PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Comentários ao Livro de Bakunin “Estatalidade e Anarquia”
Bakunin Não Entende Nada
de Revolução Social, Compreende Apenas Frases Políticas Sobre Ela:
Uma Revolução Social
Radical Está Vinculada a Certas Condições Históricas do Desenvolvimento
Econômico
e Estas Constituem os Seus
Pressupostos
Portanto, Uma Tal
Revolução É Apenas Possível Onde, Sob a Produção Capitalista, o Proletariado
Industrial Ocupar, No Mínimo,
Uma Posição Significativa
Entre as Massas Populares
Logo Que as Funções
Deixarem de Ser Políticas, Não Existirá Nenhuma Função de Governo
A Repartição das Funções
Gerais Tornar-se-á Questão Operacional Que Não Gera Dominação
Com a Propriedade
Coletiva, Desaparecerá a Assim Denominada Vontade Popular Para Dar Lugar à
Vontade Real da Cooperativa
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Dezembro de 2011
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
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Geral
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(...)
Essa é a questão principal para o Sr. Bakunin : a nivelação, p.ex. nivelar
toda a Europa na base do comerciante eslovaco de ratoeiras. Segundo Bakunin
:
“ ... por ora, a navegação
marítima permanece sendo o principal meio para o bem público dos povos (Karl
Marx : grande progresso em relação à <prosperidade dos povos>).”
Eis
aí o único ponto em que o Sr. Bakunin fala sobre condições
econômicas e reconhece que estas instituem condições e diferenças,
existentes entre os povos, que são independentes do < Estado >... [2]
(...)
Uma revolução
social radical está vinculada a certas condições históricas do
desenvolvimento econômico e estas constituem os seus pressupostos.
Portanto,
uma tal revolução é apenas possível onde, sob a produção capitalista, o proletariado
industrial ocupar, no mínimo, uma posição significativa entre as massas
populares.
A
fim de que possa ter uma alguma chance de vencer, esse proletariado deve, ao
menos, ser capaz de realizar diretamente, mutatis mutandis (EvM.: feitas as
mudanças que devem ser feitas) tanto para os camponeses, quanto a burguesia
francesa, em sua revolução, realizou para os camponeses franceses de outrora.
Linda
idéia essa (EvM.: de Bakunin) de que a dominação do trabalho inclui a opressão
do trabalho rural!
Porém,
é aqui que irrompe o seu pensamento mais íntimo :
o
Sr. Bakunin
não entende absolutamente nada de revolução social, compreende apenas
frases políticas sobre ela.
Ora,
como todas
as formas econômicas, existentes até o presente – desenvolvidas ou subdesenvolvidas
-, incluem a servidão dos trabalhadores (seja na forma do trabalho
assalariado, campesinato etc.), o Sr. Bakunin acredita que, em
todas elas, é possível, de igual maneira, a revolução radical.
Porém,
mais ainda : deseja que a revolução social européia, fundada sobre a
base econômica da produção capitalista, seja efetuada no nível dos
povos pastoris e agrícolas russos ou eslavos, não ultrapassando esse nível,
ainda que reconheça que a navegação marítima forme diferenças entre irmãos.
Porém,
apenas a navegação marítima, porque essa é uma diferença conhecida por todos os
políticos!
A vontade
– não as condições econômicas – é o fundamento da revolução social do
Sr. Bakunin.
Conforme Bakunin:
“Se existe Estado (EvM.: citado em língua russa gossudarstvo), então a dominação
(EvM.: gospodstvo) é inevitável e,
por consegüinte, também a <escravidão>;
Dominação sem escravidão, acobertada ou mascarada, é inimaginável – somos, por
isso, inimigos do <Estado>.”(p. 278)
O que significa o proletariado, <organizado como classe
dominante>?”
Significa
que o proletariado – em vez de lutar, fragmentadamente, contra as classes
economicamente privilegiadas – adquiriu forças e organização suficientes para
aplicar contra elas meios gerais de coerção.
Porém,
o proletariado pode apenas aplicar meios econômicos que suprimem seu próprio
caráter de salariat (EvM: assalariamento) e, portanto, de classe.
Portanto,
com sua completa vitória, terminará também sua dominação, pois que desaparecerá
seu caráter de classe.
“Por acaso, todo o proletariado se encontrará no ápice do Governo?”
Em
um sindicato, p.ex., todo o sindicato é o seu comitê
executivo ?
Será
que deixará de existir toda a divisão do trabalho na fábrica, bem como as diferentes
funções que emergem dessa divisão?
E
na construção do Sr. Bakunin <de baixo para cima>,
todos estarão <em cima>?
Então,
não existirá, certamente, nenhum <em baixo>.
Administrarão
todos os membros da comunidade ao mesmo tempo os interesses comunitários da
<região>?
Então,
não existirá nenhuma diferença entre comunidade e <região>.
“Existem cerca de quarenta 40
milhões alemães. Serão, p.ex., todos esses 40 milhões membros do Governo?”
Certainly (EvM.:
seguramente)! Pois que se inicia a questão do auto-governo da comunidade.
“Todo o povo irá governar e não existirá nenhum governado.”
Quando
um ser humano domina a si mesmo, não se domina segundo esse princípio, pois
esse ser humano é, certamente, ele próprio e nenhuma outra pessoa.
“Então, não existirá nenhum Governo, nenhum Estado. Porém, se existir Estado,
existirão também governados e escravos.”(p. 279)
Isso
possui meramente o seguinte significado : quando a dominação de classe desaparecer
e não existir nenhum Estado, no atual sentido político.
“Esse dilema dissolve-se
facilmente na teoria dos marxistas. Por Governo
do Povo, os marxistas entendem” (Karl Marx: isso quem
entende é o próprio Sr. Bakunin) “o Governo do Povo por meio
de um número ínfimo de superiores, escolhidos (eleitos) pelo o povo.”
Asine
(EvM.: asneira)! Toda essa baboseira democrática, essa imbecilidade
política!
A
eleição é a forma política que existe até na mais ínfima
comuna russa e no artiel (EvM.: associações de cooperativas comunais de pesca,
mineração, comércio etc. da Rússia).
O
caráter da eleição não depende do seu nome, mas sim do fundamento econômico,
das correlações econômicas, existentes entre os eleitores.
E,
logo que as funções deixarem de ser políticas :
1
. não
existirá nenhuma função de Governo;
2
. a repartição das funções gerais tornar-se-á questão operacional que não gera
dominação;
3
.
a eleição não possuirá nada do caráter político atual.
“O sufrágio universal, exercido pelo
povo inteiro ... - “
uma
coisa como essa aí de povo inteiro surge, no presente
sentido, como um fantasma -
“... que elege representantes do
povo <dominadores do Estado> : eis a última palavra tanto dos marxistas
quanto da escola democrática. Trata-se de uma mentira sob a qual se esconde o despotismo da minoria governante, tanto
mais perigoso quando aparece como expressão da assim chamada vontade popular.”
Com
a propriedade
coletiva, desaparecerá a assim denominada vontade popular para dar
lugar à vontade real da cooperativa.
“Assim, o resultado é : a direção da grande maioria das massas
populares pela minoria privilegiada. Porém, essa minoria, dizem os
marxistas ... “
Onde
?
„ … será constituída por trabalhadores. Certamente,
em verdade, constituída por aqueles que foram trabalhadores no passado, porém
que deixam de ser trabalhadores, logo que se tornam apenas representantes ou
governantes do povo …-”
Tampouco
como um fabricante hoje deixa de ser capitalista porque se torna vereador
-
“… passando a enxergar todo o
mundo comum dos trabalhadores das alturas
da <Estatalidade>. Não mais representarão o povo, mas sim a si mesmos
e as suas <pretensões> em relação ao Governo
do Povo. Quem disso duvida, não conhece absolutamente a natureza dos seres
humanos.”(p. 279)
Se
o Sr. Bakunin conhecesse mesmo que fosse apenas a posição de um
empresário, em uma fábrica de trabalhadores que atuam em cooperação, todos os
seus sonhos sobre dominação iriam para o inferno.
Deveria
perguntar a si mesmo : qual é a forma que as funções de administração
poderão assumir, sobre o fundamento desse Estado dos Trabalhadores – se assim
o pretende designar ?
“Porém, esses escolhidos serão socialistas fervorosamente convictos e,
portanto, socialistas eruditos. A
expressão “socialismo erudito” ...”
Jamais
utilizada -,
“... socialismo científico ... -“
Esta
sim utilizada, porém apenas em oposição ao socialismo utópico que pretende impingir
novas quimeras ao povo, em vez de limitar sua ciência ao conhecimento do
movimento social, realizado pelo próprio povo. Vide meu escrito contra Proudhon
-,
“.... a qual é empregada incessantemente
nas obras e nos discursos dos lassalleanos e dos marxistas mostra, por si
mesma, que o assim denominado Estado do
Povo nada mais é senão a direção muito despótica das massas populares,
efetuada por uma nova aristocracia muito
pouca numerosa de pretensos e reais eruditos. O povo não é científico, i.e. será libertado inteiramente da
preocupação do Governo, será recluído no interior do estábulo governado. Que
bela libertação !”(pp. 279, 280).
“Os marxistas sentem essa (!)
contradição e, reconhecendo que o Governo
dos Eruditos” (Karl Marx : Quelle rêverie!
(EvM.: que fantasia) “o mais opressor, o
mais odioso, o mais vilipendioso do mundo, será, apesar de todas as formas
democráticas, uma Ditadura de facto, consolam-se
com a idéia de que essa Ditadura
será apenas curta e passageira.”
Non,
mon cher (EvM.: não, meu caro)! A dominação de classe dos
trabalhadores sobre as camadas da velha sociedade que contra ele
combatem poderá apenas existir enquanto o fundamento econômico da existência das
classes não for eliminado.
“Os marxistas afirmam que sua
única preocupação e seu único objetivo serão formar e esclarecer o povo“ (Karl Marx : Wirtshauspolitiker! (EvM.:
político de taberna) “tanto em sentido econômico
quanto em sentido político, em um tal nível em que o velho Governo tornar-se-á, em breve, inútil, perdendo o Estado todo o seu caráter político, i.e. seu caráter
<dominante>, havendo de se tranformar, através de si mesmo, em uma livre organização de interesses econômicos
e comunidades. Trata-se de uma evidente contradição. Se o Estado dos
marxistas há de ser realmente popular,
por que então destruí-lo? E se sua destruição será necessária à real libertação
do povo, por que então ousam denominar esse Estado de Estado do Povo? (p.280)
À
parte o fato de que o Sr. Bakunin fica cavalgando em torno da
concepção de Estado do Povo, criada por Wilhelm Liebknecht, sua parvoíce é
dirigida contra o “Manifesto do Partido Comunista” etc. e significa apenas o
seguinte :
Durante
o período da luta para a derrubada da velha sociedade, como o proletariado
ainda atua sobre a base dessa velha sociedade, movimentando-se, por
isso, também no interior de formas políticas que ainda pertencem mais ou menos
a ela, não atingiu ainda, ao longo desse mesmo período de luta, sua
complexão definitiva e emprega meios de libertação que deixarão de existir,
depois da libertação.
Por
isso, o Sr. Bakunin conclui que é mais aconselhável não se fazer
absolutamente nada ... e esperar o Dia da Liquidação Geral – o Dia
do Juízo Final.
“Através de nossa polêmica” (Karl
Marx : a qual, obviamente,
surgiu antes de meu escrito contra Proudhon e do “Manifesto do Partido Comunista” e mesmo também antes de Saint-Simon) “contra os marxistas,” (Karl
Marx: Que belo hyteron-proteron! (EvM.: figura de
linguagem em que se troca o subseqüente pelo precedente, o ulterior pelo
anterior) “levamos à sua confissão de que
liberdade ou anarquia (Karl Marx
: o Sr. Bakunin traduziu apenas a anarquia de Proudhon e de Stirner
em língua tártara desordenada) “i.e. a
livre organização das massas trabalhadoras de baixo para cima” (Karl Marx : Que bobagem!) “é o objetivo final do desenvolvimento
social, sendo todo e qualquer <Estado> - incluindo-se o Estado do Povo - nada senão opressão :
por um lado, despotismo, por outro, escravidão.”(p. 280)
“Os marxistas dizem que esse jugo dominante, a Ditadura, é um meio necessário de
transição ao atingimento da mais plena libertação popular : a anarquia ou a liberdade é o objetivo,
a dominação ou a ditadura é o meio.
Assim, para a libertação das massas populares é necessário, em primeiro lugar,
mantê-las em escravidão. Sobre essa contradição é que se assenta a nossa
polêmica. Os marxistas garantem que apenas a Ditadura – a Ditadura deles,
finalmente – pode criar a liberdade do povo. Respondemos dizendo que nenhuma Ditadura pode ter um outro objetivo
senão o de <se eternizar>, sendo adequada apenas <gerando e cultivando
escravidão para os povos profligados. A
liberdade pode ser obtida apenas através da liberdade>. (Karl Marx : a liberdade
do citoyen
(EvM.: cidadão) permanente, i.e. a liberdade do cidadão Bakunin) “i.e. através da <insurreição do povo inteiro> e da livre organização das massas
de baixo para cima”(p.281)
“Enquanto a teoria político-social dos socialistas anti-Estado ou anarquistas
conduz < firmemente> e diretamente à mais plena ruptura com todos os
Governos, com todos os tipos de política burguesa, não deixando nenhuma outra
saída, a não ser a revolução social,
...- “
Não deixando nada de revolução
social senão a retórica vazia,
“a teoria oposta, i.e. a teoria do comunismo de Estado e da autoridade científica arrasta e envolve seus adeptos, também
<firmemente>, nas intermináveis <negociatas> com os Governos e com
os múltiplos partidos políticos burgueses, com o emprego da tática política,
i.e. empurra-os diretamente rumo às posições reacionárias.”(p. 281) [3]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E
INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA
J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. MARX,
KARL. Konspekt von Bakunins Buch “Staatlichkeit und Anarchie” (Comentários
ao Livro de Bakunin “Estatalidade e Anarquia”)(1874 – Início 1875), in : ibidem, Vol. 18, Berlim :
Dietz, 1962, pp. 597 e s. Destaco que Marx elaborou seus comentários ao
livro de Bakunin - intitulado
originariamente “Gossudarstvennost i Anarkhia” e editado em 1873, na cidade de Genebra -, em conexão com a luta
política que, juntamente com Engels e seus seguidores
marxistas-revolucionários, empreendeu contra o anarquismo, luta essa que havia
conduzido à derrota ideológica e à expulsão da minoria anarquista, encabeçada
por Bakunin,
das fileiras da Associação Internacional dos Trabalhadores
- I
Internacional, no quadro do Congresso de Haia, em 1872. Nesse
mesmo ano, os anarquistas fundaram, então, a Internacional Anti-Autoritária ou
Anarquista – Federação da Juréia, em St. Imier, na Suíça. Os comentários de Marx – traduzidos aqui,
provavelmente, pela primeira vez, para o vernáculo – conformam uma obra
crítico-polêmica de gênero especial, na qual a apreciação do ponto de vista de Bakunin
- ideólogo do anarquismo e principal adversário de Marx – é vinculada a uma
crítica contundente das doutrinas anarquistas e ao desenvolvimento das mais
importantes teses do socialismo científico sobre o
Estado, a Ditadura do Proletariado e a hegemonia da classe trabalhadora em face
de seus aliados socialmente oprimidos. Os comentários de Marx foram elaborados na
forma de acréscimos ao texto original de Bakunin que foi considerado, desde
seu aparecimento, como a obra programática do anarquismo europeu e
mundial.
[2] Cf. IDEM. ibidem, Vol. 18, p. 619.
[3] Cf. IDEM. ibidem, Vol. 18, pp. 633 e s.