PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO

DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE

 

 

Lenin e o Regime de Funcionamento da Organização Marxista-Revolucionária

Na Época do Imperialismo Capitalista:

 

Seus Princípios, Seus Congressos, Suas Conferências, Seus Programas, Seus Estatutos, Suas Direções Partidárias,

Vistos à Luz de Suas Posturas Em Face das Frações Internas e Públicas “Permanentes” ou “Virtualmente Permanentes”

 

Em Homenagem aos 100 Anos de Surgimento do Bolchevismo Revolucionário

e a Seu Devido Resgate Pelas Fileiras do Marxismo Revolucionário Contemporâneo  

 

 

EMIL ASTURIG VON MÜNCHEN

PORTAU SCHMIDT VON KÖLN

Para Palestras, Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque

Contatar emilvonmuenchen@web.de

Julho de 2003

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 “ Liebknecht está, naturalmente, furioso,

pois que toda a crítica foi cunhada, especialmente, contra ele.

Ele é o pai que, juntamente com o veado pederasta do Hasselmann,

pariu esse programa podre ...”

Friedrich Engels

Sobre o Programa da Coalizão de Gotha de 1875,

Unificador dos Eisenachianos e Lassalleanos

no quadro do então fundado Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha[1]

 

 

ÍNDICE

 

QUADRO GERAL DOS CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS

DO PARTIDO OPERÁRIO SOCIAL-DEMOCRÁTICO RUSSO - A SEGUIR BOLCHEVIQUE – E, POR FIM, COMUNISTA,

BEM COMO DOS MAIS IMPORTANTES CONGRESSOS INTERNACIONAIS

EM QUE LENIN DIRETA OU INDIRETAMENTE INTERVIU

 

EXPOSIÇÃO INTRODUTÓRIA GERAL

 

·         CAPÍTULO 1.

I Congresso de 1898 do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR): Um Congresso Fundacional com Tentativa de Unificação, despida de Programa e de Estatuto Partidários

 

·         CAPÍTULO 2.

II Congresso de 1903 do POSDR : Programa e Direção Revolucionários em contraste com um Estatuto Oportunista, Emergência das Frações Internas Bolchevique e Menchevique

 

·         CAPÍTULO 3.

Surgimento em 1903 – 1904 da Fração Pública Bolchevique e do Sistema de Frações no interior do POSDR

 

·         CAPÍTULO 4.

Lenin e Luxemburg : Duas Concepções Antagônicas Relativas à Questão

Organizativa do Partido Revolucionário

 

·         CAPÍTULO 5.

Ruptura de Trotsky com o Menchevismo e Formação do Fracionalismo “Não-Fracionalista”

 

·         CAPÍTULO 6.

III Congresso de 1905 do POSDR : Ascenso Revolucionário, Estratégia e Tática Revolucionárias, Adoção do Parágrafo Primeiro na Versão Leninista, Luta Intra-Fracional Bolchevique travada por Lenin contra os Komitetchkis Aparatistas

 

·         CAPÍTULO 7.

IV Congresso da Unificação de 1906 do POSDR : Luta Fracional dos Mencheviques e do Agrupamento Stalin-Suvorov contra Lenin em torno do Programa Agrário, Tentativa de Fusão das Frações Públicas, Reaparecimento da Estratégia Oportunista, Surgimento de Tendências ou Alas Internas

 

·         CAPÍTULO 8.

V Congresso de 1907 do POSDR : Ressurgimento do Sistema de Frações

 

·         CAPÍTULO 9.

III Conferência de 1907 do POSDR : Luta de Lenin contra o Boicotismo Bolchevique às eleições para a III Duma do Estado

 

·         CAPÍTULO 10.

Surgimento do Menchevismo Liquidacionista e o Processo de Cisão da Fração Menchevique a partir de Dezembro de 1908

 

·         CAPÍTULO 11.

Conferência de 1909 da Redação Ampliada do Jornal “Proletarii(O Proletário)”, Órgão Central da Fração Pública Bolchevique no interior do POSDR: Fracionalismo Intra-Bolchevique, Luta contra as Frações Públicas dos Abstencionistas(Otzovistas), dos Ultimatistas (Ultimatisti) e dos Construtores de Deuses (Bogostroitelis)

 

·         CAPÍTULO 12.

Luta da Fração Bolchevique contra a Fração “Vperiod(Avante)” do POSDR, surgida em Dezembro de 1909 em seu próprio Domínio Intra-Fracional :

Luta contra a Unificação com o Abstencionismo, o Ultimatismo e a Criação de Deuses, sob os Auspícios da Ideologia Idealista-Subjetivista de Mach e Avenarius

 

·         CAPÍTULO 13.

Luta da Fração Bolchevique no interior do POSDR contra a Fração

“Não-Fracionalista” de Trotsky: contra a Unidade de Bolcheviques e

Liquidacionistas de todos os Signos

 

·         CAPÍTULO 14.

Luta da Fração Bolchevique contra a Fração dos Bolcheviques Conciliadores-Virtuosos “Não-Fracionalistas”: contra o Apoio Velado aos Liquidacionistas, contra o Fim do Sistema de Frações

 

·         CAPÍTULO 15.

Formação e Funcionamento do Bloco Bolchevique-Menchevique dos Fiéis ao Partido entre 1909 e 1913

 

·         CAPÍTULO 16.

Formação e Funcionamento do “Bloco sem Princípios” “Não-Fracionalista” e Liquidacionista Ambivalente de Trotsky – Martov – Lunatcharsky entre 1909 e 1912

 

·         CAPÍTULO 17.

VI Conferência do POSDR de Toda a Rússia em 1912 : Fim do Sistema de Frações, Criação do POSDR (Bolchevique) e Luta pela Integral Ruptura do Partido com o Liquidacionismo Menchevique e todos os seus Aliados Sociais-Democratas, seja na Fração da Duma do Estado seja no “Pravda (A Verdade), dirigidos pelo Conciliacionismo Virtuoso Não-Fracionalista Subterrâneo ou Secreto de Stalin

 

·         CAPÍTULO 18.

Formação e Funcionamento do Bloco de Agosto a partir de 1912 : Tentativa de Agrupamento de Unionistas e Mencheviques Conciliadores-Virtuosos “Não-Fracionalistas” com o Liquidacionismo de todos os Signos

 

·         CAPÍTULO 19.

Emergência da Organização dos Unionistas Inter-Distritais Sociais-Democratas (Comitê Inter-Distrital) de Trotsky - Iurenev – Lunatcharky em 1913

 

·         CAPÍTULO 20.

Intervenção do Bureau Central da Internacional Socialista na Luta Fracional Desesperada travada pelos Sociais-Democratas Russos em 1914:

Novo Clamor Baldado em prol da Unidade dos Bolcheviques com o Liquidacionismo de todos os Signos

 

·         CAPÍTULO 21.

Nova Cisão no interior do Menchevismo Liquidacionista no quadro da I Grande Guerra Imperialista: Menchevismo Internacionalista e Menchevismo Chauvinista

 

·         CAPÍTULO 22.

Aproximação e Afastamento em 1914 e 1915 do Menchevismo Liquidacionista-Internacionalista com o Unionismo “Não-Fracionalista” de Trotsky na Emigração em torno de “Nashe Slovo(Nossa Palavra)”

 

·         CAPÍTULO 23.

Aproximação do POSDR (Bolchevique) com o Unionismo “Não-Fracionalista” de Trotsky na Emigração no quadro da Conferência de Zimmerwald de 1915

 

·         CAPÍTULO 24.

Fração Pública Bolchevique-Internacional Derrotista-Revolucionária enquanto Esquerda de Zimmerwald a partir de 1915

 

·         CAPÍTULO 25.

Choque Fracional Público em meio à I Guerra Mundial no interior do POSDR (Bolchevique) do Exílio : a Fração Pacifista-Democrática de Kamenev e dos Deputados Bolcheviques em face da Fração Derrotista-Revolucionária de Sverdlov, Goloschekin e Spandarian

 

·         CAPÍTULO 26.

Choque Fracional Intra-Bolchevique no Exílio em meio à I Guerra Mundial : a Fração Corrosiva-Intriguista de Stalin e Spandarian em face da Fração Otimista-Construtiva de Sverdlov e Goloschekin

 

·         CAPÍTULO 27.

Fração Pública Unionista-Internacional “Não-Fracionalista” em Defesa de uma Paz Democrática sem Anexações e dos Estados Unidos da Europa

 

·         CAPÍTULO 28.

Oposição de Março e Abril de 1917 da Fração Pública de Sverdlov e Goloschekin contra a Direção Nacional Patriótico-Defensista na Guerra Imperialista e Frente-Populista de Esquerda de Stalin e Kamenev no interior do POSDR (Bolchevique)

 

·         CAPÍTULO 29.

Vitória Relâmpago do Bolchevismo de Lenin contra a Fração Bolchevique

Patriótico-Defensista na Guerra Imperialista e Frente-Populista de Esquerda

de Stalin e Kamenev no interior do POSDR (Bolchevique) : Defesa de uma Ampla Revisão do Antigo Programa do POSDR, adotado em 1903, e Estratégia de Reunificação Bolchevique com Forças Sociais-Democratas

Proletárias Internacionalistas

 

·         CAPÍTULO 30.

VI Congresso de Julho – Agosto de 1917 do POSDR (Bolchevique) :

Congresso de Reunificação, sem Produção de Frações Públicas

 

·         CAPÍTULO 31.

Fracionalismo Público-Episódico Anti-Insurrecional e Fura-Greve

de Zinoviev e Kamenev no interior do Bolchevismo :

Exigência de sua Expulsão do Comitê Central e do Partido, Pedido de Demissão de Stalin da Redação do “Pravda (A Verdade)”

 

·         CAPÍTULO 32.

Fracionalismo Público-Episódico de Zinoviev e Kamenev,

Lunatcharsky e Riazanov, contra a Formação de um Governo Provisório Soviético Exclusiva ou Hegemonicamente Bolchevique : Dissolução com Ruptura de Lozovsky

 

·         CAPÍTULO 33.

Divergências de Lenin na Questão da Convocação das Eleições para a Assembléia Nacional Constituinte

 

·         CAPÍTULO 34.

Fração Pública dos “Comunistas de Esquerda”ao longo de 1918 e 1919:

Defesa da Guerra Revolucionária da Rússia Soviética contra a Alemanha Imperialista, sem Forças Armadas Vermelhas Aptas a Combaterem

 

·         CAPÍTULO 35.

I Congresso da Internacional Comunista em 1919

 

·         CAPÍTULO 36.

VIII Congresso de 1919 do Partido Comunista Russo (Bolchevique) : Novo Programa Revolucionário e Aprovação da Fundação da III Internacional Comunista,

Oposição Militar Fracionalista e Sub-Reptícia de Stalin-Voroshilov contra a direção militar de Trotsky e o apoio manifestamente concedido a esse último por Lenin e Sverdlov

 

·         CAPÍTULO 37.

IX Congresso de 1920 do PCR (Bolchevique) : Luta contra a Fração dos Decistas de Sapronov e Ossinsky – apoiada por Rykov e Tomsky – e contra os Primeiros Momentos da Fração da “Oposição Operária” de Schliapnikov e Lozovsky

 

·         CAPÍTULO 38.

II Congresso da Internacional Comunista em 1920

 

·         CAPÍTULO 39.

X Congresso de 1921 do PCR (Bolchevique) : Luta pela Unidade do Partido contra as Frações de Sacudimento Sindical de Trotsky, do Pára-Choque de Bukharin e Preobrajensky, da “Oposição Operária”, dos Anarco-Sindicalistas, dos Decistas e do Burocratismo Operário Acobertado

 

·         CAPÍTULO 40.

III Congresso da Internacional Comunista em 1921

 

·         CAPÍTULO 41.

XI Congresso de 1922 do PCR (Bolchevique):

Luta contra o Ascenso da Burocracia Operária, comandada por Stalin, Zinoviev e Kamenev, Luta Fracional Aberta no Domínio Militar, travada entre Trotsky e Antonov-Ovseienko, de um lado, e Frunze, Gussev e Tukhatchevsky, de outro

 

·         CAPÍTULO 42.

IV Congresso da Internacional Comunista em 1922

 

·         CAPÍTULO 43.

XII Congresso de 1923 do PCR (Bolchevique):

Continuação da Luta contra o Ascenso da Burocracia Operária, comandada por Stalin, Zinoviev e Kamenev no quadro da Enfermidade de Lenin

 

·         CAPÍTULO 44.

Últimos Dias de Lenin na Luta contra o Ascenso da Burocracia Operária,

Comandada por Stalin, Zinoviev e Kamenev

 

 

 

 

 

QUADRO GERAL DOS CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS

DO PARTIDO OPERÁRIO SOCIAL-DEMOCRÁTICO RUSSO - A SEGUIR BOLCHEVIQUE – E, POR FIM, COMUNISTA,

BEM COMO DOS MAIS IMPORTANTES CONGRESSOS INTERNACIONAIS

EM QUE LENIN DIRETA OU INDIRETAMENTE INTERVIU

 

 

 

 

POSDR (Congresso Fundacional)

I

Congresso

Minsk

 

01-03/03/1898

 

 

 

 

 

 

 

POSDR (Conferência Preliminar)

I Conferência

Geneva

 

06/1901

 

 

 

 

 

 

 

POSDR (Conferência da „Unidade“)

II Conferência

Zurique

 

21-22/09/1901

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR (Congresso da Cisão)

II Congresso

Bruxelas-Londres

 

17/07/

e 10/08/1903

 

 

 

 

 

 

 

POSDR(Congresso apenas Bolchevique)

III Congresso

Londres

 

12-27/04/1905

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR(Conferência  apenas Bolchevique)

 

Conferência

Bolchevique

Tammersfors

 

12-17/12/1905

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR(Congresso da Unificação)

IV Congresso

Estocolmo

 

10-25/04/1906

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR (Congresso da Nova Cisão) 

V Congresso

Londres

 

30/04

e 19/05/1907

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR

III Conferência

Kotka

 

21-23/07/1907

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR

IV Conferência

Helsingfors

(Helsinki)

 

05-12/11/1907

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR

V Conferência

Paris

 

21-27/12/1908

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR (Bolchevique)

VI Conferência

Praga

 

06-17/01/1912

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conferência Internacional Socialista de Zimmerwald 

I Conferência

Zimmerwald

 

05-08/09/1915

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conferência Internacional Socialista de Kienthal

II Conferência

Kienthal

 

24-30/04/1916

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POSDR (Bolchevique)

VII Conferência

Petrogrado

 

24-29/041917

 

 

 

 

 

 

 

 

  POSDR(Bolchevique)

  (Congresso da Unificação)

VI Congresso

Petrogrado

 

26/07

e 03/08/1917

 

 

 

 

 

 

 

  PCR(Bolchevique)

VII Congresso

Petrogrado

 

06-08/03/1918

 

 

 

 

 

 

 

  INTERNACIONAL COMUNISTA

I Congresso

Petrogrado

 

02-06/03/1919

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR(Bolchevique)

VIII Congresso

Moscou

 

10-23/03/1919

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique)

VIII Conferência

Moscou

 

02-04/12/1919

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique)

IX Congresso

Moscou

 

29-05/04/1920

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTERNACIONAL COMUNISTA

II Congresso

Petrogado e

Moscou

 

19/07 e

07/08/1920

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique)

IX Conferência

Moscou

 

22-25/09/1920

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique)

X Congresso

Moscou

 

08-16/03/1921

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique)

X Conferência

Moscou

 

26-28/05/1921

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTERNACIONAL COMUNISTA

III Congresso

Moscou

 

22/06

e 12/07/1921

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique)

XI Conferência

Moscou

 

14-22/12/1921

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique) 

XI Congresso

Moscou

 

27/03 e

02/04/1922

 

 

 

 

 

 

 

 

 

INTERNACIONAL COMUNISTA

IV Congresso

Moscou

 

05/11 e 05/12/1922

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PCR (Bolchevique) 

XII Congresso

Moscou

 

17-25/04/1923

 

 

 

 

 

 

EXPOSIÇÃO INTRODUTÓRIA GERAL 

 

 

“O padre católico que corrompe as garotas jovens ... 

é precisamente muito menos perigoso

para a “Democracia” do que o padre sem bata,

o padre sem religião vulgar,

 o padre ideologicamente equipado e democrático,

pregando a criação e a invenção de um Deus.”

V. I. Lenin[2]

 

Um dos mais brilhantes aspectos da obra teórico-doutrinária, político-prática e estratégico-revolucionária de Lenin constitui, inegavelmente, sua magistral compreensão da necessidade de construção de um partido proletário marxista-revolucionário de massas e de vanguarda, dirigido preponderantemente por revolucionários profissionais e trabalhadores conscientes jovens, assentado sobre o princípio organizativo do centralismo democrático, a fim de que se torne efetivamente materializável, na época do imperialismo capitalista, marcado por regimes oligárquico-burgueses à maneira de autocracias, a perspectiva formulada originariamente por Marx e Engels de derrubada violenta de toda exploração sócio-econômica e dominação intelectual-ideológica, geradas inevitavelmente pela subsistência das decrépitas leis internas inerentes ao despotismo do capital e do latifúndio[3].

 

Apoiando-se, de modo principista, na concepção partidária de Marx e Engels[4], Lenin destaca que a organização marxista-revolucionária do proletariado, enquanto vanguarda campeã e independente das lutas proletárias para a derrubada do jugo do imperialismo capitalista em todo o mundo – erigida, em escala nacional, enquanto partido político independente da classe trabalhadora, revestido de designação rigorosamente apropriada e cientificamente correspondente ao estágio efetivo da luta de classes de certo período histórico[5] -, é parte integrante da classe trabalhadora e, em verdade, sua parte mais avançada, mais dotada de consciência de classe e, portanto, mais revolucionária, sendo formado por métodos de seleção natural que reunem os melhores, os mais conscientes, os mais sacrificados e os mais perpicazes trabalhadores de dada sociedade[6].

 

Essa organização não possui interesses distintos da classe trabalhadora, considerada como um todo, diferenciando-se, porém, dessa última particularmente porque possui uma visão ampla e geral de toda a trajetória histórica da classe trabalhadora em sua totalidade e luta, a todo momento, para defender não os interesses de um grupo ou segmento específico, mas sim da classe trabalhadora em seu conjunto.

 

Assim, para Lenin, a organização marxista-revolucionária do proletariado é, em seus mais diversos estágios, períodos e momentos históricos, é a alavanca organizativa e política através da qual a parte mais avançada da classe trabalhadora pode dirigir toda a massa proletária e semi-proletária em sua luta de libertação em face do capital e do latifúndio. 

 

Assim, enquanto traço especialíssimo da concepção organizativa de Lenin, destaca-se sua defesa do centralismo democrático enquanto método capaz de permitir a construção de uma organização marxista-revolucionária dirigente, hábil a intervir, com inigualável arte e talento prático-revolucionários, enquanto o estado-maior tático e estratégico das lutas de libertação do proletariado russo e seus aliados.

 

O perecimento dessa organização há de ser apenas alcançado no âmbito da vitória final do comunismo, com a sua respectiva reabsorção no seio da sociedade mundial trabalhadora, despida da existência das classes sociais e da exploração do homem pelo homem e das nações por nações.

 

Nesse sentido, a concepção de Lenin sobre a imprescindibilidade da existência histórica da organização marxista-revolucionária pode ser clarificada e sintetizada nas seguintes palavras :

 

“A necessidade do partido político do proletariado pode apenas deixar de existir com o surgimento da completa abolição das classes.

Na trilha rumo a essa vitória final do comunismo, é possível que a importância relativa das três organizações fundamentais proletárias dos tempos modernos – Partido, Sovietes e Sindicatos da Indústria – possa transitar por algumas modificações e, gradualmente, seja formada um único tipo de organização dos trabalhadores.

Entretanto, o Partido Comunista será absorvido na classe trabalhadora apenas quando o comunismo deixe de ser objeto de luta e toda a classe trabalhadora tenha se tornado comunista.”[7]

 

As vitórias que conduziram ao Outubro de 1917 e dela decorreram foram factíveis, em primeiro lugar, porque Lenin soube desenvolver, incansavelmente e com agudeza de espírito, a dialética no trato da teoria científico-socialista de Marx e Engels[8], compreendendo que os proletários, por não poderem, por seus próprios esforços, atingir senão uma consciência sindical-econômica mais ou menos nítida – em cujo quadro prevalece, então, inevitavelmente a dominação ideológico-burguesa, historicamente mais sólida, complexa e opulenta -, necessitam do partido marxista-revolucionário para transformarem em consciência toda a sua intuição acerca das novas tarefas que envolvem a luta revolucionária de edificação do socialismo[9].

 

Assim como Engels, Lenin destacou que o socialismo, uma vez tornado ciência, exige ser tratado como tal, i.e. deve ser sistematicamente estudado, tudo dependendo de se propagar, com zelo crescente, entre as massas trabalhadoras a visão cada vez mais clarificada da luta socialista, fundindo, encadeando, unindo (zusammenschliessen), sempre mais firmemente, partido revolucionário e organizações sindicais[10].

 

A forma histórico-dialética a ser conferida à fusão, ao encadeamento, à união entre partido revolucionário, parte mais avançada e dirigente da classe trabalhadora, e organizações sindicais, escolas de aprendizado da luta revolucionária pela derrubada do capitalismo e edificação de uma sociedade sem classes - ainda que assumindo diferentes configurações específicas ao longo dos diversos anos de militância revolucionária de Lenin que, progressivamente, a partir de 1907, superaram sua posição inicial, também esposada por Plekhanov, favorável à neutralidade dos sindicatos[11], aproximando-se cada vez mais das concepções de Marx e Engels acerca do tema[12]  – pode ser sinteticamente definida nos seguintes termos que expressam sua visão mais madura :

 

“Minhas concepções sobre esse tema (EvM.: i.e. sobre a questão da luta econômica e os sindicatos) tem sido freqüentemente distorcidas na literatura e devo, portanto, destacar que muitas páginas de “O Que Fazer?” são dedicadas a esclarecer a imensa importância da luta sindical e dos sindicatos.

Em particular, defendi a neutralidade dos sindicatos e não modifiquei essa concepção em brochuras e artigos jornalísticos redigidos desde então, a despeito de numeros asserções de meus oponentes.

Apenas o Congresso do POSDR de Londres e o Congresso Internacional Socialista de Stuttgart forçaram-me a chegar à conclusão de que a neutralidade dos sindicatos não pode, de modo principista, ser defendida.

O único princípio correto é o alinhamento mais estreito possível dos sindicatos com o Partido.

Nossa política deve ser a de trazer os sindicatos mais próximos do Partido, ligando-os a ele.

Essa política deve ser perseguida perseverante e persistentemente em toda nossa propaganda, agitação e atividade organizativa, sem tentar obter mero “reconhecimento” de nossas concepções e sem excluir dos sindicatos aqueles que possuem opiniões diferentes.”(grifos do próprio Lenin)[13]       

 

“A luta do proletariado internacional é está conduzida não em prol da reforma do capitalismo, mas sim pela sua derrubada.

Nessa luta revolucionária, todos os elementos revolucionários dotados de consciência de classe estão reunindo-se, cada vez mais resolutamente, entre as fileiras da III Internacional, enquanto organização incorporadora da revolução proletária mundial.

Os sindicatos da Rússia que, lado a lado com o Partido Comunista lutam pela derrubada do capitalismo na Rússia, não podem permanecer fora das fileiras da III Internacional e, portanto, o III Congresso dos Sindicatos resolve :

1. aderir à III Internacional Comunista e conclamar os sindicatos revolucionários de todos os países a seguirem o exemplo praticado pelo proletariado russo, organizado nos sindicatos.”[14]

 

“Os sindicatos que aceitaram a plataforma comunista e estão unidos em escala internacional sob o controle do Comitê Executivo da Internacional Comunista formam a Seção Sindical da Internacional Comunista.

Os Sindicatos Comunistas enviam seus representantes aos Congressos Mundiais da Internacional Comunista através dos Partidos Comunistas de seus respectivos países.

As Seção Sindical da Internacional Comunista elege um delegado que terá voto deliberativo junto ao Comitê Executivo da Internacional Comunista.

O Comitê Executivo da Internacional Comunista goza do direito de enviar um representante com voto deliberativo para a Seção Sindical da Internacional Comunista.”[15]

 

Lenin planejou, organizou, formou, construiu e impulsionou um partido marxista-revolucionário dirigente de massas, democraticamente centralizado e largamente isento de traços burocráticos degeneradores.

 

Seu partido apoiou-se crescentemente na práxis revolucionária de Babushkin e Sverdlov[16], consagrou articulistas revolucionários do calibre de Vorovsky[17], bem como deu vida a brilhantes órgãos jornalísticos, legais e clandestinos – tais como ”Iskra(A Centelha)”, “Vperiod!(Avante!)”, “Proletarii(O Proletário)”, “Zvezda(A Estrela)”, “Rabotchaia Gazeta (Diário Operário)”, “Pravda(A Verdade)”, “Soldatskaia Pravda(A Verdade do Soldado)” etc. etc., concebidos eles mesmos como organizadores, propagandistas e agitadores coletivos da dialética do marxismo revolucionário[18]-, constituindo-se, a partir de fins de 1903, em fração pública bolchevique no interior do POSDR, transformando-se, no início de 1912, como partido integral e irreversivelmente rompido com o oportunismo e o liquidacionismo de todos os signos, em POSDR – Bolchevique[19].

 

Apenas com a derrubada do capitalismo pela via revolucionário-insurrecional da luta de classes, hegemonizada pelo proletariado no quadro de uma coalizão selada com seus mais autênticos aliados históricos, explorados e oprimidos pelo capitalismo, apenas com o despedaçamento do aparelho do Estado colocado a serviço das ínfimas minorias exploradoras e opressoras, autocráticas, latifundiárias e burguesas, resulta, pois, aberta a via de transição à Ditadura Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla e historicamente mais avançada Democracia Proletária, rumo ao atingimento de uma sociedade socialista mundial humanizada, livre da opressão de todo Estado e imune às dilacerações decorrentes dos embates sangrentos, travados entre classes sociais irreconciliavelmente hostis : primeiro estágio para o estabelecimento de relações sociais autenticamente comunistas.

 

De tal sorte, é possível corretamente afirmar que, para tornar-se profícuo e eficaz o conteúdo da presente exposição, dedicada ao funcionamento da organização marxista-revolucionária da atual época do imperialismo capitalista, cumpre assumir, desde logo, como paradigma analítico, a efetuação de um estudo senão pormenorizado ao menos detido e conclusivo, voltado sobretudo ao exame dos principais congressos e conferências em que participaram os bolcheviques, dirigidos por Lenin, bem como efetuar uma análise das principais disposições programáticas, estatutárias e posturas fracionais, por eles defendidas ou repudiadas.

 

Nada obstante, as questões relacionadas com movimento revolucionário contemporâneo são, em muitos sentidos, intrincadas e para muitos desinteressantes, na medida em que pressupõem dedicação e atenção detidas para problemas relacionados com a disciplina e o regime de funcionamento da organização marxista-revolucionária, seus programas, seus estatutos, sua direção e seu sistema de frações, o qual conduz inevitavelmente ou a reunificações ou a rupturas organizativas.

 

O presente texto procurará demonstrar ao leitor que a luta ferrenha e ininterrupta, travada ao longo de décadas, pela organização marxista-revolucionária paradigmática de Lenin e dos bolcheviques contra as múltiplas vertentes sociais-reformistas, sociais-chauvinistas, sociais-colaboradoras, sociais-pacifistas, em suma: todas essas espécies de oportunismos ordinários e biliosos, vestidos disfarçadamente em togas socialistas, assumiu diversas formas, projetou-se em diversos contextos e prolongou-se ao longo de diversos episódios, tendo como centro de gravidade a trilogia envolvendo a luta em prol do programa, estatuto e direção cientificamente revolucionários do partido da classe trabalhadora.

 

Ao longo de toda sua extensa trajetória combativa, dedicada à construção de uma organização partidária marxista-revolucionária, na Rússia e em escala mundial, no quadro de uma Internacional Revolucionária, Lenin foi sempre categórico em demonstrar, perene e sistematicamente, a vital importância que assume  a luta pela defesa dos princípios da unidade do partido da classe trabalhadora rumo à Revolução Proletária Socialista – cuja expressão máxima é a realização regular de seus congressos e conferências – e do centralismo democrático – imprescindível esse último para a deliberação e legitimação do programa, do estatuto e da direção revolucionários do proletariado, bem como de seu plano estratégico e de sua linha tática, direcionados para a derrubada de toda exploração e dominação de classe.  

 

Enquanto corolários desses princípios maiores, Lenin ressaltou, ainda, com meridiana clareza, a imperiosidade de os marxistas-revolucionários lutarem, invariavelmente e a todo momento, em favor da efetiva preservação dos direitos da minoria e de toda oposição leal, exercidos tendencial ou fracionalmente no interior do partido marxista-revolucionário, e, nesse contexto, em igual medida, sempre em prol da autonomia de todo e qualquer organismo partidário.

 

Defendendo ainda a preponderância do reconhecimento dos corolários de elegibilidade, prestação de contas e revogabilidade dos membros dos órgãos centrais e quadros profissionais do Partido, Lenin demonstrou ser, ao mesmo tempo, imprescindível posicionar-se, constantemente, em favor do direito de o Comitê Central nomear e destituir a Redação do Órgão Central do Partido.

 

Sem qualquer temor de permanecer em minoria ou de modo até mesmo isolado, sem qualquer receio de resultar derrotado ou ser tachado de excêntrico no quadro do movimento revolucionário russo e internacional, combateu todas as diversas vertentes políticas que fomentavam direta ou indiretamente o socialismo pequeno-burguês e utópico, o terrorismo populista, o espontaneísmo criticista, o economicismo sindicalista, o reformismo social,  o inorganicismo menchevique-partidário, a subalternidade ou o isolacionismo do proletariado na revolução em face do campesinato e da burguesia, o liquidacionismo do partido legal e clandestino, o eleitoralismo estatal-democratista, quer de linhagem chauvinista, quer de índole pacifista, como meios supostamente viáveis de atingir-se a vitória nas revoluções proletárias e o início da construção de uma sociedade socialista[20].

 

Com efeito : desmascarando sempre com palavras simples e contundentes, não apenas os sociais-oportunistas de todos os matizes situados fora, mas também protagonizando resolutamente tendências, frações e rupturas contra bolcheviques sectário-abstencionistas, eclético-conciliadores, komitetchik-burocratizados situados dentro do próprio partido revolucionário, como forma de depurar, fortalecer e aprimorar o instrumento orgânico de preparação e direção das lutas do proletariado contra a selvageria do capital e do latifúndio, é que Lenin foi capaz de defender prática e inabalavelmente o princípio maior da unidade do partido revolucionário proletário, fundado na rigorosa observância do centralismo democrático, exercido em congressos, conferências, comitês, células distritais e fabris, regularmente operantes e ocupados não exclusivamente com discussões sobre regras organizativas internas, mas sobretudo com o exercício concreto da apreciação marxista dos novos fatos objetivos e definição de tarefas revolucionárias atualizadas, com base em informações específicas sobre funções desempenhadas e a desempenhar no cenário da luta de classes.[21]

 

Nesse preciso contexto, estimulou, paralela e constantemente, processos de fusão das forças bolcheviques com novos agrupamentos combativos que, em dado momento histórico, regressaram ao legítimo sendeiro da revolução proletária.

 

Entendendo que um partido marxista-revolucionário não pode ser erigido sem a mais perfeita e fiel clareza acerca dos matizes essenciais nele existentes, sem luta aberta entre suas várias tendências, sem informar as massas sobre que dirigentes e agrupamentos partidários perseguem essa ou aquela linha política em dado momento histórico[22], salientando, porém, a importância da disciplina de ferro do partido proletário enquanto forma de combater a desorganização e definindo-a como unidade da ação revolucionária, liberdade de discussão e criticismo – sendo apenas essa disciplina digna de um partido democrático da classe avançada[23] -, a concepção de vida político-partidária de Lenin veio a revelar-se como sendo o oposto diametral do monolitismo cripto-partidário de Stalin e seus asseclas, praticado a pretexto de impulsionarem a “bolchevização” dos partidos da Internacional Comunista, logo após o desaparecimento de Lenin, em 1924. 

 

Esforçando-se sempre por compreender a dialética da luta de classes, mantinha-se permanentemente aberto e atento à dinâmica da vanguarda do proletariado e das massas em movimento, às quais atribuía até mesmo mais importância do que ao rotineiro funcionanento do aparato administrativo do Partido, transmitindo, assim, muito sensivelmente a influência das lutas proletárias sobre o Partido e desse último sobre o seu aparato.

 

Desse modo, Lenin conseguia fazer com que seus opositores perdessem terreno rapidamente e os hesitantes, aderissem ao seu agrupamento, tendência ou fração, com perdas consideravelmente reduzidas para a causa proletário-revolucionária, superando as exigências do fator tempo em matéria político-revolucionária, em cujo domínio a luta de classes não pode esperar indefinidamente que os marxistas revolucionários descubram o modo correto de responder às questões mais prementes da revolução proletário-socialista.

  

Destacando o aspecto de que o dirigente genial do proletariado contribui efetivamente para que o prazo de aprendizagem dos revolucionários seja substancialmente reduzido, mediante a elucidação de lições objetivamente formuladas, permitindo, assim, à organização marxista-revolucionária influir decisivamente no desenvolvimento dos acontecimentos no momento apropriado, Trotsky assinalou, detidamente, o seguinte acerca das características de atuação política de Lenin:

 

“Todas as vezes que os dirigentes do bolchevismo tinham de atuar sem Lenin incorriam em erro, inclinando-se, comumente, para a direita.

Então, surgia Lenin com um Deus Ex Máquina e indicava o caminho correto.

Significa isso dizer que Lenin fosse tudo dentro do Partido Bolchevique e os demais nada?

Tal conclusão, muito presente nos círculos democráticos, é sumamente parcial e, por isso, falsa.

O mesmo se poderia dizer da ciência. A mecânica sem Newton e a biologia sem Darwin pareceram nada representar, durante muitos anos.

Isso é certo e errado, ao mesmo tempo : reprime-se o trabalho de milhares de pessoas simples da ciência, reunindo fatos, agrupando-os, levantando os problemas, preparando o terreno para as soluções inteligentes de um Newton ou um Darwin.

E, toda solução implicava, por sua vez, o trabalho de outros milhares de pesquisadores modestos.

Os gênios não criam a ciência.

Apenas aceleram o processo de reflexão coletiva.

O Partido Bolchevique tinha um dirigente de gênio e não por acaso.

Um revolucionário com a fibra e a resolução de Lenin podia tão somente estar à cabeça do partido mais intrépido, capaz de levar suas idéias e ações à sua conclusão lógica.

Porém, o gênio é, em si mesmo, a mais rara das exceções.

Um dirigente genial orienta-se mais rapidamente, aprecia a situação mais plenamente, enxerga mais além do que os outros. (...)

Sem o Partido, Lenin ter-se-ia visto tão desvalido como Newton e Darwin sem o trabalho científico coletivo.

Por consequinte, não se trata de efeitos especiais inerentes ao bolchevismo, produto provável da centralização, disciplina etc., senão do problema do gênio dentro do processo histórico.

Os escritores que intetam desacreditar o bolchevismo com base em que o Partido Bolchevique teve a sorte de contar com um dirigente genial, nada fazem senão confessar sua própria vulgaridade mental.”[24]

 

Permanecendo sempre muito distante de ser adulado pela grei de todos os que alegadamente se reivindicavam como autênticos porta-vozes e defensores da causa dos trabalhadores, Lenin prestou com sua atividade perseverante e sagaz um valioso exemplo para a luta inquebrantável a ser impulsionada pelos marxistas revolucionários não apenas contra os paredros do oportunismo e do ecletismo teórico-politico, senão também contra os corifeus do indiferentismo crítico e do relaxamento organizativo, em questões relacionadas com as perspectivas de novos Outubro Revolucionários.  

 

Demonstrou que o partido revolucionário não pode cumprir jamais o seu papel histórico embriagando-se em suas próprias vitórias, deixando de reconhecer as deficiências de seu trabalho de ligação com as mais amplas massas trabalhadoras, proletárias e não proletárias, temendo tratar de seus erros e debilidades, renunciando a corrigí-los resolutamente e negando-se a dizer às massas revolucionárias o pleno conteúdo da verdade, em todas as circunstâncias, fornecendo-lhes respostas concretas a seus problemas concretos[25].

 

Em sua concepção, a educação efetiva das massas lutadoras não pode assumir jamais caráter escolástico ou acadêmico - o qual as desmoraliza e lhes insufla preconceitos burgueses-liberais, sociais-reformistas e classistas-colaboracionistas acerca da mitologia moderna das Deusas da Justiça, Igualdade e Fraternidade -, mas sim deve estar sempre integrada à sua própria luta política independente e especialmente revolucionária, posto que apenas essa é capaz de realmente formar as classes exploradas e oprimidas, desvendando-lhes a magnitude de seu próprio poder, estimulando suas habilidades e  forjando sua vontade revolucionária[26]. 

 

Por sua vez, o partido marxista-revolucionário deve aprender a descobrir, estimular, promover, dinamizar o enorme talento prático-organizativo possuído pelas próprias massas lutadoras, impedindo resolutamente que o capital e o latifúndio o golpeie, destruindo-o completamente[27].

 

Além disso, Lenin destacou serem os heróis da revolução socialista não os lutadores combatentes dos livros de ficção, mas sim os seres humanos vivos e intrépidos que, dedicando toda a sua vida à estratégia proletária historicamente revolucionária, cumprem, com energia e coragem, seu específico papel de luta, conscientes de que a tarefa colocada sob sua responsabilidade, por mais modesta e insignificante que possa eventualmente aparentar ser, possui toda sua extraordinária importância enquanto elo individual de conexão, imprescindível para o funcionamento eficiente de toda grande e vasta cadeia de forças marxistas-revolucionárias que se movem rumo à vitória da Revolução Socialista Mundial[28].   

   

No quadro de suas mais impiedosas lutas fracionais contra o social-reformismo, o social-chauvinismo, o social-pacifismo, conciliacionismo virtuoso, o oportunismo e o sectarismo de todos os matizes, Lenin posicionou-se sempre, resolutamente, em favor da concepção de que é imprescindível combinar, necessariamente, as formas legais com as formas ilegais de luta e participar, incondicionalmente, até mesmo dos parlamentos e sindicatos reacionários, bem como atuar nas fileiras de outras instituições amarradas a leis reacionárias das classes exploradoras e dominantes, enquanto não se possa cogitar da organização, preparação e deflagração de uma Insurreição Armada Proletária para a derrubada violenta do capitalismo imperialista e seus aliados[29].

 

Precisamente no acatamento desses princípios e corolários organizativos, na sua mais efetiva e resoluta implementação prática, Lenin contemplou a existência de garantias contra cisões e rupturas partidárias injustificadas, contra a formação de frações públicas oportunistas, permanentes ou virtualmente permanentes,  permitindo-se, assim, o impulsionamento de autênticas lutas teórico-ideológicas, político-programáticas, orgânico-estatutárias, estratégico-contextuais e tático-conjunturais, no quadro da mais rigorosa unidade organizativa, dotada da mais estrita e resoluta subordinação de todos os revolucionários às resoluções congressuais-partidárias[30].

 

Enquanto suprema estratégia de luta, formulada no contexto da época das modernas revoluções socialistas do proletariado do século XX, a tarefa de edificação de um partido proletário marxista-revolucionário, apto a conduzir a Revolução Socialista à vitória, seja em escala nacional, seja em escala internacional, veio a ser preponderantemente equacionada por Lenin e por ele conseqüentemente direcionada, tendo como antípoda direto as formas organizativas adotadas e fomentadas então pelos partidos da II Internacional Socialista, programaticamente degenerados em sentido social-reformista e organizativamente afrouxados em sentido oportunista, de modo inteiramente irreversível, sobretudo após a morte de Friedrich Engels, em 1895.

 

Diante disso, tal como se verá adiante, Lenin manejou a dialética de Marx e Engels sobretudo contra sua degeneração sofístico-metafísica, destituída de conteúdo revolucionário, promovida não apenas pelos próceres do socialismo da colaboração de classes nacional-chauvinista (no estilo Scheidemann, Plekhanov etc.), reformista-pacifista (Bernstein, Martinov) e paficista-democrático (Kautsky, Martov), mas também por renomados bolcheviques frente-populistas e defensistas da pátria burguesa reacionária na guerra imperialista (Stalin, Kamenev, Rykov), opositores declarados do método da insurreição armada socialista para a destruição do Estado Burguês e edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado (Kamenev, Zinoviev, Lunatcharsky, Riazanov), conciliadores de bolcheviques insurrecionais com antípodas da insurreição (Stalin, Miliutin, Sokolnikov), antagonistas da formação de um governo revolucionário exclusiva ou hegemonicamente bolchevique (Lunatcharsky, Kamenev, Riazanov), propugnadores do esquerdismo comunista, contrário ao defensismo da pátria socialista na Guerra Civil e Revolucionária com forças armadas proletárias realmente existentes e aptas a impulsioná-lo (Bukharin, Radek, Kollontai). 

 

À luz de tudo isso, sem perder de vista, porém, a extraordinária importância histórica adquirida pela organiuzação marxista-revolucionária concebida, organizada e dirigida por Lenin, Trotsky formulou o seguinte juízo crítico e perpicaz, condizente com sua imensa experiência revolucionária, desenvolvida do movimento proletário-revolucionário russo e imprescindível para todo estudo a ser empreendido relativamente ao tema em tratamento :

 

“Não se deve esquecer que a máquina política do Partido Bolchevique era composta principalmente pela intelectualidade, de origem e ambiente pequeno-burguês e marxista em suas idéias e relações com o proletariado.

Os trabalhadores que passavam a ser revolucionários profissionais uniram-se àquele grupo com muito entusiasmo e, dentro dele, perderam sua identidade.

A estrutura social peculiar da máquina do Partido e sua autoridade sobre o proletariado (ambas nada acidentais e sim ditadas por estrita necessidade histórica) foram, mais uma vez, causa da vacilação do Partido e, finalmente, converteram-se na origem de sua degeneração.

O Partido insistia na doutrina marxista que expressava os interesses históricos do proletariado em seu conjunto.

Porém, os seres humanos da máquina do Partido assimilavam apenas medidas dispersas de tal doutrina, em conformidade com sua própria experiência, relativamente limitada.

Tal como Lenin se lamentava, aprendiam mecanicamente, muitas vezes, apenas fórmulas feitas de antemão e fechavam os olhos às mudanças de situação.

Na maioria dos casos, tinham carência de diário contato independente com as massas operárias, bem como de apreciação compreensiva do processo histórico.

Assim, ficavam expostos à influência das outras classes

Durante a guerra, os próceres do Partido viram-se seriamente afetados por tendências colaboracionistas, emanadas de círculos burgueses, enquanto que os trabalhadores bolcheviques da base demonstravam uma estabilidade muito mais sólida para resistir ao histerismo patriótico que se propagava por todo o país .”[31]  

 

CAPÍTULO 1.

I CONGRESSO DE 1898

DO PARTIDO OPERÁRIO SOCIAL-DEMOCRÁTICO RUSSO (POSDR):

UM CONGRESSO FUNDACIONAL COM

TENTATIVA DE UNIFICAÇÃO,

DESPIDA DE PROGRAMA E DE ESTATUTO PARTIDÁRIOS

 

A tarefa estratégica de unificação dos inúmeros círculos e grupos russos, ativamente atuantes já no fim do século XIX, em um partido proletário marxista-revolucionário unificado foi, pela primeira vez, examinada por Lenin em seu trabalho intitulado “O que são os Amigos do Povo e como lutam contra os Sociais-Democratas”, vindo a público em 1894[32].

Já nessa sua obra, paralelamente à sua impiedosa crítica desferida contra a ideologia do terrorismo populista da “Vontade do Povo”, Lenin defendeu e desenvolveu os fundamentos mais essenciais do marxismo revolucionário e destacou que os marxistas russos deveriam, enquanto tarefa primordial de cunho organizativo, articular, a partir dos diversos círculos e grupos marxistas, um partido proletário combativo.

A fundação por Lenin da Liga de Luta para a Libertação da Classe Trabalhadora”, em 1895, representou o primeiro autêntico embrião de organização revolucionário-proletária na Rússia, cuja atividade foi manifestamente orientada para a unificação das forças marxistas do movimento dos trabalhadores daquele país.

Ainda em 1895 e 1896, encontrando-se na prisão, Lenin elaborou o primeiro Projeto de Programa do POSDR[33]. Em fins de 1897, já em seu exílio na Sibéria, redigiu a obra de caráter essencialmente programático intitulada “As Tarefas dos Sociais-Democratas Russos”, surgida, a seguir, em 1898[34].

Entretanto, a prisão e o exílio de Lenin e dos principais dirigentes de sua Liga de Luta impediram, de fato, nesse momento, o impulsionamento de adequada convocação para a realização de um amplo congresso da nova organização social-democrática russa em gestação.

Assim, em março de 1898, reuniu-se, então, o I Congresso do POSDR,  encontrando-se Lenin ainda em seu exílio siberiano, não podendo, pois, dele participar pessoalmente.

Esse I Congresso realizou-se em condições de clandestinidade, entre os dias 1° e 3 de março de 1898, na cidade de Minsk, na Bielorússia.

Nele estiveram presentes 9 delegados, representativos de 6 organizações diferentes, a saber : 4 delegados procediam respectivamente da “Liga de Luta para a Libertação da Classe Trabalhadora” de Petersburgo, Moscou, Ekaterinburgo e Kiev, 2 delegados provinham do grupo “Jornal Operário”, de Kiev, e 3 delegados representavam os sociais-democratas judeus do “Bund”.

O I Congresso foi a primeira tentativa de unificação de círculos e grupos marxistas em um autêntico partido proletário russo, sob o princípio da defesa do Direito da Auto-Determinação das Nações Oprimidas.

Ele não foi capaz, entretanto, de deliberar acerca da aprovação de um Programa Revolucionário e de um Estatuto Partidário. Sua questão fundamental estava relacionada, antes de tudo, com a tarefa de fundação de um novo organismo revolucionário-proletário unitário.

Nesse sentido, o I Congresso deliberou operar a unificação das forças locais da Liga de Luta, do Jornal Operário e do Bund em uma única organização social-democrática que veio a ser denominada “Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR)”.

Proclamando dessa maneira preponderantemente fático-organizativa, a fundação do “Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR)”, o I Congresso elegeu um Comitê Central, composto de três membros, cada qual representativo das três organizações em processo de unificação, e incumbiu esse organismo central de elaborar um “Manifesto do POSDR”, em nome do congresso.

No manifesto em referência postulou-se a tarefa de tomada do poder político pelo proletariado, omitindo-se, entretanto, a estratégia marxista-revolucionária de luta pela conquista da hegemonia por essa classe revolucionária em face de seus aliados socialmente oprimidos, no quadro da luta contra a autocracia imperial-czarista, o latifúndio e o capital.

Além disso, o I Congresso declarou ser o “Rabotchaia Gazeta (Jornal Operário)”, editado na cidade de Kiev, o órgão oficial do POSDR, ao mesmo tempo em que confirmou a “Liga dos Sociais-Democratas Russos no Exterior” enquanto sua representação internacional.

Em decorrência da prisão dos membros do recém-fundado Comitê Central do POSDR logo após o encerramento dos trabalhos congressuais e por força do fechamento da tipografia de seu órgão oficial, tornou-se impossível impulsionar concretamente as tarefas deliberadas, sendo, assim, praticamente suspensas suas atividades.

O I Congresso não logrou, pois, consolidar efetivamente a unificação pretendida e, muito menos, estabelecer um centro de conexão entre as diversas organizações locais sociais-democráticas. Também depois dos trabalhos congressuais, os comitês partidários locais permaneceram preponderantemente isolados, sem consideráveis ligações mantidas entre uns e outros. A partir das deliberações congressuais, foi viabilizada, entretanto, a dinamização de diversas atividades de propaganda revolucionária.

Entrementes, a fermentação e o latejar da luta de classes, intensificados no período posterior à realização do I Congresso, impulsionaram a expansão do movimento revolucionário russo.

Por todos os lados, levantava-se a questão acerca da fundação de uma efetiva organização marxista-revolucionária, dirigente e combativa, disciplinada por programa e estatuto revolucionários, norteada por estratégia e tática de luta unitárias, capaz de clarificar o cenário de desorientação das lutas proletárias e conferir um decisivo golpe mortal ao “economismo” oportunista, que, então, penetrava no seio das organizações dos trabalhadores russos.

No segundo trimestre de 1900, um papel decisivo na luta em prol de uma eficaz criação do partido proletário marxista-revolucionário na Rússia foi desempenhado pelo jornal “Iskra (A Centelha)”, projetado riado e  organizado por Lenin, contando com a colaboração redacional de Martov, Plekhanov, Axelrod, Potressov e Zassulitch, permeada muitas vezes por choques e atritos em importantes domínios das atividades revolucionárias marxistas[35].

“Iskra (A Centelha)” foi o principal responsável pela propulsão do processo de unificação e construção seja doutrinário, seja político, seja ainda organizativo do novo POSDR.

No quadro da I Conferência do POSDR (Conferência Preliminar), ocorrida em Genebra, em junho de 1901, adotou-se uma resolução contendo os princípios fundamentais de um acordo para a ação conjunta de todas as forças sociais-democráticas russas.

Logo a seguir, na II Conferência do POSDR (Conferência da “Unidade”), ocorrida em Zurique, entre os dias 21 e 22 de setembro, intentou-se selar a unidade entre as 5 (cinco) mais importantes organizações sociais-democráticas operárias russas, com base em princípios inquestionalmente marxistas-revolucionários[36].

Dessa conferência participaram, com efeito, as seguintes organizações, fazendo-se representarem por seus principais dirigentes no exterior : “Iskra (A Centelha) – Zaria(A Aurora)” – representada por Lenin e Martov -; “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)” – surgida em maio de 1900 e representada por Plekhanov e Axelrod, enquanto principais dirigentes do “Grupo de Emancipação do Trabalho” –; “Borba (A Luta)” – surgida em 1900-1901, em Paris, e representada por Riazanov, Steklov e I. Smirnov -, além da União dos Sociais-Democratas Russo no Exterior – fundada em 1894 por Plekhanov e com ele rompida em abril de 1900 – e o Bund.       

O processo de aproximação entre as organizações referidas foi, entretanto, abruptamente interrompido, quando artigos dos principais dirigentes da União dos Sociais-Democratas Russo no Exterior, publicados em Rabotcheie Dielo Nr. 10, de setembro de 1901, e suas propostas de emendas e adendos às resoluções a serem adotadas, demonstraram nitidamente que essa organização afastara-se substancialmente do marxismo revolucionário.

Assim, Lenin e Plekhanov, após a leitura de uma declaração de protesto e denúncia, abandonaram, resolutamente, a II Conferência do POSDR (Conferência da “Unidade”).     

Sob a iniciativa de Lenin,  “Iskra (A Centelha) – Zaria(A Aurora)” e “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)” vieram a cerrar fileiras, em outubro de 1901, dando vida à “Liga da Social-Democracia Revolucionária Russa no Exterior”.

No quadro desse complexo processo histórico, o regime fundamental de funcionamento da organização marxista revolucionária na atual época do imperialismo capitalista, enquanto partido proletário-revolucionário de novo tipo, foi aprimorado por Lenin em seus magníficos trabalhos, produzidos ao longo de 1901 e 1902, intitulados “Com o que Começar?”, “O Que Fazer?” entre outros[37], e, então, apreciado no quadro do II Congresso do POSDR, realizado entre os dias 17 de julho e 10 de agosto de 1903.

 

CAPÍTULO 2.

II CONGRESSO DE 1903 DO POSDR :

PROGRAMA E DIREÇÃO REVOLUCIONÁRIOS

 EM CONTRASTE COM UM ESTATUTO OPORTUNISTA,

EMERGÊNCIA DAS FRAÇÕES

INTERNAS BOLCHEVIQUE E MENCHEVIQUE

 

O II Congresso do POSDR realizou-se em condições de clandestinidade, entre 17 de julho e 10 de agosto de 1903, no exterior da Rússia, inicialmente na cidade de Bruxelas, na Bélgica, e, posteriormente, na cidade de Londres, na Grã-Bretanha.

Nele, fizeram-se representar 26 organizações, incluindo-se nesse número a organização de V. I. Lenin - agora convergindo em torno do jornal “Iskra (A Centelha)”, o “Grupo de Libertação do Trabalho” – encabeçado por G. V. Plekhanov -,   a “Liga Estrangeira da Social-Democracia Revolucionária Russa”, o “Liga dos Sociais-Democratas no Exterior”, o “Comitê Central e Estrangeiro do Bund”, o grupo “Sul da Rússia”, 14 comitês locais, 4 ligas sociais-democráticas e a “Organização Operária Petersburguense (Economistas)”.

Ao todo, estiveram presentes 43 delegados, dotados de 51 votos deliberativos, e 14 delegados, dotados de votos consultivos.

Cada uma das 26 organizações em tela possuía o direito de enviar ao Congresso dois delegados, porém algumas delas enviaram um único delegado, munido de dois mandatos.

A composição do II Congresso não era efetivamente homogênea.  

Os iskristas, i.e. os militantes do jornal Iskra (A Centelha) não intervieram, ao longo de todo o congresso, em perfeita unidade e sob o comando de uma única direção : além dos delegados encabeçados por Lenin  - i.e. 20 delegados, dotados de 24 votos -, encontravam-se presentes 7 delegados, munidos de 9 votos, que respondiam muito mais aos posicionamentos sustentados por Martov. Os centristas – ou o assim denominado “bolóto (pântano)” – possuíam 8 delegados, armados com 10 votos. Os declarados e abertos adversários dos iskristas detinham apenas 8 votos, entre os quais se contavam 3 adeptos do economismo e 5 membros do Bund. 

Os declarados e abertos adversários dos iskristas detinham apenas 8 votos, entre os quais contavam-se 3 adeptos do economismo e 5 membros do Bund. 

Na ordem do dia dos trabalhos do II Congresso do POSDR, elencaram-se os seguintes pontos :

 

1)    Formação do Congresso. Eleição do Bureau. Estabelecimento do Regulamento do Congresso e da Ordem do Dia. Relatório do Comitê Organizativo (CO) e Eleição da Comissão para Definição da Composição do Congresso.

2)    Posição do Bund no POSDR.

3)    Programa do Partido.

4)    Órgão Central do Partido.

5)    Relatórios dos Delegados.

6)    Organização do Partido. Estatuto do Partido.

7)    Organizações Regionais e Nacionais.

8)    Grupos Especiais do Partido.

9)    Questão Nacional.

10) Luta Econômica e Movimento Sindical.

11) Comemoração do 1° de Maio.

12) Congresso Socialista Internacional de Amsterdã de 1904.

13) Manifestações e Levantes. 

14) Terrorismo.

15) Questões Internas do Partido Operário.

a. Organização da Propaganda.

b. Organização da Agitação.

c. Organização da Literatura do Partido.

d. Organização do Trabalho entre os Camponeses.

e. Organização do Trabalho entre nas Forças Armadas.

f. Organização do Trabalho entre os Estudantes.

g. Organização do Trabalho entre os Seminaristas.

     16) Relação do POSDR com os Socialistas-Revolucionários(SRs.)

     17) Relação do POSDR com as correntes liberais russas.

     18) Eleição do Comitê Central e da Redação do Órgão

           Central(OC).

     19) Eleição do Conselho do Partido.

     20) Regime das Proclamações das Decisões e Protocolos do

           Congresso e, igualmente, Regime de Apresentação de

           Comunicados das Declarações das Pessoas e Órgãos

           Responsáveis Eleitos.

 

A despeito da ampla maioria iskrista, exercida no II Congresso nos debates dos primeiros pontos da ordem do dia, bastou que uma cisão se operasse entre eles, na apreciação do Ponto 6. Organização do Partido. Estatuto do Partido, produzindo dois agrupamentos distintos, encabeçados respectivamente por Lenin e Martov, para que esse último, Martov, com o auxílio dos centristas do pântano e dos abertos adversários das posições do Iskra (A Centelha), lograssem imprimir uma linha manifestamente oportunista, no domínio estatutário-organizativo do novo partido em efetiva formação.

Lenin e seus adeptos foram, em verdade, os únicos a desenvolver, ao longo dos trabalhos congressuais, uma luta conseqüentemente implacável e principista, seja contra o social-reformismo programático, seja contra o oportunismo organizativo, postulando, eficazmente, uma orientação essencialmente revolucionária para o novo partido russo, em todos os pontos previstos para compor a ordem do dia dos trabalhos congressuais.

Com efeito, Lenin, situado à cabeça das atividades do Iskra (A Centelha), havia impulsionado, anteriormente, um trabalho colossal de preparação do novo congresso, dinamizando a unificação dos círculos e grupos sociais-democráticos russos sobre a base dos princípios programáticos e estatutários, estratégicos e táticos de Marx e Engels.

A mais expressiva tarefa colocada diante do II Congresso do POSDR consistia, sem qualquer margem de dúvida, em criar um novo partido efetivamente atuante e essencialmente fundado nos princípios doutrinários e organizativos, postulados e difundidos pela direção leninista do Iskra (A Centelha).

Assim, a questão de maior dimensão elencada na ordem do dia do II Congresso do POSDR estava diretamente relacionada com o Ponto 3 da ordem do dia, pois, com a adoção do Programa do POSDR seria possível dotar-se a classe trabalhadora russa de um autêntico instrumento de luta marxista-revolucionário.

Nesse sentido, cumpre assinalar que o projeto de programa, apresentado ao congresso, foi aquele precisamente elaborado por Lenin e Plekhanov, em diametral oposição a todos os outros programas partidários de natureza essencialmente social-reformista, acolhidos então, em nível congressual, pelas mais diversas organizações filiadas a II Internacional Socialista.

Cumpre destacar, em letras garrafais, que esse mesmo II Congresso do POSDR acolheu, em seu Programa Partidário, redigido por Lenin e Plekhanov, categoricamente e pela primeiríssima vez na história do movimento mundial dos trabalhadores a consigna expressa da luta a ser deflagrada em prol da “Ditadura do Proletariado”, definida, então, enquanto sua conquista do poder político e como condição indispensável para a revolução social, fazendo-o em pleno contraste com os até existentes programas da Social-Democracia Alemã, bem como dos demais partidos da II Internacional Socialista[38].     

O referido projeto de programa de Lenin e Plekhanov era composto de duas partes essenciais, a saber :

 

Parte A. Programa Máximo. 

Parte B. Programa Mínimo.

 

Na Parte A. Programa Máximo, o projeto de programa dispunha acerca das tarefas centrais do partido revolucionário da classe trabalhadora, em sua luta pela Revolução Socialista, pela derrubada do poder dos burgueses e latifundiários e pela instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado, fase de transição para a edificação de uma sociedade socialista, sem classes e sem Estado.

Na Parte B. Programa Mínimo, o projeto do programa prescrevia as tarefas imediatas do partido, em sua luta pela derrubada da autocracia czarista-imperial, instauração de uma República Democrática, introdução da jornada de trabalho de 8 horas para os trabalhadores, erradicação de todos os resquícios de servidão no campo, devolução aos camponeses das terras que lhes haviam sido subtraídas pelos latifundiários.    

Essa última reivindicação programática haveria de ser, em seguida, modificada por Lenin e seus adeptos pela exigência de confiscação de todas as propriedades latifundiárias.

O projeto de programa de Lenin e Plekhanov foi visceralmente combatido pelos delegados bundistas e defensores do economismo.

Adversários da estratégia de luta marxista-revolucionária, contida no projeto de programa em referência, uns e outros insurgiram-se, em primeiro lugar, contra a formulação de consignas programáticas máximas de Revolução Socialista e Ditadura Revolucionária do Proletariado, alegando ser essa ditadura inteiramente incompatível com a natureza da democracia em geral e com os princípios adotados nos programas dos principais partidos da II Internacional Socialista.

Ao mesmo tempo, os delegados bundistas e adeptos do economismo exigiam permanecesse excluída do programa a questão camponesa, na medida em que não entreviam ser absolutamente necessária a luta pela constituição de uma aliança do proletariado com o campesinato.

Além disso, os delegados bundistas e diversos delegados poloneses, inspirados pelas concepções de Rosa Luxemburgo, opuseram-se ao acolhimento da consigna programática fundamental relativa à defesa do Direito de Auto-Determinação das Nações Oprimidas, menosprezando o fato de que precisamente essa consigna capacitava a classe trabalhadora e seus aliados a luta contra a opressão imperialista e assegurava a educação das massas proletárias no espírito do internacionalismo marxista-revolucionário.

Lenin interviu, por diversas vezes, no quadro do II Congresso, em defesa do projeto de programa.

No contexto de uma luta resoluta de todos os iskristas e alguns centristas do pântano foi obtida uma grandiosa vitória política : o II Congresso acolheu, por ampla maioria de votos, o seu primeiro programa partidário, precisamente em conformidade com a redação formulada por Lenin.

O Programa Revolucionário do POSDR em referência converteu-se na principal plataforma de luta da classe trabalhadora russa, nos anos subseqüentes.

Ele assegurou ao proletariado daquele país uma autêntica formação marxista-revolucionária e forneceu o denominador comum em torno do qual o POSDR uniu a classe trabalhadora, unificou-a com o campesinato e os demais oprimidos, em sua luta contra a autocracia, o latifúndio e o capital.

Precisamente esse Programa do POSDR, formulado segundo a redação de Lenin, permaneceu válido, em linhas gerais, até o VIII Congresso do Partido Comunista Russo (Bolchevique), ocorrido em 1919, em cuja ocasião foi adotado um novo programa, condizente com a novo contexto histórico.

Após a adoção do Programa do POSDR, o II Congresso em referência avançou rumo à análise do Projeto de Estatuto do Partido, o qual deveria assegurar uma efetiva resposta organizativo-revolucionária ao aventureirismo, ao inorganicismo e ao espírito de círculo, à desordem e à ausência de firme disciplina partidária.

Nos trabalhos do II Congresso do POSDR, Lenin interviu seja com a apresentação de seu informe sobre o Projeto de Estatuto, seja com dois pronunciamentos acerca do tema[39].

Em seu projeto, resultaram nitidamente ancorados os mais relevantes princípios do regime de funcionamento de uma organização marxista revolucionária na atual época do imperialismo capitalista, em cujo ápice situa-se o centralismo democrático das atividades do partido disciplinado e combativo.

O mais importante aspecto dos debates acerca da questão estatutária relacionou-se com a formulação do Parágrafo Primeiro do Estatuto, que definiu as condições de apartenência dos militantes revolucionários ao POSDR.      

A formulação de Lenin do Parágrafo Primeiro continha as seguintes disposições:

 

“1. É considerado membro do Partido aquele que aceita o Programa do Partido e apóia o Partido, seja com meios financeiros, seja com sua participação pessoal em uma das organizações partidárias.[40]

 

Essa formulação de Lenin foi apoiada não apenas por seus adeptos iskristas, senão ainda por Plekhanov. 

D’outro lado, opondo-se à redação desse parágrafo na forma retro-indicada, Martov formulou uma proposição de filiação partidária que, embora considerando o reconhecimento do programa e o apoio material enquanto condições indispensáveis à militância no POSDR, repudiava, abertamente, o critério de participação pessoal em uma das organizações partidárias.

Martov propunha que os membros – na sua peculiar dicção os filiados do POSDR -, poderiam, até mesmo, não possui participação em nenhuma das organizações partidárias.

Nesse sentido, defendeu que a condição de participação pessoal em uma dessas organizações fosse substituído pelo critério de realização de trabalhos sob o controle do Partido.

Assim, na versão de Martov, a redação do Parágrafo Primeiro do Estatuto haveria de assumir a seguinte forma :   

 

“I. Filiação ao Partido. -

1. Considera-se filiado ao Partido Operário Social-Democrático Russo todo aquele que, reconhecendo o seu programa, trabalha ativamente para executar suas tarefas, sob controle e direção dos órgãos do Partido.”[41]

 

A formulação de Martov foi, candentemente, defendida, naquela época, por seus adeptos iskristas, Axelrod, Zassulitch, Trotsky e por todos os demais delegados centristas do pântano, bundistas e adeptos do economismo.

Em contraste com a redação do Parágrafo Primeiro do Estatuto de Lenin, a proposição de filiação de Martov permitia, inexoravelmente, a mais ampla abertura das portas do POSDR a todos os elementos oscilantes e não proletários.      

Nessas diferentes formulações do Parágrafo Primeiro do Estatuto do POSDR encontram-se, em verdade, expostas, de maneira lapidar, duas concepções diametralmente opostas de organização de partidos da classe trabalhadora : a de Lenin, uma concepção genuinamente marxista-revolucionária, a de Martov, uma concepção essencialmente oportunista.

Lenin considerava o partido proletário como um destacamento revolucionário-orgânico, cujos membros não aderiam, por si mesmo, a ele, mas sim eram por ele admitidos para atuarem em uma de suas organizações partidárias, subordinando-se sempre à sua disciplina, ao passo que Martov entrevia o partido proletário como algo nem sempre claramente delineado em sentido organizativo, cujos membros a ele aderiam, por força de suas próprias vontades individuais, não estando obrigados a subordinar-se à qualquer disciplina partidária, enquanto não ingressassem em uma de suas determinadas organizações partidárias.

Fundando em sua concepção, Martov diluía todos e quaisquer limites discriminatórios entre o partido revolucionário e a classe trabalhadora, propondo conceder direito de filiação partidária a todo grevista e ativista político, que se declarasse a si mesmo como membro do partido e atuasse sob seu controle.

De modo inteiramente distinto, Lenin visualizava na organização marxista-revolucionária do proletariado o corpo de tropa avançado do proletariado, que unificava, em suas fileiras, os elementos mais conscientes, abnegados e disciplinados da classe trabalhadora.

Por essa razão, o partido haveria de sempre possuir conhecimento acerca do número de seus membros, estando consciente acerca do fato de ser composto apenas pela minoria do grande número de componentes do proletariado, considerado como um todo.

Precisamente nesse sentido, Lenin defendeu, em suas intervenções junto ao II Congresso acerca do Estatuto do POSDR, dever o partido representar apenas o centro dirigente, bem como o destacamento avançado e organizado das grandes massas da classe trabalhadora, as quais trabalhariam sim, em seu conjunto (ou em quase todo o seu conjunto), sob a direção e o controle das organizações partidárias, não podendo e não devendo, porém, ingressar em seu conjunto no interior do partido.

Para os membros do partido haveria de ser obrigatório, segundo Lenin, sua atuação participativa em uma das organizações partidárias e sua intervenção ativa na luta de classes e no trabalho de construção do partido revolucionário.

Precisamente essa participação ativa seria capaz de assegurar ao partido a direção e o controle efetivos das atividades de cada um de seus membros.

O partido proletário revolucionário deveria ser projetado como um sistema de organismos partidários, agindo segundo um plano comum, adotado com no centralismo democrático e implementado, com a mais resoluta disciplina, tendo em conta o princípio da unidade do partido.

Com base em sua redação do Parágrafo Primeiro do Estatuto do POSDR, Lenin deflagrou o início de uma luta permanente em prol da nitidez organizativo-partidária e contra o amontoamento, em suas fileiras, de elementos oscilantes e oportunistas.

Segundo Lenin, a tarefa central dos revolucionários do POSDR seria custodiar a firmeza, a disciplina e o vigor do partido revolucionário da classe trabalhadora, elevando, constantemente e cada vez mais, o profissionalismo e o conhecimento marxista dos membros do partido.

A luta de Lenin e de seus adeptos iskristas, travada no seio do II Congresso em torno da redação do Parágrafo Primeiro do Estatuto do POSDR, demonstrou, inequivocamente, que todos eles lutavam pela estruturação de um partido marxista-revolucionário, democraticamente disciplinado e centralizado, enquanto Martov e seus seguidores, pela engenharia de um partido disforme, frouxo, hesitante, irresoluto, incapaz de conduzir à vitória o proletariado e seus aliados em sua luta pela Revolução Socialista e a edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado.

Entretanto, Martov foi capaz de reunir em torno de sua formulação todos os elementos centristas e oportunistas, de modo a obter, no II Congresso, a maioria necessária à aprovação do Parágrafo Primeiro do Estatuto do POSDR, em conformidade com sua redação : 28 votos foram proferidos em favor da formulação de Martov e apenas 22 em favor da de Lenin, registrando-se, ainda, um voto de abstenção.

Todos parágrafos restantes do projeto de estatuto de Lenin foram aprovados por maioria de votos.

No entanto, a partir desse momento, cabe destacar que o II Congresso passou a ser caracterizado pela luta de Lenin e dos bolcheviques contra o inorganicismo oportunista da fração menchevique, de modo a conduzir, inicialmente, ao nascimento de duas frações interno-partidárias distintas – a fração bolchevique, integrada, então, por Lenin, Krassin, Bogdanov, Lunatcharsky, Bubnov, Artiom, Enukidze, Kalinin, Kamenev, Krestinsky, Krupskaya, Lashevitch, Litvinov, Lozovsky, Manuilsky, Mejinsky, Muralov, Muranov, Noguin, Ordjonikidze, Petrovsky, Piatnitsky, Podvoisky, Rykov, Skrypnik, I. Smirnov, Schaumian, Schliapnikov  Solts, Sosnovsky, Stassova, Steklov, Stutchka, Sverdlov, Teodorovitch, Tsiurupa, Voroshilov, Voronksy, Vorovsky, Zinoviev, entre outros e a fração menchevique, composta, naquele tempo, por Martov, Plekhanov, Dan, Potressov, Axelrod, Zassulitch, Jordania, Strumiline, Deich, Tsereteli, Trotsky, Antonov-Oveseienko, Uritsky e seus seguidores.

Por fim, relativamente aos trabalhos do II Congresso do POSDR de 1903, importa anotar que, após o acolhimento do programa e do estatuto partidários, acolheram os delegados presentes um série de decisões relativas às questões táticas, sindicados e manifestações públicas.

Entretanto, após a ruptura dos iskristas, motivada pela formulação do Parágrafo Primeiro do Estatuto, a luta deflagrada no seio do II Congresso adquiriu contornos cada vez mais ásperos e contraditórios.

O II Congresso acolheu, ainda, uma resolução acerca da relação a ser mantida com os socialistas-revolucionários (SRs), na qual se afirmou nada serem esses últimos senão uma fração da burguesia democrática.

Por essa razão, resultou aprovada a condenação de toda e qualquer tentativa de obscurecer as diferenças principistas e políticas, existentes entre a Social-Democracia Russa e os socialistas-revolucionários(SRs).

No que diz respeito à postura em face da burguesia liberal russa, foram apresentadas duas proposições :

 

a.    uma proposição de Lenin e Plekhanov.

b.    outra proposição de A. Potressov.

 

A proposição Lenin-Plekhanov ressaltava, sobretudo, a tarefa de lutar por desmascarar perante as massas a sonolência e o temor da burguesia liberal russa.

A proposição de A. Potressov, em conformidade com o espírito programaticamente social-reformista e estatutariamente oportunista que vicejava em parte considerável do Congresso, defendeu a concepção de colaboração da classe trabalhadora com a burguesia liberal, no quadro das lutas contra autocracia.

Vacilante,  o Congresso foi incapaz de decidir-se, claramente, em favor de uma dessas proposições, de modo que ambas acabaram sendo acolhidas, em conformidade com a idéia de que seriam compatíveis as duas entre si.

Na medida em que não se acolhera, nas disposições do Estatuto do POSDR, o reconhecimento da Liga Estrangeira da Organização Operária Petersburguense (Economistas) enquanto representante do partido no exterior, 2 delegados adeptos do economismo abandonaram o Congresso, em sinal de protesto.   

A seguir, 5 delegados bundistas fizeram o mesmo, em vista de ter sido rejeitado o ultimato formulado pelo Bund, no sentido de dever o II Congresso reconhecê-lo enquanto único representante do proletariado judaico.

O abandono de 7 delegados oportunistas modificou, então, a correlação de forças congressuais, em favor dos adeptos das posições de Lenin.

No momento das eleições para a composição das instituições centrais do POSDR, Martov exigiu fosse assegurada a maioria de seus seguidores, seja na redação do Iskra (A Centelha), seja no Comitê Central do Partido.

Tendo transitado a maioria do congresso para as posições leninistas, foi acolhida, porém, a proposta de Lenin de eleição para a Redação do Órgão Central de três membros, a saber : Lenin, Plekhanov e Martov, bem como de composição do Comitê Central com os adeptos das posições leninistas.

A votação acerca da composição das instituições centrais do POSDR fortaleceu a vitória das posições de Lenin.

Desde então, os adeptos de Lenin, havendo adquirido a maioria nas eleições para os órgãos centrais do partido, vieram a ser denominados de bolcheviques, ao passo que seus adversários, receberam a designação de mencheviques.

Em vista de todo o exposto, é possível afirmar-se, resumidamente, que o II Congresso do POSDR representou, em linhas gerais, um passo lendário na trilha do fortalecimento do marxismo revolucionário na Rússia  e em todo o mundo contra o economismo e o social-reformismo programático, ainda que, no domínio mais complexo e intricado das questões estatutárias, não tenha sido capaz de imprimir uma categórica derrota ao oportunismo organizativo, a despeito de tê-lo candentemente desmascarado em suas pretensões mais torpes e efetivamente reduzido a sua influência, no seio dos órgãos centrais de direção do partido.

Ele demonstrou que, ao lado dos velhos colaboracionistas de classes, i.e. no lugar dos sociais-reformistas economistas, surgia, agora, em na disputa pelo direcionamento do movimento das massas proletárias e dos oprimidos de todo gênero, um novo fenômeno, expressado através do oportunismo na organização do partido da classe trabalhadora, i.e. o menchevismo, em sua embrionária forma existencial, destinada a degenerar-se cada vez mais, em todos os sentidos.

De toda sorte, o II Congresso do POSDR representou uma vitória para a luta dos trabalhadores russos e seus aliados na medida em que logrou fazer estabelecer um programa, um estatuto e uma direção orgânica - o que havia-se revelado inteiramente impossível no contexto do I Congresso do POSDR de 1898 -, e, dessa forma, estabeleceu os parâmetros fundamentais para a intervenção unitária do partido na luta de classes.

Tendo contribuído, porém, para colocar às claras importantes diferenças de concepção organizativa do regime de funcionamento da organização marxista-revolucionária, o II Congresso do POSDR conduziu a uma divisão em duas grandes partes de suas fileiras, abrindo o período para o surgimento de um sistema essencialmente dual de frações públicas : a fração pública dos bolcheviques e a fração pública dos mencheviques.   

Tal como será possível verificar-se a seguir, a primeira dessa frações, tendo a sua frentes Lenin, pautou-se, permanentemente, pela defesa dos princípios organizativos do marxismo revolucionário, ao passo que a segunda, encabeçada por Martov, projetou-se, irremediavelmente, no caminho sem retorno do oportunismo, em seus mais diversos matizes existenciais.

 

CAPÍTULO 3.

O SURGIMENTO EM 1903 - 1904

DA FRAÇÃO PÚBLICA BOLCHEVIQUE E DO

SISTEMA DE FRAÇÕES NO INTERIOR DO POSDR

 

Ainda no curso do II Congresso de 1903, é possível atestar-se o surgimento de duas principais frações antagônicas do POSDR : a fração dos bolcheviques - defensores atentos do marxismo revolucionário, seja no domínio programático, seja no estatutário -, e a fração dos mencheviques – reformista, no domínio programático, e oportunista, no campo estatutário.

Essas duas frações ainda não possuíam um caráter eminentemente público.

O sistema de frações dos sociais-democratas russos – composto, porém, preponderantemente pelas frações públicas dos bolcheviques e dos mencheviques – que viria a existir a seguir, haveria de constituir, durante 9 anos, i.e. de fins de 1903 – início de 1904 até fins de 1911 – início de 1912, uma característica marcante de todo um período histórico da luta em prol da construção de um partido marxista-revolucionário naquele país.

Pois, a cisão verificada no II Congresso do POSDR expandiu-se, com certas mediações, porém sempre mais progressivamente, já nos meses subseqüentes, conduzindo à transformação do fracionalismo interno-partidário existente em fracionalismo público, viabilizado seja pela irrevogável renúncia de Lenin ao cumprimento de seus deveres como membro do Conselho do Partido e da Comissão Editorial do Iskra e denúncia aberta das posições organizativo-oportunistas do Novo Iskra, em fins de 1903 e início de 1904[42], seja pelo aparecimento do jornal semanal bolchevique clandestino “Vperiod(Avante)”, a partir de 22 de dezembro de 1904 – contando com a redação de Lenin, Vorovsky, Olminsky e Lunatcharsky -, seja pelo surgimento entre bolcheviques e mencheviques de substanciais e insuperáveis diferenças políticas relativas à tática política a ser dinamizada no quadro revolução russa em desenvolvimento[43], seja ainda pela rejeição dos mencheviques a participaram do III Congresso do POSDR, cuja organização recaiu nas mãos dos bolcheviques, encabeçados por Lenin[44].

Seria, entretanto, apenas no quadro do III Congresso do POSDR, ocorrido em 1905, que a redação leninista do Parágrafo Primeiro do Estatuto viria a ser consagrada exitosamente, com ampla maioria de votos.

Precisamente no período inter-congressual de 1903 a 1905, é que Lenin veio, então, a dedicar-se, em sua renomada obra, intitulada “Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás”, de 1904, à clarificação da essência social do oportunismo russo e internacional, no domínio das questões relativas ao regime de funcionamento da organização marxista-revolucionária, desenvolvendo uma crítica acerba contra o menchevismo, nas questões estatutário-organizativas, ao mesmo tempo em que formulou, doutrinariamente, os fundamentos principistas do partido de novo tipo da atual época do imperialismo capitalista[45].

 

 

 

CAPÍTULO 4.

LENIN E LUXEMBURG :

DUAS CONCEPÇÕES ANTAGÔNICAS

RELATIVAS À QUESTÃO ORGANIZATIVA

DO PARTIDO REVOLUCIONÁRIO

 

No domínio da luta de classes internacional do proletariado, deve-se, adicionalmente, ressaltar que uma excelente e profundamente séria expressão dos contrastes e divergências existentes entre a defesa dos princípios organizativos marxistas-revolucionários - formulados e defendidos por Lenin -, e aqueles de natureza manifestamente oportunista - reivindicados, de maneira geral, não apenas pelos mais célebres representantes sociais-reformistas da II Internacional Socialista, senão ainda por muitos revolucionários autenticamente marxistas-proletários que, entretanto, diante daqueles abertamente capitulavam em questões de construção da organização marxista autenticamente revolucionária, de modo a aderir ao menchevismo russo – são os artigos polêmicos produzidos, de um lado, por Lenin e, d’outro lado, por Luxemburg, datados do período imediatamente posterior à realização do II Congresso do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR)[46].      

O presente estudo já teve a oportunidade de assinalar, em sua introdução, que, aos olhos de Lenin, mesmo tendo Rosa Luxemburg cometido inúmeros erros conceituais e analíticos, haveríamos de considerá-la, sempre e permanentemente, como uma águia do marxismo revolucionário.

Particularmente no que tange ao domínio da organização marxista-revolucionária, Lenin assinalou, justa e precisamente, que Rosa equivocou-se em 1903, na apreciação do menchevismo.

Equivocou-se também, quando, em julho de 1914, ao lado de Plekhanov, Vandervelde, Kautsky, entre outros, aspirou à unificação dos bolcheviques com os mencheviques.  

Pronunciando-se, sumariamente, acerca dessa temática, Lenin teve a oportunidade de evidenciar, nítida e ponderadamente, os diversos equívocos de Luxemburg, particularmente manifestados no domínio da organização do partido revolucionário e das lutas fracionais :

 

Paul Levi quer agora cair nas graças da burguesia – e, conseqüentemente, de seus agentes, a II Internacional e II ½ Internacional – através da republicação precisamente daqueles escritos de Rosa Luxemburg em que ela se encontrava equivocada.

Devemos responder a isso, citando duas linhas de uma boa velha fábula russa: “As águias podem, às vezes, voar mais baixo do que as galinhas, porém as galinhas não podem jamais subir às alturas das águias.”(EvM.: a fábula em referência é de autoria de Ivan Krylov).

Rosa Luxemburg equivocou-se na questão da independência da Polônia.

Equivocou-se, em 1903, em sua apreciação do menchevismo.

Equivocou-se na teoria da acumulação do capital.

Equivocou-se quando, em julho de 1914, juntamente com Plekhanov, Vandervelde, Kautsky e outros, defendeu a unificação dos bolcheviques com os mencheviques.

Equivocou-se em suas anotações redigidas no cárcere de 1918 (nesse sentido, corrigiu a maioria de seus erros, depois de abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919).

Porém, apesar de todos os seus erros, Rosa foi e permanece sendo uma águia.

E não apenas os comunistas de todo o mundo irão velar pela sua memória, porém sua biografia e suas obras completas (a publicação das quais está sendo incomensuravelmente retardada pelos comunistas alemães que podem apenas ser em parte desculpados por conta das tremendas perdas que estão sofrendo em sua severa luta) servirão como úteis manuais para o treinamento de muitas gerações de comunistas em todo o mundo.

«Desde 4 de agosto de 1914, a Social-Democracia Alemã tornou-se um cadáver fedorento », essa declaração há de tornar famoso o nome de Rosa Luxemburg na história do movimento da classe operária internacional.

E, naturalmente, no pátio traseiro do movimento da classe operária, entre os montes de esterco, galinhas como Paul Levi, Scheidemann, Kautsky e toda aquela sua fraternidade, vão piar sobre os erros cometidos pela grande comunista.      

A cada pessoa deve-se dar o que lhe pertence.”[47]

 

Apreciando, resgatando e defendendo, devidamente, a tradição essencialmente marxista de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, apesar de seus tantos equívocos, porém sempre comprometidos, antes e acima de tudo, com a perspectiva de organização da revolução violenta do proletariado para a edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado na Alemanha, Lenin afirmou, solenemente, em seu Discurso de Abertura do I Congresso do Komintern :

 

„Em nome do Comitê Central do Partido Comunista da Rússia declaro aberto o I Congresso da Internacional Comunista. Em primeiro lugar, peço a todos os presentes que se levantem de suas cadeiras em memória dos melhores representantes da III Internacional : Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg.“[48]

 

Essas palavras de Lenin, relacionadas com sua interpretação do papel histórico de Liebknecht e Luxemburg, enquanto os melhores representantes da Internacional Comunista, deveriam, em princípio, servir, por si mesmas, como um látego desferido frontalmente contra as desavergonhadas tentativas doutrinárias dos principais ideólogos franco-gramscianos de Actuel Marx e do Secretariado Unificado (SU-QI), voltadas a transformar Rosa Luxemburg em uma social-oportunista vulgar, que carrega, eternamente, consigo, no caminho da luta pelo socialismo, a auréola santificada da defesa de fórmulas de liberdade essencialmente democrático-burguesas[49].

Nesse sentido, destaque-se, entretanto, à guisa de exemplo, entre os diversos e renomados textos de Rosa Luxemburg, aquele intitulado E Pela Terceira Vez o Experimento Belga, vindo à luz já em 4 de junho de 1902, quando essa autora teve a oportunidade de escrever, de modo incorruptivelmente claro, contra os legalistas belgas, i.e. Émile Vandervelde e outros :

 

 „Entretanto, não por predileção às ações violentas ou ao romantismo revolucionário devem os partidos socialistas, mais cedo ou mais tarde, estar preparados também para embates violentos com a sociedade burguesa, em casos em que nossas aspirações se direcionem contra os interesses vitais das classes dominantes, senão em razão também da amarga necessidade histórica.

O parlamentarismo enquanto meio de luta político da classe trabalhadora, individualizador do espírito, é tão fantástico e, em primeira linha, reacionário, como o é a greve geral, individualizadora do espírito, ou a barricada, individualizadora do espírito. Evidentemente, a revolução violenta é, nas condições atuais, um meio de dupla-face, aplicável de modo extremamente difícil.

E podemos esperar que o proletariado apenas faça uso desse meio quando se apresentar o único caminho adequado para sua implementação e, evidentemente, apenas em condições em que a situação política de conjunto e a relação de forças assegurem, mais ou menos, a probabilidade de êxito.

Porém, a concepção clara da necessidade da aplicação da violência, seja nos episódios individuais da luta de classes seja para a conquista definitiva do poder de Estado é nisso, de antemão, imprescindível. Ela representa aquilo que consegue conferir também à nossa atividade legal, pacífica, a apropriada ênfase e efetividade.“[50]

 

Com efeito, em sua luta contra a falsificação política da consigna contida no Programa de Erfurt relativa à „conquista do poder político“, falsificação essa empreendida pelos marxistas-revisionistas e sociais-reformistas do Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD), representados, antes de tudo, por Eduard Bernstein, Conrad Schmidt e Karl Kautskye, em parte, também por Wilhelm Liebknecht que renegava a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do Proletariado para o atingimento do socialismo – admitindo-a apenas como medida excepcional em caso de guerras – escreveu Luxemburg, já em 1903, de modo claro e preciso :

 

„Partindo do fundamento do socialismo científico de que „a libertação da classe trabalhadora pode ser apenas obra da classe trabalhadora“, a Social-Democracia reconhece que subversão, i.e. a revolução para concretização da reconformação socialista, pode ser realizada apenas pela classe trabalhadora enquanto tal, e, em verdade, enquanto a ampla massa propriamente, sobretudo a massa do proletariado industrial.

A primeira ação da transformação socialista tem de ser, portanto, a conquista do poder político através da classe trabalhadora e a edificação da Ditadura do Proletariado, necessária incondicionalmente à materialização das medidas de transição.“[51]

 

O assassinato de Luxemburg e Liebknecht, em 1919, pela Social-Democracia Alemã e seus aliados políticos e militares burgueses representou um evento de significado histórico-mundial não apenas porque, segundo Lenin :

 

 Os melhores dirigentes da Internacional Comunista foram exterminados, senão ainda por ter-se revelado, definitivamente, o caráter de classe de um Estado Europeu desenvolvido, podendo-se dizer, sem exagero, o caráter de classe de  um Estado desenvolvido em escala mundial. ... „Liberdade“ significa em uma das repúblicas mais livres e desenvolvidas do mundo, na República Alemã, a liberdade para assassinar impunemente os dirigentes presos do proletariado.“[52]

 

Torna-se, pois, nos dias de hoje, cada vez mais necessário, resgatar-se e defender-se, devidamente, a tradição essencialmente marxista de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, comprometida, antes e acima de tudo, com a perspectiva de organização da revolução violenta do proletariado para a edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado.

Quando em 1911, o célebre politólogo alemão, Robert Michels, elaborou sua obra clássica, intitulada Sociologia do Sistema de Partidos na Democracia Moderna. Investigações acerca das Tendências Oligárquicas da Vida em Grupo, tratando preponderantemente, dos partidos políticos e de sua forma de organização, não se referiu, entretanto, por uma única vez, a Lenin ou a Trotsky, ao passo que mencionou, pelo contrário, no mínimo, por dez vezes, o nome de Rosa Luxermburg.[53]      

Lenin  deslocou-se para os países da Europa Ocidental, em 1900, proveniente de seu exílio na Sibéria, poucos anos depois da chegada de Luxemburg nessa área geográfica do continente europeu.

Seus livros, suas anotações, suas brochuras, suas concepções partidário-organizativas, redigidas originalmente em língua russa, permaneceram, nada obstante, sendo pouco conhecidas da militância socialista-revolucionária do ocidente, durante longos anos[54].

Um debate mais profundo acerca dos critérios defendidos por Lenin relativamente à teoria de organização do Partido revolucionário foi, de início, estritamente restrito aos pouquíssimos especialistas da vanguarda do socialismo europeu-ocidental, que possuíam laços especiais com a causa da luta de classes travada na Rússia Czarista.     

Entretanto, sua concepção de Partido conquistou, desde logo, uma grande atenção, em particular, junto aos agrupamentos revolucionários da Europa do Leste, por conformar-se ela como sendo o próprio cerne do bolchevismo leninista.

Quando a avançada teoria da organização do Partido revolucionário de Lenin, elaborada já nos primeiros anos do século XX, começou a encontrar sua aplicação prático-concreta, contando com o apoio de uma grande parte de russos socialistas emigrados ou politicamente asilados na Europa Ocidental, passou a ser amplamente debatida não apenas pelos sociais-democratas russos, senão ainda por militantes poloneses, letões, caucasianos, bem como pelo membros judeus do Bund.     

No II Congresso do Partido Social-Democrático Russo (POSDR), ocorrido em 1903, nas cidades de Bruxelas e Londres, processou-se, então, a cisão entre bolcheviques (adeptos da fração da maioria) e mencheviques (adeptos da fração da minoria), relacionada essencialmente com a questão da organização estrutural do Partido, dando início a um sistema de frações públicas.

Se essa ruptura e os incontáveis artigos e polêmicas relacionados com a questão da teoria de organização do Partido revolucionário encontrou, logo a seguir, apenas pequena repercussão entre os socialistas europeus do ocidente, verificar-se-ia precisamente o contrário entre os marxistas-revolucionários provenientes do ou politicamente ativos no Leste Europeu.

Entre esses últimos, encontrava-se, então, Luxemburg, enquanto militante engajada e proveniente da organização revolucionária polonesa da II Internacional Socialista, i.e. o Partido Social-Democrático do Reino da Polônia e Lituânia (PSDRPL).

Se tanto Luxemburg como Lenin eram efetivamente refugiados políticos, perseguidos pelo despotismo czarista, certo é o fato de que Lenin incorporou, conseqüentemente, em sua atividade militante-partidária, sempre uma orientação fundamentalmente norteada para a deflagração de processos revolucionários na Rússia, uma longa e intensiva experiência histórica de ação clandestina e insurrecional.

A presença de Lenin nas diversas localidades e cidades da Europa Ocidental em que viveu, ao longo de praticamente 15 anos, era impulsionada, essencialmente, tendo como base as necessidades do trabalho de sua organização revolucionária russa. 

O atento e altamente cultivado estudo do socialismo europeu-ocidental era empreendido detidamente por Lenin, tomando, porém, constantemente em consideração suas implicações para o movimento revolucionário de seu país.

Lenin não contava com aspirações de militância estruturada, de longo-prazo, em um Partido europeu-ocidental.  

Pelo contrário, Luxemburg, depois de sua fuga do território polonês, aspirava a intervir, centralmente, em um Partido de massas legal da Europa Ocidental, precisamente na Alemanha, enquanto seguia, também, suas atividades revolucionárias, paralelamente, no território da Polônia.

Hanecki e Warski, delegados poloneses ao II Congresso do Partido Social-Democrático Russo (POSDR), de 1903, e, ao mesmo tempo, representantes do Comitê Central do Partido Social-Democrático do Reino da Polônia e Lituânia (PSDRPL) a que pertencia Luxemburg, informaram-lhe, detalhadamente, acerca da polêmica introduzida por Lenin relativamente à teoria de organização do Partido revolucionário.

Com base nessas minuciosas informações, Luxemburg fez publicar, no ”Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, órgão  jornalístico do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), em 1904, o artigo intitulado Questões de Organização da Social-Democracia Russa, atacando, frontalmente, as posições partidário-organizativas defendidas por Lenin.[55]

Quando Lenin enviou, a seguir, sua resposta ao artigo de Luxemburg, resposta essa intitulada Rouxinóis Podem Ser Iludidos com Contos de Fadas,  à redação de ”Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, essa última decidiu-se por não a publicar, alegando falta de clareza por parte de Lenin na apresentação da matéria[56].   

Com efeito, Luxemburg pronunciava-se, nessa época, enquanto representante de um movimento de massas em ascensão na Europa Ocidental, antes mesmo de desenhados os primeiros sinais mais sérios de sua decadência, ao passo que Lenin surgia como representante de um agrupamento conspirativo ilegal, ativo em um país despótico, semi-feudal e semi-bárbaro, que, apenas anos depois, seria sacudido por uma imensa revolução de massas dotada de repercussão mundial.

Sintetizando, brevemente, a concepção de Lenin, expressada em suas obras magistrais acerca da teoria de organização do Partido revolucionário[57], visando a confrontá-la com aquela de Luxemburg, cumpre assinalar que, aos olhos de Lenin, os trabalhadores no quadro de seus movimentos de luta surgem como um efetivo produto dos antagonismos da sociedade burguesa, os quais, em sua dinâmica ativa, são capazes de produzir apenas consciência mais ou menos nítida acerca de questões sindicais, nomeadamente a consciência da classe trabalhadora de que seus interesses são, em sentido econômico, diametralmente opostos e inconciliáveis em relação àqueles da classe capitalista.

De modo espontâneo, poderiam os trabalhadores desenvolver, entretanto, apenas essa consciência sindical, jamais, porém, o nível superior de consciência, o nível de consciência política, em que a luta de classes revolucionária conduz, inevitavelmente, à derrubada violenta das instituições de exploração econômica e dominação político-ideológica do capitalismo, no rumo de edificação de um Estado e de uma ordem social proletário-ditatorial, prelúdio da emergência de uma sociedade socialista, fase inferior do comunismo.

Segundo Lenin, a luta de classes não se desenvolve, automaticamente, em formas políticas e jurídicas, não se conforma, por si mesma, em revolução socialista.

As concepções socialistas são, pelo contrário, produtos de elaborações fundamentalmente científicas.

Admitindo como correta uma categórica reflexão de Kautsky, Lenin destacou precisamente que o proletariado não é, porém, o portador da ciência moderna : é-o a inteligência burguesa.

Isso não pode, entretanto, significar que os trabalhadores não participem das elaborações científicas concernentes ao socialismo, porém ao fazê-lo, realizam-no não como trabalhadores, mas sim como teóricos do socialismo, apropriando-se do saber de seu tempo e enriquecendo-o. 

Nesse sentido, Lenin assinala, em sua obra maior Que Fazer :

 

“Como suplemento ao dito acima, queremos citar ainda as seguintes palavras, muito apropriadas e valiosas, de Karl Kautsky acerca do Esboço do Novo Programa do Partido Social-Democrático Austríaco :

 

« Muitos de nossos críticos revisionistas admitem que Marx teria afirmado que o desenvolvimento econômico e a luta de classes criariam não apenas as precondições da produção socialista, senão também diretamente o conhecimento(grifado por K.K.) de sua necessidade e, aí, os críticos terminam logo com a objeção de que o país com o desenvolvimento capitalista mais avançado, a Inglaterra, seria dotado, entre todos os países modernos, desse conhecimento, da maneira mais ampla.

Segundo a nova versão, poder-se-ia admitir que também a Comissão Austríaca de Programa dividiria o ponto de vista “marxista-ortodoxo”, pretensamente reproduzido dessa forma.

Pois, afirma-se ali : “Quanto mais o desenvolvimento do capitalismo faz inflar o proletariado, tanto mais esse último será forçado e capaz de assumir a luta contra o capitalismo. O proletariado alcança a consciência“ da possibilidade e necessidade do socialismo etc. Nesse contexto, a consciência socialista surge enquanto o resultado necessário e direto da luta de classes proletária.

Porém, isso é errado.       

O socialismo enquanto doutrina enraíza-se, porém, tanto nas relações econômicas contemporâneas como o faz a luta de classes do proletariado, emergindo, tal como essa última, da luta contra a pobreza de massas e a miséria de massas, que são produzidas pelo capitalismo.

Porém, ambos surgem um ao lado do outro, não um a partir do outro, e sob pressupostos diferentes.

A moderna consciência socialista pode surgir apenas na base de uma profunda concepção científica.

Na realidade, a ciência econômica contemporânea forma uma pré-condição da produção socialista tal como o faz, por exemplo, a técnica moderna, apenas que o proletariado não pode, mesmo com a melhor das vontades, criar nem um nem outro. Ambos surgem do processo social contemporâneo.

O portador da ciência não é, porém, o proletariado, mas sim a inteligência burguesa (grifado por K.K.).

Em membros isolados dessa camada surgiu, pois, também, o socialismo moderno e, apenas através deles, foi transmitido, espiritualmente, a proletários extraordinários que o introduziram, então, na luta de classes do proletariado, onde as relações permitiram-no.  

A consciência socialista é, portanto, algo trazido de fora, para dentro da luta de classes do proletariado (etwas in den Klassenkampf des Proletariats von aussen Hineingetragenes), não algo surgido originariamente a partir desse último.

Em conformidade com isso, o velho Programa de Hainfeld afirma, de modo inteiramente correto, que pertence às tarefas da Social-Democracia encher o proletariado com a consciência (grifado por K.K.) acerca de sua situação e de sua tarefa.

Isso não seria necessário dizer-se, caso essa consciência emergisse, por si mesma, da luta de classes.

A nova versão tomou essa frase do velho Programa, apensando-o precisamente ao citado.

Através disso, porém, a dinâmica do pensamento foi inteiramente dilacerada...»”[58]         

 

Em observação a essas linhas de Karl Kautsky, Lenin assinalou, ainda, precisamente :

 

“Se então não se pode falar de uma ideologia autônoma, elaborada pelas massas trabalhadoras por si mesmas, no curso de seu desenvolvimento, pode-se colocar a questão apenas da seguinte forma : ideologia burguesa ou ideologia socialista.

 

Nota : Isso não quer dizer, evidentemente, que os trabalhadores não tomam parte dessa elaboração. Porém, fazem-no não como trabalhadores, mas sim como teóricos do socialismo, como os Proudhon e Weitling, com outras palavras : eles tomam parte apenas e na medida em que conseguem, em maior ou menor medida, apropriar-se desse saber e enriquecê-lo.

Porém, para que os trabalhadores consigam fazê-lo mais freqüentemente é necessário fazer tudo para elevar o nível de consciência dos trabalhadores, em geral.

É necessário que os trabalhadores não se recluam nos limites artificialmente estreitos de uma “Literatura para Trabalhadores”, mas sim aprendam sempre mais a apropriar-se da literatura geral.

Seria até mesmo mais correto dizer, ao invés de “não se recluir”, não serem recluídos, pois os trabalhadores mesmos lêem tudo e querem tudo ler, também aquilo que é redigido para a inteligência, sendo que apenas alguns (maus) intelectuais acreditam que “aos trabalhadores” basta quando se lhes conta acerca das condições da fábrica e mastiga-se, mais uma vez, coisas há muito tempo conhecidas.”[59]       

 

Tal como Engels, Lenin destaca que o socialismo, uma vez tornado ciência, deve ser estudado, tal como toda qualquer outra ciência.

Com efeito, Engels assinala, nitidamente :  

 

„Será, nomeadamente, o dever dos dirigentes adquirir clareza cada vez maior acerca de todas questões teóricas, libertar-se, cada vez mais, da influência das frases tradicionais, pertencentes à concepção do mundo, e ter em vista, constantemente, que o socialismo, desde que se tornou ciência, exige ser tratado como uma ciência, i.e. exige ser estudado. Tudo dependerá de propagar, com zelo crescente, entre as massas de trabalhadores, a visão, cada vez mais clarificada, assim adquirida, de fundir (no original alemão : zusammenschließen), cada vez mais firmemente, o partido e as organizações sindicais.“[60]

 

Tendo em conta essa ponderação de Engels, Lenin assinala, literalmente, em sua obra O Que Fazer ?:

 

„No presente momento, gostaríamos apenas de declarar que o papel de lutador de vanguarda pode ser cumprido apenas por um partido que é guiado pela teoria mais avançada.“[61]

 

Assim, resulta que uma ideologia proletária não se poderia desenvolver espontaneamente, sendo que a limitação do movimento dos trabalhadores à dimensão econômica, sindical-reivindicatória, recusando-se a luta político-revolucionária socialista pela tomada do poder do Estado e, por conseguinte, à tarefa de organização do Partido revolucionário incumbido de assegurar essa última tarefa, fundado na revolução impulsionada pelas massas proletárias, significaria precisamente lutar-se não para emancipar os explorados e dominados pelo jugo capitalista, não para derrubar a ordem social capitalista, mas sim para promover a adaptação da luta de classes dos trabalhadores às vicissitudes do jugo capitalista.

A libertação das massas trabalhadoras é obra das próprias massas trabalhadoras, porém tal fenômeno torna-se apenas possível quando adquirirem elas a consciência político-revolucionária acerca de sua própria condição, sendo uma das tarefas do Partido revolucionário ajudá-las a adquiri-la.

Os trabalhadores e seu Partido revolucionário haveriam, assim, de posicionar-se nos embates de interesses defendidos por todas as demais classes sociais, compreendendo e respondendo respectivamente às suas premissas intelectuais, morais, políticas e econômicas.

Um Partido rigorosamente organizado, segundo Lenin, seria, assim, uma exigência decorrente da luta de classes altamente desenvolvida e complexa de nossos dias, devendo constituir um fato ativo no processo histórico, intervindo conscientemente : não configurando um simples produto passivo e reativo dos fenômenos históricos.

Supostas essas condições objetivas, a  direção desse Partido funda sua ação política legal e parlamentar, bem como clandestina e insurrecional, sobre a análise científica do processo histórico e protege-se de falsificações, através de uma luta permanente em prol da correta interpretação e aplicação dos princípios marxistas-engelsianos revolucionários.

É imprescindível, pois, que a direção desse Partido funcione ininterruptamente, sendo capaz de desenvolver sua teoria, propaganda e organização de modo imperturbável, razão pela qual a constituição de um quartel-general revolucionário funcionante no exterior torna-se indispensável, sempre que necessário seja, em função da conjuntura histórica.

Segundo a teoria organizativa do Partido revolucionário de Lenin, as células partidárias vinculam-se aos organismos centrais e ao Congresso do Partido, ao mesmo tempo em que reconhecem o valor, a visão e a política defendidos por esses últimos, resultantes da síntese do processamento das experiências locais formada, unificada e unitariamente, em nível superior.

Os organismos do centro transmitem às células do Partido suas diretivas mediante profissionais revolucionários, i.e. mediante homens que dedicam disciplinadamente sua inteira existência profissional à necessidade de execução de estritas diretivas político-revolucionárias e constituem a ligação estreita da militância com o centro do Partido, suas concepções, seu programa e suas resoluções principistas, estratégicas e táticas revolucionárias.

Esses profissionais revolucionários constituem o eixo em torno do qual gira o conjunto da organização.

Esse agrupamento de revolucionários, intervindo unitária e centralizadamente, constitui uma organização essencialmente conspirativa, em função dos objetivos insurrecionais perseguidos, sem que suas ações parlamentares-institucionais sejam negligenciadas.

Pois, segundo Lenin :

 

“Trata-se de uma obrigação combinar as formas de luta ilegais e legais.”[62]

 

Nesse Partido revolucionário não se ingressa, enquanto membro, apenas para expressar-se tendências políticas e aderir aos princípios fundamentais da ideologia do marxismo revolucionário – nisso baseando seu comportamento social -, senão também para dedicar-se uma existência a uma causa revolucionária, no quadro de uma estrutura organizativa centralizada, unitária e disciplinada.

Notoriamente, as concepções organizativas de Lenin acerca do Partido revolucionário descendem tanto dos jacobinos como dos revolucionários russos que o antecederam, defensores da formação de grupos de vanguarda, compostos por dedicados revolucionários, empenhados na tarefa da tomada violenta do poder, no quadro da revolução socialista desencadeada pelas massas trabalhadoras – a exemplo das concepções de Nicolai Tchernyshevski, Sergei Netchaiev, Peter Tkatchev -, devendo tais tradições insurrecionais estarem inseparavelmente vinculadas ao papel revolucionário do proletariado moderno.

Além de sua magnífica obra literário-conspirativa, intitulada Que Fazer ? Relatos sobre Gente Nova, Tchernyshevski assinalou, com grande clareza, já por volta de 1861, por ocasiao de sua ativa intervenção nas lutas de emancipação dos servos russos :

 

“Quem é o responsável pela servidão ? Apenas os nobres e alguns burocratas ?

Mas, o próprio Czar é proprietário de terras.

Então, por que deixaria de levar em conta exclusivamente os interesses dos senhores de terra ?

Quando haverá liberdade de fato para os camponeses ?

Quando o povo irá se governar ?

Quando o camponês não terá de pagar imposto e quando ele não será separado da família e da sua aldeia para servir o Exército durante décadas ?

Como se conseguirá isso ?

Através de uma revolução.

É preciso que os camponeses troquem idéias entre si, aproximem-se de seus irmãos que servem como soldados e preparem-se para o grande o dia.

Mas, até então, eles não devem se envolver em rebeliões menores e isoladas contra o Governo.

Só quando o movimento ganhar caráter nacional é que a revolução poderá conseguir sucesso.”[63]  

 

No que concerne a Netchaiev, precisamente sua característica de recorrer às técnicas especiais de conspiração – a despeito de sua marcada influência anarco-bakhuninista -, foi devidamente apreciada por Lenin, sem prejuízo das pesadas críticas desferidas contra aquele revolucionário russo, em Os Possessos, pelo expoente literário do conservadorismo russo, Dostoievski.    

Paralelamente, segundo Tkatchev, a perspectiva de acreditar-se em rebeliões populares espontâneas, tal como defendidas por Mikhail Bakhunin, representava um sonho improvável de ser realizado[64].

Por outro lado, suas formulações definiam já claramente um traço de separação e repúdio das iniciativas isoladas adotadas pelo terrorismo individual.

Sendo assim, observou Tkatchev, por volta de 1873 :

 

“Nós admitimos a anarquia ... apenas como o ideal desejável de um futuro distante.”[65]

 

O que poderia, então, salvar a Rússia Czarista de uma catástrofe, representada por uma transição pacífica para o constitucionalismo burguês, explorador e usurário, seria precisamente o fervor revolucionário de uma organização minoritária e rigorosamente centralizada de revolucionários, pois, segundo Tkatchev :

 

“Em virtude de seu desenvolvimento mental e moral, essa minoria sempre teve e terá de ter força intelectual e moral sobre a maioria.

A essência da revolução está na coerção, por isso a organização revolucionária exige centralização, disciplina rigorosa, rapidez, decisão e coordenação de atividades.”[66]

 

A acentuada insistência na centralizaçao e na disciplina da organização conspirativa e  revolucionária de vanguarda, o agudo criticismo quanto à possibilidade de rebeliões socialistas espontâneas das massas, a rejeição do terrorismo individual, por significar esse a dispersão de energias e de recursos revolucionários, o desprezo pela possibilidade de persuasão pacífica das classes dominantes, constituem fortes pontos de contato entre os jacobino-radicais russos, encabeçados por Peter Tkatchev – jacobinos na forma de ainda “verdes estudantes secundaristas”, na apropriada expressão de Friedrich Engels – e a avançada concepção socialista-revolucionária de Lenin, em cujo quadro, porém, o tipo de organização revolucionária centralizada, incumbida da tarefa consciente de destruição do Estado Burguês e construção de uma transitória Ditadura Revolucionária do Proletariado, combina-se com a elaboração de uma ideologia socialista-proletária avançada e a incorporação partidária da inteligência científico-socialista na direção da revolução feita pelas massas.

Com efeito, Lenin contemplava no jacobinismo uma das etapas mais altas do movimento ascensional da classe oprimida na luta por sua emancipação, considerando que, nas principais cidades européias ocidentais da Rússia do século XX, o jacobinismo seria o Governo da Classe do Proletariado Revolucionário, que apoiado nos camponeses pobres e solidificado sobre bases materiais que já existiam para o movimento até o socialismo, conseguiria renovar não somente a grandeza, a força indestrutível dos jacobinos do século XVIII, senão ainda levar os trabalhadores do mundo inteiro ao triunfo definitivo.

No entendimento de Lenin, o jacobino  que uniu sua causa para sempre à organização do proletariado e que tem consciência dos seus interesses de classe, seria o lutador bolchevique.

Nessa medida, o Partido revolucionário haveria de ser também uma organização de vanguarda de luta, incumbida de dirigir as massas proletárias e erigir a Ditadura Revolucionária do Proletariado, após destruir integralmente o Estado Burguês.

 

Luxemburg, ao  publicar, no ”Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, órgão  jornalístico do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), em 1904, o artigo intitulado Questoes de Organização da Social-Democracia Russa, atacando, frontalmente, as posições partidário-organizativas defendidas por Lenin, teve a oportunidade de destacar, inicialmente, que a questão da teoria de organização do Partido revolucionário diria respeito “a toda jovem geração socialista (ganze jüngere sozialistische Generation)” da Rússia, militante sob as difíceis condições impostas pelo despotismo czarista[67].

Sem embargo, Luxemburg censurou na concepção de Lenin sua pretensão de construir um Partido de elite, organizado concentricamente, bem como de demarcar estritamente esse Partido de todos os demais.

Luxemburg criticou, duramente, as prerrogativas possuídas pelos organismos centrais do Partido de intervir na vida política das células e agrupamentos partidários, até mesmo com medidas de dissolução e reconstituição de células, com o que poderia influir, decisivamente, na mesma assembléia partidária no qual haveria de ser eleito.

Tais prerrogativas haveriam de transformar os organismos centrais no único núcleo propriamente ativo do Partido, ao passo que todas as demais células locais e regionais converter-se-iam em simples ferramentas de implementação de medidas, em total contradição com o desenvolvimento natural da luta de classes.

Segundo Luxemburg, à parte os princípios gerais de luta, não existiriam quaisquer diretrizes, particularmente de ordem tática ou estratégica, que poderiam ser estabelecidas, de antemão, e impostas, por parte dos organismos centrais, aos militantes sociais-democrátas.

Existirião, muito mais, permanentes flutuações, sendo que dirigentes, militantes e massa do Partido revolucionário não deveriam encontrar-se rigidamente separados.

Os Partidos da Social-Democracia deveriam constituir, na ótica de Luxemburg, não apenas a organização externa da classe trabalhadora, senao ainda a forma de movimento a ela apropriada.

A teoria organizativa do Partido revolucionário de Lenin seria uma mera transferência mecanicista do funcionamento dos grupos conspirativos de Auguste Blanqui, de matiz putchista, para o interior do movimento social-democrático revolucionário, do início do século XX[68].

Além disso, segundo Luxemburg, a Rússia Czarista situava-se, incontrastável e puramente, diante de uma revolução democrático-burguesa e não proletária.

Na Alemanha, pelo contrário, existiriam já fortes e inúmeros quadros proletários, cujo estrato dirigentes era constituído naturalmente pela Social-Democracia Alemã.    

Se levada adiante, efetivamente, a concepção partidária de Lenin, o fortalecimento exponencial das prerrogativas dos organismos centrais, até o estágio de instauração de uma Ditadura do Comitê Central, acarretar-se-ia, tendencialmente, o crescimento do oportunismo e do burocratismo da organização de luta revolucionária dos trabalhadores.

Apenas o desenvolvimento espontâneo da luta de classes poderia, finalmente, superar todos os obstáculos históricos, direcionando a luta de classes para os trilhos corretos.

Nesse sentido, Luxemburg enfatizou, nitidamente :

 

“Passos falsos que um movimento realmente revolucionário dos trabalhadores empreende são, em sentido histórico, incomensuravelmente mais frutíferos e valiosos do que a infalibilidade do melhor Comitê Central de todos.”[69]

 

Observe-se ainda que, no domínio da teoria de organização do Partido revolucionário, Lenin defendeu, à época, suas posições não apenas contra Luxemburg, senão ainda contra muitos adversários ativos no interior do movimento proletário russo, entre os quais se encontrava Martov, Plekhanov, Axelrod, Tsereteli, Deich, Antonov-Ovseienko, Uritsky, Jordania, Dan, Trotsky entre outros.

Enquanto defensores e apoiadores da teoria organizativa de Partido revolucionário de Lenin, no contexto desse início do século XX, cumpre citar, porém, sobretudo, Sverdlov, Lunatcharsky, Krupskaya, Dzerjinsky, Zinoviev, Kamenev, Stalin, Lashevich, Frunze, Rykov, Litvinov, Antonov, Ordjonikidze, Bogdanov entre outros.

Trotsky, muito próximo das posições de Luxemburg, no domínio da teoria organizativa do Partido revolucionário, qualificou, em 1904, em seu artigo intitulado Nossas Tarefas Políticas, a defesa do centralismo democrático de Lenin como sendo  expressão de autêntica autocracia e regime autoritário de Partido, reivindicando, pelo contrário, vida longa à auto-atividade do proletariado e fim ao substituismo político : 

 

“Nas políticas internas do Partido, esses métodos conduzem, tal como veremos abaixo, a que a organização do Partido « substitua-se » ao Partido, o Comitê Central substitua-se à organização partidária e, finalmente, o ditador substitua-se ao Comitê Central.”[70] 

 

Em sua obra Minha Vida, encontramos, então, as seguintes palavras de Trotsky, acerca desse tema :

 

“Tendo vindo ao estrangeiro, trazia o convencimento de que a redação deveria estar «submetida» ao Comitê Central.

E esse era o modo de pensar da maioria dos partidários do Iskra.

-                                                                                                                                                                                                                                           “Não, isso não pode ser assim”, respondeu-me Lenin, quando falávamos sobre isso, “as forças são muito desproporcionais. Como podem querer nos dirigir, a partir da Rússia ? Isso não pode ser ... Nós formamos um centro fixo, somos os mais fortes ideologicamente e vamos dirigir o movimento a partir daqui.” 

-                                                                                                                                                                                                                                           “Então, será instaurado um regime de plena ditadura, por parte da redação”, objetei.

-                                                                                                                                                                                                                                           “O que se perderá com isso ?”, respondeu-me Lenin. “Nas circunstâncias atuais, não há um outro remédio”......

Separei-me de Lenin por motivos que tinham muito de “moral” e até de pessoal.

Nada obstante, ainda que aparentemente assim fosse, a divergência possuía, no fundo, um caráter político que se refletia no campo organizativo.

Eu me encontrava entre os centristas. Porém, é certo que, então, não podia ainda dar-me clara conta do centralismo severo e imperioso que o Partido revolucionário devia reclamar para lançar milhões de homens no combate da velha sociedade.”[71] 

 

O choque de concepções organizativas acerca do Partido revolucionário, protagonizado por Lenin, de um lado, e, de outro lado, Luxemburg e tantos outros mencheviques e seus aliados, nos primeiros anos do século XX, revela, antes de tudo e respectivamente, o embate entre uma teoria consideravelmente dinâmica de Partido marxista-revolucionário insurrecional e conspirativo – Partido esse de vanguarda cujo componente essencial seriam os revolucionários profissionais, atuantes sobre uma larga massa de militantes, apoiadores e simpatizantes claramente entrevistos no quadro de uma estrutura organizativa centralizada e unitária – e uma doutrina de Partido concebido enquanto reuniam de ativistas, simplesmente defensores de princípios fundamentais de uma ideologia revolucionária, organizado segundo a forma e imagem dos Partidos socialistas efetivamente entao existentes na Europa Ocidental, a exemplo do British Labour Party.

Lenin foi meridianamente claro ao acrescentar que o contexto da luta de classes proletária era essencialmente distinto na Rússia, situada essa sob o governo da autocracia czarista, na medida em que a formaçao de qualquer Partido de linhagem socialista resultava ser plenamente ilegal.

De toda sorte, tal aspecto permaneceu desconsiderado ou considerado insuficientemente nas posições de Luxemburg, seja no que respeitava a mais clara situação de autocracia vivida, então, pela Rússia Czarista, seja naquilo que concernia aos regimes democráticos-burgueses ocidentais-europeus do início do século XX, onde o ascenso do militarismo e do burocratismo dos Estados capitalistas imperialistas tornavam-se, progressivamente, uma realidade irrefutável.        

De toda sorte, o debate acerca da teoria organizativa do Partido revolucionário demonstra claramente o marcante antagonismo de posições existentes entre Partido leninista e Partido luxemburguista.

Após a derrota da Revolução Russa de 1905, registrou-se um momento de reaproximação entre Lenin e Luxemburg, no domínio de diversas questões político-analíticas, situadas no marco do Congresso da II Internacional Socialista, ocorrido em Stuttgart, em 1907, quando ambos cerraram fileiras na luta contra o oportunismo social-reformista de Eduard Bernstein e Eduard David, clamando por uma retomada da luta revolucionária em prol da derrubada do capitalismo durante a guerra imperialista que se anunciava no horizonte.

Importa anotar que o Congresso Internacional em tela foi o VII Congresso da II Internacional, sendo que se reuniu entre os dias 18 e 24 de agosto de 1907.

O Partido Social-Democrático Russo(POSDR) encontrava-se representado nesse congresso por 37 delegados. Por parte dos bolcheviques, tomaram parte nesse congresso Lenin, Lunatcharsky, Litvinov e outros.

O congresso em referência ocupou-se com as seguintes questões :

 

1.    Militarismo e Conflitos Internacionais ;

2.    Relações entre os Partidos Políticos e os Sindicatos ;

3.    Questão Colonial ;

4.    Imigração e Emigração de Trabalhadores e

5.    Direito de Voto das Mulheres.

 

O trabalho principal desse congresso concentrou-se nas comissões que elaboravam os projetos de resolução para as sessões do plenário.

Lenin interviu na Comissão sobre Militarismo e Conflitos Internacionais. 

Com seus requerimentos de emendas, colaborou para uma modificação fundamental, em sentido do marxismo revolucionário, do projeto de resolução original acerca do tema,

No cerne da resolução congressual em tela redigiu-se o seguinte :

 

“Se a guerra ameaçar-nos, as classes trabalhadoras e seus representantes parlamentares de todos os países participantes que apóiam e compõem o Bureau Internacional obrigam-se a mobilizar todas as suas forças para impedir sua eclosão, mediante aquelas medidas que lhes pareçam ser as mais efetivas, o que modificar-se-á, segundo o aguçamento da luta de classes e a situação política geral.

Se a guerra irromper, apesar disso, eles obrigam-se a intervir em favor de sua mais rápida conclusão e explorar, com todas as forças, a crise econômica e política, criada pela guerra, para instigar o povo a acelerar o fim da dominação capitalista de classe ... “[72]

 

Nada obstante, apesar dessa reaproximação de Lenin e Luxemburg em diversos pontos políticos da luta de classes revolucionária, a questão da doutrina de organização do Partido revolucionário permaneceu intocada e inconciliável.

A posição assumida pelos bolcheviques no quadro da II Internacional Socialista permaneceu sendo singular e marginal.

Os dirigentes dos Partidos de massas dos países do mundo ocidental entreviam na forma organizativa dos bolcheviques a expressão de um fanatismo insurrecional e conspirativo plenamente incomum no contexto do movimento socialista internacional, sendo que também Luxemburg esposava esse tipo de apreciação.

Nos anos que precederam a eclosão da I Guerra Mundial, a luta fracional no interior do movimento social-democrático russo atingiu um ponto de destaque.

Agora, não apenas os mencheviques situavam-se em oposição aos bolcheviques, senão ainda quase todos os Partidos e agrupamentos socialistas ligados ou interessados, de alguma forma, na situação política da Rússia Czarista colidiam contra a concepção de organização partidária de Lenin. 

Em maio de 1914, os mencheviques solicitaram à direção da II Internacional Socialista que interviessem, visando a coartar a tática de ruptura dos bolcheviques, já bastante avançada, depois da realização da Conferência dos Bolcheviques, realizada em Praga, em 1912, a qual abriu a perspectiva de fundação do novo jornal ”Pravda(A Verdade)”, enquanto instrumento de propaganda ideológico-socialista e de organização partidário-revolucionária insurrecional[73].

O dirigente belga, Emil Vandervelde, enquanto representante da Internacional, foi destacado para o cumprimento da tarefa de averiguar, em Petersburgo, em maio de 1914, a possibilidade de unificação das frações em luta no interior do Partido Social-Democrático Russo (POSDR).

A despeito dos sinais clarividentes da vindoura eclosão da I Guerra Mundial, a II Internacional Socialista planejou, então, a realização de uma conferência, reunindo as frações em referência, para o mês de agosto de 1914, na cidade de Viena, sendo que um encontro preparatório teve lugar em Bruxelas, nos dias 16 e 17 de julho do mesmo ano, dando criação a uma Comissão Especial, que acolheu o relatório político de Vandelverde acerca do Partido Social-Democrático Russo (POSDR).

Nada obstante, a própria composição  dessa Comissão Especial demonstra a avançada situação de decomposição e reorganização na qual se encontrava a Social-Democracia Russa. 

Nela, estavam representadas os seguintes agrupamentos :

 

 

1.    os mencheviques veladamente liquidacionistas, encabeçados por Martov ;

2.    Bloco de Agosto, composto pelos mencheviques em conjunto com Protessov, Axelrod e a Bund Judaica, uma formação do ano de 1912, contraposta ao bolchevismo e celebrizada por suas posições liquidacionistas ;

3.    grupo dirigido por Plekhanov ;

4.    grupo dirigido por Trotsky ;

5.    grupo liderado por Lunatcharsky ;

6.    uma fração dos sociais-democratas poloneses, comandada por Luxemburg ;

7.    uma fração dos sociais-democratas poloneses, atuantes sobretudo na cidade de Varsóvia, comandados por Unschlicht e Hanecki, influenciados teoricamente por Radek e objetivamente situados do lado dos bolcheviques ;

8.    os sociais-democratas letões, comandados por Stutchka, alinhados rigorosamente com as posiçoes de Lenin ;

9.    os bolcheviques, dirigidos por Lenin e Zinoviev.

 

 

Os bolcheviques designaram Inès Armand, como sua representante nos trabalhos da Comissão Especial em tela.

O próprio fato de que nem Lenin nem Zinoviev viajaram da Suíça à Bruxelas para participar, diretamente, das discussões e tarefas abordadas pela comissão, ilustra quais as impressões de ambos relativamente ao possível conteúdo e decisões que poderiam vir a ser adotadas na conferência, planejada para realizar-se em agosto de 1914.  

Em verdade, os bolcheviques e seus aliados abstiveram-se na votação que estabeleceu que todos os grupos do Partido Social-Democrático Russo (POSDR) dever-se-iam unificar sobre a base comum de um programa a ser objeto de uma resolução do  Bureau Internacional da II Internacional Socialista, sendo que para sua execução haveria de ser convocado um congresso geral de todo Partido.

Acerca desse episódio, Yuly Martov relata-nos o seguinte :

 

“Axelrod e Luxemburg foram encarregados de elaborar um Manifesto acerca da necessidade da unificação, dirigido contra a política rupturista dos bolcheviques.

A fração de Lenin encontrava-se, dessa forma, inteiramente isolada ...

Porém, a Guerra Mundial, que eclodiu depois de algumas semanas, colocou um fim na obra de unificação iniciada.”[74]

 

A aplicação dessa resolução de unificação significaria, evidentemente, a separação dos bolcheviques da II Internacional Socialista, pois não existem quaisquer indícios no sentido de que Lenin se submeteria à disciplina de uma maioria liquidacionista.

Luxemburg e Axelrod estavam, naturalmente, convictos disso, no momento em que aceitaram a incumbência de redigir o manifesto em referência.

A postura de Luxemburg quanto à questão organizativa do Partido revolucionário, em particular suas diferenças metodológicas em face da concepçao de Lenin referente ao tema, aguçaram-se ainda mais, depois de que teve lugar a Revolução de Outubro de 1917.

Acerca do tema, Fritz Rück, dirigente da Liga Spartakus, em Baden-Württemberg, formula o seguinte relato, digno de ser reproduzido aos leitores, referentemente ao trabalho jornalístico, empreendido por sua organização, nos últimos meses de 1917 e início de 1918 :

 

“Às vezes, foi difícil conferir uma fisionomia ao jornal, porém, ao mesmo tempo, tratou-se de uma ótima escola para mim isso de poder dizer sempre novamente, no mínimo, uma parte daquilo que a política beligerante descortinava, chamando a atenção dos leitores – muitos deles nos campos de batalha – sobre o colapso vindouro do sistema dominante e a necessidade de uma postura revolucionária.

A censura, outrora dotada de uma visão tão afiada, que riscava, freqüentemente, algumas frases ou palavras sem que se pudesse tornar o texto visível ao leitor, era cego, porém, quanto a um contexto : ele admitia, tranqüilamente, que se trouxesse artigos detalhados e séries de artigos sobre a revolução na Rússia, seus problemas e a política dos bolcheviques.

Por essa razão, servi-me, mais do que de outra forma seria o caso, do material que continha uma correspondência, surgida em Stockholm, redigida por Karl Radek, em colaboração com o Comitê Central Bolchevique de Petrogrado.

Porém, um dia recebi um carta na qual Leo Jogliches alertava-me para o fato de que os revolucionários russos possuíam seus próprios métodos e concepções, agindo em conformidade com eles.

A oposição alemã e, sobretudo, o Grupo Spartakus, deveria, em verdade, apoiar a Revolução Russa, distanciando-se, porém, de Lenin e de seu Partido.

Sobretudo, a publicação dos artigos da pena de Radek não seriam recomendáveis.

“As velhas histórias polonesas”, disse-me Paul Levi, sendo que não nos preocupamos muito, por um certo tempo, com essas coisas.

A análise da política de paz dos bolcheviques e das transformações ocorridas na Rússia fornecia a única perspectiva frutífera do fim da guerra, mediante uma revolução socialista.

Nem eu nem a organização de Württemberg ou de Stuttgart possuía qualquer tipo de ligação direta organizativa ou de outro gênero com os revolucionários russos.”[75]

 

A posição de Luxemburg acerca da questão organizativa do Partido revolucionário, projetou-se até mesmo nos debates preambulares de fundação do Partido Comunista da Alemanha, entendido como nova parte integrante e inseparável da revolução proletária mundial, inaugurada com a Revolução de Outubro de 1917.

Enquanto Karl Liebknecht, a partir de 9 de novembro de 1918, tornou-se um dos principais encabeçadores da iniciativa de criação do Partido Comunista da Alemanha – que viria a ocorrer em 30 de dezembro de 1918, no Salão de Festas da Câmara de Deputados de Berlim [76], é imperioso assinalar que Luxemburg seguiu opondo sérias resistências a que esse processo se concretizasse efetivamente.

Acerca do tema, Wilhelm Pieck registrou, então, as seguintes considerações :

  

“Cada vez mais fortemente, surgiu a concepção de que a fundação de um próprio Partido seria necessária para consolidar o movimento, também em sentido organizativo.

Jogiches e também Rosa Luxemburg podiam apenas contentar-se pouco com esse pensamento.

Eles procuravam muito mais atingir seu velho objetivo de, no interior do Partido Social-Democrático Independente (USPD), influenciar tão fortemente os trabalhadores a ponto de a política da Liga Spartakus impor-se nesse Partido, trazendo a direção desse último para as mãos de Spartakus.

Porém, para tanto, existia precisamente o pressuposto de que o Congresso Imperial do USPD fosse convocado, de modo a tornar-se posição acerca da política da direção do USPD.

Uma vez que, sob nossa reivindicação, não ocorreu, até 25 de dezembro, uma resposta da direção do USPD acerca da convocação do Congresso do Partido, havendo ela declarado, em 24 de dezembro, no “Freiheit (Liberdade)” que não poderiam realizar o Congresso por causa das dificuldades de tráfego e da agitação eleitoral (obs. De SVK: agitação para as eleições da Assembléia Nacional Constituinte), estabeleceu-se uma convocação de uma conferência de todo Império da Liga Spartakus, para o domingo, 29 de dezembro, na qual haver-se-ia de adotar um posicionamento sobre a crise do USPD e a fundação de uma Partido próprio.

A conferência que ocorreu no Salão de Festas do Câmara de Deputados, não foi pública.

Depois de um curto debate, decidiu-se, contra três votos, em favor da fundação do Partido.

Acerca do nome do Partido existiram diferenças de opinião, na medida em que Rosa Luxemburg e Jogiches eram a favor do nome “Partido Socialista dos Trabalhadores”, ao passo que um número de outros delegados posicionaram-se em prol do nome “Partido Comunista da Alemanha”.

Por isso, foi acionada uma comissão que, depois de prolongadas discussões, decidiu em favor desse último nome, com o acréscimo (Spartakusbund – Liga Spartakus).

A conferência foi interrompida pela participação no funeral dos marinheiros, assassinados em 24 de dezembro ... “[77]         

 

Cumpriu, então, a Karl Liebknecht, ao apresentar, nessa ocasião, seu informe acerca da crise do Partido Social-Democrático Independente (USPD), destacando o papel dessa organização na alta traição cometida por ela contra a revolução proletária mundial, concluir resolutamente, defendendo a criação do Partido Comunista da Alemanha (KPD), destacando o seguinte :

 

“Hoje, é necessário, perante todo o público, traçar uma linha de separação, constituindo-nos enquanto novo Partido autônomo, resoluto e implacável, coeso e unitário, no espírito e na vontade, dotado de programa, objetivos e meios claros, determinados segundo os interesses da revolução mundial socialista.

Nosso programa e nossos fundamentos fáticos, aplicamo-los desde há muito tempo.

Temos de os estabelecer ainda apenas de modo formal.

Não temos de criar uma novidade.

As massas já sabem o que somos e o que queremos.

Devemos confirmar apenas formalmente o que somos desde há muito tempo e continuar nossa obra, sobre uma base mais ampla.”[78]

 

Com efeito, uma grande deficiência das lutas revolucionárias do proletariado alemão do início do século XX consistiu, seguramente, no fato de não se ter formado, absolutamente, nesse país, um sólido Partido marxista-revolucionário, enriquecido com a concepção de Partido de Lenin.

No que concerne ao movimento Spartakus, esse último jamais chegou a possuir uma orientação clara e determinada no sentido da criação de um Partido de massas, firmemente organizado e disciplinadamente centralizado.

Ele permaneceu sendo um grupo relativamente restrito que, embora lutando corajosa e ousadamente contra o imperialismo capitalista alemão e sua política militarista, jamais foi capaz de conferir ao movimento proletário alemão a força imprescindível para o cumprimento de suas tarefas revolucionárias.

A luta implacável de Karl Liebknecht contra as diferentes variantes do oportunismo social-democrático na Alemanha, suas intervenções resolutas contra a flagrante traição revolucionária dos dirigentes do SPD e do USPD, seu decidido impulsionamento da Revolução Alemã de 1918-1919, tornou possível o seu amadurecimento de aço, de modo a torná-lo o mais decidido protagonista da fundação do Partido Comunista da Alemanha (KPD – Spartakusbund), fundamentalmente inspirado no paradigma fornecido à história pelo Partido Comunista da Rússia (Bolchevique), de Lenin, sentido-se vinculado a esse último por sólida amizade.

Porém, o Partido Comunista da Alemanha (KPD – Spartakusbund) nasceu, tardiamente, já ao fogo da Guerra Civil da Alemanha, sem dispor das mais rudimentares possibilidades de conformar, dirigente e preponderantemente, esse processo revolucionário.

A importância histórica de seu surgimento reside, portanto, precisamente no fato de ter fixado uma pedra fundamental que deveria pavimentar o caminho que haverá de ser percorrido pelas novas gerações de revolucionários na Alemanha, no campo da concepção de Partido marxista-revolucionário e de unidade da classe trabalhadora alemã, sobre bases combativas e revolucionárias.

 

CAPÍTULO 5.

RUPTURA DE TROTSKY COM O MENCHEVISMO

E FORMAÇÃO DO FRACIONALISMO

“NÃO-FRACIONALISTA”

 

No curso de 1904, verificou-se o nascimento de uma ruptura interna do domínio intra-fracional menchevique, marcado pelo afastamento de Trotsky que, não se alinhando, porém, à fração bolchevique – por ele alcunhada de jacobino-ditatorial - , moveu-se crescentemente no sentido de dar origem à fração “não-fracionalista” dos defensores da unidade de todos os sociais-democratas, formalmente estruturada, então, em 1908, em torno do órgão jornalístico ”Pravda (A Verdade)”, de Viena, contando com a colaboração de Riazanov e Ioffe, entre outros.    

 

CAPÍTULO 6.

III CONGRESSO DE 1905 DO POSDR :

ASCENSO REVOLUCIONÁRIO,

ESTRATÉGIA E TÁTICA REVOLUCIONÁRIAS,

ADOÇÃO DO PARÁGRAFO PRIMEIRO NA VERSÃO LENINISTA,

LUTA INTRA-FRACIONAL BOLCHEVIQUE

TRAVADA POR LENIN CONTRA OS KOMITETCHKIS APARATISTAS  

 

O III Congresso do POSDR, realizado Londres, em 1905, contando apenas com a presença de bolcheviques foi marcado por uma luta intra-fracional, caracterizada, em linhas gerais, pela oposição de Lenin às posições dos komitchetiks aparatistas, comandados por Rykov.

De todo modo, tal embate não conduziu absolutamente à formação de novas frações públicas[79].      

 

CAPÍTULO 7.

IV CONGRESSO DA UNIFICAÇÃO DE 1906 DO POSDR :

LUTA FRACIONAL DOS MENCHEVIQUES E

DO AGRUPAMENTO STALIN-SUVOROV CONTRA LENIN

EM TORNO DO PROGRAMA AGRÁRIO,

TENTATIVA DE FUSÃO DAS FRAÇÕES PÚBLICAS,

REAPARECIMENTO DA ESTRATÉGIA OPORTUNISTA,

SURGIMENTO DE TENDÊNCIAS OU ALAS INTERNAS

 

A luta fracional em torno do Programa Agrário eclodiu no IV Congresso do POSDR, ocorrido em Stokholm, entre 10 e 25 de abril de 1906.

No domínio inter-fracional do POSDR, os mencheviques, opondo-se aos bolcheviques, defendiam a “municipalização”, i.e. a transferência das terras a “órgãos democráticos autônomos”.

No domínio intra-fracional bolchevique, Lenin, de um lado, fundando-se inteiramente na concepção de Marx e Engels, defendia não apenas a confiscação, mas também a nacionalização de toda a terra – no quadro de uma insurreição camponesa e do total completamento da Revolução Democrático-Burguesa.

De outro lado, Suvorov e Stalin – inspirados pelas teses de Rojkov -, opondo-se a Lenin, posicionavam-se contra a nacionalização, em prol da confiscação e distribuição de toda a terra entre os camponeses sem terra, como forma de “selar uma união revolucionária passageira com o campesinato”, tal como dizia Stalin.   

“Não podemos ignorar as reivindicações dos camponeses”, dizia Stalin.

Apesar das profundas diferenças relativas à questão agrária e, além disso, relacionadas com as táticas revolucionárias que envolveram a Revolução Russa de 1905-1907, no sentido de Lenin defender categoricamente a Insurreição Armada de Moscou de Dezembro de 1905 e Plekhanov condená-la inteiramente  - é possível verificar-se, entre os anos de 1903 e 1911, ao longo de um efêmero interstício, ocorrido entre fevereiro e maio de 1906, às vésperas e no quadro do IV Congresso da Unificação do POSDR, realizado em Estocolmo, sob o então peso majoritário da fração menchevique de Martov, até mesmo um curtíssimo episódio de ingente tentativa de dissolução e fusão das frações públicas então existentes, convertendo-se-as em tendências ou alas internas, tendo-se como base a admissão também pelos mencheviques do reconhecimento feito pelo III Congresso do POSDR de 1905 do princípio leninista de filiação partidária, como também o monumental ascenso revolucionário que percorria toda a Rússia czarista, naquele momento histórico.

Acerca do tema, Lenin formulou, em janeiro 1906, há 4 meses antes da realização do IV Congresso, as seguintes precisas considerações:

 

“Por fim, ainda algumas palavras sobre como devemos organizar nossa agitação interno-partidária em favor do boicote ativo da Duma, agora, no quadro do processo em curso de fusão das frações e de total unificação do POSDR.

A fusão é necessária. A fusão tem de ser apoiada.

No interesse dessa fusão, deve-se conduzir, de maneira camarada, a luta contra os mencheviques acerca da tática, na medida em que nos esforçamos por convencer todos os membros do Partido e limitamos a polêmica, apresentando, objetivamente, os argumentos em pró e em contra, esclarecendo a posição do proletariado e suas tarefas de classe.

Porém, a fusão não nos obriga, absolutamente, a disfarçar as diferenças táticas ou apresentar, de modo inconseqüente e diluído, a nossa formulação tática.

De nenhuma forma !

Devemos conduzir, aberta, direta e resolutamente, até o fim, a luta ideológica em favor da tática que consideramos como correta, i.e. em favor da tática defendida até o Congresso da Unificação.

Em um partido unitário, a tática que determina a imediata atividade partidária deve ser unitária.

Uma tal tática unitária deve ficar sendo a tática da maioria dos membros do partido : determinando-se inequivocamente a maioria, obriga-se a minoria a ela submeter-se politicamente, ainda que permaneça essa última com o direito de crítica e de agitação em prol de uma nova decisão da questão, em um novo Congresso do Partido.

No quadro da atual situação de nosso Partido, ambas as frações encontram-se de acordo em convocar um novo Congresso de unificação, aderindo às resoluções desse último.

O Congresso da Unificação estabelecerá, então, a tática unitária do Partido.

Nossa tarefa consiste em acelerar, através de todos os meios, a convocação desse Congresso e aspirar, da maneira mais enérgica possível, a que todos os membros do Partido adquiram uma clara compreensão e uma clara concepção acerca das diferentes táticas relativas a uma participação na Duma e a que todos os membros do Partido elejam seus delegados para o Congresso, com todo conhecimento de causa – depois de ponderarem fundamentalmente os argumentos de ambas as partes -, i.e. de maneira consciente e não ao acaso.   

O Congresso unificará nossa tática e  todo o nosso Partido.”[80]

 

Já propriamente no curso da XXVI Sessão do IV Congresso da Unificação, que teve lugar entre os dias 10 e 25 de abril de 1906, Lenin teve ainda oportunidade de destacar, expressamente, seus esforços de manter preservada a unidade do partido revolucionário proletário, com esteio na aplicação do princípio do centralismo democrático, ao proferir a seguinte declaração em face dos posicionamentos Vorobiov :

 

“Não é verdade que eu “apóie” o posicionamento do companheiro Vorobiov que afirmou não poderem bolcheviques e mencheviques trabalhar conjuntamente em um partido.

De nenhuma maneira, “apoio” uma tal afirmação e divido uma tal concepção.

O sentido das minhas palavras : “Alegro-me que o companheiro Vorobiov tenha sido o primeiro a dizer isso ...” foi exclusivamente irônico, pois os vencedores que possuem a maioria no Congresso revelaram apenas suas fraquezas, ao terem sido os primeiros a falar acerca de uma cisão.”[81]

 

Mais precisamente em 26 de abril de 1906, Lenin veio a redigir seu mais ingente Apelo ao Partido feito pelos Delegados do Congresso de Unificação que pertenceram à antiga Fração dos “Bolcheviques”, em favor da unidade do partido, nos seguintes termos claros e inequívocos, mesmo tendo sido, naquele episódio congressual, categoricamente derrotadas as suas mais importantes posições sobre tática revolucionária :

 

“Companheiros !

O Congresso de Unificação do POSDR teve o seu lugar.

Já não existe mais nenhuma cisão.

Não apenas fundiram-se, inteiramente, em sentido organizativo, as antigas frações dos “bolcheviques” e dos “mencheviques”, senão ainda alcançou-se a unificação do POSDR com a Social-Democracia Polonesa, assinou-se a unificação com a Social-Democracia da Letônia e encaminhou-se a unificação com a Social-Democracia Judaica, i.e. com o “Bund”.

O significado político desses fatos é muito grande, em todos os sentidos. Ele se tornará, em verdade, poderoso, em face da época histórica que presentemente vivenciamos. (...)

Em face dos decisivos e grandiosos acontecimentos que se situam pela frente na luta popular, é sobretudo importante alcançar a unidade prática do proletariado consciente de toda a Rússia e de todas as nacionalidades.

Em uma época revolucionária como essa, que agora vivenciamos, todos os erros teóricos e desvios táticos do Partido serão criticados, da maneira mais impiedosa, pela própria vida que educa e conscientiza a classe trabalhadora, em uma velocidade estonteante.

Em uma época como essa, o dever de todo social-democrata é o de aspirar a que a luta ideológica no Partido sobre questões da teoria e da tática seja conduzida da maneira mais aberta, ampla e livre possível, não perturbando ou dificultando ela, porém, de maneira nenhuma, a intervenção revolucionária unitária do proletariado social-democrático.(...)”[82]

 

Mesmo assinalando que já não existia, naquele momento histórico, “mais nenhuma cisão” entre bolcheviques e mencheviques, Lenin vincou, clara e nitidamente, nesse mesmo Apelo ao Partido quais as principais diferenças que ainda seguiam vivas, no imediato período posterior à realização do IV Congresso da Unificação :

 

“Não podemos e nem devemos silenciar o fato de que, segundo nossa mais profunda convicção, o Congresso de Unificação não compreendeu suas tarefas, de modo plenamente correto.

Nas três mais importantes resoluções do Congresso emergem claramente as falsas concepções da antiga fração dos “mencheviques” que, no Congresso, prevaleceu numericamente.

No que concerne ao Programa Agrário, o Congresso homologou, por princípio, a “municipalização.”

Municipalização significa propriedade dos camponeses sobre a terra parcelária e arrendamento pelos camponeses das terras dos proprietários fundiários, transferidas aos Semstvos.

Isso é, em essência, uma coisa intermediária entre autêntica Revolução Agrária e Reforma Agrária Cadete.

Os camponeses não aceitarão um tal plano.

Eles exigirão ou a repartição direta da terra ou a adjudicação de todo solo e e de toda a terra à propriedade do povo. (p. 313)

Na resolução sobre a Duma Imperial, o Congresso indicou como desejável que, nessa Duma, fosse formada uma fração parlamentar social-democrática.

O Congresso não pretendeu levar em conta o fato de que 9/10 dos trabalhadores da Rússia, dotados de consciência de classe – entre esses todos os proletários sociais-democráticos poloneses, letões e judeus – boicotaram essa Duma.

O Congresso rejeitou o requerimento de tornar dependente a participação nas eleições da possibilidade de uma agitação verdadeiramente ampla entre as massas. (...)

Enquanto sociais-democratas reconhecemos, evidentemente, de maneira principista, o dever de usar o Parlamento enquanto arma da luta proletária.

Porém, a questão inteira gira em torno da seguinte pergunta : “É admissível a participação da Social-Democracia em um tal “Parlamento” como é a nossa Duma e sob as atuais condições dadas ? É admissível a formação de uma fração parlamentar à qual não pertence nenhum parlamentar social-democrata eleito por organizações operárias ?

Nós achamos que não. (p. 314)

O Congresso rejeitou o requerimento de considerar como uma das tarefas do Partido a luta contra o jogo constitucional, a contra as ilusões constitucionais. (...)

Nas resoluções sobre o Levante Armado, o Congresso não formulou igualmente o que havia de ser necessário, i.e. : uma crítica completa dos erros do proletariado, uma clara apreciação da experiência de outubro a dezembro de 1905.

Ele nem sequer empreendeu a tentativa de investigar a inter-relação existente entre greve e levante.

Pelo contrário, preponderam nas resoluções reservas temerosas contra o levante armado..

O Congresso não disse aberta e claramente à classe trabalhadora que o Levante de Dezembro foi um erro, ao mesmo tempo em que, porém, condenou-o, de maneira acobertada.

Entendemos que, desse modo, confunde-se mais do que clarifica-se a consciência revolucionária do proletariado. (p. 315) 

Contra as resoluções do Congresso do Partido que consideramos equivocadas, deveremos lutar e lutaremos ideologicamente.

Nesse quadro, porém, declaramos diante de todo o Partido que somos contra toda e qualquer cisão.  

Somos pela subordinação às resoluções partidárias.

Na medida em que repudiamos um boicote do Comitê Central e valorizamos o trabalho comum, declaramo-nos de acordo com que militantes nossos incorporem-se ao Comitê Central, apesar de lá permanecerem em ínfima minoria.

Em nossa mais profunda convicção, as organizações operárias sociais-democráticas devem ser unitárias, porém, nessas organizações unitárias deve ter lugar uma ampla e livre apreciação das questões partidárias, uma crítica e um julgamento amplos e camaradas dos acontecimentos da vida do Partido. (...)

 Conclamamos todos nossos adeptos a essa subordinação e a essa luta ideológica.

Recomendamos a todos os membros do Partido que analisem detalhadamente as resoluções partidárias.

A revolução ensina e acreditamos que a unidade prática da luta do proletariado social-democrático de toda a Rússia protegerá nosso Partido da prática de erros, quando a crise política vindoura for colocada para ser decidida.

No momento da luta, os próprios acontecimentos indicarão às massas trabalhadoras a tática correta. (p. 316)”[83] 

 

No campo propriamente da disciplina estatutária do POSDR, V. I. Lenin, ainda no quadro de seu Apelo ao Partido, teve a oportunidade de pronunciar-se acerca da defesa de um importante corolário genuinamente marxista, expressivo da unidade do partido, uma das verdadeiras garantias contra cisões interno-partidárias infundadas, qual seja : a clara relação a ser estabelecida entre o Comitê Central e a Redação do  Órgão Central do Partido.

Esse debate envolveu a disciplina da então existente Cláusula 7 do Estatuto do POSDR.

Quando no IV Congresso da Unificação do POSDR de 1906 examinou-se essa temática, os mencheviques insistiram em que os redatores do Órgão Central fossem eleitos diretamente pelo Congresso e se lhes concedessem votos deliberativos no tratamento de questões de natureza política junto ao Comitê Central.

Lenin e os bolcheviques posicionaram-se, resolutamente, em favor da nomeação da Redação do Órgão Central pelo Comitê Central e pelo direito desse último de revogar nomeações efetuadas de redatores. 

A maioria menchevique do IV Congresso da Unificação logrou, entretanto, fazer aprovar sua proposta, sendo que, tão somente por ocasião da revisão estatutária, ocorrida no V Congresso do POSDR de 1907, vieram os bolcheviques a reverter essa sua derrota, fazendo aprovar, por maioria, a redação da Cláusula 7 na formulação precedentemente postulada por Lenin.

De toda sorte, em seu Apelo ao Partido, de 26 de abril de 1906, Lenin ainda teve a oportunidade de destacar :

 

“Na questão organizativa, possuimos diferentes posicionamentos apenas em relação aos direitos da Redação do Órgão Central.

Lutamos pelo direito de o Comitê Central poder nomear e destituir o Órgão Central.

Todos estivemos de acordo acerca do princípio do centralismo democrático, acerca da preservação dos direitos da minoria de toda oposição leal, acerca da autonomia de toda e qualquer organização partidária, acerca do reconhecimento da elegibilidade, prestação de contas e revogabilidade dos quadros profissionais do Partido.

No respeito prático desses princípios organizativos, na sua concretização sincera e conseqüente, vemos uma garantia contra cisões, uma garantia de que a luta ideológica no Partido pode e deve ser inteiramente compatível com a unidade organizativa mais rigorosa, com a subordinação de todos às resoluções do Congresso geral.”[84]   

 

CAPÍTULO 8.

V CONGRESSO DE 1907

DO PARTIDO OPERÁRIO SOCIAL-DEMOCRÁTICO RUSSO :

O RESSURGIMENTO DO SISTEMA DE FRAÇÕES

 

Ainda no curso de 1906 e, mais nitidamente, no marco do V Congresso do POSDR, realizado em Londres, em 1907, sob o então peso majoritário da fração bolchevique de Lenin, assiste-se a um quadro em que o POSDR encontrava-se, formalmente, unido, porém registrando o ressurgimento de frações públicas, i.e. voltavam a existir, faticamente as duas principais frações no seio do partido reunificado, as frações dos bolcheviques e dos mencheviques, dotadas de caráter público, ou ainda : duas organizações realmente separadas, com pública intervenção político-partidária, vinculadas, porém, em sentido formal, ao mesmo partido político.

Nesse contexto, os organismos de base do partido apresentavam-se mais coesos, ao passo que as direções bolchevique e menchevique elaboravam, em cada questão relevante da luta de classes, duas táticas substancialmente diferentes.

Acerca desse contexto histórico, Lenin observou, detalhadamente :

 

“Seus adeptos litigavam entre si, nas organizações unificadas dos trabalhadores, (p. ex. nos debates acerca da consigna sobre a Duma, i.e. sobre o Gabinete dos Constitucionais- Democratas(Cadetes), em 1906, ou nas eleições para o Congresso de Londres, de 1907), e essas questões foram decididas por maioria de votos : uma fração surgiu como derrotada no Congresso Unitário de Stockholm (1906) e a outra, no Congresso Unitário de Londres (1907).

Essas coisas são fatos da história do marxismo organizado da Rússia geralmente conhecidos por todos. (...)[85]

 

O renascimento de tal sistema de frações prolongou-se, então, de 1906 a fins de 1911 - início de 1912.

 

 

CAPÍTULO 9.

III CONFERÊNCIA DE 1907 DO POSDR :

LUTA DE LENIN CONTRA O BOICOTISMO BOLCHEVIQUE

ÀS ELEIÇÕES PARA A III DUMA DO ESTADO

 

Precisamente a partir de 3 de junho de 1907, data do Golpe de Estado Reacionário de Stolypin – consagrador do assim denominado “Regime de 3 de Junho” -, verifica-se, então, o surgimento de uma mudança abrupta no cenário da luta de classes, bem como uma pesada crise no desenvolvimento do movimento dos trabalhadores e do POSDR.

Stolypin logrou promover a expulsão imediata de 55 Deputados do POSDR, decretando a prisão de 16 deles, e, além disso, suspendeu os trabalhos da Duma do Estado, promulgando uma nova lei eleitoral.

A derrota da Revolução Russa de 1905-1907 e o Golpe de Estado Reacionário de Stolypin fez com que emergissem, majoritariamente entre bolcheviques, posições boicotistas, encabeçadas por Kamenev e Stalin, Krassin, Bogdanov e Lunatcharsky, enquanto reação à desbragada violência reacionária do czarismo. 

No quadro da III Conferência do POSDR, ocorrida entre 21 e 23 de julho de 1907, na cidade de Kotka, na Finlândia, dos nove delegados da fração pública bolchevique, Lenin – opondo-se às posições prevalentes em sua própria fração, tal como defendidas por Bogdanov - votou isoladamente contra o boicotismo às novas eleições a serem realizadas para a III Duma do Estado, alinhando-se, assim, com os votos dos 5 delegados mencheviques, 5 sociais-democratas poloneses, 2 letões e 5 do Bund.

Pois, sem temor de permanecer passageiramente em minoria entre os bolcheviques, Lenin assinalou: 

 

“O boicote é uma declaração de guerra aberta contra o antigo Governo, um ataque direto contra ele.

A não ser em um amplo ressurgir revolucionário ... não se deve contar com o êxito do boicote.”[86]

 

 

CAPÍTULO 10.

O SURGIMENTO DO MENCHEVISMO LIQUIDACIONISTA

E O PROCESSO DE CISÃO DA FRAÇÃO MENCHEVIQUE

A PARTIR DE DEZEMBRO DE 1908

 

No interior dos dois principais protagonistas públicos do sistema de frações do POSDR, i.e. a fração bolchevique e a fração menchevique, registrou-se, a seguir, a emergência de novos agrupamentos ideológicos de caráter fracional que passavam a constituir um fenômeno de grande importância na vida desse partido.

No quadro interno da fração menchevique do POSDR, i.e. no domínio intra-fracional menchevique, a partir de dezembro de 1908, sob a direção sobretudo de Potressov e Tcherevanin, Axelrod e Martov, o menchevismo assumiu contornos nitidamente liquidacionistas, caracterizando-se, então, em função de sua defesa aguerrida de alianças a serem celebradas abertamente com partidos burgueses sob as seguintes bandeiras centrais :

 

De natureza ideológica :

 

a. negação da luta de classes revolucionária do proletariado socialista ;

 

b. rejeição do papel hegemônico a ser desempenhado pelo proletariado na Revolução Democrático-Burguesa.

 

De natureza organizativa :

 

a.    recusa da necessidade de organização um partido marxista

revolucionário ilegal.

 

b.    intervenção aberta e pública nas colunas da imprensa legal, nas

organizações legais dos trabalhadores, sindicatos e cooperativas, congressos públicos, em franco prejuízo do partido ilegal[87].

 

Além disso, cumpre destacar que o menchevismo liquidacionista então surgido – defendendo a independência e a neutralidade do sindicatos - opunha-se ainda abertamente à orientação de Lenin, plasmada na Resolução do Comitê Central do POSDR sobre os Sindicatos, de 13 de fevereiro de 1908, em que se estabeleceu deverem todos os sociais-democratas formar grupos no interior dos sindicatos e, onde não existissem esses, fundar sindicatos, trabalhando sempre sob a direção ideológica do Partido, sendo que, nos casos em que a supervisão da Okhrana (Polícia Secreta Czarista) tornasse impossível organizar sindicatos livres, sindicatos ou núcleos sindicais haveriam de ser organizados ilegalmente[88].

Entretanto, já nesse mesmo mês de dezembro de 1908, Plekhanov, seguido pelos adeptos de seu agrupamento ideológico – sem prejuízo de sua posição favorável à independência e à neutralidade dos sindicatos -, encabeçou uma iniciativa de cisão intra-fracional contra as principais características político-partidárias do menchevismo liquidacionista, ao suspender suas atividades junto à redação do órgão jornalístico liquidacionista denominado “Golos Sotsial-Demokrata (Voz do Social-Democrata)”.

Tal processo de cisão no domínio intra-fracional menchevique, veio, então, a ser manifestamente formalizado quando, em 13 maio de 1909, publicou-se, no Nr. 14 de “Golos Sotsial-Demokrata (A Voz do Social-Democrata)”, um carta de Plekhanov em que esse último declarava, formalmente, ao público leitor seu abandono da redação desse órgão jornalístico.

Em agosto de 1909, Plekhanov voltou a editar, então, seu assim denominado “Dnievik Sotsial-Demokrata (Diário de um Social-Democrata)”, sendo que ele e seu agrupamento, embora permanecendo vinculados às posições históricas do menchevismo oportunista, passaram a pronunciar-se também em defesa do Partido ilegal e de suas atividades de organização clandestina.

 

 

CAPÍTULO 11.

CONFERÊNCIA DE 1909 DA REDAÇÃO AMPLIADA DO JORNAL

“PROLETARII(O PROLETÁRIO)”, ÓRGÃO CENTRAL

DA FRAÇÃO PÚBLICA BOLCHEVIQUE  NO INTERIOR DO POSDR :

FRACIONALISMO INTRA-BOLCHEVIQUE,

LUTA CONTRA AS FRAÇÕES PÚBLICAS

DOS ABSTENCIONISTAS (OTZOVISTAS),

DOS ULTIMATISTAS (ULTIMATISTI)

E DOS CONSTRUTORES DE DEUSES(BOGOSTROITELIS)

 

Em sentido estatutário, jamais os bolcheviques postularam a admissão de "frações públicas permanentes".

No quadro interno da fração bolchevique do POSDR, i.e. no domínio intra-fracional bolchevique - operante em largos traços enquanto fração pública do POSDR de fins de 1903 – início de 1904 até fins de 1911 - início de 1912 -, Lenin e seus adeptos, embora sempre seriamente admitindo a existência de tendências e frações internas, lutaram, ininterrupta e rigorosamente, contra o repetido fenômeno existencial das frações públicas, cujo delineamento é passível de fundadamente ser concebido apenas em momentos excepcionais da vida de uma organização marxista-revolucionária.  

O exemplo mais cabal fornecido pela história da luta de classes nesse sentido, situa-se, precisamente, entre 1907 e 1909, anos esses posteriores à derrota da Revolução Russa de 1905-1907, tendo-se precisamente em consideração o tratamento conferido por Lenin e seus agora assim chamados “bolcheviques oficiais-ortodoxos” aos agrupamentos ideológicos de caráter fracional, formados, no interior do domínio intra-fracional bolchevique, pelos abstencionistas (otzovistas), ultimatistas(ultimatisti) e construtores de deuses (bogostroitielis) todos eles defensores da plataforma política de sistemático boicote das eleições parlamentares, realizadas nos limites da Lei Eleitoral de Stolypin, revogação dos mandatos dos Deputados do POSDR junto à III Duma de Estado e suspensão do trabalho marxista-revolucionário no quadro das organizações e instituições legais do regime, fundando-se, para isso, em supostas virtudes e conclusões, extraídas das então novidadeiras concepções empiro-criticistas, subjetivistas-idealistas, dos filósofos alemães neo-kantistas Ernst Mach e Richard Avernarius[89].    

No início de 1909, os três agrupamentos ideológicos acima referidos, i.e. os abstencionistas (otzovistas), encabeçados por Bogdanov e Krassin, os ultimatistas (ultimatisti), dirigidos por Shantser, e os construtores de deuses(bogostroitielis), protagonizados por Lunatcharsky e Gorki, conformaram-se em um grupo dinamizador da iniciativa de realização de uma Escola Fracional, a ter lugar na Ilha de Capri, na Itália.        

Prolongando-se ao longo de 4 meses de estudos – i.e. de agosto a dezembro de 1909 -, a Escola de Capri constituiu-se em centro de surgimento embrionário de uma nova fração pública, unificadora dos três agrupamentos ideológicos em referência, dotados de caráter fracional.

Gorki – aliado bolchevique de Lunatcharsky, Bogdanov, Bassarov, Pokrovsky – pregava, em 1908, não se dever conceber os seres humanos tal como divididos em classes sociais, não se erigir líderes individuais e, pelo contrário, propagar-se o surgimento de uma nova doutrina para as massas revolucionárias, baseada na busca e na criação de Deus, na “espiritualização” da revolução e na conciliação entre religião e marxismo, no quadro de um Terceiro Testamento, fomentador do amor e da confiança na humanidade :

 

“Conclamei o gênero humano para uma nova religião…

As pessoas são os criadores…

Nelas, Deus se aloja. …

Vi aqui minha mãe, no espaço em meio às estrelas…

E vi o seu mestre, o Povo Todo-Poderoso e Imortal…

Então, comecei a minha oração: “És meu Deus, Povo Soberano

e Criador de Todos os Deuses que formaste a partir das belezas

do Teu espírito, no cansaço e no sofrimento de Tua procura.

E o mundo não deverá ter nenhum outro Deus, senão a ti.

Pois, és o único Deus que faz milagres.

 

Cristo não foi suficientemente duro.

Disse que aquele cálice deveria dele ser afastado e reconheceu o Imperador.

Porém, Deus não pode reconhecer o poder de um homem sobre outro, onde Ele é inteiramente o poder !

Ele não divide a sua alma : isso aqui é para Deus, aquilo ali para os homens ...”[90]

 

Por sua vez, Bogdanov - rejeitando o fundamento marxista de que não é a consciência do homem que determina o seu ser social, senão precisamente o inverso – defendia ser possível determinar e superar o ser social do homem com o auxílio da consciência, mesmo porque inviável, segundo ele, seria separar-se o ser social do homem de sua consciência intelectual.

Para Bogdanov, o progresso social mesmo seria o resultado de uma harmonia crescente entre as atividades de aprender e conscientizar-se, sendo a própria consciência o “princípio organizativo da práxis social” em face das relações econômico-materiais, concebidas enquanto domínios limitados dos processos técnicos e ideológicos.

Nesse sentido, o atingimento da sociedade sem classes seria obtido, segundo ele, na medida em que a classe trabalhadora conseguisse educar-se com base na “Proletkult(Cultura Proletária)”, propugnadora da formação da vontade e do sentimento coletivos, em contraste com o individualismo burguês-egoísta.

A Conferência de Junho de 1909 da Redação Ampliada do Jornal “Proletário”, órgão central da fração pública bolchevique, no interior do POSDR, desferiu uma luta implacável contra tais manifestações público-fracionais, comandadas por Bogdanov, Schantser e Lunatcharsky, inteiramente capituladoras perante os propósitos mais essenciais do menchevismo liquidacionista, i.e. o fomento do revisionismo doutrinário, do reformismo político e do oportunismo organizativo no interior do marxismo revolucionário[91].  

A conferência em tela estabeleceu, majoritariamente – a despeito das posições dos assim então denominados “bolcheviques conciliadores-virtuosos”, capitaneados por Rykov e Dubrovinsky, Iurenev e Sokolnikov - uma resolução afirmando que “o bolchevismo enquanto corrente determinada do POSDR não possui nada em comum com o abstencionismo e o ultimatismo”, bem como “nada em comum com tais deformações (i.e. deformações deísticas e teísticas) do socialismo científico”, ao mesmo tempo em que conclamou a militância bolchevique a combater, resolutamente, essas degenerações da doutrina dialética histórico-materialista de Marx e Engels.

O episódio mais expressivo desse processo de luta contra o fracionalismo público no interior das fileiras dos bolcheviques – que não poderia jamais ser considerado de nenhuma forma como sendo de caráter “permanente” ou “virtualmente permanente” – foi, sem dúvida, a mais categórica condenação das posições sufragadas pelos abstencionistas (otzovistas), ultimatistas (ultimatisti) e construtores de deuses (bogostroitielis) por essa conferência do bolchevismo ortodoxo,qualificando-se-os, precisamente, como “liquidacionistas de signo invertido” ou ainda “inimigos mascarados do Partido”, bem como a mais resoluta expulsão do bolchevique abstencionista Bodganov das fileiras bolcheviques.

Além disso, a Conferência de Junho de 1909 da Redação Ampliada do Jornal “Proletário”, órgão central da fração pública bolchevique, no interior do POSDR, reprovou a Escola de Capri por representar “um novo centro de uma fração que se cindiu dos bolcheviques.”

 

 

CAPÍTULO 12.

LUTA DA FRAÇÃO BOLCHEVIQUE

CONTRA A FRAÇÃO “VPERIOD(AVANTE)” DO POSDR,

SURGIDA EM DEZEMBRO DE 1909

EM SEU PRÓPRIO DOMÍNIO INTRA-FRACIONAL :

LUTA CONTRA A UNIFICAÇÃO

COM O ABSTENCIONISMO, O ULTIMATISMO

E A CRIAÇÃO DE DEUSES,

SOB OS AUSPÍCIOS DA IDEOLOGIA IDEALISTA-SUBJETIVISTA

DE MACH E AVENARIUS

 

Exemplo semelhante de luta contra a tentativa de subordinação ideológica do proletariado à ideologia subjetivista-idealista e ao “liquidacionismo de signo invertido”, é-nos fornecida, a seguir, por Lenin e os bolcheviques, já propriamente a partir de dezembro de 1909, em seu combate à nova fração pública emergente do processo de fusão, selado pela Escola de Capri, e reunida, agora, em torno do órgão jornalístico “Vperiod (Avante)”.

É correto afirmar, porém, que a nova fração avanteísta (vperiodista), situada sob a direção de Bogdanov e Lunatcharsky, surgia intervindo ativamente no interior do POSDR, porém não mais no domínio intra-fracional bolchevique.[92]

 

CAPÍTULO 13.

LUTA DA FRAÇÃO BOLCHEVIQUE NO INTERIOR DO POSDR

CONTRA A FRAÇÃO “NÃO-FRACIONALISTA” DE TROTSKY:

CONTRA A UNIDADE DE BOLCHEVIQUES E

LIQUIDACIONISTAS DE TODOS OS SIGNOS

 

Também no quadro inter-fracional do regime de sistema de frações do POSDR, existente a partir de fins 1903 – início de 1904 até fins de 1911 – início de 1912, despregou-se, entre 1908 e 1912, a luta de Lenin e dos “bolcheviques oficiais-ortodoxos” contra a fração pública unionista “não-fracionalista” do POSDR, dirigida por Trotsky, e defensora da unidade de todos os sociais-democratas russos – seja dos fiéis ao Partido e seja dos liquidacionistas de todos os gêneros -, a partir da publicação do jornal vienense “Pravda (A Verdade)”.

 

CAPÍTULO 14.

LUTA DA FRAÇÃO BOLCHEVIQUE

CONTRA A FRAÇÃO DOS BOLCHEVIQUES

CONCILIADORES-VIRTUOSOS “NÃO-FRACIONALISTAS” :

CONTRA O APOIO VELADO AOS LIQUIDACIONISTAS,

CONTRA O FIM DO SISTEMA DE FRAÇÕES

 

Ao mesmo tempo, no domínio intra-fracional bolchevique, Lenin e os “bolcheviques oficiais-ortodoxos” vieram a travar ainda mais uma batalha ao combaterem a fração dos “bolcheviques conciliadores-virtuosos não-fracionalistas” ou ainda “bolcheviques pró-Partido”, encabeçados por Rykov e Dubrovinsky, Iurenev e Sokolnikov, no período de junho de 1909 a janeiro de 1912.

Essa fração dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não- fracionalistas” aproximou-se, de modo mais nítido, a partir de janeiro de 1910, das posições da fração pública unionista “não-fracionalista” de Trotsky, opondo-se à subsistência do sistema de frações, então existente, sob a consigna :

 

“As frações e o sistema de frações constituem uma luta da inteligência pelo exercício da influência sobre o proletariado imaturo.”[93] 

 

CAPÍTULO 15.

 FORMAÇÃO E FUNCIONAMENTO

DO BLOCO BOLCHEVIQUE-MENCHEVIQUE UNITÁRIO

DOS FIÉIS AO PARTIDO

ENTRE 1909 E 1913 

 

A organização fracional de Lenin, ativa no interior do POSDR ao longo dos anos referidos, jamais perdeu de vista a imprescindibilidade do impulsionamento da estratégia de construção de um autêntico e unitário partido marxista-revolucionário, postulada sempre no sentido da relatividade e provisoriedade das lutas fracionais que, conseqüentemente, ou haveriam de rumar para a reunificação das forças revolucionárias, em conformidade com a defesa dos princípios e corolários mais essenciais do marxismo revolucionário, ou, então, para a mais integral ruptura, reabrindo a via para a estruturação de um novo partido que retomasse a preservação do programa, do estatuto e da direção revolucionários do proletariado, em sua luta de libertação contra o jugo capitalista-imperialista, autocrático e latifundiário.

Precisamente nesse sentido, deve ser entendida a tática de frente única revolucionário-partidária condensada no Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, constituído, a partir de agosto de 1909, entre os adeptos bolcheviques de Lenin e os mencheviques fiéis ao Partido, comandados por Plekhanov, sob proposição desse último.

Em face da cisão de dezembro de 1908, ocorrida no domínio intra-fracional menchevique, entre mencheviques fiéis ao Partido e mencheviques liquidacionistas, Lenin acolheu, calorosamente, a proposta de Plekhanov de constituição de um Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido e conclamou os bolcheviques a fomentarem, veementemente, o aprofundamento da separação daquelas duas vertentes mencheviques, procurando uma aproximação com a primeira delas, sobre a base da luta em prol da construção do Partido legal e ilegal, bem como em favor da mais rigorosa disciplina de militância em seu interior.

Com essa índole, foi edificado o Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido em cujo seio, segundo os bolcheviques, “as diferenças de concepções não deveriam perturbar o trabalho, a marcha e a luta comuns em favor do Partido e contra os liquidacionistas.”

Assim, é possível verificar-se, de agosto de 1909 até agosto de 1913, mencheviques, adeptos de Plekhanov, e bolcheviques, encabeçados por Lenin, trabalharem, conjuntamente, no interior de diversos comitês regionais, bem como no quadro da redação dos jornais bolcheviques “Zvezda (a Estrela)”, “Rabotchaia Gazeta (Diário Operário)” a “Pravda(A Verdade)”.

A partir de 1909 e durante os anos subseqüentes de sua existência, o Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, encabeçado por Lenin e Plekhanov, foi capaz, então, de impulsionar uma luta impiedosa contra o “Bloco sem Princípios” então articulado por Trotsky – a partir do órgão jornalístico ”Pravda (A Verdade)”, de Viena - entre unionistas “não-fracionalistas”, mencheviques liquidacionistas – representados por Martov e Axelrod, Potressov e  Tcherevanin – e liquidacionistas de signo invertido capitaneados por Lunatcharsky e Bogdanov –, cujo objetivo maior era, segundo Lenin, causar “aborrecimento ao centro bolchevique por sua luta sem quartel na defesa de suas idéias.”[94]

Durante o período em tela, Plekhanov incorporou-se à então redação do Órgão Central do POSDR, cujo jornal era, naquela ocasião, o “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)” que contava com a participação de representantes majoritários dos bolcheviques, alguns poucos mencheviques-liquidacionistas e sociais-democratas poloneses.

Também nesse contexto de vigência do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, Lenin apresentou, em 21 de outubro de 1909, seu Projeto de Resolução acerca da Consolidação do Partido e sua Unidade à reunião da redação do órgão central “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)” – fundado no teor de seu artigo intitulado “Sobre os Métodos para a Consolidação de nosso Partido e sua Unidade” -, visando ao impulsionamento da luta contra as diversas nuances de oportunismo liquidacionista, então existentes no interior do POSDR, e à preservação da autonomia da fração oficial-ortodoxa do bolchevismo[95].

Mesmo em face da existência do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, a maioria da redação de “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)”, detida, naquele então, por bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, encabeçados por Rykov e Dubrovisnky, Iurenev e Sokolnikov, logrou fosse rejeitado o projeto de resolução de Lenin acima referido, bem como impedida a publicação de seu artigo “Sobre os Métodos para a Consolidação de nosso Partido e sua Unidade”, na qualidade de artigo editorial desse órgão jornalístico central, admitindo-a tão somente enquanto artigo polêmico, assinado exclusivamente por seu autor e colocado sob sua responsabilidade individual.

Ainda no quadro desse Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, deve ser entendida a convocação e realização da Plenária do Comitê Central do POSDR, denominada, então, de “Plenária da Unificação”, ocorrida entre os dias 2 e 23 de janeiro de 1910, na cidade de Paris.

Nela, compareceram representantes de todas as frações, tendências e agrupamentos ideológicos do POSDR, bem como das organizações sociais-democráticas polonesa, letã, ucraniana e do Bund.

Em verdade, opondo-se, resolutamente, à orientação de Lenin de consolidação do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido – selado com os adeptos mencheviques de Plekhanov, em função da luta contra todas as nuances de liquidacionismo partidário – a fração dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, encabeçados por Rykov e Dubrovinsky, Iurenev e Sokolnikov, em aliança com a fração pública unionista “não-fracionalista” de Trotsky, defendendo a ocorrência de tal plenária, postularam a mais completa dissolução do sistema de frações do POSDR, então existente, bem como a incondicional unificação dos bolcheviques com os mencheviques liquidacionistas, liquidacionistas de signo invertido e “não-fracionalistas” de todos os gêneros.

Os bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, associados aos defensores da fração pública unionista “não-fracionalista” de Trotsky, detendo em suas mãos a maioria da “Plenária da Unificação” em referência, lograram fazer aprovar, contra os posicionamentos de Lenin, uma resolução “não-fracionalista” de extinção do jornal bolchevique “Proletarii(O Proletário)”, bem como propugnadora da dissolução do centro bolchevique, transferindo-se todo o seu patrimônio físico ao Comitê Central do POSDR, bem como seus recursos líquidos à II Internacional Socialista, na pessoa de seus representantes fiduciários Franz Mehring, Clara Zetkin e Karl Kautsky.

Nesse mesmo sentido, o “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)”, devendo passar a ser o órgão jornalístico do Comitê Central do POSDR, haveria de vir a ser dirigido por um comitê incluindo os nomes de Zinoviev, Lenin, Dan e Martov.

Além disso, a “Plenária da Unificação” estabeleceu que Kamenev seria incorporado no comitê de redação do jornal vienense “Pravda(A Verdade)” de Trotsky, sendo esse jornal financeiramente sustentado pelo centro, ainda que não adquirisse o caráter de órgão oficial do POSDR.

Nesse contexto, pressionado a aceitar tais condições reputadamente “não-fracionalistas” - apoiando-se, porém, nas forças do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido -, Lenin logrou fosse acolhido um adendo à resolução de dissolução do “Proletarii(O Proletário)” e do centro bolchevique, condicionando-a à simultânea dissolução dos jornais “Golos Sotsial-Demokrata (A Voz do Social-Democrata)” e “Vperiod (Avante)”, bem como dos centros menchevique-liquidacionista e liquidacionista de signo invertido.

Ao mesmo tempo, sob implacável insistência de Lenin, a “Plenária da Unificação” foi forçada a adotar uma resolução condenatória de todas as nuances de liquidacionismo do Partido[96].

A despeito disso, a plenária em destaque elegeu novos representantes do menchevismo liquidacionista para importantes cargos de direção das instituições centrais do POSDR, sob intenso protesto de Lenin e dos bolcheviques oficiais-ortodoxos.

Desse modo, o menchevismo liquidacionista conquistou a direção do Bureau Estrangeiro do POSDR, operante na qualidade de representante de todo o Partido no exterior, permanecendo subordinado apenas ao Colegiado Russo do Comitê Central do POSDR[97]. 

Em uma carta dirigida a Gorki, datada de 11 de abril de 1910, Lenin pronunciou-se da seguinte forma acerca do estado efetivo da organização marxista-revolucionária russa, existente naquele então :

 

“Temos um bebê coberto de abscessos. ...

Se der certo, ou abrimos a ferida, deixamos sair o pus, curamos a criança e a criamos, ou, se der errado, a criança morrerá.

Então, ficaremos, por um tempo, sem criança (i.e. reconstruiremos a fração bolchevique novamente) e daremos à luz, a seguir, uma criança mais saudável.”[98]

 

Por força do monumental trabalho operado no quadro do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, Lenin e Plekhanov, intervindo no quadro da delegação do POSDR junto ao Congresso da II Internacional Socialista, ocorrido em Copenhagen, entre 28 de agosto e 3 de setembro de 1910, recorreram, conjuntamente, à presidência do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD), fundados em uma carta de protesto dirigida contra a publicação de um artigo sectário e  anônimo, de matiz favorável ao menchevismo liquidacionista – em verdade de autoria de Trotsky -,  publicado nas colunas de “Vorwärts (Avante)”, órgão central da Social-Democracia Alemã.

Além disso, protestaram contra a continuada existência e publicação de artigos liquidacionistas nos jornais “Golos Sotsial-Demokrata (A Voz do Social-Democrata)” e “Vperiod (Avante)”.

Por lograr desvendar implacavelmente todos os matizes de sobrevivência velada do liquidacionismo partidário, a tática de frente única revolucionário-partidária do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido permitiu que, já a partir de agosto de 1910, Lenin e Plekhanov, desvencilhando-se de seus compromissos da “Plenária da Unificação”,  encabeçassem a publicação comum do jornal ilegal “Rabotchaia Gazeta(Jornal Operário)” e do jornal legal ”Zvezda(Estrela)”.    

A partir de 1910, já no quadro do novo ascenso das lutas proletárias na Rússia, a tática do Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido propiciou, além disso, à fração dos bolcheviques oficiais-ortodoxos, sob a direção de Lenin, alcançar grande influência entre os lutadores mencheviques, vinculados às posições puramente etapistas de Plekhanov, expandir sua penetração no seio das organizações legais, derrotando os liquidacionistas nessa esfera política, e afastar, em maio de 1911, seu representante, Zemashko, do Bureau Estrangeiro do POSDR – enquanto forma de protesto.  

A Escola de Quadros de Longjumeau, organizada por Lenin e Zinoviev na primavera de 1911, ocupou-se, então, com a formação de revolucionários dispostos a atuarem na Rússia, a fim de aí desenvolverem trabalho clandestino, restabelecendo contatos e preparando uma conferência nacional bolchevique.

Em junho de 1911, bolcheviques oficiais-ortodoxos lograram também, com base em sua luta irreconciliável contra os mais diversos matizes de liquidacionismo no interior do POSDR, afastar Martov e Dan da composição do órgão de redação central “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)”.    

Desde então, passaram os bolcheviques oficiais-ortodoxos, encabeçados por Lenin, a deterem a maioria incontrastável na redação de “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)”.

Ao mesmo tempo, Lenin e seus seguidores foram capazes de desvendar o caráter e combater devidamente a assim chamada Comissão Técnica do Bureau Estrangeiro do CC, criada, em junho de 1911, pela Conferência do Comitê Central do POSDR, enquanto órgão formalmente dotado de funções voltadas à organização e à convocação de uma nova plenária do Comitê Central.

Em verdade, essa nova Comissão Técnica do CC, incumbida da realização de trabalhos de imprensa, transporte de materiais etc., revelou-se, logo a seguir, na prática, como sendo um instrumento institucional das forças apoiadoras da fração pública “não-fracionalista”, dedicando-se a sabotar medidas organizativas dos bolcheviques, impulsionando, em seu “Informatsiony Biuleten(Boletim de Informações)”, publicado em Paris, uma campanha de ataques a suas posições, impedindo a transferência de meios financeiros para a edição do órgão central do POSDR, o “Sotsial-Demokrat (O Social-Democrata)” e violando seu dever de subordinação às resoluções da Comissão de Organização Russa.

Assim, em 19 de outubro de 1911, Lenin e os bolcheviques decidiram que Vladimirsky, seu representante junto a ela, deveria abandoná-la, rompendo-se todos e quaisquer vínculos de relacionamento com referida comissão técnica[99].

A seguir, o surgimento do POSDR (Bolchevique) – tendo como seu órgão jornalístico central a “Rabotchaia Gazeta(Jornal Operário)” - permitiu, além disso, ao longo de mais de um ano, até agosto de 1913, a colaboração dos sociais-democratas fiéis ao Partido, adeptos das posições de Lenin e Plekhanov, na publicação do novo jornal quotidiano, surgido em 22 de abril de 1912, com o nome “Pravda (A Verdade)”, bem como, finalmente, a promoção da ruptura bolchevique da bancada parlamentar de deputados sociais-democráticos russos, no quadro da Duma de Estado, ocorrida no curso do outono de 1913, enquanto resultado direto da implacável e resoluta intervenção de Sverdlov, nos meses da virada de 1912 para 1913.  

Entretanto, em agosto de 1913, rompeu-se o Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, sob o impacto das novas acusações de Plekhanov dirigidas contra Lenin no sentido desse último pretender apenas fomentar, a todo custo, um “fracionalismo rupturista” no interior do POSDR, Plekhanov dedicou-se à formação de uma nova fração pública do POSDR, defensora do conciliacionismo virtuoso e organizada em torno do órgão jornalístico central Edinstvo (Unidade). 

Logo a seguir, essa fração da unidade de Plekhanov haver-se-ia de fundir com o Bloco de Agosto, onde se somou aos membros do Bund e integrantes da fração pública dos mencheviques liquidacionistas, dirigidos por Potressov e Martov, a fim de dedicarem-se à promoção de uma campanha implacável de difamação contra Lenin e os bolcheviques, bem como de serrada oposição contra a criação rupturista do POSDR(Bolchevique).          

 

 

CAPÍTULO 16.

 FORMAÇÃO E FUNCIONAMENTO

DO “BLOCO SEM PRINCÍPIOS”

“NÃO-FRACIONALISTA” E LIQUIDACIONISTA AMBIVALENTE

DE TROTSKY – MARTOV - LUNATCHARSKY

ENTRE 1909 E 1912 

 

A partir de 1909 e durante os anos subseqüentes de sua existência, o Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, encabeçado por Lenin e Plekhanov, foi capaz, então, de impulsionar uma luta impiedosa contra o “Bloco sem Princípios” então articulado por Trotsky – a partir do órgão jornalístico o ”Pravda (A Verdade)”, de Viena - entre unionistas “não-fracionalistas”, mencheviques liquidacionistas – representados por Martov e Axelrod, Potressov e  Tcherevanin – e liquidacionistas de signo invertido capitaneados por Lunatcharsky e Bogdanov –, cujo objetivo maior era, segundo Lenin, causar “aborrecimento ao centro bolchevique por sua luta sem quartel na defesa de suas idéias.”[100]

Após a ruptura integral do Partido e fundação do POSDR (Bolchevique), no quadro da VI Conferência de Praga de 1912, Trotsky haveria de conclamar, então, ainda nesse mesmo ano, a realização de uma “Conferência de Unificação”,  a qual traria à luz o Bloco de Agosto, unificador dos militantes da fração pública “não-fracionalista” de Trotsky,  do menchevismo liquidacionistaPotressov e  Tcherevanin – e do liquidacionismo de signo invertido – Lunatcharsky e Shantser -, bundistas e sociais-democratas letões, cristalizando-se, porém, já no domínio inteiramente externo ao POSDR (Bolchevique), surgido em janeiro de 1912. 

Ainda que intentasse construir-se como resposta à VI Conferência de Praga de 1912 do POSDR (Bolchevique), o Bloco de Agosto acabou consagrando uma posição manifestamente oportunista, sendo que o comitê de organização do órgão central desse bloco, reunido em torno do jornal ”Lutch(O Raio)”,  rapidamente revelou-se como instrumento à disposição dos interesses liquidacionistas.

Por essa razão, já no curso de 1912, Trotsky e seus colaboradores abandonaram o Bloco de Agosto e deslocaram-se rumo à fundação, em novembro de 1913, da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos de Petersburgo (Comissão Inter-Distrital) que haveria de conformar-se, a seguir, em centro aglutinador fundamental no interior do POSDR de reagrupamento geral em toda a Rússia dos militantes advindos seja da antiga fração pública unionista “não-fracionalista” de Trotsky – composta por Antonov-Ovseienko, Ioffe, Riazanov e outros -, seja da fração pública avanteísta (vperiodista) de Lunatcharsky, Pokrovsky e Manuilsky, seja ainda do restante da fração interna dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, encabeçados agora por Iurenev e Sokolnikov, que não se haviam realinhado no POSDR(Bolchevique), por ocasião da VI Conferência de Praga de 1912[101].

 

CAPÍTULO 17.

VI CONFERÊNCIA DO POSDR DE TODA A RÚSSIA EM 1912 :

FIM DO SISTEMA DE FRAÇÕES,

CRIAÇÃO DO POSDR (BOLCHEVIQUE)

E LUTA PELA INTEGRAL RUPTURA DO PARTIDO

COM O LIQUIDACIONISMO MENCHEVIQUE

E TODOS OS SEUS ALIADOS SOCIAIS-DEMOCRATAS,

SEJA NA FRAÇÃO DA DUMA DO ESTADO

SEJA NO “PRAVDA(A VERDADE)”

DIRIGIDOS PELO CONCILIACIONISMO VIRTUOSO

NÃO-FRACIONALISTA SUBTERRÂNEO OU SECRETO

DE STALIN

 

Após esboçar o quadro político-institucional verificado de 1903 a 1911 no interior do POSDR, cumpre destacar o fato de que, apenas no contexto posterior a 18 de janeiro de 1912, verificou-se a extinção do antigo sistema de frações, mediante integral ruptura partidária promovida pelo então criado POSDR (Bolchevique), constituído na VI Conferência de Praga, em que participaram bolcheviques e mencheviques fiéis ao Partido.

Essa integral ruptura partidária foi executada seja contra o social-reformismo, o inorganicismo político-partidário e o oportunismo da subalternidade do proletariado na revolução em face do campesinato e da burguesia, tal como defendido pelos mencheviques-liquidacionistas, seja contra o liquidacionismo de signo invertido dos abstencionistas (otzovistas), dos ultimatistas (ultimatisti), dos construtores de deuses(bogostroitielis), dos avanteístas (vperiodistas), seja contra o unionismo “não-fracionalista” de Trotsky, seja ainda contra alguns integrantes da fração interna dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, tais como Iurenev e Sokolnikov, que não pretenderam se realinhar no POSDR(Bolchevique), por ocasião da VI Conferência de Praga de 1912[102].

O surgimento do POSDR (Bolchevique), revestindo-se, pela primeira vez na história, de um independente Comitê Central Bolchevique, composto por um Bureau Russo e por um Bureau Estrangeiro, tendo como seu órgão jornalístico central a “Rabotchaia Gazeta(Jornal Operário)” - adquiriu potência de luta, sobretudo, depois do Massacre de Lena[103].

Ele viabilizou, além disso, ao longo de mais de um ano, até agosto de 1913, a colaboração dos sociais-democratas fiéis ao Partido, adeptos das posições de Lenin e Plekhanov, na publicação do novo jornal quotidiano, surgido em 22 de abril de 1912, com o nome “Pravda (A Verdade)”, bem como, finalmente, a promoção da ruptura bolchevique da bancada parlamentar de deputados sociais-democráticos russos, no quadro da Duma de Estado, ocorrida no curso do outono de 1913, enquanto resultado direto da implacável e resoluta intervenção de Sverdlov, nos meses da virada de 1912 para 1913.  

Opondo-se aos argumentos de Trotsky, Lenin pronunciou-se da seguinte forma acerca do novo contexto de integral ruptura do partido e extinção do antigo sistema de frações do POSDR :

 

“A partir de 1912, i.e. já há mais de dois anos, na Rússia, entre os marxistas organizados, já não existe mais nenhum sistema de frações, nenhuma disputa sobre tática em uma organização unitária e em conferências e congressos unitários.

Presentemente, existe a situação de uma integral ruptura entre o Partido e os liquidadores.

O Partido declarou, em janeiro de 1912, que os liquidadores não pertencem mais a ele.     

Trotsky designa, não raramente, essa situação das coisas com a palavra “cisão”.

Falaremos, a seguir, muito particularmente acerca dessa denominação.

Porém, permanece inquestionável o fato de que a expressão “sistema de frações” não corresponde mais à verdade.”

Essa expressão é, tal como já dito, uma repetição acrítica, incompreensível e insensata daquilo que foi correto anteriormente, i.e. em um período já transcorrido.” [104]

 

Essa rigorosa e resolutamente conseqüente postura de Lenin e dos militantes bolcheviques por ele dirigidos encontra-se, pois, plenamente de acordo com a observação do princípio marxista-organizativo maior de defesa da unidade do partido da classe trabalhadora rumo à Revolução Socialista que repudia o fenômeno do fracionalismo público-permanente. 

Entretanto, mesmo com a efetuação da ruptura integral do partido, promovida pelo POSDR (Bolchevique), Lenin ainda haveria de lutar durante vários anos contra a persistência dos adeptos da fração subterrânea ou secreta dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas” que permaneciam atuantes no interior da organização marxista-revolucionária russa[105].

Já mesmo em dezembro de 1912 - quando Stalin era então representante e membro encarregado das tarefas do Bureau Russo do Comitê Central do POSDR (Bolchevique) em Petersburgo -, Lenin defrontou-se com graves sintomas de conciliacionismo virtuoso “não-fracionalista” instigados sub-repticiamente por Stalin, seja na intervenção bolchevique junto à IV Duma do Estado seja junto à redação do “Pravda(A Verdade)”, constituindo, em verdade, um destes sintomas conseqüência direta da incidência do outro[106].

No primeiro caso, i.e. junto à IV Duma do Estado, os 6 Deputados Bolcheviques demonstravam-se inteiramente incapazes de oporem-se resolutamente ao liquidacionismo partidário, propugnado abertamente pelos 7 Deputados Mencheviques, de modo que permaneciam submetidos à maioria liquidacionista da bancada parlamentar social-democrática, recusando-se a com ela resolutamente romper, tal como recomendado por Lenin.

Em certos momentos, os 7 Deputados Mencheviques eleitos para a IV Duma do Estado conseguiram até mesmo fazer com que deputados sociais-democratas não propriamente alinhados com o menchevismo – Mankov e Jagello – votassem em favor da política menchevique-liquidacionista[107] e todos os 6 Deputados Bolcheviques – Petrovsky, Samoilov, Shagov, Muranov, Badaiev, Malinovsky, esse último agente duplo da Okhrana - se predispusessem a realizar um trabalho em conjunto com seus próprios detratores mencheviques[108].

Nesse contexto, Lenin conferiu a Sverdlov – recém-chegado a Petersburgo, após uma exitosa fuga de seu exílio na região de Narym, na Sibéria, e atuando, agora, como representante e membro do Bureau Russo do Comitê Central do POSDR (Bolchevique)  - a tarefa de persuadir os bolcheviques adeptos do conciliacionismo virtuoso “não-fracionalista”, ocupados dos trabalhos de intervenção política na Duma do Estado – entre eles Stalin, Olminsky, Bubnov, Krestinsky, Sokolov, Saveliev, Samoilova – sobre os perigos e danos da colaboração com os representantes do liquidacionismo menchevique, bem como sobre a necessidade da mais intransigente defesa do trabalho clandestino revolucionário, paralelamente ao trabalho legal e parlamentar.

 

Atraindo para si todo o ódio dos mencheviques liquidacionistas, Sverdlov repreendia os defensores restantes da fração conciliadora-virtuosa “não-fracionalista” no interior do POSDR(Bolchevique), assinalando:

 

“Vocês não percebem que nas reuniões ilegais que estão ocorrendo por detrás das suas costas existem aqueles que querem liquidar o Partido?

E vocês cooperam com todos eles !”[109]

 

O resultado da decidida intervenção rupturista de Sverdlov foi, de início, o surgimento de novas declarações dos Deputados Bolcheviques, opondo-se ostensivamente à política menchevique-liquidacionista e, por fim, a promoção da integral ruptura bolchevique da bancada parlamentar de deputados sociais-democráticos russos, no quadro da Duma de Estado, ocorrida no curso do outono de 1913, momento em que Sverdlov encontrava-se mais uma vez distante de Petersburgo e exilado na região siberiana de Turukhansk[110].

No segundo caso, i.e. na questão que afetava o curso conciliador-virtuoso “não-fracionalista” do “Pravda (A Verdade)”, cumpre destacar que, em dezembro de 1912, esse jornal bolchevique, encontrando-se então sob a direção imediata de Stalin – então representante e membro do Bureau Russo do Comitê Central do POSDR (Bolchevique) em Petersburgo -, promovia, na prática, contra orientação expressa de Lenin, o encerramento das disputas, aos seus olhos, sem sentido, travadas contra o menchevismo liquidacionista, cujo principal porta-voz era o órgão jornalístico “Lutch (O Raio)”.   

Opondo-se veladamente à desesperada luta de Lenin contra o menchevismo liquidacionista, Stalin surgiu como o principal impulsionador em Petersburgo de um programa conciliacionista-virtuoso “não-fracionalista para o “Pravda (A Verdade)”, desde o surgimento desse órgão jornalístico em meados de abril de 1912, quando foi apoiado por Petrovsky, Poletayev, Olminsky e Baturin.

A partir de 12 de setembro de 1912 – data de sua nova vinda a Petersburgo de seu exílio na região siberiana de NarymStalin assumiu a função de responsável pela redação do “Pravda (A Verdade)”, sendo, então, coadjuvado por Lebedev, Molotov, Raskolnikov e Samoilov, na defesa de uma linha conciliadora no trato com o liquidacionismo, ao mesmo tempo em que, suprimindo das colunas do jornal toda polêmica contra o menchevismo liquidacionista, opunha-se, em maneira de sabotagem e de modo dissimulado, à publicação de vários artigos rupturistas de Lenin, mediante a apresentação de inúmeras escusas relativas às dificuldades de imprensa e de fomento de atividades clandestinas[111].

Convocado a comparecer em Cracóvia, em meados de novembro de 1912, Stalin foi repreendido por Lenin por sua postura colaboracionista em face do menchevismo liquidacionista, sendo-lhe recomendado expressamente que, ao invés de publicar artigos simpáticos ao liquidacionismo e ao Bund na página frontal do“Pravda (A Verdade)”, publicasse conclamações de luta, dirigidas diretamente ao proletariado russo, prestando mais freqüentemente contas acerca de suas tarefas e das finanças editoriais[112].  

Na medida em que Stalin e seus adeptos permaneciam ignorando as orientações expressas de Lenin[113], os intentos mencheviques-liquidacionistas de interromperem a publicação do “Pravda (A Verdade)”, sob a alegação de contribuir esse último periódico para o enfraquecimento da unidade do POSDR, alcançaram o seu ápice quando, em 18 de dezembro, 4 Deputados Bolcheviques, acompanhados, a seguir, por Gorki[114], concordaram em que seus nomes fossem incluídos na lista de colaboradores do comitê de redação do “Lutch (O Raio)” – ao passo que os nomes dos Deputados Mencheviques incluíam-se como colaboradores do “Pravda (A Verdade)” - e no preciso momento em que Stalin e seus adeptos conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas” consentiram na publicação de acusações mencheviques-liquidacionistas contra Lenin e seu projeto rupturista nas principais colunas do “Pravda (A Verdade)”, ao mesmo tempo que o eram em “Lutch (O Raio)” , asseverando em ambos os jornais que “a unidade da Social-Democracia é uma necessidade urgente” [115].  

Também na luta travada no seio do “Pravda (A Verdade)” contra os restos da fração dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, Lenin conferiu a Sverdlov a tarefa de reorientação do órgão jornalístico em tela, após promover habilmente o afastamento de Stalin, em 26 de dezembro de 1912, no quadro da assim clandestinamente denominada “Conferência de Fevereiro”, ocorrida em Cracóvia. 

A seguir, em 22 de janeiro de 1913, no quadro de uma reunião ocorrida no apartamento do Deputado Bolchevique Petrovsky, os bolcheviques seguidores de Lenin elegeram Sverdlov como novo responsável pela edição do “Pravda (A Verdade)”.

Em carta enviada a Sverdlov, dirigida, porém, para o endereço de Podvoisky, Lenin instruiu Sverdlov da seguinte forma :

 

“Estabeleça o seu próprio Comitê Editorial do Dien’ (EvM: i.e. do “Pravda (A Verdade)”) e bote o antigo para fora ...

Essas pessoas são atualmente membros da junta editorial?   

Elas não são pessoas : são trapinhos de limpeza miseráveis que estão traindo a causa.

Você tem de pegar o trabalho com as suas próprias mãos.

Meta-se nele, juntamente com o Nr. 1 (EvM: i.e. Badaiev).

Instale um telefone.

Recrute assistentes.

Você tem de fazer isso sozinho.”[116]

 

Sverdlov empregou, então, toda sua extraordinária energia revolucionária para transformar radicalmente o perfil editorial do “Pravda (A Verdade)”, eliminando inteiramente sua precedente orientação conciliadora-virtuosa “não-fracionalista”, corrigindo e editando a grande maioria dos artigos a serem publicados, bem como redigindo ele mesmo quantidade considerável de matérias a serem levadas ao público[117]. 

Além disso, Sverdlov deu efetivo cumprimento às instruções de Lenin e - até o momento de sua nova prisão, em 10 de fevereiro de 1913 - trabalhou para que o “Pravda (A Verdade)” publicasse uma edição especial inteiramente consagrada ao jubileu da morte de Karl Marx.

Sacando um curto balanço acerca da reforma realizada por Sverdlov, “Pravda (A Verdade)”, e sobre a nova dinâmica política na luta contra o menchevismo liquidacionista, Lenin escreveu, então, aos bolcheviques de Petersburgo, em 2 de fevereiro de 1913:

 

“Caros amigos!

Em primeiro lugar, milhares de saudações por haverem emergido  para fora da merda (EvM: no original russo : vylezaniia iz kalosh) com sucesso.

Bebamos àqueles que emergiram para fora!

Sem brincadeira : tudo feito com magnificência.

Continuem assim da mesma maneira.”[118]  

 

Em 4 de fevereiro, Lenin destacou :

 

“Agora, ficou claro que depois de A<ndrei> (EvM: i.e. Sverdlov) haver assumido o comando, todas as operações estão bem encaminhadas e vão bem ...

Hoje, fomos informados sobre o início da reforma do Dien’ (EvM: i.e. do “Pravda (A Verdade)”).

Milhares de saudações, cumprimentos e desejos de sucesso.

Vocês não podem imaginar como estávamos enjoados de trabalhar com um comitê editorial hostil e surdo.

Cumprimento-lhes de todo o coração.”[119]

 

Em 8 de fevereiro, Lenin frisou :

 

“Em primeiro lugar, permitam-me saudar-lhes pelos colossais desenvolvimentos no jornal, os quais se tornaram evidentes, no curso dos últimos poucos dias.

Com saudações e os melhores desejos de sucesso subseqüente nessa questão.”[120]

 

Nada obstante, a seguir, em 10 de fevereiro, opera-se a prisão de Sverdlov e de sua família, na habitação do Deputado Bolchevique Petrovsky, com base em delação formulada pelo agente de polícia espião, Deputado Bolchevique, Malinovsky. Sverdlov é, então, encarcerado no Presídio das Cruzes, em Petersburgo, a espera de seu novo exílio, em Turukhansk, na Sibéria.

De toda sorte, como produto da integral ruptura promovida em toda frente pelo POSDR (Bolchevique), veio a incrementar-se exponencialmente o peso revolucionário do bolchevismo leninista entre as fileiras das massas trabalhadoras.

Se já durante as eleições para a IV Duma do Estado, na qual expenderam votos todos os eleitores  - e não unicamente eleitores sociais-democratas – 67% dos representantes trabalhadores haviam votado nos bolcheviques, se, no curso dos choques da fração parlamentar, em Petersburgo, 5.000 votos foram conferidos aos bolcheviques e 521, aos mencheviques liquidadores, fato é que, já em 1913, dos 13 sindicatos de Moscou, nenhum deles pertencia mais às forças mencheviques liquidadoras e, dos vinte sindicatos de Petersburgo, apenas 4 – os menos proletários e menos importantes – aderiam ainda ao liquidacionismo menchevique[121].

Além disso, segundo informes prestrados por Sverdlov, se, em abril e maio de 1912, nas primeiras semanas de lançamento do jornal bolchevique “Pravda (A Verdade)” eram publicados 80.000 exemplares, a circulação desse períodico baixou para 13.000 exemplares no verão e atingiu 23.000 exemplares em dezembro do mesmo ano, ao passo que a tiragem do jornal menchevique-liquidacionista “Lutch (O Raio)” permaneceu estacionada em cerca de 7.000 exemplares[122].

Apenas em meados de 1913, no quadro da reforma editorial do “Pravda (A Verdade)”, empreendida por Sverdlov, veio esse jornal bolchevique atingir a cifra de recuperação de 40.000 exemplares, ao passo que “Lutch (O Raio)” surgia, a essa época, no montante de 10.000 exemplares.      

De todo modo, a atitude essencialmente dialético-revolucionária de Lenin no tratamento dos fenômenos fracionais veio a assumir tanto maior validade nas lutas travadas posteriormente, já no interior do POSDR (Bolchevique), a partir de 1912, como no quadro de funcionamento do Partido Comunista Russo (Bolchevique), posteriormente a 1918.

A atitude essencialmente dialético-revolucionária de Lenin no tratamento dos fenômenos fracionais veio a assumir tanto maior validade nas lutas travadas posteriormente, já no interior do POSDR (Bolchevique), a partir de 1912, como no quadro de funcionamento do Partido Comunista Russo (Bolchevique), posteriormente a 1918.

Enquanto balanço retrospectivo do período histórico da vida política do POSDR (Bolchevique), compreendido entre 1908 e 1914, Lenin assinalou, expressamente, o seguinte :  

 

“Se olharmos em retrospectiva para o período histórico, completamente concluído, cujo contexto com os próximos períodos já se encontra às claras, torna-se evidente que os bolcheviques não seriam capazes de manter unido, nos anos de 1908 a 1914, o sólido núcleo do partido revolucionário do proletariado (sem falar, então, em fortalecê-lo, desenvolvê-lo, consolidá-lo), caso não tivessem imposto, no quadro da luta mais impiedosa, a concepção de que era imprescindível combinar, necessariamente, as formas legais com as formas ilegais de luta e participar, incondicionalmente, no parlamento arqui-reacionário, bem como nas fileiras de outras instituições amarradas com leis reacionárias (caixas de seguro etc.)”[123]

 

 

CAPÍTULO 18.

FORMAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO

BLOCO DE AGOSTO A PARTIR DE 1912 :

TENTATIVA DE AGRUPAMENTO DE UNIONISTAS E MENCHEVIQUES CONCILIADORES VIRTUOSOS

“NÃO-FRACIONALISTAS”

COMO O MENCHEVISMO LIQUIDACIONISTA

 

O surgimento em 1912 do Bloco de Agosto, advindo da “Conferência de Unificação”, realizada, em Viena,  por militantes da fração pública “não-fracionalista” de Trotsky,  por adeptos do menchevismo liquidacionistaPotressov e  Tcherevanin – e do liquidacionismo de signo invertido – Lunatcharsky e Shantser -, bundistas e sociais-democratas letões, foi cristalizado já no domínio inteiramente externo ao POSDR (Bolchevique), sem a participação de blocheviques e mencheviques fiéis ao Partido. 

Ainda que intentasse construir-se como resposta à VI Conferência de Praga de 1912 do POSDR (Bolchevique), o Bloco de Agosto acabou consagrando uma posição manifestamente oportunista, sendo que o comitê de organização do órgão central desse bloco, reunido em torno do jornal ”Lutch(O Raio)”,  rapidamente revelou-se como instrumento à disposição dos interesses liquidacionistas.

Na medida em que, em agosto de 1913, rompeu-se o Bloco Unitário dos Fiéis ao Partido, sob o impacto das novas acusações de Plekhanov dirigidas contra Lenin no sentido desse último pretender apenas fomentar, a todo custo, um “fracionalismo rupturista” no interior do POSDR, Plekhanov dedicou-se à formação de uma nova fração pública do POSDR, defensora do conciliacionismo virtuoso e organizada em torno do órgão jornalístico central Edinstvo (Unidade). 

Logo a seguir, essa fração da unidade de Plekhanov haver-se-ia de fundir com o Bloco de Agosto, onde se somou aos membros do Bund e integrantes da fração pública dos mencheviques liquidacionistas, dirigidos por Potressov e Martov, a fim de dedicarem-se à promoção de uma campanha implacável de difamação contra Lenin e os bolcheviques, bem como de serrada oposição contra a criação rupturista do POSDR(Bolchevique).          

Por não lograr obter profunda sustentação em meio às massas de trabalhadores da Rússia Czarista e devido às suas posições chauvinistas em face da I Guerra Mundial Imperialista, o Bloco de Agosto viria a decair substancialmente em suas atividades, sendo, porém, apenas dissolvido, oficial e definitivamente, em 1917, após a Revolução de Fevereiro.

 

CAPÍTULO 19.

EMERGÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO DOS

UNIONISTAS INTER-DISTRITAIS

SOCIAIS-DEMOCRATAS

(COMITÊ INTER-DISTRITAL)

DE TROTSKY -  IURENEV - LUNATCHARSKY

EM 1913

 

Apenas no contexto posterior a janeiro de 1912, i.e. no quadro do surgimento do assim denominado POSDR (Bolchevique), constituído na VI Conferência de Praga, verificou-se uma integral ruptura partidária seja contra o social-reformismo, o inorganicismo político-partidário e o oportunismo da subalternidade do proletariado na revolução em face do campesinato e da burguesia, tal como defendido pelos mencheviques-liquidacionistas, seja contra o liquidacionismo de signo invertido dos abstencionistas (otzovistas), dos ultimatistas (ultimatisti), dos construtores de deuses(bogostroitielis), dos avanteístas(vperiodistas), seja ainda contra o unionismo “não-fracionalista” de Trotsky.

Nada obstante, Trotsky e seus colaboradores abandonaram, já em 1912, o Bloco de Agosto, por este haver-se convertido em um instrumento do menchevismo liquidacionista.

Deslocaram-se rumo à fundação, em novembro de 1913, da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos de Petersburgo (Comissão Inter-Distrital) que haveria de conformar-se, a seguir, em centro aglutinador fundamental no interior do POSDR de reagrupamento geral em toda a Rússia dos militantes advindos seja da antiga fração pública unionista “não-fracionalista” de Trotsky – composta por Antonov-Ovseienko, Ioffe, Riazanov e outros -, seja da fração pública avanteísta (vperiodista) de Lunatcharsky, Pokrovsky e Manuilsky, seja ainda do restante da fração interna dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, encabeçados agora por Iurenev e Sokolnikov, que não se haviam realinhado no POSDR(Bolchevique), por ocasião da VI Conferência de Praga de 1912[124].

De toda sorte, cumpre destacar que tanto o Bloco de Agosto como a Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos surgiram em um quadro de integral dissolução do sistema de frações do POSDR, confrontaram-se, efetivamente, com o movimento de integral ruptura promovido pelo POSDR (Bolchevique), dirigido por Lenin e pelos principais dirigentes bolcheviques.

Os clamores inteiramente serôdios da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comissão Inter-Distrital), levantados em prol da unidade do Partido, a ser assegurada mediante a unificação de todas as diversas frações públicas e agrupamentos ideológicos de caráter fracional, atuantes no interior do POSDR, já não contaram mais, absolutamente, com a simpatia seja dos antigos bolcheviques da fração oficial-ortodoxa de Lenin, seja da parte daqueles bolcheviques que haviam composto anteriormente a fração conciliadora-virtuosa, sob a direção de Rykov, Dubrovinsky e Noguin.  

Cabe destacar que, já no período posterior à Revolução Democrático-Burguesa de 1917, a Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comitê Inter-Distrital), por defender caracterizações políticas mais alinhadas aos novos posicionamentos de Lenin, contidos nas Teses de Abril de 1917, propiciou ao POSDR (Bolchevique) o lançamento de um novo chamado em prol de um processo de reunificação de todas forças proletário-internacionalistas, tal como aprovado pela VII Conferência de Toda a Rússia (Conferência de Abril).

Com base na nova política bolchevique de reunificação de todas as forças proletárias internacionalistas, verificou-se, a partir de maio de 1917, a formação de duas tendências no interior da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comitê Inter-Distrital): uma delas a de Trotsky - mais disposta a ingressar, sem mais demora, no POSDR (Bolchevique) -, sendo a outra, encabeçada por Iurenev – mais recalcitrante em relação à decisão de ingresso.

Com base em acordo selado com Lenin, coube a Trotsky permanecer, de maio a julho de 1917, no interior da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comitê Inter-Distrital), com o objetivo de conquistar todos os seus militantes para o ingresso no POSDR (Bolchevique). [125]      

 

 

CAPÍTULO 20.

INTERVENÇÃO DO BUREAU CENTRAL

DA INTERNACIONAL SOCIALISTA

NA LUTA FRACIONAL DESPERADA

DOS SOCIAIS-DEMOCRATAS RUSSOS EM 1914:

NOVO CLAMOR BALDADO EM PROL DA UNIDADE

DOS BOLCHEVIQUES COM O LIQUIDACIONISMO

DE TODOS OS SIGNOS 

 

Em maio de 1914, os mencheviques liquidacionistas solicitaram à direção da II Internacional Socialista que interviesse, visando a coartar a tática de ruptura integral dos bolcheviques, já bastante avançada, depois da realização da VI Conferência de Praga de 1912, a qual abriu a perspectiva de fundação do novo jornal ”Pravda(A Verdade)”, enquanto instrumento de propaganda ideológico-socialista e de organização partidário-revolucionária insurrecional[126].

O dirigente belga, Emil Vandervelde, enquanto representante da Internacional, foi destacado para o cumprimento da tarefa de averiguar, em Petersburgo, em maio de 1914, a possibilidade de reunificação dos agrupamentos em luta do POSDR.

A despeito dos sinais clarividentes da vindoura eclosão da I Guerra Mundial, o Bureau Central da II Internacional Socialista interviu, então, no processo de ruptura crescente do movimento revolucionário russo e conseguiu realizar, em Bruxelas, nos dias 16 e 17 de julho de 1914, um encontro preparatório de uma conferência, dedicada a promover a reunificação do POSDR, integrada por todos os grupos, tendências, frações e blocos internos e públicos.

Uma Comissão Especial composta pelos principais agrupamentos do POSDR haveria de acolher no encontro de Bruxelas o relatório político de Vandelverde acerca do processo de reunificação.

Nada obstante, a própria composição dos agrupamentos dessa Comissão Especial que falavam autonomamente demonstra a avançada situação de decomposição e reorganização na qual se encontrava a Social-Democracia Russa. 

Nela, estavam representadas os seguintes agrupamentos :

 

1.    os mencheviques veladamente liquidacionistas, encabeçados por Martov ;

2.    Bloco de Agosto, composto pelos mencheviques em conjunto com Protessov, Axelrod e a Bund Judaica, uma formação do ano de 1912, contraposta ao bolchevismo e celebrizada por suas posições liquidacionistas ;

3.    grupo dirigido por Plekhanov ;

4.    grupo dirigido por Trotsky ;

5.    grupo liderado por Lunatcharsky ;

6.    uma fração dos sociais-democratas poloneses, comandada por Luxemburg ;

7.    uma fração dos sociais-democratas poloneses, atuantes sobretudo na cidade de Varsóvia, comandados por Unschlicht e Hanecki, influenciados teoricamente por Radek e objetivamente situados do lado dos bolcheviques ;

8.    os sociais-democratas letões, comandados por Stutchka, alinhados rigorosamente com as posiçoes de Lenin ;

9.    os bolcheviques, dirigidos por Lenin e Zinoviev.

 

Os bolcheviques designaram Inès Armand, como sua representante nos trabalhos da Comissão Especial em tela.

O próprio fato de que nem Lenin nem Zinoviev viajaram da Suíça à Bruxelas para participar, diretamente, das discussões e tarefas abordadas pela comissão, ilustra quais as impressões de ambos relativamente ao possível conteúdo e decisões que poderiam vir a ser adotadas na conferência, planejada para realizar-se em agosto de 1914.

Na ocasião do encontro, os bolcheviques, representados por Inés Armand, declararam que a reconstrução da unidade partidária seria apenas possível entre alas revolucionária e reformista do POSDR, jamais porém com a participação de uma ala liquidacionista e violadora do princípio do centralismo democrático-partidário.

Defendendo sem maiores ponderações a união de todos os sociais-democratas e considerando inaceitável a ruptura do POSDR(Bolchevique) por entender estarem em jogo apenas diferenças de linhas meramente tático-revolucionárias, o Bureau Central da II Internacional, inspirado pelas posições de Vandelverde, Plekhanov, Kautsky e Luxemburg, propôs cinco condições a serem observadas, visando ao restabelecimento da unidade : 1) reconhecimento por todos do Programa do Partido; 2) aceitação pela minoria de decisões da maioria; 3) defesa da organização clandestina; 4) proibição de todos os acordos com os partidos burgueses; 5) participação de todos em um congresso geral de unificação.

Apenas os bolcheviques e os sociais-democratas letões negaram-se a admitir esse texto, cuja raiz pretendia fazer reavivar ainda por mais uma vez as forças conciliadoras-virtuosas “não-fracionalistas” no interior de todos os agrupamentos do POSDR e abstiveram-se na votação que estabelecia deverem todos os grupos do POSDR unificarem-se sobre a base comum de um programa a ser objeto de uma resolução do  Bureau Central da II Internacional Socialista, sendo que para sua execução haveria de ser convocado uma conferência geral de todo Partido.

Acerca desse episódio, Yuly Martov relata-nos o seguinte :

 

“Axelrod e Luxemburg foram encarregados de elaborar um Manifesto acerca da necessidade da unificação, dirigido contra a política rupturista dos bolcheviques.

A fração de Lenin encontrava-se, dessa forma, inteiramente isolada ...

Porém, a Guerra Mundial, que eclodiu depois de algumas semanas, colocou um fim na obra de unificação iniciada.”[127]

 

A aplicação dessa resolução de unificação significaria, muito provavelmente, a separação dos bolcheviques da II Internacional Socialista, pois não existem, com efeito, quaisquer indícios no sentido de que Lenin se submeteria à disciplina de uma maioria liquidacionista.

Axelrod e Luxemburg estavam, naturalmente, convictos disso, no momento em que aceitaram a incumbência de redigir o manifesto em referência.

Com a irrupção da I Grande Guerra Mundial e a falência da II Internacional Socialista, o POSDR (Bolchevique) persistirá, solidamente, em suas atividades, reduzindo-se, porém, sua militância, em 1916, até um nível mínimo de 5.000 militantes.

 

 

CAPÍTULO 21.

NOVA CISÃO NO INTERIOR DO

MENCHEVISMO LIQUIDACIONISTA

NO QUADRO DA I GRANDE GUERRA IMPERIALISTA :

MENCHEVISMO INTERNACIONALISTA

E MENCHEVISMO CHAUVINISTA

 

Por ocasião da eclosão da I Grande Guerra Imperialista, verificou-se, no domínio menchevique, uma nova cisão que daria origem à fração menchevique-internacionalista, encabeçada por Martov – e, em nível internacional, por Luxemburg - e à fração menchevique-chauvinista, inspirada sobretudo por Plekhanov, Potressov, Zassulitch, a maioria dos mencheviques da emigração e seu Secretariado Estrangeiro, todos reunidos em torno do órgão jornalístico central Edinstvo (Unidade).

A fração pública menchevique-chauvinista de Plekhanov defendia a concessão dos créditos de guerra ao Czarismo para sua intervenção na I Grande Guerra Imperialista e propugnava o defensismo burguês-patriótico anglo-francês-russo, como forma de derrotar o militarismo alemão considerado como reacionário e, assim, supostamente galgar os degraus definitivamente rumo ao socialismo em todo mundo.    

Por outro lado, a fração dos mencheviques internacionalistas de Martov denunciaram ativamente, desde o verão de 1914, o caráter imperialista da I Grande Guerra, e recusaram-se a votar os créditos de guerra.

Não obstante, na medida em que defendiam o fim da guerra mediante a celebração de uma paz democrática, sem anexações imperialistas, opuseram-se à concepção bélico-derrotista de Lenin, defensora da conversão da guerra imperialista em guerra revolucionária pelo socialismo, coroada com a criação de uma nova Internacional Revolucionária.

 

CAPÍTULO 22.

APROXIMAÇÃO E AFASTAMENTO EM 1914 E 1915

DO MENCHEVISMO LIQUIDACIONISTA-INTERNACIONALISTA

COM O UNIONISMO “NÃO-FRACIONALISTA”

 DE TROTSKY NA EMIGRAÇÃO

EM TORNO DE “NOSSA PALAVRA”

 

O agrupamento de Trotsky, Antonov-Oveseienko, Ioffe, atuando na emigração e reunindo-se, a partir de 1914, em torno do órgão central “Nashe Slovo(Nossa Palavra)”, editado em Paris - por opor-se igualmente ao chauvinismo burguês-anacrônico de Plekhanov e posicionar-se em prol de uma paz democrática e do socialismo nos “Estados Unidos Republicanos da Europa” - propiciou uma nova aproximação com os mencheviques internacionalistas de Martov, militantes que vinham de uma ruptura com o menchevismo, como Kollontai e Tchtcherin, e internacionalistas estrangeiros, como Rakovsky e Radek, ao mesmo tempo em que consolidou, em nível internacional, a colaboração mantida, na Rússia, no quadro da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comissão Inter-Distrital), com antigos bolcheviques avanteístas (vperiodistas) de Lunatcharsky, Pokrovsky e Manuilsky e ex-bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, encabeçados por Iurenev e Sokolnikov que não aderiram ao POSDR(Bolchevique).        

Porém, logo Martov divergiu da posição comum defendida por Trotsky e Lenin relativa à necessidade de luta pela fundação de uma nova Internacional Revolucionária, a III Internacional Comunista, cujas perspectivas para ele equivalia àquelas de uma seita insignificante. 

No quadro do órgão central “Nashe Slovo(Nossa Palavra)”, a ruptura registrada entre Martov e Trotsky teve lugar, então, quando esse último, em julho de 1915, declarou que os bolcheviques de Lenin constituiriam o núcleo fundamental do internacionalismo russo.

 

CAPÍTULO 23.

APROXIMAÇÃO DO POSDR (BOLCHEVIQUE)

COM O UNIONISMO “NÃO-FRACIONALISTA”

DE TROTSKY NA EMIGRAÇÃO

NO QUADRO DA CONFERÊNCIA DE ZIMMERWALD DE 1915

 

Quando entre os dias 5 e 8 de setembro de 1915, reuniu-se a I Conferência Socialista Internacional, em Zimmerwald, na Suíça, bolcheviques, encabeçados por Lenin, pacifistas-democratistas internacionalistas, dirigidos por Kautsky e adeptos do “Nashe Slovo(Nossa Palavra)”, representados por 38 delegados, representando 12 países em guerra, reencontraram-se e, após candentes discussões, decidiram-se pela votação unânime do manifesto intitulado “Ao Proletariado Europeu”, redigido pela maioria pacifista-democratista reunida em torno de Trotsky, essencialmente defensora de uma paz democrática e sem anexações, a despeito das posições derrotistas de Lenin.

 

CAPÍTULO 24.

FRAÇÃO PÚBLICA BOLCHEVIQUE-INTERNACIONAL

DERROTISTA-REVOLUCIONÁRIA

ENQUANTO ESQUERDA DE ZIMMERWALD A PARTIR DE 1915

 

Reservando a posição de defesa de uma paz democrática e sem anexações para os porta-vozes da Direita de Zimmerwald, a luta dos bolcheviques em prol do derrotismo, propugnador da conversão da guerra imperialista em guerra civil revolucionária pelo socialismo, seguiu, a partir de então, no quadro de uma nova fração internacional, denominada Esquerda de Zimmerwald, opositora da defesa de uma paz democrática, sem anexações, e dos “Estados Unidos Republicanos da Europa”.

Com apoio de outros internacionalistas de esquerda, Lenin foi capaz de estruturar a Esquerda de Zimmerwald, em cujo quadro apenas o POSDR (Bolchevique) assumiu, em verdade, uma posição revolucionária internacionalista conseqüente.

Em seus escritos revolucionários, Lenin defendeu, então, que, já no início do século XX, o capitalismo mundial atingira o estágio do imperialismo, um estágio em que os conglomerados capitalistas – cartéis, trustes, consórcios internacionais – haviam assumido decisiva importância, ao substituírem o capitalismo competitivo pelo capitalismo monopolista, sendo que o capital bancário enormemente concentrado fundira-se com o capital industrial, gerando o capital financeiro, a exportação de capital para países estrangeiros assumira vastas dimensões e todo o mundo havia sido dividido, territorialmente, entre os países mais ricos, iniciando-se a partilha econômica do mundo entre as grandes firmas internacionais[128].

Na medida em que o imperialismo não modificara, entretanto, os caracteres essenciais do capitalismo, considerado enquanto sistema sócio-econômico, surgia propriamente como o estágio mais elevado e moribundo do capitalismo, no sentido de estágio de transição mais avançado rumo ao socialismo[129]. 

Assim, os novos tremendos obstáculos situados no caminho da luta econômica e política do proletariado, a ruína, os horrores e a brutalização da I Grande Guerra Mundial haviam transformado o estágio imperialista de desenvolvimento do capitalismo na era da revolução proletária socialista, em que a vitória final do proletariado tornara-se inevitável.

Fundando-se nos estudos militares de Marx e Engels[130] e nos artigos sobre história e filosofia da guerra de Franz Mehring[131], Lenin comparou e diferenciou precisamente as diversas modalidades de conflagrações militares travadas entre nações e classes, contemplou as condições econômico-históricas, jurídico-diplomáticas e político-governamentais, os objetivos e o caráter de classe das guerras, constatou serem elas inseparáveis do sistema político que as engendraram, recuperando, com grande talento, para o marxismo revolucionário os ensinamentos dialético-hegelianos de Carl von Clausewitz, um dos mais expressivos teóricos militares do velho Império Prussiano[132].

Assim, demonstrou nitidamente que, nas sociedades cindidas em classes irreconciliavelmente antagônicas, sendo toda e qualquer conflagração bélica fenômeno inafastável e continuação da política através de outros meios, i.e. com meios violentos, as guerras travadas entre as nações capitalistas industrializadas já a partir do início do século XX davam continuidade à política de suas burguesias reacionárias, decrépitas, rapazes, predatórias, dedicadas à pilhagem das colônias, opressão da nações e aniquilação dos movimentos operários, bem como redivisão de sua supremacia econômica e militar, política essa praticada já ao longo de diversas décadas anteriores à eclosão do conflito armado.

As novas guerras pela dominação do mundo e de mercados para o capital financeiro, pela subjugação de nações menores tornado-se inevitáveis, haviam adquirido a natureza de guerras imperialistas, i.e. guerras de continuação da política de anexações, conquista e roubo, dinamizadas por diferentes grupos de potências, gigantes supremos, bandos de ladrões capitalistas nelas envolvidos, em cujo contexto resultaria absurdo culpar ou defender o imperialismo de um ou de outro bloco.

Apoiando-se no Manifesto da Basiléia de 24 de Novembro de 1912 e estigmatizando os sociais-patrióticos da II Internacional, Lenin desvendou corretamente os objetivos perseguidos pelos dois principais grupos inimigos de governos burgueses imperialistas reacionários na I Grande Guerra Mundial, secundados por seus aliados menores o grupo de potências anglo-francês-russo e o austro-húngaro-alemão -, defendeu o derrotismo para todos esses governos - inclusive o desbarato do governo patriótico-beligerante de seu próprio país -, bem como a transformação da guerra imperialista em guerra revolucionária em prol da erradicação da dominação capitalista, como a única forma efetiva de por termo à guerra então em andamento[133].

Além disso, Lenin defendeu a criação de uma nova Internacional Revolucionária, enquanto a melhor forma de aproveitamento da crise econômica e política gerada pelos recontros militares e intensificação da luta em prol da revolução socialista em todo o mundo e, em particular, na Rússia, elo mais débil da cadeia mundial do imperialismo capitalista[134].

Destacando a sempre mais acentuada desigualdade de desenvolvimento econômico e político dos países capitalistas na época imperialista, Lenin confirmou a possibilidade de vitória insurrecional da Revolução Socialista, de início em alguns países capitalistas - ou, até mesmo, em um único deles, considerado isoladamente – os quais, dando os primeiros passos na trilha do longo processo de construção do socialismo, levantar-se-iam, em armas, contra o mundo capitalista restante[135].

Assim, posicionou-se, programaticamente, em favor das consignas de “milícia” e “armamento do povo”, fundadas no fomento da instrução militar do proletariado pela organização marxista-revolucionária, visando à necessária deflagração da insurreição, repudiando, inversamente, as reivindicações de “desarmamento”, “social-pacifismo” e “repúdio de todas as formas de guerra”. 

Divergindo de Rosa Luxemburg, a grande águia revolucionária do marxismo revolucionário, Lenin defendeu também a possibilidade e os objetivos das guerras de libertação das nações subjugadas contra a anexação imperialista, praticadas em defesa de seu direito de secessão e auto-determinação, em plena época do imperialismo.

Seguindo Marx e Engels, Lenin destacou que os marxistas revolucionários não são oponentes desqualificados de todas as guerras, senão muito pelo contrário: atuam como fervorosos adeptos e combativos participantes seja das Guerras de Libertação Nacional, seja das Guerras Civis e Revolucionárias, podendo conduzir essas últimas diretamente ao defensismo da pátria socialista.

Nada obstante, a I Conferência de Zimmerwald, dominada largamente pelo pacifismo-democratista internacional e pelo oportunismo social-democrático russo, adotou um manifesto que caracterizava a I Grande Guerra em andamento como uma guerra imperialista, condenando a posição dos "socialistas e sociais-democratas" que haviam votado em favor dos créditos de guerra e ingressado nos governos burgueses. Apesar de todas as suas limitações, conclamou, ainda, os trabalhadores da Europa à luta contra a guerra imperialista. Essa conferência acolheu, além disso, uma declaração de simpatia em relação às vítimas da guerra e elegeu uma Comissão Socialista Internacional (CSI).

A despeito dessas resoluções combativas, a I Conferência Socialista Internacional de Zimmerwald negou-se a acolher a orientação de Lenin consistente na transformação da guerra imperialista em guerra civil revolucionária e em luta pela derrota dos próprios governos imperialistas na guerra mundial.

A II Conferência Socialista Internacional reuniu-se, então, entre os dias 24 e 30 de abril de 1916, em Kienthal. Nessa conferência, a Esquerda de Zimmerwald demonstrou-se mais decidida e fortalecida do que o fora na I Conferência de Zimmerwald.

Lenin logrou, dessa forma, aprovar o manifesto intitulado “Aos Povos que Sofrem a Ruína e a Morte” e fazer adotar uma resolução que desferia uma crítica ao pacifismo-democratista internacional e à atividade oportunista social-democrática da Comissão Socialista Internacional(CSI).

O manifesto e as resoluções, adotados em Kienthal, representaram um progresso no desenvolvimento do movimento internacional contra a guerra imperialista, se tomados em consideração com os resultados da I Conferência de Zimmerwald.

Dentro desses limites, as Conferências de Zimmerwald e de Kienthal contribuíram para a formação e a unificação dos elementos internacionalistas.

Não lograram, entretanto, postular um ponto de vista conseqüentemente internacionalista, adotando as principais diretrizes da política bolchevique, consistente na transformação da guerra imperialista em guerra civil revolucionária, derrota dos próprios governos imperialistas na guerra mundial, bem como decidido emprego de esforços visando à construção de uma nova Internacional Revolucionária, centralizada orgânica e democraticamente.

 

CAPÍTULO 25.

CHOQUE FRACIONAL PÚBLICO

EM MEIO À I GUERRA MUNDIAL

NO INTERIOR DO POSDR(BOLCHEVIQUE) DO EXÍLIO :

A FRAÇÃO PACIFISTA-DEMOCRÁTICA

DE KAMENEV E DOS DEPUTADOS BOLCHEVIQUES

EM FACE DA  FRAÇÃO DERROTISTA-REVOLUCIONÁRIA

DE SVERDLOV, GOLOSCHEKIN E SPANDARIAN

 

Entrementes, desenvolviam-se importantes choques fracionalistas no interior das fileiras do POSDR (Bolchevique), situadas no exílio siberiano e, em particular, na região de Turukhansk, onde se encontravam assentados diversos membros do Comitê Central Bolchevique.

O primeiro deles esteve relacionado com o fato de os Deputados Bolcheviques junto à IV Duma do Estado - com a honrosa exceção de Muranov, porém mormente inspirados por Kamenev -, terem-se declarado, primeiramente, em 26 de julho de 1914, em prol da defesa chauvinista dos “bens culturais do povo contra toda a usurpação, viesse de onde fosse, tanto do interior como do exterior”,[136] e, a seguir, particularmente em sua declaração de 8 de agosto de 1914, promulgada nos primeiros dias da eclosão da I Grande Guerra, contra toda e qualquer forma de apoio às pretensões patriótico-chauvinistas da burguesia e do czarismo russos na guerra imperialista, porém, de nenhuma forma, defendido a política derrotista de conversão da guerra imperialista em curso em Guerra Civil Revolucionária, tal como propugnada por Lenin, senão os anseios de celebração de uma Paz Democrática, sem Anexações.

Além disso, os membros da bancada parlamentar bolchevique – agora dirigida diretamente por Kamenev, em Petersburgo – todos presos em 5 de novembro de 1914, por força de sua oposição à Rússia Czarista na guerra imperialista – haviam-se demonstrado inteiramente incapazes de transformar o julgamento público de 10 de fevereiro de 1915, realizada no quadro do processo judiciário de Alta Traição à Pátria, contra eles movido, em fórum público de denúncia do morticínio, promovido pelo patriotismo burguês-czarista russo belicista, e propagando do derrotismo revolucionário.

Condenados e exilados na Sibéria, a fração pública pacifista-democrática de Kamenev, Petrovsky, Muranov, Samoilov, Badaiev, Shagov – tendo em conta que o agente duplo da Okhrana resignara a seu mandato parlamentar em maio de 1915, refugiando-se no exterior, na cidade de Cracóvia – colidiu, frontalmente, com a fração pública derrotista revolucionária, encabeçada, então, por Sverdlov, Goloschekin e Spandarian.

Após uma conturbada assembléia, realizada entre os exilados bolcheviques da região de Turukhansk, na Sibéria, a fração bolchevique derrotista revolucionária incumbiu a Sverdlov e Spandarian procederem à redação de uma Resolução de Censura, destacando a necessidade de defesa de um conseqüente internacionalismo socialista, mediante a rejeição de qualquer apoio à intervenção burguês-czarista russa na guerra imperialista e denúncia de todo mito acerca de uma “Rússia Unida” – tal como demonstrado, claramente, no ajuizamento do processo judiciário de Alta Traição à Pátria contra a bancada parlamentar bolchevique junto à IV Duma do Estado -, condenando, porém, a postura anti-derrotista dos Deputados Bolcheviques e de Kamenev durante o curso do processo, suas vacilações pacifistas-democráticas, sua incapacidade de utilizarem o julgamento público do processo judiciário de Alta Traição à Pátria, contra eles movido, em fórum público de denúncia do caráter da guerra imperialista e propaganda do derrotismo revolucionário, tal como preconizado por Lenin.

Cópias da Resolução de Censura em tela foram, a seguir, enviadas por Sverdlov e Spandarian seja ao Bureau Estrangeiro do POSDR (Bolchevique), seja a todo os comitês bolcheviques, espalhados por toda a Rússia, seja ainda possivelmente a alguns jornais siberianos[137].

 

CAPÍTULO 26.

CHOQUE FRACIONAL INTRA-BOLCHEVIQUE NO EXÍLIO

EM MEIO À I GUERRA MUNDIAL :

A FRAÇÃO CORROSIVA-INTRIGUISTA

DE STALIN E SPANDARIAN

EM FACE DA FRAÇÃO OTIMISTA-CONSTRUTIVA

DE SVERDLOV E GOLOSCHEKIN

  

Um segundo episódio fracional, registrado no interior das fileiras do POSDR (Bolchevique), localizadas no exílio siberiano e, em particular, na região de Turukhansk, foi registrado, a partir de meados de 1914, no domínio intra-fracional bolchevique, entre o agrupamento de Spandarian e Stalin e o de  Sverdlov e Goloschekin, todos membros do Comitê Central do POSDR (Bolchevique).

Esse fracionalismo interno do bolchevismo conduziu, praticamente, à divisão em dois campos distintos de exilados bolcheviques, assentados na Região de Turukhansk.

Os fundamentos justificadores do fracionalismo em tela encontra-se antes de tudo relacionado com o método moral de atuação político-revolucionária, defendido por essas duas frações, em face da militância marxista-revolucionária: a de Stalin e Spandarian muito mais antipática, corrosiva, intriguista, rude, pessimista e egoísta no trato de exilados políticos bolcheviques, dotados de baixo nível de formação intelectual e baixa posição na estrutura partidária, a de Sverdlov e Goloschekin, muito mais camarada, atenciosa, útil, otimista, compreensível e construtiva no trato com exilados bolcheviques, dotados de baixo nível de formação intelectual e baixa posição na estrutura partidária[138].

Acerca do tema, Trotsky assinala, porém, cautelosamente :

 

“As relações entre Spandarian e Sverdlov chegaram a estar corrosivas. Os deportados agruparam-se em torno destas duas figuras. Embora ambos agrupamentos lutassem unidos contra a administração, as rivalidades « por esferas de influência », segundo a expressão de Shumiatsky, nunca deixaram de existir. Não é fácil averiguar hoje sobre que princípios se baseava aquela discórdia. Antagonista de Sverdlov, Stalin apoiava Spandarian discretamente, a um braço de distância.”[139]

 

 

CAPÍTULO 27.

FRAÇÃO PÚBLICA UNIONISTA-INTERNACIONAL

“NÃO-FRACIONALISTA”

 EM DEFESA DE UMA PAZ DEMOCRÁTICA SEM ANEXÕES

E OS ESTADOS UNIDOS DA EUROPA

 

Também o órgão jornalístico “Novyi Mir (Novo Mundo)”, editado por Trotsky,  em Nova York, durante a I Guerra Mundial Imperialista, por contar com a colaboração tanto de antigos mencheviques, como Kollontai, e bolcheviques, como Bukharin, perseguia a orientação clara de promover a reunificação de todas as forças sociais-democráticas internacionalistas russas. 

 

CAPÍTULO 28.

OPOSIÇÃO DE MARÇO E ABRIL DE 1917

DA FRAÇÃO PÚBLICA DE SVERDLOV E GOLOSCHEKIN

CONTRA A DIREÇÃO NACIONAL

PATRIÓTICO-DEFENSISTA NA GUERRA IMPERIALISTA

E FRENTE-POPULISTA DE ESQUERDA

DE STALIN E KAMENEV

NO INTERIOR DO POSDR (B)

 

A postura essencialmente dialético-revolucionária de Lenin e dos principais dirigentes bolcheviques de tratamento dos fenômenos fracionais veio a assumir tanto maior validade nas lutas travadas posteriormente, já no interior do POSDR (Bolchevique), a partir de 1912, como no quadro de funcionamento do Partido Comunista Russo (Bolchevique), fundando em 1918.

Sob a direção de Lenin e dos bolcheviques, jamais existiram frações públicas “permanentes” ou virtualmente “permanentes”, seja no interior do Partido Operário Social-Democrático Russo (Bolchevique), entre os anos de 1912 a 1918, como nas fileiras do Partido Comunista Russo (Bolchevique), de entre os anos de 1918 a 1923.

No caso de se as admitir, registrar-se-ia a mácula do mais aberto abandono do princípio marxista-organizativo maior de defesa da unidade do partido da classe trabalhadora rumo à Revolução Socialista que repudia, por sua própria essência, o fenômeno do fracionalismo permanente e público.

As frações públicas que vieram a surgir no quadro organizativo do POSDR(Bolchevique) e do PCR (Bolchevique) possuíram sempre breve duração e vieram a ser dissolvidas ou extintas, em um período muito rápido de tempo.

Daí, falar-se em frações públicas “permanentes” ou mesmo “virtualmente permanentes” constitui - em consideração ao regime de funcionamento da organização marxista-revolucionária, criada e dirigida por Lenin – uma evidente impropriedade.   

Admitindo-se-as, registrar-se-ia a mácula do mais aberto abandono do princípio marxista-organizativo maior de defesa da unidade do partido da classe trabalhadora, fundado no centralismo democrático, rumo à Revolução Socialista que colide, por sua própria natureza, com o fracionalismo público-permanente.

Esse apontamento é válido em particular para o que concerne aos principais eventos da luta de classes revolucionária dos primeiros meses de 1917 quando, após o registro da luta deflagrada pela fração pública de Sverdlov, Goloschekin e dos pravdistas de Krasnoiarsk contra a direção patriótico-defensista na guerra imperialista e frente-populista de esquerda de Stalin e Kamenev, o POSDR (Bolchevique) projetou-se em um processo de reunificação das forças revolucionárias, aprovado pela VII Conferência de Toda a Rússia (Conferência de Abril) e pelo VI Congresso de Reunificação, em cujo contexto já não se registrou a formação de frações públicas de qualquer gênero, fossem de caráter interno, fossem de caráter público.

Com efeito, no que concerne às primeiras semanas posteriores à Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, é possível visualizar-se, no interior do POSDR (Bolchevique), uma situação altamente tensa e conflitante, decorrente da emergência de uma nova fração pública, encabeçada por Sverdlov e Goloshekin, atuando em franca e aberta oposição à nova direção petersburguiana e nacional de Stalin e Kamenev.

O curso manifestamente rupturista, impulsionado anteriormente pelo POSDR (B), sob a direção de Lenin, em face do menchevismo e de suas influências pequeno-burguesas e populistas no movimento proletário-revolucionário, constratava, agora, nitidamente com o clima de conciliacionismo promíscuo e pacifismo político, predominante em toda a Rússia, no período imediatamente posterior à Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, momento em que, então, o bolchevismo encontrou-se novamente em condição de minoria restrita, dessa vez no interior dos Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses, recém-surgidos, sendo que, então, apenas propriamente em setembro de 1917, à época da Conferência Democrática, voltaria a existir uma dinâmica de integral separação, em nível nacional – seja nas grandes cidades, seja nas províncias -, das forças bolcheviques em face de toda e qualquer variante de menchevismo, em particular de menchevismo internacionalista[140].    

Nesse novo quadro, os adeptos de Sverdlov e Goloschekin surgiram como os representantes de uma orientação integralmente defensora de uma estratégia permanentista e de uma linha tática genuinamente marxista-revolucionária, ao passo que a direção de Stalin e Kamenev interveio como defensora do oportunismo frente-populista de esquerda e patriótico-defensista na guerra imperialista.

Derrotando rapidamente a orientação esquerdista e manifestamente débil, propugnada por Molotov, Zalutsky  e Schliapnikov, consistente em afirmar o caráter contra-revolucionário do Governo Provisório Burguês-Latifundiário Russo já nos primeiros dias após a conclusão vitoriosa da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917[141], Stalin e Kamenev, alcançando Petrogrado já nos primeiros dias de março de 1917, assumiram a direção do POSDR (B) e defenderam, nesse período, aberta e despudoradamente, o apoio condicionado de todas as forças operárias, militares e camponesas ao Governo Provisório de colaboração de classes, a continuidade dos conflitos imperialistas de guerra, no quadro de uma visão ingenuamente pacifista, bem como a secundarização do papel dos Sovietes, no processo crescente da Revolução Russa.

A linha dirigente de Stalin e Kamenev surgiu de modo estabelecido e prevalente já a partir da primeira quinzena de março de 1917. Em 12 de março, Stalin foi eleito tanto para a presidência do Bureau do Comitê Central como para a Redação do Órgão Central "Pravda".

Boris Shumiatsky indica detalhadamente que, em Krasnoiarsk, Sverdlov, Goloshekin e ele mesmo, entre outros, surgiam defendendo, a partir da segunda quinzena março de 1917, publicamente - nas principais reuniões dos Sovietes, nas conferências de trabalhadores, soldados e camponeses, nos organismos partidários as consignas estratégicas de nenhum apoio ao Governo Provisório, todo o apoio aos Sovietes e ininterrupta continuidade da luta pela Revolução Proletária, em aberto contraste em face da linha propugnada por Stalin e Kamenev[142].

Muitos outros textos confirmam o mesmo que Shumiatsky expõem mais detalhadamente, tal como os de P. Vinogradskaya e L. Meshinskaya[143].

Esse contexto da luta de classes na Rússia possuiu sua vigência ao longo de toda a segunda metade do mês de março e das primeiras semanas do mês de abril, período esse agudamente revolucionário[144].

O processo de conformação e consolidação de duas frações públicas antagônicas a de Sverdlov e a de Stalin -, encontrará, porém, seu desate com a intervenção pessoal de Lenin, presente em território russo, a partir de 4 de abril de 1917, o definitivo acolhimento formal das Teses de Abril, no quadro da VII Conferência de Toda a Rússia (Conferência de Abril), e a indicação de Sverdlov para assumir, a partir dos primeiros dias de maio de 1917, a direção do Secretariado do POSDR (Bolchevique), criado no mês precedente e colocado sob a responsabilidade direta de Stassova.

Acerca do tema, Trotsky assinalou, magistralmente:

 

“Porém, através de que milagre Lenin conseguiu modificar, em poucas semanas, o curso do Partido, levando-o por outro sendeiro?

A resposta deve ser buscada simultaneamente em duas direções: os atributos pessoais de Lenin e a situação objetiva.

Lenin era forte não apenas porque compreendía as leis da luta de classes, senão ainda porque tinha o ouvido perfeitamente sintonizado com a agitação das massas em movimento.

Para ele, não importava tanto a máquina do Partido, mas sim a vanguarda do proletariado.

Estava absolutamente convencido de que milhares daqueles trabalhadores que haviam superado o mais duro do trabalho ilegal estaria agora do seu lado.

As massas eram, naquele então, mais revolucionárias do que o Partido e o Partido mais revolucionário do que sua máquina.

Já em março, a atitude real dos trabalhadores e dos soldados havia-se manifestado em forma tumultuosa e divergia muito das instruções ditadas por todos os partidos, incluindo o bolchevique.

A autoridade de Lenin não era absoluta, mas sim enorme, posto que toda a experiência amealhada confirmada sua intervenção.

Pelo contrário, a autoridade da máquina do Partido com o seu conservadorismo, encontrava-se, então, em formação.

Lenin exercia influência não tanto como indivíduo, senão como encarnação da influência da classe sobre o Partido e do Partido sobre sua máquina.

Em tais circunstâncias que tratava de resistir logo perdia influência.

Os vacilantes se alinhavam com os da vanguarda e os precavidos se uniam com a maioria, com perdas relativamente escassas.

Lenin conseguiu orientar o Partido e prepará-lo para a nova revolução.(...)

O fator tempo desempenha um papel decisivo em política, especialmente em uma revolução.

A luta de classes dificilmente há de esperar indefinidamente que dirigentes políticos descubram o que devem fazer.

O líder genial é importante porque, abreviando o prazo de aprendizagem mediante lições objetivas, permite ao Partido influir no desenvolvimento dos acontecimentos no momento adequado.

Se Lenin não houvesse chegado no início de abril, sem dúvida o Partido teria tateado o seu caminho, até coincidir, talvez, com a orientação assinalada em suas Teses.

Porém, existia algum outro capaz de haver preparado o Partido para o desate de Outubro?

Esta pergunta não pode ser respondida categoricamente.”[145]

 

CAPÍTULO 29.

A VITÓRIA RELÂMPAGO DO BOLCHEVISMO DE LENIN

CONTRA A FRAÇÃO BOLCHEVIQUE  

PATRIÓTICO-DEFENSISTA NA GUERRA IMPERIALISTA

E FRENTE-POPULISTA DE ESQUERDA

DE STALIN E KAMENEV

NO INTERIOR DO POSDR (BOLCHEVIQUE) :

DEFESA DE UMA AMPLA REVISÃO

DO ANTIGO PROGRAMA DO POSDR DE 1903,

E ESTRATÉGIA DE REUNIFICAÇÃO

COM FORÇAS SOCIAIS-DEMOCRÁTICAS

PROLETÁRIAS INTERNACIONALISTAS

 

Já nos primeiros dias após a mais completa conclusão vitoriosa da espontânea Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917 que, em meio à I Grande Guerra Mundial, trouxe novamente à luz os Sovietes, antes liquidados na Revolução de 1905 – 1907, e derrubou o milenar absolutismo czarista e sua nobreza latifundiária, levando ao poder um Governo Provisório de Capitalistas e Latifundiários, declaradamente pró-imperialista e patriótico-beligerante, encabeçado por Miliukov e Guchkov, Kerensky e Lvov -, Lenin compreendeu, ainda em seu exílio na Suíça, a necessidade de ser elaborada, imediatamente, em palavras simples e claras, uma nova tática revolucionário-permanentista de continuada transição na revolução russa, a ser desenvolvida nos meses a seguir, como forma de consolidar a aliança de poder entre o proletariado hegemônico e o campesinato pobre: nenhuma confiança, nenhum apoio ao novo governo provisório burguês-latifundiário; Kerensky é especialmente suspeito; o armamento e a milícia do proletariado são as únicas garantias; eleições imediatas para o Conselho Municipal de Petrogrado; nenhuma aproximação com outros partidos[146].

Por não representarem, então, as eleições para a Assembléia Constituinte nada mais do que promessa vazia e distante, Lenin referiu-se muito mais às eleições imediatas para o Conselho Municipal de Petrogrado, destacando que serviriam para organizar e fortalecer as posições revolucionárias do proletariado[147].

Em suas 5 Cartas de Longe, redigidas todas elas ainda na Suíça, Lenin desenvolveu essa sua nova tática revolucionária, posicionando-se, além disso, claramente, contra o patriotismo burguês, exigindo a denúncia dos tratados de aliança com os imperialistas, a transformação da guerra imperialista em guerra revolucionária, bem como a formação de uma milícia e uma República do Proletariado, apoiada pelos trabalhadores rurais, setores mais pobres dos camponeses e moradores das cidades, como meio de assegurar Pão, Paz e Liberdade[148].

Lenin posicionou-se, então, em favor da luta por um Estado Proletário Revolucionário mediante o impulsionamento de uma segunda revolução na Rússia: uma Revolução Proletária, apoiada pela vasta maioria revolucionária dos camponeses pobres, que, destruindo completamente a velha máquina de Estado, transferiria o poder político dos capitalistas e latifundiários para um Governo dos Trabalhadores e Camponeses Pobres, organizado segundo o modelo dos Sovietes e baseado na organização da milícia proletária e de todo o povo oprimido em armas, a fim de serem empreendidos os primeiros passos rumo ao socialismo que, na Rússia, não poderia ser atingido de um só golpe, senão enquanto resultado de uma séria de medidas de transição[149].

Para Lenin, o êxito definitivo da construção do socialismo na Rússia poderia, porém, apenas ser atingido se estimulado ativamente pela vitória da revolução proletária socialista nos principais países capitalistas da Europa Ocidental e dos EUA, emergindo das contradições insolúveis decorrentes da guerra imperialista[150].  

Em seu modo profundamente internacionalista de apreciar a luta de classes, Lenin entendeu que o proletariado russo não poderia, com suas próprias forças, conduzir a Revolução Socialista a uma conclusão vitoriosa, porém poderia, em certo sentido, iniciá-la, devendo tomar o poder e criar as melhores condições para que seu principal e mais confiante aliado de classe - o proletariado da Europa Ocidental e dos EUA – aderisse à batalha decisiva pelo socialismo[151].

Tendo justamente em conta os pré-requisitos econômicos de uma Revolução Socialista, sabia perfeitamente que, na Rússia, seria incomensuravelmente mais fácil para o proletariado iniciá-la e imensamente mais difícil continuá-la, ao passo que, no ocidente industrializado, mais difícil seria iniciá-la e mais fácil, continuá-la[152].

Não lutando apenas em benefício próprio, senão em prol da construção do socialismo em escala mundial, o proletariado hegemônico e triunfante na Rússia haveria de perecer, a menos que fosse capaz de resistir até receber o poderoso apoio dos trabalhadores revolucionários vitoriosos nos principais países do imperialismo capitalista.

Porém, se houvesse de sucumbir, teria iniciado a Revolução Socialista Mundial e servido de exemplo para que outros aprendessem com a sua exemplar experiência de luta[153].

Em virtude de sua nova elaboração tática opor-se abertamente à orientação defendida pela maioria de seu próprio partido, composta, em março de 1917, por bolcheviques frente-populistas, irrestritos e condicionados, bem como etapistas-defensistas da pátria burguesa reacionária na guerra imperialista e apoiadores da mais indistinta unificação dos adeptos de todos os gêneros da Social-Democracia Russa (Stalin, Kamenev, Rykov, Noguin e seus seguidores), apenas a primeira das cartas de Lenin foi publicada no “Pravda (A Verdade)”, em 21 e 22 de março, ainda assim com diversas censuras.

Por iniciativa desses bolcheviques, todas as demais cartas de Lenin não vieram a ser publicadas em 1917.  Surgiriam apenas em 1924, ao passo que a redação integral de sua primeira carta viria a ser conhecida tão somente em 1949.

Sobre a política inteiramente anti-marxista dos bolcheviques frente-populistas e defensistas do patriotismo burguês, pronunciou-se, com grande hipocrisia, Stalin, um de seus principais porta-vozes, fazendo-o da seguinte forma, sem demonstrar, porém, ter apreendido efetivamente algo de efetivamente revolucionário, a partir desse lamentável episódio histórico:   

 

“Tratava-se de uma poderosa virada na história da Rússia e de um giro jamais existente na história do nosso Partido. A velha plataforma pré-revolucionária de derrubada direta do governo era clara e determinada, porém não correspondia mais às novas condições de luta.

Agora, já não era mais possível orientar-se diretamente para a derrubada do governo, pois esse último se encontrava ligado com os Sovietes, os quais estavam sob a influência dos “defensores da pátria”, sendo que o Partido teria de conduzir uma luta superior às suas forças tanto contra o governo como contra os Sovietes.

Porém, não se podia impulsionar uma política de apoio ao Governo Provisório, pois era um governo do imperialismo. Era necessário uma nova orientação do Partido, nas novas condições de luta. O Partido (sua maioria) procurou, tateando, alcançar essa nova orientação.

Adotou uma política de pressão dos Sovietes sobre o Governo Provisório na questão da paz e não se pôde decidir a marchar imediatamente para diante, saindo da velha consigna, Ditadura do Proletariado e do Campesinato, rumo à nova consigna Poder dos Sovietes.

Essa política do meio termo havia sido calculada para dar oportunidade aos Sovietes de contemplarem, através das questões concretas da paz, a verdadeira essência imperialista do Governo Provisório, dela, assim, afastando-se.

Porém, foi uma posição profundamente errada, pois fazia proliferar ilusões pacifistas, entornava água no moinho dos “defensistas da pátria”, dificultando a educação revolucionária das massas.

Essa posição equivocada compartilhei, então, com outros companheiros do Partido, dela afastando-me inteiramente ao aderir às Teses de Lenin.”[154]

 

Lenin conseguiu negociar seu regresso à Rússia, independentemente de compromisso de sustentação do defensismo patriótico-burguês, após impedimentos de todas as espécies opostos seja pelos governos imperialistas da Inglaterra e da França, seja pelo novo Governo Provisório Burguês-Latifundiário Russo[155].   

Chegando em Petrogrado, na noite de 3 de abril, e defrontando-se com a Dualidade de Poderes Sovietes e Governo Provisório - então objetivamente existente, Lenin ouviu com atenção e apoiou-se na vanguarda proletária para defender, intrepidamente, a continuidade do processo revolucionário rumo ao socialismo e a luta pela conquista da maioria nos Sovietes, visando a tornar possível a passagem de todo o poder de Estado para as mãos do proletariado e de seus aliados de luta[156].

Tendo em conta que as primeiras semanas posteriores à Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917 permitiram à Rússia tornar-se o país dotado da mais ampla liberdade política entre todos os demais beligerantes - não se recorrendo momentaneamente ao emprego de violência para repressão das massas exploradas e oprimidas -, Lenin entendeu que o primeiro passo a ser dado no sentido da Revolução Proletária  seria a paciente e persistente conscientização das massas, adaptada às suas necessidades práticas, sobre a nova situação política e os erros táticos da direção soviética menchevique-chauvinista e socialista-revolucionária(SRs) que promovia voluntariamente a transferência do poder dos Sovietes à aliança burguesa-latifundiária e seu Governo Provisório.

Sustentando-se sobretudo nas forças proletárias de Vyborg, em Petrogrado, dos Urais e de outros grandes centros da Rússia[157], Lenin seguiu precisando, em suas Teses de Abril, sua dialética tática em face da Dualidade de Poderes, de modo a conduzir o proletariado hegemônico à vitória na revolução: nenhuma concessão ao «defensismo», nenhum apoio ao governo provisório burguês-latifundiário; os Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses são a única forma possível de governo revolucionário; nenhuma República Parlamentar, mas sim República dos Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses da base ao vértice; confisco e nacionalização de todas as terras, a serem tomadas e colocadas à disposição dos Sovietes de Deputados Trabalhadores Rurais e Camponeses; fusão de todos os bancos em um único banco nacional, submetido ao controle dos Sovietes de Deputados Trabalhadores; criação de uma nova Internacional Revolucionária contra os chauvinistas e os centristas-conciliacionistas.

E destacou: sem os Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses, a convocação da Assembléia Constituinte é uma promessa vazia e o seu sucesso é impossível[158].

Opondo-se à tática precipitada de simples e imediata transformação da revolução democrático-burguesa em revolução socialista na Rússia de 1917, bem como à consigna de instauração de um isolado “Governo dos Trabalhadores”, Lenin frisou que a tarefa do proletariado na próxima revolução seria não a de “introduzir” imediatamente o socialismo, mas sim apenas permitir que, nesse domínio, a produção social e a distribuição dos produtos fossem colocados prontamente sob o controle dos Sovietes de Deputados Trabalhadores, enquanto sólidos passos iniciais rumo ao socialismo[159].

Nesse sentido, ressaltou que seria necessário clarificar a consciência das pessoas e levar o proletariado e o campesinato pobre para adiante, para longe do “Poder Dual”, rumo ao Poder Total dos Sovietes, sendo esse poder a Comuna de Paris, no sentido de Marx, no sentido da experiência de 1871[160].

Em aberta oposição às posições defendidas por Stalin e Kamenev, Lenin destacou a importância da dialética no domínio da formulação da tática revolucionária, demonstrando a mais plena inatualidade da velha fórmula bolchevique de luta por uma Ditadura Democrática Revolucionária do Proletariado e do Campesinato, em face do novo contexto histórico[161].

Com efeito, em seu modo de ver, essa ditadura já havia, em certa medida e de maneira extremamente original, tornado-se realidade na revolução em curso, incorporando-se, a partir de Fevereiro de 1917, na instituição dos Sovietes dos Trabalhadores, Soldados e Camponeses, que cedera, porém, voluntariamente todo o seu poder ao Governo Provisório Burguês-Latifundiário, de tal sorte que uma nova tarefa haveria de ser encaminhada: efetuar a ruptura no interior dessa Ditadura entre os proletários revolucionários – anti-frente-populistas, anti-defensistas da pátria burguesa reacionária e favoráveis à transição para o regime de poder integral de tipo da Comuna de Paris -  e os elementos pequeno-burgueses ou pequeno-proprietários – mencheviques-chauvinistas e socialistas-revolucionários (SRs), apoiadores da dominação burguesa-latifundiária e do seu Governo Provisório, na guerra imperialista[162].

Considerando o programa da revolução como uma verdadeira conclamação de concepções e consignas – palavra de origem grega πρόγραμμα -, Lenin posicionou-se, então, em suas Teses de Abril, em favor de uma ampla revisão do antigo Programa do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR), adotado em 1903, no II Congresso de Bruxelas e Londres[163].

Sustentadas pela rápida dinâmica dos novos fatos objetivamente revolucionários, as Teses de Abril, formuladas por Lenin, prevaleceram, então, largamente, tanto na Conferência de Toda a Cidade de Petrogrado, ocorrida entre 14 e 22 de abril[164], como na VII Conferência do POSDR – Bolchevique de Toda a Rússia, realizada entre 24 e 29 de abril de 1917[165].

Nessa última instância, as Teses de Abril venceram por 142 votos contra 7, na questão da luta pela transformação da guerra imperialista em guerra revolucionária; por 122 votos contra 3 e 8 abstenções, na questão da transferência de todo o poder aos Sovietes ; por 71 votos a 47, em favor de ingressar imediatamente na via da revolução proletária.

Lenin resultou vencido apenas no ponto de abandono da designação social-democrática do partido para a adoção do nome Partido Comunista – Bolchevique[166].

Apesar de a composição do novo órgão de direção partidária eleito não se ter demonstrado plenamente adequada à mais conseqüente implementação das Teses de Abril - entre 9 membros eleitos, 4 eram opositores (Kamenev, Noguin, Miliutin e Fiedorov) e 1 entre eles, Stalin, votara apenas no último momento pelas teses leninistas –, o Partido Bolchevique, valendo-se da direção de Lenin, foi capaz não apenas de apreciar e antever, justamente e com impressionante prontidão, as situações políticas subseqüentes, como também formular acertadas palavras-de-ordem de transição para que o proletariado e seus aliados marchassem rumo à tomada do poder[167].

Observe-se, entretanto, que, mesmo contra acirrada oposição desencadeada por Stalin e coadjuvada por Lenin, Sverdlov foi, de todo modo, eleito, na conferência em tela, membro do novo Comitê Central do POSDR (Bolchevique), composto de 9 dirigentes – Lenin, Zinoviev, Kamenev, Miliutin, Noguin, Sverdlov, Smilga e Stalin -, entre 26 candidatos, ainda que, entre os 9 eleitos, Sverdlov recebesse a terceira pior votação.

Apreciando a transcendência dessa questão para o desate da Revolução Proletária de Outubro de 1917, Lenin assinalou, posteriormente, acerca de seu próprio equívoco :

 

No entanto, estivemos, de início, contra sua entrada (EvM.: a entrada de Sverdlov) no Comitê Central.

Até que ponto subestimamos esse homem !

Quanto à sua avaliação, havia divergências bastante expressivas. Porém, a base corrigiu-nos, no Congresso (sic), e demonstrou, com isso, estar inteiramente correta ...”[168]

 

Acerca do tema, observou Trotsky, cautelosamente :

 

“É difícil que Lenin possuísse alguma razão para opor-se à candidatura de Sverdlov.

Apenas o conhecia por correspondência, enquanto incansável revolucionário profissional.

Não é improvável que a oposição procedesse de Stalin que não esquecera como Sverdlov esteve arquitetando complicações contra ele em São Petersburgo e reorganizando o Pravda.

Sua vida comum em Kureika não fez mais senão agravar sua inimizade. Stalin nunca esquecia-se de nada.

Parece que tentou vingar-se na Conferência e, de um modo ou de outro (não podemos senão imaginar), conseguiu ganhar para si o apoio de Lenin.

Porém, sua tentativa não deu resultado.

Sem, em 1912, Lenin tropeçou com a resistência dos delegados quando tratou de incorporar Stalin no Comitê Central, agora não era menor a oposição que lhe opuseram para que Sverdlov não fosse excluído.

Dos membros desse Comitê Central, eleito na Conferência de Abril, apenas Sverdlov veio a morrer de morte natural.

Todos os demais – com excepção do próprio Stalin -, assim como os quatro suplentes, foram oficialmente fuzilados ou eliminados, sem procedimentos oficiais.”[169]

 

 

CAPÍTULO 30.

VI CONGRESSO DE JULHO - AGOSTO DE 1917

DO POSDR (BOLCHEVIQUE) :

UM CONGRESSO DE REUNIFICAÇÃO,

SEM PRODUÇÃO DE FRAÇÕES PÚBLICAS

 

Um clima de polarização fracionalista não poderá ser encontrado, entretanto, no quadro dos trabalhos do VI Congresso do POSDR (Bolchevique), ocorrido em julho de 1917.

Nele, o POSDR (Bolchevique) projetou-se em um processo de reunificação das forças revolucionárias, aprovado pela VII Conferência de Toda a Rússia (Conferência de Abril) e pelo VI Congresso de Reunificação, em cujo contexto não se registrou a formação de frações públicas de qualquer gênero, fossem de caráter interno, fossem de caráter público.

No quadro da nova situação política russa e internacional, surgida com a Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, os partidos dos socialistas-revolucionários (SRs) e dos mencheviques chauvinistas posicionaram-se publicamente, nos Sovietes e diante das massas, em favor do defensismo da pátria burguesa reacionária russa na guerra imperialista, votando pelos créditos de guerra, e postularam seu próprio ingresso na composição do Governo Provisório Burguês-Latifundiário, alegando ser, assim, possível mudar a política imperialista por este praticada.

Diante desse fato político objetivo, Lenin defendeu, tanto na Conferência de Toda a Cidade de Petrogrado, ocorrida entre 14 e 22 de abril, como na VII Conferência do POSDR – Bolchevique de Toda a Rússia, ocorrida entre 24 e 29 de abril de 1917, a estratégia de promover intensamente relações mais estreitas e até mesmo a fusão de suas forças apenas com grupos e tendências proletárias – advindas p.ex. dos mencheviques internacionalistas, dos sociais-democratas independentes, dos unionistas interdistritais[170] -, que se encontravam sustentando posição política realmente revolucionário-internacionalista, fazendo-o com o objetivo de profligar a política de traição pequeno-burguesa do socialismo e alcançar a mais sólida hegemonia do proletariado na revolução[171].

Desse modo, conseguiu derrotar a concepção estratégica colaboracionista de Stalin e Kamenev de composição de uma comissão mista, visando ao fomento da unidade de todos os sociais-democratas, incluindo os denfesistas da pátria burguesa reacionária na guerra imperialista.

Mesmo encontrando-se Lenin provisoriamente refugiado na Finlândia, teve lugar, entre 26 de julho e 3 de agosto, o VI Congresso da Unificação do Partido Bolchevique (POSDR-B), sob a presidência de Sverdlov, que, seguindo a orientação estratégica predefinida e representando cerca de 200.000 militantes, reunidos em 162 organismos partidários, em contraste com os 80.000 militantes, reunidos em 78 organismos partidários, do mês de abril de 1917 -, formalizou solenemente a incorporação nas fileiras bolcheviques dos unionistas interdistritais – sem prejuízo do fato de Trotsky e Lunatcharky encontrarem-se, então, nos cárceres do Governo Provisório Burguês-Latifundiário, integrado, agora, também por mencheviques sociais-chauvinistas[172].

A incorporação de novos agrupamentos e tendências realmente revolucionários e internacionalistas fortaleceu gigantescamente o potencial de luta do antigo partido bolchevique, aglutinando unificadamente todos os melhores lutadores do movimento proletrário russo de então na luta comum em prol da revolução proletária.

Embora permanecendo ainda relativamente reduzido para a execução da imensa tarefa a ser cumprida, o novo partido de Lenin e Trotsky demonstrou que, em um cenário de profunda crise revolucionária, seu impacto de luta poderia aumentar exponencialmente, encabeçando ações muito superiores à sua dimensão puramente quantitativa.

Apesar das sérias oposições formuladas sobreudo por Preobrajensky e Bukharin à linha da direção de Lenin e Sverdlov, não é possível falar-se aqui de qualquer gênero de fracionalismo público[173].

Pelo contrário, no quadro do VI Congresso de Reunificação do POSDR (Bolchevique), ocorrido em julho e agosto de 1917, formalizou-se o ingresso da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comitê Inter-Distrital), não se registrando, então, a formação de frações públicas de qualquer gênero, fossem de caráter interno, fossem de caráter público.

Em seu Prefácio à Reedição de “Resultados e Perspectivas”, em 1919, Trotsky elaborou as seguintes considerações sobre seus posicionamentos de luta no interior do POSDR, a partir dos primeiros anos do século XX:

 

Defendendo o ponto de vista da revolução permanente durante um período de 15 anos, o autor incidiu em erro, entretanto, em sua análise das frações do movimento social-democrático.

Na medida em que ambas partiam do ponto de vista da revolução burguesa, o autor era da opinião de que as divergências existentes entre elas não seriam tão profundas para justificar uma ruptura.

Ao mesmo tempo, esperava que o curso subseqüente dos acontecimentos provaria claramente a fraqueza e a insignificância da democracia burguesa russa, de um lado, e, d’outro lado, a impossibilidade objetiva do proletariado de limitar-se a si mesmo a um programa democrático.

Pensou que isso pudesse remover o fundamento das diferenças fracionais.

Situando-se no exterior das duas frações, no período de sua emigração, o autor não apreciou inteiramente a circunstância mais importante de que, na realidade, juntamente com a linha de desacordo entre bolcheviques e mencheviques, ali estavam agrupados revolucionários inflexíveis, por um lado, e, por outro, elementos que se tornavam cada vez mais oportunistas e acomodados.

Quando a revolução de 1917 estourou, o Partido Bolchevique constituía uma organização fortemente centralizada, unindo todos os melhores elementos dos trabalhadores avançados e intelectuais revolucionários que – depois de alguma luta interna – adotaram abertamente táticas direcionadas para a Ditadura Socialista da Classe Trabalhadora, em total harmonia com a inteira situação internacional e a relação de classes na Rússia.

No que diz respeito à fração menchevique, tinha suficientemente amadurecido, já naquele momento, para ser capaz de assumir – tal como dito antes – os deveres de uma democracia burguesa.”[174]  

 

Cumpre, entretanto, assinalar que - no quadro de um autêntico debate de revolucionário-proletários, empenhados ambos em fundar as bases de uma concepção dialético-materialista da hegemonia do proletariado nas revoluções da Rússia, segundo os estritos critérios da doutrina Marx e Engels - Lenin criticara, de maneira clara, já em seu famoso artigo Acerca de Duas Linhas da Revolução, de 1915, a interpretação que Trotsky fazia do ponto de vista revolucionário, também plenamente permanentista, impulsionado pelo bolchevismo de Lenin, assinalando o seguinte, ao final de sua análise :

 

“Elucidar as relações entre as classes na futura revolução é a tarefa principal de um partido revolucionário. ...

Essa tarefa não é resolvida corretamente por Trotsky, em “Nasche Slovo(Nossa Palavra)”.

Ele repete sua teoria “original” de 1905 e não quer refletir acerca das razões devido às quais a vida transcorreu ao largo dessa teoria maravilhosa ao longo de dez anos inteiros.

A original teoria de Trotsky resgata o apelo dos bolcheviques relativo à luta revolucionária decidida do proletariado e à conquista do poder político pelo proletariado, porém, dos mencheviques, a “negação” do papel do campesinato.

O campesinato estaria, segundo Trotsky, fragmentado em camadas, tendo-se diferenciado.

Seu possível papel revolucionário teria sido sempre muito pequeno.

Na Rússia seria impossível uma revolução “nacional”: “Vivemos na época do imperialismo”, “o imperialismo” coloca frente à frente, porém, “não a nação burguesa perante o velho regime, senão o proletariado à nação burguesa”.

Aí temos um exemplo curioso para o “jogo com a palavrinha” imperialismo !  

Se na Rússia opõe-se o proletariado já “à nação burguesa”, então quer dizer que : a Rússia coloca-se, diretamente, diante da Revolução Socialista !

Então, é errada a consigna (levantada por Trotsky na Conferência de Janeiro de 1912 e repetida, depois, em 1905) “confiscação das terras dos latifundiários”.

Sendo assim, deve-se falar não de governo “dos trabalhadores revolucionários”, mas sim de governo “socialista dos trabalhadores”!!”

 

Nesse contexto, conclui Lenin, da seguinte forma, manifesta e incorruptivelmente :

 

“Quão longe vai a confusão com Trotsky, é possível perceber pela sua frase de que o proletariado irá arrastar consigo, por sua resolução, também as “massas não-proletárias(!)” !!(Nr. 217).

Trotsky não refletiu que, se o proletariado conseguir arrastar consigo as massas rurais não-proletárias para a confiscação das terras dos latifundiários e derrubar a monarquia, isso será precisamente a consumação da “revolução burguesa nacional” na Rússia, a Ditadura Democrático-Revolucionária do Proletariado e do Campesinato ! ...

Porém, o seguinte é agora o essencial : 

O proletariado luta – e irá lutar desinteressadamente -, pela conquista do poder, pela república, pela confiscação das terras, i.e. pelo arrastamento do campesinato, pelo esgotamento de suas forças revolucionárias, pela participação das “massas não-proletárias” na libertação da Rússia burguesa do “imperialismo” feudal-militar(=czarismo).

Essa libertação da Rússia burguesa do czarismo, da propriedade fundiária e da dominação do proprietário fundiário, o proletariado aproveitará, sem demora, não para ajudar o camponês próspero na luta contra os trabalhadores rurais, mas sim para executar a Revolução Socialista, em aliança com os proletários da Europa.”[175]

 

Mesmo divergindo de Trotsky em pontos essenciais relativamente ao processo russo de desenvolvimento da perspectiva da Revolução Permanente, concebida, originariamente, por Marx e Engels[176], é importante destacar, além disso, que, já mesmo em 1905, Lenin demonstrava operar plenamente nesse domínio, quando escreveu : 

 

“Para quem devemos dar a terra confiscada e como ?

Não dissimulamos essa questão nem prometemos distribuição igualitária, “socialização” etc.

O que dizemos é que essa é uma questão pela qual devemos lutar mais tarde, pela qual devemos lutar novamente, em um novo campo e com outros aliados.

Lá, estaremos certamente com o proletariado rural, com a classe trabalhadora inteira, contra a pequena burguesia.

Na prática, isso pode significar a transferência da terra para a classe dos proprietários pequenos burgueses – em todos os lugares em que ainda prevaleçam grandes propriedades baseadas em vínculos e servidão feudais e não existem ainda condições materiais para produção socialista de larga-escala; pode significar nacionalização – dada a completa vitória da revolução democrática – ou a transferência das grandes propriedades capitalistas às associações dos trabalhadores, porque, da revolução democrática, devemos, imediatamente e precisamente de acordo com a medida de nossas forças, a força do proletariado organizado e dotado de consciência de classes, começar a passar para a revolução socialista.

Estamos em favor da Revolução Permanente (EvM.: tb. Revolução Ininterrupta,

Não devemos parar no meio do caminho. 

Se não prometemos agora e imediatamente todos os tipos de “socialização” é porque conhecemos as condições efetivas para que aquela tarefa seja cumprida e não dissimulamos a nova luta de classes jogando com o campesinato, mas sim revelando essa luta.”[177]

 

CAPÍTULO 31.

FRACIONALISMO PÚBLICO-EPISÓDICO

ANTI-INSURRECIONAL E FURA-GREVE

DE ZINOVIEV E KAMENEV NO INTERIOR DO BOLCHEVISMO :

EXIGÊNCIA DE SUA EXPULSÃO

DO COMITÊ CENTRAL E DO PARTIDO, PEDIDO DE DEMISSÃO

DE STALIN DA REDAÇÃO DO “PRAVDA (A VERDADE)”

 

As situações políticas relacionadas seja com a Derrota de 3 a 6 de Julho, a Crise do Pré-Parlamento e mesmo a Traição de 16 de Outubro, orquestrada essa última por Zinoviev e Kamenev – diante da qual Lenin exigiu a expulsão de ambos do Comitê Central do POSDR (Bolchevique) e das fileiras do Partido, apontam, claramente, para o fato de que frações públicas “permanentes" ou virtualmente “permanentes” – em particular, quando incluindo “fura-greves” da Insurreição Armada Proletária - não faziam absolutamente parte integrante do regime organizativo defendido por Lenin, seja no campo positivo-estatutário, seja no campo político-prático efetivo[178].

Com efeito, no domínio da dialética da teoria política marxista, Lenin havia sido capaz de concluir, genialmente, logo após o encerramento do período pacífico do processo revolucionário russo, em 3 e 4 de julho de 1917[179], que, com a deflagração da I Guerra Mundial Imperialista, a reserva de Marx, contida no 18 Brumário de Luis Napoleão, concernente à necessidade de despedaçamento da máquina militar e burocrática do Estado Burguês apenas no quadro das revoluções proletárias do continente Europeu, estava, essencialmente, envelhecida[180].

Na Inglaterra e nos Estados Unidos da América, últimos representantes da antiga liberdade anglo-saxônica - consagradora da ausência do militarismo e da burocracia administrativa existentes nos Estados Burgueses da Europa continental -, já haviam emergido as mesmas instituições militaristas e burocráticas características da violenta dominação burguesa.

A partir de então, a condição preliminar de toda e qualquer revolução proletária também nesses dois países passava a ser, igualmente, a ruptura e destruição de suas máquinas estatais burguesas, engendradas para reprimir violentamente as classes dominadas.

Essa sua nova formulação, posicionou, em escala incomparavelmente mais ampla, a tarefa de concentração de todas as forças da revolução proletária para a destruição do poder dos Estados Burgueses da atualidade.

Não descurando jamais da imensa importância que possuem os métodos de esgotamento gradual das forças dos inimigos de classe, através do fortalecimento e conquista permanente de novas posições revolucionárias do proletariado na conquista da maioria das massas revolucionárias, Lenin destacou que se mostra ainda decisiva e atualíssima a política marxista-revolucionária de derrubada do capitalismo pela via insurrecional violenta da luta de classes, hegemonizada pelo proletariado no quadro de coalizão selada com seus mais autênticos aliados oprimidos, sendo que apenas com o despedaçamento do aparelho do Estado colocado a serviço das ínfimas minorias exploradoras e opressoras, autocráticas, latifundiárias e burguesas, resulta, pois, aberto o sendeiro de construção de um Estado tipo Comuna (Gemeinwesen), a Ditadura Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla e mais avançada Democracia Proletária, forma transitória rumo ao atingimento de uma sociedade sem classes e sem Estado, i.e. o socialismo, fase inferior da sociedade comunista[181].

Apesar dos atos de traição pública e sabotagem interno-partidária praticados pelos bolcheviques Kamenev e Zinoviev contra a preparação por Lenin da insurreição proletária, apesar da permissão conferida por Stalin de publicação no “Pravda(A Verdade) de artigos abertamente anti-insurrecionais (“O Que não se Deve Fazer”, de Zinoviev) e sua tentativa de conciliação da “rispidez” de bolcheviques insurrecionais (Lenin, Trotsky, Sverdlov, Smilga e outros) com a condescendência dos bolcheviques anti-levante (Kamenev, Zinoviev e seus seguidores), o partido dirigente de Lenin mostrou-se capaz de intervir, com inigualável arte e talento prático-revolucionários, enquanto o estado-maior tático e estratégico das lutas de libertação do proletariado russo e seus aliados.

Uma vez obtida a maioria nos Sovietes, Lenin passou a defender, sob pena de demitir-se da direção partidária, que os bolcheviques deviam e podiam tomar imediatamente o poder[182], marcando antecipadamente a data para a deflagração da insurreição, sem deixarem escapar a ocasião, sem causarem a perda da revolução, sem aguardarem pelo início do novo Congresso dos Sovietes[183], destacando que a história jamais os perdoaria se o deixassem de fazer tempestivamente[184]. 

Presente clandestinamente em Petrogrado já em 10 de outubro, Lenin contribuiu decisivamente para que sua proposta de preparação e desencadeamento imediato da insurreição fosse aprovada por 10 votos a 2, no âmbito da reunião do Comitê Central do Partido Bolchevique[185]. 

Assim, o partido dirigente de Lenin, sob o comando imediato de Trotsky, foi capaz de desempenhar, em 25 de outubro de 1917,  com talento e habilidade, a Arte da Insurreição Socialista[186], tendo em conta as experiências práticas da Comuna de Paris de 1871 e da Insurreição de Moscou de Dezembro de 1905, observando, com triplicada audácia, as regras de atuação revolucionária de Georges-Jacques Danton e recomendadas com perspicácia proletária por Marx e Engels[187].

Deste modo, no que tange em particular ao curto episódio de fracionalismo público anti-insurrecional de Zinoviev e Kamenev, ocorrido em outubro de 1917, no interior do bolchevismo, cabe destacar, portanto, que também aqui reagiu Lenin prontamente, clamando pela sumária expulsão daqueles renomados dirigentes do Comitê Central e das fileiras do partido marxista-revolucionário. 

Muito se discorre, presentemente, sobre o fato de que as disputas que se travaram no Comitê Central do Partido Bolchevique, às vésperas do 25 de Outubro (7 de novembro) de 1917, acerca da pertinência da insurreição armada, tendo, de um lado, Lenin, Sverdlov e Trotsky e outros bolcheviques, de outro, Zinoviev, Kamenev e seus seguidores    conduziram ao pedido de demissão desses últimos do Comitê Central.

Nisso, importância decisiva assumiu a questão relacionada com a concepção do caráter da revolução proletária e a necessidade da Insurreição Armada, bem como com o saber se a classe trabalhadora russa encontrava-se capaz de, sob as condições dadas, conquistar o poder e consolidá-lo, no interesse do desenvolvimento, orientando rumo ao socialismo. 

Porém, relativamente a esse tema histórico, cumpre destacar que, no ápice das disputas travadas sobre a conveniência da Insurreição Armada, também Stalin apresentou ao Comitê Central Bolchevique sua demissão da Redação do Pravda (A Verdade), em 20 de outubro de 1917, como forma de protesto em face da rigorosa política de Lenin de promover a expulsão de Zinoviev e Kamenev do Partido Bolchevique, em vista de sua atitude de revelação pública “fura-greve” dos planos insurrecionais, nas colunas do jornal “Novaia Jizn’(Vida Nova), de Gorki e Sukhanov.

O protocolo da reunião do Comitê Central Bolchevique, de 20 de outubro de 1917, presidida por Sverdlov, indica expressamente o seguinte:

 

“Companheiro Stalin : Declara que se demite da redação (no original: Tov. Stalin : Zaiavliaiet, shto vykhodit iz redaktsii).

Deliberação : Em vista do fato de que a declaração do Comp. Stalin é feita, no quadro do Nr. atual, em nome da redação, devendo ser apreciada pela redação, delibera-se que sua declaração não será apreciada e sua demissão não será acolhida, passando-se, agora, para o exame dos problemas imediatos(no original : Postanovlieno : Vvidu tovo, shto zaiavlienie tov. Stalin v sevodniashiem N° sdelano ot imieni redaktsii i doljno byt’ obssujdeno v redaktsii, resheno, ne obsujdaia zaiavlienia tov. Stalina i ne prinimaia evo otstavki, pereiti k otcherednym delam.”

 

Isto é : no quadro do impulsionamento da Insurreição Armada, não apenas Kamenev e Zinoviev decidiram por se demitir de suas responsabilidades – esses últimos comentendo ainda o papel de “fura-greves”, como diz Lenin -, senão ainda Stalin quis desertar.

Sverdlov coartou seus planos e evitou colocar esse seu pedido em votação, como forma de atenuar a monumental crise interna pela qual já passava o Comitê Central justamente há poucos dias da deflagração da insurreição.

Recorde-se, ademais, que, por forças do papel “fura-greve” de Kamenev e Zinoviev, Trotsky teve até mesmo de negar publica e peremptoriamente no Soviete de Petrogrado que a insurreição encontrava-se em andamento.

Por Trotsky sentir-se pessoalmente comprometido com esse fato, exigiu que também esse tema viesse a ser parte dessa reunião do CC em 20 de outubro de 1917, ocupada com a questão das expulsões, aumentando ainda mais a polêmica entre os participantes, às vésperas da Insurreição Armada.

 

CAPÍTULO 32.

FRACIONALISMO PÚBLICO-EPISÓDICO

DE ZINOVIEV E KAMENEV, LUNATCHARSKY E RIAZANOV,

CONTRA A FORMAÇÃO DE UM

GOVERNO PROVISÓRIO SOVIÉTICO

EXCLUSIVA OU HEGEMONICAMENTE BOLCHEVIQUE :

DISSOLUÇÃO E RUPTURA DE LOZOVSKY

 

Como sendo inteiramente de curta duração revelou-se também a fração pública no interior do domínio bolchevique, encabeçada por Zinoviev, Riazanov, Lozovsky, Lunatcharsky, Rykov, Noguin, Miliutin, Teodorovitch e Kamenev – esse último exercendo então a função de Presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia - defensora da negociação com o Comitê Executivo do Sindicato dos Ferroviários de Toda a Rússia (Vikjel), de orientação menchevique e socialista-revolucionária (SR) de direita, sob ameaça de deflagração de greve, no sentido do impedimento da formação de um Governo Provisório Soviético exclusiva ou hegemonicamente bolchevique, acompanhada da respectiva dissolução do Conselho do Comissariado do Povo, encabeçado por Lenin, e apoio à constituição de um Governo de Coalizão de todos os partidos reputadamente socialistas, dele excluindo-se inteiramente Lenin e Trotsky, governo esse a tornar-se responsável não perante os Sovietes, mas sim perante as assim denominadas “largas massas da democracia revolucionária”, dando-se lugar ao consecutivo desarmamento da Guarda Vermelha.

As atividades da fração pública bolchevique em tela culminaram, até mesmo, no abandono de cargos de Comissários do Povo exercidos por bolcheviques que então a integravam, bem como na renúncia de Kamenev à Presidência do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia, sendo essa última ocupada, então, por Sverdlov, eleito, em 8 de novembro de 1917, na reunião daquele organismo, sob proposta de Lenin.

Condenada por expressivas assembléias de trabalhadores e soldados que haviam dado suas vidas em favor da Insurreição Armada e rapidamente desestruturada pelo fato objetivo de dirigentes dos socialistas-revolucionários (SRs) de esquerda aceitarem ingressar na qualidade de comissários do povo em um governo composto hegemonicamente pelos bolcheviques, encabeçados por Lenin e Trotsky, a fração pública em tela perdeu sua razão de ser, já a partir de 8 (21) de novembro de 1917.

Apenas Lozovsky continuou defendendo, a seguir, a bandeira do oportunismo favorável à contra-revolução, rumando, então, para a ruptura com o POSDR (Bolchevique) e fundação de um assim denominado “Partido Socialista Operário(PSO)”, marcado por insuperável debilidade historico-existencial.   

 

CAPÍTULO 33.

DIVERGÊNCIA DE LENIN NA QUESTÃO

DA CONVOCAÇÃO DAS ELEIÇÕES

DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

 

No período imediatamente posterior à vitória da Revolução de Outubro de 1917, Sverdlov e outros bolcheviques – opondo-se às posições de Lenin que, permaneceu, então, inteiramente isolado na propugnação de um adiamento – defende a imediata convocação pelos bolcheviques das eleições para Assembléia Nacional Constituinte.

Cumpre destacar que, também nesse episódio, não se registrou a formação de frações públicas de qualquer gênero, fossem de caráter interno, fossem de caráter público[188].

Quando em 5 de janeiro de 1918, por deliberação da fração bolchevique eleita em 24 de dezembro de 1917, Sverdlov deu abertura, em nome do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK), aos trabalhos da Assembléia Constituinte - a seguir dissolvida pelo próprio Sverdlov, Lenin e pelos principais representantes bolcheviques -, não se registrou, igualmente, a formação de frações públicas de qualquer gênero no interior de suas fileiras.

 

CAPÍTULO 34.

A FRAÇÃO PÚBLICA DOS “COMUNISTAS DE ESQUERDA”

AO LONGO DE 1918 E 1919 :

DEFESA DA GUERRA REVOLUCIONÁRIA DA RÚSSIA SOVIÉTICA

CONTRA A ALEMANHA IMPERIALISTA

 SEM FORÇAS ARMADAS VERMELHAS APTAS A COMBATEREM

 

Relativamente à luta fracional, deflagrada no POSDR (Bolchevique) por ocasião dos debates acerca da assinatura ou não do Tratado de Paz de Brest-Litovsk, no início de 1918, é de anotar-se que, também aqui, Lenin e os bolcheviques, embora admitissem o fenômeno inteiramente provisório da formação de frações públicas, jamais toleraram a existência, no interior de suas fileiras, de frações públicas “permanentes” ou virtualmente “permanentes”.

Nesse contexto, é mister referir-se o tratamento conferido sobretudo à fração dos “comunistas de esquerda” ou “bolcheviques de esquerda”, cujos mais expressivos mentores ideológicos e políticos foram Bukharin, Radek e Piatakov.

A fração pública dos “comunistas de esquerda” surgiu, propriamente, nos primeiros dias de 1918, em um momento que, no POSDR (Bolchevique), predominava um clima profundamente hostil em relação à necessidade de assinar-se a Paz de Brest-Litovsk, a ser celebrada com o imperialismo alemão, bem como relativamente à capitulação imediata, em caso de um ultimato alemão, depois de esgotadas todas as possibilidades de arrastarem-se as negociações acerca do tema, tal como postulava a direção de Lenin, Sverdlov e seus adeptos.

No quadro da crise do Tratado de Paz de Brest-Litovsky de 1918, a fração dos “comunistas de esquerda” aspirava à deflagração de uma Guerra Revolucionária da Rússia contra a Alemanha Imperialista, visando à expansão imediata da Revolução de Outubro de 1917 por toda a arena do continente europeu, a despeito do fato de a República Soviética Russa ainda não dispor de quaisquer forças armadas vermelhas aptas a combaterem.

A luta fracional furiosa despregada entre Lenin e seus seguidores contra as posições da fração pública dos “comunistas de esquerda” era alimentada ainda pelas posições dissidentes e centristas de Trotsky e seus adeptos que postulavam a consigna de “Nem Guerra, Nem Paz”, repudiadora, por um lado, de quaisquer planos de deflagração imediata de uma Guerra Revolucionária e, por outro, de uma capitulação imediata, em caso de um ultimato alemão. Segundo Trotsky, arrastadas as negociações ao máximo, a capitulação seria admitida apenas em face de um perigo concreto de um novo ataque da Alemanha Imperialista contra a Rússia Soviética, i.e. apenas revelando-se absolutamente necessária em face de um evidente emprego de força[189].

A primeira e mais ampla apreciação das diferenças existentes entre os três posicionamentos acima elencados ocorreu em 21 de janeiro de 1918, na reunião dos quadros POSDR (Bolchevique), em cujo contexto os defensores dos posicionamentos da fração dos “comunistas de esquerda” receberam 32 votos, os de Trotsky, 16 votos, e os de Lenin, 15 votos.

Lenin e seus seguidores bolcheviques designaram os comunistas de esquerda como “instrumentos da provocação imperialista”, ao mesmo tempo em que destacaram que, à mercê de uma paz celebrada com Trotsky, custaria perder a Letônia, juntamente com a Estônia.

Os comunistas de esquerda” conduziram, nesse contexto, durante os primeiros meses de 1918, uma atividade fracional descomedida, formulando acusações excessivas contra outros membros da direção do POSDR(Bolchevique), ameaçando romper o Partido e abandonar seus postos no interior dos Sovietes, como forma de protesto, na hipótese de suas pretensões de Guerra Revolucionária não serem imediatamente acatadas.

Tendo sido formalmente declarado, em 16 de fevereiro de 1918, por parte do Supremo Comando Militar Alemão o fim do armistício para entabulação de negociações de paz, bem como determinada a retomada das atividades de guerra contra a Rússia, a iniciarem-se no 18 de fevereiro subseqüente, Lenin propôs, às vésperas dessa última data, ao Comitê Central do POSDR (Bolchevique), fossem retomadas as negociações com a Alemanha, visando à mais breve conclusão de um tratado de paz.

Apenas em uma segunda votação ocorrida em uma sessão noturna de 18 de fevereiro, em face da já iniciada ofensiva militar imperialista alemã contra Rússia, despregada em todos os frontes de combate, veio o Comitê Central do POSDR (Bolchevique) a adotar a proposta de Lenin de enviar-se ao Governo do Império Alemão, mediante telégrafo, uma declaração de anuência relativamente à assinatura do Tratado de Paz de Brest-Litovsk.

Estando ausente na reunião do Comitê Central do POSDR (Bolchevique) de 22 de fevereiro de 1918, dedicada à tentativa de aquisição de armas e alimentos junto às potências imperialistas da Entente, visando à organização da defesa revolucionária contra as pretensões levantadas pelo imperialismo alemão, Lenin enviou, por escrito, a seguinte declaração expressa de voto :  

 

“Ao Comitê Central do POSDR (Bolchevique)

Peço para contar meu voto juntamente com os que são favoráveis à aquisição de batatas e armas, a serem obtidas junto aos ladrões do imperialismo inglês e francês. Lenin.”

 

Sendo aprovada, então, nessa ocasião, por 6 votos a 5, uma resolução declarando serem necessários o armamento e a equipagem das forças revolucionárias soviéticas com todos os meios possíveis, bem como  autorizada sua aquisição junto aos governos dos países imperialistas indicados, decidiu a fração dos “comunistas de esquerda” romper com o Comitê Central do POSDR (Bolchevique), retirando seu porta-voz, Bukharin, seja da composição desse organismo dirigente, seja do comitê de redação do órgão central do Partido, i.e. o “Pravda(A Verdade)”.

Lenin sintetizou, historicamente, o balanço dos momentos de embate contra a fração dos “comunistas de esquerda” ou ainda contra os “esquerdistas lamentadores”, em sua célebre brochura intitulada ”O Radicalismo de Esquerda. Enfermidade Infantil do Comunismo”, surgido em 1920, destacando que, em 1918, não se produziu uma ruptura, tendo-se em conta o fato de que tal fração não operou por longo tempo e, a seguir, admitiu, abertamente, o seu erro :  

 

Em 1918, não se chegou à ruptura.

Os comunistas “de esquerda” formaram, outrora – e , em verdade, não por longo tempo -, um grupo particular ou “fração” no interior de nosso partido.

No mesmo ano de 1918, os mais renomados representantes do “comunismo de esquerda”, p.ex. os comps. Radek e Bukharin, admitiram, abertamente, o seu erro.

Eles haviam acreditado que a Paz de Brest seria um compromisso com os imperialistas, por princípio inadmissível e prejudicial para o partido do proletariado revolucionário.

Tratava-se, de fato, de um compromisso com os imperialistas, porém precisamente de um compromisso incondicionalmente necessário, no marco das condições dadas...

Quando, porém, os mencheviques e os sociais-revolucionários, na Rússia, os Scheidemanns (e, em grande medida, também os kautskyanos), na Alemanha, Otto Bauer e Friedrich Adler (para nem falar dos Srs. Renner e cia.), na Áustria, os Renaudel, Longuet e cia., na França, os fabianos, os “independentes” e os “trudowikis”(i.e. os trabalhistas), na Inglaterra, concluíram compromissos, nos anos de 1914 a 1918 e de 1918 a 1920, com os bandidos de sua própria burguesia, às vezes também com os “aliados” da burguesia, contra o proletariado revolucionário de seu país, agiram todos esses Srs. como cúmplices do banditismo.

A conclusão é clara : rechaçar “por princípio” compromissos, negar meramente toda admissibilidade de compromissos, seja da forma que forem, é uma infantilidade que deve ser levada severamente a sério.“[190]

 

Já no que tange mais propriamente às lutas fracionais, deflagradas no interior do Partido Comunista Russo (Bolchevique), entre os anos de 1918 a 1923, é de anotar-se que, também aqui, Lenin e os bolcheviques, embora admitissem o fenômeno inteiramente provisório da formação de frações públicas, jamais toleraram a existência de frações públicas “permanentes” ou virtualmente “permanentes”, no interior de suas fileiras.

As frações públicas que se formaram no quadro organizativo do PCR (Bolchevique) jamais prolongaram-se ad aeternum, sendo dissolvidas ou extintas, em um período muito mais rápido de tempo do que naquele havido na época do POSDR (Bolchevique).

 

CAPÍTULO 35.

I CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA EM 1919

 

CAPÍTULO 36.

VIII CONGRESSO DE 1919 DO PCR (BOLCHEVIQUE) :

NOVO PROGRAMA REVOLUCIONÁRIO

E APROVAÇÃO DA FUNDAÇÃO

DA III INTERNACIONAL COMUNISTA

 

Destaque-se que no VIII Congresso do Partido Comunista da Rússia (PCR), ocorrido entre os dias 18 e 23 de março de 1919, em Moscou, operou-se ainda uma nova modificação do Programa do Partido que, conservando importantes aquisições teórico-doutrinárias e político-práticas, obtidas no quadro dos anos de existência do antigo POSDR (Bolchevique), incorporou novas conquistas substanciais para o marxismo revolucionário, advindas das Teses de Abril e da Revolução Proletária de Outubro de 1917.

O VIII Congresso em tela dedicou-se a estipular as novas tarefas perseguidas pela organização marxista-revolucionária na atual época do imperialismo capitalista na trilha da luta pela vitória do socialismo em todo mundo, seja mediante a promulgação de um novo Programa, seja mediante a aprovação da fundação da III Internacional Comunista[191].

Dele participaram 301 delegados com votos deliberativos, representando 313.766 membros partidários, e 102 delegados com votos consultivos.

A ordem do dia desse congresso era composta pelos seguintes tópicos : 1) Informe do Comitê Central; 2) Programa do PCR(B); 3) Fundação da III Internacional Comunista; 4) Situação Militar e Política Militar; 5) Trabalho no Campo; 6) Questões Organizativas etc.

O novo Programa do PCR (Bolchevique) foi dividido, além disso, em duas sessões fundamentais :  a sessão da política geral e a sessão da economia.

Na primeira delas, elencaram-se disposições tratando especialmente sobre relações entre as nações, domínio militar, sistema judiciário, educação pública e relações religiosas.         

Na segunda delas, foram estabelecidas disposições versando sobre a economia do campo, produção e distribuição de produtos, sistema monetário e bancário, domínio das finanças, problema da moradia, proteção do trabalho e previdência social, bem como defesa da saúde do povo.

Em seu discurso de abertura do VIII Congresso do PCR (Bolchevique), pronunciado em 18 de março de 1919, Lenin dedicou sua primeira palavra a Jakob Michailovitch Sverdlov, falecido no dia 16 de março imediatamente anterior àquela data.

Segundo Lenin, se Sverdlov fora para o Partido, em seu conjunto, e para toda a República Soviética o seu organizador mais importante – tal como, em seu funeral, inúmeros militantes haviam-no afirmado -, Sverdlov situara-se muito mais proximamente do VIII Congresso do Partido :

 

“Em Jakob Michailovitch Sverdlov, perdemos um companheiro que dedicou, inteiramente, os seus últimos dias, ao Congresso do Partido.  

Sua falta tornar-se-á perceptível em todo o curso de nosso trabalho e o Congresso do Partido sentirá sua ausência, de maneira particularmente intensa.

Companheiros, proponho que nos levantemos em homenagem à sua memória.”[192]

 

Ainda no quadro desse VIII Congresso, registrou-se a expressão da oposição militar fracionalista de Tysaritsin, no fronte sul ou sudeste, encabeçada por Stalin e Voroshlov, formada em 1918 e consolidade em 1919, contra a direção do Comissariado da Guerra e do  Conselho Supremo Revolucionário de Guerra da República, encabeçados por Trotsky, órgãos esses contando com manifesto apoio de Lenin e Sverdlov.

No período pré-congressual, Sverdlov chegou a intervir exigindo que Stalin e Voroshlov obedecessem as ordens expressas, advindas do Conselho Supremo, composto por Trotsky, Smilga, Antonov-Ovseienko, Raskolnikov, Muralov, Smirnov e outros.

Posteriormente, contando com o apoio de Lenin e Krestinsky, Trotsky conseguiu, à época, superar e derrotar essa fração com grande habilidade, exigindo que Stalin e Voroshlov formulassem, por escrito e abertamente, sua oposição subreptícia e se integrassem em um órgão militar de comando.

Assim, Trotsky exigiu que Stalin fosse indicado membro do Conselho Supremo Revolucionário em destaque, ainda que Stalin, a seguir, se recusasse expressamente a participar de suas sessões.   

 

CAPÍTULO 37.

IX CONGRESSO DE 1920 DO PCR (BOLCHEVIQUE):

LUTA CONTRA A FRAÇÃO DOS DECISTAS DE SAPRONOV E OSSINSKY - APOIADA POR RYKOV E TOMSKY – 

E CONTRA OS PRIMEIROS MOMENTOS DA FRAÇÃO DA “OPOSIÇÃO OPERÁRIA”

DE SCHLIAPNIKOV E LOZOVSKY

 

 

A seguir , o IX Congresso do PCR (B), ocorrido entre 29 de março e 5 de abril de 1920, pela luta fracional travada por Lenin e seus seguidores, por um lado, contra a assim denominada fração pública do “Centralismo Democrático(Decistas)”, encabeçada por Sapronov e Ossinsky, e, por outro, contra os primeiros passos da fração pública da “Oposição Operária”, capitaneada por Schliapnikov e Lozovsky[193].

A primeira dessas frações, a do “Centralismo Democrático(Decistas)”, surgia ainda apoiada por importantes dirigentes bolcheviques da envergadura de Rykov e Tomsky[194].    

Ela opunha-se, antes de tudo, à orientação reputadamente burocrática que o Comissariado do Povo de Lenin vinha imprimindo à direção das relações econômicas – industriais, comerciais e financerias – da Rússia Soviética e, por isso, levantava como consigna de luta a necessidade de defesa do centralismo democrático e da administração público-comunitária contra a administração efetuada, de modo individual, por especialistas, em um Estado supostamente por demais centralizado[195].

A segunda dessas frações que conheceu os seus primeiros passos já no quadro do IX Congresso do PCR (B), autodenominou-se de “Oposição Operária”, precisamente por defender uma alegada “independência” dos sindicatos em face do PCR (B) e do Poder Soviético como um todo[196].    

Já nessa ocasião, Lenin defendeu a concepção de deverem os sindicatos serem entendidos como escolas de comunismo, revestindo-se da tarefa de organizar as massas proletárias e conduzí-las ao trabalho de administração democrático-revolucionária do Estado Proletário, elevando, permanentemente, o nível cultural e político dos trabalhadores aos patamares da sociedade socialista, preparando-os para o exercício da função de construção ativa da sociedade sem classes.

 

CAPÍTULO 38.

II CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA EM 1920

 

 

CAPÍTULO 39.

 X CONGRESSO DE 1921 DO PCR (BOLCHEVIQUE) :

LUTA PELA UNIDADE DO PARTIDO CONTRA AS FRAÇÕES

DE SACUDIMENTO SINDICAL DE TROTSKY,

DO PÁRA-CHOQUE DE BUKHARIN E PREOBRAJENSKY,

DA “OPOSIÇÃO OPERÁRIA”, DOS ANARCO-SINDICALISTAS,

DOS DECISTAS E DO BUROCRATISMO OPERÁRIO ACOBERTADO

 

Todo o debate acerca do papel dos sindicatos na luta pelo atingimento pelo socialismo, muito mais do que ser definitivamente superado no quadro do IX Congresso em tela, veio a ser retomado, em Moscou, no quadro da V Conferência dos Sindicatos de Toda a Rússia, ocorrida entre 2 e 6 de novembro de 1920, quando Trotsky defendeu a concepção de que seria necessário “sacudir” os sindicatos mediante a “governamentalização” dessas entidades e a introdução de métodos militares de administração e comando em seu interior, como forma de promover a reorganização e redinamização efetiva de suas atividades.

De dezembro de 1920 a janeiro de 1921, i.e. no interstício existente entre o IX Congresso e o X Congresso do PCR (B), Lenin dedicou-se a elaboração de artigos dedicados a combater a concepção sindical de Trotsky – como também as posições de pára-choque da luta política, tal como protagonizadas por Bukharin e Preobrajensky  -, sendo que dessa polêmica, marcada por profundas características fracionais, haveriam de resultar novas frações públicas orientadas contra as posições de Lenin[197]. 

No quadro do X Congresso do PCR (B), realizado entre os dias 8 e 16 de março de 1921, Lenin voltaria a dedicar-se claramente a combater não apenas a fração pública da “Oposição Operária” de Schliapnikov – agora sem o apoio de Lozovsky – senão ainda a de sacudimento sindical, encabeçada por Trotsky, e a de pára-choque, dirigida por Bukharin e Preobrajensky, formadas essas últimas no período inter-congressual precedente.

Lenin opôs-se, em particular, ao método fracional preponderante de abordagem dos debates sindicais, censurando, em especial, Trotsky pelas posturas fracionalistas por ele assumidas[198].

No quadro dos debates sobre a questão sindical do X Congresso do PCR (B),  Lenin daria origem à “Plataforma dos Dez – Esboço de Decisão do X Congresso do PCR(B) sobre o Papel e as Tarefas dos Sindicatos ” – assinada também por Zinoviev, Kamenev, Stalin, Kalinin, Petrovsky, Lozovsky, Tomsky, Artiom e Rudzutak e, finalmente, convertida em resolução congressual -, estabeleceu, em largos traços, a concepção de Lenin acerca da relação que deve existir entre a vanguarda da classe trabalhadora e o proletariado.

Nesse mesmo X Congresso do PCR (B),  é possível assirtir-se Lenin

desferindo, mais uma vez ainda, seus precisos argumentos contra a fração pública do “Centralismo Democrático(Decistas)”, encabeçada por Sapronov e Ossinsky.

Além disso, em 1921, no quadro de sua impiedosa luta contra a degeneração burocrática da Revolução Russa de Outubro de 1917, Lenin deu início à sua luta contra as posições defendidas pela então latente fração da troika burocrático-operária, prenunciada por Stalin, Kamenev e Zinoviev, que a viria ainda a adquirir todos os seus contornos nos anos subseqüentes.

Paralelamente, o esmagamento do Levante Contra-Revolucionário de Kronstadt, em março de 1921, veio a produzir um grande impacto sobre as frações de oposição, convulsionando toda a vida interna do PCR (Bolchevique).

Precisamente, no X Congresso do PCR (B), realizado entre os dias 8 e 16 de março de 1921, há dois anos da morte de Sverdlov, contando com participação de 694 delegados plenos e 296 com direito a voz, representando 732 mil e 500 militantes, Zinoviev, Kamenev e seus seguidores, como forma de impulsionar sua luta fracional travada contra Trotsky, apoiaram a candidatura de Stalin para Secretário Geral – colocando esse último, formalmente, na posição que Sverdlov havia ocupado, de fato.

Colocado em face desse fato político, Lenin pronunciou-se contra esse plano, expressando seu temor acerca do fato de que :

 

“Etot povar budiet gotovit’ tol’ko ostrye bliuda(esse cozinheiro há de preparar apenas pratos apimentados)”[199].

 

Por outro lado, Krestinsky, Serebryakov e Preobrajensky afastados do Secretariado Comandado por Três Homens, por terem sido considerados pelo X Congresso do PCR (Bolchevique) como muito lenientes em face das frações oposicionistas, deram lugar, transitoriamente, na direção do novo Secretariado, a Molotov, Yaroslavsky e Mikhailov, os quais surgiam aparentemente como os melhores quadros para o exercício da disciplina partidária contra as frações indômitas.

Esse novo Secretariado levou adiante, então, a execução de uma depuração partidária, ocorrida no arco de um ano, em que quase 30 % dos militantes do PCR (Bolchevique) foram excluídos de suas fileiras[200].   

Molotov, Yaroslavsky e Mikhailov passaram a desempenhar, igualmente, um importante papel para o empossamento, em 2 de abril de 1922, de Stalin nas funções de Secretário Geral, considerado, então, como um velho quadro organizador pragmático bolchevique e o mais sólido representante da burocracia de funcionários do partido em ascensão, porém, aos olhos de Lenin, nada senão um “cozinheiro de pratos apimentados”.[201]

Nesse sentido, Trotsky anotou, minuciosamente:

 

“No X Congresso, dois anos depois da morte de Sverdlov, quando Zinoviev e outros - não sem um pensamento velado de luta travada contra mim -, apoiaram a candidatura de Stalin para Secretário Geral, colocaram-no, de jure, na posição em que Sverdlov havia ocupado, de facto.

Lenin pronunciou-se, em círculos restritos, contra esse plano, expressando seu temor acerca do fato de que :

 

“ esse cozinheiro irá preparar apenas pratos apimentados”.

 

Tão somente essa frase, tomada em conexão com o caráter de Sverdlov, demonstra-nos as diferenças entre os dois tipos de organizadores :

Um, incansável em atenuar conflitos, facilitando o trabalho para os órgãos colegiados.

Outro, especialista em pratos apimentados – nem sequer  temeroso de os temperar com um autêntico veneno.

Se, em março de 1921, Lenin não levou ao limite sua oposição, i.e. não apelou ao Congresso abertamente contra a candidatura de Stalin, foi porque o posto de Secretário, ainda que “Geral”, possuía um significado estritamente subordinado, nas condições então prevalecentes, estando o poder e a influência concentrados no Bureau Político (Politbureau).

Talvez, também Lenin, como muitos outros, não tivesse percebido adequadamente o perigo naquele momento.”[202]

 

Ainda nesse mesmo X Congresso do PCR (Bolchevique), Lenin fez aprovar sua Resolução sobre a Unidade do Partido, destacando que a coesão e unanimidade de vontade das fileiras do Partido haveria de ser preservada sobretudo naquele momento, em que um número de circunstâncias aumentavam as vacilações da organização marxista-revolucionária na época do imperialismo capitalistas em face de seus inimigos de classe e, em particular, da população pequeno-burguesa da Rússia Soviética[203].

Em face dos profundos sinais de fracionalismo, fortalecido mediante a formação desordenada e pseudo-crítica de grupos com plataformas separadas, lutando para segregaram-se e criarem sua própria disciplina particular, tal como eram os exemplos gritantes das frações públicas da “Oposição Operária” e do “Centralismo Democrático(Decistas)”.

Lenin destacou que os trabalhadores conscientes devem possuir claridade acerca do fato de que o fracionalismo de todos os gêneros é prejudicial e intolerável, pois, independentemente do modo segundo o qual os membros de uma certa fração podem desejar salvar o Partido, o fenômeno fracional conduz, na prática, inevitavelmente, ao enfraquecimento do trabalho coletivo e a tentativas repetidas por parte dos inimigos da direção do Partido de expandir as fissuras e usá-las para propósitos contra-revolucionários.

Acentuou que o Levante de Kronstadt de Março de 1921 havia sido o modo mais escandaloso segundo o qual os inimigos do proletariado exploraram cada desvio da linha consistentemente marxista-revolucionária para fortalecer seus ousados propósitos contra-revolucionários de aniquilação da Ditadura Revolucionária Proletária na Rússia e o Governo Soviético Operário-Camponês.

Segundo Lenin, Kronstadt havia demonstrado, além disso, que, explorando os desentendimentos e os sintomas fracionalistas dos bolcheviques, os Guardas Brancos eram capazes de disfarçarem-se a si mesmos de comunistas e, ainda mais, de comunistas de esquerda, exclusivamente com o propósito de debilitar e destruir o bastião da Revolução Proletária na Rússia, enquanto mencheviques e socialistas-revolucionários (SR) distribuíam, em Petersburgo, panfletos, conclamando as massas trabalhadoras a apoiarem o levante contra-revolucionário.

Diante desse contexto histórico, Lenin propôs que todo organismo do PCR (Bolchevique) deveria adotar medidas severas para prevenir todas e quaisquer ações fracionalistas, sendo que todas novas propostas práticas haveriam de passar a ser formuladas e submetidas, sem demora, os órgãos locais e centrais do Partido para exame.

Toda crítica haveria de atentar para o fato de que sua forma teria em conta a posição do Partido, então inteiramente cercado por inimigos, e seu conteúdo, a retificação dos erros do Partido ou de seus membros, individualmente considerados.

Em sua Resolução sobre a Unidade do Partido, Lenin defendeu que análises sobre a linha político-geral, balanços de experiência prática, exames de cumprimentos de decisões, estudos de métodos de retificação de erros etc. não deviam jamais serem submetidos a discussões preliminares de grupos, formados sobre a base de “plataformas” etc., mas sim apresentados diretamente para a discussão de todos os membros do Partido. 

Nesse sentido, propôs uma publicação mais regular dos “Diskussionny Listok(Boletins de Discussão)” e realização de simpósios, voltados a promover incessantemente esforços de que o exercício da crítica estivesse concentrado nas questões essenciais, não assumindo formas capazes de ajudar os inimigos de classe do proletariado em seus propósitos contra-revolucionários.

Clamando pela luta travada com todos os meios possíveis contra as degenerações burocráticas e em favor da extensão da democracia e iniciativa operárias, detectando, expondo e expulsando de suas fileiras os membros carreiristas, Lenin propôs que o X Congresso do PCR (Bolchevique) declarasse dissolvidas e ordenasse a imediata dissolução de todos os grupos e frações, sem qualquer exceção, formados na base de uma ou outra plataforma, tal como a fração pública da “Oposição Operária”, do “Centralismo Democrático (Decistas) etc., sendo que a inobservância dessa declaração e ordem congressual haveria de acarretar incondicionalmente a expulsão das fileiras bolcheviques.

Nessa ocasião, Lenin declarou às frações do X Congresso do PCR (Bolchevique)  :

 

“Vocês não podem nos enganar com palavras como “liberdade de crítica”. Quando nos disseram que existia sintomas de enfermidade no Partido, dissemos que isso merecia atenção redrobrada: a enfermidade encontra-se ali inquestionavelmente. Vamos ajudar a curá-la

Porém, digam-nos como você pretendem tratá-la.

Temos perdido uma quantidade muito grande de tempo em discussão e devo dizer que a questão agora está sendo conduzida para distante de casa, com “fuzis” muito mais do que com teses de “oposição”. 

Companheiros, agora não é nenhum momento para uma oposição.

Ou vocês estão do lado de cá ou do lado de lá, porém, se estiverem do lado de lá suas armas devem ser os fuzis e não uma oposição.

Isso decorre da situação objetiva e vocês não nos podem censurar por causa disso.

Companheiros, vamos deixar de ter oposição precisamente agora!

Acho que o Congresso do Partido terá de sacar a conclusão de que o momento de oposição já transcorreu e o tampo foi colocado sobre ela.

Não queremos mais oposições!”[204]    

 

A fim de assegurar estrita disciplina no interior do PCR (Bolchevique)  e em todo o trabalho Soviético, um máximo de unanimidade e eliminação de todo o fracionalismo, o X Congresso haveria de encarregar o Comitê Central Bolchevique da tarefa de aplicar punições, no caso de ruptura da disciplina, reavivamento ou tolerância do fracionalismo, incluindo-se a expulsão, e – em casos de membros do Comitê Central – substituição e expulsão do Partido.

Condição necessária para a aplicação de uma medida extrema a membros do Comitê Central, membros deslocados de tarefas e membros da Comissão de Controle seria a convocação de uma Assembléia Plenária do Comitê Central, para a qual fossem convidados todos os membros substituídos e membros da Comissão de Controle, devendo tal assembléia dar execução imediata às suas decisões.

Ao mesmo tempo, Lenin levantou-se contra a proposição formulada por Riazanov de emenda à sua Resolução sobre a Unidade do Partido que postulava :

 

“Condenando toda a atividade fracional, o Congresso opõe-se vigorosamente a toda e qualquer eleição para o Congresso feita com base em plataformas.”

 

Segundo Lenin, a proposta de Riazanov seria impraticável, na medida em que não se poderia privar o Partido e os membros de seu Comitê Central do direito de apelar ao Partido, no caso de desacordo existente em questões fundamentais.

E, asseverou, nitidamente, tal como prevendo os imensos perigos que uma tal Resolução sobre a Unidade do Partido poderia produzir nas mãos abusivas da fração burocrático-operária subterrânea ou secreta que já se desenhava, sob o comando de Stalin e seus associados :

 

“Não posso imaginar que possamos fazer uma coisa dessas!

O presente congresso não pode, de nenhum modo, amarrar as eleições para os próximos congressos.

Suponhamos que nos defrontemos com uma questão, digamos, semelhante à Paz de Brest?

Você pode nos garantir que uma tal questão não virá a surgir?

Não, não pode.

Nessas circunstâncias, as eleições podem ter de ser baseadas sobre plataformas.

 

(Riazanov : « - em uma questão ? »

 

Certamente. Porém, sua resolução diz : « Nenhuma eleição, feita com base em plataformas. » 

 

Não creio que tenhamos o poder de proibir isso.

Se estamos unidos por nossa resolução sobre a unidade e, evidentemente, pelo desenvolvimento da revolução, não existirá repetição de eleições com base em plataformas.

A lição que aprendemos nesse congresso não será esquecida.

Porém, se as circunstâncias derem lugar a desacordos fundamentais, podemos proibi-los de serem levados ao julgamento do Partido como um todo?

Não, não podemos !

Esse é um desejo excessivo que é impraticável e proponho que o rejeitemos.”[205]

 

CAPÍTULO 40.

III CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA EM 1921

 

 

CAPÍTULO 41.

XI CONGRESSO DE 1922 DO PCR (BOLCHEVIQUE) :

LUTA CONTRA O ASCENSO DA BUROCRACIA OPERÁRIA,

COMANDA POR STALIN, ZINOVIEV E KAMENEV

 

Mesmo ainda no quadro do XI Congresso do PCR (Bolchevique), ocorrido entre 27 de março e 2 de abril de 1922, Lenin demonstrou, nitidamente, que jamais entendeu como sendo acertado sufragar a concepção de conferir-se a Stalin a posição Secretário Geral do Partido - tal como predicavam veementemente Zinoviev e Kamenev – fazendo-o mesmo tendo em consideração que o posto de Secretário, ainda que “Geral”, possuiria um significado estritamente subalterno, dado o fato de que o poder e a influência do Partido encontravam-se concentrados seja em seu Bureau Político seja em seu Comitê Central.  

Em sua polêmica travada contra Preobrajensky que protestava contra o fato de Stalin exercer funções dirigentes em dois comissariados – i.e. enquanto Comissário do Povo para as Nacionalidades, a partir de 26 de outubro de 1917, e enquanto Comissário do Povo para o Controle do Estado, a partir de março de 1919, e, depois de sua reorganização, em fevereiro de 1920, enquanto Comissário do Povo para a Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses – Lenin destacou, precisamente, o seguinte, sem pronunciar-se absolutamente sobre um posto de “Secretário Geral” do Partido a ser supostamente conferido a Stalin, reconhecendo a este competências estritamente subordinadas e limitadas a certos domínios de atividades político-governamentais, colocadas, em última instância, sob responsabilidade direta da Presidência do Conselho de Comissários do Povo, exercida, então, pessoalmente por Lenin, ele mesmo:          

 

“Temos falta de pessoas!

Porém, Preobrajensky aproxima-se e, despreocupadamente, afirma que Stalin possui funções em dois comissariados.

Quem entre nós já não pecou nesse sentido?

Quem não já não assumiu diversos deveres concomitantemente?

E como podemos fazer de modo diferente?

O que podemos fazer para preservar a presente situação no Comissariado do Povo para as Nacionalidades, para tratar todas as questões turcumenas, caucasianas e outras?

Essas são questões políticas!

Elas tem de ser decididas.

São questões que ocuparam a atenção de Estados europeus por centenas de anos e apenas um número infinitesimal deles foram organizados em repúblicas democráticas.

Estamos organizando-as e precisamos de um homem a quem os representantes de quaisquer dessas nações possam ir discutir suas dificuldades, em todos os detalhes.

Onde podemos encontrar um tal homem?

Não acredito que o companheiro Preobrajensky possa sugerir qualquer outro candidato melhor do que o companheiro Stalin.”[206]   

 

Cumpre anotar, por derradeiro, que, também no quadro do XI Congresso do PCR (Bolchevique), manifestou-se ainda importante luta fracional, desencadeada no domínio militar, em torno da questão da educação e da doutrina militar das Forças Armadas Vermelhas, luta essa que persistiu ao longo dos anos de 1921 e 1923,

De um lado, Trotsky e Antonov-Ovseienko defenderam a herança dialética na compreensão dos problemas militares.

D’outro lado, Frunze, Gussev e Tukhatchevsky – apoiados por Kamenev, Zinoviev e Bukharin - propugnavam uma doutrina militar unitária e essencialmente ofensiva para as Forças Armadas Vermelhas, razão porque sua fração foi qualificada por Trotsky de tentativa de “Ressuscitação do Esquerdismo Comunista no Domínio Militar.”

De todo modo, essa luta fracional evoluiu de tal forma que não exigiu diretamente a intervenção de Lenin, o qual ambas as partes reivindicavam como sustentáculo integrante de suas fileiras.

Nada obstante, o fortalecimento da posição de Stalin na luta contra o então, assim aclamado pelas massas proletárias russas, ”Trotsky, o Vitorioso da Guerra Civil”, “Trotsky, o Salvador do Trem de Comando” passava a ser concebido como tarefa de segurança máxima para a sustentação das ambições de preservação da burocracia operária contra-revolucionária em ascensão[207].                  

Quando, em 26 de maio de 1922, Lenin sofreu seu primeiro derrame, ensaiou-se, imediatamente, a tomada dos principais postos das organizações comunistas proletárias de outrora pela burocracia partidária em gestação.

Zinoviev e Radek surgiam, já então, como os principais representantes da Internacional Comunista (Komintern) : Zinoviev investido da função de Presidente do Executivo do Komintern, Radek enquanto membro desse mesmo Executivo e representante do PCR (Bolchevique) junto ao Komintern, encarregado especialmente das questões político-estratégicas concernentes à Alemanha.

Nesse mesmo contexto, Kamenev assumiu, inopinadamente, a Presidência do Politbureau do PCR (Bolchequevique), atuando de mãos dadas com Zinoviev e Bukharin, enquanto principais dirigentes político-ideológicos do partido russo.

Zinoviev, principal dirigente do PCR (Bolchevique) em Petrogrado, e Kamenev, sua alma gêmea de Moscou, acreditavam serem os principais beneficiários do processo de alijamento de Trotsky dos principais centros de decisão política.

Quanto a Stalin, se, esse último, em um contexto preambular, até o ano de 1922, já surgia exercendo as funções de Comissário do Povo para as Questões das Nacionalidades, Membro do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia, Membro do Comitê Executivo do Governo, Membro da Comissão da Política de Alimentação e Obtenção de Meios Alimentícios no Sul da Rússia, Dirigente da Circunscrição Militar do Cáucaso do Norte, Presidente do Conselho Revolucionário de Guerra do Fronte do Sul, Membro do Conselho Revolucionário de Guerra da República, Membro da Comissão para a Redação do Programa do Partido, Delegado ao I Congresso do Komintern, Dirigente do Departamente do Controle do Estado – departamento esse denominado, a partir do Decreto de 7 de Fevereiro de 1920, Rabkrin, i.e. Comissariado do Povo para a Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses e encarregado de desferir o combater contra a enfermidade burocrática do Estado Proletário nascente -, bem como desempenhando as atribuições de Secretário Geral[208], viria ele, então, revelar-se, as seguir, como o grande privilegiado da Reforma Partidária de Agosto de 1922, de matiz nitidamente burocrática, introduzida no quadro da XII Conferência do PCR(Bolchevique).

Stalin tornou-se, assim, o pivô da crescente concentração e centralização de toda a vida interna das organizações partidárias.

As células de militantes das cidades e do campo, o Orgburo, a Comissão Central de Controle, a Tcheca etc., passavam também a ser comandadas por Stalin, com o auxílio de apenas três outros bolcheviques, Shkiryatov, Korostelev e Muranov.         

Durante o ano de 1922, a participação de Trotsky nas sessões do Politburo já se encontrava reduzida à condição de superficial formalidade, sendo as principais decisões político-práticas adotadas em sessões secretas que não contavam com a sua participação direta.

Recuperando-se lentamente de seu primeiro derrame, Lenin voltou a assumir suas atividades em junho de 1922, tendo a oportunidade de, já naquela oportunidade, constatar, clara e diretamente, a saliente expansão do processo de burocratização do aparato do partido.

 

CAPÍTULO 42.

IV CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA EM 1922

 

Em seu discurso, proferido no IV Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, pouco antes de sofrer seus segundo e terceiro derrames, respectivamente em 16 dezembro de 1922 e 9 de março de 1923 - os quais o impossibilitaram de seguir ativo em suas funções partidárias e soviéticas, conduzindo-o, finalmente, à morte, em janeiro de 1924 -, Lenin teve a oportunidade de advertir os companheiros russos e estrangeiros acerca do perigo de adotarem, mecânica e dogmaticamente, os mesmos métodos de tratamento das questões organizativo-partidárias que haviam-se despregado na Rússia Soviética, no curso dos anos imediatamente precedentes[209]. ...

 

 

CAPÍTULO 43.

XII CONGRESSO DE 1923 DO PCR (BOLCHEVIQUE) :

CONTINUAÇÃO DA LUTA

CONTRA O ASCENSO DA BUROCRACIA OPERÁRIA,

COMANDA POR STALIN, ZINOVIEV E KAMENEV

NO QUADRO DA ENFERMIDADE DE LENIN

 

 

CAPÍTULO 44.

ÚLTIMOS DIAS DE LENIN

NA LUTA CONTRA O ASCENSO DA BUROCRACIA OPERÁRIA,

COMANDA POR STALIN, ZINOVIEV E KAMENEV

 

Em 4 janeiro de 1923, em seu assim denominado “Testamento”, Lenin recomendou afastar Stalin do posto de Secretário Geral, pronunciando-se nos seguintes termos:

 

“Por estabilidade do Comitê Central, acerca do que falei precedentemente, entendo as medidas destindas a evitar uma ruptura, na medida em que tais medidas possam ser tomadas.

Dado que, evidentemente, a Guarda Branca, em Russkaya Misl (O Pensamento Russo)(acho que foi S.E. Oldenburg), estava correta quando, em primeiro lugar, no quadro de sua luta contra a Rússia Soviética, confiou na esperança de uma ruptura de nosso Partido  e, em segundo lugar, apostou naquela ruptura, fundada em sérios desentendimentos, existentes em nosso Partido.

Nosso Partido está assentado sobre duas classes e, por essa razão, sua instabilidade é possível e, se não puder existir um acordo entre essas classes, sua queda será inevitável.

Em tal caso, seria inútil adotar quaisquer medidas ou discutir, em geral, acerca da estabilidade de nosso Comitê Central.

Em tal caso, nenhuma medida demonstrar-se-ia capaz de prevenir a ruptura.

Porém, acredito que se trate de um futuro por demais remoto e de um caso por demais improvável para sobre eles se falar.

Tenho em mente a estabilidade enquanto uma garantia contra a ruptura no futuro próximo e pretendo examinar aqui uma série de considerações de caráter puramente pessoal.

Entendo que o fator fundamental em questão de estabilidade – visto a partir desse ponto de vista – consiste em tais membros do Comitê Central como Stalin e Trotsky.

A relação entre eles constitui, em minha opinião, uma grande metade do perigo de ruptura, que poderia ser impedido e cujo impedimento poderia ser promovido, a meu ver, mediante a elevação do número de membros do Comitê Central de 50 para 100.

Tendo-se tornado Secretário Geral, o Companheiro Stalin vem concentrando um poder enorme em suas mãos e não estou seguro de que poderá sempre saber como usar esse poder com suficiente precaução.

Por outro lado, o companheiro Trotsky, tal como comprovado por sua luta contra o Comitê Central, relacionada com a questão do Comissariado do Povo para Vias e Comunicações, distingui-se não apenas por suas habilidades excepcionais – em sentido pessoal, ele é, seguramente, o homem mais hábil no atual Comitê Central –, porém também por sua auto-confiência por demais ampla e sua disposição de também ser por demais atraído pelo lado puramente administrativo dos negócios.

Essas duas qualidades dos dois dirigentes mais hábeis do atual Comitê Central poderia, de modo inteiramente inocente, conduzir a uma ruptura. Caso nosso Partido não adote medidas para impedí-la, uma ruptura poderia surgir inesperadamente.       

Não caracterizarei, adicionalmente, os outros membros do Comitê Central no que concerne às suas qualidades pessoais.

Apenas recordar-lhes-ei que o episódio de Outubro de Zinoviev e Kamenev não foi, evidentemente, casual, porém que isso deveria, no mínimo, ser utilizado contra eles pessoalmente, tal como o não-bolchevismo de Trotsky.

Dos membros mais jovens do Comitê Central, quero dizer umas poucas palavras sobre Bukharin e Pyátakov. Eles são, em minha opinião, as forças mais hábeis (entre os mais jovens) e, com relação a eles, é necessário ter em mente o seguinte: Bukharin não é apenas o maior e mais valioso teórico do Partido, senão ainda pode ser considerado, legitimamente, como  o favorito de todo o Partido. Porém, suas concepções teóricas podem ser consideradas como inteiramente marxistas, apenas com a mais grandiosa dúvida, posto que, nele, existe algo de escolástico (ele nunca aprendeu e acho que nunca entendeu inteiramente a dialética). E, então, Pyatakov : um homem indubitavelmente distinguido por sua vontade e sua habilidade, porém por demais entregue à administração e ao lado administrativo das coisas, para ser confiado em sua séria questão política.

Obviamente, ambas essas observações são por mim efetuadas meramente com uma visão do tempo atual ou supondo que esses dois companheiros, hábeis e leais, não possam encontrar uma oportunidade para suplementar seus conhecimentos e corrigir suas unilateralidades.      

25 de dezembro de 1922

Postscriptum : Stalin é excessivamente rude e essa falha, inteiramente suportável em relações entre nós, comunistas, torna-se insuportável no cargo de Secretário Geral.

Portanto, proponho aos companheiros encontrar um meio de remover Stalin dessa posição e para ela indicar outra pessoa que, em todos os sentidos, diferencie-se de Stalin apenas em superioridade – nomeadamente, mais paciência, mais lealdade, mais polidez e mais atenção para com os companheiros, menos capricho etc.

Essa circunstância pode parecer uma mesquinharia insignificante, porém entendo que, do ponto de vista do impedimento de uma ruptura e da relação entre Stalin e Trotsky, que analisei acima, não se trata ela de uma mesquinharia ou trata-se de uma tal mesquinharia que pode aquirir um significado decisivo.

4 de janeiro de 1923

Lenin”[210].  

 

Em 5 de março de 1923, Lenin dirigiu, então, a seguinte carta a Stalin, carta essa publicada, pela primeira vez, apenas em 1956:   

 

“Altamente sigiloso

Pessoal

Cópia aos Comps. Kamenev e Zinoviev

 

Caro companheiro Stalin,

 

Você foi muito rude em repreender minha esposa pelo telefone e usar má linguagem.

Embora ela lhe tenha dito que está preparada para esquecer a questão, o fato tornou-se, entretanto, conhecido através dela a Zinoviev e a Kamenev.

Não tenho a intenção de esquecer tão facilmente o que foi feito contra mim e é evidente que o que foi feito contra minha esposa considero como tendo sido feito também contra mim.

Peço-lhe, portanto, para refletir se está preparado para retirar o que disse e se desculpar ou se prefere que devam ser rompidas as relações existentes nós. 

 

Atenciosamente,

 

Lenin”[211]   

 

EDITORA DA UNIVERSIDADE COMUNISTA SVERDLOV

PARA A ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO

MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

JULHO DE 2003

 

 

 

 

 



[1] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta à F. A. Sorge)(11.02.1891), in: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 38, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 30 e 31.

[2] Cf. LENIN, VLADIMIR, I. Pis’mo A. M. Gor’komu (Carta a A. M. Gorki)(13-14.11.1913), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 48, pp. 226 e s. 

[3] Acerca do tema, vide sobretudo IDEM. III S’ezd RSDRP (III Congresso do POSDR-B)(12-27.04.1905), in: ibidem, Vol. 10, pp. 87 e s.

[4] Nesse sentido, vide MARX, KARL & ENGELS, FRIEDRICH. Manifest der Kommunistischen Partei (Manifesto do Partido Comunista)(Dezembro de 1847/Janeiro de 1848), 2. Proletarier und Kommunisten (Proletários e Comunistas), in : Marx und Engels’ Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 4, Berlim : Dietz, pp. 474 e s.  

[5] Vide LENIN, VLADIMIR, I. Retch ob Usloviakh Priema v Kommunistitcheskii Internatsional (Discurso sobre as Condições de Admissão na Internacional Comunista)(30.07.1920), in: ibidem, Vol. 41, pp. 248 e s.    

[6] Em um sentido definitório fundamental, vide THE MINUTES OF THE II CONGRESS OF THE COMUNIST INTERNATIONAL. Stenographic Report. Reprinted as « The Role of the Communist Party in the Proletarian Revolution », London : Marston Co., 1920, pp. 368 e s.; tb. LENIN. VLADIMIR I. Tezissy ko II Kongriessu Kommunistitcheskovo Internatsionala (Teses sobre o II Congresso da Internacional Comunista) (Junho de 1920), in: ibidem, Vol. 41, pp. 159 e s.; IDEM. II Kongriess Kommunistitcheskovo Internatsionala (II Congresso da Internacional Comunista)(19.07-07.08.1920), especialmente 2. Retch o Roli Kommunistitcheskoi Partii (Discurso sobre o Papel do Partido Comunista)(23.07.1920), in: ibidem, Vol. 41, pp. 236 e s. 

[7] Cf. THE MINUTES OF THE II CONGRESS OF THE COMUNIST INTERNATIONAL. Stenographic Report. Resolution on « The Role of the Communist Party in the Proletarian Revolution », London : Marston Co., 1920, p. 44.

[8] Nesse sentido, vide sobretudo LENIN. VLADIMIR I. Karl Marx. Kratkii Biografitcheskii Otcherk s Izlojeniem Marksizma (Karl Marx. Breve Quadro Biográfico com Exposição do Marxismo)(Julho – Novembro de 1914), in: ibidem, Vol. 26, pp. 43 e s.  

[9] Vide IDEM. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), Parte 2: Stikhiinost’ Mass i Soznatel’nost’ Sotsial-Demokratii (Espontaneidade das Massas e Consciência dos Sociais-Democratas), Letra B: Preklonennie Pred Stikhiinost’iu “Rabotchaia Mysl’” (Prostração diante do Espontaneísmo de “Pensamento Operário”), in: ibidem, Vol. 6, pp. 33 e s.; tb. IDEM. O Reorganizatsii Partii (Sobre a Reorganização do Partido)(10-16.11.1905), Parte 1, in: ibidem, Vol. 12, pp. 83 e s.       

[10] Vide ENGELS, FRIEDRICH.  Ergänzung der Vorbemerkung von 1870 zu „Der deutsche Bauernkrieg”(Suplemento à Prenotação de 1870 acerca da „Guerra Camponesa na Alemanha“)(1° de Julho de 1874), in: ibidem, Vol. 18, p. 513.; tb. LENIN, VLADIMIR I. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), Parte 1: Dogmatizm i “Svoboda Kritiki” (Dogmatismo e Liberdade de Crítica), Letra D: Engels o Znatchenii Teoretitcheskoi Borby (Engels sobre o Significado da Luta Teórica), in: ibidem, Vol. 6, pp. 22 e s.  

[11] Para um estudo acerca da concepção de Lenin relativa relação a ser observada entre partido revolucionário e organizações sindicais, vide além disso IDEM. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), Parte 3 : Treid-Iunionistskaia i Sotsial-Demokratitcheskaia Politika (Sindicalismo e Política Social-Democrática), in: ibidem, Vol. 6, pp. 53 e s. 

[12] Vide ENGELS, FRIEDRICH.  Ergänzung der Vorbemerkung von 1870 zu „Der deutsche Bauernkrieg”(Suplemento à Prenotação de 1870 acerca da „Guerra Camponesa na Alemanha“)(1° de Julho de 1874), in: ibidem, Vol. 18, p. 513.

[13] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Predislovie k Sborniku « Za 12 Liet » (Prefácio à Brochura « 12 Anos »)(Setembro de 1907), in: ibidem, Vol. 16, pp. 95 e s.  No mesmo sentido, vide ainda especialmente IDEM. Predislovie k Broschiurie Voinova (A. V. Lunatcharsky) ob Otnoshenii Partii k Professional’nym Soiuzam (Prefácio à Brochura de Voinov (A.V. Lunatcharsky) sobre a Relação do Partido com os Sindicatos)(Novembro de 1907), in: ibidem, Vol. 16, pp. 183 e s.; IDEM. Neitral’nost’ Profiessuinal’nykh Soiuzov (Neutralidade dos Sindicatos)(19.02.1908), in: ibidem, Vol. 16, pp. 427 e s. 

[14] Cf. TRIETI VCEROSSISKII S’EZD PROFESSIONALNYKH SOYUZOV. STENOGRAFITCHESKI OTCHET. (Terceiro Congresso dos Sindicatos – Relatório Estenográfico)(06-15.04.1920), Moscou : Gosud. Izd-vo, p. 47.       

[15] Cf. THE MINUTES OF THE II CONGRESS OF THE COMUNIST INTERNATIONAL. Stenographic Report. Resolution on « The Role of the Communist Party in the Proletarian Revolution », London : Marston Co., 1920, p. 624.

[16] Acerca de ambos, vide sobretudo IDEM. Ivan Vasil’evitch Babushkin. Nekrolog (Ivan V. Babuschkin. Necrológio)(18.12.1910), in: ibidem, Vol. 20, pp. 79 e s.; IDEM. Pamiati J. M. Sverdlova. Retch V. I. Lenina. „Pravdy“ i „Izvestia“ ot 20 Marta 1919. Tcherezvytchainoe Zassedanie VTsIK. 18 Marta, Posviaschschennoe Pamiati Predsedatelia VTsIK Tav. Sverdlova (Em Memória de J. M. Sverdlov. Discurso de V. I. Lenin. “Pravda” e “Izvestia” de 20 de março de 1919. Sessão Extraordinária do CEC dos Sovietes de Toda a Rússia de 18 de Março. Discurso Dedicado à Memória do Presidente do CEC dos Sovietes de Toda a Rússia, Companheiro Sverdlov), in: Jakob Michailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei(Jakob Michailovitch Sverdlov. Compêndio de Recordações e Artigos), Leningrad : Gosud. Izd-vo, 1926, pp. 53 e s.    

[17] Acerca do tema, vide VOROVSKY, VATSLAV V. Sotchinenia (Obras), Vol. 1 – 3, Moscou: Partiinoe Izd-vo, 1932, pp. 3 e s.     

[18] Nesse sentido, vide LENIN, VLADIMIR I. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), Parte 5: “Plan” Obscherusskoi Polititcheskoi Gazety (“Plano” de um Jornal Político para Toda a Rússia), in: ibidem, Vol. 6, pp. 154 e s.  

[19] Acerca do tema, vide IDEM. II S’ezd RSDRP(II Congresso do POSDR)(17 de Julho – 10 de Agosto de 1903), in: ibidem, Vol. 7, pp. 259 e s.;  IDEM. VI Prajskaia Vcerossiiskaia Konferentsia RSDRP (VI Conferência de Praga do POSDR-B de Toda a Rússia)(05-17.01.1912), in: ibidem, Vol. 21, pp. 121 e s.     

[20] Vide IDEM.  O Bor’be Vnutri Ital’ianskoi Sotsialistitcheskoi Partii (Sobre a Luta no Interior do Partido Socialista Italiano)(4-12.11.20), in: ibidem, Vol. 41, pp. 409 e s.

[21] Nesse sentido, vide IDEM. Pis’mo k Tovarishu o Nashikh Organizatsionnykh Zadatchakh (Carta a um Companheiro Sobre Nossas Tarefas Organizativas)(Setembro de 1902), in: ibidem, Vol. 7, pp. 5 e s.    

[22] Cf. IDEM. A Sud’i Kto? (Mas Quem são os Juízes?)(05.11.1907), in: ibidem, Vol. 16, pp. 159 e s.

[23] Cf. IDEM.  Svoboda Kritiki i Edinstvo Deistvii (Liberdade de Crítica e Unidade de Ação)(20.05.1906), in: ibidem, Vol. 13, pp. 128 e s.; IDEM. Obraschenie k Partii Delegatov Ob’edinitel’novo S’ezda, Prinadlejavshikh k Byvshei Fraktsii “Bol’shevikov” (Apelo aos Delegados do Partido do Congresso da Unidade que Pertenceram à Antiga Fração dos “Bolcheviques”)(25-26.04.1906), in: ibidem, Vol. 12, pp. 395 e s.; IDEM. Bor’ba s Kadetstvuiuschimi S.-D. i Partiinaia Distsiplina (Luta contra Sociais-Democratas Pró-Cadetes e Disciplina Partidária)(23.11.1906), in: ibidem, Vol. 14, pp. 125 e s.  

[24] Cf. Cf. TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 7 : 1917, Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 229.

[25] Vide IDEM. Nikakoi Fal’shi ! Nasha Sila v Zaiavlenii Pravdy ! (Sem Mentiras ! Nossa Força Reside na Declaração da Verdade!)(Setembro de 1905), in: ibidem, Vol. 11., pp. 328 e s.; IDEM. Detskaia Bolezn’ “Levizny” v Kommunizme (Doença Infantil de “Esquerda” no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), Parte 2. Odno iz Osnovnykh Uslovii Uspekha Bol’shevikov (Uma das Condições Fundamentais dos Sucessos Bolcheviques) e Parte 7. Utchastvovat’ li v Burjuaznykh Parlamentakh? (Devemos Participar dos Parlamentos Burgueses), in: ibidem, Vol. 41, pp. 5, 39 e s.

[26] Cf. IDEM. Predislovie k Russkomu Perevodu Knigi “Pis’ma I. F. Bekkera, I. Ditsgena, F. Engel’sa, K. Marksa i dr. k F. A. Sorge i dr.”(Prefácio à Tradução Russa das “Cartas de I. F. Becker, J. Dietzgen, F. Engels, K. Marx e outros a F. A. Sorge e outros”)(06.04.1907), in: ibidem, Vol. 15, pp. 229 e s.; IDEM. Doklad o Revolutsii 1905 g. (Palestra sobre a Revolução de 1905)(09.01.1917), in: ibidem, Vol. 30, pp. 311 e s.; IDEM. Uspiekhi i Trudnosti Sovietskoi Vlasti (Sucessos e Dificuldades do Poder Soviético)(Março de 1919), in: ibidem, Vol. 38, pp. 39 e s.     

[27] Cf. IDEM. Otcherednye Zadatchi Sovetskoi Vlasti (Tarefas Imediatas do Poder Soviético)(Março – Abril de 1918), Parte 6: Organizatsia Sovernovania (Organização da Competição), in: ibidem, Vol. 36, pp. 190 e s. 

[28] Acerca do tema, vide sobretudo IDEM. Ivan Vasil’evitch Babushkin. Nekrolog (Ivan V. Babuschkin. Necrológio)(18.12.1910), in: ibidem, Vol. 20, pp. 79 e s.;

[29] Acerca do tema em destaque, vide, mais precisamente, IDEM. Igra v Parlamentarizm(Jogando com Parlamentarismo)(26.09.1905), in: ibidem, Vol. 11, pp. 249 e s. Nessa sede, Lenin, fundando-se nas precisas lições ministradas por Karl Marx acerca da arte da insurreição, escreve precisamente : “Para nós, sociais-democratas revolucionários, a insurreição não é nenhuma consigna abstrata, mas sim constitui uma consigna concreta. Em 1897, nós a retiramos da ordem do dia. Em 1902, nós a levantamos, no sentido de uma preparação geral e, apenas em 1905, depois do 9 de janeiro, colocamo-la na ordem do dia enquanto exigência imediata. Nós não nos esquecemos do fato de que Marx estava em favor do levante, em 1848, mas que, em 1850, condenou as fantasias e o palavreado acerca de uma insurreição. Nós não nos esquecemos que Wilhelm Liebknecht condenou, até a Guerra de 1870/1871, a participação no Parlamento Alemão, mas que, depois da guerra, dele tomou parte pessoalmente. Constatamos, de antemão, no Nr. 12, de “Proletari(O Proletário)”, que seria ridículo louvar-se o fato de, no futuro, não virmos a lutar sobre o terreno da Duma. Sabemos que não apenas o Parlamento, senão ainda a paródia acerca de um Parlamento, podem constituir o centro principal de toda a agitação, enquanto os pressupostos para uma insurreição não estiverem dados, e, em verdade, durante todo o tempo em que não se possa pensar em uma insurreição popular.” Sobre a questão dos sindicatos, vide IDEM. Detskaia Bolezn’ “Levizny” v Kommunizme (Doença Infantil de “Esquerda” no Comunismo) (Abril-Maio de 1920), Parte 6: Sledyiet li Revoliutsioneram Rabotat’ v Reaktsionnykh Profsoiuzakh? (Devem os Revolucionários Trabalharem nos Sindicatos Reacionários?), in: ibidem, Vol. 41, pp. 29 e s.

[30] Vide, nesse sentido, sobretudo IDEM. Obraschenie k Partii Delegatov Ob’edinitel’novo S’ezda, Prinadlejavshikh k Byvshei Fraktsii “Bol’shevikov” (Apelo aos Delegados do Partido do Congresso da Unidade que Pertenceram à Antiga Fração dos “Bolcheviques”)(25-26.04.1906), in: ibidem, Vol. 12, pp. 395 e s.

[31] Cf. TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 7 : 1917, Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 236.

[32] Acerca do tema, vide IDEM. Shto Takoe “Druz’ia Naroda” i kak Oni Voiut protiv Sotsial-Demokratov? Otvet na Stat’i “Russkovo Bogatstva” protiv Marksistov(O Que são os “Amigos do Povo” e como Lutam contra os Sociais-Democratas? Resposta aos Artigos de “A Riqueza Russa” contra os Marxistas) (Primavera e Verão de 1894), in : ibidem, Vol. 1, pp. 125 e s.       

[33] Vide IDEM. Proiekt i Ob’iasnenie Programmy Sotsial-Demokratitcheskoi Partii (Projeto e Exposição do Programa do Partido Social-Democrático)(1895-1896), in: ibidem, Vol. 2, pp. 81 e s.

[34] Vide IDEM. Zadatchi Russkikh Sotsial-Demokratov (As Tarefas dos Sociais-Democratas Russos)(Fim de 1897), in: ibidem, Vol. 2, pp. 433 e s.

[35] Vide, nesse sentido, IDEM. Proiekt Zaiavlenia Redaktsii “Iskry” i “Zari” (Projeto de Declaração de “A Centelha” e “A Aurora”)(Primavera de 1900), in: ibidem, Vol. 4, pp. 322 e s.; IDEM. Kak Tchut’ ne Potukhla “Iskra”? (Como por Pouco a Centelha não se Apagou)(Setembro de 1900), in: ibidem, Vol. 4, pp. 334 e s.; IDEM. Proiekt Soglashenia (Projeto de Acordo)(Setermbro de 1900), in: ibidem, Vol. 4, p. 353; IDEM. Zaiavlenie Redaktsii “Iskry” (Declaração da Redação de “A Centelha”)(Setembro de 1900), in: ibidem, Vol. 4, 354 e s.   

[36] Acerca do tema, vide IDEM. “Ob’edinitel’nyi” S’ezd Zagranitchnykh Organizatsii RSDRP (Congresso da “Unidade” das Organizações no Exterior do POSDR)(21-22.09.1901), in: ibidem, Vol. 5, pp. 269 e s.    

[37] Vide IDEM. S Tchevo Natchat’? (Com o que Começar?)(Maio de 1901), in: ibidem, Vol. 5, pp. 1 e s.; IDEM. IDEM. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), in: ibidem, Vol. 6, pp. 1 e s. 

[38] Anote-se, por oportuno, que a afirmação aqui realizada surge já em contraste com a clássica formulação – em nosso modo de ver distorcida e equivocada de Pierre Broué que, ao longo de todo o terceiro capítulo de sua renomada obra sobre a história do Partido Bolchevique, pretende sustentar precisamente o seguinte : “Toda uma historiografia cujo os sentimentos exibidos em relação ao bolchevismo vão da admiração cega ao denegrimento sistemático, persiste em nele apresentar uma nova ideologia, saída já toda construída do cérebro de Lenin, o comunismo, revolucionário ou stalinista, e, no Partido Bolchevique propriamente dito, uma organização de tipo inteiramente novo, um tipo de III Internacional em antecipação, opondo-se, desde sua aparição, ao reformismo da II Internacional, encarnada, na Rússia, pelos mencheviques e, na Alemanha, pela Social-Democracia de Bebel e Kautsky. Porém, nessa concepção, existe apenas uma reconstrução artificial, feita a posteriori, da história tanto da organização como das idéias.” Cf. BROUÉ, PIERRE. Le Parti Bolchevique. Histoire du P.C. de l’U.R.S.S., especialmente Cap. III : Le Bolchevisme : Le Parti et les Hommes, Paris : Minuit, 1963, p. 44. Negligenciando, assim, inteiramente o papel já inovador do programa revolucionário do POSDR, redigido por Lenin e Plekhanov, em 1903, no sentido de seu expresso acolhimento da consigna da “Ditadura do Proletariado” – consigna essa jamais consagrada nos programas apodrecidos da Social-Democracia Alemã,  Broué entrevê no reformismo da II Internacional, na Alemanha, mormente as personalidades de Bebel e Kautsky – contra os quais Lenin não assumiu posições manifestamente críticas senão a partir da eclosão da I Grande Guerra Mundial – e omite o aspecto decisivo do reformismo alemão, incorporado, sobretudo, em Bernstein, Vollmar e seus seguidores, contra os quais Lenin implacavelmente lutou já a partir de fins do século XIX. Sendo assim, Broué não logra distinguir, efetivamente, os elementos decisivos que, seja de uma perspectiva formal, seja de um ângulo material, determinaram a configuração do bolchevismo leninista, de modo que finda por atrelar-se, sem muita perpicácia analítica, a uma assim reputada originalidade exclusiva das condições sociológicas, existentes na sociedade russa, sob a autocracia czarista. Além disso, quanto ao centrismo oportunista da Social-Democracia Alemã, se Broué atentasse mais detalhadamente para as palavras de Engels acerca do que foi essa corrente teórico-política, bem como à ininterrupta luta desse último, travada a partir de 1884, nas colunas de “Vorwärts (Avante)”, e sua manifesta oposição contra o social-pacifismo de Wilhelm Liebknecht, lograria, sem qualquer margem de dúvida, reconhecer o que também havia de novo na “nova ideologia, saída já toda construída do cérebro de Lenin”. Em verdade, Bebel e Kautsky revelaram-se como adeptos do centrismo oportunista, social-pacifista e estatal-democratista, da maneira mais clara apenas a partir de 1909, enquanto Wilhelm Liebknecht precedeu-os em vários anos. Sob a influência desse último, o “Vorwärts (Avante)”, órgão central da Social-Democracia Alemã, publicou, sistematicamente, durante os anos de vida de Engels, porém, sobretudo, depois da segunda metade dos anos 90, artigos de autores notoriamente oportunistas e renegadores do marxismo revolucionário que dominavam o Partido Alemão e a II Internacional Socialista. Já mesmo no início dos anos 90, Engels, opondo-se, então, abertamente, às resistências de Wilhelm Liebknecht e de seus aliados mais estreitos, logrou, finalmente, organizar a publicação da Crítica ao Programa de Gotha, a qual surgiu estampada no Nr. 18, Volume I, do “Die Neue Zeit(O Novo Tempo)”, de 1890 e 1891. Em uma carta dirigida a F. A. Sorge, Friedrich Engels pronunciou-se, então, da seguinte forma, contra as reações de desapontamento de Wilhelm Liebknecht e de seus colaboradores lassalleanos, entre eles, especialmente Wilhelm Hasselmann : “Liebknecht está, naturalmente, furioso, posto que toda a crítica foi cunhada, especialmente, contra ele. Ele é o pai que, juntamente com o veado pederasta do Hasselmann (no original : Arschficker Hasselmann) pariu esse programa podre ...” Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta à F. A. Sorge) (11 de Fevereiro de 1891), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), in: ibidem, Vol. 38, pp. 30 e 31. Como é possível, então, acreditar que Lenin e mesmo Plekhanov, por ocasião da elaboração dos documentos programáticos e estatutários de 1903, desconhecessem as principais polêmicas havidas no interior da Social-Democracia Alemã, havidas já a partir de 1869, tendo como principais protagonistas Wilhelm Liebknecht, Eduard Bernstein, Georg von Vollmar e seus aliados, não pretendendo, de nenhuma forma, posicionarem-se em defesa do mais nítido marxismo revolucionário, erigindo uma clara oposição ao reformismo da II Internacional, surgido em sua mais tenra fundação, em 1889?                         

[39] Cf. LENIN, V. I.  Doklad ob Ustave Partii (Informe sobre o Estatuto do Partido)(29.07.1903), in: ibidem, Vol. 7, pp. 273 e s.; IDEM. Retchi i Vystuplenia pri Obsujdenii Ustava Partii (Discurso e Intervenção nos Debates sobre o Estatuto do Partido)(02.08.1903), in: ibidem, Vol. 7, pp. 287 e s.; IDEM. Vystuplenia pri Obsujdenii Ustava Partii (Intervenção nos Debates sobre o Estatuto do Partido)(04.08.1903), in: ibidem, Vol. 7, pp. 292 e s.   

[40] Cf. IDEM. Proiekt Ustava RSDPR (Projeto de Estatuto do POSDR)(Junho – Julho de 1903), in: ibidem, Vol. 7, pp. 256 e s.

[41] Cf. Acerca do tema, vide, p.ex., PROIEKT USTAVA PARTII. PROIEKT MARTOVA. in: ibidem, Vol. 8, pp. 230 e s. Trotsky refere-se da seguinte forma à redação do parágrafo em referência, tal qual defendida por Martov no II Congresso do POSDR :  “1. É considerado membro do Partido todos os que reconhecem o seu programa, apóiam o Partido, e trabalham sobre o controle do Partido. Vide TROTSKY, LÉON D. Lenin i Staraia “Iskra” (Lenin e o Velho Iskra), in: L.D. Trotsky. Iz Arkhivov Russkoi Revoliutsii 1917-1937 (Dos Arquivos da Revolução Russa. 1917-1937) Moscou :  Biblioteca Magister-MSK, pp. 7 e s.    

[42] Acerca do tema, vide LENIN, VLADIMIR I. Zaiavlennie i Slojenii s Sebia Doljnosti Tchlena Sovieta Partii e Tchlena Redaktsii TsO (Declaração de Renúncia a meus Deveres de Membro do Conselho do Partido e Membro da Redação do Órgão Central)(01.11.1903), in: ibidem, Vol. 8, pp. 64 e s.; IDEM. Potchemu Ia Vyshiel iz Redaktsii “Iskry”? Pis’mo v Redaktsiu “Iskry”  (Porquê sai da Redação de “A Centelha”. Carta à Redação de “A Centelha”)(Dezembro de 1903), in: ibidem, Vol. 8, pp. 98 e s.; IDEM. Zamietka o Pozitsii Novoi “Iskry” (Nota sobre a Posição do Novo “A Centelha”)(Dezembro de 1903), in: ibidem, Vol. 8, pp. 105 e s.; IDEM. Ob Obstoiatel’stvakh Ukhoda iz Redaktsii “Iskry” (Sobre as Circunstâncias da Saída da Redação de “A Centelha”)(20.02.1904), in: ibidem, Vol. 8, pp. 175 e s.; IDEM. Shag Vperied, Dva Shaga Nazad. Krizis v Nashei Partii (Um Passo à Frente, Dois Passos Atrás. A Crise no Nosso Partido)(Fevereiro – Maio 1904), especialmente letra P: Novaia “Iskra”. Opportunizm v Organizatsionnykh Voprossakh (Nova “A Centelha”. Oportunismo em Questões Organizativas), in: ibidem, Vol. 8, pp. 366 e s.    

[43] Acerca do tema, vide IDEM. Dvie Taktiki Sotsial-Demokratii v Demokratitcheskoi Revoliutsii (Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução)(Junho – Julho de 1905), in: ibidem, Vol. 11, pp. 3 e s.

[44] Acerca do tema, vide IDEM. O Sozyvie III Partiinovo S’ezda (Sobre a Convocação do III Congresso) (28.02.1905), in: ibidem, Vol. 9, pp. 283 e s.; IDEM. Obschii Plan Rabot i Reschenii III S’ezda RSDRP (Plano Geral de Trabalho e Decisões do III Congresso do POSDR)(Fevereiro de 1905), in: ibidem, Vol. 9, pp. 311 e s.; IDEM. O Nashei Agrarnoi Programme (Sobre Nosso Programa Agrário)(29.03.1905), in : ibidem, Vol. 9, pp. 577 e s.; IDEM. K Voprossu o III S’ezde (Sobre a Questão do III Congresso)(Abril de 1905), in : ibidem, Vol. 10, pp. 85 e s.; IDEM. III S’ezd RSDRP (III Congresso do POSDR)(12-27.04.1905), in: ibidem, Vol. 10, pp. 87 e s.  

[45] Nesse sentido, vide .; IDEM. Shag Vperied, Dva Shaga Nazad. Krizis v Nashei Partii (Um Passo à Frente, Dois Passos Atrás. A Crise no Nosso Partido)(Fevereiro – Maio 1904), especialmente letra P: Novaia “Iskra”. Opportunizm v Organizatsionnykh Voprossakh (Nova “A Centelha”. Oportunismo em Questões Organizativas), in: ibidem, Vol. 8, pp. 366 e s.    

[46] Acerca do tema, vide, em particular, LUXEMBURG, ROSA. Organisationsfrage der russischen Sozialdemokratie(Questões de Organização da Social-Democracia Russa), in : Die Neue Zeit (O Novo Tempo), 1904, pp. 484 e s. Relativamente à incisiva resposta de Lenin ao artigo em destaque de Luxemburgo, vide LENIN, V. I. Shag Vpered, Dva Schaga Nazad. Otvet N. Lenina Roze Liuksemburg (Um Passo Adiante e Dois Passos Atrás. Resposta de N. Lenin a Rosa Luxemburg)(Setembro de 1904), in : ibidem, Vol. 9, pp. 38 e s. Enquanto comentários acerca do tema em questão, vide ainda VON KÖLN, SCHMIDT. Luta de Classes Revolucionária e Governos de Colaboração de Classes na Alemanha de 1918 a 1923. Fundamentos Históricos para uma Análise da Política Stalinista de Frente Popular, especialmente Capítulo II : Lenin e Luxemburgo : Duas Concepções Marxistas no Movimento Proletário-Revolucionário Europeu do Início do Século XX, II. 1 A Questão Organizativa do Partido Revolucionário, São Paulo-Munique-Paris : Universidade Comunista J. M. Sverdlov, 2002, pp. 36 e s.   

[47] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Zametki Publitsista. O Voskhojdenii na Vysokie Gory, O Vrede Unynia, o Pol’zie Torgovli, Ob Otnoshenii k Men’shevikam i.t.p. (Anotações de um Publicista. Sobre a Subida de uma Alta Montanha, a Desgraça do Esmorecimento, a Utilidade do Comércio, a Atitude em face dos Mencheviques etc)(Fevereiro de 1922), Parte 3: Ob Oxote na Lis – O Levi, O Serrati (Agarrando Raposas – Levi e Serrati), in: ibidem, Vol. 44, pp. 419 e s. Cumpre destacar que, “piando entre os montes de esterco”, encontram-se também os dois principais dirigentes do Secretariado Unificado (SU-QI) MANDEL, ERNST & VERCAMMEN, FRANÇOIS. Oktober 1917 - Staatsreich oder Soziale Revolution? Zur Verteidigung der Oktoberrevolution (Outubro de 1917 – Golpe de Estado ou Revolução Social. Em Defesa da Revolução de Outubro), Karlsruhe: Neuer ISP Verlag, Agosto de 1993, pp. 7 e s. Ignorando inteiramente a referência de Lenin acerca dos equívocos de Rosa Luxemburg e, ao mesmo tempo, o fato de que Rosa corrigiu, no fim de 1918 e no início de 1919, a maioria de seus erros contidos em suas anotações redigidas no cárcere de 1918 sobre a Revolução Russa, Ernst Mandel, alegando infundadamente que a criação da Tcheka houvera sido necessariamente um erro cometido por Lenin, Sverdlov, Trotsky e os bolcheviques, desenvolve uma defesa renitente e desavergonhada das teses de Rosa Luxemburg contidas no livro dessa última, intitulado “A Revolução Russa”, redigido no cárcere de 1918, ocultando ao leitor que Rosa, ela mesma, corrigiu a maioria de seus erros, depois de abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919)”. Para Mandel - que pia como uma galinha - as teses do cárcere de 1918 de Rosa Luxemburg teriam-se demonstrado válidas não, porém, para 1918 – como haveria pretendido sua própria autora -, mas sim perfeitamente para os anos a partir de 1920 e 1921 da Revolução Proletária Russa. Como se vê, mais uma brilhante falsificação histórica e extraordinária embrulhada analítica de Ernst Mandel e de seu conivente seguidor François Vercammen.

[48] Cf. IDEM. I Kongress Kommunistitcheskovo Internatsionala. Retch pri Otkrytii Kongressa(I Congresso da Internacional Comunista. Discurso na Abertura do Congresso) (02.03.1919), in : ibidem, Vol. 37, pp. 489 e s. Ainda em defesa de Rosa Luxemburg, vide Lenin, Vladimir I. Pis’mo k Rabotchim Evropy i Ameriki (Carta aos Trabalhadores da Europa e da América)(21.01.1919), in: ibidem, Vol. 37, pp. 454 e s.; IDEM. Retch na Mitinge Protesta protiv Ubiistva Karla Libnekhta i Rozy Liuksemburg (Discurso no Ato de Protesto contra o Assassinato de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg)(19.01.1919), in : ibidem, Vol. 37, p. 434.

[49] Acerca dessa polêmica, com referências claras aos posicionamentos de Jacques Texier e François Vercammen, como também à posição de Rosa Luxemburg, vide mais precisamente VON KÖLN, SCHMIDT. O Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI) e a Corrente Franco-Gramsciana de Atualização, Correção e Superação do Marxismo (O Meta-Marxismo de Actuel Marx). A Enfermidade Gramsciana no Movimento Trotskysta Contemporâneo e nas Lutas de Emancipação do Proletariado, Munique : 2000, pp. 1 e s.

[50] Cf. LUXEMBURG, ROSA. Und Zum Dritten Male das Belgische Experiment (E Pela Terceira Vez o Experimento Belga)(4 de Junho de 1902) , in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 247.

[51] Cf. IDEM. Dem Andenken des „Proletariat“ (Em Lembrança do „Proletariado“), in : ibidem, p. 317. Acerca de W. Liebkencht, vide LIEBKNECHT, WILHELM. Zukunftstaatlisches (Coisas do Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898, pp. 218 e 219.

[52] Cf. LENIN, VLADIMIR I. I Kongress Kommunistitcheskovo Internatsionala. Retch pri Otkrytii Kongressa(I Congresso da Internacional Comunista. Discurso na Abertura do Congresso) (02.03.1919), in : ibidem, Vol. 37, pp. 489 e s. No mesmo sentido, vide IDEM. Ob Osnovanii Kommunistitcheskovo Internatsionala(Acerca da Fundação da Internacional Comunista)(06.03.1919), in: ibidem, Vol. 37, pp. 515 e s.; IDEM. Uspekhi i Trudnosti Sovestkoi Vlasti (Sucessos e Dificuldades do Poder Soviético)(Primavera de 1919), in : ibidem, Vol. 38, pp. 39 e s..; IDEM. Plenum Vserossiiskovo Tsentral’novo Sovieta Profiessional’nykh Soiuzov (Plenária do Conselho Central de Toda Rússia dos Sindicatos) (11.04.1919), in : ibidem, Vol. 38, pp. 275 e s.; IDEM. O Zadatchakh III Internatsionala(Sobre as Tarefas da III Internacional)(14.07.1919), in : ibidem, Vol. 39, pp. 90 e s.; IDEM. Kak Burjuazia Ispol’zuiet Renegatov (Como a Burguesia Usa os Renegados) (20.09.1919), in: ibidem, Vol. 39, pp. 182 e s.; IDEM. Retch na I Vserossiskom Utchreditel’nom S’ezde Gornorabotchikh Soiuzov (Discurso no I Congresso de Toda a Rússia das Associações dos Mineiros) (1°.04.1920), in : ibidem, Vol. 40, pp. 292 e s.      

[53] Vide, nesse sentido, MICHELS, ROBERT. Soziologie des Parteiswesens in der modernen Demokratie. Untersuchungen über die oligarchischen Tendenzen des Gruppenlebens  (Sociologia do Sistema Partidário na Democracia Moderna. Investigaçoes acerca das Tendências Oligárquicas da Vida em Grupo)(1911), ed. Werner Conze, Stuttgart : Kröner, 1957, pp. 7 e s.

[54] Acerca do tema, coteje-se a obra de FISCHER, RUTH. Stalin und der deutsche Kommunismus. Der Übergang zur Konterrevolution(Stalin e o Comunismo Alemão. A Transição para a Contra-Revoluçao), Frankfurt a. M. : Verlag der Frankfurter Hefte, 1948, pp. 9 e s.

[55] Acerca do tema, vide LUXEMBURG, ROSA. Organisationsfrage der russischen Sozialdemokratie(Questoes de Organizaçao da Social-Democracia Russa), in : Die Neue Zeit (O Novo Tempo), 1904, pp. 484 e s. 

[56] Vide, nesse sentido, sobretudo LENIN, VLADIMIR I. Shag Vpered, Dva Schaga Hazad. Otvet N. Lenina Roze Liuksemburg (Um Passo Adiante e Dois Passos Atrás. Resposta de N. Lenin a Rosa Luxemburg)(Setembro de 1904), in : ibidem, Vol. 9, pp. 38 e s.

[57] Acerca do tema, vide, sobretudo, IDEM. S Tchevo Natchat’? (Com O Que Começar?)(Maio de 1901), in: ibidem, Vol 5, pp. 1 e s.; IDEM. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), in: ibidem, Vol. 6, pp. 33 e s.

[58] Cf. IDEM. ibidem, Parte 2: Stikhiinost’ Mass i Soznatel’nost’ Sotsial-Demokratii (Espontaneidade das Massas e Consciência dos Sociais-Democratas), Letra B: Preklonennie Pred Stikhiinost’iu “Rabotchaia Mysl’” (Prostração diante do Espontaneísmo de “Pensamento Operário”), in: ibidem, Vol. 6, pp. 34 e s.; tb. IDEM. O Reorganizatsii Partii (Sobre a Reorganização do Partido)(10-16.11.1905), Parte 1, in: ibidem, Vol. 12, pp. 83 e s.        

[59] Cf. IDEM. ibidem, pp. 34 e s.

[60] Cf. ENGELS, FRIEDRICH.  Ergänzung der Vorbemerkung von 1870 zu „Der deutsche Bauernkrieg”(Suplemento à Prenotação de 1870 acerca da „Guerra Camponesa na Alemanha“ (1° de Julho de 1874), in: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XVIII, p. 513.

[61] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), in: ibidem, Vol. 6, pp. 33 e s.

[62] Cf. IDEM. ibidem, pp. 37 e s.

[63] Cf. STEKLOV, Y. M. N. G. Tchernyshevski, Moscou, 1928, Vol. 1, p. 294.

[64] Cabe assinalar que Tkatchev, apesar de considerar-se discípulo de Tchernyshevski, divergia do grande mestre por não entender que o tempo corresse em favor da revolução e o futuro pertencesse, inquestionável e necessariamente, ao homem novo e à gente nova, de Que Fazer?. Deixando-se escapar a oportunidade revolucionária e o ímpeto de luta da vanguarda, diluindo-se, de maneira baldada, o cataclismo de protestos, o futuro pertenceria à classe média, exploradora e usurária. Nesse sentido, vide ULAM, ADAM B. Die Bolshewiki. Vorgeschichte und Verlauf der kommunistischen Revolution in Russland, Köln-Berlin, 1967, p. 97.     

[65] Cf. TKACHEV, PETER N. Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou, 1933, Vol. III, p. 223.

[66] Cf. IDEM. ibidem, p. 225.

[67] Acerca do tema, vide LUXEMBURG, ROSA. Organisationsfrage der russischen Sozialdemokratie(Questões de Organização da Social-Democracia Russa), in : Die Neue Zeit (O Novo Tempo), 1904, pp. 484 e s. 

[68] Observe-se que Auguste Blanqui foi o célebre revolucionário francês que, em 1839, intentou realizar um levante armado, na França. Libertado do cárcere, Blanqui tomou parte ativa na Revolução de 1848. Em 1871, cerca da metade dos dirigentes da Comuna de Paris eram declaramente blanquistas, sendo que o próprio Blanqui encontrava-se, a esse tempo, aprisionado. Blanqui celebrizou-se por organizar clubes revolucionários ilegais e por doutrinar que “a luta a ser travada entre ricos e pobres haverá de ser vencida pela Ditadura Revolucionária.” Entretanto, Marx advertiu, no Segundo Relatório do Conselho Geral da Internacional, de 9 de setembro de 1870,  contra Blanqui que fundara, em 1870, “La Patrie en danger(A Pátria está em Perigo)”: “Nao se deixar dominar pelas recordaçoes nacionais de 1792”, “Executar exaustivamente a organizaçao de sua própria classe”, “Nao se colocar como objetivo a derrubada do governo (“uma estupidez deseperada”.  Em novembro de 1880, Blanqui censurou, em seu livro intitulado Ni Dieu ni maître(Nem Deus nem Mestre), a teoria da luta de classes e a separaçao dos interesses do proletariado dos interesses da naçao. Com efeito, Blanqui nao operava qualquer separaçao entre entre trabalhadores e burguesia revolucionária. Acerca do tema, vide os próprios argumentos de LENIN, VLADIMIR I. Plan Tchtenia o Kommune (Plano de uma Exposição sobre a  Comuna)(Fevereiro – Março de 1905), in: ibidem, Vol. 9, pp. 328 e s.

[69] vide LUXEMBURG, ROSA. Organisationsfrage der russischen Sozialdemokratie(Questões de Organização da Social-Democracia Russa), in : Die Neue Zeit (O Novo Tempo), 1904, pp. 527. 

[70] Nesse sentido, vide TROTSKY, LÉON D. Nashi Polititcheskie Zadatchi (Nossas Tarefas Políticas)(1904), Ed. Iskra Research Publishing House, em particular Part II : Tarefas Táticas. O Conteúdo de Nossa Atividade no Proletariado – Então, Ao Trabalho! Vida Longa à Auto-Atividade do Proletariado !Abaixo com o Substitucionismo Político!  

[71] Cf. IDEM. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia), Berlim : Granit, 1930, pp. 213 e s.

[72] Acerca do tema, vide, mais precisamente, LENIN, VLADIMIR I. Mejdunarodnyi Sotsialistitcheskii Kongress v Shtutgarte(O Congresso Internacional Socialista de Stuttgart)(Agosto-Setembro de 1907) in: ibidem, Vol. 16, pp. 67 e s.; IDEM. Mejdunarodnyi Sotsialistitcheskii Kongress v Shtutgarte(O Congresso Internacional Socialista de Stuttgart) (Meados de Setembro de 1907) in: ibidem, Vol. 16, pp. 79 e s.   

[73] Acerca do tema, vide, tb, IDEM. Nashi Uprazdnitieli (Nossos Liquidadores)(1911), in : ibidem, Vol. 20, pp. 62 e s.

[74] Cf. MARTOV, YULY OSSIPOVITCH TSEDERBAUM.  Geschichte der Russischen Sozialdemokratie, mit einem Nachtrag von Theodor Dan : Die Sozialdemokratie Russlands nach dem Jahre 1908 (História da Social-Democracia Russa, com um Apenso de Theodor Dan : A Social-Democracia da Rússia após 1908), Berlim, 1926, p. 268.

[75] Cf. RÜCK, FRITZ. November 1918. Die Revolution in Württemberg(Novembro de 1918. A Revoluçao em Württemberg)(1958), in : Fritz Rück. Schriften zur Deutschen November-Revolution 1918 (Escritos Acerca da Revoluçao Alema de Novembro de 1918), Stuttgart : Studiengruppe zur Geschichte der Arbeiterbewegung, 1978, p. 14.

[76] Vide, nesse sentido, LIEBKNECHT, KARL. Acerca da Justiça de Classe, Sao Paulo-Munique-Paris : Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2002, especialmente Introduçao : O Revolucionário Karl Liebknecht, p. 16.

[77] Cf. PIECK, WILHELM. Erinnerungen an die Novemberrevolution und an die Gründung der KPD (Recordaçoes da Revoluçao de Novembro e da Fundaçao do PCA), in : Vorwärts und nicht Vergessen : Erlebnisberichte aktiver Teilnehmer der Novemberrevolution 1918/1919.  (Avante e Sem Se Esquecer : Relatórios de Vida dos Ativos Participantes da Revoluçao de Novembro 191871919), ed. Instituto de Marxismo-Leninismo junto ao Comitê Central do Partido da Unidade Socialista, Berlim : Dietz, 1958, pp. 64 e s.

[78] Cf. BERICHT ÜBER DEN GRÜNDUNGSPARTEITAG DER KOMMUNISTISCHEN PARTEI DEUTSCHLANDS (SPARTAKUSBUND) VOM 30. DEZEMBER BIS 1. JANUAR 1919  (Relatório sobre o Congresso de Fundaçao do Partido Comunista da Alemanha (Liga Spartakus) de 30 de dezembro a 1° de janeiro de 1919), Berlim : Kommunistische Partei Deutschlands, 1919,  p. 6.

[79] Acerca do tema, vide sobretudo LENIN, VLADIMIR I. III S’ezd RSDRP (III Congresso do POSDR-B)(12-27.04.1905), in : ibidem, Vol. 10, pp. 87 e s.

[80] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Gosudarstvennaia Duma i Sotsial-Demokratitcheskaia Taktika(A Duma Imperial e a Tática Social-Democrática)(Janeiro de 1906), in: ibidem, Vol.  12, pp. 163 e s.

[81] Cf. IDEM.  Ob’ednitel’nyi S’ezd RSDRP. Pis’mennye Zaiavlenia na 26-m Zassedanii S’ezda(Congresso da Unificação do POSDR-B. Declaração Escrita na 26. Sessão do Congresso) (25.04.1906), in: ibidem, Vol. 12, pp. 394 e s.

[82] Cf. IDEM. Obraschenie k Partii Delegatov Ob’edinitel’novo S’ezda, Prinadlejavshikh k Byvshei Fraktsii “Bol’shevikov” (Apelo aos Delegados do Partido do Congresso da Unidade que Pertenceram à Antiga Fração dos “Bolcheviques”)(25-26.04.1906), in: ibidem, Vol. 12, pp. 395 e s.

[83] Cf. IDEM. ibidem, pp. retro-indicadas.

[84] Cf. IDEM. ibidem, pp. 315 e 316.

[85] Cf. IDEM. O Narushenii Edinstva, Prikryvaemom Krikami o Edinstve(Acerca da Violação da Unidade, acobertada com Gritos de Unidade)(Maio de 1914), in: ibidem, Vol. 25, pp. 183 e s.

[86] Cf. TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 4 : Period Redaktsii(Período da Reação), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 143.

[87] Cf. IDEM. Likvidatsia Likvidatorstva (A Liquidação do Liquidacionismo)(11.07.1909), in : ibidem, Vol. 19, pp. 43 e s.

[88] Cf. IDEM. Neitral’nost’ Profiessuinal’nykh Soiuzov (Neutralidade dos Sindicatos)(19.02.1908), in: ibidem, Vol. 16, pp. 427 e s.

[89] Acerca do tema, vide IDEM. O Fraktsii Storonikov Otzovisma i Bogostroitiel’stva (Sobre a Fração dos Adeptos do Abstecionismo Otzovista e da Criação de Deuses)(11.09.1909), in: ibidem, Vol. 19, pp. 74 e s. 

[90] Cf. GORKI, A. MAKSIM. Ispoved (Confissão)(1908), Berlim: J. Ladyschnikon, 1918, pp. 74 e s. Assinale-se, de passagem, que objetivos semelhantes a esses defendidos então vulgarmente pelos construtores de deuses(bogostroitielis), no início do século, na Rússia Czarista, vieram a ser perseguidos, de maneira mais sofisticada e disfarçada, a partir da década de 30, seja na Alemanha, seja nos EUA, pelos sociólogos e filósofos teológico-metafísicos pretendidamente marxistas da Escola de Frankfurt de Horkheimer e Adorno, financiados pelas burguesias alemã, norte-americana e judaica, na luta contra o marxismo revolucionário. 

[91] Cf. IDEM. Soveschanie Rasshirennoi Redaktsii “Proletaria” (Conferência da Redação Ampliada de “O Proletário)(08-17.06.1909), in: ibidem, Vol. 19, pp. 1 e s.

[92] Acerca do tema, vide, em particular, IDEM. O Fraktsii “Vperedovtsev” (Acerca da Fração dos Militantes de Vperiod(Avante))(30.08.1910), in : ibidem, Vol. 19, pp. 312 e s.

[93] Nesse sentido, vide, mais precisamente, IDEM. O Novoi Fraktsii Primirentsev ili Dobrodetel’nykh (Sobre a Nova Fração dos Conciliadores ou dos Virtuosos)(18.10.1911), in : ibidem, Vol. 20, pp. 334 e s.

[94] Acerca do tema, vide o próprio TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 5 : Novyi Podiem (Novo Ascenso), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 169.

[95] Vide IDEM. Proiekt Resoliutsii ob Ukreplenii Partii i Eio Edinstva (Projeto de Resolução de Fortalecimento do Partido e de sua Unidade)(21.10.1909), in: ibidem, Vol. 19, pp. 125 e s.   

[96] Vide IDEM. K Edinstvu(Rumo à Unidade)(13.02.1910), in: ibidem; Vol. 19, pp. 192 e s.  

[97] Acerca dessa temártica, vide, sobretudo, IDEM. Zametki Publitsista (Anotações de um Publicista)(06.03-25.05.1917), in: ibidem, Vol. 23, pp. 306 e s.

[98] Cf. IDEM. Pis’mo A. M. Gor’komu (Carta a A. M. Gorki)(11.04.1910), in: ibidem, Vol. 47, pp. 248 e s. 

[99] A esse respeito, vide ainda IDEM. O Novoi Fraktsii Primirentsev ili Dobrodetel’nykh (Sobre a Nova Fração dos Conciliadores ou dos Virtuosos)(18.10.1911), in : ibidem, Vol. 20, pp. 334 e s.

[100] Acerca do tema, vide o próprio TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 5 : Novyi Podiem (Novo Ascenso), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 169.

[101] Sobre o tema, vide sobretudo IURENEV, CONSTANTIN. Bor’ba za Edinstvo Partii. Otcherk’ Vozniknovenia i Deiatel’nosti Petrogradskavo Mejduraionnavo Komiteta. C Prilojeniem Rezoliutsii Obschegorodskoi Konferentsii Petrogradskavo Mejduraionnavo Komiteta Ob’edinennykh S.-D. Sostoiavsheitsia 7-11 Maia 1917(Luta pela Unidade do Partido. Quadro da Origem e das Atividades do Comitê Inter-Distriral de Petrogrado. Com Apenso da Resolução da Conferência do Comitê Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos de Toda a Cidade de Petrogrado, Realizada de 7 a 11 de Maio de 1917), Petrogrado : Sklad’ Izdania, 1917, pp. 3 e s.  

[102] Sobre o tema, vide sobretudo IURENEV, CONSTANTIN. Bor’ba za Edinstvo Partii. Otcherk’ Vozniknovenia i Deiatel’nosti Petrogradskavo Mejduraionnavo Komiteta. C Prilojeniem Rezoliutsii Obschegorodskoi Konferentsii Petrogradskavo Mejduraionnavo Komiteta Ob’edinennykh S.-D. Sostoiavsheitsia 7-11 Maia 1917(Luta pela Unidade do Partido. Quadro da Origem e das Atividades do Comitê Inter-Distriral de Petrogrado. Com Apenso da Resolução da Conferência do Comitê Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos de Toda a Cidade de Petrogrado, Realizada de 7 a 11 de Maio de 1917), Petrogrado : Sklad’ Izdania, 1917, pp. 3 e s.  

[103] Vide TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 5 : Novyi Podiem (Novo Ascenso), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 167 e s.

[104] Cf. LENIN. VLADIMIR I. O Novoi Fraktsii Primirentsev ili Dobrodetel’nykh (Sobre a Nova Fração dos Conciliadores ou dos Virtuosos)(18.10.1911), in : ibidem, Vol. 20, p. 335.

[105] Acerca do tema, vide sobretudo TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 5 : Novyi Podiem (Novo Ascenso), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 169 e s.

[106] Acerca do tema, vide BADAIEV, ALEKSEI E. Bol’sheviki v Gosudarstvennoi Dume. Bol’shevistskaia Fraktsiia IV Gosudarstvennoi Dumu i Revoliutsionnoe Dvijenie v Peterburge. Vospominania. (Os Bolcheviques na Duma do Estado. A Fração Bolchevique da IV Duma do Estado e o Movimento Revolucionário em Petersburgo), Leningrado : Priboi, 1929, pp. 7 e s. ; SAVELIEV, MAXIMILIAN A.  Pravda. Nrs. 1 – 289 (A Verdade Nrs. 1 a 289), Moscou : Partizdat, 1934, pp. 5 e s.  

[107] Vide PIS’MA V.I. LENINA, N.K. KRUPSKOI, G.E ZINOVIEVA I L.V. KAMENEVA V PETERBURG. (Cartas de V. I. Lenin, N. K. Krupskaya, G. E. Zinoviev e L. V. Kamenev enviadas a Petersburg), in : Iz Epokhi Zvezdy i Pravdy (Da Época de “Zvezdy (A Estrela) e “Pravda (A Verdade), Vol. 3, Petersburgo : Gosud. Izd-vo., pp. 198 e s.

[108] Cf. OLMINSKY, MIKHAIL S. Do Voiny (Até a Guerra), in: Nikolai N. Baturin. Otcherk Istorii Sotsial-Demokratii v Rossii (Ensaios sobre a História da Social-Democracia Russa), Moscou : Koop. Izd-vo Moskovsii Rabotchii, 1922, pp. 155 e s. 

[109] Cf. PIS’MA V.I. LENINA, N.K. KRUPSKOI, G.E ZINOVIEVA I L.V. KAMENEVA V PETERBURG. (Cartas de V. I. Lenin, N. K. Krupskaya, G. E. Zinoviev e L. V. Kamenev enviadas a Petersburg), in : Iz Epokhi Zvezdy i Pravdy (Da Época de “Zvezdy (A Estrela) e “Pravda (A Verdade), Vol. 3, Petersburgo : Gosud. Izd-vo., p. 213.

[110] Sobre a ruptura da bancada parlamentar em tela, vide LENIN, VLADIMIR I. O Raskolie v Russkoi Sotsial-Demokratitcheskoi Fraktsii Dumy (Sobre a Ruptura da Fração Social-Democrática Russa da Duma)(Início de Novembro de 1913), in: ibidem, Vol. 24, pp. 154 e s.; OLMINSKY, MIKHAIL S. Do Voiny (Até a Guerra), in: Nikolai N. Baturin. Otcherk Istorii Sotsial-Demokratii v Rossii (Ensaios sobre a História da Social-Democracia Russa), Moscou : Koop. Izd-vo Moskovsii Rabotchii, 1922, p. 156. 

[111] Cf. PIS’MA V.I. LENINA, N.K. KRUPSKOI, G.E ZINOVIEVA I L.V. KAMENEVA V PETERBURG. (Cartas de V. I. Lenin, N. K. Krupskaya, G. E. Zinoviev e L. V. Kamenev enviadas a Petersburg), in : Iz Epokhi Zvezdy i Pravdy (Da Época de “Zvezdy (A Estrela) e “Pravda (A Verdade), Vol. 3, Petersburgo : Gosud. Izd-vo., pp. 191 e s.

[112] Cf. IDEM. in: ibidem, pp. 198 e s.  

[113] Vide LENIN, VLADIMIR I. Pis’mo I. V. Stalinu (Carta a I. V. Stalin)(11.12.1912), in: ibidem, Vol. 48, pp. 122 e s.  

[114] Vide IDEM. Pis’mo A. M. Gor’komu (Carta a A. M. Gorki)(22-23.12.1912), in: ibidem, Vol. 48, pp. 137 e s.   

[115] Acerca do tema, vide VARDIN. IVAN V. Pravda i Likvidatorstvo (A Verdade e o Liquidacionismo), in: Put Pravdy (O Caminho da Verdade), Moscou-Leningrado : Gosud. Soc. Eko. Izd-vo, 1922, pp. 40 e s.;  OLMINSKY, MIKHAIL S. Do Voiny (Até a Guerra), in: Nikolai N. Baturin. Otcherk Istorii Sotsial-Demokratii v Rossii (Ensaios sobre a História da Social-Democracia Russa), Moscou : Koop. Izd-vo Moskovsii Rabotchii, 1922, p. 155.; TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 5 : Novyi Podiem (Novo Ascenso), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 172 e s.   

[116] Cf. PIS’MA V.I. LENINA, N.K. KRUPSKOI, G.E ZINOVIEVA I L.V. KAMENEVA V PETERBURG. (Cartas de V. I. Lenin, N. K. Krupskaya, G. E. Zinoviev e L. V. Kamenev enviadas a Petersburg), in : Iz Epokhi Zvezdy i Pravdy (Da Época de “Zvezdy (A Estrela) e “Pravda (A Verdade), Vol. 3, Petersburgo : Gosud. Izd-vo., p. 206.

[117] Acerca do tema, vide SAMOILOV, FIEDOR N. Vospominania Rabothevo Deputata, Tchelena IV Gosudarstvennoi Dumy, o J. M. Sverdlova (Recordações de um Deputado Trabalhador, Membro da IV Duma de Estado sobre J. M. Sverdlov), in : Jakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei, ed. ISPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 128 e s.   

[118] Cf. PIS’MA V.I. LENINA, N.K. KRUPSKOI, G.E ZINOVIEVA I L.V. KAMENEVA V PETERBURG. (Cartas de V. I. Lenin, N. K. Krupskaya, G. E. Zinoviev e L. V. Kamenev enviadas a Petersburg), in : Iz Epokhi Zvezdy i Pravdy (Da Época de “Zvezdy (A Estrela) e “Pravda (A Verdade), Vol. 3, Petersburgo : Gosud. Izd-vo., p. 210.

[119] Cf. IDEM. in: ibidem, p. 212.

[120] Cf. IDEM. in: ibidem, p. 213.

[121] Acerca do tema, vide TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 6 : Voina i Ssylka (Guerra e Exílio), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 198.

[122] Cf. SVERDLOV, JAKOB M. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (Obras Escolhidas em Três Volumes), Vol. 1, Moscou : Gosud. Izd-vo – Pol. Literatury, 1957, p. 217.

[123] Cf. IDEM. Detskaia Bolezn’ “Levizny” v Kommunizme (Doença Infantil de “Esquerda” no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in: ibidem, Vol. 41, pp. 5 e s.

[124] Sobre o tema, vide sobretudo IURENEV, CONSTANTIN. Bor’ba za Edinstvo Partii. Otcherk’ Vozniknovenia i Deiatel’nosti Petrogradskavo Mejduraionnavo Komiteta. C Prilojeniem Rezoliutsii Obschegorodskoi Konferentsii Petrogradskavo Mejduraionnavo Komiteta Ob’edinennykh S.-D. Sostoiavsheitsia 7-11 Maia 1917(Luta pela Unidade do Partido. Quadro da Origem e das Atividades do Comitê Inter-Distriral de Petrogrado. Com Apenso da Resolução da Conferência do Comitê Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos de Toda a Cidade de Petrogrado, Realizada de 7 a 11 de Maio de 1917), Petrogrado : Sklad’ Izdania, 1917, pp. 3 e s.  

[125] Acerca do tema, vide TROTSKY, LÉON D. Vokrug Oktiabria (Em Torno de Outubro)(06.04.1924), Parte 1: Pered Oktiabriem (Antes de Outubro), in: L.D. Trotsky. Iz Arkhivov Russkoi Revoliutsii 1917-1937 (Dos Arquivos da Revolução Russa. 1917-1937) Moscou :  Biblioteca Magister-MSK, pp. 1 e s.    

[126] Acerca do tema, vide, tb, IDEM. Nashi Uprazdnitieli (Nossos Liquidadores)(1911), in : ibidem, Vol. 20, pp. 62 e s.

[127] Cf. MARTOV, YULY OSSIPOVITCH TSEDERBAUM. Geschichte der Russischen Sozialdemokratie, mit einem Nachtrag von Theodor Dan : Die Sozialdemokratie Russlands nach dem Jahre 1908 (História da Social-Democracia Russa, com um Apenso de Theodor Dan : A Social-Democracia da Rússia após 1908), Berlim, 1926, p. 268.

[128] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Materialy Po Peresmotru Partiinoi Programmy (Materiais Relativos à Mudança do Programa do Partido), Cap. 2 : Proiekt Izmenenii Teoretitcheskoi, Polititcheskoi i Nekotoryx Drugikh Tchastei Programmy (Propostas de Emenda às Partes Doutrinária, Política e Outras do Programa)(24-29.04.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 139 e s.; IDEM. Tetradi Po Imperializmu (Cadernos sobre o Imperialismo)(1915 - 1916), in: ibidem, Vol. 28, pp. 3 e s.; IDEM. Imperializm, Kak Vysshaia Stadia Kapitalizma. Populiarnyi Otcherk (Imperialismo, Enquanto Estágio Mais Elevado do Capitalismo. Ensaio Popular)(Janeiro – Junho de 1916), in: ibidem, Vol. 27, pp. 299 e s.   

[129] Cf. IDEM. in: ibidem, Cap. 3 : Soobrajenia Po Povodu Zametchanii Sektsii VII (Aprel’skoi) Vcerossiiskoi Konferentsii RSDPR(b) (Comentários às Observações feitas em Seção da VII Conferência de Abril de Toda a Rússia do POSDR-B)(24-29.04.1917), Vol. 32, pp. 145 e s.  

[130] Vide MARX, K. & ENGELS, F.  Artikel aus „The New American Cyclopædia (Artigos da “Nova Enciclopédia Americana”)(Julho de 1857 – Novembro de 1860), in: ibidem, Vol. 14, pp. 6 e s.; ENGELS, F. Die Armeen Europas (As Forças Armadas da Europa)(Julho – Setembro de 1855), in: ibidem, Vol. 11, pp. 411 e s.; IDEM. Herrn Eugen Dühring's Umwälzung der Wissenschaft (A Subversão da Ciência do Sr. Eugen Dühring) (Setembro 1876 – Junho 1878), in: ibidem, Parte 2, Cap. 2. Gewalttheorie (Teoria do Poder), Vol. 20, pp. 147 e s.; IDEM. Einleitung zu S. Borkhheims Broschüre (Introdução à Brochura de S. Borkheims)(15.12.1887), in: ibidem, Vol. 21, p. 350.; IDEM. Kann Europa abrüsten? (Pode a Europa Desarmar-se?), in: ibidem, Vol. 22, pp. 371 e s. 

[131] Nesse sentido, vide MEHRING, F. Lessing-Legende (A Lenda de Lessing)(Junho de 1893), in: Franz Mehrig. Gesammelte Schriften (Escritos Reunidos), Berlim : Dietz Verlag, 1967, Vol. 9, pp. 164 e s.; IDEM. Zur Kriegsgeschichte und Militärfrage (História da Guerra e Questão Militar)(Agosto 1891 a Março de 1917), in: ibidem, Vol. 8, pp. 1 e s., porém sobretudo IDEM. Miliz oder stehendes Heer (Milícia ou Exército Permanente)(Julho – Agosto de 1913), in: ibidem, Vol. 8, pp. 223 e s.; IDEM. Vom Wesen des Krieges (Essência da Guera)(20.11.1914), in : ibidem, Vol. 8, p. 291.;  

[132] A esse respeito, vide LENIN V. I. Krakh II Internatsionala (A Falência da II Internacional)(Maio – Junho de 1915), in: ibidem, Vol. 26, Nr. 3, pp. 222 e s.; IDEM. Sotsializm i Voina (Socialismo e Guerra)(Julho – Agosto de 1915), Parte: “Voina iest Prodoljenie Politiki Inymi (imenno : nasil’stvennymi) Sredstvami”(Guerra é a Continuação da Política com outros Meios (i.e. Violentos), in: ibidem, Vol. 26, pp. 316 e s.; IDEM. Voina i Revoliutsia (Guerra e Revolução)(14.05.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 77 e s.; IDEM. O “Levom” Rebiatchestve i o Melkoburjuaznosti (Infantilidade de Esquerda e Mentalidade Pequeno-Burguesa)(Março – Julho 1918), in: ibidem, Vol. 36, p. 292.; IDEM. Clausewitz’ Werk “Vom Kriege”(A Obra de Clausewitz “Sobre a Guerra”), Berlim Oriental, 1957, pp. 3 e s.                

[133] Vide IDEM. Zadatchi Proletariata v Nashei Revoliutsii. Proiekt Plataformy Proletarskoi Partii(Tarefas do Proletariado em Nossa Revolução. Projeto de Plataforma para o Partido Proletário)(Meados de Abril de 1917),  Parte 5: Revoliutsionnoe Oborontchestvo i Evo Klassovoe Znatchenie (O Defensismo Revolucionário e o Seu Significado de Classe), Parte 6: Kak Mojno Kontchit’ Voinu?(Como é Possível Encerrar a Guerra), in: ibidem, Vol. 31, pp. 159, 161 e s. 

[134] Cf. IDEM. ibidem,  Parte 11: Krakh Zimmerval’dskovo Internatsionala – Neobkhodimo Osnovat’ Tretii Internatsional (Falência da Internacional de Zimmerwald – Necessidade de Fundação da III Internacional), in: ibidem, Vol. 31, pp. 175 e s.   

[135] Vide IDEM. O Lozungie Soedinennykh Shtatov Evropy(Acerca da Consigna dos Estados Unidos da Europa) (23 de Agosto de 1915) in :  ibidem, Vol. 26, pp. 351 e s.; IDEM. Voennaia Programma Proletarskoi Revoliutsii(O Programa Militar da Revolução Proletária)(Setembro de 1916), in :  ibidem, 30, pp. 131 e s.  

[136] Cf. TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 6 : Voina i Ssylka (Guerra e Exílio), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 199 e 200.

[137] Acerca do tema, vide SHUMIATSKY, BORIS Z. Turukhanska : Otcherki iz Jizni Ssyl’nykh Turukhanskovo Kraia 1908-1916 (Turukhansk : Ensaios sobre a Vida dos Exilados da Região de Turukhansk 1908-1916), Moscou-Leningrado : Gosud. Izd-vo, 1926, pp. 129 e s.; SAMOILOV, FIEDOR N. Po Sledam Minuvshego. Vospominania Starovo Bol’shevika (Nas Pegadas do Passado. Recordações de Um Velho Bolchevique), Moscou, : Gosud. Izd-vo 1934, pp. 520 e s. 

[138] Acerca do tema, vide mais profundamente SHUMIATSKY, BORIS Z. Turukhanska : Otcherki iz Jizni Ssyl’nykh Turukhanskovo Kraia 1908-1916 (Turukhansk : Ensaios sobre a Vida dos Exilados da Região de Turukhansk 1908-1916), Moscou-Leningrado : Gosud. Izd-vo, 1926, pp. 109 e s.; SAMOILOV, FIEDOR N. Po Sledam Minuvshego. Vospominania Starovo Bol’shevika (Nas Pegadas do Passado. Recordações de Um Velho Bolchevique), Moscou, : Gosud. Izd-vo 1934, pp. 523 e s.; SHVEITSER, VERA. Stalin v Turukhanskoi Ssylke : Vospominania Podpol’shchika (Stalin e o Exílio de Turukhansk : Recordações de uma Clandestina), Moscou : Gosud. Izd-vo, 1940, pp. 18 e s.;

[139] Cf. TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 6 : Voina i Ssylka (Guerra e Exílio), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 202.

[140] Acerca do tema, vide TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 7 : 1917, Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 222 e s.

[141] Acerca do tema, vide comentários de LENIN. VLADIMIR I. Sed’maia Aprel’skaia Vcerossiiskaia Konferentsia RSDRP(b) (VII Conferência de Abril do POSDR-B de Toda a Rússia) (24-29.04.1917), Parte 2: Doklad o Tekuschem Momente (Relatório sobre o Momento Atual) in: ibidem, Vol. 31, pp. 361 e s.; IDEM. Polititcheskoe Polojenie (Situação Política)(10.07.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 1 e s.   

[142] Nesse sentido, vide SCHMUMIATSKY, BORIS Z. Vosvraschenie Tcherez G. Krasnoiarsk iz Ssylki t. J. M. Sverdlov (O Regresso do Companheiro J. M. Sverdlov do Exílio pela Cidade de Krasnoiarsk), in : Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei, ed. ISPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 115 e s.  

[143] Cf. MENJINSKAIA, L. Jakov Mikhailovitch Sverdlov v Period Febralskoi Revolutsii (Jakob Mikhailovitch Sverdlov no Período da Revolução de Fevereiro), in : Jakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei, ed. ISPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 87 e s.; VINOGRADSKAIA, P. Poslednii Jiznenyi Reis J. M. Sverdlova (Última Viagem em Vida de J. M. Sverdlov), in : ibidem, pp. 184 e s.

[144] Trotsky refere-se a esse episódio, com grande atenção, assinalando que: “Os vinte e dois dias que transcorreram entre a chegada de Stalin, da Sibéria – domingo, 12 (25) de março –, e a de Lenin, da Suíça – segunda-feira, 3 (16) de abril -, possuem interesse extraordinário porque clarificam o contexto político de Stalin. Este viu-se, de repente, empurrado para um campo de luta aberta. Nem Lenin nem Zinoviev encontravam-se ainda em Petrogrado. Kamenev, sim, comprometido por sua recente conduta em vista de sua causa e, geralmente, conhecido por suas tendencias oportunistas. Também ali estava o jovem Sverdlov, pouco conhecido no Partido, mais organizador do que político. O fogoso Spandarian já não existia, pois havia sucumbido na Sibéria.” TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 7 : 1917, Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 223. Cumpre, porém, observar que, no que concerne a Sverdlov, Trotsky não refere nenhuma fonte literária que afirme ter Sverdlov encontrado-se durante esse período em Petrogrado, ao mesmo tempo em que não examina a trajetória de Sverdlov a partir da Sibéria, via Krasnoiarsk, nem onde se encontrava e o que defendeu Goloschekin – também membro do Comitê Central Bolchevique – durante os dias em tela. Apesar de Trotsky citar, por diversas vezes, ao longo de seu magnífico livro em destaque, os depoimentos de Shumiatsky, omite os ensaios desse último que referem a luta fracional ativa de Sverdlov e Golschekin contra as posições frente-populistas e patriótico-defensistas de Stalin e Kamenev na guerra imperialista, no período tomado em exame. Em verdade, Sverdlov chegaria em 27 de março em Petrogrado,  defendendo – antes mesmo da chegada de Lenin à Rússia e das Teses de Abril –, sem lograr, entretanto, prevalecer, a não reconvocação dos delegados que abandonaram a Conferência dos Sovietes de Petrogrado em protesto, bem como a continuação das mobilizações rumo à Revolução Proletária, discursando contra o frente-populismo e o defensismo burguês reacionário na guerra imperialista, propugnados, pelo contrário, por Stalin, Kamenev e a maioria do POSDR (Bolchevique).  De Petrogrado, Sverdlov dirigiu-se novamente para os Urais, já em 3 de abril, a fim de dedicar-se à organização de atividades relacionadas com a reconquista da maioria no Partido e o desencadeamento de uma Revolução Proletária, sem ter até mesmo a oportunidade de avistar-se, antes de sua partida, com Lenin que chegava no mesmo 3 de abril, com procedência da Suíça.           

[145] Cf. TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 7 : 1917, Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 228 e s.

[146] Cf. LENIN. V. I. Telegramma Bol’shevikam, Ot’ezjaiuschim v Rossiu (Telegrama aos Bolcheviques que Partem para a Rússia)(06.03.1917), in: ibidem, Vol. 31, p. 7. ; IDEM. Zadatchi Proletariata v Nashei Revoliutsii. Proiekt Plataformy Proletarskoi Partii(Tarefas do Proletariado em Nossa Revolução. Projeto de Plataforma para o Partido Proletário)(Meados de Abril de 1917), especialmente Parte 1: Klassovoi Kharakter Proisshedshei Revoliutsii (Caráter de Classe da Revolução Transcorrida), in: ibidem, Vol. 31, pp. 151 e s. 

[147] Cf. IDEM. Zaiavlenie v Gazetu “Volksrecht” (Declaração ao Jornal “Direito do Povo”)(06.03.1917), in: ibidem, Vol. 31, p. 8.  

[148] Cf. IDEM. Pis’ma iz Dalieka (Cartas de Longe)(07.03 a 26.03.1917), Carta 2: Novoe Pravitel’stvo i Proletariat(O Novo Governo e o Proletariado), Carta 3: O Proletarskoi Militsii (Sobre a Milícia Proletária) e Carta 4: Kak Dobit’sa Mira?(Como Alcançar a Paz), in: ibidem, Vol. 31, pp. 23, 34, 48 e s.; IDEM. O Proletarskoi Militsii (Sobre a Milícia Proletária)(20.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 286 e s.

[149] Cf. IDEM. ibidem, Carta 5: Zadatchi Revoliutsionnovo Proletarskovo Gosudarstvennovo Ustroistva (Tarefas de Construção de um Estado Proletário Revolucionário) tb. in: ibidem, Vol. 31, pp. 55 e s. Acerca da oposição de Lenin seja contra as posições céticas de Preobrajensky relativas à impossibilidade de o processo revolucionário russo avançar rumo ao socialismo, a menos que revoluções socialistas ocorressem nos países capitalistas mais avançados da Europa Ocidental, seja contra as de Bukharin relacionadas com a inviabilidade de conquistar-se a hegemonia do proletariado em relação ao campesinato pobre e demais setores oprimidos, vide IDEM. Polititcheskoe Polojenie (Situação Política)(10.07.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 1 e s.; IDEM. Groziaschaia Katastrofa i Kak s Niei Borot’sa (A Catástrofe que nos Ameaça e como Combatê-la)(10-14.09.1917), Parte 11: Mojno li Idti Vpered, Boias’ Idti k Sotsializmu?(Pode-se Seguir Adiante se Tememos Lutar pelo Socialismo?), in: ibidem, Vol. 34, pp. 190 e s.  

[150]Vide IDEM. Zadatchi Proletariata v Nashei Revoliutsii. Proiekt Plataformy Proletarskoi Partii(Tarefas do Proletariado em Nossa Revolução. Projeto de Plataforma para o Partido Proletário)(Meados de Abril de 1917), Parte 10: Polojenie Del v Sotsialistitcheskom Internatsionale (A Situação das Coisas na Internacional Socialista), in: ibidem, Vol. 31, pp. 169 e s. 

[151] Nesse sentido, vide precisamente TROTSKY, L. D. Istoria Russkoi Revolutsii (História da Revolução Russa)(1930-1933), Sotsializm v Otdel’noi Strane? (Socialismo em um País Isolado), Berlim : Granit, 1931 e New York : Monad Press, 1975, Vol. 2, Parte 2, pp. 415 e s.; tb. LENIN, V. I. Proschal’noe Pis’mo k Shveitsarskim Rabotchim (Carta de Despedida aos Trabalhadores Suíços)(26 de Março de 1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 87 e s.     

[152] Cf. LENIN, V. I. Sed’moi Ekstrennyi S’ezd RKP(b)(VII Congresso Extraordinário do PCR-B)(06-08.03.1918), Parte 1: Polititcheskii Ottchet Tsentral’novo Komiteta (Apreciação Política do Comitê Central), in: ibidem, Vol. 36, pp. 3 e s.; tb. TROTSKY, L. D. ibidem, pp. 419 e s.  

[153]Nesse sentido, vide, da maneira mais clara, LENIN, V. I.  Retch v Moskovskom Soviete Rabotchikh, Krest’ianskikh i Krasnoarmeiskikh Deputatov(Discurso no Soviete de Moscou de Trabalhadores, Camponeses e Soldados Vermelhos)(23.04.1918), in: ibidem, Vol. 36, pp. 232 e s.  

[154]  Cf. STALIN, J. V. Trotskizm ili Leninizm? (Trotskysmo ou Leninismo?)(19.11.1924), in : J. V. Stalin Werke (Obras de J. V. Stalin), Dortmund, 1976, Parte 2: Partia  i Podgotovka Oktiabria(O Partido e a Preparação do Outubro), Vol. 6, pp. 333 e s

[155] Vide LENIN, V. I. Postanovlenie Zagranitchnoi Kollegii Tsk RSDRP (Decisão do Colegiado Estrangeiro do CC do POSDR)(Março de 1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 83 e s. 

[156] Vide IDEM. Retch na Ploschadi Finliandskovo Vokzala k Rabotchim, Soldatam i Matrossam (Discurso na Praça da Estação da Finlândia aos Trabalhadores, Soldados e Marinheiros)(03.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 98.; IDEM. O Dvoevlastii (Sobre o Duplo Poder)(09.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 145 e s.

[157] Acerca da luta travada no interior da Rússia - antes mesmo da chegada de Lenin e das Teses de Abril - por Sverdlov e outros bolcheviques em prol da continuação das mobilizações rumo à Revolução Proletária, bem como contra o frente-populismo e o defensismo burguês reacionário na guerra imperialista de Stalin, Kamenev e seus seguidores, vide p.ex. SHUMIATSKY, BORIS Z. Vosvraschenie Tcherez G. Krasnoiarsk iz Ssylki t. J. M. Sverdlov (O Regresso do Companheiro J. M. Sverdlov do Exílio pela Cidade de Krasnoiarsk), in : Jakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei, ed. ISPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 115 e s.; tb. VINOGRADSKAIA, P. Poslednii Jiznenyi Reis J. M. Sverdlova (Última Viagem em Vida de J. M. Sverdlov), in : ibidem, pp. 184 e s.   

[158] Cf. IDEM. O Zadatchakh Proletariata v Dannoi Revoliutsii (Sobre As Tarefas do Proletariado na Presente Revolução)(04.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 113 e s.   

[159] Cf. IDEM. ibidem, Tese 8.; tb. IDEM. Pis’ma o Taktike (Cartas sobre Tática)(08-13.04. 1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 131 e s.

[160] Cf. IDEM. Nabrosok Stat’i ili Retchi v Zaschitu Aprel’skikh Tezissov (Notas do Artigo ou Discurso em Defesa das Teses de Abril) (04-12.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 123 e s.; IDEM. Zadatchi Proletariata v Nashei Revoliutsii. Proiekt Plataformy Proletarskoi Partii(Tarefas do Proletariado em Nossa Revolução. Projeto de Plataforma para o Partido Proletário)(Meados de Abril de 1917), Parte 7: Novyi Tip Gosudarstva, Vyrastaiuschii v Nashei Revoliutsii (Novo Tipo de Estado Emergente de Nossa Revolução) in: ibidem, Vol. 31, pp. 162 e s.

[161] Acerca do tema, vide tb. os comentários de TROTSKY, L. D. Uroki Oktiabria(Lições de Outubro)(1924), Parte 2: Demokratitcheskaia Diktatura Proletariata i Krest’ianstva. Febral’ i Oktiabr’ (A Ditadura Democrática do Proletariado e do Campesinato. Fevereiro e Outubro) e Parte 3: Bor’ba s Voinoi i Oborontchestvom (A Luta contra a Guerra e o Defensismo), Leningrado : Lenizdat, 1991, pp. 7, 13 e s.    

[162] Vide IDEM. Pis’ma o Taktike (Cartas sobre Tática)(08-13.04. 1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 131 e s. ; IDEM. Zadatchi Proletariata v Nashei Revoliutsii. Proiekt Plataformy Proletarskoi Partii(Tarefas do Proletariado em Nossa Revolução. Projeto de Plataforma para o Partido Proletário)(Meados de Abril de 1917), Parte 3: Svoeobraznoe Dvoevlastie i Evo Klassovoie Znatchenie (Peculiaridade do Duplo Poder e Seu Significado de Classe), in: ibidem, Vol. 31, pp. 154 e s.

[163] Cf. LENIN, V. I. O Zadatchakh Proletariata v Dannoi Revoliutsii (Sobre as Tarefas do Proletariado na Presente Revolução)(04.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 113 e s; IDEM. Zadatchi Proletariata v Nashei Revoliutsii. Proiekt Plataformy Proletarskoi Partii(Tarefas do Proletariado em Nossa Revolução. Projeto de Plataforma para o Partido Proletário)(Meados de Abril de 1917),  em especial Parte 5: Revoliutsionnoe Oborontchestvo i Evo Klassovoe Znatchenie (O Defensismo Revolucionário e o Seu Significado de Classe), Parte 6: Kak Mojno Kontchit’ Voinu?(Como é Possível Encerrar a Guerra), Parte 12: Kakovo Doljno Byt’ Nautchno-Pravil’noe i Polititcheski Pomogaiuschee Proiasneniu Soznania Proletariata Naznavanie Nashei Partii? (Qual Deve Ser o Nome de Nosso Partido, Cientificamente Correto e Útil à Clarificação da Consciência do Proletariado?), in: ibidem, Vol. 31, pp. 159, 161 e s.; IDEM. Materialy Po Peresmotru Partiinoi Programmy (Materiais Relativos à Mudança do Programa do Partido), Cap. 2 : Proiekt Izmenenii Teoretitcheskoi, Polititcheskoi i Nekotoryx Drugikh Tchastei Programmy (Propostas de Emenda às Partes Doutrinária, Política e Outras do Programa)(24-29.04.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 139 e s.

[164] Vide IDEM. Petrogradskaia Obschegorodskaia Konferentsia RSDRP (b)(Conferência de Toda a Cidade de Petrogrado do POSDR-B)(14-22.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 237 e s.  

[165] Vide IDEM. Sed’maia Aprel’skaia Vcerossiiskaia Konferentsia RSDRP(b) (VII Conferência de Abril do POSDR-B de Toda a Rússia) (24-29.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 339 e s.

[166] Acerca do tema, vide tb. criticamente os dados numéricos de BROUÉ, PIERRE. Le Parti Bolchevique. Histoire du P.C. de L’U.R.S.S., Paris : Minuit, pp. 86 e s.

[167] Nesse sentido, vide LENIN, V. I. K Tchemu Vedut Kontrrevoliutsionnye Shagi Vremennovo Pravitel’stva (A Que Conduz os Passos Contra-Revolucionários do Governo)(28.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 462 e s.; IDEM. Tainy Vneshnei Politiki (Segredos da Política Externa)(10.05.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 55 e s.; IDEM. Ischut Napoleona (Em Busca de um Napoleão)(10.05.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 61 e s.; IDEM. Retch na Mitinge Putilovskovo Zavoda (Discurso na Assembléia da Fábrica Putilov)(12.05.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 67 e s.; IDEM. Perekhod Kontrrevoliutsii v Nastuplenie “Iakobintsy bez Naroda” (Passagem da Contra-Revolução à Ofensiva “Os Jacobinos sem o Povo”)(28.05.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 215 e s.; IDEM. Tysiatcha Pervaia Loj’ Kapitalistov (A Milésima Primeira Mentira dos Capitalistas)(17.06.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 295 e s.; IDEM. Soiuz dlia Ostanovki Revoliutsii (Aliança para Parar a Revolução)(19.06.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 300 e s.; IDEM. O Vragakh Naroda (Os Inimigos do Povo)(20.06.1917), in: ibidem, Vol. 32, pp. 306 e s.     

[168] Cf. TROTSKY, LÉON D. Pamiati Sverdlova, in: Jakob Michailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei, Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 71 e s

[169]  Cf. IDEM. Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 7 : 1917, Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, p. 225.

[170] Acerca do tema, vide TROTSKY, L. D. Vokrug Oktiabria (Em Torno de Outubro)(06.04.1924), Parte 1: Pered Oktiabriem (Antes de Outubro), in: L.D. Trotsky. Iz Arkhivov Russkoi Revoliutsii 1917-1937 (Dos Arquivos da Revolução Russa. 1917-1937) Moscou :  Biblioteca Magister-MSK, pp. 1 e s.    

[171] Cf. LENIN, V. I. Petrogradskaia Obschegorodskaia Konferentsia RSDRP(b). (Conferência de Toda a Cidade de Petrogrado do POSDR(B))(14-22.04.1917), Nr. 7: Proiekt Resoliutsii Ob Otnoshenii k Partiam Sotsialistov-Revoliutsionerov, Sotsial-Demokratov Men’shevikov, Partii tak Nazyvaemykh “Nefraktsionnykh” Sotsial-Demokratov i t.p. Rodstvennym Polititcheskim Tetcheniam(Projeto de Resolução sobre o Comportamento em face dos Partidos dos Socialistas-Revolucionários, Sociais-Democratas Mencheviques, Partido dos assim chamados Sociais-Democratas “Não-Fracionalistas” e outras Tendências Políticas Semelhantes)(14-22.04.1917), in: ibidem, Vol. 31, pp. 257 e s.; IDEM. Sed’maia Aprel’skaia Vcerossiiskaia Konferentsia RSDRP(b)(VII Conferência de Abril do POSDR-B de Toda a Rússia) (24-29.04.1917), Parte 18: Resoliutsia ob Ob’edinenii Internatsionalistov protiv Melkoburjuaznovo Oborontcheskovo Bloka (Resolução sobre a Unificação dos Internacionalistas contra o Bloco Defensista Pequeno-Burguês), in: ibidem, Vol. 31, pp. 429 e s.

[172] Cf. SVERDLOV, J. M. VI Sezd RSDRP (B). Doklad Organizatsionnovo Biuro Po Sozyvu Sezda Partii.  (VI Congresso do POSDR (B). Informe do Bureau de Organização para a Convocação do Congresso do Partido)(26.07 – 03.08.1917), in: J. M. Svedlov. Izbrannye Proizvedenia (Obras Escolhidas), Vol. 2, Moscou: Gosudarstvennoe Izdatel’stvo. Polititcheskoi Literatury, 1959, pp. 32 e s. 

[173] Acerca da oposição de Lenin seja contra as posições céticas de Preobrajensky relativas à impossibilidade de o processo revolucionário russo avançar rumo ao socialismo, a menos que revoluções socialistas ocorressem nos países capitalistas mais avançados da Europa Ocidental, seja contra as de Bukharin relacionadas com a inviabilidade de conquistar-se a hegemonia do proletariado em relação ao campesinato pobre e demais setores oprimidos, vide LENIN, VLADIMIR I. Polititcheskoe Polojenie (Situação Política)(10.07.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 1 e s.; IDEM. Groziaschaia Katastrofa i Kak s Niei Borot’sa (A Catástrofe que nos Ameaça e como Combatê-la)(10-14.09.1917), Parte 11: Mojno li Idti Vpered, Boias’ Idti k Sotsializmu?(Pode-se Seguir Adiante se Tememos Lutar pelo Socialismo?), in: ibidem, Vol. 34, pp. 190 e s.

[174] Cf. IDEM. Itogi i Perspektivy (Resultados e Perspectivas)(1906), Predislovie (Prefácio), Moscou: Gosud. Izdatel’stvo, 1919, pp. 3 e s.    

[175] Cf. IDEM. O Dvukh Liniakh Revoliutsii(Acerca de Duas Linhas da Revolução)(20.11.1915), in: ibidem, Vol. 27, pp. 76 e s.

[176] Acerca do tema, vide sobretudo MARX, KARL & ENGELS, FRIEDRICH. Ansprache der Zentralbehörde an den Bund – Rundschreiben (Informe do Órgão Central à Liga dos Comunistas – Circular) (Março de 1850), in : ibidem, Vol. VII, p. 247.

[177] Cf. LENIN, VLADIMIR I.  Otnoshenie Sotsial-Demokratii k Krest’ianskomu Dvijeniu (Relação da Social-Democracia com o Movimento Camponês)(14.09.1905), in : ibidem, Vol. 11, pp. 215 e s.

[178] Acerca do tema, vide IDEM. Pis’mo v Tsentral’nnoi Komitet RSDRP(b)(Carta ao Comitê Central do POSDR – Bolchevique)(19.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 423 e s.; IZ PROTOKOLA ZASSEDANIA TsK RSDRP(b) OB OBSUJDIENII STREIKBREKHERKOVO ZAIAVLENIA KAMENEVA I ZINOVIEVA, OPUBLIKOBANNOVO V GAZETE “NOVAIA JIZN” (Do Protocolo da Reunião do Comitê Central do POSDR – Bolchevique sobre o Exame da Declaração Fura-Greve de Kamenev e Zinoviev, Publicada no Jornal “Nova Vida”), in: VOSR. Oktiabr’skoe Voorujennoe Vosstanie v Petrograde (VOSR. A Insurreição Armada de Outubro em Petrogrado), Moscou : G. N. Golikov, 1957, pp. 64 e s.   

[179] Acerca da oposição de Lenin à caracterização esquerdista de Molotov e Schliapnikov, consistente em afirmar o caráter contra-revolucionário do Governo Provisório Burguês-Latifundiário Russo já nos primeiros dias após a conclusão vitoriosa da Revolução Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917 e, portanto, mesmo antes do encerramento do período pacífico, em 3 e 4 de julho, vide LENIN. VLADIMIR I. Sed’maia Aprel’skaia Vcerossiiskaia Konferentsia RSDRP(b) (VII Conferência de Abril do POSDR-B de Toda a Rússia) (24-29.04.1917), Parte 2: Doklad o Tekuschem Momente (Relatório sobre o Momento Atual) in: ibidem, Vol. 31, pp. 361 e s.; IDEM. Polititcheskoe Polojenie (Situação Política)(10.07.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 1 e s.   

[180] Vide IDEM. Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução)(Agosto de 1917), in: ibidem, Cap. 3.: Gosudarstvo i Revoliutsia. Opyt Parijskoi Kommuny 1871 g. Analiz Marksa (Estado e Revolução. A Experiência da Comuna de Paris de 1871. Análise de Marx), Nr. 1: V Tchiom Geroizm Popytki Kommunarov? (Em que consiste o Heroísmo da Tentativa dos Communards), Vol. 33, pp. 36 e s.

[181] Nesse sentido, vide tb. MARX, K. & ENGELS, F. Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França)(Abril – Maio de 1871), in: ibidem, Vol. 17, pp. 336 e s.; IDEM. Die Partei und die Internationale (O Partido e a Internacional) (5 de Maio de 1875), in: ibidem, Vol. 19, pp. 6 e 7.; tb. LENIN, V. I. Zadatchi Revolutsii (Tarefas da Revolução) (09.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 229 e s. 

[182] Vide IDEM. Bol’sheviki Doljny Vziat’ Vlast’ (Os Bolcheviques Devem Tomar o Poder)(12-14.09.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 239 e s.; IDEM. Pis’mo Predsedateliu Oblastnovo Komiteta Armii, Flota i Rabotchikh Finliandii I. T. Smilge(Carta ao Presidente do Comitê Regional do Exército, da Frota e dos Trabalhadores da Finlândia)(27.09.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 264 e s.; IDEM. Krizis Hazrel (A Crise Amadureceu)(Outubro de 1917), in : ibidem, Vol. 34, pp. 272 e s.; IDEM. Uderjat’ li Bol’sheviki Gosudarstvennuiu Vlast’(Manterão os Bolcheviques o Poder de Estado?)(01.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 287 e s.     

[183] Vide IDEM. Pis’mo v Tsk, Mk i Plenam Sovietov Pitera i Moskvy Bol’schevikam (Carta ao CC, ao Comitê de Moscou, à Plenária dos Sovietes de Petrogrado e aos Bolcheviques de Moscou) (01.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 340 e s.

[184] Acerca do tema, vide sobretudo TROTSKY, L. D. Vokrug Oktiabria (Em Torno de Outubro)(06.04.1924), Parte 2: Perevorot (Revolução), in: L.D. Trotsky. Iz Arkhivov Russkoi Revoliutsii 1917-1937 (Dos Arquivos da Revolução Russa. 1917-1937) Moscou :  Biblioteca Magister-MSK, pp. 9 e s.    

[185] Acerca do tema, vide LENIN, V. I. Zassedanie Tsentral’novo Komiteta RSDPR (b)(Sessão do CC do POSDR)(10.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 391 e s.; IDEM. Zassedanie Tsentral’novo Komiteta RSDPR (b)(Sessão do CC do POSDR)(16 de Outubro de 1917), in: ibidem, Vol. 36, pp. 394 e s.

[186] Para um estudo mais amplo acerca do tema, vide BARBOSA, ASDRUBAL & SCHMIDT VON KÖLN, PORTAU. A Arte Proletária da Insurreição Socialista. Aspectos Introdutórios, São Paulo-Munique-Moscou : Academia Vermelha de Arte Militar Proletário-Revolucionária Mikhail V. Frunze - Ed. Militar Socialista da Classe Trabalhadora, 2001, pp. 7 e s.  

[187] Nesse sentido, vide ENGELS, F. Revolution und Konterrevolution in Deutschland (Revolução e Contra-Revolução na Alemanha) (Agosto de 1851 - Setembro de 1852), Cap. 17: Der Aufstand (A Insurreição) (Agosto de 1852), in: ibidem, Vol. 8, pp. 95 e s.; LENIN, V. I. Markiszm i Vosstanie(Marxismo e Insurreição)(13-14.09.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 242 e s.; IDEM. Soviety Postoronnevo (Conselhos de um Ausente)(08.10.1917), in: ibidem, Vol. 34, pp. 382 e s.    

[188] vide TROTSKY, L. D. Vokrug Oktiabria (Em Torno de Outubro)(06.04.1924), Parte 4: Rasgon Utchreditel’novo Sobrania (Dissolução da Assembléia Constituinte), in: L.D. Trotsky. Iz Arkhivov Russkoi Revoliutsii 1917-1937 (Dos Arquivos da Revolução Russa. 1917-1937) Moscou :  Biblioteca Magister-MSK, pp. 16 e s.    

[189] Nesse sentido, vide, mais detalhadamente, Cf. TROTSKY, L. D. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia)(1930), Volume II, Cap. 32: Mir (Paz),  Moscou : Parorama, 1991, pp. 367 e s.  

[190] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Detskaia Bolezn’ “Levizny” v Kommunizme (Doença Infantil de “Esquerda” no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in: ibidem, Vol. 41, pp. 5 e s.

[191] Vide KPSS V RESOLIUTSIAKH I RESCHENIAKH S’EZDOV, KONFERENTSI I PLENUMOVTsK (O Partido Comunista da União Soviética em Decisões e Resoluções de Congressos, Conferências Partidárias e Plenárias do Comitê Central), Vol. 1, Moscou, 1954, pp. 409 e s.; tb. VOSMOI SEZD RKP (B). PROTOKOLY (VIII Congresso do PCR(B)), Moscou, 1959, pp. 390 e s.

[192] Cf. LENIN, VLADIMIR I. VIII S’ezd RKP (b). Retch Pri Otkrytii S’ezda 18 Marta (VIII Congresso do PCR(B). Discurso de Abertura do Congresso, em 18 de Março) (18.03.1919), in: ibidem, Vol. 38, pp. 127 e s.       

[193] Acerca do tema, vide IDEM. IX S’ezd RKP (b) (IX Congresso do PCR – Bolchevique)(29.03-05.04.1920), 3. Zakliutchitel’noe Slovo po Dokladu TsK (Discurso de Encerramento sobre o Relatório do Comitê Central)(30.03-1920), in : ibidem, Vol. 40, pp. 258 e s. 

[194] Acerca do tema, vide RYKOV, ALEKSEI J. Die wirtschaftliche Lage Sowjetrusslands (A Situação Econômica da Rússia Soviética), Berlim: A. Seehof & Co., 1920, pp. 5 e s.; TOMSKY, MIKHAIL P. Abhandlungen über die Gewerkschaftsbewegung in Russland (Ensaios sobre o Movimento Sindical na Rússia), Hamburg: Carl Hoym, 1921, pp. 3 e s.; IDEM. Die neuen Aufgaben der russischen Gewerkschaften (As Novas Tarefas dos Sindicatos Russos), Berlim, 1922, pp. 3 e s.; IDEM. Der gegenwärtige Stand der Gewerkschaftsbewegung in Russland (A Situação Atual do Movimento Sindical na Rússia), Berlim : Führer-Verlag, 1923, pp. 1 e s.   

[195] Acerca do tema, vide SAPRONOV, TIMOFEI V. Iz Istorii Rabotchevo Dvijenia (História do Movimento Operário), Moscou-Leningrado: Gosud. Izd-vo, 1925, pp. 127 e s.

[196] Sobre o tema, vide sobretudo SCHLIAPNIKOV, ALEXANDR G. Die russischen Gewerkschaften (Os Sindicatos Russo), Leipzig : A. Seehof & Co., 1920, pp. 3 e s.; IDEM. Aus der Gewerkschaftsbewegung in Russland bis zur Eroberung der Macht (Do Movimento Sindical na Rússia até a Tomada do Poder), Chemnitz: Chemnitzer Dr. und Verl. Anstalt, 1919, pp. 5 e s.; LOZOVSKY, ALEXANDER. Eroberung oder Zerstörung der Gewerkschaften (Conquista ou Destruição dos Sindicatos), Leipzig : Franke, 1920, pp. 3 e s.; IDEM. Aufgaben und Entwicklung der Betriebsräte in Russland (Tarefas e Desenvolvimento dos Conselhos de Fábrica na Rússia), Leipzig : Franke, 1920, pp. 3 e s.; IDEM. Die Gewerkschaftsbewegung in Russland (O Movimento Sindical na Rússia), Leipzig : Franke, 1920, pp. 5 e s.; IDEM. Die Gewerkschaften in Sowjetrussland (Os Sindicatos na Rússia Soviética), Berlim : A. Seehof & Co., 1920, pp. 7 e s.   

[197] Acerca do tema, vide LENIN, VLADIMIR I. O Professional’nykh Soiuzakh, o Tekuschem Momentie i Ob Oshibkakh T. Trotskovo (Sobre os Sindicatos, sobre o Momento Atual e sobre os Erros do Comp. Trotsky)(30.12.1920), in: ibidem, Vol. 42, pp. 202 e s.; IDEM.  Krizis Partii (A Crise do Partido)(19.01.1921), in: ibidem, Vol. 42, pp. 234 e s.; IDEM. Eshio Raz o Profsoiuzakh, o Tekuschem Momentie i Ob Oshibkakh Tt. Trotskovo I Bukharina (Mais Uma Vez sobre os Sindicatos, sobre o Momento Atual e sobre os Erros dos Comps. Trotsky e Bukharin)(25.01.1921), in: ibidem, Vol. 42, pp. 264 e s.   

[198] Cf. IDEM. X S’ezd RKP (b) (X Congresso do PCR – Bolchevique)(08-16.03.1921), 4. Retch’ o Professional’nykh Soiuzakh (Discurso sobre os Sindicatos)(14.03.1921), in: ibidem, Vol. 43, pp. 52 e s.

[199] Cf. TROTSKY, L. D. Lenin o Sverdlov i Stalin. Iz Arkhiva (Lenin sobre Sverdlov e Stalin. Dos Arquivos), in : Biulleten Oppozitsii <Bolshevikov-Lenintsev> (Boletim de Oposição < Bolcheviques-Leninistas >), Nr. 29-30, Adm. e Red. A. Grylewicz, Setembro de 1932, pp. 41 e 42.  

[200] Essa porcentagem de aproximadamente 30 % pode ter correspondido a algo equivalente a 219.000 membros, tendo-se em consideração o fato de que aproximadamente 732.500 militantes fizeram-se representar no X Congresso do PCR (Bolchevique). Acerca do tema, vide POPOV, NIKOLAI Outline History of the Communist Party of Soviet Union, Vol. II, New York : International Publishers, 1946, p. 150.

[201] Referentemente a essa temática, vide, tb., TROTSKY, LÉON D. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia), especialmente Cap. 39: Bolezn Lenina (A Doença de Lenin), Cap. 40: Zagovor Epigonov (A Conspiração dos Epígonos), Berlim : Granit, 1930, repectivamente pp. 205 e s. e pp. 227 e s.

[202] IDEM. The Supressed Testament of Lenin (O Testamento Suprimido de Lenin)(31.12.1932), Londres : Pioneer Publishers, 1935, pp. 11 e s.

[203] Cf. LENIN, VLADIMIR I. X S’ezd RKP (b) (X Congresso do PCR – Bolchevique)(08-16.03.1921), 8. Piervonatchal’nyi Proiekt Rezoliutsii X S’ezda RKP o Edinstvie Partii (Projeto Preliminar de Resolução do X Congresso do PCR – Bolchevique sobre a Unidade do Partido), in: ibidem, Vol. 43, pp. 89 e s.

[204] Cf. IDEM. ibidem, 3. Zakliutchitel’noe Slovo po Ottchetu TsK RKP(b)(Discurso de Encerramento sobre o Relatório do Comitê Central do PCR(B)) (09.03.1921), in: ibidem, Vol. 43, pp. 34 e s.  

[205] Cf. IDEM. ibidem, 12. Zametchania po Povodu Popravki Riazanova k Resolitusii o Edinstvoe Partii (Observações às Emendas de Riazanov acerca da Resolução sobre a Unidade do Partido)(16.03.1921), in: ibidem, Vol. 43, p. 112.

[206] Cf. IDEM. XI S’ezd RKP (b) (XI Congresso do PCR - Bolchevique)(27.03-02.04.1922), 3. Zakliutchitel’noe Slovo po Polititcheskomu Ottchetu TsK RKP(b)(Dirscurso de Encerramento sobre Relatório Político do Comitê Central do PCR - Bolchevique)(28.03.1922), in: ibidem, Vol. 46, pp. 117 e s. Acerca de uma apreciação crítica sobre a brochura de Stalin sobre a questão das nacionalidades, desenvolvida sob a direção direta de Lenin, na cidade de Cracóvia, ao longo de 1913, vide  TROTSKY, LÉON D.  Stalin (Stalin)(1941), Vol. 1, especialmente Cap. 5 : Novyi Podiem (Novo Ascenso), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 178 e s.         

[207] Acerca do tema, vide tb. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Cap. 11 : Struggle for Sucession in the Russian Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 234.

[208] Acerca do tema, vide, exemplificativamente, RUBEL, MAXIMILIEN. Josef W. Stalin, especialmente Capítulo : Ein Multiplizierter Komissar (Um Comissário Multiplicado)  e Die Letzte Metamorphose (A Última Metamorfose), Reinbeck bei Hamburg : Rowohlt, 1975, pp. 44 e s.

[209] Acerca do tema, vide LENIN, WLADIMIR I. Fünf Jahre Russische Revolution und die Perspektiven der Weltrevolution(Cinco Anos de Revolução Russa e as Perspectivas da Revolução Mundial), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen International (Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista) (De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 229 e 230.     

[210] IDEM. Pis’mo k S’ezdu (Carta ao Congresso) (04.01.1923), in : ibidem, Vol. 45, pp. 344 e s.

[211] Cf. IDEM. Tovarischu Stalinu (Ao Companheiro Stalin)(05.03.1923), in: ibidem, Vol. 54, pp. 329 e 330.