PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
KARL MARX E FRIEDRICH
ENGELS SOBRE O DIREITO E O ESTADO, OS JURISTAS E A JUSTIÇA
Carta a Nikolai Franzewitsch Danielson
Sobre a Sabedoria
Parlamentar, em Seu Cerne Mais Profundo:
Enganar os Outros,
Enganando a Si Próprio
KARL MARX[1]
Concepção e
Organização, Compilação e Tradução
Emil Asturig von
München, Dezembro de 2012
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
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Geral
http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoCapa.htm
Londres, 19 de fevereiro de 1881
Valoroso Senhor,
(...) Na minha família, tudo está na maior confusão, no presente momento,
pois que minha filha mais velha, a Sra. Longuet, está-se mudando, com seus
filhos, de Londres para Paris, onde seu marido, Charles Longuet tornou-se
co-editor do jornal “Justice (EvM.: Justiça)” - desde a
anistia. Entrementes, foi professor do King’s College (EvM.: Colégio Real)
em Londres. Charles Longuet foi quem inspirou o discurso semi-socialista de
Georges Clemenceau, em Marselha. [2]
(...) Li com grande interesse o artigo que o Sr. redigiu, o qual é
“original”, no melhor sentido da palavra. A isso se deve também o boicote.
Quando se abandona com o próprio pensamento a trilha percorrida, pode-se
ter sempre a certeza de que haverá, inicialmente, um “boicote”.
Essa é a única arma de defesa que os routiniers (EvM.: os
indivíduos rotineiros) sabem manusear em seu primeiro momento de confusão.
Durante muitos anos, fui “boicotado” na Alemanha e continuo a
sê-lo ainda, na Inglaterra, com a pequena variação de que, de tempos em tempos,
algo de tão absurdo e estúpido é editado que eu me haveria de envergonhar de
tomar conhecimento disso.
Porém, o Sr. deve continuar a produzir seus artigos! [3]
(...) Nos EUA, os reis das
estradas de ferro tornaram-se ,não apenas, tal como antes, o ponto central do ataque,
desferido por parte dos fazendeiros e de outros entrepreneurs (EvM.:
empresários) industriais do oeste, senão também por parte dos grandes
representantes do comércio, a Câmera de Comércio de Nova Iorque.
Jay Gould, rei da estrada
de ferro e especulador das finanças, esse gigantesco octópus, respondeu aos
magnatas do comércio de Nova Iorque, dizendo :
“ - Vós atacais,
agora, as empresas ferroviárias porque acreditais serem elas mais facilmente
vulneráveis, tendo em consideração sua impopularidade momentânea. Porém, tomai cuidado! Depois das
estradas de ferro, chegará a vez de todo tipo de corporation (Karl Marx:
vale dizer, no dialeto ianque, sociedade
por ações), mais tarde, de todos os gêneros de capital associado e, finalmente, a vez do capital, puro e simples.
Assim, vós abris
o caminho ao comunismo, cuja tendência já se difunde, cada vez mais, entre o
povo.”
O Sr. Gould, com efeito, “a le
flair bon (EvM.: tem um bom faro)”.
Na Índia, sérias complicações aguardam pelo Governo Britânico, se não
uma rebelião geral.
O que os ingleses recebem, anualmente, em rendimentos, dividendos, pagos
pelas estradas de ferro – que são inúteis para os indianos -, pensões, pagas
aos militares e servidores do Estado, o que arrancam do país para a Guerra
contra o Afeganistão e outras guerras etc. etc., o que obtém, sem
qualquer contra-partida e, independentemente de tudo isso, o que, anualmente,
convertem em sua propriedade, no interior da Índia – falo aqui,
portanto, apenas do valor das mercadorias que a Índia deve enviar,
gratuitamente, todos os anos, à Inglaterra -, tudo isso monta já
mais do que a receita global dos 60 milhões de trabalhadores industriais e
agrícolas indianos !
Eis um processo de sangria que há que ser vingado!
Uns após os outros, os anos de fome perseguem os indianos e em um medida
que, até o presente, não se considerava, na Europa, como possível.
Presentemente, há em curso uma séria conspiração, unificando hindus e
muçulmanos.
O Governo Britânico foi informado de que alguma coisa está “preparada”,
mas esses cabeças de vento (digo, a gente do Governo), que estão
abobados com o seu próprio modo parlamentar de pensar e de discursar, não
querem nem sequer abrir os olhos e conceber toda a extensão do perigo iminente!
Enganar os outros, enganando a si próprio : essa é a sabedoria
parlamentar, em seu cerne mais profundo.
Tant mieux (EvM.: tanto
melhor assim)! [4]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E
INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA
REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
[1] Cf. MARX, KARL. Brief
an Nikolai Franzewitsch Danielson in St. Petersburg (Carta à N. F. Danielson em
São Petersburgo)(19 de Fevereiro de 1881), in : ibidem, Vol. 35, Berlim :
Dietz, 1967, pp. 154 e s.
[2] Destaco que Marx
se refere ao Discuso de Marselha de Georges Clemenceau, pronunciado em 29 de
outubro de 1880, enquanto representante do radicalismo burguês parisiense. Esse
discurso apresentou um programa de medidas singulares de cunho
reformistas democráticas e sociais, tais quais substituição dos
impostos indiretos por impostos progressivos sobre a renda e a herança;
supressão das carteiras de trabalho; participação dos trabalhadores na
regulação da ordem interna das fábricas; auto-administração das caixas
operárias de assistência pelos trabalhadores; proibição do trabalho infantil
até uma determinada idade; redução da
jornada de trabalho etc. Algumas das reivindicações desse seu programa, Clemenceau
retirara do Programa Mínimo do Parti Ouvrier, Partido dos
Trabalhadores da França, cujos considerandos foram ditados por Karl
Marx a Jules Guesde, em maio de 1880.
Marx denomina o discurso em referência de Clemenceau de semi-socialista,
pois demonstrou, através da incorporação de diversas consignas do Parti
Ouvrier, a pretensão dos radicais burgueses franceses, encabeçados por Clemenceau,
de fortalecerem sua influência política entre os trabalhadores franceses.
[3] Marx refere-se aqui à produção
literária de DANIELSON, NIKOLAI
FRANZEWITSCH (NICKOLAI-ON). Otcherki Nashevo Poreformenovo
Obschschestvennovo Rroziaistva (Esboços da Nossa Economia Nacional Posterior à
Reforma), in : Slovo (A Palavra), Moscou, Outubro de 1880, pp. 5 e s.
[4] Cf. MARX, KARL. Brief an Nikolai Franzewitsch Danielson in St.
Petersburg (Carta à N. F. Danielson em São Petersburgo)(19 de Fevereiro de
1881), in : ibidem, Vol. 35, Berlim : Dietz, 1967, pp. 156 e 157.