PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Carta a Friedrich Engels
Mitologia Moderna:
As Deusas da “Justiça,
Liberdade, Igualdade etc.” Voltaram a Andar a Solta Por Aí
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Abril de 2012
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
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Geral
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Londres, 1° de agosto de 1877
Querido Fred,
Em anexo, segue carta de Höchberg, dirigida a Hirsch,
o qual, no sábado, retornou à Paris.[2]
Mande-me de volta, por favor, essa carta, depois de tê-la
lido, pois eu mesmo tenho de entregá-la a Hirsch.[3]
Creio que a carta de Höchberg caracteriza o homem melhor
do que tudo aquilo que Wilhelm Liebknecht (este brilhou,
novamente, por sua recomendação do confúcio Acollas e do faiseur
(EvM.: fanfarrão) Lacroix) disse ou pode dizer sobre ele.[4] (...)
Há alguns dias, turned up (EvM.: apareceu) – para,
logo a seguir, novamente, desaparecer, rumo à Alemanha – o alegre e
pequeno cifótico, Wedde.[5]
Possuía um pedido urgente de August Geib para que você
e eu fossemos arregimentados para o “Zukunft (O Futuro)”.[6]
Para sua grande tristeza, não lhe fiz absolutamente
nenhum segredo sobre nossas pretensões abstencionistas e suas razões, ao mesmo
tempo em que lhe expliquei que, quando o tempo nos permita ou as circunstâncias
o exijam, interviremos, novamente, de modo propagandista. Nós, enquanto Internacional, não estamos, de nenhum modo, ligados ou
obrigados a aderir à Alemanha, à amada pátria.
Em Hamburg, Wedde havia avistado o Dr.
Höchberg e ditto (EvM.: o mesmo) avistou Wedde.
O primeiro estaria tingido como algo de superficialidade
e arrogância berlinense, porém o segundo gostou do primeiro, apesar deste ainda
sofrer muito de “mitologia moderna”.
Quando aquele sujeitinho
do Wedde
esteve em Londres, pela primeira vez, usei a expressão "mitologia
moderna" como designação das Deusas da "Justiça,
Liberdade, Igualdade etc.", as quais voltaram a andar à solta
por aí.
Isso lhe provocou uma
profunda impressão, pois o próprio Wedde tem feito muito a serviço dessas
entidades superiores.
Aos olhos de Wedde, Höchberg parecia um pouco
verdühringt
(EvM.: dühringisado, absorvido pelas posições de Dühring) e Wedde
possui um nariz mais afiado que o de Wilhelm Liebknecht. (...)
Saudações,
Do teu
Negro
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E
INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA
REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief an Friedrich Engels in
Ramsgate (Carta a Friedrich Engels em Ramsgate)(1° de Agosto de 1877), in :
Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels),
Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 65 e s.
[2] Anoto, de passagem, que
o Dr.
Karl Höchberg (1853 – 1885) foi um escritor e editor alemão de orientação
social-reformista, atuando sob os pseudônimos de Dr. Ludwig Richter e R.F.
Seifert. Em 1876, tornou-se membro do Partido Socialista dos
Trabalhadores da Alemanha (SAPD).
Em 1877 e 1878, foi responsável pela edição da revista “Zukunft
(O Futuro)”e, a seguir, entre 1879 e 1881, editor do “Jahrbuch
für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik (Anuário de Ciência Social e Política
Social)”.
[3] Destaco que Carl
Hirsch (1841 – 1900) foi jornalista.
Militou, de início, na Associação Geral dos Trabalhadores da
Alemanha (ADAV), encabeçada por Ferdinand Lassalle, com ela rompendo
em 1868. A seguir, foi co-fundador da Associação dos Trabalhadores Democráticos de
Berlim (DAV) e do Partido Social-Democrático dos Trabalhadores
da Alemanha (SDAP), em 1869. Além disso, foi redator, entre 1870 e
1871, do primeiro jornal diário de orientação social-democrática da Alemanha, o
“Crimmitschauer
Bürger- und Bauernfreund (O Amigo do Cidadão e do Camponês da Cidade de
Crimmtschau). Entre 1878 e 1879,
foi o correspondente parisiense da imprensa da Social-Democracia Alemã e
editor de “Laterne (A Lanterna)”, em Bruxelas.
[4] Cumpre anotar que Émile
Acollas (1820 – 1891) foi um professor francês de Direito, nascido em La
Châtre, o qual celebrizou-se por ter sido um dos fundadores da Liga
pela Paz e pela Liberdade, criada em 1867, com o apoio expresso de Victor
Hugo, John Stuart Mill, Giuseppe Garibaldi, Louis Blanc, Elisée Reclus, Mikhail
Bakunin e tantos outros mais 10.000 aderentes. Acollas postulava que as
assembléias da Liga pela Paz e pela Liberdade seriam, em verdade, “conferências
revolucionárias”. Defendia como programa político um federalismo
decentralizado, mandatos revogáveis para representantes eleitos, direito de
livre associação, distribuição equânime de bens e rendas, direito internacional
enquanto moralidade da consciência individual e das nações. Marx
posiciou-se, porém, contra qualquer adesão a essa liga, conclamando,
oficialmente, a Associação Internacional dos Trabalhadores a com ela não
involver-se. Entretanto, a eclosão da Guerra Franco-Prussiana, em 1870,
levou a que a liga se desaparecesse. Com a instalação da Comuna de Paris, Acollas foi nomeado decano da Faculdade
de Direito da Universidade de Paris. Sem embargo, jamais exerceu tal
função, a fim de esquivar-se a possíveis inculpações decorrentes da revolução.
Retornou, então, a Paris, apenas em 1871, quando organizou a Escola de Direito de Paris,
cujos mais ilustres alunos foram o republicano burguês-radical Georges
Clemenceau, Presidente do Conselho da República Francesa entre
1906-1909 e 1917-1920, denominado o “Pai da Vitória” na I Guerra
Mundial, e Nakae Chomin, o “Rousseau do Oriente”, um dos mais
renomandos militantes do Movimento dos Direitos Populares Japoneses.
[5] Observe-se que Johannes
Wedde (1843 – 1890) foi um jornalista e escritor de orientação
democrática. Durante a vigência da Lei contra os Socialistas (1878 – 1890),
editou o “Hamburger Bürgerzeitung (Jornal do Cidadão de Hamburgo)” que,
em 1887, acabou sendo proibido.
[6] Assinale-se que o Congresso
Geral Socialista do Partido Socialista dos Trabalhadores (SAPD) (Alemanha),
ocorrido em Gotha, de 27 a 29 de maio de 1877, resolveu, na sessão de 29 de
maio, sob proposta de August Geib, editar “uma revista
científica, em formato adequado, a ser publicada bimensalmente, em Berlim, a
partir de 1° de outubro desse ano. Até essa data, haverá de apensar-se ao
jornal “Vorwärts (Avante)”, a cada 14 dias, um suplemento, dotado,
essencialmente, de conteúdo científico”. Desde 1° de outubro de 1877, surgiu,
em Berlim, “Zukunft (O Futuro)” enquanto órgão teórico oficial do SAPD.
Essa revista foi financiada pelo social-filantropo Dr. Karl Höchberg e por
ele dirigida sob o pseudônimo R.F. Seifert, sob a orientação de
imprimir à Social-Democracia Alemã um curso abertamente reformista. Em 20
de julho de 1877, a redação de “Zukunft (O Futuro)” dirigiu cartas
a Marx
e Engels, referindo-se expressamente à Resolução do Congresso de Gotha
de maio de 1877 sobre a edição de uma revista científica, para propor a ambos
contribuirem na produção da revista em causa. Em 28 de julho de 1887, Wilhelm
Liebknecht escreveu, então, a Engels, assinalando, expressamente,
o seguinte: “Nossa revista (“Zukunft <O Futuro> - o título
não me agrada particularmente) terá seu início, em 1° de outubro. A redação
será comandada por Höchberg (que nos dará, anualmente, 10.000 marcos) e pelo Dr.
Wiede – ambos jovens diligentes, em particular o primeiro deles, e
ambos opositores dos embustes de Dühring. Sobre ela, organizou-se um
controle tão rigoroso que não temos de temer o surgimento de nenhum ovinho de
pintinho. Você está sendo requisitado para colaborar (evidentemente também Marx)
e será bom que o faça, ainda que sua atividade principal continue sendo
dedicada ao “Vorwärts (Avante)””. Cf. LIEBKNECHT,
WILHELM. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels), passim : Karl Marx
und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels)(28 de Julho
de 1887), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, p. 557. Em sua carta, datada de 23 de outubro de
1877, Wilhem Bracke forneceu, então, a Marx uma apreciação curta
e contundente do caráter político desse projeto editorial.