A SUBVERSÃO GRAMISCIANA E LUCKÁSIANA
DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO
Texto de Autoria de
Portau
Schmidt von Köln
Extraído de
A Enfermidade Gramsciana
no Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica Trotsky e Gramsci :
Gramsci e Trotsky
de Atualização, Correção
e Superação do Marxismo
(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)
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Anexo
Dedicado à Compreensão do Presente Capítulo III :
Em sua Luta sem Quartel contra Trotsky e a Revolução
Permanente
“Fidel Castro disse que uma organização que se combina
com religiosos revolucionários,
teologia da libertação, marxistas, nacionalistas
radicais, democratas avançados,
pode e todos esses setores podem participar de uma
transformação.”
James Petras[1]
I.
CARÁTER TEÓRICO E POLÍTICO DA DOUTRINA DE JAMES
PETRAS :
SUA DENÚNCIA DAS SUPOSTAS FALSAS
PREMISSAS DE MARX E ENGELS
James Petras assume no quadro da
crescente infecção provocada pela enfermidade gramsciana no movimento
trotskysta contemporâneo e nas lutas de emancipação do proletariado inequívoca
e marcante influência.
Com efeito, Petras declara-se,
publica e ostensivamente, autêntico “Jünger” do pensamento
idealista-subjetivista de Gramsci, procurando permanentemente mesclá-lo
com o método coerentemente dialético do materialismo histórico de Marx e
Engels, Lenin e Trotsky, diametralmente oposto ao controsenso
gramscista.
Acerca de sua filiação ideológica
surpreendemente eclética, de natureza idealista-materialista, e
de orienteção política manifestamente castrista, assinala o
tão pranteado Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton, de
Nova York :
“... Em 1960, em San
Francisco, foi quando e onde conheci grupos marxistas que me convenceram de
suas idéias – ou delas eu me convenci por mim mesmo –, lendo libros de Marx, Lenin, Trotsky e Gramsci.
A verdade é que também
tornei-me radical, acompanhando a Revolução Cubana, cada vez que os cubanos se iam mais e mais à esquerda, declarando um Revolução
Socialista.”[2]
Segundo James Petras, a razão segundo a qual
resultaria justificado empreender-se um ecletismo doutrinário em face do
marxismo revolucionário de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, tange
à própria imprescindibilidade de distinguir entre ”marxismo vulgar” e
”marxismo consciente”, esse último articulado por “Lenin e
Gramsci”, esposado por “Guevara e Castro” e defendido,
contemporaneamente, do modo mais ardente, por Petras, ele mesmo :
“É necessário
entender a existência de um marxismo vulgar que antecipava determinadas
condutas a partir da posição de classe das pessoas.
Segundo essa
teoria, se alguém era operário, ia automaticamente tomar consciência de sua
condição, entrar na luta, organizar-se e combater.
Porém, na prática,
não era isso o que sempre acontecia.
Alguns setores,
sim, adquiriram consciência. Outros, não.
Essa forma
mecânica de ver as coisas perdeu vigência com a Revolução Cubana, particularmente
com os posicionamentos críticos de Che Guevara e de Fidel Castro, precedidos
dos de Lenin e Gramsci que falaram sobre a importância das influências
culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da História, do
que ocorre ao redor.”[3]
Eis aí a grande descoberta epistemológica de James Petras que permite, por assim
dizer, superar o “marxismo vulgar
ou mecânico” rumo a um “marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento”, através
de “Lenin e Gramsci”, de Guevara e Castro, em conformidade com o
que torna-se possível contemplar a “importância das
influências culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da
História, do que ocorre ao redor...”.
Encômios, pois, ao “marxismo de James
Petras” !!!, i.e. ao “marxismo das
influências culturais e do entendimento” de “Lenin e Gramsci”, inspirador
dos posicionamentos de Guevara e Fidel
...
Com esse “marxismo
petrasiano”, i.e. “marxismo
idealista-materialista consciente”, há de se conceder a Petras o seu devido lugar no curso da história o
qual, a bem da verdade, já foi apregoado por Contrainformación en Red – Rebelión – veículo jornalístico
organizado pelo próprio Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton, de Nova York, da seguinte forma acalentadora
:
“O movimento comunista não
brotou de Marx, mas sim do movimento proletário do século XIX,
ainda que Marx chegou a liderá-lo em parte.
Marx morreu em plena atividade,
não pôde ter tempo de escrever tudo.
Isso quer dizer que devemos ter
em conta todos os demais autores que contribuíram para o marxismo :
Engels,
Lenin, Trotsky, Bukharin, Rosa Luxemburg, Ernesto Guevara, Antonio Gramsci,
Marcos, Petras, Harnecker e outros mil, sendo que, ademais disso, o
marxismo deve estar permanentemente vivo, não ser aceito como dogma inflexível,
mas sim ser usado para analizar a realidade cambiante.
O marxismo deverá ser ampliado
pelas conclusões de que a classe trabalhadora extráia de suas novas condições
materiais, em relação com os movimentos emancipatórios da mulher e das raças,
comunidades oprimidas, ecologismos políticos, movimentos anti-militaristas
etc., e todos e todas devemos contribuir para esse processo de estudo, crítica
e construção.”[4]
Porém, perguntar-se-ia ao leitor : o que,
afinal de contas, postula efetivamente o leninismo
trotskysta-gramsciano de James Petras, vislumbrado
da maneira mais clarividente possível nos posicionamentos críticos
político-práticos, supostamente “comuns”, de Guevara e Fidel ?
James Petras teria,
de fato, com base em sua concepção eclética “idealista-materialista”,
contribuído
para “ampliar o marxismo” ou para propagar uma
ideologia voltada a confundir, entorpecer, embaçar, entibiar, embotar e
retardar a concepção proletária revolucionária dos lutadores dedicados à defesa
de todos e cada um dos fundamentos essenciais do socialismo científico de Marx e Engels ?[5]
Ao leitor, caberá extrair, pois, suas próprias
conclusões, com base nas afirmações do próprio James Petras, elaboradas
acerca do Manifesto Comunista de Marx e Engels, as
quais demonstram qual o preciso significado e aspiração da corrente trotskysta-gramsciana, no interior das lutas
de emancipação do proletariado na atualidade :
“A seqüência da expansão capitalista, a
destruição dos vínculos tradicionais e a integração global foi, segundo Marx, o processo de criação de uma
classe trabalhadora unificada, consciente de seus interesses de classe e ligada
através de fronteiras nacionais. Sua
cadeia de raciocínio (SvK: i.e. a cadeia de raciocínio de Marx e Engels,
afirma Petras) possui falta de
entendimento claro acerca
da importância das tradições e dos vínculos sociais que precedem o capitalismo,
desempenhada na criação de solidariedade social para confrontar o capitalismo e
sustentar a consciência de classe.
Quando Marx descreve a burguesia enquanto redutora das relações humanas a
“nexos de pagamento à vista”, tal qual um prelúdio ao desenvolvimento da
consciência de classe, ele encontra-se essencialmente descrevendo a condição da
classe trabalhadora dos EUA – provavelmente a menos desejosa e hábil a
identificar sua fonte de exploração quanto mais a luta contra essa última. O
despir das velhas crenças – que Marx e
Engels denominaram, lamentavelmente, de “sentimentalismo filistino” –
inclui o sentido de comunidade e não necessariamente a crença em um “superior
natural”.
Assim, a admissão de que “a insegurança
e a agitação duradouras” que os autores do Manifesto associam ao
“revolucionamento dos meios de produção” do capital não necessariamente “obriga
(o homem) a afrontar com sentidos sóbrios suas condições reais de vida e suas
relações com sua espécie.” Na realidade, os processos econômicos estão tendo os
efeitos opostos no aprofundamento da reação, atomizando o trabalho, estimulando
a guerra étnica e alimentando um vasto vapor de produção econômica através da
América Latina, da África e da Ex-URSS, bem como em outros lugares.
Assim, a centralidade da “tradição”, da
cultura e da comunidade no definir a formação da consciência de classe
encontra-se perdida diante da verve de Marx e Engels e de sua celebração
acrítica do potencial revolucionário do desenvolvimento das forças de produção.
Similarmente, o asselvajamento da força de trabalho do Terceiro Mundo,
processando-se sob a égide da internacionalização do capital, não conduziu a
maior consciência de classe ou a comportamento “civilizado”.
Um olhar para as zonas livres de
comércio haveria de dissuadir qualquer um dessa noção. Pelo contrário, isso
rompeu laços de classe e promoveu maior reverência e servilidade.
A globalização burguesa não criou “um mundo segundo a sua imagem”, tal como
Marx e Engels alegaram. Hoje, essas coisas são “pietismos sentimentais”,
impressos nos folhetos de propaganda das relações públicas do Banco Mundial, trompeteando
a “modernização” do Terceiro Mundo.
Sua
falta de um sentido de consciência de classe diretamente relacionada com os
produtores e não derivada do processo capitalista de produção esclarece as
dificuldades que muitos “marxistas” possuem de criar uma alternativa ao
capitalismo. Hoje, os capitalistas não “conclamam à existência os homens que
manejarão as armas” para assestarem um golpe mortal ao capitalismo. Criam
milhões de trabalhadores atemorizados, incertos e temporários, ligados ao nexo
do pagamento à vista. Para tornar-se
marxista, no sentido da realização dos objetivos do Manifesto Comunista, é
necessário rejeitar as falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel
revolucionário” da burguesia. Para mover-se rumo à ação da classe trabalhadora,
a concepção de Marx e Engels tem de ser sujeitada à crítica mais ácida. (no
original : subjected to the harshest criticism)....
Onde Marx e Engels dizem que “a consciência do homem modifica-se com
cada uma das modificações havidas nas condições de sua material existência, em
suas relações sociais em sua vida social”, as mudanças que o capitalismo
produziu minaram a construção de uma consciência revolucionária, em todos os
pontos. A noção de que a burguesia revoluciona a produção através da competição
e, no curso, “força” os trabalhadores a “confrontarem” suas condições e,
subseqüentemente, a agregarem-se conjuntamente, é falsa, em todas as contas.
A
mudança mais importante não é o revolucionamento da produção, mas sim a
transformação das relações políticas e sociais, por todas as partes do mundo,
de um modo em que se mina a possibilidade de “reconhecimento material de
proletários.”
Para
falar do Manifesto hoje, é preciso mover-se da brilhante análise econômica para
as conclusões revolucionárias, construindo uma nova teoria da ação
revolucionária.”[6]
II.
PER ARCARY AD PETRAS ENTRE GRAMSCI E LUKÁCS :
A LIÇÃO QUE PETRAS NOS ENSINOU
Em vista de tudo isso e desse
absurdo e descarado revisionismo petrástico da doutrina de Marx e Engels –
difundido, no quatro cantos do mundo, a título de “teoria da ação revolucionária” -
é tanto mais estarrecedor ouvir-se de Valério Arcary, em sua intervenção,
proferida no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005, as seguintes
palavras, em linguagem de epígono :
“Que o Estado burguês, como nos ensinou Petras, existe como um aparato
duro, cuja função é preservar a ordem e a propriedade privada, que não hesitará
em aplicar a violência mais implacável sobre aqueles que ameaçarem a sua
dominação.”[7]
Se, até mesmo Nahuel Moreno, em vida,
não entreviu sentido fundado algum para enfeitar-se com e difundir o impacto do
revisionismo
marxista-engelsiano ácido-crítico, de matiz trotskysta-gramsciano de James
Petras, Arcary demonstra encontrar motivos de sobra para, no alvorecer
do século XXI, declarar até mesmo que James Petras “nos” ensinou que o Estado
Burguês existe como aparato duro, cuja função é preservar a ordem e a
propriedade privada ..., que não hesitará em aplicar a violência mais
implacável sobre aqueles que ameaçarem a sua dominação.[8]
O tempora, o mores ! Quae fuerunt vitia, mores sunt !
Isso “nos” foi ensinado por Petras !
Por Petras ! Por Petras ! Por Petras !, tal como disse Menandro « Θεòς εχ
μηχανής », aparecendo, no quadrante da
história universal, tal qual um Deus ex machina que promulga o
seu fiat lux !
Pereant qui ante nos nostra dixerunt !
Pereçam os que disseram as nossas coisas antes de nós
!
Certamente, por isso, Marx formula,
precavidamente, o conselho que poderia também ser repetido por quatro vezes,
sem embargo de modo muito mais instrutivo e sabiamente : Se voltarmos nosso olhar à História, a grande Professora
da Humanidade (Wenden wir unseren Blick der Geschichte, der großen Lehrerin der
Menschheit zu ...)[9] ...
Com efeito, sufragando as posições do trotskysmo
gramscista-luckásiano – como se possível fosse coerentemente conciliar a
perspectiva
revolucionária trotskysta com o stalinismo reciclado de Gramsci e Lukács -
encontraremos, no interior do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado do Brasil), ainda a figura de relevo de um dos principais
porta-vozes dessa organização partidária, Valerio Arcary, publicamente
anunciado como Historiador, Professor do Centro Federal de Educação
Tecnológica de São Paulo, Doutor em História pela Universidade de São Paulo e
assíduo membro colaborador da Revista Outubro.
Urdida, no domínio intelectual universitário-burguês, a
estranha simbiose de raízes trotskystas, vindas de meios
extra-escolásticos, com as premissas intelectuais escolásticas do gramscismo
stalinista-reciclado, sob a batuta da professora livre-docente Zilda
Iokoi, especialista em elaborações ideológicas referentes à perspectiva
de um socialismo cristão – inspirados por José Carlos Mariátegui, o assim
denominado ”Gramsci latino-americano”, e pela suposta “ação
libertária das Pastorais da Terra e do Movimento Sem Terra” -, penetrou
o projeto de um novo trotskysmo gramscista-luckásiano,
pela destacada capacidade retórico-sofística de Arcary, nas fileiras das
organizações jornalísticas, partidárias e sindicais, dirigidas pelo PSTU,
de modo a praticamente a neutralizar o potencial de produção
intelectual-revolucionário, de matiz essencialmente trotskysta, que possuía
toda uma geração de revolucionários, no curso dos anos 80 e 90.[10]
Cumpre registrar a absorção das posições gramscianas e
luckásianas por Arcary, em sentido lógico-doutrinário, de
maneira mais ostensiva, apenas a partir de 2000, como decorrência de sua
recepção – ocorrida em meios essencialmente acadêmico-universitários - de
posicionamentos especulativamente semi-fantasmagóricos, defendidos por
intelectuais de renome do stalinismo reciclado europeu, na
forma moderna do gramscismo korsch-luckásiano cuja linha diretriz paradigmática
pode ser entrevista nas produções do historiador e sociólogo Perry
Anderson, editor da New Left Review (Revista da
Nova Esquerda).
Anderson é
também reconhecido por Arcary, em diversos de seus raciocínios,
como referência de ideologia significativamente revolucionária.
Como
é bem sabido, Perry Anderson é conhecido mundialmente pela
difusão, desde longa data, do gramscismo luckásiano, energicamente
hostil ao trotskysmo revolucionário.
Nas
páginas da New Left Review
(Revista da Nova Esquerda) de Perry Anderson, encontraremos o próprio cinismo de Luckács,
inimigo visceral do trotskysmo revolucionário, sendo interrogado
hipocritamente por Perry Anderson, sobre suas visões de
reciclagem do stalinismo, na pespectiva korsch-gramsciana[11] :
“Nos anos 20, Korsch,
Gramsci e eu tentamos agarrar, segundo os nossos modos distintos, o
problema da necessidade social e sua interpretação mecanicista, herança da II
Internacional.
Herdamos esse problema, porém
nenhum de nós – nem mesmo Gramsci que foi talvez o melhor de nós todos –
pôde o resolver ...
Estou trabalhando agora em meu
livro “Ontologia do Ser Social” que espero poderá resolver os
problemas que foram postulados, de modo inteiramente errado, em um de meus
primeiros trabalhos, em particular “História e Consciência de Classe”.
(p. 51) ....
Fui, porém, introduzido a Lenin
por Lunatcharsky.
Lenin encantou-me por completo.
Também tive, naturalmente, a
possibilidade de vê-lo trabalhar nas comissões do Congresso (SvK.: III
Congresso da Internacional Comunista, em Moscou).
Devo dizer que achei os outros
líderes bolcheviques antipáticos.
Trotsky, repudiei imediatamente.
Entendi que era um fanfarrão
exibicionista.
Sabe, existe uma passagem de Lenin
nas memórias de Gorki
onde Lenin, após a Revolução, embora reconhecendo
as realizações organizativas de Trotsky, no curso da Guerra
Civil, afirma que Trotsky possuía algo de Ferdinand
Lassalle. ...
Não posso me recordar
absolutamente do próprio Stalin, no Congresso.
Como muitos outros comunistas
estrangeiros, não possuía nenhuma consciência sobre a sua importância no
interior do Partido Russo.(pp. 54 e 55).”[12]
É
precisamente a esses ídolos decaídos do stalinismo reciclado, Gramsci,
Lukács et alii, defensores de uma forma de reciclagem de
stalinismo, abertamente hostil ao trotskysmo revolucionário,
que Arcary se prosta, lamentavelmente, em tom de reverência
espiritual-ideológica.
Não
satisfeito com o fato de o próprio Lukács ter afirmado – como
vimos acima – que, em sua própria obra “História e Consciência de
Classe”, os problemas concernentes à necessidade social e sua
interpretação mecanicista “foram postulados de modo inteiramente errado” –
pois Lukács, nessa obra, atinge as raias de um subjetivismo
idealista-voluntarista na abordagem dessa questão -, procura
Arcary, em seu afã de conciliar trotskysmo com gramscismo
lukácsiano, salvar Lukács, naquilo que o próprio Lukács
condenou em si próprio, como erros por ele mesmo perpetrados :
“Sobre o tema da desumanização
e consciência de classe, uma das obras de referência no marxismo clássico foi História
e Consciência de Classe, hoje muito desvalorizada pelo entusiasmo com
que defende o protagonismo do proletariado.
Ocorre que, nesse texto, Lukács
sistematiza de forma irretocável, algumas conclusões teóricas
sobre as contradições entre a existência enquanto classe, e a formação da
consciência de classe que permanecem até hoje, para o fundamental
insuperáveis.”[13]
No
mesmo diapasão, ressalta Arcary:
“Se o paradigma lukácsiano
do marxismo como método e não como dogma continua de pé (ou deveria), as
possibilidades teóricas, de uma visão do ângulo de “totalidade”, são certamente
menores que o entusiasmo político dos anos imediatamente posteriores à
revolução russa, apoiado nas premissas de um crescente protagonismo proletário,
nos países centrais faziam supor. Mas sempre vale a pena renovar o desafio.”[14]
E,
adverte, em tom de filiação ideológica :
“A referência clássica para
a discussão sobre ideologia e consciência de classe é o trabalho de Lukács de
1922, que mais pelas suas virtudes do que pelas suas limitações, foi
severamente criticado, até por ele mesmo, com amargura, como se pode
conferir nesta passagem do prefácio de 1967, como sendo uma ideologização
hegeliana do proletariado, e portanto uma concessão a uma visão “finalista” da
História.
Quarenta e cinco anos depois,
sob o impacto de mais de duas décadas de relativa passividade e pacto social no
Ocidente, o velho Lukács iria admitir que talvez a sua obra de maior
significado teórico, estivesse prenhe de uma visão teleológica do
protagonismo do proletariado.
Talvez, por outro lado, o intervalo histórico, para uma
avaliação definitiva, ainda seja demasiadamente curto.”[15]
E
clamando pelos “grandes” ensinamentos ideologizantes de Lukács
- esse velho stalinista reciclado, inimigo irreconciliável do
trotskysmo revolucionário -, arremata Arcary, apologeticamente,
em tom de censura a supostas “fortes propensões objetivistas” dos
marxistas revolucionários :
“Resumo da ópera: o
impressionismo em relação às derrotas, é, em geral, fruto de uma análise pouco
dialética. A seguir, o trecho de Lukács:
“Não pode haver marxistas no
sentido da objetividade do laboratório, do mesmo modo que tampouco pode existir
uma seguraça da vitória da revolução mundial com a garantia das “leis
naturais”.”[16]
Arcary
esforça-se por construir uma combinação eclética e nauseabunda de trotskysmo
e gramscismo, tolerante, compreensivo e até mesmo solidário, seja com
as posições inteiramente stalisnistas-recicladas de Lukács, seja
com as posições de outros paredros do reformismo social e da traição à
causa da emancipação do proletariado.
Todos
estes surgem indevidamente nivelados nas mãos de Arcary - que os trata, em sentido retórico-literário,
como se simples “interlocutores mútuos” fossem, por seus supostos
“talentos e dons extraordinários”, superiores ao “horizonte
mais imediato de sua geração” - a autênticos revolucionários marxistas
que deram suas vidas à causa da Revolução Proletária Mundial :
“Os homens pensam e agem dentro
de uma totalidade, que é o meio e o tempo histórico em que vivem e atuam, mas
alguns, pelos seus talentos e dons extraordinários, se elevam acima
do horizonte mais imediato de sua geração, e portanto, das pressões mais
imediatas nas quais estão inseridos.
Esses homens e mulheres, Bernstein,
Kautsky, Rosa, Lenin, Trotsky, Bukharin, Paul Levy, Lukács e Gramsci, entre
outros, foram gigantes do seu tempo, foram interlocutores mútuos e se
influenciaram reciprocamente, mesmo quando se afastavam e polemizavam
duramente entre si.”[17]
Ignorando,
essencialmente, o sentido e significado revolucionários do socialismo
científico de Marx e Engels e depreciando-o até mesmo em
sua importância histórico-revolucionária, Arcary cerra fileiras
com os habitantes do pântano gramsciano e luckásiano que
desprezam as palavras de Marx de que o socialismo
científico é uma expressão por ele perfeitamente utilizada “em
oposição ao socialismo utópico que pretende impingir novas quimeras ao povo, em
vez de limitar sua ciência ao conhecimento do movimento social, realizado pelo
próprio povo.”[18]
Nesse
sentido, argumenta Arcary, da seguinte forma, inteiramente
solerte:
“A fórmula
do socialismo científico soa, no entanto, envelhecida ou até irritativa nesse
final de século.
Essa
discussão tem uma história, também no interior do marxismo, que remonta aos
esforços de Engels, depois da morte de Marx, de demonstrar que a
dialética materialista seria o instrumento teórico-lógico, que permitiria
explicar, de forma mais apropriada, os fenômenos que governam, tanto as
transformações da natureza, quanto na sociedade, e, por essa via, afirmar a
condição científica do marxismo.
A crítica
aos esforços de Engels, uma velha discussão filosófico-histórica, afirma
que ele teria diminuido a especificidade da operação da dialética na história,
no seu esforço de defesa do materialismo. E teria, assim, escorregado para excessos
deterministas, e para uma leitura evolucionista do progresso.
Se a
diferença metodológica entre essas obras filosóficas de Engels e a
aproximação de Marx à questão são somente matizes ou não, é uma questão
muito discutida.
A esse
propósito, transcrevemos um fragmento de Ricardo Musse, que relocaliza
bem o marco da preocupação de Engels, e explica as razões dos seus “excessos”
cientificistas :
“A adoção,
por Engels, de uma dialética uniforme, abrange o suficiente para
compreender seja o andamento histórico seja o processo natural, não
chamou tanto a atenção quanto a novidade da atribuição da natureza como
“pedra de toque” da dialética, em torno da qual concentrou-se, em grande
parte, o debate na geração de Korsch e Lukács. ...
O
prestígio, crescente e incontestado, dessas ciências prestava-se tanto a
reativações da insepulta filosofia da natureza, à maneira do sistema
filosófico de Dühring, quanto à disseminação de variantes do materialismo
francês do século XVIII, tarefa empreendida na Alemanha por Büchner,
Voigt, Moleschott & Cia. ...
Para demonstrar a veracidade e a
universalidade de tais “leis”, Engels, dado o caráter indutivo-dedutivo do seu
empreendimento, optou pela via de um acompanhamento exaustivo, isto é, pelo
procedimento infindável de decifração caso a caso das mais importantes
descobertas da ciência em seu tempo.(Musse, Ricardo).”[19]
Salta
aos olhos como, em todo esse debate, sobre o “envelhecimento e
irritabilidade” da fórmula do socialismo científico por causa dos “esforços
de Engels, depois da morte de Marx”, de demonstrar a
dialética materialista tanto nas transformações da natureza quanto na
sociedade, afirmando, assim, a condição científica do marxismo, Arcary
não encontre palavras para destacar que Marx – antes mesmo de sua própria
morte - , dirigindo-se Moritz Kaufmann, não poupou seu
latim para destacar que :
“Por correio, enviar-lhe-ei igualmente - caso o Sr. dele já
não disponha - um novo escrito de meu
amigo Engels, intitulado "A
Subversão da Ciência do Sr. Eugen Dühring", escrito
esse muito importante para a uma correta apreciação do socialismo
alemão.”[20]
Para
Marx, toda a leitura da dialética da natureza de Engels e
de sua polêmica contra a filosofia da natureza de Dühring era “muito
importante para a correta apreciação do socialismo alemão”.
Para
os gramscianos, para os luckásianos e para Arcary, “a
fórmula do socialismo científico soa envelhecida ou até irritativa”, pelo
que procura, sofregamente, à maneira gramsciano-luckásiana, encontrar as razões
históricas desse fênomeno senil-irritativo.
Provas adicionais do surgimento desse seu perfil
gnosiologicamente eclético, são-nos apresentadas por Arcary, em
seu artigo, intitulado “A Polêmica sobre a « Ausência » do Proletariado e
a Atualidade da Estratégia Revolucionária », de fevereiro de 2002.
Aqui, assinala, em aberta tentativa de tornar
discretamente admissível o perfil subjetivista-idealista de Gramsci,
no seio das concepções marxistas-engelsianas, rigorosamente
dialético-materialistas, o seguinte
:
“Quanto
à possibilidade histórica de que se desenvolvam nos porões do capitalismo
elementos de um modo de produção socialista, e as correspondentes hipóteses
gradualistas de uma transição sem ruptura e luta armada, a tradição marxista se
dividiu no último século em distintas opiniões. Acerca deste tema
compartilhamos a mesma tradição que Anderson reivindica no fragmento a seguir,
colocando a polêmica sob uma óptica histórica:
« O advento político de uma situação de duplo poder, acompanhada pelo início de
uma crise econômica, não permite uma resolução gradual. Quando a unidade do
Estado Burguês e a reprodução da economia capitalista se quebram, o tremor
social subseqüente deve opor, rápida e fatalmente, revolução e contra-revolução
em uma violenta convulsão. Em um tal conflito, o capital sempre disporá de uma
base de massas, maior do que um punhado de monopolistas (...). O capitalismo
não triunfou em nenhum país avançado do mundo atual (Inglaterra, França,
Alemanha, Itália, Japão ou Estados Unidos), sem um conflito armado ou uma
guerra civil. A transição econômica do feudalismo ao capitalismo é, sem
embargo, a transição de uma forma de propriedade privada a outra. É imaginável
que uma mudança histórica muito maior, implícita na transição da propriedade
privada à coletiva, que precisa de medidas mais drásticas para a expropriação
do poder e da riqueza, assuma formas políticas menos duras? (...) A tradição
a que pertencem essas concepções é, falando em termos gerais, a de Lenin e
Trotsky, Luxemburgo e Gramsci. (grifo do próprio Arcary.)”[21]
Com base em tal declaração grifada, pode o
leitor certificar-se de que Valerio Arcary inscreve-se
nas fileiras ecléticas e semi-fantásticas do troskysmo
gramscista-luckásiano.
Como forma de
insuflar, lentamente, o gramscismo e o lukácsianismo idealista-subjetivista
nas fileiras do marxismo revolucionário moderno, i.e. o trotskysmo revolucionário,
de modo a corromper a cientificidade dialética-materialista deste, a fim de
torná-lo susceptível e moldável às necessidades políticas, sindicais e eleitoral-parlamentares
das forças
socialistas pequeno-burguesas do Brasil e da América Latina –
subjulgando -o às forças intelectuais de conciliação de classes, representadas
por pensadores como Carlos Nelson Coutinho, Milton Temer, Chico Alencar, Leandro Konder
etc., Arcary, sempre se ocultando por detrás de referências e
supostos exemplos históricos, seguidos por Marx e Engels, apresenta Gramsci
como dotado de uma hipotética “honestidade intelectual inflexível”. Com
efeito, segundo a sua ótica, quer Valerio que seja o seguinte :
“Gramsci
entre os marxistas de sua geração, é sempre uma referência nas questões
metodológicas mais complexas, pela sua honestidade intelectual inflexível ...”[22]
Até mesmo para
impulsionar sua polêmica de conteúdo essencialmente teórico-abstrato contra Jacob
Gorender em torno de pontos que envolvem primordialmente o
trotskysmo, Arcary não pode abrir mão de referências dramáticas a Gramsci
- tomado como paradigma histórico-revolucionário, ao lado de Karl
Marx e Rosa Luxemburgo – como forma de supostamente produzir uma “explicação
marxista rigorosa e até impiedosa, se necessária” :
“Que os trabalhadores foram (e são) sindical e
politicamente reformistas em condições não revolucionárias, e com mais razão em
situações contra-revolucionárias, não é uma descoberta que impressione. Na
verdade, as amplas massas proletárias são até hostis às idéias revolucionárias
nessas circunstâncias.
A esse propósito, Gorender
usa a imagem de “amor não correspondido” para definir com humor cáustico as relações dos trotskystas e o proletariado.
O relativo isolamento dos trotskystas certamente merece uma explicação marxista
rigorosa, e até impiedosa, se necessária.
E é certo que a marginalidade
das organizações da Quarta Internacional teve como sequela uma crise
crônica, que se manifestou tanto em adaptações às pressões das correntes
majoritárias, quanto no enrijecimento sectário em torno de diferenças que podem
parecer minúcias talmúdicas.
Não parece todavia que seja um privilégio dos trotskystas terem sido desprezados, em algum
momento, pelos trabalhadores que pretendiam representar: Marx, Rosa e Gramsci e muitos outros tiveram, no seu tempo, em
grande medida, as mesmas vicissitudes.”[23]
Elencando,
equivocadamente, Gramsci, pensador supostamente equipado “com honestidade intelectual
inflexível”, entre os “herdeiros da tradição identificada com o
marxismo revolucionário” – pois que Gramsci era eminentemente hostil não apenas ao
materialismo histórico-dialético de Marx e Engels, senão ainda à concepção de revolução permanente
e de conquista da hegemonia do proletariado nas versões materialistas
elaboradas por Marx, Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky – ao passo que
prestava louvores a Stalin, por considerá-lo o “grande teórico mais recente”[24] - Arcary
eleva Gramsci, de modo inteiramente indevido, às alturas do
trotskymo, ao clamar:
“Neste campo estão a maioria dos herdeiros da tradição
identificada como o marxismo revolucionário: entre outros, uma parte da
literatura inspirada na herança de Antonio
Gramsci, que coloca o eixo dos processos históricos nos desenlaces das
lutas políticas, mas, sem dúvida, se destaca, como tendência organizada, a
corrente histórica (divida em muitas frações)
que se reclama de Leon Trotsky e da Quarta Internacional.”[25]
O próprio Arcary,
dando-se conta do patente desequilíbrio analítico de sua colocação
retórico-sofística, procura, ao menos, imediatamente, moderá-lo, justificando a
sua “utilidade
por razões didáticas de ênfase”(!), no que, porém, não se pode sair
melhor:
“Na verdade, é só por
razões didáticas de ênfase, que se pode trabalhar com esta esquemática
classificação: qualquer marxista recusaria uma absolutização tão simplista. Mas
ainda assim, com os devidos descontos, ela
é útil.”[26]
Arcary compartilha,
juntamente com Perry Anderson, não
apenas a mesma tradição de Lenin, Trotsky e
Luxemburgo – tradição legitimamente fundada na formulação científica do socialismo
de Marx e Engels de luta pela libertação
das massas proletárias, visando à edificação de uma sociedade
socialista-humanizada -, senão ainda a “tradição” metafísico-stalinista
do demiourgós subjetivista-idealista Gramsci, posicionamento híbrido, dualista e dicotômico,
este esgrimido também por todos os Pontífices
Trotskystas-Gramscistas, entre os quais, no Brasil,
destacam-se, insuperavelmente, Carlos Nelson Coutinho, Chico Alencar, Osvaldo Coggiola e a Trombeta de Jericó que, em meio ao
proletariado brasileiro, é, presentemente, a Revista Outubro,
orquestrada por Álvaro Bianchi e
Ruy Braga.
É também esse mesmo trotskysmo gramscista-luckásiano
que, em um amplo leque de variantes, estende-se amplamente a ponto de – tal
como veremos a seguir - incorporar adicionalmente, de maneira complacente, a
defesa da “tradição” que também fora exortada por Ernst Mandel[27] e, presentemente,
o é por inúmeros mentores ideológicos do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU – QI), sejam os que, por um lado, sustentam direta ou
indiretamente a Frente Popular, encabeçada por Lula
e integrada pelo ex-Ministro do (contra) o Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto (SU
– QI), sejam os que, por outro,
protagonizam e reivindicam a orientação ideológica e política do Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), tais quais Carlos Coutinho, Milton Temer,
Chico Alencar, Leandro Konder e che più ne ha, più ne metta.
Em apologia à “tradição”
precisamente marxista-leninista-trotskysta-luxemburguista-gramsciana,
prossegue
Arcary, no artigo supra-citado :
“Não
parece todavia que seja um privilégio dos trotskistas terem sido desprezados,
em algum momento, pelos trabalhadores que pretendiam representar: Outras correntes revolucionárias da história tiveram,
fora de situações revolucionárias, melhor sorte?
Marx,
Rosa, Gramsci e muitos outros não tiveram, no seu tempo, em grande medida, as
mesmas vicissitudes? Combateram em situações em que o isolamento
político demonstrou-se inevitável. Por outro lado, quis a ironia da
história que, energúmenos incorrigíveis, mas favorecidos pelas circunstâncias
dos tempos políticos que são, em grande medida, acidentais, já que as
oportunidades são ingratas, fossem carregados pela força de ventos históricos
que estavam longe de compreender, se vissem à cabeça de gigantescas mobilizações
que nem sequer suspeitavam serem possíveis, porque eram o material humano
disponível. (...)”[28]
Já em seu artigo Reforma e Revolução no
Brasil de Lula, Arcary, defendendo, sem estorvo, referida
“tradição” eclética, concomitantemente dialético-materialista e
idealista-subjetivista, ao buscar clarificar importante polêmica com a esquerda
do Partido dos Trabalhadores de Lula da Silva,
relativa ao título em realce, não sente qualquer embaraço intelectual ao citar,
já na abertura de seu artigo, reflexão redondamente equivocada de Antonio
Gramsci, encadeando-a com um brilhante apotegma de Rosa
Luxemburgo, de modo a torná-lo caput mortuum.
Se não, vejamos :
“Reforma &
Revolução no Brasil de Lula : uma polêmica com a esquerda petista ou a invenção de uma esquerda
internacionalista para o novo século, à luz dos dilemas alemão e russo de há
cem anos atrás.
« Estamos de
punhos fechados, mas com as mãos nos bolsos. » Rosa Luxemburgo
« Fala-se de
capitães sem exército, mas, na realidade, é mais fácil formar um exército do
que formar capitães. Tanto isto é verdade que um exército já existente é
destruído se faltam os capitães, ao passo que a existência de um grupo de
capitães, harmonizados, de acordo entre si, com objetivos comuns, não demora a
formar um exército, até mesmo onde ele não existe. » Antonio Gramsci.”[29]
Seria exorbitante esperarmos de Gramsci
algum raciocínio materialisticamente fundado no domínio da arte militar, onde
sabidamente jamais atuou diretamente, para daí revestir suas posições no domínio
da política.
Não
obstante, o voluntarismo sofômano idealista-subjetivista de Gramsci
jamais o inibiu de pronunciar-se também nesse campo.
O
resultado não poderia ser outro, senão o produto de uma visão inteiramente
falaciosa e desprovida de qualquer conhecimento prático efetivamente
verificado.
E assim
: camelus
desiderans cornua etiam aures perdidit, i.e. quem tudo quer tudo perde.
Extasiado
por seu radical anti-trotskysmo e sem contar com suficiente bagagem
prático-revolucionária para versar sobre tema dessa envergadura, também aqui,
no domínio das questões militares, Gramsci defende uma abordagem
inteiramente idealista, no que tange à formação de exércitos e capitães.
Bastar-nos-á
referir aqui a concepção coerentemente dialético-materialista de Trotsky,
que, além de avaliar justamente o processo de formação de sua própria
experiência militar-revolucionária dirigente, aborda o exemplo da formação do “capitão”
Frunze, o « motor da máquina das Forças Armadas Vermelhas e da
Revolução Proletária Mundial»[30]:
“Antes do fim de
1917, nunca esperei ocupar-me com assuntos militares.
Lia livros sobre
questões militares do mesmo modo que lia livros – digamos assim – sobre
astronomia ou sobre outros temas.
Lia-os na prisão.
Porém, tornei-me mais interessado por questões militares durante a Guerra
Imperialista, quando vivi na França.
Não possuía nenhum
conhecimento militar.
Em
minha opinião, existem certos métodos gerais que são aplicáveis a todas as
esferas da vida e da atividade criativa.
As
pessoas falam, por exemplo, de lógica jurídica.
Na
realidade, trata-se aí de lógica humana, aplicada às questões jurídicas.
De modo semelhante, na esfera da administração, um
bom administrador de fábrica será, assim, um bom administrador militar.
Os
métodos de administração são, em grande linhas, precisamente os mesmos.
A
lógica humana encontra a mesma aplicação, seja na esfera militar seja em outras
esferas : precisão, perseverança. Todas essas qualidades são necessárias, em
todos os domínios em que as pessoas querem construir, criar e aprender.
Adquirimos conhecimento técnico elementar através da experiência : estivemos sob
fogo cruzado durante todo o tempo.
Cometemos
muitos erros e sustentamos vários frontes de combate.
Fizemos
muitas observações e, assim, fomos capazes de aprender.
Frontes inteiros foram comandados por homens que
jamais haviam estado no exército, tal como, p.ex., o companheiro Frunze.
Para ser um bom soldado artilheiro – e,
particularmente, para ser um soldado artilheiro competente – é necessário que
se tenha freqüentado uma academia de artilharia, porém, para desempenhar um
papel dirigente na formação de um exército, não é necessário que se tenha tido
nenhuma educação especial como artilheiro ou de qualquer outro gênero: há de se
possuir apenas certas qualidades políticas e administrativas.”[31]
Em seu artigo intitulado Ir ou não ir
além da CUT, Arcary recalca a mesmíssima falsa perspectiva apológética
da “tradição”, ao destacar que :
“Nunca
existiu, portanto, nem para Marx, nem para Lenin, nem para Rosa, Trotsky ou
Gramsci, um décimo primeiro mandamento que prescreve lealdade incondicional a
uma Central sindical.”[32]
Mas, porque precisamente tais asserções
exemplificativas envolvendo, justamente,
“Marx, Rosa, Gramsci e ... muitos outros”, poderia
indagar o leitor ressabiado, ao sobressaltar-se acerca do porquê de Gramsci haver de surgir ladeando Marx, Rosa e .... muitos outros ?
Se voltarmos nosso
olhar à História, a grande Professora da Humanidade (Wenden wir unseren Blick
der Geschichte, der großen Lehrerin der Menschheit zu ...)[33], poderemos concluir, parafrastica e
precisamente, contemplando através das lentes de óculos
dialético-materialistas, que Rosa foi e permanece sendo uma águia
da revolução socialista, proletária internacionalista, ao passo que Gramsci
revelou-se
inteiramente como uma reciclagem de um “marxismo” de matiz
stalinista, i.e. uma atualização meta-marxista, teórico-pedagógica vulgarizadora,
que permitiu fosse expandida a lógica epistemológica do stanilismo
burocrático e anti-cosmopolita junto à civilização européia-ocidental.
Submetendo o filistinismo do “livre pensar” e o stalinismo a um novo ciclo de
operações intelectuais de matiz idealista-subjetivista, Gramsci
propiciou
seu refinamento e sua refuncionalização, produzindo como resultado um novo
freio ideológico, destinado a impedir que a eclosão de processos efetivamente
proletário-internacionalistas, inspirados por posições marxistas
revolucionárias, leninistas-trotskystas, conduzam à consolidação da Ditadura
Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla Democracia
Proletária, enquanto forma de transição ao socialismo e ao comunismo.
Cerrando seus olhos a uma análise
conseqüentemente histórico-materialista do fenômeno histórico do gramscismo, Arcary
pretende esclarecer o atraso da revolução socialista nos países centrais de
modo fundamentalmente eclético-visionário, i.e. inteiramente de acordo seja
como o método materialista de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, seja como o método
voluntarista idealista-subjetivista de Gramsci.
Compartilhando conseqüentemente a mesma “tradição” que Perry Anderson reinvidica
para si, Arcary encontra argumentos para defender o seguinte :
“Por quê o atraso da revolução socialista nos países centrais?
A segunda hipótese é aquela que insiste em explicações, em última análise,
subjetivas, ou seja, que reconhecem as mudanças materiais socioeconômicas, mas não
concluem que elas sejam a principal determinação e procuram, no curso da luta
de classes e, portanto, em fatores sociopolíticos, o atraso histórico do
processo de mobilização proletária no sentido de uma ruptura anticapitalista,
em particular, nos países imperialistas. Neste campo estão a maioria dos
herdeiros da tradição identificada como marxismo revolucionário: entre
outros, uma parte da literatura inspirada na herança de Antonio Gramsci,
que coloca o eixo dos processos
históricos nos desenlaces das lutas políticas; mas, sem dúvida, se destaca, como tendência organizada, a corrente
histórica (dividida em muitas frações) que se reclama de Leon Trotsky e da
Quarta Internacional. Evidentemente não seria razoável discutir o
crescimento prolongado da economia capitalista no pós-guerra, e o deslocamento
do centro da luta de classes para os países dependentes ou periféricos, sem
buscar a articulação entre causalidades objetivas e subjetivas. A Quarta
Internacional, antes da sua divisão em 1952/53, compreendia, entretanto, de
forma unânime que a participação dos PC’s em governos de união nacional no
pós-guerra, teria sido fundamental, para conter a onda revolucionária que se
abriu com a derrota do nazi-fascismo, e garantir a paz social.”[34]
As postulações levantadas por Gramsci veiculam, em versão teórico-refinada, o
subjetivismo idealista no retratamento do stalinismo contra-revolucionário e
não do marxismo revolucionário, bem como, em sentido político, a colaboração de
classes entre proletários e burgueses, e, em sentido partidário-organizativo, a
“bolchevização do Partido Comunista Italiano (PCI)”,
i.e. a sua stalinização, o que permitiu a mais absoluta erradicação dos
elementos trotskystas em seu interior, tal como veremos logo a seguir.
Com efeito, o stalinismo,
enquanto expressão ideológica e política de um “marxismo”
burocrático-proletário – auto-denominado “marxismo-leninismo” -
sistematicamente voltado a promover a colaboração de classes proletário-burguesa
em todos os domínios da luta de classes de emancipação do proletariado, em nome
da defesa de supostos valores proletários – do que dão-nos nitidamente exemplo
as posturas políticas de Stalin e
seus aliados no período pós-revolucionário de Fevereiro de 1917, na
questão do Pré-Parlamento e do Conselho da República, na Insurreição de Outubro e, posteriormente, na
defesa e execução das políticas de Socialismo em um
Só País, submissão das lutas de emancipação do proletariado chinês ao Kuomintang, esquerdização das
lutas do comunismo alemão contra o Social-Fascismo
Social-Democrático, enfim, sua política de Frente-Popular ... – o stalinismo,
enquanto método de promoção dissimulada da complacência do proletariado com as
forças burguesas e pequeno-burguesas, em prejuízo dos valores proletários,
possui como fundamento epistemológico o racionalismo escolástico da colaboração
de classes.
Gramsci posiciona-se
em face das posturas stalinistas de modo a promover a sua absorção,
reciclando-a epistemologicamente, desde um ângulo subjetivista-idealista,
volutarista-metafísico, denunciando, para isso, o materialismo dialético de Marx e Engels por estar "contaminato di incrostazioni positivistiche e
naturalistiche" (contaminado de incrustrações positivistas e
naturalistas).
Gramsci
reatualiza,
sofisticadamente, o “marxismo” burocrático-proletário stalinista, defendendo não
apenas posições organizativo-partidárias de índole manifestamente burocrática,
senão também teses políticas, tal como as famosas Teses de Lyon do Partido
Comunista Italiano (PCI), de janeiro de 1926, cuja essência é a desbragada
confirmação do conciliacionismo de classes proletário-burguês, impulsionada, na
Itália, por Gramsci e seus seguidores, desde
o assassinato do Deputado Socialista Giacomo Matteotti, em 1924, e
estendida para todas as questões teórico-doutrinárias da luta de classes de
emancipação do proletariado.
Gramsci
retifica, assim,
palavras de ordem de natureza supostamente democrático-intermediária, readaptando-as
à aspiração de Democratização do Estado, supostamente viabilizadora de um Socialismo
Democrático, no estilo: Assembléia Republicana Constituinte,
apoiada nos Comitês de Operários e Camponeses ou, por assim dizer, em Assembléias Operárias e Camponesas.
Extraordinariamente atento ao tema, Trotsky teve a oportunidade de assinalar, entretanto, já mesmo em novembro de
1929, que, na Itália, todos
!!! (grifo nosso), todos os
dirigentes de formação burocrático-stalinista adotavam uma posição oportunista,
para depois, eventualmente, a seguir, retificá-la mediante aventuras de
ultra-esquerda.
Isso se expressava, ao mesmo tempo, na tentativa de adaptar
à Itália a idéia de “ditadura democrática do
proletariado e dos camponeses”, sob a forma de uma palavra de ordem de
assembléia constituinte, apoiada sobre uma assembléia operária e camponesa[35].
Em maio de 1930, regressando ao mesmo tema, Trotsky, então, observou, incisivamente, fornecendo um ensinamento histórico inolvidável
para as futuras gerações de marxistas revolucionários :
“A
Assembléia Republicana constitui, inegavelmente, um organismo do Estado
Burguês.
O que são,
pelo contrário, os Comitês Operários e Camponeses ?
É evidente que, de alguma forma, são um equivalente
dos Sovietes de Operários e Camponeses. ...
Como é
possível, nessas condições, que uma assembléia republicana – órgão supremo do
Estado Burguês – tenha como base organismos do Estado Proletário.”[36]
Em face dessa clara e cristalina citação de Trotsky que aferroa todos!!! os dirigentes de formação
burocrático-stalinista – entre eles, necessariamente, também Gramsci -, resulta,
verdadeiramente, surpreendente ouvir-se, então, dos tribunos da defesa da “tradição” – tal como o faz Arcary -,
os seguintes argumentos, esgrimidos, obviamente, em defesa da própria “tradição”, ao tratar da polêmica
sobre as aptidões revolucionárias do proletariado :
“Se o impressionismo de jovens é tanto explicável como
desculpável, porque lhes falta a perspectiva que somente os anos e a
experiência podem oferecer, o mesmo não se pode dizer da dedicação
incansável com que intelectuais torturam os clássicos da literatura marxista
para demonstrar qualquer coisa.
Não estamos, contudo, entre os que enxergam a tradição
socialista como as tábuas da lei.
Mas reivindicamos uma tradição.
Não vamos recorrer a citações de Marx, Lenin, Rosa
Luxemburgo, Gramsci, Trotsky ou Moreno.
Não se encontrará nas linhas que se seguem uma polêmica
fundamentada em argumentos de autoridade.
Nos apoiaremos somente em apreciações de processos
históricos.”[37]
Perguntar-se-ia, então, de modo a
esclarecer-se a metodologia de trabalho da “tradição” : o que
seria da Revolução Socialista de Outubro de 1917, se intelectuais
de dedicação incansável – entre eles, com principal destaque Lenin,
em seu Estado e Revolução – não tivessem torturado os clássicos
da literatura marxista para demonstrar alguma coisa e recorrido a argumentos de
autoridade ?
Com efeito, o alvoroço do “bloco
histórico” trotskysta-gramsciano guarda, em si, também um
enigma profundo que há de permanecer indecifrável, na medida em que
intelectuais de dedicação incansável não torturem os clássicos da literatura
marxista para demonstrar qualquer coisa e não recorram a argumentos de
autoridade, visando a elucidar seus posicionamentos : um enigma, não porque
envolve uma forma ideológico-política requintada e translúcida de
defesa de uma das complexas variantes de sustentação dos governos
de colaboração de classes, seja em contexto de existência, seja de inexistência
de dualidade de poderes - e oportunismo relativamente às lutas de emancipação
do proletariado, o que, ademais, já bastaria para justificar, do modo mais
vulgar, o mais pleno repúdio da “tradição” que acalenta os
posicionamentos ideológicos de Gramsci.
Senão pelo contrário : o mistério do
“bloco histórico” trotskysta-gramsciano é o de
possuir uma lógica-epistemológica que, através de múltiplas
formas intrincadas, complexas, obscuras, fantásticas, objetivam desviar os
processos revolucionários da luta socialista do proletariado de seu rumo
conseqüentemente emancipatório – e, por conseguinte, de toda a humanidade –,
impedindo que assumam a genuína via materialista-dialética, consagrada por Marx
e Engels e consagradora da indispensabilidade da preparação permanente e
execução tecnicamente precisa das tarefas necessárias ao despedaçamento do Estado
Burguês.
Apenas
com a derrubada do capitalismo pela via revolucionária da luta de classes,
hegemonizada pelo proletariado no quadro de uma coalizão selada com seus mais
autênticos aliados históricos, explorados e oprimidos pelo capitalismo – entre
os quais, em particular, o campesinato pobre -, apenas com o despedaçamento do aparelho
do Estado colocado a serviço das ínfimas minorias exploradoras e opressoras,
autocráticas, latifundiárias e burguesas, resulta, pois, aberta a via de
transição da Ditadura Revolucionária do Proletariado, rumo ao
atingimento de uma sociedade socialista mundial humanizada, livre da opressão
de todo Estado e imune às dilacerações decorrentes dos embates sangrentos,
travados entre classes sociais irreconciliavelmente hostis : primeiro estágio
para o estabelecimento de relações sociais autenticamente comunistas.
Essa
severa missão revolucionária encabeçada pelo proletariado pressupõe,
necessariamente, não apenas uma luta de cunho econômico e político, senão ainda
de natureza essencialmente ideológica, envolvendo, pois, uma defesa meticulosa
da mais legítima tradição emancipatória, fundada por Marx e Engels.
No quadro da tradição trotskysta-gramsciana,
encontramos, entretanto, por força de sua própria lógica intelectual,
um vínculo para recepcionarmos, refinadamente, o “marxismo” de matiz stalinista.
Sendo assim, a questão do inimigo
não se encontra apenas colocada relativamente à já difícil tarefa de sua
identificação, senão ainda concerne ao método acertado de como combatê-lo.
Nesse sentido, porém, o não reconhecimento
conseqüente da verdadeira tradição histórico-revolucionária do proletariado e
das tarefas impostas à defesa dessa tradição, como forma de elevação da
consciência e da disposição das massas trabalhadoras e seus aliados às tarefas
da revolução proletário-internacionalista, tornam a derrota definitiva do
inimigo, historicamente identificado,
inteiramente impossível, bem como o atingimento de uma sociedade humanamente
socializada, completamente inviável.
Não obstante, para Arcary,
toda a análise dos sujeitos sociais e dos fatores histórico-subjetivos, dos
conceitos de situação e de crise revolucionária, dos momentos em que a “humanidade”
se encontra com as suas “esquinas perigosas”, traduz-se em
uma versão
eclética, fundada, por conseqüência, no subjetivismo idealista,
inteiramente alheio ao marxismo revolucionário, solidária, porém, com as
necessidades do socialismo de matiz pequeno-burguês, alimentado pela intelectualidade
acadêmica, vinculada ao stalinismo reciclado.
Por isso, Arcary afirma, coroando o
método de seus empreendimentos literários:
“Ou
seja, (Perry) Anderson reconhece que
o lugar dos sujeitos sociais vêm se alterando ao longo do processo histórico, e
que uma nova articulação de causalidades
poderia se observar ao longo do século XX.
Essa
consideração é chave para a discussão dos conceitos de situação e crise
revolucionária e para a compreensão da releitura que Lenin, Trotsky e Gramsci farão do papel dos chamados fatores
subjetivos, na História, em particular nos momentos em que a humanidade se
encontra com as suas esquinas perigosas.”[38]
Com efeito, acolhendo acriticamente
os posicionamentos do ultra-gramiscista, stalinista-reciclado, aliado ao Actuel
Marx e ao Partido Comunista Francês, Jacques Texier, Arcary procura trabalhar
com uma nova tática política, uma nova hipótese política, que,
efetivamente, corresponde ao gramscismo, mas não às exigências do
marxismo
revolucionário.
A nova tática política é,
entretanto, muito antiga, pois trata de deturpar, descaradamente, o sentido e o
significado das formulações de Engels, constantes em sua célebre
texto, redigido entre 14 de fevereiro e 6
de março de 1895 e intitulado “Introdução à Luta de Classes na França de
1848 a 1850 de Karl Marx”.[39]
Legitimando, porém, o pensamento do
ultra-gramsciano – declaradamente anti-leninista - Jacques Texier, Arcary destaca,
abonando inteiramente a sua tão decantada “tradição” :
“Já no que diz respeito à necessidade de uma
nova tática política, quando se oferecem condições de disputa, na legalidade e acumulando posições que permitam um
processo de aprendizagem da classe, tanto no terreno eleitoral, quanto
sindical, as observações de (Jacques)
Texier procedem.
O
paralelo histórico com Gramsci
parece correto, e corresponde de fato às primeiras formulações em torno a uma nova hipótese estratégica, que
considera a importância de preservar e explorar as conquistas democráticas,no
marco de um pensamento que se complexifica com o estudo da correlação de forças
à escala nacional e internacional, e que deve responder ao problema do regime
democrático burguês.”[40]
Evidentemente, Arcary
cala-se sobre o sentido e o significado contextual das palavras de Jacques
Texier, procurando justificar seu suposto acerto em parte – “no
que diz respeito à necessidade de uma nova tática política” - e esconde ao leitor quais são os
verdadeiros propósitos desse velho stalinista reciclado, saído das filerias do Partido
Comunista Francês.
Vejamos como Texier
compreende a questão da “nova tática política” :
“Acredita-se conhecer o pensamento político de Marx e Engels, porém dele não se
conhece senão certos fragmentos que um
certo discípulo célebre isolou e integrou em um sistema (obs. Texier
refere-se aqui à Lenin).
É necessário, portanto,
retomar tudo do zero ou quase do zero.
O que é bem conhecido não é conhecido.
Daí a idéia de realizar uma investigação minuciosa,
segundo diferentes percursos, para retomar a questão central : Marx e Engels subestimaram a democracia
política como às vezes se diz?
Não parece. Teóricos da revolução, eles, de início, foram
atraídos pelo problema das relações da revolução e da democracia.
Mas, existe um pensamento político de Marx e Engels e, se
existe, quais são suas categorias específicas ?
Revolução violenta e passagem pacífica, conquista da
democracia e ditadura do proletariado, revolução permanente e guerra de
posição, Estado instrumento de uma classe e relativa autonomia do Estado,
revolução pela base e revolução pelo ápice etc.
Os conceitos para pensar a política são numerosos e as
articulações, difíceis.
Primeira experiência decisiva : a revolução de 1848, com o pano de fundo do modelo da Revolução Francesa.
Marx e Engels são blanquistas?
Em caso positivo, permaneceram blanquistas?
Com efeito, seu pensamento político conheceu
transformações profundas no curso do século.
De 1885 a 1895, Engels
introduziu algumas inovações políticas nos quadros teórico-políticos
introduzidos pela Comuna ?
Ainda aí, a importância
das evoluções, se as tomamos em consideração, coloca em causa a idéia do
sistema.
Contrariamente a uma idéia fixa, trata-se de um
pensamento atento às instituições e às formas políticas. Essa riqueza foi
transmitida ?
Deploravelmente não.
Um livro célebre
de Lenin, o Estado e a Revolução, desempenha seu papel nesse empobrecimento.
Nele está ausente
esse pensamento móvel, complexo, contrastado, sensível às mutações históricas,
multidimensional.”[41]
Eis como Arcary ao declarar que “no
que diz respeito à necessidade de uma nova tática política ... as observações
de Texier procedem”, afasta-se inteiramente da tradição marxista-revolucionária,
cultivada por Marx e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky.
Repudiando-a, procura descobrir em Marx
e Engels – no estilo gramscista de Texier – o oportunismo da “importância
das evoluções”, pois o livro de célebre de Lenin, o Estado
e a Revolução, desempenharia um
papel de empobrecimento, por causa de pensamento supostamente sem mobilidade,
sem complexidade, sem contrastes, sem mutações históricas, sem multidimensão
....
Sem qualquer criatividade
intelectual, o próprio Arcary – seguindo ainda as pegadas
do ultra-gramsciano Jacques Texier – atribui, falsamente, a Rosa Luxemburgo apenas “fortes
propensões objetivistas”, e a Lenin e a Gramsci - esse último no extremo, o mérito de
destacarem o lugar da consciência de classe – tal como se Rosa simplesmente o
ignorasse ou o menosprezasse :
“Existiram
tanto objetivistas que retiraram como conclusão de suas análises, mais ou menos
fatalistas, uma estratégia política quietista, como Kautsky, quanto subjetivistas que chegaram, para o fundamental, ao
mesmo endereço partindo de premissas opostas, como Bernstein, que acreditava na possibilidade da escolha consciente da
opção pela democracia.
O mesmo
se pode dizer da corrente revolucionária, que reunia desde Rosa, com fortes propensões
objetivistas, até um Lênin, e no
extremo um Gramsci, que destacavam
acima das “férreas leis da necessidade”,
o lugar da consciência de classe e
da construção dos fatores de
subjetividade, isto é, da vontade
consciente.”[42]
Verifique o leitor que no texto
acima a expressão “férreas leis da necessidade”,
redigida entre aspas e postado em aparente contradição à expressão ”construção
dos fatores de subjetividade”, não se encontra aí presente por motivo
de somenos.
Pois, para Gramsci, Marx
havia-se contaminado com “incrustações positivistas e naturalistas”,
das quais os bolcheviques teriam supostamente se distanciado:
„Os bolcheviques renegam Karl Marx, afirmam com o testemunho da ação explicada, das
conquistas realizadas, que os cânones do
materialismo histórico não são assim tão férreos como se poderia pensar e se
pensou.“[43]
Enquanto palavra-de-ordem de seu
pensamento, Arcary formula, então, sua fórmula mágica para a construção de
seu socialismo
da “igualdade social” e da “liberdade humana” que do socialismo
científico de Marx e Engels afasta-se diametral e
substancialmente, por repudiar o fato de que o projeto de sociedade socialista
do marxismo
revolucionário opõe-se claramente à concepção de socialismo enquanto
reino do igualitarismo social[44] :
“No
século XX, o poder deve procurar legitimidade
no terreno da política:
em termos gramscianos, deve dirigir além de dominar.”[45]
A operação intelectual de Arcary
é, intrinsicamente, gramsciana, resguardando-se, porém, extrinsicamente, da
autoridade revolucionária de Marx, Engels, Lenin, Trotsky e Rosa
Luxemburgo.
Nesse sentido, assinala,
depudoradamente, procurando salvar Kautsky e Gramsci, para o
refinamento de seu próprio projeto eclético-revisionista, como se simplesmente
não existissem as acirradas e duríssimas polêmicas travadas entre o marxismo
revolucionário, através da pena de Lenin, Rosa Luxemburgo e Trotsky, a
partir de 1909, contra Kautsky, o renegado da Ditadura
Revolucionária do Proletariado e mentor intelectual dos programas
políticos de colaboração de classes seja Social-Democracia Alemã Independente,
seja da Social-Democracia Alemã :
“Mas
trata-se de uma dupla injustiça: nem Gramsci
merece o papel de kautskista “après la lettre”, nem Kautsky merece o limbo ao qual foi condenado.”[46]
Vê-se, pois, que Arcary
anseia retirar Kautsky e Gramsci do lugar onde se deitam as coisas sem valor.
Ao menos no que tange a Gramsci,
Arcary
destaca a lucidez de Gramsci quanto à questão ideológica do
castatrofismo, argumento esse evindentemente contra o mito das “fortes
propensões objetivistas” de Rosa Luxemburgo[47]:
“A lucidez de Gramsci sobre esta questão ideológica do catastrofismo
pode ser conferida (na passagem citada in loco)
: .... “[48]
Arcary procura reconstruir, “em termos gramscianos”,
i.e. de modo idealista subjetivista - à la Jacques Texier - toda a história da luta de classes, havida na
Alemanha
– onde atuaram revolucionariamente Marx e Engels, Karl Liebknecht e Rosa
Luxemburgo.
Dessa reconstrução gramsciana,
formulada segundo o próprio sabor e conveniência subjetivista de Arcary,
pretende encontrar pontos de apoio que possam servir de fôrro ideológicos para
seus próprios propósitos de conquista de influência ideológica, sindical e
política-eleitoral sobre o movimento de emancipação do proletariado, em aliança
com outros gramscianos, stalinistas reciclados, no estilo de
Chico Alencar, Milton Temer, Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder
etc. que, em essência, conduzem inexoravelmente a um refinado projeto de
conciliação de classes.
E, sem dúvida, o mais impressionante
de toda essa tentativa essencialmente eclética de Arcary de reconstrução
idealista subjetiva da história da luta de classes da Alemanha, tendo como
centro Marx e Engels, as revoluções alemãs, a
Social-Democracia Alemã é, particularmente, o fato de que a reescreve
sem a utilização patente de nenhum documento importante, seja lá de que autor
se possa tratar, extraído da própria literatura produzida em língua alemã.
Por não versar o alemão, Arcary
comporta-se como o historiador que escreve sobre a luta de classes, travada na Grécia
Antiga ou em Roma, sem, porém, empreender a leitura
e o estudo detido dos próprios materiais literários, existentes em grego
clássico e latim, tais quais se apresentam efetivamente, desde décadas e
séculos, surgidos ao calor dos fatos e com suas contradições mais inerentes.
Recorrendo sempre a materiais
produzidos de segunda mão por autores solidários com sua própria perspectiva de
ver o mundo, nos termos do gramscismo eclético – i.e. um modelo
mal acabado de “trotskysmo gramscista-lukácsiano” - , haurido a partir de
materiais gerados em língua espanhola, francesa, inglesa – por Jacques
Texier, Perry Anderson, Eric Hobsbawn e tantos outros -, Arcary
discorre, em tom parafrástico, sobre um tema histórico de extraordinária
importância, elaborando, às pressas, um esquema abstrato, moldado, acomodado e adaptado
aos seus próprios interesses de argumentação subjetiva, sem qualquer efetiva
fundamentação histórico-real.
Mais um desses exemplos de recriação
gramsciana da história a partir de sua príopria imaginação, é formado
por suas argumentações sobre “As Minorias e a Democracia : A Atualidade
do Marxismo e da Revolução Socialista.”
Aqui, suas reflexões são proferidas
em favor de um fantástico ingresso “incondicional” de Marx,
“com
suas forças” minoritárias, no Partido Socialista dos Tabalhadores da
Alemanha, comandado pelas forças da maioria de Ferdinand Lassalle, porque
... Marx
teria supostamente “acordo com o Programa(!)”, apesar de “não haver acordo sobre tudo com
a corrente majoritária de Lassalle.”
E proclama : “ ... os marxistas não tiveram
problemas de aceitar que eram minoria.”
Evidentemente, a conjectura
semi-fantástica da construção intelectual de Arcary é o de demonstrar
que até mesmo o revolucionário Karl Marx reduzia-se, na prática política
da vida das organizações dos trabalhadores, à figura insôssa de um pedante
defensor do democratismo, até mesmo quando a direção majoritária era exercida
por forças do socialismo pequeno-burguês, promotor da conciliação de classes
com o Governo de Otto von Bismarck e de um socialismo promovido de maneira
pacífica e gradual, no estilo de Ferdinand Lassalle, “porque havia acordo no
Programa”.[49]
Com efeito , Arcary apresenta-nos um
contexto histórico que, em verdade, jamais poderia ter existido de fato da
maneira como narra, seja na Alemanha, seja em nenhum outro lugar
ou momento da história do marxismo revolucionário, por inúmeros motivos.
Se não vejamos:
“Eu
quero dizer a vocês que o Manifesto (Comunista) nos ensina algo muito importante,
profundo sobre isso.
Marx estava tão convencido
de que a emancipação dos trabalhadores seria obra dos próprios trabalhadores,
tão convencido de que o futuro estava na mão da classe trabalhadora que não tinha medo de ser minoria dentro das
organizações dos trabalhadores.
E não
sei se sabem, quando Marx se uniu à
construção do primeiro grande partido operário de massas que foi o Partido
Operário Alemão, Marx era minoria.
E os marxistas não tiveram problemas de aceitar que eram
minoria no Partido Operário Alemão.
A maioria seguia um dirigente que chamava-se Lassalle, o primeiro e o mais influente dos dirigentes políticos
da história do movimento operário internacional.
Ninguém menos do que Marx, pela importância que tinha a construção do Partido Operário
Alemão, entrou com as suas forças,
incondicionalmente, na construção do Partido Operário Alemão porque havia acordo no Programa.
Não
havia acordo sobre tudo com a corrente majoritária de Lassalle.
Havia
muitas desconfianças da corrente majoritária de Lassalle.
Mas, Marx não teve problemas de ser minoria porque
Lassalle tinha a maioria.
Confiava
nos trabalhadores, em suas opiniões.
Eu
quero dizer a vocês que, para estarmos à altura, da herança do Manifesto (Comunista) e da experiência prática de Marx,
nós temos de dizer que a construção da unidade dos lutadores passa pela
construção de ferramentas unitárias, instrumentos de luta comuns, a Frente
Única de todos os lutadores.
E
dentro dessa organização deve haver democracia incondicional.
E quem
for maioria que seja maioria, e quem for minoria que seja minoria.
Os
marxistas revolucionários se forem minoria saberão disciplinadamente serem
minoria, como soubemos ser dentro da CUT.
Mas, as
minorias não podem se transformar em maiorias, sem contar os votos.
Não se
pode atrás da mesa substituir aquilo que tem de ser entregue, nas mãos dos
lutadores, nas vossas mãos. São vocês que têm de votar.
Não é
um acordo, não pode ser um conchavo, atrás das mesas, de costas para o
plenário, porque os novos instrumentos de luta não serão iguais da CUT nunca
mais, nunca mais, nunca mais, de costas, nunca mais, de frente.”[50]
É evidente que Arcary refere-se aqui ao
celebérrimo processo de construção do Partido Socialista dos Trabalhadores da
Alemanha (Sozialistische Arbeiterpartei Deutschlands – SAPD), mediante
fusão promovida entre marxistas-eisenachianos, agrupados
no
Partido Social-Democrático dos
Trabalhadores da Alemanha (SDAP), e lassalleanos, reunidos na Associação Geral
dos Trabalhadores da Alemanha (ADAV), ocorrida entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, no quadro
do Congresso
da Unificação (Vereinigungsparteitag) que teve lugar na cidade de Gotha,
na Alemanha.
Porém, Arcary ora descreve fatos
que nunca existiram, ora distorce posições, idéias e concepções, tudo isso com
o objetivo de legitimar “segundo a herança do Manifesto (Comunista)
e da experiência prática de Marx”, uma fantástica subordinação de
minorias às maiorias, enquanto critério autenticamente democrático, para a
construção da unidade dos lutadores, tudo isso com base na contagem de votos.
Elenquemos, porém, rapidamente, ao
menos cinco fatos concretamente históricos e passíveis de serem confirmados por
qualquer historiador seriamente interessado na história do marxismo
revolucionário na Alemanha:
I.
Arcary afirma claramente, em sua intervenção, que “Marx
... entrou com suas forças, incondicionalmente, na construção do Partido
Operário Alemão, porque havia acordo no Programa.”
Porém, o que afirma se encontra,
efetivamente, situado em contradição com a verdade histórica da luta de classe
da Alemanha.
Ora, esta é, em verdade,
diametralmente oposta àquilo que Arcary afirma, pois não
havia absolutamente acordo no Programa, no que diz respeito às posições de Marx
e de Engels.
Para Arcary, historiador de matiz
trotskysta, porém sob forte influência gramsciano-lukásiana - que
aceita, em parte, as observações de um stalinista reciclado, ultra-gramisciano
do calibre de Jacques Taxier -, uma
das mais importantes obras de Karl Marx, intitulada “Crítica
ao Programa de Gotha”, redigida em abril e maio de 1875, jamais
existiu na realidade.
Em sua intervenção, Arcary
nem sequer a refere.
Porém, é precisamente nessa sua obra
clássica de extraordinária importância para a compreensão do sentido e do
significado do marxismo revolucionário que Marx, a despeito de saudar a
perspectiva de unificação das forças proletárias da Alemanha, demonstra-nos,
detalhadamente, que não havia acordo no Programa.[51]
Seu desacordo com relação ao Programa,
é igualmente corroborado, nitidamente, em sua lendária carta, dirigida a Wilhelm
Bracke, datada de 5 de maio de 1875.[52]
Quanto a Engels, sua carta
dirigida a August Bebel e redigida entre 18 e 28 de março de 1875,
comprova-nos, além disso, que, de sua parte, não havia acordo no Programa, exatamente
porque, em essência, esposava as concepções defendidas por Marx em sua“Crítica
ao Programa de Gotha”.
Depois de elencar as razões de sua
oposição ao Programa em referência, Engels declara, expressamente:
„Paro por aqui, embora praticamente cada palavra desse programa, redigido,
além disso, de modo suave e astênico, merecesse
ser criticada.
Tanto é assim que, caso seja adotado, Marx e eu jamais nos poderemos declarar adeptos
desse novo Partido, instituído sobre essas bases, e teremos de muito
seriamente refletir que atitude assumiremos – também publicamente – em relação
a ele. …”[53]
Como
se vê, Marx e Engels, por não
possuírem acordo no Programa em referência, condicionavam sua
declaração de adesão a esse novo Partido ao fato de o Programa
em questão não ser adotado.
Anos
depois, ao enviar uma carta a Friedrich Sorge, em fevereiro de
1891, Engels teve ainda a oportunidade de retornar ao tema, para
acentuar, claramente:
„Naturalmente, Wilhelm
Liebknecht está furioso, pois que toda a crítica foi cunhada,
especialmente, contra ele.
Ele
é o pai que, juntamente com o veado do Hasselmann, pariu esse Programa Podre (SvK.: o Programa de Gotha do Partido Socialista dos
Trabalhadores da Alemanha )
Compreendo o espanto inicial daqueles que, até o presente
momento, haviam insistido em serem apenas tocados muito delicadamente pelos “companheiros” , ao serem, agora,
tratados assim sans façon (SvK.: sem
consideração), depois de seu Programa
haver sido desmacarado como pura imbecilidade. ”[54]
Daí, resulta ser um disparate gramsciano-lukácsiano, um
verdadeiro despautério histórico, afirmar que “Marx ... entrou com suas forças, incondicionalmente, na
construção do Partido Operário Alemão, porque havia acordo no Programa.”
Outra
questão é que o Programa em realce foi, finalmente, votado e aprovado pelo Congresso
de Gotha de 1875 – um congresso democrático teatral, elaborado para
legitimar a subodinação das forças proletárias alemãs lassalleanas e “marxistas-eisenachianas”
à dominação de uma elite aristocrática, saída de suas fileiras - com
pouquíssimas e inexpressivas modificações, em total desprezo às posições
defendidas por Marx e Engels, o que os colocou diante de um fato consumado.
Apenas
em 12 de outubro de 1875, Engels escreveu, novamente, a Bebel,
assinalando que, por terem tanto os trabalhadores quanto seus adversários
políticos burgueses “interpretado comunistamente” o Programa em questão,
unicamente essa circunstância tornaria possível aos olhos de Marx
e dele mesmo não se separarem publicamente do Programa de Gotha de 1875.
Destacou
que, enquanto seus adversários políticos e os trabalhadores continuassem a ler
as posições de Marx e Engels no Programa em causa, estaria
justificado o fato de não atacarem, de público, os princípios e cláusulas nele
contido.[55]
A
seguir, Marx e Engels resistiram, abertamente, a cooperar
integralmente, durante alguns anos, com o novo Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha
(Sozialistische Arbeiterpartei Deutschlands – SAPD), exatamente em virtude de
não
haver acordo no Programa.
Inversamente às palavras de Arcary, cumpre dizer que Marx
e Engels tiveram muitos “problemas de ser minoria, porque os
lassalleanos tinham a maioria.”
Um clássico exemplo nesse sentido, foi a carta de Marx,
dirigida a Engels, em 1° de agosto de 1877.
Como se
sabe, o Congresso Geral Socialista do Partido Socialista dos Trabalhadores
(SAPD), ocorrido em Gotha, praticamente dois anos
depois, i.e entre 27 a 29 de maio de 1877, havia resolvido, na sessão de 29 de
maio, sob proposta de August Geib, editar “uma revista científica, em formato adequado,
a ser publicada bimensalmente, em Berlim, a partir de 1° de outubro desse ano.
Até essa data, haverá de apensar-se ao jornal “Vorwärts (Avante)”, a cada 14 dias, um suplemento, dotado,
essencialmente, de conteúdo científico”.
Desde
1° de outubro de 1877, surgiu, em Berlim, “Zukunft (O Futuro)” enquanto órgão
teórico oficial do SAPD.
Essa
revista foi financiada pelo social-filantropo Dr. Karl Höchberg e por ele
dirigida sob o pseudônimo R.F. Seifert, sob a orientação de
imprimir à Social-Democracia Alemã um curso abertamente reformista.
Em 20
de julho de 1877, a redação de “Zukunft (O Futuro)” dirigiu cartas
a Marx
e Engels, referindo-se expressamente à Resolução do Congresso de Gotha
de maio de 1877 sobre a edição de uma revista científica, para propor a ambos
contribuirem na produção da revista em causa.
Em 28
de julho de 1887, o próprio Wilhelm Liebknecht escreveu, então,
cinicamente, a Engels, assinalando, expressamente, o seguinte:
“Nossa revista (“Zukunft
<O Futuro> - o título não me agrada particularmente) terá seu início,
em 1° de outubro. A redação será comandada por Höchberg (que nos dará, anualmente, 10.000 marcos) e pelo Dr. Wiede – ambos jovens diligentes, em
particular o primeiro deles, e ambos opositores dos embustes de Dühring.
Sobre ela, organizou-se um controle tão rigoroso que não temos de temer o surgimento de nenhum
ovinho de pintinho.
Você está sendo requisitado para colaborar (evidentemente
também Marx) e será bom que o faça,
ainda que sua atividade principal continue sendo dedicada ao “Vorwärts (Avante)””.[56]
Pronunciando-se acerca da proposta, formulada por Wilhelm
Liebknecht, Marx afirmou, então, em sua carta dirigida a Engels, em 1° de agosto
de 1877 :
“Londres, 1° de agosto de
1877
Querido Fred,
Em anexo, segue carta de Höchberg, dirigida a Hirsch, o qual, no sábado, retornou à Paris. Mande-me de volta, por favor, essa
carta, depois de tê-la lido, pois eu mesmo tenho de entregá-la a Hirsch.
Creio que a carta de Höchberg caracteriza o homem melhor do
que tudo aquilo que Wilhelm Liebknecht
(este brilhou, novamente, por sua recomendação do confúcio Acollas e do faiseur
(EvM.: fanfarrão) Lacroix) disse ou
pode dizer sobre ele. (...)[57]
Há alguns dias, turned up (SvK.: apareceu) – para, logo
a seguir, novamente, desaparecer, rumo à Alemanha
– o alegre e pequeno cifótico, Wedde.
Possuía um pedido urgente
de August Geib para que você e eu
fossemos arregimentados para o “Zukunft
(O Futuro)”.
Para sua grande tristeza, não lhe fiz absolutamente nenhum segredo
sobre nossas pretensões abstencionistas e suas razões, ao mesmo tempo em que lhe expliquei que, quando o
tempo nos permita ou as circunstâncias o exijam, interviremos, novamente, de modo propagandista.
Nós, enquanto Internacional, não estamos, de nenhum modo, ligados ou
obrigados a aderir à Alemanha, à amada pátria.
Em Hamburg, Wedde havia
avistado o Dr. Höchberg e ditto (EvM.: o mesmo) avistou Wedde.
O primeiro estaria tingido
como algo de superficialidade e arrogância berlinense, porém o segundo gostou
do primeiro, apesar deste ainda sofrer muito de “mitologia moderna”.
Quando aquele sujeitinho do Wedde esteve
em Londres, pela primeira vez, usei
a expressão "mitologia
moderna" como designação das Deusas
da "Justiça, Liberdade, Igualdade etc.", as
quais voltaram a andar à solta por aí. Isso lhe provocou uma profunda
impressão, pois o próprio Wedde tem
feito muito a serviço dessas entidades
superiores.
Aos olhos de Wedde, Höchberg parecia um pouco verdühringt
(SvK.: dühringisado, absorvido pelas posições de Dühring) e Wedde possui
um nariz mais afiado que o de Wilhelm
Liebknecht. (...)
Saudações,
Do teu
Negro”[58]
Foi apenas a Sozialistengesetz (Lei contra os Socialistas), mais
precisamente Gesetz gegen die gemeingefährlichen Bestrebungen der Sozialdemokratie
(Lei contra as Pretensões da Social-Democracia Perigosas à Segurança Pública),
proposta por iniciativa de Otto von Bismarck, aprovada
pelo Parlamento
Alemão, em 19 de outubro de 1878, havendo entrado em vigor em 21 de
outubro do mesmo ano, que lançou novas bases políticas para a atuação de Marx
e Engels em socôrro das forças proletárias inteiramente em crise, comandadas
por lassalleanos
e “marxistas-eisenachianos”.
Nos termos da lei em realce, foram proibidas todas as
organizações partidárias e todos os sindicatos que peseguissem objetivos
socialistas. Todos os órgãos socialistas de imprensa de maior relevância foram
reprimidos, todas as assembléias de caráter socialista, interditadas. Por meio
dessa lei de exceção, permitiu-se à Polícia Alemã banir,
arbitrariamente, trabalhadores e funcionários social-democráticos, porquanto
podia ser imposto sobre as cidades e distritos do país o assim denominado “Kleiner
Belagerungszustand (Pequeno Estado Sítio)”.
Segundo a lei em referência, também todo e qualquer movimento
democrático na Alemanha haveria de ser privado de suas direções, de modo a
torná-lo inofensivo.
O primeiro
Congresso
do Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAPD), realizado
em situação de plena ilegalidade, teve lugar, então, entre os dias 20 e 23 de
agosto de 1880, no Palácio Wyden, situado no cantão de Zurique, na Suíça.
Sob a
influência dos princípios do socialismo científico de Marx
e Engels, esse congresso colocou fim ao período de praticamente de dois
anos de oscilações e confusão nas fileiras no Partido, ocasionadas pelo
“Programa
Podre” e pela promulgação, em 19 de outubro de 1878, da Lei
contra os Socialistas, permitindo sacar um balanço sobre o resultado
das divergências, havidas relativamente à formulação da estratégia e tática de
luta do Partido, sob a vigência da lei de exceção em realce.
As resoluções
congressuais adotadas orientaram também o Partido em face de suas frações
oportunistas de direita e de esquerda, estabelecendo uma linha de intervenção
claramente revolucionária, na luta contra o despotismo do Estado Militar Prussiano-Alemão.
Em
consonância com as novas condições da luta de classes na Alemanha, decidiu-se,
unanimemente, positivar, no Programa, o parágrafo de que,
doravante, o SAPD perseguiria seus objetivos “com todos os meios” – e
não mais apenas “com os todos os meios legais”, tal como estabelecido, até
então, pelo ”Programa Podre”.
Ademais
disso, resolveu-se que a revista “Sozialdemokrat (O Social-Democrata)”
tornar-se-ia o órgão oficial do Partido, havendo de se transformar em
ferramente de fortalecimento dos organismos partidários e de difusão das
concepções marxistas, no seio da classe trabalhadora.
Dest’arte,
o congresso em realce lançou os pressupostos para a posterior derrubada da Lei
contra os Socialistas, em 30 de setembro de 1890.
Nos
anos a seguir, sob a vigência da Lei contra os Socialistas, Marx
e Engels lutaram para imprimir um perfil revolucionário à estratégia e
tática de luta da Social-Democracia Alemã.
Após algumas oscilações iniciais, devidas à sua direção
partidária oportunista e opugnada por Marx e Engels, desde a cidade de Londres
-, o SAPD
foi capaz de organizar uma luta ilegal eficaz contra a Lei
contra os Socialistas.
Para isso, Marx e Engels tiveram de se opor,
aguerriedamente, às posições defendidas, no interior do partido, pelos oportunistas
de direita e de esquerda, bem como anarquistas.
Marx e Engels contribuíram para que o SAPD elaborasse e
implementasse políticas e estratégias proletário-revolucionárias, no quadro da
nova situação institucional. Devido a isso, foram concomitantemente combinadas
entre si e impulsionadas todas as formas de luta legais e ilegais, de modo que
o SAPD
resultou ser capaz de superar sua prova de fogo, desenvolvendo-se rumo a um
partido de massas, no âmbito de sua luta contra a Lei contra os Socialistas.
Em 14 de janeiro de 1888, o Governo Bismarck
apresentou ao Parlamento Alemão mais um Projeto de Lei, exigindo a
prorrogação da vigência da lei em exame, até 30 de setembro de 1893, bem como o
encrudescimento das prescrições normativas, mediante a previsão de penas ainda
mais severas para a distribuição de materiais literários proibidos, adesão a
“associações secretas” e participação em assembléias ou reuniões de caráter
socialista, realizadas até mesmo no exterior, ficando esse último fato típico
sujeito à imposição de perda da própria nacionalidade alemã.
Apenas em 25 de janeiro de 1890, o Parlamento Alemão
rejeitou, sob a pressão das massas alemãs, uma nova prorrogação da Lei
contra os Socialistas.
E, com efeito, sua inutilidade demonstrara-se no fato de que,
nas eleições de fevereiro de 1890 – i.e. praticamente 12 anos após a vigência
da lei em tela - , o SAPD logrou receber, até mesmo, 19,7
% de todos os votos, consagrando-se, então, como o maior partido da Alemanha.
Por fim, em 30 de setembro de 1890, a lei de exceção em
destaque foi derrogada.[59]
II.
Ao mesmo tempo, Arcary confunde,
claramente, a posição de Marx – visto que nem sequer cita a
de Engels
sobre o tema – com aquela defendida por aqueles que se reivindicavam “marxistas-eisenachianos”.
E conclui : “Mas, Marx não teve problemas de ser
minoria porque Lassalle tinha a maioria”.
Já entre os ”marxistas-eisenachianos”,
Arcary
nem ao menos refere as importantes diferenças havidas entre Wilhelm
Liebknecht, August Geib, August Bebel, Eduard Bernstein, Wilhelm Bracke.
Apenas, conclui : “E os
marxistas não tiveram problemas de aceitar que eram minoria no Partido Operário Alemão. ... Ninguém menos do que Marx ..., entrou com as suas forças, incondicionalmente,
na construção do Partido Operário Alemão porque
havia acordo no Programa.”
Em
verdade, a luta contra a integração
das filerias das forças proletárias da Alemanha ao regime do Estado
Prussiano, mediante a política de colaboração de classes de Lassalle,
possui seu dealbar sob a inflexível batuta ideológica de Marx e Engels contra a
direção oportunista de Wilhelm Liebknecht e August Bebel,
já ao longo dos anos 70 do século XIX,
no quadro de suas contudentes críticas a todos os Programas do SDAP/SAPD/SPD.
O Programa
de que se trata aqui, que sedimentou a Coalizão de Gotha, de 1875 foi,
em verdade, intelectualmente elaborado, em grande parte, pelos lassalleanos Wilhelm Hasselmann e Wilhelm Hasenclever, negociado por Wilhelm Hasselmann, Wilhelm Liebknecht e August Geib, sustentado enfaticamente por Eduard Bernstein,
admitido politicamente, apesar de leves e ligeiras críticas, por August
Bebel – e rechaçado agudamente
por Marx
e Engels que contavam com o apoio de Wilhelm Bracke.
Quanto
a Bracke - este destacado quadro do marxismo
revolucionário alemão - dirigiu-se, em carta, a Engels, em 25 de março de
1875, alegando o seguinte:
“O programa apresentado para o Congresso de Unificação e firmado por Wilhelm Liebknecht e August Geib, forçou-me à redação destas
linhas.
Para mim, resulta impossível adotar esse programa e
também Bebel possui a mesma
opinião.”[60]
A Social-Democracia
Alemã rumou para a fusão dos ”marxistas-eisenachianos” e lassaleanos
não reivindicando absolutamente, em seu Congresso do Compromisso de Gotha,
ocorrido entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, a consigna programática de Ditadura
Revolucionária do Proletariado, bem como a indispensabilidade de
destruição armada do aparelho de Estado Burguês pelo proletariado – apesar da
experiência da Comuna de Paris - , mas sim postulou, entre outras consignas
puramente lassalleanas, a edificação de um Estado Popular Livre, a ser
introduzido em substituição do então existente Estado Prussiano,
assentado este sobre a dominação de classe burguesa-capitalista.
Pois, em consonância com suas posições inteiramente oportunistas, Bebel
fez publicar, repetida e imodificadamente, em inúmeras edições, havidas até o
ano de sua morte, sua célebre concepção sobre a necessidade de transformação
do Estado de classe burguês em um Estado popular.
Nesse sentido, Bebel afirmou, pela primeira vez, em sua obra dada ao público
inicialmente em 1870, expressamente o seguinte :
“Demonstrei com o Estado da atualidade é um Estado de classe, situado,
especialmente, sob a dominação da burguesia, sendo que, portanto, não possui e
nem possuirá os meios para apoiar a produção cooperada, empreendida através da
organização de cooperativas de produção. Se a burguesia fizesse isso, se as
classes dominantes o fizessem, agiriam contra o seu próprio interesse.
Formariam na classe trabalhadora não apenas
um concorrente, senão ainda um fator que tornaria, de modo geral, a burguesia,
finalmente, impossível, deixando de existir sua dominação de classe. Isso
seria, naturalmente, suicídio que não cometerá, espontaneamente, de nenhuma
maneira.
Disso resulta que a classe trabalhadora tem
de conquistar o poder, o que seguramente pode fazer, porque a classe
trabalhadora constitui a grande maioria e sua consigna não é apenas de liberdade, mas também de igualdade de direitos,
incluindo, portanto, em si mesma a justiça. Nessa sede, quero, mais uma
vez, expressamente assinalar que, pelos motivos já expostos inicialmente, não
apenas entendo sob essa classe trabalhadora os trabalhadores assalariados, em
estrito senso, senão também os artesãos e pequeno-camponeses, os trabalhadores
intelectuais, os escritores, os professores das escolas populares, os
servidores públicos de grau inferior, todos os que, sofrendo sob as condições
atuais, possuem uma posição pouco - ou de nenhum modo – melhor do que a dos
trabalhadores assalariados e, estando, talvez, algo melhor do que estes – tais
qual o estamento dos artesãos e dos camponeses autônomos – tornam-se, irresistivel
e impiedosamente, vítimas do moderno desenvolvimento.
Assim, essas diversas classes formam, na
realidade, a maioria esmagadora do povo e, como
não se trata da repressão da minoria pela maioria, mas sim da igualdade de
direitos e igualdade de posição de todos, não se pode, portanto, falar da dominação de uma classe ou de um
estamento – seja mesmo da dominação da classe trabalhadora.
Trata-se, pelo contrário, de uma sociedade
tão democrática a que se aspira, tal qual jamais existiu sobre a face da terra.
Reproduzi, detalhadamente, esse último ponto, porque a “Demokratische
Korrespondenz (Correspondência Democrática” e todos os nossos inimigos referem
algo como a dominação de classe ou estamental e porque, em suas questões,
conseguem apenas imaginar, da maneira mais ingênua do mundo, a reorganização da
sociedade, exigida pela Social-Democracia, como uma colcha de retalhos, operada
sobre a sociedade burguesa de hoje.
O
Estado há de ser, portanto, transformado de um Estado, fundado sobre a
dominação de classe, em um Estado Popular, em um Estado que não haja nenhum
tipo de privilégios.
E esse Estado deverá, a partir daí, permitir, com todos
os meios e forças, colocados à sua disposição, o surgimento da produção
cooperativa, no lugar das empresas privadas isoladas.
Em um tal Estado, o ajudar a si mesmo é auxílio popular,
o auxílio popular é auxílio, prestado pelo Estado, o ajudar a si mesmo e o
auxílio do Estado são, portanto, idênticos. Um antagonismo não existe.”[61]
Diante
de todo o exposto, cumpre, então, perguntar como seria possível que Marx
e Engels manifestassem seu acordo com um Programa desse gênero, “parido
por Wilhelm Liebknecht com o veado do Hasselmann” - para usar o
vocabulário bastante expressivo de Engels -, havendo esse Programa de ser,
então, “desmascarado como pura imbecilidade”?
III.
Arcary afirma, além disso, que “Marx se uniu à construção do primeiro grande partido operário de massas que foi o
Partido Operário Alemão, Marx era
minoria. E os marxistas não tiveram problemas
de aceitar que eram minoria”.
Na
realidade, o oposto àquilo que Arcary diz é o que corresponde à
verdade histórica.
Engels, em sua carta dirigida a August Bebel, redigida
entre 18 e 28 de março de 1875, declara que nem Marx nem Engels eram
responsáveis pela minoria alemã dos assim denominados ”marxistas-eisenachianos”, oriundos
do Partido
Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (Sozialistische Arbeiterpartei
Deutschlands – SAPD), fundado entre os dias 7 e 9 de agosto de 1869.
„As
pessoas imaginam precisamente que somos nós
(SvK.: i.e. Marx e Engels) que comandamos, desde aqui (SvK.: da cidade
de Londres), a coisa toda, enquanto que o Sr.
e eu sabemos que nós nos imiscuimos, minimamente e quase nunca, nas questões
interno-partidárias e, quando o fazemos, apenas para, na medida do
possível, corrigir erros – e, em
verdade, apenas erros teóricos - que, em nosso entendimento, foram
cometidos
Porém, o Sr. há de reconhecer que esse programa constitui um ponto de virada que nos poderia forçar,
muito facilmente, a rejeitar toda e
qualquer responsabilidade em relação ao Partido que o adote.
Falando em geral, a questão depende menos do Programa
Oficial de um Partido do que daquilo que é realmente praticado por ele.
Porém, um novo programa é sempre e antes de tudo, uma
bandeira hasteada publicamente, segundo a qual o mundo exterior julga o Partido.“ [62]
IV.
Tais negociações de Wilhelm
Liebknecht sobre a fusão, envolvendo questões de Programa, não servem, em verdade, como exemplo para a apologia
democrático-operária, tal qual pranteada por Arcary, pois foram, em
verdade, negociações burocráticas.
Tratou-se de um “conchavo”, realizado “atrás
das mesas”, “de costas para o plenário”, com total desinformação de
Marx, Engels e mesmo de Bebel, visando à celebração de uma
fusão a toque de caixa com os lassalleanos, fundada em um
“Programa Podre”, lograda com o método
do fato consumado.
Seu método foi a publicação, em 7 de março de 1875, nas
páginas do órgão do Partido Social-Democrático dos Trabalhadores da Alemanha (SDAP),
denominado „Der Volksstaat (O Estado Popular)“, e no órgão da Associação
Geral dos Trabalhadores da Alemanha
(ADAV), de nome “Neuer Socialdemokrat (Novo
Social-Democrata)”, de uma conclamação, intitulada “Aos Social-Democratas da
Alemanha!”, adotada pelos dirigentes de ambos os partidos em causa, na Pré-Conferência
de Gotha de 14 e 15 de Fevereiro de 1875, tornando pública a convocação
de um “Congresso dos Social-Democratas da Alemanha”.
Juntamente com essa conclamação, foi publicado ainda um Projeto
de Programa do Partido e um Estatuto que haviam sido debatidos,
no quadro da pré-conferência em tela.
Surpreendido com tal fato, até mesmo
Bebel
dirigiu-se por meio de carta, enviada de sua cela, a Engels para
perguntar-lhe:
“O que é, então, que o Sr. e Marx dizem acerca da questão da unificação? Não tenho nenhum julgamento completamente válido.
Pois,
encontro-me totalmente desinformado.
Sei apenas o que noticiam os jornais.
Estou ansioso por ver e ouvir como as coisas ficarão,
quando for libertado, em 1° de abril.”[63]
O resultado da negociação, promovida
“de
costas para o plenário”, por Wilhelm Liebknecht e August Geib – ”marxistas-eisenachianos”
–, de um lado, e Wilhelm Hasselmann e Wilhelm
Hasenclever, d’outro, foi o assim denominado “Programa Podre”, produzido
para criar a ilusão democrática de maiorias e minorias.
O “Programa
Podre” foi, finalmente, votado e aprovado pro forma pelo Congresso
de Gotha de 1875, com pouquíssimas e inexpressivas modificações, em
total desprezo às posições defendidas por Marx e Engels, o que os colocou
diante de um fato consumado.
Esse
congresso democrático foi inteiramente teatral, feito para criar a impressão de ampla
participação das bases, uma relação formal entre uma maioria adepta do socialismo
pequeno-burguês e uma minoria, encabeçada por Bebel, Liebknecht, Geib,
Bernstein, retoricamente protestatária.
Foi um mecanismo, criado para legitimar a subodinação das forças proletárias
alemãs lassalleanas e “marxistas-eisenachianas” à
dominação de uma elite aristocrática, saída de suas fileiras, gerando uma aparência
de unidade de luta, à revelia das verdadeiras necessidades do movimento
de emancipação do proletariado da Alemanha.
As negociações pré-congressuais
e o democratismo
congressual que aprovou o Programa Podre, foram, então,
esclarecidos, hipocritamente, da seguinte forma, pelo “marxista-eisenachiano” Hermann
Ramm, em carta de 24 de maio de 1875, endereçada a Engels :
“Sua carta dirigida a mim circulou,
tal como a carta de Marx dirigida a Bracke.
O Sr. verá, a partir das negociações
congressuais, que, de nossa parte, estivemos inclinados a ter em consideração
as suas intenções, bem como as de Marx,
o que, no congresso – sobre o qual Wilhelm
Liebknecht escreve, nesse momento, que tudo se passou de modo positivo -,
foi muito mais fácil do que há dois meses antes. ...
Pelo contrário, outra coisa se dá no
que concerne à nossa relação, em sentido tático.
Nesse domínio, não há nenhma dúvida
que, se não tivéssemos feito decisivas concessões, teria sido impossível aos Hasselmanns, mesmo com a melhor da boa
vontade, tornar agradável à sua associação o pensamento de unificação, em razão
de sua estreiteza intelectual que aqueles rapazes impulsionaram, durante meia
dúzia de anos.”[64]
E ainda Bebel, de modo centrista, asseverou:
“Concordo, inteiramente, com a apreciação que o Sr. formulou sobre o
Projeto de Programa, tal como também
o comprovam as cartas que diriga a Bracke.
Além disso, censurei, de modo
enérgico, Wilhelm Liebknecht por sua
complacência, porém, depois de ocorrida a infelicidade, cumpria arrancar o
melhor possível da situação.
O que decidiu o congresso foi o máximo que era possível alcançar.”[65]
V.
Por fim, cabe ressaltar que Arcary
não mede palavras para destacar: “Mas,
Marx não teve problemas de ser minoria porque Lassalle tinha a maioria.”
Em verdade, essa frase expressa um
grande absurdo, senão uma inteira possibilidade.
Pois, na ocasião descrita por Arcary,
Ferdinand
Lassalle já se encontrava morto, há mais de 10 anos, sendo, portanto,
impossível que a maioria seguisse esse dirigente.
A maioria referida seguia, sim, os
epígonos de Lassalle, em particular Wilhelm Hasselmann e Wilhelm
Hasenclever, pois Johann Baptist von Schweizer já se
havia afastado da direção da Associação
Geral dos Trabalhadores da Alemanha
(ADAV)no sexto ano após a
morte de Lassalle.
Em verdade, a questão da morte de Lassalle
adquiria para a unificação crucial importância porque esse era precisamente o
principal argumento esgrimido por Wilhelm Liebnecht – que se
reivindicava ”marxista-eisenachiano” - para procurar convencer Marx
e Engels sobre a debilitação dos lassalleanos, decorrente da perda de
seu grande dirigente.
Wilhelm Liebknecht, em carta de 21 de abril de 1875,
dirigida a Engels, pronunciou-se da seguinte maneira:
“As deficiências do programa, para as quais o
Sr. nos chama a atenção, são indiscutivelmente existentes e delas estávamos
conscientes, desde o início. Entretanto, não puderam ser evitadas, na
conferência, se não devéssemos romper as
negociações de unificação.
Os lassalleanos haviam tido,
imediatamente antes, uma reunião de
dirigentes e vieram munidos com mandato
imperativo para o tratamento de certos pontos especificamente chocantes.
Tivemos de fazer-lhes concessões tanto mais porque para nenhum de
nós (como também para nenhum dos nossos outros) havia dúvida de que a unificação significa a morte do lassalleanismo.”[66]
E, poderíamos acrescentar, hoje – à
luz da experiência haurida ao longo de mais de um século de luta de classes -,
as concessões
no Programa foram feitas por Wilhelm Liebknecht porque a
unificação significava, sim, “a morte do lassalleanismo”.
Porém, significava também – e isso Wilhelm
Liebknecht não tinha visão científico-socialista para compreender - o
início da “mais inteira falência da Social-Democracia Alemã, enquanto organização
revolucionária do proletariado.”
Derrubada a Lei contra os Socialistas, August
Bebel e Wilhelm Liebknecht passaram a demonstrar, já a partir do início
de 1890, tendências ostensivas de pretenderem voltar a intervir exclusivamente
no quadro da legalidade burguesa.
Engels combateu,
implacavelmente, até ao dia de sua morte, a direção alegadamente “marxista”
de August
Bebel, Wilhelm Liebknecht, Karl Kautsky, Eduard Bernstein e
colaboradores que, na década de 90 do século XIX, seguiram imprimindo, enquanto
“friedfertige
Anbeter der Gesetzlichkeit quand même (EvM.: veneradores pacifistas da
legalidade, sob todas as condições), uma orientação invarialvelmente
pacifista e reformista ao Partido da Social-Democrarcia da Alemanha.
Por isso, diversos artigos de Engels, produzidos nos
últimos anos de sua vida, foram censurados ou simplesmente não publicados.
Em outubro de 1891, foi adotado o Programa de Erfurt do SPD
o qual, apesar de representar um passo adiante em comparação com o Programa
de Gotha de 1875 – por assentar-se, então, em linhas gerais, sobre concepções
econômicas de Marx -, consolidou importantes concessões políticas,
feitas pelos oportunistas, comandados por August Bebel, Wilhelm Liebknecht
e Karl Kautsky, aos reformistas, acaudilhados, então,
por Eduard
Bernstein, um dos protagonistas do ”Revisionimus-Debatte(Debate sobre o
Revisionismo)”, iniciado em 1896. Engels também criticou,
detalhadamente, o Programa de Erfurt de 1891, destacando os principais aspectos
tanto do oportunismo quanto do reformismo, nele acolhido e
defendido pela II Internacional Socialista.
Em especial, o Programa de Erfurt de 1891 ignorava,
mais uma vez, inteiramente a reinvindicação de Ditadura Revolucionária do
Proletariado, enquanto forma de transição à sociedade socialista sem
classes.
Os principais dirigentes do SPD impediram que a base
do Partido e os trabalhadores alemães tivessem acesso à crítica formulada por Engels
a esse programa, desprezando, completamente, seu conteúdo na formulação
do texto programático final.[67]
Voltando sua atenção às resoluções do Programa
de Erfurt, Karl Kautsky, à época o principal mentor ideológico da Social-Democracia
Alemã e da II Internacional, assinalou, expressa e cabalmente, em 1892:
“Uma tal derrubada (i.e. a derrubada do poder político pelo proletariado)
pode assumir as formas mais variadas, conforme as relações sob as quais se
executar. De nenhuma maneira, tem de
necessariamente estar vinculada a atividades de violência e a derramento de
sangue.
Já existiram casos na história mundial em que as classes dominantes foram particulamente
compreensivas – ou particularmente fracas
e medrosas -, de modo que abdicaram voluntariamente em face de uma situação
de coação.”[68]
No mesmo sentido, Wilhelm Liebknecht, no quadro do Congresso
de Erfurt, realizado em 1891, pronunciou-se, categoricamente, da seguinte forma acerca da
temática em destaque:
“O elemento revolucionário não se
situa nos meios, mais sim no objetivo.
A violência é, desde há séculos, um fator reacionário.”[69]
Wilhelm Liebknecht negava,
além disso, a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do Proletariado para o atingimento do socialismo –
admitindo-a apenas como medida excepcional em caso de guerras.[70]
Impende anotar que, entre 14 de fevereiro e 6 de março de
1895, Engels redigiu sua “Introdução à Luta de Classes na França de
1848 a 1850 de Karl Marx”, a qual foi publicada no curso do mesmo ano,
na cidade de Berlim.
Depreende-se, entretanto, de uma carta de Richard
Fischer, dirigida a Engels, em 6 de março de 1895, que a
direção do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) exigiu de Engels
uma atenuação do tom linguístico-revolucionário, contido em sua referida “Introdução”.
Na carta de resposta de Engels a Fischer,
datada de 8 de março de 1895, verifica-se que Engels contestou,
detalhadamente, as preocupações que a direção do SPD levantava,
elucidando, inequivocamente, sua posição jurídico-político-revolucionária.
A crítica de Engels dirigia-se contra a atitude
irresoluta da direção do SPD, encabeçada, então, por August
Bebel, Wilhelm Liebknecht, Eduard Bernstein, Richard Fischer etc. – e
sua pretensão de intervir exclusivamente no quadro da legalidade burguesa.
Engels foi obrigado,
entretanto, a fazer certas alterações léxicas e gramaticais em seu texto
original, bem como eliminar, inteiramente, certas passagens, em que realçava a
necessidade da luta armada do proletariado vindoura contra a burguesia.
Baseados no texto dessa notável “Introdução”, alguns
célebres dirigentes do SPD empreenderam, a seguir, a
tentativa de deformar os posicionamentos de Engels, incluindo-o entre
os adeptos
da via pacífica “quand même (EvM.: custe o que custar)”, para a tomada
do poder pela classe trabalhadora.
Nesse sentido, em 30 de março de 1895, publicou-se, no “Vorwärts
(Avante)”, um artigo editorial, intitulado “Wie man heute Revolutionen macht
(Como se Fazem Revoluções Hoje)”, em que diversas citações, extraídas
aleatoriamente da “Introdução” de Engels, produziam a falsa impressão de que Engels
havia-se tornado “ein friedfertiger Anbeter der Gesetzlichkeit quand même(EVM.: um
venerador pacifista da legalidade, sob todas as condições)”.
Logo depois da reedição da obra de Marx em questão, Engels
exigiu, energicamente, que sua “Introdução” fosse publicada, na
íntegra, na revista “Die Neue Zeit (O Novo Tempo)”.
Sem embargo, o Nr. 27/28, 2 Vol. 13° Ano, 1894/95 dessa
revista decidiu-se por publicar apenas a “Introdução” com as alterações e as
supressões referidas que Engels fora forçado a efetuar, sob
pressão da direção do SPD.
Entretanto, a despeito destas, é efetivamente possível
verificar que a “Introdução” em causa preserva, ainda assim, seu caráter
revolucionário, pouco podendo prestar-se às degenerações de posições, contidas
no artigo editorial do “Vorwärts(Avante)”, intitulado “Wie
man heute Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”.
Neste comenos, uma publicação integral da “Introdução”
de Engels não teve em lugar, na Alemanha, antes de eliminado o
perigo de promulgação de uma nova Lei contra os Socialistas.[71]
Assim, é perfeitamente correto afirmar que a luta interna
contra a integração da Social-Democracia Alemã ao regime do
Estado Prussiano começou muito antes de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht,
possuindo o seu dealbar já sob a inflexível batuta ideológica de Marx
e Engels, seja no quadro de suas contudentes críticas a todos os Programas
do SDAP/SAPD/SPD, seja no contexto da luta revolucionária em face da Lei
contra os Socialistas de 1878 a 1890.
Engels combateu,
implacavelmente, até ao dia de sua morte, a direção alegadamente “marxista”
de Wilhelm
Liebknecht, August Bebel, Karl Kautsky, Eduard Bernstein e
colaboradores que, na década de 90 do século XIX, seguiram imprimindo, eles
sim, enquanto “friedfertige Anbeter der Gesetzlichkeit quand même (EvM.: veneradores
pacifistas da legalidade, sob todas as condições), uma orientação invarialvelmente pacifista e
reformista ao Partido da Social-Democrarcia da Alemanha.
Por isso, os artigos de Engels foram repetidamente censurados ou
simplesmente não publicados.
De todo modo, falar do SPD, pura e simplesmente,
como o “partido de Engels” - sem destacar a luta travada por esse
último contra o filistinismo do “livre pensar” -, constitui um equívoco patente : caberia falar
ou do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) com que Marx
e Engels colaboraram criticamente a partir da Inglaterra – pois, ambos
haviam sido expulsos da Alemanha, logo após a Revolução
de 1848 – 1849, tendo sido Marx forçado a tornar-se apátrida -
ou do Partido que se opunha à orientação de Marx e Engels, em vez de
falar, sem mais nem menos, do “Partido de Engels”[72].
Cabe, em verdade, a Ernst Mandel e aos incorrigíveis
adeptos e colaboradores do mandelismo – no estilo de Daniel Bensaïd -
defenderem a tese arenosa de que o “Partido de Engels” se integrou ao
imperialismo alemão, por permanecer em sua “velha e preservada tática”,
finalmente antagonizada por Rosa Luxemburgo.[73]
Por outro lado, cumpre destacar que a grandiosa e
corajosa luta travada pela águia revolucionária do proletariado, Rosa Luxemburgo
contra a direção social-reformista do Partido Social-Democrático Alemão
(SPD), possuía como elementos de enfraquecimento a própria postura
equivocada de Rosa Luxemburgo. Defendendo, por um lado, a derrubada de Wilhelm
II, Rosa mantinha invariável sua posição que rejeitava abertamente o
Direito de auto-determinação das nações oprimidas – contra a orientação de Marx
e Engels -, propugnava uma teoria de acumulação do capital inteiramente
revisionista – contra os posicionamentos de Marx e Engels -, postulava,
nas lutas proletárias, uma defesa essencialmente democratista de direitos e
liberdades fundamentais para todos os indivíduos e organizações sociais –
contra a concepção de Marx e Engels -, repudiava a teoria de Partido
centralizado e clandestino – contra a concepção de Marx e Engels, Lenin e os
bolcheviques -, o que, sem dúvida, favorecia estrategicamente, em grande parte,
as posições do social-reformismo e do oportunismo organizativo da Social-Democracia
Alemã.
Entre os proletários revolucionários alemães desse
período histórico encontraremos também aqueles que, não apenas defendendo a
derrubada do Imperador Alemão, inclinavam-se também – ainda que
intermediados por Karl Radek - a favor da defesa do modo de funcionamento e da
linha geral internacionalista do Partido Bolchevique de Lenin.
Reuniam-se em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e
Julian Borchard e de seu trabalho surgiram também importantes
sustentáculos, indispensáveis à fundação do Partido Comunista da Alemanha
(Liga Spartakus), em fins de 1918 e início de 1919, à qual se somaram Rosa
Luxemburgo, Karl Liebknecht, Franz Mehring e seus adeptos.
III.
COMO SE TORNAR MARXISTA AOS OLHOS DE PETRAS :
SUA DESVAIRADA DOUTRINA
ONTOLÓGICO-PETRÁSTICA DOS “MARXISMOS”
Referida lição sobre o Estado
burguês como um “aparato duro”, Petras, o Professor de
Sociologia da Universidade de Birghampton, de Nova York, ensinou a Valerio
Arcary na medida em que “foi capaz de criar a idéia” de
criticar acerbamente a “cadeia de raciocínio de Marx e Engels”, visto
que para mover-se em direção da ação da classe trabalhadora, “a concepção de Marx e Engels tem de ser sujeitada à mais
ácida crítica, i.e. subjected
to the harshest criticism)...”
“Que o Estado burguês, como nos ensinou Petras, existe como um aparato
duro, cuja função é preservar a ordem e a propriedade privada, que não hesitará
em aplicar a violência mais implacável sobre aqueles que ameaçarem a sua
dominação.”[74]
Trabalhador ! Que fazer para tornar-te marxista ?
Lutador da cidade e do campo ! Como agir para mover-te rumo à
ação da classe trabalhadora ?
Eis o antídoto petrástico :
“Para tornar-se marxista, no sentido
da realização dos objetivos do Manifesto Comunista, é necessário rejeitar as falsas premissas de Marx e
Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia.
Para mover-se rumo à ação da classe
trabalhadora, a concepção de Marx e
Engels tem de ser sujeitada à crítica mais ácida. (no original : subjected to
the harshest criticism)....” [75]
Assim :
Rejeitai as falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia, para que ... para que ... para que ... para
que vos torneis marxistas!
Sujeitai a concepção de Marx e Engels à crítica
mais ácida !
Tendo-vos tornado “marxistas” por meio da crítica mais
ácida a que haveis submetido a concepção de Marx e Engels, aprendei a
lição originalíssima acima referida sobre o Estado Burguês que Petras
“nos”
ensinou.
Uma vez rejeitada as falsas premissas de Marx
e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia, sujeitada
a concepção de Marx e Engels à crítica mais ácida e absorvida,
in
continenti, sem detença, a lição inatíssima sobre o Estado
Burguês que Petras “nos” ensinou, ... haveis de
transitar rumo ao ápice de todo o edifício, em verdade, rumo à doutrina
ontológica dos “marxismos” !
Esse fundamento ensinou-“nos” também
Petras, o Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton,
de Nova York, na medida em que previu, como acima ficou indicado,
a existência dicotômica dos “marxismos”, a saber :
a. o “marxismo vulgar ou mecânico”, forma
petrificada de ver as coisas que perdeu a vigência com a Revolução Cubana ;
b.
o ”marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento”, esse último
o de “Lenin e Gramsci”, esposado por “Guevara e
Castro”.
Portanto :
E ... uma vez rejeitada as falsas premissas de Marx
e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia, e
... sujeitada a concepção de Marx e Engels à crítica mais ácida, e
... absorvida, prontamente, a lição inatíssima sobre o Estado
Burguês que Petras “nos” ensinou e ... aprendida
a lição
sobre os “marxismos” vulgar/mecânico e consciente-das-influências-culturais-do-entendimento,
... é imprescindível que vos aprofundeis, ainda mais, nesse último
domínio da doutrina ontológica dos “marxismos”, pois aí
reside o punctum saliens, i.e. o núcleo da coisa toda.
Esse punctum saliens ensinou-“nos”
também Petras, o Professor de Sociologia da Universidade de
Birghampton, de Nova York, na medida em que, mais recentemente, “foi
capaz de criar a idéia”, relacionada com a doutrina do ”marxismo com
lado positivo ou verdadeiro”, em relação antitética ao ”marxismo
com lado negativo”, ambos suplementados sinteticamente pelo “marxismo
acadêmico” e pelo “marxismo aplicado-criativamente, em sentido
histórico”.
Consolai-vos, pois, a doutrina ontológica dos “marxismos”,
expressada, de modo empírico, no fenômeno “dialético” dos ”marxismos” com
lados positivo/verdadeiro-negativo-acadêmico-aplicado-criativamente, foi
elaborada, por Petras, em sentido histórico, à maneira de teses ex
cathedra, o que facilita substancialmente seu aprendizado.
Sua doutrina sobre os “marxismos” encontra-se, assim,
plasmada em 5 Contribuições e 10 Razões de Difusão do MARXISMO (sic) !
Nisso, Petras não hesitou em pronunciar-se tal qual Giovanni
Pico, no século XV, quando em Roma, proclamou aos
presentes suas teses De omni re scibili et quibusdam aliis ...
Dai ouvido às Teses do Mestre, ó leitor de todo o mundo,
pois :
Por que estáis rindo? A fábula
refere-se a ti mesmo !
“Quid rides ? De te fabula narratur
!” :
“James Petras. A Difusão do Marxismo e o Desenvolvimento
do Movimento da Classe Trabalhadora
(Entra
em cena a introdução, seguida por Cinco, Cinco, Cinco, Cinco Contribuições sob
o título O Que o MARXISMO (sic) ensina
aos trabalhadores?
Pergunta-se
:
“Quais são as Maiores Contribuições do MARXISMO (sic)
para a Luta Operária? O Que o Marxismo ensina aos trabalhadores :”
O Mestre elenca as Cinco, Cinco, Cinco, Cinco
Contribuições.
Saem as
Cinco, Cinco, Cinco, Cinco Contribuições
de cena e entram, então:)
AS DEZ, DEZ, DEZ, DEZ RAZÕES PARA DIFUNDIR O MARXISMO ENTRE
OS TRABALHADORES – EXPLICAÇÃO ADICIONAL
(Elecam-se Nove, Nove, Nove, Nove Razões.
Saem as Nove, Nove, Nove, Nove Razões de cena.
Chegamos,
então, à cumeeira, ao clímax, ao cume, à
conclusão das Dez, Dez, Dez, Dez Razões para Difundir o Marxismo entre os
Trabalhadores : )
(...)
DÉCIMA RAZÃO.
O marxismo tem tanto uma história positiva como uma
histórica negativa.
O lado negativo do “marxismo” encontra-se em sua sumária expressão metafísica “hegeliana”, que “nunca toca a terra” – que está
desprovida da análise concreta e divorciada da luta de classes.
O marxismo verdadeiro é
histórico e empírico, relaciona a teoria com a compreensão das experiências
concretas, históricas e contemporâneas.
O marxismo negativo é dogmático,
imitativo e acadêmico e depende de uma “linguagem exótica”.
Está
fechado para as novas idéias, experiência e realidades.
Todas
as respostas encontram-se em um livro fechado, mencionado por líderes ou
regimes cujas experiências são copiadas, sem considerar as especificidades
históricas, culturais, políticas e de classe.
Os marxistas acadêmicos (EvM.: ouçam bem :
todos ..., todos ..., todos ..., todos ... os que se enquadram na categoria
“marxista”-petrástica dos «marxistas
acadêmicos») falam entre si em um
jargão muito técnico, divorciado das lutas práticas dos trabalhadores e
camponeses, são extensos nas críticas e curtos nas soluções e alternativas
práticas.
Os marxistas positivos estão abertos a
novos conceitos, examinando os fenômenos novos (problemas da burocracia,
intelectuais, destruição ecológica, Organizações não governamentais etc.) e
introduzindo conceitos novos que estendem a análise Marxista a áreas novas.
Os marxistas aplicam criativamente conceitos
básicos a estruturas de classe específicas, particulares, históricas e
culturais.
Rechaçam
o “copiado” mecânico de outros “modelos” de revolução ou estratégia política.
Reconhecem
as mudanças no tempo, lugar, estrutura de classes e correlação de forças.
O marxismo positivo não apenas “estuda”
os problemas, senão ainda está orientado para a ação.
Para
relacionar sua análise com a prática emprega uma linguagem compreensível para
os trabalhadores.
Por
todas essas razões, o progresso do movimento operário, o desenvolvimento e a
difusão das idéias marxistas entre a classe operária e a luta de classes estão
indissoluvelmente ligados.”[76]
Suplementando a dicotomia acima referida existente entre os “marxismos” vulgar/mecânico
e consciente-das-influências-culturais-do-entendimento, com estas dos “marxismos”
com lados positivo/verdadeiro
e negativo, tanto uns quanto
outros completados sinteticamente pelos “marxismos” acadêmico e aplicado
criativamente, em sentido histórico, alcançamos, então, o âmago da
doutrina ontológica dos “marxismos”.
Não podendo dividir fisicamente Karl Marx em pedacinhos, Petras
divide o marxismo em “marxismos”, dele construindo,
“criativamente”, uma doutrina fantástica e sobrenatural, formada
por diversas porções que compõem o pensamento do de cujus : uma
delas possui o braço ..., a segunda, os olhos ..., a terceira,
os pés ..., a quarta, os dedos ... , tais quais arrancadas por um mago de sua
cartola sem fundos.
E com efeito, diz-nos Horácio :
“Humano capiti cervicem pictor
equinam jungere si velit
Se a uma
cabeça humana um pintor quisesse juntar um pescoço de cavalo
et varias inducere plumas undique
collatis membris
e
acrescentar várias penas, apanhando membros por todos os lados
ut turpiter atrum desinat in piscem
mulier formosa superne
de modo
que, degraçadamente, terminasse em peixe tenebroso uma mulher de seios
formosos
spectatum admissi risum teneatis,
amici ?”
uma vez
admtidos a contemplá-la, amigos, haveis de conter o riso ?[77]
Recapitulemo-la, porém, a “criativa” doutrina ontológico-petrástica
dos “marxismos”, composta pelas seguintes partes ou “lados”
(sic) :
1 .o ”marxismo vulgar ou mecânico”, forma petrificada de
ver as coisas que perdeu a vigência com a Revolução Cubana ;
2. o ”marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, esse último o de “Lenin e Gramsci”, esposado
por “Guevara e Castro”.
3. o “marxismo positivo ou verdadeiro” que é histórico e
empírico e não possui linguagem exótica, em oposição ao “marxismo
negativo” ;
4. o “marxismo negativo” de linguagem exótica e dogmático
que encontra sua sumária expressão metafísica
“hegeliana”, que “nunca toca a terra” – que está desprovido da análise concreta
e divorciado da luta de classes, permanecendo fechado para as novas idéias, experiências
e realidades, especificidades históricas, culturais, políticas e de classe ;
5. o “marxismo acadêmico” falado entre os acadêmicos com
base em um jargão muito técnico, divorciado das lutas práticas dos trabalhadores
e camponeses, extensos nas críticas e curtos nas soluções práticas ;
6. o “marxismo aplicado
criativamente”, dotado de conceitos básicos aplicados a estruturas de
classe específicas, particulares, históricas e culturais, que rechaça o “copiado”
mecânico de outros “modelos” de revolução ou estratégia política, reconhecendo
as mudanças no tempo, lugar, estrutura de classes e correlação de forças.
Não constitui verdadeiramente nenhum
assombro o fato de que os gramscistas monistas e seus colaboradores
dualistas ou trialistas – neo-stalinistas-gramscianos,
stalinistas-maoístas-gramscianos, trotskystas-gramscianos et caterva - fundam-se, prazeirosamente, na doutrina
ontológica dos “marxismos”, tão detalhadamente reciclada por James
Petras, que consagra, em seu zênite, o “marxismo aplicado
criativamente”.
Pois, também o “Grande Teórico Mais Recente” em
matéria de “Internacionalismo e Política Nacional” – segundo Gramsci
– foi um de seus mais insígnes adeptos, difundido-a, em escala nunca
d’antes conhecida, ao mesmo tempo em que combateu ferrenha e saguinolentamente
o “marxismo
dogmático”, i.e. na taxilogia petrástica : “o marxismo negativo”.
Ouçamos as contundentes e
instrutivas considerações de Iossif Vissarianovitch Djugaschvili Stalin sobre
o tema :
“Existe um marxismo dogmático
e um marxismo criativo.
Eu me situo sobre o terreno desse último.”[78]
Como vemos, o “marxismo criativo”, “dotado de conceitos básicos aplicados a estruturas
de classe específicas, particulares, históricas e culturais, que rechaça o
“copiado” mecânico de outros “modelos” de revolução ou estratégia política,
reconhecendo as mudanças no tempo, lugar, estrutura de classes e correlação de
forças (sic)” também foi defendido, abertamente, por Stalin, constituindo,
pois, um produto inevitável e necessário do filistinismo do “livre pensar”
que é pai da ideologia essencialmente stalinista-meta-marxista de Gramsci
que gerou os neo-stalinistas gramscianos-reciclados, dos
quais nasceram os stalinistas maoístas-gramscianos que procriaram os meta-marxistas
gramscianos que são os genitores dos trotskystas-gramscianos e
gramsciófilos
que, finalmente, unius sunt substantiae et virtutis ac potestatis, são de uma única substância, força
e poder, conformadora do socialismo alegórico gramsciano meta-marxista de nosso corrente
século XXI.
E, portanto, non nova, sed nove ..., i.e. não se trata de coisas novas,
mas de coisas apresentadas de outra maneira.
Se Stalin, ele mesmo, perfilha-se,
voluntariamente, entre as fileiras daqueles que defendem o “marxismo criativo” – em
contraste com os adeptos do “marxismo dogmático” – cumpre
verificar que, também os reputadamente perfilhados no terreno do “marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento” – tal como Fidel
Castro, por Petras expressamente referido - perfilham-no no domínio do “marxismo
criativo”, na medida em que reconhecem os méritos daquele que, segundo Gramsci,
é “o Grande Teórico Mais Recente” em matéria de “internacionalismo e
política nacional”, i.e. o próprio Iossif Stalin.[79]
IV.
PER PETRAS AD CASTRUM :
DEFESA APOLOGÉTICA DAS EXECUÇÕES
SUMÁRIAS PROMOVIDAS POR FIDEL CASTRO
Cotejemos, assim, o latim da ideologia de Castro
:
“ENTREVISTA DE TOMAS BORGE :
(...)
Pergunta
de Borge : Fidel, para a maioria dos
dirigentes revolucionários latino-americanos, a crise atual do socialismo
possui um precursor : Josef Stalin.
Resposta
de Fidel Castro : Eu acredito que Stalin cometeu grandes erros, porém, demonstrou, possuir grande inteligência.
Na
minha opinião, culpar Stalin por
todas as coisas que ocorreram na União
Soviética constituiria um simplismo histórico, porque ninguém por si mesmo poderia
ter criado certas condições.
Isso é
impossível !
Creio
que os esforços de milhões e milhões de pessoas heróicas contribuíram para o
desenvolvimento da União Soviética e para o seu papel de relevo no mundo, em favor
de centenas de milhões de pessoas. (...)
Pergunta
de Borge : Na sua opinião, Fidel,
quais foram os méritos de Stalin?
Resposta
de Fidel Castro : Stalin estabeleceu
a unidade na União Soviética. (SvK.:
ouça bem os argumentos de Castro,
Sr. Professor Quartim de Moraes, que
tanto se engaja na busca de argumentos racionais e razoáveis para a defesa
apologética da mitologia stalinista, ouça bem os argumento de Castro!)
Ele
consolidou o que Lenin iniciou : a unidade do Partido.
Stalin conferiu ao movimento
revolucionário internacional um novo ímpeto.
A industrialização da URSS foi uma das ações mais
inteligentes de Stalin e acredito que isso foi
um fator determinante para a capacidade de resistência da URSS.
Um dos
grandes méritos de Stalin – e sua
equipe o apoiou – foi o plano de transferir a indústria de guerra e as
principais indústrias estratégicas para a Sibéria, bem para dentro do
território soviético.
Acredito
que Stalin dirigiu bem a URSS, durante a guerra.
De
acordo com muitos generais (SvK.: Castro
refere-se aqui evidentemente aos generais soviéticos que sobreviveram ao terror
contra-revolucionário stalinista, i.e. àqueles não exterminados sumariamente ou
nas encenações dos Processos de Moscou
por Stalin, tal como Tukhatchevsky,
Raskolnikov, Blüchner, Antonov-Ovseienko, Bubnov, Dybenko, Yegorov, Gamarnik,
Uborevitch e tantos outros, acusados de alta traição à pátria socialista,
trotskysmo, agentes nazistas etc.), Jukov e os mais brilhantes generais
soviéticos, Stalin desempenhou um
importante papel na defesa da URSS e
na guerra contra o nazismo.
Todos
eles reconhecem isso.
Acho
que deveria existir uma análise imparcial de Stalin.
Culpá-lo
por todas as coisas que aconteceram seria um simplismo histórico.”[80]
Redendo-se irremediavelmente ao castrismo
stalinista, sob o disfarce gramsciano da defesa da doutrina de Marx
e Engels, Lenin e Trotsky, assevera, então, James Petras, patrono
espiritual do “marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento”, seguidor do “marxismo criativo”, em entrevista concedida a Pablo
Scatizza, em 10 de julho de 2003 :
“ENTREVISTA DE
PABLO SCATIZZA :
(...)
Pergunta de Scatizza a Petras : Você não acredita
que a Argentina perdeu uma oportunidade histórica, depois das jornadas de 20 e
21 de dezembro (SvK.: de 2002) ?
Resposta de James
Petras : Sim .. bem, perdeu e alguma coisa escapou, para dizê-lo melhor.
Acredito que o levante de dezembro foi uma sublevação espontânea, não uma
revolução.
Uma revolução implica uma organização política, um respaldo
de massas, uma liderança, um programa.
O levante popular de
dezembro foi um grande ato de repúdio de um regime, não do Estado.
Não há Sovietes, nem há
Exército Vermelho, nem há Fidel Castro.
As experiências variam, porém em nenhuma das experiências
podem ser localizadas os fatores essenciais.”[81]
Sintetizando, nessa mesma ocasião, a
essência máxima de sua doutrina de como “mover-se em direção à classe trabalhadora”,
doutrina essa amargamente crítica das concepções insculpidas no Manifesto do Partido Comunista,
de Marx
e Engels, e repudiadora da “verve de Marx e Engels e de sua celebração
acrítica do potencial revolucionário do desenvolvimento das forças de produção”
–, James Petras, alegando que os movimentos adotam uma série de
reinvindicações e alternativas programáticas – o que é positivo e importante –
porém, “falta-lhes uma compreensão teórica da natureza da evolução do sistema
imperial (sic)” ..., necessária para solucionar “a desunião dos movimentos
urbanos e rurais ...”, posto que os movimentos existentes juntos, se
estivessem unificados em um só movimento coerente, estariam mais próximos de “disputar
o poder estatal” ...,[82] assinala, então :
Pergunta de Scatizza a Petras : Em “Classe, Estado
e Poder no Terceiro Mundo”, onde você analisa as lutas de classe na América
Latina, fala da importância da organização para poder triunfar em uma
revolução. Menciona a necessidade de líderes, quadros, combatentes, militantes
e simpatizantes, organizados nessa ordem. Refere-se ao fato de que hoje não existe
na esquerda esse tipo de estrutura ?
Resposta de James
Petras : Não apenas estrutura, senão também maneira de pensar. Se pensamos
no êxito das revoluções que existem, elas são uma grande extensão de poderes.
China, por exemplo, formando centenas de milhares de quadros e
milhões de simpatizantes, milhões.
Cuba avança da
insurreição para conseguir apoio de milhões.
Então, você não pode construir uma formação
revolucionária com simples quadros soltos.
Tem de ser uma
organização ampla que inclua muitos setores.
Fidel Castro disse que
uma organização que se combina com religiosos revolucionários, teologia da
libertação, marxistas, nacionalistas radicais, democratas avançados, pode e
todos esses setores podem participar de uma transformação.
Porém, reduzir simplesmente a organização a uns quadros,
a uns líderes, confundindo isso com uma vanguarda, é uma exceção. ... .”[83]
Inteiramente de acordo com a idéia de que “temos
um farol que ilumina tudo, desde a ilha de Cuba, como Fidel Castro”, idéia
essa estabelecida como parâmetro para a compreensão dos fenômenos
sócio-econômicos e cultural-ideológicos que se perpassam a América Latina, pontica,
então, James Petras, já inteiramente desvairado, alucinado, dominado pela paixão cega e arrebatadora pelo castrismo
stalinista do “marxismo criativo” e pelo “marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, que possuem em Fidel Castro seu grande
luminar na atualidade :
“A grande confrontação entre o império militar dos EUA e o movimento
antiglobalizante fez-se presente em Monterrey, com Fidel Castro
falando pelos oprimidos e contra a globalização e Bush
defendendo o militarismo, oferecendo ao Terceiro Mundo menos ajuda anual
do que destina ao regime responsável pela invasão de Israel.”[84]
Vejamos, agora, como o ”marxismo consciente ou das
influências culturais e do entendimento” de Castro é defendido,
alienadamente e apologeticamente, por James Petras, de modo tanto
mais desequilibrado, delirante, absurdo, idólatra e criticamente impotente,
imediatamente após as burocráticas execuções sumárias de três cubanos
dissidentes, orquestradas arbitrariamente pelo chefe militar absoluto Fidel
Castro, bem ao sabor do ”marxismo criativo” de Stalin,
em abril de 2003, em nome de uma suposta legítima defesa da Revolução
Cubana.
Eis
como Petras pronuncia-se, de modo inteiramente leviano e
alucinado, sobre o tema, como forma de legitimar as posições
burocrático-tirânicas do castrismo stalinista :
“Novamente os intelectuais decidiram intervir em
um debate, desta vez sobre o imperialismo estadunidense e os direitos humanos
em Cuba.
« Que importância tem o papel dos intelectuais?
»
Perguntei a mim mesmo numa tarde ensolarada de
sábado (em 26 de abril de 2003), enquanto passeávamos pela madrilena Porta do
Sol e o eco dos gritos contra Castro de
várias centenas de manifestantes ressoava na praça quase vazia.
Apesar de uma dezena de artigos e colunas de
opinião de conhecidos intelectuais nos principais jornais de Madri, das horas
de propaganda no rádio e televisão e do apoio de burocratas sindicais e xerifes
de partidos, somente responderam à convocatória uns oitocentos manifestantes, a
maior parte deles exilados cubanos. "Está
claro", respondi, "que os intelectuais contrários a Cuba tem pouco ou
nenhum poder de convocação, pelo menos na Espanha" ...
O que os
"progressistas" não podem ou não querem reconhecer é que os detidos
eram funcionários a soldo do governo estadunidense. ...
Nenhum país do mundo tolera o
rótulo de "dissidentes" àqueles entre seus cidadãos que estão a soldo
e trabalham para promover os interesses imperiais de um poder estrangeiro. ...
Aos intelectuais críticos é fácil ser "amigos de Cuba" nos bons
tempos de celebrações, quando os convidam a dar conferências.
É muito difícil ser "amigo de Cuba"
quando um império ameaça a ilha heróica e coloca suas pesadas mãos sobre seus
defensores.
É em tempos como os atuais - com guerras
permanentes, genocídios e agressões militares - quando Cuba necessita a
solidariedade dos intelectuais críticos, solidariedade
que está recebendo de todas as partes da Europa e, em particular, da América
Latina.
Já está na hora de que nós, nos Estados Unidos, com nossos ilustres e
prestigiosos intelectuais progressistas, de sensibilidades morais majestosas,
reconheçamos que há uma revolução vital,
heróica, que luta para defender-se contra o gigante do norte e,
modestamente, deixemos de lado nossas importantes declarações, apoiemos esta revolução e nos unamos aos milhões de cubanos que
acabam de celebrar o primeiro de maio com seu líder, Fidel Castro.”[85]
Per Gramsci ad Petras !
Per Petras ad Castro !
Per Castro ad Stalin !
Per his omnibus ao “marxismo criativo“, ao “marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento”, ao socialismo alegórico
gramsciano meta-marxista, ao filinismo do “livre pensar” !
Per angusta ad augusta, através de estreitos caminhos até às
regiões mais sublimes.
Per ardua ad astros, através de árduos sendeiros até aos
astros.
V.
PER PETRAS AD CHÁVEZ E RUMO AO “SOCIALISMO CHAVISTA DO
SÉCULO XXI” :
DEFESA DO CHAVISMO E DO
SOCIALISMO DO SÉCULO XXI
No quadro de sua concepção ácido-crítica, Petras
converte a necessária defesa que deve ser por todos empreendida em
favor da independência, da luta, da soberania e do socialismo, perseguidos pelo
povo cubano, em sua resistência contra o embargo e a invasão imperialistas,
orquestrados pelos EUA e aliados, em uma apologia do governo burocrático-despótico
de Fidel
Castro e seus asseclas filostalinistas.
Quereis, entretanto, disputar a validade do “marxismo
criativo” ?
Debalde.
Apesar de possuir linha certa de descendência paterna –
tal qual a indicamos – o “marxismo criativo” reivindica para
si, tal como um gerador poiético, status de Pallas Erichthonium, i.e.
o prolem
sine matre creatam de Ovídio, i.e. o status de ser filho
nascido sem mãe[86].
Com a inteligência inteiramente
turvada pela ideologia do chavismo castrista-stalinista e do
assim denominado “Socialismo do Século XXI”, enquanto expressão mais legítima
das ilusões de mercado propagadas pelo populismo de esquerda, assevera, então, James Petras, um pensador
regularmente acometido por uma febre de 50° C, patrono espiritual do “marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, seguidor do “marxismo criativo”, em artigo intitulado
“Venezuela : entre los Votos y las Botas”, publicado em 13 de novembro
de 2007 :
“Hugo Chávez, o presidente democraticamente
eleito da Venezuela, encontra-se, agora, diante da ameaça mais perigosa que
lhe coube viver, desde o Golpe Militar de 11 de abril de 2002.(...)
Tanto o
New York Times, como o Wall Street Journal, a BBC News e o Washington Post vêem
preparando, durante anos, seus leitores com falácias do “autoritarismo” do presidente Chávez.
Confrontados
com as reformas constitucionais que
reforçam as perspectivas de uma democratização política e social de largo
alcance, os meios de comunicação estadonuidenses, europeus e
latino-americanos dedicam-se, agora, a apresentar os ex-oficiais militares
favoráveis a um Golpe de Estado como
se fossem “dissidentes democráticos”, antigos partidários de Chávez, desiludidos pela procura de
poderes “ditatoriais” deste, durante o período prévio ao referendo de 2 de
dezembro sobre a Reforma Constitucional
e depois deste.
Nenhum
jornal importante mencionou o caráter democrático das reformas propostas, a
entrega do controle sobre o gasto público e do poder de decisão a habitantes
locais e conselhos comunitários.
Novamente,
tal como ocorreu no Chile, em 1973,
os meios de comunicação estadounidense são cúmplices do intento de destruir uma democracia latino-americana.
(...)
Enquanto
os meios direitistas e liberais da Venezuela,
Europa e EUA inventaram acusações chocantes contra as reformas “autoritárias”,
certo é que as emendas propõem uma
democracia mais ampla e profunda. (...)
A
mudança política que alargará o mandato presidencial de 6 para 7 anos, não
aumentará nem reduzirá os poderes presidenciais, como diz a oposição, pois que a separação dos Poderes Legislativo,
Judicial e Executivo permanecerá intacta e as eleições livres submeterão o presidente a um controle periódico, por
parte da cidadania.
A
legislação relacionada com o trabalho e as mudanças nos direitos de propriedade
que prestam uma maior transcendência à propriedade coletiva, fortalecerão o poder de negociação do mundo
do trabalho diante do capital, estendendo a democracia até o local de trabalho. (...)
Quando
o Governo Chávez avança rumo ao Socialismo Democrático, os centristas desertam e buscam soluções
militares.
Na
medida em que a Venezuela muda da transformação política à social, de um Estado de Bem-Estar Capitalista a um Socialismo Democrático, as deserções e
as incorporações predizíveis vão tendo lugar.
Tal
como já ocorreu na maioria das demais experiências históricas de transformação
social, alguns setores da coalizão original do governo implicada em mudanças
político-institucionais desertam, quando o processo político avança rumo a um
maior igualitarismo na propriedade e
uma transmissão de poder ao povo.
(...)
Sem
embargo, o discurso de Baduel de 5 de
novembro constitui sua adesão pública à oposição de linha dura, à sua
retórica, a suas maquinações e a suas posições de uma revocação autoritária do programa do Socialismo Democrático de
Chávez. (...)[87]
Per Gramsci ad Petras !
Per Petras ad Chávez !
Per Chávez ad Castro !
Per Castro ad Stalin !
Per his omnibus ao “Socialismo do Século XXI”, i.e. ao “fortalecimento
do mundo trabalho diante do capital” !,
Viva o “marxismo criativo“ !
Viva o “marxismo consciente ou das influências culturais e
do entendimento”!
Viva o socialismo alegórico
gramsciano meta-marxista, ao filinismo do “livre pensar” ! ...
Viva Petras !
CONCLUSÃO.
NOVOS FUNDAMENTOS DO PSEUDO-MARXISMO
Se podemos gerar, criativamente, “marxismos” ad libitum, ao
nosso bel prazer, perfilhando-nos sob a divisa Quod volumus, facile credemus, i.e.
aquilo que queremos, acreditamo-lo facilmente, para que, afinal de contas,
desperdiçar-se tempo no estudo dos fundamentos do socialismo científico de Marx e
Engels, visto que, segundo Gramsci,
“Marx se havia
contaminado com incrustrações positivistas e naturalistas. ...”[88], ou, ainda, segundo Petras,
“Para tornar-se marxista, no sentido da realização dos
objetivos do Manifesto Comunista, é necessário rejeitar as falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel
revolucionário” da burguesia”, já que o “marxismo tem tanto uma história positiva como uma histórica
negativa”, sendo que “o lado negativo do “marxismo” encontra-se em sua sumária expressão metafísica “hegeliana”, que “nunca toca a terra” (sic).”
Entretanto, se, por um acaso, depois de toda essa nossa
detalhada e minuciosa exposição teórica da doutrina ontológica dos “marxismos”,
tal como formulada no pensamento de Petras, o leitor trabalhador sinta
que não tenha absorvido ainda os fundamentos mais essenciais da coisa toda,
creio que não se deve absolutamente preocupar.
Tanto Lenin quanto Sverdlov,
tanto Trotsky quanto Karl Liebknecht
e outros inúmeros revolucionários proletários, infensos ao “marxismo aplicado criativamente”,
haveriam de ter obtido nota « zero » no aprendizado dos
ensinamentos de Petras, já porque ... não rejeitaram as supostas “falsas
premissas” de Marx e Engels acerca do “papel
revolucionário” da burguesia, já porque ... não sujeitaram a
concepção de Marx e Engels à crítica mais ácida, já porque ... absorveram
a lição sobre o Estado Burguês que Marx e Engels “lhes” ensinaram, já porque
... rechaçaram, abertamente, tudo aquilo que se asselhamasse a uma doutrina ontológica dos
“marxismos”, tauxiada em 5 Contribuições e 10 Razões de Difusão do MARXISMO (sic)
!
Eis aí um belo exemplo de como não
se deve difundir as idéias marxistas junto à classe trabalhadora.
Como se tudo isso não bastasse, Petras equivoca-se
redondamente, pela enésima vez, ao abordar, de modo depreciativo, o significado
que a metafísica hegeliana adquiriu e segue adquirindo para o
marxismo revolucionário.
Pois, é o próprio Marx que nos informa :
“Porém,
precisamente quando eu elaborava o primeiro volume de “O Capital”, os epígonos enervantes, prepotentes e medíocres, que
pronunciam, nos dias de hoje, as grandiosas palavras, na Alemanha culta,
pretenderam tratar Hegel tal como o
comportado Moses Mendelssohn, ao tempo de Lessing,
tratou Spinoza, i.e. nomeadamente como um “cachorro morto”.
Reivindiquei-me, por isso,
abertamente, como discípulo daquele grande pensador e cortejei, até mesmo, aqui e ali,
no capítulo acerca da teoria do valor, o modo de expressão próprio de Hegel.
A
mistificação que a dialética sofreu nas mãos de Hegel não lhe impediu, absolutamente, de ter apresentado, pela
primeira vez, suas formas gerais de movimento, de maneira mais abrangente e
mais consciente.
Em Hegel,
a dialética
encontra-se de cabeça para baixo.
É
necessário virá-la, a fim de descobrir o cerne racional no envólucro místico.”[89]
Imaginemos, agora, por um único momento, Marx,
que se declarou expressamente díscipulo do grande pensador, Hegel,
dizendo o seguinte, em conformidade com o léxico petrástico : como a metafísica “hegeliana” nunca toca a terra e
está desprovida da análise concreta e divorciada da luta de classes, devo
dedicar-me ao “marxismo verdadeiro” que..., que..., que..., que ... é histórico e empírico, relacionando a
teoria com a compreensão das experiências concretas, históricas e
contemporâneas.
Além disso, a idéia de Petras de que o marxismo
possui uma história positiva e negativa nada mais é senão mais uma idéia
fantasmagórica, ácido-crítica, de linhagem eclética, materialista-idealista,
leninista-trotskysta-gramsciana-castrista, voltada contra Marx e Engels, Lenin e Trotsky.
O marxismo não têm e não podem ter história
positiva e negativa, não pode ter lados,
quais sejam o lado positivo-verdadeiro – histórico-empírico e receptivo,
despido de linguagem extravagante -
e o negativo – hegeliano-metafísico, dogmático-imitativo, dotado de
linguagem
exótica.
Não há e não pode haver, em sentido
dialético-materialista, o marxismo positivo e o marxismo
negativo, o marxismo acadêmico e o marxismo criativo, tal como se
estivéssemos tratando de uma colcha de retalhos, tanto apreciada pelos pensadores
contaminados pelo gramscismo idealista-subjetivista.
Admitir uma tal formulação significa projetar no marxismo
valores axiológicos próprios do analista que o aborda, segundo o ponto
de vista que lhe convém, no contexto de sua investigação.
Visando efetivamente à “difusão do
marxismo
e o desenvolvimento do movimento da classe trabalhadora”, Petras,
afastando-se de toda metafísica quimérica, deveria ter-“nos” ensinado algo no
seguinte sentido :
“O marxismo é um sistema de concepções e ensinamentos de
Marx.
Marx
foi o gênio que continuou e consumou as três principais correntes ideológicas
do século XIX, tais como representadas pelos três mais avançados países da
humanidade : a filosofia clássica alemã, a economia política clássica inglesa e
o socialismo francês, combinado, em geral, com as doutrinas revolucionárias
francesas.
Reconhecido
até mesmo por seus oponentes, a consistência e a integridade notáveis das
concepções de Marx – cuja totalidade
constitui o materialismo moderno e o
socialismo científico moderno, enquanto teoria e programa do movimento da classe trabalhadora em todos
os países civilizados do mundo -, torna-se para nós necessário apresentar em
breves delineamentos sua concepção de mundo em geral, fornecendo
antecipadamente uma exposição do conteúdo principal do marxismo, nomeadamente a doutrina
econômica de Marx.”[90]
Porém, James Petras cujo fundamento
epistemológico é o ecletismo analítico de matiz subjetivista-idealista e
meta-marxista leninista-gramsciano-castrista-et-reliqua rejeita abertamente a
existência de uma unidade sistêmica do marxismo, tal como precisamente
enunciada por Lenin, categoricamente avessa à doutrina ontológica dos
“marxismos”, pois : o marxismo é um sistema de concepções e
ensinamentos de Marx.
Proclamando que o “marxismo negativo é dogmático, imitativo e
acadêmico e depende de uma “linguagem exótica””, Petras “situa-se sobre o terreno”
não apenas do “marxismo criativo” – i.e.
alegadamente não imitativo, não acadêmico -, mas também propugna um “marxismo
que não dependa de linguagem exótica”.
Petras defende, assim, não um “marxismo esotérico”, mas
sim um “marxismo exotérico”, i.e. despido de linguagem exótica e
extravagante, isento de “jargão muito técnico”, curto nas
críticas e extensos nas soluções e alternativas práticas, in nuce : um marxismo
pouco crítico e muito prático, um marxismo popularmente acessível, em sentido
linguístico e operativo.
Sem embargo, assim procedendo, Petras deixa, adrede, de
salientar ao público leitor a inteira aversão que possuíam Marx e Engels tanto à
popularidade quanto aos Partidos prosélitos, Partidos
apóstatas, desafeitos ao rigor disciplinar da dialética histórico-materialista
e as precisas exigências do socialismo científico.
É possível demonstrar que Engels pronuncia-se sobre
o tema em destaque, i.e. sobre o marxismo que não depende de linguagem
exótica, sobre o marxismo sem “jargão muito técnico”, sobre
o marxismo
popular e popularmente acessível
da seguinte forma :
“Wir haben jetzt endlich wieder einmal – seit langer Zeit
zum ersten Mal – Gelegenheit zu zeigen, daß wir keine Popularität, keinen
Support von irgend einer Partei irgend welches Land brauchen, und dass unsre
Position von dergleichen Lumperei total unabhängig ist. (...)”
No
vernáculo :
“Temos
agora, finalmente, mais uma vez – depois de muito tempo, pela primeira vez – a
oportunidade de mostrar que não precisamos de nenhuma popularidade, de nenhum
apoio de nenhum Partido de nenhum país e que nossa posição é totalmente
independente de semelhante dissimulações esfarrapadas.”
“Wir können uns übrigens im Grund nicht einmal sehr
beklagen, daß die petits grands hommes uns scheuen; haben wir nicht seit so und
soviel Jahren gethan als wären crethi plethi unsre Partei, wo wir gar keine Partei
hatten, und wo die Leute, die wir als zu unsrer Partei gehörig rechneten,
wenigstens offiziell, sous réserve de les appeler des bêtes incorrigibles entre
nous, auch nicht die Anfangsgründe unsrer Sachen verstanden ?”
“Aliás,
no fundo, não podemos nem sequer deplorar muito o fato de que os petits grands hommes (SvK.: os grandes
homenzinhos) nos evitam ;
Desde
tantos e tantos anos, não agimos assim, como se crethi plethi (SvK.: os cretenses e os filisteus, adeptos de
diversos povos, na dição de Martinho Lutero) fossem o nosso Partido onde não
possuíamos Partido algum e onde as pessoas que contávamos como adeptos do nosso
Partido – no mínimo, oficialmente, sous
réserve de les appeler des bêtes incorrigibles entre nous (SvK.: sob a
ressalva de os denominar de idiotas incorrigíveis em nosso meio) – também não
entendiam os fundamentos do beabá de nossa causa ?”
“Wie passen Leute wie wir, die offizielle Stellungen
fliehen wie die Pest, in eine « Partei » ?
“Como é
que pessoas como nós que fujimos de posições oficiais como da peste cabemos
dentro de um «Partido» ?
“Was soll uns, die wir auf Popularität spucken, die wir
an uns selbst irre werden, wenn wir populär zu werden anfangen, eine «Partei»,
d.h. eine Bande von Eseln die auf uns schwört, weil sie uns für ihres Gleichen
hält?”
“Para
nós que cuspimos na popularidade, que ficamos malucos dentro de nós mesmos
quando começamos a nos tornar popular, o que é nos rende um «Partido», i.e. um
bando de burros que juram em nosso nome porque nos consideram como sendo um
deles mesmos?
“Wahrhaftig es ist kein Verlust, wenn wir nicht mehr für
den “richtigen und adäquaten Ausdruck” der bornierten Hunde gelten, mit denen
uns die letzten Jahren zusammengeworfen hatten.”
“A bem
da verdade, não se trata de perda alguma, se não valemos mais para a «
expressão correta e adequada » dos cães de visão estreita, para junto dos quais
os últimos anos nos lançou.”
“Eine Revolution ist ein reines Naturphänomen, das mehr
nach physikalischen Gesetzten geleitet wird als nach den Regeln, die in
ordinären Zeiten die Entwicklung der Gesellschaft bestimmen.”
“Uma
revolução é um puro fenômeno natural, dirigido mais por leis naturais do que
por regras que determinam, em tempos normais, o desenvolvimento da sociedade.”
“Oder vielmehr, diese Regeln nahmen in der Revolution
einen viel physikalischeren Charakter an, die materielle Gewalt der
Nothwendigkeit tritt heftiger hervor.”
“Ou
ainda mais : essas regras assumem um caráter muito mais físico na revolução,
sendo que o poder material da necessidade intervém de modo mais mais
impetuoso.”
“Und sowie man als der Repräsentant einer Partei
auftritt, wird man in diesen Strudel der unaufhaltsamen Naturnothwendigkeit
hereingerissen.”
“E tão logo
se intervenha como o representante de um Partido, vai-se arrastado para dentro
do turbilhão da necessidade natural inexorável.”
“Bloß dadurch, daß man sich independent hält, indem man
der Sache nach revolutionärer ist als die Andern, kann man wenigstens
eine Zeitlang seine Selbstständigkeit gegenüber diesem Strudel behalten,
“Tão
somente mantendo-se independente, na medida em que se é mais revolucionário do
que os outros, em conformidade com a matéria,
pode-se, ao menos, conservar, por um certo período, a própria autonomia em face
do turbilhão,
“schließlich wird man freilich auch hineingerissen.”
“no fim
das contas, é-se também arrastado, evidentemente.”[91]
Eis, portanto, alguns dos fundamentos do beabá para
aqueles que pretendem ocupar-se com a aura popularis de Marx
e Engels, com o desenvolvimento do “marxismo popular ou popularmente acessível”
que “não depende de linguagem exótica”, despido de “jargão
muito técnico”.
Pontificando que o “marxismo negativo é ... fechado para as
novas idéias, experiências e realidades”, pois ”todas as respostas encontram-se em um livro fechado, mencionado por
líderes ou regimes cujas experiências são copiadas, sem considerar as
especificidades históricas, culturais, políticas e de classe”, Petras
sugere-nos até mesmo a impressão de que esse “marxismo negativo” haveria
sido gerado, senão diretamente, ao menos indiretamente, pela doutrina de Marx
e Engels.
Nisso, Petras permanece inteiramente fiel à
sua vertente ideológica leninista-gramiciana, posto que,
segundo Gramsci, “Marx se havia contaminado com incrustrações positivistas
e naturalistas. ...”[92]
Pelo contrário, é através do atento estudo das próprias
obras de Marx e Engels que tomamos ciência do fato de que ambos
propugnam suas concepções de modo conseqüentemente
dialético-revolucionário, tal como um guia para a ação (Anleitung zum Handeln),
orientação para o agir, instrução para a prática não de colaboração de classes
no estilo
stalinista, stalinista-gramsciano ou gramsciano-meta-marxista, com
prostração diante da dominação burguesa e latifundiária, mas de organização,
mobilização e luta permanente, independente e implacável das mais amplas massas
revolucionárias, sob a direção hegemônica do proletariado.[93]
Sem pretender reduzir a dialética
histórico-materialista a uma simples filosofia da práxis –
como faz Gramsci e seus sequazes meta-marxistas - , Marx e Engels entenderam que a
questão consistente em saber se dadas posições subjetivas correspondem à verdade
objetiva pode ser apenas decidida enquanto questão prática, pois é na
prática que se há de demonstrar a verdade, i.e. a realidade e o poder de
determinado pensamento. Fora dela, a
questão da realidade ou irrealidade do pensamento é uma questão puramente
escolástica e acadêmica[94].
Sendo assim, tal como
brilhantemente o próprio Engels assinala, pretender propagandear o marxismo revolucionário como doutrina
abstrata, deduzida a partir de uma fórmula lógico-imutável, como teoria da qual
emerge uma gama de corolários universalvemente válidos para ascender à verdade
a ser por todos finalmente admitida, significa sempre difundir metafísica entre
as massas exploradas e oprimidas, ignorando que também o socialismo científico
encontra-se exposto à dialética da mutação histórica, partindo não de princípios,
mas sim de fatos objetivos que avançam segundo processos vivos da luta de
classes e do mundo circundante[95].
Se
dermos atenção às próprias palavras de Marx, constataremos que, em sua
própria opinião, seu método histórico-materialista haveria
de converter-se em idealismo subjetivista-voluntarista supra-histórico, chave
universal de teoria geral político-filosófica, molde doutrinário inteiramente
oco e abstrato, se não fosse abordado enquanto fio condutor da análise de
períodos e situações especificamente cambiantes no tempo e no espaço, fatos
objetivos modificados e em processo de mutação, realidade omnilateral e
incomensuravelmente multifacetada.[96]
Para Marx e Engels, o simples
ato de conceber-se o socialismo científico como um
conjunto de axiomas imutáveis a ser apreendido de memória, conformador de uma
seita apriorista (pure Sekte), despojada de toda a realidade da vida prática e
cambiante da luta de classes, haveria de inexoravelmente transformá-lo em um “fenômeno
cômico (komische Erscheinung)”.[97]
Sendo assim, como seria
possível, mesmo que de modo puramente hipótetico, protético ou diatético – para
utilizarmos os axiomas familiares do socialismo alegórico gramsciano
meta-marxista – darmos razão a Petras quando, à sua maneira ácido-crítica,
propugna a existência de um “marxismo negativo ... fechado para as novas idéias,
experiências e realidades”, pois ”todas as
respostas encontram-se em um livro fechado, mencionado por líderes ou regimes
cujas experiências são copiadas, sem considerar as especificidades históricas,
culturais, políticas e de classe.” !!!
A descrição do “marxismo negativo” – tal
como formulada “criativamente” por Petras - nada mais representa senão a repetição
vulgar do apotegma secularmente conhecido de que malum est consilium quod maturi
non potest, i.e. o plano que não pode ser mudado não presta.
Porém, designar essa noção com o epíteto “marxismo
negativo” - na forma tal como Petras a postula, nada
mais pode constituir senão, verdadeiramente, um “fenômeno cômico
(komische Erscheinung)”.
De resto, é efetivamente evidente que até mesmo o próprio
Marx,
se colocado diante do “marxismo negativo” de Petras, haveria
de repetir pura e simplemente, verbum pro verbo, palavra por
palavra, verbo ad verbum, o seguinte :
“Tout ce que je sais,
c’est que moi, je ne suis pas marxiste.”
No vernáculo :
Tudo o que sei, é que marxista eu não sou.”[98]
EDITORA DA ESCOLA DE
AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA
REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU –
[1]Cf. PETRAS, JAMES. Entrevista a James Petras,
Realizada por Pablo Scatizza Por Ocasião da Passagem de Petras pela Cerâmica
Zanon, Comissão de Imprensa dos Trabalhadores da Cerâmica Zanoa, in :
Rebelion.org, 10.06.2003.
[2] Cf. IDEM. Mano a Mano con un Grande de la Izquierda
Internacional (Primera Parte). Reportage a James Petras por Elio Brat desde
Neuquén, in : Encendiendo Entre Todos El Fuego de la Lucha Revolucionária,
La Fogata Digital, 29 de Maio de 2003.
[3] Cf. IDEM. Lo
Que Empezó Como un Movimento Antiglobalización, Ahora Está Incluyendo La Lucha
Anticapital, Anticapitalista, Antiguerrerista, Entrevista de Alina Perera
Robbio de Juventude Rebelde (Cuba), in : Rebelion. Periódico Electrónico de
Información Alternativa, 2 de Fevereiro de 2003.
[4] Cf. INTRODUCCIÓN AL
MARXISMO PARA JÓVENES „NO INICIAD@S“ / REBELIÓN, in: Contrainformación en
Red. Territorio Virtual Para los Movimientos Sociales y la Acción Política en
Internet, http:// www. nodo50. org/garibaldi/contenido/introducc.htm &
http:// www. rebelion. org/
[5] Acerca do tema,
permito-me remeter o leitor à leitura mais detalhada do trabalho de SCHMIDT
VON KÖLN, PORTAU. A Unidade Sistêmica do Marxismo e do Trotskysmo
Contemporâneo sob o Impacto (De)-Generativo Transformacional Chomsky-Petrasiano
e o Alvoroço Hegemônico (Sub-)jetivista Gramsci-Altamira-Coggioliano, Ed. Universidade Jakob M. Sverdlov,
Moscou-São Paulo-Munique-Paris, 2002, p. 3 e s.
[6]Cf. PETRAS, JAMES. On
the Communist Manifesto. The Manifesto’s Strength and Flaws. Symposium on the
Relevance of Marxism on the 150th Anniversary of the Communist
Manifesto. Published in New Politics (O Manifesto Comunista. Forças e
Debilidades do Manifesto. Simpósio acerca da Relevância do Marxismo no 150°
Aniversário do Manifesto Comunista. Publicado em New Politics), in: Rebelion. Periódico
Electrónico de Información Alternativa. Petras Essays in English,
http://www. rebelion.org/
petras/english/ cm170102.htm, March 1998.
[7] Cf. ARCARY, VALÉRIO. Leia a Intervenção no
Debate da Revista Marxismo Vivo no Fórum Social Mundial. A Esquerda e o
Conflito com a Democracia Burguesa na América Latina, in: Opinião Socialista.
Órgão do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, Teoria,
06.04.2005. Anote-se, de passagem, que a
seguinte formulação de Arcary é, além disso, muito
mal-formulada e não possui qualquer fundamento histórico-efetivo : “Há 100 anos
atrás, na Alemanha, a primeira experiência de um partido operário de massas,
que tinha várias alas, não tinha somente uma corrente majoritária, o partido no
qual havia uma tremenda luta interna encabeçada por Rosa Luxemburgo, aos poucos
o partido de Engels foi se integrando ao regime da democracia prussiana,
aceitando até o imperador, o Kaiser”. IDEM.
ibidem, loc. cit. Em verdade, cumpriria dizer e esclarecer que a luta interna
contra a integração da Social-Democracia Alemã à democracia
do Estado Prussiano começou muito antes de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht,
possuindo o seu dealbar já sob a inflexível batuta ideológica de Marx
e Engels, seja no quadro de suas contudentes críticas a todos os Programas
do SDAP/SAP/SPD, seja no contexto da luta revolucionária em face da Lei
contra os Socialistas de 1878 a 1890. A seguir, Engels seguiu combatendo
implacavelmente, até ao dia de sua morte, a direção alegadamente “marxista”
de Wilhelm
Liebknecht, August Bebel, Eduard Bernstein e colaboradores que, na
década de 90 do século XIX, seguiram imprimindo, enquanto friedfertige Anbeter der
Gesetzlichkeit quand même (veneradores pacifistas da legalidade, sob
todas as condições), uma orientação
invarialvelmente pacifista e reformista ao Partido Social-Democrático Alemão. Por
isso, os artigos de Engels foram
repetidamente censurados ou simplesmente não publicados. De todo modo,
falar-se, pura e simplesmente, em “partido de Engels” - sem destacar a
luta travada por esse último contra o filistinismo do “livre pensar” -, constitui um equívoco patente : caberia falar
ou do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) com que Marx
e Engels colaboraram criticamente a partir da Inglaterra – pois, ambos
haviam sido expulsos da Alemanha, logo após a Revolução
de 1848 – 1849, tendo sido Marx forçado a tornar-se apátrida -
ou do Partido que se opunha à orientação de Marx e Engels, em vez de
falar, sem mais nem menos, do “Partido de Engels”. Cabe, em
verdade, a Ernst Mandel e aos incorrigíveis adeptos e colaboradores do
mandelismo – no estilo de Daniel Bensaïd - defenderem a tese
arenosa de que o “Partido de Engels” se integrou ao imperialismo alemão, por
permanecer em sua “velha e preservada tática”, finalmente antagonizada por Rosa
Luxemburgo. Vide MANDEL, ERNST. Rosa
Luxemburg und die deutsche Sozialdemokratie (Rosa Luxemburgo e a
Social-Democracia Alemã) (Março de 1971), in: Ernst Mandel – Karl Mandel. Rosa
Luxemburg Leben – Kampf – Tod (Vida – Luta – Morte), Frankfurt a.M. : isp –
Verlag, Mai 1986, pp. 46 e s. Por fim,
cumpre destacar que a grandiosa e corajosa luta travada pela águia
revolucionária do proletariado, Rosa Luxemburgo contra a direção
social-reformista do Partido Social-Democrático Alemão (SPD), possuía
como elementos de enfraquecimento a própria postura equivocada de Rosa
Luxemburgo. Defendendo, por um lado, a derrubada de Wilhelm
II, Rosa mantinha invariável sua posição de rejeitar abertamente o
Direito de auto-determinação das nações oprimidas – contra a orientação de Marx
e Engels -, propugnar uma teoria de acumulação do capital inteiramente
revisionista – contra os posicionamentos de Marx e Engels -,
postular, nas lutas proletárias, uma defesa essencialmente democratista de
direitos e liberdades fundamentais para todos os indivíduos e organizações
sociais – contra a concepção de Marx e Engels -, repudiar a teoria de Partido centralizado e
clandestino – contra a concepção de Marx, Engels, Lenin e os
bolcheviques -, o que, sem dúvida, favorecia estrategicamente, em grande parte,
as posições do social-reformismo e do oportunismo organizativo da Social-Democracia
Alemã. Entre os proletários revolucionários alemães desse período
histórico encontraremos também aqueles que, não apenas defendendo a derrubada
do Imperador
Alemão, inclinavam-se também – ainda que intermediados por Karl
Radek - a favor da defesa do modo de funcionamento e da linha geral
internacionalista do Partido Bolchevique de Lenin. Reuniam-se
em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e Julian Borchard e de seu trabalho
surgiram também importantes sustentáculos, indispensáveis para a fundação do Partido
Comunista da Alemanha (Liga Spartakus), em fins de 1918 e início de
1919.
[8] Cumpre destacar que
jamais se demonstrará excessivo realçar sempre os penetrantes trabalhos de Nahuel
Moreno, elaborados em meio à sua luta ideológica acesa, deflagrada seja
contra o euro-comunismo, seja contra o mao-althusserianismo,
seja contra o mandelismo, seja ainda contra o lambertismo, em defesa do
legado da Revolução Proletária de Outubro de 1917 e, em particular, em
prol dos princípios ético-organizativos do partido marxista-revolucionário.
Nada obstante, cumpre ressaltar que, entre outros aspectos, seria efetivamente
incorreto pretender apoiar, sem importantes reparos, seus posicionamentos, quer
no domínio
da lógica marxista – onde Moreno defende posições teóricas
amplamente coniventes com o construtivismo metodológico-radical de Piaget,
incompatíveis essencialmente com o socialismo científico de Marx
e Engels -, quer no domínio
da atualização do programa de transição – onde Moreno propugna,
abertamente, posições idealistas-subjetivistas e democratistas, ao pretender
inverter infundadamente relações causais dos acontecimentos históricos,
maximamente no período posterior à I Guerra Mundial, afastando-se,
assim, ostensivamente do método materialista histórico-dialético, defendidos
por Marx
e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky -, quer ainda no domínio
ontológico do ser trotskysta nos dias de hoje - onde Moreno,
em sua excessiva acentuação da atividade criticista e ânsia de
superação do próprio trotskysmo, deixa de destacar que o marxismo, por ser
científico, deve ser considerado como um guia para a ação (Anleitung zum Handeln),
orientação para o agir, instrução para a prática de organização, mobilização e
luta permanente, independente e implacável das mais amplas massas
revolucionárias, sob a direção hegemônica do proletariado, em busca da
construção de uma humanidade socializada ou ainda de uma sociedade humanizada,
o que obsta, nos limites do marxismo revolucionário, qualquer tipo de
criticismo “criativo” e supostamente superador, elaborado em desconformidade e
dissonância com o rigoroso método do materialismo histórico-dialético. Acerca
do tema, vide MORENO, NAHUEL. Lógica
Marxista y Ciencias Modernas, México-Colômbia : Xólotl-Pluma, 1981, pp. 54 e
55.; IDEM. Actualización del
Programa de Transición, ed. CITO – Centro Internacional del Trotskysmo
Ortodoxo, 1980, pp. 7 e s.; IDEM. Ser
Trotskysta Hoy(1985), in: Cuadernos de Correo Internacional, 1988, pp. 3 e s.
[9] Cf. MARX, KARL H. Die
Vereinugung der Gläubigen mit Christo nach Johannes 15, 1-14, in ihrem Grund
und Wesen, in ihrer unbedingten Notwendigkeit und in ihren Wirkungen
dargestellt (A União dos Crentes com Cristo segundo João 15, 1-14, em seu
Fundamento e Essência, apresentada em sua Incondicional Necessidade e seus
Efeitos)(1835), in : Marx und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt. - Werke,
Artikel, Entwürfe, Bd. I - Text.
Literarische Versuche bis März 1843, Berlim : Dietz, 1975, p. 449.
[10] Assinale-se que a
célebre tese de doutorado de Arcary, defensora de um
ecletismo trotskysta gramscista-luckásiano – intitulada as
Esquinas Perigosas da História - aprovada
em 2000, foi orientada, durante anos a fio, e, finalmente, defendida
publicamente, sob a orientação da professora Dra. Livre Docente, Chefe do
Departamento de História da USP, Zilda Iokoi, cujas produções
intelectuais pretendem legitimar a segunite vertente ideológica reciclada IOKOI, ZILDA MARCIA GRICOLI. A
Atualidade das Proposições de Mariátegui, Um Revolucionário Latino-Americano,
Projeto História (PUCSP), Vol. 1, pp. 147 e s.; IDEM ET ALII. A Universidade Pública e a Reforma da Previdência,
in: Gramsci e o Brasil, Junho de 2003, http://www.acessa.com/gramsci/?id=234&page=visualizar; IDEM. Igreja
e Camponeses : Teologia da Libertação
e Movimentos Sociais no Campo. Brasil/Perú 1964-1986, Tese de Doutorado – USP, 1990,
pp. 3 e s. (tb. publicada em livro pela editora Hucitec : 1996, 250 pp.) ; IDEM. Igreja e Movimentos Sociais, in:
América 500 Anos : Uma Celebração, 1991, São Paulo; pp. 1 e s.; IDEM. O Papel das Igreja e as Lutas
Camponesas : Brasil e Perú (1960 – 1980), Apresentação de Trabalho USP, 1990.
Quanto à tese de Arcary, publicada posteriormente em livro de ampla tiragem,
vide ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: Um Estudo sobre
a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate
Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), pp. 5 e s.
[11]Sobre Lukács
que afirmava ter Trotsky “renegado abertamente ao
comunismo”, já que “sua atividade de provocação e propaganda
equipara-se à devassidão de instintos, ao gangsterismo e à corrupção
moral-espiritual”, vide, mais particularmente, minhas traduções de LUKÁCS, GYÖRGY SZEGREDI. in: http://www.scientific-socialism.de/LukacsStalinTrotskyCapa.htm
Sobre Korsch, seu anti-defensismo
soviético, sua “teoria da suposta deficiência fundamental
persistente da Revolução Permanente de Trotsky”, vide tb. minha
tradução de KORSCH, KARL. http://www.scientific-socialism.de/KorschTrotskyCapa.htm
[12] Cf. LUKÁCS, GYÖRGY SZEGREDI. An Unofficial
Interview. Lukács On His Life and Work (Entrevista. Sobre sua Vida e Obra), in
: New Left Review, Editor Perry Anderson, Londres : Julho-Agosto de 1971, Nr.
68, páginas retro-citadas.
[13] vide ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas
da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise
Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra.
ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004),
p. 139.
[14]
Cf. IDEM, ibidem, p. 246.
[15]
Cf. IDEM, ibidem, p.
247.
[16]
Cf. IDEM, ibidem, p.
418.
[17]
vide IDEM.
ibidem, p. 24.
[18]
Vide minha tradução de Vide MARX, KARL. Konspekt von Bakunins Buch
“Staatlichkeit und Anarchie” (Comentários ao Livro de Bakunin “Estatalidade e
Anarquia”)(1874 – Início 1875), in :
ibidem, Vol. 18, Berlim : Dietz, 1962, pp. 597 e s. Vide tb. minha tradução
desse texto de Marx, in : http://www.scientific-socialism.de/FundamentosMarxEngelsLuta1874.htm
[19] vide ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas
da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise
Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra.
ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004),
p. 29.
[20]
Cf. MARX, KARL. Brief an Moritz Kaufmann (Carta a Moritz Kaufmann)(3 de
Outubro de 1878), in : Karl Marx & Friedrich Engels Werke (Obras de
Marx e Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1961, p. 346. Vide tb. minha
tradução dessa carta de Marx, in: http://www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngels031078.htm
[21] Cf. ARCARY, VALERIO. A Polêmica sobre
a „Ausência” do Proletariado e a Atualidade da Estratégia Revolucionária, in:
http://www.pstu.org.br/ juventude/ mg/ txt/ proletariado_valerioarcary.htm,
especialmente 2. Se o Capitalismo só Triunfou
depois de Revoluções e Guerras Civis, Por Quê a Transição Socialista seria mais
Indolor?, Fevereiro de 2002.
[22] Cf. IDEM. ibidem, p. 35.
[23] Cf. ARCARY, VALERIO. ibidem,
p. 155.
[24] Nesse
sentido, GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere,
Nr. 14 (1932-1935) – Internazionalismo e Politica Nazionale (Internacionalismo
e Política Nacional), in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica
e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 144 e 145; IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 14
(1931-1935) – Machiavelli, in: Antonio Gramsci. Quaderni del Carcere (Cadernos
do Cárcere), Vol. 3, ed. V. Gerratana, Torino : Einaudi Editore, 1975, pp.
1.728 e s. Vide minha tradução desse material em http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP1.htm
[25] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas
da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise
Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 160.
[26]
Cf. IDEM. ibidem, p. 160.
[27] Cf. MANDEL, ERNST. The Relevance of Marxist Theory for
Understanding the Present World Crisis, in : Marxism in the Postmodern Age.
Confronting the New World Order, Editors Antonio Callari, Stephen Cullenberg,
Carole Biewener, New York-London: The Guilford Press, 1995, pp. 445 e 446.
[28] Cf. ARCARY,
VALERIO. A Polêmica sobre a „Ausência” do Proletariado e a Atualidade da
Estratégia Revolucionária, in: http://www.pstu.org.br/ juventude/ mg/ txt/ proletariado_valerioarcary.htm,
especialmente 11. O Proletariato contraiu Matrimônio Indissolúvel com os
Reformistas?, Fevereiro de 2002.
[29] Cf. IDEM. Reforma & Revolução no Brasil de Lula :
uma Polêmica com a Esquerda Petista ou a Invenção de uma Esquerda
Internacionalista para o Novo Século, à Luz dos Dilemas Alemão e Russo de há
Cem Anos Atrás, in: CMI Brasil, http://www.midiaindependente.
org/pt/blue/2004/06/283356.shtml., 15.06.2004; tb. in : Boletim Eletrônico
PSTU, Org. Álvaro Frota, Mensagem 338 – 340, 15.06.2004.
[30] Acerca do tema,
permito-me remeter o leitor à leitura do trabalho por mim organizado e
intitulado TROTSKY, LÉON D. BRONSTEIN.
Pamiati M. V. Frunze(Recordações de M.
V. Frunze)(02 de Novembro de 1925), in: Izvestia (Notícias), Nr. 259,
13.11.1925. Referido texto foi recentemente compilado e republicado em LUNATCHARSKY, ANATOLY / RADEK, KARL /
TROTSKY, LÉON. Siluety : Polititcheskie Portrety (Silhuetas. Retratos
Políticos), Moscou : Politizdat, 1991, pp. 360
e s.
[31] Cf. TROTSKY, LÉON D.
BRONSTEIN. Kak Voorujalas’ Revoliutsia (Como a
Revolução se Armou), Vol. 2, Cad. 2, especialmente : Iz Becedy c
Predstaviteliem Amerikanskoi Petchati (Entrevista Concedida a um Representante
de um Jornal dos EUA), Moscou : Vyssh. Voennyi Red. Soviet, 1923-1925, pp. 241
e s.
[32] Cf. ARCARY, VALERIO. Ir ou Não Ir Além da
CUT. Uma Polêmica Sindical em Perspectiva Histórica, in: Opinião Socialista. Órgão
do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, Teoria, 23.03.2005.
[33] Cf. MARX, KARL H. Die
Vereinugung der Gläubigen mit Christo nach Johannes 15, 1-14, in ihrem Grund
und Wesen, in ihrer unbedingten Notwendigkeit und in ihren Wirkungen dargestellt
(A União dos Crentes com Cristo segundo João 15, 1-14, em seu Fundamento e
Essência, apresentada em sua Incondicional Necessidade e seus Efeitos)(1835),
in : Marx und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt. - Werke, Artikel,
Entwürfe, Bd. I - Text. Literarische
Versuche bis März 1843, Berlim : Dietz, 1975, p. 449.
[34] Cf. ARCARY,
VALERIO. A Polêmica sobre a „Ausência” do Proletariado e a Atualidade da
Estratégia Revolucionária, in: http://www.pstu.org.br/ juventude/ mg/ txt/
proletariado_valerioarcary.htm, especialmente 8. Por Quê o Atraso da Revolução
Socialista nos Países Centrais?, Fevereiro de 2002.
[36] Cf. IDEM. Scritti sull’Italia (1921-1938), Roma : Controcorrente, p.
184.
[37] Cf. ARCARY,
VALERIO. A Polêmica sobre as Aptidões Revolucionárias do Proletariato, in:
http://www.marxismalive.org/ valerio5port.html, Abril de 2002.
[38] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas
da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise
Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 160.
[39] Impende anotar que,
entre 14 de fevereiro e 6 de março de 1895, Engels redigiu sua “Introdução à Luta de
Classes na França de 1848 a 1850 de Karl Marx”, a qual foi publicada no
curso do mesmo ano, na cidade de Berlim. Depreende-se, entretanto, de uma carta
de Richard
Fischer, dirigida a Engels, em 6 de março de 1895, que a
direção do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) exigiu de Engels
uma atenuação do tom linguístico-revolucionário, contido em sua referida “Introdução”. Na carta de resposta de
Engels
a Fischer,
datada de 8 de março de 1895, verifica-se, além disso, que Engels contestou,
detalhadamente, as preocupações que a direção do SPD levantava, elucidando,
inequivocamente, sua posição jurídico-político-revolucionária. A crítica de Engels
dirigia-se contra a atitude irresoluta da direção do SPD, encabeçada por August
Bebel, Wilhelm Liebknecht, Karl Kautsky, Eduard Bernstein, Richard Fischer
etc. – e sua pretensão de intervir exclusivamente no quadro da legalidade
burguesa. Engels foi obrigado, entretanto, a fazer certas alterações
léxicas e gramaticais em seu texto original, bem como eliminar, inteiramente,
certas passagens, em que realçava a necessidade da luta armada do proletariado
vindoura contra a burguesia. Baseados no texto dessa notável “Introdução”, alguns célebres
dirigentes do SPD empreenderam, a seguir, a tentativa de deformar os
posicionamentos de Engels, incluindo-o entre os adeptos da via pacífica “quand même (EvM.: custe
o que custar)”, para a tomada do poder
pela classe trabalhadora. Nesse sentido, em 30 de março de 1895, publicou-se,
no “Vorwärts (Avante)”, um artigo editorial,
intitulado “Wie man heute
Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”, em que diversas
citações, extraídas aleatoriamente da “Introdução” de Engels, produziam a falsa
impressão de que Engels haver-se-ia tornado “ein friedfertiger
Anbeter der Gesetzlichkeit quand même(EVM.: um venerador pacifista da legalidade,
sob todas as condições)”. Assim, o texto de de Engels
foi deformado, por ocasião de sua publicação em 1895, realizada pela Social-Democracia
Alemã e, então, por ela interpretada enquanto rejeição expressa de Engels
à insurreição
armada e à luta de barricadas. Apenas posteriormente, surgiu publicado, na
URSS, o texto integral da introdução em referência.
Logo depois da reedição
da obra de Marx em questão, Engels exigiu, energicamente, que
sua “Introdução” fosse publicada, na
íntegra, na revista “Neue Zeit (O Novo
Tempo)”. Sem embargo, o Nr.
27/28, 2 Vol. 13° Ano, 1894/95 dessa revista decidiu-se por publicar
apenas a “Introdução” com as alterações e as
supressões referidas que Engels fora forçado a efetuar, sob
pressão da direção do SPD. Entretanto, a despeito destas,
é efetivamente possível verificar que a “Introdução” em causa preserva,
ainda assim, seu caráter revolucionário, pouco podendo prestar-se às
degenerações de posições, contidas no artigo editorial do “Vorwärts(Avante)”, intitulado “Wie man heute
Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”. Neste comenos, uma
publicação integral da “Introdução” de Engels não teve em lugar, na
Alemanha, antes de eliminado o perigo de promulgação de uma nova Lei
contra os Socialistas. Para um exame integral do texto em apreço, vide ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl
Marx’ Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850(Introduçao à
Luta de Classes na França de 1848 a 1850)(1895), in : ibidem, Vol. 27, pp.
509-527. Sobre o pano de fundo dos métodos utilizados pela corrente oportunista
de Liebknecht,
Bebel e Kautsky, visando ao impulsionamento de suas disputas políticas
de outrora, dá-nos conta, precisamente, Engels, em 3 de abril de 1895,
poucos meses antes de sua morte, em uma de suas cartas enviadas a Paul
Lafargue, ao protestar contra as amputações literárias realizadas por Wilhelm
Liebknecht em sua “Introdução” referida: “Wilhelm Liebknecht aplicou-me, agora
mesmo, um golpe de mau gosto. Retirou de minha introdução aos ensaios de Marx
sobre a França, de 1848 a 1850, tudo aquilo que lhe podia servir, para apoiar,
a todo custo, a tática pacífica e refutadora da violência. Essa tática, adora
pregá-la, desde algum tempo e particularmente nesse momento em que, em Berlim,
estão sendo preparadas Leis de Exceção. Recomendo uma
tática do gênero apenas e tão somente para a Alemanha de hoje,
fazendo-o, ainda, com reservas consideráveis. Para a França, a Bélgica, a Itália
e a Áustria, essa tática não é adequada, em seu conjunto, e, mesmo para a Alemanha,
pode demonstrar-se inaplicável já no dia de amanhã. Peço-lhe, portanto, que espere pelo artigo
completo, antes de julgar – provavelmente este aparecerá no “Neue Zeit(Novo Tempo)”. Espero, de um dia para
o outro, exemplares das brochuras. É lamentável que Wilhelm Liebknecht veja
apenas o preto e o branco. Para ele, as nuances não existem. Além disso, as
coisas estão quentes na Alemanha, o que promete um fim de século grandioso. ...” Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief
an Paul Lafargue in Le Perreux(Carta a P. Lafargue em Le Perreux)(3 de Abril de
1895), in : ibidem, Vol. 39, p. 458.
Após a morte de Engels, os dirigentes oportunistas e revisionistas do SPD propagandearam,
de modo deformado, as posições engelsianas, constantes em sua “Introdução”, como forma de reforçar, até a exaustão, sua tática pacífica e refutadora da violência. Impediram, sistematicamente,
que os trabalhadores e militantes de base tivessem acesso ao texto original e
integral da “Introdução”. Calaram-se sobre o fato de
haverem forçado Engels a operar certas modificações léxicas e gramaticais em seu
texto, a fim de aliviar o seu tom revolucionário. Alegaram que, em sua “Introdução” – apregoada como seu definitivo “politiches Vermächtnis(legado político)” - Engels haveria aderido ao
reformismo e ao pacifismo, abdicando de suas posições revolucionárias precedentes.
[40] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas
da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise
Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi,
(tb. na forma de livro publicado pela Editora Xamã,
2004), p. 276.
[41] Cf. TEXIER,
JACQUES. Révolution et Démocratie chez Marx et Engels, Paris : Actuel Marx
Confrontation – PUF, 1998, contra-capa.
[42] Cf. ARCARY,
VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos
Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese
FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 369.
[43] Cf. GRAMSCI,
ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de
1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti
Politici, Roma, 1967, p. 80 e s., tb. minha tradução em http://www.scientific-socialism.de/SUCAPIIIC.htm
[44] Nesse sentido, vide
o expressivo texto de ARCARY, VALERIO. O
Socialismo Que Queremos, in: O Encontro da Revolução com a História, Editora Sundermann : São Paulo, 2007, tb. http://www.pstu.org.br/ Acerca das posições de Marx e Engels sobre esse
tema, vide, p.ex. Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an August Bebel in Zwickau (Carta a A. Bebel em
Zwickau)(18 – 28 de Março de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke
(Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 125
e s.; Cf. MARX, KARL. Brief an Friedrich Engels in Ramsgate (Carta a
Friedrich Engels em Ramsgate)(1° de Agosto de 1877), in : Karl Marx und
Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim
: Dietz, 1966, pp. 65 e s.; Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Herrn Eugen Dühring's Umwälzung der Wissenschaft (A Subversao da
Ciência do Sr. Eugen Dühring) (Setembro 1876 – Junho 1878), in : ibidem, Vol.
20, pp. 1- 303.
[45] Cf. ARCARY,
VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos
Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese
FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 521.
[46] Cf. IDEM.
ibidem, p. 276.
[47] Já tive a oportunidade
de destacar em debates públicos que se trata, efetivamente, de um mito gerado
pelos adeptos do gramscismo o de acusar Rosa Luxemburgo de „fortes
propensões objetivistas” e outros
disparates do gênero. Fosse isso verdade, Lenin teria sido
seguramente um dos mais importantes marxistas revolucionários a destacar esse
fato, em suas inúmeras polêmicas, travadas contra a Rosa Vermelha. Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Retch
Pri Otkrytii Kongressa 2. Marta. I Kongress Kommunistitcheskovo Internatsionala
(Discurso de Abertura do Congresso de 2 der Março. I Congresso da Internacional
Comunista), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas de V.
I. Lenin), Vol. 37, Moscou : GIPL, 1961, p. 489.
[48] Cf. ARCARY,
VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos
Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese
FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 343.
[49] Assinalo que Ferdinand Lassalle (1825 – 1864) foi
filósofo, economista, jornalista, escritor, bem como um dos mais importantes
dirigentes da classe trabalhadora alemã, entre 1862 e 1864. No início de sua
vida pública, defendeu posições democratas pequeno-burguesas. No quadro da Revolução
de 1848 e 1849, interviu ativamente, tornando-se, desde então, amigo de
Marx
e Engels. Em 1862 e 1863, foi um dos principais dirigentes do movimento
operário alemão que aspirava a alcançar sua independência de classe e um dos
fundadores da Associação Geral dos Trabalhadores da Alemanha (ADAV). Em
torno das idéias de Lassalle, surgiu, a partir de 1862, a corrente
ideológico-política denominada lassalleanismo, propugnadora do socialismo
reformista e pacifista alemão, em sua vertente específica de socialismo
do Estado. Enquanto principais reinvidicações programáticas, Lassalle
pregava, de modo praticamente exclusivo e infalível, o estabelecimento de cooperativas
de produção dos trabalhadores, impulsionadas com auxílios, prestados pelo Estado,
cujo poder passaria às mãos do povo trabalhador por meio de sufrágio direto,
igual e universal, derrubando-se a eterna “lei de bronze dos salários”,
alcançando-se o socialismo de maneira pacífica e gradual. O método de obter tal
perspectiva, incluía estratégias e táticas de colaboração de classes, bem como
a defesa da unificação da Alemanha sob o Governo de Otto von Bismarck e a
hegemonia do Estado Imperial Prussiano. Para Lassalle, a sociedade
burguesa asseguraria a todos os indivíduos desenvolvimento ilimitado de suas
forças produtivas, sendo que, portanto, a idéia moral do proletariado haveria
de ser apenas a obtenção da prestação de serviços úteis à comunidade e a
promoção de solidariedade e reciprocidade de interesses. Lassalle – à semelhança
de Hegel
– era de opinião que o Estado – enquanto “união dos indivíduos que aumenta um milhão
de vezes as forças individuais” – representava e incorporava toda a
expressão de Direito e justiça, razão por que seu objetivo do Estado haveria de
ser “a
educação e o desenvolvimento da liberdade na raça humana”. Sendo assim,
o Estado assimilaria, progressivamente, com seu desenvolvimento, a causa do
proletariado, de modo que a Revolução Proletária Socialista
seria inteiramente despicienda e desnecessária. Foi assassinado pelo Conde
von Racowitza, em um duelo, travado em 31 de agosto de 1864. Acerca do
tema, vide LASSALLE, FERDINAND. Das
System der erworbenen Rechte. Eine Versöhnung des positives Rechts und der
Rechtsphilosophie (O Sistema dos Direitos Adquiridos. Uma Conciliação do
Direito Positivo com a Filosofia do Direito)(1861), Leipzig : Brockhaus, 1880,
pp. 3 e s.; IDEM. Arbeiterprogramm.
Über den besondern Zusammenhang der gegenwärtigen Geschichtsperiode mit der
Idee des Arbeiterstandes (Programa dos Trabalhadores. Sobre o Contexto Especial
do Período Histórico Atual ante a Idéia do Estamento dos
Trabalhadores)(Discurso - 12 de Abril de 1862), Zürich : Meyer und Zeller,
1863, pp. 1 e s.; IDEM. Über das
Verfassungswesen (Sobre o Sistema Constitucional)(Discurso – 16 de Abril de
1862), Hamburg : Europ. Verl. Anst., 1993, pp. III e s.; IDEM. Die Wissenschaft und die Arbeiter (A Ciência e os
Trabalhadores)(16 de Janeiro de 1863), Zürich : Meyer und Zeller, 1863, pp. 3 e
s.; IDEM. Offenes Antwortschreiben
an das Central-Comité zur Berufung eines Allgemeinen Deutschen
Arbeitercongresses zu Leipzig (Carta Aberta de Resposta ao Comitê Central para
Convocação de um Congresso Geral dos Trabalhadores da Alemanha em Leipzig)(1°
de Março de 1863), Zürich : Meyer und Zeller, 1863, pp. 1 e s.; IDEM.
Zur Arbeiterfrage (Acerca da Questão dos Trabalhadores)(16 de Abril de 1863),
Chicago : Ahrens, 1872, pp. 1 e s.; IDEM.
Arbeiterlesebuch (Manual de Leitura dos Trabalhadores)(17/19 de Maio de 1863),
Frankfurt a.M. : Baist, 1863, pp. 3 e s.
[50] Vide ARCARY, VALERIO. I
Congresso da Conlutas. A Atualidade do Marxismo
e a Revolução Socialista Sobre as Minorias e a Democracia, Julho 2008.
[51]
MARX, KARL. Kritik des Gothaer Programms. Randglossen zum Programm
der deutschen Arbeiterpartei (Crítica do Programa de Gotha. Glosas Marginais ao
Programa do Partido Alemão dos Trabalhadores) (Abril e Maio de 1875), in :
ibidem, Vol. 19, Berlim: Dietz, 1962, pp. 15 e s. Anoto que o presente texto de Marx
foi publicado, pela primeira vez, em "Die Neue Zeit (O Novo Tempo)",
Caderno Nr. 18, Vol. 1, 1890 - 1891.
[52] Cf. MARX,
KARL. Brief an Wilhelm Bracke (Carta a W. Bracke)(5 de Maio de
1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e
Friedrich Engels), Vol. 19, Berlim : Dietz, 1966, pp. 13 e s.
[53]
Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an August Bebel in Zwickau (Carta a A. Bebel em
Zwickau)(18 – 28 de Março de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke
(Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 125
e s.
[54]
Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Friedrich
Adolph Sorge in Hoboken, New Jersey, USA (Carta a F. A. Sorge in Hoboken, Nova
Jersey, EUA )(11 de Fevereiro de 1891), in : ibidem, Vol. 38, Berlim : Dietz,
1968, pp. 30 e 31.
[55]
Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an August Bebel (Carta a A. Bebel)(12 de Outubro de 1875),
in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich
Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, p. 159.
[56]
Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Brief an Friedrich
Engels (Carta a F. Engels), passim : Karl Marx und Friedrich Engels Werke
(Obras de Karl Marx e Friedrich Engels)(28 de Julho de 1887), Vol. 34, Berlim :
Dietz, 1966, p. 557. Em sua carta,
datada de 23 de outubro de 1877, Wilhem Bracke forneceu, então, a Marx
uma apreciação curta e contundente do caráter político desse projeto
editorial.
[57] Cumpre anotar que Émile
Acollas (1820 – 1891) foi um professor francês de Direito, nascido em La
Châtre, o qual celebrizou-se por ter sido um dos fundadores da Liga pela
Paz e pela Liberdade, criada em 1867, com o apoio expresso de Victor
Hugo, John Stuart Mill, Giuseppe Garibaldi, Louis Blanc, Elisée Reclus, Mikhail
Bakunin e tantos outros mais 10.000 aderentes. Acollas postulava que as
assembléias da Liga pela Paz e pela Liberdade seriam, em verdade, “conferências
revolucionárias”. Defendia como programa político um federalismo
decentralizado, mandatos revogáveis para representantes eleitos, direito de
livre associação, distribuição equânime de bens e rendas, direito internacional
enquanto moralidade da consciência individual e das nações. Marx
posiciou-se, porém, contra qualquer adesão a essa liga, conclamando,
oficialmente, a Associação Internacional dos Trabalhadores a com ela não
involver-se. Entretanto, a eclosão da Guerra Franco-Prussiana, em 1870,
levou a que a liga se desaparecesse. Com a instalação da Comuna de Paris, Acollas foi nomeado decano da Faculdade
de Direito da Universidade de Paris. Sem embargo, jamais exerceu tal
função, a fim de esquivar-se a possíveis inculpações decorrentes da revolução.
Retornou, então, a Paris, apenas em 1871, quando organizou a Escola de Direito de Paris,
cujos mais ilustres alunos foram o republicano burguês-radical Georges
Clemenceau, Presidente do Conselho da República Francesa entre
1906-1909 e 1917-1920, denominado o “Pai da Vitória” na I Guerra
Mundial, e Nakae Chomin, o “Rousseau do Oriente”, um dos mais
renomandos militantes do Movimento dos Direitos Populares Japoneses.
[58]
Cf. MARX, KARL. Brief
an Friedrich Engels in Ramsgate (Carta a Friedrich Engels em Ramsgate)(1° de
Agosto de 1877), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx
e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 65 e s. Vide tb. minha tradução a essa carta de Marx,
in: http://www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngels010877.htm
[59] Acerca da Lei
contra os Socialistas, Engels redigiu um grande número de artigos
de expressiva relevância jurídica e política, entre os quais se destacam ENGELS, FRIEDRICH. Das Ausnahmegesetz
gegen die Sozialisten in Deutschland – Die Lage in Rußland (A Lei de Exceção
contra os Socialistas na Alemanha – A Situação na Rússia)(30 de março de 1879),
in: ibidem, Vol. 19, pp. 148 e s.; IDEM.
Bismarck und die deutsche Arbeiterpartei (Birmarck e o Partido dos
Trabalhadores da Alemanha)(Julho de 1881), in : ibidem, Vol. 19, pp. 280 e s.; IDEM. Die deutsche Wahlen 1890 (As
Eleições Alemãs de 1890)(21 de Fevereiro – 1° de Março de 1890), in : ibidem,
Vol. 22, pp. 3 e s.; IDEM. Was nun?
(E Agora?)( 21 de Fevereiro – 1° de Março de 1890), in : ibidem, pp. 7 e s.; IDEM. Abschiedsbrief an die Leser des
“Sozialdemokrats” (Carta de Despedida aos Leitores do “Social-Democrata”)(21 de
Fevereiro – 1° de Março de 1890), in : ibidem, pp. 7 e s.
[60]
Cf. BRACKE, WILHELM. Brief an Friedrich
Engels (Carta a F. Engels)(25 de Março de 1875), passim: ibidem, Vol. 34, p.
571.
[61]
Cf. BEBEL, AUGUST. Unsere Ziele. Ein Streit gegen die
“Demokratische Korrespondenz” (Nossos Objetivos. Um Litígio contra a
“Correspondência Democrática”)(Leipzig : Thiele, 1870), 3a. Ed., Leipzig :
Verlag der Expedition d. Vollksstaat, 1872, pp. 14 e s. Vide, no mesmíssimo
sentido, as repetidas e inalteradas edições dessa clássica obra de
Bebel, ocorridas, como mínimo, repetidamente, em 1875 (Leipzig : Verlag
der Genossenschaftsbuchdruckerei) 1886 (Hottingen – Zürich :
Volksbuchhandlung), 1893 (Berlim : Vorwärts), 1906 (Berlim : Vorwärts), 1910
(Berlim : Vorwärts), 1913 (Belim : Buchhandlung Vorwärts).
[62]
Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an August Bebel in Zwickau (Carta a A. Bebel em
Zwickau)(18 – 28 de Março de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke
(Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 125
e s.
[63]
Cf. BEBEL, AUGUST. Brief an Friedrich
Engels (Carta a F. Engels)(1875), passim: ibidem, Vol. 34, p. 569.
[64]
Cf. RAMM, HERMANN. Brief an Friedrich
Engels (Carta a F. Engels)(24 de Maio de 1875), passim : ibidem, Vol. 34, pp.
571 e 572.
[65]
Cf. BEBEL, AUGUST. Brief an Friedrich
Engels (Carta a F. Engels)(21 de Setembro de 1875), in: A. Bebel. Aus meinem Leben (Minha
Vida)(1911), Vol. 2, 5. ed., Berlim : Dietz, 1978, p.
432.
[66]
Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Brief an Friedrich
Engels (Carta a F. Engels)(21 de Abril de 1875), passim: ibidem, Vol. 34, p.
572.
[67]
Acerca do tema, vide ENGELS, FRIEDRICH. Zur Kritik des
sozialdemokratischen Programmentwurfs 1891 (Crítica do Projeto do Programa
Social-Democrático de 1891)(18 – 29 de Junho de 1891), in : ibidem, Vol. 22, pp. 227 e s.
[68]
Cf. KAUTSKY, KARL. Das Erfurter Programm(O
Programa de Erfurt)(1892), Berlim : Dietz Verlag, 1919, p. 102.
[69]
Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. in : Protokoll des Erfurter Parteitages
(Protocolo do Congresso de Erfurt), Berlim, 1891, p. 206.
[70]
Nesse sentido, vide IDEM. Zukunftstaatlisches (Coisas do
Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898, pp. 218 e 219.
[71]
Para um exame integral
do texto em apreço, vide ENGELS,
FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx’ Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis
1850(Introduçao à Luta de Classes na França de 1848 a 1850)(1895), in : ibidem,
Vol. 27, pp. 509-527.
[72] Cf. ARCARY,
VALERIO. Leia a Intervenção no Debate da Revista Marxismo Vivo no Fórum
Social Mundial. A Esquerda e o Conflito com a Democracia Burguesa na América
Latina, in: Opinião Socialista. Órgão do Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado, Teoria, 06.04.2005. Anote-se,
de passagem, que a seguinte formulação de Arcary é, além disso, muito
mal-formulada e não possui qualquer fundamento histórico-efetivo : “Há 100 anos
atrás, na Alemanha, a primeira experiência de um partido operário de massas,
que tinha várias alas, não tinha somente uma corrente majoritária, o partido no
qual havia uma tremenda luta interna encabeçada por Rosa Luxemburgo, aos poucos
o partido de Engels foi se integrando ao regime da democracia prussiana,
aceitando até o imperador, o Kaiser”. IDEM.
ibidem, loc. cit.
[73]
Vide MANDEL, ERNST. Rosa Luxemburg und die
deutsche Sozialdemokratie (Rosa Luxemburgo e a Social-Democracia Alemã) (Março
de 1971), in: Ernst Mandel – Karl Mandel. Rosa Luxemburg Leben – Kampf – Tod
(Vida – Luta – Morte), Frankfurt a.M. : isp – Verlag, Mai 1986, pp. 46 e s.
[74] Cf. ARCARY, VALÉRIO. Leia a Intervenção no
Debate da Revista Marxismo Vivo no Fórum Social Mundial. A Esquerda e o
Conflito com a Democracia Burguesa na América Latina, in: Opinião Socialista.
Órgão do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, Teoria, 06.04.2005. Anote-se, de passagem, que a seguinte
formulação de Arcary é, além disso, muito mal-formulada e não possui qualquer
fundamento histórico-efetivo : “Há 100 anos atrás, na Alemanha, a primeira
experiência de um partido operário de massas, que tinha várias alas, não tinha
somente uma corrente majoritária, o partido no qual havia uma tremenda luta
interna encabeçada por Rosa Luxemburgo, aos poucos o partido de Engels foi se
integrando ao regime da democracia prussiana, aceitando até o imperador, o
Kaiser”. IDEM. ibidem, loc. cit. Em
verdade, cumpriria dizer e esclarecer que a luta interna contra a integração da
Social-Democracia
Alemã à democracia do Estado Prussiano começou muito antes de Rosa
Luxemburgo e Karl Liebknecht, possuindo o seu dealbar já sob a inflexível
batuta ideológica de Marx e Engels, seja no quadro de
suas contudentes críticas a todos os Programas do SDAP/SAP/SPD, seja no
contexto da luta revolucionária em face da Lei contra os Socialistas de 1878 a 1890.
A seguir, Engels seguiu combatendo implacavelmente, até ao dia de sua
morte, a direção alegadamente “marxista” de Wilhelm Liebknecht, August Bebel,
Eduard Bernstein e colaboradores que, na década de 90 do século XIX,
seguiram imprimindo, enquanto friedfertige Anbeter der Gesetzlichkeit quand
même (veneradores pacifistas da legalidade, sob todas as
condições), uma orientação
invarialvelmente pacifista e reformista ao Partido Social-Democrático Alemão. Por
isso, os artigos de Engels foram
repetidamente censurados ou simplesmente não publicados. De todo modo,
falar-se, pura e simplesmente, em “partido de Engels” - sem destacar a
luta travada por esse último contra o filistinismo do “livre pensar” -, constitui um equívoco patente : caberia falar
ou do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) com que Marx
e Engels colaboraram criticamente a partir da Inglaterra – pois, ambos
haviam sido expulsos da Alemanha, logo após a Revolução
de 1848 – 1849, tendo sido Marx forçado a tornar-se apátrida -
ou do Partido que se opunha à orientação de Marx e Engels, em vez de
falar, sem mais nem menos, do “Partido de Engels”. Cabe, em
verdade, a Ernst Mandel e aos incorrigíveis adeptos e colaboradores do
mandelismo – no estilo de Daniel Bensaïd - defenderem a tese
arenosa de que o “Partido de Engels” se integrou ao imperialismo alemão, por
permanecer em sua “velha e preservada tática”, finalmente antagonizada por Rosa
Luxemburgo. Vide MANDEL, ERNST. Rosa
Luxemburg und die deutsche Sozialdemokratie (Rosa Luxemburgo e a
Social-Democracia Alemã) (Março de 1971), in: Ernst Mandel – Karl Mandel. Rosa
Luxemburg Leben – Kampf – Tod (Vida – Luta – Morte), Frankfurt a.M. : isp –
Verlag, Mai 1986, pp. 46 e s. Por fim,
cumpre destacar que a grandiosa e corajosa luta travada pela águia
revolucionária do proletariado, Rosa Luxemburgo contra a direção
social-reformista do Partido Social-Democrático Alemão (SPD), possuía
como elementos de enfraquecimento a própria postura equivocada de Rosa
Luxemburgo. Defendendo, por um lado, a derrubada de Wilhelm
II, Rosa mantinha invariável sua posição de rejeitar abertamente o
Direito de auto-determinação das nações oprimidas – contra a orientação de Marx
e Engels -, propugnar uma teoria de acumulação do capital inteiramente
revisionista – contra os posicionamentos de Marx e Engels -, postular,
nas lutas proletárias, uma defesa essencialmente democratista de direitos e
liberdades fundamentais para todos os indivíduos e organizações sociais –
contra a concepção de Marx e Engels -, repudiar a teoria de Partido centralizado e
clandestino – contra a concepção de Marx, Engels, Lenin e os
bolcheviques -, o que, sem dúvida, favorecia estrategicamente, em grande parte,
as posições do social-reformismo e do oportunismo organizativo da Social-Democracia
Alemã. Entre os proletários revolucionários alemães desse período
histórico encontraremos também aqueles que, não apenas defendendo a derrubada
do Imperador
Alemão, inclinavam-se também – ainda que intermediados por Karl
Radek - a favor da defesa do modo de funcionamento e da linha geral
internacionalista do Partido Bolchevique de Lenin. Reuniam-se
em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e Julian Borchard e de seu trabalho
surgiram também importantes sustentáculos, indispensáveis para a fundação do Partido
Comunista da Alemanha (Liga Spartakus), em fins de 1918 e início de
1919.
[75]Cf. PETRAS, JAMES. On
the Communist Manifesto. The Manifesto’s Strength and Flaws. Symposium on the
Relevance of Marxism on the 150th Anniversary of the Communist Manifesto.
Published in New Politics (O Manifesto Comunista. Forças e Debilidades do
Manifesto. Simpósio acerca da Relevância do Marxismo no 150° Aniversário do
Manifesto Comunista. Publicado em New Politics), in: Rebelion. Periódico
Electrónico de Información Alternativa. Petras Essays in English,
http://www. rebelion.org/
petras/english/ cm170102.htm, March 1998.
[76] Cf. IDEM.
The Diffusion of Marxism and the Development of the Working Class
Movement (A Difusão do Marxismo e o Desenvolvimento do Movimento da Classe
Trabalhadora), in: Rebelion. Periódico Electrónico de Información Alternativa.
Petras Essays in English, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=13267,
31.03.2005. Existe tradução desse artigo em língua espanhola em IDEM. La Difusión del Marxismo y el
Desarollo del Movimiento de la Clase Obrera, in : Rebelion. Periódico
Electrónico de Información Alternativa. La Página de Petras, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=13266,
31.03.2005.
[77] Cf. HORATIUS FLACCUS, QUINTUS. Ars
Poetica, Ad Omne Genus Eloquentiae,
Ligatae, Solutae Etiam Sacrae, Accomodata & Exemplis Plurimis Illustrata(65
– 8 a.C.), Augustae Vindelicorum : Ignatio Weitenauer, 1757, pp. Epistola ad
Pisones.
[78] Cf. STALIN, IOSSIF VISSARIANOVITCH
DJUGASCHVILI., Vystuplenia na VI S’ezde RSDRP (Bol’shevikov) (Intervenção
Pronunciada no VI Congresso do POSDR - Bolchevique), especialmente 6.:
Vozrajenie Preobrajenskomu Po Voprossu o 9-om Punkte Resoliutsi “O
Polititcheskom Polojenii”(Contestação a Preobrajensky acerca da Questão do IX
Ponto da Resolução “Acerca da Situação Política”), in : Iossif Vissarianovitch
Stalin. Sotchinienia (Obras de I. V. Stalin), Vol. 3, Moscou : Gosud. Izd-vo,
pp. 37 e s.; tb., em língua alemã, IDEM. Rede auf dem VI.
Parteitag der SDAPR (B) (Discurso Pronunciado no VI Congresso do Partido
Operário Social-Democrático Russo Bolchevique) (3 de Agosto de 1917),
especialmente Erwiderung an Preobrajensky zur Frage des 9. Punktes der
Resolution “Über die Politische Lage” (Contestação a Preobrajensky acerca da
Questão do IX Ponto da Resolução “Acerca da Situação Política”), in: J.W.
Stalin Werke, Vol. III, Dortmund : Roter Morgen, 1976, p. 173.
[79] Nesse sentido, vide
precisamente GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni
del Carcere, Nr. 14 (1928-1937) – Internazionalismo e Politica Nazionale
(Internacionalismo e Política Nacional), in : Antonio Gramsci. Note sul
Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti,
1991, pp. 144 e 145. tb. em http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP1.htm
[80] Cf. CASTRO, FIDEL. El Nuevo Diário. Interview with Fidel Castro : Blaming
Stalin for Everthing Would Be Historical Simplism (O Novo Diário. Entrevista
com Fidel Castro : Culpar Stalin por Todas as Coisas Seria um Simplismo
Histórico)(03.06.1992), in : El Nuevo Diário, Manágua, tb. in : Castro Internet
Archive, http://www.marxists.org/history/cuba/archive/castro/1992/06/03.htm
[81] Cf. PETRAS, JAMES. Entrevista a James
Petras, Realizada por Pablo Scatizza Por Ocasião da Passagem de Petras pela
Cerâmica Zanon, Comissão de Imprensa dos Trabalhadores da Cerâmica Zanoa, in :
Rebelion.org, 10.06.2003.
[82] Passim IDEM. La
Contraofensiva Imperial : Contradicciones, Desafíos y Oportunidades, in :
Marxismo Vivo. Revista del Koorkom, Nr. 4, Deciembre de 2001, p. 44.
[83] Cf. IDEM. Entrevista a James Petras,
Realizada por Pablo Scatizza Por Ocasião da Passagem de Petras pela Cerâmica
Zanon, Comissão de Imprensa dos Trabalhadores da Cerâmica Zanoa, in :
Rebelion.org, 10.06.2003.
[84] Cf. IDEM. Antiglobalización, Militarismo y
Lamebotismo, in: Rebelion.org,
28.03.2002.
[85] Cf. PETRAS, JAMES. Cuba, os Estados Unidos
e os Direitos Humanos, Trad. em Língua
Portuguesa de Vera L. C. Vassouras, in : Centro de Mídia Independente (CMI)
Brasil, 23.05.2003.; IDEM. De Cómo
Algunos Intelectuales de Occidente le Hacen el Juego al Imperialismo. La Responsabilidad de los
Intelectuales : Cuba, los Estados Unidos y los Derechos Humanos, in :
Rebelion.org, 06.05.2003.
[86] Cf. OVIDIUS NASO, PUBLIUS. Metamorphoses
(43 AC. – 18 d.C.), München : Heimeran, 1973, Liber Secundus, II : Corvus et
Cornix, Erichtnon.
[87] Cf. PETRAS, JAMES. Venezuela entre Los
Votos y las Botas, Trad. em Língua Espanhola de Manuel Talens, in : Rebelion, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=58941, 13 de Novembro de
2007, tb. In : PSOL. PARTIDO
DO SOCIALISMO E LIBERDADE. James Petras Escreve sobre a Venezuela, in : PSOL. http://www.psol.org.br/
[88] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro
il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de
Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e
s.
[89] Cf. MARX, KARL H. Nachwort zur zweiten
Auflage des “Das Kapital” (Posfácio à Segunda Ediçao de “O Capital”)(24 de
Janeiro de 1873), in : Marx & Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol.
23, pp. 18 - 28.
[90] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Karl Marx. Kratkii
Biografitcheskii Otcherk s Izlojeniem Marksizma (Karl Marx. Breve Quadro
Biográfico com Exposição do Marxismo) (Julho – Novembro de 1914), in: ibidem,
Vol. 26, pp. 43 e s.
[91] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Karl Marx(Carta a K.
Marx)(13.02.1851), in : Marx und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt., Bd.
III/4, Berlim : Dietz, 1975, pp. 41 e 42.
[92] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro
il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de
Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e
s.
[93] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge
(Carta a F. A. Sorge)(29.11.1886), in: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e
Engels), Berlim : Dietz Verlag, 1962, Vol. 36, p. 578.
[94] Acerca do tema, vide MARX, KARL H. Thesen über Feuerbach
(Teses sobre Feuerbach), in: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels),
Berlim : Dietz Verlag, 1962, Vol. 3, p. 533. Sobre a vulgar conversão reducionista do marxismo revolucionário em filosofia da práxis, vide sobretudo GRAMSCI. ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 13 (1928-1937) –
Noterelle sulla Politica del Machiavelli, in: Antonio Gramsci. Note sul
Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti,
1991, pp. 3 e s. ; tb. IDEM. Quaderni
del Carcere, Nr. 12 (1928-1937) – La Formazione degli Intellettuali, in:
Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 836.
[95] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Die Kommunisten und K. Heinzen (Os Comunistas
e K. Heinzen)(03.10.1847), in: ibidem, Vol. 4, pp. 321 e 322.; IDEM. Brief an Karl
Kautsky (Carta a Karl Kautsky)(09.01.1884), in: ibidem, Vol. 36, p. 81.
[96] Acerca do tema, vide MARX, KARL H. Brief an F. Engels (Carta
a F. Engels)(08.01.1868), in: ibidem, Vol. 32, p. 9.; IDEM. Brief an F. Engels (Carta a F. Engels)(12.12.1868), in: ibidem,
Vol. 32, p. 229; IDEM. Brief an die
Redaktion der “Otetshestvennie Zapiski” (Carta à Redação de “Recordações da
Pátria”)(Novembro de 1877), in: ibidem, Vol. 19, pp. 108 e 112.; tb. ENGELS, F. Antwort an Herrn P. Ernst
(Resposta ao Sr. P. Ernst)(05.10.1890), in: ibidem, Vol. 22, p. 81.
[97] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge
(Carta a F. A. Sorge)(10.06.1891), in: ibidem, Vol. 38, p. 112.
[98] Passim ENGELS, F. Antwort an die Redaktion der
„Sächsischen Arbeiter-Zeitung“ (Resposta à Redação do „Jornal Operário Saxão“
(13.09.1890), in: Marx & Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim :
Dietz Verlag, Vol. 22, p. 69.