MARXISMO REVOLUCIONÁRIO, TROTSKYSMO,
E QUESTÕES ATUAIS DA REVOLUÇÃO
SOCIALISTA INTERNACIONALISTA
LENIN EM SUA LUTA FUNDAMENTAL EM DEFESA
DO MATERIALISMO HISTÓRICO - DIALÉTICO DE MARX E ENGELS
CONTRA AS VERTENTES ATUAIS DO
CONHECIMENTO HUMANO, SEJAM IDEALISTAS – SUBJETIVISTAS, INTER-SUBJETIVISTAS,
OBJETIVISTAS E ABSOLUTISTAS,
FENOMENOLÓGICAS, INTUICIONISTAS E PSICOLOGISTAS, REALISTAS E NOMINALISTAS,
RACIONALISTAS E EMPIRISTAS, METAFÍSICAS
E DIALÉTICAS, DEDUTIVISTAS E CONSTRUTIVISTAS, MONISTAS E DUALISTAS,
-
SEJAM MATERIALISTAS
MECANICISTAS E ESTRUTURALISTAS, SEJAM NATURALISTAS METAFÍSICO-ORGANICISTAS,
SEJAM AGNÓSTICAS – POSITIVISTAS,
WEBERIANAS, EMPIRIOCRITICISTAS, PRAGMATISTAS E HISTORICISTAS –
SEJAM CÉTICO-CONSTRUTIVISTAS –
SOFISTAS, KANTISTAS, PIAGETISTAS, HABERMASIANAS -,
SEJAM AINDA HEDONISTAS, ESTÓICAS E
ECLÉTICAS ET ALIAE
Sobre o Significado do Materialismo
Militante
VLADIMIR I. LENIN[1]
Concepção e Organização Portau Schmidt von
Köln
Compilação e Tradução Asturig Emil von
München
Janeiro de 2006 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/LeninMaterialismoMilitanteCapa.htm
“Por quarenta e três anos de minha vida consciente,
permaneci sendo um revolucionário:
por quarenta e dois desses anos, lutei sob a bandeira do marxismo.
Se tivesse de iniciar tudo novamente, evitaria cometer
este ou aquele equívoco,
porém, o rumo principal da minha vida permaneceria
imodificado.
Hei de morrer como
revolucionário proletário, marxista, materialista-dialético e,
conseqüentemente,
ateísta irreconciliável.
Minha fé no futuro
comunista da humanidade não ficou menos ardente.
Em verdade, é ainda mais firme no dia de hoje, do que o
foi nos dias da minha juventude.”[2]
Sobre as tarefas gerais da Revista “Pod
Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do Marxismo)”, o companheiro Trotsky
já disse, em seu artigo publicado no Nr. 1-2 da revista referida, tudo o que é
de essencial a respeito e disse-o muito bem.[3]
Gostaria de deter-me em algumas questões que determinam,
mais de perto, o conteúdo e o programa do trabalho que é proclamado pela
redação dessa revista, em sua declaração introdutória, contida no Nr. 1-2.
Na declaração em realce, fala-se que nem todos os que se
reuniram em torno da Revista “Pod Znameniem Marksisma (Sob a
Bandeira do Marxismo)” são comunistas, mas que todos são
efetivamente marxistas conseqüentes.
Creio que essa aliança, estabelecida entre comunistas
e não comunistas, é incondicionalmente necessária e determina
corretamente as tarefas da revista.
Um dos maiores e mais perigosos erros dos comunistas –
tal como, em geral, de todos os revolucionários que executaram exitosamente o
início da Grande Revolução – é o de imaginar que a revolução poderia ser
levada a cabo apenas pelas mãos dos revolucionários.
Pelo contrário, para a vitória de todo trabalho
revolucionário sério, é imprescindível compreender e saber dar vida ao fato de
que os revolucionários são capazes de desempenhar tão somente um papel de
vanguarda da classe efetivamente avançada e capaz de sobreviver.
A vanguarda cumpre suas próprias tarefas apenas quando
consegue não se isolar das massas por ela dirigidas, conduzindo faticamente
todas as massas para adiante.
Sem uma aliança, celebrada com os não comunistas, em
todos os mais diversos domínios de atividades, não é possível nem sequer falar
de qualquer construção comunista exitosa.
Isso se refere igualmente ao trabalho de defesa do
materialismo e do marxismo, do qual se ocupa a Revista “Pod Znameniem Marksisma
(Sob a Bandeira do Marxismo)”.
As principais tendências do pensamento social avançado da
Rússia
possuem, felizmente, uma sólida tradição materialista.
Para nem falar já mesmo de G. V. Plekhanov, bastará
citar N. G. Tchernyshevsky, os quais os populistas modernos - os
socialistas populares, os socialistas-revolucionários (SRs.) etc.
– renegaram, a fim de rastejaram,
freqüentemente, atrás das doutrinas filosóficas reacionárias da moda,
deixando-se influenciar pelos falsos brilhantes da suposta “última
palavra” da ciência européia, não sendo capazes de enxergar por detrás
das aparências dessa ou daquela variedade de servilismo à burguesia, seus
preconceitos e seu caráter burguês-reacionário.
Em todo caso, entre nós, na Rússia, existe ainda –
existirá, indubitavelmente, ainda por muito tempo – materialistas do campo dos não
comunistas, sendo que é nosso indiscutível dever atrair para um
trabalho comum todos os partidários do materialismo conseqüente e militante, no
quadro de uma luta contra a reação filosófica e contra os preconceitos filosóficos
da assim chamada “sociedade culta”.
Dietzgen-pai – o qual não deve ser confundido
com o literato Dietzgen-filho, tão pretensioso quanto fracassado – expressou,
de modo correto, justo e claro, o
ponto-de-vista do marxismo a respeito das tendências filosóficas, dominantes
nos países burgueses e que gozam de atenção entre os sábios e publicistas, ao
dizer que, na sociedade contemporânea, na maioria dos casos, os professores de
filosofia, por si mesmos, nada mais são senão “lacaios diplomados do
obscurantismo clerical.”[4]
Nossos intelectuais da Rússia, que adoram
considerar a si próprios como avançados, da mesma forma como, aliás, ocorre em
todos os demais países, odeiam muito postular essa questão desde o ponto de vista
da apreciação, fornecida pelas palavras de Joseph Dietzgen.
Odeiam-no, porém, não porque a verdade queima-lhe os
olhos.
Basta refletir um pouco sobre a dependência de natureza
estatal e, então, sócio-econômica, e, a seguir, vital- quotidiana e todas as
outras mais, que possuem os intelectuais contemporâneos em relação à burguesia
dominante, para compreender a absoluta correção da caracterização contundente
de Joseph
Dietzgen.
Basta recapitular a maioria esmagadora das tendências
filosóficas da moda que surgem tão freqüentemente nos países europeus - mesmo
começando por aquelas que se relacionam com a descoberta do elemento químico
rádio e concluindo com as que fazem todo o possível para agarrar-se a Albert
Einstein -, para dar-se conta da ligação existente entre os interesses
de classe e a posição de classe da burguesia, entre o apoio que esta presta a
todas as formas de religião e o conteúdo ideológico das tendências filosóficas
da moda.
De todo o exposto, é evidente que a revista, na medida em
que pretende ser o órgão de imprensa do materialismo militante, deve ser, em
primeiro lugar, um órgão combativo, no sentido do desmascaramento e da
perseguição inquebrantáveis de todos os “lacaios diplomados do obscurantismo
clerical” dos nossos tempos, independentemente do fato de atuarem eles
na qualidade de representantes oficiais da ciência ou na condição de
franco-atiradores que se reivindicam a si mesmos como publicistas “democratas
de esquerda ou socialistas em idéias”.
Uma tal revista deve ser, em segundo lugar, o órgão de
imprensa do ateísmo militante.
Entre nós, existem departamentos ou, pelo menos,
instituições públicas que dirigem esse trabalho.
Fazem-no, porém, de modo extremamente apático, de modo
sumamente insatisfatório, dando-se conta, visilvemente, em si mesmos, do jugo
das condições gerais de nosso burocratismo genuinamente russo (ainda que seja
soviético).
Por isso, é extraordinariamente importante que a revista,
ao colocar a si mesma a tarefa de ser o órgão de imprensa do materialismo
militante, impulsione propaganda e luta ateístas incansáveis, em
complementação ao trabalho das respectivas instituições estatais, buscando
corrigí-lo e vivificá-lo.
É indispensável acompanhar atentamente toda a literatura
correspondente, em todas as línguas, traduzindo-a ou, pelo menos, resumindo
tudo aquilo que for valioso, nesse domínio.
Há muito tempo, Engels aconselhou os dirigentes do
proletariado moderno a traduzirem a literatura ateísta combativa do
fim do século XVIII, para difusão em massa entre o povo.[5]
Para nossa vergonha, não o fizemos, até o presente
momento : uma das muitas demonstrações que tomar o poder em uma época
revolucionária é prodigiosamente mais fácil do que saber utilizá-lo
corretamente.
Às vezes, desculpamo-nos desse marasmo, inércia e
incapacidade com todos os tipos de razões “altissonantes” : por exemplo,
dizendo que a velha literatura ateísta do século XVIII já envelheceu, não é
científica, é ingênua etc.
Nada há de pior do que semelhantes sofismas pretensamente
sábios que acobertam, seja a pendateria, seja a completa incompreensão do
marxismo.
Evidentemente, encontram-se não poucos elementos não
científicos e ingênuos nas obras ateístas dos revolucionários do século XVIII.
Porém, ninguém impede aos editores dessas obras de
abreviá-las, equipando-as de posfácios sucintos, nos quais sejam indicados o progresso
de crítica científica da religião que a humanidade executou, desde fins
do século XVIII, bem como as obras respectivas mais recentes etc.
O maior e o pior erro que um marxista poderia cometer
seria o de pensar que os muitos milhões de pessoas das massas populares – em
particular, os camponeses e os artesãos –, condenadas por toda a sociedade
contemporânea a permanecer no obscurantismo, na ignorância e em meio a
preconceitos, possam sair dessa escuridão tão somente através da linha direta
da cultura puramente marxista.
A essas massas é necessário que se forneça o material
mais variado relativo à propaganda ateísta, familiarizando-as com os
fatos dos mais variegados domínios da vida, abordando-as, dessa ou daquela
forma, a fim de dinamizar o seu interesse, despertando-as da letargia
religiosa, sacundido-as sob os mais variados aspectos, por meio dos mais variados
métodos etc.
As publicações desenvoltas, vivas e talentosas dos velhos
ateístas do século XVIII que atacam, engenhosa e abertamente, o obscurantismo
clerical dominante demonstrar-se-ão, a passo e passo, mil vezes mais avançadas
para despertar as pessoas da modorra religiosa do que as exposições cansativas do
marxismo, ressecadas, praticamente despidas de toda e qualquer ilustração de
fatos bem selecionados, exposições essas que prevalecem em nossa
literatura e que – é preciso confessá-lo - , freqüentemente, o deformam.
Todas as obras de Marx e Engels de alguma importância
encontram-se já traduzidas para o nosso idioma.
Não existe nenhum motivo decisivo para temer que o velho
ateísmo e o velho materialismo permaneçam, entre nós, sem contar com as
correções elaboradas por Marx e Engels.
O mais importante – e freqüentemente disso precisamente
se esquecem nossos pretensos marxistas que, na realidade, são comunistas mutiladores do
marxismo – é saber fazer com que as massas, ainda inteiramente incultas,
interessem-se em adotar uma atitude consciente relativamente às questões
religiosas e uma crítica consciente da religião.
Por outro lado, observem os representantes da moderna
crítica científica da religião.
Quase sempre esses representantes da burguesia educada
“complementam” suas próprias contestações dos preconceitos religiosos com
raciocínios que os desmascaram imediatamente enquanto escravos ideológicos da burguesia,
como “lacaios
diplomados do obscurantismo clerical.”
Dois exemplos :
O Professor R. Y. Vipper editou, em
1918, um livrinho intitulado “A Origem do Cristianismo” (Ed.
“Faros”, Moscou).[6]
Ao relatar os principais resultados da ciência
contemporânea, o autor não apenas deixa de combater os preconceitos e as ilusões
que constituem uma arma da Igreja enquanto organização
política, não apenas evita tratar dessas questões, senão ainda proclama,
abertamente, sua pretensão ridícula e das mais reacionárias de pairar
por cima de ambos os “extremos”: i.e. o idealismo e o materialismo.
Tal postura não passa de servilismo à burguesia
dominante, a qual investe, em todo o mundo, centenas de milhões de rublos dos
lucros que extrai dos trabalhadores no apoio à religião.
O renomado cientista alemão, Arthur Drews, rejeita em
seu livro, intitulado “O Mito de Cristo”, os preconceitos
e contos religiosos, demonstrando que não existiu nenhum Cristo.[7]
No fim do livro, declara-se a favor da religião, mas a
favor de uma religião algo renovada, refinada, esperta, capaz de opor-se “à
torrente naturalista que se fortalece, diariamente, cada vez mais.” (p.
238, 4a. Ed. Alemã, 1910).
Temos, aqui, um reacionário declarado, consciente, que
ajuda abertamente os exploradores a substituirem os velhos e apodrecidos
preconceitos religiosos por preconceitos novíssimos, ainda mais repugnantes e
infames.
Isso não quer dizer que não se deveria traduzir Drews.
Significa que os comunistas e todos os materialistas
conseqüentes devem, no mesmo passo em que realizam, em certa medida, sua
aliança com a parte progressiva da burguesia, desmascará-la impiedosamente,
quando descamba para o reacionarismo.
Significa que esquivar-se à aliança, estabelecida com os
representantes da burguesia no século XVIII, i.e. da época em que esta era
revolucionária, equivaleria a trair o marxismo e o materialismo, uma
vez que a “aliança” com os Drews, de uma ou de outra forma, em
uma ou em outra medida, é obrigatória para nós, na luta travada contra os
obscurantistas religiosos dominantes.
A Revista “Pod Znameniem Marksisma (Sob a
Bandeira do Marxismo)” que se propõe a ser o órgão do materialismo
militante, deve dedicar muito espaço à propaganda ateísta, à resenha da literatura
correspondente e à correção das imensas deficiências do nosso trabalho estatal,
realizado nesse terreno.
É particularmente importante utilizar livros e folhetos
que contenham muitos fatos concretos e comparações que demonstrem a relação dos
interesses e das organizações de classe da burguesia moderna com as
instituições religiosas e de propaganda religiosa.[8]
São extremamente importantes todos os materiais que se
relacionem com os Estados Unidos da América (USA), onde se revela, em menor
dimensão, a relação oficial, público-financeira, estatal, havida entre a
religião e o capital.
Porém, em vez disso,
torna-se-nos mais nítido o fato de que a assim denominada “democracia
moderna” – diante da qual os mencheviques, os
socialistas-revolucionários (SRs) e, em parte, os anarquistas etc. quebram a
cara, com tanta insensatez – não representa em si mesma senão a
liberdade de pregar aquilo que é conveniente à burguesia, sendo que a esta
convém que se pregue as idéias mais reacionárias possíveis, a religião, o
obscurantismo, a defesa da exploração etc.
Gostaria de alimentar a esperança de que a revista em
foco, que aspira a ser o órgão do materialismo militante, oferecerá ao nosso
público leitor uma resenha da literatura ateísta, acompanhada de referências,
informando a que círculos de leitores e em que contexto poderiam ser adequadas
essas ou aquelas obras, e indicando quais obras já foram publicadas entre nós –
publicadas devem ser consideradas apenas aquelas traduzidas de modo passável,
cujo numéro, porém, não é tão grande –, bem como o que deve ser ainda
publicado.
_____________________________________
Além da aliança, celebrada com os materialistas
conseqüentes, que não são membros do Partido Comunista Bolchevique, não é
de menor importância - senão talvez seja da maior importância para o trabalho que
o materialismo militante deve impulsionar – a aliança selada com representantes
das Ciências
Naturais modernas que se inclinem para o materialismo e não temam
defendê-lo e difundí-lo na luta contra as vacilações filosóficas da moda,
existentes no campo do idealismo e do ceticismo, predominantes na assim chamada
“sociedade
culta”.
O artigo de A. Timiriazev sobre a Teoria
da Relatividade de Albert Einstein, surgido no Nr. 1-2 da Revista “Pod
Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do Marxismo)”, permite abrigar a
esperança de que essa revista consiga concretizar também essa segunda aliança.[9]
É necessário dedicar a essa última aliança a maior
atenção
Cumpre recordar que, precisamente da brusca reviravolta
pela qual passam as Ciências Naturais modernas, brotam, a todo momento, toda uma
série de escolas e escolinhas, tendências e tendênciazinhas filosóficas
reacionárias.
Por isso, acompanhar as questões que a novíssima
revolução levanta, no domínio das Ciências Naturais, bem como atrair
para esse trabalho, na revista filosófica, os pesquisadores naturalistas,
constituem tarefas sem cuja resolução o materialismo militante não poderia ser,
em hipótese alguma, considerado nem materialismo nem militante.
Se, no primeiro número da revista em realce, Timiriazev
teve de fazer a ressalva de que, na Teoria de Einstein, este
mesmo – segundo as palavras de Timiriazev – não conduz nenhuma
campanha ativa contra os fundamentos do materialismo, dela já se aproveitou uma
massa imensa de representantes da inteligência burguesa de todos os países –
isso se refere não apenas ao próprio Einstein, mas a toda uma série
deles, talvez a maioria dos grandes transformadores das Ciências Naturais,
començado a fazê-lo a partir de fins do século XIX.
E, para não nos reportarmos a semelhante fenômeno de modo
inconsciente, devemos compreender que, sem uma sólida fundamentação filosófica,
nenhuma Ciência Natural, nenhum materialismo, pode sustentar a luta
contra a pressão das idéias burguesas e a restauração da concepção burguesa do
mundo.
A fim de manter essa luta, conduzindo-a até ao fim com o
mais pleno êxito, o cientista naturalista deve ser um materialista moderno, um partidário
consciente do materialismo que é apresentado por Marx, i.e. deve ser um
materialista dialético.
A fim de alcançar esse objetivo, os colaboradores da Revista “Pod
Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do Marxismo)” devem organizar
um estudo sistemático da dialética de Hegel, a partir do ponto de vista
materialista, i.e. a partir do ponto de vista daquela dialética que Marx aplicou
praticamente também em sua obra “O Capital” e em seus trabalhos
históricos e políticos, fazendo-o com tal êxito que, presentemente, cada dia do
despertar de novas classes para a vida e para a luta no Oriente – no Japão,
na Índia,
na China
-, i.e. de centenas de milhões de pessoas que constituem a maior parte da
população da terra e que eram, por sua inatividade e letargia históricas, até o
dia de hoje, a causa da estagnação e da podridão de muitos Estados adiantados
da Europa,
cada dia do despertar de novos povos e de novas classes para a vida, confirma,
sempre mais e mais, o marxismo.
Evidentemente, o trabalho dedicado a esse estudo, a essa
interpretação e a essa propaganda da dialética de Hegel é extremamente
difícil e, sem dúvida, as primeiras tentativas nesse sentido estarão
relacionadas com erros.
Porém, só não erra aquele que nada faz.
Fundando-se no modo como Marx aplicou, de modo
materialista, a concepção dialética de Hegel, podemos e devemos desenvolver
essa dialética em todos os seus aspectos, publicar na revista em tela excertos
das principais obras de Hegel, interpretá-los de modo
materialista, comentando-os, com exemplos, da aplicação da dialética por Marx,
bem como com exemplos da aplicação da dialética, no campo das relações
econômicas, políticas, exemplos esses que a história mais recente, em
particular a Guerra Imperialista e a Revolução dos nossos dias,
fornecem-nos em quantidade extraordinamente ampla.
O grupo de redatores e colaboradores da Revista “Pod
Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do Marxismo)” deve formar, na
minhão opinião, algo assim como uma “sociedade dos amigos materialistas da
dialética hegeliana.”
Se souberem pesquisar e se aprendermos a ajudá-los, os
cientistas naturalistas modernos encontrarão na interpretação materialista da
dialética de Hegel uma série de respostas para as
questões filosóficas que são colocadas pela revolução no domínio das Ciências
Naturais, nas quais “se
enroscam” na reação os admiradores intelectuais da moda burguesa.
Sem colocar a si mesmo essa tarefa e sem cumprí-la
sistematicamente, o materialismo não pode surgir como
materialismo militante.
Para empregar uma expressão de Schendrin, permanecerá
sendo não tão combativo quanto combatido.
Sem isso, os grandes cientistas naturalistas continuarão
a ser, muito freqüentemente, como até o presente, impotentes em suas conclusões
e generalizações filosóficas.
Pois, as
Ciências
Naturais progridem tão rapidamente, atravessam um período tão profundo de
reviravolta revolucionária em todas as áreas, que não se podem arranjar, em
caso algum, sem conclusões filosóficas.
A título de conclusão, apresentarei um exemplo que não se
relaciona com o domínio da filosofia, mas que, em todo caso, refere-se ao
terreno das questões sociais às quais a Revista “Pod Znameniem Marksisma (Sob a
Bandeira do Marxismo)” também pretende direcionar a sua atenção.
Trata-se de um dos exemplos de como a pseudociência
serve, na realidade, de instrumento para as concepções reacionárias mais grosseiras
e ignominiosas.
Há pouco tempo, enviaram-me o Nr. 1 da Revista
“Ekonomist (O Economista)” (1922), editada pela XI Seção da “Sociedade
Técnica Russa”.[10]
O jovem comunista que me enviou essa revista –
certamente, por não possuir tempo para familiarizar-se com o seu conteúdo –
transmitiu-me, descuidadosamente, um parecer extraordinariamente satisfatório
sobre ela.
Na realidade, essa revista é – não sei em que medida
conscientemente – um órgão de imprensa dos feudais modernos que, naturalmente, acobertam-se
sob o manto da cientificidade, da democracia etc.
Certo Sr. P. A. Sorokin publica na revista
em destaque vastas investigações pretensamente “sociológicas”,
intituladas “Acerca da Influência da Guerra”.
Esse artigo científico está repleto de citações
científicas relativas aos trabalhos “sociológicos” do autor e de seus
inúmeros mestres e colegas estrangeiros.
À página 83, lemos uma amostra do tipo de sua sabedoria:
“Presentemente, a cada
10.000 casamentos que se realizam em Petrogrado, ocorrem 92,2% divórcios, uma
cifra fantástica. Além disso, de entre 100 casamentos dissolvidos, 51% deles
duraram menos de um ano, 11%, menos de um mês, 22%, menos de dois meses, 41%
menos de 3 a 6 meses, sendo que apenas 26% duraram mais de 6 meses.
Esses números afirmam
que o moderno casamento legal é uma forma que, em essência, encobre as relações
sexuais extra-conjugais, oferecendo a possibilidade aos amantes “da maçã” de
satisfazer “legalmente” seu “apetite”.” (Ekonomist<O Economista>, Nr. 1,
pp. 83 e s.)
Não resta dúvida que tanto esse senhor quanto a referida
sociedade técnica russa, que edita a revista acima mencionada, nela publicando
semelhantes raciocínios, contam-se a si mesmos entre os partidários da
democracia e consideram ser uma grandíssima ofensa chamá-los pelo nome que, em
verdade, merecem, i.e. feudais, reacionários, “lacaios diplomados do
obscurantismo clerical.”
O mais ínfimo conhecimento da legislação dos países
burgueses sobre o casamento, o divórcio, os filhos extra-conjugais, bem como
sobre a situação fática, existente nesse contexto, demonstra a qualquer pessoa
que se interesse por esse tema que a moderna democracia burguesa, até mesmo nas
repúblicas burguesas mais democráticas, revela-se, precisamente no
sentido referido acima, como feudal em relação à mulher e aos filhos
naturais.
Isso não impede, evidentemente, que os mencheviques, os
socialistas-revolucionários (SRs) e uma parte dos anarquistas, bem como todos
os seus partidos políticos correspondentes no Ocidente, continuem a
gritar acerca da democracia e de sua violação, empreendida pelos bolcheviques.
Na realidade, a Revolução Bolchevique é,
precisamente, a única revolução democrática conseqüente, em relação às questões
de casamento, divórcio e situação dos filhos naturais
E essa é uma questão que respeita, do modo mais direto,
aos interesses de mais da metade da população, em todo e qualquer país.
Apesar da grande quantidade de revoluções burguesas que a
precederam, qualificando-se a si próprias de democráticas, tão somente a Revolução
Bolchevique executou, pela primeira vez, uma luta decisiva nesse
sentido, tanto contra a reação e o feudalismo, como contra a habitual
hipocrisia das classes governantes e possidentes.
Se ao Sr. Sorokin a cifra de 92 divórcios
para cada 10.000 casamentos parece fantástica, resta-nos supor que o autor em
destaque ou viveu e se educou em algum convento tão isolado da vida que é
duvidoso que alguém creia na existência do mesmo ou, então, que referido autor
dá as costas à verdade, a fim de agradar a reação e a burguesia.
Toda e qualquer pessoa que conheça um pouco as condições
sociais, existentes nos países burgueses, saberá que o número real de divórcios
efetivos – evidentemente, também os não sancionados pela Igreja e pela lei -, por todas
as partes, é incomensuravelmente maior.
Nesse sentido, a Rússia distingue-se de outros países
apenas pelo fato de que as leis não canonizam a hipocrisia e a situação de
falta de direitos da mulher e de seus filhos, senão declaram, abertamente e em
nome do poder do Estado, uma guerra sistemática contra toda a hipocrisia e toda
a falta de direitos.
A revista marxista há de conduzir também uma guerra
contra semelhantes feudais “eruditos” dos nossos tempos.
Certamente, uma parte não insignificante deles recebem
até mesmo honorários do Estado e encontram-se a serviço do Estado, com a função
de educar a juventude, apesar de que, para tais objetivos, servem em medida não
maior do que o fariam pessoas notórias degeneradas, desempenhando o papel de
assistentes, em estabelecimentos de ensino, dedicados à formação de
menores.
A classe trabalhadora da Rússia soube conquistar o
poder, porém não aprendeu ainda a utilizá-lo.
Caso contrário, desde muito tempo, haveria despachado, da
maneira mais cortês possível, para os países da “democracia” burguesa
semelhantes professores e membros das sociedades científicas.
Lá, é o lugar mais adequado para feudais como esses.
Mas, há de logo aprender, se não lhe faltar vontade de
aprender.
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1]Cf. LENIN,
VLADIMIR ILITCH ULIANOV. O Znatchenii Voinstvuiuschevo Materializma (Sobre
o Significado do Materialismo)(12 de Março de 1922), in: V. I. Lenin. Polnoe
Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 45, pp. 23 e
s. O artigo de Lenin em destaque, agora traduzido para a língua portuguesa,
foi elaborado, com vistas a ser incluído no Nr. 3 da Revista “Pod Znameniem Marksisma
(Sob a Bandeira do Marxismo)”, a qual deveria ser editada para o XI
Congresso do Partido Comunista Bolchevique. Tal como N. K.
Krupskaya destacou, o presente artigo de Lenin foi redigido no
momento em que se recuperava fisicamente, em março de 1922, na aldeia de Korzinkino.
Examinando na ocasião diversos livros e brochuras, dedicados a temas
anti-religiosos, teve a oportunidade de estudar o famoso livro de Arthur
Drews, intitulado “Die Christusmythe (O Mito de Cristo)”,
bem como o de Upton Sincler, “Profits of Religion (Os Lucros da Religião)”,
esse último publicado, em língua russa, em 1925, sob o título ”Religia
i Najiva(Religião e Lucro)”. Segundo nos informa Krupskaya: “Quando saíamos para passear, conversávamos
sobre Drews e Sincler, sobre o modo
como entre nós a propaganda anti-religiosa era impulsionada superficialmente, o
quanto era a sua vulgaridade, ao relacionar-se sem profundidade com as Ciências
Naturais, pouco desvendando os aspectos sociais da religião, pouco satisfazendo
as reivindicações dos trabalhadores, tão colossalmente expandidas pelos anos da
revolução.” Cf.. KRUPSKAYA, NADEJDA
KONSTANTINOVNA. Pod Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do Marxismo), Nr.
1, 1933, pp. 148 e s. Tendo concluído a redação do artigo em realce em 12 de
março de 1922, Lenin não deteve seu trabalho de elaboração do tema. Em uma
nota, dirigida a seu secretário, assinalou: “Peço-lhe,
urgentemente, introduzir no segundo exemplar (Nr. 2), alterações e
complementações, feitas por mim no exemplar Nr. 1, enviando este, com pedido de
recebimento, à revista Pod Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do Marxismo).” Cf.
LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV.
Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 35, p.
340. Nessa ocasião, Lenin empreendeu acréscimos em seu artigo, versando sobre os
modernos representantes da crítica da religião, Drews e Vipper. Daí, sua
anotação « + Drews + Vipper », na declaração « Da Redação », no
exemplar da Revista “Pod Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do
Marxismo)”, Nr. 1-2, indicando, de forma geral, a extrema importância
de utilização de livros e folhetos adequados, para a condução da propaganda
anti-religiosa.
[2] Cf. TROTSKY, LÉON
DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Testament(Testamento) (20.01.1940), in : Trotsky’s
Diary in Exile, Cambridge : Massachussetts, 1958, pp. 3 e s.
[3] Anoto, oportunamente, que, em inúmeras traduções
do presente artigo de Lenin, realizadas para línguas
neolatinas e germânicas por stalinistas, maoístas e seus acólitos, o parágrafo
retro-indicado, o qual destaca expressamente o mais pleno acerto das posições
de Trotsky
relativamente à defesa do materialismo militante, encontra-se
inteiramente suprimido. No original, em língua russa, o parágrafo de Lenin
em tela possui a seguinte redação : “Ob
obshikh zadatchakh jurnala «Pod Znameniem Marksisma» tov. Trotsky v N° 1 -2 skazal ujie vcie suschestvennoie i skazal
priekrasno.” Quanto à Revista “Pod Znameniem Marksisma (Sob a
Bandeira do Marxismo)”, cumpre anotar que se tratou de uma revista
filosófica e sócio-econômica, criada pelo Outubro Vermelho, com o fim de
propagandear, de modo militante, o materialismo histórico-dialético e o
ateísmo
de Marx e Engels. Foi publicada a partir de janeiro de 1922. Desde
1924, porém, passou a converter-se, crescentemente, em instrumento ideológico
do stalinismo
burocrático-operário contra-revolucionário, mantendo, porém, algumas
posições de defesa de aspectos do marxismo revolucionário. Entre 1933 e 1935,
surgiu bimestralmente. Em junho de 1944, foi, finalmente, eliminada por Stalin
e seus asseclas que repudiavam, essencialmente, os principais fundamentos da
herança ideológica dialético-materialista, produzida por Marx e Engels.
[4] Sobre o tema, examinem-se as seguintes palavras de
Joseph
Dietzgen : “Desdenhamos, do fundo
d’alma, a frase grandíloqua sobre a “erudição e a ciência”, sobre os “bens
ideais”, nos lábios dos lacaios diplomados que, presentemente, tanto mistificam
o povo com o idealismo falsificado, quanto os padres idólatras, outrora,
emgabelavam-no com os primeiros dados recebidos então sobre a origem.” Cf. DIETZGEN, JOSEPH. Izbrannyie
Filossofskie Sotchinenia (Obras Filosóficas Escolhidas), Moscou : Gosud. Izd.,
1941, p. 261.
[5] Acerca do tema, vide, em especial, ENGELS, FRIEDRICH. Flüchtlingsliteratur
(Literatura do Exílio)(Maio de 1874 – Abril de 1875), in : Marx & Engels
Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 18, Berlim : Dietz, pp. 521 e s.
[6] Nesse sentido, vide VIPPER, ROBERT YUREVITCH. Voznikonovenie Christianskoi Literaturu,
Moscou-Leningrado, 1946 : Akad. Nauk CCCP, pp. 5 e s.
[7] Acerca do tema, vide p.ex. DREWS, ARTHUR. Die Christusmythe (O Mito de Cristo), Jena : Diederichs, 1909, pp. III e s.
[8] Na primeira redação do artigo de Lenin, constava nessa
passagem o seguinte: “Há alguns dias,
ocorreu-me folhear o livrinho de Upton Sincler, intitulado “Os Lucros da
Religião”. Sem dúvida, o autor possui insuficiências na abordagem da questão e
na maneira de sua tratação. Porém, o valor desse livrinho reside no fato de que
foi redigido de modo vivaz, fornecendo muitos fatos e comparações ...” Sobre
o tema, vide tb. SINCLAIR, UPTON. The
Profits of Religion. A Study of Supernaturalism as a Source of Income and a
Shield to Privilege (Os Lucros da Religião. Um Estudo sobre o Sobrenaturalismo
enquanto Fonte de Renda e Escudo de Privilégios)(1918), New York : Prometheus –
Great Mind Series, 2000, pp. 3 e s. Segundo Krupskaya, o livro de Sinclair
havia-lhe sido enviado pelo próprio autor, juntamente com uma carta, na
qual Sinclair
se referia à “luta que travava
por meio de seus romances.” No que tange ao manuseio do livro em realce por
Lenin, informa Krupskaya: “Lenin armou-se de um dicionário de inglês e
começou a lê-lo no cair da noite. O livrinho, entretanto, pouco o contentou
relativamente à propaganda anti-religiosa, porém apreciou sua crítica à
democracia burguesa.” Cf. KRUPSKAYA,
NADEJDA KONSTANTINOVNA. Pod Znameniem Marksisma (Sob a Bandeira do
Marxismo), Nr. 1, 1933, p. 148.
[9] Acerca do tema, vide TIMIRIAZEV, ARKADY KLIMENTOVITCH. Izbrannye Sotchinenya v 4-kh
Tomax (Obras Escolhidas em 4 Tomos), Moscou
: Ogiz.-Sel’chorgiz, 1948, pp. 53 e s.;
IDEM. Otcherki po Istorii Fisiki v Rossii (Ensaios acerca da História da
Física na Rússia), Moscou : Utchpedigiz Minist. Prosv. CCCP, 1949, pp. 7 e s.
[10] Cumpre anotar que a Revista “Ekonomist (O
Economista)” foi a revista da seção econômico-industrial da Sociedade
Técnica Russa, na composição da qual haviam ingressado representantes
da inteligência técnica da burguesia e ex-proprietários de empresas
capitalistas da Rússia. O órgão de imprensa em tela possuía uma atitude
evidentemente hostil em relação ao Poder Soviético. Operou, na cidade
de Petrogrado,
entre dezembro de 1921 e junho de 1922. Na capa do Nr. 1 da revista aqui
referida indica-se, porém, o ano de 1922. Lenin qualificou tal revista de “centro
notório dos guardas brancos”. O Nr. 1 de “Ekonomist (O Economista)” foi
enviado a Lenin pelo seu próprio redator, D. A. Lutokhin, e
repassado às suas mãos pelo jovem comunista N. P. Gorbunov.