FUNDAMENTOS TEÓRICOS E POLÍTICOS DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO

PARA A LUTA DE CLASSES PROLETÁRIA,

TRAVADA EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE MUNDIAL

SEM EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM, SEM EXPLORAÇÃO DE NAÇÕES POR NAÇÕES

 

Nenhum Abandono das Chances Ocasionais de Melhoria Temporária do Nivel de Salários Contra os Atos de Violência do Capital:

Porém, a Classe Trabalhadora Não Pode Apenas Lutar Contra os Efeitos, Deixando de Lutar Contra as Causas Desses Efeitos

Em Vez da Consigna Conservadora: “Um Salário Justo Por uma Justa Jornada de Trabalho!”,

a Classe Trabalhadora Deve Escrever Em Suas Bandeiras a Reivindicação Revolucionária:

“Abaixo o Sistema de Trabalho Assalariado!”

  KARL MARX[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução

 Emil Asturig von München & Lo Scaltro von Genua, Novembro de 2004

 

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(…) Essas poucas indicações hão de bastar para demonstrar que todo o desenvolvimento da indústria moderna tem de, cada vez mais, inclinar a balança a favor do capitalista e contra o trabalhador e que, conseqüentemente, a tendência geral da produção capitalista não é a de elevar o nível médio dos salários, mas sim de reduzí-lo ou de pressionar, mais ou menos, o valor do trabalho até o seu limite mínimo.

Ora, como a tendência das coisas nesse sistema é dessa natureza, quer isso dizer, por acaso, que a classe trabalhadora deve renunciar à sua resistência contra os atos de violência do capital, abandonando sua tentativa de aproveitar, da melhor maneira possível, as chances ocasionais de melhoria temporária de sua situação ?      

Se a classe trabalhadora fizesse isso, ela se degradaria em uma massa uniforme de pobres diabos arruinados que não mais poderiam ser salvos por solução alguma.

Acredito ter demonstrado que as suas lutas (EvM.: as lutas da classe trabalhadora assalariada) pelo nível de salários são efeitos secundários, inseparáveis de todo o sistema de trabalho assalariado; que, em noventa e nove por cento dos casos, seus esforços de elevar o salário laboral são apenas esforços para manter o valor determinado do trabalho e que a necessidade de negociar com o capitalista o seu preço é inerente à condição de ter de vender a si própria como mercadoria.

Se, em seus embates diários, travados contra o capital, cedesse, covardemente, desqualificar-se-ia, inevitavelmente, para dinamizar qualquer tipo de movimento de maior abrangência.

Ao mesmo tempo – e de modo inteiramente independente da servidão geral que envolve o sistema de trabalho assalariado -, a classe trabalhadora não deveria sobrestimar a eficácia definitiva dessas lutas quotidianas.  

Não deveria esquecer que luta contra os efeitos, não porém contra as causas desses efeitos; que, em verdade, desacelera o movimento descendente, sem, porém, modificar a sua direção; que aplica meios paliativos, sem curar, porém, a enfermidade.

Por isso, ela não se deveria consumir, completamente, nessa inevitável Guerra de Guerrilha, resultante ininterruptamente dos incessantes atos de violência do capital ou das oscilações do mercado.

Deveria compreender que o atual sistema, com toda a miséria que impõe contra ela, engendra, concomitantemente, as condições materiais e as formas sociais, indispensáveis à transformação econômica da sociedade.                       

Em vez da consigna conservadora : “Um salário justo por uma justa jornada de trabalho !”, a classe trabalhadora deveria escrever em suas bandeiras a seguinte reivindicação revolucionária : “Abaixo o sistema de trabalho assalariado !”

Após essa longuíssima e – tão como temo – cansativa exposição, à qual tive de me dedicar, visando a honrar, em alguma medida, o tema, colocado em debate, gostaria de concluir com uma proposta de adoção das seguintes resoluções :

 

1.           Uma elevação geral da taxa de salários conduziria a uma queda da taxa geral de lucro, sem afetar, porém, em termos gerais, os preços das mercadorias ;

 

2.           A tendência geral da produção capitalista não age no sentido de elevar o nível médio dos salários, mas sim de reduzí-lo ;

 

3.           Os sindicatos prestam bons serviços como centros de aglutinação da resistência, movida contra os atos de violência do capital.

Perdem parcialmente o seu objetivo logo que fazem uso inadequado de seu poder.

Perdem inteiramente o seu objetivo logo que se limitam a conduzir uma Guerra de Guerrilha contra os efeitos do sistema existente, em vez de, simultaneamente, tentarem modificar esse sistema, em vez de empregarem suas forças organizadas como uma alavanca para libertação final da classe trabalhadora, i.e. para a abolição definitiva do sistema de trabalho assalariado.      

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

BUENOS AIRES - MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 



[1] Cf. MARX, KARL.  Gewerksgenossenschaften. Ihre Vergangenheit, Gegenwart und Zukunft. Beschluss des Genfer Kongresses über die Gewerkschaften (Associações Sindicais: Seu Passado, Presente e Futuro. Resolução sobre os Sindicatos do Congresso de Geneva (06.09.1866), in: Die Internationale in Deutschland (1864-1872). Dokumente und Materialien (A Internacional na Alemanha « 1864-1872 ». Documentos e Materiais), Berlim: Dietz Verlag, 1964, pp. 142 s.; IDEM. Instruktionen für die Delegierten des provisorischen Zentralrats zu den einzelnen Fragen (Instruções para os Delegados do Conselho Central Provisório acerca de Questões Específicas)(08.1866), 6.: Gewerksgenossenschaften. Ihre Vergangenheit, Gegenwart und Zukunft (Associações Sindicais: Seu Passado, Presente e Futuro), in: Marx und Engels – Werke (Marx e Engels – Obras Completas), Vol. 16, 1962, pp. 196 e s.

Cumpre anotar elucidativamente ao presente texto que o referido Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional) teve lugar na cidade de Genebra, na Suíça, entre 3 e 8 de setembro de 1866. Dele participaram 60 delegados, representando a Inglaterra, a França, a Alemanha e a Suíça. Suas mais importantes resoluções assentam-se nas aqui referidas « Instruções para os Delegados do Conselho Central Provisório acerca de Questões Específicas », redigidas por Marx que foram apresentadas ao congresso em tela como informe oficial do Conselho Geral. Com essas instruções, Marx forneceu uma clara orientação para a luta de classes econômica, demonstrando nitidamente a necessidade de ser ela vinculada à luta política.

Os proudhonistas opuseram a todos os pontos contidos nas instruções de Marx um programa próprio inteiramente conciliacionista e abstencionista, contidos em uma petição memorial. Sem embargo, o congresso em referência adotou enquanto resoluções 6 dos 9 pontos das instruções redigidas por Marx, a saber: as resoluções sobre a unificação internacional dos esforços na luta travada entre trabalho e capital com auxílio da Associação; os sindicatos, seu passado, presente e futuro; o trabalho em cooperativas; a limitação da jornada de trabalho; o trabalho juvenil e infantil e as forças armadas permanentes. As cinco primeiras resoluções aqui elencadas foram designadas por Marx como « parte integrante do programa da Internacional ».

Por fim, recorde-se que o congresso em destaque acolheu os Estatutos da Internacional redigidos por Marx, adotou um Regulamento de Organização e elegeu o Conselho Geral tal como composto até aquela data.

O Congresso de Genebra, de  3 e 8 de setembro de 1866, concluiu o período de constituição da Associação Internacional dos Trabalhadores (I Internacional) enquanto organização internacional de massas do proletariado.