TEXTOS E FRAGMENTOS LITERÁRIOS SELETOS SOBRE MORAL E CONSCIÊNCIA,

DIREÇÃO E ORGANIZAÇÃO REVOLUCIONÁRIAS SOCIALISTAS-EMANCIPADORAS

 

IVAN VASSILIEVITCH

BABUSHKIN

 

HERÓI REVOLUCIONÁRIO DA LUTA DE LIBERTAÇÃO DO PROLETARIADO

 

VLADIMIR I. LENIN[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução

Asturig Emil von München

Agosto de 2004

emilvonmuenchen@web.de

  

 

Vivemos sob condições malditas nas quais são possíveis coisas do seguinte gênero :

Um grandioso militante do Partido, orgulho do nosso Partido, um companheiro que dedicou, abnegadamente, sua vida inteira à causa dos trabalhadores, veio a desaparecer, sem deixar vestígios.

E as pessoas mais próximas dele, sua esposa e sua mãe, seus amigos mais estreitos, ficaram sem saber, durante anos, o que com ele havia ocorrido : 

Será que teria definhando, em algum lugar de uma penitenciária ?

Será que sucumbira em uma dessas prisões quaisquer ou conhecera uma morte heróica, em um embate, travado contra o inimigo ?

Pois foi isso mesmo que aconteceu com Babushkin, ao ser fuzilado por Rennenkampf.

Ficamos sabendo de sua morte apenas recentemente.

O nome Babushkin era familiar e estimado por muitos social-democratas.

Todos os que o conheciam, amavam-no e honravam-no por causa de sua energia e objetividade, profunda firmeza revolucionária e candente dedicação à causa.

Em 1895, como trabalhador de Petersburgo, Babushkin, juntamente com um grupo de outros companheiros conscientes, dirigiu energicamente o trabalho nos distritos, situados atrás do Portão Neva, em meio aos trabalhadores das fábricas Semianikov, Alexandrov e da indústria de vidro.

Formou círculos, fundou bibliotecas e aprendeu, durante todo o tempo, de modo apaixonado.

Todos seus pensamentos direcionavam-se para a perspectiva de como ampliar o trabalho.

Babushkin tomou parte ativa na elaboração do primeiro panfleto de agitação que foi editado, no outono de 1894, em São Petersburgo.

Tratava-se de um panfleto dirigido aos trabalhadores da fábrica Semianikov que o próprio Babushkin, em pessoa, foi distribuir.

Quando se formou em Petersburgo a “Liga de Luta pela Emancipação da Classe Trabalhadora”, Babushkin tornou-se um dos mais ativos de seus membros e nela trabalhou até o momento em que acabou sendo preso.

A idéia da criação de um jornal político no exterior que servisse à unificação e à consolidação do Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR) foi discutida com ele e com seus velhos companheiros do trabalho de Petersburgo, os fundadores do “Iskra (A Centelha)”.

Tal idéia encontrou junto a Babushkin o mais inflamado apoio.

Enquanto encontrava-se em liberdade, o “Iskra (A Centelha)” não sofria de nenhuma insuficiência de correspondentes operários.

Examinem-se os primeiros vinte (20) números desse jornal político :

Todos aqueles correspondentes, procedentes de Shuia, Ivanovo-Voznecensk, Orekhovo-Zuievo e de outras localidades da Rússia Central, quase todos eles haviam passado pelas mãos de Ivan Vassilievitch que se esforçara por produzir a ligação mais estreita entre o “Iskra (A Centelha)” e os trabalhadores.

Babushkin foi o mais devotado correspondente iskrista e um dos adeptos mais ardentes desse jornal político.

Da região central da Rússia, Babushkin transferiu-se para o sul, para Ekaterinoslav, onde foi preso e lançado na cadeia de Alexandrovsk.

De Alexandrovsk, Babushkin fugiu, juntamente com um outro companheiro, depois de terem serrado as grades da janela.

Sem possuir conhecimento de língua estrangeira alguma, dirigiu-se para Londres, onde, outrora, encontrava-se a redação do “Iskra (A Centelha)”.

Em Londres, muitas coisas foram discutidas e muitas questões, conjuntamente decididas.

Porém, Ivan Vassilievitch não conseguiu estar presente no II Congresso do Partido ... :

A prisão e o exílio arrancaram-no do nosso fronte, durante um longo tempo.

A onde revolucionária que emergia produziu novos trabalhadores, novos quadros do Partido, enquanto Babushkin vivia, durante esse tempo, no longíngüo norte da Sibéria, em Verkholensk, subtraído à vida partidária.

Porém, não desperdiçou tempo inutilmente.

Estudou, preparou-se para a luta, ocupou-se com trabalhadores e companheiros de exílio, esforçando-se por deles fazer social-democratas conscientes e bolcheviques.

Em 1905, adveio uma anistia e Babushkin pôs-se a caminho da Rússia.

Porém, também na Sibéria, por volta desse período, as ondas entravam em ebulição e pessoas como Babushkin eram necessitadas por aqueles lados.

Ingressou, então, no Comitê de Irkutsk e lançou-se avidamente ao trabalho.

Cumpria intervir nas assembléias, impulsionar a agitação social-democrática e organizar a insurreição.

Quando Babushkin e outros cinco outros companheiros – cujos nomes não chegaram até nós – levavam à Tschita um grande transporte de armas, no interior de um vagão especial, seu trem foi detido pela Expedição Punitiva de Rennenkampf e todos os seis, sem qualquer processo judiciário, foram imediatamente fuzilados, justamente à beira de uma cova coletiva, cavada por eles mesmos.

Morreram como heróis.

Alguns soldados, testemunhas oculares de seu assassinato, e trabalhadores ferroviários, passageiros desse mesmo trem, contaram sobre sua morte.

Babushkin caiu vítima de uma justiça sumária selvagem, organizada por um carrasco czarista.

Porém, ao morrer, sabia que a causa a que havia devotado toda a sua vida não morreria, essa obra haveria de ser realizada por dezenas, centenas de milhares e milhões de outras mãos, por essa causa haveriam de morrer outros companheiros trabalhadores, outros ainda lutariam, até que a vitória fosse conquistada ...

Há pessoas que produziram e difundiram a fábula de que o Partido Operário Social-Democrático Russo (POSDR) seria um partido da « inteligência », os trabalhadores estariam dele distanciados, os trabalhadores, na Rússia, seriam social-democratas sem Social-Democracia.

Assim haveria de prosseguir sendo, em particular, até à revolução e, em considerável medida, durante a revolução.

Os liberais espalham essas mentiras por ódio à luta revolucionária de massas que o POSDR dirigiu em 1905.

Também entre socialistas há os que acolhem essa teoria mentirosa, como por ignorância ou negligência.

A biografia de Ivan Vassilievitch Babushkin, expressando o trabalho social-democrático de dez anos desse trabalhador-iskrista, serve, manifestamente, como refutação das mentiras liberais.

I. V. Babushkin foi um desses trabalhadores avançados que, dez (10) anos antes da Revolução de 1905, começou a fundar um partido social-democrático dos trabalhadores.

Sem o trabalho incansável e heroicamente perseverante de tais precursores, pertencentes às massas proletárias, o POSDR não conseguiria completar dez anos e nem mesmo dez meses de vida.          

Apenas devido às atividades desses precursores, tão somente graças ao seu apoio, o PODSR alcançou, em 1905, a condição de Partido que se fundiu, indissoluvelmente, com o proletariado, nos grandes Dias de Outubro e Dezembro, mantendo essa ligação na pessoa dos Deputados Trabalhadores, não apenas na II Duma como também na III Duma dos Cem-Negros.   

Os liberais (os cadetes) querem tornar herói popular o Presidente da I Duma do Estado, S. A. Murontsev, morto pouco tempo faz.

Nós, social-democratas, não devemos perder a oportunidade de expressar nosso desprezo e nosso ódio ao Governo Czarista que persegue até mesmo funcionários tão moderados e inofensivos como Murontsev.

Murontsev foi apenas um funcionário liberal.

Nem sequer foi um democrata.

Temia a luta revolucionária das massas.

Esperava obter liberdade para a Rússia não a partir dessa luta, senão a partir da boa vontade da autocracia czarista, a partir de um entendimento mantido com esse mais hostil e impiedoso inimigo do povo russo.

Em pessoas como essa, é risível, porém, entrever heróis populares da Revolução Russa.

Porém, tais heróis populares existem.

São pessoas como Babushkin.

São pessoas que se dedicaram inteiramente à luta em prol da libertação da classe trabalhadora, não apenas um ou dois anos, senão todo um decênio antes da revolução.

São pessoas que não se desperdiçaram em empreendimentos terroristas despropositados e isolados, mas sim atuaram, intrepidamente e com pertinácia, em meio às massas proletárias, ajudando-as a desenvolver sua consciência, sua organização e sua atividade revolucionária independente.

São pessoas que se colocaram à cabeça da luta armada das massas contra a autocracia czarista, quando a crise adveio e a revolução rebentou, quando milhões e milhões de seres humanos se colocaram em movimento.

Tudo aquilo que foi arrancado da autocracia czarista foi arrancado exclusivamente pela luta das massas, dirigidas por homens como estes, por homens como Babushkin.

Sem pessoas como estas, o povo russo permaneceria sendo eternamente um povo de escravos, um povo de vassalos.

Com pessoas como estas, o povo russo conquistará sua inteira libertação de toda forma de exploração.

Já transcorreram cinco aniversários da Insurreição de Dezembro de 1905.

No aniversário desse ano, desejamos homenagear a memória dos trabalhadores avançados que cairam na luta travada contra o inimigo.

Dirigimo-nos aos companheiros trabalhadores com o pedido de reunirem-se e enviarem-nos recordações da antiga luta e informações adicionais sobre Babushkin, como também sobre outros trabalhadores social-democráticos que tombaram na Insurreição de 1905.

Pretendemos lançar uma brochura com a descrição da vida desses trabalhadores.

Essa brochura constituirá a melhor resposta a ser dada a todos os céticos e menosprezadores do significado do POSDR.

A brochura em foco será a melhor leitura para os jovens trabalhadores que nela aprenderão como devem viver e agir todos os trabalhadores conscientes.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Cf: LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Ivan Vassilievitch Babushkin. Nekrolog (I. V. Babushkin. Necrológio) (18.12.1910), in: W. I. Lenin Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas Reunidas de V. I. Lênin), Vol. 20, Moscou : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1961, pp. 79 e s.