MARXISMO REVOLUCIONÁRIO, TROTSKYMO,
E QUESTÕES ATUAIS DA REVOLUÇÃO
SOCIALISTA INTERNACIONALISTA
TEXTOS DE LENIN, SVERDLOV E TROTSKY
SOBRE A REVOLUÇÃO ALEMÃ DE 1918-1919:
FUNDAMENTOS DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO PROLETÁRIO
INTERNACIONALISTA
Telegrama a Iossif V. Stalin, Serguei K.
Minin, Kliment E. Voroshilov :
É Necessário que Vocês Obedeçam
Incondicionalmente,
Apliquem as Decisões do Conselho de
Guerra Revolucionário da República,
Nenhum Tipo de Conflito Deverá Existir,
Início da Revolução na Alemanha
2 DE OUTUBRO DE 1918
JAKOB M. SVERDLOV[1]
Concepção e Organização Portau Schmidt von
Köln
Compilação e Tradução Asturig Emil von
München
Janeiro de 2006 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/LeninSverdlovTrotskyRevAlemaCapa.htm
A Stalin, Minin e Voroshilov, Conselho de
Guerra (VoenSoviet) de Tsaritsyn,
Cópia ao Comitê de Comunistas, a Magdov,
Hoje, ocorreu a reunião do Bureau do Comitê Central (TsK)
e, a seguir, de todo o Comitê Central (TsK).
Entre outros temas,
foi discutida a questão relativa à obediência de todos os
companheiros do Partido às decisões, emanadas dos órgãos centrais.
Não é necessário demonstrar a necessidade da mais
incondicional subordinação.
A posição do Conselho de Guerra Revolucionário da
República (RevVoenSoviet) foi acolhida pelo Comitê Executivo Central de Toda
a Rússia (VTsIK).
Amanhã, elaborarei uma ordem e a transmitirei por
telégrafo.
Todas as decisões do Conselho de Guerra Revolucionário da
República (RevVoenSoviet) são obrigatórias para os Conselhos de Guerra dos Frontes
(VoenSoviet Frontov).[2]
Sem obediência não existem Forças Armadas Unificadas.
Não deixando de suspender a execução da decisão, pode-se
dela recorrer a órgãos superiores – ao Conselho dos Comissários do Povo (SovNarkom)
ou ao Comitê Executivo Central de Toda
a Rússia (VTsIK) e, em casos extremos, ao Comitê Central (TsK).
Propomos, assim, insistentemente, que vocês apliquem as
decisões do Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet).
No caso de as considerarem prejudiciais,
incorretas, propomos que venham até aqui, para que debatamos em conjunto,
dando, porém, acolhimento à correspondente decisão.
Nenhum tipo de conflito deverá existir.
Transmitirei a incumbência ao Comitê
Central (TsK).[3]
Sobre a Alemanha, posso
informar-lhes que, nesse país, realizam-se tentativas de formar um corpo
ministerial de coalizão, responsável perante o Parlamento, do qual participem
todos os partidos parlamentares, salvo os sociais-democratas independentes e
os conservadores,
que se recusaram a nele ingressar.
Os candidatos da Social-Democracia Alemã
chamam-se Friedrich Ebert, que surge como Vice-Chanceler e Ministro dos
Assuntos Internos, Carl Legien, Ministro do Comércio, e Albert
Südekun, Ministro das Finanças.
Condições elaboradas pelos seguidores de
Philipp
Scheidemann revestem o acordo básico.
Estamos caracterizando os acontecimentos
que se processam na Alemanha como sendo o início da revolução.
O rápido desenvolvimento subseqüente dos
eventos é inevitável.
Amanhã, ocorrerá uma sessão conjunta do Comitê
Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK), do Conselho dos Comissários
do Povo (SovNarkom), do Soviete de Moscou, dos Comitês
Sindicais e de Fábrica, dos Sovietes Distritais.
Será publicado um pronunciamento, a ser
firmado por Lenin, na qualidade de Presidente do Conselho dos Comissários do
Povo (PredSovNarkoma).[4]
As idéias básicas desse documento são as
seguintes :
Na Alemanha, desencadeou-se uma crise
política, o Governo encontra-se desordenado e não conta com o apoio das massas.
A questão há de findar com a passagem do
poder para as mãos do proletariado.
A tática dos bolcheviques demonstrou-se
correta.
Agora, não violaremos a Paz
de Brest.
Porém, já estaremos colocando a questão
da preparação do auxílio, a ser conferido aos trabalhadores alemães, em sua
severa luta, travada contra o seu próprio imperialismo e o imperialismo
britânico.
É necessário começarmos a preparar-lhes
pão.
É imprescindível organizar as Forças
Armadas, de modo ainda mais vigoroso do que antes, fortificando, muitas
vezes mais, os seus efetivos.
As tentativas de estabelecimento de
acordos, firmados entre os imperialistas alemães e britânicos contra nós, são
possíveis.
Devemos acelerar o trabalho de preparação,
decuplicar nossas forças.
A Bulgária e, além dela, também a Turquia
deram início a negociações acerca de um armistício, a ser concluído com a Entente,
tendo obtido resultado positivo.
Estão sendo enviados exércitos alemães
para a cidade de Sofia.
Em Sofia, está ocorrendo uma luta entre
alemães e búlgaros.
Comunicarei a resolução da reunião de
amanhã, por meio de telégrafo.
Respondam, imediatamente, com uma
decisão acerca da questão da subordinação.
Saudações,
Sverdlov
Presidente do Comitê Executivo Central
de Toda a Rússia (VTsIK)
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1]Cf. SVERDLOV, JAKOB MIKHAILOVITCH. Telegramma Iossif V. Stalinu,
Serguei K. Mininu, Kliment E. Voroshilovu (Telegrama a Iossip V. Stalin, a
Serguei K. Minin, a Kliment E. Voroshilov) (2 de Outubro de 1918), in: Yakov M.
Sverdlov. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (J. M. Sverdlov. Obras
Escolhidas em Três Volumes), Vol. 3, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo –
Polititcheskoi Literatury, 1960, p. 28.
[2] Visando à compreensão de
todo o significado político do presente telegrama de Sverdlov, dirigido a Stalin,
Minin e Voroshilov, com cópia a Magdov, – ora traduzido, pela
primeira vez, da língua russa - permito-me remeter o leitor à leitura de TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in:
Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de
Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e
s.; IDEM. Kak Voorujalas’ Revoliutsia (Como a
Revolução se Armou), Vol. 1, Moscou : Vyssh. Voennyi Red. Soviet, 1923, pp. 350
e s.; IDEM. Stalin (Stalin)(1941),
Vol. 2, especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e
s.; SVERDLOV,
JAKOB MIKHAILOVITCH. Vozzvanie
Vserossiiskovo Tsentral’novo Ispolnitel’novo Komiteta po Povodu Pokushenia na
V. I. Lenina (Apelo do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia por Ocasião do
Atentado contra a Vida de V. I. Lenin)(30 de Agosto de 1918), in: Yakov M.
Sverdlov. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (J. M. Sverdlov. Obras Escolhidas
em Três Volumes), Vol. 3, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo –
Polititcheskoi Literatury, 1960, pp. 5 e s.; IDEM. O Pokushenie na V. I. Lenina Vystuplenie na Zasedanii VTsIK
(Sobre o Atentatdo contra a Vida de V. I. Lenin. Intervenção na Sessão do
Comitê Executivo Central de Toda a Rússia)(2 de Setembro de 1918) , in :
ibidem, pp. 7 e s. Suplementarmente,
o leitor interessado poderá examinar criticamente ANTONOW-OWSSEJENKO, ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin.
Retrato de uma Tirania), Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 20 e
s.
[3]Resumidamente acerca do contexto histórico da presente questão em tela,
considero importante esclarecer que a acusação de insubordinação e
desobediência, aqui formulada por Sverdlov,
enquanto Presidente do Conselho
Executivo Central de Toda a Rússia (VTsIK), contra Stalin, Minin e Voroshilov - todos estes membros do Conselho de Guerra (VoenSoviet) de
Tsaritsyn, em 2 de outubro de 1918
-, deveu-se, antes de tudo, aos seus mais abertos desacatamentos e
transgressões no Fronte Sul da Guerra
Civil Russa das medidas e resoluções adotadas pelo supremo Conselho
de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet), dotado esse
último da atribuição máxima de defender militarmente a República Soviética
contra agressões bélicas imperialistas e brancas, contra-revolucionárias.
A insubordinação de Stalin,
Voroshilov e Minin tinha tanto mais gravidade, porque Lenin
encontrava-se, então, na cidade de Gorki, recuperando-se dos ferimentos
decorrentes do atentado perpetrado contra sua vida, em 30 de agosto de 1918,
não obtendo, por isso, permissão médica para participar de suas atividade
normais de direção do Estado Proletário Soviético.
Iniciava-se a Revolução Proletária da Alemanha, que viria a ser acaudilhada
por Karl
Liebknecht e Rosa Luxemburgo. Vigia à época, além disso, a proclamação
de Sverdlov
sobre o Terror Vermelho que exigia máxima disciplina
marxista-engelsiana dos revolucionários no trato com as forças imperialistas e
brancas. Nesse sentido, vide SVERDLOV, JAKOB MIKHAILOVITCH. Vozzvanie Vserossiiskovo Tsentral’novo Ispolnitel’novo
Komiteta po Povodu Pokushenia na V. I. Lenina (Apelo do Comitê Executivo
Central de Toda a Rússia por Ocasião do Atentado contra a Vida de V. I.
Lenin)(30 de Agosto de 1918), in: Yakov M. Sverdlov. Izbrannye Proizvedenia v
Trekh Tomakh (J. M. Sverdlov. Obras Escolhidas em Três Volumes), Vol. 3, Moscou
: Gosudarstvennoe Izdatel’stvo – Polititcheskoi Literatury, 1960, pp. 5 e s.; IDEM. O Pokushenie na V. I. Lenina
Vystuplenie na Zasedanii VTsIK (Sobre o Atentatdo contra a Vida de V. I. Lenin.
Intervenção na Sessão do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia)(2 de
Setembro de 1918) , in : ibidem, pp. 7 e s.
Sob o Governo
de Lenin, o Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet :
Revoliutsionny Voenny Soviet Respubliki) foi criado, em 2 de setembro
de 1918, a partir de uma reorganização do antigo Conselho de Supremo de Guerra,
instituído em 4 de março de 1918, enquanto órgão colegiado do Supremo Poder Militar
(Kollegial’ny Organ Vysshei Voennoi Vlasti) e de Direção Política nos Frontes de
Guerra, nos Exércitos, nas Frotas e Flotilhas (Polititcheskoi Rukovodstvo fo
Frontakh, Armiakh, Flotakh i Flotiliakh). Acerca do tema, vide DEKRETY SOVIETSKOI VLASTI (Decretos do
Poder Soviético), Vol. 1 e 2, Moscou : Gosudarstvennoie Izdatiel’stvo,
Polititcheskoi Literatury, 1957, pp. 1 e s.
A Presidência de ambos
esses órgãos militares supremos foi, sob o Governo de Lenin, sempre exercida
por León
Trotsky, cumulativamente com suas atividades de Comissário do Povo para Assuntos
da Guerra e da Marinha (Narkom po Voennym i Morskim Delam) e membro do Politbureau
do Partido Comunista Bolchevique.
Além disso, em 2 outubro
de 1918, eram membros do RevVoenSoviet o comandante-em-chefe
de Todas as Forças Armadas Vermelhas da Rússia Soviética, Jucums I. Vacietis (tb. Iokaim I.
Vatsetis)(1873-1938), e os vogais Ivan Smirnov (1880-1936),
Arkady Rosenholtz (1883-1938), Fiodor F. Raskolnikov (1892 –
1939), Ephraïm Sklyansky (1892-1925), Nikolai I. Muralov (1877
– 1937) e Konstantin Yurenev (1889-1938). Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN.
Stalin (Stalin)(1941), Vol. 2,
especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e
s.
Quase todos esses
dirigentes do trabalho militar revolucionário-soviético foram eliminados por Stalin
e seus prosélitos, antes mesmo ou durante os Processos de Moscou,
contando, pois, com a mesma sorte havida por outros destacados marxistas
revolucionários russos, comandantes das Forças Armadas Vermelhas, tais quais
Mikhail
V. Frunse (1885 – 1925), Mikhail N. Tukhatchevsky (1893 –
1937), Vitaly M. Primakov (1897 – 1937), Jeronim P. Uborevitch
(1896 – 1937), Jan B. Gamarnik (1894-1937), Yona E. Yakir (1896-1937),
Vitovt
K. Putna (1893-1937), Robert P. Eideman (1895-1937), Boris
M. Feldman (1890-1937), August I. Kork (1887-1937), Pavel
I. Dybenko (1889-1938), Konstantin A. Mekhonoshin (1889 –
1938), Vassily K. Blücher (1890 – 1938), Vladimir A. Antonov-Oveseienko
(1883 – 1938), Jakob I. Alksnis (1897-1938), Aleksandr I. Egorov (1883
– 1939), Ivan F. Fediko (1897-1939) entre outros, acusados, quase todos
eles, de serem inimigos do povo e traidores da Pátria Soviética.
No que tange mais
propriamente ao desenvolvimento dos fatos em tela, anoto que, já em junho de
1918, havia-se abalado o Poder Soviético na cidade de Baku,
situada no Azerbaijão, ameaçada de intervenção militar pela Turquia,
que agia a serviço do imperialismo britânico. Baku era a citadela do
bolchevismo na região do Transcáucaso. Por ser rica em
petróleo, era cobiçada por forças
britânicas, turcas e alemãs. Ali, os mencheviques operavam de modo desleal em
relação à direção política e militar bolchevique.
Consta que o Presidente
do Conselho dos Comissários do Povo de Baku, Stepan G. Shaumian (1878-1918),
prestigiado bolchevique da velha guarda, enviara, naquele mesmo mês de junho de
1918, uma mensagem de alarme a Moscou, solicitando ajuda militar.
Isolados do centro, os bolcheviques de Baku procuravam manter contato com Moscou
através das cidades de Astrakhan, situada no Sul
da Rússia, Kushka, no Turquemenistão, e
Tashkent, no Usbequistão.
Paralelamente, na reunão
do Conselho
dos Comissários do Povo da Rússia Soviética (SovNarkom) de 28 de maio
de 1918, Aleksandr Tsuryupa, encarregado das questões de abastecimentos,
comunicara a Lenin que Stalin prontificara-se a partir em
direção ao sul, a fim de impulsionar atividades de remessa de alimentos para
os grandes centros metropolitianos e industriais do país, contando com a
anuência e colaboração de Aleksandr Schliapnikov,
Comissário do Povo para Assuntos de Abastecimentos.
Em 29 de junho de 1918, Lenin
enviou um telegrama de saudações “ao valoroso companheiro Shaumian”,
comunicando-lhe acerca da chegada de Stalin à cidade de Tsaritsyn
(posteriormente denominada Stalingrado, presentemente Volgogrado),
situada no Fronte Sul da Guerra Civil Russa. Nesse mesmo telegrama, Lenin
pediu a Shaumian que enviasse cartas a Moscou por intermédio de Stalin.
Vide LENIN, VLADIMIR ILITICH ULIANOV.
Telegramma S. G. Shaumianu (Telegrama a S. G. Shaumian)(29 de Junho de 1918),
in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL,
1965, Vol. 50, p. 108.
Fracassando inteiramente
na resolução das questões relativas ao impulsionamento das atividades de
abastecimento e remessa de alimentos a partir do Sul da Rússia aos grandes
centros, Stalin, valendo-se de suas atribuições de membro do Comitê
Central do Partido Comunista Bolchevique e Comissário do Povo para Assuntos
de Nacionalidades, passou a ocupar-se dos problemas militares, em Tsaritsyn,
exercendo inflexível e despoticamente suas funções, convertendo-se rapidamente
no Ditador
de Tsaritsyn e do Fronte Sul. Tsaritsyn era, em 1918, o principal
bastião da Oposição Militar das Forças Armadas Vermelhas, equacionada
contra a direção de Trotsky e do RevVoenSoviet da República. Nessa
cidade, reinava a anarquia administrativa, o espírito de partisanismo, o
desacato às ordens dos órgãos centrais da Revolução Proletária, a ilimitada
agressividade contra os especialistas militares. Em Tsaritsyn, agrupavam-se
já em torno de Kliment I. Voroshilov (1881-1969) – ex-capitão das Forças Armadas Czaristas,
bolchevique, porém de perfil pouco escrupuloso, descarado, ladino,
simuladamente intelectual, profundamente social-democrático nacionalista, dado
ao consumo desmesurado de bebidas alcóolicas, apelidado de “Serralheiro de Lugansk” -,
e de Serguei K. Minin (1882-1962)
– bolchevique, prefeito de Tsaritsyn, orador apaixonado, porém
dotado de caráter profundamente demagógico e ingênuo - destacamentos revolucionários,
comandados por oficiais oposicionistas, não-comissionados, procedentes do
campesinato do Cáucaso Setentrional, bem como inúmeros adeptos do
partisanismo, hostis à centralização do corpo militar soviético e à difusão
sistemática de conhecimentos castrenses e beligerantes de mais larga amplitude
de visão aos soldados vermelhos. Nos círculos capitaneados por Voroshilov,
cultivava-se animosidade contra os
especialistas das academias militares e dos supremos quartéis-generais de Moscou. Os dirigentes militares de Tsaritsyn relacionavam-se muito mal com todos os Comandos Militares dos Frontes Soviéticos. Sua relação com o Comando Militar Central de Moscou limitava-se a
abusivos requerimentos de munição.
Nos poucos meses em que Stalin passou em Tsaritsyn dedicou-se a organizar, em bases sólidas, a
partir dos bastidores, na penumbra burocrática, a Oposição Militar das
Forças Armadas Vermelhas contra a direção de Trotsky,
na medida em que incitava sistematicamente à violação das ordens do RevVoenSoviet
da República, nisso contando com os serviços de Voroshilov e Minin. Reclamações
do Comando Militar Central da
Rússia contra Tsaritsyn surgiam, todos os dias, pois, nesssa cidade, era impossível alcançar-se
a execução de ordens emandas do centro ou mesmo compreender-se o que lá se
fazia, na medida em que não forneciam respostas a nenhum questionário
imaginável.
Quando em julho de 1918,
a crise em Baku atingiu o seu ápice, Lenin exigiu que Stalin
mantesse permanente contato com Shaumian. Vide LENIN, VLADIMIR ILITICH ULIANOV. Telegramma I. V. Stalinu
(Telegrama a I. V. Stalin)(30 de Junho de 1918) in: V. I. Lenin. Polnoe
Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1965, Vol. 50, p. 108.
Em 7 de julho de 1918, Stalin
enviou, a partir da cidade de Tsaritsyn, uma carta a Lenin,
requerendo fosse concedido “a alguém (ou a mim mesmo) poderes
excepcionais de caráter militar na região do Sul da Rússia”,
acrescentando, nessa mesma carta, as seguintes palavras: “Esteja seguro que minha mão não
tremerá”. Vide STALIN, IOSSIP
VISSARIANOVITCH DJUGASHVILI. Pis’mo V. I. Leninu (Carta a V.
I. Lenin)(07.07.1918), in : I.V.D. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia (Obras
Completas), Moscou : GIPL, Vol. 4. Dirigindo nova carta a Lenin, em 10 de julho de
1918, em que exigia abertamente fosse Trotsky impedido de conferir novas
missões a seus subordinados, sob pena de inteira perda do Norte do Cáucaso,
requeria a Lenin o envio de aviões, tanques de guerra e obuses de seis
polegadas, alegando que : “Cereais, existem muitos no Sul ... A
questão dos meios alimentícios está naturalmente relacionada com a questão
militar. Para poder avançar na questão, necessito de plenos poderes militares.”
Vide IDEM. Pis’mo V. I. Leninu
(Carta a V. I. Lenin)(10.07.1918), in :
I.V. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia (Obras Completas), Moscou : GIPL, Vol.
4. A seguir, em 31 de agosto, Stalin escreveu a Lenin,
a fim de que este lhe enviasse “do modo mais urgente possível“, “rompendo
todos os obstáculos”, “alguns navios torpedos de tipo leve e algo como dois
submarinos”, a fim de que Baku, o Turquestão e o Norte
do Cáucaso fossem conquistados, e conclui sua missiva da seguinte forma
: “Jmu
ruku moiemu dorogomu i liubimomu Il’itchu. Vash Stalin (Aperto as mãos do meu
caro e amado Ilitch. Seu Stalin)” Vide IDEM. Pis’mo V. I. Leninu (Carta a V. I. Lenin)(31.08.1918), in : I.V. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia
(Obras Completas), Moscou : GIPL, Vol. 4.
Diante da gravidade da
situação no Sul da Rússia, o RevVoenSoviet da República já havia
ordenado que o VoenSoviet do Fronte Sul remetesse, impostergavelmente, auxílio
a Baku.
Nada obstante, Stalin decidiu-se por enviar, apenas no fim de agosto de 1918,
uma pequena unidade de combate para Baku, precisamente em um momento em
que o Poder Soviético já tinha sido derrubado por forças locais
daquela cidade. Vide ANTONOW-OWSSEJENKO,
ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania),
Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 20 e s.
O novo Governo
de Baku, a Ditatura do Cáspio Central, solicitou a unidades das Forças
Armadas Britânicas que ocupassem a região. Em meados de setembro de
1918, tropas turcas marcharam sobre Baku. A essa altura, Shaumian
e seus companheiros bolcheviques já se encontravam no cárcere. Entrementes,
porém, os bolcheviques de Baku encarcerados lograram
empreender uma fuga, dirigindo-se, por mar, para Astrakhan. Os oficiais do
navio em que se encontravam, mudaram, porém, o curso da embarcação, rumando
para Krassnovodsk,
onde vieram a entregar Shaumian e demais bolcheviques a
militares britânicos. Logo a seguir, ocorreu o célebre assassinato dos 26 comissários
bolcheviques de Baku pelos britânicos, para grande comoção de Lenin
e do Poder
Soviético.
Nesse contexto, em fins de setembro de 1918, o Conselho de Guerra do Fronte Sul
contava com a seguinte composição : Stalin, desempenhando funções de Presidente
do Conselho de Guerra do Fronte Sul, Pavel P. Sytin (1870-1938),
Comandante Militar do Fronte, Voroshilov, Sub-Comandante e Minin,
Presidente do Soviete de Tsaritsyn. Exercendo
totalitariamente as funções de presidente desse organismo, Stalin afirmava pretender
converter o Fronte Sul em paradigma
de disciplina militar do Conselhos de Guerra da Rússia Soviética. Coerente
com sua linha de fomento da Oposição Militar das Forças Armadas
Vermelhas, Stalin impediu, logo a seguir, que Sytin atuasse como Comandante
Militar do Fronte e deslocou, arbitrariamente, todo o Comando e o
Conselho de Guerra do Fronte Sul para a cidade de Tsaritsyn. Acerca desse
tema, vide DIREKTIVY KOMANDOVANYA
FRONTOV KRASNOI ARMII (Diretivas do Comando dos Frontes das Forças Armadas
Vermelhas), Vol. 1 : 1917 - 1922, Moscou : Gosud.-Izdatel., 1971, pp. 343 e s.
Ordenou, a seguir, que tropas vermelhas despreparadas interviessem
precipitadamente no cenário de guerra. O Conselho Revolucionário de Guerra da
República (RevVoenSoviet), presidido por Trotsky, enviou, então, a
partir do centro, Konstantin A. Mekhonoshin (1889-1938) e Pavel J. Lazimir
(1891-1920) ao Fronte Sul, com o objetivo de recompor a unidade de comando
militar das Forças Armadas Soviéticas, detendo o despotismo de Stalin.
Apoiado em Voroshilov e Minin, Stalin deflagrou, então,
autêntica luta burocrático-fracional contra Mekhonoshin, Lazimir e Sytin, declarando que afastaria, com suas próprias mãos,
comandantes das Forças Armadas e comissários contra-producentes..
A discórdia sobressaltou a direção do Estado Soviético e, em 2 de outubro,
Sverdlov
dirigiu o telegrama ora traduzido a Stalin, Voroshilov e Minin, destacando
o dever de obediência de todos os companheiros do Partido às decisões, emanadas
dos órgãos centrais soviéticos.
Depois de um novo choque do (RevVoenSoviet) com Tsaritsyn, Trotsky insistiu na destituição de Stalin. Sua exigência foi levada a cabo por
intermédio de Sverdlov,
exercendo, então, a função de Presidente
do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK), o
qual viajou, pessoalmente, até Tsaritsyn, a fim de trazer Stalin de volta, em um trem especial, para a cidade de Moscou.
A seguir, também Trotsky dirigiu-se a Tsaritsyn, a fim de confirmar o afastamento de Stalin, e alcançar a obediência de Voroshilov que permanecia naquele fronte de guerra. Trotsky advertiu Voroshilov, afirmando que, caso não executasse, precisamente e
incondicionalmente, todas as ordens e missões operacionais determinadas, envia-lo-ía,
imediatamente, com trem de escolta, para Moscou, a fim de ser
entregue ao Tribunal
Revolucionário. Apenas assim, obteve uma garantia
formal de subordinação de Voroshilov.
No dia seguinte, em 4 de outubro de 1918, Trotsky comunicou a Lenin e Sverdlov que insistia, irrevogavelmente, na destituição de
Stalin do Conselho de Guerra do Fronte Sul o qual, apesar da abundância de forças e munições, apresentava-se
inteiramente inoperante e insubordinado, incapaz de deflagar prontamente
necessária ofensiva, antes do início do inverno, bem como que submeteria Voroshilov
ao Tribunal Revolucionário, na hipótese de não cumprir rigorosamente
as ordens emandas dos órgãos centrais. Vide TROTSKY, LEÓN
DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Kak Voorujalas’ Revoliutsia (Como a Revolução
se Armou), Vol. 1, Moscou : Vyssh. Voennyi Red. Soviet, 1923, pp. 350 e s.; IDEM. Voennaia Oppozitsia (A Oposição
Militar), in: Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de
Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s.
Paralelamente, Trotsky ditou uma ordem dispondo sobre a unificação de todos os
exércitos do Fronte Sul, colocado, agora, sob a direção de um Conselho
de Guerra integrado por Aleksandr G. Schliapnikov
(1885-1937), Pavel P. Sytin (1870-1938), Comandante Militar do Fronte, Konstantin A. Mekhonoshin (1889-1938) e Pavel
J. Lazimir (1891-1920), devendo serem executadas todas as ordens
emanadas desse último conselho incondicional e impreterivelmente. Vide TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin (Stalin)(1941), Vol. 2, especialmente
Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e s.
Nessas condições, Stalin foi destituído de suas
atribuições no Fronte Sul. D’outra parte, Lenin procurou, naturalmente,
aplainar as dimensões do conflito, reduzindo-o ao mínimo possível e solicitando
a Trotsky
que empreendesse todos os esforços, com vistas a desenvolver trabalho em comum
com Stalin.
Logo a seguir, Stalin prometeu a Lenin, que não ocorreriam mais
conflitos no Fronte Sul e que uma colaboração com Sytin e Mekhonoshin poderia
até mesmo ter lugar. Afastado, porém, da função de Presidente do Conselho
de Guerra do Fronte Sul, Stalin pretendeu, então, na
qualidade de membro do Comitê Central do Partido Comunista
Bolchevique e Comissário do Povo para Assuntos de
Nacionalidades, assumir, igualmente, a função de membro do
Conselho de Guerra Revolucionário da República (RevVoenSoviet), como
forma de recuperar sua função perdida no Fronte Sul. Embora Trotsky
entendesse que com Stalin não seria possível qualquer tipo de colaboração
frutuosa, veio a conseguir, posteriormente, em 3 junho de 1920, a designação de
Stalin
como membro do RevVoenSoviet da República, a fim de
que fosse forçado a transformar seu apoio subreptício à Oposição Militar das Forças
Armadas Vermelhas, em antagonismo claro e aberto, substituindo-o por
sua participação articulada em um órgão militar dirigente. Forçado a assumir
tal condição de membro pelo período de três semanas, i.e. até 25 do mesmo mês, Stalin
furtou-se, porém, a qualquer participação leal no RevVoenSoviet da República,
utilizando o pretexto de encontrar-se sobrecarregado de trabalho em outros
domínios, não tendo, pois, intervindo em nenhuma reunião desse organismo militar-soviético
supremo. Cf. Vide TROTSKY, LEÓN
DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Stalin
(Stalin)(1941), Vol. 2, especialmente Cap. 9 : Grajdanskaia Voina (A Guerra
Civil), Benson-Vermont : Felshtinsky, 1985, pp. 97 e s.
Sem embargo, ainda em meados de outubro de 1918, a situação em Tsaritsyn
abalou-se consideravelmente, em conseqüência da desobediência do Conselho de Guerra (VoenSoviet) de
Tsaritsyn às ordens dos órgãos
revolucionários centrais. Valendo-se dessa situação extremamente
desfavorável para o Poder Soviético no sul do país, as Forças Armadas Brancas,
comandadas por Kornilov, Drosdov e Markov, lograram
desenvolver, com seus 26.000 homens, uma ampla ofensiva na região do Fronte
Sul. Cercaram Tsaritsyn a partir de três lados,
aproximando-se dos muros da cidade. Importante combate travou-se em 22 de
outubro de 1918, quando cossacos e militares brancos assediaram resolutamente o
último bastião bolchevique. No balcão do prédio que abrigava o comando militar do 10° Exército Soviético
inteiramente desorganizado, encontravam-se, então, Kliment I. Voroshilov (1881-1969),
Serguei K. Minin (1882-1962) e Grigorii I. Kulik (1890-1950). Em
um último momento, interveio, a toda pressa, porém, no teatro de operações de
guerra, a assim denominada Divisão de Aço Vermelha, enviada a
partir do Norte do Cáucaso, sob o comando providencial de Dimitrii
P. Shloba (1887-1938). Como estivessem as comunicações há muito tempo
interrompidas com o Fronte Sul, niniguém poderia contar com a efetiva intervenção dessa
força vermelha suplementar. O cerco de Tsaritsyn foi rompido, empurrando-se
os inimigos do bolchevismo a 120 kilômetros para além do Rio Don.
Em 23 de outubro de 1918, Lenin escreveu a Trotsky,
solicitando que, em virtude das novas vitórias soviéticas no Fronte
Sul, fosse permitido que Stalin – por ter-se prontificado a
instigar Voroshilov e Minin a obedecer estritamente as ordens do centro
-, iniciasse conversações, com o objetivo de voltar a ocupar-se das atividades
militares em Tsaritsyn, de modo a ter a chance de demonstrar a correção do
ponto de vista militar que defendia, i.e. a suposta existência de relações
impróprias, mantidas entre o Conselho de Guerra Revolucionário da
República (RevVoenSoviet) e os conselhos dos frontes regionais, que não
estariam sendo sondados quanto à possibilidade de aplicação das ordens,
determinadas a partir do centro. Trotsky respondeu com plena
disposição e Stalin foi nomeado, dessa vez pelo centro, membro do Conselho
Militar do Fronte Sul. Vide TROTSKY,
LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in:
Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de
Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s.
No sexto dia de permanência da Divisão Shloba em Tsaritsyn,
reapareceu Stalin, ainda a tempo de discursar enquanto membro
do Conselho de Guerra do Fronte Sul, prometendo a Shloba e seus combatentes
que o Partido Comunista Bolchevique e o Poder Soviético jamais os
esqueceriam em virtude de terem bravamente salvado Tsaritsyn. Shloba
recebeu das mãos de Stalin, a título de condecoração, um estojo de cigarros de
ouro, visto que, então, inexistiam na Rússia Soviética medalhas oficiais
de honra ao mérito. Shloba veio a comandar, posteriormenter, um corpo de tropa e,
finalmente, um exército, no Norte do Cáucaso. Em 1937,
procurando eliminar os vestígios de seu fracasso em Tsarytsin, Stalin
enviou Shloba ao patíbulo, eliminando, assim, com a vida de mais um
revolucionário bolchevique. Vide criticamente ANTONOW-OWSSEJENKO,
ANTON. Stalin. Porträt einer Tyrannei (Stalin. Retrato de uma Tirania),
Munique – Zurique : R. Piper & Co., 1983, pp. 20 e s.
Em 14 de dezembro de 1918, Trotsky telegrafou a Lenin, assinalando que já não seria
mais possível que Voroshilov continuasse
a exercer suas funções no Fronte Sul,
uma vez que todas as tentativas de acordo com esse comandante haviam fracassado
novamente, razão pela qual propôs fosse Voroshilov
transferido para a Ucrânia.
Lenin aceitou, então, a
proposta de Trotsky, sem
levantar qualquer objeção. Na Ucrânia,
sem a oposição de Voroshilov, o
anarquismo já dificultava o exercício de um trabalho militar eficiente e
centralizado. Com a presença, porém, de Voroshilov,
seus colaboradores pessoais de Tsaritsyn,
e o apoio subreptício de Stalin,
esse trabalho tornou-se, então, impossível. Em 10 de janeiro de 1919, Trotsky declarou a Sverdlov, Presidente
do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK), que a linha da Oposição
Militar de Tsaritsyn, que conduzira à
inteira desintegração das Forças Armadas Vermelhas do
Fronte Sul, não poderia vir a ser tolerada na Ucrânia. Como se Lenin
e Sverdlov se inclinassem a promoção de um novo acordo suasório com os
militares da Oposição Militar , Trotsky
contestou a Lenin, em 11 de
janeiro, afirmando que um acordo seria, evidentemente, necessário, porém não um
acordo podre, considerando o patrocínio de Stalin
e da Oposição Militar
de Tsaritsyn
“a úlcera mais perigosa, pior do que todas as traições e quebras de confiança
dos especialistas militares ...” Cf. Vide
TROTSKY, LEÓN DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Voennaia Oppozitsia (A Oposição Militar), in:
Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de
Auto-Biografia)(1930), Volume 2, Cap. 36, Moscou : Parorama, 1991, pp. 414 e s.
No centro de atenção dos debates de
outubro de 1918 a março de 1919, travados no quadro preparatório do VIII
Congresso do Partido Comunista Bolchevique, sobre
o dever
de acatamento incondicional das resoluções dos órgãos centrais,
encontrava-se sobretudo Stalin, Voroshilov e Minin em
virtude de seu comportamento paradigmático de indisciplina do Fronte
Sul, condutor de expressiva desagregação militar. Sua despudorada
incitação à violação das ordens do Conselho Revolucionário de Guerra da
República (RevVoenSoviet), sua aberta inimizade em face dos militares
profissionais, suas repressões infundadas, sua conivência com punições por
espancamentos no interior nas divisões das Forças Armadas Vermelhas, sua defesa
da tática de guerrilheirismo no fronte, seu ilimitado arbítrio, suas intrigas
contra os Comandantes Militares do Fronte e representantes do
RevVoenSoviet, tudo isso conduziu, em poucos meses, à perda colossal da
vida de 60.000 homens no Fronte Sul. Sem embargo, tão logo Lenin adoeceu, Stalin conseguiu, com o
apoio de seus associados, renomear Tsaritsyn
com o nome de Stalingrado.
A Oposição
Militar de Tsaritsyn tornou-se, a
partir de então, uma das suas principais armas.
[4] Sobre o tema, vide LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Pis’mo
Ob’iediniennomu Zassedaniou VTsIK, Moskovskovo Sovieta s Predstavitieliami
Fabritchno-Zavodskikh Komitetov i Professional’nykh Soiuzov (Carta à Sessão
Conjunta do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia, do Soviete de Moscou e
de Representantes dos Comitês de Fábricas e de Sindicatos)(03.10.1918), in : V.
I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961,
Vol. 37, pp. 97 e s. Cumpre assinalar, de passagem, que, em conformidade com a
presente carta de Lenin, teve lugar, na quinta-feira, 3 de outubro de 1918, uma
sessão conjunta do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia, do Soviete
de Moscou, dos Comitês de Fábrica-Indústria e dos Sindicatos,
versando sobre a crise política em curso na Alemanha. A resolução adotada
na sessão em apreço incorporou as principais idéias, contidas na carta de Lenin
em referência, bem como naquela datada de 1° de outubro de 1918,
dirigida a Sverdlov e Trotsky sobre o início da Revolução Proletária na Alemanha. Vide LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Y. M. Sverdlovu i L. D. Trotskomu (Carta
a Jakob M. Sverdlov e a L. D. Trotsky)(01.10.1918), in: V. I. Lenin. Polnoe
Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL, 1965, Vol. 50, pp. 185 e
s.
http://www.scientific-socialism.de/LeninSverdlovTrotskyRevAlemaCAP1.htm
Por encontrar-se na cidade de Gorki, recuperando-se dos ferimentos
decorrentes do atentado perpetrado contra sua vida, em 30 de agosto de 1918, Lenin
não obteve permissão médica para participar da sessão em destaque. Enviou-lhe,
porém, a carta aqui referida, a qual foi lida publicamente a todos os
presentes. A resolução de Lenin foi expressamente acolhida na
referida sessão e, a seguir, transmitida por telégrafo para o mundo
inteiro.