PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Primeira Carta a Ludwig Kugelmann sobre a Comuna de Paris
Na Europa Continental, a
Precondição de Toda e Qualquer Verdadeira Revolução Popular
é o Despedaçamento da
Maquinaria Burocrático-Militar do Estado
e Não o Ato de
Transferí-lo de uma Mão Para Outra:
Impulsionamento da Guerra
Civil e Manutenção do Comitê Central no Quadro da Comuna
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Dezembro de 2011
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice
Geral
http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoCapa.htm
Londres, 12 de abril de 1871
Caro Kugelmann[2],
Seu “parecer médico” foi tão espetacular
que acabei indo consultar o meu Dr. Maddison e entreguei-me, então,
provisoriamente, ao tratamento de saúde recomendado por este.
Disse-me, porém, que meus pulmões encontram-se em
magnífica ordem e minha tosse está relacionada com uma bronquite etc. Ditto
(EvM.: a mesma) provocará efeitos no fígado. (...)
Se você reeexaminar o último
capítulo do meu “18 Brumário”, vai constatar que declaro como
próximo intento da Revolução na França – não mais como antes –, o
ato
de transferir a maquinaria burocrático-militar de uma mão para outra, mas sim
despedaçá-la (EvM.: no original alemão ”zerbrechen”, i.e.
despedaçar, quebrar, fraturar, destruir etc.).[3]
E essa é a precondição de toda
e qualquer verdadeira revolução popular no continente.
É também a tentativa que
nossos heróicos companheiros da Comuna de Paris estão
empreendendo.
Que elasticidade, que
iniciativa histórica, que capacidade de auto-sacrifício desses parisienses!
Depois de 6 (seis) meses de
fome e ruína, provocados por traição interna, muito mais do que pelo inimigo
externo, levantam-se, por debaixo das baionetas prussianas, como se jamais
houvesse existido uma guerra, travada entre a França e a Alemanha,
e o inimigo não se encontrasse ainda diante dos portões de Paris.
A história não possui nenhum
exemplo parecido de semelhante grandeza!
Se forem derrotados, nada será
culpado senão o fato de possuirem “bondade”.
Tinham de ter marchado logo
para Versalhes,
depois que Joseph Vinoy, em primeiro lugar, e, então, a parte reacionária
da própria Guarda Nacional de Paris abandonaram o terreno.
O momento exato foi perdido
por razões de escrúpulos.
Não se quis dar
início à Guerra Civil, tal como se Adolphe Thiers, o mischievous
avorton (EvM.: o anãozinho zangado), não a tivesse já iniciado, com sua
tentativa de desarmamento de Paris.
Segundo erro : o Comitê
Central abdicou muito cedo do seu poder, a fim de dar lugar à Comuna.[4]
Mais uma vez, devido à “honrosa”
escrupulosidade!
Seja lá como for, a presente Insurreição
de Paris – ainda que seja destroçada pelos lobos, porcos e cães
vulgares da velha sociedade -, é o evento mais glorioso do nosso Partido, desde
a Insurreição
Parisiense de Junho.
Comparem-se esses parisienses
que tomam o céu de assalto com os escravos celestiais do Sacro-Império
Romano-Germânico-Prussiano, dotados de suas mascaradas póstumas,
cheirando à caserna, igreja, fidalguice provinziana e, sobretudo,
filistinismo. (...)
Obrigado por seus envios de
jornais (peço-lhe que me envie mais, pois pretendo escrever algo sobre a Alemanha,
o Parlamento
do Império etc.)
Saudações cordiais à Senhora
Condessa e às corujinhas (EvM.: Gertrud e Franziska Kugelmann).
Do teu
K.M.
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E
INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA
REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief an
Ludwig Kugelmann in Hannover (Carta a L. Kugelmann em Hannover)(12 de Abril de
1871), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e
Friedrich Engels), Vol. 33, Berlim : Dietz, 1966, pp. 205 e s. Assinalo, de
passagem, que a presente missiva de Marx foi publicada, pela primeira vez, na
revista “Die Neue Zeit (O Novo Tempo)”, Ano XX, Vol. 1, 1901-1902, p.
709.
[2] Observo que Ludwig (Louis) Kugelmann
(1828 – 1902) foi um médico ginecologista e amigo pessoal de Marx
e Engels. Foi simpatizante ou, até mesmo, membro da Liga
dos Comunistas (1847 – 1852). Participou ativamente da Revolução
de 1848 e 1849 na Alemanha. Foi membro da Associação Internacional dos
Trabalhadores ( Primeira Internacional / 1864 – 1876), intervindo
dinamicamente em Hannover. Contribui enormemente para a divulgação de “O
Capital” de Karl Marx, na Alemanha. Foi membro do Partido Social-Democrático dos
Trabalhadores da Alemanha (SDAP), a partir de 1869 e, a partir de 1875,
do Partido
Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAPD). Em 1890, aderiu ao Partido
Social-Democrático da Alemanha (SPD). Em 5 de abril de 1871, Kugelmann
escrevera a Marx, censurando-lhe por causa de seu precário estado de saúde
e disse-lhe : “Você sabe quão imprescindível é o seu trabalho científico para o
mundo em geral e, em particular, é a sua atividade para a Internacional. Portanto,
poupe-se para isso – e um pouquinho também para nós.” Cf. KUGELMANN, LUDWIG. Brief an Karl Marx (Carta a K. Marx)(5 de Abril
de 1871), passim : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e
Friedrich Engels), Vol. 33, Berlim : Dietz, 1966, p. 745.
[3]Acerca do tema, vide MARX, KARL. Der Achzehnte Brumaire des
Louis Bonaparte (O 18 Brumário de Luís Bonaparte)(Dezembro 1851 - Março 1852),
in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 8, Berlim : Dietz,
pp. 196 e s.
[4] É mister destacar que, após a
vitória da Insurreição de Paris, em 18 de março de 1871, o Comitê
Central da Guarda Nacional Parisiense tomou o poder em suas mãos.
Porém, já em 28 de março de 1871, transferiu seu poder supremo ao Conselho
da Comuna, formado com base em eleição, realizada em 26 de março de
1871.