PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DA
PRODUÇÃO E DA CIRCULAÇÃO CAPITALISTAS,
NO MUNDO DAS FINANÇAS E DAS UNIVERSIDADES DE ECONOMIA
BURGUESAS
PEQUENOS ENSAIOS POLÊMICOS
SOBRE MARXISMO E A CRÍTICA DA ECONOMIA CAPITALISTA
Do Comunismo Primitivo à
Divisão da Sociedade em Classes
LEV RHONANOVITCH SEGAL[1]
Concepção e
Reconfiguração, Tradução e Organização
Emil Asturig von
München, Março de 2009
Para Palestras e
Cursos sobre o Tema em Destaque
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Geral
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A
forma de sociedade do comunismo primitivo existiu durante
muitos milênios, na vida de todos os povos da humanidade, tendo sido a mais
primitiva etapa de evolução da sociedade.
Foi nesse
mesmo período que se iniciou o desenvolvimento da sociedade.
Nessa
época, os seres humanos viviam em estado de selvageria. Alimentavam-se
de vegetais que encontravam por acaso: legumes, frutas silvestres, raízes etc.
A
descoberta do fogo foi de extraordinária importância, pois que permitiu ampliar
as fontes
de alimentação.
Os primeiros
instrumentos utilizados pelos seres humanos foram o machado e as pedras
toscas sem polimento.
O emprego
da lança com ponta de pedra e, logo depois, a do arco e flecha, permitiu-lhes
procurarem novos alimentos, entre eles a carne dos animais.
Paralelamente
à procura de alimentos vegetais e à pesca, a caça tornou-se um novo
meio de subsistência.
Mais tarde,
ocorreu um avanço considerável através da introdução de instrumentos de pedra lascada
que permitiram trabalhar a madeira, visando à construção de habitações.
Apesar
de o processo
de desenvolvimento que elevou, através de milênios, a humanidade de sua
existência semi-animal ao nível de seres humanos capazes de construir
tecnicamente habitações e fabricar instrumentos de pedra tivesse sido
demasiadamente importante, permaneceram os seres humanos sendo extremamente
débeis na luta de sobrevivência em face das forças da natureza, o que se
expressava, principalmente, no nomadismo, decorrente da precariedade
das fontes de alimentação.
Sujeitados
ao acaso,
não havia nenhuma segurança de encontrarem sempre caça e produtos vegetais.
Ainda
era impossível pensar em armazenar reservas.
Os
alimentos eram procurados diariamente, não se fazendo nenhuma provisão para os
dias futuros.
Em
tais condições, as populações não se aglomeravam. Dispersavam-se, visto que o
alimento, passível de ser adquirido em um certo território, era insuficiente
para sustentar contingentes humanos mais densos.
Posteriormente,
os seres humanos passaram a viver em tribos, compostas por clãs.
Estas, por sua vez, compreendiam centenas de pessoas, englobando grandes
famílias entre si aparentadas.
Não havia propriedade
privada dos meios de produção e de distribuição.
A
vida econômica do clã ainda era dirigida por todos em comum, coletivamente.
Tanto
a caça quanto a pesca, tanto a preparação quanto o consumo de alimentos, tudo
se fazia em comum.
Em
seu livro intitulado “A Origem da Família, da Propriedade
Privada e do Estado. Em Conexão com as Pesquisas de Lewis H. Morgan”, Friedrich
Engels relata o exemplo dos povos das ilhas do Pacífico, entre
os quais 700 pessoas e, certas vezes, tribos inteiras, abrigavam-se sob o mesmo
teto, no quadro de uma economia comum.
O comunismo
primitivo foi necessário para a sociedade humana, naquela etapa de
desenvolvimento.
Em uma vida
privada, isolada, dispersiva, teriam sido impossíveis a invenção e o
aperfeiçoamento das armas e dos instrumentos primitivos.
Graças somente à vida
coletiva, os seres humanos primitivos puderam obter suas primeiras
conquistas, em sua luta de sobrevivência em face da natureza.
A união no clã
comunista constituiu, nessa época, a sua principal força.
Na sociedade
comunista primitiva não existia – e nem poderia existir – a exploração
do homem pelo homem.
O trabalho era
dividido entre homens e mulheres.
No interior do clã
comunista, conviviam membros mais fortes e membros mais fracos, sem que
existisse a exploração de uns pelos outros.
Pois, é apenas
possível existir exploração quando um ser humano pode produzir meios de
existência não só para si mesmo, senão também para os outros. Unicamente, sob
tais condições, um indivíduo pode viver à custa do trabalho dos outros.
Entre os seres
humanos da sociedade comunista - obrigados a conseguir alimentos para o consumo
pessoal de cada dia e incapazes de produzir mais do que o estritamente necessário
– não podia haver lugar para a exploração do homem pelo homem.
Durante as
guerras, na época do comunismo primitivo, os prisioneiros
eram mortos – às vezes comidos vivos por meio de práticas antropofágicas – ou,
então, admitidos como membros do clã vencedor.
O comunismo
primitivo foi condicionado pelo nível de desenvolvimento das forças
produtivas da sociedade de então.
Seria um erro
imaginar que os seres humanos primitivos criaram esse regime conscientemente,
pois que se formou e se desenvolveu de maneira natural, alheia à vontade e à
consciência dos seres humanos primitivos.
Pois, na produção
social de sua existência, os seres humanos estabelecem, entre si, relações
determinadas, necessárias e independentes de suas vontades.
Essas relações de
produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento das forças
produtivas materiais.
É o que Karl
Marx preleciona.
O posterior
desenvolvimento das forças produtivas da sociedade primitiva – p.ex. o
aperfeiçoamento dos instrumentos existentes e a invenção de outros novos, o
aparecimento do pastoreio e da agricultura, o uso de metais - provocou a mudança das relações de produção
até então existentes.
O comunismo
primitivo decompôs-se lentamente com o aparecimento de novas
necessidades materiais que determinaram a sua substituição por uma sociedade
fundada na propriedade privada dos meios de produção e de distribuição,
dividida em classes sociais.
DECOMPOSIÇÃO
DO COMUNISMO PRIMITIVO
O fator
determinante da decomposição do comunismo primitivo foi a domesticação dos animais,
a substituição
da caça pela criação, o que aconteceu, em primeiro lugar, entre as
tribos acampadas nos territórios mais ricos de pasto – principalmente nas
regiões dos grandes rios da Ásia Central e da Mesopotâmia,
i.e. às margens do Amu Dária, do Sir Dária, do Tigre e do Eufrates.
A criação
foi para essas tribos fonte permanente de leite, carne, peles e lã.
As tribos
pastoris possuíam dessa forma objetos de uso que faltavam às
outras.
Dessa forma, a introdução
da criação do gado assinalou a primeira divisão social do trabalho.
Antes dessa
primeira etapa, a troca tinha, entre as diversas tribos, um caráter puramente
acidental, não desempenhando papel algum na vida das tribos e dos clãs.
A divisão
do trabalho entre as tribos pastoris e as outras inaugurou a troca
regular entre elas.
Outro avanço no
desenvolvimento das forças produtivas foi o aparecimento da agricultura – primeiro a
horticultura
e, a seguir, o cultivo dos cereais – que criou uma fonte permanente e estável
de alimentos vegetais.
A invenção da tecelagem
nessa época, permitiu que se confeccionassem tecidos e roupas de lã.
Os seres humanos
aprenderam, então, a fundir os metais, o cobre,
o zinco
e o estanho
- a utilização do ferro foi apenas descoberta mais
tarde – bem como a fabricar instrumentos, armas e utensílios, a partir da liga
que se formava do bronze.
PRIMEIRA
DIVISÃO DA SOCIEDADE EM CLASSES
Como vimos pelos
fatos expostos, aumentou em grande escala, ao decompor-se o comunismo
primitivo, a produção do trabalho, crescendo
também o domínio dos seres humanos sobre a natureza e sua segurança
em face do futuro.
Essas novas
forças produtivas sociais sobrepujaram os limitados quadros do comunismo
primitivo.
Como nos
esclarece Friedrich Engels, em decorrência do desenvolvimento de todos os
ramos da produção – gado, agricultura, serviços manuais – a força do trabalho
humano foi-se tornando capaz de criar mais produtos do que os necessários ao
sustento de cada produtor.
O desejo de uma
produtividade ainda maior levou a que aumentassem, ao mesmo tempo, a soma de
trabalho quotidiano que correspondia a cada membro do gens ou do clã, bem como
a cada comunidade doméstica ou família isolada.
A ambição
estimulou a procura de novas forças de trabalho e as guerras tribais as
forneceram.
Os prisioneiros
de tais confrontações bélicas foram transformados em escravos.
Ao aumentar a
riqueza, extendendo-se o campo da produção, a primeira grande divisão do
trabalho determinaria necessariamente a escravidão, por força
mesmo das condições históricas, como modo de fazer face a tal produção.
Da primeira
divisão social do trabalho nasceu a primeira grande divisão da
sociedade em duas classes: senhores e escravos, exploradores e
explorados.
Ora, os escravos
eram estranhos ao clã e não faziam parte dele.
O desenvolvimento
das forças produtivas e o aparecimento da escravidão
propiciaram também a introdução da desigualdade entre os membros
do clã e, em primeiro lugar, entre o homem e a mulher.
Friedrich Engels
assinalou, nesse contexto, que ganhar para comer foi sempre a ocupação do
homem, sendo que os meios de produção e de distribuição, necessários para isso eram
produzidos por ele e constituíam sua propriedade.
Os rebanhos
constituíam seus novos meios de subsistência.
Sua domesticação
e seu trato foram obra do homem. Por esse motivo, o gado lhe pertencia, assim
como as mercadorias e os escravos que recebia em troca do
gado.
Portanto, todo o
lucro que, então, a produção produzia pertencia-lhe.
A mulher também
desfrutava das utilidades, mas já não tinha nenhuma participação na sua
propriedade.
Foi apenas mais
tarde que surgiu também a desigualdade entre os chefes das diversas
famílias.
O desenvolvimento
da troca – conseqüência da crescente subdivisão do trabalho –
contribuiu para essa situação.
O emprego do ferro
aumentou a variedade dos instrumentos e utensílios.
A agricultura
extendeu-se, igualmente, graças à introdução do arado com grades de metal.
Outras culturas
vieram juntar-se àquela dos cereais que, então, já existia.
Como um mesmo
indivíduo não podia mais realizar sozinho um trabalho tão variado, efetuou-se a
segunda
grande divisão social do trabalho. O trabalho manual – o artesanato
– separou-se do trabalho da agricultura.
A diferença
entre ricos e pobres surge paralelamente à diferença criada entre homens
livres e escravos.
Da segunda
grande divisão social do trabalho resultou uma nova cisão da sociedade em
classes.
A desproporção
entre os bens dos chefes de famílias individuais destruiu os antigos agrupamentos
comunistas em todos os lugares onde se haviam mantido até então e, com
eles, desaparece o trabalho em comum da terra, por conta das coletividades.
O solo próprio
para o cultivo foi distribuído entre as famílias particulares, a princípio, em
caráter provisório e, mais tarde, em caráter definitivo.
É o que nos
ensina Friedrich Engels.
Realizou-se,
assim, a transição da propriedade coletiva à propriedade privada dos meios de
produção e de distribuição.
A crescente
densidade da população, devida à produtividade do trabalho, acrescida
ao fortalecimento
dos laços entre as diferentes tribos, conduziu, pouco a pouco, à fusão
de numerosos clãs e tribos, dando origem aos povos.
Por outro lado, a
desagregação
da comunidade primitiva, a crescente desigualdade entre os seus membros
e, sobretudo, a aplicação generalizada do trabalho escravo, levaram à formação
do Estado,
organismo de manutenção e da opressão da classe explorada pela classe
exploradora.
Sob a pressão das
forças produtivas que o havia engendrado, o comunismo primitivo
decompôs-se, sendo substituído por
uma nova
sociedade, dividida em classes.
Os adversários do
moderno socialismo e comunismo revolucionários afirmam que o comunismo
primitivo jamais existiu.
Segundo alegam, a
propriedade privada sobre os meios de produção e de distribuição, bem como a
divisão da sociedade em classes, haveriam sempre existido, desde o princípio da
vida social.
Esforçam-se por
demonstrar que a propriedade privada é inseparável da própria natureza humana,
não podendo existir outra espécie de propriedade.
Empenham-se por
provar que a sociedade sempre esteve dividida em classes, sendo inconcebível
uma sociedade sem classes sociais.
A burguesia e
seus agentes intelectuais, em sua luta contra o socialismo e comunismo
modernos, estão interessados em negar o comunismo primitivo.
Já em 1845, Marx
e Engels demonstraram em sua obra, intitulada “A Ideologia Alemã”, que
o comunismo
primitivo foi a primeira forma de sociedade.
Trinta anos
depois, em 1877, independentemente das investigações efetuadas por Marx
e Engels, o sábio norte-americano Lewis Henry Morgan, em sua obra
intitulada ”A Sociedade Antiga ou Investigações das Linhas do Progresso Humano
desde a Selvageria através do Barbarismo até à Civilização” chegou à
mesma conclusão, depois de estudar, detidamente, as tribos selvagens e
semi-selvagens da América do Norte e das Ilhas do Pacífico.
Vestígios de comunismo
primitivo subsistem ainda em nossos dias, entre certos povos, sob a
forma de comunismo agrário: as comunidades rurais possuem terras em
comum e distribuem os lotes, em caráter perpétuo, entre seus membros.
A existência do
comunismo primitivo enquanto fase inicial do desenvolvimento de todos os povos da
humanidade não pode ser posta em dúvida.
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. SEGAL, LEV RHONANOVITCH. Kratky Kurs Polititcheskoi Economii (Breve Curso de Economia Política),
1a. Edição, Moscou : Gosudartvennoe Izdatel’stvo, 1928, pp. 21 e s.