PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO

DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE

 

 

REFLEXÕES SOBRE A LUTA CONTRA O FRENTEPOPULISMO CONTEMPORÂNEO

A Orientação Política Radek-Brandler

Acerca da Frente Única e do Governo dos Trabalhadores

Nas Lutas Revolucionárias do Início dos Anos 20

Até a Derrota do Proletariado Alemão de 1923

 

A Suposta Luta Contra o Sectarismo Ultra-Esquerdista e o Centrismo Oportunista

Visando à Organização da Prostração Frentista, Disfarçada com Críticas e Denúncias,

Na Capitulação Diante das Forças Reformistas da Social-Democracia Alemã

 

À trabalhadora da costura e mãe lutadora incansável,

Helena R.G., falecida em 31 de maio de 2001 no Rio de Janeiro,

em saudação e memória.

 

EMIL ASTURIG VON MÜNCHEN

PORTAU SCHMIDT VON KÖLN

Para Palestras, Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque

Contatar emilvonmuenchen@web.de

Junho de 2001

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EDITORA DA UNIVERSIDADE COMUNISTA SVERDLOV

PARA A ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO

MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

FEVEREIRO DE 2002

 

 

ÍNDICE

 

INTRODUÇÃO

 

CAPÍTULO I

Percurso Político de Karl Radek Até o Início dos Anos 20

 

CAPÍTULO II

Karl Radek Nos Primeiros Anos Posteriores à Fundação do PCA (KPD) e a Greve Geral Sangrenta de 1919:

A Gênese Histórica da Tática de Frente Única

 

CAPÍTULO III

Frente Única e Governos dos Trabalhadores na Versão Radek-Brandler:

Seu Sentido e Significado Históricos para a Grande Derrota do Proletariado Internacional de 1923

 

CONCLUSÃO

 

BIBLIOGRAFIA

ARTIGOS E DOCUMENTOS

 

 

INTRODUÇÃO

 

“Companheiros,

se muitos acreditam que isso se trata de um giro à direita,

porque, de um lado, combate-se os oportunistas,

e, de outro, fala-se dos erros que fazem os bons elementos de esquerda,

então não se trata de um engano.

Os bons elementos de esquerda não estão à nossa esquerda.

À esquerda, estão aqueles que, na Internacional Comunista,

preparam-se para poder travar suas lutas.

Quem os impede com teorias oportunistas de se prepararem para a luta,

estão à direita. Quem os impede de as vencer exitosamente,

tendo muito pouco em conta a realidade da luta,

quem não tem julgamento visual

acerca da necessidade de preparação para elas,

não é um oportunista,

mas sim um inoportunista.

Ele não vê o que é oportuno e necessário ..”[1]

 

 

O balanço histórico sobre o processo revoucionário na Alemanha do século XIX e XX é extremamente complexo e não há ainda lições muito claras a estudar e a ensinar categoricamente, já que, nesse terreno, domina a histografia de frações burguesas e pequeno-burguesas, revisionistas, stalinistas e até mesmo não conseqüentemente leninistas.

Pois, se reina acordo quanto ao fato de que a Social-Democracia Alemã superara o desafio da ilegalidade, expressado pela Lei Contra os Socialistas de Bismarck, o Partido já se encontrava, segundo Marx e Engels, seriamente degenerado, em sentido teórico e programático, mesmo na década de 70 do século XIX,  por capitular crescentemente ao lassalleanismo.

Poucos reconheciam isso, porque a Social-Democracia Alemã crescia quantitativamente, e, daí, fechavam os ouvidos aos posicionamentos de Marx e Engels que destacavam sua decadência qualitativa, em termos proletário-revolucionários, agravada a partir das negociações do Programa de Gotha, de 1875. Costuma-se contemplar, superficialmente, August Bebel e Wilhelm Liebknecht como os grandes organizadores numéricos da Social-Democracia Alemã, deixando-se de destacar que o Partido havia, simplesmente, inchado, tornado-se incapaz de lutar, revolucionariamente, nos anos 90 do século XIX, devido ao crescente oportunismo teórico e programático, fomentado pelos próprios August Bebel e Wilhelm Liebknecht. Além disso, é de praxe criticar o reformismo de Eduard Bernstein e pouco se destaca o oportunismo de August Bebel em sua colaboração militante com Friedrich Ebert, a partir de 1905.

Entre 1871 e 1918, a Prússia, assumindo a forma estatal de Império Alemão, havia-se tornado a grande nação imperialista da Europa Continental que derrotara, militarmente, a Áustria e a França, esmagara a insurreição da Comuna de Paris, ampliara suas colônias desde a China (Shantong) até a África.

A I Guerra Mundial imprimiu uma “derrota técnica” ao imperialism alemão que capitulara, sem que nenhum soldado da Entente Franco-Britânico-Estadounidense houvesse invadido o seu solo, sem que a retirada de suas tropas dos territórios ainda ocupados na Europa se desse de modo desordenado, sem que o Comando Supremo de suas Forças Militares – composto por Paul von Hindenburg e Erich Ludendorff – houvesse sido aniquilado ou, ao menos, encarcerado. 

Após a Revolução de 9 de Novembro de 1918, impulsionada pela insurreição dos trabalhadores, soldados e marinheiros alemães amotinados, formou-se um Governo de Coalizão, composto pela Social-Democracia Patriótica, encabeçada por Ebert, Scheidemann e Landsberg, e pela Social-Democracia Independente e Pacifista, dirigida por Hugo Haase, Wilhelm Dittman e Emil Barth.

 Perante o público, apoiaram-se, de início, em 10 de novembro, sobre a Assembléia Geral dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados, representante de todos os conselhos do Império Alemão.

Porém, no mesmo dia, surgia o Pacto Militarista selado entre o SPD, comandado com Friedrich Ebert, e o Alto Comando do Exército Imperial, dirigido, agora, pelo General Wilhelm Groener, visando, sobretudo, a preservar a estrutura hierárquica das forças armadas imperiais, manter o velho aparato militarista do Estado, reconstruir o imperialismo alemão, proteger o novo Estado contra a “Revolução Bolchevique” e seus representantes imaginários na Alemanha, i.e. os spartakistas, dirigidos por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg.

Diretamente interessados no Pacto Ebert-Groener estavam, além disso, os grandes capitalistas alemães Siemens, Stinnes, Borsig e outros.    

Esse contexto favorecera imensamente a difusão da “Lenda da Punhalada pelas Costas (Dolchstoßlegende)”, criada pelos Generais von Hindenburg e Ludendorff e defendida pelo Comando Supremo do Exército Imperial, segundo a qual os únicos culpados pela derrota da Alemanha na I Guerra Mundial teriam sido os socialistas de todos os gêneros que insuflavam as massas para a revolução, os social-democratas, sim, mas, particularmente, os marxistas de todos os gêneros e, sobretudo, os bolcheviques e, por essa via, os judeus, responsáveis pela conspiração internacional judia, em uma palavra: todos os criminosos da Revolução de Novembro (Novemberverbrecher), que assinaram a Paz de Versalhes, em 11 de novembro de 1918, “sem que os últimos meios de resistência estivessem esgotados” …

Aos “criminosos de novembro” não cumpriria conceder tréguas: caberia responder com os métodos mais impiedosos e implacáveis do imperialismo alemão, tão bem demonstrado no massacre da Comuna de Paris, comandado pelo Chanceler de Ferro, Otto von Bismarck.

Valeria esmagar os marxistas revolucionários, valendo-se, de início, da Social-Democracia Patriótica de Ebert e Scheidemann, para, depois do esmagamento daqueles, destroçar também estes, de modo a acertar contas com todos os que supostamente “apunhalaram e espetaram pelas costas o sagrado Exército imperial, o Siegfried alemão, a cada momento em que combatia no fronte.”     

Tanto pior eram as palavras de Friedrich Ebert que saudava os soldados imperiais que retornavam do fronte, em 1918, proclamando que não haviam sido derrotados nos campos de batalha (“im Felde unbesiegt”), ou mesmo de Konrad Adenauer, do Partido do Centro cristão-democrata burguês, que afirmava que o Exército Imperial regressava ser ter sido vencido sem, ter sido derrotado, (“nicht besiegt und nicht geschlagen in die Heimat zurück”).

A “punhalada” (Dolchstoß) haveria sido desferida no interior do país, convulsionado pelos insurgentes marxistas…, pela mão do judeu bolchevique   

No período da I Guerra Mundial e imediatamente depois dela, em face da crise do Imperialismo Alemão e seu ímpeto selvagem de reorganização, alimentado pela “Lenda da Punhalada nas Costas (Dolchstoßlegende)”, os mais complexos problemas surgidos no interior das filerias dos revolucionários alemães advinham das visões da águia Rosa Luxemburg sobre a questão organizativa e seu revisionismo teórico do marxismo, permanecendo em descompasso com a nova idade do imperialismo, fase superior do capitalismo.

De modo nenhum, emergiam do que se alega pudesse ser o “putschismo” de Karl Liebknecht, aliás o que nunca foi efetivamente provado, pois as acusações de tentativa de derrubada imediata do governo de Ebert, Scheidemann e Noske, aliado dos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz, em Janeiro de 1919, mediante insurreição armada, acusações essas dirigidas sobretudo contra Karl Liebknecht, partem, majoritariamente, entre as fileiras da esquerda, de Paul Levi e luxemburguistas e também de Radek, Brandler e Richard Müller, e, d’entre as fileiras burguesas, do habermasiano Heinrich August Winkler. 

Um elemento de complicação nessa equação da luta de classes na Alemanha era, sem dúvida, o fato que a III Internacional não se encontrava nem sequer fundada, no período que se estende de novembro de 1918 e janeiro de 1919.

Depois da morte de Rosa Luxemburg, Lenin assinalou, em 1920, em tom de síntese:

“Rosa equivocou-se na questão da independência da Polônia.

Ela equivocou-se, em 1903, na apreciação do menchevismo.

Equivocou-se quando, em julho de 1914, ao lado de Plekhanov, Vandervelde, Kautsky, entre outros, aspirou à unificação dos bolcheviques com os mencheviques.

Ela equivocou-se em suas anotações do cárcere de 1918 (nesse sentido, corrigiu grande parte de seus erros, depois de abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919).

Porém, apesar de todos os seus erros, Rosa foi e permanece sendo uma águia.”[2]

 

Mas, a Greve Geral de Janeiro de 1919, com ocupação de prédios (Vorwärts – órgão do SPD -, Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff) e com armamento das massas, objetivando à recondução de Emil Eichhorn ao cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de Berlim, entrou na historiografia burguesa e mesmo de boa parte da esquerda revisionista como a “Insurreição de Spartakus” ou o “Levante de Spartakus”.

Nesse contexto, sobretudo Karl Liebknecht teria pretendido empreender um putschismo blanquista, supostamente destinado a derrubar imediatamente o Governo de Ebert, Scheidemann e Noske, sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz, destruindo, de um golpe, o Estado Burguês Alemão e edificando uma República Socialista Livre dos Conselhos dos Trabalhadores, mesmo contando com a minoria da classe trabalhadora.

Nesse contexto, teriam os companheiros de Karl Liebknecht do KPD Sparktakista, Rosa Luxemburg, Paul Levi, Leo Jogliches permanecido dotados de bom senso contra o putschismo de Karl Liebknecht, quando se posicionaram e votaram contra uma resolução de derrubar o Governo do SPD, aliado ao Generalato Imperarlista Alemão.

Diz a lenda popular que Karl Liebknecht teria assinado, juntamente com Georg Lebedour (USPD) e Paul Scholze (Revolutionäre Obleute), em uma “Junta Revolucionária (Revolutionsausschuss)”, já em 4 de janeiro (!), no mesmo dia em que Emil Eichhorn, um membro do USPD, foi deposto da Presidência do Comissariado de Polícia de Berlim, uma “declaração”(!), defendendo a derrubada imediata do Governo Ebert e Scheidemann.

Outras voces afirmam que Karl Liebknecht, entusiasmado pelas manifestações de rua de 5 de janeiro de 1919, teria, juntamente com Lebedour e Scholze, votado, “na seqüência”, embriagado pela pressão dos acontecimentos, uma efêmera “resolução”(!), em um organismo comum de três organizações, contando com 33 membros e um “secretariado”(!) de três dirigentes, clamando pela derrubada do Governo Ebert e Scheidemann“a qual não teve maiores desdobramentos(!)”. 

Outros acentuam que, em 6 de janeiro, a “Junta Revolucionária (Revolutionsausschuss)”, buscando cooptar as tropas imperiais alemães, declarou, ao sessionar no próprio Parlamento Imperial (Reichstag), o Governo Ebert e Scheidemann como já  derrubado (“abgesetzt”), o que teria sido comunicado à população mediante panfleto, cujo responsável seria, “como de costume (wie üblich)”, Karl Liebknecht e Wilhelm Pieck, membro da direção do KPD Spartakista. 

Outros, por fim, alegam que Karl Liebknecht teria votado uma “resolução” (!) de derrubada depois da Greve Geral de 7 de Janeiro, clamando por invadir, com armas em punho, a Chancelaria do Império de Ebert, situado na Wilhelmstraße 77, antigo Palácio do Príncipe Anton Radziwill, bairro de Kreuzberg.  

 

Ora, é importante destacar que mesmo a Greve Geral de Janeiro de 1919 não foi, absolutamente, planejada, desencadeada ou dirigida pelo KPD Spartakista, senão um produto da manifestação de massas, com ocupação de prédios que ocorrera em 5 de janeiro de 1919, sob convocação da Presidência da Social-Democracia Independente (USPD) da cidade de Berlim, em colaboração com maioria dos  delegados sindicais independentes revolucionários (revolutionäre Obleute), ligados estes ao USPD, na base do movimento operário berlinense, objetivando  a impedir a demissão de Emil Eichhorn do cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de Berlim, ordenada em 4 de janeiro de 1919 pelo Governo de Ebert,  Scheidemann e Noske.

Estas foram as forças que, em verdade, dirigiram as manifestações de massas e a Greve Geral de Janeiro de 1919, sobre a qual Karl Liebknecht, Rosa Luxemburg e o KPD Spartakista  incidiam, em condição de absoluta minoria. 

O próprio USPD de Georg Lebedour, Hugo Haase, Wilhelm Dittman, Emil Barth – tal quais os spartakistas, saído bem derrotado do Congresso do Império dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados (Reichskongress der Arbeiter- und Soldatenräte)  de 16 a 21 de dezembro de 1918 que, por 400 a 50, posicionou-se, em favor, da imediata convocação de eleições para uma Assembléia Nacional Constituinte, a realizar-se em 19 de janeiro de 1919, bem como por 344 votos a 98, a rejeição categórica da convocação imediata de um novo Congresso dos Conselhos  - encontrando-se também em esmagadora minoria no movimento operário alemão, procurava reconquistar suas posições perdidas no quadro de seu projeto de Governo Frente Popular, formado com o SPD de Ebert e Scheidemann, em 9 de novembro de 1918, e imerso em crise, depois de o USPD ter abandonado o Conselho dos Comissários do Povo (Rat der Volksbeauftragten), em 28 de dezembro de 1918, em virtude da repressão militar dos protestos da Divisão de Marinha do Povo (Volksmarinendivision), promovida pelo Pacto Ebert-Groener, durante o transcurso das Festas de Natal de 1918. 

O próprio USPD não possuía sérias ambições de derrubar o Governo: era, por princípio, pacifista e defendia uma estratégia frentepopulista, estando disposto a colaborar com o social-patriotismo de Ebert e Scheidemann – que sabia pactuar com o Generalato Imperialista Alemão -, desde que não houvesse esmagamento de massas. Era seu projeto político cavalgar as lutas das massas, desde que necessárias para imprimir mais impulso à sua perspectiva de fazer instaurar em solo alemão uma “República dos Conselhos” e a “Democratização das Forças Armadas Imperialistas.”      

Karl Liebknecht – enquanto o mais prestigiado quadro político do KPD Spartakista – veio a declarar, publicamente, na noite de 5 de janeiro, seu apoio às todas as lutas e mobilizações sociais das massas berlinenses - ademais sustentadas também por Rosa Luxemburg e demais membros do KPD Spartakista -  e, assim, passou a tomar parte no  então formado Comando de Greve (Streikleitung), composto por 53 destacados militantes, funcionando em Marstall, o qual entraria para a historiografia dominante como a “Junta Revolucionária  (Revolutionsauschuss)”. 

Em essência, o Comando de Greve de Janeiro de 1919 Georg Lebedour, Paul Scholze e Karl Liebknecht -  expressava a composição dirigente da antiga Junta Executiva do Conselho de Trabalhadores e Soldados da Grande Berlim (Vollzugsrat des Arbeiter- und Soldatenrates Groß-Berlin), surgida em outubro de 1918, e não era, em verdade, alheia às visões de planejamento consciente de ações revolucionárias e insurreições em Berlim, pois que já rompera com a velha concepção predominante no SPD de que o capitalismo e o seu Estado se desagregam e desabam por si mesmos, não devendo ser destroçados pela derrubada planejada do proletariado revolucionário. 

Porém, de 5 para 6 de janeiro, no quadro das mobilizações de massas, o que, de fato, ocorreu foi a ocupação de vários prédios relacionados com a imprensa berlinense (Vorwärts – órgão do SPD -, Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff).  Em vez do Vorwärts, jornal do SPD que publicará a demissão de Emil Eichhorn,  passou a circular o Revolutionäre Vorwärts, sob a redação de Eugen Leviné, Wolfgang Fernbach e Werner Möller, contando com o apoio dos operários da Knorr-Bremse, AEG e Schwarzkopff.

A seguir, a Greve Geral, convocada para 7 de janeiro de 1919, foi, freneticamente, sustentada por mais 500 mil berlinenses que ocuparam as ruas e as praças da capital, clamando, até 9 de janeiro, pelo desarmamento das tropas estacionadas na cidade, ao mesmo tempo em que os ocupantes dos prédios armavam-se, para eventual defesa contra a repressão. Dos depósitos do Estado de Spandau e Wittenau, distribuiram-se armas a cerca de 3.000 pessoas, diante do Comissariado de Polícia de Emil Eichhorn. 

De toda sorte, não se registrou a passagem de tropas imperiais berlinenses para as fileiras dos grevistas, bem como resultou que a Divisão de Marinha do Povo (Volksmarinedivision) declarara sua neutralidade, a despeito das mobilizações de massas.

De 9 a 11 de janeiro, em um momento de descenso do movimento grevista e estagnação na dinâmica da ocupação de prédios, tomados como escudos proterores, passaram, porém, a manifestarem-se claros desacordos internos no Comando de Greve (Streikleitung), cujo conteúdo não se encontra, historicamente, bem comprovado, nos documentos historiográficos alemães.

De um lado, parece claro que estariam os adeptos de Georg Lebedour (USPD), defendendo a retomada de negociações com o Governo de Ebert e o Generalato Imperialista Alemão – as quais já haviam sido supostamente iniciadas mesmo em 6 de janeiro - , d’outro, os adeptos de Karl Liebknecht que, supostamente, segundo se conta, teriam defendido – contra a posição de Rosa Luxemburg e Leo Jogliches – uma absurda tentativa de assaltar, com armas na mão, o prédio de Ebert, Scheidemann e do Conselho dos Comissários do Povo (Rat der Volksbeauftragten), o que implicaria, na prática, dispor de tropas revolucionárias proletárias móveis, inexistentes naqueles dias, que percorressem quilômetros de Spandau, da Jerusalemstraße, da Zimmerstraße e da Kochstraße até a sede de Governo de Ebert, Scheidemann e Noske, na Chancelaria do Governo, em Kreuzberg, passando de uma situação já defensiva e estagnada das ocupações para uma impossível ofensiva extrema de ataque arriscado, sendo capaz de desferir golpes militares.

No entanto, em 8 de janeiro, é consenso afirmar que Liebknecht e o KPD Spartakista já haviam decidido abandonar o Comando de Greve (Streikleitung), devido a terem descoberto que Lebedour e o USPD negociavam, em suas costas, uma trégua com o Governo de Ebert e Scheidemann. 

Era evidente que Karl Liebknecht sabia que se encontrava em absoluta minoria no Comando de Greve (Streikleitung). Como poderia, naquelas circustâncias, então, o revolucionário tão experiente que era pretender postular a deflagração de um “putsch” contra Ebert e Scheidemann?

Além disso, haviam fracassado, até mesmo em 8 de janeiro, as tentativas de arrastar para a Greve Geral os marinheiros da Divisão de Marinha do Povo (Volksmarinedivision) e, desde esse dia, as tropas e os paramilitares de Ebert proclamavam o lema de que: “a hora do acerto de contas se aproximava!”(Die Stunde der Abrechnung naht!).

Como planejar a derrubada imediata de um governo, quando a tarefa essencial do momento era a de defesa?  

Tratava-se, como se dizia, de assegurar a tarefa de lutar contra a “traição de Judas no Governo” (“Kampf gegen die Judasse in der Regierung”), contra as tropas que estavam sendo financiadas pelo industrial Heinrich Sklarz e deslocadas por Nokse e Reinhardt para o centro de Berlim, com as ostensivas conclamações dos jornais burgueses à população para que integrasse as fileiras paramilitares dos Freikorps, ali mesmo no Café Vaterland, na Praça de Potsdam, como se depreende dos tantos panfletos operários publicados à época em Berlim.  

Todos sabiam que a “Liga Anti-Bolchevique” de Eduard Stadler e Waldemar Pabst – que, entre 9 e 15 de janeiro, participara da execução sumária de Liebknecht e Luxemburg, bem como do massacre de cerca de 170 pessoas (anote-se que a Greve de Março de 1919 custou a vida de mais de 1.000 pessoas) -, encontrava-se enriquecendo-se com as doações dos grandes capitalistas Siemens, Stinnes, Borsig, repassadas aos Freikorps, armados com lança-chamas, metralhadoras e artilharia pesada.

Em 9, quando as tropas imperiais, as Guardas Brancas e os Freikorps avançaram, o Comando de Greve (Streikleitung) não clamou pela derrubada do governo, senão para que se utilizasse as armas “contra vossos inimigos mortais”(Gebraucht die Waffen gegen Eure Todfeinde!).

Em verdade, toda e qualquer análise rigorosamente fundada, sob o ângulo dialético-materialista – i.e. não oportunisticamente social-filistino -, acerca do perfil revolucionário de Karl Liebknecht há de iniciar-se, sempre e invariavelmente, com o preclaro e lapidar parecer expendido por Lenin sobre um dos mais destemidos lutadores revolucionários de vanguarda que o proletariado internacional conheceu.

 Em sua carta dirigida aos trabalhadores da Europa e dos EUA, Lenin escreveu da seguinte maneira:

Karl Liebknecht : esse nome é conhecido pelos trabalhadores de todos os países.

Por todos os lados ..., esse nome é símbolo da devoção de um dirigente em prol dos interesses do proletariado, da fidelidade à revolução socialista.

Esse nome é o símbolo da luta realmente verdadeira, realmente sacrificante, incomplacente, contra o capitalismo.

Esse nome é o símbolo da luta inconciliável contra o imperialismo, não em palavras, senão em ações, símbolo de uma luta que é disposta ao sacrifício precisamente quando a “própria” nação é envolvida pelo delírio de vitórias imperialistas.”[3]

 

O luxemburguismo, a seguir desenvolvido por Paul Levi representou uma forma alienada de representações das idéias de Rosa e sua cristalização anti-leninista, o que ficou, em 1921, meridianamente evidenciado com as tomadas de posições declaradas de Levi, culminando em sua expulsão da III Internacional, em um momento em que Lenin, Trotsky e Zinoviev a dirigiam. Depois disso, em 1922, Levi regressou… à II Internacional.

As apreciações de Rosa, Levi, Radek e, mais modernamente, Pierre Broué (e, por essa via, Grant e Woods) dominam, hoje, o tema e devem ser vistas com reservas. São contraditórias e representam visões equivocadas sobre o desenvolvimento do processo revolucionário da Alemanha.

As escassas análises de Lenin e Trotsky e mesmo da III Internacional sobre o processo revolucionário alemão de novembro de 1918 a janeiro de 1919 quase nunca são investigadas e citadas, o que abre ainda mais espaço ao luxemburguismo e sua suposta correção no tratamento das revoluções e o projeto de “socialismo democrático”, nos termos da obra clássica de Rosa Luxemburg, de 1918: Sobre a Revolução Russa. Essa historiografia dominou e ainda domina a esquerda, depois da stalinização da União Soviética, tendo-se tornado a base ideológica de inúmeros partidos da esquerda alegadamente democrática, reformista, oportunista e liquidacionista, que evitam o bolchevismo, valorizando a suposta posição “alternativa” de organização e moderação de Rosa Luxemburg. 

Mas, certo é que nem Lenin, nem Sverdlov, nem Trotsky, jamais se pôs a afirmar que Karl Liebknecht pretendera derrubar imediatamente o governo de Ebert, Scheidemann e Noske, sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz e pelas unidades paramilitares dos Freikorps, em Janeiro de 1919 ou coisa do gênero. Não lhe censuraram ou o corrigiram por ter sido um “putschista” aventureiro e querer imediatamente derrubar o governo, em meio à sua visível minoria, no seio da classe trabalhadora alemã.

Ainda no quadro histórico do ascenso insurrecional espontâneo das massas trabalhadoras, soldados e marinheiros de Berlim, provocado pela conclamação de Greve Geral de Janeiro de 1919, Karl Liebknecht escreveu, em 23 de dezembro 1918, demonstrando ter clareza do que pretendia e do que acusavam os spartakistas: 

“Agora, atacam os spartakistas com todos os meios imagináveis. A imprensa da burguesia e dos social-patriotas, do Vorwärts (Avante) ao Kreuz-Zeitung (Jornal da Cruz), debordando com mentiras aventureiras, exagerando com as mais insolentes distorsões, deformações e injúrias. O que é que nos lançam na cara de todas as maneiras? Que proclamamos o terror; Que queremos desencadear a mais sanguinolenta das guerras civis; Que nos equipamos com armas e munições, preparando-nos para uma insurreição armada. Em uma palavra: que somos os mais perigosos e inescrupulosos cães sangrentos do mundo. Essas mentiras são fáceis de compreender.”[4]   

 

Diferentemente das Jornadas de Julho de 1917 na Rússia – e das posições de Podvoisky, Nevsky, Volodarsky e da Organização Militar Bolchevique em Petrogrado (antagonizadas por Trotsky, Zinoviev e Kamenev) – certo é que Karl Liebknecht não propôs, na semana de 4 Janeiro de 1919, retomar sequer a cosigna “Todo Poder aos Conselhos de Trabalhadores” – que aparecera em dezembro de 1918, por ocasião do Congresso dos Conselhos de Fábrica, cuja vitória coube ao SPD de Ebert e Scheideman.

Em Janeiro de 1919, o intuito de Karl Liebknecht não era absolutamente derrubar o governo, mas sim mobilizar permanentemente as massas, inclusive armando-as ainda mais – o que era a regra naquele período posterior à derrota da I Guerra Mundial, com ruas tomadas por soldados da Divisão da Marinha do Povo (Volksmarinedivision), delegados sindicais revolucionários independentes, eleitos por conselhos de fábrica (revolutionäre Obleute), presididos por Paul Scholze, militantes da Social-Democracia Independente (USPD) e do comunistas-spartakistas (KPD) -, ocupando prédios públicos, e, por essa via, reverter, no curto prazo, a demissão do Presidente do Comissariado de Polícia de Berlim, Emil Eichhorn.

Seu método era o seguinte: acreditava que as massas trabalhadoras, soldados e marinheiros, sobretudo através das lutas, das greves gerais, avançariam em sua consciência política, arrastando, finalmente, para o campo dos revolucionários a tão esperada maioria. Esta seria a précondição para a tomada consciente do poder. Sua grande debilidade era a questão organizativa, presidida pela visão de Rosa Luxemburg.

Mas, a Greve Geral de Janeiro de 1919 foi reprimida brutalmente pelo Governo Ebert e Scheidemann, através de combates armados. Um novo capítulo da luta de classes se abrira, pois, diferentemente, das Jornadas de Julho de 1917 – em que dirigentes das lutas proletárias – como Trotsky, Lunatcharky e Zinoviev - foram encarcerados e depois simplemente liberados -, o Janeiro de 1919 na Alemanha foi o início de uma barbárie no centro do capitalismo avançado europeu: os dirigentes não eram presos e soltos, eram executados sumariamente. Pelas suas cabeças ofereciam-se recompensas milionárias.

Lenin sabia que o bolchevismo revolucionário tinha de chegar à Alemanha para que fosse possível vencer e que Karl Liebknecht – depois deste, Mehring – era precisamente o dirigente que mais ansiava por implantá-lo. A resistência mais encarnecida e insuperável, no interior das fileiras dos revolucionários alemães contra o bolchevismo, provinha de Rosa Luxemburg, Leo Jogliches, Paul Levi e seus aliados, destacadíssimos dirigentes do marxismo revolucionário alemão.

Depois da morte de Karl Liebknecht, Luxemburg e Jogliches, procurou Radek, desonestamente, a fim de surgir como o grande representante da III Internacional na Alemanha, “provar” que putschistas eram não apenas Liebknecht e seus seguidores, mas também Rosa Luxemburg e Jogliches, por que haviam participado do projeto de levante, concordando com ele ou não.

Uma crítica justa sobre Karl Liebknecht deveria referir-se muito mais ao seu revisionismo teórico, no campo da economia política, não ao fato de poder ser acusado de putschista, tal quais quiseram Radek, Levi e o luxemburguismo.[5]

 

Por fim, cumpriria frisar que não foi o “putschismo” ou a “estratégia da ofensiva” – tal como diz a lenda de Levi, Däumig, luxemburguistas, Brandler, Radek etc. - que destruiu o KPD alemão: pelo contrário, enquanto o Partido lutava, apesar de todos os erros de caracterização, atraia mais lutadores combativos para suas fileiras. Em fins de 1920, toda a ala esquerda do USPD ingressou no KPD.

Emil Eichhorn foi eleito pelo KPD repeditamente Deputado no Parlamento Alemão, até 1924, apesar de, contra ele, circular, desde janeiro de 1919, um mandato de prisão. Nos entreatos das eleições parlamentares, voltava à clandestinidade. Novamente eleito, gozando de imunidade parlamentar, voltava à cena pública. Morreu em julho de 1925.

 O KPD foi destruido, paulatinamente, a passo e passo, pelo stalinismo, a partir de 1924, tendo sido a direção Radek-Brandler o veículo de transmissão intermediária dessa transformação gradativa. Em suma, foram as capitulações, a parálise, a falta de luta e impulso combativo, o oportunismo do bloco do Plebiscito Vermelho KPD-Nazistas, que apodreceu o projeto de Partido marxista-revolucionário alemão, levando a que, em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, o KPD permancesse inteiramente paralisado, não ousando nem sequer convocar uma Greve Geral.

Por tudo isso, creio que a questão da experiência alemã deveria ser examinada mais profundamente, mesmo sabendo que, dessa experiência histórica, pouco pode ser extraído positiva e categoricamente, senão apenas contraditoria e exortativamente, sendo o mais importante contrastar as posições equivocadas de Rosa em relação à questão da organização do Partido marxista-revolucionário, visando corrigí-las.

 

O presente estudo tem por objetivo apresentar considerações acerca da orientação política Radek-Brandler, dinamizada, a partir do início dos anos 20, no interior da Internacional Comunista(Komintern) e do Partido Comunista da Alemanha(KPD), até a grande derrota da Revolução Alemã de 1923.

No quadrante desses anos históricos, os candentes debates sobre a surpreendente conversão do status econômico-político da Alemanha capitalista imperialista à condição de uma “grande colônia” da França, bem como os esforços dedicados a precisar a definição e aplicação da tática de Frente Única Proletária, das consignas de Governo dos Trabalhadores e de Ditadura do Proletariado, a serem implementadas na Alemanha Revolucionária, assumiam grande importância histórico-política enquanto legado referencial de análise para todos os partidos revolucionários proletários de outrora e do porvir.[6]

 

Assinalavam, além disso, o desafio de procurar delimitar-se, cientificamente, em sentido dialético-materialista, a justa extensão conceitual das categorias político-programáticas em destaque, arduamente determináveis em face de uma situação política rapidamente cambiante.

Como síntese precisamente lapidar e eminentemente perpicaz da temática histórica em exame, relançada no início dos anos 20, resultado de toda a essência e dimensão do significado decorrente da compreensão inter-relacional das consignas de Frente Única, Frente Popular, Governo dos Trabalhadores e Camponeses, Ditadura do Proletariado, Trotsky teve a oportunidade de destacar, com incomparável claridade, no Programa de Transição, de 1938 :

 

“O GOVERNO DOS TRABALHADORES E DOS CAMPONESES

Essa fórmula “Governo dos Trabalhadores e dos Camponeses” surgiu, pela primeira vez, no curso de 1917, na agitação dos bolcheviques e foi admitida, definitivamente, depois da Revolução de Outubro. Nesse último caso, ela nada significava senão uma designação popular para a Ditadura do Proletariado já erigida. O significado dessa designação residia principalmente no fato de que lançava, em primeiro plano, a idéia da aliança entre o proletariado e o campesinato, colocada na base do Poder Soviético.

Quando o Komintern dos epígonos procurou ressuscitar a fórmula de “Ditadura Democrática do Proletariado e do Campesinato”, enterrada pela história, conferiu à fórmula “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” um conteúdo inteiramente diferente, puramente “democrático”, i.e. burguês, na medida em que a opunha à Ditadura do Proletariado. Os bolcheviques-leninistas rechaçaram a consigna de “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” em sua interpretação democrático-burguesa.

Eles declararam e declaram que se o partido do proletariado nega-se a ultrapassar as fronteiras da democracia burguesa, sua aliança com o campesinato torna-se meramente uma sustentação do capital, tal como ocorreu com os mencheviques e os sociais-revolucionários em 1917, com o PC da China, em 1925-1927, e tal como ocorre agora nas “Frentes Populares” na Espanha, na França e em outros países.

De abril a setembro de 1917, os bolcheviques exigiram que os sociais-revolucionários e os mencheviques rompessem os laços com a burguesia liberal e tomassem o poder em suas próprias mãos.

Nessas condições, os bolcheviques prometeram aos mencheviques e aos sociais-revolucionários, enquanto representantes pequeno-burgueses dos trabalhadores e camponeses, sua ajuda revolucionária contra a burguesia, recusando, categoricamente, entretanto, ingressar no governo dos mencheviques e sociais-revolucionários ou assumir por ele responsabilidade política.

Se os mencheviques e os sociais-revolucionários tivessem efetivamente rompido com os cadetes e com o imperialismo internacional, o “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” por eles criado poderia ter apenas acelerado e facilitado a edificação da Ditadura do Proletariado.

Porém, precisamente por isso a direção da democracia pequeno-burguesa opôs-se, com todas as forças, à instauração de um seu próprio governo. ...

A consigna “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” é para nós admissível apenas no sentido que teve em 1917, na boca dos bolcheviques, i.e. enquanto uma consigna anti-burguesa e anti-capitalista, porém, em nenhum caso, no sentido “democrático” que lhe conferiram, posteriormente, os epígonos, convertendo-a de ponte para a revolução socialista em um principal obstáculo em seu caminho.

De todos esses partidos e organizações que se apóiam sobre os trabalhadores e camponeses e falam em seu nome, exigimos que rompam politicamente com a burguesia e ingressem no caminho da luta em prol do Governo dos Trabalhadores e Camponeses.

Nesse caminho, prometemo-lhes inteiro apoio contra a reação capitalista.

Ao mesmo tempo, desenvolvemos, incansavelmente, uma agitação em torno daquelas consignas de transição que, em nossa opinião, haveriam de constituir o programa do “Governo dos Trabalhadores e Camponeses”.”[7]    

 

Essa mesma importantíssima suma marxista-revolucionária, diretamente relacionada com a clarificação do sentido e significado, caráter e mecanismo, das táticas do proletariado visando à derrubada da burguesia e edificação da Ditadura do Proletariado, é formulada por Trotsky com as seguintes frases de seu Contra o Nacional-Comunismo. Lições do Referendo Vermelho, livro esse vindo a público em 1931, devido à publicação assegurada magistralmente pelo trotskysta alemão Anton Grylewicz :

 

“Nos dias de Outubro, os mencheviques e sociais-revolucionários russos lutaram de mãos dadas com os cadetes, com os Kornilovs e os monarquistas contra o proletariado.

Em outubro, os bolcheviques saíram do Pré-Parlamento, rumo às ruas, a fim de conclamar as massas para um levante armado.

Se naqueles dias qualquer um dos grupos do Pré-Parlamento – digamos um grupo dos monarquistas – dele saísse, ao mesmo tempo, com os bolcheviques, teria sido sem qualquer significado político, pois os monarquistas seriam derrubados juntamente com os democratas.

Porém, o partido chegou ao levante de Outubro através de uma série de degraus.

Durante a manifestação de Abril de 1917, uma parte dos bolcheviques tinha levantado a consigna : “Abaixo o Governo Provisório !”.

O Comitê Central admoestou imediatamente os ultra-esquerdistas : certamente temos de proclamar a necessidade da derrubada do Governo Provisório, porém, ainda não podemos chamar as massas às ruas com essa consigna, pois somos a minoria na classe trabalhadora. Se derrubássemos nessas condições o Governo Provisório, não o poderíamos substituir e, por consegüinte, ajudaríamos a contra-revolução. Há de se instruir, pacientemente, as massas acerca do caráter anti-popular desse Governo, antes que soe a hora de derrubá-lo.

Essa foi a posição do partido.

No período subseqüente, a consigna foi a seguinte : “Abaixo com os Ministros Capitalistas !” 

Essa era uma consigna dirigida à Social-Democracia, a fim de que rompesse com a burguesia.

Em julho, dirigimos a manifestação dos trabalhadores e soldados com a consigna : “Todo Poder aos Soviets”, o que, no momento de então, significava :todo poder aos mencheviques e sociais-revolucionários.

Porém, os mencheviques e os sociais-revolucionários derrotaram-nos juntamente com os Guardas Brancos. 

Depois de dois meses, levantou-se Kornilov contra o Governo Provisório.

Na luta contra Kornilov, os bolcheviques assumiram, sem demora, as posições mais avançadas.

Lenin encontrava-se, naquele tempo, na ilegalidade. Milhares de bolcheviques, nas prisões.

Trabalhadores, soldados e marinheiros exigiam a libertação de seus dirigentes e dos bolcheviques, em seu conjunto.

O Governo Provisório recusava-a. Haveria, então, o Comitê Central bolchevique de dirigir-se com um ultimato ao Governo Kerensky para libertar os bolcheviques imediatamente e retirar a acusação infâme, lançada contra eles, no sentido de estarem a serviço dos Hollenzollerns, e, em caso da recusa de Kerensky, negar-se a lutar contra Kornilov ? ...

Se não tivéssemos, em agosto, oposto nenhuma resistência a Kornilov, possibilitando-lhe, assim, a vitória, teria ele, logo de saída, exterminado o florescimento da classe trabalhadora e, por consegüinte, impedido-nos de, dois mêses mais tarde, conquistar a virtória sobre os colaboracionistas, castigando-a, não com palavras, mas sim com fatos, pelo seu crime histórico.”[8]

 

Mais particularmente no que concerne ao impulsionamento da tática de Frente Única, bem como de todas e quaisquer consignas de transição, Trotsky clarificou, ainda o seguinte, entrevendo os perigos relacionados com o seu impulsionamento :

 

“A tática da Frente Única e da luta por consignas de transição, que são perseguidas agora pela Internacional Comunista, é uma política absolutamente necessária para os partidos comunistas dos Estados Burgueses no período atual de preparação.

Porém, não se deve fechar os olhos diante do fato de que essa política alberga em si mesma perigos indubitáveis de afrouxamento e, até mesmo, de plena degeneração dos partidos comunistas, se, de um lado, prolongar-se muito o período de preparação e se, por outro lado, o trabalho diário dos partidos ocidentais não for fecundado pelo pensamento teórico ativo que abarca a dinâmica das forças históricas fundamentais em sua inteira dimensão.”[9]

 

Relativamente à questão específica da derrota do proletariado alemão de 1923, a análise por Trotsky formulada, em seu Novo Curso, pautava-se por confirmar sua análise já notoriamente conhecida na primeira metade do ano de 1923 :

 

“Depois do III Congresso (i.e. do III Congresso Mundial do Komintern), o Partido Comunista Alemão executou, de modo dolorosamente suficiente, a mudança necessária.

Iniciou-se, então, a luta pela conquista das massas sob a consigna de Frente Única, acompanhada de longas negociações e outros procedimentos pedagógicos.

Essa tática durou mais de dois anos e rendeu resultados excelentes.

Porém, juntamente com isso, os métodos de propaganda, sendo protraídos, transformaram-na ... em uma tradição semi-automática que desempenhou um papel muito sério nos eventos da segunda metade de 1923.”[10]      

 

Desde logo, é necessário, porém, assinalar que, na Alemanha da República de Weimar, cumpriu a Karl Radek, enquanto um dos mais expressivos estrategistas do Executivo, da Secretaria e da Presidência do Komintern, assim como do Partido Comunista da Alemanha(KPD) do início dos anos 20, membro do Comitê Central do PC da URSS e um dos representantes do Comissariado do Povo para as Relações Exteriores da URSS, conferir, inicialmente, à consigna de Governo dos Trabalhadores e - mais propriamente, às vésperas da eclosão da Revolução Alemã de Outubro de 1923 - à consigna de Governo dos Trabalhadores e Camponeses, “um conteúdo inteiramente diferente, puramente “democrático”, i.e. burguês, na medida em que a opunha à Ditadura do Proletariado”, mediante o entibiamento e arrefecimento de seu conteúdo e significado proletário-revolucionário mais próprio.[11]

 

Radek valendo-se de sua larga experiência revolucionária precedente, haurida no seio da Social-Democracia Alemã, da Esquerda de Zimmerwald e do governo da Rússia Soviética, foi capaz de realizar essa mais bem acabada e sagaz deformação do marxismo revolucionário, empreendendo-a de maneira sistematicamente hábil e persuasiva, compatível com sua predisposição político-analítica marcadamente jornalístico-cética, lânguido-irresoluta.

Como comprovar, documentalmente, essas surpreendentes afirmações, lançadas no presente texto, contra a orientação política de Radek, um dos primeiros integrantes da Oposição de Esquerda, encabeçada por Trotsky, já a partir mesmo dos últimos mêses de 1923, em sua luta contra a burocratização stalinista ?

Como alertar os lutadores trotskystas acerca da versão radekista-brandleriana, voltada em particular à reinterpretação da tática de Frente Única e dos Governos dos Trabalhadores, apreciando-se, concomitantemente, todo o seu sentido e significado histórico enquanto um dos fatores decisivos que contribuíram para levar à derrota a Revolução Alemã de 1923 ?

À guisa de orientação do leitor, evidencio, desde logo, a elucidadora observação de Trotsky, contida em sua magnífica obra os Crimes de Stalin, acerca do efetivo posicionamento de Karl Radek nas lutas travadas pela Oposição de Esquerda, no quadro do Komintern e do PC da URSS, a partir de 1923 : 

 

“De 1923 a 1926, Radek  oscilou entre a Oposição de Esquerda, na Rússia, e a Oposição Comunista de Direita, na Alemanha (Brandler, Thalheimer e outros).

No momento da aberta ruptura entre Stalin e Zinoviev (no início de 1926), Radek procurou, debalde, arrastar a Oposição de Esquerda para um bloco com Stalin.

Radek pertenceu, além disso, no interstício de quase três anos (um prazo para ele extraordinário !), à Oposição de Esquerda.

Porém, no interior da Oposição, ele se arremessava, invariavelmente, para a esquerda e para a direita.”[12]      

 

Cumpre destacar, ainda introdutoriamente, que, depois do esmagamento do Levante Contra-Revolucionário de Kronstadt, de Março de 1921, o grande impacto dos grupos de oposição operária assaltava o PC da Rússia Soviética.

N. Krestinsky, L. Serebryakov e E. Preobrajensky afastados do Secretariado Comandado por Três Homens, por terem sido considerados pelo X Congresso do Partido Comunista Russo, de março de 1921, como muito lenientes em face dos grupos de oposição operária, deram lugar, transitoriamente, na direção do novo Secretariado, a V. Molotov, E. Yaroslavsky e L. Mikhailov, que surgiam aparentemente como os melhores quadros para o exercício da disciplina partidária contra os grupos de oposição.

Esse novo Secretariado levou adiante, então, a execução de uma depuração partidária, ocorrida no arco de um ano, em que quase 30 % dos militantes do PC da Rússia Soviética foram excluídos de suas fileiras.[13]

  

Molotov, Yaroslavsky e Mikhailov passaram a desempenhar, igualmente, um importante papel para o empossamento, em 2 de abril de 1922, de Stalin nas funções de Secretário Geral, considerado, então, como um velho e eminente organizador pragmático bolchevique e o mais sólido representante da burocracia de funcionários do partido em ascensão, porém, aos olhos de Lenin, nada senão um “cozinheiro de pratos apimentados”.[14]

 

Nesse sentido, Trotsky anotou, minuciosamente :

 

“Quando no X Congresso, dois anos depois da morte de Sverdlov, Zinoviev e outros, não sem um pensamento acobertado da luta contra mim, apoiaram a candidatura de Stalin para Secretário Geral – colocaram-no, de jure, na posição em que Sverdlov havia ocupado, de facto.

Lenin falou, em círculos restritos, contra esse plano, expressando nos termos de que esse “cozinheiro apenas irá preparar pratos apimentados”.

Tão somente essa frase, tomada em conexão com o caráter de Sverdlov, demonstra-nos as diferenças entre os dois tipos de organizadores :

Um, incansável em atenuar conflitos, facilitando o trabalho para os órgãos colegiados.

Outro, especialista de pratos apimentados – nem mesmo temeroso de os temperar com autêntico veneno.

Se Lenin não levou ao limite sua oposição, em março de 1921, i.e. não chamou o Congresso abertamente contra a candidatura de Stalin, foi porque o posto de Secretário, ainda que “Geral”, possuía um significado estritamente subordinado, nas condições então prevalecentes, com o poder e a influência concentrados no Bureau Político.

Talvez, também Lenin, como muitos outros, não tivesse percebido adequadamente o perigo naquele momento.”[15]

       

O fortalecimento da posição de Stalin na luta contra o então, assim aclamado pelas massas proletárias russas, ”Trotsky, o Vitorioso da Guerra Civil”, “Trotsky, o Salvador do Trem de Comando” passava a ser concebido como tarefa de segurança máxima para a sustentação das ambições de prosperação da burocracia operária em ascensão.[16]                  

 

Quando, em 26 de maio de 1922, Lenin sofreu seu primeiro derrame, ensaiou-se, imediatamente, a tomada dos principais postos das organizações comunistas proletárias de outrora pela burocracia partidária em gestação.

Grigori Zinoviev e Karl Radek surgiam, já então, como os principais representantes da Internacional Comunista (Komintern) : Zinoviev investido da função de Presidente do Executivo do Komintern, Radek enquanto membro desse mesmo Executivo e representante do PC da URSS junto ao Komintern, encarregado especialmente das questões político-estratégicas concernentes à Alemanha.

Nesse mesmo contexto, Lev Kamenev assumiu, inopinadamente, a Presidência do Politbureau do PC da URSS, atuando de mãos dadas com Grigori Zinoviev e Nikolai Bukharin, enquanto principais dirigentes político-ideológicos do partido russo.

Zinoviev, principal dirigente do PC da URSS de Petrogrado, e Kamenev, sua alma gêmea de Moscou, acreditavam serem os principais beneficiários do processo de alijamento de Trotsky dos principais centros de decisão política.

Quanto a Joseph Stalin, se, esse último, em um contexto preambular, até o ano de 1922, já surgia exercendo as funções de Comissário do Povo para as Questões das Nacionalidades, Membro do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia, Membro do Comitê Executivo do Governo, Membro da Comissão da Política de Alimentação e Obtenção de Meios Alimentícios no Sul da Rússia, Dirigente da Circunscrição Militar do Cáucaso do Norte, Presidente do Conselho Revolucionário de Guerra do Fronte do Sul, Membro do Conselho Revolucionário de Guerra da República, Membro da Comissão para a Redação do Programa do Partido, Delegado ao I Congresso do Komintern, Dirigente do Departamente do Controle do Estado, departamento, a partir do Decreto de 7 de Fevereiro de 1920, denominado Rabkrin, i.e. Comissariado do Povo para a Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses - o qual visava, particulamente, a desferir o combater contra a enfermidade burocrática do Estado Proletário nascente -, bem como as atribuições de Secretário Geral, viria ele, então, revelar-se, as seguir, como o grande privilegiado da Reforma Partidária de Agosto de 1922, de matiz nitidamente burocrática, introduzida no quadro da XII Conferência do PC da URSS.[17]

 

Stalin tornou-se, assim, o pivô da crescente concentração e centralização de toda a vida interna das organizações partidárias.

As células de militantes das cidades e do campo, o Orgburo, a Comissão Central de Controle, a Tcheca etc., passavam a ser comandadas por Stalin, com o auxílio de apenas três outros bolcheviques, M. Shkiryatov, G. Korostelev e M. Muranov.         

Durante o ano de 1922, a participação de Trotsky nas sessões do Politburo já se encontrava reduzida à condição de superficial formalidade, sendo as principais decisões político-práticas adotadas em sessões secretas que não contavam com a sua participação direta.

Recuperando-se lentamente de seu primeiro derrame, Lenin voltou a assumir suas atividades em junho de 1922, tendo a oportunidade de, já naquela oportunidade, constatar, clara e diretamente, o desplante do processo de burocratização do aparato do partido.

Em seu discurso, proferido no IV Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, pouco antes de sofrer seu segundo e terceiro derrame, respectivamete em 16 dezembro de 1922 e 9 de março de 1923 - os quais o impossibilitaram de seguir ativo em suas funções partidárias e soviéticas e o conduziram, finalmente, à morte, em janeiro de 1924 -, Lenin teve a oportunidade de advertir os companheiros russos e estrangeiros acerca do perigo de adotarem, mecanica e dogmaticamente, os mesmos métodos de tratamento das questões organizativo-partidárias que haviam-se despregado na URSS, ao longo dos últimos anos.[18]

 

Nesse mesmo IV Congresso Mundial do Komintern, presidido por Zinoviev, e ao longo de todo o ano de 1923, até a derrota da Revolução Alemã de Outubro, Radek alcançou o fastígio de sua influência enquanto o mais expressivo dirigente bolchevique, especializado em questões de análise teórico-intelectual e de formulação estratégico-programática relativa à orientação política dos comunistas revolucionários, no quadro do impulsionamento das lutas de classes da Alemanha de então.

Ainda que suas caracterizações especulativas desenvolvidas acerca da tática de Frente Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores, tendo sempre como centro de gravidade a questão alemã, não houvessem sido acolhidas essencialmente pelas Resoluções do IV Congresso Mundial do Komintern, Karl Radek, contando com o inasfável apoio de Heinrich Brandler, à época Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD), foi capaz de imprimir ao programa do VIII Congresso desse mesmo partido, realizado em Leipzig, em janeiro de 1923, a síntese de sua mais acabada deturpação marxista relativa à interpretação das fórmulas de Frente Única e Governo de Trabalhadores na Alemanha :[19]

 

“A luta pela Frenta Única conduz à conquista das velhas organizações de massas proletárias, tais como sindicatos e cooperativas.

Esses instrumentos da classe trabalhadora, que as táticas dos reformistas transformaram em ferramentas da burguesia, tornam-se, novamente, mediante essa luta, instrumentos do proletariado.

A luta de classes tem de ser conduzida agora para a derrota da burguesia(p.417). ...

O Governo dos Trabalhadores não é nem a Ditadura do Proletariado nem um ascenso pacífico e parlamentar rumo a ela.

Ele é uma tentativa da classe trabalhadora de, no quadro da e antecipadamente com os meios da democracia burguesa, praticar política operária, apoiando-se em órgãos proletários e nos movimentos proletários de massas.

Por outro lado, a Ditadura do Proletariado é uma explosão consciente do contexto democrático.

Ela explode o aparato do Estado Democrático e substitui-o completamente com organizações da classe proletária(p. 420).”[20]

 

 

Acerca do balanço histórico desses anos, bem como de todos aqueles que configuraram o percurso político de Karl Radek, escreveu Trotsky, conclusivamente, da seguinte maneira, em 1937, no contexto de sua luta em prol do desmascaramento das farsas dos Processos de Moscou  :

 

“Radek – ele possui agora 54 anos - não é senão um jornalista.

Ele possui as brilhantes qualidades dessa categoria de homens, bem como todos os seus defeitos.

A instrução de Radek pode ser qualificada, antes de tudo, por sua grande erudição.

Seu conhecimento direto do movimento polonês, sua longa participação na Social-Democracia Alemã, seu atento acompanhamento da imprensa mundial, principalmente da inglesa e da norte-americana, alargaram seus horizontes, conferiram aos seus pensamentos uma grande mobilidade e armaram-no com incontáveis exemplos, comparações e, sobretudo, com anedotas.

Porém, faz-lhe falta aquela qualidade que Lassalle denominou de “força psíquica do intelecto”.

Nos agrupamentos políticos de todos os tipos, Radek foi muito mais um hóspede do que um militante enraizado.

Seu pensamento é por demais móvel e impulsivo para um trabalho sistemático.

De seus artigos pode-se ficar sabendo de muitas coisas, seus paradoxos iluminam às vezes uma questão desde um novo aspecto, porém Radek jamais foi um político autônomo.

Lendas no sentido de que Radek teria sido, por certo período, chefe no Comissariado das Relações Exteriores e até mesmo determinado a política externa do Governo Soviético, são inteiramente infundadas.

O Bureau Político apreciava o talento de Radek, porém não o levava jamais a sério.

Em 1929, Radek capitulou não por quaisquer pretensões sigilosas. Oh não !

Fê-lo desbragada e definitivamente, queimando através de si todas as pontes, a fim de tornar-se um extraordinário porta-voz publicístico da burocracia.

Desde então, não existiu nenhuma acusação que Radek não tenha lançado contra a Oposição e nenhum louvor que não tenha expendido em favor de Stalin.

Por que, então, Radek caiu no banco de acusações ?”[21]    

 

Precisamente através dessa apreciação manifestamente crítica e severa acerca do perfil intelectual e político de Carol Bernadovitch Sobelsohn, Karl Parabellum Radek, elaborada, porém, em consonância com o tradicional rigor analítico, característica indispensável e inquebrantável do socialismo científico, Trotsky formulou lapidarmente um de seus mais importantes julgamentos acerca desse “hóspede” mundialmente célebre e historicamente renomado, sobretudo em decorrência de sua episódica e marcada atuação nos mais diversos agrupamentos do movimento proletário revolucionário das primeiras décadas do século XX, inclusive naquele agrupamento mesmo que conformou a própria Oposição de Esquerda, encabeçada por Trotsky, a partir de 1923, e, posteriormente, a Oposição Unificada, de Trotsky, Kamenev e Zinoviev, entre os anos de 1926 e 1927, na luta contra a burocratização stalinista do conjunto das instituições do Estado Proletário da URSS.

No intervalo histórico abragente das primeiras décadas do início do século XX até a morte de Karl Radek, possivelmente em 1939, ocorrida em um campo de concentração stalinista, torna-se, entretanto, sempre decisivo assinalar que um certo lugar de destaque, de primeiríssima relevância, nos estudos voltados à análise do movimento comunista-revolucionário da Alemanha, da Rússia e da Polônia de então, há de ser seguramente reservado ao exame da orientação política defendida por Radek e por seu mais expressivo coadjuvante e seguidor no interior do Partido Comunista da Alemanha(KPD) do início dos anos 20, Heinrich Bradler.

Com efeito, o exame histórico-investigativo da orientação política Radek-Brandler postulada nesse interstício temporal situa-se, precisamente, no contexto das lutas revolucionárias de massas do proletariado alemão que culminaram na impiedosa derrota da  Revolução de Outubro de 23, essa última separada por seis anos do seu paradigma histórico também de Outubro, impulsionado hegemonicamente pelo proletariado russo, sob a direção de Lenin, Sverdlov e Trotsky, da qual pretendeu ser uma réplica fidedigna.    

Discorrer-se, contemporaneamente, acerca da enfermidade gramsciana ou da moléstia maoísta-althusseriana no seio do movimento trotskysta contemporâneo e das lutas de emancipação do proletariado de nossos dias, secundarizando-se ou desprezando-se, por outro lado, a gênese e a essência, o sentido e o significado histórico da orientação política Radek-Brandler do início dos anos 20, uma das mais importantes degenerações teórico-doutrinárias e político-práticas do marxismo revolucionário de todos os tempos, resultaria, porém, plenamente insubsistente para a devida compreensão das diversas causas e efeitos que conduziram, no passado, e ameaçam conduzir, no presente, a implacáveis derrotas dos trabalhadores e demais socialmente oprimidos em suas lutas de libertação contra o despotismo capitalista.

Como qualificar, então, o caráter dos posicionamentos teórico-intelectuais e político-práticos da orientação política Radek-Brandler, emergente de maneira cada vez mais ostensiva e dirigente no interior do Partido Comunista da Alemanha(KPD) nesse período ?

Por que, com efeito, merece ser detidatamente estudada e rigorosamente analisada pelos trotskystas revolucionários de nossa geração essa particular deformação política do início dos anos 20 ?

Desde logo, cumpre assinalar ao leitor que o radekismo-brandlerista – tal como todo o legado mais propriamente original das construções teóricas e orientações políticas equacionadas preponderantemente por Karl Radek - nada mais representa senão uma concepção parasitário-intriguista de quebramento e languidez das forças do marxismo revolucionário.

Sua natureza é, entretanto, eminentemente jornalístico-cética, e, como tal, abundantemente versátil, hesitante, sinousa, maleável, multiforme em palavras, argumentações e idéias, impulsiva em citações, aforismas, sátiras e bonmots, atenta na defesa verbosa e insegura das grandes pilastras do socialismo revolucionário.

Com efeito, na base de um marcado tom pessimista, Radek recusava, abertamente, mesmo nos primeiros mêses da deflagração I Guerra Mundial Imperialista, a possibilidade de irrupção de uma revolução proletário-socialista, desencadeada em conexão com a guerra, bem como, no futuro próximo de maneira geral, e admitia, já no início dos anos 20, a possibilidade de a Ditadura Revolucionária do Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser capaz de resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.

De acordo com tal premissa teórica, sua lógica epistêmica haveria de fundamentalmente ser a do suposto prudente bom senso e do aparente racional-razoável na busca da determinação do persuasivo justo meio, sempre reputadamente em correspondência com uma determinada realidade particular concreta, considerada como inteiramente incomparável, de um certo país ou de um grupo de países considerados em si mesmos, com vistas a definir a intervenção política de um agrupamento ou de um partido revolucionário no cumprimento de sua tarefa de conquista das grandes massas populares para a deflagração de uma quimérica e materialmente inexistente revolução socialista internacional.

Nesse contexto, a orientação política Radek-Brandler, formulada segundo sua metodologia linguístico-instrumental e lógica político-analítica inconfundíveis, revestiu-se, constantemente, de uma tonalidade cínica, claudicante e fatalística sobre a possibilidade de desenvolvimento das lutas revolucionárias na Alemanha e, nesse mesmo sentido, acerca da capacidade de construção independente do Partido Comunista da Alemanha(KPD).

De maneira publicístico-irresoluta, Radek procurou, em suas artigos jornalísticos, documentos e discursos políticos do início dos primeiros anos do anos 20, fundar sua principal orientação política relativa ao curso dos eventos revolucionários da Alemanha, consistente em demonstrar a impossibilidade de desenvolverem-se as forças do Partido Comunista da Alemanha(KPD) no campo das lutas, dos embates e dos conflitos abertos de classes contra as instituições de exploração e dominação dos Estados Burgueses Alemão e Francês de Ocupação, como forma de conquista crescente da confiança da classe trabalhadora, hegemônica sobre todas demais massas socialmente oprimidas, dinamizadas sob sua direção social e política.

Assim, segundo Radek, competiria ao minoritário Partido Comunista da Alemanha(KPD), dedicando-se preponderantemente a atividades de propaganda e agitação, atrelar-se, mediado por críticas e denúncias, à dinâmica de luta da Social-Democracia Alemã, como forma de, mediante cooperação, infiltração, desintegração e reconsolidação, arrebatar-lhe a influência sobre as grandes massas proletárias alemães.

Sendo assim, a estratégia revolucionária a ser implementada deveria consistir, segundo Karl Radek, em ”convencer essas amplas massas de trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora.”

Com essa postura político-persuasiva, a diminuta ala comunista-revolucionária haveria de ser educada de maneira a poder intervir, propagandística e agitativamente, sobre a maioria dos quadros da Social-Democracia, visando a, mediatamente, substrair-lhes de sua direção traidora as massas trabalhadoras sociais-democráticas, a fim de aproximá-las às fileiras revolucionárias.

Nesse mister, a luta dos revolucionários proletários alemães contra a Social-Democracia não deveria, aos olhos de Radek e Brandler, se tornar jamais uma luta entre os distintos partidos e correntes políticas que se apoiavam e falavam em nome do proletariado alemão.

A orientação política Radek-Brandler, assumindo uma posição inquestionavelmente dirigente na Alemanha, após o IV Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de derembro de 1922, seguiu considerando, durante todo o primeiro semestre de 1923, o Partido Comunista da Alemanha(KPD) como uma organização débil e vanguardista, fadada ao impulsionamento de atividades teóricas de propaganda e de agitação, condenada perspectivamente a um crescimento lento, devendo empenhar-se em seu papel decisivo de ”segurar a classe trabalhadora e evitar choques desnecessários”, de modo a assegurar o êxito da aplicação de consignas de transição e da tática de Frente Única, coroada politicamente com o Governo dos Trabalhadores, constituído com seu aliado privilegiado, i.e. a Social-Democracia Alemã, “no quadro da e antecipadamente com os meios da democracia burguesa”.

Precisamente dessa maneira, fundados nessas premissas de elaboração intelectual, Radek e Brandler buscavam por meio da tática de Frente Única e da fórmula de Governo de Coalizão dos Trabalhadores, lograr “penetrar em espaços fechados, nos quais os representantes da burguesia atuam sobre os trabalhadores”, almejando alcançar, em troca, a conquista das massas proletárias através do fomento e intensificação de atividade jornalístico-propagandística e sindical, fundadas em críticas e denúncias parlamentares e governamentais de popularização e consagração dos méritos do socialismo revolucionário, promovendo um impiedoso desmascaramento literário das ilusões e dos habilidosos representantes do reformismo social-democrático, entre os trabalhadores explorados e demais socialmente oprimidos, como forma de  praticar política operária, apoiando-se em órgãos proletários e nos movimentos proletários de massas, trilhando um possível caminho rumo à Ditadura Revolucionária do Proletariado.

Nesse sentido, Radek declarava categoricamente, coadjuvado por Brandler : “a luta dos comunistas contra outros partidos não deve se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra outra.”

Produzindo excelentes e precisas caracterizações políticas acerca desse período histórico que haveria de culminar com a derrota do proletariado alemão na Revolução de Outubro de 23, Trotsky teve a oportunidade de observar :

 

“Por que a Revolução Alemã não conduziu à vitória ?

As causas disso residem, totalmente, nas táticas e não nas condições objetivas. Temos aqui um exemplo verdadeiramente clássico de uma situação revolucionária que se perdeu.

A partir do momento da ocupação do Ruhr e de tudo o mais, quando o fracasso da Resistência Passiva se tornou evidente, era necessário que o Partido Comunista adotasse um curso firme e resoluto rumo à conquista do poder.

Apenas uma mudança corajosa da tática poderia ter unificado o proletariado alemão na luta pelo poder.

Se, no III Congresso e, em parte, no IV Congresso, dissemos aos camaradas alemães : “– Vocês poderão ganhar as massas apenas na base de uma participação dirigente em sua luta por consignas de transição”, então, em meados de 1923, a questão passou a ser diferente : depois de tudo que o proletariado alemão teve de atravessar nos últimos anos, poderia ele ser conduzido à batalha decisiva apenas no caso em que ficasse convencido de que, dessa vez, a questão havia sido colocada, tal como dizem os alemães, “aufs Ganze” (i.e. de que não se tratava dessa ou daquela tarefa parcial, porém de uma tarefa fundamental), estando o Partido Comunista pronto para marchar para a batalha e ser capaz de assegurar a vitória.

Porém, o Partido Comunista Alemão executou esse giro sem a seguraça necessária e depois de um atraso extraordinário.

Tantos os da ala direita como os da esquerda, a despeito de sua luta aguda de uns contra os outros, demonstraram, em setembro-outubro de 1923, uma atitude bastante fatalista em face do processo do desenvolvimento da revolução.

Naquele momento, quando a inteira situação objetiva exigia da parte do partido um golpe decisivo, o partido não organizou a revolução, senão permaneceu esperando-a.”[22]

 

 

A grande ameaça do radekismo-brandlerista que pode contribuir decisivamente para colocar a perder a causa revolucionária internacional do proletariado reside, precisamente, em sua jurada defesa – em verdade, em seu subreptício parasitismo hospedeiro – da doutrina revolucionária não apenas de Marx e Engels, senão ainda de Lenin e Trotsky, bem como em sua alegada permanente reivindicação de documentos fundacionais e congressualmente aprovados pelo movimento socialista-revolucionário marxista de todos os tempos, em particular dos Documentos e Protocolos dos III e IV Congressos da Internacional Comunista.

Pretendendo alegadamente lutar, impiedosamente, por um lado, contra o sectarismo ultra-esquerdista (entrevisto, pretendidamente, pelas lentes dos óculos do radekismo-brandlerista, nos perfis insurrrecionais-putschistas de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, Max Hoelz, Erich Wollenberg e Hans Kippenberger, todos esses supostamente responsáveis pelos levantes armados derrotados do proletariado alemão, ocorridos entre 1919 e 1923), contra o esquerdismo sectário (contemplado na fração política da minoria zinovievista, encabeçada por Ruth Fischer, Arkadi Maslow e Erst Thaelmann) e, por outro lado, contra o oportunismo centrista (cuja forma concreta, no início dos anos 20, incorporava-se mais nitidamente nas posições de Paul Levi e Ernst Meyer), a orientação política Radek-Brandler nada mais fez senão conduzir o Partido Comunista da Alemanha(KPD) à mais plena prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na capitulação diante das forças reformistas da Social-Democracia Alemã.

Para tanto, Radek e Brandler entendiam, não sem um profundo tom de ceticismo e tibieza, estarem lutando, fundado-se no bom senso, no racional-razoável, no justo-meio contra todas essas manifestações políticas do comunismo revolucionário alemão, com vistas a supostamente lograr, no quadro jurídico-constitucional da República Imperial de Weimar, avançando sempre rumo ao Governo dos Trabalhadores, arrebatar forças dirigidas pela Social-Democracia Alemã, redirecionando-as para a revolução socialista internacional do proletariado, de forma a, indiretamente, aportar amplas massas populares para a perspectiva de abolição da exploração econômica capitalista e supressão de sua dominação ideológica, mediante a edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado.

Em conformidade com sua postura eminentemente literário-hesitante, a orientação Radek-Brandler previa que tal conquista seria efetivamente realizável e indispensável para a revolução socialista alemã, dada a suposta fraqueza e morbidez congênita do Partido Comunista da Alemanha (KPD) da época para assegurar o cumprimento de sua independente tarefa de construção.

A orientação Radek-Brandler alimentando um profundo discrédito acerca das potencialidades da ação revolucionária de lutas do Partido Comunista da Alemanha (KPD), bem como de seu papel dirigente nas lutas de massas do início dos anos 20, procurou conduzir, em verdade, esse partido à sua mais total dependência, ao seu mais pleno atrelamento, ao seu mais irreversível ancoramento, em face do reformismo da Social-Democracia Alemã, sob a alegação de que, caso não o fizesse, permaneceria irremediavelmente à margem dos principais eventos revolucionários daquela década, resultando incapaz de promover qualquer processo autenticamente revolucionário de massas.

Tal conquista das massas trabalhadoras, submetidas à influência política da Social-Democracia reformista, haveria de se fazer, então, mediante denúncias e desmascaramentos de suas principais direções políticas em toda a República de Weimar da época, não porém através da condução  de um curso firme e resoluto, fundado nas lutas revolucionárias para a conquista do poder que pudesse indispor esse aliado político a constituir as bases de uma Frente Única Proletária e de um Governo de Coalizão Comunista-Social-Democrático, no interior das fronteiras da democracia burguesa, institucionalizada pela República Imperial de Weimar.

Acompanhados pela reticente Presidência do Komintern, chefiada à época por Zinoviev, em ritmo de crescente burocratização e langor stalinista, a incapacidade de Radek e Brandler de compreender as novas tranformações nas correlações de forças, resultante de sua manifesta falta de criatividade e personalidade política, conduziu a que negligenciassem o fato de haver-se modificado, quantitativa e qualitativamente, o caráter da luta de classes na Alemanha no início de 1923, bem como a estratégica, o regime e o papel contra-revolucionário da Social-Democracia Alemã.

A orientação política Radek-Brandler, demonstrando manifesta ausência de força político-intelectual e fundando-se, dogmática, religiosa e cegamente, nos documentos históricos dos III e IV Congressos Mundiais da Internacional Comunista, como forma de combater o que denominavam de tendências sectárias ultra-esquerdistas e esquerdistas, bem como centristas oportunistas do momento, pretendia-se defensora de posições coerentemente equilibradas e defensivas, reputadamente anti-esquerdistas e anti-oportunistas.

Tal orientação pretendia estar respondendo, assim, de maneira essencialmente política e estrategica, à situação de colapso econômico e institucional da Alemanha da época, aguçada durante todo o primeiro semestre de 1923.

Para tanto, valia-se dos argumentos de que não se encontraria esse país no acirrar-se de uma crise qualitativamente distinta, inexistindo, por isso, nenhuma nova conjuntura político-revolucionária aguda que estivesse, hipoteticamente, por exigir  a preparação de um levante armado.[23]

 

Acerca do tema, Trotsky teve a oportunidade de salientar, detidamente : 

 

„Se o partido comunista tivesse modificado bruscamente a dinâmica de seu trabalho e aproveitado, inteira e adequadamente, os cinco ou seis mêses que a história lhe acordava para a preparação direta, política, organizativa e técnica da tomada do poder, o desate dos acontecimentos poderia ter sido totalmente diferente daquele que testemunhamos em novembro.

Porém, aí encontrava-se o problema de que o Partido Alemão tinha entrado no novo e breve período de crise não costumeira, talvez sem precedente na história mundial, com os métodos usuais dos dois anos anteriores de luta propagandística em prol do estabelecimento de sua influência sobre as massas.

Aqui era necessária uma nova orientação do Partido, um novo tom de agitação, um novo modo de abordar as massas, uma nova interpretação e aplicação da Frente Única, novos métodos de organização e de preparação técnica, em uma palavra : uma brusca mudança tática.

O proletariado haveria de ter avistado um partido revolucionário em ação, marchando diretamente para a conquista do poder.

Entrementes, o partido alemão continuou, no fundo, sua política de propaganda de ontem, apenas que em uma escala mais ampla.

Foi tão somente em outubro que ele adotou um novo curso.

Porém, restava-lhe, então, muito pouco tempo para desenvolver seu impulso.

O Partido conferiu à preparação um ritmo febril, as massas não o puderam seguir, a insegurança do partido comunicou-se a ambos os lados e, no momento decisivo, o proletariado recuou, sem combater.

A razão mais importante de ter o Partido Comunista Alemão entregado, sem resistência, suas posições históricas inteiramente excepcionais é a de que não foi capaz de, no início do novo ascenso (maio-julho 1923), libertar-se do automatismo de sua política anterior, estabelecida para durar anos, e impulsionar, perspicazmente, na sua agitação, ação, organização e técnica, a questão da tomada do poder.“[24]

 

 

Nesse contexto, a orientação política Radek-Brandler foi manifestamente inapta a dar cumprimento a qualquer das tarefas técnico-militares de preparação de um levante armado na Alemanha de Weimar, atuando, pelo contrário, como inflexível e rigorosa sufocadora de quaisquer manifestações combativas e independentes dos trabalhadores e oprimidos alemães, qualificando-as de “provocação da burguesia alemã”:[25]

 

“Essa questão, tal como demonstrou a experiência da Alemanha, possui uma importância colossal.

Na medida em que a palavra de ordem do levante adquiria para os dirigentes do Partido Comunista Alemão, principalmente, senão exclusivamente, um significado de agitação, ignoravam, simplesmente, a questão acerca forças armadas do inimigo (Exército Imperial, destacamentos fascistas, polícia).

Parecia-lhes que o ascenso revolucionário, crescendo sem cessar, resolveria, por si mesmo, a questão militar.

Quando essa tarefa precisamente se aproximou seriamente, esses mesmos camaradas que haviam considerado as forças armadas do inimigo como inexistentes, caíram, imediatamente, na outra extremidade : puseram-se a totalmente acreditar em todos os números que lhes forneciam sobre as forças armadas da burguesia, adicionaram-nas, minuciosamente, às forças do Exército Imperial e da polícia, arredondaram, a seguir, a soma (até meio milhão e mais), alcançando, assim, diante de si uma massa compacta, armada até os dentes, completamente suficiente  para paralisar seus próprios esforços.

Sem dúvida, as forças da contra-revolução alemã eram mais significativas e, em todo caso, melhor organizadas e melhor preparadas do que as dos nossos kornilovistas e semi-kornilovianos.

Porém, também as forças ativas da revolução alemã são, igualmente, mais expressivas.

O proletariado representa a maioria esmagadora da população da Alemanha.

No nosso caso, a questão decidiu-se, no mínimo, em um primeiro estágio, com Petrogrado e Moscou.

Na Alemanha, o levante teria tido, de um só golpe, uma dezena de poderosas hordas proletárias.

Sobre essa base, as forças armadas do inimigo pareceriam totalmente não tão ameaçadoras como nos cálculos estatísticos arredondados.”[26]

 

E, com efeito !

Após o IV Congresso Mundial do Komintern, de 1922, e no quadro do VII Congresso de Leipzig do Partido Comunista da Alemanha(KPD), de janeiro de 1923, os posicionamentos e as práticas intriguistas de Radek, defendidas por importantes dirigentes políticos,  entre eles o renomado líder sindical de Saxônia-Chemnitz, Heinrich Brandler, o mentor ideológico do comunismo alemão daqueles anos, August Thalheimer, entre outros, logrou impor-se, politicamente, diante da direção do Executivo do Komintern, clamando até mesmo pela expulsão das frações oposicionistas minoritárias, zinovievistas e liebknechtianas.

Enquanto dirigente da fração zinovievista, Ruth Fischer assinalou, mesmo que desde sua perspectiva de luta mais própria, eminentemente crítica às posições de Trotsky :

 

“Até então, havia sido tradição no Comintern que os agrupamentos minoritários em qualquer partido comunista tivessem representação proporcional em seu Comitê Central, sendo esses membros escolhidos mediante cada fração oposicionista.

Radek e Brandler quebraram essa tradição e, sob protesto da esquerda, deram-lhe representação inadequada.

Além disso, eles mesmos selecionaram os esquerdistas que, em sua opinião, eram mais suscetíveis para o compromisso.

Esse procedimento, depois da falência em sacar uma declaração do partido sobre a invasão do Ruhr, levou o Congresso à beira da ruptura.

Para protestar contra essa violação de seus Direitos fundamentais, a esquerda decidiu não participar da eleição do Comitê Central.

Um Comitê Central assim eleito, não teria a confiança das maiores regionais do partido – as de Berlim, do Ruhr, de Hamburg.

Karl Radek viu que tinha ido longe demais. Em uma sessão noturna secreta, da qual não existe gravação nos protocolos congressuais, propôs um compromisso mediante o qual quatro delegados da oposição de esquerda seriam eleitos para o Comitê Central

Apoiado por Vasil P. Kolarov, Radek surgia enquanto árbitro neutro do Komintern, porém ele manobrava, exitosamente, para impedir a eleição dos dirigentes da esquerda, Thaelmann e Maslow.”[27]

 

A tática Radek-Brandler buscou sempre, para alcançar a aplicação de sua política, apresentar sempre a Alemanha daqueles anos como um país de natureza própria, cujo ritmo de desenvolvimento da luta de classes não seria tão intenso e explosivo como no país de Lenin, Sverdlov e Trotsky, de modo a pleitear uma mais profunda vinculação política com as forças reformistas da Social-Democracia, mediante redifinições da tática de Frente Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores.

As diretrizes estabelecidas nos III e IV Congressos do Komintern acerca desses mecanismos de transição, que eram considerados, sistematica e invariavelmente, como forma de promoção, cada vez mais ostensiva, do armamento do proletariado para a derrubada do capitalismo imperialista, do controle proletário da produção, da satisfação das mais importantes reivindicações dos trabalhadores contra a burguesia, haveriam de ser, segundo a orientação Radek-Brandler, hermeneuticamente flexibilizadas diante da particulariedade concreta da realidade político-constitucional, essencialmentre democrático-burguesa, prevalente na Alemanha, e levadas à prática em conformidade com a maneira própria das lutas travadas nesse país capitalista industrializado, seguindo-se sempre os passos e a dinâmica peculiar que o reformismo político da Social-Democracia, arrebatador de grandes contingentes proletários, poderia imprimir ao curso do fenômenos revolucionários.

Esse apresentava-se como sendo o pretexto de Radek e Brandler para efetivamente levar à prática sua política pseudo-revolucionária de prosternação frentista, disfarçada com críticas e denúncias, em sua capitulação diante das forças da Social-Democracia Alemã, sob a capa de defesa da tática de Frente Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores, frustando manifestamente as exigências fundamentais do marxismo revolucionário, voltado permanentemente à tarefa de formação e mobilização dos proletários enquanto classe conscientemente revolucionária e hegemonicamente dirigente de todos os demais socialmente oprimidos, na luta de massas em prol de consignas de transição que culminem no desencadeamento de um levante armado para a destruição do Estado Burguês e edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais avançada e historicamente superior Democracia Proletária, concebida enquanto forma de transição rumo à edificação da primeira fase do comunismo, i.e. o socialismo.

O legado histórico da orientação política Radek-Brandler surge, desse modo, como sendo o de uma concepção teórico-doutrinária e de uma prática político-concreta que, alegando combater o sectarismo ultra-esquerdista, de um lado, e o oportunismo, de outro, atua ocultando o fato de representar, por si e em si mesmo, a expressão profundamente eclético-contraditória de um profundo oportunismo e sectarismo ultra-esquerdista de natureza própria :

Oportunismo frentista consistente em seu atrelamento e ancoramento seguidista ao reformismo social-democrático.

Sectarismo cético não em relação à sua pretensão baldada de conquista das massas proletárias para a revolução socialista, senão no concernente às rigorosas e desafiadoras tarefas de construção de um partido marxista revolucionário capaz de analisar, em conformidade com os fundamentos do materialismo histórico-dialético, o curso da luta de classes de determinado país.

Nesse sentido, tal como restará demonstrado, o radekismo-brandlerista é uma deformação, uma degenerescência, uma falsificação do marxismo revolucionário ainda mais sútil e fraudulenta do que a varíola gramsciana, com suas típicas erupções pustulosas.

O gramscismo espraia-se cadaverizando, nitidamente desde uma perspectiva idealista-subjetivista, a doutrina proletário-revolucionária de Marx, Engels e Lenin, em nome, porém, da hipócrita e reputada defesa dessa mesma doutrina proletário-revolucionária.

Ao eleger, entretanto, como o seu maior antagonista político, no seio do movimento socialista-revolucionário posterior à morte de Lenin, as concepções e o legado revolucionário de Trotsky, considerado segundo Antonio Gramsci, o principal representante da ”Guerra de Movimento”, da “Guerra de Manobra”, do ”Ataque Frontal”, “protagonizado em um período em que esse é apenas causa de fiascos”, ao prestar louvores aos posicionamentos de Stalin, considerado por Gramsci como “il più recente grande teorico”, o gramiscismo coloca às claras os sintomas de natureza febril aguda, infecto-contagiosa, que deixa cicatrizes manifestamente típicas e bem evidentes, tal como as bexigas-negras.

O radekismo-brandlerista, do início dos anos 20, enquanto deformação  política específica, é, porém, muito mais sútil e de difícil reconhecimento, posto que resulta muito menos conhecida e popularizada nos nossos dias.

Expande-se desvitalizando, ardilosamente desde uma perspectiva jornalístico-cética, essencialmente versátil, multiforme, cínical, maleável, sinuosa, os fundamentos do marxismo revolucionário, tal como um tumor maligno de origem dificilmente reconhecível que desalenta e destrói os tecidos e os vasos vitais de um organismo partidário proletário-revolucionário, posto que o desvigora em nome da suposta luta contra o sectarismo ultra-esquerdista e o oportunismo, bem como da cínica defesa da herança socialista-revolucionária não apenas de Marx, Engels e Lenin, senão ainda do legado de Trotsky e de sua luta contra a ascensão do burocratismo stalinista, legítimos patrimônios transmitidos às novas gerações de revolucionários proletários.

Recorde-se, exemplificativamente, nesse sentido, as palavras de Radek proferidas, com maleabilidade e desembaraço, ao pleitear, na qualidade de Secretário do Comitê Executivo do Komintern, responsável, junto ao III Congresso Mundial da Internacional Comunista pelo informe sobre tática revolucionária, o retorno à defesa da tática da Frente Única, imediatamente depois de ter recomendado, meses antes, a Ativação Revolucionária do Partido Comunista da Alemanha(KPD), no quadro da Teoria da Ofensiva ou do Ataque Revolucionário Tempestuoso, de autoria de Nikolai Bukharin e Grigori Zinoviev, coroadora da estrondosa derrota da Ação de Março de 1921 :

 

“ Companheiros,

Não vou lhes fatigar com uma série de citações que poderia ser trazida aos montes, tal como já foi indicado na imprensa comunista da Rússia, referindo que a correlação de forças na Europa Ocidental, que as forças da burguesia de lá torna improvável um assalto à burguesia através de uma sublevação das massas populares.

Não preciso recordar os delegados alemães de que nós, na Alemanha, desde 1919, adquirimos, enquanto ponto de partida de nossa tática, a convicção de que a dinâmica de desenvolvimento da revolução mundial será mais arrastada, sendo que deveríamos lutar, precisamente por isso, com toda energia, contra a impaciência revolucionária de esquerda. ...

Quando falamos de uma dinâmica lenta da revolução, queremos dizer que será um processo lento com grandes lutas, no qual os partidos do comunismo não terão nenhuma possibilidade de se instalar sossegadamente em etapas, tranqüilizar-se, tabalhar lenta e pacificamente, aguardando o que o tempo trará.

Será um sobe e desce de lutas. ... 

Por isso, tenho de dizer que se vozes são escutadas nas fileiras da Internacional Comunistas – tal como o discurso do companheiro Smeral - acerca do lento desenvolvimento e se são apresentadas imagens tal como aquela de que a Guerra de Movimento passará para a Guerra de Trincheira (obs. tal como Gramsci assinala, Guerra de Trincheira corresponde à Guerra de Posição), trata-se, em nossa opinião, de uma falsa concepção acerca da dinâmica do desenvolvimento.

O que vivenciamos não é a transição da guerra móvel  em Guerra de Trincheira, mas sim a formação dos grandes exércitos do proletariado mundial!”[28]       

 

A orientação política Radek-Brandler alcançou o seu brilho fugaz logo após o IV Congresso Mundial do Komintern, dissemindando-se no contexto da ascensão, cada vez mais ostensiva, da Troika de Zinoviev, Kamenev e Stalin, quando a arte das manobras políticas tornava-se a principal estratégica opcional em prejuízo do fomento das lutas revolucionárias de massas.     

Suas elaborações teóricas que permitiram constituir umas das referências teóricas da futura consagração das táticas stalinistas do Komintern burocratizado, de Frente Única, Frente Nacionalista, Frente Democrática e Frente Patriótica, traz em seu bôjo, entretanto, precursoramente, o embrião do fim da etapa revolucionária do bolchevismo dos anos 20 que, acreditava na possibilidade de a revolução socialista proletária poder se expandir pela Europa Ocidental, fazendo com que, sob a pressão das lutas revolucionárias, as massas de trabalhadores e demais oprimidos, agrilhoadas à influência da Social-Democracia, se conformassem em potente força de movimento, mediante a aplicação de táticas e consignas de transição, suficientes para tranformar as estruturas sociais e políticas dos países industrialmente avançados.  

A identificação da falsificação marxista Radek-Brandler do início dos anos 20 no interior do movimento revolucionário socialista-proletário da atualidade, é, por essa razão, tanto mais difícil de ser diagnosticada, pois aqueles que sucumbem a essa orientação política fundam-se, doutrinariamente, nos mesmos documentos principiológicos e programáticos defendidos pelo marxismo revolucionário, i.e. por Marx e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky, ainda que o façam como “hóspedes” – e não como “militantes” -  na luta em prol das autênticas exigências levantadas pelo curso da revolução socialista internacionalista.

De toda sorte, o elemento mais sintomático mais seguro para a identificação da degenerescência radekista-brandlerista, o qual permite seguramente colocar a nú sem discurso subreptício de luta contra supostos doutrinarismos ultra-esquerdistas e oportunismos de todos os gêneros, é seu chamado político à capitulação frentista, disfarçado com críticas e denúncias, diante das forças reformistas da Social-Democracia, durante o período preparatório que conduz à tarefa de organização do levante armado do proletariado para fazer saltar pelos ares o Estado Burguês.

Ceticismo sectário em relação ao partido proletário revolucionário poder organizar-se, construir-se e lutar independentemente, não se atrelando, servil e fatalisticamente, ao reformismo social-democrático, mediante ornamentos críticos e denúncias conducente a uma prosternação inconseqüente.

Seguidismo oportunista, eleitoralista e governista, em relação ao reformismo social-democrático, de modo a fazer com que as fórmulas de Frente Única  e Governo dos Trabalhadores não sejam contempladas como um instrumento da instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado, senão como forma de, no quadro e antecipadamente com os meios da democracia burguesa, conquistar o poder e nele comtemporizar com as forças reformadoras do despotismo capitalista e do Estado Burguês.   

Táticas e estratégias essas dignas de uma orientação política versátil, cínica, plástica e multiforme, hesitante e sinuosa, que, alegando fundar-se juradamente no marxismo revolucionário de Lenin, Sverdlov e Trotsky, ousa, com aparentes magnifícios aperçus, omitir, despurodamente, seus próprios e específicos sectarismo e oportunismo, mediante o semear e propagar ilusões, miragens e seduções acerca do caráter fundamental do reformismo e do papel político contra-revolucionário da Social-Democracia em face das lutas de emancipação do proletariado.     

Depois da derrota da Revolução Alemã de 1923, Radek foi afastado do Executivo do Komintern e de sua atividade junto à direção do Partido Comunista da Alemanha(KPD), em meio a uma áspera polêmica travada contra Zinoviev.

A seguir, Radek tornou-se reitor da Universidade Sun Yat-Sen, em Moscou, dedicando-se, então, ao estudo da luta de classes da China.

A partir de 1923, Radek aderiu, como “hóspede”, à Oposição de Esquerda, encabeçada por Trotsky, ao mesmo tempo em que impulsionava a Oposição de Direita, de Brandler.

Em 1926, pouco antes de Trotsky e Zinoviev construírem a Oposição Unificada para a luta contra a crescente burocratização stalinista, Radek, depois de ver falido seu precedente projeto anti-zinovievista de aproximação da Oposição de Esquerda às posições de Stalin, tornou-se, durante dois anos, um dos líderes mais furiosos do bloco anti-stalinista.

Em dezembro de 1927, Radek foi expulso do PC da URSS, no quadro do XV Congresso desse partido, sendo enviado para o desterro.

Em fins de 1929, Radek decidiu apresentar sua capitulação à Stalin e retornar à Moscou.

Quando seu trem deixava a estação ferroviária da Sibéria, sob escolta da polícia política stalinista, de seu áspero e rápido diálogo com os oposicionistas remanescentes, publicou-se o seguinte no Boletim de Oposição, Nr. 6 de outubro de 1929 :

 

“Pergunta : “- E qual é sua posição em relação à L. D. (i.e. Trotsky) ?”

Radek : “ - Com L. D. rompi defenitivamente. De agora em diante, somos inimigos políticos... Com um colaborador do Lord Beaverbrook não temos nada em comum.”

Pergunta : “Você vai exigir a revogação do Art. 58 ?

Radek : “ De jeito nenhum. Quem nos acompanhar, estará dele liberado por si mesmo. Porém, nós não liberaremos do Art. 58 aqueles que querem levar para a cova o trabalho no Partido e organizar a insatisfação das   

                massas.”

Os agentes da OGPU não nos permitiram falar até o final.

Empurraram Karl (Radek) no vagão, culpando-o pela agitação contra o banimento de Trotsky. Do vagão, Radek gritou :

                “ - Eu estou agitando contra o banimento de Trotsky? Ha-ha-ha ....  Estou agitando para que os companheiros voltem para o Partido.”

Os agentes da OGPU escutaram calados e continuaram a enfiar Karl no vagão.

O trem de alta velocidade colocou--se em movimento ...”[29]   

 

A partir desse momento, restaurada sua filiação ao PC da URSS, Radek retomou, sofregamente, seu trabalho como especialista de questões internacionais e embaixador especial do stalinismo – tal como na missão de  janeiro de 1933, junto a Josef Pilsudski.

Após tais eventos, veio a notabilizar-se não apenas como um dos patronos da Constituição Stalinista de 1936 – ao lado de Evgenii Pashukanis -, senão ainda como testemunha chave de acusação nos processos políticos forjados por Joseph Stalin e seu procurador do Estado, Andrei Vyshinskii.[30]

 

Durante o período de sua capitulação ao stalinismo, Radek escreveu, assiduamente, nas colunas do Pravda e do Izvestia, até 1937.[31]

 

Nesse último ano, K. Radek e G. Piatakov foram acusados no Segundo Grande Processo de Moscou,  tendo sido o primeiro sentenciado a 10 anos de prisão.[32]

 

Durante vários mêses subsistiram rumores no sentido de que Radek seguiria vivo e politicamente ativo, deslocando-se para o exterior, de tempos em tempos, a fim de examinar questões políticas.

Nada obstante, a maioria dos historiadores afirma que, recolhido em um campo de concentração logo após sua condenação, Radek deve ter falecido em 1939, nos calabouços do stalinismo.[33]

 

No que diz respeito às produções intelectuais de Radek, em seu período stalinista, destaca-se seu panegírico a Stalin, produzido em 1934, por demais marcante de seu abordagem teórico-política :

 

“Na última palestra, ocupamo-nos com o momento histórico em que a notícia da partida prematura do nosso grande mestre e dirigente, Lenin, abalou o mundo, com o momento em que o invólucro mortal, elevado aos ombros de seus amigos e sobre a cabeça de milhões de massas impendia no interior do Salão das Colunas e, ali, durante vários dias, tornou-se o destino da peregrinação dos trabalhadores e camponeses de nosso grande país e do mundo inteiro.

Ainda soam no ar as palavras esculpidas de granito do juramento que prestou Stalin, o Secretário Geral do Partido, no Teatro Bolshoi.

Palavras que significam que o Partido conservará sua lealdade ao legado de Lenin de luta contra o capitalismo, que conduzirá essa luta até o seu final vitorioso, apoiado na solidariedade do proletariado internacional, na aliança dos trabalhadores e camponeses, consolidando a Ditadura do Proletariado, velando pela unidade das fileiras leninistas como suas pupílas ....”[34]

 

A esse último episódio político da vida de Radek, Trotsky não pode senão destacar, de maneira aguda e acurada :   

 

“Desde meados de 1929, o nome de Radek tornou-se, nas fileiras da oposição, o símbolo das formas mais indignas da capitulação e dos desleais apunhalamentos pelas costas dos amigos de ontem(p. 156).

Nas fileiras dos trotskystas, Radek tornou-se, desde então, a figura mais odiosa: ele não é apenas um capitulador, mas também é ainda um traidor(p.157).”[35]

 

 

 

 

CAPÍTULO I

PERCURSO POLÍTICO DE

KARL RADEK

ATÉ O INÍCIO DOS ANOS 20

 

 

Radek, também muito renomado por seu nome de guerra Parabellum, nasceu, em 31 de outubro de 1885, no seio de uma família judía-polonesa, em Lvov, na província de Lemberg, Galícia (Polônia Austríaca), hoje território da Ucrânia.

Seus pais trabalharam como funcionários dos correios.

Radek estudou, inicialmente, Direito, nos anos de 1902 e 1903, em Cracóvia e Tarnov (Polônia Austríaca) e aperfeiçou, posteriormente, seus conhecimentos em Viena, na Áustria, e em Berna, na Suíça.

Ainda como um jovem estudante de Tarnov, Radek ligou-se, a partir dos 18 anos, ao Partido Socialista Polonês(PSP), que intervia na qualidade de porta-voz dos interesses nacionalistas do movimento operário polonês.

Logo a seguir, porém, Radek foi captado pelo grupo marxista denominado Partido Social-Democrático do Reino da Polônia e da Lituânia (PSDRPL), encabeçado por Luxemburg, Dzerjinski, Jogiches e Marchlevski tendo nele permanecido ativo através de sua militância clandestina, entre os anos de 1904 e 1908.

Nessa época, o PSP impulsionado pelo Partido Social-Democrático da Polônia(PSDRPL), veio a desempenhar um expressivo papel na Revolução de Varsóvia de 1905, onde dirigiu o jornal do partido, intitulado Czerwony Sztandar, i.e. Bandeira Vermelha.  

Preso em 1906, Radek lograria fugir, ingressando na Alemanha, em 1908, quando adotou, pela primeira vez, o nome de guerra Parabellum.

Suas produções jornalísticas tiveram início junto às colunas dos jornais Leipziger Volkszeitung (Gazeta Popular de Leipzig) e Bremer Bürgerzeitung (Gazeta do Cidadão de Brêmen), ambos esses diários pertencentes ao Partido Social-Democrático da Alemanha(PSDA).

Data do ano de 1910, as primeiras críticas de Lenin aos posicionamentos teóricos de Radek quanto ao caráter da defesa do programa mínimo seja no quadro das relações sociais capitalistas em geral, seja na política internacional em particular :

 

“Acerca de seus principais artigos no Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig), devo dizer que a questão é muito interessante.

Na realidade, ocupei-me pouco com isso, porém parece-me que você não tem plenamente razão.

O critério da “inexeqüibilidade ... no quadro do capitalismo” não pode ser entendido no sentido de que a burguesia não permite, que isso é inexeqüivel e coisas semelhantes.

Nesse sentido, muitas das consignas de nosso programa mínimo “são inexeqüiveis”, porém são, apesar disso, necessárias.

Além disso, onde você menciona o Relatório da Internacional, você deixa de fora, na citação de Marx,  as palavras nas quais se trata dos princípios das relações entre os Estados.

Não se trata aí do programa mínimo na política internacional ?

E, finalmente, por que você não menciona com nenhuma palavra o trabalho de Engels “Pode a Europa Desarmar-se?” ?

Você tem total razão, na minha opinião (tudo se trata evidentemente de minha opinião pessoal), que a reivindicação de armamento do povo não pode ser deixada de lado.

Não seria, porém, mais correto, dirigir o ataque não no sentido de que, na Resolução, fala-se desarmamento, mas sim de que ela não contém Exército Popular?”[36]

 

No quadro de uma postura ainda inicialmente fraternal, Lenin solicitaria a Radek, ainda no mesmo ano, a publicação, nas colunas do Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig), de um de seus importantes artigos de polêmica contra Martov e Trotsky :

 

“Eu gostaria, porém, de não deixar irrespondidas as terríveis vulgaridades e retorsões de Martov e Trotsky.

Já tenho pronto algo como um terço ou a metade de meu artigo.

O tema é : “O Sentido Histórico das Lutas Internas Partidárias na Rússia”.

Peço-lhe muito uma sugestão : seria possível e aconselhável publicar esse artigo no Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig) ? ...

Se você me pudesse dizer algo a respeito disso, ser-lhe-ia muito grato.

Eu gostaria de saber, p. ex., se você poderia apresentar diversos folhetins no Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig) sobre esse tema.

Qual o tamanho máximo dos artigos ?

Além disso : eu não consigo escrever em alemão. Eu escrevo em russo.

Você poderia provicenciar a tradução em Leipzig ou é-lhe muito incômodo ou por demais trabalhoso, sendo que devo encontrar por aqui um tradutor (poderia encontrá-lo também como toda probabilidade) ou ainda eu escreveria em meu alemão de má qualidade (uma prova disso você tem nessa carta) e, em Leipzig, procura-se traduzir de meu mau alemão em um bom alemão.

(Uma vez um amigo contou-me que que é mais fácil traduzir para ao alemão a partir de um bom russo do que um mau alemão.)”[37]

 

Desse episódio, o historiador alemão de linhagem stalinista-reciclada, Dietrich Möller, assinala que, de Leipzig,  Radek enviou, ao longo de 1910, diversos artigos a Lenin, em Paris, que, aparentemente, não foram aí publicados e, d’outra parte, Lenin remeteu artigos a Radek, para o Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig) que, certamente, jamais conheceram a luz em suas páginas[38].

Domiciliado em Leipzig e Brêmen, Karl Radek iria, desde logo, notabilizar-se por sua cerrada polêmica jornalística e pela organização de um agrupamento partidário, composto por jovens militantes, dedicados à luta contra ao revisionismo oportunista de Karl Kautsky e a linha social-chauvinista da direção do Partido Social-Democrático da Alemanha(PSDA), dirigido, à época, cada vez mais ostensivamente, por Friedrich Ebert, Philip Scheidemann e Gustav Noske[39].

Data desse período sua ligação política com August Thalheimer, futuro membro do bloco político Radek-Brandler, que se tornaria dirigente nos anos revolucionários de 1922 e 1923, editor do jornal social-democrático Freie Volkszeitung(Gazeta Livre do Povo), de Göppingen.

Entretanto, em 1912, Radek seria formalmente excluído das filerias da Social-Democracia Polonesa, ao opor-se à direção política de Luxemburg e Dzerjinski, tendo sido acusado de patifaria, apropriação de dinheiro, livros e roupas da organização e colaboração com o governo alemão e austro-húngaro[40].

No mesmo ano, “o caso Radek” foi colocado em discussão no Congresso do Partido Social-Democrático da Alemanha(PSDA), realizado em Chemnitz.

A moção que clamava por sua expulsão gozou de grande simpatia por parte da burocracia revisionista dirigente da Social-Democracia Alemã, que o considerou como jamais tendo sido membro regular oficial do partido alemão, representando apenas um intruso.

Além disso, a direção de Ebert e Noske entendeu que, tendo Radek sido expulso anteriormente das fileiras da Social-Democracia Polonesa, não poderia ter jamais aderido à Social-Democracia Alemã, de vez que nenhum excluído por um partido irmão poderia pleiter tornar-se membro de qualquer organização da II Internacional. 

Com o decidido apoio de Rosa Luxemburg, Clara Zetkin e os demais seguidores dessas dirigentes políticas, Radek haveria, então, de ser também expulso desse último partido, em 1913, sob a base das mesmas acusações escandalosas de roubou e desvios de meios financeiros partidários.

Sendo Luxemburg considerada como exemplo de comportamento socialista, Radek passava a ser entrevisto, em sentido contrário, diante dos olhos de muitos militantes revolucionários da época, como uma pessoa marcadamente imoral.

Nesse sentido, a historiadora e antiga comunista alemã, de orientação zinovievista, Ruth Fischer, escreve da seguinte forma :

 

“Ele (i.e. Radek) foi pintado como tendo mau caráter. Ele tinha pedido emprestado um casaco ( ou, por outras versões, um par de calças) de um companheiro, em uma noite fria de inverno, e não o devolveu imediatamente.

Sobre a base desse e de episódios similares insignificantes, concluiu que ele era um ladrão.

A pequena burguesia do partido fez um barulho pomposo acerca desse comportamento “não socialista” e em protesto contra essa campanha de lama, Parabellum adotara, diversos anos antes, um novo pseudônimo, K. Radek, que para um polonês sugere a palavra kradziez, i.e. ladrão.

Luxemburg e Radek eram ambos membros dos partidos alemão e polonês e esse incidente no partido alemão foi um reflexo da ruptura do mesmo ano no partido polonês, na qual Luxemburg dirigia uma fração e Radek a outra.

Luxemburg tinha sido apoiada pela maioria dos dirigentes nacionais e Radek fora-o pela organização de Varsóvia, incluindo Valecki, Unschlicht e Hanecki.

Lenin dispôs-se em favor do Grupo de Varsóvia. ...

O caso não foi um pequeno episódio na vida de Karl Radek.

Para ele, tratou-se de uma ofensa dolorosa ser privado de sua filiação ao partido alemão, o tipo mais elevado de organização Social-Democrática.”[41] 

 

Os principais defensores de Radek nesse processo escandaloso foram, pelo contrário, Anton Pannekoek e seus aliados de Brêmen, impulsionadores do jornal Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores), bem como Karl Liebknecht.

Esse último considerou Radek como vítima de uma direção revisionista que aplicava descaradamente represálias políticas contra todos os que a criticavam de desvios pacifistas e nacionalistas.

No plano internacional, não apenas Lenin, senão ainda Trotsky, pronunciaram-se em favor de Radek[42].  

Com os méritos hauridos em sua luta contra as posições de Kautsky, Radek logrou atrair, cada vez mais, as atenções de Lenin que permanecia, entretanto, manifestamente crítico em relação aos seus posicionamentos teórico-intelectuais e suas atitudes político-práticas.

Em janeiro de 1914, Lenin teve a oportunidade de escrever a Wijnkoop :

 

“No Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig), Radek escreve sobre questões russas.

Porém, Radek não representa, nem sequer, qualquer dos grupos na Rússia !

É cômico imprimir os artigos dos emigrantes que nada representam e não aceitar aqueles que dos representantes das organizações existentes na Rússia! ...

Lamentavelmente, nem mesmo Pannekoek, no Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig), quer compreender que se deve publicar os artigos de ambas as correntes sociais-democráticas na Rússia – e não os artigos de Radek que representam apenas sua ignorância pessoal e suas idéias visionárias, indispondo-se a transmitir fatos concretos.”[43]  

 

Com a eclosão da I Guerra Mundial do capitalismo imperialista, Radek, procurando esquivar-se ao seu recrutamento nas fileiras do Exército Imperial Austro-Úngaro, refugiou-se na Suíça[44].

Nesse país, Radek demonstrou, desde logo, seu ceticismo pessimista, vindo a decepcionar profundamente Trotsky, que nele depositava, então, expressivas expectativas de atuação revolucionária :

 

 

 

“Naqueles dias, entrei, pela primeira vez, estreitamente em contato com Radek, o qual, no início da guerra, veio da Alemanha para a Suíça.

No partido alemão, ele se situava na extrema esquerda, sendo que eu pretendia nele encontrar um partidário de minhas convicções.

Efetivamente, Radek condenava, com extraordinária incompatibilidade, o segmento dirigente da Social-Democracia Alemã.

Nisso, nós estávamos de acordo com ele. 

Porém, com surpresa, constatei, na conversação, que ele também não acreditava na possibilidade de uma revolução proletária em conexão com a guerra nem, em geral, em época próxima.

“- Não !”, respondeu ele, “para isso as forças produtivas da humanidade, consideradas em seu conjunto, ainda não se encontram suficientemente desenvolvidas.”

Eu estava simplesmente acostumado em ouvir que as forças produtivas da Rússia não eram suficientes para a conquista do poder pela classe trabalhadora. 

Porém, jamais havia imaginado que uma tal resposta poderia ser dada por um político revolucionário de um país capitalista avançado.

Radek deu, logo depois de minha partida de Zurique, um longo informe, naquele mesma Associação Sindical(Eintracht - Unidade), argumentando prolixamente não estar o mundo capitalista preparado para a revolução socialista.  

Sobre o artigo de Radek, tal como, em geral, sobre a perspectiva socialista suíça no início da guerra, relatou o escritor suíço Brupbacher em suas interessantes memórias.  ....

Quando os jornais socialistas alemães e franceses deram uma clara imagem da catástrofe política e moral do socialismo oficial, coloquei de lado meu diário para ocupar-me com uma brochura política acerca do tema da guerra e da internacional.

Sob o impacto de minha primeira conversação com Radek, redigi para essa brochura um prefácio em que enfatizei, ainda com mais energia, que a atual guerra nada era senão uma insurreição das forças produtivas do capitalismo, consideradas em escala mundial, contra a propriedade privada, de um lado, e contra as fronteiras nacionais, de outro ...

O livrinho “Guerra e Internacional”, tal como todos os outros livros, possuiu seu próprio destino, em primeiro lugar, na Suíça, depois, na Alemanha e na França, em seguida, na América e, por fim, nas Repúblicas Soviéticas.”[45]

 

Nada obstante, Radek postulou sua participação nas Conferências de Zimmerwald e Kienthal, seguindo colaborando com o jornal de Anton Pannekoek, Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores), publicado em Brêmen, com o que passou a desempenhar um papel de grande importância no seio do agrupamento da Esquerda de Zimmerwald.

Não obstante, nesse último agrupamento, Radek atritou-se e chocou-se, desde logo, diametralmente com as posições de Lenin.

 

 

Inúmeras são as referências de Lenin acerca de Radek que datam desse episódio histórico, quase todas pesadamente desabonadoras não apenas da orientação política postulada por esse revolucionário versátil e prolixo, senão ainda severamente repreensivas de suas atuações manobristas, hesitantes, intriguistas e de baixo caráter[46].

No fim de agosto de 1915, Lenin dirigiu-se, asperamente, a Radek, irresignado :

 

“Em anexo seu esboço. Nenhuma palavra sobre os Sociais-Chauvinistas e (=) o oportunismo e de luta contra isso.

Para que tal embelezamento do mau e acobertamento perante as massas do principal inimigo nos partidos sociais-democráticos ?

Você vai insistir, de maneira ultimativa, em não dizer nenhuma palavra aberta sobre a luta implacável contra o oportunismo ? ...

(Seu esboço é por demais “acadêmico”, nenhum chamado à luta, nenhum manifesto de luta.)”[47]     

 

 

 

 

A seguir, Radek atacou, subrepticia e ardilosamente, a validade da consigna do Direito de Auto-Determinação das Nações Oprimidas, impulsionando atividades rupturistas e intriguistas em favor da palavra de ordem “Luta de Massas Revolucionárias do Proletariado contra o Capital Contra Todas as Anexações” e contra “Atos Nacionais de Violência”.

Contra esse posicionamento de Radek, Lenin assinalou, precisamente :

 

“O Manifesto de Zimmerwald, tal como a maioria dos Programas ou das Resoluções Táticas dos partidos sociais-democráticos, proclamam o Direito de Auto-Determinação das Nações.

O Companheiro Parabellum(i.e. Radek) declara, nos Nrs. 252 e 253 do “Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna)”, como ilusória a “Luta contra o Direito de Auto-Determinação Não-Existente” e o opõe à “Luta de Massas Revolucionárias do Proletariado contra o Capital”, na medida em que assegura que “somos contra as anexações”(essa garantia é repetida cinco vezes no artigo do comp. Parabellum) como também contra “Atos Nacionais de Violência(p.412).

Marx exige a separação da Irlanda da Inglaterra – “ainda que, depois da separação, possa surgir uma federação” – e fá-lo, em verdade, não do ponto de vista da utopia pequeno-burguesa do capitalismo pacífico, não por “Justiça para a Irlanda”, senão a partir da posição dos interesses da luta revolucionária do proletariado da nação opressora, i.e. inglesa, contra o capitalismo(p. 417).”[48]

 

Nesse mesmo quadro, Radek condenou o Levante Irlandês da Páscoa de 1916, qualificando-o de Putsch, i.e. Golpe de Estado.

Acerca do tema, Lenin precisou, ao dirigir-se a Kollontai :

 

“Designar o Levante da Irlanda de  “Putsch” ( você viu K. Radek no “Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna)” ?) - e você aceita isso pacientemente?

Isso eu não posso entender. Isso eu não posso absolutamente entender.

Eis aí, pois, a prova para a pendanteria repugnante e o estúpido doutrinarismo de K. Radek no Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna) e “de seus semelhantes”.”[49]

 

Em sua renomada obra Resultados da Discussão sobre a Auto-Determinação, Lenin sublinhou, mais claramente :

 

“As concepções dos adversários da auto-determinação leva à conclusão de que a vitalidade das pequenas nações, oprimidas pelo imperialismo, já se esgotou, que elas não poderiam desempenhar nenhum tipo de papel em face do imperialismo, que o apoio de suas aspirações puramente nacionais não levaria a nada etc.

A experiência da guerra imperialista de 1914-1916 contesta faticamente conclusões desse gênero(p. 361). ...

 

 

No Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna), órgão dos militantes de Zimmerwald, inclusive de alguns esquerdistas, surgiu, em 9 de maio de 1916, por ocasião do Levante Irlandês, um artigo assinado por K. R., intitulado “Uma Canção Batida”.

O Levante Irlandês é ali declarado, nada mais nada menos, como um “Putsch”, pois “A Questão Irlandesa” teria-se tornado uma questão agrária, sendo que os camponeses haveriam-se acalmado com as reformas, o movimento nacionalista seria agora uma “um movimento puramente pequeno-burguês citadino, atrás do qual não se encontra muito de social, apesar do grande barulho que ele promoveu.

Não de se admirar que esse monstruoso julgamento em seu doutrinarismo e sua pedanteria coincida com aquele de um russo cadete, nacional-liberal, A. Kulischer(cf. Retsch, de 15 de abril de 1916, Nr. 102), o qual designou o levante igualmente como o “Putsch de Dublin(pp. 362 e 363)”.[50] 

 

Durante todo o ano de 1916, acirraram-se, agudamente, as diferenças teóricas, políticas e organizativas entre Lenin e Radek, tal como o primeiro nos informa, em suas cartas a Alexander Schliapnikov  :

 

“Os editores compremeteram o “Comunista”, pois não quiseram discutir – para uma discussão não escreveram ou prepararam o mínimo -, mas sim explorar as aspirações de Radek de entrar de contrabando, por desvios, em nosso partido. 

Tanto Radek como o pessoal de “Nashe Slovo”, bem como muitos outros dos grupos estrangeiros, entrecruzam-se para, sob o manto da discussão, provocar rupturas junto a nós, desenvolver insatisfações, entravar o trabalho (o velho jogo dos estrangeiros).

Você sabe, certamente, que Radek botou-nos para fora da redação do “Vorboten(O Precursor).

De início, acertou-se a constituição de uma redação comum de ambos os grupos : 1. os  holandeses ( talvez + Trotsky) e 2. Nós (i.e. Radek, Grigori e eu).

Essa condição assegurou-nos a igualdade na redação.

Radek intrigou durante meses a fio e impôs junto à “proprietária” (Roland-Host) que esse plano fosse retirado. Somos agora apenas colaboradores. É fato !

É adequado conceder à Radek como recompensa por esse fato o Direito de “discussão” e aos editores, o Direito de se esconder atrás de Radek ?

Isso não será nenhuma discussão, senão aborrecimento e intriga.”[51]

 

“O “Comunista” era um bloco provisório que havíamos constituído com dois grupos ou elementos : 1. com Bukharin e Co. 2. com Radek e Co.

Enquanto se pode caminhar com eles, era necessário fazê-lo.

Agora, isso já não é mais possível.

Há de se separar, provisoriamente ou, mais corretamente, recuar-se um pouco.”[52]

Criticando detidamente o método cético-jornalístico, meramente especulativo de Radek, Lenin ainda teve oportunidade de escrever a Kiknadze :

 

“Você discute sobre minha nota acerca da possibilidade de conversão também da atual guerra imperialista em uma guerra nacional.

Seu argumento ? “Teremos de defender uma pátria imperialista ... “

Isso tem alguma lógica ? Se a pátria permanece “imperialista” como pode, então, uma guerra ser nacional ??  

O palavreado acerca das “possibilidades” é, em minha opinião, admitido por Radek e pelo § 5 das Teses do Grupo “Internacional”  de modo  teoricamente equivocado.

O marxismo situa-se sobre o terreno dos fatos e não das possibilidades.

O marxista pode admitir enquanto premissa de sua política apenas fatos comprovados exata e indiscutivelmente.”[53]

 

Ao final de todo esse percurso, Lenin assinalou, de modo meridianamente claro  e incisivo :

 

“De Radek, separamo-nos na arena russo-polonesa e não o convidamos para colaborar em nosso Sbornik(Compêndio).

Assim, tinha de ser.

Agora, ele não poderá fazer nada que possa prejudicar o trabalho. ...

Estrategicamente, dou a causa por vencida.

Possivelmente, Juri + Co. + Radek + Co. irão chiar.

Allez-y, mes amis !”[54]

 

E, ainda :

 

“A má política do canalha lumpen e do crápula que não tem tanta força para confrontar-se abertamente conosco, refugiando-se com intrigas, ataques pelas costas e vulgaridades : aí você um exemplo ilustrativo do Radek é e faz.

(Um homem não se julga por aquilo que pensa ou diz de si mesmo, senão pelo que faz : pense nessa verdade marxista !).“[55]

 

Já em 19 de janeiro de 1917, poucos dias antes da eclosão da Revolução Russa de Fevereiro, visivelmente esgotado de seus dissabores com Karl Radek,  Lenin não se conteve em destacar :

 

“O idiota do Radek escreveu, há pouco, na conclamação polonesa, Befreiung Polens(Libertação Polonesa) :

a construção do Estado noa é um objetivo de luta da Social-Democracia.

Isso é mais do que idiota !

Isso é semi-anarquismo, semi-idiotice.

Não. Nós não somos, de nenhuma maneira, indiferentes em face da questão da construção do Estado, do sistema do Estado, de suas relações interativas.”

Engels seria o pai do “radicalismo passivo” ? Errado !

Você não conseguirá jamais provar isso.

(Bogdanov e Co. tentaram-no e apenas se ridicularizaram.)”[56]

 

Apesar dessas suas inúmeras tempestades de ânimos contra Radek, Lenin não encontrou, entretanto, impedientes para escrever o seguinte, em 30 de janeiro de 1917, resituando, radical e precisamente, seu posicionamento em face de Radek :

 

“Incitei Radek a ter forças para escrever uma brochura (ele ainda encontra-se aqui e – isso você provavelmente não esperou – somos bons amigos, tal como sempre, quando se trata da luta contra o “Centro(i.e. contra o Kautskyanismo)” e se não existe nenhum espaço para os subterfúgios radekistas, para o jogo em relação aos da “Direita” etc.)

Andamos durante horas por Zurique e o “apertei”.

Então, ele se mexeu e escreveu-a. ...

Publica-la-emos em separado.”[57]

 

Tendo arrebentado a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, Radek partiu da Suíça no trem blindado de Lenin e do grupo de bolcheviques que se dirigiu à Rússia,  atravessando o território alemão.

Na medida em que Radek era portador de cidadania austríaca, contavam os bolcheviques com seu impedimento de ingresso em território russo, visto que a Rússia seguia em guerra contra a Áustria. 

Sendo assim, Karl Radek e Angelica Balabanoff  foram encarregados da organização de um bureau internacional do Comitê Central do Partido Bolchevique, em Stockholm, para o impulsionamento da tarefa contatos internacionais e fomento da propaganda revolucionária na Alemanha.

Enquanto membros da Esquerda Zimmerwald, Radek e Balabanoff foram, ao mesmo tempo, incumbidos da missão de preparar o caminho para a criação de uma nova organização internacional independente

No quadro desse período de luta, Lenin assinalou acerca de Radek :

 

“O Pravda(A Verdade) traz sistematicamente notícias acerca da Alemanha que não se encontra em nenhum outro jornal.

«De onde e como o Pravda recebe suas notícias especiais ? », pergunta a Retsch(i.e. um jornal cadete, buguês-liberal)”, com sua fisionomia grave, em um artigo, dotado de um título muito elucidativo “Uma Informação Estranha”.

De onde, Senhores Caluniadores ?

Dos telegramas e cartas do nosso correspondente, comp. Radek, um social-democrata polonês que passou uma série de anos nas prisões czaristas, que atuou mais de dez anos nas fileiras da Social-Democracia Alemã e foi expulso da Alemanha em virtude de agitação revolucionária contra Wilhelm e contra a guerra. Radek mudou-se especialmente para Stockholm para nos informar, a partir de lá.”[58]

 

Não tomando parte diretamente no Levante Armado de Petrogrado, de 1917, Radek foi encontrado, pela primeira vez, nessa cidade, em outubro de 1918.

Nessa ocasião, Karl Radek aderiu, formalmente, ao Partido Bolchevique, sendo encarregado, imediatamente, por Tchitcherin, da direção da Divisão Central Européia do Comissariado das Relações Exteriores.

Sob sua competência encontrava-se a organização de propaganda política entre os prisioneiros de guerra

Nesse quadro, Radek patrocinou a Brigada Liebknecht, formada entre alemães detidos nos campos de concentração siberianos e organizou grandes manifestações em Moscou, onde delegados dos campos declaravam sua adesão à Revolução de Outubro de 1917, formando comitês revolucionários por nacionalidades.  

A esse tempo, Radek passou a redigir nas colunas do Izvestia(Notícias), assinando com o nome de Viator.

A seguir, Radek tomou parte das tratativas de Brest-Litovsk, a partir de 26 de novembro de 1917, enquanto membro especialista para questões polonesas da delegação bolchevique, encabeçada por Trotsky.

Nesse episódio, Radek notabilizou-se por sua postura agressiva, sarcástica e hostil em face do Estado-Maior Alemão

As negociações de Brest-Litovsk representaram, inquestionavelmente, um ponto relevantíssima gravidade para todas as elaborações intelectuais e políticas futuras de Karl Radek.

De retorno à Rússia, Karl Radek fundiu-se em um bloco político com N. Bukharin, M. S. Uritski, A. Joffe, G. Lomov e outros, visando a atacar, sistematicamente, a política de Lenin e Sverdlov acerca da conclusão do Tratado de Paz de Brest-Litovsk[59].

Redigindo as páginas de “Kommunist”,  Radek dedicou-se à propaganda da consigna de Guerra Revolucionária contra o Imperialismo Alemão. 

Nesse contexto, Lenin atacou-o, metodicamente, denunciando-o como um deplorável esquerdista que renegava suas próprias responsabilidades :

 

“Nossos “esquerdistas” lamentadores que, ontem, surgiram com seu próprio jornal “Kommunist” (dever-se-ia acrescentar : comunista da época pré-marxista), querem se subtrair ao ensinamento e às lições da história, esquivando-se da responsabilidade.

Inúteis idiotices ! Não conseguiram esquivar-se.

Essas pessoas amontoam-se apenas, preenchem as colunas do jornal com artigos inumeráveis e esfalfam-se, com o suor de seus rostos.

Não poupam “nem sequer” negritos de impressão, para qualificar a “teoria” de “tomar fôlego” como uma “teoria” ruim e insustentável.

Mas, ah ! Seus esforços não são capazes de invalidar fatos. Fatos são coisas duras, tal como assinala, corretamente, um provérbio inglês.

Fato é que, desde 3 de março, quando os alemães, a 1 h. da manha, suspenderam suas operações militares, até 5 de março, às 7 hs. da noite, quando escrevo essas linhas, temos tomado fôlego e utilizamos já esses dois dias para uma defesa enérgica (não expressada em frases, senão com fatos) da pátria socialista(p. 64). ...

 

 

Nossos “esquerdistas” lamentadores que se furtam aos fatos, às lições dos fatos e da responsabilidade, procuram ocultar ao leitor o passado mais recente, totalmente fresco, historicamente significativo, camuflando-o com coisas supérfluas e  transcorridas há muito tempo.

Um exemplo : Radek recorda, em seu artigo, ter escrito em dezembro (em dezembro!), que seria necessário salvar o exército a se manter, tendo redigido acerca desse tema em seu “Memorando ao Conselho dos Comissários do Povo”.

Não tive a possibilidade de ler esse escrito e pergunto-me : Por que Karl Radek não o publica inteiramente ? Por que não declara, pura e simplesmente, o que entendeu, outrora, por uma  “Paz de Compromisso” ? Por que não se recorda do passado mais próximo quando, no “Pravda(A Verdade)”, falou acerca de sua ilusão ( a pior de todas ) relativa a ser possível concluir uma paz com os imperialistas alemães, sob a condição de entrega da Polônia ?

Por que ? Porque os “esquerdistas” lamentadores são forçados a camuflar os fatos que desmascaram sua responsabilidade, i.e. deles, dos “esquerdistas”, pela propagação de ilusões, as quais ajudaram praticamente aos imperialistas alemães e impediram o crescimento e o desenvolvimento da Revolução na Alemanha(p. 65). ...

Quem, porém, disso não se recorda, quem não ouvi acerca disso, remetemos a um documento que agora se tornou um pouquinho mais valioso, interessante e instrutivo do que as penadas de Karl Radek de dezembro.

Esse documento, ocultado aos leitores lamentavelmente pelos “esquerdistas”, é o resultado (em primeiro lugar) das votações de 21 de janeiro de 1918 na Sessão do CC de nosso partido, juntamente com a atual Oposição “de Esquerda” e (em segundo lugar) a votação do CC de 17 de feveiro de 1918.

Quando, em 21 de janeiro de 1918, foi tratada a questão relativa a dever-se romper, imediatamente, as tratativas com os alemães, votaram (dentre os colaboradores do pseudo-esquerdista “Kommunist”) apenas Stukov a favor. Todos os demais votaram contra. ...

Quando, em 17 de feveiro de 1918, foi tratada a questão de saber quem era a favor da Guerra Revolucionária, Bukharin e Lomov recusaram-se “a participar da votação em face de uma tal colocação da questão”. A favor da proposta, não votou ninguém.

Isso é um fato(p. 66).

Em minhas teses de 7 de janeiro de 1918, predisse, com total claridade, que, em virtude da condição de nosso exército (a qual não poderia ser melhorada com o palavreado dirigido “contra” as massas camponesas esgotadas), a Rússia teria de concluir uma paz separa de má qualidade, caso não aceitasse a Paz de Brest.

Os “esquerdistas” caíram na armadilha da burguesia russa que carecia de meter-nos em uma guerra, a qual, para nós, resultaria a mais desfavorável possível(p.67).”[60]       

 

 

 

 

No mesmo sentido, Lenin sintetizou, historicamente, o balanço dos momentos de embate contra os “esquerdistas lamentadores” da seguinte forma, em sua célebre brochura O Radicalismo de Esquerda. Enfermidade Infantil do Comunismo, surgido em 1920 :

 

“Se olharmos em retrospectiva para o período histórico, completamente concluído, cujo contexto com os próximos períodos já se encontra às claras, torna-se evidente que os bolcheviques não seria capazes de manter unido, nos anos de 1908 a 1914, o sólido núcleo do partido revolucionário do proletariado (sem falar, então, em fortalecê-lo, desenvolvê-lo, consolidá-lo), caso tivessem imposto, no quadro da luta mais impiedosa, a concepção de que era imprescindível combinar, necessariamente, as formas legais com as formas ilegais de luta e participar, incondicionalmente, no parlamento arqui-reacionário, bem como nas fileiras de outras instituições amarradas com leis reacionárias (caixas de seguro etc.)

Em 1918, não se chegou a uma ruptura.

Os comunistas “de esquerda” formaram, outrora – e , em verdade, não por longo tempo -, um grupo particular ou “fração” no interior de nosso partido.

No mesmo ano de 1918, os mais renomados representantes do “comunismo de esquerda”, p.ex. os comps. Radek e Bukharin, admitiram, abertamente, o seu erro.

Eles haviam acreditado que a Paz de Brest seria um compromisso com os imperialistas, principiologicamente inadmissível e prejudicial para o partido do proletariado revolucionário.

Tratava-se, de fato, de um compromisso com os imperialistas, porém precisamente de um compromisso incondicionalmente necessário, no marco das condições dadas...

Quando, porém, os mencheviques e os sociais-revolucionários, na Rússia, os Scheidemanns (e, em grande medida, também os kautskyanos), na Alemanha, Otto Bauer e Friedrich Adler (para nem falar dos Srs. Renner e cia.), na Áustria, os Renaudel, Longuet e cia., na França, os fabianos, os “independentes” e os “trudowikis”(i.e. os trabalhistas), na Inglaterra, concluíram compromissos, nos anos de 1914 a 1918 e 1918 a 1920, com os bandidos de sua própria burguesia, às vezes também com os “aliados” da burguesia, contra o proletariado revolucionário de seu país, agiram todos esses Srs. como cúmplices do banditismo.

A conclusão é clara : rechaçar “por princípio” compromissos, negar meramente toda admissibilidade de compromissos, seja da forma que forem, é uma infantilidade que deve ser levada severamente a sério.[61]

 

Tal disputa política travada por Lenin contra os “esquerdistas lamentadores”, não o impediu, porém, de pleitear a nomeação de Bukharin e de Radek enquanto Comissários Políticos para o Conselho Central dos Sindicatos de Toda Rússia, alegando precisamente o seguinte contra os que se opunham a tal medida  :

 

“Talvez vocês conheçam melhores teóricos do que Radek e Bukharin.

Então, dêem-nos alguns.

Talvez vocês conheçam melhores pessoas que estejam familiarizados com o movimento sindical. Então, dêem-nos algumas.

Como ? o Comitê Central não deve ter qualquer Direito de enviar pessoas nos sindicatos que estão familiarizadas, teoriamente, da maneira mais profunda, com o movimento sindical, conhecem a experiência alemã e são capazes de fazer valer sua influência se é adotada uma linha equivocada ?

Um Comitê Central que não cumpra essa tarefa, não seria capaz de dirigir !”[62]

 

De toda sorte, a luta político-jornalística de Radek em torno da Paz de Brest-Litovsk viria a marcar, entretanto, o seu profundo giro de concepção acerca do dinâmica das ações revolucionárias das massas proletárias rumo à consagração da revolução socialista internacional.

Tendo alcançado o seu ápice de entusiasmo revolucionário no início de 1918, materializado em sua doutrina ideológica da Guerra Revolucionária contra o Imperialismo Alemão, Radek foi assaltado, nos mêses e anos subseqüentes, por um marcante ceticismo jornalístico-pessimista relacionado com o futuro de lutas do comunismo revolucionário em todo mundo, ao ver-se diante da necessidade de aceitar o posicionamento de Lenin e Sverdlov sobre a Paz de Brest-Litovsk.

Tal postura cético-pessimística de Radek surgia, esporadicamente, entrecortada, entretanto, não apenas por algumas de suas apreciações entusiasticamente combativas, fundadas em posições de Lenin, Sverdlov e Trotsky, do que são exemplos suas caracterizações evanescentes acerca das Revoluções Bávara e Húngara, de 1919, como forma de diferenciar-se das posições de Paul Levi, embora Radek e Levi compartilhassem a direção do Partido Comunista Alemão(KPD) ou ainda sua luta aberta, imprevista e supreendente, ao lado da corrente de esquerda oposicionista alemã contra as posições políticas oportunistas de Paul Levi, em janeiro de 1921.

Essa sua postura projetava-se, além disso, episodicamente, em erráticos momentos ultra-esquerdistas, do que são exemplos seu lastimável entusiasmo pela Guerra Revolucionária contra a Paz de Brest Litovsk, nos primeiros meses de 1918, e seu fugaz arrebatamento em prol da Ativação Revolucionária do Partido Comunista da Alemanha(KPD), no quadro da Ação de Março de 1921, conduzindo à sua sustentação passageira da Teoria da Ofensiva, de inspiração Bukharinista e belakuniana.

Tais inquietações repentinas de combatividade de Karl Radek, registradas a partir da eclosão das revoluções russas, deviam-se, porém, muito mais às suas ambições estratégicas no quadro de suas lutas político-partidárias internas no PC da URSS e no PC da Alemanha (KPD) do que de sua convicção íntima nos frutos eventualmente produzidos pelo esquerdismo revolucionário.

Todos esses traços de oscilação da orientação política de Radek são, entretanto, plenamente conformadores e caracterizadores de seus posicionamentos hesitantes, multiformes, oscilantes, reticentes, versáteis.       

Entretanto, em sua perspectiva política mais global, de matiz jornalístico cético-pessimístico, é importante ter claro que Radek passou a teorizar, ideologicamente, já após a conclusão da Paz de Brest-Litovsk, a possibilidade de a Ditadura Revolucionária do Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser capaz de resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.

O aguçar-se do terror vermelho, o fechamento da Assembléia Constituinte, os eventos surpreendentes da Guerra Civil Soviética, prolongada por vários anos, contribuíram ainda mais para fortalecer as posições hesitantes e reticentes de Radek.

Se reticente quanto à celebração da Paz de Brest-Litovsk, Radek, enquanto um dos principais arautos da conclusão do Tratado de Rapallo, de 16 de abril de 1922, entre a Rússia Soviética e a República Imperial de Weimar, conferiria interpretação vulcanicamente estatal-colaboracionista, de caráter russo-germânico e franco-britanofóbico, a esse instrumento público-internacional, em verdade, tão somente consagrador da celebração de um acordo político temporário entre o governo revolucionário de Lenin com a burguesia hostil da Alemanha, rigorosamente subordinado à estratégia geral de expansão da revolução proletária em toda a Europa, cuja essência consagrava, em primeiro plano, a solidariedade da classe trabalhadora de todos os países.

Com efeito, Lenin defendera seja a conclusão do Tratado de Brest-Litovsk, como a do Tratado de Rapallo, assim como a de todos os demais acordos do governo soviético que encabeçava, tendo como contratantes Estados Burgueses, enquanto compromissos efêmeros, necessários para ganhar-se tempo, objetivando à orquestração da revolução proletária mundial, porém, de nenhum modo, como fazia Radek, enquanto freios efetivos de limitação da aplicação revolucionária da tática de Frente Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores dentro do arco jurídico-constitucional, interno e internacional, estabelecido diplomaticamente pelas políticas oficiais dos Estados, considerados em si mesmos[63].

Seu afastamento, no início de 1918, das fileiras do Comunismo de Esquerda, encabeçado por Radek mesmo, em associação com Bukharin e Uritski, levou-o a, posteriormente, a partir dos primeiros meses de 1920 em diante, a combater, decididamente, até mesmo alguns de seus velhos aliados alemães, solidamente ultra-esquerdistas, como Anton Pannekoek e Hermann Gorter, protagonistas da ruptura pela esquerda do Partido Comunista da Alemanha(KPD), rumo à fundação do Partido Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), em abril de 1920, bem como a antonizar o agrupamento holandês Tribunista, de Henriette Roland-Host.  

Marcado essencial e fundamentalmente por essa postura psicológico-política de linhagem cético-pessimística, revolucionário-administrativista e marcadamente estratégico-diplomática, Radek foi enviado à Alemanha, enquanto membro de uma missão partidária bolchevique, após a expulsão, em novembro de 1918, da Delegação Diplomática Russa, dirigida por Joffe, Bukharin e Rakovsky.     

Quando tal missão foi detida em Vilna, por ordem do novo Governo Social-Democrático Alemão, apenas Karl Radek logrou, com base em sua cidadania austríaca, acessar o território alemão.

Na Alemanha, Karl Radek, representando o PC da URSS, na qualidade de membro de seu Comitê Central, tomou parte no Congresso Fundacional do Partido Comunista Alemão(KPD-Spartakus), em dezembro de 1918.   

 

 

Aqui, Radek defrontou-se novamente com sua velha oponente de lutas partidárias na Polônia e na Alemanha, Rosa Luxemburg, sendo que, porém, o que agora, mais uma vez, dividia-os era sua distinta apreciação que possuíam relativamente à maneira de participação de Karl Liebknecht, Georg Lebedour e Richard Müller no seio do movimento dos comitês de fábrica, considerada por Luxemburg como de índole marcadamente putschista.

 

 

 

CAPÍTULO II

KARL RADEK NOS PRIMEIROS ANOS POSTERIORES À FUNDAÇÃO DO PCA (KPD)

E A GREVE GERAL SANGRENTA DE 1919 :

A GÊNESE HISTÓRICA DA VERSÃO DE RADEK ACERCA DA TÁTICA DE FRENTE ÚNICA

 

 

Antes da explosão da I Guerra Mundial Imperialista, o movimento dos trabalhadores alemães era o mais poderoso do mundo e servia de paradigma para muito partidos socialistas.

No último congresso do Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD), de Jena, em 1913, nas vésperas da deflagração da conflagração bélica de 1914, esse partido contava com cerca de 1 milhão de membros, 90 jornais diários e conformava, com seus 4 milhões e 250 mil votos, o maior partido alemão de todos os tempos.

110 deputados federais, 220 deputados estaduais e 2.886 vereadores representavam o partido da Social-Democracia Alemã no parlamento do país.

Os sindicatos associados livremente à Social-Democracia Alemã incorporavam cerca de 2,5 milhões de trabalhadores e possuíam, sob seu controle, um patrimônio de cerca de 88 milhões de marcos alemães[64].

Com seu crescimento, o Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD) havia, entretanto, profundamente deformado-se, sem que isso se tornasse manifestamente evidente à primeira vista.

Para o público externo em geral, a Social-Democracia Alemã, herdeira legítima das tradições revolucionárias de Marx e Engels, seguia representando um partido autenticamente radical-revolucionário[65].

 

Nada obstante, tal organismo político transformara-se, em seu interior, em um partido claramente reformista que, apoiando-se sobre o proletariado alemão e falando em seu nome, secundarizava o objetivo de conquista do socialismo em relação à perspectiva de movimentos em favor da obtenção de reinvidicações sócio-econômicas imediatas.

Os principais dirigentes da Social-Democracia Alemã promoviam, além disso, a cada nova oportunidade que surgia, a mais integral deformação oportunista das mais fundamentais premissas estratégicas do marxismo-revolucionário, com principal destaque para a questão do levante armado da classe trabalhadora, visando à implosão do Estado Burguês, a imprescindibilidade de instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla Democracia Proletária, bem como a necessária compreensão do fenômeno da violência revolucionária para a derrubada da burguesia, enquanto fenômenos de transição inevitáveis para o atingimento da sociedade socialista.

Já mesmo no Projeto do Programa de Coalizão de Gotha, de 1875, cuja elaboração foi, em grande parte, inspirada intelectualmente pelos lassalleanos, sustentada enfaticamente por Eduard Bernstein[66], admitida politicamente, apesar de leves e ligeiras críticas, por August Bebel e Wilhelm Liebknecht – e rechaçada agudamente por Marx e Engels[67] -, a Social-Democracia Alemã, rumando para a fusão dos eisenachianos e lassaleanos, não reivindicou absolutamente, em seu “Congresso do Compromisso de Gotha”, ocorrido entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, a consigna programática de Ditadura Revolucionária do Proletariado, bem como a indispensabilidade de destruição armada do aparelho de Estado Burguês pelo proletariado – apesar da experiência da Comuna de Paris - , mas sim estatuiu a edificação de um Estado Popular Livre, a ser introduzido em substituição do então existente Estado Prussiano, assentado, porém, inevitavelmente, sobre a dominação de classe burguesa-capitalista[68].

Em sua renomadíssima carta a August Bebel, redigida entre 18 e 28 de março de 1875, Friedrich Engels teve oportunidade de escrever nitida e irrefutavelmente acerca do tema :

 

“O Estado Popular Livre transformou-se em Estado Livre.

Considerando-se em sentido gramatical, um Estado Livre é aquele em que o Estado é livre em face de seus cidadãos, i.e. um Estado com governo despótico.

Dever-se-ia abandonar todo o palavreado acerca do Estado, particularmente desde a Comuna que, em sentido próprio, já não era mais nenhum Estado.

O Estado Popular foi-nos atirado na cara, até não se poder mais, pelos anarquistas, ainda que os escritos de Marx contra Proudhon e, posteriormente, o “Manifesto Comunista” digam diretamente que com a introdução da ordem social socialista o Estado dissolve-se por si mesmo e desaparece.

Uma vez que o Estado é, porém, apenas uma instituição transitória da qual se lança mão na luta, na revolução, a fim de reprimir violentamente seus adversários, torna-se puramente absurdo falar-se de um Estado Popular Livre : enquanto o proletariado ainda necessita do Estado, dele necessita não no interesse da liberdade, mas sim para a repressão de seus adversários e, tão logo pode-se falar em liberdade, deixa o Estado de existir enquanto tal

Por essa razão, proporíamos colocar, em todos os lugares, ao invés de Estado “Gemeinwesen(comunidade)”, uma boa e velha palavra alemã que pode muito bem representar a “Comuna” francesa[69].”

 

Em uma carta dirigida a Ferdinand Domela Nieuwenhuis, Karl Marx, ainda em 1881, dois anos antes de sua morte, teve a oportunidade de confirmar sua concepção de luta do revolucionária do proletariado, no quadro da perspectiva de formação de um Governo Socialista :

 

“Não podemos resolver nenhuma equação que não inclua em seus dados os elementos de sua solução.

Além disso, os embaraços de um Governo surgido repentinamente através de uma vitória popular não são, de nenhuma forma, algo especificamente “socialista”. Pelo contrário.

Os políticos burgueses vitoriosos sentem-se, imediatamente, embaraçados com sua “vitória”, quando o socialista pode intervir, no mínimo, desembaraçadamente.

Em uma coisa, você pode acreditar :

 

 

 

um Governo Socialista não assume o timão de um país sem situações tão desenvolvidas em que possa tomar sobretudo as medidas necessárias para atordoar (no original alemão : ins Bockhorn jagen, i.e. lançar no corno do bode) tanto a massa da burguesia que  o primeiro desideratum(i.e. objetivo) seja conquistado : tempo para uma ação cerrada.

Você me remeterá talvez para a Comuna de Paris.

Porém, independentemente do fato de que isso se tratou meramente de uma sublevação de uma cidade, em condições excepcionais, a maioria da Comuna não era, de nenhuma forma, socialista e nem podia sê-lo.

Com uma mínima quantidade de common sense(i.e. de senso comum), ela teria, entretanto, podido alcançar um útil compromisso para toda a massa popular – atingível apenas outrora.

Tão somente a apropriação do Banque de France teria colocado, com terror, um fim à arrogância de Versalhes etc. etc. ...

A visão científica da desagregação inevitável da ordem social dominante, sempre em processamento diante de nossos olhos, as massas cada vez mais flageladas com sofrimentos pelos velhos fantasmas de governo, o concomitante desenvolvimento positivo, gigantescamente progressivo, dos meios de produção – isso tudo já basta como garantia para que, no momento da irrupção de uma revolução realmente proletária, serão dadas também as condições de seu direto, próximo – ainda que seguramente não idílico - modus operandi(i.e. modo de agir).”[70]

 

A concepção manifestamente oportunista da Social-Democracia Alemã acerca da essência do Estado e do papel da violência revolucionária -  considerada por Karl Marx enquanto parteira de toda velha sociedade que se encontra grávida de uma nova -, foi ocultada plenamente, a seguir, passando em brancas nuvens, pelo Programa de Erfurt, de 1891, considerado o Evangélio do Reformismo da II Internacional.

Nenhuma palavra acerca da Ditadura Revolucionária do Proletariado e da necessidade de preparação da luta armada proletária – quanto menos acerca da questão da Democracia Burguesa, enquanto forma de Estado em que a última luta decisiva do proletariado há de ter lugar  - foi consagrada pelo Programa de Erfurt.

Voltando sua atenção para as resoluções do Programa de Erfurt, Karl Kautsky, à época o principal mentor ideológico da Social-Democracia Alemã e da II Internacional, assinalou, expressa e cabalmente, em 1892 :

 

“Uma tal derrubada (i.e. a derrubada do poder político pelo proletariado) pode assumir as formas mais variadas, conforme as relações sob as quais se executar.

De nenhuma maneira, ela tem de necessariamente estar vinculada a atividades de violência e a derramento de sangue.

Já existiram casos na história mundial em que as classes dominantes foram particulamente compreensivas – ou particularmente fracas e medrosas -, de modo que abdicaram voluntariamente em face de uma situação de coação.”[71]   

 

 

E com efeito !

Dando embasamento às palavras de Karl Kautsky, é de destacar-se que Wilhelm Liebknecht, no quadro do Congresso de Erfurt, realizado em 1891, há um ano antes da publicação da obra em referência de Karl Kautsky, pronunciou-se, categoricamente, da seguinte forma acerca da temática em destaque:

 

“O elemento revolucionário não se situa nos meios, mais sim no objetivo.

A violência é, desde há séculos, um fator reacionário.”[72]

  

Wilhelm Liebknecht negava, além disso, a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do Proletariado para o atingimento do socialismo – admitindo-a apenas como medida excepcional em caso de guerras[73].

Com tal concepção claramente oportunista de Wilhelm Leibknecht, encontrava-se também plenamente de acordo August Bebel, o mais célebre e renomado dirigente operário da Social-Democracia Alemã de então.

Em seu pronuncionamentos no Congresso de Erfurt, de 1891, August Bebel manifestou sua crença de que, mediante propaganda e agitação, oral e escrita, bem como por meio de atividade junto ao parlamento do Estado, o proletariado lograria chegar ao poder.

Nessa mesma oportunidade, Bebel declarou-se, formalmente, da maneira mais peremptória, contra o emprego de métodos revolucionários violentos para a tomada do poder político por parte do proletariado[74].

Em suma : Wilhelm Liebknecht, August Bebel, e Karl Kautsky expressavam, já na última década do século XIX, concepções irrevogavelmente oportunistas e notoriamente incompatíveis com os princípios revolucionários fundamentais de Marx e Engels.

As posições dos fundadores do socialismo científico quanto ao papel da violência revolucionária na história, bem como quanto à tarefa da luta proletária para destruição do Estado Burguês, passaram a colidir diamentralmente com as posições dos mais prestigiados dirigentes da Social-Democracia Alemã e da II Internacional, do século passado.

Acerca do pano de fundo dos métodos utilizados pela corrente oportunista de Liebknecht, Bebel e Kautsky para impulsionarem suas disputas políticas de outrora, dá-nos conta, precisamente, Friedrich Engels, em 3 de abril de 1895, poucos meses antes de sua morte, em uma de suas cartas enviadas a Paul Lafargue, ao protestar contra as amputações literárias realizadas por Wilhelm Liebknecht em sua Introdução à Guerra Civil na França :

 

“Liebknecht permitiu-se a aplicar-me um golpe de mau gosto.

Ele retirou de minha introdução aos ensaios de Marx sobre a França, de 1848-1850, tudo aquilo que lhe servia para a apoiar, a todo custo, a tática pacífica e refutadora da violência.

Essa tática ele adora pregar desde algum tempo e particularmente nesse momento em que, em Berlim, estão sendo preparadas Leis de Exceção.

Recomento uma tal tática apenas e tão somente para a Alemanha de hoje, sendo que ainda com reservas consideráveis.

Para a França, a Bélgica, a Itália e a Áustria, essa tática não é adequada, como um todo, e, para a Alemanha, pode ela se demonstrar inaplicável já amanhã.

Peço-lhe, portanto, esperar por todo o artigo, antes de você o julgar – provavelmente ele aparecerá no Neue Zeit(Novo Tempo) -, sendo que espero, de um dia para o outro, exemplares das brochuras.

É lamentável que Liebknecht veja apenas o preto e o branco.

As nuances não existem para ele,

Além disso, as coisas estão quentes na Alemanha, o que promete um fim de século grandioso. ...”[75]

 

Acerca dessa carta de Engels a Lafargue, importa ainda assinalar que, examinando-se o correio dirigido por Richard Fischer a Engels, em 6 de março de 1895, é de verificar-se a decisão da Presidência da Social-Democracia Alemã da época no sentido de que seria imperioso fosse moderado o tom por demais revolucionário empregado por Engels em sua Introdução à Luta de Classes na França, de 1848 a 1850, de Karl Marx, aludindo-se ao perigo de reedição de uma Lei contra os Socialistas.

Como resposta a Fischer, Engels fortaleceu, em 8 de março, seu ponto de vista inequivocamente proletário-revolucionário, voltando-se, claramente, contra a posição centrista-oportunista da direção social-democrática, consistente em agir, politica e estrategicamente, sempre nos limites da legalidade burguesa.

Visando à publicação da Introdução no Neue Zeit(Novo Tempo), órgão teórico da Social-Democracia Alemã, Engels resolveu-se por alterar e suprimir certas formulações terminológicas mais sobressalientes de seu texto original, referentes à inevitabilidade da iminente luta armada a ser travada pelo proletariado alemão, sem modificar, entretanto, o sentido e significado inapelavelmente revolucionário de sua produção literária. 

Entretanto, alguns dirigentes sociais-democráticos, entre eles Wilhelm Liebknecht e Eduard Bernstein, aproveitaram-se do fato de Engels ter operado alterações redacionais para, imprimirem nas colunas do Vorwärts(Avante), órgão quotidiano da Social-Democracia Alemã, o famoso artigo intitulado “Como se faz Revolução Hoje”, portador de várias amputações linguísticas do texto original da Introdução, procurando apresentar seu autor, i.e. Friedrich Engels, como um “pacífico venerador da legalidade quand même”.   

Depois da morte de Engels, em 5 de agosto de 1895, Eduard Bernstein, encarregado da administração do conjunto das obras literárias de Engels, negou-se a publicar o texto original não-alterado da Introdução, em sua versão integral.

Desse modo, os principais dirigentes revisionistas da Social-Democracia Alemã colocaram em circulação a lenda pueril de que Engels haveria, no final de sua vida, sopesado devidamente seus antigos pontos de vista revolucionários, renegando-os em favor do reformismo[76].     

 

Em sua luta contra a falsificação política, marxista-revisionista, do Programa de Erfurt relativa à questão da conquista do poder político e da necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do Proletariado para o atingimento do socialismo, falsificação essa defendida não apenas pelos centristas-oportunistas sociais-pacifistas, i.e. por Wilhelm Liebknecht, August Bebel e Karl Kustsky, senão ainda pelos sociais-reformistas da Social-Democracia Alemã, esses últimos representados, antes de tudo, por Eduard Bernstein e Conrad Schmidt escreveu Rosa Luxemburg, já em 1903, de modo claro e preciso :

 

„Partindo do fundamento do socialismo científico de que „a libertação da classe trabalhadora pode ser apenas obra da classe trabalhadora“, a Social-Democracia reconhece que subversão, i.e. a revolução para concretização da reconformação socialista, pode ser realizada apenas pela classe trabalhadora enquanto tal, e, em verdade, enquanto propriamente a ampla massa, sobretudo a massa do proletariado industrial.

A primeira ação da transformação socialista tem de ser, portanto, a conquista do poder político através da classe trabalhadora e a edificação da Ditadura do Proletariado, necessária incondicionalmente à materialização das medidas de transição.“[77]

 

Assim, importa assinalar, em linhas gerais, que, já a partir dos primeiros anos do século do século XX, três correntes doutrinariamente sedimentadas combatiam no seio da Social-Democracia Alemã da época:

 

1.    os reformistas economicistas-parlamentaristas, defensores da colaboração de classes entre proletários e burgueses, comandados por Eduard Bernstein, clamando pela ampla revisão dos fundamentos da teoria de Marx e Engels, em benefício praticamente das posições doutrinárias de Ferdinand Lassalle[78] ;

2.    os centristas-oportunistas, repudiadores da violência proletário-revolucionária e protagonistas da democratização do Estado Burguês, coroada por uma pretensa independência política do partido proletário e um pretendido Governo dos Trabalhadores como forma de ascensão ao socialismo, comandandos por Karl Kautsky e pelos mais renomados dirigentes políticos alemães do proletariado, August Bebel e Wilhelm Liebknecht, empenhados em conciliar a política quotidiana reformista com a doutrina de Marx e Engels, desde um ponto de vista constitucional-pacifista ;

3.    os proletários revolucionários, fundados, porém, na defesa dos direitos e liberdades fundamentais de todos os indivíduos e organizações sociais, entre os quais figuravam Rosa Luxemburg, Karl Liebknecht, Franz Mehring, Clara Zetkin, Leo Jogliches, Julian Marchlevski, ocupados em combater, pricipiologicamente, o reformismo economicista e o centrismo oportunista na Social-Democracia Alemã, retomando e defendendo diversas bases fundamentais da teoria intelectual e da prática política proletário-revolucionária internacionalista de Marx e Engels, de modo a inclinararem-se em direção das posições marxistas revolucionárias de Lenin.

       

Nesse contexto, haveria de germinar, no seio das correntes revisionistas, i.e. reformistas e centristas-oportunistas, da Social-Democracia Alemã, delas se diferenciando expressivamente, já no curso da primeira década do século XX – sobretudo após a indicação de Friedrich Ebert, em 1905, para o posto de Secretário da Presidência do Partido -, e impor-se, crescentemente, como corrente inquestionavelmente dominante, em particular a partir da morte de August Bebel, em 13 de agosto de 1913, um ala mais propriamente social-chauvinista, encabeçada por Friedrich Ebert, Philip Scheidemann e Gustav Noske.

Essa corrente social-chauvinista, aprofundando a revisão da doutrina do marxismo, passou a considerar como sua principal tarefa política a defesa do Princípio de Defesa da Pátria(Prinzip der Vaterlandsverteidigung), contra as potenciais nações imperialistas inimigas da Alemanha, em total detrimento da defesa dos interesses materiais de classes do proletariado revolucionário.

Quando em 4 de dezembro de 1914, Karl Liebknecht quebrou a férrea disciplina partidária da Social-Democracia Alemã - empenhada desde o início da I Guerra Mundial, em 4 de agosto de 1914, em postular a Aprovação dos Créditos de Guerra(Bewillingung der Kriegskredite) – abstendo-se de votar esse projeto social-chauvinista, abriu-se o caminho para a fundação de um novo organismo marxista-revolucionário em solo alemão. Em 2 de dezembro de 1914, votou, pela primeira vez, contra os créditos de guerra.

Tal novo agrupamento de proletários revolucionários haveria de surgir, inicialmente, sob a bandeira do Gruppe Internationale(Grupo Internacional), que, desde logo, em razão de seu órgão político, denominado Spartakusbriefe(As Cartas de Spartakus), passou a ser denominado de Spartakusbund(Liga Spartakus).

Esse agrupamento, encabeçado por Luxemburg e Liebknecht, tendo-se aproximado da Esquerda de Zimmerwald, a partir de setembro de 1915, porém não a ela expressamente aderindo, optou por ingressar, então, no primeiro semestre de 1917, no Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD),  fundado a essa época como fruto tardio da ruptura de março de 1916, encabeçada pelos agora sociais-pacifistas Kautsky, Haase e Bernstein, contra os novos dirigentes sociais-chauvinistas da Social-Democracia, reunidos em torno de Ebert, Scheidemann e Noske.

Nada obstante, já em 30 de dezembro de 1918, reuniu-se, na Sala de Festas da Câmara dos Deputados de Berlim, o Congresso de Fundação do Partido Comunista da Alemanha(KPD – Liga Spartakus).

Em uma sessão fechada, ocorrida nas vésperas, a Liga Spartakus posicionara-se apenas com três votos contra a saída do Partido Social-Democrático Independente(USPD), resolvendo-se em prol da fundação de um partido próprio.

A esse projeto associou-se também o grupo dos Radicais de Brêmen, denominado Comunistas Internacionais da Alemanha, encabeçado por Paul Fröhlich e Johan Knief, redatores do jornal Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores).

Esse último agrupamento encontrava-se, em verdade, muito mais próximo do Partido Bolchevique de Lenin do que a Liga Spartakus, à época ainda dirigida pela orientação política de Rosa Luxemburg, apesar da grande simpatia que Karl Liebknecht, Clara Zetkin e Franz Mehring, desde a Revolução de Outubro de 1917, nutriram pelo bolchevismo.

Um terceiro grupo de pequena dimensão, encabeçado por Julian Borchard, denominado Socialistas Internacionais da Alemanha, igualmente próximos ao bolchevismo, já não possuiam praticamente qualquer significado existencial à época do Congresso de Fundação.

Acerca do tema, Hermann Weber assinalou o seguinte, destacando a influência de Karl Radek sobre o movimento marxista-revolucionário alemão dessa época :

 

“No interior da esquerda radical alemã formou-se, durante a guerra três grupos.

O mais expressivo (e propriamente precursor do PCA(KPD)) foi o Grupo Internacional(p. 11). ...

O segundo grupo radical, os radicais de esquerda de Brêmen, posicionavam-se muito mais próximos do que a Liga Spartakus.

Além de seu centro em Brêmen, possuíam pontos de sustentação, no norte, na Saxônia e no Reno.

Sob a direção de Johann Knief e Paul Fröhlich, editavam o Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores), um semanário legal, e concordavam com a Liga Spartakus nas questões fundamentais.

Colaboradores de Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores) eram também os dirigentes bolcheviques Lenin, Radek, Zinoviev e Bronski(p. 12).

O representante do grupo, Paul Fröhlich, aderiu, em Kienthal, à Esqueda de Zimmerwald (leninista) – diferentemente dos representantes da Liga Spartakus.

Plenamente no sentido leninista, os radicais de esquerda de Brêmen também não entraram no USPD, mas sim lutaram pela fundação de uma partido próprio da esquerda radical.

Esse grupo chamava-se, desde 1918, “Comunistas Internacionais da Alemanha”.

Um terceiro grupo da radical de esquerda situava-se, sob a direção de Julian Borchardt, um grande amigo de Radek, igualmente bem próximo dos bolcheviques.

Esses “Socialistas Internacionais da Alemanha”, como seu órgão “Lichtstrahlen(O Brilho da Luz)” não possuíam, entretanto, nenhuma influência sobre as massas digna de menção.

O próprio Borchadt já havia aderido, na Primeira Conferência de Zimmerwald, a todas as teses leninistas e recusou-se, também, a ingressar no USPD.

A influência de Karl Radek, que já havia atuado na Alemanha antes da guerra,  foi decisiva para o posicionamento pró-leninista de ambos os grupos mencionados por último.

Apesar de todas as reservas de Rosa Luxemburg, a Liga Spartakus fez, a todo tempo, propaganda para os bolcheviques, após a Revolução Russa, pois essa liga situava-se, fundamentalmente, sobre o terreno da Revolução de Outubro(p.13).”[79]

  

No Congresso Fundacional do Partido Comunista da Alemanha(KPD – Liga Spartakus) tomaram parte 100 participantes, dentro os quais 83 delegados eleitos por de 43 localidades.

Na ordem do dia, apresentavam informes Karl Liebknecht, acerca da crise do USPD, Paul Levi, sobre a Assembléia Nacional da República, Rosa Luxemburg, discorrendo sobre o programa e situação política, Hugo Eberlein, sobre a organização do partido, Paul Lange, acerca das lutas econômicas e Hermann Dubcker, tratando das conferências internacionais.

Wilhelm Pieck e Jacob Walcher foram indicados para a Presidência do Congresso.

No quadro de uma missão clandestina em Berlim, Radek veio a tomar parte, em dezembro de 1918, do Congresso de Fundação do Partido Comunista da Alemanha(KPD – Liga Spartakus), sendo que contribui, ativamente, para o aceleramento da decisão fundacional[80].

Com grande entusiasmo, o Congresso Fundacional saudou Karl Radek, que interviu na qualidade de representante do Governo Revolucionário Bolchevique, provocando tempestuosos aplausos.

Radek assinalou, nessa oportunidade, que o novo PCA(KPD) surgiria como um partido débil, porém não mais débil do que o Partido Bolchevique, em abril de 1917.

 

“Para o vosso Congresso, olhamos com grande esperança(p. 18).

Não como se a Revolução Russa se permitisse a ser copiada ...

O caminho da classe trabalhadora será distinto em cada um dos diferentes países(p.31).”[81]    

 

Em seu discurso proferido nesse Congresso Fundacional é plenamente possível identificar-se argumentos sibilinos de Radek no sentido de que um processo revolucionário do proletariado alemão já não se apresentava como iminente, apesar de a revolução mundial caminhar a passos rápidos. Com efeito :

 

“Nada mais provoca um tal entusiasmo junto aos trabalhadores russos do que quando lhe dizemos que o tempo poderá vir em que os trabalhadores alemães serão chamados para ajudá-los e em que vocês terão de lutar com eles no Vale do Ruhr, tal como eles, de nosso lado, nos Urais.

Estamos convencidos de que a revolução mundial virá em passo acelerado, que é mentira ser o bolchevismo a enfermidade dos povos vencidos.

Isso significaria que a classe trabalhadora das nações vitoriosas teria de permanecer escrava para sempre.

Estamos convencidos que a guerra civil internacional libertar-nos-á da luta entre os povos.

Porém, ninguém pode calcular a dinâmica de desenvolvimento.”[82] 

 

Desvendando praticamente o significado enigmático de seu discurso retro-mencionado, Radek opôs-se, logo no mês seguinte, à iniciativa de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg de apoiar a Greve Geral de Janeiro de 1919, com ocupação de prédios (Vorwärts – órgão do SPD -, Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a Tipografia  Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff) e armamento das massas, objetivando à recondução de Emil Eichhorn ao cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de Berlim, qualificando-a de putschismo blanquista, por supostamente pretender derrubar imediatamente o Governo de Ebert, Scheidemann e Noske, sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz, destruindo, de um golpe, o Estado Burguês Alemão e edificando uma República Socialista Livre dos Conselhos dos Trabalhadores, mesmo contando com a minoria da classe trabalhadora.

Com efeito, nos primeiros dias desse novo ano, foram os sociais-democratas independentes Bretscheid, Rosenfeld e Hoffman, excluídos, sumariamente, do Governo Imperial Prussiano, comandado pela Social-Democracia Alemã.

Juntamente com esse ato de exclusão, Emil Eichhorn, Presidente do Comissariado de Polícia de Berlim, igualmente adepto dos independentes, foi imediatamente deposto.

Logo a seguir, o Partido Social-Democrático Independente(USPD) e os principais dirigentes do PCA(KPD) conclamaram os trabalhadores berlinenses a mobilizaram-se e deflagarem greve.

Dos protestos operários surgiram embates armados que, embora desaconselhados pelos principais dirigentes do PCA(KPD), não vieram a ser por eles resolutamente condenados e desconvocados. 

Acerca desse evento histórico, Radek assinalou, então, com base em sua acusação de putschismo dirigida não apenas contra Karl Liebknecht, senão apenas contra Rosa Luxemburg :

 

“Em sua Brochura de Programa “O Que Quer a Liga Spartakus ?”, vocês declaram quererem apenas assumir o governo se tiverem atrás de si a maioria da classe trabalhadora.

Esse ponto de vista inteiramente correto encontra sua fundamentação no simples fato de que o Governo dos Trabalhadores sem organização de massas do proletariado é inconcebível. ...

Nessa situação, não se pode pensar absolutamente na tomada do poder pelo proletariado. Se ele caisse nas mãos de vocês, mediante um golpe de Estado, tal governo seria estrangulado e esmagado em alguns dias a partir da província. ...  

A única força de freio que pode impedir essa infelicidade são vocês, o Partido Comunista. Vocês possuem suficientemente visão para saber que a luta não tem perspectiva. Que vocês sabem disso, já me disseram os vossos membros, os companheiros Levi e Dunckers ...

Nada impede o mais fraco de recuar diante de poder superior.

Detivemos, em julho de 1917, as massas com todas as forças, apesar de sermos então mais fortes do que vocês e, onde isso não foi possível, retiramo-las, mediante intervenção abusiva, de uma batalha vindoura sem perspectiva.”[83]

 

A seguir, Karl Radek procurou formular suas acusações de putschismo contra Karl Liebknecht da seguinte forma, mesmo já diante da impossibilidade desse último  esclarecer suas decisões político-revolucionárias[84] :

 

“O Distúrbio de Janeiro foi, sem dúvida, um putsch, uma tentativa de atropelar a burguesia.

A desculpa – não das massas que não precisam se desculpar, pois elas no início da revolução tinham de estar confusas, mas sim a desculpa de dirigentes, como Lebedour e Liebknecht – reside em que o poder da burguesia era ainda extraordinariamente débil, que ela provocava diretamente para um assalto.”[85] 

 

Comentando as posições políticas de Karl Radek, transmitidas apressuradamente a seus mais diversos simpatizantes por meio de cartas, Alfons Paquet, um dos mais renomados poetas alemães, permeado nitidamente pelo espírito democráta-burguês, assinalou acerca da missiva de Radek, que lhe havia sido endereçada em 20 de março de 1919 :

 

“Radek acentuou mais uma vez que, tal como todos os outros, ele esteve contra os Putsches de Janeiro(nos quais ele não desempenhou nenhum papel), pois, segundo ele, “a conquista do poder político é apenas possível, de nosso ponto de vista, se temos a maioria da classe trabalhadora atrás de nós. Isso não tínhamos em janeiro e ainda hoje não o temos.” ...

Recordo-me bem das conversações em Moscou e das declarações da Radek acerca do caráter da Guerra Civil na Alemanha.

Com coração constrito, também eu era da opinião que, na Alemanha, podia chegaria tão longe que regimentos de trabalhadores industriais e regimentos das ligas rurais se entregassem a combates de uns contra os outros. ...

Ao mesmo tempo, em oposição às expectativas sangüinárias produzidas em Moscou, no outono de 1918 e, particularmente, no quadro da irrupção da Revolução Alemã,  também eu era da opinião que a dinâmica da revolução na Alemanha não poderia nem ser acelerada nem atrasada desde fora, sem colocá-la ao máximo em perigo. ...

É possível que também Radek tenha estado contra o ataque, porém vejo nos lutadores implacáveis o precursor natural de uma tática russa não apenas nervosa como também brutal.

Rejeito-a, tal como repudio toda violência e vingança em geral, sendo que não gostaria de ver substituído um militarismo por um outro.”[86]

 

Impactado pela brutal repressão da Greve Geral de Janeiro de 1919, em que os Freikorps ceifaram, sumariamente, as vidas de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, bem como impressionado pelo Fevereiro da Covardia, em que Leo Jogiches foi assassinado pelas costas sob o pretexto que pretendia escapar de sua prisão, Karl Radek, pretendendo preencher, logo a seguir, o vazio de direção que se produzira no seio do recém-nascido Partido Comunista da Alemanha(KPD), passou a intervir, literariamente, nas discussões sindicais alemães, já mesmo do verão de 1919, quando ainda encontrava-se na prisão de Moabit, em Berlim, gozando de tratamento privilegiado decorrente de seu status de diplomata soviético ucraniano.  

Tendo sido preso em fevereiro de 1919, Radek gozou do benefício de um tratamento privilegiado, por ser considerado pelas autoridades militares alemães como um representante do Estado Soviético Russo.

A partir da prisão de Moabit, Radek logrou tomar parte ativa na reconformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD) recentemente decapitado, postulando-se como o melhor especialista bolchevique em matérias concernentes à luta de classes na Alemanha, em um momento inicial em que inexistia um contato direto, regular e orgânico entre os organismos dirigentes revolucionários da URSS e da Alemanha.

Contando com o beneplácito dos Generais Alemães Staff e Ludendorff, de grandes empresários e políticos, como Felix Deutsch e Walther Rathenau, que decidiram poupar-lhe a vida a fim de utilizá-lo como contato entre os interesses do capitalismo alemão e o jovem governo revolucionário de Lenin, Radek entrevistava-se não apenas com esses representantes do imperialismo da Alemanha, senão ainda instruía, em sua vasta e agradável cela de prisão, os principais dirigentes do comunismo alemão, tais como Paul Levi, August Thalheimer e Ruth Fischer.[87]

 

 

Desfrutando de sua qualidade de membro do Comitê Central do PC da URSS e, ao mesmo tempo, de representante do Estado Soviético Russo em uma missão militar e diplomática junto ao Governo Alemão, e, posteriormente, como membro da Presidência do Komintern, ainda que sem exerçer permanentemente as funções de membro do Politburo da PC da URSS, Radek logrou desempenhar um papel de primeiríssima relevância para a definição da nova orientação política a ser observada pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) no ínicio dos anos 20.

Acerca do tema, Trotsky forneceu, precisamente, as seguintes valiosas observações :

 

“Por um certo tempo, Radek foi membro do Comitê Central e, nessa condição, possuiu o Direito de estar presente nas sessões do Politburo.

Por iniciativa de Lenin, as questões sigilosas eram examinadas invariavelmente na ausência de Radek.

Lenin considerava Radek como jornalista, porém, ao mesmo tempo, não suportava sua impulsividade, seu comportamento risível em face de questões sérias, seu cinismo.

É necessário referir aqui a apreciação de Radek, fornecida por Lenin, no VII Congresso do Partido(em 1918), à época das divergências sobre a Paz de Brest-Litovsk.

Por ocasião das palavras de Radek : “Lenin abandona a sala, a fim de ganhar tempo”.

Lenin observou : “- Dirijo-me ao camarada Radek e, aqui, quero registrar que ele consegue dizer, por acaso, uma frase séria.” ... 

E depois, novamente : “Dessa vez, resultou que se recebeu do camarada Radek uma frase inteiramente séria.”

Essas observações repetidas por duas vezes expressam a própria essência da relação para com Radek não apenas por parte do próprio Lenin, senão ainda de seus colaboradores mais próximos.”[88]

 

Quando Radek foi liberado de sua detenção, no fim de 1919, tornou-se Secretário Executivo da Internacional Comunista, de cuja função veio a ser, posteriormente, afastado por defender, no caso do tratamento do Partido Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), a orientação política de Paul Levi e do Partido Comunista da Alemanha(KPD), contra o PC da URSS, comandado por Lenin.

É certo que as limitações intelectuais, a típica abordagem jornalística das questões políticas, bem como o método de apreciação impressionista de Karl Radek, eram já bastante conhecidas por Lenin, Sverdlov e Trotsky.  

Ainda que as caracterizações formuladas pelo Politburo da PC da URSS acerca da luta de classe na Alemanha não viessem a se fundar preponderantemente nos relatórios e informes a ele fornecido por Radek, sendo que muitas vezes as propostas desse último não eram aceitas ou substancialmente modificadas, era notório o fato de que Radek lograva, paulatinamente, construir-se como um dos mais importantes dirigentes dos comunistas alemães do início dos anos 20.

Todos os principais dirigentes bolcheviques de então velavam por suas conexões com grupos de comunistas estrangeiros.

Lenin e Zinoviev eram, particularmente, interessados pela Alemanha.

Trotsky era um dos principais especialistas do Politburo da PC da URSS e do Komintern para questões relacionadas com a luta de classes da França e da Espanha.

Rykov, Bukharin e Zinoviev dedicavam-se, além disso, às questões italianas.

A predisposição de Radek em envolver-se nas questões relativas à construção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e dedicar-se à análise da dinâmica da luta de classes revolucionárias da Alemanha, situada no quadro de sua pretensão de ingressar em um importante Politburo a fim de desempenhar um papel de primeira importância na definição dos planos partidários mais decisivos, fazia com que Radek fosse considerado, no início dos anos 20, o membro do Comitê Central do PC da URSS mais profundamente conhecedor do movimento revolucionário da Alemanha e mais bem informado de todos os detalhes da vida política comunista e contra-revolucionária desse país.

Com efeito, fundado na experiência de sua militância na Social-Democracia Alemã, entre os anos de 1908 e 1913, esse último ano em que foi expulso de suas fileiras no quadro de um processo escandaloso, orquestrado por Rosa Luxemburg e Leo Jogiches desde a Social-Democracia Polonesa, Radek voltou a intensificar suas viagens à Alemanha, entre os anos de 1918 e 1921.

Como saldo dessa atividade, resultou que conhecia centenas de militantes alemães pessoalmente, inúmeras cidades e províncias, bem como dispunha do saber relacionado com a elaboração de diversos documentos partidários muito condizentes com a realidade político-institucional desse país.

Aliado desde 1908 com os agrupamentos sociais-democráticos de August Thalheimer, de Göppingen, e de Anton Pannekoek, de Brêmen, Radek possuía, além disso, um núcleo militantes alemães sempre dispostos a fazer publicar suas concepções políticas acerca da dinâmica da revolução socialista internacional, seja nas colunas do Freie Volkszeitung(Gazeta Livre do Povo), de Thalheimer, seja nas páginas do Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores), de Pannekoek, seja ainda na editora comunista Carl Hoym, de Hamburg.          

Muitos dos trabalhos de Radek, produzidos diretamente em língua alemã, no início dos anos 20, haviam se convertido em manuais para a militância, sendo estudados intensamente e tomados como orientação verdadeiramente bolchevique, em sua direta aplicação na realidade objetiva da luta de classes da Alemanha, como o que adquiriam mais relevância do que os textos produzidos pelos dirigentes alemães de então, como Paul Levi, August Thalheimer, Clara Zetkin, Jacob Walcher, Wilhelm Pieck e Heinrich Brandler.

Depois da morte da velha direção revolucionária alemã de Karl Liebknecht,  Rosa Luxemburg e Leo Jogiches, apesar de suas expressivas diferenças políticas com esses últimos e, no caso de Luxemburg e Jogiches, apesar de suas marcadas disputas pessoais de intrigas e perseguições, Radek conseguiu atrair para sua influência a grande maioria dos dirigentes alemães sobreviventes.  

Todos os principais dirigentes do Partido Comunista da Alemanha(KPD)  passaram, em fins de 1919 e início dos anos 20, a sustentar a direção política de Karl Radek, considerado como o mais legítimo representante do bolchevismo leninista em solo alemão.

Nada obstante, a orientação política de Radek, formulada segundo sua metodologia e concepção próprias, primava, constantemente, por uma tonalidade pessimística, hesitante e cética acerca da possibilidade de desenvolvimento das lutas revolucionárias na Alemanha e, nesse sentido, da capacidade de construção politicamente independente do Partido Comunista da Alemanha(KPD).

Em um primeiro momento, Radek ligou-se, intensamente, a Paul Levi, que assumiu a função de Presidente do PCA(KPD) desde os mêses subseqüentes a morte de Liebknecht e Luxemburg, ocorrida em janeiro de 1919, até fevereiro de 1921, pretendendo persuadí-lo acerca da necessidade de conquistar as massas para a revolução proletária socialista alemã, renunciar às tendências esquerdistas de Liebknecht e seus admiradores, trabalhar mais intensamente nos sindicatos e prestigiar grandiosamente as tribunas eleitorais e parlamentares.        

Já no início de outubro de 1919, em uma sua famosa carta ao II Congresso de Heidelberg e Mannheim, do Partido Comunista da Alemanha(KPD), Radek pronunciava-se da seguinte forma :

 

“Porém, se é uma ilusão oportunista procurar tranqüilamente por vitórias, então é uma ilusão revolucionária pensar em um ascenso linear, em um avanço ininterrupto da revolução.

A revolução mundial é um processo muito lento, durante o qual existirá mais do que uma derrota.

Com efeito, não tenho dúvida de que em todos os países (obs. por consegüinte também na  Rússia Soviética !), o proletariado será forçado a, por diversas vezes, construir sua ditadura e vê-la desabar, até que vença definitivamente.”[89]   

 

Além disso, em sua renomadíssima broschura, redigida especialmente para o congresso em destaque, denominada O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as Tarefas do Partido Comunista, Radek assinalou, expressamente, após destacar que o “Distúrbio de Janeiro” havia sido, sem dúvida, um Putsch, i.e. um Golpe de Estado, ou ainda “uma tentativa de atropelar a burguesia” :

 

“Entendemos que o Partido Comunista pode fazer como ponto de partida de sua política a perspectiva de uma próxima onda ascendente da revolução, de um alargamento da revolução mundial. ... 

Não existe a menor dúvida para nós que a burguesia não será capaz de estabilizar sua dominação, por isso rejeitamos a adaptação oportunista ao período de empantanamento.

Porém, é muito provável que a luta revolucionária de massas pela Ditadura Proletária requeira muito tempo.

É preciso investigar os motivos disso, bem como as questões de tática na luta econômica e política que daí decorrem.

A investigação da mecânica dessa luta dará, por si mesmo, a resposta às nossas controvérsias táticas.”[90] 

 

Em sentido lógico-político, Radek estava, já em 1919, profundamente convencido de que, durante um longo período, o Partido Comunista da Alemanha(KPD) não mais poderia fazer senão organizar a vanguarda de lutadores proletários e impulsionar atividades de propaganda, impedindo confrontações das massas sublevadas contra o poder do Estado Burguês Alemão.

Quando essa sua orientação manifestamente cético-pessimística reavivou a defesa de posições abertamente oportunistas por Paul Levi, discípulo inseparavelmente fiel à doutrina teórico-política e partidário-organizativa de Rosa Luxemburg, Radek lançou mão de apreciações entusiasticamente combativas, fundadas nas posições bolcheviques de Lenin, Sverdlov e Trotsky, para polemizar contra Paul Levi acerca do caráter, sentido e significado  das Revoluções Bávara e Húngara, de 1919.

Isso não impediu, entretanto, que Radek e Levi continuassem compartindo a direção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e já em seu balanço histórico acerca dos anos de 1918 e 1919, Radek formulou a seguinte caracterização, formulada em seu discurso proferido junto ao III Congresso Mundial do Komintern, entre 22 de junho e 12 de julho de 1921, sugido  sob o título “O Caminho da Internacional Comunista” :

 

“Em 1918-1919, o partido consistia de diversos milhares de trabalhadores, sendo que o Liga Spartakus tinha o papel de segurar a classe trabalhadora e evitar choques desnecessários.”[91]

 

De maneira cético-jornalística, Radek procurou, em suas publicações e discursos do início dos primeiros anos do anos 20, fundar sua orientação política central para o desenvolvimento das lutas revolucionárias de classes na Alemanha, consistente em demonstrar a impossibilidade de desenvolverem-se as forças do Partido Comunista da Alemanha(KPD) no campo das lutas, dos embates e dos conflitos abertos de classes contra as instituições de exploração e dominação do Estado Burguês, conquistando crescentemente a confiança da classe trabalhadora, hegemônica sobre todas demais massas socialmente oprimidas sob sua direção social e política.

Com efeito, no fundamento de seu marcado tom pessimista, Radek admitia abertamente a possibilidade de a Ditadura Revolucionária do Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser capaz de resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.

Em função dessa premissa originária, competiria ao Partido Comunista da Alemanha(KPD), dedicando-se preponderantemente a atividades propagandísticas, atrelar-se, mediado por críticas e denúncias, à dinâmica de luta da Social-Democracia Alemã, como forma de, através de cooperação, infiltração, desintegração e reconsolidação,  arrebatar-lhe a influência sobre as grandes massas proletárias alemães.

Dessa forma, a minoria comunista revolucionária haveria de ser educada de maneira a poder intervir sobre a maioria dos quadros da Social-Democracia, sob pena de permanecer inteiramente isolado no quadro dos eventos políticos subseqüentes.

As atividades dos comunistas haveriam, assim, segundo Radek, de concentrarem-se em uma luta propagandista de defesa do socialismo revolucionário e da Rússia Soviética.

 

 

 

 

 

Nesse contexto, os diversos eventos da luta de classes mundial surgiam interpretados como expressões cabais e confirmatórias dessa abordagem hesitante e pessimista, sendo que a proposta de Radek de luta comum do Partido Comunista da Alemanha(KPD) com o Partido Social-Democrático Alemão(SPD) e as organizações sindicais situadas sob sua órbita de influência, haveria de ser enfocada e compreendida nos termos daquele seu enfoque fundamental, permeado de críticas e denúncias elucidadoras.

No quadro do II Congresso Mundial do Komintern, ocorrido entre 19 de julho e 7 de agosto de 1920, Radek seria, entretanto, afastado de sua função de Secretário Executivo do Komintern, em decorrência de seu posicionamento solidário a Paul Levi, em sua luta contra a admissão do Partido Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), de Hermann Goerter, Anton Pannekoek e Marx Hoelz, de linha comunista-esquerdista, como partido simpatizante do Komintern.

Nesse congresso, Karl Radek demonstrava, claramente, sua pretensão de consolidar-se, prioritariamente, junto aos principais dirigentes do Partido Comunista da Alemanha(KPD), votando contra a posição estabelecida forrmalmente pelo PC da URSS, comandado por Lenin.

Entretanto, tal como bem assinalou Clara Zetkin, quando no quadro da Campanha Polonesa de Setembro de 1920, Karl Radek e Paul Levi opuseram-se, decididamente, ao otimismo bolchevique acerca das perspectivas das lutas revolucionárias da Polônia, Lenin foi o primeiro a reconhecer o acerto de caracterização de Radek, qualificado, então, por Lenin, antecipadamente, como “derrotista”[92].   

Nesse sentido, Radek observou, por diversas vezes, valendo-se desse seu acerto de caracterização, para fortalecer suas futuras posições políticas :

 

“Podem surgir também situações nas quais o Comitê Central do Partido tenha de dizer que, no momento, nenhuma crítica é permitida.

Quando sofremos a derrota na Campanha Polonesa, ocorreram, junto à nós, divergências de opiniões muito duras e, apesar disso, nenhum de nós escreveu um artigo acerca do tema.

Aqueles companheiros em posição dirigente que, durante a Campanha, assumiram uma posição crítica – eu estava entre eles – diziam depois da derrota : o mais importante não é, de maneira nenhuma, atestar para a história que eu me encontrava correto em face de outros companheiros.

E, pudemos abrir mão de uma crítica pública, porque todos entendemos os motivos e as causas dos erros, sabendo-os poderá-los.”[93]   

 

Essa ocorrência fortaleceu, inquestionavelmente, os posicionamentos de Radek no interior do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e do Komintern, abrindo-lhe caminho para seguir defendo suas concepções fundamentais, de matiz jornalístico-cético.

 

 

 

 

 

Segundo Radek, mesmo o poderoso despregar da energia do proletariado alemão expressado, a seguir, em sua inconstestável vitória sobre o Golpe Militar Contra-Revolucionário de Kapp-von Lüttwitz e as forças dos Freikorps, em março de 1920, forçando um dos mais representativos políticos reformistas do sindicalismo alemão, Carl Legien, a exigir a constituição de um “Governo dos Partidos e dos Sindicatos Operários”, integrado por sociais-democratas independentes e comunistas revolucionários, não modificariam o fato de o Partido Comunista da Alemanha(KPD) sofrer de insuficiência existencial para construir-se independentemente, mesmo tendo-se em conta a circunstância de que tais métodos combativos de rua eram totalmente estranhos à política da Social-Democracia Alemã da época.

A partir dessa premissa político-analítica, Radek opôs-se, acerbamente, a Declaração Oficial de 23 de Março de 1920 do PCA(KPD), firmada pela maioria de seu Comitê Central, que, rejeitando ingressar na formação do Governo de Coalizão dos Trabalhadores, proposto por Carl Legien, assegurava-lhe a prática de uma oposição leal a esse governo, que não culminaria na deflaração de um levante armado para derrubá-lo.

De início, hostil à fusão do Partido Comunista da Alemanha(KPD) com a maioria dos sociais-democratas independentes de esquerda, comandados por Ernst Däumig, Radek passou a apoiá-la, inesperadamente, ao verificar que tanto a maioria da direção do PCA(KPD) quanto a do Komintern sufragavam-na inteiramente[94].    

Com efeito, a ala esquerda social-democrática independente, opondo-se abertamente às posições de Karl Kautsky, Rudolf Hilferding, Wilhelm Dittmann e Artur Crispien, passou, nessa época, a sufragar os 21 Pontos estabelecidos pelo Komintern para ingresso em suas fileiras, entre os quais constatavam a aceitação do princípio do centralismo democrático, a promoção do apoio incondicional a toda e qualquer República dos Conselhos, o acatamento das resoluções dos Congressos e do Executivo do Komintern.

No Congresso Extraordinário dos Sociais-Democratas Independentes, ocorrido de dezembro de 1920, operou-se a já esperada ruptura entre a ala majoritária de esquerda de Däumig(237 delegados) e ala de direita de Hilferding(156 delegados), sob o impacto da intervenção oral de Grigori Zinoviev que dizia : “Vocês têm de decidir claramente em prol do menchevismo ou do bolchevismo !”[95]          

Sendo assim, logo após a fusão da ala esquerda do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD) com o Partido Comunista da Alemanha(KPD), operada entre os dias 4 e 7 do mesmo mês de dezembro de 1920, no quadro do Congresso de Halle, dando nascimento ao Partido Comunista Unificado da Alemanha(VKPD), sob a Presidência de Paul Levi e Ernst Däumig, Radek apreciou a situação política da Alemanha, em seu renomadíssimo livro “Deve o Partido Comunista Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação Revolucionária ou Partido Centrista do Ficar Esperando ?”,  lançando mão dos seguintes termos :

 

“A grande maioria dos trabalhadores alemães encontra-se ainda à direita do Partido Comunista.

É evidente que ela está profundamente insatisfeita com sua situação.

Os trabalhadores dos sociais-democráticos expressam sua disposição nas colunas do “Vorwärts!(Avante!, i.e. o órgão da Social-Democracia Alemã) de modo não diferente que os trabalhadores comunistas fazem-no em sua imprensa.

Porém, essas massas estão convencidas de que a conquista do poder político pela classe trabalhadora é, no momento, impossível, que os proletários são muito fracos para manter o poder conquistado e temem as privações da luta.

Consideram o objetivo comunista, a tomada do poder político, uma utopia e estão dispostas a ingressar na luta apenas em prol dos objetivos mais próximos.

Elas estão repletas de ilusões democráticas.

Eles ainda esperam poder melhorar sua situação sem derrubar a dominação capitalista.

Ao mesmo tempo, entrevêem os comunistas enquanto os rupturistas conscientes do movimento proletário.

Se os comunistas não tivessem rompido o proletariado, se os trabalhadores estivessem de acordo, teriam conquistado a maioria no Governo e tudo estaria bem.

Assim, a insatisfação das massas trabalhadoras situadas à direita volta-se não tanto contra o Governo Capitalista, contra os Independentes, que se esquivam a toda e qualquer luta séria, quanto contra o Partido Comunista, o único representante conseqüente dos interesses de classe do proletariado(p. 21).

Nessa situação, é claro que não podemos contar com movimentos espontâneos desorganizados na Alemanha, a menos que essas massas sejam colocadas em movimento por alguns eventos externos, que as sacudam inteiramente.

Dez milhões de trabalhadores são membros das organizações sindicais livres.

Eles atentam para seus dirigentes, ouvem suas consignas.

A estratégia comunista tem de ser a de convencer essas amplas massas de trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora(p. 22).

Como poder ser levada essa consciência aos trabalhadores ?

Através do caminho da propaganda.

A propaganda e a agitação devem vincular-se aos processos que se desenrolam diariamente diante dos olhos da massa de trabalhadores(p. 23)”[96]

 

Procurando atenuar o impacto de sua orientação política eminentemente propagandístico-agitativista, cético-jornalística, Radek assinala, imediatamente a seguir, nessa mesma sede, de maneira deslocada, secundarizada, enfraquecida, obscurecida, procurando reequilibrar sua argumentação precendente  :

 

“A principal tarefa dos comunistas consiste, portanto, em conduzir nos sindicatos não apenas propaganda comunista, senão também em demonstrar-se como os mais enérgicos e prudentes lutadores em favor dos interesses diários dos trabalhadores.”[97]

 

De acordo com sua orientação política hesitante-pessimista, lânguido-insegura, tíbia-vacilante, legitimando, implicitamente, até mesmo a possibilidade de a luta dos comunistas revolucionários voltar-se também contra setores burocrático-reformistas e contra-revolucionários que se fundam no proletariado e falam em seu nome, Radek pronunciou-se da seguinte forma acerca de sua Carta Aberta, de 8 de Janeiro de 1921, redigida conjuntamente com Paul Levi, acerca do conteúdo e forma da tática de Frente Única a ser desenvolvida na Alemanha :      

 

“Esses movimentos de pensamento formam o fundamento da posição dos comunistas alemães, desde o momento em que, no verão de 1919, opuseram-se à idéia de sair dos sindicatos.

Essa idéia encontrou sua expressão na tática da Carta Aberta, de janeiro de 1921. 

O Comitê Central do Partido Comunista dirige-se, abertamente, a ambos os partidos sociais-democráticos, ao Partido Comunista dos Trabalhadores da Alemanha (KAPD), à Central Sindical, aos Sindicalistas e aos sindicatos de trabalhadores, com a proposta da luta comum por uma série de necessidades mais candentes e inadiáveis da massa trabalhadora. ...(p. 24)

Nós elaboramos essas táticas no interior de fábricas, sindicatos e cidades singulares, ao longo dos últimos dois anos(p. 25). ...

A tática da Carta Aberta tem por objetivo conduzir a vanguarda do proletariado alemão, os comunistas, a uma ligação mais viva com as massas trabalhadoras atrasadas.

Porém, com isso foi colocada também a questão da relação da vanguarda comunista com as massas trabalhadoras que se movem em direção do comunismo.

Uma vez que a ação, iniciadora da Carta Aberta de 8 de janeiro, precisou de um longo período até que pudesse produzir efeitos, esse problema, situado diante dos olhos,  permaneceu em segundo plano, i.e não foi colocado conscientemente. 

Que ele existia, que uma parte dos companheiros dirigentes ou dele tinha desconhecimento ou o resolvia de maneira equivocada, demonstra-o já o artigo, surgido na “Rote Fahne(Bandeira Vermelha)”, em 8 de janeiro, visando à fundamentação da ação impulsionada.

Esse artigo motivou a ação iniciada de um modo a provocar imediatamente dúvidas em uma série de companheiros mais atentos.

O autor do artigo do artigo (i.e. Paul Levi, em estreita colaboração intelectual com Karl Radek) escreveu :   

« A luta dos comunistas contra outros partidos não deve se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra outra. »(p. 33).”[98]

 

 

 

 

Procurando, então, enfraquecer, a dimensão dessa sua orientação política acerca da Frente Única, formulada originalmente em conjunto com Paul Levi, Radek procura esclarecer, a seguir, nessa sua mesma renomadíssima obra em destaque, intitulada “Deve o Partido Comunista Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação Revolucionária ou Partido Centrista do Ficar Esperando ?” :

 

“Na Carta Aberta, impressa ao lado do artigo, os sociais-democratas e os independentes não são referidos, de nenhuma forma, como partidos proletários.

Eles são mencionados enquanto partidos “que se apóiam sobre o proletariado”.

Com isso marca-se, de antemão, a distância entre o partido comunista, proletário, e os partidos que organizam o proletariado, com vistas a desorganizá-lo.

Na Carta Aberta, preserva-se não apenas o ponto de vista principista do partido comunista, senão ainda – apesar de a Carta procurar promover a ação comum – abre, em seus parágrafos finais a perspectiva para lutas que serão iniciadas contra seus destinatários no caso eles pertubarem a Frente Comum do proletariado.

No artigo, que naturalmente era muito mais livre do que a própria Carta, não se tocou nessa motivação em nenhuma palavra.

Pelo contrário, esclareceu-se, pela primeira vez, que a vanguarda comunista não conduz nunca lutas contra as massas atrasadas e declarou-se, em segundo lugar, que, no interior do proletariado, nunca se conduz lutas “pela vontade do partido.[99]

 

Enquanto um dos protagonistas intelectuais da Carta Aberta de 8 de Janeiro de 1921, Radek haveria de surgir no quadro do Komitern – ao lado de Paul Levi -, como um dos primeiros e principais estrategistas da tática de Frente Única, apesar de ser essa última consideravelmente reinterpretada pelos bolcheviques, a partir do III Congresso Mundial do Komintern, como um autêntico instrumento de luta revolucionária para a emancipação do proletariado.

Acerca da gênese histórica da tática de Frente Única, Zinoviev escreveu, por exemplo, o seguinte :

 

“Em que consiste, então, a tática da Frente Única ?

Em que consiste o novo, que começamos a preparar, mais ou menos, desde 1921, formulamos em 1922, e, agora, em 1923, executamos a todo vapor ? ...

Em curtas palavras, trata-se do seguinte : até inclusive o II Congresso estávamos todos nós repletos de esperança de que a revolução proletária transcorreria de modo significativamente mais rápido, que a decomposição da sociedade burguesa provocada pela guerra seria muito mais forte, que seu rancor nos daria a possibilidade de apelar diretamente às massas por cima das cabeças dos dirigentes sociais-democratas, aproximando-as de nós, conduzindo-as em luta  contra a burguesia.

Essa era nossa esperança.

Através disso era também determinada a linha da Internacional Comunista até o II Congresso.

Não se tratava apenas de nosso desejoso piedoso : nossa esperança assentava em muitos fatos daquele tempo.

Passou-se, entretanto, coisa diferente.

Desde o II Congresso começou a tomar assento em nossas fileiras uma outra convicção.

O rancor das massas era grande, porém a disposição declinava.

Constatou-se que a burguesia senta-se ainda firmemente sobre a sela.

Constatou-se que a Social-Democracia apóia-se sobre massas ainda maiores do que supúnhamos.   

Em uma palavra : constatou-se que a revolução mundial se desenvolve muito mais lentamente do que esperávamos e, em face de tudo isso, tivemos de abandonar a esperança de puxar para nós as massas trabalharas sociais-democráticas por cima da cabeça de seus dirigentes.

Dissemo-nos : uma coisa permanece como antes. Temos de conquistar, a todo custo, um estreito contato com os trabalhadores sociais-democráticos, porém os meios para conquista desse objetivo há de ser modificado.

Agora não conseguiremos puxar para nós as massas sociais-democráticas por cima da cabeça dos dirigentes.

Precisamos, por isso, tentar desmascarar esses dirigentes perante os olhos das massas.

Temos de avançar, passo a passo,  contra esses dirigentes, talvez ao longo de anos, e, então, conseguiremos que uma grande parte dos trabalhadores sociais-democráticos vejam finalmente aquilo que se esconde por detrás dos dirigentes sociais-democráticos.

E isso deu impulso à nova tática de Frente Única.”[100]  

 

Acerca de seu próprio posicionamento sobre a tática de Frente Única, destacou o então Presidente do Komintern, conhecido, no quadro dos II e III Congressos Mundiais do Komintern, por seus posicionamentos esquerdistas-oposicionistas :

 

“Confesso-lhes, companheiros, um pequeno segredo.

Muitos de nossos bons amigos, mesmo aqueles do partido alemão, suspeitam de meus pequenos pecados já que falo apenas tanto do lado estratégico da coisa, sendo eu propriamente um adversário disfarçado da tática de Frente Única.

Isso é evidente ridículo. Sou absolutamente a favor da tática de Frente Única.

Remeto-lhes às minhas teses de 1921.

No entanto, também eu tive, outrora, algumas objeções. Em 1921, muitas coisas não me estavam claras. Esses períodos de transição do II para o III e do III para o IV Congresso não foram fáceis.

De início, todos tínhamos a esperança de que derrotaríamos imediatamente a burguesia e puxaríamos para nós os trabalhadores sociais-democráticos por cima da cabeça de seus dirigentes. A transição foi, de fato, difícil.

Porém, já ao tempo do III Congresso a questão já estava decidida.

Agora, não pode mais existir nenhuma oscilação na questão da adequabilidade da tática de Frente Única.”[101]

  

 

 

Se Radek haveria de surgir como o principal autor intelectual da Carta Aberta de 8 de Janeiro de 1921, isso não o impediu de combater Paul Levi, logo a seguir, quando o Politburo do Komintern deflagrou luta implacável contra esse último, co-autor do documento da carta aberta em destaque.

Abrindo-se a luta fracional contra o oportunismo de Paul Levi, impulsionada pelo Komintern desde o Congresso de Livorno de ruptura com o Partido Socialista de Serrati e fundação do Partido Comunista Italiano, sob a direção de Amadeo Bordiga, na segunda metade de janeiro de 1921, Radek, aderindo, posteriormente, a essa luta, apoiou a oposição de esquerda à Levi, da qual ele erá até então adversário, em todo período que conduziu até a realização do III Congresso da Internacional Comunista, ocorrido entre 22 de junho e 12 de julho de 1921.

Com efeito, Levi opôs-se severamente à política do Komintern na Itália, acusando-o de impedir a construção de partido de massas em favor da formação de seitas esquerdistas.

Depois da demissão de Paul Levi, Ernst Däumig, Clara Zetkin e outros do Comitê Central do PCA(KPD), Radek, encontrando no novo presidente do partido, i.e. em Heinrich Brandler, bem como em seus antigos fiéis aliados desde do período anterior à guerra, August Thalheimer e Paul Fröhlich, verdadeiras expressões para sua pretendida concepção de revolução proletária para a Alemanha, aprofundou, cada vez mais salientemente, sua perspectiva de atrelamento do comunismo revolucionário alemão aos interesses reformistas-economicistas e centristas-oportunistas das variadas formas de Social-Democracia desse país.

Nesse contexto político-histórico, Karl Radek destacou aos defensores de sua orientação política na Alemanha :

 

“Valiosos companheiros

1.A situação aqui é a seguinte : necessidade de grandes concessões aos camponeses, o que significa fortalecimento momentâneo dos elementos capitalistas.

Para o exterior, concessões. Grande trabalho, para manter o exército capaz de combater. Igualmente grande o trabalho de empregar a guarda ariana dos proletários fatigados, dando-lhes estímulos de coragem e de luta. A primavera e o verão serão muito difíceis. Aqui, torna-se muito necessária a ajuda do exterior para a elevação da confiança nas massas.

2. A situação junto a vocês é clara para mim. Levi procura construir uma fração com a consigna : Partido de Massa ou Seita.

Isso é um engodo, pois ele dispersa o partido com sua política, enquanto nós, mediante a ativação de nossa política, queremos arregimentar novas massas.

Ninguém pensa aqui em ruptura mecânica ou qualquer ruptura em geral na Alemanha.

É necessário elaborar claramente os antagonismos e tornar dirigente a ala esquerda, intelectualmente.

Levi vai arruinar-se rapidamente. É indispensável fazer tudo para permitir-se que Däumig e Zetkin se arruinem com ele.

3. Tudo depende da situação política. Se aumentar a fratura entre a Entente e a Alemanha, surgir talvez guerra na Polônia, conversaremos. Precisamente porque essa possibilidade existe, vocês têm de fazer tudo para mobilizar o partido.

Não se pode disparar nenhuma ação pelo revólver.

Se vocês não fizerem tudo agora para, mediante a pressão interrompida por ação da massa comunista,  incitar o sentimento de sua necessidade, vocês fracassarão novamente em um grande momento.

Nas decisões político-mundiais, pensem menos na fórmula “radical” do que na ação, no meter as massas em movimento.

Se ocorrer guerra, não pensem na paz ou apenas em protesto, senão nas guerras armadas.

Isso tudo às pressas, no congresso do partido(i.e. no quadro do X Congresso do PC da URSS).

Tudo o demais, fa-lo-ei em artigos.” [102]

 

Entrementes, oscilando estratigicamente para a esquerda, pretendendo claramente se diferenciar do legado de Paul Levi, com quem até então dividia a direção do PCA(KPD), Radek aliou-se à tese de Ativação Revolucionária do Partido, havendo de criticar, porém, posteriormente, a forma segundo a qual se a impulsionava.

Nessa sua errática e efêmera simpatia para com as fileiras do Comunismo Esquerdista e pela Teoria da Ofensiva, i.e. a Teoria do Ataque Revolucionário Tempestuoso, equacionada ideologicamente por Nikolai Bukharin e Grigori Zinoviev, exaltada, teoricamente, em solo alemão, antes de tudo, por August Thalheimer e Paul Fröhlich, bem como impulsionada, praticamente, pela intervenção política de Bela Kun e Alexander Guralsky[103], é possível reconhecer-se, mais uma vez, um dos traços plenamente conformadores dos posicionamentos hesitantes, multiformes, oscilantes, reticentes, versáteis de Radek.

Sobretudo ao ter-se em conta o fato de que, mesmo nessa ocasião, Radek não se afastou perspectivisticamente de sua tradicional postura cético-pessimística relativamente à dinâmica das ações revolucionárias independentes da classe trabalhadora da Alemanha.

Nada obstante, a Ativação Revolucionária do Partido encontrou na Alemanha uma aplicação meridianamente clara e manifestamente falida na Ação de Março de 1921[104].

Nesse episódio histórico, os trabalhadores das minas de carvão de coque, carvão poroso obtido como resíduo da destilação da hulha, da região da Alemanha Central, ao redor de Mansfeld, manifestaram uma disposição revolucionária de luta nitidamente superior àquela de outras localidades da Alemanha.

Quando o governo da República Imperial de Weimar iniciou com represálias contra esses mineiros, o Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha(KPD) conclamou as massas trabalhadoras da Alemanha Central a decretarem greve geral, a qual deveria ser, logo a seguir, radicalizada rumo à deflagração de um levante armado e à constituição de um Governo dos Trabalhadores.

Abandonando, inopinadamente, as caracterizações prevalentes no Komintern de que, desde as derrotas revolucionárias de 1919, em parte recobradas com as lutas de Março de 1920, ocasião da enérgica reação contra o Golpe Contra-Revolucionário Kapp-von Lüttwitz, o movimento revolucionário do proletariado alemão encontrava-se, de conjunto, em uma situação defensiva, sem revestir-se de imediata dinâmica de preparação de uma insurreição armada para resolução da consigna do poder do Estado, tal Comitê Central decidiu transitar, precipitadamente, para ações ofensivas de provocação de luta, como forma de Ativação Revolucionária do Partido.

Desencadeados movimentos grevísticos em algumas partes restritas do Ruhr, de Berlim, da Saxônia e da Turíngea, espocou com força a greve geral e o levante armado dos mineiros em Mansfeld, impulsionado, antes de tudo, pelo PCA(KPD) e e uma reduzida parcela da classe trabalhadora alemã[105].

Os destacamentos de combate operários de Mansfeld lutaram aguerrida e corajosamente por cerca de uma semana, impedindo que o Exército Imperial Alemão ingressasse na região, sendo que vilas e cidades mudavam de mãos freqüentemente.             

Como o proletariado em todas as demais partes da Alemanha não sustentasse ativamente o movimento grevístico dos mineiros e não constituisse mais numerosos focos insurrecionais de vanguarda, a Ação de Março conheceu uma fragorosa derrota em face do impiedoso ataque do Exército Imperial Alemão.           

Um magnífico exemplo plenamente negativo para a determinação do momento de um levante armado do proletariado revolucionário há de ser, pois, estudado na Ação de Março de 1921[106].

 

 

 

Os resultados decorrentes da repressão das forças burguesas-capitalistas alemães a essa Ataque Revolucionário Tempestuoso foram sumariados, numericamente, da seguinte forma :

 

“Durante as razzias nos bairros operários, cerca de 50 a 60 trabalhadores foram assassinados.

Alguns dos prisioneiros foram espancados por soldados do Exército Imperial e forçados a gritar nas ruas “Vida Longa ao  Exército do Império!”(p. 176).

Em conexão com a Ação de Março, cerca de 6.000 companheiros foram presos, sendo que cerca de 1.500 foram detidos por uma semana ou duas e, depois, liberados sem processo.

Dos 4.500 processados, 500 foram absolvidos e os 4.000 restantes foram sentenciados a total de 3.000 anos de prisão.

Assistência legal para tais casos era prestada pela Departamento Jurídico Central (Juristische Zentralstelle) e apoio para suas famílias, organizado pela Ajuda Vermelha (Rote Hilfe)(p. 220).”[107]    

 

A luta de Radek contra as posições de Paul Levi intensificou-se, então, exponencialmente quando esse último, desde um ponto de vista luxemburguista, condenou, publica e ostensivamente, em seus artigos surgidos nos jornais ”Nosso Caminho” ou “Soviet”, em 12 de abril de 1921, o Ação de Março de 1921, qualificando-a como um simples Putsch, rompendo inteiramente com a disciplina interna do partido.

Apoiando em grande parte as críticas de Paul Levi, surgiam não apenas alguns velhos dirigentes do PCA(KPD), como Ernst Däumig, senão ainda os deputados comunistas Clara Zetkin, Adolph Hoffmann, Kurt Geyer e Wilhelm Düwell.

Apesar disso, Karl Radek aguçou ainda mais seu criticismo contra Paul Levi, a partir do momento em que esse veio a ser expulso, em 15 de abril de 1921, do Partido Comunista da Alemanha(KPD), fundando, transitoriamente, a Comunidade dos Trabalhadores Comunistas(KAG) e dirigindo-se, a seguir, para o Partido Social-Democrático Independente da Alemanha (USPD), de Karl Kautsky e Rudolf Hilferding.

Nada obstante, imediatamente depois do fracasso da Ação de Março de 1921 e meses antes da realização do III Congresso da Internacional Comunista de 1921, i.e. precisamente no mês de abril de 1921, Radek reorientou, rapida e prontamente, o Comitê Central do PCA(KPD) para o retorno à aplicação da tática de Frente Única, equacionada por ele e Paul Levi na Carta Aberta de 8 de Janeiro de 1921 :

 

“Não resta dúvida que entramos novamente em um período em que serão decisivos a construção da organização (legal e ilegal), o avivamento da vida política nas organizações, a aplicação subseqüente da tática da Carta Aberta – talvez em forma modificada (agora voltando-se não mais às direções partidárias e à burocracia, mas sim diretamente às massas sindicais).

O fortalecimento do centro sindical é da maior importância.

Pensem talvez na seguinte história : não se permitam a ganhar um qualquer grupo de Independentes de Direita que trabalhariam sob a consigna : unidade dos sindicatos classistas-combativos contra os rupturistas sindicais reformistas.

Temo que a derrota dificulte, momentaneamente, minar o adversário.

A aproximação de um grupo não abertamente comunista seria muito útil.

Sublinho : esses são apenas pensamentos não fermentados.

Gostaria apenas que vocês os aprimorassem.

A idéia fundamental é a de que reunamos agora em torno do cerne comunista mais facilmente a periferia, se tivermos impulsionadores que não trabalhem abertamente como comunistas.

Vocês mesmos têm de examinar se isso é possível.

Repito, tratam-se apenas de sugestões puramente pessoais que faço, partindo do pressuposto que uma derrota clama sempre pela aplicação de novas armas e métodos. Aconselho muito sejam eles utilizados.”[108]          

 

No quadro desse seu maleável e desembaraçado retorno à defesa da tática da Frente Única, imediatamente depois de sua defesa da estratégia de Ativação Revolucionária do Partido, Radek surgia, na qualidade de Secretário do Comitê Executivo do Komintern, como responsável, junto ao III Congresso Mundial da Internacional Comunista, pela elaboração e apresentação do informe internacional acerca de tática revolucionária, no qual procurou expressar seu relativo acordo com as posições de Lenin e Trotsky acerca da Ação de Março de 1921, agora apoiados também, mais uma vez e de maneira surpreendente, por Zinoniev.

Já havia transcorrido, então, a derrota dos Levantes de Krönstadt e de Mansfeld, ingressando a Rússia Soviética no período da Nova Política Econômica(NEP).

Nesse contexto, procurando dissipar sua precedente de posição de capitulação ao Comunismo de Esquerda e a Teoria da Ofensiva, Radek não poupou argumentos para, no seu informe mencionado, falar até mesmo de “dinâmica arrastada” da revolução mundial, em benefício de sua versão de Frente Única, fundamentalmente ancorada na orientação da Carta Aberta de 8 de Janeiro de 1921, apesar de pequenas modificações :

 

“Companheiros,

Não vou lhes fatigar com uma série de citações que poderia ser trazida aos montes, tal como já foi indicado na imprensa comunista da Rússia, referindo que a correlação de forças na Europa Ocidental, que as forças da burguesia de lá torna improvável um assalto à burguesia através de uma sublevação das massas populares.

Não preciso recordar os delegados alemães de que nós, na Alemanha, desde 1919, adquirimos, enquanto ponto de partida de nossa tática, a convicção de que a dinâmica de desenvolvimento da revolução mundial será mais arrastada, sendo que deveríamos lutar, precisamente por isso, com toda energia, contra a impaciência revolucionária de esquerda. ...

Todos nós admiramos a genialidade de Lenin na questão tática.

Não digo isso como membro do partido russo.

Digo-o como um dos que encontrou o caminho de reconhecimento incondicional da genialidade tática de Lenin com relativa dificuldade.

Tomem, p.ex., os antagonismos dessa tática, Brest-Litovsk e o Avanço de Varsóvia.

Ali onde o partido viu grande perigos, ele procedeu tão cuidadosamente como um burro de cargo junto ao precipício.

Tateou com os pés, pois encontrava-se fraco.

Tendo, porém, chance de vitória, atacava para diante na luta.

Desencadeou um ataque em Varsóvia para expandir a revolução. Foi derrotado.

Porém, essa derrota é para um revolucionário de tão grande importância quanto a vitória de Brest-Litovsk.

Pois, ela demonstra que a elasticidade tática não conduz a que o partido do proletariado revolucionário se torne uma minhoca ou bola de borracha.

Ele pode cometer erros, porém demonstra sempre grande cuidado.”[109] 

 

Condenando, resolutamente, a Teoria da Ofensiva, Trotsky teve a oportunidade de assinalar, em comentário ao informe sobre tática revolucionária, apresentado por Radek no III Congresso Mundial da Internacional Comunista :

 

“Não se inicia uma ação, entretanto, para que da ação tornem-se visíveis quais os erros que nela estão sendo cometidos, pretendendo-se, então, eliminá-los(p.641).  

Essa famosa Filosofia da Ofensiva, que é absolutamente não marxista, surgiu do seguinte raro espírito : constrói-se, gradativamente, um muro de passividade e é uma infelicidade que o movimento torne-se pamtanoso.

Então, adiante, para romper esse muro !

Quero dizer, nesse espírito, educou-se toda uma camada de companheiros dirigentes e semi-dirigentes do Partido Alemão, no curso de um certo período, sendo que esperam agora o que o Congresso dirá acerca disso.

E se dissermos, agora, joguemos Paul Levi pela janela, falando sobre a Ação de Março, apenas em formas de discurso inteiramente confusas, no sentido de que ela foi a primeira tentativa de dar uma passo adiante, em suma, dizendo acobertando fraseologicamente a crítica, então não teremos cumprido nosso dever.

Somos obrigados a dizer, clara e cristalinamente, à classe trabalhadora que concebemos a Filosofia da Ofensiva, em sua aplicação prática, como o maior perigo e o maior crime político(p. 646). ...

Temos aqui no Congresso três tendências em certa medida declaradas, três grupos, que, transitoriamente, tornaram-se tendências e sem cuja apreciação não se pode julgar corretamente o jogo de forças desse Congresso.

Em primeira linha, aí está a delegação alemã, saída do fogo da Ação de Março, expressando sua concepção, da maneira mais aguçada, na Filosofia da Ofensiva, a qual evidentemente foi abandonada por muitos companheiros alemães.

Então, os companheiros italianos que se encontram no mesmo caminho, obviamente porque o partido foi abandonado pelos centristas.

Os companheiros italianos dizem : agora temos finalmente as mãos livres e podemos cumprir nosso dever, ingressando em ações revolucionárias de massas, vingando-nos da traição de Serrati(p. 647). ...  

Essas duas vozes existem aqui, como também uma terceira, que esperamos ter exprimido em nossas teses.

Ela afirma que seria evidentemente um absurdo se o Executivo quisesse insistir nessa filosofia tática de fazer escalar as lutas mediante ações de massas mais ou menos artificiais, enviando ordens para diversos países.

Pelo contrário ! Porque tornamo-nos fortes e, por isso, fomos colocados diante da tarefa de dirigir as massas enquanto partido centralizado e independente, possuímos, antes de tudo, a obrigação de analizar precisamente a situação em cada país e, se possível e necessário, proceder e intervir com todo fervor(p. 648).”[110]

 

Diante desse contexto, Radek destacou em suas palavras de fechamento dos debates relativos ao seu informe sobre tática revolucionária do III Congresso Mundial da Internacional Comunista :

 

“Já disse em meu informe que sem ofensiva, sem ataque às bastilhas do capitalismo, não podemos vencer.

Um partido que não carrega no peito o espírito do ataque contra o capitalismo, que não é capaz de conduzir todo e qualquer proletário à consciência de que o proletariado pode apenas libertar-se na luta direta, travada frontalmente, que essa luta pode existir apenas sob a tensão de todas as forças, um tal partido não merece levar o nome de partido comunista.

Aqui, vocês escutaram da boca de nosso dirigente indubitavelmente mais sóbrio, o camarada Lenin, que todo aquele que rejeita a ofensiva, por princípio, não pertence à Internacional Comunista.

Além disso, constatamos aqui, companheiros, que essa teoria é falsa porque não apreciou suficientemente, na situação dada, as condições objetivas de modo agudo e  frio, porque, precipitando os acontecimentos, não foi capaz de, na situação em causa, reunir em torno de si as grandes massas do proletariado, situadas fora do Partido Comunista.

Porém, companheiros, já dissemos, ao mesmo tempo, em nossa resolução, em nossas teses, em nossa proposta sobre a Ação de Março, que o partido alemão começou, ele mesmo, a reconhecer esses erros.

Por que dizemos isso ? Apenas para facilitar a transição do Partido Alemão ?

Não ! Temos motivos fundamentais para isso.

Esses motivos são os seguintes : basta comparar a Resolução de 7 de Maio com a Resolução de 7 de Abril, a Resolução sobre a Ação de Março e as Teses que o partido adotou, na Secretaria Central para o Congresso Internacional, para perceber que o Partido começou a entender o erro mais importante, o perigo de afrouxamento de seu contato com as massas.

O mesmo demonstra a brochura de Brandler e as cartas de Stöcker, o segundo Presidente do Partido, que nos foram dirigidas(p. 659). ...

Estou convencido de que Thälmann e outros companheiros irão acatar nossa tática não apenas pelo sentimento da disciplina internacional, mas que se apoiarão na experiência da luta e entenderão como transfundir a energia revolucionária dessa parte dos trabalhadores em luta calculada, tranqüila, proletariamente fria e, se necessário e possível for, atacando.

E, porque isso é assim, defendemos aqui a Luta de Março, apesar de seu erro.

Afirma-se que não se entra na luta para comprovar-se os erros, porém respondo : “Se é necessário entrar na luta, deve-se examinar os erros depois, para vencer-se, exitosamente, as lutas vindouras, cujo tempo e momento talvez não poderemos também escolher(p. 660).””[111]         

 

De toda sorte, sendo irretorquível e notório o fato de ter Radek gozado de evanescente entusiasmo pela Ação de Março de 1921, tornou-se ele, novamente e rigorosamente, identificado, aos olhos de Lenin, com os adeptos dos Comunistas Esquerdistas e os Teóricos da Ofensiva.

Inversamente, Zinoviev e Bukharin, a essa altura protagonistas do lado radical esquerdista, criticavam Karl Radek por ter pendido muito à direita de suas posições de luta, traindo a tendência de esquerda do Partido Comunista da Alemanha(KPD), comandada por Rutsch Fischer e Arkadi Maslow. 

No quadro do III Congresso Mundial do Komintern, Lenin teve a ocasião de fazer a seguinte referência à sua interpretação acerca do posicionamento de Radek :

 

“«Tendências Dinâmicas » e « Transição da Passividade para a Atividade » - tudo isso são frases que os sociais-revolucionários de esquerda lançaram contra nós.

Agora, eles estão na cadeia e lá defendem os “objetivos comunistas” e refletem sobre a« Transição da Passividade para a Atividade ».

Argumentar assim, tal como ocorre nos requerimentos de emenda, é impossível, pois não se encontra aí nem marxismo nem experiência política nem argumentos.

Por acaso, desenvolvemos em nossas teses uma teoria geral da ofensiva revolucionária ?

Cometeu, por acaso, Radek ou qualquer outro uma tal estupidez ?

Falámos de Teoria da Ofensiva em relação a um país bem determinado e um período bem determinado. ...

Pode, então, o partido discutir se, em geral, uma ofensiva revolucionária é admissível ?”[112]

 

Nesse seu ataque desesperado contra seu próprio e antigo colaboracionismo com Paul Levi, desenvolvido entre os anos de 1919 e 1921, Radek, podendo ser efetivamente confundido com um dos representantes do Ataque Revolucionário Tempestuoso do PCA(KPD), não poupou assaltos desferidos contra as posições políticas defendidas então por Clara Zetkin.

Precisamente nesse contexto, Lenin pronunciou-se, da seguinte forma, em sua Carta aos Comunistas Alemães, de 14 de agosto de 1921, logo após a realização do III Congresso Mundial do Komintern, ocorrido entre 22 de junho e 12 de julho de 1921 :

 

“O agendamento do Congresso de seu partido, o “Partido Comunista Unificado da Alemanha”(VKPD), para 22 de agosto próximo, fez com que eu tivesse de apressar-me com essa carta que devo concluir em algumas horas para não me atrasar com o seu envio para a Alemanha.

Tão quanto posso julgar, a situação do Partido Comunista na Alemanha é particularmente complicada. Isso é compreensível.

Em primeiro lugar – e isso é o principal -, a situação internacional da Alemanha aguçou, desde o fim de 1918, sua crise revolucionária interna, de modo extraordinariamente rápido e árduo, empurrando a vanguarda do proletariado para a tomada imediata do poder(p. 537). ...

Os trabalhadores alemães não tinham um partido verdadeiramente revolucionário no momento da crise, em decorrência da ruptura ocorrida muito tardiamente (i.e. em relação à Social-Democracia), em decorrência da pressão da maldita tradição da “unidade” com os bandos corruptos (os Scheidemanns, Legiens, Davids e cia.) e sem caráter (os Kautskys, os Hilferdings e cia.), bandos dos lacaios do capital.

Em todo trabalhador honrado, com consciência de classe, que considerou o Manifesto da Basiléia de 1912 como ilusão vazia e não apoiou as “tergiversações” dos canalhas do tipo “da segunda” e da “segunda e meia”, despertou-se, com inacreditável aguçamento, o ódio contra o oportunismo da velha Social-Democracia Alemã.

Esse ódio – o sentimento mais nobre e elevado dos melhores das massas exploradas e oprimidas – tornou os homens cegos, retirou-lhes a possibilidade de refletir com sangue frio e elaborar uma própria estratégia correta enquanto resposta à esplêndida estratégia dos capitalistas armados, organizados, traquejados pela “experiência russa”, pela Entente, da França, da Inglaterra e da América.

Esse ódio levou-os a levantes precipitados.

Essa é a razão porque o desenvolvimento do movimento revolucionário dos trabalhadores na Alemanha percorreu, desde o fim de 1918, um caminho particularmente difícil e doloroso.

Porém, ele caminhou e caminha, indetenivelmente, para adiante. ...

Mantenham o sangue frio e a firmeza.

Corrijam, sistematicamente, os erros do passado.

Atentem, ininterruptamente, para a conquista da maioria das massas dos trabalhadores, seja nos sindicatos, seja fora dos sindicatos.

Construam um partido comunista forte e inteligente, capaz de dirigir as massas, em todas e quaisquer guinadas dos acontecimentos.(p. 538)

Elaborem uma estratégia que seja superior à melhor estratégia internacional da burguesia avançada e “mais esclarecida” (através da experiência secular, em geral, e através da “experiência russa”, em particular) – isto é o que deve-se fazer e o que o proletariado alemão fará, é o que lhe garantirá a vitória(p.539).”[113]

            

Nessa mesma carta, Lenin teve ainda a oportunidade de alertar, implacavelmente, aos dirigentes do já unificado PCA(KPD) acerca das concepções e estratégias políticas articuladas e impulsionadas por Karl Radek :      

 

“Por outro lado, a complicada situação do Partido Comunista da Alemanha torna-se ainda mais dificultosa com a ruptura dos impotentes comunistas de esquerda (Partido Comunista dos Trabalhadores da Alemanha)  e direita (Paul Levi com seu jornalzinho “Nosso Caminho” ou “Soviet”)(p. 539). ...

Agora, devemos dar menos atenção aos esquerdistas do KAPD.

Através de nossa polêmica contra eles, fazemos para eles apenas mais reclame.

Eles são por demais insensatos. Levá-los a sério seria errado. Aborrecer-se com eles, inútil. Influência sobre as massas, eles não possuem e não a alcançarão, se nós mesmos não cometermos nenhum erro.

Deixemos que essa corrente ínfima morra uma morte natural. ...

A enfermidade infantil do radicalismo de esquerda está passando e passará, completamente, com o crescimento do movimento.

Da mesma maneira, ajudamos, agora, desnecessariamente, Paul Levi, fazendo para ele reclame desnecessário mediante nossa polêmica contra ele dirigida.

Depois da resolução do III Congresso do Komintern, há de se o esquecer e concentrar toda a atenção, todas as forças, para o trabalho positivo, objetivo, pacífico (sem intriguismos, sem polêmica, reviramento das discussões do passado), no espírito das resoluções de nosso III Congresso.

Contra essa resolução geral, aprovada unanimemente, no III Congresso, peca, na minha opinião, não pouco o artigo do Comp. Karl Radek : “O III Congresso Mundial sobre a Ação de Março e a Tática Subseqüente” (publicado pelo órgão central do Partido Comunista Unificado da Alemanha “Die Rote Fahne(Bandeira Vermelha)”, em 14 e 15 de julho de 1921).

Esse artigo, que me foi enviado por um companheiro das células dos comunistas poloneses, é, sem nenhuma necessidade – e para direto prejuízo da causa -, aceirado não apenas contra Paul Levi (o que seria já inteiramente irrelevante), senão ainda contra Clara Zetkin.

A própria Clara Zetkin conclui, em Moscou, durante o III Congresso, o “Tratado de Paz” com a central do Partido Comunista Unificado da Alemanha acerca de um trabalho comunitário e não fracional !(p. 540)

Esse tratado foi aprovado por todos nós.

O comp. Karl Radek foi tão longe, em sua excitação polêmica inadequada, a ponto de dizer uma mentira direta ao presumir que Clara Zetkin quisesse “adiar toda e qualquer ação do partido ... para o dia em que as grandes massas se levantassem.

Evdentemente, o comp. Karl Radek presta, com tais métodos, um serviço a Paul Levi que esse jamais poderia desejar melhor.

Paul Levi quer precisamente que as brigas se prolonguem infinitamente, que o  máximo possível de pessoas seja nelas envolvido, que se procure empurrar Clara Zetkin para fora do partido mediante ferimentos polêmicos acerca do “Tratado de Paz”, que ela mesma concluiu e que foi convalidado por todo o Komintern.

O comp. Karl Radek forneceu com seu artigo um excelente exemplo de como auxilia-se Paul Levi “pela esquerda(p. 541). ...

Companheiros comunistas alemães !

Permitam-me finalizar com o desejo de que seu Congresso, de 22 de agosto, encerre, com mão firme e para sempre, com a guerrilha contra os rompidos da esquerda e da direita.

Chega de luta interna partidária.

Abaixo com todo aquele que, direta ou indiretamente, queira arrastá-la longe.

Conhecemos agora nossas tarefas de modo mais claro, concreto e visível do que ontem.

Não tememos apontar abertamente nossos erros e corrigí-los.

Empregaremos todas as forças do partido para sua melhor organização, para a elevação da qualidade e do conteúdo do trabalho, para a produção de uma ligação mais estreita com as massas, para a elaboração de uma tática e de uma estratégia cada vez mais precisa e correta da classe trabalhadora(p.548).”[114]

 

Apesar de tais argumentos categóricos de Lenin, fato é que o grande dirigente dos bolcheviques viu-se forçado a, na mesma carta em referência, traçar muitas considerações, justificadoras de sua longa defesa de Paul Levi, no curso do III Congresso Mundial do Komintern, após ter sido esse último expulso das fileiras do Partido Comunista da Alemanha(KPD), por decisão de seu Comitê Central[115].

Por sua vez, Levi e seus apoiadores do sindicato de metalúrgicos de Berlim, entre eles os dirigentes Paul Neumann e Paul Malzahn, eram acusados pelo conjunto dos dirigentes do PCA(KPD) de não apenas terem qualificado de Putsch a Ação de Março de 1921, senão ainda de conclamarem os trabalhadores em greve dessa cidade a suspender sua paralisação em apoio aos trabalhadores sublevados de Mansfeld[116].

Acerca do tema, até mesmo Ruth Fischer, situada desde um ângulo zinovievista, assinalou :

 

“Lenin incluiu nas teses do congresso largas porções das críticas de Levi, porém, ao descartar todas as ilusões acerca da possibilidade de um desenvolvimento pacífico da República de Weimar, conferiu a elas uma ênfase diferente.

No relatório do Congresso sobre questões mundiais, Trotsky apresentou a nova orientação do Bureau Político acerca da perspectiva para a revolução mundial. A crise do após-guerra havia sido dominada pelos poderes capitalistas, que haviam sido aptos a reestabelecer um equilíbrio político e econômico.

Partindo dessa premissa, Trotsky defendeu uma aguda mudança da política comunista para aprofundar-se e concentrar-se na construção de partidos de massas. ....

Eu estive presente em diversas reuniões fechadas do partido em que a defesa de Levi feita por Lenin foi amargamente ressentida. Ele foi chamado de oportunista, um membro da ala de direita. As medidas disciplinares esperadas contra Bela Kun e seu grupo foram consideradas como injustas.

Nesse fervor de indignação emocional contra si, a sóbria apreciação das conseqüências políticas das novas táticas que ele propunha acabou se perdendo. A ala esquerda do partido tornou-se cada vez mais indignada com essa proteção de Levi.”[117]

 

De toda sorte, é necessário constatar que, situada em minoria a corrente zinovievista de esquerda de Ruth Fischer e Arkadi Maslow, Radek logrou tornar-se, a partir do III Congresso da Internacional Comunista de 1921 e do VII Congresso de Jena, do Partido Comunista da Alemanha(KPD), o principal mentor do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e seu principal dirigente político, coadjuvado por agora por Heinrich Brandler, Ernst Meyer e, transitoriamente, também por Ernst Friesland, continuando a exercer, ao mesmo tempo, na Alemanha, a função de diplomata soviético oficioso, com bom trânsito nos meios dirigentes do Estado Burguês Alemão.

A conquista e a consolidação de posições chaves nos sindicatos alemães, bem como uma colaboração estratégica com os mais expressivos dirigentes da Social-Democracia Alemã, permeada, porém, de críticas e denúncias, poderiam assegurar, segundo Radek, a transformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD), já unificado, em dezembro de 1920, em “um partido de massas da ação revolucionária”.  

Assim, no mesmo mês de agosto, em que Lenin elaborava sua Carta aos Comunistas Alemães, Radek encontrava meios para recomendar, paralela e  resolutamente aos principais dirigentes alemães, situados às vésperas de seu VII  Congresso, realizado entre 22 e 26 de agosto de 1921, em Jena :    

 

“O presente Congresso tem lugar em um momento em que surge relativa claridade sobre o terreno no qual temos de lutar, bem como sobre as forças e métodos de nossa luta. ...

Para essa clarificação quero, de minha parte, colaborar com essa carta, ainda que me dê conta perfeitamente do fato de que vejo as coisas de uma certa distância, i.e. não de modo suficientemente concreto.

Porém, esse distanciamento, que seria uma desvantagem se se tratasse de um plano tático para uma batalha, converte-se em uma vantagem, porque não se trata de uma batalha, senão de uma campanha para cujo plano são decisivas os lineamentos gerais, muito mais claramente visualizáveis à distância do que da proximidade imediata. ...

As próximas tarefas do partido consistem em uma ampla campanha organizativa e agitativa contra o ataque do governo capitalista que está sendo preparado visando a jogar todo o fardo criado pela guerra nas costas das amplas massas do proletariado e da pequena-burguesia em processo de proletarização.

A segunda tarefa, na aglutinação organizativa dessas massas, seja através de nossa organização partidáriam de nossas frações nos sindicatos, seja através de amplas organizações sem partido, que abarcam as massas, que não são em verdade comunistas, estando, porém, dispostas a lutar, com todos os meios,  da luta de classes proletária, contra a crescente pauperização.

Essas tarefas podem apenas ser executadas se o partido posicionar-se como um todo unificado, dedicado à ação com vontade apaixonada.  ...“[118]     

 

Um primeiro sinal fixado por Karl Radek no sentido de sua orientação política ser capaz de conciliar-se com uma perspectiva democrático-burguesa de impulsionamento da tática de Frente Única e de aplicação da consigna de Governo dos Trabalhadores, surgiria, a seguir, de maneira nítida e inequívoca, já em seu artigo intitulado Tarefas da Secretaria do Comitê Central do Partido, redigido logo após o VII de Congresso do PCA(KPD), de Jena, retro-mencionado.

Nessa sede, é possível encontrar-se a seguinte argumentação profundamente ardilosa do antigo Secretário do Executivo do Komintern :

 

“Um Governo dos Trabalhadores é alcançável na trilha de uma revolução vitoriosa que despedaça os órgãos do Estado Burguês e outorga a Ditadura do Proletariado.

Os Srs. Sociais-Democratas e os funcionários dos sindicatos rejeitam a Ditadura do Proletariado.

Não podemos deles exigir aquilo que eles rejeitam.

Bem. Então, eles devem perseguir o caminho que consideram ser o único, o caminho democrático da luta pelo seu próprio programa, em prol da conquista da maioria no Parlamento do Império, em prol da formação do Governo dos Trabalhadores, pela via democrática.

Estamos convencidos que, por essa via, o socialismo não pode ser conquistado.

Porém, não está, de nenhuma forma, descartado que por essa via seja dado um passo adiante.

Seria já um grande passo adiante se se conseguisse fundir todos os trabalhadores para a luta em torno de seus próximos interesses e impor esses próximos interesses contra o mundo burguês, no qual o Estado se tornasse co-possuidor da indústria e seu controlador.

Se os sociais-democratas independentes e da maioria, se os dirigentes sindicais, quiserem perseguir esse caminho, podem eles estar certos de que os apoiaremos nisso da maneira mais enérgica, sem abandonarmos por um momento nossos objetivos mais progressivos.

O plano aqui desenvolvido da campanha que o Partido Comunista da Alemanha terá de dirigir constitui a concretização da tática da “Carta Aberta” (i.e. a Carta Aberta de 8 de Janeiro de 1921) na situação em concreto, constitui a implementação da consigna do III Congresso : “Em Direção das Massas” ...

Também nessa campanha estarão presentes os perigos de sublinharmos muito pouco a essência do comunismo ...

Esses perigos, tem o partigo de encará-los e, de antemão, combatê-los mediante posições claras, seguras, principistas e táticas.

Tendo o partido assumido uma tal posição clara, tendo compreendido como introduzir seu ponto de vista a seus aderentes, poderá ele concluir amplos compromissos ..”[119]

 

Ao longo de 1921, tendo sido colocadas em minoria os posicionamentos do comunismo de esquerda alemão, bem como duramente golpeadas as posições de Paul Levi, consideradas por Radek como profundamente oportunistas, sem que não se tivesse abalado ele mesmo pelo seu profundo compromentimento com aquelas, retomou ativamente Radek seu intento de comandar o Partido Comunista da Alemanha(KPD) segundo sua orientação política fundamentalmente cético-jornalística, revolucionário-administrativista, estratégico-diplomática, de matiz pessimístico, acerca do desenvolvimento das lutas revolucionárias na Alemanha :

 

·         “a revolução mundial é um processo muito lento, no qual deve-se contar com mais do que uma derrota” ;

 

·         “o papel é o de segurar a classe trabalhadora e evitar choques desnecessários” ;

 

·         “a estratégia comunista tem de ser a de convencer essas amplas massas de trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora” ;

 

·         “a luta dos comunistas contra outros partidos não deve se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra outra” .

 

Tais formulações de Radek, já formuladas ao longo do período posterior à celebração da Paz de Brest-Livotsk e o mês de janeiro de 1921, perfeitamente de acordo com sua concepção, externada já em 1914, em suas conversações diante de Trotsky, no sentido de que “não acreditava na possibilidade de uma revolução proletária em conexão com a guerra nem, em geral, em época próxima”, pois “para isso as forças produtivas da humanidade, consideradas em seu conjunto, ainda não se encontram suficientemente desenvolvidas”, passaram, então, a serem obnubiladas e pouco claramente discerníveis em face do teor das resoluções dos III e  IV Congressos do Komintern, que Radek alegava defender agüerridamente, bem como diante do períodico e sistemático ascenso da Troika Stalinista na URSS.

Com efeito, o III Congresso Mundial do Komintern, ocorrido entre 22 de junho e 12 de julho de 1921, sacando as conseqüências da mudança do ritmo das lutas revolucionárias do proletariado em todo mundo e refluxo da onda revolucionária das massas oprimidas, que desde o início da I Guerra Mundial percorria a Europa, estabeleceu, em plena conformidade com as posições à época postuladas por Lenin e Trotsky  :

 

“A tomada do poder já não se situa imediatamente na ordem do dia.

A época das vitórias fáceis e dos êxitos irresistíveis passou.

Antes de que se possa pensar, seja onde for, acerca da conquista do poder, há de se, em primeiro lugar, conquistar as massas através de um trabalho paciente e obstinado, duplicando, em particular, os esforços para a conquista dos sindicatos.”[120]

 

No mesmo sentido, Lenin destacou, claramente, para os dirigentes do já unificado Partido Comunista da Alemanha(KPD), em 14 de agosto de 1921 :

 

“ « ... O Partido Comunista Unificado da Alemanha será tanto mais capaz de ser exitoso na execução de ações de massas quanto mais adeque, no futuro, suas consignas de luta à situação real, quanto mais estude, cuidadosamente, essa situação e quanto mais execute suas ações de modo unitário e disciplinado. »

Esses são os mais importantes excertos da resolução sobre tática do III Congresso.  A conquista por nós da maioria do proletariado : essa é “a tarefa mais importante”(título do Capítulo 3 da Resolução sobre Tática).

A conquista da maioria não a entendemos, naturalmente, de modo formal, tal como o fazem os cavaleiros da “democracia” pequeno-burguesa da II ½ Internacional. Quando, em Roma, em julho de 1921, o proletariado inteiro, tanto o proletariado reformista dos sindicatos, como também o proletariado centrista do Partido de Serrati, marcharam juntos com os comunistas contra os fascistas, isso representou a conquista por nós da maioria da classe trabalhadora.

De longe não foi ainda a conquista decisiva, senão apenas um conquista parcial, passageira, local, porém foi uma conquista da maioria.

Uma tal conquista é possível até mesmo quando a maioria do proletariado segue, formalmente, aos dirigentes da burguesia ou aos dirigentes que praticam um política burguesa (como fazem-no todos os dirigentes da II e da II ½ Internacionais), ou mesmo se a maioria do proletariado oscila.

Uma tal conquista marcha adiante ininterruptamente, no mundo inteiro, por todos os lados e dos modos mais distintos possíveis.  

Preparemo-la mais profunda e cuiudadosamente. Não deixemos nenhuma única séria oportunidade sem atenção, em que a burguesia force o proletariado a se levantar para a luta.   Aprendamos corretamente a determinar o momento, uma vez que as massas do proletariado não podem senão se levantar conjuntamente conosco. Então, a vitória nos pertencerá, quão duras possam ser derrotas isoladas e etapas individuadas em nossa grande campanha.”[121]

 

O IV Congresso Mundial do Komintern, realizado, então, a seguir, entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, haveria de confirmar, em essência, as resoluções do III Congresso, dedicando-se ainda mais minunciosamente sua atenção para o desenvolvimento da tática de Frente Única e de Governo dos Trabalhadores, visando à conquista das massas e à tomada do poder pelo proletariado[122]. 

Na Alemanha, os debates acerca das consignas de Frente Única e de Governo dos Trabalhadores, interpretada e defendida, a seguir, em conformidade com a versão peculiaríssima de Karl Radel e Heinrich Brandler, encontrou, entretanto, à época, desde logo, severos críticos nas fileiras dos comunistas esquerdistas e defensores da Teoria da Ofensiva, encabeçados por Ruth Fischer, Arkadi Maslow e Hugo Urbahns, alinhados, em nível internacional, com as posições de Zinoviev e Bukharin[123].       

Não obstante, visando ao atingimento do objetivo de construção de uma Frente Única com as organizações da Social-Democracia Alemã, Radek viajou, durante todo o ano de 1922, entre Berlim e Moscou, pretendendo consolidá-la em nível internacional.

Respondendo à proposta política lançada por Radek, o socialista austríaco Fritz Adler, encabeçador da II½ Internacional, que reunía o Partido Social-Democrático Austríaco e o Partido Trabalhista Independente da Gra-Bretanha,   trabalhou no sentido da convocação de uma Conferência das Três Internacionais, a ser realizada em Berlim.

Na trilha de sua concepção de que ”a luta dos comunistas contra outros partidos não deve se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra outra”, Radek pretendia, mediante a Conferência das Três Internacionais e as capacidades de conciliador de Fritz Adler, alcançar a reunificação da classe trabalhadora de todo o mundo em uma única organização de massas.

Para essa conferência, que teve início em 2 de abril de 1922, o Komintern enviou, como delegados, além de Radek, Bukharin, enquanto representante do PC da URSS, Clara Zetkin, do PCA(KPD), Frossard e Rosmer, do PCFrancês, Warski, do PC Polonês, Stoianovits, do PC da Iugoslávia, Bohumil-Smeral, do PC da Tchecoslováquia, e Katayama, do PC Japonês[124].

Essa tentativa de reaproximação dos sociais-democrátas da Europa Ocidental com os socialistas-revolucionários bolcheviques nada mais produziu além de discussões acaloradas, sendo que o Comitê dos Nove, nascido nessa conferência, composto de três representantes de cada internacional, desapareceu a seguir, quando teve início, em Moscou, em junho de 1922, o processo judicial contra os Sociais-Revolucionários de Esquerda, articuladores do Putsch para a derrubada, em 1918, do governo revolucionário de Lenin, e da contra-revolução imperialista, no quadro da Guerra Civil.

Lenin criticou, consciamente, em seu artigo “Pagamos Caro Demais”, as posições de puro oportunismo radekista, tal como o fizera durante todo o período de luta contra a fração de Radek no interior da Esquerda de Zimmerwald, alegando, desta feita, que a Conferência das Três Internacionais havia-se convertido em um palanque público para fazer-se propaganda contra a Rússia Soviética, sem que o Komintern em troca nada recebesse efetivamente das negociações.

Nessa oportunidade, Lenin assinalou com sua habitual precisão, destacando o significado e o sentido das ligações dos representantes da Social-Democracia com os interesses materiais da burguesa internacional :

 

“Se esse ou aquele representante da II ou da II½ Internacionais estiveram direta ou indiretamente em ligação com a burguesia, trata-se, no caso em questão, de uma questão inteiramente secundária.

Não os culpamos por uma ligação direta.

Não importa saber no caso se aqui existia uma ligação direta ou uma ligação indireta, bastante confusa.

O que importa no caso é o fato de que o Komintern fez uma concessão política, sob a pressão dos mandatários da II e da II ½ Internacionais da burguesia internacional, sem recebermos, em troca, nenhuma concessão.

Que tipo de conclusão disso se retira ?

Sobretudo a de que Radek, Bukharin e os outros companheiros que representaram a Internacional Comunista agiram erroneamente.

Além disso.

Significa que devemos rasgar o acordo por eles firmado ? Não.

Acredito que uma tal conclusão seria equivocada e que não necessitamos rasgar o acordo assinado.

Precisamos apenas sacar a conclusão de que os diplomatas burgueses demonstraram-se, dessa vez, mais habilidosos do que os nossos, sendo que, da próxima vez – se o pagamento para admissão no salão não for estabelecido de antemão – devemos barganhar e manobrar  mais habilmente.

Temos de tornar uma regra para nós o não fazer nenhuma concessão política à burguesia internacional (tão hábilmente quanto essas concessões possam ser disfarçadas por qualquer representante intermediário), caso não recebemos, em troca, da burguesia internacional concessões, mais ou menos equivalentes, em favor da Rússia Soviética ou em favor de outras tropas de luta do proletariado internacional em luta contra o capitalismo.”[125]

 

Nesse contexto, Lenin conclui, em um de seus últimos textos redigidos acerca do Komintern, assinalando acerca da Conferência das Três Internacionais, ao mesmo tempo contra as autênticas forças sectárias no movimento proletário internacional da época :

 

O erro de Radek, Bukharin e dos outros companheiros não é tão grande ...

De toda forma, abrimos uma certa brecha no espaço fechado.

De toda forma, o comp. Radek conseguiu, como mínimo, desmascarar diante de uma parte dos trabalhadores o fato de que a II Internacional negou-se a aceitar a consigna de anulação do Tratado de Versalhes entre as consignas de manifestações.

O grande erro dos comunistas italianos e de uma parte dos comunistas franceses e sindicalistas consiste em contentar-se com o saber que possuem.

Contentam-se por saber exatamente que os representantes da II e da II ½ Internacionais, tal como os Srs. Paul Levi, Serrati etc., são encarregados altamente habilidosos da burguesia e precursores de sua influência.

Porém, as pessoas e os trabalhadores, que disso sabem realmente com segurança e compreendem efetivamente o significado desse fato, são, na Itália, na Inglaterra, na América e na França, sem qualquer dúvida, uma minoria.

Os comunistas não podem ficar cozinhando o seu próprio suco, mas tem de aprender a agir, sem deter-se diante de certas vítimas, sem assustar-se com erros inevitáveis, no início de cada obra nova e complicada, de tal modo a penetrar em espaços fechados, nos quais os representantes da burguesia atuam sobre os trabalhadores.”[126]

  

A despeito do criticismo de Lenin, Radek considerou a realização de tal conferência de reaproximação como um passo extraordinário adiante na transformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD) em um “um partido de massas da ação revolucionária”.  

Segundo Radek, a possibilidade de unificação imediata estava evidentemente descartada, porém um programa de Frente Única Internacional haveria de ser indispensavelmente considerado como um pré-requisito para o fortalecimento e consolidação dos partidos comunistas na Europa Ocidental.

Nessa perspectiva, Radek e o Comitê Central do PCA(KPD) assumiram, já no final de 1922, a campanha ordenada em torno da consigna “Convocar um Congresso Mundial Internacional”, sem entretanto procurar precisar o fato de dever tratar-se esse congresso de um novo trampolim para ampliação de discussões acaloradas acerca do caráter da Rússia Soviética ou propriamente um instrumento de aglutinação dos diversos sindicatos sociais-democráticos e comunistas no quadro de uma nova organização que seria a defensora de um conceito mundial da NEP e reformas políticas democráticas, marcadas pelos métodos de luta do proletariado revolucionário.

Em torno dessa consigna, propagandeou-se intensamente na Alemanha, no fim de 1922 e início de 1923. Companheiros comunistas da França, da Gra-Bretanha, da Suécia, da Polônia e da Rússia contribuíram para sua popularização, atendendo ao seu lançamento, ecoado a partir das fileiras alemães.

Acerca do tema, relevando o estratagema político contido nessa campanha, encabeçada pelo PCA(KPD), Radek, assinalou :

 

“O avanço comum põe-nos em contato com as massas trabalhadoras que estiveram de nós isoladas, sendo que falaremos a essas massas com já estamos de saco cheio.

Do ponto de vista alemão, há de observar-se ainda que, caso os Scheidemanns não se pode isolar internacionalmente – eles necessitam da ajuda contra a França -, será-lhes, então, muito mais difícil isolar vocês na Alemanha.

Discutam a coisa toda e escrevam-me sua opinião acerca do tema.

O perigo de todas essas coisas consiste em que nosso pessoal mantem, firmemente, em vista : mediante a ruptura, formamos a vanguarda, fortalecêmo-la.

 

Agora, procuramos, mediante a consigna de Frente Geral, atrair as reservas.

Conseguiremos dirigí-las se entendermos claramente que temos de permanecer, em sentido político, espiritual e organizativo, uma força independente que possui a vontade de conquistar a maioria da classe trabalhadora ...”[127]  

 

A orientação política Radek-Brandler assumindo, na Alemanha, uma posição dirigente, após o IV Congresso Mundial do Komintern, ocorrido entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, seguiu considerando, durante todo o primeiro semestre de 1923, o Partido Comunista da Alemanha(KPD) como uma organização débil e vanguardista, fadada ao impulsionamento de atividades propagandistas, condenada perspectivamente a um crescimento lento, devendo empenhar-se em seu papel decisivo de ”segurar a classe trabalhadora e evitar choques desnecessários”.

Nesse contexto, explosões espontâneas, manifestações violentas e protestos armados das massas trabalhadoras e dos demais segmentos socialmente oprimidos deveriam ser severamente condenados pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD), ou, dado caso, reduzidos a pequenos choques, lançando a base para forças a abertura de espaços da Social-Democracia Alemã, rumo à consolidação de uma Frente Única e de um Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituindo-se esse último como um centro de legalidade em si mesmo.

Segundo Radek e Brandler, esse último agora presidente do PCA(KPD), era manifestamente impossível desenvolver-se as forças do partido no campo das lutas, dos embates e dos conflitos abertos de classes contra as instituições de exploração e dominação do Estado Burguês Alemão, dotado de um potencial de desenvolver-se exponencialmente no curso das futuras crises econômicas e políticas mundias vindouras.

Sendo assim, a estratégia comunista revolucionária deveria consistir em ”convencer essas amplas massas de trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora.”

Nesse sentido, aos olhos de Radek e Brandler, a luta dos revolucionários proletários alemães contra a Social-Democracia Alemã não deveria ”se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra outra”.

Apenas assim, em conformidade com a orientação política Radek-Brandler, estaria pavimentado o caminho para a construção de uma estratégia de Frente Única, não apenas do contexto das lutas de classes, senão ainda para o objetivo maior das eleições e do Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por comunistas e sociais-democratas.

Apenas assim, no entender de Radek e Brandler, o proletariado alemão seria capaz de dar uma resposta efetiva às forças nazistas em gestação e suas conspirações contra-revolucionárias.

Ora. É evidente que as diretivas estabelecidas pelo IV Congresso Mundial do Komintern, realizado entre novembro e dezembro de 1922, não vedava a possibilidade de os comunistas revolucionários alemães levarem adiante uma tática de Frente Única.

Mais do que isso : o IV Congresso Mundial do Komintern admitia, até mesmo, experimentalmente, a possibilidade de formar-se um Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por comunistas e sociais-democratas, desde que, porém, tal governo fosse instaurado como um instrumento para o impulsionamento das lutas proletárias de massas voltadas à destruição do Estado Burguês Alemão e instituição da Ditadura Revolucionária do Proleteriado, i.e. desde que fosse formado sob o pressuposto de assegurar o imediato e massivo armamento das centúrias proletárias, para imediata deflagração de um levante militar proletário contra todo as forças contra-revolucionárias comandadas pelo Governo Federal Social-Democrático de Ebert e seus aliados, garantindo-se, transitoriamente, o fechamento das Assembléias Legislativas dos Estados Federados conquistados eleitoralmente e a conversão do Congresso das Comissões de Fábricas em Poder Legislativo.

Com efeito, a política stalinista de qualificação da Social-Democracia como expressão de um “Social-Fascismo” haveria de surgir apenas em 1928 e 1929.

De toda sorte, o IV Congresso Mundial do Komintern jamais poderia imaginar que sua admissão da tática de Frente Única, bem como de Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por comunistas e sociais-democratas, fosse interpretada, fomentada e aplicada à maneira Radek-Brandler como forma de prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na capitulação diante da Social-Democracia Alemã.   

Pelo contrário, a orientação política Radek-Brandler, em frontal ofensa aos critérios estabelecidos pelo IV Congresso Mundial do Komintern, postulava a defesa da tática de Frente Única e o ingresso do Partido Comunista da Alemanha(KPD) em um governo de coalizão com a Social-Democracia, não para armar militarmente, como pressuposto de ingresso em tal governo, centúrias proletárias, fechar órgãos parlamentares burgueses e constituir em Poder Legislativo congressos dos comitês de fábrica dos trabalhadores alemães.

O radekismo-brandlerista interpretava tais consignas de mobilização das massas trabalhadoras sob o signo de uma Frente Única e de um Governo de Coalizão dos Trabalhadores voltado à contemporização com as forças reformistas, precursoras dos interesses capitalistas internacionais e das ilusões jurídico-burguesas no seio da classe trabalhadora.

Prentendendo entreter a Social-Democracia Alemã para ganhar tempo, Radek e Brandler buscavam por meio da Frente Única e do Governo de Coalizão dos Trabalhadores lograr “penetrar em espaços fechados, nos quais os representantes da burguesia atuam sobre os trabalhadores”, com vistas a alcançar, em troca, a conquista das massas proletárias através do fomento e intensificação de atividade jornalístico-propagandística, fundadas em críticas e denúncias parlamentares e governamentais de popularização e consagração dos méritos do socialismo revolucionário e impiedoso desmascaramento literário das ilusões e dos habilidosos encarregados sociais-democráticos entre os trabalhadores explorados e demais socialmente oprimidos.

Em setembro de 1922, quando a corrente de direita de Karl Kautsky e Rudolf Hilferding, restante da ruptura do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD) retornaram às fileiras da Social-Democracia Alemã, Radek interpretou nesse fenômeno a abertura de mais um canal de ingresso no centro do partido de massa do proletariado alemão, com vistas ao desenvolvimento de sua política propagandística de censuras e denúncias.

No último mês de 1922, quando Karl Radek e Ernst Meyer regressaram a Berlim, vindos do IV Congresso Mundial do Komintern, reiniciaram as intrigas de Radek visando a combater as concepções de Ernst Meyer, de modo a abrir caminho para a aplicação de sua interpretação política das consignas de Frente Única e Governo dos Trabalhadores, visando à complacência eleitoral e governamental do Partido Comunista da Alemanha(KPD)  com a Social-Democracia Alemã, no marco do objetivo de suposta conquista das grandes massas proletárias para o socialismo revolucionário.

Ernst Meyer, fundando-se nos debates plasmados nos Protocolos do IV Congresso Mundial do Komintern, bem como nas Resoluções Congressuais acerca do tema, mesmo tendo pertencido tradicionalmente ao bloco de Paul Levi e de Karl Radek, negava-se, peremptoriamente, a admitir a forma de abordagem versatilista e complacente de Karl Radek acerca da perspectiva de desenvolvimento da luta de classes na Alemanha.

Alegando ser imperioso travar uma luta contra o sectarismo esquerdista (representado, então, pelas posições Ruth Fischer, Arkadi Maslow e Hugo Urbahns), bem como contra o ultra-esquerdismo insurrecional (representado pelos seguidores insurrecionais de Karl Liebknecht, Erich Wollenberg e Hans Kippenberger), golpeando, ainda, a um só tempo, o oportunismo do momento (consubstanciado fantasiosamente a essa altura nas reminescências das posições de Paul Levi, incorporadas por Ernst Meyer), Radek, valendo-se de sua grande autoridade junto ao PC da URSS e ao Komintern, logrou arquitetar com Heinrich Brandler uma tendência partidária majoritária, fundada solidamente no movimento sindical e reputadamente defensora da revolução socialista internacionalista.

Tal tendência haveria de servir de estrado de madeira para assegurar a aplicação de sua concepção de prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na capitulação diante da Social-Democracia Alemã.

Com efeito, Radek encontrou em Brandler um pulso muito mais enérgico e representativo do que sua aliança anterior com Ernst Meyer e Paul Levi.

Heinrich Brandler, nascido em 1881, em Warnsdorf, nos sudetos da Áustria, desprovido, portanto, de nacionalidade alemã – razão pela qual não podia ser eleito regularmente para o Parlamento Alemão -, trabalhador da construção civil, de longa experiência sindical, iniciada em 1897, havia participado, desde seu ingresso no Partido Social-Democrático Alemão(SPD), em 1901, da fração de oposição à direção reformista de Kautsky e Ebert.

Tendo atuado, a partir de 1914, na Secretaria do Sindicato de Construção Civil de Chemnitz, Brandler foi expulso das fileiras da Social-Democracia Alemã, em 1915, passando a ser um dos mais entusiásticos animadores da Liga Spartakus, ainda que viesse a aderir, em 1917, ao Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD).    

Adquirindo, posteriormente, sua nacionalidade alemã por decisão do governo revolucionário social-democrático da Baviera, encabeçado por Kurt Eisner, Brandler logra fundar, em Chemnitz, em 1918, o agrupamento Der Kämpfer(O Lutador), que incorporando-se ao Partido Comunista da Alemanha(KPD), passou a representar a sua mais expressiva organização regional.

Apoiando, agora, Paul Levi contra os supostos sectários ultra-esquerdistas de Hermann Gorter, Anton Pannekoek e Max Hoelz, inspiradores da ruptura do Partido Comunista dos Trabalhadores da Alemanha(VKPD), Brandler tornou-se, em março de 1920, apesar de sua passividade nas lutas contra o Golpe Militar Contra-Revolucionário de Kapp-von Lüttwitz, o principal organizador das eleições subseqüentes dos conselhos de trabalhadores na Saxônia, sendo eleito Presidente do Conselho Operário de Chemnitz, quando já então colocava em questão, pioneiramente, a problemática concernente à aplicação da tática de Frente Única e Governo de Coalizão dos Trabalhadores[128].

Tendo sido eleito para o Comitê Central do PCA(KPD), em abril de 1920, Brandler ascendeu, vertiginosamente, na vida do comunismo revolucionário alemão da época, no quadro da organização do processo de unificação com setores de esquerda do Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD).

Possuindo uma experiência de lutas revolucionárias excessivamente restrita aos limites territorias da Saxônia, desprezando, em grande parte, todos aqueles companheiros revolucionários que não haviam adquirido suas bases socialistas em tarefas rotineiras no quadro do velho movimento social-democrático anterior à I Guerra Mundial, Brandler encontrou em Radek a sua contra-parte, necessária para atingir o exercício das funções revolucionárias de maior envergadura que almejava.

Junto a Radek, Brandler encontrou eco para suas crenças de que os bolcheviques eram, em última instância, incapazes para entender, propriamente, as particulariedades concretas da luta de classes da Alemanha.

Uma revolução socialista proletária em seu país marcadamente industrializado, haveria de, necessariamente, coibir os atos de violência e de terror cometidos pela Revolução de Outubro de 1917, assegurando o respeito das liberdades e direitos fundamentais do homem e do cidadão[129].

Demitido Paul Levi, em fevereiro de 1921, Brandler assumiu a função de Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD), recentemente unificado, tendo sido, logo a seguir, condenado, por ocasião do Ação de Março de 1921, a cinco anos de prisão em fortaleza.

Liberado em novembro do mesmo ano, com base em sua defesa estritamente legalista em seu processo de Alta Traição[130], Brandler foi indicado como membro da Presidência do Komintern, indo viver durante vários meses em Moscou.

Após o IV Congresso Mundial do Komintern, Radek e Brandler uniam-se em um sólido bloco com a perspectiva de dirigirem conjuntamente o próximo período de lutas do Partido Comunista da Alemanha(KPD).

Com Brandler, Radek contava com a possibilidade de dirigir diretamente um importante grupo de sindicalistas do Partido Comunista da Alemanha(KPD).

No quadro do bloco sustentador da orientação política Radek-Brandler, surgia, ainda, de maneira notável, August Thalheimer, renomado intelectual de Göppingen, aliado de Radek desde 1908 e mentor politico das atividades sindicais de Brandler.

Quando Clara Zetkin, Fritz Heckert e Jacob Walcher, esses dois últimos prestigiados sindicalistas alemães da época, sedimientou-se, estruturalmente, o bloco político comandado por Radek-Brandler, de tal modo a ser capaz a intervir decisivamente no contexto da luta de classes do ano de 1923.

 

 

CAPÍTULO III

FRENTE ÚNICA E GOVERNOS DOS TRABALHADORES

NA VERSÃO RADEK-BRANDLER :

SEU SENTIDO E SIGNIFICADO HISTÓRICO NA GRANDE DERROTA

DO PROLETARIADO INTERNACIONAL DE 1923

 

 

 

“O Partido Comunista da Alemão é um grande partido que, seguramente,

conta com mais de 250.000 membros.

Esse partido, que cresce a todo dia e se torna, cada vez mais, um fator político de primeira classe não apenas na Alemanha, senão ainda em toda a Europa, esse partido, que foi fundado por lutadores extraordinários tais como Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, esse partido, que possui uma tradição heróica da qual pode ser orgulhar perante toda Internacional – esse partido não considera para si como sendo humilhante enviar seus representantes ao Executivo do Komintern em todos os casos de graves conflitos internos, solicitando desse último uma resolução última.”[131]     

 

Com tais palavras solenes Grigori Zinoviev, Presidente do Komintern durante os anos de seus primeiros quatro grandiosos Congressos Mundiais, caracterizou, no Relatório do Executivo Ampliado, celebrado em junho de 1923, a dimensão, o perfil, o significado e a integração alcançada pela sua segunda mais numerosa seção componente ou seu mais numeroso partido situado sobre a dominação de um Estado Burguês, i.e. o Partido Comunista da Alemanha(KPD), no seio do movimento socialista internacional do proletariado revolucionário.

Com efeito, durante a última parte de 1922, o Partido Comunista da Alemanha(KPD) adquiriu influência cada vez mais crescente na vida poítica desse país.

Ao final de 1922, esse partido contava com 218.555 membros, contrastando visivelmente com a cifra de 180.443 militantes que integravam suas fileiras um ano antes, logo após a deflagração da Ação de Março de 1921.       

Considerando-se o número de 218.555 membros, importa assinalar que desse montante 191.845 militantes eram homens, 26.710, mulheres, cerca de 6.000, vereadores e apenas 400, diretores de sindicatos. 

Essas cifras haviam sido computadas após ter-se verificado o rigoroso pagamento das cotizações da militância, que, em um período de inflação galopante, era efetivamente dificultoso de aferir-se.

Entretanto, de maneira mais lassa, indicava-se um número referencial de cerca de 356.000 membros do partido, sem qualquer margem de dúvida a soma mais elevada conhecida pelo PCA(KPD) durante todo período da República Imperial de Weimar.

Diante desses números, assinalou o historiador alemão Hermann Weber :

 

“Nada obstante, o partido tinha com isso reunido apenas escarsos 5% dos trabalhadores organizados nos sindicatos livres, sendo que, nas eleições estaduais prussianas de fevereiro de 1921, apenas 5,5% dos eleitores (e com isso escarsos 20% dos trabalhadores) votaram Partido Comunista.” [132]  

 

Em setembro de 1922, eram as seguintes as mais importantes regionais do Partido Comunista da Alemanha(KPD) :

 

Berlim-Brandenburg ................. 220 sedes .................................. 24.908 membros

Halle-Merseburg ....................... 235 sedes ................................... 23.374 membros

Wasserkante (Hamburg) ..........  90 sedes .................................... 23.206 membros

Renânia do Sul ......................... 138 sedes ................................... 19.309 membros

Renânia do Norte ..................... 159 sedes ................................... 18.525 membros 

Turíngea .................................... 243 sedes ..................................  15.147 membros

Saxônia Ocidental ....................  73 sedes ...................................  11.610 membros

Saxônia Oriental ......................  73 sedes ..................................   3.580 membros[133]

 

Diante desse quadro, é possível, desde logo, verificar-se o peso mais significativo da militância das regionais de Berlim, Hamburg e Renânia(Vale do Ruhr), localidades em que o clima de grandes confrontações e de Guerra Civil contra os representantes burgueses e sociais-democratas ainda persistia intensamente vivo.

Nas regiões da Saxônia e da Turíngea, o contexto político da luta de classes na Alemanha era então significativamente distinto.

Nesses Estados da República Imperial de Weimar, células inteiras do antigo Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD) haviam ingressado massivamente no Partido Comunista da Alemanha(KPD), logo após a fusão operada no V Congresso de Berlim, de 4 a 7 de dezembro de 1920.

Esse processo de fusão arrastou consigo formas de organização operária existentes em pequenas fábricas, distribuídas ao longo de inúmeras cidadelas ou vilarejos[134].

Em muitos casos, os novos comunistas revolucionários da Saxônia e da Turíngea, precedentes do USPD, possuíam penetrantes e íntimos vínculos existenciais mantidos com as administrações e vereanças da Social-Democracia Alemã, decorrentes da quotidiana convivência em pequenas municipalidades[135].

Esse clima de colaboração e convivência política, espraiava-se ainda para o domínio sindical, para as associações esportivas de trabalhadores e comitês locais de diversa natureza.

Acerca do tema, Ruth Fischer, dirigente da minoria zinovievista do PCA(KPD), declarou :

 

“Em 80 câmaras municipais ao longo de toda Alemanha, os comunistas possuíam maiorias absolutas. Em 170 outras, possuíam pluralidade. Mais de 6.000 vereadores estavam registrados como membros do Partido Comunista.

Uma secretaria especial do partido para negócios municipais (Kommunalpolitische Abteilung) coordenava essas atividades.

Os sucessos locais pareciam até mesmo mais importante quando contrastados com o Reichstag (Assembléia Legislativa Federal do Império), onde, depois da ruptura de Paul Levi e seus associados, a bancada oficial do partido deixou de ter 15 deputados necessários para propositura de medidas legislativas. ...

Nos sindicatos, o Partido Comunista tinha 997 grupos organizados, sendo que 400 diretores sindicais eram membros do partido e 60 diretorias de sindicatos locais tinham maiorias comunistas.

Porém, nacionalmente, a influência comunista era relativamente baixa.

No Congresso Sindical de Leipzig, de junho de 1922, apenas 90 delegados entre 694 eram comunistas.”[136]

 

Além disso, cabe anotar que o ano de 1922 já viria a revelar a intenção do PCA(KPD) cobrir a mesma dimensão de atividades impulsionada pelo PC da URSS.

A essa época, organizavam-se departamentos especiais nas cidades e cooperativas, sob a direção do PCA(KPD), entre mulheres, jovens e crianças, trabalhadores do campo e da cidade, camponeses e intelectuais, visando à educação, à cultura e à recreação, ao recolhimento de auxílios para a URSS, promovendo a assistência jurídica e material de prisioneiros políticos comunistas e suas famílias.

O Partido Comunista da Alemanha(KPD) possui, então, 34 jornais diários, incluindo 50 edições especiais, entre os quais se destavam : Die Internationale(A Internacional), Die Kommunistische Parteikorrespondenz(A Correspondência Comunista do Partido), Die Kommunistiche Gewerkschafter(Os Sindicalistas Comunistas), Der Kommunistische Genossenschafter(O Comunista das Cooperativas), Der Kommunistische Landarbeiter(O Trabalhador Rural Comunista), Der Pflug(O Cultivador) e Die Kommunistin(A Comunista)[137].

Os panfletos eram editados ou em grande tiragem, i.e. com 4 milhões de cópias (reduzidas em setembro de 1922 para 1,8 milhão), ou pequena tiragem, i.e. 1.4 milhão de cópias(reduzida respectivamente para 0,5 milhão).

O PCA(KPD) era particularmente ativo entre professores, junto aos quais organizava um sindicato independente dessa categoria profissional, bem como entre estudantes, que tomavam parte nas Kosufras(Frações Estudantis Comunistas).

O Comitê Central do PCA(KPD) organizava escolas de formação, em que se instruía companheiros no domínio da teoria econômica, história das revoluções russas e alemães, programa agrário, marxismo-leninismo etc.

Nesse contexto, atuavam 4 professores itinerantes do partido que percorriam 7 escolas distritais permanentes e 78 regionais.

Tendo acumulado um imenso patrimônio intelectual-ideológico no quadro de sua direta convivência com os mais expressivos dirigentes bolcheviques que impulsionaram e dirigiram a Revolução Russa de Outubro de 1917, Karl Radek possuía plena clareza acerca do fato de que, na Alemanha do início dos anos 20, a consigna Governo dos Trabalhadores representava uma palavra de ordem marcadamente ordenadora, que conferia um direcionamento político para a tática de Frente Única Proletária.

Para Radek, tal como para seu à época mais representativo discípulo alemão, Heinrich Brandler, Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD), o chamado à Frente Única de luta contra os governos democrático-burgueses de Wilhelm Cuno e Gustav Stresemann, defensores intransigentes do despotismo capitalista comandado por Krupp, Stinnes, Klöckner e von Westarp, não poderia ser conseqüentemente concebido sem o levantamento de uma consigna para resolução da questão do poder do Estado.

Tal consigna, representada pela palavra de ordem Governo dos Trabalhadores, surgia, porém, aos olhos de K. Radek, como o coroamento político da tática de Frente Única, no quadro estrito da ordem democrático-burguesa, permanecendo, porém, mantido, distintamente, para o futuro incerto e não sabido, o objetivo final de instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado, com o que a consigna Governo dos Trabalhadores surgia formulada por K. Radek na medida em que a opunha absolutamente à Ditadura do Proletariado.

A despeito disso, o IV Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, parecia já haver clarificado sobejamente a matéria acerca da tática revolucionária do proletariado quando estabeleceu, de maneira nítida e pormenorizada, em suas Resoluções o seguinte :

 

“Acerca da Tática do Komintern

1.          Confirmação das Resoluções do III Congresso ; ...

2.          O Período de Decadência do Capitalismo ; ...

3.          A Situação Política Internacional ;

4.          Ofensiva do Capital ; ...

5.          O Fascismo Internacional ; ...

6.          A Possibilidade de Novas Ilusões Pacifístas ; ...

7.          A Situação no interior do Movimento dos Trabalhadores ; ...

8.     A Ruptura dos Sindicatos e a Preparação do Terror Branco contra os

             Comunistas ; ...

 

 

 

 

9.          As Tarefas de Conquista da Maioria

Nessas circunstâncias, permanece sendo inteiramente válida a orientação fundamental do III Congresso sobre “conquistar uma influência comunista sobre a maioria da classe trabalhadora e a conduzir uma parte decisiva dessa classe à luta”.

Ainda mais do que à época do III Congresso, possui validade a concepção de que, no quadro do débil equílibrio atual da sociedade burguesa, a crise mais aguda pode ser desencadeada, de modo totalmente repentino, em decorrência de uma grande greve, de um levante colonial, de uma nova guerra ou mesmo de uma crise parlamentar.

Porém, precisamente por isso adquire significado extraordinário o fator “subjetivo”, i.e. o grau da consciência subjetiva, da vontade de luta e da organização da classe trabalhadora e sua vanguarda.

Conquistar a maioria da classe trabalhadora da América e da Europa – essa continua a ser a tarefa cardeal do Komintern.

Nos países coloniais e semi-coloniais, o Komintern possui dois tipos de tarefas:

1.     criar um núcleo de partidos de comunistas que representem os interesses comuns do proletariado, e

2.     apoiar, com todas as forças, o movimento nacional-revolucionário que se direciona contra o imperialismo, tornar-se a vanguarda desse movimento e destacar, bem como aumentar, o movimento social no interior do movimento nacional.

 

10. Tática de Frente Única

Disso tudo, resulta a necessidade da tática de Frente Única.

A consigna do III Congresso “Rumo às Massas” possui validade muito mais agora do que antes.

Apenas agora, inicia-se a luta pela formação da Frente Única Proletária em um grande número de países.

Apenas agora, começa-se a superar também as dificuldades da tática de Frente Única.

Como melhor exemplo disso, pode servir a França, onde a dinâmica dos acontecimentos convence também os que eram, até há pouco tempo, adversários principistas dessa tática, acerca da necessidade de sua aplicação.

O Komintern exige que todos os partidos e grupos comunistas executem a tática de Frente Única, da maneira mais rigorosa, pois apenas ela aponta aos comunistas, no período atual, o caminho seguro para a conquista da maioria dos trabalhadores.

Os reformistas necessitam, agora, da cissão.

Os comunistas estão interessados no ajuntamento de todas as forças da classe trabalhadora contra o capitalismo.

A tática de Frente Única significa o avanço da vanguarda comunista nas lutas diárias das amplas massas trabalhadoras por seus mais imprescindíveis interesses vitais.

Nessa luta, os comunistas encontram-se até mesmo dispostos a tratar com os dirigentes traidores da Social-Democracia e de Amsterdã.

As tentativas da II Internacional de colocar a Frente Única enquanto fusão organizativa de todos os “Partidos de Trabalhadores” devem ser evidemente rechaçadas, da maneira mais categórica.

 

 

As tentativas da II Internacional de absorver, sob o manto da Frente Única, as organizações de trabalhadores que se posicionam mais à esquerda (unificação da Social-Democracia com a Social-Democracia Independente, na Alemanha), nada mais significam senão a possibilidade para os dirigentes sociais-democratas de entregar novas partes das massas trabalhadoras à burguesia.

A existência de partidos comunistas autônomos e de sua completa liberdade de ação em face da burguesia e da Social-Democracia contra-revolucionária é a mais importante conquista histórica do proletariado, a qual os comunistas não devem renunciar, em nenhuma hipótese.

Apenas os partidos comunistas combatem pelos interesses do proletariado de conjunto.         

A tática de Frente Única não significa também, de nenhuma maneira, as assim chamadas “Combinações Eleitorais” das direções que perseguem esse ou aquele objetivo parlamentar.

A tática de Frente Única é a proposta da luta comum dos comunistas com todos os trabalhadores que pertencem a outros partidos ou grupos e com todos trabalhadores sem partido, com o objetivo de defender os interesses vitais mais elementares da classe trabalhadora contra a burguesia.

Toda e qualquer luta em favor das reivindicações quotidianas mais ínfimas forma uma fonte de escolarização revolucionária, pois as experiências da luta convencerão os trabalhadores acerca da inevitabilidade da revolução e do significado do comunismo.

Uma tarefa particularmente importante na execução da Frente Única é o atingimento não apenas de resultados de agitação, como também de organização.

Nenhuma oportunidade pode ser perdida para criar, nas próprias massas trabalhadoras, pontos de apoio organizativos (conselhos de fábrica, comissões de controle de trabalhadores de todos os partidos e sem partido, comitês de ação etc.).

O mais importante na tática de Frente Única é, e segue sendo, a centralização agitadora e organizativa das massas trabalhadoras.

O êxito real da tática de Frente Única cresce de “baixo”, das profundezas da própria massa trabalhadora.

Nisso, os comunistas não podem nisso renunciar também, em dadas circunstâncias, a tratar com as direções dos partidos dos trabalhadores adversários.

Acerca da dinâmica dessa tratativa, devem as massas, porém, estar plena e duradouramente informadas. 

A autonomia da agitação do partido comunista não pode, em nenhuma hipótese, ser limitada, durante as tratativas com as direções.

É evidente que, de acordo com as condições concretas, a tática de Frente Única deve ser aplicada nos diversos países em forma distinta.

Porém, nos mais importantes países capitalistas, onde as relações objetivas para a transformação socialista estão maduras e onde – conduzidos por dirigentes contra-revolucionários – os partidos sociais-democráticos trabalham, conscientemente, para a cissão dos trabalhadores, será a tática de Frente Única decisiva, para uma nova época.

 

 

 

 

11.         Governo dos Trabalhadores.

Enquanto consigna propagandística geral, deve ser utilizado o Governo dos Trabalhadores (respectivamente Governo dos Trabalhadores e Camponeses), quase que por todos os lados.

Porém, como consigna política atual , o Governo dos Trabalhadores possui maior significado naqueles países onde a situação da sociedade burguesa é bastante insegura, onde a relação de classes entre os partidos de trabalhadores e a burguesia coloca, na ordem do dia, a decisão da questão de governo enquanto necessidade prática.

Nesses países, surge a consigna do Governo dos Trabalhadores como sendo conclusão inevitável a partir de toda a tática da Frente Única.

Os partidos da II Internacional procuram, nesses países, “salvar” a situação mediante a propagação e concretização de uma coalizão dos burgueses com os sociais-democratas.

As tentativas mais recentes de alguns partidos da II Internacional (p.ex. na Alemanha) de rejeitar uma participação aberta em tal governo de coalizão, executando-a, ao mesmo tempo, de maneira acobertada, não significam senão uma manobra de pacificação em face das massas que protestam, tal como uma fraude refinada das massas trabalhadoras.

Contra uma coalizão burguesa-social-democrática, aberta ou mascarada, os comunistas postulam uma Frente Única de todos os trabalhadores e uma coalizão de todos os partidos de trabalhadores, nos domínios econômico e político, para a luta contra o poder burguês e para sua derrubada final.

Em luta unificada de todos os trabalhadores contra a burguesia, todo o aparelho de Estado deve chegar às mãos do Governo dos Trabalhadores e, através disso, devem ser fortalecidas as posições de poder da classe trabalhadora.

As tarefas mais elementares de um Governo dos Trabalhadores devem consistir em armar o proletariado, desarmar as organizações burguesas e contra-revolucionárias, introduzir o controle da produção, lançar o ônus principal dos impostos sobre os ombros do ricos e quebrar a resistência da burguesia contra-revolucionária.

Um tal Governo é apenas possível se nascer a partir da luta das próprias massas, apoiando-se em órgãos combativos dos trabalhadores que são criados a partir das mais baixas camadas das massas trabalhadoras oprimidas.

Também um Governo dos Trabalhadores que decorra de uma constelação parlamentar, i.e. que seja de origem puramente parlamentar, pode dar ocasião ao avivamento do movimento revolucionário dos trabalhadores.

É óbvio que o nascimento de um verdadeiro Governo dos Trabalhadores e a subseqüente manutenção de um Governo que impulsiona política revolucionária há de conduzir à luta mais encarniçada, eventualmente à Guerra Civil, contra a burguesia.

Já mesmo a tentativa do proletariado de construir um tal Governo dos Trabalhadores colidirá, de antemão, com a resistência mais aguda da burguesia.

A consigna de Governo dos Trabalhadores é , por isso, adequada para reunir o proletariado e desencadear lutas revolucionárias.

Os comunistas devem declarar-se dispostos, em certas circunstâncias, a formar um Governo dos Trabalhadores juntamente com partidos dos trabalhadores e organizações dos trabalhadores não comunistas.

Ele poderão, entretanto, apenas fazê-lo se existirem garantias de que o Governo dos Trabalhadores realmente conduzirá uma luta contra a burguesia no sentido acima  indicado.

Para isso, as evidentes condições de participação dos comunistas em um tal Governo consistem em :

1.    a participação em um Governo dos Trabalhadores ocorrerá apenas com a aprovação do Komintern ;

2.    os participantes comunistas em um tal Governo permanecerão sob o mais rigoroso controle de seu partido ;

3.    os participantes comunistas em questão desse Governo dos Trabalhadores ficarão em estreito contato com as organizações revolucionárias das massas ;

4.    o partido comunista conservará sua própria fisionomia e a plena autonomia de sua agitação.

No marco de todas as grandes vantagens, a consigna Governo dos Trabalhadores possui também seus perigos, tal como também os alberga toda tática de Frente Única.

Para prevenir esses perigos, os partidos comunistas devem ter em consideração o seguinte :

Todo Governo Burguês é, ao mesmo tempo, um Governo Capitalista.  Porém, nem todo Governo dos Trabalhadores é um instrumento de poder do proletariado, um instrumento de poder realmente proletário, i.e. revolucionário.

A Internacional Comunista deve considerar as seguintes possibilidades :

 

I. Governos Aparentes dos Trabalhadores

 

1. Governo Liberal dos Trabalhadores : um tal Governo existiu na Austrália. Um tal Governo tornar-se-á também possível, no futuro breve, na Inglaterra.

2. Governo Social-Democrático dos Trabalhadores (Alemanha).  

 

II. Governos Autênticos dos Trabalhadores

 

3. Governo dos Trabalhadores e Camponeses Pobres : uma tal possibilidade existe nos Balcães, na Tchecoslováquia etc.

4. Governo dos Trabalhadores com Participação dos Comunistas.

5. Governo Autenticamente Revolucionário dos Trabalhadores, o qual, em sua forma pura, pode apenas ser incorporado através do partido comunista.

 

Os comunistas estão dispostos a marchar também com aqueles trabalhadores que ainda não reconheceram a necessidade da Ditadura do Proletariado.

Os comunistas estão, assim, também dispostos a apoiar, sob certas condições, sob certas garantias, um Governo dos Trabalhadores em verdade tão somente aparente, não comunista, evidentemente apenas na medida em que represente os interesses dos trabalhadores.

Os comunistas declaram, igualmente, aos trabalhadores, de maneira aberta, que, sem uma luta revolucionária contra a burguesia, um Governo Autêntico dos Trabalhadores não pode ser alcançado nem mesmo mantido.

Enquanto Governo Autêntico dos Trabalhadores, pode-se conceber apenas um Governo que esteja resolvido a admitir, no mínimo, a luta séria para satisfação das mais importantes reivindicações diárias dos trabalhadores contra a burguesia.

Apenas de um tal Governo podem participar os comunistas.

Os dois primeiros tipos de Governo Aparente dos Trabalhadores (tipos liberal e social-democrático) não são Governos revolucionários, podem, porém, sob certas circunstâncias, acelerar o processo de decomposição do poder burguês.

Os dois outros tipos de Governo dos Trabalhadores (Governo dos Trabalhadores e Camponeses, Governo Comunista-Social-Democrático) não significam ainda a Ditadura do Proletariado.

Eles não representam nem sequer um estágio de transição historicamente inevitável para a Ditadura, porém são, se surgirem em algum lugar, um ponto de partida importante para a conquista dessa Ditadura.

A perfeita Ditadura do Proletariado é apenas aquele Governo Autêntico dos Trabalhadores (cifra 5) que é composto por comunistas.

12.         Movimento dos Conselhos de Fábrica ;

................................................................................

13.        O Komintern enquanto Partido Mundial ;

................................................................................

14.        A Disciplina Internacional ;

................................................................................

O Congresso decide apensar a essa Resolução, enquanto anexo, o texto das Teses de Dezembro (de 1921) do Executivo acerca da Frente Única, de vez que essas teses clarificam, de modo detalhado e correto, a tática da Frente Única.”[138]

      

Na Alemanha do início dos anos 20, a problemática relacionada com a formulação da tática de Frente Única e da consigna de Governo de Trabalhadores surgia enfeixada com a perpectiva de conquista de maiorias parlamentares absolutas, conformadas com deputados e governantes saídos das fileiras reformistas da Social-Democracia e do Partido Comunista Alemão(KPD), em diversas esferas de governo estadual da República de Weimar, com especial para os Estados da Saxônia, da Turíngea e de Mecklenburg-Strelitz..

Além disso, é mister assinalar que, imediatamente após o assassinato de 24 de junho de 1922, perpetrado contra o Ministro do Exterior da Alemanha, responsável pela assinatura do Tratado de Rapallo com a Rússia Soviética, antigo membro do Partido Democrático, o empresário industrial Walther Rathenau, alvejado por grupos nacionalistas-reacionários e anti-semitas, começaram a surgir, na Alemanha, diversas marchas massivas de trabalhadores e populares na luta contra o ascenso das organizações de extrema-direita, em prol da assim chamada “Defesa da República”.

Tais marchas, impulsionadas em Frente Única dos principais sindicatos e partidos apoiados sobre a classe trabalhadora, deram nascimento às primeiras Centúrias Proletárias, situadas majoritariamente sob a direção dos sociais-democratas e sociais-democratas independentes.

 

 

 

 

No quadro do Acordo de Berlim de 1922 cerraram fileiras os representantes da classe trabalhadora alemã, juntamente com o Partido Comunista da Alemanha(KPD), em favor da luta pela promulgação de uma Lei de Proteção da República, reguladora da dissolução das organizações militares secretas de extrema-direita, bem como depuração democrática da administração pública, das forças armadas e do Poder Judiciário.

O órgão jornalístico do PCA(KPD), a Rote Fahne(Bandeira Vermelha) declarara, à época, sob a direção política Radek-Brandler, que a classe trabalhadora alemã possuía o direito e o dever de defender a República Imperial Alemã[139].

Nada obstante, o efeito mais próximo surgido com a subseqüente promulgação da Lei de Proteção da República resultou ser a produção de um instrumento normativo para a perseguição também das atividades das organizações assim qualificadas de extrema-esquerda, entre elas o próprio PCA(KPD), excluído, além disso, das mais significativas negociações jurídico-políticas encabeçadas pela Social-Democracia Alemã.     

Esse contexto político colocava para os comunistas revolucionários de então o desafio de efetivamente conceber o debate travado acerca da Frente Única e dos Governo dos Trabalhadores no quadro de uma situação histórica reputadamente muitíssimo distinta daquela da Revolução Russa de 1917.

Sendo assim, a versão política de K. Radek, sua abordagem analítica, seu método de postulação das tarefas revolucionárias decorrentes da tática de Frente Única e dos Governo de Trabalhadores pautaram-se por conduzir, inevitavelmente, tal como Trotsky assinala brilhantemente no Programa de Transição, citado na introdução do presente trabalho, à reprodução dessas consignas em sua versão democrático-burguesa, i.e. plenamente aprisionada nos limites da ordem legal-constitucional burguesa-capitalista.

Visando à adicional elucidação dessa afirmação, importa à presente investigação apresentar ao leitor, ainda, as seguintes intervenções de K. Radek acerca da presente temática introdutória, formuladas junto ao IV Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922 - i.e. no quadro preambular do surgimento da mais poderosa situação revolucionária que a Alemanha do século XX conheceu. Tais intervenções haverão de iluminar, indubitavelmente, todo o curso subseqüente do presente trabalho :

 

“A companheira Fischer mencionou, em seu discurso, um grande número de deficiências na Ação-Rathenau que nós, aqui em Moscou, no Executivo, quando recebemos as informações detalhadas acerca do curso dos acontecimentos, também concebemos como tais. Se, no partido, vozes se levantam, elas afirmam : “Em uma ação que deve ser ação de massa – nenhum segredo diante das massas ! Não há de se permitir receber ordens da Social-Democracia, em nenhuma circunstância, no sentido de que, se mantemos negociações com eles, nossos companheiros não podem ser informados publicamente, em todos os detalhes, sobre essas negociações.” Se, no partido, vozes se levantam, elas afirmam : “A imprensa comunista deve tomar posição comunista em face de todo e qualquer acontecimento e não correr atrás do cadáver de Rathenau, gritando República, Repúiblica !”

Se isso assim se diz, podemos apenas responder que desejamos essa seja não apenas a voz da oposição, mas do partido em seu conjunto.

Apenas quem pretende ser um por assim dizer advogado jurado da Presidência do Partido pode negar que o partido alemão, no início da Ação-Rathenau, tenha cometido erros .

Quando recebemos aqui para ler a “Rote Fahne”, o companheiro Zinoviev disse diversas vezes : “Ao diabo com eles ! O que eles tem a ver com essa República, o que eles tem a ver com esses Rathenau ! Nenhuma palavra crítica acerca dessas coisas !” Esse foi nosso sentimento comum.

O partido atrelou-se demais aos sociais-democratas por medo de isolamento.

Se a crítica da companheira Fischer consistisse apenas nisso, ela teria total razão, porém, na sua crítica, surgem ainda outros momentos. 

A companheira Fischer disse, entre outras coisas, que ela não está, em princípio, contra as negociações com as direções, mas que ela também não está, em princípio, em favor dessas negociações, porém que as coisas deveriam ser provadas com cuidado. ....

No que concerne à questão do Governo dos Trabalhadores, gostaria de sublinhar uma palavra muito feliz na intervenção da companheira Fischer.

Ela disse que existiria o perigo de envenenamento do comunismo no Ocidente[140]. Acerca desse perigo gostaria de dizer algumas palavras.   

Quando o companheiro Zinoviev disse no Executivo Ampliado que o Governo dos Trabalhadores seria para nós um pseudônimo para a Ditadura do Proletariado, ... essa definição que, em meu entendimento, não é correta, surgiu de uma preocupação, precisamente da preocupação que foi descrita aqui pela companheira Fischer com suas palavras sobre o “envenamento no Ocidente”. Para muitos companheiros, a idéia de Governo dos Trabalhadores é um tipo assim de travesseiro de dormir confortável.

Eles dizem : “- Ditadura, o diabo lá sabe quando virá. De toda forma, a agitação com a consigna de Ditadura é muito difícil de ser executada. Então, digo, preferentemente, Governo dos Trabalhadores. Isso soa bem suave e inocente. Ninguém sabe o que é que é isso. Talvez, isso seja, então, alguma coisa. Em todo caso, não surge como sendo tão perigoso.”

Esse perigo deve ser eliminado através do tipo da nossa agitação.

O Governo dos Trabalhadores não é a Ditadura do Proletariado, isso está claro. Ele é um dos pontos possíveis de transição para a Ditadura do Proletariado. Esse ponto possível de transição consiste em as massas trabalhadoras no Ocidente não eram politicamente amorfas, não desarticuladas, como no Oriente.

Elas estão articuladas em partidos e encontram-se aderidas aos partidos.

No Oriente, na Rússia, quando começou a tempestade revolucionária, foi mais fácil de trazê-las diretamente para o campo do comunismo. 

Junto a vocês (i.e. no Ocidente), isso é muito mais complicado.

Os trabalhadores alemães, noruegueses, tchecolosvacos, vão se declarar muito mais facilmente em favor do seguinte : “- Sim, nenhuma coalizão com a burguesia, melhor uma coalizão com os partidos de trabalhadores, que nos assegurem 8 horas por dia, nos dão mais um pedaço de pão etc. etc.”

Então, surgirá um tal Governo dos Trabalhadores, seja em lutas precursoras, seja sobre a base de uma combinação parlamentar, sendo que é um absurdo rejeitar a possibilidade de uma tal situação. É um absurdo rejeitá-la doutrinariamente. Nessa altura, a pergunta será a seguinte : “- Deitemo-nos sobre esse travesseiro do sossêgo e descansemos ou procuremos trazer as próprias massas, sobre a base de suas ilusões, para a luta em favor do programa do Governo dos Trabalhadores ?”

Se concebermos o Governo dos Trabalhadores como um travesseiro do sossêgo, falirá não apenas o Governo dos Trabalhadores, senão ainda seremos derrotados politicamente. Surgiremos, juntamente com os Sociais-Democratas, como um novo tipo de enganadores. Mantendo nas massas a consciência de que o Governo dos Trabalhadores é uma sujeira se atrás dele não se posicionam trabalhadores que tomem as armas, construam os Conselhos de Fábrica, derrubem esse Governo, não lhe permitindo concluir compromissos à direita, tornar-se-á o Governo dos Trabalhadores um ponto de partida para a luta pela Ditadura do Proletariado.

Tal Governo dará lugar a um futuro Governo Soviético. Ele não será um travesseiro do sossêgo, mas sim introduzirá um período de luta pelo poder com meios revolucionários.”[141]  

 

Rejeitando rigorosamente, nessa sede, a perspectiva de a consigna de Governo dos Trabalhadores, coroadora política da tática de Frente Única, poder ser admitida como uma designação popular da Ditadura Revolucionária do Proletariado, como um pseudônimo da luta revolucionária em prol da aliança firmada entre o proletariado e o campesinato para o embasamento de um Poder Soviético, K. Radek postulou-a, então, dentro de uma concepção essencialmente democrático-burguesa, reduzindo-a à condição de um dos possíveis pontos de transição para a Ditadura do Proletariado no Ocidente, sendo impulsionada mediante lutas precursoras ou sobre a base de uma combinação parlamentar.

Nesse último sentido, o Governo dos Trabalhadores, concebido enquanto instrumento de facilitação e aceleração da edificação Ditadura da Revolucionária do Proletariado, ao qual seria admissível aderirem os marxistas revolucionários teria não como pré-condição de sua eventual composição com forças sociais-democráticas, rompidas com a burguesia, a intensificação inadiável e exponencial do armamento das massas proletárias, a imediata supressão dos órgãos parlamentares do Estado Burguês e a elevação do congresso dos conselhos de trabalhadores à condição de poder do Estado Proletário.

Pelo contrário, segundo K. Radek, o Governo dos Trabalhadores, contando com a participação de representantes do comunismo revolucionário e da Social-Democracia, cujos com a burguesia estariam rompidos, seria um ponto de partida contemporizador para o impulsionamento da luta pela Ditadura do Proletariado, mediante a possibilidade de implementação de uma política operária, asseguradora de conquistas básicas de conteúdo econômico-proletário, tal como jornada de trabalho de 8 horas, bem como conclamadora de sua sustentação pelos trabalhadores.

 

 

Segundo a lógica radekista, esses últimos deveriam, a partir da instituição desse Governo dos Trabalhadores, na base de uma atividade propagandística de persuasão consciente,  decidirem-se por tomar as armas e construir seus conselhos de fábrica, embriões do novo órgão legislativo do Estado, agindo por, no final das contas, derrubar esse mesmo governo, tornando-se assim um ponto de transição para a Ditadura do Proletariado.           

Estremando, assim, claramente entre os conceitos políticos de Governo dos Trabalhadores e Ditadura do Proletariado, tal como se tratasse esses ambos conceitos de duas etapas plenamente distintas e inconfundíveis da luta de massas proletárias pelo socialismo, K. Radek assinalou, ainda, claramente, em sua contribuição à discussão do IV Congresso Mundial do Komintern :

 

“Acho que um dos companheiros disse : o Governo dos Trabalhadores não é uma necessidade histórica, mas sim uma possibilidade histórica.

Essa é, na minha opinião, uma fórmula correta.

Seria inteiramente errado apresentar as coisas assim como se o desenvolvimento do macaco em Comissário do Povo tivesse de passar obrigatoriamente pela fase do Governo dos Trabalhadores.

Porém, essa variante é possível na história e ela é possível em uma série de países onde existem movimentos camponeses, ao lado de fortes movimentos proletários, ou onde a classe trabalhadora é tão grande como na Inglaterra, em que a a burguesia não possui nenhum grande meio direto de poder contra a classe trabalhadora ...

Portanto, companheiros, nessa questão, acredito que o Executivo tem, no geral, na colocação do problema, na medida em que, de um lado, adverte contra uma total intransigência que afirma : ou Governo Soviético ou nada, e, por outro lado, alerta contra a ilusão que se poderia fazer um para-quedas do Governo dos Trabalhadores ...

O caminho da Frente Única é muito mais difícil do que afirmamos taticamente em 1919 : Arrebentem com tudo !

É muito mais fácil e agradável arrebentar com tudo.

Porém, quando não se a força para fazê-lo e esse caminho é necessário, torna-se preciso caminhar com a consciência de que os perigos que através dele perpassam ameaçam a partir da direita e, ao mesmo tempo, caminhar com a firme confiança de que esse caminho provoca danos não para nós, mas sim para a Social-Democracia.

Não fosse assim, a II Internacional não tentaria, tão histerica e convulsivamente, desabar a ponte que existe entre nós.

Isso nós não fazemos e não o fazemos, em verdade, pela vontade de fusão com os Scheidemanns, mas sim em virtude da convicção de que os destroçaremos ao abraçá-los.”[142]     

 

Sendo-lhe, a seguir, conferida a palavra para seu célebre informe acerca da Ofensiva do Capital Mundial e a Tática da Internacional Comunista, proferido no IV Congresso Mundial do Komintern, K. Radek teve a possibilidade de discorrer ainda mais detalhadamente acerca de sua concepção sobre Frente Única e Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por representantes da Social-Democracia Alemã e do Partido Comunista Alemão(KPD), sem que seus argumentos viessem a ser, ao final, sufragados rigorosamente pelas resoluções adotadas pelos delegados presentes nesse congresso :                            

 

Plano de Exposição

“I. Ofensiva do Proletariado

........................................... ;

II. A Contra-Ofensiva do Capital

........................................... ;

III. A Vitória do Fascismo

........................................... ;

IV. A Luta contra a Contra-Ofensiva do Capital ;

........................................... ;

V. As Consignas de Luta

........................................... ;

VI. Governo dos Trabalhadores

E agora passo para a questão que cumpre um grande papel em nossa luta contra a ofensiva do capital, um grande papel nas realizações práticas do companheiro Zinoviev acerca da questão do Governo dos Trabalhadores que não podemos desconectar do debate sobre a luta contra a ofensiva do capital...

Nos países de desagregação do capital, essa idéia encontra-se muito vivamente ligada com a de Frente Única e, tal como dizem os trabalhadores, Frente Única significa que os comunistas e os sociais-democrátas não se combatem nas fábricas, durante as greves, mas sim caminham juntos.

Assim, a idéia do Governo dos Trabalhadores para as massas trabalhadoras assume o mesmo significado : elas pensam no governo de todos os partidos dos trabalhadores.

Que quer dizer isso prática e politicamente para as massas ?

Essa pergunta, já a respondemos.

E como nos posicionamos diante dessa pergunta ?

Se se investiga a questão acerca de em que medida é praticamente provável chegar-se a esses Governos de Coalizão de Trabalhadores, pode-se encontrar milhares de respostas engenhosas. ...

A questão decidir-se-á através do fato de saber se os sociais-democrátas seguirão juntos, até a sua morte, com a burguesia.

Se esse for o caso, o Governo dos Trabalhadores é apenas possível enquanto Ditadura do Proletariado Comunista.

Não podemos decidir acerca da política da Social-Democracia.

O que temos de decidir é se surgimos diante das massas, em nossa luta contra a ofensiva do capital, se lhes podemos dizer que estamos dispostos a lutar por um Governo de Coalizão dos Trabalhadores, a criar as pré-condições para ele ou não ?

Essa é a questão que se pode apenas confundir mediante calculações supostamente teóricas.

No meu entender, se a luta pela Frente Única segue adiante, teríamos de dizer, pura e simplesmente, que, se as massas trabalhadoras sociais-democráticas forçarem seus líderes a romper com a burguesia, estamos dispostos a participar de um Governo dos Trabalhadores, na medida em que esse Governo venha a ser um órgão da luta de classes.

Digo : se ele estiver disposto a lutar juntamente conosco.

 

 

 

Se a situação fosse assim de modo que um frango assado nos caisse do céu, de modo que não se modificasse no Império Alemão, o carvão permanecesse com Stinnes, as forças armadas na mão dos monarquistas, tendo Scheidemann apenas a Rua de Wilhelm (i.e. a rua da sede do Governo) e para essa Rua de Wilhelm fossemos convidados ; se nosso companheiro Meyer vestisse um fraque e levasse debaixo do braço a companheira Ruth Fischer, que está relutante, conduzindo-a ao Palácio da Chancelaria Imperial – se existissem essas perspectivas históricas haveria de se opor o seguinte contra uma tal idéia :

Em primeiro lugar, viria um tenente com 10 homens e deporia os companheiros Meyer, Scheidemann e Ruth Fischer, sendo que, então, se colocaria um fim no Governo dos Trabalhadores.

Porém, na luta contra a ofensiva do capital não se trata de uma combinação parlamentar, mas sim de uma plataforma para a mobilização das massas, uma plataforma para a luta.”[143]                    

 

Admitindo, embora restritivamente, nessa outra sede, a perspectiva de a consigna de Governo dos Trabalhadores, coroadora política da tática de Frente Única, poder ser admitida enquanto expressão da ”Ditadura do Proletariado Comunista”, K. Radek postulou, então, dentro de uma concepção essencialmente democrático-burguesa, uma segunda versão de Governo dos Trabalhadores, desta feita resultante não mais de uma combinação parlamentar, mas sim estritamente como uma plataforma para a mobilização das massas, um ponto de início para o desferimento contra a ofensiva contra o capital, i.e. como suposto ponto de lutas precursoras em favor da Ditadura Revolucionária do Proletariado.

Mais uma vez nessa sede, resulta claro que a participação dos marxistas revolucionários em um Governo de Coalizão dos Trabalhadores, composto conjuntamente com os representantes pequeno-burgueses dos trabalhadores e camponeses não teria como pressuposto a execução inadiável das medidas de intensificação exponencial do armamento das massas proletárias, imediata abolição dos órgãos parlamentares do Estado Burguês, elevação do congresso dos conselhos de trabalhadores à condição de poder do Estado Proletário etc., todas essas conseqüentemente compatíveis com a edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado. Segundo K. Radek, o Governo de Coalizão dos Trabalhadores, formado por comunistas revolucionários e sociais-democráticos, rompidos com a burguesia, poderia ser entendido como uma ante-sala para ingressar-se na Ditadura Revolucionária do Proletariado.

Porém, tal concepção de K. Radek jamais o entreviu o fato de que o ingresso dos comunistas revolucionários em tal ante-sala seria apenas admissível de realizar-se mediante o atendimento da pré-condição desse Governo de Coalizão dos Trabalhadores dedicar-se, incansavelmente, à imediata intensificação do armamento do proletariado, ao impostergável fechamento dos órgãos burgueses parlamentares e constituição dos conselhos de trabalhadores como órgãos legislativos, como meio conseqüente para o impulsionamento da tarefa de destruição violenta do Estado Burguês, no quadro da abertura de uma Guerra Civil Revolucionária.

Todos esses atos revolucionários havendo, pois, de serem concebidos como imprescindíveis para a edificação do Estado Proletário de transição, rumo à fase inferior do comunismo, i.e. o socialismo :

 

“A questão coloca-se assim : serão os sociais-democratas botados para fora da coalizão pela burguesia, posicionando-se em um canto tranqüilo para protestar, apodrecerão no interior da coalizão ?

Ou ajudamos as massas a os forçar a dar início à luta ?

Poder-se-ia dizer : porque precisamos quebrar a cabeça com o que eles farão?

Se se tratasse dos dirigentes da Social-Democracia, nós iríamos preferir, com toda a certeza, que eles apodrecessem.

Porém, como se trata da mobilização das massas trabalhadoras sociais-democratas, temos de intervir com um programa positivo.

Em que medida isso situa-se em contradição com a Ditadura do Proletariado, com a Guerra Civil ?

Situa-se em uma tal contradição tal como a de uma ante-sala para uma sala.

Pode-se entrar em um quarto através da parede, se esse estiver trancado.

Até mesmo é possível entrar no quarto pela chaminé. ...

Se iremos ao Governo através da Guerra Civil, se a ele iremos através da falência da burguesia, a Guerra Civil é o resultado do Governo dos Trabalhadores.

A classe trabalhadora não será capaz de manter o poder sem a Guerra Civil.

Não é como se nós, comunistas, dissessemos para nós mesmos : sem Guerra Civil não posso viver, tal como Tom Sawyer acreditava ter de libertar o Negro através de um acesso subterrâneo, apesar de as portas estarem abertas.

Não é como se dissessemos : sem a Guerra Civil não aceito o poder, sem a Guerra Civil eu sou infeliz, senão é-o pelo simples motivo ... : a burguesia pode falir nesse ou naquele caso, porém ela não cederá definitivamente o poder sem uma luta encarnecida.

Se os sociais-democratas não são capazes de lutar, iremos, então, tirá-los para fora do caminho.

Onde surgir o Governo dos Trabalhadores, ele será apenas o ponto de partida da luta pela Ditadura do Proletariado, pois a burguesia não tolerará um Governo de Trabalhadores fundado até mesmo sobre uma base democrática ...

O trabalhador social-democrata tem de se tornar comunista, tem de travar a Guerra Civil para defesa de sua dominação.

Por essa razão, entendo que, na prática, no desenvolvimento das coisas, não nos ameaça nenhum grande perigo de empantanar-nos, na medida em que se tratade autênticas lutas de classe e não de questões parlamentares de governo em ninhos pequenos, situados em Braunschweig ou na Turíngea, onde se pode chegar-se ao Governo sem Guerra Civil.

Com isso não quero dizer que essa questão deve ser tratada como inexistente.

A consigna de Governo dos Trabalhadores é uma consigna necessariamente orientadora, uma consigna que coloca um objetivo político unificado para a Frente Única.

No momento em que os trabalhadores se juntem para a luta em favor do Governo dos Trabalhadores, do controle da produção, significará o início de nossa contra-ofensiva, pois a ofensiva começará quando defendermos não apenas aquilo que desaparece, mas sim também quando lutarmos por novas posições.”[144]     

Dando fiel expressão à versão radekista-brandleriana de conteúdo puramente democrático-burguês da consigna de Governo dos Trabalhadores, opondo-a, decisivamente, à Ditadura do Proletariado, o VIII Congresso do Partido Comunista da Alemanha(KPD), realizado em Leipzig, em janeiro de 1923, adotou, diretamente sobre a influência de K. Radek, a seguinte caracterização em seu programa :

 

“A luta pela Frenta Única conduz à conquista das velhas organizações de massas proletárias, tais como sindicatos e cooperativas.

Esses instrumentos da classe trabalhadora, que as táticas dos reformistas transformaram em ferramentas da burguesia, tornam-se, novamente, mediante essa luta, instrumentos do proletariado (p. 417).

O Governo dos Trabalhadores não é nem a Ditadura do Proletariado nem um ascenso pacífico e parlamentar rumo a ela.

Ele é uma tentativa da classe trabalhadora de, no quadro da e antecipadamente com os meios da democracia burguesa, praticar política operária, apoiando-se em órgãos proletários e nos movimentos proletários de massas.

Por outro lado, a Ditadura do Proletariado é uma explosão consciente do contexto democrático.

Ela explode o aparato do Estado Democrático e substitui-o completamente com organizações da classe proletária(p. 420).”[145]

 

O bloco Radek-Brandler, enquanto tendência majoritária entre os 219 delegados presentes no VIII Congresso de Leipizig, dirigia, inconstestavelmente, as regionais da Saxônia, Turíngea, Halle-Merseburg, Renânia do Sul, Baden e Württemberg.

A minoria oposicionista estava construída nos grandes centros industriais, abarcados pelas regionais de Berlim-Brandenburg, Wasserkante(Hamburg), Hessen-Frankfurt e Renânia Norte e do Centro.

Acerca dos mecanismos estratégicos de aprovação dessa orientação política Radek-Brandler relativa à aplicação da tática de Frente Única e da consigna do Governo dos Trabalhadores, no quadro da e antecipadamente com os meios da democracia burguesa, relatou-nos Ruth Fischer, dirigente da minoria zinovievista, junto ao congresso em evidência :

 

“A intenção dos dirigentes do partido era desenvolver os êxitos locais, a partir da cidade para os governos estaduais e, em janeiro de 1923, convocou-se, para Leipzig, um congresso visando a discutir-se essa política.

Paul Böttcher, editor do jornal comunista, esboçou as vantagens da política do ano anterior.

Sob sua direção, o partido de Leipzig dedicou-se a criar uma atmosfera apropriada para o Congresso : delegações de trabalhadores deviam comparecer e exigir que o partido ingressasse nos governos estaduais.

Todas novas vitórias eleitorais deveriam ser anunciadas. Os êxitos nos sindicatos locais haveriam de ser contrastados com a falta de influência do partido nos grandes centros industriais.

Em Berlim, Radek, com Heinrich Brandler e August Thalheimer, prepararam a declaração política para o Congresso.”[146]

 

Com efeito, em 11 de janeiro de 1923, começou a esboçar-se uma profunda transformação na situação da luta de classes da Alemanha : tropas francesas e belgas marcharam para o Vale do Ruhr, em razão do Não-Pagamento Alemão da Dívida concernente aos prejuízos produzidos pela I Guerra Imperialista Mundial[147]. 

Em 13 de feveiro, erigiram tais tropas uma fronteira aduaneira entre as áreas que haviam ocupado no Ruhr e as demais áreas do território alemão.

A conclamação à „Resistência Passiva“, de conotação nacional-chauvinista, formulada pelo governo federal alemão de direita, comandado por Cuno, Ebert e Stinnes, contra a ocupação do Vale do Ruhr pelas tropas francesas e belgas de Poincaré, culminou, rapidamente, na deflagração de greves nessa região, conducentes à eclosão de uma crise de natureza sócio-econômica e político-institucional em todo país.

Esses eventos aceleraram exponencialmente o processo de inflação da moeda alemã, conduzindo, em poucas semanas, à sua mais expressiva ruína.

Acerca do tema, Trotsky teve a oportunidade de escrever, expressamente, já mesmo, no final do ano anterior, em 13 de dezembro de 1922 :

 

„A ameaça de uma ocupação militar por parte dos Estados ocidentais terá por resultado o freio do desenvolvimento da Revolução Alemã, até o ponto em que o Partido Comunista Francês demonstrar que é capaz de paralisar esse perigo e estar disposto a fazê-lo. ...

Não existe quase nenhuma razão para afirmar categoricamente que a revolução proletária triunfará na Alemanha, antes que as dificuldades externas e internas da França não conduzam a uma crise governamental e parlamentar nesse país. ...

A burguesia não é, para nós, uma pedra que rola em direção do precipício, mas sim uma força histórica viva que manobra, avança tanto para a sua direita quanto para a sua esquerda.

Apenas se aprendemos todos os meios e métodos políticos da sociedade burguesa, para reagir, a cada vez, sem hesitação nem atraso, conseguiremos acelerar o momento em que, em um movimento preciso e seguro, projetaremos, definitivamente, a burguesia no abismo.“[148]

Em maio de 1923, Erich Wollenberg, cujo nome de guerra era Walter, membro do Partido Comunista Alemão(KPD), dirigiu um „levante armado espontâneo“, em Bochum.

Nessa ocasião, registraram-se confraternizações entre soldados franceses do exército de ocupação e milícias proletárias alemães, ao som das palavras de ordem „Abaixo Poincaré! Abaixo Stinnes!“[149]

A direção do PCA(KPD), sob Karl Radek, Heinrich Brandler e Ruth Fischer, essa última representante da minoria zinovievista de oposição, bem como a direção do Komintern, presidida por Grigori Zinoviev, decidiu condenar, resolutamente, já nessa primeira oportunidade, o impulsionamento por militantes comunistas revolucionários do Levante de Bochum de 23, considerando-o como „uma provocação da burguesia alemã“, e determinou o desarmamento dos trabalhadores sublevados.

Já então havia surgido e amadurecido, inconfundivelmente, uma situação revolucionária, contraditada pela progressiva estruturação de forças nacionalistas-reacionárias, expressada essa última, paradigmaticamente, no fuzilamento executado pelas autoridades francesas, em 26 de maio de 1923, do oficial dos Freikorps, Albert Leo Schlageter, empenhado na luta de “Resistência Passiva”[150].

Com efeito, já no início da Crise do Vale do Ruhr, Karl Radek declarara ao Governo Alemão de Cuno, Ebert e Stinnes, sua intenção de pretender afastar os comunistas revolucionários de toda atividade naquela região[151].  

 

 

 

 

Fundado em sua perspectiva lançada pela conclusão do Tratado de Rapallo, de 16 de abril de 1922, entre a Rússia Soviética e a República Imperial de Weimar, Karl Radek conferia, assim, nítido aprofundamento, à sua própria orientação revolucionário-administrativista, estratégico-diplomática, jornalístico-irresoluta, postulando um posicionamento político nitidamente estatal-colaboracionista, de caráter russo-germânico e franco-britanofóbico, relegador da perpectiva da luta de classes internacional do proletariado revolucionário em favor de uma suposta e quimética Comunidade de Destino da Alemanha com a Rússia [152] :

 

“... o destino da Alemanha – se tivermos de falar segundo os conceitos da antiga tragédia – é o de ser uma nação devedora e sua comunidade de destino com a Rússia reside nesse domínio.”[153]

 

Nesse preciso contexto histórico-político, Karl Radek elevou ao ápex sua doutrina de conversão da Alemanha em “colônia industrial”, parceira de luta da Rússia Soviética, contra o imperialismo franco-britânico, valendo-se para tanto das especulações teorizadas habilmente por Eugen Varga(Evgenii Pavlovski) e Nikolai Bukharin[154].

Em comentário acerca do tema, Ruth Fischer, dirigente da minoria zinovievista do PCA(KPD), observou :

 

“No principal, a teoria da transformação da Alemanha em um colonia industrial do Oeste foi fabricada para implementar o Tratado de Rapallo.

Em 1922-1923, Varga, Bukharin e Radek estavam descobrindo um novo papel para a burguesia alemã, a qual foi por eles convertida de inimiga de classe em vítima, sofrendo quase tanto quanto os trabalhadores alemães.

Uma frente nacional de todas as classes contra Entente tornara-se imperativa.

Os teóricos da “Alemanha como colonia industrial” tentaram dirigir o movimento operário alemão, em todas as suas alas – de direita, esquerda e centro, sindical e comunista – para novos canais. ... Deslocando a ênfase do ódio de classe de seu objetivo histórico – a burguesia alemã em todas as suas personificações – para a Entente, os teóricos perverteram o movimento operário da Alemanha e, conseqüentemente, da Europa. Eles agravaram a confusão intelectual e psicológica, a qual era a condição primordial para o crescimento das ideologias e das organizações totalitárias.

Essa revisão da política de classes de Lenin foi além dos problemas limitados alemães. ... A aliança entre a Rússia e a burguesia alemã foi exortada como necessária para a defesa da Rússia contra invasões futuras do Oeste.

No caso de guerra, tal aliança foi considerada mais realista do que aquela entre a Rússia e os trabalhadores alemães.

Pois, o abandono do conceito de uma revolução dos trabalhadores na Alemanha – não apenas no presente, senão ainda, de fato, para todo o período pós-Versalhes – foi uma revisão fundamental da análise de Lenin acerca do balanço das forças de classe na Alemanha.

A base do partido alemão entendia a implicação dessa política apenas vagamente.”[155]

 

De sua parte, porém, sacando um balanço político desse perído, Karl Radek assinalaria, então, que graças ao sangue frio dos comunistas revolucionários havia falhado o plano da burguesia alemã de acusá-los de abrirem as postas para a França Imperialista   :

 

“Companheiros !

O que ocorreu no Ruhr, nesses últimos seis mêses, exige a maior atenção do conjunto da classe trabalhadora mundial.

Verifica-se que a burguesia internacional não apenas não é capaz de construir novamente a economia mundial capitalista, como também que até mesmo a burguesia de todo e qualquer país não é capaz de subordinar os interesses particulares de seus grupos individuais aos interesses comuns.

A burguesia alemã é, agora, um bando de hienas que luta entre si por um pedaço de carniça. ....

A burguesia alemã não é sequer capaz de capitular.

Ela soltou todos os caes do nacionalismo contra os franceses e agora ela encontra-se despida de todos eles.

Ela queria capitular, tentando provocar um levante dos comunistas no Vale do Ruhr, e, depois, gritando : “Os comunistas abriram o fronte para a França”, derrotar os comunistas, lançando contra a classe trabalhadora os fascistas e os nacionalistas – dos quais uma parte poderia ser voltar-se contra o governo.

Graças ao sangue frio do Partido Comunista da Alemanha esse plano falhou e a burguesia alemã não sabe como as coisas podem seguir adiante. ...

Se a luta no Ruhr assumirá formas revolucionárias, se o cadáver da Resistência Passiva empesteará o ar ou se disso resultará um acordo, de tudo isso uma coisa é clara : os seis mêses da Guerra do Ruhr arremesaram para trás em anos a economia alemã ....”[156]            

 

De modo semelhante, o Presidente do Komintern, Grigori Zinoviev assinalou :

 

„Na Alemanha, marchamos poderosamente para adiante. Isso é um fato. A decomposição da burguesia alemã cresce a cada dia e cria uma nova e grande zona de perigo. A burguesia alemã procurou converter, mentirosamente, a greve do Ruhr em um levante do Ruhr, procurou derrotar, com sangue, a classe trabalhadora alemã, antes que pudesse ser por ela golpeada.

O partido alemão manobrou corretamente. Porém, a necessidade da classe trabalhadora é tão grande que o partido não conseguirá dirigir com a consigna : “Não vos permitis provocar !” Ele terá de lutar. E, aqui, reside o grande perigo.”[157]

 

A seguir, registraram-se na Alemanha inúmeras rebeliões de fome, com saques de locais de abastecimento e de venda de produtos alimentícios[158].

No Executivo Ampliado do Komintern, realizado sob a presidência de Grigori Zinoviev, entre os dias 12 e 23 de junho de 1923, nem K. Radek, enquanto especialista do Komintern para a Alemanha, nem qualquer dos demais participantes dessa sessão (como por exemplo Gramsci) – sessão em que não se encontrava Lenin e Trotsky considerou, em qualquer momento de suas intervenções políticas, o fato de encontrar-se a Alemanha no quadro de um progressivo desenrolar de uma tempestuosa situação revolucionária que exigia, desde há meses, a sistemática preparação de um levante armado, capaz de desencadear, em nível nacional, a Guerra Civil Revolucionária, hábil a colocar na ordem do dia a questão da destruição do Estado Burguês Alemão e da edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado, expressando-se a tática de Frente Única e a cosigna de Governo dos Trabalhadores precisamente nesse contexto.

K. Radek seguia, a essa altura, pleiteando pela busca dos mais diversos aliados políticos para o impulsionamento de sua versão da tática de Frente Única, bem como da consigna dela decorrente, firmada por esse Executivo Ampliado, de Governo de Trabalhadores e Camponeses, como forma de transferir-se dogmaticamente para a Alemanha o modelo seguido pela Revolução de Outubro de 1917.

Nessa ocasião, Karl Radek chegou até mesmo a clamar pelo frentismo com as forças da pequena-burguesia alemã, ultra-conservadoras e nacional-fascistas, em defesa dos interesses de todo o povo alemão contra o julgo do capital imperialista.

Essa orientação política de Radek foi ornada, de forma extraordinariamente dramática, com o seu discurso apologético pronunciado, diante Executivo Ampliado do Komintern, de junho de 1923, em louvor de Albert Leo Schlageter, oficial dos Freikorps, empenhado na luta de “Resistência Passiva” contra a ocupação francesa.

 

“Ouvimos a exposição largamente abrangente e profundamente penetrante da companheira Zetkin acerca do fascismo internacional, essa desgraça, que, com determinação, cairá esmagadoramente sobre a cabeça do proletariado, que afetará, em primeira linha, as camadas pequeno-burguesas que o fazem vibrar no interesse do grande capital.

Não posso nem ampliar esse discurso de nossa velha dirigente nem completá-lo.

Não o pude sequer seguí-lo, porque, diante dos meus olhos, encontrava-se, permanentemente, o cadáver do fascista alemão, nosso adversário de classe, condenado à morte e fuzilado pelos esquadrões do imperialismo francês, essa forte organização de uma outra parte de nossos inimigos de classe.

Durante todo o discurso da companheira Clara Zetkin acerca das contradições do fascismo vibrava na minha cabeça o nome Schlageter e seu trágico destino.

Devemos aqui recordar dele, quando tomarmos politicamente posição acerca do fascismo.

As habilidades desse mártir do nacionalismo alemão não devem ficar em segredo e serem reduzidas a uma frase de desdém.

Ela possuem muito a dizer a nós, muito a dizer ao povo alemão.

Não somos românticos sentimentais que esquecemos a animosidade em face do cadáver, não somos diplomatas que dizem : “Junto à cova, discursar-se bem ou calar-se.”

Schlageter, o corajoso soldado da contra-revolução merece ser por nós, soldados da revolução, considerado, virilmente, com honrarias. ...

Schlageter lutou no Freikops Medem, que atacou a cidade de Riga (i.e. a capital da Letônia, dirigida pelos bolcheviques sob Stutchka). ...  

Schalegeter foi do Báltico para o Vale do Ruhr. Não já em 1923, mas sim em 1920.

Sabeis vós o que isso significa ?

Ele tomou parte no assalto do capital alemão aos trabalhadores do Ruhr, lutou nas fileiras das tropas que tinham subjulgado os mineiros do Ruhr aos reis do carvão e do aço.

O caminho do perigo da morte que ele escolheu afirma e comprova que ele estava convencido de servir o povo alemão.

Porém, Schlageter acreditava poder servir ao povo da melhor maneira possível ajudando a consolidar a dominação das classes que, até então, dirigiam o povo alemão, levando-o a essa inaudita desgraça.

Schlageter via na classe trabalhadora a plebe que precisa ser governada.

E ele era, certamente, da mesma opinião defendida pelo Conde Raventlov que dizia, sem pertubação : “toda luta contra a Entente é impossível até que o inimigo interno esteja derrotado.”

O inimigo interno era para Schlageter a classe trabalhadora revolucionária.”[159]

 

Concluindo, então, seu célebre panegírico de Schlageter, Radek propôs :

 

“Os companheiros de Schlageter falam de luta junto à sua cova.

Eles juram continuar sua luta. A luta volta-se contra o inimigo que está armado até os dentes, enquanto a Alemanha está desarmada, enquanto a Alemanha está desmoralizada.

Isso exige a ruptura com as pessoas e os partidos cujas fisionomias, tais como cara de medusas, agem sobre outros povos, mobilizando-os contra o povo alemão.

Apenas se a causa alemã, que é a causa do povo alemão, apenas se a causa alemã consistir na luta pelos Direitos do povo alemão, conseguirá ela obter amigos ativos para o povo alemão.

O povo mais forte não pode existir sem amigos, tanto menos um povo abatido, cercado de inimigos.

Se a Alemanha quiser ser capaz de lutar, terá de surgir uma Frente Única de todos os que trabalham, terão de se unificar trabalhadores intelectuais e trabalhadores manuais em uma falânge. ...

A situação dos trabalhadores intelectuais exige essa unificação.

Apenas os velhos preconceitos estão colocados no caminho.

Unida como povo vitorioso e trabalhador, a Alemanha será capaz de descobrir grandes fontes de energia e de resistência que superarão aquele obstáculo.

Da causa do povo faz-se a causa da nação, da causa da nação faz-se a causa do povo.

Adequada como povo do trabalho lutador, encontrará o auxílio de outros povos que lutam por sua existência.

Quem não prepara a luta nesse sentido, é capaz de realizar atos de desespero, não porém uma luta efetiva.

Isso deve dizer o Partido Comunista da Alemanha (KPD), isso deve dizer a Internacional Comunista, junto à sepultura de Schlageter”[160]. 

 

Como conclusão dos debates travados nesse Executivo Ampliado do Komintern, resultou, entretanto, consagrada a orientação de que o Partido Comunista da Alemanha(KPD) haveria, a partir de então, levantar a consigna não mais restrita de Governo dos Trabalhadores, senão ampliada de Governo dos Trabalhadores e Camponeses, pretendendo, assim, indicar que o modelo da Revolução de Outubro de 1917 deveria ser fiel e rigorosamente levado adiante em solo alemão.

Nesse sentido, Zinoviev assinalou :

 

“Por tudo isso, companheiros, tiro a conclusão de que o melhor meio para eliminar essas reminescências consiste em expandir, agora, a consigna de Governo dos Trabalhadores para “Governo dos Trabalhadores e Camponeses”. Vocês se recordam como a questão desenrolou-se cronologicamente.

Em primeiro lugar, a tática de Frente Única e, então, Governo dos Trabalhadores. Agora, acredito que essa fórmula deva ser expandida e, em verdade, de modo geral.”[161]

 

 

 

Desde logo, é imperioso, porém, assinalar que tal decisão manifestada pela direção do Komintern, já crescentemente exposta à dominação da burocracia stalinista, não possuiu, entretanto, o condão de impedir fosse a consigna do Governo dos Trabalhadores e Camponeses reinvidicada, pelos mais prestigiados dirigentes do PCA(KPD), de maneira puramente legal-constitucional, i.e. em sua versão eminentemente democrático-burguesa – quando não, transitoriamente, de maneira abertamente colaboracionista em relação às forças da contra-revolução fascista.

Em comentário ao presente tema, Dietrich Möller, intelectual alemão de inclinação stalinista-reciclada, assinalou :

 

 “Na Europa, estão, porém, os camponeses com os elementos mais conservadores.

Radek continua a tentar atrair mais os pequeno-burgueses nacionalistas (na Alemanha, surgem, nos cartazes, ao lado da estrela soviética, a suástica nazista).

Quem se submete aos comunistas é bem-vindo, depois poder-se-á, dado o caso, sempre “prostrá-los”(Radek).”[162]

 

Acerca do Executivo Ampliado do Komintern, de junho de 1923, assinalou a historiadora alemã, de linhagem trotskysta, Annegret Schülle :

 

„Porém, nem a direção do PCA(KPD) nem a direção do Komintern conceberam, tempestivamente, o significado da situação.

Na Conferência do Comitê Executivo da Internacional Comunista, de junho de 1923, a direção do Komintern, sob Zinoviev, discutiu com a direção alemã acerca da situação.

No entanto, quase nenhum dos participantes concebeu a necessidade de preparação do levante.

Como paradigma da posição do Komintern podem ser consideradas as posições de Radek, que se encontrava na Alemanha, na qualidade de conselheiro russo.

Ainda em 2 de agosto, Radek insistiu para que, em „Bandeira Vermelha“, órgão do PCA(KPD), devia-se, então, não apenas não travar-se batalhas gerais, como também até mesmo evitá-las, de modo a não possibilitar-se ao inimigo esmagá-las parcialmente.“[163]

 

Nesse meio tempo, precisamente em 30 de junho, o Tribunal de Guerra Francês, estabelecido na cidade alemã de Mainz, condenou à morte mais 7 protestantes franceses por sabotagem.

A partir de julho e agosto, elevou-se, drasticamente, o número de trabalhadores desempregados na Alemanha.

Em 23 de julho, registraram-se distúrbios sangrentos de rua causados pela abrupta elevação dos meios de consumo, ao mesmo que o governo da República Imperial de Weimar suspendia, sine die, o Direito democrático de reunião dos trabalhadores e populares em praça pública.

A inflação progredia, ao longo de todo o ano de 1923, assustadora, incontida e exponencialmente.

Ao mesmo tempo, as greves contra o governo federal de Cuno-Stinnes atingiam o seu ápice.

Entretanto, ainda em agosto de 1923, Stalin condenou, resolutamente, a tentativa de preparar-se um levante na Alemanha.

Em 7 de agosto, escreveu Stalin da seguinte forma :

 

“Se na Alemanha de hoje o poder, por assim dizer, cair e os comunistas alemães agarrarem-no, fracassarão até a médula.

Isso, no „melhor“ dos casos.

No pior dos casos, serão quebrados em pedaços e lançados para trás.

A questão toda não é a de que Brandler queira „educar as massas“, o essencial é que a burguesia, muito mais que os sociais-democratas de direita, tranformarão, seguramente, o curso da manifestação em batalha geral – nesse momento, todas as chances estarão do seu lado – e as destruirão.

Certamente, os fascistas não dormem, porém temos o interesse de que eles ataquem primeiro : isso reagrupará toda a classe trabalhadora em torno dos comunistas – a Alemanha não é a Bulgária. Além disso, segundo todas as informações, os fascistas são débeis na Alemanha. Entendo que devemos segurar os alemães e não os estimular.“[164]

 

Em 11 de agosto, para grande surpresa da direção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e da orientação política Radek-Brandler, bem como para o espanto da direção do Komintern, encabeçada por Zinoviev, já no contexto de um amplo funcionamento da Troika Stalinista, os Conselhos de Fábrica da Alemanha conclamaram os trabalhadores à greve geral.

No dia seguinte, processou-se a derrubada do chanceler burguês-liberal Wilhelm Cuno, instaurando-se, a seguir, um novo governo de coalizão, integrado pelos sociais-democrátas Schmidt, Hilferding, Radbruch e Sollmann, sob a direção do populista-liberal de Gustav Sresemann.

A presença e a influência do PCA(KPD) assumia, já a essa altura, consideráveis proporções.

Sob a pressão da tempestade grevística de agosto, a derrubada do chanceler Cuno e as marcantes caracterizações de Trotsky, o Komintern, presidido por Zinoviev, resolveu-se por rever, no fim do mês de agosto de 1923, radical e inopinadamente, sua orientação política referentemente à luta de classes na Alemanha, apoiando-se, porém, na orientação política formulada por Radek e Brandler, a quem decidiu confiar a preparação e direção do Outubro Alemão de 23, nele impedindo ostensivamente, porém, a intervenção direta de Trotsky[165].

Esses últimos atos foram levados à prática, em seguida, ainda segundo a execução político-estratégica geral comandada por Radek-Brandler de Frente Única e Governo dos Trabalhadores, restringida aos limites jurídico-constitucionais, contrária a deflagração de um levante com data marcada ou prazo estabelecido :

„No quadro da Constituição de Weimar, avançando rumo ao Governo de Trabalhadores em toda a Alemanha!, o armamento das milícias proletárias podia consistir apenas em bastões e porretes.

A „formação“ limitava-se a exercícios de marcha no interior das fábricas e em lugares abertos.“[166]

 

Acerca do tema, Trotsky observou, detalhadamente :

 

“« A revolução não é feita com data marcada » retorquiam os de direita e de esquerda, confundindo a revolução em seu conjunto com uma de suas etapas específicas, i.e. o levante para a tomada do poder. Meu artigo “Pode a Revolução ser Feita com Data Marcada ?” foi dedicato a essa questão.

Esse artigo resume as discussões e polêmicas intermináveis que ocorreram então.”[167]

 

Discorrendo analiticamente acerca da organização das forças do proletariado alemão, no quadro da Revolução de Outubro de 1923, Josef Unschlicht, um dos instrutores do Komintern, assinalou, retrospectivamente, o seguinte :

 

“A estrutura organizativa das organizações de luta do proletariado é diferente em cada um dos países em específico.

Porém, uma coisa está claro : a base dos setores das organizações de luta do proletariado deve assentar nas massas (fábricas, oficinas, empresas etc.) e esses setores tem de ser fortes numericamente.

Sua estrutura organizativa será, mais ou menos, semelhante à Guarda Vermelha, na Rússia, às Centúrias Proletárias, na Alemanha, em 1923, as Centúrias de Luta, na China, etc.  ...

As experiências de Petrogrado, Moscou, Alemanha, de 1923, Canton, Shangai e de outros lugares demonstra que, em uma situação agudamente revolucionária, pode formar-se uma ampla organização de luta de modo relativamente rápido.

De regra, para isso são necessários alguns meses.

Porém, uma rápida criação dessa maneira é apenas possível se encontra-se disponível um número suficiente de quadros formados correspondentemente, em sentido político e militar.

Sem a existência de tais quadros - que surgiriam enquanto aparelho dessas organizações de luta, enquanto sua composição de comando -, não possuirá a organização de luta nenhum grande significado, no sentido de sua capacidade de luta.     

Em Petrogrado, em Moscou e outras cidades da Rússia, as coisas estavam, em 1917, favoráveis por todos os lados, nesse sentido.

Os dirigentes e os instrutores da Guarda Vermelha eram soldados comunistas e, não raramente, também oficiais.

Esses instrutores que, durante as lutas de Outubro, dirigiram enquanto comandantes as ações de combate das seções da Guarda Vermelha, formaram os guardas vermelhos, no período de criação dessa Guarda, familiarizando-os com o armamento e fornecendo-lhes os fundamentos da tática e do sistema militar.

Um quadro inteiramente diferente observamos em 1923, na Alemanha.

Aqui, junto a nós, foram organizados, no curso de poucos meses, cerca de 250.000 guardas vermelhos em Centúrias Proletárias.

Faltava, entretanto, quadros formados militarmente (na massa dos guardas vermelhos existia entre os comunistas apenas um antigo oficial), sendo que os então dirigentes das Centúrias Proletárias não estavam familiarizados com os fundamentos da tática das lutas de rua como também, de modo geral, com a tática do levante, não tendo nenhuma noção da organização e da tática das forças armadas estatais-militares.

Razão pela qual a qualidade da luta e o valor da luta dessas Centúrias deixaram muitíssimo a desejar.

Tanto mais porque encontrava-se à disposição dessas Centúrias um número extraordinariamente limitado de armas.”[168]        

 

Em 9 de setembro, a direção Radek-Brandler passou a impulsionar mais, entretanto de modo formal e já tardiamente, a formação de Centúrias Proletárias, na Saxônia, com o objetivo declarado de proteger o regime republicano das tropas de choque do Partido Nazista.

Trotsky fornece-nos também as seguintes considerações acerca desse momento histórico da luta de classes na Alemanha de 1923 :

 

“Em verdade, no mês de outubro, processou-se uma aguda ruptura na política do partido. Porém, já era tarde.

No curso de 1923, as massas trabalhadoras perceberam ou sentiram que o momento da luta decisiva estava aproximando-se.

Contudo, não entreviram a necessária resolução e a auto-confiança da parte do Partido Comunista.

E quando esse último iniciou sua febril preparação do levante, lançou-se imediatamente ao chão e perdeu seus laços com as massas.

O mesmo aconteceria no caso de um cavaleiro que, depois de aproximar-se lentamente de uma alta barreira, afundasse, como movimentos convulsivos, no último momento, suas esporas nos flancos do cavalo.

Se o cavalo fosse saltar por cima da barreira, quebraria, muito possivelmente, suas pernas.

Tal como as coisas aconteceram na realidade, o Partido deteve-se diante do obstáculo e, então, lançou-se para o lado.

Esses são os mecanismos da mais cruel derrota do Partido Comunista Alemão e de toda a Internacional Comunista, em novembro do ano passado(i.e. 1923).”[169]

 

No quadro das medidas do novo governo de Gustav Stresemann, teve lugar, então, a declaração de suspensão da estratégia de “Resistência Passiva”, no Vale do Ruhr, ao mesmo tempo que o Parlamento Alemão promulgava, a 26 de setembro, uma Lei de Exceção, conferindo o exercício do Poder Executivo ao Ministro do Exército, Otto Geßler, bem como, em 13 de outubro, uma inovadora lei autorizativa para que promulgasse ele mesmo decretos-leis econômicos, sem qualquer consulta parlamentar[170].   

Em 10 de outubro de 1923, os membros da direção do PCA(KPD) da Saxônia, Heirich Brandler, Paul Hebert Böttcher e Fritz Heckert, bem como os da direção do PCA(KPD) da Turíngea, Karl Korsch, Albin Tenner e Helmut Neubauer ingressaram, com base em promissores resultados eleitorais, enquanto Ministros do Interior, da Economia e das Finaças, nos „Governos de Coalizão dos Trabalhadores Comunistas-Sociais-Democráticos” desses Estados Federados da República Imperial de Weimar, encabeçados respectivamente pelos sociais-democratas de esquerda, Erich Zeigner und August Fröhlich.

Nessa ocasião, Josef Stalin escreveu, entusiásticamente, a August Thalheimer, que fez publicar o teor de sua carta nas páginas do „Die Rote Fahne(A Bandeira Vermelha)”, órgão do PCA(KPD) :

 

„A revolução que se aproxima na Alemanha é o evento mundial mais importante de nosso tempo.

A vitória da Revolução Alemã terá mais importância ainda para o proletariado da Europa e da América que a vitória da Revolução Russa de seis anos atrás. A vitória da Revolução Alemã fará passar, de Moscou à Berlim, o centro da Revolução Alemã(sic)(i.e. o centro da revolução mundial).“[171]

 

Acerca do tema, a historiadora Annegret Schüle observou o seguinte :

 

„Já era praticamente tarde, pois o estímulo das massas radicalizadas ameaçava transformar-se, então, de orgulho em decepção e fatalismo.

Em 20 de outubro, o governo federal decidiu acionar tropas imperiais contra os governos da Saxônia e da Turíngea, compostos por comunistas e sociais-democrátas, a fim de derrubá-los.

Disso o PCA(KPD) sacou a conseqüencia de antecipar o levante planejado para ocorrer no dia 9 de novembro.

Porém, quis esperar ainda a decisão de uma conferência de conselhos de fábricas, em Chemnitz, a realizar-se em 21 de outubro.

Os sociais-democratas nela presentes rejeitaram, porém, o plano.

Em seguida, a direção do KPD, nela igualmente presente, e a delegação do Komintern desconvocaram o levante.

Essa política de hesitações e de esquivas diante da decisão conduziu o PCA(KPD) à uma „pesada derrota“.“[172]

 

Anote-se, adicionalmente, que, em 21 de outubro de 1923, na cidade de Chemnitz, na Saxônia, a Conferência dos Conselhos de Fábrica, que contou com a presença de Radek, enquanto dirigente da delegação do Komintern, e Brandler, esse último intervindo na qualidade de Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e Ministro do Interior do Governo de Coalizão Comunista-Social-Democrático dos Trabalhadores da Saxônia, requereram dos dirigentes sindicais e governamentais da Social-Democracia Alemã aí presentes já não a decidida intensificação do armamento do proletariado para um inadiável levante, o imediato fechamento da Assembléia Estadual e a pronta conversão da Conferência em Poder Legislativo e Executivo do Estado da Saxônia, senão apenas uma simples decisão acerca da deflagração de Greve Geral.

Entretanto, essa decisão acerca de Greve Geral encontrava-se revestida de um significado transcedental : ela representaria a transmissão de uma senha indicativa para que todos os organismos do PCA(KPD), a essa altura apoiados in loco, clandestinamente, por diversos especialistas de levantes diretamente enviados por Moscou, desencadeassem levantes armados em diversas cidades da República Imperial de Weimar, capazes de arrastar, no ímpeto da luta, a militância social-democrática às fileiras da revolução socialista alemã.         

Ernst Graupe, tal como Brandler integrante desse mesmo Governo da Saxônia, falando em nome da ala esquerda da Social-Democracia Alemã, discursou, efusivamente, contra qualquer iniciativa de conclamar os trabalhadores alemães a desencadearem uma Greve Geral.

 O requerimento de Greve Geral, formulado pelos representantes do Komintern e do PCA(KPD), foi transferido, então, para futura apreciação uma comissão dos conselhos de fábrica, resultando, praticamente, rechaçado.

Constatada a indisposição de os representantes da Social-Democracia Alemã da Saxônia em levar adiante a Greve Geral, a delegação do Komintern e a direção do PCA(KPD) decidiram recuar, sem confrontação, deconvocando a deflagração do levante armado previamente planejado, a fim de constituir-se um Comitê de Ação para o exame do que poderia ser feito a seguir.

Diante desse quadro de mais profunda hesitação política do Governo de Coalizão dos Trabalhadores, encabeçado pelos comunistas e sociais-democratas de esquerda, marchou, em 22 de outubro, para a Saxônia.      

Após a desconvocação do levante armado e, apesar disso, da inteiramente improvisada, isolada, desorientada e descoordenada deflagração do  Levante de Hamburgo da Terça-Feira, 23 de Outubro de 1923, desaconselhado tardia e inesperadamente por Radek e Brandler, comandado, porém, corajosamente por Hans Kippenberger[173] – contando com a participação heróica de algumas centenas de trabalhadores e com a inexpressiva atuação política de Ernst Thälmann -, foram, em 29 de outubro de 1923, impiedosamente derrubados, pelas tropas de Ebert e Stresemman, comandadas pelos Generais Müller  e von Seeckt, os „Governos de Coalizão dos Trabalhadores Comunistas-Sociais-Democráticos da Saxônia e da Turíngea“[174].

Em seguida, em 23 de novembro de 1923, foi decretada a proibição legal do PCA(KPD)[175].

Em um artigo jornalístico, publicado na Alemanha, em 29 de outubro, consta, expressamente, o seguinte acerca da fugaz experiência de Governo de Trabalhadores, entretida pelo PCA(KPD) nessa ocasião :

 

“Os regimentos do Exército Imperial, que marcharam, em 22 de outubro, na Saxônia, sob ordem do Ministro do Império, Otto Geßler, ocuparam os Ministérios de Dresden e forçaram o saxão Erich Zeugner(SPD, i.e. social-democrata) a renunciar.

O conflito entre o Governo Imperial – representado, depois da imposição da Lei de Exceção, em 26 de Setembro de 1923, por Otto Geßler, confiado com o exercício do Poder Executivo – e a Saxônia foi desencadeado pela formação de um Governo –SPD-KPD, em 10 de outubro de 1923.

A entrada do KPD no Gabinete foi interpretado como um primeiro passo de uma futura tentativa de golpe de Estado comunista.

Por isso, o General Müller, Comandante das Tropas Imperiais na Saxônia, ordenou, em 13 de outubro, a dissolução das Centúrias Proletárias que, o KPD, desde o assassinato de Walther Ratenau (em 26 de junho de 1922), havia criado para defesa de um temido Putsch de Direita.

A direção do KPD contava, em verdade, para o final de outubro, com um aguçamento da situação revolucionária na Alemanha e aspirava, tendo em vista suas forças (esse partido possui quase 300.000 militantes) e sua grande influência, poder converter o sistema parlamentar finalmente em uma República Socialista dos Conselhos.

A esses planos antecipou-se o Ministro do Exército Imperial mediante intervenção militar.

Enquanto os eventos na Baviera permaneceram sem reação efetiva de Berlim, Geßler ordenou para a Saxônia e a Turíngea (onde igualmente constitui-se um Governo de Frente Popular(sic)) a execução imperial quando os governos desses Estados opuseram-se às instruções do Comandante das Tropas Imperiais.

Em uma Conferência dos Conselhos de Fábrica do Império, realizada em Chemnitz, o Presidente do KPD, Heinrich Brandler, exigiu debalde a proclamação de Greve Geral, à qual o SPD resolutamente opôs-se.

Assim, as Centúrias Proletárias apenas mal armadas tiveram de aceitar a invasão das tropas imperiais sem resistência.”[176]   

 

Examinando a derrota da Revolução de Outubro de 1923 desde a perspectiva do trabalho do PCA(KPD) no interior das forças armadas da burguesia alemã, Josef Unschlicht assinalou, retrospectivamente, o seguinte :

 

“Certamente, não existe a mínima dúvida que, em tempos de crise, se existe uma aguda situação revolucionária em um país, o exército e a polícia não podem permanecer não influenciados pela situação revolucionária geral.

A composição de classe do exército torna inevitável o abarcamento das massas de soldados pela fermentação revolucionária, em maior ou menor grau.

Entretanto, seria ingênuo admitir que seria possível uma passagem aberta das tropas ou uma passagem de suas partes específicas para o lado da revolução, sem sua respectiva exposição à influência por parte do partido revolucionário, ou mesmo aceitar que o processo de transformação revolucionária do exército e da polícia surgisse por si mesmo, desenvolvendo-se suplementarmente.

A fermentação revolucionária entre as tropas, sua oscilação entre revolução e contra-revolução torna-se cada vez mais forte, a passagem de partes específicas de tropa para o lado do proletariado revolucionário torna-se cada vez mais freqüente, quanto mais intensivamente o partido revolucionário impulsiona o trabalho político e organizativo entre elas, tanto antes da irrupção da situação diretamente revolucionária, como também, particularmente, durante essa última.

No levante, os métodos do trabalho político e organizativo no exército devem ser adaptados aos métodos de luta física pelo exército.

E, na realidade, tivesse sido realizado, entre nós, na Alemanha, um trabalho revolucionário correspondente entre os segmentos de tropas do Exército Imperial e a Polícia – sendo que um tal trabalho era inteiramente possível apesar da isolação do Exército Imperial -, conseguiriam seus comandantes talvez apenas com dificuldade fazer marchar, de modo tão irrestrito, as tropas do Exército Imperial na Saxônia e na Turígea revolucionárias, por ordem do Executivo Imperial, tal como ocorreu em setembro-outubro de 1923.”[177]

 

Como é possível atestar-se os Governos dos Trabalhadores, aqui em análise, haviam sido idelizados ilusoriamente por Radek e Brandler enquanto passo intermediário para a conquista das massas rumo à Ditadura Revolucionária do Proletariado, mediante sustentação sobre os conselhos de fábrica revolucionários, com vistas apenas a contemporizar e não tomar parte em lutas isoladas, acreditando serem capazes de opor-se, porém, à perspectiva de sabotagem da social-democracia de esquerda alemã consistente em governar com os comunistas sem renunciar à constitucionalidade, sem armamento dos trabalhadores e sem se submeter à autoridade dos conselhos de fábrica revolucionários.

Acerca aplicação prático-concreta da orientação política Radek-Brandler acerca dos Governos de Coalizão dos Trabalhadores enquanto ponto de partida para a Ditadura Revolucionária do Proletariado, pronunciou-se, elucidativamente, Heinrich Brandler quando escreveu, em 12 de outubro de 1923 :

 

“Os sociais-democratas da Saxônia decidiram, sob a pressão das massas, formar um Governo de Coalizão conosco.

Nossa entrada no Governo da Saxão permite-nos nos reagrupar, de nos preparar para a Guerra Civil. ...

As tarefas militares e a organização fixadas por nosso programa estão realizadas. ...

(Porém,) a questão do armamento é catastrófica.

Nosso dever é contemporizar e não tomar parte em lutas isoladas.”[178]

 

Ouçamos, porém, os próprios argumentos de Karl Radek acerca da grande derrota da Revolução de Outubro de 1923, esgrimados diante da Presidência do Comitê Executivo do Komintern, em 11 de janeiro de 1924, ainda que deles não existam qualquer balanço relativo à sua orientação política de prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na capitulação diante das forças reformistas da Social-Democracia Alemã :

 

“Em primeiro lugar, quero dizer algumas palavras acerca das questões formais.

A delegação do Executivo do Komintern era composta de 4 membros(i.e. era composta por Karl Radek, August Kleine(Guralski), Alexei Skoblevski e Vassili Schmidt) .

Ela dirigiu, durante todo o tempo, o trabalho em absoluta concordância. ...

O que a delegação encontrou no local ? O despedaçamento do plano de guerra, que foi decidido pelo Executivo.

O plano de avanço do partido, tal como foi fixado aqui nas sessões de setembro e outubro, partia dos seguintes pensamentos fundamentais : o proletariado marcha na Saxônia, partindo da defesa do Governo dos Trabalhadores em que ingressamos.

Ele tentará utilizar o poder de Estado na Saxônia para se armar, a fim de construir nesse distrito proletário estreitamente interpenetrado da Alemanha Central uma muralha entre a contra-revolução sulista da Baviera e o fascismo nortista.

Ao mesmo tempo, o Partido intervirá, em todo o Império, mobilizando as massas.

Esse plano falhou pela seguinte razão :

Em primeiro lugar, quando nossos companheiros ingressaram no Governo não foram capazes de realizar o armamento do proletariado.

O Partido possuía na Saxônia, tal como fomos informados, 800 fuzis.

Em Chemnitz, na Conferência, demonstrou-se despedaçada a segunda parte do plano, nomeadamente o avanço comum das massas trabalhadoras sociais-democráticas e comunistas.

O requerimento de proclamação da Greve Geral e do Levante Armando em Chemnitz não foi colocado, tendo em vista a resistência da esquerda da Social-Democracia.

Nosso partido recuou, cobrindo esse recuo com a fórmula : dinamização de um Comitê de Ação que deve decidir o que pode ser feito adicionalmente.

O Comitê Central decidiu evitar toda e qualquer luta a partir da consideração de que a Frente Única do proletariado, nessa luta, não podia ser mais reconstituída, que seria impossível constituí-la, sendo o levante, nessa situação, ao mesmo tempo, impossível, em face das forças dividas do proletariado e do estado da preparação técnica.

Nessa situação, eu tinha de tomar um posicionamento.

Na conversação com os companheiros, aprovei o fato de que eles, depois de não terem sido eles capazes de constituir a Frente Única com os trabalhadores sociais-democratas, tinha de abandonar o plano do levante na Saxônia.

Reclamei, porém, ao mesmo tempo, dos companheiros que proclamassem a greve.

Fundamentei isso dizendo que se nós ainda não éramos tão fortes para sozinhos, enquanto Partido Comunista, executar o levante contra os fascistas, éramos, porém, fortes o suficiente para nos defender e não ceder a posição sem luta.

Eles disseram :

« - Não existe nenhuma possibilidade de ingressar nessa luta, pois se proclamos a greve, temos o levante armado. Se não quisermos o levante, temos de renunciar à greve. »

No dia seguinte, quando o Comitê Central se reuniu em Berlim, chegou a notícia de Berlim.

Teve lugar uma nova sessão do Comitê Central, na qual foram apresentadas três propostas.

Uma, da companheira Ruth Fischer, requeria para chamar para quinta-feira uma greve de massas, em Berlim, com o objetivo de que ela confluisse, em 2 ou 3 dias, no levante armado.

Ao mesmo tempo, dever-se-ia colocar em movimento a cidade de Kiel e outras.

A segunda proposta ía no sentido de rejeitar a primeira.

Minha proposta ía adiante na mesma questão : greve, sem luta armada ...

Essa proposta foi novamente rejeitada ... por todos os companheiros com a mesma fundamentação :

« - Greve signifiva levante. Se vocês não quiserem nenhum levante, torna-se a greve impossível. »[179]  

   

Apresentando sua derradeira reformulação da tática de Frente Única que, segundo seu entendimento, haveria de ser implementada na Alemanha, após a fragorosa derrota da Revolução de Outubro de 23, Karl Radek, dando seguimento ao seu espetacular estilo intelectual de matiz cético-jornalístico, lançou as bases para a futura política stalinista do Terceiro Período, tragicamente levada a termo no “Referendo Vermelho da Prússia”.

Nesse referendo, realizado em 21 de julho de 1931, os dirigentes do Partido Comunista da Alemanha(KPD), após apresentarem um ultimato à Social-Democracia Alemã visando à construção de uma Frente Única e de um futuro Governo dos Trabalhadores, vendo sua proposta rejeitada, decidiram cerrar fileiras com o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhores(Nazista), de Adolf Hitler, com a finalidade de derrubar o Governo Social-Faschista da Social-Democracia Alemã, na Prússia[180]. 

Os fundamentos teórico-especulativos dessa aliança espúria surgem articulados, embrionariamente, por Karl Radek, pela primeira vez, de maneira plenamente contraditória, já em 11 janeiro de 1924, diante da Presidência do Comitê Executivo do Komintern, quando, no quadro de suas análises acerca do fracasso da tática de Frente Única e da fórmula Governo dos Trabalhadores na Revolução Alemã de 1923, entendia que as forças do fascismo já haviam tomado o poder na Alemanha  :    

Se não, vejamos :

 

“Companheiros,

Contemplamos a tarefa da delegação do Komintern e do Comitê Central no seguinte :

Está claro que temos de arrastar uma grande derrota – uma derrota decisiva talvez por um longo tempo.

Impende o grande perigo do pânico, bem como a grande decepção nas massas.

Uma derrota em si e por si mesmo não seria tão perigosa quanto esse fato. ...

Se queríamos a luta, não podíamos colocar-nos como objetivo a defesa da República de Novembro(i.e. a República Imperial de Weimar).

A diferença entre a República de Kerensky e a de Novembro era a de que sob Kerensky os trabalhadores tinham os Soviets, tinham algo a defender, na Alemanha, porém, a República de Novembro estava morta nos corações dos trabalhadores.

Nenhum cão iria se coçar para defendê-la. ...

Por essa razão, depois de ter-me dedicado a essa concepção acerca dos motivos de nossa derrota etc., a questão mais importante para mim é agora : O que fazer-se mais?

Para esse “o que fazer-se mais ?” seria necessário, em primeiro lugar, averiguar os seguintes pontos.

De início, há de se procurar saber quem domina na Alemanha.

Em cada situação, o político que dirige ações de massas deve avaliar, de antemão, contra qual adversário ele tem de lutar, qual é a estrutura e a essência desse adversário.

A polêmica sobre se o fascismo venceu ou não é resolvida, não por palavras, mas por fatos.

Foi resolvida pelo fato de que a burguesia derrotou as massas trabalhadoras com meios militares e impôs-lhe o Programa de Stinnes, sendo que a classe trabalhadora está no refluxo. ...

O fascismo venceu sobre o que ?

O período precendente na Alemanha foi o período da democracia burguesa, tal como ela se encontra nos livros.

Não existe nenhum país do mundo em que o proletariado, apesar de periódicos retornos das opressões, tivesse uma tal liberdade de movimento.

E que grande influência tinha a aristocracia na República de Novembro(i.e. a República de Weimar) !

Quem isso ignora, não entende o Alfa e o Ômega do porquê de as massas sociais-democráticas pendurarem-se em sua República.

A polêmica entre nós não consistiu em saber se a Social-Democracia foi violentada ou era uma prostituta. Não era essa a polêmica.

A causa de eu ter achado absolutamente necessário afirmar que o fascismo é outra.

Se o fascismo venceu e a a Social-Democracia é sua aliada : Nenhuma Aliança Mais com a Social-Democracia !”[181]

 

E, arrematando seus sempre surpreendentes raciocínios, Karl Radek clamou por novos aliados para a tática de Frente Única e a consigna política dela decorrente de Governo dos Trabalhadores a ser impulsionada pelo PCA(KPD), fundando-se em sua Política Schlageter, consistente na conquista de elementos pequeno-burgueses saídos das fileiras das organizações nazistas e dos Freikorps, na luta pela libertação do povo alemão em face do julgo do capital imperialista[182] :

 

“Ao lado da questão da modificação da tática de Frente Única, i.e. da rejeição dos dirigentes da Social-Democracia ..., entendo como sendo a segunda questão decisiva da Revolução Alemã a aproximação das massas pequeno-burguesas. ...

Companheiros,

Na primavera, aqui em Moscou, tomamos a resolução acerca da questão nacional, durante as discussões com os comps. alemães, quando dissemos : o partido encontra-se diante de uma nova tarefa qual seja a conquista da pequena-burguesia que está sendo proletarizada, enquanto aliada que temos de ganhar, em parte, antes da tomada do poder na Alemanha.

Por isso, a participação do partido nas questões da classe média e sua aproximação à questão nacional.

Nós tomamos posição acerca disso no Executivo Ampliado.

O discurso sobre Schlageter foi aprovado unanimemente.

Na Alemanha, temos uma pequena-burguesia em proletarização que caminha sob as bandeiras fascistas, sendo que a vitória do fascismo significa sua ruína.

Por essa razão, as diferenças no campo do fascismo desempenham para nós um papel político decisivo.

 

 

Apenas se pudermos ganhar as massas pequeno-burguesas, ao menos uma parte delas, não como membros, mas como aliadas ainda que oscilantes, separando-as de Stinnes e Westarp, mediante o aprimoramento dessas contradições e seu fomento, teremos dado um importante passo adiante ...”[183]

 

Conclusiva e derradeiramente, após todas as suas engenhosas construções de sistemática deformação do marxismo revolucionário, Karl Radek constatou, então, pessimisticamente, a imprestabilidade histórica da consigna de Governo dos Trabalhadores para as subseqüentes lutas revolucionárias do anos 20 do proletariado continental-europeu, considerado em geral :

 

“Ou tornar-nos-emos, na Europa Ocidental, partidos comunistas de discussão ou partidos combativos, sendo que os últimos devem deixar em aberto todas as possíveis possibilidades práticas.

Para mim, não resta a menor dúvida de que noventa e nove porcento dessas possibilidades depõem em favor do fato de que, na Europa Continental, a questão do Governo dos Trabalhadores não desempenhará um papel decisivo, tal como pode desempenhar na Inglaterra. ...

Nós somos o partido da Ditadura, porém se não irrompe nenhuma onda revolucionária, pode-se impulsionar apenas propaganda e agitação pela Ditadura.

Porém, as massas vivem não apenas de propaganda e agitação.

Diante dos partidos comunistas estão colocadas tarefas práticas, nas quais é muito difícil implementar o ponto de vista do comunismo, dado que reina uma discrepância entre nosso querer e nosso poder.

Se não virmos isso e em razão dessa mesma discrepância selarmos nossas direções como o reformismo, então companheiros iremos decompor-nos ...

Com uma linha puramente de agitação do comunismo, teremos maravilhosos partidos comunistas em miniatura.

Novamente surgirá a questão : Seita ou Massas ...”[184]  

      

Diante desse contexto, Trotsky viria a sumariar seu balanço e perpectivas relativamente às lutas de classe do proletariado alemão, após a sua mais cruel derrota dos anos 20, assinalando, de maneira nitidamente perspicaz, o seguinte :

 

“Quando delineou-se um giro agudo na correlação de forças, quando as forças facistas legalizadas moveram-se para a linha de frente, enquanto os comunistas encontraram-se a si mesmos mergulhados na clandestinidade, alguns camaradas apressaram-se em anunciar : “nós havíamos superestimado a situação, a revolução não havia ainda amadurecido.”

Naturalmente, nada é mais simples do que esse tipo de estratégia : em primeiro lugar, deixar mofar a revolução e, então, proclamá-la como imatura.

Na realidade, contudo, a revolução não conduziu à vitória não porque “não tinha amadurecido”, em geral, mas porque, no momento decisivo, o vínculo essencial – a direção – rompeu a corrente.

“Nosso” equívoco não reside no fato de que “nós” superestimamos as condições da revolução, mas no “nosso” ter subestimado-as.

“Nós” não fomos capazes de entender, tempestivamente, a necessidade de um giro tático, abrupto e ousado : da luta pelas massas - para a luta pelo poder.

Nosso erro reside em que “nós” repetimos, no espaço de diversas semanas, as velhas banalidades acerca de que “a revolução não é feita com data marcada” e, desse modo, perdermos todos os prazos.

O Partido Comunista tinha a maioria dos trabalhadores atrás de si, na última parte do ano passado ?

É difícil dizer qual teria sido o resultado caso, para essa contagem, realizássemos uma pesquisa de opinião, àquela época.

Tais questões não são decididas por pesquisas de opinião. São decididas pela dinâmica do movimento.

Independentemente do fato de que um número muito considerável de trabalhadores ainda permaneciam nas fileiras da Social-Democracia, apenas uma minoria insignificante esteve disposta a assumir uma posição hostil, i.e. uma posição mais ligeiramente hostil-passiva, em relação à derrubada. 

A maioria dos trabalhadores sociais-democratas, tal como os trabalhadores sem partido, perceberam, aguçadamente, o opressivo impasse do regime democrático-burguês e aguardavam a derrubada.    

Sua confiança e simpatia, completa e definitiva, poderia ter sido conquistada apenas no curso da própria derrubada.

Os discursos sobre a força extraordinária da reação, as diversas centenas de milhares do Exército Imperial Negro etc., revelaram-se um exagero monstruoso, acerca do qual as pessoas dotadas de senso revolucionário não possuíam dúvida, desde o início.

Apenas o Exército Imperial oficial representava uma força genuína.

Porém, ele era numericamente muito pequeno e teria sido, inevitavelmente, varrido pelo ataque de milhões.

Lado a lado com as massas já firmemente conquistadas pelo Partido Comunista, massas muito maiores encontravam-se gravitando em sua direção, durante os meses de crise, dele aguardando um sinal para a batalha e uma direção na batalha.  

Deixando de recebê-los, começaram, depois disso, a distanciar-se dos comunistas tão espontaneamente como haviam, precedentemente, fluído rumo a eles.

Através disso explica-se, precisamente, a aguda modificação na relação de forças que permitiu a Seeckt assenhorar-se do campo da luta política quase sem resistência.

Nesse meio tempo, os políticos, fatalisticamente predispostos, observando o rápido sucesso de Seeckt, proclamaram : “Está vendo, o proletariado não quer lutar”.       

Na realidade, depois da experiência do lustro revolucionário, o proletariado alemão não queria apenas uma luta, senão queria aquela luta que poderia proporcionar, definitivamente, a vitória.

Não encontrando a direção necessária, esquivaram-se da luta.

Com isso, mostraram apenas que as lições de 1918 a 1921 haviam-se tornado profundamente arraigadas em sua memória.

O Partido Comunista Alemão conduziu 3.600.000 trabalhadores às urnas eleitorais.

Quantos ele perdeu no caminho ? É difícil responder a essa questão.

Porém, os dados de inúmeras eleições parciais nos Estados Federados, nas municipalidades etc., atestam que o Partido Comunista participou nas últimas eleições do Parlamento Imperial já extremamente enfraquecido.

 E, apesar de tudo isso, obteve 3.600.000 votos !

“Olhe só”, dizem-nos, “o Partido Comunista Alemão está sendo criticado severamente, sendo que, entrementes, ainda representa um força imensa !”

Porém, nisso reside precisamente toda a essência da questão no sentido de que 3.600.000 votos, em maio de 1924, i.e. depois da vazante espontânea das massas, depois da consolidação do regime burguês, atestam ter sido o Partido Comunista a força decisiva, na segunda metade do ano passado, porém também que, infelizmente, isso não foi compreendido e utilizado a tempo.

Aqueles que, ainda hoje, recusam-se a entender que a derrota decorreu diretamente de uma subestimação, mais precisamente, de uma apreciação tardia da situação excepcionalmente revolucionária do ano passado, incorrem no risco de nada aprender e, portanto, de não reconhecer a revolução em um segundo momento, quando novamente bater à porta.”[185]

 

Apresentando suas caracterizações acerca da corrente minoritária oposicionista, de orientação zinovievista, comandada por Ruth Fischer e Arkadi Maslow, tornada dirigente após a colossal derrota de 1923, Trotsky assinalou, adicionalmente, clarificando seus posicionamentos acerca dos pressupostos de reconstrução do Partido Comunista da Alemanha (KPD) e do  movimento proletário-revolucionário desse país :

 

“A circunstância de que o Partido Comunista Alemão renovou radicalmente seus órgãos dirigentes situa-se nessa ordem de coisas.

O Partido, juntamente com a classe trabalhadora, esperou e desejou a luta, aspirando a vitória, porém, obteve uma derrota sem batalha.

É simplesmente natural que o Partido virasse suas costas à velha direção.

Hoje, pode existir apenas limitado significado na questão de saber se a ala de esquerda poderia ter cumprido sua tarefa, caso estivesse no poder, no ano passado.

Dizendo francamente, não acreditamos nisso.

Já observamos acima que, a despeito de sua luta fracional aguda, a ala de esquerda, no que concerne à questão básica da tomada do poder, compartiu a política indolente, semi-fantástica, dilatória do Comitê Central de então.

Porém, o simples fato de que a ala de esquerda estava na oposição, transforma-a em herdeira natural do poder do Partido, depois de ter esse último virado suas costas ao velho Comitê Central.

No momento, a direção encontra-se nas mãos da ala de esquerda.

Esse é um novo fato no desenvolvimento do Partido Alemão.

É necessário levar esse fato em conta, tomá-lo como ponto de partida.

É necessário fazer todo o possível para ajudar o novo órgão dirigente do Partido a cumprir com suas tarefas.

Porém, para isso, é acima de tudo necessário visualizar claramente os perigos.

O primeiro perigo possível poderia surgir da atitude insuficientemente séria em relação à derrota do ano passado : uma atitude no sentido de que nada ocorreu fora do normal, senão apenas um pequeno atraso.

“A situação revolucionária irá repeterir-se brevemente. Nós procederemos, tal como antes, rumo ao assalto decisivo.”

Isso é um erro.

A crise do ano passado significou para o proletariado um gasto colossal de energia revolucionária.

O proletariado necessita de tempo para digerir a trágica derrota do ano passado, uma derrota sem uma batalha decisiva, uma derrota sem mesmo uma tentativa de batalha decisiva. O proletariado necessita de tempo.

Ele necessita de tempo para reorientar-se, de modo revolucionário, em uma situação objetiva.

Isso não significa, evidentemente, que ele necessita de uma longa série de anos.

Porém, semanas não bastarão para isso.

Seria um grande perigo se a linha estratégica do nosso Partido Alemão fosse a de cortar, impacientemente, de modo transversal, os processos em ocorrência no presente momento junto ao proletariado alemão, enquanto resultado da derrota do ano passado.(p. IX)...

Duas grandes lições marcam a história do Partido Comunista Alemão : a de Março de 1921 e a de Novembro de 1923.

No primeiro caso, o Partido foi pego por sua própria impaciência para com uma situação revolucionária madura.

No segundo caso, não reconheceu uma situação revolucionária madura e deixou-a escapar.

Esses são os perigos limites da “esquerda” e da “direita”, entre os quais a política do partido proletário, em geral, percorre em nossa época.

Devemos continuar a firmemente desejar que, enriquecido por batalhas, derrotas e experiência, o Partido Comunista Alemão conseguirá guiar seu navio, em um futuro não tão distante, entre o Março de Scylla e o Novembro de Charybdis, assegurando ao proletariado alemão aquilo que tão honestamente mereceu : a vitória !(p. XI)”[186]

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

 

O desenrolar condenado ao fracasso da Revolução Alemã de 1923 produziu conseqüências extraordinárias não apenas para a dinâmica das lutas proletárias em todo mundo, senão ainda para o desenvolvimento das disputas fracionais no interior do Partido Comunista da URSS e de todos os partidos integrantes da III Internacional.

Os enérgicos embates armados de 1917, conduzidos pelo proletariado russo visando à destruição do Estado Buguês na Rússia e à edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla e historicamente mais avançada Democracia Proletária, combinada com a encarneçida Guerra Civil, iniciada no ano imediatamente subseqüente, haviam conduzido as forças econômicas e militares dos proletários e camponeses pobres à beira do esgotamento.

Acreditava-se na expansão e consolidação da revolução socialista internacional advinda possivelmente do levante armado vitorioso a ser, corajosa e ousadamente, desencadeado, antes de tudo e em primeira linha, sobre o solo alemão.

Uma revolução vitoriosa na Alemanha seria até mesmo mais promissora do que a Revolução de Outubro de 1917 para a perspectiva de expansão das forças revolucionárias socialistas proletárias em todo mundo e construção do socialismo mundial.

Além disso, já a partir dos últimos meses de 1922, ascendia à direção do aparato do Partido Comunista e do Estado Soviético da URSS, bem como do Komintern, uma densa burocracia operária, encabeçada por Stalin, Zinoviev e Kamenev, coadjuvada por seus mais próximos correligionários políticos, muitos deles inteiramente ausentes das lutas revolucionárias de 1905 e 1917.

Proletários revolucionários internacionalistas russos e alemães, bem como muitos outros de diversos países europeus, depositavam, precisavamente por isso, grandiosas esperanças nas expectativas relacionadas com uma revolução triunfante na Alemanha, a qual, deflagrada já nesse contexto histórico, possuria o condão de deter o processo de consolidação do crescente burocratismo stalinista na Rússia, rompendo com o intenso isolamento desse país do contexto internacional dirigido pelas forças do capitalismo imperialista.

Com efeito, já ao longo de 1923, Lenin havia advertido contra as ameaças decorrentes da “burocratização do aparato”[187], ao mesmo tempo em que Trotsky e seus aliados no PC da URSS surgiam, na arena pública soviética de então, como os mais agüerridos defensores da Democracia Proletária e do internacionalismo proletário-revolucionário.

 

 

 

 

A derrota da Revolução Alemã de 1923 e a grande desilusão dela decorrente que se alargou entre largas camadas do proletariado russo em relação às perpectivas de triumfo da revolução socialista mundial e à atuação revolucionária da III Internacional, viriam a ser utilizadas por Stalin, Zinoviev e Kamenev para, após a morte de Lenin, em 21 de janeiro de 1924, intensificarem a luta contra Trotsky  e a Oposição de Esquerda, formada sobre sua direção intelectual e política.

Tal como se alardeou à época, em tom de vulgata jornalistíca, por todos os rincões do movimento socialista internacional, Trotsky e Radek, Brandler e Thalheimer haveriam de ser impiedosamente condenados, segundo a versão estabelecida pela Troika Stalinista, por terem sido os principais responsáveis pelo ”Golpe de Estado na Alemanha”, uma vez que “os companheiros russos, i.e. Radek e Trotsky, cometeram o erro de acreditar nas bravatas, i.e. credere alle vendite di fumo, de Brandler e de seus companheiros... ”[188]

A partir desse momento, colocava-se em circulação a moeda falsa relativa à dissimulação da inteira imperícia de Zinoviev, à época Presidente do Komintern[189] – e, adicionalmente, o decidido posicionamento contrário de Stalin – relativamente à inafastável necessidade tomar medidas no sentido de preparar e organizar, perspicaz, rigorosa, inteligente e dialeticamente, um levante na Alemanha, já mesmo a partir dos primeiros mêses de 1923 - e não no apagar das luzes desse mesmo ano, fazendo-no, então, de maneira serôdia e sonolenta, visionária e fatalista.

Por exemplo, o resultado extraído cuidadosamente por Antonio Gramsci a partir do balanço político da Revolução Alemã de 1923 surge elaborado no sentido de reforçar a tese arquitetada pela Troika, consistente na imputação de pretensa culpabilidade de Trotsky pelo fracasso da empresa, bem como relativa à suposta mais plena inocência de Zinoviev e de Stalin, esses últimos, até fins de agosto de 23, plenamente reticentes à e, até mesmo, antagonistas da efetiva deflagração, a partir de então, alucinados entusiastas do levante alemão[190].

A causa do debacle do Outubro de 23 haveria de ser interpretada, assim, em sentido burocrático-stalinista, como sendo decorrente da insuficiente “bolchevização” do Partido Comunista Alemão(KPD), estimulada pelo tão decantado “liquidacionismo e o capitulacionismo menchevique-trotskysta”, tal como Gramsci admite serem esses últimos plenamente “acobertados de linguagem revolucionária, na medida em que são incapazes de avaliar as relações reais das forças efetivas.”[191]

Contra, entretanto, a tão decantada “bolchevização” ou mais propriamente, stalinização dos partidos comunistas, iniciada logo após a derrota da Revolução Alemão de 1923, Lenin já havia tido a oportunidade de advertir, com nitidez e clareza, os companheiros russos e estrangeiros acerca do perigo de adotarem, mecanica e dogmaticamente, os mesmos métodos de tratamento das questões organizativo-partidárias que havia se desenvolvido na URSS ao longo dos últimos anos :

 

“No III Congresso, de 1921, adotamos uma Resolução acerca da construção organizativa dos partidos comunistas e sobre os métodos e conteúdo de seus trabalhos. 

Essa Resolução é excelente. Porém, a Resolução é quase manifestamente russa, i.e. tudo é retirado do desenvolvimento russo.

Isso é o bom da Resolução, porém também é o seu mau.

O mau é que quase nenhum estrangeiro a pode ler  - essa é minha convicção, li essa Resolução mais uma vez ainda, antes de dizer isso.

Em primeiro lugar, ela é muito longa, possui 50 parágrafos ou mais.

Uma coisa assim os estrangeiros não podem normalmente ler.

Em segundo lugar, se ela for, porém, lida, os estrangeiros não a entenderão, precisamente porque ela é por demasiado russa.

Não se trata do fato de que ela teria sido redigida em russo, pois ela está excepcionalmente bem traduzida em todas as línguas, mas sim porque ela está penetrada, inteiramente, pelo espírito russo.

E, em terceiro lugar, se um estrangeiro entende-a excepcionalmente, não a pode cumprir.

Esse é o terceiro inconveniente. ...

Minha impressão é a de que cometemos um grande erro com essa Resolução, nomeadamente por termos vedado, a nós mesmos, o caminho para um progresso adicional.

Tal como dito : a Resolução é excelente, subscrevo todos os 50 ou mais parágrafos.

Porém, não compreendemos como nos dirigirmos aos estrangeiros, com nossa experiência russa.

Tudo nessa Resolução permaneceu palavras mortas e, caso não entermos isso, não seguiremos adiante. ...

Certo é que : devemos primeiro ler e escrever e aprender a entender também aquilo que foi escrito. Os estrangeiros precisam disso ainda em maior escala.

Em primeiro lugar, entender-se nomeadamente isso também que escrevemos acerca da construção organizativa dos partidos comunistas e que os estrangeiros assinaram, sem ter lido, sem ter entendido.

Essa Resolução deve ser executada. Não se pode fazê-lo de um momento para o outro. Isso é absolutamente impossível. Ela é por demasiado russa. Ela reflete a experiência russa.

Por isso, ela não é entendida pelos estrangeiros.

Os estrangeiros não podem contentar-se em pregar na parede e louvar essa Resolução enquanto imagem sagrada. Com isso, não se conseguirá nada.

Eles tem de admitir para si uma parcela da experiência russa.

O modo como isso se dará, isso não sei dizer.” [192]

 

A falsificação quanto à culpabilidade de Trotsky pelo fracasso do Outubro de 23 repercutiu, também, profundamente, em toda a Alemanha, sendo ela apregoada, em um primeiro momento, de maneira desbragada, pelos novos dirigentes zinovievistas do PCA(KPD), Ruth Fischer e Arkadi Maslow, que substituíram, em abril de 1924, os postos dirigentes de Radek, Brandler e Thalheimer.

 

“Todos os homens dirigentes do Politbureau Russo velavam por suas conexões pessoais com grupos seletos dos comunistas estrangeiros. ...

Radek, ele mesmo situado externamente ao íntimo círculo dos bolcheviques, admirava fervorosamente a personalidade brilhante de Trotsky e seu gênio militar.

Em 1923, na confusão que durou ao longo do último ano de vida de Lenin, quando a luta pedente entre Trotsky e a Troika de Stalin, Zinoviev e Kamenev estava sendo preparada, Radek alinhou-se com Trotsky.

Ele tentou trazer o grupo de Brandler para sua órbita, uma vínculo maior na cadeia dos fortes pontos trotskystas por toda a Europa.

Trotsky e radek esperavam que um Partido Comunista Alemão moderado ajudaria a contrabalançar a crescente influência do centro bolchevique, dando apoio ao elementos não bolcheviques integrados no Partido Russo, a partir de 1917.

O fortalecimento do status de Trotsky devia ser coordenado com  política alemã de Radek.

O acesso às posições chaves nos sindicatos de velho tipo e a cooperação com os Sociais-Democratas reforçariam a posição de Trotsky e, com isso, a posição de Radek, no Politburo Russo.”[193]

 

Tendo devidamente em conta essas bravatas de Ruth Fischer, a historiadora alemã Annegret Schüle teve a oportunidade de assinalar, com precisão :

 

„Ainda em 1928, Trotsky via-se obrigado a justificar-se.

Ele comprovou, com base no Protocolo da Plenária do Comitê Central do Partido Comunista da URSS, de setembro de 1923, que ele havia advertido acerca da „sonolência“ e o „fatalismo“ da direção Brandler, sendo que a maioria dos membros do Comitê Central de então o contradisseram.“[194]

 

Em 1923, Radek solidarizou-se com o afastamento de Brandler, em outubro de 1923, formando as bases da Oposição Comunista de Direita, na Alemanha, ao mesmo tempo em que, integrando a Oposição de Esquerda, na Rússia, foi apontado pela Troika Stalinista como culpado, ao lado de Trotsky, pela derrota de 1923. Assumindo as funções de Reitor da Universidade dos Povos do Oriente, em Moscou, Radek desempenhou importante papel no quadro da Oposição Unificada, em 1926 e 1927. Após ter sido excluído das fileiras partidárias do stalinismo e deportado, Radek capitulou em 1929.

No Segundo Grande Processo de Moscou, de 1937, Radek foi condenado a uma pena de reclusão de 10 anos. Haveria de morrer, porém, a seguir, possivelmente em 1939, em um campo de concentração.

Dedicando todo um capítulo de sua grandiosa obra intitulada Os Crimes de Stalin à análise do perfil político de Karl Radek, Trotsky teve a oportunidade de dar ao público, já no mês de julho de 1937, no contexto histórico do Segundo Grande Processo de Moscou, onde Radek e Piatakov figuravam como réus, as seguintes rigorosas reflexões :

 

“Em seu primeiro discurso de acusação (em 28 janeiro), o Procurador do Estado (i.e. Vyshinskii) afirmou :

« Radek é um dos mais extraordinários e, há de se lhe fazer justiça, talentosos, bem como obstinados “trotskystas” ... Radek não é corrigível ... Ele é um dos mais confiáveis e mais próximos do principal líder desse bando de pessoas, , i.e. Trotsky. »

Todos os elementos contidos nessa caracterização são mentirosos, com exceção talvez da referência à qualidade talentosa de Radek. Porém, é necessário aqui acrescentar : como jornalista. Apenas como jornalista !

Falar acerca da “obstinação” de Radek, sobre sua “incorrigibilidade” enquanto oposicionista e sobre sua proximidade a mim, pode-se apenas fazê-lo talvez mentindo à maneira de anedotas despropositadas.

Radek caracteriza-se, em essência, por sua impulsividade, hesitação, impossibilidade de ser confiável, pela predisposição de entrar em pânico com o surgimento do primeiro perigo e pela extraordinária loquacidade nos minutos favoráreis. Essas qualidades fazem-no dotado de elevadas qualificações para um jornal como Fígaro, inestimável informador para jornalistas e turistas estrangeiros, porém inteiramente inadequado para o papel de conspirador.

No círculo das pessoas revestidas de informação, é simplesmente impensável falar-se de Radek como inspirador de atentados terroristas e organizador de conspiração internacional!” [195]   

 

 

BIBLIOGRAFIA,

ARTIGOS E DOCUMENTOS

 

 

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EDITORA DA UNIVERSIDADE COMUNISTA SVERDLOV

PARA ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO

MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO

MOSCOU – SÃO PAULO – MUNIQUE – PARIS

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Cf. RADEK, KARL. Referat zur Taktik der Kommunistischen Internationale auf dem Dritten Kongreß der Kommunistischen Internationale (Informe acerca da Tática da Internacional Comunista no III Congresso da Internacional Comunista), in: Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg: Carl Hoym, 1921, p. 775. 

[2] Cf. Lenin, Vladimir I. Der „linke Radikalismus“, die Kinderkrankheit im Kommunismus (O „Radicalismo de Esquerda“ : Enfermidade Infantil no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in : W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXI, pp. 20 e s.

[3] Cf. Lenin, Vladimir I. Brief an die Arbeiter Europas und Amerikas (Carta aos Trabalhadores da Europa e da América), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXIII, Berlim, 1959, p. 384.

[4] vide LIEBKNECHT, KARL. Was Will der Spartakusbund? (O Que Quer a Liga Spartakus), 23 de Dezembro de 1918, p. 519.

[5] Vide LIEBKNECHT, KARL. Grundzüge einer Marxkritik (Traços Fundamentais de uma Crítica de Marx), in: Studien über die Bewegungsgesetze der Gesellschaftlichen Entwicklung (Estudos sobre as Leis de Movimento do Desenvolvimento Social), Kurt Wolff Verlag, Munique, 1922, pp. 247 e s.

[6] Nesse sentido, em 15 de junho de 1923, na Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista(Komintern), o seu então Presidente, Grigori Zinoviev, apresentou seus argumentos acerca da nova situação política efervescente da luta de classes da Alemanha, em face do imperialismo francês, da seguinte forma : “A Alemanha é uma grande colônia da França. Não é possível explorar-se essa colônia se nela reina a revolução. Por isso, a França tem o interesse de esmagar a Revolução Alemã ... A classe trabalhadora alemã encontra-se entre dois fogos cruzados : entre a burguesia alemã, o fascismo, e o imperialismo francês. Aqui, deve-se dizer aos companheiros franceses : o partido francês é ainda muito débil, é ainda muito jovem, porém possui grandes deveres internacionais a serem cumpridos.” Cf. ZINOVIEV, GRIGORI. citado in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 127 e 128. Caracterizações acerca da redução da Alemanha à condição de uma “colônia industrial”, foram teorizadas, também, nesse mesmo Executivo Ampliado, por Varga, Bukharin e Radek. Vide DEBATE ÜBER DEN BERICHT DER EXEKUTIVE(Debate sobre o Informe do Executivo), especialmente Redner(Oradores) Varga, Radek, Bukharin, in: ibidem, pp. 44 e s. Nos escritos de Karl Radek, é possível encontrar-se, já no início de 1922, a seguinte análise, publicada no Pravda de Moscou, acerca das condições impostas pelo Tratado de Versalhes : “O imperialismo inglês acredita ... ter encontrado um novo método. Esse novo método que a imprensa liberal inglesa considera “humanitário” em comparação com o método de Versalhes consiste, na realidade, em regredir dos métodos de exploração feudais das vitórias até aqueles do tempo da escravidão assíria e babilônica. ... A Alemanha transformar-se-á em uma colônia industrial, uma colônia de categoria superior que deve consolidar a dominação dos poderes da Entente nas colônias agrárias, colônias de hierarquia inferior. ...” Cf. RADEK, KARL. Die Entente, Sowjetrußland und Deutschland(A Entente, a Rússia Soviética e a Alemanha), in : Pravda, 3 de Janeiro de 1922, tb. Die Rote Fahne, 29 de Janeiro de 1922, 2° Caderno. 

[7] vide TROTSKY, LÉON.  Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV Internatsionala. Mobilizatsia Mass Vokruk Pererrodnyrr Trebovanii kak Podgotovka k Zavoievanniu Vlasti (A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da IV Internacional. A Mobilização das Massas em torno de Consignas Transitórias para Preparar a Conquista do Poder), especialmente Pravitel’stvo Rabotchirr i Krest’ian (Governo dos Trabalhadores e Camponeses), in : Biulietien Opozitsi Bolschevikov-Lenintsev (Boletim de Oposição Bolchevique-Leninista),  Nr. 66/67, Paris, 1938, pp. 10 e s.

[8] Cf. IDEM. Gegen den Nationalkommunismus. Lehren des „roten“ Volksentscheids(Contra o Nacional-Komunismo. Lições do Referendo Vermelho), Berlim-Neuköln : A. Grylewicz, 1931, pp. 5 e s.

[9] Cf. IDEM. Aufmerksamkeit für die Fragen der Theorie(Atenção para com as Questões da Teoria) , passim : Grigori Zinoviev, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 12. Imediatamente após citar essas palavras do artigo jornalístico de Trotsky, Zinoviev destacou, em seu relatório do Executivo Ampliado  : “Isso é inteiramente correto. Subscrevo cada palavra desse parágrafo. Os perigos vinculados com a tática de Frente Única são realmente grandes e tornam-se-ão tanto maior quanto mais exitosamente avancemos.”                 

[10] Cf. IDEM. Novyi Kurs(Novo Curso)(Dezembro de 1923), especialmente Capítulo V : Tradição e Política Revolucionária, Moscou : Izdat. Krasnaia Nov, 1924, pp. 41 e s.

[11] Destaque-se que o Executivo Ampliado do Komintern, realizado entre os dias 12 e 23 de junho de 1923, sob a presidência de Grigori Zinoviev, decidiu recomendar ao Partido Comunista da Alemanha(KPD), a partir desses dias, o levantamento da consigna não mais restrita de Governo dos Trabalhadores, senão ampliada de Governo dos Trabalhadores e Camponeses, pretendendo, assim, indicar que o modelo da Revolução de Outubro de 1917 deveria ser fiel e rigorosamente levado adiante em solo alemão. Nesse sentido, Zinoviev assinalou : “Por tudo isso, companheiros, tiro a conclusão de que o melhor meio para eliminar essas reminescências consiste em expandir, agora, a consigna de Governo dos Trabalhadores para “Governo dos Trabalhadores e Camponeses”. Vocês se recordam como a questão desenrolou-se cronologicamente. Em primeiro lugar, a tática de Frente Única e, então, Governo dos Trabalhadores. Agora, acredito que essa fórmula deva ser expandida e, em verdade, de modo geral.” Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e s. No mesmo sentido, tb. RADEK, KARL.  Referat über die weltpolitische Lage auf der Konferenz der Erweiterten Executive der Kommunistischen Internationale (Informe sobre a Situação Política Mundial na Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista)(15 de Junho de 1923), in : ibidem, pp. 103 e s.

[12] Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 152.

[13] Essa porcentagem de aproximadamente 30 % deve ter correspondido a algo equivalente a 200.000 membros, tendo-se em consideração o fato de que aproximadamente 730.000 militantes fizeram-se representar no X Congresso do Partido Comunista Russo. Acerca do tema, vide POPOV, NIKOLAI Outline History of the Communist Party of Soviet Union, Vol. II, New York : International Publishers, 1946, p. 150.

[14] Referentemente a essa temática, vide, sobretudo, TROTSKY, LÉON. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia), especialmente Glava XXXIX : Bolezn Lenina (Capítulo XXXIX : A Doença de Lenin), Glava XL : Zagovor Epigonov (A Conspiração dos Epígonos), Berlim : Granit, 1930, repectivamente pp. 205 e s. e pp. 227 e s.

[15] Cf. IDEM. On the Suppressed Testament of Lenin (Sobre o Testamento Suprimido de Lenin) (18 de Outubro de 1926), in : http://www.marxists. org.uk/ archive/trotsky/works/ 1926/1926-len.htm

[16] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 11 : Struggle for Sucession in the Russian Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 234.

[17] Acerca do tema, vide, exemplificativamente, RUBEL, MAXIMILIEN. Josef W. Stalin, especialmente Capítulo : Ein Multiplizierter Komissar (Um Comissário Multiplicado)  e Die Letzte Metamorphose (A Última Metamorfose), Reinbeck bei Hamburg : Rowohlt, 1975, pp. 44 e s.

[18] Acerca do tema, vide LENIN, WLADIMIR I. Fünf Jahre Russische Revolution und die Perspektiven der Weltrevolution(Cinco Anos de Revolução Russa e as Perspectivas da Revolução Mundial), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen International (Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista) (De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 229 e 230.    

[19] Acerca do tema, compare-se, mais pormenorizadamente, os argumentos apresentados no Capítulo III do presente estudo.

[20] Cf. BERICHT ÜBER DIE VERHANDLUNGEN DES III(VIII) PARTEITAGES DER KOMMUNISTISCHEN PARTEI DEUTSCHLANDS(Relatório sobre as Tratativas do III(VIII) Congresso do Partido Comunista da Alemanha), Abgehalten in Leipzig vom 28. Januar bis 1. Februar 1923, Berlim, 1923, pp. retro-mencionadas. Extratos reproduzidos igualmente em FLECHTHEIM, OSSIP K. Die KPD in der Weimarer Republik (O KPD na República de Weimar), Frankfurt a.M., 1969, p. 175.; tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 237.; FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 10 : Communist Convention at Leipzig, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 231.

[21] Cf. TROTSKY, LÉON. Stalins Verbrechen(Os Crimes de Stalin), especialmente : Vor dem neuen Prozeß(Antes do Novo Processo), Zurique : Jean Christophe Verlag, 1937, p. 133. 

[22] Cf. IDEM. Piat Liet Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, pp. VI e s.

[23] Essa perspectiva refletia-se, nitidamente, nas caracterizações elaboradas por Zinoviev, em seu relatório apresentado no Executivo Ampliado do Komintern, realizado entre os dias 12 e 23 de junho de 1923, quando assinalou, de maneira curta e breve : “Desde o último congresso, meio ano se passou. Hoje, vemos muitas coisas muito mais claramente. Surgiram novas questões políticas. Devemos examinar em que medida as Resoluções do IV Congresso foram corretas e como foram executadas. A situação econômica desenvolveu-se, em muitos países, em favor dos capitalistas. A América vive um boom. Na Inglaterra e na França, surgiu uma melhora. Na Europa Central, ainda existe a mesma situação de corrosão. No Japão, começa a crise. A situação internacional está caracterizada, momentaneamente, pela tensão anglo-russa.” Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 4.      

[24] Cf. TROTSKY, LÉON. Novyi Kurs(Novo Curso)(Dezembro de 1923), especialmente Capítulo V : Tradição e Política Revolucionária, Moscou : Izdat. Krasnaia Nov, 1924, pp. 42 e 43.; Cf. IDEM. De la Révolution(Acerca da Revolução), Pravda, 28 e 29 de dezembro de 1923, p. 58, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 783.

[25] Cf. NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. VII.

[26] Cf. TROTSKY, LÉON. Uroki Oktiabria (As Lições de Outubro)(1924), especialmente : Vokruk Oktiabrskovo Perevorota (Acerca da Revolução de Outubro), Sankt-Peterburg  : Lenizdat, 1991, pp. 97 e 98.

[27] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 10 : Communist Convention at Leipzig, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 229.

[28] Cf. RADEK, KARL. Referat zur Taktik der Kommunistischen Internationale auf dem Dritten Kongreß der Kommunistischen Internationale (Informe acerca da Tática da Internacional Comunista no III Congresso da Internacional Comunista) , in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, pp. 435 e s.

[29] Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 155. Acerca da citação em destaque, cumpre observar que o Art. 58, do Código Penal da URSS, prescrevia,  a esse tempo, o Direito de exclusão sumária de militantes das fileiras do PC da URSS, bem como o seu banimento enquanto contra-revolucionários, por violação da disciplina partidária. Quanto à sigla OGPU, essa última significa Obyedinyonnie Gosudarstvennoie Polititcheskoie Upravlenye, no vernáculo : Diretoria Política Unificada do Estado. A OGPU assumiu as funções de inteligência e contra-inteligência exercidas, outrora, pela Tcheka (Tchrezvychainaia Komissia, i.e. Comissão Extraodinária), fundada em 20 de dezembro de 1917 e, a seguir, transitoriamente, convertida em GPU(Gosudarstvennoie Polititcheskoie Upravlenye, i.e. Diretoria Política do Estado). Posteriormente, a OGPU foi redesignada com o nome de NKVD (NarKomVnuDel, i.e. Narodnyi Komissariat Vnutrnnirr Del, em português : Comissariado do Povo para Negócios Internos). Em 1946, as funções jurídico-estatais dessa última foram repartidas entre o MVD(Ministerstvo Vnutrenirr Del, i.e. Ministério dos Negócios Internos), e o MGB(Miniterstvo Gosudarstvennoi Bezopasnosti, i.e. Ministério de Segurança do Estado), em cujo seio foi instituída a KGB(Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti, i.e. o Comitê de Segurança do Estado). Acerca das atividades da GPU – e, por consegüinte, também sobre a OGPU, sua sucessora institucional - Trotsky observou, claramente : “A GPU é a polícia política soviética que, a seu tempo, era um órgão de defesa da Revolução Popular. Porém, ela converteu-se em órgão de defesa da burocracia soviética contra o povo.” Cf. IDEM, ibidem, p. 31.       

[30] Acerca do tema, vide TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, pp. 151 e s. No Berliner Zeitung(O Jornal de Berlin), Hermann Weber publicou, ainda recentemente, uma matéria sobre o percurso político de Karl Radek, onde se assinala : “Em 1935, ainda antes do Primeiro Grande Processo de Moscou, ele (i.e. Radek) denunciou, no órgão “Bolchevique”, Zinoviev, Kamenev e outros antigos adversários por terem-se tornado “chefes do bloco trotskysta-zinovievista”, “espiões”, “larvas e perniciosos”. Em 1936, designou-os de “bandos de fascistas com seu comandante Trotsky” e exigiu : “Aniquilai esses arremêdos !” Ele concorreu com o principal acusador Vyschinskii em suas difamações maldosas. Por que ? Tratava-se de cinismo vazio e premunição de que o mesmo sucederia com ele em breve ? Ou tentativa baldada de ainda se salvar ? Cf. WEBER, HERMANN. Er war Opfer und Täter gleichermaßen. Der Revolutionär Karl Radek : Intelligenter Kopf und wackerer Kämper, aber auch schlimmer Zyniker und gefährlicher Intrigant (Ele foi Vítima e Agente em Igual Medida. O Revolucionário Karl Radek : Cabeça Inteligente e Lutador Excêntrico, porém também Cínico Maudoso), in : Berliner Zeitung, 13 de Janeiro de 1995, Seção Cultural.

[31] Enquanto seus produtos literários mais marcantes desse período, vide, sobretudo, RADEK, KARL. Die Revision des Versailler Vertrages(A Revisão do Tratado de Versalhes)(Pravda, 10 de Maio de 1933), in : Dietrich Möller, Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, pp. 269 e s.; IDEM. Die deutsch-sowjetischen Beziehungen(As Relações Germano-Soviéticas)(Izvestia, 6 de Agosto de 1933), in : ibidem, pp. 273 e s.: IDEM. Bismarck – Liebling der Konterrevolutionäre(Bismarck – O Adorado dos Contra-Revolucionários)(Bolshaia Sovietskaia Enziklopedia, 1927), in : ibidem, pp. 275 e s. 

[32] Acerca do tema, Hermann Weber anotou : De 23 a 30 de janeiro de 1937, ele mesmo (i.e. Radek) surgiu diante do Tribunal. Contra Piatakov, Radek, Sokolnikov e outros 14 teve lugar o Segundo Grande Processo de Moscou. As autoridades da investigação criminal conseguiram quebrá-lo, enquanto último dos 17 acusados, sendo que também Radek confessou tudo, então, na desejada proporção : espionagem, sabotagem, preparações de assassinatos. Radek incriminou seu amigo, Bukharin, publicamente – e esse último foi, em seguida, condenado e executado, em março de 1938. Parece ironia que Radek “saiu dessa” com 10 anos, ainda que Vyshinskii tivesse exigido para todos os acusados “o fuzilamento, a morte”. Talvez, possa-se encontrar nos arquivos o porquê de Stalin assim ter ordenado. Radek não permaneceu, porém, poupado. Dois anos mais tarde, foi arrancado do Gulag e executado. O PC da URSS reabilitou-o apenas em 1989, sob a égide de Gorbatchov. “ Cf. IDEM. ibidem, in : Berliner Zeitung, 13 de Janeiro de 1995, Seção Cultural.

[33] Nesse sentido, vide MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 25 e s..; FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 9 : Karl Radek, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 217 e s.

[34] Cf. RADEK, KARL. Der Baumeister der sozialistischen Geselschaft. IX Vorlesung aus der Vortragsreihe “Geschichte des Sieges des Sozialismus”(O Mestre de Construção da Sociedade Socialista. IX Aula da Série de Palestras “História da Vitória do Socialismo”), Moskau-Leningrad : Genossensch. Ausländ. Arbeiter in der UdSSR, 1934, pp. 1 e s.

[35] Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, pp. retro-mencionadas.

[36] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an Karl Radek(Carta à Karl Radek)(30 de Setembro de 1910), in : W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXVI, pp. 146 e 147.

[37] Cf. IDEM. Brief an Karl Radek (Carta à Karl Radek) (9 de Outubro de 1910), in : ibidem, pp. 148 e 149.

[38] Cf. tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 20.

[39] Acerca do tema, vide, especialmente, BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 47 e 847. Nessa sede, assinala Broué : “Esse homem bem jovem é um daqueles que ataca a Kautsky e à sua análise de imperialismo, nas próprias colunas do Die Neue Zeit, em maio de 1912(p. 47).” No que concerne às produções literárias de Radek desses anos, vide, sobretudo, RADEK, KARL. Die auswärtige Politik der deutschen Sozialdemokratie. Es lebe den Krieg !(A Política Externa da Social-Democracia Alemã. Viva a Guerra !)(1909), in : In den Reihen der deutschen Revolution 1909-1919. Gesammelte Aufsätze und Abhandlungen, München : Kurt Wolff, 1921, pp. 17 e s.; IDEM. Der deutsche Imperialismus und die Arbeiterklasse. Im Zeitalter der akuten Kriegsgefahr(O Imperialismo Alemão e a Classe Trabalhadora. Na Idade do Perigo Agudo de Guerra)(1911), in : ibidem, pp. 48 e s.; IDEM. Unser Kampf gegen den Imperialismus (Nossa Luta contra o Imperialismo)(Maio de 1912), in : ibidem, pp. 156 e s.; IDEM. Wege und Mittel im Kampfe gegen den Imperialismus. Zwei Methoden der Untersuchung des Imperialismus(Caminhos e Meios na Luta contra o Imperialismo. Dois Métodos de Investigação do Imperialismo)(Setembro de 1912), in : ibidem, pp. 177 e s. 

[40] Cf. FEL’SCHTINSKII, IURI. Primetchania (Notas), in: Léon Trotsky, Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 277.     

[41] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 201 e 202.

[42] Cf. SCHORSKE, CARL E. The German Social-Democracy 1905-1917. The Development of the Great Schism, Cambridge, 1955, p. 255.

[43] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an D. Wijnkoop(Carta à D. Wijnkoop)(12 de Janeiro de 1914), in : W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXV, pp. 108 e 109.

[44] Acerca do tema de recrutamento de Radek, Lenin observou : ”Não lhe aconselho tornar-se soldado. Não se deve ajudar os inimigos. Você vai prestar um auxílio aos Scheidemanns. De preferência, emigre. Isso é realmente melhor. De forças de esquerda necessita-se agora urgentemente.” Cf. IDEM. Brief an Karl Radek(Carta à Karl Radek)(4 de Agosto de 1915), in : ibidem, Vol. XXXVI, p. 317  

[45] Cf. TROTSKY, LÉON. Moia Jizn. Opyt Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia), especialmente Glava XVIII : Natchalo Voiny (Capítulo XVIII : O Início da Guerra), Berlim : Granit, 1930, pp. 273 e 274.

[46] Nesse sentido, Lenin dirigiu-se a Radek, da seguinte maneira, já em julho de 1915 : “É-me inconcebível como possa você ter perdido a Pré-Conferência de Berna !?! E você ainda tinha-me advertido acerca dela !?” Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an Karl Radek (Carta à Karl Radek)(15 de Julho de 1915), in : W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXVI, p. 314. No mesmo sentido, Lenin anotou, a seguir, em uma carta dirigida a Schlovski : “Não entendo absolutamente o que aconteceu com Radek. Por diversas vezes, pedi-lhe : 1. Uma cópia de nosso Projeto de Resolução (em alemão) ... 2. Uma cópia de nossa Declaração sobre a votação ... 3. Uma cópia de nossa declaração de protesto contra o ultimato de Lebedour. Radek não responde nada. Pelo amor de Deus, vá até lá e clarifique as coisas. (Se Radek não as possui, se Grimm não as entrega realmente para cópia ? Esse é o cúmulo da falta de vergonha !) Cf. IDEM. Brief an G. L. Schlovski (Carta à G.L. Schlovski)(11 de Outubro de 1915), in: ibidem, Vol. XXXVI, p. 340. Desenvolvendo sua postura de relacionamento com Radek, Lenin ainda escreveu a Schliapnikov, nesses anos da I Guerra Mundial Imperialista  : “Então, os poloneses (a Oposição). No Nr. 25 de sua “Gazeta Robotnicza”, encontra-se uma Resolução : novamente por tergiversações, tal como em Bruxelas, em 3-6 de julho de 1914. É necessário, incondicionalmente, inflexibilidade em relação a eles. Radek é o melhor deles. Ele foi útil. Com ele, colaborámos(além disso, também para a Esquerda de Zimmerwald) e trabalhámos. Porém, Radek igualmente oscila. Nossa tática é aqui bilateral ... : de uma lado, ajudar Radek a ir para a esquerda, unificando-se todos que forem possíveis para a Esquerda de Zimmerwald, de outro lado, não admitir, nem em uma vírgula, oscilações em questões fundamentais.” Cf. IDEM. Brief an A. Schliapnikov (Carta à A. Schliapnikov)(Fim de 1915), in : ibidem, Vol. XXXV, pp. 188 e 189. E, no mesmo sentido, a Zinoviev : “Você sabe que Radek está, em primeiro lugar, de tal forma “ofendido” (porque insistimos na publicação de nossas teses na revista de Pannekoek) que não empreende “nenhum tipo de trabalho conjunto” com eles – tal como você mesmo que havia escrito, em março de 1916.” Cf. IDEM. Brief an G. Zinoviev (Carta à G. Zinoviev)(21 de Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 194. Destacando, por fim, o caráter manifestamente intriguista de Radek, Lenin assinalou a Schliapnikov : “O caso é evidente. Esses Senhores (i.e. Radek e Bronski) teceram, de início, intrigas na Esquerda de Zimmerwald. ... Eles querem apostar em Tscheidze e Trotsky.” Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov (Carta à Schliapnikov)(Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, p. 389. E, ainda, no mesmo sentido : “Precisamente a fim de que não rompamos com Radek & Co. (e, por meio deles, também com outros, se se tornar necessário), é necessário impedir-se o “jogo” e as intrigas em nossa revista. ... Com um tal comportamento, Radek e Co. podem-se esforçar e não serão absolutamente capazes de meter-nos em discórdia com os militantes de esquerda de Zimmerwald (tal como Radek, em Kienthal, não conseguiu – apesar de seus esforços – provocar discórdia nem com Platten nem com os da Esquerda Alemã).” Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov (Carta à Schliapnikov)(17 de Junho de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, pp. 391 e 392. Mais especificamente quanto ao baixo caráter de Radek, Lenin observou, no quadro desse período histórico : “O número da “Gazeta Robotnicza”, de fevereiro de 1916, é um exemplo clássico de um tal “jogo” lacaio-infâme, à la Tyska, Radek segue suas pegadas). Quem perdoa tais coisas na política, considero um palhaço ou um canalha. Não a perdorei jamais. Por tal coisa, dá-se uma na cara ou se distancia. Naturalmente, agi dessa última forma.” Cf. IDEM. Brief an Inès Armand (Carta à Inès Armand)(30 de Novembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 229.

[47] Cf. IDEM. Brief an K. Radek (Carta à K. Radek) (Agosto de 1915), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 179.

[48] Cf. IDEM. Das revolutionäre Proletariat und das Selbstbestimmungsrecht der Nationen (O Proletariado Revolucionário e o Direito de Auto-Determinação das Nações) (16 de Outubro de 1915), in : ibidem, Vol. XXI, pp. 412 e s.

[49] Cf. IDEM. Brief an A. M. Kollontai (Carta à A. M. Kollontai)(Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, p. 387.

[50] Cf. IDEM. Die Ergebnisse der Diskussion über die Selbstbestimmung(Os Resultados da Discussão sobre a Auto-Determinação)(Julho de 1916), in : ibidem, Vol. XXII, pp. retro-mencionadas.

[51] Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov (Carta à A. G. Schliapnikov)(Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, pp. 383 e 384.

[52] Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov (Carta à A. G. Schliapnikov)(Junho de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 198.

[53] Cf. IDEM. Brief an N. D. Kiknadze (Carta à N. D. Kiknadze)(25 de novembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 219.

[54] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand (Carta à Inès Armand)(30 de Novembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 232.

[55] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand (Carta à Inès Armand)(18 de Dezembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 238.

[56] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand (Carta à Inès Armand)(19 de Janeiro de 1917), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 250.

[57] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand (Carta à Inès Armand)(30 de Janeiro de 1917), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 257.

[58] Cf. IDEM. Verachtenswerte Methoden (Métodos Infâmes)(29 de Maio de 1917), in : ibidem, Vol. XXIV, p. 421.

[59] Acerca do tema, vide IDEM. Äußerungen Lenins in der Sitzung des ZK der SDAPR(B). Protokollarische Niederschrift (Posicionamentos de Lenin na Reuniao do CC do POSDR(B). Assentamento Protocolar) (24 de Fevereiro de 1918), in : ibidem, Vol. XXVII, p. 38.

[60] Cf. IDEM. Eine erste Lehre und eine ernste Verantwortung (Uma Séria Lição e uma Séria Responsabilidade) (5 de Março de 1918), in : ibidem, pp. retro-mencionadas. 

[61] Cf. IDEM. Der „linke Radikalismus“, die Kinderkrankheit im Kommunismus (O „Radicalismo de Esquerda“ : Enfermidade Infantil no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in : ibidem, Vol. XXXI, pp. 20, 21 e 22.

[62] Cf. IDEM. Schlußwort zum Bericht des ZK(Palavras de Fechamento acerca do Relatório do CC)(30 de Março de 1920), in : ibidem,  Vol. XXX, p. 462.

[63] Importa destacar que o Tratado de Rapallo, celebrado em 16 de abril de 1922, entre a Russia Soviética e a Alemanha, visto desde uma perspectiva eminentemente jurídico-contratual, logrou normalizar as relações diplomáticas entre esses ambos países e estabeleceu sua renúncia recíproca ao pagamento de reparações financeiras emergentes do fim da I Guerra Mundial Imperialista. Mediante esse instrumento jurídico, ambas as partes renunciaram a ressarcir os prejuízos civis e militares que reciprocamente provocaram, sendo que a Alemanha abriu mão, além disso, de sua pretensão relativa ao seu antigo patrimônio nacionalizado pela Revolução de Outubro de 1917. Esse tratado surgiu como pano de fundo em relação à Conferência Econômica de Genua, ocorrida entre 10 de abril e 19 de maio de 1922, entre a Inglaterra e a França, contando com a participação enquanto convidadas da Alemanha e da Rússia Soviética. Nessa conferência, os países da Entente pressionaram abertamente o governo de Lenin a realizar o pagamento da divida externa czarista, contraída no período anterior à eclosão da conflagração bélica mundial.

[64] A respeito desses dados empíricos, vide, sobretudo, WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa Luxemburgo a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp. 7 e s.

[65] Acerca do tema, vide tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 18 e s.

[66] Nesse sentido, vide p.ex. DETLEF, JOSEPH. Rechtsstaat und Klassenjustiz. Texte aus der sozialdemokratischen “Neue Zeit” 1883-1914(Estado de Direito e Justiça de Classe. Textos do “Neue Zeit(Novo Tempo) Social-Democrático), Freiburg-Berlim : Rudolf Haufe, 1996, p. 402.

[67] Nesse sentido, vide sobretudo MARK, KARL. Kritik des Gothaer Programms(Crítica ao Programa de Gotha) (Abril e Início de Maio de 1875), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 13 e s.

[68] Recentemente, em 20 de maio de 2000, o Chanceler Federal da Alemanha, Gerhard Schröder, Presidente da Social-Democracia Alemã, exaltou, efusivamente, os méritos do Programa de Gotha,  no quadro das Festividades dos 125 Anos do “Congresso da Unificação” dos Lassalleanos e Eisenachianos, ocorridas na cidade de Gotha, não deixando, porém, de assinalar, com sagacidade burguesa-imperialista : “Mais uma vez em sua longa história, a Social-Democracia Alemã situa-se diante da tarefa de votar sua questão programática, o que é denominado de “realidade social”. ... Em 22 de maio de 1875, começou aqui em Gotha, em Tivoli, o “Congresso da Unificação da Social-Democracia da Alemanha”. Nele, fundiram-se o Partido dos Trabalhadores Social-Democrático (SDAP), fundado por August Bebel e Wilhelm Liebknecht, os assim-chamados “eisenachianos”, e a “Associação Geral dos Trabalhadores Alemães”, criada por Ferdinand Lassalle. Na história da teoria da esquerda alemã, essa data encontra-se, sobretudo, em mente em virtude da crítica mordaz de Karl Marx ao “Programa de Gotha” aqui firmado.  Além disso, por causa de uma parte corrupta da literatura – totalmente independente daquilo tudo que foi produzido em nome da doutrina marxista, nesse século - que ainda hoje vale a leitura. Retornarei mais tarde a isso, porque no que concerne ao teor do programa absolutamente nada surgia, em primeira linha, em diferenciação da programática social-democrática.  O significado histórico do Congresso de Unificação de Gotha reside no poderoso passo rumo à unificação e unidade do movimento social-democrático dos trabalhadores. Apenas através dessa unificação a Social-Democracia, cujas raízes remontam até o ante-março e os anos da Revolução de 1848/49, tornou-se um partido relevante para toda a Nação. ... A sociedade civil burguesa que queremos criar é uma sociedade da liberdade e da auto-determinação, da solidariedade e da justiça. Uma sociedade que não seja dominada por uma classe, senão que conceda aos cidadãos soberanos sua independência e responsabilidade própria. Nisso – dizemo-lo com a mesma responsabilidade histórica – não permitimos que ninguém fique de lado. A Social-Democracia permanece sendo o poder de defesa dos fracos. Porém, ela permanece sendo a única força política em nosso país que é favorável a renovação de parte de sua tradição. Uma densa renovação tornou-se, em nossa sociedade, apenas sempre possível quando a Social-Democracia logrou impor o princípio da participação : participação no bem-estar, porém também nas decisões políticas da sociedade. E precisamente esse princípio abrir-nos-á o caminho para o futuro. Por isso, somos um partido forte que é consciente de seu passado e permanece vinculado às suas tarefas do futuro.” Cf. SCHRÖDER, GERHARD. Rede des SPD-Parteivorsitzenden, Bundeskanzler Gerhard Schröder, anlässlich der Festveranstaltung 125  Jahre "Vereinigungs-Congress" der  Lassalleaner und der Eisenacher (Discurso do Presidente do Partido Social-Democrático da Alemanha, Chanceler Federal Gerhard Schröder, por ocasiao do Ato de Festejo de 125 Anos do “Congresso da Unificação” dos Lassaleanos e dos Eisenachianos), in : http://www.spd.de/events/congress/schroeder.htmlGotha, 20 de maio de 2000.     

[69] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an August Bebel (Carta à August Bebel) (18 – 28 de março de 1875), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, p. 6.

[70] Cf. MARX, KARL. Brief an Ferdinand Domela Nieuwenhuis (Carta à Ferdinand Domela Nieuwenhuis)(22 de Fevereiro de 1881), in : ibidem, Vol. XXXV, pp. 160 e 161.

[71] Cf. KAUTSKY, KARL. Das Erfurter Programm(O Programa de Erfurt)(1892), Berlim : Dietz Verlag, 1919, p. 102.

[72] Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Protokoll des Erfurter Parteitages (Protocolo do Congresso de Erfurt), Berlim, 1891, p. 206.

[73] Nesse sentido, vide IDEM. Zukunftstaatlisches (Coisas do Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898, pp. 218 e 219.

[74] Cf. BEBEL, AUGUST. in : Protokoll des Erfurter Parteitages (Protocolo do Congresso de Erfurt), Berlim : Dietz Verlag, 1891, p. 172.

[75] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Paul Lafargue(Carta a Paul Lafargue)(3 de Abril de 1895), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XXXIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, p. 458. 

[76] Acerca do tema, vide MARX UND ENGELS WERKE(Obras de Marx e Engels), Vol. XXXIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 605 e 606. 

[77] Cf. LUXEMBURG, ROSA. Dem Andenken des „Proletariat“ (Em Lembrança do „Proletariado“)(1903), in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 317.

[78] Continua sempre sendo muito importante estudar e desvendar-se, detidamente, o lassalleismo pacifista de Eduard Bernstein. No presente trabalho, limito-me a salientar que Bernstein surge, na história do movimento proletário internacional, como o principal editor e defensor da doutrina de matiz idealista-oportunista e reformista-colaboracionista de Ferdinand Lassalle. Nesse sentido, vide as introduções, elaboradas por Bernstein, aos volumes de LASSALLE, FERDINAND. Gesammelte Reden und Schriften. Herausgegeben und Eingeleitet von Eduard Bernstein(Discursos e Escritos Reunidos. Editados e Prefaciados por Eduard Bernstein), Berlim : Paul Cassirer, 1919, Vol. I e s. Em seu prefácio Vol. II das obras em tela, Bernstein assinala acerca do discurso de Lassalle, intitulado Sobre o Sistema Constitucional, de 1862 : “Na realidade, pode-se dizer que, no que concerne à aplicação da concepção materialista da história às questões do desenvolvimento político dos povos, não existe nenhum escrito que demonstre aquela relação de dependência em ilustração mais clara do que esse discurso. Ele encontra seu eqüivalente apenas nos capítulos “A Teoria do Poder” de Friedrich Engels, contida no Anti-Dühring.” Cf. BERNSTEIN, EDUARD. Vorbermekung(Nota Preliminar), in : Ferdinand Lassalle, ibidem, Vol. II : Discursos Constitucionais. O Programa dos Trabalhadores e os Subseqüentes Discursos de Defesa, Berlim : Paul Cassirer, 1919, p. 12. No que concerne à obra-prima econômica de Ferdinand Lassalle, denominada O Sr. Bastiat-Schulze von Delitzsch, dedicada por Lassalle expressamente Dem Deutschen Arbeiterstande und der Deutschen Bourgeoisie, i.e. ao “Estamento dos Trabalhadores Alemães e à Burguesia Alemã”, Eduard Bernstein anota o seguinte : “Em “Bastiat-Schulze” temos diante de nós o principal trabalho sócio-econômico de Lassalle. O “Sistema dos Direitos Adquiridos” foi, em seu último objetivo, a tentativa de uma fundamentação jurídico-científica das idéias socialistas. Lassalle pretendeu, então, ingressar na fundamentação econômica do socialismo, para o que realizou estudos antecipatórios, por todos os lados, no curso dos anos, quando, de início, o conflito constitucional-prussiano lançaram-no no movimento político e, a seguir, no movimento ascendente dos trabalhadores, bem como na agitação prática socialista.” Cf. IDEM. Vorbermekung(Nota Preliminar), in : Ferdinand Lassalle, ibidem, Vol. V : Principal Obra Econômica de Lassalle, Berlim : Paul Cassirer, 1919, p. 9. 

[79] Cf. WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa Luxemburgo a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp. retro-mencionadas.

[80] Nesse sentido, vide RADEK, KARL. Unterm eigenen Banner(Debaixo de Bandeiras Próprias)(Fevereiro-Março de 1918), in : Karl Radek. In den Reihein der deutschen Revolution 1909-1919. Gesammelte Aufsätze und Abhandlungen (Karl Radek. Nas Fileiras da Revolução Alemã de 1909 a 1919. Ensaios e Dissertações Escolhidas), München : Kurt Wolff, 1921, pp. 406 e s.

[81] Cf. IDEM. Die russische Revolution, die deutsche Revolution und die Weltlage. Begrüßungsrede auf dem Gründungsparteitag der KPD(A Revolução Russa, a Revolução Alemã e a Situação Mundial. Discurso de Saudação no Congresso de Fundação do PCA(KPD))(30 de Dezembro de 1918), Berlim : Druck Chemnitz, 1919, pp. retro-mencionadas.

[82] Cf. IDEM. ibidem, p. 32.

[83] Cf. IDEM. Brief an das Zentralkomitee der KPD (Carta ao Comitê do PCA(KPD))(9 de Janeiro de 1919), in : Illustrierte Geschichte der Deutschen Revolution (História Ilustrada da Revolução Alemã), Berlim, 1929, p. 282.

[84] É imprescindível, porém, resgatar e defender, devidamente, a tradição essencialmente marxista-revolucionária de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, comprometida, antes e acima de tudo, com a perspectiva de organização da revolução violenta do proletariado para a edificação de sua Ditadura Revolucionária. Esse posicionamento foi, precisamente, reconhecido e postulado por Lenin no contexto de seu Discurso de Abertura do I Congresso do Komintern, quando se referiu a Liebknecht e Luxemburg, enquanto os melhores representantes da Internacional Comunista. Vide LENIN, VLADIMIR I. Rede bei der Eröffnung des Kongresses 2. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Discurso na Abertura do Congresso de 2 de Março. I Congresso da Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII (De Julho de 1918 à Março de 1919), Berlim, 1959, p. 469. Destaque-se, entretanto, à guisa de exemplo, entre os diversos e renomados textos de Rosa Luxemburg, aquele intitulado E Pela Terceira Vez o Experimento Belga, vindo à luz já em 4 de junho de 1902, quando essa autora teve a oportunidade de escrever, de modo incorrumptivelmente claro, contra os legalistas belgas, i.e. Émile Vandervelde e outros : „Entretanto, não por predileção às ações violentas ou ao romantismo revolucionário devem os partidos socialistas, mais cedo ou mais tarde, estar preparados também para embates violentos com a sociedade burguesa, em casos em que nossas aspirações se direcionem contra os interesses vitais das classes dominantes, senão em razão também da amarga necessidade histórica. O parlamentarismo enquanto meio de luta político da classe trabalhadora, individualizador do espírito, é tão fantástico e, em primeira linha, reacionário, como o é a greve geral, individualizadora do espírito, ou a barricada, individualizadora do espírito. Evidentemente, a revolução violenta é, nas condições atuais, um meio de dupla-face, aplicável de modo extremamente difícil. E podemos esperar que o proletariado apenas fará uso desse meio quando se apresentar o único caminho adequado para sua implementação e, evidentemente, apenas em condições em que a situação política de conjunto e a relação de forças assegurem, mais ou menos, a probabilidade de êxito. Porém, a concepção clara da necessidade da aplicação da violência, seja nos episódios individuais da luta de classes seja para a conquista definitiva do poder de Estado é nisso, de antemão, imprescindível. Ela representa aquilo que consegue conferir também à nossa atividade legal, pacífica, a apropriada ênfase e efetividade.“ Cf. LUXEMBURG, ROSA.  Und Zum Dritten Male das Belgische Experiment (E Pela Terceira Vez o Experimento Belga)(4 de Junho de 1902) , in : Rosa Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 247.

[85] Cf. RADEK, KARL. Die Entwicklung der deutschen Revolution und die Aufgaben der Kommunistischen Partei (O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as Tarefas do Partido Comunista), Berlim : Rote Fahne, 1919, pp. 32 e s. 

[86] Cf. PAQUET, ALFONS. Der Geist der russischen Revolution(O Espírito da Revolução Russa), Leipzig : Nyland, 1919, pp. VII e s.

[87] Nesse sentido, desde a perspectiva da minoria zinovievista do Partido Comunista da Alemanha(KPD), Ruth Fischer assinala : “O Comitê Central do Partido Comunista da Alemanha novamente formado não estava oficialmente informado acerca desses contatos entre Radek e o General Staff, porém dois ou três de suas pessoas íntimas, tal como Paul Levi e August Thalheimer, sabiam, inquestionavelmente, sobre eles. Muitas figuras políticas da República de Weimar ficavam contentes de ter a oportunidade de ver Radek e com ele discutir acerca de política alemã. Ele desempenhava seu duplo papel habilmente – ele era, de um lado, o representante do Politburo Russo, e, de outro, fez-se como o enviado do Estado Russo em uma missão militar e diplomática semi-oficial junto ao Governo Alemão.” Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 207 e 208. 

[88] Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 152.

[89] Cf. RADEK, KARL. Zur Taktik des Kommunismus : Ein Schreiben an den Oktoberparteitag der KPD(Acerca da Tática do Comunismo : Uma Carta ao Congresso de Outubro do PCA(KPD)), Berlim : Editora do KPD-Spartakusbund, 1919, p. 5.

[90] Cf. IDEM. Die Entwicklung der deutschen Revolution und die Aufgaben der Kommunistischen Partei (O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as Tarefas do Partido Comunista), Berlim : Rote Fahne, 1919, pp. 36 e s. 

[91] Cf. IDEM. Der Weg der Kommunistischen Internationale. Rede auf dem III. Weltkongress der Kommunistischen Internationale(O Caminho da Intenacional Comunista. Discurso no III Congresso Mundial da Internacional Comunista), in : Bibliothek der Kommunistischen Internationale, Hamburg : Carl Hoym, 1921, p.34.

[92] Cf. ZETKIN, CLARA. Erinnerungen an Lenin (Recordações de Lenin), Berlim : Dietz, 1957, p. 22 e s.             

[93] Cf. RADEK, KARL. Schlußwort zum Referat (Fechamento do Informe), in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, p. 663.

[94] Nesse sentido, vide, sobretudo, IDEM. Die Masken sind gefallen. Eine Antwort an Crispien, Dittmann und Hilferding(Caíram-se as Máscaras. Uma Resposta a Crispien, Dittmann e Hilferding), Berlim : Verlag der Komintern, 1920, pp. 1 e s.

[95] Cf. WEBER, HERMANN. Die Wandlungen des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der Weimarer Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar), Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926, p. 24.

[96] Cf. RADEK, KARL. Soll die Vereinigte Kommunistische Partei Deutschlands eine Massenpartei der revolutionären Aktion oder eine zentristische Partei des Wartens sein ?(Deve o Partido Comunista Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação Revolucionária ou Partido Centrista do Ficar Esperando ?), especialmente Kapitel III : Der Kampf um die rechtsstehenden Arbeitermassen(Capítulo III : A Luta pelas Massas Trabalhadoras Situadas à Direita), Hamburg : Carl Hoym, 1921, pp. 21 e 22.

[97] Cf. IDEM. ibidem, p. 23.

[98] Cf. IDEM. ibidem, pp. retro-mencionadas.

[99] Cf. IDEM. ibidem, pp. 33 e 34.

[100] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI. Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in :  Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 9 e 10.

[101] Cf. IDEM. ibidem, p. 12.

[102] Acerca do tema, vide RADEK, KARL. Brief an Heinrich Brandler, August Thalheimer, Paul Fröhlich und andere Mitglieder der KPD-Zentrale(Carta à Heinrich Brandler, August Thalheimer, Paul Fröhlich e a outros membros do Comitê Central do PCA(KPD))(14 de março de 1921), in : Unser Weg. Zeitschrift für kommunistiche Politik, hrsg. Paul Levi, Ano III, Caderno 8-9, Agosto de 1921, pp. 248 e s.

[103] Anote-se que a Teoria da Ofensiva, protagonizadas sobretudo por Bukharin e Zinoviev, partia da premissa de que tendo a Guerra Imperialista de 1914 a 1918, bem como a eclosão da Revolução de Outubro, aberto insofreavelmente a época das revoluções proletárias, a tática única e invariávelmente correta a ser adotada pelo Komintern haveria de ser a do Ataque Revolucionário Tempestuoso para a derrubada da burguesia. Os teóricos da Ofensiva recusavam qualquer possibilidade de, no quadro da época da agonia mortal do capitalismo imperialista, ser possível resurgirem, esporádica e efemeramente, situações de recuperação das economias e das instituições burguesas, em cujo contexto a tática dos ataques tempestuosos revolucionários houvesse de ser devidamente substituída por uma outra mais adequada a responder às condições objetivas materiais e políticas de dado momento histórico. Acerca do tema, vide, mais detalhadamente, TROTSKY, LÉON. Fortsetzung der Diskussion zum Referat Radek(Continuação da Discussão acerca do Informe de Radek), in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, respectivamente pp. 637 e s.;  PYATNITSKY, OSSIP A. Der Bolschewismus und der Aufstand(O Bolchevismo e o Levante)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. 28.    

[104] Acerca do tema, vide, p. ex., FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 1.7 : The March Action, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 174 e s.; tb. BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, especialmente Chapitre XXV : L’Action de Mars, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 474 e s.  

[105] Acerca do tema, Fischer assinala : “Os novos grupos M e T estavam encarregados de provocar os Freikorps, a fim de colocar em movimento os sindicatos. Diversas bombas explodiram em Breslau e Halle. Diversas outros bombardeamentos, planejados para Berlim, não ocorreram. ... A greve foi completa apenas em Mansfeld e partes da Turíngea e da Saxônia. Por poucos dias, Mansfeld pareceu o Ruhr durante o Golpe de Kapp. Max Hoelz abandonou Vogtland e juntou-se às guerrilhas de Mansfeld, organizando as Guardas Hoelz. As forças dispersas dos trabalhadores não puderam se fundir em uma unidade, principalmente porque os trabalhadores de Leuna, armados e aptos a organizar uma divisão completa, trancaram-se no interior de sua fábrica e esperaram a ofensiva do Exército Imperial. Havia greves parciais no Ruhr e em Berlim. Independentemente da ação de Mansfeld, existiam greves locais e distúrbios por todos os lados da Alemanha alarmada. Contudo, o levante de Mansfeld foi por demais localizado para cristalizar essas diversas atividades em uma greve geral em todo o país. Comparada com o Golpe de Kapp, a Ação de Março converteu-se em um menor episódio.” Cf. FISCHER, RUTH. ibidem, p. 175   

[106] Nesse sentido, vide, sobretudo, PYATNITSKY, OSSIP A. Der Bolschewismus und der Aufstand(O Bolchevismo e o Levante)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. 29.

[107] Cf. FISCHER, RUTH. ibidem, pp. retro-mencionadas.   

[108] Cf. RADEK, KARL. Brief an die Zentrale der KPD(Carta ao Comitê Central do PCA(KPD))(7 de abril de 1921), in : Unser Weg. Zeitschrift für kommunistiche Politik, hrsg. Paul Levi, Ano III, Caderno 8-9, Agosto de 1921, pp. 255 e s.

[109] Cf. IDEM. Referat zur Taktik der Kommunistischen Internationale auf dem Dritten Kongreß der Kommunistischen Internationale (Informe acerca da Tática da Internacional Comunista no III Congresso da Internacional Comunista) , in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym,  1921, respectivamente pp. 434 e s. e 771 e s.

[110] Cf. TROTSKY, LÉON. Fortsetzung der Diskussion zum Referat Radek(Continuação da Discussão acerca do Informe de Radek), in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, pp. retro-indicadas.

[111] Cf. RADEK, KARL. Schlußwort zum Referat (Fechamento do Informe), in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym,  1921, pp. retro-mencionadas.

[112] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Rede zur internationalen Frage. III Kongreß der Kommunistischen Internationale(Discurso acerca da Questão Internacional. III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXXII, p. 495.

[113] Cf. IDEM. Brief an die deutschen Kommunisten (Carta aos Comunistas Alemães) (14 de Agosto de 1921), in: ibidem, Vol. XXXII, pp. retro-mencionadas.

[114] Cf. IDEM. ibidem, pp. retro-mencionadas.

[115] Nesse sentido, Lenin assinalou, com grande visão estratégico-revolucionária : “Aqui, devo esclarecer aos companheiros alemães o porquê de ter eu, tão longamente, defendido Paul Levi, no III Congresso. Em primeiro lugar, porque conheci Levi através de Radek, na Suíça, em 1915 ou 1916. Levi já era, então, um bolchevique, sendo que eu não posso resistir a uma certa desconfiaça em face dos que apenas depois da vitória do bolchevismo na Rússia e de uma série de vitórias na arena internacional dele se aproximaram. Porém, evidentemente, essa razão é, relativamente, irrelevante, pois ainda assim conheço Paul Levi pessoalmente muito pouco. ...  Incomparavelmente mais importante, foi o segundo fato de que Levi tem em muito razão, na essência das coisas, em sua crítica à Ação de Março de 1921, na Alemanha (naturalmente não no sentido de que a Ação de Março teria sido um Putsch : essa afirmação de Paul Levi é um absurdo)(p. 541). .... Levi quebrou a disciplina do partido. Através de uma série de erros incrivelmente estúpidos Levi dificultou a concentração da atenção sobre a essência das coisas. Porém, a essência das coisas, i.e. a apreciação e correção dos inúmeros erros cometidos pelo Partido Comunista Unificado da Alemanha, durante a Ação de Março, de 1921, era e é de importância extraordinária. Para clarificar e corrigir esses erros (que por muitos são louvados como pérola da tática marxista), era necessário posicionar-se na ala direita do III Congresso do Komintern(p. 542).” Cf. IDEM, ibidem, pp. retro-indicadas.

[116] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 1.7 : The March Action, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 176.

[117] Cf. IDEM, ibidem, p. 177. Anote-se que, a partir do III Congresso Mundial do Komintern, Paul Levi, aprofundando seu curso de rejeição ao putschismo da Ação de Março de 1921, passou a defender abertamente posições de oposição ao marxismo revolucionário de Lenin e Trotsky, acentuando a diferença entre a “Rússia Asiática” e o “Ocidente Europeu”. Quando em janeiro de 1922, 28 altos profissionais do PCA(KPD) foram expulsos por decisão do Comitê Central por repassarem internamente o jornal de Levi, denominado Unser Weg(Nosso Caminho), Levi, atraindo-os para suas fileiras, efetuou, pela primeira vez, a publicação da renomadíssima obra de Rosa Luxemburg, intitulada Acerca da Revolução Russa, tornando-a a pedra de toque de sua propaganda contra os bolqueviques.Ainda no mesmo ano de 1922, Levi e seus seguidores ingressaram no Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD), então dirigido por Rudolf Hilferding, o qual, por sua vez, regressou, em setembro de 1922, para o Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD). Com base nesse curso, Paul Levi foi eleito, a seguir, mais uma vez, Deputado da Social-Democracia Alemã, por Chemnitz, coordenando, a partir de seu posto, de maneira bastante lassa e fluída, a ala esquerda social-democrática. Levi suicidou-se em 9 de fevereiro de 1930, atirando-se de uma janela, durante um ataque de febre. Acerca do tema, vide BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, especialmente Chapitre XXV : L’Action de Mars, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 916. ; BERLINER ZEITUNG(Jornal de Berlim), Hellersdorf. Platz Erinnert an Paul Levi. Namensgebung am 17. August(Hellersdorf. Praça Relembra Paul Levi. Atribuição de Nome em 17 de Agosto), 11 de Agosto de 1980, Seção Local.           

[118] Cf. RADEK, KARL. Brief an den Parteitag der KPD in Jena (Carta ao Congresso do PCA(KPD) em Jena)(Agosto de 1921), in : Bericht über die Verhandlungen des VII (II) Parteitages der Kommunistischen Partei Deutschlands (Sektion der Kommunistischen Internationale)(Relatório sobre as Tratativas do VII (II) Congresso do Partido Comunista do Partido Alemão (Seção da Internacional Comunista), Berlim, 1922, respectivamente pp. 174 e 183 e ss.

[119] Cf. RADEK, KARL.  Die Aufgaben des Zentralausschusses der Partei (As Tarefas da Secretaria do Comitê Central do Partido), in : Die Rote Fahne(A Bandeira Vermelha), 16 de Novembro 1921, pp. 1 e s. 

[120] Cf. DIE KOMMUNISTISCHE INTERNATIONALE. 3. UND 4. WELTKONGRESSE 1921/1922. (A INTERNACIONAL COMUNISTA III E IV CONGRESSOS MUNDIAIS DE 1921/1922), Vol. 2, Parte IV : Thesen und Resolutionen (Teses e Resoluções), Dortmund : Vollständige Ausgabe, 1978, p. XIV.

[121] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an die deutschen Kommunisten (Carta aos Comunistas Alemães) (14 de Agosto de 1921), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXXII, p. 547.

[122] Cf. DIE KOMMUNISTISCHE INTERNATIONALE. 3. UND 4. WELTKONGRESSE 1921/1922. (A INTERNACIONAL COMUNISTA III E IV CONGRESSOS MUNDIAIS DE 1921/1922), Vol. 2, Parte IV : Thesen und Resolutionen (Teses e Resoluções), Dortmund : Vollständige Ausgabe, 1978, p. 18.

[123] Acerca do tema, vide SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 41 e s.; tb. BROUÉ, PIERRE. Kurzer Abriß der Geschichte der Kommunistischen Internationale(Curto Esboço sobre a História da Internacional Comunista), in : Die Kommunistische Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. XIV e s.

[124] Acerca do tema, vide, p.ex., THE SECOND AND THIRD INTERNATIONAL AND THE VIENNA UNION. Official Report of the Conference between the Executives Held at the Reichstag, Berlin, on the 2nd April 1922 and the Following Days, London, 1922, pp. 5 e s. 

[125] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Wir Haben zu Teuer Bezahlt (Pagamos Caro Demais) (9 de Abril de 1922), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXXIII, p. 318. 

[126] Cf. IDEM. ibidem, p. 319.

[127] Cf. RADEK, KARL. Brief an die Zentrale der KPD(Carta ao Comitê Central do PCA(KPD))(6 de Dezembro de 1922), in .Unser Weg. Zeitschrift für kommunistiche Politik, hrsg. Paul Levi, Ano IV, Caderno 1-2, Janeiro de 1922, pp. 46 e s.

[128] Acerca dos posicionamentos defendidos por Brandler nesse contexto histórico, vide BRANDLER, HEINRICH. Die Aktion gegen den Kapp-Putsch in Westsachsen(A Ação contra o Putsch-Kapp na Saxônia Ocidental), Berlim, 1920, pp. 17 e s.  

[129] Nesse sentido, sob o ângulo da minoria zinovievista do Partido Comunista da Alemanha(KPD), Ruth Fischer observa : “Um comunista sem anos de treinamento no Partido Social-Democrático antes de 1914 era sem valor, aos olhos de Brandler, não devendo ser confiado. A tendência destrutiva da jovem geração do após-guerra era, para ele, um fenômeno incompreensível e inquietante. Brandler tinha um orgulho imenso da classe trabalhadora alemã tal como a havia conhecido e possuía auto-respeito enquanto um de seus líderes. O poder da nova Rússia o impressionava, porém ele estava convencido de que os russos eram inaptos para entender seja o trabalhador alemão seja os fatores peculiares da política alemã. A revolução alemã impediria certas características da revolução russa. Ela não seria violenta, sem terror, destruição e caos, os quais eram devidos ao atraso do trabalho na Rússia. A economia socialista alemã funcionaria, imediatamente, de modo suave, seria altamente produtiva. A nova massa de ativistas, blanquistas, bakuninistas, putschistas, nada faziam senão destruir o trabalho lentamente permanente dos organizadores do partido e havia de ser eliminado, a todo custo, do movimento.” Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 215 e 216.        

[130] Acerca do tema, vide BRANDLER, HEINRICH. Der Hochverratsprozeß gegen Heinrich Brandler vor dem außerordentlichen Gericht am 6. Juli 1921 in Berlin, Berlim, 1921, pp. 7 e s.

[131] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 17.

[132] Cf. WEBER, HERMANN. Die Wandlungen des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der Weimarer Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar), Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926, p. 25.

[133] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 222.

[134] A esse respeito, vide RADEK, KARL. Soll die Vereinigte Kommunistische Partei Deutschlands eine Massenpartei der revolutionären Aktion oder eine zentristische Partei des Wartens sein ?(Deve o Partido Comunista Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação Revolucionária ou Partido Centrista do Ficar Esperando ?), especialmente Kapitel I : Der Vereinigunsparteitag(Capítulo I : O Congresso da Unificação) e Kapitel VII : Die Lage in der VKPD(Capítulo VII : A Situação no PCA Unificado(VKPD)), Hamburg : Carl Hoym, 1921, respectivamente pp. 5 s. e 76 e s.

[135] Acerca do tema, vide a mais nova obra de SCHWARZ, JOSEF. Die linkssozialistische Regierung Frölich in Thüringen 1923. Hoffnung und Scheitern (O Governo Socialista de Esquerda de Frölich na Turíngea de 1923. Esperança e Fracasso),  Schkeuditz : GNN Verlag, 2000, pp. 12 e s.

[136] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 223.

[137] Cf. IDEM. ibidem, p. 220.

[138] Cf. PROTOKOLL DES VIERTEN KONGRESSES DER KOMMUNISTISCHEN INTERNATIONALE (Protocolo do IV Comgresso da Internacional Comunista)(De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), especialmente : Aufrufe, Thesen, Resolutionen. Beilage VII. Thesen über die Taktik der Komintern (Conclamações, Teses, Resoluções. Anexo VII. Teses acerca da Tática do Komintern)  Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 1.007 e s.  

[139] Cf. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 219.

[140] Assinalo que, no texto original, do Protocolo do IV Congresso do Komintern, Ruth Fischer, principal representante da tendência zinovievista da minoria do Partido Comunista Alemão(KPD), em sua luta contra a tendência radekista da maioria, encabeçada por Heinrich Brandler, utiliza os termos “die Gefahr der Frisierung des Kommunismus ins Westliche”, i.e. o perigo de envenenamento do comunismo no Ocidente. Em verdade, o vocábulo Frisierung des Kommunismus é de difícil tradução, significando, porém, sempre uma forma de manipulação. Em alemão, emprega-se, entretanto, comumente, o vocábulo “frisieren” para referir que o motor de um carro foi manipulado. Daí, é possível lançar-se mão em português da palavra “envenenar”, tal como quando de diz que o motor de um carro foi envenenado.    

[141] Cf. RADEK, KARL. Diskussionsbeitrag auf dem IV Kongreß der Kommunistischen Internationale (Contribuição à Discussão no IV Congresso da Internacional Comunista)(De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista), Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 96 e s.

[142] Cf. IDEM. ibidem,  p. 103.

[143] Cf. IDEM. Referat über die „Offensive des Kapitals und die Taktik der Kommunistischen Internationale” auf dem IV Kongreß der Kommunistischen Internationale (Informe sobre a „Ofensiva do Capital e a Tática da Internacional Comunista“ no IV Congresso da Internacional Comunista) (De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), in : ibidem, pp. 325 e s.

[144] Cf. IDEM. ibidem, p. 328 e 329.

[145] Cf. BERICHT ÜBER DIE VERHANDLUNGEN DES III(VIII) PARTEITAGES DER KOMMUNISTISCHEN PARTEI DEUTSCHLANDS(Relatório sobre as Tratativas do III(VIII) Congresso do Partido Comunista da Alemanha), Abgehalten in Leipzig vom 28. Januar bis 1. Februar 1923, Berlim, 1923, pp. retro-mencionadas. Extratos reproduzidos igualmente em FLECHTHEIM, OSSIP K. Die KPD in der Weimarer Republik (O KPD na República de Weimar), Frankfurt a.M., 1969, p. 175.; tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 237.

[146] FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 225. De maneira, entretanto, manifestamente equivocada, Fischer assinalou imediatamente a seguir, no extrato em destaque : “Ela (i.e. a declaração política para o Congresso) tinha de ser cuidadosamente traçada, pois a participação de comunistas como ministros em governos estaduais conflitava com toda a teoria e a política da Internacional Comunista, tal como desenvolvida até então. Radek tinha de evitar uma comparação com a discussão do início do século, quando a entrada do socialista francês, Alexandre Millerand, em um gabinete burguês, tinha sido debatida por toda a Internacional(p. 225).”

[147] Anoto, de passagem, que a ocupação em tela foi concluída em 30 de junho de 1930, i.e. cinco anos antes ao previsto no Tratado de Versalhes. A decisão do imperialismo francês apoiou-se, à época, no argumento de que a política de revisão pacífica do tratado havia produzido resultados satisfatórios, justificando a remoção antecipada das tropas. Acerca do tema, vide CHRONIK DER DEUTSCHEN(Crônica dos Alemães), Dortmund : Chronik Verlag, 1983, p. 806.

[148] Cf. TROTSKY, LÉON. „Demain“. Correspondance Friedländer-Trotsky. Corr. Int. Nr. 96, 13 de Dezembro de 1922, p. 735, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 632.

[149] Acerca do tema, vide NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. VI e s.

[150] Nesse sentido, Pyatnitsky admitiu, de conjunto, peremptoriamente, já mesmo em 1929, a correção da análise de Trotsky acerca do tema, tendo em conta especialmente momentos de caráter técnico-militar : “Uma das causas das derrotas da Revolução Alemã de 1923 reside em que o Partido Comunista Alemão assumiu o curso de preparação direta do levante armado muito tardiamente. O aproximar-se de uma situação diretamente revolucionária na Alemanha devia ser, indubitavelmente, prevista – caso houvesse uma direção bolchevique de nosso partido – já no momento da ocupação do Vale do Ruhr e do Estado da Renânia pelas tropas francesas ou, imediatamente, após ela. Precisamente a partir desse momento, declinou, na Alemanha, a crise econômica decisiva e a crise política por ela provocada. Precisamente outrora, já havia começado em diversos distritos da Alemanha (Saxônia, Halle-Merseburg etc.) a organização das centúrias proletárias, por iniciativa dos próprios trabalhadores. Em face disso, o CC do Partido Comunista assumiu a dinâmica de armamento dos trabalhadores, de levante armado, apenas durante os três dias de Greve Geral do início de agosto, que varreu o Governo Nacional-Alemão de Cuno. Permitiu-se, então, transcorrer consideravelmente muito tempo : as centúrias proletárias foram construídas precipitadamente, sem quadros e direção suficiente. Elas não sabiam levantar armas suficientemente. O trabalho no Exército e na Polícia conseguiu-se realizar apenas em medida extremamente insuficiente. Tudo isso, juntamente com as outras causas,  não pôde deixar de influir, no outono de 1923, no resultado da crise revolucionária enquanto um todo. Nosso Partido Comunista – mais corretamente, nossa direção – não reconheceu oportunamente o significado da ocupação do Vale do Ruhr e do Estado da Renânia pela França. Ele não compreendeu o significado da perda surgida com isso para a economia alemã de 80% da produção de ferro e aço e 71% do carvão, assim como o significado da política da “Resistência Passiva” do Governo Alemão contra os poderes de ocupação. Em decorrência disso, não conseguiu prever oportunamente o aproximar-se da crise econômica no país que provocou, como sua conseqüência, a crise revolucionária.” Cf. PYATNITSKY, OSSIP A. Der Bolschewismus und der Aufstand(O Bolchevismo e o Levante)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. 35.      

[151] Nesse sentido, vide, precisamente, WEBER, HERMANN. Die Wandlungen des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der Weimarer Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar), Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926, p. 48.

[152] A respeito das primeiras posições de Radek postuladas nesse sentido, vide RADEK, KARL. Deutschland und Rußland. Ein in der Moabiter Schutzhaft geschriebener Artikel für “richtiggehende” Bourgeois(Alemanha e Rússia. Um Artigo Redigido na Prisão de Custódia em Moabit para Burgueses “Corretos” ), in : Die Zukunft, hrsg. Maximilian Harden, Ano XXVII, Nr. 19, Berlim, 1920, pp. 178 e s.; IDEM. Die Deutsch-Russischen Beziehungen(As Relações Germano-Russas)(15 de Outubro de 1921), in : Dietrich Möller, Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, pp. 209 e s.

[153] Cf. IDEM. Deutschland, Sowjet Rußland und die Entente(A Alemanha, a Rússia Soviética e a Entente), in : Die Rote Fahne, 3 de Dezembro de 1921, Editorial.

[154] Acerca do tema, vide, ainda, IDEM. Die Entente, Sowjetrußland und Deutschland(A Entente, a Rússia Soviética e a Alemanha), in : Pravda, 3 de Janeiro de 1922, tb. Die Rote Fahne, 29 de Janeiro de 1922, 2° Caderno.; DEBATE ÜBER DEN BERICHT DER EXEKUTIVE(Debate sobre o Informe do Executivo), especialmente Redner(Oradores) Varga, Radek, Bukharin, in: Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 44 e s.

[155] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 2.8 : Germany, an Industrial Colony, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 199 e 200.

[156] Cf. RADEK, KARL. Referat über die weltpolitische Lage auf der Konferenz der Erweiterten Executive der Kommunistischen Internationale (Informe sobre a Situação Política Mundial na Conmferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) ) (15 de junho de 1923), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 103 e s.

[157] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI. in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 8 e s.               

[158] Nesse sentido, vide especificamente SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e s.

[159] Nesse sentido, vide especificamente RADEK, KARL. Schlageter. Eine Auseinandersetzung (Schlageter. Uma Polêmica) (21 de Junho de 1923) in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 240 e s.

[160] Cf. IDEM. ibidem, pp. 244 e 245. Acerca do discurso de Radek dedicado a Schlageter, até mesmo Dietrich Möller, historiador alemão de inclinação stalinista reciclada, entusiasta da obra de Karl Radek anotou : “Albert Leo Schlageter não foi o herói que dele foi feito. Na audiência contra ele, Schlageter confessou relativamente à questão acerca do objetivo e motivos de seu modo de agir, entre outras coisas : « O que fiz, fí-lo porque tive grande prejuízo em meus negócios. De uma vez, perdi cinco milhões. Então, disse a mim mesmo : “Ah ! Abandone os negócios e procure alguma coisa diferente para você mesmo. »” Cf. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 245. Acerca do mesmo tema, vide ainda RADEK, KARL. Das Abflauen der Offensive des Kapitals und die Aufgaben der Kommunistischen Internationale. Rede in der Sitzung der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Jugendinternationale (O Refluxo da Ofensiva do Capital e as Tarefas da Internacional Comunista. Discurso na Sessão do Executivo Ampliado da Internacional Comunista da Juventude) (13 de Julho de 1923), in : Der Kampf der Kommunistischen Internationale gegen Versailles und gegen die Offensive des Kapitals (A Luta da Internacional Comunista contra Versalhes e contra a Ofensiva do Capital), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e s.

[161] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e s. No mesmo sentido, tb. RADEK, KARL. Referat über die weltpolitische Lage auf der Konferenz der Erweiterten Executive der Kommunistischen Internationale (Informe sobre a Situação Política Mundial na Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista)(15 de Junho de 1923), in : ibidem, pp. 103 e s.

[162] Cf. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 245.

[163] Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e 43.

[164] Cf. TROTSKY, LÉON. Stalin. Eine Biographie(Stalin. Uma Biografia)(1931), Köln-Berlim : Intarlit, 1952, p. 469.

[165] Com efeito, visando à direção e organização do Outubro Alemão de 23, foi encarregada enquanto representante do Komintern na Alemanha, uma delegação comandada por Karl Radek e integrada por August Kleine(Guralski), Alexei Skoblevski e Vassili Schmdt. Nesse senrtido, vide MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 258. Acerca do tema, vide ainda BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 752 e s. 

[166] Cf. NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. VII.

[167] Cf. TROTSKY, LÉON. Piat Liet Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, p. VII.

[168] Cf. UNSCHLICHT, JOSEF. Die Organisierung der Kräfte des Proletariats(A Organização das Forças do Proletariado)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 176 e 177.

[169] Cf. TROTSKY, LÉON. Piat Liet Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, p. VII.

[170] Acerca do tema, vide SCHMITT, CARL. Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), München-Leipzig : Duncker & Humbolt, 1928, pp. 138 e s.; IDEM. Die Lage der Europäischen Rechtswissenschaft(A Situação da Ciência Jurídica Européia)(1943-1944), in : Verfassungsrechtluche Aufsätze aus den Jahren 1924-1954, Berlim : Duncker und Humbolt, 1928, pp. 397 e s. 

[171] Citado por BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 757 e 758.

[172] Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e 43.

[173] Acerca do tema, vide, sobretudo, KIPPENBERGER, HANS. Der Aufstand in Hamburg(O Levante em Hamburgo)(Maio de 1924), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 66 e s.

[174] Sobre o Levante de Hamburgo, vide ainda, especialmente, as referências de WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus(De Rosa Luxemburg a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp. 28 e s.; NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. III e s.; BROUÉ, PIERRE. Die Deutsche Linke und die Russische Opposition 1926-1928(A Esquerda Alemã e a Oposição Russa de 1926 a 1928), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 8 e s.; IDEM. Kurzer Abriß der Geschichte der Kommunistischen Internationale(Curto Esboço sobre a História da Internacional Comunista), in : Die Kommunistische Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. V e s.; IDEM. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 653, 686, 777 e s., sem qualquer referência, porém, ao papel de Wollenberg, no Levante de Bochum de 23, e com formulações semi-visionárias acerca da formação e ascensão do nazismo na Alemanha.; WINKLER, HEINRICH. Von der Revolution zur Stabilisierung. Arbeiter und Arbeiterbewegung in der Weimar Republik 1918-1924, Berlim, 1984, pp. 594 e s.; STOBNICER, MAURICE. Le Mouvement Trotskyste Allemand sous la République de Weimar, Dissertation, Paris : 1980, pp. 7 e s.; DANNER, LOTHAR. Ordnungspolizei Hamburg. Betrachtungen zu ihrer Geschichte 1918 bis 1933(Polícia da Ordem de Hamburg. Considerações acerca de sua História, de 1918 a 1933), Hamburg : Verlag Deutsche Polizei, 1958, pp 63 e s.

[175] Nesse sentido, KAUFMANN, BERND. Der Nachrichtendienst der KPD 1919-1937(O Serviço Secreto do KPD entre 1919 e 1937), Berlim : Dietz, 1993, pp. 57 e s.

[176] Cf. CHRONIK DER DEUTSCHEN(Crônica dos Alemães), Dortmund : Chronik Verlag, 1983, p. 805.

[177] Cf. UNSCHLICHT, JOSEF. Die Arbeit unter den Streitkräften der Bourgeoisie(O Trabalho entre as Forças Armadas da Burguesia)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 150 e 151.

[178] Citado em  BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p.758.

[179] Cf. RADEK. KARL. Referat vor dem Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale (Informe na Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista) (11 de Janeiro de 1924), in : Die Lehren der deutschen Ereignisse. Das Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale zur deutschen Frage (As Lições dos Acontecimentos Alemães. A Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista acerca da Questão Alemã), Hamburg : Carl Hoym, 1924, pp. 5 e s.

[180] Acerca de sua orientação política essencialmente distinta para a luta contra o ascenso nazista na Alemanha, Trotsky assinalou, precisamente, em 11 de dezembro de 1936, no contexto de seu depoimento prestrado diante do Tribunal Norueguês  : “Dando início desde os primeiros anos de meu banimento, demonstrei, repetidamente, em brochuras e artigos, que a política do Komintern, na Alemanha, prepara a vitória dos nazistas. Outrora, reinava a infâme teoria do Terceiro Período. Stalin deu nascimento a um aforismo : « A Social-Democracia e o Fascismo são irmãos gêmeos e não antípodas. » Enquanto inimigo principal desses ambos « gêmeos » era considerada a Social-Democracia. Na luta contra ela, os stalinistas alemães chegavam ao ponto de apoiar Hitler (o famoso Referendo Prussiano). Toda a política do Komintern era um cadeia de crimes. Eu exigia a Frente Única com a Social-Democracia, criando-se uma milícia de trabalhadores, e uma luta séria, não teatral, contra os bandos armados da reação. No período de 1929 a 1932, existia totalmente a possibilidade de acertar as contas com o movimento de Hitler. Porém, para isso era necessária a política da defesa revolucionária e não da estupidez e da fanfarronada burocrática. Os nazistas seguiram muito atentamente a luta interna nas fileiras da classe trabalhadora e deram-se conta claramente do perigo que para eles significava uma política corajosa de Frente Única.” Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 33. Para uma análise mais aprofundada acerca desse tema, vide IDEM. Gegen den Nationalkommunismus. Die Lehren des roten Volksentscheids (Contra o Nacional-Comunismo. As Lições do Referendo Vermelho), Berlim : A. Grylewicz, 1931, pp. 1 e s.   

[181] Cf. RADEK, KARL. Referat vor dem Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale (Informe na Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista) (11 de Janeiro de 1924), in : Die Lehren der deutschen Ereignisse. Das Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale zur deutschen Frage (As Lições dos Acontecimentos Alemães. A Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista acerca da Questão Alemã), Hamburg : Carl Hoym, 1924, pp. 11 e s.

[182] Acerca do tema, vide IDEM. Schlageter. Eine Auseinandersetzung (Schlageter. Uma Polêmica) (21 de Junho de 1923) in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 240 e s.; IDEM. Das Abflauen der Offensive des Kapitals und die Aufgaben der Kommunistischen Internationale. Rede in der Sitzung der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Jugendinternationale (O Refluxo da Ofensiva do Capital e as Tarefas da Internacional Comunista. Discurso na Sessão do Executivo Ampliado da Internacional Comunista da Juventude) (13 de Julho de 1923), in : Der Kampf der Kommunistischen Internationale gegen Versailles und gegen die Offensive des Kapitals (A Luta da Internacional Comunista contra Versalhes e contra a Ofensiva do Capital), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e s.

[183] Cf. IDEM. Referat vor dem Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale (Informe na Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista) (11 de Janeiro de 1924), in : Die Lehren der deutschen Ereignisse. Das Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale zur deutschen Frage (As Lições dos Acontecimentos Alemães. A Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista acerca da Questão Alemã), Hamburg : Carl Hoym, 1924, pp. 17 e s.

[184] Cf. IDEM. ibidem, pp. 22 e s.

[185] Cf. TROTSKY, LÉON. Piat Liet Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, pp. VII e s.

[186] Cf. IDEM. ibidem, pp. retro-indicadas.

[187] Acerca do tema, vide, sobretudo, TROTSKY, LÉON. Novyi Kurs(Novo Curso)(Dezembro de 1923), especialmente Apenso : Carta à Assembléia do Partido de 8 de Dezembro de 1923), Moscou : Izdat. Krasnaia Nov, 1924, pp. 77 e s.   

[188] De maneira cabal e cristalina, Gramsci já escrevia, nessa época, com sua particular genialidade para exercícios de confusionismo e embaralhamento de categoriais político-conceituais, dando, porém, fiel expressão à orientação política defensista de Stalin, cética em relação à possibilidade de qualquer atuação revolucionária, consciente, sistemática e programada, do proletariado alemão e de seu partido comunista no ano de 1923 : “ É natural que Zinoviev, que não possa atacar Brandler e Thalheimer como incapazes e nulidades individuais, pondo a questão no plano político e procurando, em seus erros, as idéias para acusá-los de direitismo. A questão complica-se, além disso, desgraçadamente. Em certos aspectos, Brandler é um putschista, muito mais do que um membro da ala de direita e pode-se também dizer que é um putschista porque é da ala de direita. Ele havia assegurado ser possível, no outubro passado, dar um golpe de Estado na Alemanha e que o partido estava tecnicamente pronto para tanto. Zinoviev estava, pelo contrário, muito pessimista e não considerava que a situação estivesse madura politicamente. Nas discussões ocorridas no centro russo, Zinoviev foi colocado em minoria e apareceu, ao invés disso, o artigo de Trotsky : “Se a Revolução Pode Ser Feita com Data Marcada”. Em uma discussão ocorrida na Presidência, isso foi dito bem claramente por Zinoviev Ora, em que consiste o cerne da questão ? A partir do mês de julho, depois da Conferência da Paz de Haia, Radek, retornando a Moscou, depois de uma tournée, fez um relatório catastrófico sobre a situação alemã. .. É evidente que, depois desse relatório de Radek, o grupo Brandler colocou-se em movimento e, para evitar o ascenso da minoria (i.e. da minoria alemã de Fischer-Maslov), preparou um novo março de 1921. Se existiram erros, esses foram cometidos pelos alemães. Os companheiros russos, i.e. Radek e Trotsky, cometeram o erro de acreditar nas bravatas(no original em italiano : nos leilões de fumaças) de Brandler e de seus companheiros, porém, de fato, também nesse caso, a posição deles não era de direita, senão muito mais de esquerda, a ponto de poderem incorrer na acusação de putschismo.” Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Lettera a Togliatti e C.(9 de Fevereiro de 1924) , in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 189 e 190.

[189] Acerca do tema, anota a historiadora Annegret Schülle : „Porém, nem a direção do PCA(KPD) nem a direção do Komintern conceberam, tempestivamente, o significado da situação. Na Conferência do Comitê Executivo da Internacional Comunista, de junho de 1923, a direção do Komintern, sob Zinoviev, discutiu com a direção alemã acerca da situação. No entanto, quase nenhum dos participantes concebeu a necessidade de preparação do levante. Como paradigma da posição do Komintern podem ser consideradas as posições de Radek, que se encontrava na Alemanha, na qualidade de conselheiro russo. Ainda em 2 de agosto, Radek insistiu para que, em „Bandeira Vermelha“, órgão do PCA(KPD), devia-se, então, não apenas não travar-se batalhas gerais, como também até mesmo evitá-las, de modo a não possibilitar-se ao inimigo esmagá-las parcialmente“. Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e 43.

[190] Vide, mais detalhadamente, GRAMSCI, ANTONIO. Lettera a Togliatti e C.(9 de Fevereiro de 1924) , in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 186 e s.

[191] Vide IDEM, ibidem, pp. 186, 187 e 188. 

[192] Acerca do tema, vide LENIN, WLADIMIR I. Fünf Jahre Russische Revolution und die Perspektiven der Weltrevolution(Cinco Anos de Revolução Russa e as Perspectivas da Revolução Mundial), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen International (Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista) (De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 229 e 230.    

[193] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 211.

[194] Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, p. 47. Acerca do tema, vide, mais detalhadamente, TROTSKY, LÉON. Die III. Internationale nach Lenin. Das Programm der internationalen Revolution und die Ideologie des Sozialismus in einem Land 1928/29 (A III Internacional após Lenin. O Programa da Revolução Internacional e a Ideologia do Socialismo em um Só País 1928/29), Berlim : Dröge, 1993, pp. VIII e s.

[195] Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 151.