Improdutivo) Vol. I,
especialmente 4.4. Vulgarisierung der bürgerlichen politischen Ökonomie in der Bestimmung
der produktiven Arbeit (Vulgarização da Economia Política Burguesa na Definição
do Trabalho Produtivo), Vol. 26.1, pp. 314 e
s.
[3] IDEM. ibidem, Capítulo
IV: Theorien über produktive und unproduktive Arbeit. Bd.
I (Teoria do Trabalho Produtivo e Improdutivo) Vol. I,
especialmente 4.12. Say über "immaterielle Produkte". Rechtfertigung
eines unaufhaltsamen Anwachsens der unproduktiven Arbeit)(Jean-Baptiste Say
sobre "produtos imateriais". Justificação de um Crescimento Incontido
do Trabalho Improdutivo), Vol. 26.1, pp. 399 e s.
[4] IDEM. Capítulo
IV: Theorien über produktive und unproduktive Arbeit. Bd.
I (Teoria do Trabalho Produtivo e Improdutivo) Vol. I,
especialmente 4.19. Schlußbemerkungen über Smith und seine Unterscheidung von
produktiver und unproduktiver Arbeit (Observações Conclusivas sobre Smith e sua
Diferenciação entre Trabalho Produtivo e Trabalho Improdutivo), Vol.
26.1, pp. 417 e s.