PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO DO
DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
REFLEXÕES SOBRE A LUTA
CONTRA O FRENTEPOPULISMO CONTEMPORÂNEO
A
Orientação Política Radek-Brandler
Acerca
da Frente Única e do Governo dos Trabalhadores
Nas
Lutas Revolucionárias do Início dos Anos 20
Até a
Derrota do Proletariado Alemão de 1923
A
Suposta Luta Contra o Sectarismo Ultra-Esquerdista e o Centrismo Oportunista
Visando
à Organização da Prostração Frentista, Disfarçada com Críticas e Denúncias,
Na
Capitulação Diante das Forças Reformistas da Social-Democracia Alemã
À trabalhadora da costura e mãe lutadora incansável,
Helena R.G., falecida em 31 de maio de 2001 no Rio de Janeiro,
em saudação e memória.
EMIL
ASTURIG VON MÜNCHEN
PORTAU
SCHMIDT VON KÖLN
Para Palestras,
Cursos e Publicações sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
Junho de 2001
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Geral
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EDITORA DA UNIVERSIDADE
COMUNISTA SVERDLOV
PARA A ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE –
PARIS
FEVEREIRO DE 2002
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
Percurso
Político de Karl Radek Até o Início dos Anos 20
CAPÍTULO II
Karl Radek Nos
Primeiros Anos Posteriores à Fundação do PCA (KPD) e a Greve Geral Sangrenta de
1919:
A Gênese
Histórica da Tática de Frente Única
CAPÍTULO III
Frente Única e
Governos dos Trabalhadores na Versão Radek-Brandler:
Seu Sentido e
Significado Históricos para a Grande Derrota do Proletariado Internacional de
1923
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ARTIGOS E
DOCUMENTOS
INTRODUÇÃO
“Companheiros,
se muitos acreditam que isso se trata de um giro à direita,
porque, de um lado, combate-se os oportunistas,
e, de outro, fala-se dos erros que fazem os bons elementos de esquerda,
então não se trata de um engano.
Os bons elementos de esquerda não estão à nossa esquerda.
À esquerda, estão aqueles que, na Internacional Comunista,
preparam-se para poder travar suas lutas.
Quem os impede com teorias oportunistas de se prepararem para a luta,
estão à direita. Quem os impede de as vencer exitosamente,
tendo muito pouco em conta a realidade da luta,
quem não tem julgamento visual
acerca da necessidade de preparação para elas,
não é um oportunista,
mas sim um inoportunista.
Ele não vê o que é oportuno e necessário ..”[1]
O balanço histórico
sobre o processo revoucionário na Alemanha do século XIX e XX é extremamente
complexo e não há ainda lições muito claras a estudar e a ensinar
categoricamente, já que, nesse terreno, domina a histografia de frações
burguesas e pequeno-burguesas, revisionistas, stalinistas e até mesmo não
conseqüentemente leninistas.
Pois, se reina
acordo quanto ao fato de que a Social-Democracia Alemã superara o
desafio da ilegalidade, expressado pela Lei Contra os Socialistas de Bismarck,
o Partido já se encontrava, segundo Marx e Engels, seriamente
degenerado, em sentido teórico e programático, mesmo na década de 70 do século
XIX, por capitular crescentemente ao
lassalleanismo.
Poucos
reconheciam isso, porque a Social-Democracia Alemã crescia
quantitativamente, e, daí, fechavam os ouvidos aos posicionamentos de Marx
e Engels que destacavam sua decadência qualitativa, em termos
proletário-revolucionários, agravada a partir das negociações do Programa
de Gotha, de 1875. Costuma-se contemplar, superficialmente, August
Bebel e Wilhelm Liebknecht como os grandes organizadores numéricos da Social-Democracia
Alemã, deixando-se de destacar que o Partido havia, simplesmente,
inchado, tornado-se incapaz de lutar, revolucionariamente, nos anos 90 do
século XIX, devido ao crescente oportunismo teórico e programático, fomentado
pelos próprios August Bebel e Wilhelm Liebknecht. Além disso, é de praxe
criticar o reformismo de Eduard Bernstein e pouco se destaca
o oportunismo de August Bebel em sua colaboração militante com Friedrich
Ebert, a partir de 1905.
Entre 1871 e
1918, a Prússia, assumindo a forma estatal de Império Alemão, havia-se
tornado a grande nação imperialista da Europa Continental que derrotara,
militarmente, a Áustria e a França, esmagara a insurreição da
Comuna de Paris, ampliara suas colônias desde a China (Shantong)
até a África.
A I
Guerra Mundial imprimiu uma “derrota técnica” ao imperialism
alemão que capitulara, sem que nenhum soldado da Entente Franco-Britânico-Estadounidense
houvesse invadido o seu solo, sem que a retirada de suas tropas dos
territórios ainda ocupados na Europa se desse de modo desordenado,
sem que o Comando Supremo de suas Forças Militares – composto por Paul
von Hindenburg e Erich Ludendorff – houvesse sido
aniquilado ou, ao menos, encarcerado.
Após a Revolução
de 9 de Novembro de 1918, impulsionada pela
insurreição dos trabalhadores, soldados e marinheiros alemães amotinados,
formou-se um Governo de Coalizão, composto pela Social-Democracia Patriótica,
encabeçada por Ebert, Scheidemann e Landsberg, e pela Social-Democracia Independente e
Pacifista, dirigida por Hugo Haase, Wilhelm Dittman e Emil Barth.
Perante o público, apoiaram-se, de início, em
10 de novembro, sobre a Assembléia Geral dos Conselhos de
Trabalhadores e Soldados, representante de todos os conselhos do Império
Alemão.
Porém, no mesmo
dia, surgia o Pacto Militarista selado entre o SPD, comandado com Friedrich
Ebert, e o Alto Comando do Exército Imperial, dirigido, agora, pelo General
Wilhelm Groener, visando, sobretudo, a preservar a estrutura hierárquica
das forças armadas imperiais, manter o velho aparato militarista do Estado,
reconstruir o imperialismo alemão, proteger o novo Estado contra a “Revolução
Bolchevique” e seus representantes imaginários na Alemanha, i.e. os spartakistas,
dirigidos por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg.
Diretamente
interessados no Pacto Ebert-Groener estavam, além disso, os grandes
capitalistas alemães Siemens, Stinnes, Borsig e outros.
Esse contexto
favorecera imensamente a difusão da “Lenda da Punhalada pelas Costas
(Dolchstoßlegende)”, criada pelos Generais von Hindenburg e Ludendorff e
defendida pelo Comando Supremo do Exército Imperial, segundo a qual os únicos
culpados pela derrota da Alemanha na I Guerra Mundial teriam
sido os socialistas de todos os gêneros que insuflavam as massas para a
revolução, os social-democratas, sim, mas, particularmente, os marxistas
de todos os gêneros e, sobretudo, os bolcheviques e, por essa
via, os judeus, responsáveis pela conspiração internacional judia, em
uma palavra: todos os criminosos da Revolução de Novembro
(Novemberverbrecher), que assinaram a Paz de Versalhes, em 11
de novembro de 1918, “sem que os últimos meios de resistência
estivessem esgotados” …
Aos “criminosos
de novembro” não cumpriria conceder tréguas: caberia responder com os
métodos mais impiedosos e implacáveis do imperialismo alemão, tão bem demonstrado
no massacre da Comuna de Paris, comandado pelo Chanceler de Ferro, Otto von
Bismarck.
Valeria esmagar
os marxistas
revolucionários,
valendo-se, de início, da Social-Democracia Patriótica de Ebert e
Scheidemann, para, depois do esmagamento daqueles, destroçar também
estes, de modo a acertar contas com todos os que supostamente “apunhalaram
e espetaram pelas costas o sagrado Exército imperial, o Siegfried alemão, a
cada momento em que combatia no fronte.”
Tanto pior eram
as palavras de Friedrich Ebert que saudava os soldados imperiais que
retornavam do fronte, em 1918, proclamando que não haviam sido derrotados nos
campos de batalha (“im Felde unbesiegt”), ou mesmo de Konrad
Adenauer, do Partido do Centro cristão-democrata
burguês, que afirmava que o Exército Imperial regressava
ser ter sido vencido sem, ter sido derrotado, (“nicht besiegt und nicht
geschlagen in die Heimat zurück”).
A “punhalada”
(Dolchstoß) haveria sido desferida no interior do país, convulsionado pelos
insurgentes
marxistas…, pela mão do judeu bolchevique …
No período da I
Guerra Mundial e imediatamente depois dela, em face da crise do Imperialismo
Alemão e seu ímpeto selvagem de reorganização, alimentado pela “Lenda
da Punhalada nas Costas (Dolchstoßlegende)”, os mais complexos
problemas surgidos no interior das filerias dos revolucionários alemães
advinham das visões da águia Rosa Luxemburg sobre a questão
organizativa e seu revisionismo teórico do marxismo,
permanecendo em descompasso com a nova idade do imperialismo, fase superior do capitalismo.
De modo nenhum,
emergiam do que se alega pudesse ser o “putschismo” de Karl Liebknecht, aliás o que
nunca foi efetivamente provado, pois as acusações de tentativa de derrubada
imediata do governo de Ebert, Scheidemann e Noske, aliado
dos Generais
Groener, Lequis e von Lüttwitz, em Janeiro de 1919, mediante
insurreição armada, acusações essas dirigidas sobretudo contra Karl
Liebknecht, partem, majoritariamente, entre as fileiras da esquerda, de
Paul
Levi e luxemburguistas e também de Radek, Brandler e Richard Müller, e,
d’entre as fileiras burguesas, do habermasiano Heinrich August Winkler.
Um elemento de
complicação nessa equação da luta de classes na Alemanha era, sem
dúvida, o fato que a III Internacional não se encontrava
nem sequer fundada, no período que se estende de novembro de 1918 e janeiro de
1919.
Depois da morte de Rosa Luxemburg, Lenin
assinalou, em 1920, em tom de síntese:
“Rosa equivocou-se na questão da independência
da Polônia.
Ela equivocou-se, em 1903, na apreciação do
menchevismo.
Equivocou-se quando, em julho de 1914, ao lado
de Plekhanov, Vandervelde, Kautsky, entre outros, aspirou à unificação dos
bolcheviques com os mencheviques.
Ela equivocou-se em suas anotações do cárcere
de 1918 (nesse sentido, corrigiu grande parte de seus erros, depois de
abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919).
Porém, apesar de todos os seus erros, Rosa foi
e permanece sendo uma águia.”[2]
Mas, a Greve Geral de Janeiro de 1919, com ocupação de prédios (Vorwärts –
órgão do SPD -, Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein
e Mosse, a Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff) e com
armamento das massas, objetivando à recondução de Emil Eichhorn ao cargo de
Presidente
do Comissariado de Polícia de Berlim, entrou na historiografia burguesa
e mesmo de boa parte da esquerda revisionista como a “Insurreição de Spartakus” ou o
“Levante de Spartakus”.
Nesse contexto, sobretudo Karl Liebknecht teria pretendido empreender
um putschismo
blanquista, supostamente destinado a derrubar imediatamente o Governo
de Ebert,
Scheidemann e Noske, sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von
Lüttwitz, destruindo, de um golpe, o Estado Burguês Alemão e
edificando uma República Socialista Livre dos Conselhos dos Trabalhadores,
mesmo contando com a minoria da classe trabalhadora.
Nesse contexto, teriam os companheiros de Karl Liebknecht do KPD
Sparktakista, Rosa Luxemburg, Paul Levi, Leo Jogliches
permanecido dotados de bom senso contra o putschismo de Karl Liebknecht,
quando se posicionaram e votaram contra uma resolução de derrubar o Governo
do SPD, aliado ao Generalato Imperarlista Alemão.
Diz a lenda popular que Karl Liebknecht teria assinado,
juntamente com Georg Lebedour (USPD) e Paul Scholze (Revolutionäre
Obleute), em uma “Junta Revolucionária (Revolutionsausschuss)”, já em 4 de
janeiro (!), no mesmo dia em que Emil Eichhorn, um membro do USPD,
foi deposto da Presidência do Comissariado de Polícia de Berlim, uma “declaração”(!),
defendendo a derrubada imediata do Governo Ebert e Scheidemann.
Outras voces afirmam que Karl Liebknecht,
entusiasmado pelas manifestações de rua de 5 de janeiro de 1919, teria,
juntamente com Lebedour e Scholze, votado, “na seqüência”,
embriagado pela pressão dos acontecimentos, uma efêmera “resolução”(!), em um
organismo comum de três organizações, contando com 33 membros e um “secretariado”(!)
de três dirigentes, clamando pela derrubada do Governo Ebert e Scheidemann
– “a
qual não teve maiores desdobramentos(!)”.
Outros acentuam que, em 6 de janeiro, a “Junta
Revolucionária (Revolutionsausschuss)”, buscando cooptar as tropas
imperiais alemães, declarou, ao sessionar no próprio Parlamento Imperial (Reichstag),
o Governo
Ebert e Scheidemann como já derrubado
(“abgesetzt”), o que teria sido comunicado à população mediante
panfleto, cujo responsável seria, “como de costume (wie üblich)”, Karl
Liebknecht e Wilhelm Pieck, membro da direção do KPD Spartakista.
Outros, por fim, alegam que Karl Liebknecht teria
votado uma “resolução” (!) de derrubada depois da Greve Geral de 7 de Janeiro,
clamando por invadir, com armas em punho, a Chancelaria do Império de Ebert,
situado na Wilhelmstraße 77, antigo Palácio do Príncipe Anton Radziwill,
bairro de Kreuzberg.
Ora, é importante destacar que mesmo a Greve
Geral de Janeiro de 1919 não foi, absolutamente, planejada,
desencadeada ou dirigida pelo KPD Spartakista, senão um produto
da manifestação
de massas, com ocupação de prédios que ocorrera em
5 de janeiro de 1919, sob convocação da Presidência da Social-Democracia
Independente (USPD) da cidade de Berlim, em colaboração
com maioria dos delegados sindicais
independentes revolucionários (revolutionäre Obleute), ligados
estes ao USPD, na base do movimento operário berlinense, objetivando a impedir a demissão de Emil
Eichhorn do cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de
Berlim, ordenada em 4 de janeiro de 1919 pelo Governo de Ebert, Scheidemann e Noske.
Estas foram as forças que, em verdade, dirigiram as
manifestações de massas e a Greve Geral de Janeiro de 1919,
sobre a qual Karl Liebknecht, Rosa Luxemburg e o KPD Spartakista incidiam, em condição de absoluta
minoria.
O próprio USPD de Georg Lebedour, Hugo Haase,
Wilhelm Dittman, Emil Barth – tal quais os spartakistas, saído bem
derrotado do Congresso do Império dos Conselhos de Trabalhadores e Soldados
(Reichskongress der Arbeiter- und Soldatenräte) de 16 a 21 de dezembro de 1918 que,
por 400
a 50, posicionou-se, em favor, da imediata convocação de eleições para uma Assembléia
Nacional Constituinte, a realizar-se em 19 de janeiro de 1919, bem como
por 344
votos a 98, a rejeição categórica da convocação imediata de um novo Congresso
dos Conselhos - encontrando-se também em
esmagadora minoria no movimento operário alemão, procurava reconquistar
suas posições perdidas no quadro de seu projeto de Governo Frente
Popular, formado com o SPD de Ebert e Scheidemann, em 9
de novembro de 1918, e imerso em crise, depois de o USPD ter
abandonado o Conselho dos Comissários do Povo (Rat der
Volksbeauftragten), em 28 de dezembro de 1918, em virtude da repressão
militar dos protestos da Divisão de Marinha do Povo
(Volksmarinendivision), promovida pelo Pacto Ebert-Groener,
durante o transcurso das Festas de Natal de 1918.
O próprio USPD não possuía sérias ambições de
derrubar o Governo: era, por princípio, pacifista e defendia uma estratégia
frentepopulista, estando disposto a colaborar com o social-patriotismo
de Ebert e Scheidemann – que sabia pactuar com o Generalato Imperialista Alemão
-, desde que não houvesse esmagamento de massas. Era seu projeto político cavalgar
as lutas das massas, desde que necessárias para imprimir mais impulso à
sua perspectiva de fazer instaurar em solo alemão uma “República dos Conselhos”
e a “Democratização
das Forças Armadas Imperialistas.”
Karl
Liebknecht – enquanto o mais
prestigiado quadro político do KPD Spartakista – veio a declarar,
publicamente, na noite de 5 de janeiro, seu apoio às todas as lutas e
mobilizações sociais das massas berlinenses - ademais sustentadas também por Rosa
Luxemburg e demais membros do KPD Spartakista - e, assim, passou a tomar parte no então formado Comando de Greve (Streikleitung),
composto por 53 destacados militantes, funcionando em Marstall,
o qual entraria para a historiografia dominante como a “Junta Revolucionária (Revolutionsauschuss)”.
Em essência, o Comando
de Greve de Janeiro de 1919 – Georg Lebedour, Paul Scholze e Karl
Liebknecht - expressava a
composição dirigente da antiga Junta Executiva do Conselho de Trabalhadores
e Soldados da Grande Berlim (Vollzugsrat des Arbeiter- und Soldatenrates
Groß-Berlin), surgida em outubro de 1918, e não era, em verdade, alheia
às visões de planejamento consciente de ações revolucionárias e insurreições em
Berlim, pois que já rompera com a velha concepção predominante no SPD
de que o capitalismo e o seu Estado se desagregam e desabam por si mesmos, não
devendo ser destroçados pela derrubada planejada do proletariado
revolucionário.
Porém, de 5 para 6
de janeiro, no quadro das mobilizações de massas, o que, de fato, ocorreu foi a
ocupação de vários prédios relacionados com a imprensa berlinense (Vorwärts – órgão do SPD -,
Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a
Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff). Em vez do Vorwärts, jornal do SPD
que publicará a demissão de Emil Eichhorn, passou a circular o Revolutionäre Vorwärts, sob
a redação de Eugen Leviné, Wolfgang Fernbach e Werner
Möller, contando com o apoio dos operários da Knorr-Bremse, AEG e Schwarzkopff.
A seguir, a Greve
Geral, convocada para 7 de janeiro de 1919, foi, freneticamente,
sustentada por mais 500 mil berlinenses que ocuparam as ruas e as praças da
capital, clamando, até 9 de janeiro, pelo desarmamento das tropas estacionadas
na cidade, ao mesmo tempo em que os ocupantes dos prédios armavam-se, para
eventual defesa contra a repressão. Dos depósitos do Estado de Spandau
e Wittenau, distribuiram-se armas a cerca de 3.000 pessoas, diante do Comissariado
de Polícia de Emil Eichhorn.
De toda sorte, não
se registrou a passagem de tropas imperiais berlinenses para as fileiras dos
grevistas, bem como resultou que a Divisão de Marinha do Povo (Volksmarinedivision)
declarara sua neutralidade, a despeito das mobilizações de massas.
De 9 a 11 de
janeiro, em um momento de descenso do movimento grevista e estagnação na
dinâmica da ocupação de prédios, tomados como escudos proterores, passaram,
porém, a manifestarem-se claros desacordos internos no Comando de Greve (Streikleitung),
cujo conteúdo não se encontra, historicamente, bem comprovado, nos documentos
historiográficos alemães.
De um lado, parece
claro que estariam os adeptos de Georg Lebedour (USPD), defendendo a
retomada de negociações com o Governo de Ebert e o Generalato
Imperialista Alemão – as quais já haviam sido supostamente iniciadas
mesmo em 6 de janeiro - , d’outro, os adeptos de Karl
Liebknecht que, supostamente, segundo se conta, teriam defendido –
contra a posição de Rosa Luxemburg e Leo Jogliches – uma absurda tentativa de
assaltar, com armas na mão, o prédio de Ebert, Scheidemann e do Conselho dos
Comissários do Povo (Rat der Volksbeauftragten), o que implicaria, na
prática, dispor de tropas revolucionárias proletárias móveis, inexistentes
naqueles dias, que percorressem quilômetros de Spandau, da Jerusalemstraße,
da Zimmerstraße
e da Kochstraße até a sede de Governo de Ebert, Scheidemann e Noske,
na Chancelaria
do Governo, em Kreuzberg, passando de uma situação
já defensiva e estagnada das ocupações para uma impossível ofensiva extrema de ataque
arriscado, sendo capaz de desferir golpes militares.
No entanto, em 8 de
janeiro, é consenso afirmar que Liebknecht e o KPD Spartakista já
haviam decidido abandonar o Comando de Greve (Streikleitung),
devido a terem descoberto que Lebedour e o USPD negociavam, em
suas costas, uma trégua com o Governo de Ebert e Scheidemann.
Era evidente que Karl
Liebknecht sabia que se encontrava em absoluta minoria no Comando
de Greve (Streikleitung). Como poderia, naquelas circustâncias, então, o
revolucionário tão experiente que era pretender postular a deflagração de um “putsch”
contra Ebert e Scheidemann?
Além disso, haviam
fracassado, até mesmo em 8 de janeiro, as tentativas de arrastar para a Greve
Geral os marinheiros da Divisão de Marinha do Povo
(Volksmarinedivision) e, desde esse dia, as tropas e os paramilitares
de Ebert
proclamavam o lema de que: “a hora do acerto de contas se
aproximava!”(Die Stunde der Abrechnung naht!).
Como planejar a
derrubada imediata de um governo, quando a tarefa essencial do momento era a de
defesa?
Tratava-se, como se
dizia, de assegurar a tarefa de lutar contra a “traição de Judas no Governo” (“Kampf
gegen die Judasse in der Regierung”), contra as tropas que estavam
sendo financiadas pelo industrial Heinrich Sklarz e deslocadas por Nokse
e Reinhardt para o centro de Berlim, com as ostensivas conclamações dos
jornais burgueses à população para que integrasse as fileiras paramilitares dos
Freikorps,
ali mesmo no Café Vaterland, na Praça de Potsdam, como se depreende
dos tantos panfletos operários publicados à época em Berlim.
Todos sabiam que a “Liga
Anti-Bolchevique” de Eduard Stadler e Waldemar Pabst –
que, entre 9 e 15 de janeiro, participara da execução sumária de Liebknecht
e Luxemburg, bem como do massacre de cerca de 170 pessoas (anote-se que
a Greve
de Março de 1919 custou a vida de mais de 1.000 pessoas) -, encontrava-se
enriquecendo-se com as doações dos grandes capitalistas Siemens, Stinnes, Borsig, repassadas
aos Freikorps,
armados com lança-chamas, metralhadoras e artilharia pesada.
Em 9, quando as
tropas imperiais, as Guardas Brancas e os Freikorps
avançaram, o Comando de Greve (Streikleitung) não clamou pela derrubada do
governo, senão para que se utilizasse as armas “contra vossos inimigos
mortais”(Gebraucht die Waffen gegen Eure Todfeinde!).
Em verdade, toda e
qualquer análise rigorosamente fundada, sob o ângulo dialético-materialista –
i.e. não oportunisticamente social-filistino -, acerca do perfil revolucionário
de Karl
Liebknecht há de iniciar-se, sempre e invariavelmente, com o preclaro e
lapidar parecer expendido por Lenin sobre um dos mais destemidos
lutadores revolucionários de vanguarda que o proletariado internacional
conheceu.
Em sua carta dirigida aos trabalhadores da Europa
e dos EUA, Lenin escreveu da seguinte maneira:
“Karl Liebknecht
: esse nome é conhecido pelos trabalhadores de todos os países.
Por todos os lados ..., esse nome é símbolo da devoção de
um dirigente em prol dos interesses do proletariado, da fidelidade à revolução
socialista.
Esse nome é o símbolo da luta realmente verdadeira,
realmente sacrificante, incomplacente, contra o capitalismo.
Esse nome é o símbolo da luta inconciliável contra o
imperialismo, não em palavras, senão em ações, símbolo de uma luta que é
disposta ao sacrifício precisamente quando a “própria” nação é envolvida pelo
delírio de vitórias imperialistas.”[3]
O luxemburguismo,
a seguir desenvolvido por Paul Levi representou uma forma
alienada de representações das idéias de Rosa e sua cristalização
anti-leninista, o que ficou, em 1921, meridianamente evidenciado com as tomadas
de posições declaradas de Levi, culminando em sua expulsão da III
Internacional, em um momento em que Lenin, Trotsky e Zinoviev
a dirigiam. Depois disso, em 1922, Levi regressou… à II
Internacional.
As apreciações
de Rosa,
Levi, Radek e, mais modernamente, Pierre Broué (e, por essa via, Grant
e Woods) dominam, hoje, o tema e devem ser vistas com reservas. São
contraditórias e representam visões equivocadas sobre o desenvolvimento do
processo revolucionário da Alemanha.
As escassas
análises de Lenin e Trotsky e mesmo da III Internacional sobre o processo
revolucionário alemão de novembro de 1918 a janeiro de 1919 quase nunca são
investigadas e citadas, o que abre ainda mais espaço ao luxemburguismo e sua
suposta correção no tratamento das revoluções e o projeto de “socialismo
democrático”, nos termos da obra clássica de Rosa Luxemburg, de 1918: Sobre
a Revolução Russa. Essa historiografia dominou e ainda domina a
esquerda, depois da stalinização da União Soviética, tendo-se tornado a
base ideológica de inúmeros partidos da esquerda alegadamente democrática,
reformista, oportunista e liquidacionista, que evitam o bolchevismo,
valorizando a suposta posição “alternativa” de organização e moderação de Rosa
Luxemburg.
Mas, certo é que
nem Lenin,
nem Sverdlov,
nem Trotsky,
jamais se pôs a afirmar que Karl Liebknecht pretendera derrubar
imediatamente o governo de Ebert, Scheidemann e Noske,
sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz e pelas unidades
paramilitares dos Freikorps, em Janeiro de 1919 ou coisa do gênero.
Não lhe censuraram ou o corrigiram por ter sido um “putschista” aventureiro
e querer imediatamente derrubar o governo, em meio à sua visível minoria, no
seio da classe trabalhadora alemã.
Ainda no quadro
histórico do ascenso insurrecional espontâneo das massas trabalhadoras,
soldados e marinheiros de Berlim, provocado pela conclamação de Greve
Geral de Janeiro de 1919, Karl Liebknecht escreveu, em 23 de
dezembro 1918, demonstrando ter clareza do que pretendia e do que acusavam os
spartakistas:
“Agora, atacam
os spartakistas com todos os meios imagináveis. A imprensa da burguesia e dos
social-patriotas, do Vorwärts (Avante) ao Kreuz-Zeitung (Jornal da Cruz),
debordando com mentiras aventureiras, exagerando com as mais insolentes
distorsões, deformações e injúrias. O que é que nos lançam na cara de todas as
maneiras? Que proclamamos o terror; Que queremos desencadear a mais sanguinolenta
das guerras civis; Que nos equipamos com armas e munições, preparando-nos para
uma insurreição armada. Em uma palavra: que somos os mais perigosos e
inescrupulosos cães sangrentos do mundo. Essas mentiras são fáceis de
compreender.”[4]
Diferentemente
das Jornadas
de Julho de 1917 na Rússia – e das posições de Podvoisky,
Nevsky, Volodarsky e da Organização Militar Bolchevique em Petrogrado
(antagonizadas por Trotsky, Zinoviev e Kamenev) – certo é que Karl Liebknecht não
propôs, na semana de 4 Janeiro de 1919, retomar sequer a
cosigna “Todo Poder aos Conselhos de Trabalhadores” – que aparecera em
dezembro de 1918, por ocasião do Congresso dos Conselhos de Fábrica,
cuja vitória coube ao SPD de Ebert e Scheideman.
Em Janeiro
de 1919, o intuito de Karl Liebknecht não era
absolutamente derrubar o governo, mas sim mobilizar permanentemente as massas,
inclusive armando-as ainda mais – o que era a regra naquele período posterior à
derrota da I Guerra Mundial, com ruas tomadas por soldados da Divisão
da Marinha do Povo (Volksmarinedivision), delegados sindicais
revolucionários independentes, eleitos por conselhos de fábrica (revolutionäre
Obleute), presididos por Paul Scholze, militantes da
Social-Democracia Independente (USPD) e do comunistas-spartakistas (KPD)
-, ocupando prédios públicos, e, por essa via, reverter, no curto
prazo, a demissão do Presidente do Comissariado de Polícia de
Berlim, Emil Eichhorn.
Seu método era o
seguinte: acreditava que as massas trabalhadoras, soldados e marinheiros,
sobretudo através das lutas, das greves gerais, avançariam em sua consciência
política, arrastando, finalmente, para o campo dos revolucionários a tão
esperada maioria. Esta seria a précondição para a tomada consciente do poder.
Sua grande debilidade era a questão organizativa, presidida pela visão de Rosa
Luxemburg.
Mas, a Greve
Geral de Janeiro de 1919 foi reprimida brutalmente pelo Governo
Ebert e Scheidemann, através de combates armados. Um novo capítulo da
luta de classes se abrira, pois, diferentemente, das Jornadas de Julho de 1917 –
em que dirigentes das lutas proletárias – como Trotsky, Lunatcharky e Zinoviev
- foram encarcerados e depois simplemente liberados -, o Janeiro de 1919 na Alemanha
foi o início de uma barbárie no centro do capitalismo avançado europeu: os
dirigentes não eram presos e soltos, eram executados sumariamente. Pelas suas
cabeças ofereciam-se recompensas milionárias.
Lenin sabia que o bolchevismo revolucionário tinha de
chegar à Alemanha para que fosse possível vencer e que Karl
Liebknecht – depois deste, Mehring – era precisamente o
dirigente que mais ansiava por implantá-lo. A resistência mais encarnecida e
insuperável, no interior das fileiras dos revolucionários alemães contra o
bolchevismo, provinha de Rosa Luxemburg, Leo Jogliches, Paul Levi e
seus aliados, destacadíssimos dirigentes do marxismo revolucionário alemão.
Depois da morte
de Karl
Liebknecht, Luxemburg e Jogliches, procurou Radek, desonestamente, a
fim de surgir como o grande representante da III Internacional na Alemanha, “provar”
que putschistas eram não apenas Liebknecht e seus seguidores, mas
também Rosa Luxemburg e Jogliches, por que haviam participado do
projeto de levante, concordando com ele ou não.
Uma crítica
justa sobre Karl Liebknecht deveria referir-se muito mais ao seu
revisionismo teórico, no campo da economia política, não ao fato de poder ser
acusado de putschista, tal quais quiseram Radek, Levi e o luxemburguismo.[5]
Por fim,
cumpriria frisar que não foi o “putschismo” ou a “estratégia
da ofensiva” – tal como diz a lenda de Levi, Däumig, luxemburguistas,
Brandler, Radek etc. - que destruiu o KPD alemão: pelo
contrário, enquanto o Partido lutava, apesar de todos os erros de
caracterização, atraia mais lutadores combativos para suas fileiras. Em fins de
1920, toda a ala esquerda do USPD ingressou no KPD.
Emil
Eichhorn foi eleito pelo
KPD
repeditamente Deputado no Parlamento Alemão, até 1924, apesar de, contra ele,
circular, desde janeiro de 1919, um mandato de prisão. Nos
entreatos das eleições parlamentares, voltava à clandestinidade. Novamente
eleito, gozando de imunidade parlamentar, voltava à cena pública. Morreu em julho de 1925.
O KPD foi destruido, paulatinamente, a
passo e passo, pelo stalinismo, a partir de 1924, tendo sido a direção Radek-Brandler
o veículo de transmissão intermediária dessa transformação gradativa. Em suma,
foram as capitulações, a parálise, a falta de luta e impulso combativo, o
oportunismo do bloco do Plebiscito Vermelho KPD-Nazistas,
que apodreceu o projeto de Partido marxista-revolucionário alemão, levando a
que, em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, o KPD
permancesse inteiramente paralisado, não ousando nem sequer convocar uma Greve
Geral.
Por tudo isso,
creio que a questão da experiência alemã deveria ser examinada mais
profundamente, mesmo sabendo que, dessa experiência histórica, pouco pode ser
extraído positiva e categoricamente, senão apenas contraditoria e
exortativamente, sendo o mais importante contrastar as posições equivocadas de Rosa
em relação à questão da organização do Partido marxista-revolucionário, visando
corrigí-las.
O presente estudo tem por objetivo apresentar considerações acerca da
orientação política Radek-Brandler, dinamizada, a partir do início dos anos 20, no
interior da Internacional Comunista(Komintern) e do Partido Comunista da
Alemanha(KPD), até a grande derrota da Revolução Alemã de 1923.
No quadrante desses anos históricos, os candentes debates sobre a
surpreendente conversão do status econômico-político da Alemanha capitalista
imperialista à condição de uma “grande colônia” da França, bem
como os esforços dedicados a precisar a definição e aplicação da tática de Frente
Única Proletária, das consignas de Governo dos Trabalhadores e de Ditadura
do Proletariado, a serem implementadas na Alemanha Revolucionária, assumiam
grande importância histórico-política enquanto legado referencial de análise
para todos os partidos revolucionários proletários de outrora e do porvir.[6]
Assinalavam, além disso, o desafio de procurar delimitar-se,
cientificamente, em sentido dialético-materialista, a justa extensão conceitual
das categorias político-programáticas em destaque, arduamente determináveis em
face de uma situação política rapidamente cambiante.
Como síntese precisamente lapidar e eminentemente perpicaz da temática
histórica em exame, relançada no início dos anos 20, resultado de toda a
essência e dimensão do significado decorrente da compreensão inter-relacional
das consignas de Frente Única, Frente Popular, Governo dos Trabalhadores e Camponeses,
Ditadura do Proletariado, Trotsky teve a oportunidade de destacar, com
incomparável claridade, no Programa de Transição, de 1938 :
“O GOVERNO DOS TRABALHADORES E DOS CAMPONESES
Essa fórmula “Governo dos Trabalhadores e dos Camponeses” surgiu, pela
primeira vez, no curso de 1917, na agitação dos bolcheviques e foi admitida,
definitivamente, depois da Revolução de Outubro. Nesse último caso, ela nada
significava senão uma designação popular para a Ditadura do Proletariado já
erigida. O significado dessa designação residia principalmente no fato de que
lançava, em primeiro plano, a idéia da aliança entre o proletariado e o
campesinato, colocada na base do Poder Soviético.
Quando o Komintern dos epígonos procurou ressuscitar a fórmula de “Ditadura
Democrática do Proletariado e do Campesinato”, enterrada pela história,
conferiu à fórmula “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” um conteúdo
inteiramente diferente, puramente “democrático”, i.e. burguês, na medida em que
a opunha à Ditadura do Proletariado. Os bolcheviques-leninistas rechaçaram a
consigna de “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” em sua interpretação
democrático-burguesa.
Eles declararam e declaram que se o partido do proletariado nega-se a
ultrapassar as fronteiras da democracia burguesa, sua aliança com o campesinato
torna-se meramente uma sustentação do capital, tal como ocorreu com os
mencheviques e os sociais-revolucionários em 1917, com o PC da China, em
1925-1927, e tal como ocorre agora nas “Frentes Populares” na Espanha, na
França e em outros países.
De abril a setembro de 1917, os bolcheviques exigiram que os
sociais-revolucionários e os mencheviques rompessem os laços com a burguesia
liberal e tomassem o poder em suas próprias mãos.
Nessas condições, os bolcheviques prometeram aos mencheviques e aos
sociais-revolucionários, enquanto representantes pequeno-burgueses dos
trabalhadores e camponeses, sua ajuda revolucionária contra a burguesia,
recusando, categoricamente, entretanto, ingressar no governo dos mencheviques e
sociais-revolucionários ou assumir por ele responsabilidade política.
Se os mencheviques e os sociais-revolucionários tivessem efetivamente
rompido com os cadetes e com o imperialismo internacional, o “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” por eles criado
poderia ter apenas acelerado e facilitado a edificação da Ditadura do Proletariado.
Porém, precisamente por isso a direção da democracia pequeno-burguesa
opôs-se, com todas as forças, à instauração de um seu próprio governo. ...
A consigna “Governo dos Trabalhadores e Camponeses” é para nós admissível
apenas no sentido que teve em 1917, na boca dos bolcheviques, i.e. enquanto uma
consigna anti-burguesa e anti-capitalista, porém, em nenhum caso, no sentido
“democrático” que lhe conferiram, posteriormente, os epígonos, convertendo-a de
ponte para a revolução socialista em um principal obstáculo em seu caminho.
De todos esses partidos e organizações que se apóiam sobre os trabalhadores
e camponeses e falam em seu nome, exigimos que rompam politicamente com a
burguesia e ingressem no caminho da luta em prol do Governo dos Trabalhadores e
Camponeses.
Nesse caminho, prometemo-lhes inteiro apoio contra a reação capitalista.
Ao mesmo tempo, desenvolvemos, incansavelmente, uma agitação em torno
daquelas consignas de transição que, em nossa opinião, haveriam de constituir o
programa do “Governo dos Trabalhadores e Camponeses”.”[7]
Essa mesma importantíssima suma marxista-revolucionária, diretamente
relacionada com a clarificação do sentido e significado, caráter e mecanismo,
das táticas do proletariado visando à derrubada da burguesia e edificação da Ditadura
do Proletariado, é formulada por Trotsky com as seguintes frases de
seu Contra
o Nacional-Comunismo. Lições do Referendo Vermelho, livro esse vindo a
público em 1931, devido à publicação assegurada magistralmente pelo trotskysta
alemão Anton Grylewicz :
“Nos dias de Outubro, os mencheviques e sociais-revolucionários russos
lutaram de mãos dadas com os cadetes, com os Kornilovs e os monarquistas contra
o proletariado.
Em outubro, os bolcheviques saíram do Pré-Parlamento, rumo às ruas, a fim
de conclamar as massas para um levante armado.
Se naqueles dias qualquer um dos grupos do Pré-Parlamento – digamos um
grupo dos monarquistas – dele saísse, ao mesmo tempo, com os bolcheviques,
teria sido sem qualquer significado político, pois os monarquistas seriam
derrubados juntamente com os democratas.
Porém, o partido chegou ao levante de Outubro através de uma série de
degraus.
Durante a manifestação de Abril de 1917, uma parte dos bolcheviques tinha
levantado a consigna : “Abaixo o Governo Provisório !”.
O Comitê Central admoestou imediatamente os ultra-esquerdistas : certamente
temos de proclamar a necessidade da derrubada do Governo Provisório, porém,
ainda não podemos chamar as massas às ruas com essa consigna, pois somos a
minoria na classe trabalhadora. Se derrubássemos nessas condições o Governo
Provisório, não o poderíamos substituir e, por consegüinte, ajudaríamos a
contra-revolução. Há de se instruir, pacientemente, as massas acerca do caráter
anti-popular desse Governo, antes que soe a hora de derrubá-lo.
Essa foi a posição do partido.
No período subseqüente, a consigna foi a seguinte : “Abaixo com os
Ministros Capitalistas !”
Essa era uma consigna dirigida à Social-Democracia, a fim de que rompesse
com a burguesia.
Em julho, dirigimos a manifestação dos trabalhadores e soldados com a
consigna : “Todo Poder aos Soviets”, o que, no momento de então, significava
:todo poder aos mencheviques e sociais-revolucionários.
Porém, os mencheviques e os sociais-revolucionários derrotaram-nos
juntamente com os Guardas Brancos.
Depois de dois meses, levantou-se Kornilov contra o Governo Provisório.
Na luta contra Kornilov, os bolcheviques assumiram, sem demora, as posições
mais avançadas.
Lenin encontrava-se, naquele tempo, na ilegalidade. Milhares de
bolcheviques, nas prisões.
Trabalhadores, soldados e marinheiros exigiam a libertação de seus
dirigentes e dos bolcheviques, em seu conjunto.
O Governo Provisório recusava-a. Haveria, então, o Comitê Central
bolchevique de dirigir-se com um ultimato ao Governo Kerensky para libertar os
bolcheviques imediatamente e retirar a acusação infâme, lançada contra eles, no
sentido de estarem a serviço dos Hollenzollerns, e, em caso da recusa de
Kerensky, negar-se a lutar contra Kornilov ? ...
Se não tivéssemos, em agosto, oposto nenhuma resistência a Kornilov,
possibilitando-lhe, assim, a vitória, teria ele, logo de saída, exterminado o
florescimento da classe trabalhadora e, por consegüinte, impedido-nos de, dois
mêses mais tarde, conquistar a virtória sobre os colaboracionistas,
castigando-a, não com palavras, mas sim com fatos, pelo seu crime histórico.”[8]
Mais particularmente no que concerne ao impulsionamento da tática de Frente
Única, bem como de todas e quaisquer consignas de transição, Trotsky
clarificou, ainda o seguinte, entrevendo os perigos relacionados com o
seu impulsionamento :
“A tática da Frente Única e da luta por consignas de transição, que são
perseguidas agora pela Internacional Comunista, é uma política absolutamente
necessária para os partidos comunistas dos Estados Burgueses no período atual
de preparação.
Porém, não se deve fechar os olhos diante do fato de que essa política
alberga em si mesma perigos indubitáveis de afrouxamento e, até mesmo, de plena
degeneração dos partidos comunistas, se, de um lado, prolongar-se muito o
período de preparação e se, por outro lado, o trabalho diário dos partidos
ocidentais não for fecundado pelo pensamento teórico ativo que abarca a dinâmica
das forças históricas fundamentais em sua inteira dimensão.”[9]
Relativamente à questão específica da derrota do proletariado alemão de
1923, a análise por Trotsky formulada, em seu Novo Curso, pautava-se por confirmar
sua análise já notoriamente conhecida na primeira metade do ano de 1923 :
“Depois do III Congresso (i.e. do III Congresso Mundial do Komintern), o
Partido Comunista Alemão executou, de modo dolorosamente suficiente, a mudança
necessária.
Iniciou-se, então, a luta pela conquista das massas sob a consigna de
Frente Única, acompanhada de longas negociações e outros procedimentos
pedagógicos.
Essa tática durou mais de dois anos e rendeu resultados excelentes.
Porém, juntamente com isso, os métodos de propaganda, sendo protraídos,
transformaram-na ... em uma tradição semi-automática que desempenhou um papel
muito sério nos eventos da segunda metade de 1923.”[10]
Desde logo, é necessário, porém, assinalar que, na Alemanha da
República de Weimar, cumpriu a Karl Radek, enquanto um dos mais
expressivos estrategistas do Executivo, da Secretaria e da Presidência do
Komintern,
assim como do Partido Comunista da Alemanha(KPD) do início dos anos 20,
membro do Comitê Central do PC da URSS e um dos representantes do
Comissariado
do Povo para as Relações Exteriores da URSS, conferir, inicialmente, à
consigna de Governo dos Trabalhadores e - mais propriamente, às vésperas da
eclosão da Revolução Alemã de Outubro de 1923 - à consigna de Governo
dos Trabalhadores e Camponeses, “um
conteúdo inteiramente diferente, puramente “democrático”, i.e. burguês, na
medida em que a opunha à Ditadura do Proletariado”, mediante o entibiamento
e arrefecimento de seu conteúdo e significado proletário-revolucionário mais
próprio.[11]
Radek valendo-se de sua larga experiência revolucionária
precedente, haurida no seio da Social-Democracia Alemã, da Esquerda
de Zimmerwald e do governo da Rússia Soviética, foi capaz de realizar
essa mais bem acabada e sagaz deformação do marxismo revolucionário,
empreendendo-a de maneira sistematicamente hábil e persuasiva, compatível com
sua predisposição político-analítica marcadamente jornalístico-cética,
lânguido-irresoluta.
Como comprovar, documentalmente, essas surpreendentes afirmações, lançadas
no presente texto, contra a orientação política de Radek, um dos primeiros
integrantes da Oposição de Esquerda, encabeçada por Trotsky, já a partir
mesmo dos últimos mêses de 1923, em sua luta contra a burocratização stalinista
?
Como alertar os lutadores trotskystas acerca da versão radekista-brandleriana, voltada
em particular à reinterpretação da tática de Frente Única e dos Governos
dos Trabalhadores, apreciando-se, concomitantemente, todo o seu sentido
e significado histórico enquanto um dos fatores decisivos que contribuíram para
levar à derrota a Revolução Alemã de 1923 ?
À guisa de orientação do leitor, evidencio, desde logo, a elucidadora
observação de Trotsky, contida em sua magnífica obra os Crimes de Stalin, acerca
do efetivo posicionamento de Karl Radek nas lutas travadas pela Oposição
de Esquerda, no quadro do Komintern e do PC da URSS, a partir de
1923 :
“De 1923 a 1926, Radek oscilou entre
a Oposição de Esquerda, na Rússia, e a Oposição Comunista de Direita, na
Alemanha (Brandler, Thalheimer e outros).
No momento da aberta ruptura entre Stalin e Zinoviev (no início de 1926),
Radek procurou, debalde, arrastar a Oposição de Esquerda para um bloco com
Stalin.
Radek pertenceu, além disso, no interstício de quase três anos (um prazo
para ele extraordinário !), à Oposição de Esquerda.
Porém, no interior da Oposição, ele se arremessava, invariavelmente, para a
esquerda e para a direita.”[12]
Cumpre destacar, ainda introdutoriamente, que, depois do esmagamento do Levante
Contra-Revolucionário de Kronstadt, de Março de 1921, o grande impacto
dos grupos de oposição operária assaltava o PC da Rússia Soviética.
N. Krestinsky, L. Serebryakov e E. Preobrajensky afastados do Secretariado Comandado por Três Homens, por terem sido
considerados pelo X Congresso do Partido Comunista Russo, de março de 1921, como
muito lenientes em face dos grupos de oposição operária, deram lugar,
transitoriamente, na direção do novo Secretariado, a V. Molotov, E. Yaroslavsky e L.
Mikhailov, que surgiam aparentemente como os melhores quadros para o
exercício da disciplina partidária contra os grupos de oposição.
Esse novo Secretariado levou adiante, então, a execução de uma depuração
partidária, ocorrida no arco de um ano, em que quase 30 % dos militantes do PC da
Rússia Soviética foram excluídos de suas fileiras.[13]
Molotov, Yaroslavsky e Mikhailov passaram a
desempenhar, igualmente, um importante papel para o empossamento, em 2 de abril
de 1922, de Stalin nas funções de Secretário Geral, considerado,
então, como um velho e eminente organizador pragmático bolchevique e o mais
sólido representante da burocracia de funcionários do partido em ascensão,
porém, aos olhos de Lenin, nada senão um “cozinheiro de pratos apimentados”.[14]
Nesse sentido, Trotsky anotou, minuciosamente :
“Quando no X Congresso, dois anos depois da morte de Sverdlov, Zinoviev e
outros, não sem um pensamento acobertado da luta contra mim, apoiaram a
candidatura de Stalin para Secretário Geral – colocaram-no, de jure, na posição
em que Sverdlov havia ocupado, de facto.
Lenin falou, em círculos restritos, contra esse plano, expressando nos
termos de que esse “cozinheiro apenas irá preparar pratos apimentados”.
Tão somente essa frase, tomada em conexão com o caráter de Sverdlov,
demonstra-nos as diferenças entre os dois tipos de organizadores :
Um, incansável em atenuar conflitos, facilitando o trabalho para os órgãos
colegiados.
Outro, especialista de pratos apimentados – nem mesmo temeroso de os
temperar com autêntico veneno.
Se Lenin não levou ao limite sua oposição, em março de 1921, i.e. não
chamou o Congresso abertamente contra a candidatura de Stalin, foi porque o
posto de Secretário, ainda que “Geral”, possuía um significado estritamente
subordinado, nas condições então prevalecentes, com o poder e a influência
concentrados no Bureau Político.
Talvez, também Lenin, como muitos outros, não tivesse percebido
adequadamente o perigo naquele momento.”[15]
O fortalecimento da posição de Stalin na luta contra o então, assim
aclamado pelas massas proletárias russas, ”Trotsky, o Vitorioso da Guerra Civil”,
“Trotsky, o Salvador do Trem de Comando” passava a ser concebido como
tarefa de segurança máxima para a sustentação das ambições de prosperação da
burocracia operária em ascensão.[16]
Quando, em 26 de maio de 1922, Lenin sofreu seu primeiro derrame,
ensaiou-se, imediatamente, a tomada dos principais postos das organizações
comunistas proletárias de outrora pela burocracia partidária em gestação.
Grigori Zinoviev e Karl Radek surgiam, já
então, como os principais representantes da Internacional Comunista
(Komintern) : Zinoviev investido da função de Presidente do Executivo do
Komintern, Radek enquanto membro desse mesmo Executivo e representante
do PC
da URSS junto ao Komintern, encarregado especialmente
das questões político-estratégicas concernentes à Alemanha.
Nesse mesmo contexto, Lev Kamenev assumiu, inopinadamente,
a Presidência
do Politbureau do PC da URSS, atuando de mãos dadas com Grigori
Zinoviev e Nikolai Bukharin, enquanto principais dirigentes
político-ideológicos do partido russo.
Zinoviev, principal dirigente do PC da URSS de Petrogrado,
e Kamenev,
sua alma gêmea de Moscou, acreditavam serem os
principais beneficiários do processo de alijamento de Trotsky dos principais
centros de decisão política.
Quanto a Joseph Stalin, se, esse último, em um contexto
preambular, até o ano de 1922, já surgia exercendo as funções de Comissário
do Povo para as Questões das Nacionalidades, Membro do Comitê Executivo Central
dos Sovietes de Toda a Rússia, Membro do Comitê Executivo do Governo, Membro da
Comissão da Política de Alimentação e Obtenção de Meios Alimentícios no Sul da
Rússia, Dirigente da Circunscrição Militar do Cáucaso do Norte, Presidente do
Conselho Revolucionário de Guerra do Fronte do Sul, Membro do Conselho
Revolucionário de Guerra da República, Membro da Comissão para a Redação do
Programa do Partido, Delegado ao I Congresso do Komintern, Dirigente do
Departamente do Controle do Estado, departamento, a partir do Decreto
de 7 de Fevereiro de 1920, denominado Rabkrin, i.e.
Comissariado do Povo para a Inspeção dos Trabalhadores e Camponeses - o qual visava, particulamente, a desferir o
combater contra a enfermidade burocrática do Estado Proletário nascente -, bem
como as atribuições de Secretário Geral, viria ele, então, revelar-se, as seguir, como o grande privilegiado da Reforma Partidária de Agosto
de 1922, de matiz nitidamente burocrática, introduzida no quadro da XII
Conferência do PC da URSS.[17]
Stalin tornou-se, assim, o pivô da crescente concentração
e centralização de toda a vida interna das organizações partidárias.
As células de militantes das cidades e do campo, o Orgburo, a Comissão
Central de Controle, a Tcheca etc., passavam a ser
comandadas por Stalin, com o auxílio de apenas três outros bolcheviques, M.
Shkiryatov, G. Korostelev e M. Muranov.
Durante o ano de 1922, a participação de Trotsky nas sessões do Politburo
já se encontrava reduzida à condição de superficial formalidade, sendo as
principais decisões político-práticas adotadas em sessões secretas que não
contavam com a sua participação direta.
Recuperando-se lentamente de seu primeiro derrame, Lenin voltou a assumir
suas atividades em junho de 1922, tendo a oportunidade de, já naquela
oportunidade, constatar, clara e diretamente, o desplante do processo de
burocratização do aparato do partido.
Em seu discurso, proferido no IV Congresso Mundial do Komintern,
realizado entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, pouco antes de sofrer
seu segundo e terceiro derrame, respectivamete em 16 dezembro de 1922 e 9 de
março de 1923 - os quais o impossibilitaram de seguir ativo em suas funções
partidárias e soviéticas e o conduziram, finalmente, à morte, em janeiro de
1924 -, Lenin teve a oportunidade de advertir os companheiros russos e
estrangeiros acerca do perigo de adotarem, mecanica e dogmaticamente, os mesmos
métodos de tratamento das questões organizativo-partidárias que haviam-se
despregado na URSS, ao longo dos últimos anos.[18]
Nesse mesmo IV Congresso Mundial do Komintern, presidido por Zinoviev,
e ao longo de todo o ano de 1923, até a derrota da Revolução Alemã de Outubro, Radek
alcançou o fastígio de sua influência enquanto o mais expressivo
dirigente bolchevique, especializado em questões de análise teórico-intelectual
e de formulação estratégico-programática relativa à orientação política dos
comunistas revolucionários, no quadro do impulsionamento das lutas de classes
da Alemanha
de então.
Ainda que suas caracterizações especulativas desenvolvidas acerca da tática
de Frente
Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores, tendo sempre
como centro de gravidade a questão alemã, não houvessem sido acolhidas
essencialmente pelas Resoluções do IV Congresso Mundial do
Komintern, Karl Radek, contando com o inasfável apoio de Heinrich
Brandler, à época Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD),
foi capaz de imprimir ao programa do VIII Congresso desse
mesmo partido, realizado em Leipzig, em janeiro de 1923, a
síntese de sua mais acabada deturpação marxista relativa à interpretação das
fórmulas de Frente Única e Governo de Trabalhadores na Alemanha
:[19]
“A luta pela Frenta Única conduz à conquista das velhas organizações de
massas proletárias, tais como sindicatos e cooperativas.
Esses instrumentos da classe trabalhadora, que as táticas dos reformistas
transformaram em ferramentas da burguesia, tornam-se, novamente, mediante essa
luta, instrumentos do proletariado.
A luta de classes tem de ser conduzida agora para a derrota da
burguesia(p.417). ...
O Governo dos Trabalhadores não é nem a Ditadura do Proletariado nem um
ascenso pacífico e parlamentar rumo a ela.
Ele é uma tentativa da classe trabalhadora de, no quadro da e
antecipadamente com os meios da democracia burguesa, praticar política
operária, apoiando-se em órgãos proletários e nos movimentos proletários de
massas.
Por outro lado, a Ditadura do Proletariado é uma explosão consciente do
contexto democrático.
Ela explode o aparato do Estado Democrático e substitui-o completamente com
organizações da classe proletária(p. 420).”[20]
Acerca do balanço histórico desses anos, bem como de todos aqueles que
configuraram o percurso político de Karl Radek, escreveu Trotsky,
conclusivamente, da seguinte maneira, em 1937, no contexto de sua luta
em prol do desmascaramento das farsas dos Processos de Moscou :
“Radek – ele possui agora 54 anos - não é senão um jornalista.
Ele possui as brilhantes qualidades dessa categoria de homens, bem como
todos os seus defeitos.
A instrução de Radek pode ser qualificada, antes de tudo, por sua grande
erudição.
Seu conhecimento direto do movimento polonês, sua longa participação na
Social-Democracia Alemã, seu atento acompanhamento da imprensa mundial,
principalmente da inglesa e da norte-americana, alargaram seus horizontes,
conferiram aos seus pensamentos uma grande mobilidade e armaram-no com
incontáveis exemplos, comparações e, sobretudo, com anedotas.
Porém, faz-lhe falta aquela qualidade que Lassalle denominou de “força
psíquica do intelecto”.
Nos agrupamentos políticos de todos os tipos, Radek foi muito mais um
hóspede do que um militante enraizado.
Seu pensamento é por demais móvel e impulsivo para um trabalho sistemático.
De seus artigos pode-se ficar sabendo de muitas coisas, seus paradoxos
iluminam às vezes uma questão desde um novo aspecto, porém Radek jamais foi um
político autônomo.
Lendas no sentido de que Radek teria sido, por certo período, chefe no
Comissariado das Relações Exteriores e até mesmo determinado a política externa
do Governo Soviético, são inteiramente infundadas.
O Bureau Político apreciava o talento de Radek, porém não o levava jamais a
sério.
Em 1929, Radek capitulou não por quaisquer pretensões sigilosas. Oh não !
Fê-lo desbragada e definitivamente, queimando através de si todas as
pontes, a fim de tornar-se um extraordinário porta-voz publicístico da burocracia.
Desde então, não existiu nenhuma acusação que Radek não tenha lançado
contra a Oposição e nenhum louvor que não tenha expendido em favor de Stalin.
Por que, então, Radek caiu no banco de acusações ?”[21]
Precisamente através dessa apreciação manifestamente crítica e severa
acerca do perfil intelectual e político de Carol Bernadovitch Sobelsohn, Karl
Parabellum Radek, elaborada, porém, em consonância com o tradicional
rigor analítico, característica indispensável e inquebrantável do socialismo
científico, Trotsky formulou lapidarmente um de seus mais importantes
julgamentos acerca desse “hóspede” mundialmente célebre e
historicamente renomado, sobretudo em decorrência de sua episódica e marcada
atuação nos mais diversos agrupamentos do movimento proletário revolucionário
das primeiras décadas do século XX, inclusive naquele agrupamento mesmo que
conformou a própria Oposição de Esquerda, encabeçada por Trotsky, a partir de
1923, e, posteriormente, a Oposição Unificada, de Trotsky,
Kamenev e Zinoviev, entre os anos de 1926 e 1927, na luta contra a
burocratização stalinista do conjunto das instituições do Estado Proletário da URSS.
No intervalo histórico abragente das primeiras décadas do início do século
XX até a morte de Karl Radek, possivelmente em 1939, ocorrida em um campo de
concentração stalinista, torna-se, entretanto, sempre decisivo assinalar que um
certo lugar de destaque, de primeiríssima relevância, nos estudos voltados à
análise do movimento comunista-revolucionário da Alemanha, da Rússia
e da Polônia
de então, há de ser seguramente reservado ao exame da orientação política
defendida por Radek e por seu mais expressivo coadjuvante e seguidor no
interior do Partido Comunista da Alemanha(KPD) do início dos anos 20, Heinrich
Bradler.
Com efeito, o exame histórico-investigativo da orientação política Radek-Brandler
postulada nesse interstício temporal situa-se, precisamente, no
contexto das lutas revolucionárias de massas do proletariado alemão que
culminaram na impiedosa derrota da Revolução
de Outubro de 23, essa última separada por seis anos do seu paradigma
histórico também de Outubro, impulsionado hegemonicamente pelo proletariado russo,
sob a direção de Lenin, Sverdlov e Trotsky, da qual pretendeu ser uma réplica
fidedigna.
Discorrer-se, contemporaneamente, acerca da enfermidade gramsciana ou da
moléstia maoísta-althusseriana no seio do movimento trotskysta contemporâneo e
das lutas de emancipação do proletariado de nossos dias, secundarizando-se ou
desprezando-se, por outro lado, a gênese e a essência, o sentido e o
significado histórico da orientação política Radek-Brandler
do início dos anos 20, uma das mais importantes degenerações
teórico-doutrinárias e político-práticas do marxismo revolucionário de todos os
tempos, resultaria, porém, plenamente insubsistente para a devida compreensão
das diversas causas e efeitos que conduziram, no passado, e ameaçam conduzir,
no presente, a implacáveis derrotas dos trabalhadores e demais socialmente
oprimidos em suas lutas de libertação contra o despotismo capitalista.
Como qualificar, então, o caráter dos posicionamentos teórico-intelectuais
e político-práticos da orientação política Radek-Brandler,
emergente de maneira cada vez mais ostensiva e dirigente no interior do
Partido
Comunista da Alemanha(KPD) nesse período ?
Por que, com efeito, merece ser detidatamente estudada e rigorosamente
analisada pelos trotskystas revolucionários de nossa geração essa particular
deformação política do início dos anos 20 ?
Desde logo, cumpre assinalar ao leitor que o radekismo-brandlerista –
tal como todo o legado mais propriamente original das construções teóricas e
orientações políticas equacionadas preponderantemente por Karl Radek - nada mais
representa senão uma concepção parasitário-intriguista de quebramento e
languidez das forças do marxismo revolucionário.
Sua natureza é, entretanto, eminentemente jornalístico-cética, e, como tal,
abundantemente versátil, hesitante, sinousa, maleável, multiforme em palavras,
argumentações e idéias, impulsiva em citações, aforismas, sátiras e bonmots,
atenta na defesa verbosa e insegura das grandes pilastras do socialismo
revolucionário.
Com efeito, na base de um marcado tom pessimista, Radek recusava,
abertamente, mesmo nos primeiros mêses da deflagração I Guerra Mundial Imperialista, a
possibilidade de irrupção de uma revolução proletário-socialista, desencadeada
em conexão com a guerra, bem como, no futuro próximo de maneira geral, e
admitia, já no início dos anos 20, a possibilidade de a Ditadura Revolucionária do
Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser capaz de
resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.
De acordo com tal premissa teórica, sua lógica epistêmica haveria de
fundamentalmente ser a do suposto prudente bom senso e do aparente
racional-razoável na busca da determinação do persuasivo justo meio, sempre
reputadamente em correspondência com uma determinada realidade particular
concreta, considerada como inteiramente incomparável, de um certo país ou de um
grupo de países considerados em si mesmos, com vistas a definir a intervenção
política de um agrupamento ou de um partido revolucionário no cumprimento de
sua tarefa de conquista das grandes massas populares para a deflagração de uma
quimérica e materialmente inexistente revolução socialista internacional.
Nesse contexto, a orientação política Radek-Brandler, formulada segundo
sua metodologia linguístico-instrumental e lógica político-analítica
inconfundíveis, revestiu-se, constantemente, de uma tonalidade cínica,
claudicante e fatalística sobre a possibilidade de desenvolvimento das lutas
revolucionárias na Alemanha e, nesse mesmo sentido, acerca da capacidade de
construção independente do Partido Comunista da Alemanha(KPD).
De maneira publicístico-irresoluta, Radek procurou, em suas artigos
jornalísticos, documentos e discursos políticos do início dos primeiros anos do
anos 20, fundar sua principal orientação política relativa ao curso dos eventos
revolucionários da Alemanha, consistente em demonstrar a impossibilidade de desenvolverem-se
as forças do Partido Comunista da Alemanha(KPD) no campo das lutas, dos
embates e dos conflitos abertos de classes contra as instituições de exploração
e dominação dos Estados Burgueses Alemão e Francês de Ocupação, como forma de
conquista crescente da confiança da classe trabalhadora, hegemônica sobre todas
demais massas socialmente oprimidas, dinamizadas sob sua direção social e
política.
Assim, segundo Radek, competiria ao minoritário Partido Comunista da
Alemanha(KPD), dedicando-se preponderantemente a atividades de
propaganda e agitação, atrelar-se, mediado por críticas e denúncias, à dinâmica
de luta da Social-Democracia Alemã, como forma de, mediante cooperação,
infiltração, desintegração e reconsolidação, arrebatar-lhe a influência sobre
as grandes massas proletárias alemães.
Sendo assim, a estratégia revolucionária a ser implementada deveria
consistir, segundo Karl Radek, em ”convencer essas amplas massas de
trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não
apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não
lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora.”
Com essa postura político-persuasiva, a diminuta ala
comunista-revolucionária haveria de ser educada de maneira a poder intervir,
propagandística e agitativamente, sobre a maioria dos quadros da Social-Democracia,
visando a, mediatamente, substrair-lhes de sua direção traidora as
massas trabalhadoras sociais-democráticas, a fim de aproximá-las às fileiras
revolucionárias.
Nesse mister, a luta dos revolucionários proletários alemães contra a Social-Democracia
não deveria, aos olhos de Radek e Brandler, se tornar
jamais uma luta entre os distintos partidos e correntes políticas que se
apoiavam e falavam em nome do proletariado alemão.
A orientação política Radek-Brandler, assumindo uma
posição inquestionavelmente dirigente na Alemanha, após o IV
Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de
derembro de 1922, seguiu considerando, durante todo o primeiro semestre de
1923, o Partido Comunista da Alemanha(KPD) como uma organização débil e
vanguardista, fadada ao impulsionamento de atividades teóricas de propaganda e
de agitação, condenada perspectivamente a um crescimento lento, devendo
empenhar-se em seu papel decisivo de ”segurar a classe trabalhadora e evitar
choques desnecessários”, de modo a assegurar o êxito da aplicação de
consignas de transição e da tática de Frente Única, coroada politicamente
com o Governo dos Trabalhadores, constituído com seu aliado
privilegiado, i.e. a Social-Democracia Alemã, “no quadro da e
antecipadamente com os meios da democracia burguesa”.
Precisamente dessa maneira, fundados nessas premissas de elaboração
intelectual, Radek e Brandler buscavam por meio da tática
de Frente
Única e da fórmula de Governo de Coalizão dos Trabalhadores, lograr
“penetrar
em espaços fechados, nos quais os representantes da burguesia atuam sobre os
trabalhadores”, almejando alcançar, em troca, a conquista das massas
proletárias através do fomento e intensificação de atividade
jornalístico-propagandística e sindical, fundadas em críticas e denúncias
parlamentares e governamentais de popularização e consagração dos méritos do
socialismo revolucionário, promovendo um impiedoso desmascaramento literário
das ilusões e dos habilidosos representantes do reformismo social-democrático,
entre os trabalhadores explorados e demais socialmente oprimidos, como forma
de praticar política operária,
apoiando-se em órgãos proletários e nos movimentos proletários de massas,
trilhando um possível caminho rumo à Ditadura Revolucionária do Proletariado.
Nesse sentido, Radek declarava categoricamente, coadjuvado por Brandler
: “a
luta dos comunistas contra outros partidos não deve se tornar jamais uma luta
de uma seção do proletariado contra outra.”
Produzindo excelentes e precisas caracterizações políticas acerca desse
período histórico que haveria de culminar com a derrota do proletariado alemão
na Revolução
de Outubro de 23, Trotsky teve a oportunidade de
observar :
“Por que a Revolução Alemã não conduziu à vitória ?
As causas disso residem, totalmente, nas táticas e não nas condições
objetivas. Temos aqui um exemplo verdadeiramente clássico de uma situação
revolucionária que se perdeu.
A partir do momento da ocupação do Ruhr e de tudo o mais, quando o fracasso
da Resistência Passiva se tornou evidente, era necessário que o Partido
Comunista adotasse um curso firme e resoluto rumo à conquista do poder.
Apenas uma mudança corajosa da tática poderia ter unificado o proletariado
alemão na luta pelo poder.
Se, no III Congresso e, em parte, no IV Congresso, dissemos aos camaradas
alemães : “– Vocês poderão ganhar as massas apenas na base de uma participação
dirigente em sua luta por consignas de transição”, então, em meados de 1923, a
questão passou a ser diferente : depois de tudo que o proletariado alemão teve
de atravessar nos últimos anos, poderia ele ser conduzido à batalha decisiva
apenas no caso em que ficasse convencido de que, dessa vez, a questão havia
sido colocada, tal como dizem os alemães, “aufs Ganze” (i.e. de que não se
tratava dessa ou daquela tarefa parcial, porém de uma tarefa fundamental),
estando o Partido Comunista pronto para marchar para a batalha e ser capaz de
assegurar a vitória.
Porém, o Partido Comunista Alemão executou esse giro sem a seguraça
necessária e depois de um atraso extraordinário.
Tantos os da ala direita como os da esquerda, a despeito de sua luta aguda
de uns contra os outros, demonstraram, em setembro-outubro de 1923, uma atitude
bastante fatalista em face do processo do desenvolvimento da revolução.
Naquele momento, quando a inteira situação objetiva exigia da parte do
partido um golpe decisivo, o partido não organizou a revolução, senão
permaneceu esperando-a.”[22]
A grande ameaça do radekismo-brandlerista que pode
contribuir decisivamente para colocar a perder a causa revolucionária
internacional do proletariado reside, precisamente, em sua jurada defesa – em
verdade, em seu subreptício parasitismo hospedeiro – da doutrina revolucionária
não apenas de Marx e Engels, senão ainda de Lenin e Trotsky, bem como
em sua alegada permanente reivindicação de documentos fundacionais e
congressualmente aprovados pelo movimento socialista-revolucionário marxista de
todos os tempos, em particular dos Documentos e Protocolos dos III e IV
Congressos da Internacional Comunista.
Pretendendo alegadamente lutar, impiedosamente, por um lado, contra o
sectarismo ultra-esquerdista (entrevisto, pretendidamente, pelas lentes dos óculos
do radekismo-brandlerista, nos
perfis insurrrecionais-putschistas de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg, Max Hoelz,
Erich Wollenberg e Hans Kippenberger, todos esses supostamente
responsáveis pelos levantes armados derrotados do proletariado alemão, ocorridos
entre 1919 e 1923), contra o esquerdismo sectário (contemplado na fração
política da minoria zinovievista, encabeçada por Ruth Fischer, Arkadi Maslow e
Erst
Thaelmann) e, por outro lado, contra o oportunismo centrista (cuja
forma concreta, no início dos anos 20, incorporava-se mais nitidamente nas
posições de Paul Levi e Ernst Meyer), a orientação política Radek-Brandler
nada mais fez senão conduzir o Partido Comunista da Alemanha(KPD) à
mais plena prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na
capitulação diante das forças reformistas da Social-Democracia Alemã.
Para tanto, Radek e Brandler entendiam, não sem um profundo tom de
ceticismo e tibieza, estarem lutando, fundado-se no bom senso, no
racional-razoável, no justo-meio contra todas essas manifestações políticas do
comunismo revolucionário alemão, com vistas a supostamente lograr, no quadro
jurídico-constitucional da República Imperial de Weimar,
avançando sempre rumo ao Governo dos Trabalhadores, arrebatar
forças dirigidas pela Social-Democracia Alemã, redirecionando-as
para a revolução socialista internacional do proletariado, de forma a,
indiretamente, aportar amplas massas populares para a perspectiva de abolição
da exploração econômica capitalista e supressão de sua dominação ideológica,
mediante a edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado.
Em conformidade com sua postura eminentemente literário-hesitante, a
orientação Radek-Brandler previa que tal conquista seria efetivamente
realizável e indispensável para a revolução socialista alemã, dada a suposta
fraqueza e morbidez congênita do Partido Comunista da Alemanha (KPD) da
época para assegurar o cumprimento de sua independente tarefa de construção.
A orientação Radek-Brandler alimentando um profundo discrédito acerca das
potencialidades da ação revolucionária de lutas do Partido Comunista da Alemanha
(KPD), bem como de seu papel dirigente nas lutas de massas do início
dos anos 20, procurou conduzir, em verdade, esse partido à sua mais total
dependência, ao seu mais pleno atrelamento, ao seu mais irreversível
ancoramento, em face do reformismo da Social-Democracia Alemã, sob a
alegação de que, caso não o fizesse, permaneceria irremediavelmente à margem
dos principais eventos revolucionários daquela década, resultando incapaz de
promover qualquer processo autenticamente revolucionário de massas.
Tal conquista das massas trabalhadoras, submetidas à influência política da
Social-Democracia
reformista, haveria de se fazer, então, mediante denúncias e desmascaramentos
de suas principais direções políticas em toda a República de Weimar da
época, não porém através da condução de
um curso firme e resoluto, fundado nas lutas revolucionárias para a conquista
do poder que pudesse indispor esse aliado político a constituir as bases de uma
Frente
Única Proletária e de um Governo de Coalizão
Comunista-Social-Democrático, no interior das fronteiras da democracia
burguesa, institucionalizada pela República Imperial de Weimar.
Acompanhados pela reticente Presidência do Komintern, chefiada à
época por Zinoviev, em ritmo de crescente burocratização e langor
stalinista, a incapacidade de Radek e Brandler de compreender as
novas tranformações nas correlações de forças, resultante de sua manifesta
falta de criatividade e personalidade política, conduziu a que negligenciassem
o fato de haver-se modificado, quantitativa e qualitativamente, o caráter da
luta de classes na Alemanha no início de 1923, bem como a estratégica, o regime e
o papel contra-revolucionário da Social-Democracia Alemã.
A orientação política Radek-Brandler, demonstrando
manifesta ausência de força político-intelectual e fundando-se, dogmática,
religiosa e cegamente, nos documentos históricos dos III e IV Congressos Mundiais da
Internacional Comunista, como forma de combater o que denominavam de
tendências sectárias ultra-esquerdistas e esquerdistas, bem como centristas
oportunistas do momento, pretendia-se defensora de posições coerentemente
equilibradas e defensivas, reputadamente anti-esquerdistas e anti-oportunistas.
Tal orientação pretendia estar respondendo, assim, de maneira
essencialmente política e estrategica, à situação de colapso econômico e
institucional da Alemanha da época, aguçada durante todo o primeiro semestre de
1923.
Para tanto, valia-se dos argumentos de que não se encontraria esse país no
acirrar-se de uma crise qualitativamente distinta, inexistindo, por isso,
nenhuma nova conjuntura político-revolucionária aguda que estivesse,
hipoteticamente, por exigir a preparação
de um levante armado.[23]
Acerca do tema, Trotsky teve a oportunidade de salientar, detidamente :
„Se o partido comunista tivesse modificado bruscamente a dinâmica de seu
trabalho e aproveitado, inteira e adequadamente, os cinco ou seis mêses que a história
lhe acordava para a preparação direta, política, organizativa e técnica da
tomada do poder, o desate dos acontecimentos poderia ter sido totalmente
diferente daquele que testemunhamos em novembro.
Porém, aí encontrava-se o problema de que o Partido Alemão tinha entrado no
novo e breve período de crise não costumeira, talvez sem precedente na história
mundial, com os métodos usuais dos dois anos anteriores de luta propagandística
em prol do estabelecimento de sua influência sobre as massas.
Aqui era necessária uma nova orientação do Partido, um novo tom de
agitação, um novo modo de abordar as massas, uma nova interpretação e aplicação
da Frente Única, novos métodos de organização e de preparação técnica, em uma
palavra : uma brusca mudança tática.
O proletariado haveria de ter avistado um partido revolucionário em ação,
marchando diretamente para a conquista do poder.
Entrementes, o partido alemão continuou, no fundo, sua política de
propaganda de ontem, apenas que em uma escala mais ampla.
Foi tão somente em outubro que ele adotou um novo curso.
Porém, restava-lhe, então, muito pouco tempo para desenvolver seu impulso.
O Partido conferiu à preparação um ritmo febril, as massas não o puderam
seguir, a insegurança do partido comunicou-se a ambos os lados e, no momento
decisivo, o proletariado recuou, sem combater.
A razão mais importante de ter o Partido Comunista Alemão entregado, sem
resistência, suas posições históricas inteiramente excepcionais é a de que não
foi capaz de, no início do novo ascenso (maio-julho 1923), libertar-se do
automatismo de sua política anterior, estabelecida para durar anos, e
impulsionar, perspicazmente, na sua agitação, ação, organização e técnica, a
questão da tomada do poder.“[24]
Nesse contexto, a orientação política Radek-Brandler foi manifestamente
inapta a dar cumprimento a qualquer das tarefas técnico-militares de preparação
de um levante armado na Alemanha de Weimar, atuando, pelo
contrário, como inflexível e rigorosa sufocadora de quaisquer manifestações
combativas e independentes dos trabalhadores e oprimidos alemães,
qualificando-as de “provocação da burguesia alemã”:[25]
“Essa questão, tal como demonstrou a experiência da Alemanha, possui uma
importância colossal.
Na medida em que a palavra de ordem do levante adquiria para os dirigentes
do Partido Comunista Alemão, principalmente, senão exclusivamente, um
significado de agitação, ignoravam, simplesmente, a questão acerca forças
armadas do inimigo (Exército Imperial, destacamentos fascistas, polícia).
Parecia-lhes que o ascenso revolucionário, crescendo sem cessar,
resolveria, por si mesmo, a questão militar.
Quando essa tarefa precisamente se aproximou seriamente, esses mesmos
camaradas que haviam considerado as forças armadas do inimigo como
inexistentes, caíram, imediatamente, na outra extremidade : puseram-se a
totalmente acreditar em todos os números que lhes forneciam sobre as forças
armadas da burguesia, adicionaram-nas, minuciosamente, às forças do Exército
Imperial e da polícia, arredondaram, a seguir, a soma (até meio milhão e mais),
alcançando, assim, diante de si uma massa compacta, armada até os dentes,
completamente suficiente para paralisar
seus próprios esforços.
Sem dúvida, as forças da contra-revolução alemã eram mais significativas e,
em todo caso, melhor organizadas e melhor preparadas do que as dos nossos
kornilovistas e semi-kornilovianos.
Porém, também as forças ativas da revolução alemã são, igualmente, mais
expressivas.
O proletariado representa a maioria esmagadora da população da Alemanha.
No nosso caso, a questão decidiu-se, no mínimo, em um primeiro estágio, com
Petrogrado e Moscou.
Na Alemanha, o levante teria tido, de um só golpe, uma dezena de poderosas
hordas proletárias.
Sobre essa base, as forças armadas do inimigo pareceriam totalmente não tão
ameaçadoras como nos cálculos estatísticos arredondados.”[26]
E, com efeito !
Após o IV Congresso Mundial do Komintern, de 1922, e no quadro do VII
Congresso de Leipzig do Partido Comunista da Alemanha(KPD),
de janeiro de 1923, os posicionamentos e as práticas intriguistas de Radek,
defendidas por importantes dirigentes políticos, entre eles o renomado líder sindical
de Saxônia-Chemnitz,
Heinrich Brandler, o mentor ideológico do comunismo alemão daqueles
anos, August Thalheimer, entre outros, logrou impor-se,
politicamente, diante da direção do Executivo do Komintern, clamando até
mesmo pela expulsão das frações oposicionistas minoritárias, zinovievistas e
liebknechtianas.
Enquanto dirigente da fração zinovievista, Ruth Fischer assinalou,
mesmo que desde sua perspectiva de luta mais própria, eminentemente crítica às
posições de Trotsky :
“Até então, havia sido tradição no Comintern que os agrupamentos
minoritários em qualquer partido comunista tivessem representação proporcional
em seu Comitê Central, sendo esses membros escolhidos mediante cada fração
oposicionista.
Radek e Brandler quebraram essa tradição e, sob protesto da esquerda,
deram-lhe representação inadequada.
Além disso, eles mesmos selecionaram os esquerdistas que, em sua opinião,
eram mais suscetíveis para o compromisso.
Esse procedimento, depois da falência em sacar uma declaração do partido
sobre a invasão do Ruhr, levou o Congresso à beira da ruptura.
Para protestar contra essa violação de seus Direitos fundamentais, a
esquerda decidiu não participar da eleição do Comitê Central.
Um Comitê Central assim eleito, não teria a confiança das maiores regionais
do partido – as de Berlim, do Ruhr, de Hamburg.
Karl Radek viu que tinha ido longe demais. Em uma sessão noturna secreta,
da qual não existe gravação nos protocolos congressuais, propôs um compromisso
mediante o qual quatro delegados da oposição de esquerda seriam eleitos para o
Comitê Central
Apoiado por Vasil P. Kolarov, Radek surgia enquanto árbitro neutro do
Komintern, porém ele manobrava, exitosamente, para impedir a eleição dos
dirigentes da esquerda, Thaelmann e Maslow.”[27]
A tática Radek-Brandler buscou sempre, para alcançar a aplicação de sua
política, apresentar sempre a Alemanha daqueles anos como um país
de natureza própria, cujo ritmo de desenvolvimento da luta de classes não seria
tão intenso e explosivo como no país de Lenin, Sverdlov e Trotsky, de modo a
pleitear uma mais profunda vinculação política com as forças reformistas da Social-Democracia,
mediante redifinições da tática de Frente Única e da consigna de Governo
dos Trabalhadores.
As diretrizes estabelecidas nos III e IV Congressos do Komintern
acerca desses mecanismos de transição, que eram considerados, sistematica e
invariavelmente, como forma de promoção, cada vez mais ostensiva, do armamento
do proletariado para a derrubada do capitalismo imperialista, do controle
proletário da produção, da satisfação das mais importantes reivindicações dos
trabalhadores contra a burguesia, haveriam de ser, segundo a orientação Radek-Brandler,
hermeneuticamente flexibilizadas diante da particulariedade concreta da
realidade político-constitucional, essencialmentre democrático-burguesa,
prevalente na Alemanha, e levadas à prática em conformidade com a maneira
própria das lutas travadas nesse país capitalista industrializado, seguindo-se
sempre os passos e a dinâmica peculiar que o reformismo político da Social-Democracia,
arrebatador de grandes contingentes proletários, poderia imprimir ao
curso do fenômenos revolucionários.
Esse apresentava-se como sendo o pretexto de Radek e Brandler para
efetivamente levar à prática sua política pseudo-revolucionária de prosternação
frentista, disfarçada com críticas e denúncias, em sua capitulação diante das
forças da Social-Democracia Alemã, sob a capa de defesa da tática de Frente
Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores, frustando
manifestamente as exigências fundamentais do marxismo revolucionário, voltado
permanentemente à tarefa de formação e mobilização dos proletários enquanto
classe conscientemente revolucionária e hegemonicamente dirigente de todos os
demais socialmente oprimidos, na luta de massas em prol de consignas de
transição que culminem no desencadeamento de um levante armado para a
destruição do Estado Burguês e edificação da Ditadura Revolucionária do
Proletariado, incorporadora da mais avançada e historicamente superior Democracia
Proletária, concebida enquanto forma de transição rumo à edificação da
primeira fase do comunismo, i.e. o socialismo.
O legado histórico da orientação política Radek-Brandler surge,
desse modo, como sendo o de uma concepção teórico-doutrinária e de uma prática
político-concreta que, alegando combater o sectarismo ultra-esquerdista, de um
lado, e o oportunismo, de outro, atua ocultando o fato de representar, por si e
em si mesmo, a expressão profundamente eclético-contraditória de um profundo
oportunismo e sectarismo ultra-esquerdista de natureza própria :
Oportunismo frentista consistente em seu atrelamento e
ancoramento seguidista ao reformismo social-democrático.
Sectarismo cético não em relação à sua pretensão
baldada de conquista das massas proletárias para a revolução socialista, senão
no concernente às rigorosas e desafiadoras tarefas de construção de um partido
marxista revolucionário capaz de analisar, em conformidade com os fundamentos
do materialismo histórico-dialético, o curso da luta de classes de determinado
país.
Nesse sentido, tal como restará demonstrado, o radekismo-brandlerista é
uma deformação, uma degenerescência, uma falsificação do marxismo
revolucionário ainda mais sútil e fraudulenta do que a varíola gramsciana, com
suas típicas erupções pustulosas.
O gramscismo espraia-se cadaverizando, nitidamente desde uma
perspectiva idealista-subjetivista, a doutrina proletário-revolucionária de Marx,
Engels e Lenin, em nome, porém, da hipócrita e reputada defesa dessa
mesma doutrina proletário-revolucionária.
Ao eleger, entretanto, como o seu maior antagonista político, no seio do
movimento socialista-revolucionário posterior à morte de Lenin, as concepções e o
legado revolucionário de Trotsky, considerado segundo Antonio
Gramsci, o principal representante da ”Guerra de Movimento”, da “Guerra de Manobra”, do ”Ataque
Frontal”, “protagonizado em um período em que esse é apenas causa de fiascos”,
ao prestar louvores aos posicionamentos de Stalin, considerado por Gramsci
como “il più recente grande teorico”, o gramiscismo coloca às
claras os sintomas de natureza febril aguda, infecto-contagiosa, que deixa
cicatrizes manifestamente típicas e bem evidentes, tal como as bexigas-negras.
O radekismo-brandlerista, do início dos anos 20, enquanto
deformação política específica, é,
porém, muito mais sútil e de difícil reconhecimento, posto que resulta muito
menos conhecida e popularizada nos nossos dias.
Expande-se desvitalizando, ardilosamente desde uma perspectiva
jornalístico-cética, essencialmente versátil, multiforme, cínical, maleável,
sinuosa, os fundamentos do marxismo revolucionário, tal como um tumor maligno
de origem dificilmente reconhecível que desalenta e destrói os tecidos e os
vasos vitais de um organismo partidário proletário-revolucionário, posto que o
desvigora em nome da suposta luta contra o sectarismo ultra-esquerdista e o
oportunismo, bem como da cínica defesa da herança socialista-revolucionária não
apenas de Marx, Engels e Lenin, senão ainda do legado de Trotsky
e de sua luta contra a ascensão do burocratismo stalinista, legítimos
patrimônios transmitidos às novas gerações de revolucionários proletários.
Recorde-se, exemplificativamente, nesse sentido, as palavras de Radek
proferidas, com maleabilidade e desembaraço, ao pleitear, na qualidade
de Secretário
do Comitê Executivo do Komintern, responsável, junto ao III
Congresso Mundial da Internacional Comunista pelo informe sobre tática
revolucionária, o retorno à defesa da tática da Frente Única, imediatamente
depois de ter recomendado, meses antes, a Ativação Revolucionária do Partido Comunista
da Alemanha(KPD), no quadro da Teoria da Ofensiva ou do Ataque
Revolucionário Tempestuoso, de autoria de Nikolai Bukharin e Grigori
Zinoviev, coroadora da estrondosa derrota da Ação de Março de 1921 :
“ Companheiros,
Não vou lhes fatigar com uma série de citações que poderia ser trazida aos
montes, tal como já foi indicado na imprensa comunista da Rússia, referindo que
a correlação de forças na Europa Ocidental, que as forças da burguesia de lá
torna improvável um assalto à burguesia através de uma sublevação das massas
populares.
Não preciso recordar os delegados alemães de que nós, na Alemanha, desde
1919, adquirimos, enquanto ponto de partida de nossa tática, a convicção de que
a dinâmica de desenvolvimento da revolução mundial será mais arrastada, sendo
que deveríamos lutar, precisamente por isso, com toda energia, contra a
impaciência revolucionária de esquerda. ...
Quando falamos de uma dinâmica lenta da revolução, queremos dizer que será
um processo lento com grandes lutas, no qual os partidos do comunismo não terão
nenhuma possibilidade de se instalar sossegadamente em etapas, tranqüilizar-se,
tabalhar lenta e pacificamente, aguardando o que o tempo trará.
Será um sobe e desce de lutas. ...
Por isso, tenho de dizer que se vozes são escutadas nas fileiras da
Internacional Comunistas – tal como o discurso do companheiro Smeral - acerca
do lento desenvolvimento e se são apresentadas imagens tal como aquela de que a
Guerra de Movimento passará para a Guerra de Trincheira (obs. tal como Gramsci
assinala, Guerra de Trincheira corresponde à Guerra de Posição), trata-se, em
nossa opinião, de uma falsa concepção acerca da dinâmica do desenvolvimento.
O que vivenciamos não é a transição da guerra móvel em Guerra de Trincheira, mas sim a formação
dos grandes exércitos do proletariado mundial!”[28]
A orientação política Radek-Brandler alcançou o seu brilho
fugaz logo após o IV Congresso Mundial do Komintern, dissemindando-se no contexto
da ascensão, cada vez mais ostensiva, da Troika de Zinoviev, Kamenev e Stalin, quando
a arte das manobras políticas tornava-se a principal estratégica opcional em
prejuízo do fomento das lutas revolucionárias de massas.
Suas elaborações teóricas que permitiram constituir umas das referências
teóricas da futura consagração das táticas stalinistas do Komintern burocratizado,
de Frente
Única, Frente Nacionalista, Frente Democrática e Frente Patriótica, traz
em seu bôjo, entretanto, precursoramente, o embrião do fim da etapa
revolucionária do bolchevismo dos anos 20 que, acreditava na possibilidade de a
revolução socialista proletária poder se expandir pela Europa Ocidental, fazendo
com que, sob a pressão das lutas revolucionárias, as massas de trabalhadores e
demais oprimidos, agrilhoadas à influência da Social-Democracia, se
conformassem em potente força de movimento, mediante a aplicação de táticas e
consignas de transição, suficientes para tranformar as estruturas sociais e
políticas dos países industrialmente avançados.
A identificação da falsificação marxista Radek-Brandler do início
dos anos 20 no interior do movimento revolucionário socialista-proletário da
atualidade, é, por essa razão, tanto mais difícil de ser diagnosticada, pois
aqueles que sucumbem a essa orientação política fundam-se, doutrinariamente,
nos mesmos documentos principiológicos e programáticos defendidos pelo marxismo
revolucionário, i.e. por Marx e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky, ainda
que o façam como “hóspedes” – e não como “militantes” - na luta em prol das autênticas exigências
levantadas pelo curso da revolução socialista internacionalista.
De toda sorte, o elemento mais sintomático mais seguro para a identificação
da degenerescência radekista-brandlerista, o qual permite seguramente colocar a nú
sem discurso subreptício de luta contra supostos doutrinarismos
ultra-esquerdistas e oportunismos de todos os gêneros, é seu chamado político à
capitulação frentista, disfarçado com críticas e denúncias, diante das forças
reformistas da Social-Democracia, durante o período preparatório que conduz à
tarefa de organização do levante armado do proletariado para fazer saltar pelos
ares o Estado Burguês.
Ceticismo sectário em relação ao partido proletário
revolucionário poder organizar-se, construir-se e lutar independentemente, não
se atrelando, servil e fatalisticamente, ao reformismo social-democrático,
mediante ornamentos críticos e denúncias conducente a uma prosternação
inconseqüente.
Seguidismo oportunista, eleitoralista e governista, em relação ao reformismo social-democrático, de modo a fazer com que as
fórmulas de Frente Única e Governo
dos Trabalhadores não sejam contempladas como um instrumento da
instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado, senão como forma de,
no quadro e antecipadamente com os meios da democracia burguesa, conquistar o
poder e nele comtemporizar com as forças reformadoras do despotismo capitalista
e do Estado
Burguês.
Táticas e estratégias essas dignas de uma orientação política versátil,
cínica, plástica e multiforme, hesitante e sinuosa, que, alegando fundar-se
juradamente no marxismo revolucionário de Lenin, Sverdlov e Trotsky, ousa, com
aparentes magnifícios aperçus, omitir, despurodamente,
seus próprios e específicos sectarismo e oportunismo, mediante o semear e
propagar ilusões, miragens e seduções acerca do caráter fundamental do
reformismo e do papel político contra-revolucionário da Social-Democracia em
face das lutas de emancipação do proletariado.
Depois da derrota da Revolução Alemã de 1923, Radek
foi afastado do Executivo do Komintern e de sua atividade junto à
direção do Partido Comunista da Alemanha(KPD), em meio a uma áspera polêmica travada contra Zinoviev.
A seguir, Radek tornou-se reitor da Universidade Sun Yat-Sen, em Moscou,
dedicando-se, então, ao estudo da luta de classes da China.
A partir de 1923, Radek aderiu, como “hóspede”, à Oposição de Esquerda, encabeçada
por Trotsky, ao mesmo tempo em que impulsionava a Oposição
de Direita, de Brandler.
Em 1926, pouco antes de Trotsky e Zinoviev construírem a Oposição Unificada para a luta contra a crescente
burocratização stalinista, Radek, depois de ver falido seu precedente projeto anti-zinovievista de
aproximação da Oposição de Esquerda às
posições de Stalin, tornou-se, durante dois anos, um dos líderes mais
furiosos do bloco anti-stalinista.
Em dezembro de 1927, Radek foi expulso do PC da URSS, no quadro do XV Congresso desse partido, sendo enviado para o desterro.
Em fins de 1929, Radek decidiu apresentar sua
capitulação à Stalin e retornar à Moscou.
Quando seu trem deixava a estação ferroviária da Sibéria, sob escolta da
polícia política stalinista, de seu áspero e rápido diálogo com os
oposicionistas remanescentes, publicou-se o seguinte no Boletim de Oposição, Nr. 6 de outubro
de 1929 :
“Pergunta : “- E qual é sua posição em relação à L. D. (i.e. Trotsky) ?”
Radek : “ - Com L. D. rompi defenitivamente. De agora em diante, somos
inimigos políticos... Com um colaborador do Lord Beaverbrook não temos nada em
comum.”
Pergunta : “Você vai exigir a revogação do Art. 58 ?
Radek : “ De jeito nenhum. Quem nos acompanhar, estará dele liberado por si
mesmo. Porém, nós não liberaremos do Art. 58 aqueles que querem levar para a
cova o trabalho no Partido e organizar a insatisfação das
massas.”
Os agentes da OGPU não nos permitiram falar até o final.
Empurraram Karl (Radek) no vagão, culpando-o pela agitação contra o
banimento de Trotsky. Do vagão, Radek gritou :
“ - Eu estou agitando
contra o banimento de Trotsky? Ha-ha-ha ....
Estou agitando para que os companheiros voltem para o Partido.”
Os agentes da OGPU escutaram calados e continuaram a enfiar Karl no vagão.
O trem de alta velocidade colocou--se em movimento ...”[29]
A partir desse momento, restaurada sua filiação ao PC da URSS, Radek
retomou, sofregamente, seu trabalho como especialista de questões
internacionais e embaixador especial do stalinismo – tal como na missão de
janeiro de 1933, junto a Josef Pilsudski.
Após tais eventos, veio a notabilizar-se não apenas como um dos patronos da
Constituição
Stalinista de 1936 – ao lado
de Evgenii
Pashukanis -, senão ainda como testemunha chave de acusação nos
processos políticos forjados por Joseph Stalin e seu procurador do
Estado, Andrei Vyshinskii.[30]
Durante o período de sua capitulação ao stalinismo, Radek escreveu, assiduamente, nas colunas do Pravda e do Izvestia, até 1937.[31]
Nesse último ano, K. Radek e G. Piatakov foram acusados no Segundo Grande Processo de Moscou, tendo
sido o primeiro sentenciado a 10 anos de prisão.[32]
Durante vários mêses subsistiram rumores no sentido de que Radek
seguiria vivo e politicamente ativo, deslocando-se para o exterior, de
tempos em tempos, a fim de examinar questões políticas.
Nada obstante, a maioria dos historiadores afirma que, recolhido em um
campo de concentração logo após sua condenação, Radek deve ter falecido em 1939, nos calabouços do stalinismo.[33]
No que diz respeito às produções intelectuais de Radek, em seu período stalinista, destaca-se seu panegírico a Stalin, produzido em 1934, por demais marcante
de seu abordagem teórico-política :
“Na última palestra, ocupamo-nos com o momento histórico em que a notícia
da partida prematura do nosso grande mestre e dirigente, Lenin, abalou o mundo,
com o momento em que o invólucro mortal, elevado aos ombros de seus amigos e
sobre a cabeça de milhões de massas impendia no interior do Salão das Colunas
e, ali, durante vários dias, tornou-se o destino da peregrinação dos
trabalhadores e camponeses de nosso grande país e do mundo inteiro.
Ainda soam no ar as palavras esculpidas de granito do juramento que prestou
Stalin, o Secretário Geral do Partido, no Teatro Bolshoi.
Palavras que significam que o Partido conservará sua lealdade ao legado de
Lenin de luta contra o capitalismo, que conduzirá essa luta até o seu final
vitorioso, apoiado na solidariedade do proletariado internacional, na aliança
dos trabalhadores e camponeses, consolidando a Ditadura do Proletariado,
velando pela unidade das fileiras leninistas como suas pupílas ....”[34]
A esse último episódio político da vida de Radek, Trotsky não pode
senão destacar, de maneira aguda e acurada :
“Desde meados de 1929, o nome de Radek tornou-se, nas fileiras da oposição,
o símbolo das formas mais indignas da capitulação e dos desleais apunhalamentos
pelas costas dos amigos de ontem(p. 156).
Nas fileiras dos trotskystas, Radek tornou-se, desde então, a figura mais
odiosa: ele não é apenas um capitulador, mas também é ainda um traidor(p.157).”[35]
CAPÍTULO I
PERCURSO POLÍTICO DE
KARL RADEK
ATÉ O INÍCIO DOS ANOS 20
Radek, também muito renomado por seu nome de guerra Parabellum,
nasceu, em 31 de outubro de 1885, no seio de uma família
judía-polonesa, em Lvov, na província de Lemberg, Galícia (Polônia Austríaca), hoje
território da Ucrânia.
Seus pais trabalharam como funcionários dos correios.
Radek estudou, inicialmente, Direito, nos anos de 1902 e
1903, em Cracóvia e Tarnov (Polônia Austríaca) e aperfeiçou,
posteriormente, seus conhecimentos em Viena, na Áustria, e em Berna, na Suíça.
Ainda como um jovem estudante de Tarnov, Radek ligou-se, a partir dos
18 anos, ao Partido Socialista Polonês(PSP), que intervia na qualidade de
porta-voz dos interesses nacionalistas do movimento operário polonês.
Logo a seguir, porém, Radek foi captado pelo grupo
marxista denominado Partido Social-Democrático do Reino da Polônia e da Lituânia (PSDRPL), encabeçado
por Luxemburg,
Dzerjinski, Jogiches e Marchlevski tendo nele permanecido ativo através
de sua militância clandestina, entre os anos de 1904 e 1908.
Nessa época, o PSP impulsionado pelo Partido Social-Democrático da Polônia(PSDRPL),
veio a desempenhar um expressivo papel na Revolução de Varsóvia de 1905, onde
dirigiu o jornal do partido, intitulado Czerwony Sztandar, i.e. Bandeira
Vermelha.
Preso em 1906, Radek lograria fugir, ingressando na Alemanha, em 1908, quando
adotou, pela primeira vez, o nome de guerra Parabellum.
Suas produções jornalísticas tiveram início junto às colunas dos jornais Leipziger
Volkszeitung (Gazeta Popular de Leipzig) e Bremer Bürgerzeitung (Gazeta do
Cidadão de Brêmen), ambos esses diários pertencentes ao Partido
Social-Democrático da Alemanha(PSDA).
Data do ano de 1910, as primeiras críticas de Lenin aos posicionamentos
teóricos de Radek quanto ao caráter da defesa do programa mínimo seja no
quadro das relações sociais capitalistas em geral, seja na política
internacional em particular :
“Acerca de seus principais artigos no Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular
de Leipzig), devo dizer que a questão é muito interessante.
Na realidade, ocupei-me pouco com isso, porém parece-me que você não tem
plenamente razão.
O critério da “inexeqüibilidade ... no quadro do capitalismo” não pode ser
entendido no sentido de que a burguesia não permite, que isso é inexeqüivel e
coisas semelhantes.
Nesse sentido, muitas das consignas de nosso programa mínimo “são
inexeqüiveis”, porém são, apesar disso, necessárias.
Além disso, onde você menciona o Relatório da Internacional, você deixa de
fora, na citação de Marx, as palavras
nas quais se trata dos princípios das relações entre os Estados.
Não se trata aí do programa mínimo na política internacional ?
E, finalmente, por que você não menciona com nenhuma palavra o trabalho de
Engels “Pode a Europa Desarmar-se?” ?
Você tem total razão, na minha opinião (tudo se trata evidentemente de
minha opinião pessoal), que a reivindicação de armamento do povo não pode ser
deixada de lado.
Não seria, porém, mais correto, dirigir o ataque não no sentido de que, na
Resolução, fala-se desarmamento, mas sim de que ela não contém Exército
Popular?”[36]
No quadro de uma postura ainda inicialmente fraternal, Lenin solicitaria a Radek,
ainda no mesmo ano, a publicação, nas colunas do Leipziger Volkszeitung(Gazeta
Popular de Leipzig), de um de
seus importantes artigos de polêmica contra Martov e Trotsky :
“Eu gostaria, porém, de não deixar irrespondidas as terríveis vulgaridades
e retorsões de Martov e Trotsky.
Já tenho pronto algo como um terço ou a metade de meu artigo.
O tema é : “O Sentido Histórico das Lutas Internas Partidárias na Rússia”.
Peço-lhe muito uma sugestão : seria possível e aconselhável publicar esse
artigo no Leipziger
Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig) ? ...
Se você me pudesse dizer algo a respeito disso, ser-lhe-ia muito grato.
Eu gostaria de saber, p. ex., se você poderia apresentar diversos folhetins
no Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig) sobre esse tema.
Qual o tamanho máximo dos artigos ?
Além disso : eu não consigo escrever em alemão. Eu escrevo em russo.
Você poderia provicenciar a tradução em Leipzig ou é-lhe muito incômodo ou
por demais trabalhoso, sendo que devo encontrar por aqui um tradutor (poderia
encontrá-lo também como toda probabilidade) ou ainda eu escreveria em meu alemão
de má qualidade (uma prova disso você tem nessa carta) e, em Leipzig,
procura-se traduzir de meu mau alemão em um bom alemão.
(Uma vez um amigo contou-me que que é mais fácil traduzir para ao alemão a
partir de um bom russo do que um mau alemão.)”[37]
Desse episódio, o historiador alemão de linhagem stalinista-reciclada, Dietrich
Möller, assinala que, de Leipzig, Radek enviou, ao longo de 1910,
diversos artigos a Lenin, em Paris, que, aparentemente, não foram
aí publicados e, d’outra parte, Lenin remeteu artigos a Radek,
para o Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig) que,
certamente, jamais conheceram a luz em suas páginas[38].
Domiciliado em Leipzig e Brêmen, Karl Radek iria, desde
logo, notabilizar-se por sua cerrada polêmica jornalística e pela organização
de um agrupamento partidário, composto por jovens militantes, dedicados à luta
contra ao revisionismo oportunista de Karl Kautsky e a linha
social-chauvinista da direção do Partido Social-Democrático da
Alemanha(PSDA), dirigido, à época, cada vez mais ostensivamente, por Friedrich
Ebert, Philip Scheidemann e Gustav Noske[39].
Data desse período sua ligação política com August Thalheimer, futuro
membro do bloco político Radek-Brandler, que se tornaria
dirigente nos anos revolucionários de 1922 e 1923, editor do jornal
social-democrático Freie Volkszeitung(Gazeta Livre do Povo), de Göppingen.
Entretanto, em 1912, Radek seria formalmente excluído das
filerias da Social-Democracia Polonesa, ao opor-se à direção política de Luxemburg
e Dzerjinski, tendo sido acusado de patifaria, apropriação de dinheiro,
livros e roupas da organização e colaboração com o governo alemão e
austro-húngaro[40].
No mesmo ano, “o caso Radek” foi colocado em discussão no Congresso
do Partido Social-Democrático da Alemanha(PSDA), realizado em Chemnitz.
A moção que clamava por sua expulsão gozou de grande simpatia por parte da
burocracia revisionista dirigente da Social-Democracia Alemã, que o
considerou como jamais tendo sido membro regular oficial do partido alemão,
representando apenas um intruso.
Além disso, a direção de Ebert e Noske entendeu que, tendo Radek
sido expulso anteriormente das fileiras da Social-Democracia Polonesa, não
poderia ter jamais aderido à Social-Democracia Alemã, de vez que
nenhum excluído por um partido irmão poderia pleiter tornar-se membro de
qualquer organização da II Internacional.
Com o decidido apoio de Rosa Luxemburg, Clara Zetkin e os
demais seguidores dessas dirigentes políticas, Radek haveria, então, de
ser também expulso desse último partido, em 1913, sob a base das mesmas
acusações escandalosas de roubou e desvios de meios financeiros partidários.
Sendo Luxemburg considerada como exemplo de comportamento socialista,
Radek
passava a ser entrevisto, em sentido contrário, diante dos olhos de
muitos militantes revolucionários da época, como uma pessoa marcadamente
imoral.
Nesse sentido, a historiadora e antiga comunista alemã, de orientação
zinovievista, Ruth Fischer, escreve da seguinte forma :
“Ele (i.e. Radek) foi pintado como tendo mau caráter. Ele tinha pedido
emprestado um casaco ( ou, por outras versões, um par de calças) de um
companheiro, em uma noite fria de inverno, e não o devolveu imediatamente.
Sobre a base desse e de episódios similares insignificantes, concluiu que
ele era um ladrão.
A pequena burguesia do partido fez um barulho pomposo acerca desse
comportamento “não socialista” e em protesto contra essa campanha de lama,
Parabellum adotara, diversos anos antes, um novo pseudônimo, K. Radek, que para
um polonês sugere a palavra kradziez,
i.e. ladrão.
Luxemburg e Radek eram ambos membros dos partidos alemão e polonês e esse
incidente no partido alemão foi um reflexo da ruptura do mesmo ano no partido
polonês, na qual Luxemburg dirigia uma fração e Radek a outra.
Luxemburg tinha sido apoiada pela maioria dos dirigentes nacionais e Radek
fora-o pela organização de Varsóvia, incluindo Valecki, Unschlicht e Hanecki.
Lenin dispôs-se em favor do Grupo de Varsóvia. ...
O caso não foi um pequeno episódio na vida de Karl Radek.
Para ele, tratou-se de uma ofensa dolorosa ser privado de sua filiação ao
partido alemão, o tipo mais elevado de organização Social-Democrática.”[41]
Os principais defensores de Radek nesse processo escandaloso
foram, pelo contrário, Anton Pannekoek e seus aliados de Brêmen,
impulsionadores do jornal Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores),
bem como Karl Liebknecht.
Esse último considerou Radek como vítima de uma direção
revisionista que aplicava descaradamente represálias políticas contra todos os
que a criticavam de desvios pacifistas e nacionalistas.
No plano internacional, não apenas Lenin, senão ainda Trotsky,
pronunciaram-se em favor de Radek[42].
Com os méritos hauridos em sua luta contra as posições de Kautsky,
Radek logrou atrair, cada vez mais, as atenções de Lenin que permanecia,
entretanto, manifestamente crítico em relação aos seus posicionamentos
teórico-intelectuais e suas atitudes político-práticas.
Em janeiro de 1914, Lenin teve a oportunidade de escrever
a Wijnkoop
:
“No Leipziger Volkszeitung(Gazeta Popular de Leipzig), Radek escreve sobre
questões russas.
Porém, Radek não representa, nem sequer, qualquer dos grupos na Rússia !
É cômico imprimir os artigos dos emigrantes que nada representam e não aceitar
aqueles que dos representantes das organizações existentes na Rússia! ...
Lamentavelmente, nem mesmo Pannekoek, no Leipziger Volkszeitung(Gazeta
Popular de Leipzig), quer compreender que se deve publicar os artigos de ambas
as correntes sociais-democráticas na Rússia – e não os artigos de Radek que
representam apenas sua ignorância pessoal e suas idéias visionárias,
indispondo-se a transmitir fatos concretos.”[43]
Com a eclosão da I Guerra Mundial do capitalismo
imperialista, Radek, procurando esquivar-se ao seu recrutamento nas
fileiras do Exército Imperial Austro-Úngaro, refugiou-se na Suíça[44].
Nesse país, Radek demonstrou, desde logo, seu ceticismo pessimista, vindo a
decepcionar profundamente Trotsky, que nele depositava, então,
expressivas expectativas de atuação revolucionária :
“Naqueles dias, entrei, pela primeira vez, estreitamente em contato com
Radek, o qual, no início da guerra, veio da Alemanha para a Suíça.
No partido alemão, ele se situava na extrema esquerda, sendo que eu
pretendia nele encontrar um partidário de minhas convicções.
Efetivamente, Radek condenava, com extraordinária incompatibilidade, o
segmento dirigente da Social-Democracia Alemã.
Nisso, nós estávamos de acordo com ele.
Porém, com surpresa, constatei, na conversação, que ele também não
acreditava na possibilidade de uma revolução proletária em conexão com a guerra
nem, em geral, em época próxima.
“- Não !”, respondeu ele, “para isso as forças produtivas da humanidade,
consideradas em seu conjunto, ainda não se encontram suficientemente
desenvolvidas.”
Eu estava simplesmente acostumado em ouvir que as forças produtivas da
Rússia não eram suficientes para a conquista do poder pela classe
trabalhadora.
Porém, jamais havia imaginado que uma tal resposta poderia ser dada por um
político revolucionário de um país capitalista avançado.
Radek deu, logo depois de minha partida de Zurique, um longo informe,
naquele mesma Associação Sindical(Eintracht - Unidade), argumentando
prolixamente não estar o mundo capitalista preparado para a revolução
socialista.
Sobre o artigo de Radek, tal como, em geral, sobre a perspectiva socialista
suíça no início da guerra, relatou o escritor suíço Brupbacher em suas
interessantes memórias. ....
Quando os jornais socialistas alemães e franceses deram uma clara imagem da
catástrofe política e moral do socialismo oficial, coloquei de lado meu diário
para ocupar-me com uma brochura política acerca do tema da guerra e da
internacional.
Sob o impacto de minha primeira conversação com Radek, redigi para essa
brochura um prefácio em que enfatizei, ainda com mais energia, que a atual
guerra nada era senão uma insurreição das forças produtivas do capitalismo,
consideradas em escala mundial, contra a propriedade privada, de um lado, e
contra as fronteiras nacionais, de outro ...
O livrinho “Guerra e Internacional”, tal como todos os outros livros,
possuiu seu próprio destino, em primeiro lugar, na Suíça, depois, na Alemanha e
na França, em seguida, na América e, por fim, nas Repúblicas Soviéticas.”[45]
Nada obstante, Radek postulou sua participação nas Conferências de Zimmerwald e
Kienthal, seguindo colaborando com o jornal de Anton Pannekoek, Arbeiterpolitik(Política
dos Trabalhadores), publicado em Brêmen, com o que passou a
desempenhar um papel de grande importância no seio do agrupamento da Esquerda
de Zimmerwald.
Não obstante, nesse último agrupamento, Radek atritou-se e
chocou-se, desde logo, diametralmente com as posições de Lenin.
Inúmeras são as referências de Lenin acerca de Radek que datam desse
episódio histórico, quase todas pesadamente desabonadoras não apenas da
orientação política postulada por esse revolucionário versátil e prolixo, senão
ainda severamente repreensivas de suas atuações manobristas, hesitantes,
intriguistas e de baixo caráter[46].
No fim de agosto de 1915, Lenin dirigiu-se, asperamente, a Radek,
irresignado :
“Em anexo seu esboço. Nenhuma palavra sobre os Sociais-Chauvinistas e (=) o
oportunismo e de luta contra isso.
Para que tal embelezamento do mau e acobertamento perante as massas do
principal inimigo nos partidos sociais-democráticos ?
Você vai insistir, de maneira ultimativa, em não dizer nenhuma palavra
aberta sobre a luta implacável contra o oportunismo ? ...
(Seu esboço é por demais “acadêmico”, nenhum chamado à luta, nenhum
manifesto de luta.)”[47]
A seguir, Radek atacou, subrepticia e ardilosamente, a validade da
consigna do Direito de Auto-Determinação das Nações Oprimidas, impulsionando
atividades rupturistas e intriguistas em favor da palavra de ordem “Luta
de Massas Revolucionárias do Proletariado contra o Capital Contra Todas as
Anexações” e contra “Atos Nacionais de Violência”.
Contra esse posicionamento de Radek, Lenin assinalou, precisamente
:
“O Manifesto de Zimmerwald, tal como a maioria dos Programas ou das
Resoluções Táticas dos partidos sociais-democráticos, proclamam o Direito de
Auto-Determinação das Nações.
O Companheiro Parabellum(i.e. Radek) declara, nos Nrs. 252 e 253 do “Berner
Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna)”, como ilusória a “Luta contra o Direito de
Auto-Determinação Não-Existente” e o opõe à “Luta de Massas Revolucionárias do
Proletariado contra o Capital”, na medida em que assegura que “somos contra as
anexações”(essa garantia é repetida cinco vezes no artigo do comp. Parabellum)
como também contra “Atos Nacionais de Violência(p.412).
Marx exige a separação da Irlanda da Inglaterra – “ainda que, depois da
separação, possa surgir uma federação” – e fá-lo, em verdade, não do ponto de
vista da utopia pequeno-burguesa do capitalismo pacífico, não por “Justiça para
a Irlanda”, senão a partir da posição dos interesses da luta revolucionária do
proletariado da nação opressora, i.e. inglesa, contra o capitalismo(p. 417).”[48]
Nesse mesmo quadro, Radek condenou o Levante
Irlandês da Páscoa de 1916, qualificando-o de Putsch, i.e. Golpe de Estado.
Acerca do tema, Lenin precisou, ao dirigir-se a Kollontai :
“Designar o Levante da Irlanda de
“Putsch” ( você viu K. Radek no “Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna)”
?) - e você aceita isso pacientemente?
Isso eu não posso entender. Isso eu não posso absolutamente entender.
Eis aí, pois, a prova para a pendanteria repugnante e o estúpido
doutrinarismo de K. Radek no Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna) e “de
seus semelhantes”.”[49]
Em sua renomada obra Resultados da Discussão sobre a
Auto-Determinação, Lenin sublinhou, mais claramente :
“As concepções dos adversários da auto-determinação leva à conclusão de que
a vitalidade das pequenas nações, oprimidas pelo imperialismo, já se esgotou,
que elas não poderiam desempenhar nenhum tipo de papel em face do imperialismo,
que o apoio de suas aspirações puramente nacionais não levaria a nada etc.
A experiência da guerra imperialista de 1914-1916 contesta faticamente
conclusões desse gênero(p. 361). ...
No Berner Tagwacht(A Guarda do Dia de Berna), órgão dos militantes de
Zimmerwald, inclusive de alguns esquerdistas, surgiu, em 9 de maio de 1916, por
ocasião do Levante Irlandês, um artigo assinado por K. R., intitulado “Uma
Canção Batida”.
O Levante Irlandês é ali declarado, nada mais nada menos, como um “Putsch”,
pois “A Questão Irlandesa” teria-se tornado uma questão agrária, sendo que os
camponeses haveriam-se acalmado com as reformas, o movimento nacionalista seria
agora uma “um movimento puramente pequeno-burguês citadino, atrás do qual não
se encontra muito de social, apesar do grande barulho que ele promoveu.
Não de se admirar que esse monstruoso julgamento em seu doutrinarismo e sua
pedanteria coincida com aquele de um russo cadete, nacional-liberal, A.
Kulischer(cf. Retsch, de 15 de abril de 1916, Nr. 102), o qual designou o
levante igualmente como o “Putsch de Dublin(pp. 362 e 363)”.[50]
Durante todo o ano de 1916, acirraram-se, agudamente, as diferenças teóricas,
políticas e organizativas entre Lenin e Radek, tal como o primeiro
nos informa, em suas cartas a Alexander Schliapnikov :
“Os editores compremeteram o “Comunista”, pois não quiseram discutir – para
uma discussão não escreveram ou prepararam o mínimo -, mas sim explorar as
aspirações de Radek de entrar de contrabando, por desvios, em nosso
partido.
Tanto Radek como o pessoal de “Nashe Slovo”, bem como muitos outros dos
grupos estrangeiros, entrecruzam-se para, sob o manto da discussão, provocar
rupturas junto a nós, desenvolver insatisfações, entravar o trabalho (o velho
jogo dos estrangeiros).
Você sabe, certamente, que Radek botou-nos para fora da redação do
“Vorboten(O Precursor).
De início, acertou-se a constituição de uma redação comum de ambos os
grupos : 1. os holandeses ( talvez +
Trotsky) e 2. Nós (i.e. Radek, Grigori e eu).
Essa condição assegurou-nos a igualdade na redação.
Radek intrigou durante meses a fio e impôs junto à “proprietária” (Roland-Host)
que esse plano fosse retirado. Somos agora apenas colaboradores. É fato !
É adequado conceder à Radek como recompensa por esse fato o Direito de
“discussão” e aos editores, o Direito de se esconder atrás de Radek ?
Isso não será nenhuma discussão, senão aborrecimento e intriga.”[51]
“O “Comunista” era um bloco provisório que havíamos constituído com dois
grupos ou elementos : 1. com Bukharin e Co. 2. com Radek e Co.
Enquanto se pode caminhar com eles, era necessário fazê-lo.
Agora, isso já não é mais possível.
Há de se separar, provisoriamente ou, mais corretamente, recuar-se um
pouco.”[52]
Criticando detidamente o método cético-jornalístico, meramente especulativo
de Radek,
Lenin ainda teve oportunidade de escrever a Kiknadze :
“Você discute sobre minha nota acerca da possibilidade de conversão também
da atual guerra imperialista em uma guerra nacional.
Seu argumento ? “Teremos de defender uma pátria imperialista ... “
Isso tem alguma lógica ? Se a pátria permanece “imperialista” como pode,
então, uma guerra ser nacional ??
O palavreado acerca das “possibilidades” é, em minha opinião, admitido por
Radek e pelo § 5 das Teses do Grupo “Internacional” de modo
teoricamente equivocado.
O marxismo situa-se sobre o terreno dos fatos e não das possibilidades.
O marxista pode admitir enquanto premissa de sua política apenas fatos comprovados exata e indiscutivelmente.”[53]
Ao final de todo esse percurso, Lenin assinalou, de modo
meridianamente claro e incisivo :
“De Radek, separamo-nos na arena russo-polonesa e não o convidamos para
colaborar em nosso Sbornik(Compêndio).
Assim, tinha de ser.
Agora, ele não poderá fazer nada que possa prejudicar o trabalho. ...
Estrategicamente, dou a causa por vencida.
Possivelmente, Juri + Co. + Radek + Co. irão chiar.
Allez-y, mes amis !”[54]
E, ainda :
“A má política do canalha lumpen e do crápula que não tem tanta força para
confrontar-se abertamente conosco, refugiando-se com intrigas, ataques pelas
costas e vulgaridades : aí você um exemplo ilustrativo do Radek é e faz.
(Um homem não se julga por aquilo que pensa ou diz de si mesmo, senão pelo
que faz : pense nessa verdade marxista !).“[55]
Já em 19 de janeiro de 1917, poucos dias antes da eclosão da Revolução
Russa de Fevereiro, visivelmente esgotado de seus dissabores com Karl
Radek, Lenin não se conteve em destacar :
“O idiota do Radek escreveu, há pouco, na conclamação polonesa, Befreiung Polens(Libertação
Polonesa) :
a construção do Estado noa é um objetivo de luta da Social-Democracia.
Isso é mais do que idiota !
Isso é semi-anarquismo, semi-idiotice.
Não. Nós não somos, de nenhuma maneira, indiferentes em face da questão da
construção do Estado, do sistema do Estado, de suas relações interativas.”
Engels seria o pai do “radicalismo passivo” ? Errado !
Você não conseguirá jamais provar isso.
(Bogdanov e Co. tentaram-no e apenas se ridicularizaram.)”[56]
Apesar dessas suas inúmeras tempestades de ânimos contra Radek,
Lenin
não encontrou, entretanto, impedientes para escrever o seguinte, em 30
de janeiro de 1917, resituando, radical e precisamente, seu posicionamento em
face de Radek :
“Incitei Radek a ter forças para escrever uma brochura (ele ainda
encontra-se aqui e – isso você provavelmente não esperou – somos bons amigos,
tal como sempre, quando se trata da luta contra o “Centro(i.e. contra o
Kautskyanismo)” e se não existe nenhum espaço para os subterfúgios radekistas,
para o jogo em relação aos da “Direita” etc.)
Andamos durante horas por Zurique e o “apertei”.
Então, ele se mexeu e escreveu-a. ...
Publica-la-emos em separado.”[57]
Tendo arrebentado a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, Radek partiu
da Suíça
no trem blindado de Lenin e do grupo de bolcheviques que se dirigiu à Rússia, atravessando o território alemão.
Na medida em que Radek era portador de cidadania
austríaca, contavam os bolcheviques com seu impedimento de ingresso em
território russo, visto que a Rússia seguia em guerra contra a Áustria.
Sendo assim, Karl Radek e Angelica Balabanoff
foram encarregados da organização de um bureau
internacional do Comitê Central do Partido Bolchevique, em Stockholm,
para o impulsionamento da tarefa contatos internacionais e fomento da
propaganda revolucionária na Alemanha.
Enquanto membros da Esquerda Zimmerwald, Radek e Balabanoff foram,
ao mesmo tempo, incumbidos da missão de preparar o caminho para a criação de
uma nova organização internacional independente
No quadro desse período de luta, Lenin assinalou acerca de Radek
:
“O Pravda(A Verdade) traz sistematicamente notícias acerca da Alemanha que
não se encontra em nenhum outro jornal.
«De onde e como o Pravda recebe suas notícias especiais ? », pergunta a
Retsch(i.e. um jornal cadete, buguês-liberal)”, com sua fisionomia grave, em um
artigo, dotado de um título muito elucidativo “Uma Informação Estranha”.
De onde, Senhores Caluniadores ?
Dos telegramas e cartas do nosso correspondente, comp. Radek, um
social-democrata polonês que passou uma série de anos nas prisões czaristas,
que atuou mais de dez anos nas fileiras da Social-Democracia Alemã e foi
expulso da Alemanha em virtude de agitação revolucionária contra Wilhelm e
contra a guerra. Radek mudou-se especialmente para Stockholm para nos informar,
a partir de lá.”[58]
Não tomando parte diretamente no Levante Armado de Petrogrado, de 1917, Radek
foi encontrado, pela primeira vez, nessa cidade, em outubro de 1918.
Nessa ocasião, Karl Radek aderiu, formalmente, ao Partido Bolchevique,
sendo encarregado, imediatamente, por Tchitcherin, da direção da Divisão
Central Européia do Comissariado das Relações Exteriores.
Sob sua competência encontrava-se a organização de propaganda política
entre os prisioneiros de guerra
Nesse quadro, Radek patrocinou a Brigada Liebknecht, formada entre
alemães detidos nos campos de concentração siberianos e organizou grandes
manifestações em Moscou, onde delegados dos campos declaravam sua adesão à Revolução
de Outubro de 1917, formando comitês revolucionários por
nacionalidades.
A esse tempo, Radek passou a redigir nas colunas do Izvestia(Notícias), assinando
com o nome de Viator.
A seguir, Radek tomou parte das tratativas de Brest-Litovsk, a partir
de 26 de novembro de 1917, enquanto membro especialista para questões polonesas
da delegação bolchevique, encabeçada por Trotsky.
Nesse episódio, Radek notabilizou-se por sua postura agressiva, sarcástica e
hostil em face do Estado-Maior Alemão
As negociações de Brest-Litovsk representaram,
inquestionavelmente, um ponto relevantíssima gravidade para todas as
elaborações intelectuais e políticas futuras de Karl Radek.
De retorno à Rússia, Karl Radek fundiu-se em um bloco político com N.
Bukharin, M. S. Uritski, A. Joffe, G. Lomov e outros, visando
a atacar, sistematicamente, a política de Lenin e Sverdlov acerca da conclusão
do Tratado
de Paz de Brest-Litovsk[59].
Redigindo as páginas de “Kommunist”,
Radek dedicou-se à propaganda da consigna de Guerra
Revolucionária contra o Imperialismo Alemão.
Nesse contexto, Lenin atacou-o, metodicamente, denunciando-o como um deplorável
esquerdista que renegava suas próprias responsabilidades :
“Nossos “esquerdistas” lamentadores que, ontem, surgiram com seu próprio
jornal “Kommunist” (dever-se-ia
acrescentar : comunista da época pré-marxista), querem se subtrair ao
ensinamento e às lições da história, esquivando-se da responsabilidade.
Inúteis idiotices ! Não conseguiram esquivar-se.
Essas pessoas amontoam-se apenas, preenchem as colunas do jornal com
artigos inumeráveis e esfalfam-se, com o suor de seus rostos.
Não poupam “nem sequer” negritos de impressão, para qualificar a “teoria”
de “tomar fôlego” como uma “teoria” ruim e insustentável.
Mas, ah ! Seus esforços não são capazes de invalidar fatos. Fatos são
coisas duras, tal como assinala, corretamente, um provérbio inglês.
Fato é que, desde 3 de março, quando os alemães, a 1 h. da manha,
suspenderam suas operações militares, até 5 de março, às 7 hs. da noite, quando
escrevo essas linhas, temos tomado fôlego e utilizamos já esses dois dias para
uma defesa enérgica (não expressada em frases, senão com fatos) da pátria
socialista(p. 64). ...
Nossos “esquerdistas” lamentadores que se furtam aos fatos, às lições dos
fatos e da responsabilidade, procuram ocultar ao leitor o passado mais recente,
totalmente fresco, historicamente significativo, camuflando-o com coisas
supérfluas e transcorridas há muito
tempo.
Um exemplo : Radek recorda, em seu artigo, ter escrito em dezembro (em
dezembro!), que seria necessário salvar o exército a se manter, tendo redigido
acerca desse tema em seu “Memorando ao Conselho dos Comissários do Povo”.
Não tive a possibilidade de ler esse escrito e pergunto-me : Por que Karl
Radek não o publica inteiramente ? Por que não declara, pura e simplesmente, o
que entendeu, outrora, por uma “Paz de
Compromisso” ? Por que não se recorda do passado mais próximo quando, no
“Pravda(A Verdade)”, falou acerca de sua ilusão ( a pior de todas ) relativa a
ser possível concluir uma paz com os imperialistas alemães, sob a condição de
entrega da Polônia ?
Por que ? Porque os “esquerdistas” lamentadores são forçados a camuflar os
fatos que desmascaram sua responsabilidade, i.e. deles, dos “esquerdistas”,
pela propagação de ilusões, as quais ajudaram praticamente aos imperialistas
alemães e impediram o crescimento e o desenvolvimento da Revolução na
Alemanha(p. 65). ...
Quem, porém, disso não se recorda, quem não ouvi acerca disso, remetemos a
um documento que agora se tornou um pouquinho mais valioso, interessante e
instrutivo do que as penadas de Karl Radek de dezembro.
Esse documento, ocultado aos leitores lamentavelmente pelos “esquerdistas”,
é o resultado (em primeiro lugar) das votações de 21 de janeiro de 1918 na
Sessão do CC de nosso partido, juntamente com a atual Oposição “de Esquerda” e
(em segundo lugar) a votação do CC de 17 de feveiro de 1918.
Quando, em 21 de janeiro de 1918, foi tratada a questão relativa a dever-se
romper, imediatamente, as tratativas com os alemães, votaram (dentre os
colaboradores do pseudo-esquerdista “Kommunist”) apenas Stukov a favor. Todos
os demais votaram contra. ...
Quando, em 17 de feveiro de 1918, foi tratada a questão de saber quem era a
favor da Guerra Revolucionária, Bukharin e Lomov recusaram-se “a participar da
votação em face de uma tal colocação da questão”. A favor da proposta, não
votou ninguém.
Isso é um fato(p. 66).
Em minhas teses de 7 de janeiro de 1918, predisse, com total claridade,
que, em virtude da condição de nosso exército (a qual não poderia ser melhorada
com o palavreado dirigido “contra” as massas camponesas esgotadas), a Rússia
teria de concluir uma paz separa de má qualidade, caso não aceitasse a Paz de
Brest.
Os “esquerdistas” caíram na armadilha da burguesia russa que carecia de
meter-nos em uma guerra, a qual, para nós, resultaria a mais desfavorável
possível(p.67).”[60]
No mesmo sentido, Lenin sintetizou, historicamente, o
balanço dos momentos de embate contra os “esquerdistas lamentadores” da
seguinte forma, em sua célebre brochura O Radicalismo de Esquerda. Enfermidade
Infantil do Comunismo, surgido em 1920 :
“Se olharmos em retrospectiva para o período histórico, completamente
concluído, cujo contexto com os próximos períodos já se encontra às claras,
torna-se evidente que os bolcheviques não seria capazes de manter unido, nos
anos de 1908 a 1914, o sólido núcleo do partido revolucionário do proletariado
(sem falar, então, em fortalecê-lo, desenvolvê-lo, consolidá-lo), caso tivessem
imposto, no quadro da luta mais impiedosa, a concepção de que era
imprescindível combinar, necessariamente, as formas legais com as formas
ilegais de luta e participar, incondicionalmente, no parlamento
arqui-reacionário, bem como nas fileiras de outras instituições amarradas com
leis reacionárias (caixas de seguro etc.)
Em 1918, não se chegou a uma ruptura.
Os comunistas “de esquerda” formaram, outrora – e , em verdade, não por
longo tempo -, um grupo particular ou “fração” no interior de nosso partido.
No mesmo ano de 1918, os mais renomados representantes do “comunismo de
esquerda”, p.ex. os comps. Radek e Bukharin, admitiram, abertamente, o seu
erro.
Eles haviam acreditado que a Paz de Brest seria um compromisso com os
imperialistas, principiologicamente inadmissível e prejudicial para o partido
do proletariado revolucionário.
Tratava-se, de fato, de um compromisso com os imperialistas, porém
precisamente de um compromisso incondicionalmente necessário, no marco das
condições dadas...
Quando, porém, os mencheviques e os sociais-revolucionários, na Rússia, os
Scheidemanns (e, em grande medida, também os kautskyanos), na Alemanha, Otto
Bauer e Friedrich Adler (para nem falar dos Srs. Renner e cia.), na Áustria, os
Renaudel, Longuet e cia., na França, os fabianos, os “independentes” e os
“trudowikis”(i.e. os trabalhistas), na Inglaterra, concluíram compromissos, nos
anos de 1914 a 1918 e 1918 a 1920, com os bandidos de sua própria burguesia, às
vezes também com os “aliados” da burguesia, contra o proletariado
revolucionário de seu país, agiram todos esses Srs. como cúmplices do
banditismo.
A conclusão é clara : rechaçar “por princípio” compromissos, negar
meramente toda admissibilidade de compromissos, seja da forma que forem, é uma
infantilidade que deve ser levada severamente a sério.[61]”
Tal disputa política travada por Lenin contra os “esquerdistas lamentadores”, não o impediu, porém, de pleitear a
nomeação de Bukharin e de Radek
enquanto Comissários Políticos para o Conselho Central dos Sindicatos de Toda Rússia,
alegando precisamente o seguinte contra os que se opunham a tal medida :
“Talvez vocês conheçam melhores teóricos do que Radek e Bukharin.
Então, dêem-nos alguns.
Talvez vocês conheçam melhores pessoas que estejam familiarizados com o
movimento sindical. Então, dêem-nos algumas.
Como ? o Comitê Central não deve ter qualquer Direito de enviar pessoas nos
sindicatos que estão familiarizadas, teoriamente, da maneira mais profunda, com
o movimento sindical, conhecem a experiência alemã e são capazes de fazer valer
sua influência se é adotada uma linha equivocada ?
Um Comitê Central que não cumpra essa tarefa, não seria capaz de dirigir !”[62]
De toda sorte, a luta político-jornalística de Radek em torno da Paz
de Brest-Litovsk viria a marcar, entretanto, o seu profundo giro de
concepção acerca do dinâmica das ações revolucionárias das massas proletárias
rumo à consagração da revolução socialista internacional.
Tendo alcançado o seu ápice de entusiasmo revolucionário no início de 1918,
materializado em sua doutrina ideológica da Guerra Revolucionária contra o
Imperialismo Alemão, Radek foi assaltado, nos mêses e anos
subseqüentes, por um marcante ceticismo jornalístico-pessimista relacionado com
o futuro de lutas do comunismo revolucionário em todo mundo, ao ver-se diante
da necessidade de aceitar o posicionamento de Lenin e Sverdlov sobre a Paz
de Brest-Litovsk.
Tal postura cético-pessimística de Radek surgia, esporadicamente,
entrecortada, entretanto, não apenas por algumas de suas apreciações
entusiasticamente combativas, fundadas em posições de Lenin, Sverdlov e Trotsky, do
que são exemplos suas caracterizações evanescentes acerca das Revoluções
Bávara e Húngara, de 1919, como forma de diferenciar-se das posições de
Paul
Levi, embora Radek e Levi compartilhassem a
direção do Partido Comunista Alemão(KPD) ou ainda sua luta aberta,
imprevista e supreendente, ao lado da corrente de esquerda oposicionista alemã
contra as posições políticas oportunistas de Paul Levi, em janeiro de
1921.
Essa sua postura projetava-se, além disso, episodicamente, em erráticos
momentos ultra-esquerdistas, do que são exemplos seu lastimável entusiasmo pela
Guerra
Revolucionária contra a Paz de Brest Litovsk, nos primeiros meses de
1918,
e seu fugaz arrebatamento em prol da Ativação Revolucionária do
Partido Comunista da Alemanha(KPD), no quadro da Ação de Março de 1921, conduzindo
à sua sustentação passageira da Teoria da Ofensiva, de inspiração
Bukharinista e belakuniana.
Tais inquietações repentinas de combatividade de Karl Radek, registradas a
partir da eclosão das revoluções russas, deviam-se, porém, muito mais às suas
ambições estratégicas no quadro de suas lutas político-partidárias internas no PC da
URSS e no PC da Alemanha (KPD) do que de sua convicção íntima nos frutos
eventualmente produzidos pelo esquerdismo revolucionário.
Todos esses traços de oscilação da orientação política de Radek
são, entretanto, plenamente conformadores e caracterizadores de seus
posicionamentos hesitantes, multiformes, oscilantes, reticentes, versáteis.
Entretanto, em sua perspectiva política mais global, de matiz jornalístico
cético-pessimístico, é importante ter claro que Radek passou a teorizar,
ideologicamente, já após a conclusão da Paz de Brest-Litovsk, a possibilidade
de a Ditadura
Revolucionária do Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser
capaz de resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.
O aguçar-se do terror vermelho, o fechamento da Assembléia Constituinte, os
eventos surpreendentes da Guerra Civil Soviética, prolongada
por vários anos, contribuíram ainda mais para fortalecer as posições hesitantes
e reticentes de Radek.
Se reticente quanto à celebração da Paz de Brest-Litovsk, Radek, enquanto
um dos principais arautos da conclusão do Tratado de Rapallo, de 16 de abril de 1922, entre
a Rússia
Soviética e a República Imperial de Weimar, conferiria
interpretação vulcanicamente estatal-colaboracionista, de caráter
russo-germânico e franco-britanofóbico, a esse instrumento público-internacional,
em verdade, tão somente consagrador da celebração de um acordo político
temporário entre o governo revolucionário de Lenin com a burguesia
hostil da Alemanha, rigorosamente subordinado à estratégia geral de expansão da revolução proletária em toda a Europa,
cuja essência consagrava, em primeiro plano, a solidariedade da classe
trabalhadora de todos os países.
Com efeito, Lenin defendera seja a conclusão do Tratado de Brest-Litovsk,
como a do Tratado de Rapallo, assim como a de todos os demais acordos do
governo soviético que encabeçava, tendo como contratantes Estados Burgueses,
enquanto compromissos efêmeros, necessários para ganhar-se tempo, objetivando à
orquestração da revolução proletária mundial, porém, de nenhum modo, como fazia
Radek,
enquanto freios efetivos de limitação da aplicação revolucionária da
tática de Frente Única e da consigna de Governo dos Trabalhadores dentro
do arco jurídico-constitucional, interno e internacional, estabelecido
diplomaticamente pelas políticas oficiais dos Estados, considerados em si
mesmos[63].
Seu afastamento, no início de 1918, das fileiras do Comunismo de Esquerda, encabeçado
por Radek
mesmo, em associação com Bukharin e Uritski, levou-o a,
posteriormente, a partir dos primeiros meses de 1920 em diante, a combater,
decididamente, até mesmo alguns de seus velhos aliados alemães, solidamente
ultra-esquerdistas, como Anton Pannekoek e Hermann Gorter, protagonistas
da ruptura pela esquerda do Partido Comunista da Alemanha(KPD), rumo
à fundação do Partido Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), em abril de
1920, bem como a antonizar o agrupamento holandês Tribunista, de Henriette
Roland-Host.
Marcado essencial e fundamentalmente por essa postura psicológico-política
de linhagem cético-pessimística, revolucionário-administrativista e
marcadamente estratégico-diplomática, Radek foi enviado à Alemanha,
enquanto membro de uma missão partidária bolchevique, após a expulsão,
em novembro de 1918, da Delegação Diplomática Russa, dirigida
por Joffe,
Bukharin e Rakovsky.
Quando tal missão foi detida em Vilna, por ordem do novo Governo
Social-Democrático Alemão, apenas Karl Radek logrou, com base em sua
cidadania austríaca, acessar o território alemão.
Na Alemanha, Karl Radek, representando o PC da
URSS, na qualidade de membro de seu Comitê Central, tomou
parte no Congresso Fundacional do Partido Comunista Alemão(KPD-Spartakus),
em dezembro de 1918.
Aqui, Radek defrontou-se novamente com sua velha oponente de lutas
partidárias na Polônia e na Alemanha, Rosa Luxemburg, sendo
que, porém, o que agora, mais uma vez, dividia-os era sua distinta apreciação
que possuíam relativamente à maneira de participação de Karl Liebknecht, Georg Lebedour e
Richard Müller no seio do movimento dos comitês de fábrica, considerada
por Luxemburg
como de índole marcadamente putschista.
CAPÍTULO II
KARL RADEK NOS PRIMEIROS ANOS
POSTERIORES À FUNDAÇÃO DO PCA (KPD)
E A GREVE GERAL SANGRENTA DE 1919
:
A GÊNESE HISTÓRICA DA VERSÃO DE
RADEK ACERCA DA TÁTICA DE FRENTE ÚNICA
Antes da explosão da I Guerra Mundial Imperialista, o
movimento dos trabalhadores alemães era o mais poderoso do mundo e servia de
paradigma para muito partidos socialistas.
No último congresso do Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD),
de Jena,
em 1913, nas vésperas da deflagração da conflagração bélica de 1914, esse
partido contava com cerca de 1 milhão de membros, 90 jornais diários e
conformava, com seus 4 milhões e 250 mil votos, o maior partido alemão de todos
os tempos.
110 deputados federais, 220 deputados estaduais e 2.886 vereadores
representavam o partido da Social-Democracia Alemã no
parlamento do país.
Os sindicatos associados livremente à Social-Democracia Alemã incorporavam
cerca de 2,5 milhões de trabalhadores e possuíam, sob seu controle, um
patrimônio de cerca de 88 milhões de marcos alemães[64].
Com seu crescimento, o Partido Social-Democrático da Alemanha(SPD) havia,
entretanto, profundamente deformado-se, sem que isso se tornasse manifestamente
evidente à primeira vista.
Para o público externo em geral, a Social-Democracia Alemã, herdeira
legítima das tradições revolucionárias de Marx e Engels, seguia representando
um partido autenticamente radical-revolucionário[65].
Nada obstante, tal organismo político transformara-se, em seu interior, em
um partido claramente reformista que, apoiando-se sobre o proletariado alemão e
falando em seu nome, secundarizava o objetivo de conquista do socialismo em
relação à perspectiva de movimentos em favor da obtenção de reinvidicações
sócio-econômicas imediatas.
Os principais dirigentes da Social-Democracia Alemã promoviam,
além disso, a cada nova oportunidade que surgia, a mais integral deformação
oportunista das mais fundamentais premissas estratégicas do
marxismo-revolucionário, com principal destaque para a questão do levante
armado da classe trabalhadora, visando à implosão do Estado Burguês, a
imprescindibilidade de instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado,
incorporadora da mais ampla Democracia Proletária, bem como a
necessária compreensão do fenômeno da violência revolucionária para a derrubada
da burguesia, enquanto fenômenos de transição inevitáveis para o atingimento da
sociedade socialista.
Já mesmo no Projeto do Programa de Coalizão de Gotha, de 1875, cuja
elaboração foi, em grande parte, inspirada intelectualmente pelos lassalleanos,
sustentada enfaticamente por Eduard Bernstein[66],
admitida politicamente, apesar de leves e ligeiras críticas, por August
Bebel e Wilhelm Liebknecht – e rechaçada agudamente por Marx
e Engels[67] -,
a Social-Democracia
Alemã, rumando para a fusão dos eisenachianos e lassaleanos, não
reivindicou absolutamente, em seu “Congresso do Compromisso de Gotha”, ocorrido
entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, a consigna programática de Ditadura
Revolucionária do Proletariado, bem como a indispensabilidade de
destruição armada do aparelho de Estado Burguês pelo proletariado – apesar da
experiência da Comuna de Paris - , mas sim estatuiu a edificação de um Estado
Popular Livre, a ser introduzido em substituição do então existente Estado
Prussiano, assentado, porém, inevitavelmente, sobre a dominação de
classe burguesa-capitalista[68].
Em sua renomadíssima carta a August Bebel, redigida entre 18 e 28
de março de 1875, Friedrich Engels teve oportunidade de escrever nitida e
irrefutavelmente acerca do tema :
“O Estado Popular Livre transformou-se
em Estado Livre.
Considerando-se em sentido gramatical, um Estado Livre é aquele em que o
Estado é livre em face de seus cidadãos, i.e. um Estado com governo despótico.
Dever-se-ia abandonar todo o palavreado acerca do Estado, particularmente
desde a Comuna que, em sentido próprio, já não era mais nenhum Estado.
O Estado Popular foi-nos atirado na cara, até não se poder mais, pelos
anarquistas, ainda que os escritos de Marx contra Proudhon e, posteriormente, o
“Manifesto Comunista” digam diretamente que com a introdução da ordem social
socialista o Estado dissolve-se por si mesmo e desaparece.
Uma vez que o Estado é, porém, apenas uma instituição transitória da qual
se lança mão na luta, na revolução, a fim de reprimir violentamente seus
adversários, torna-se puramente absurdo falar-se de um Estado Popular Livre :
enquanto o proletariado ainda necessita do Estado, dele necessita não no
interesse da liberdade, mas sim para a repressão de seus adversários e, tão
logo pode-se falar em liberdade, deixa o Estado de existir enquanto tal
Por essa razão, proporíamos colocar, em todos os lugares, ao invés de
Estado “Gemeinwesen(comunidade)”,
uma boa e velha palavra alemã que pode muito bem representar a “Comuna”
francesa[69].”
Em uma carta dirigida a Ferdinand Domela Nieuwenhuis, Karl
Marx, ainda em 1881, dois anos antes de sua morte, teve a oportunidade
de confirmar sua concepção de luta do revolucionária do proletariado, no quadro
da perspectiva de formação de um Governo Socialista :
“Não podemos resolver nenhuma equação que não inclua em seus dados os
elementos de sua solução.
Além disso, os embaraços de um Governo surgido repentinamente através de
uma vitória popular não são, de nenhuma forma, algo especificamente
“socialista”. Pelo contrário.
Os políticos burgueses vitoriosos sentem-se, imediatamente, embaraçados com
sua “vitória”, quando o socialista pode intervir, no mínimo,
desembaraçadamente.
Em uma coisa, você pode acreditar :
um Governo Socialista não assume o timão de um país sem situações tão
desenvolvidas em que possa tomar sobretudo as medidas necessárias para atordoar
(no original alemão : ins Bockhorn jagen, i.e. lançar no corno do bode) tanto a
massa da burguesia que o primeiro
desideratum(i.e. objetivo) seja conquistado : tempo para uma ação cerrada.
Você me remeterá talvez para a Comuna de Paris.
Porém, independentemente do fato de que isso se tratou meramente de uma
sublevação de uma cidade, em condições excepcionais, a maioria da Comuna não
era, de nenhuma forma, socialista e nem podia sê-lo.
Com uma mínima quantidade de common sense(i.e. de senso comum), ela teria,
entretanto, podido alcançar um útil compromisso para toda a massa popular –
atingível apenas outrora.
Tão somente a apropriação do Banque de France teria colocado, com terror,
um fim à arrogância de Versalhes etc. etc. ...
A visão científica da desagregação inevitável da ordem social dominante,
sempre em processamento diante de nossos olhos, as massas cada vez mais
flageladas com sofrimentos pelos velhos fantasmas de governo, o concomitante
desenvolvimento positivo, gigantescamente progressivo, dos meios de produção –
isso tudo já basta como garantia para que, no momento da irrupção de uma
revolução realmente proletária, serão dadas também as condições de seu direto,
próximo – ainda que seguramente não idílico - modus operandi(i.e. modo de
agir).”[70]
A concepção manifestamente oportunista da Social-Democracia Alemã
acerca da essência do Estado e do papel da violência revolucionária - considerada por Karl Marx enquanto
parteira de toda velha sociedade que se encontra grávida de uma nova -, foi
ocultada plenamente, a seguir, passando em brancas nuvens, pelo Programa
de Erfurt, de 1891, considerado o Evangélio do Reformismo da II Internacional.
Nenhuma palavra acerca da Ditadura Revolucionária do Proletariado
e da necessidade de preparação da luta armada proletária – quanto menos acerca
da questão da Democracia Burguesa, enquanto forma de Estado em que a última
luta decisiva do proletariado há de ter lugar
- foi consagrada pelo Programa de Erfurt.
Voltando sua atenção para as resoluções do Programa de Erfurt, Karl Kautsky,
à época o principal mentor ideológico da Social-Democracia Alemã e
da II
Internacional, assinalou, expressa e cabalmente, em 1892 :
“Uma tal derrubada (i.e. a derrubada do poder político pelo proletariado)
pode assumir as formas mais variadas, conforme as relações sob as quais se
executar.
De nenhuma maneira, ela tem de necessariamente estar vinculada a atividades
de violência e a derramento de sangue.
Já existiram casos na história mundial em que as classes dominantes foram
particulamente compreensivas – ou particularmente fracas e medrosas -, de modo
que abdicaram voluntariamente em face de uma situação de coação.”[71]
E com efeito !
Dando embasamento às palavras de Karl Kautsky, é de destacar-se que Wilhelm
Liebknecht, no quadro do Congresso de Erfurt, realizado em
1891, há um ano antes da publicação da obra em referência de Karl
Kautsky, pronunciou-se, categoricamente, da seguinte forma acerca da
temática em destaque:
“O elemento revolucionário não se situa nos meios, mais sim no objetivo.
A violência é, desde há séculos, um fator reacionário.”[72]
Wilhelm Liebknecht negava, além disso, a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do
Proletariado para o atingimento
do socialismo – admitindo-a apenas como medida excepcional em caso de guerras[73].
Com tal concepção claramente oportunista de Wilhelm Leibknecht, encontrava-se
também plenamente de acordo August Bebel, o mais célebre e
renomado dirigente operário da Social-Democracia Alemã de então.
Em seu pronuncionamentos no Congresso de Erfurt, de 1891, August Bebel manifestou
sua crença de que, mediante propaganda e agitação, oral e escrita, bem como por
meio de atividade junto ao parlamento do Estado, o proletariado lograria chegar
ao poder.
Nessa mesma oportunidade, Bebel declarou-se, formalmente, da
maneira mais peremptória, contra o emprego de métodos revolucionários violentos
para a tomada do poder político por parte do proletariado[74].
Em suma : Wilhelm Liebknecht, August Bebel, e Karl Kautsky expressavam,
já na última década do século XIX, concepções irrevogavelmente oportunistas e
notoriamente incompatíveis com os princípios revolucionários fundamentais de Marx
e Engels.
As posições dos fundadores do socialismo científico quanto ao papel da
violência revolucionária na história, bem como quanto à tarefa da luta
proletária para destruição do Estado Burguês, passaram a colidir
diamentralmente com as posições dos mais prestigiados dirigentes da Social-Democracia
Alemã e da II Internacional, do século passado.
Acerca do pano de fundo dos métodos utilizados pela corrente oportunista de
Liebknecht,
Bebel e Kautsky para impulsionarem suas disputas políticas de outrora,
dá-nos conta, precisamente, Friedrich Engels, em 3 de abril de
1895, poucos meses antes de sua morte, em uma de suas cartas enviadas a Paul
Lafargue, ao protestar contra as amputações literárias realizadas por Wilhelm
Liebknecht em sua Introdução à Guerra Civil na França :
“Liebknecht permitiu-se a aplicar-me um golpe de mau gosto.
Ele retirou de minha introdução aos ensaios de Marx sobre a França, de
1848-1850, tudo aquilo que lhe servia para a apoiar, a todo custo, a tática
pacífica e refutadora da violência.
Essa tática ele adora pregar desde algum tempo e particularmente nesse
momento em que, em Berlim, estão sendo preparadas Leis de Exceção.
Recomento uma tal tática apenas e tão somente para a Alemanha de hoje, sendo que ainda com reservas consideráveis.
Para a França, a Bélgica, a Itália e a Áustria, essa tática não é adequada,
como um todo, e, para a Alemanha, pode ela se demonstrar inaplicável já amanhã.
Peço-lhe, portanto, esperar por todo o artigo, antes de você o julgar –
provavelmente ele aparecerá no Neue Zeit(Novo Tempo) -, sendo que espero, de um
dia para o outro, exemplares das brochuras.
É lamentável que Liebknecht veja apenas o preto e o branco.
As nuances não existem para ele,
Além disso, as coisas estão quentes na Alemanha, o que promete um fim de
século grandioso. ...”[75]
Acerca dessa carta de Engels a Lafargue, importa ainda
assinalar que, examinando-se o correio dirigido por Richard Fischer a Engels,
em 6 de março de 1895, é de verificar-se a decisão da Presidência
da Social-Democracia Alemã da época no sentido de que seria imperioso
fosse moderado o tom por demais revolucionário empregado por Engels
em sua Introdução à Luta de Classes na França, de 1848 a 1850, de Karl
Marx, aludindo-se ao perigo de reedição de uma Lei contra os Socialistas.
Como resposta a Fischer, Engels fortaleceu, em 8 de março, seu ponto de vista
inequivocamente proletário-revolucionário, voltando-se, claramente, contra a
posição centrista-oportunista da direção social-democrática, consistente em
agir, politica e estrategicamente, sempre nos limites da legalidade burguesa.
Visando à publicação da Introdução no Neue Zeit(Novo Tempo), órgão
teórico da Social-Democracia Alemã, Engels resolveu-se por alterar e
suprimir certas formulações terminológicas mais sobressalientes de seu texto
original, referentes à inevitabilidade da iminente luta armada a ser travada
pelo proletariado alemão, sem modificar, entretanto, o sentido e significado
inapelavelmente revolucionário de sua produção literária.
Entretanto, alguns dirigentes sociais-democráticos, entre eles Wilhelm
Liebknecht e Eduard Bernstein, aproveitaram-se do fato de Engels
ter operado alterações redacionais para, imprimirem nas colunas do Vorwärts(Avante),
órgão quotidiano da Social-Democracia Alemã, o famoso
artigo intitulado “Como se faz Revolução Hoje”, portador de várias amputações
linguísticas do texto original da Introdução, procurando apresentar
seu autor, i.e. Friedrich Engels, como um “pacífico venerador da legalidade quand
même”.
Depois da morte de Engels, em 5 de agosto de 1895, Eduard
Bernstein, encarregado da administração do conjunto das obras
literárias de Engels, negou-se a publicar o texto original não-alterado da Introdução,
em sua versão integral.
Desse modo, os principais dirigentes revisionistas da Social-Democracia Alemã colocaram
em circulação a lenda pueril de que Engels haveria, no final de sua
vida, sopesado devidamente seus antigos pontos de vista revolucionários,
renegando-os em favor do reformismo[76].
Em sua luta contra a falsificação política, marxista-revisionista, do Programa
de Erfurt relativa à questão
da conquista do poder político e da necessidade histórica da Ditadura
Revolucionária do Proletariado para
o atingimento do socialismo, falsificação essa defendida não apenas pelos centristas-oportunistas
sociais-pacifistas, i.e. por Wilhelm Liebknecht, August Bebel e Karl
Kustsky, senão ainda pelos sociais-reformistas da Social-Democracia Alemã,
esses últimos representados, antes de tudo, por Eduard Bernstein e Conrad
Schmidt escreveu Rosa Luxemburg, já em 1903, de modo claro e preciso :
„Partindo do fundamento do socialismo científico de que „a libertação da
classe trabalhadora pode ser apenas obra da classe trabalhadora“, a
Social-Democracia reconhece que subversão, i.e. a revolução para concretização
da reconformação socialista, pode ser realizada apenas pela classe trabalhadora
enquanto tal, e, em verdade, enquanto propriamente a ampla massa, sobretudo a
massa do proletariado industrial.
A primeira ação da transformação socialista tem de ser, portanto, a
conquista do poder político através da classe trabalhadora e a edificação da
Ditadura do Proletariado, necessária incondicionalmente à materialização das
medidas de transição.“[77]
Assim, importa assinalar, em linhas gerais, que, já a partir dos primeiros
anos do século do século XX, três correntes doutrinariamente sedimentadas
combatiam no seio da Social-Democracia Alemã da época:
1. os reformistas economicistas-parlamentaristas, defensores da colaboração de
classes entre proletários e burgueses, comandados por Eduard Bernstein, clamando
pela ampla revisão dos fundamentos da teoria de Marx e Engels, em
benefício praticamente das posições doutrinárias de Ferdinand Lassalle[78] ;
2. os centristas-oportunistas, repudiadores da violência
proletário-revolucionária e protagonistas da democratização do Estado
Burguês, coroada por uma pretensa independência política do partido
proletário e um pretendido Governo dos Trabalhadores como forma
de ascensão ao socialismo, comandandos por Karl Kautsky e pelos mais renomados
dirigentes políticos alemães do proletariado, August Bebel e Wilhelm Liebknecht,
empenhados em conciliar a política quotidiana reformista com a doutrina de Marx
e Engels, desde um ponto de vista constitucional-pacifista ;
3. os proletários revolucionários, fundados, porém, na defesa dos direitos e
liberdades fundamentais de todos os indivíduos e organizações sociais, entre os
quais figuravam Rosa Luxemburg, Karl Liebknecht, Franz Mehring, Clara Zetkin, Leo
Jogliches, Julian Marchlevski, ocupados em combater,
pricipiologicamente, o reformismo economicista e o centrismo oportunista na Social-Democracia
Alemã, retomando e defendendo diversas bases fundamentais da teoria
intelectual e da prática política proletário-revolucionária internacionalista
de Marx
e Engels, de modo a inclinararem-se em direção das posições marxistas
revolucionárias de Lenin.
Nesse contexto, haveria de germinar, no seio das correntes revisionistas,
i.e. reformistas e centristas-oportunistas, da Social-Democracia Alemã, delas
se diferenciando expressivamente, já no curso da primeira década do século XX –
sobretudo após a indicação de Friedrich Ebert, em 1905, para o
posto de Secretário da Presidência do Partido -, e impor-se, crescentemente,
como corrente inquestionavelmente dominante, em particular a partir da morte de
August
Bebel, em 13 de agosto de 1913, um ala mais propriamente
social-chauvinista, encabeçada por Friedrich Ebert, Philip Scheidemann e Gustav
Noske.
Essa corrente social-chauvinista, aprofundando a revisão da doutrina do
marxismo, passou a considerar como sua principal tarefa política a defesa do Princípio
de Defesa da Pátria(Prinzip der Vaterlandsverteidigung), contra as
potenciais nações imperialistas inimigas da Alemanha, em total
detrimento da defesa dos interesses materiais de classes do proletariado
revolucionário.
Quando em 4 de dezembro de 1914, Karl Liebknecht quebrou a férrea
disciplina partidária da Social-Democracia Alemã - empenhada
desde o início da I Guerra Mundial, em 4 de agosto de 1914, em postular a Aprovação
dos Créditos de Guerra(Bewillingung der Kriegskredite) – abstendo-se de
votar esse projeto social-chauvinista, abriu-se o caminho para a fundação de um
novo organismo marxista-revolucionário em solo alemão. Em 2 de dezembro de
1914, votou, pela primeira vez, contra os créditos de guerra.
Tal novo agrupamento de proletários revolucionários haveria de surgir,
inicialmente, sob a bandeira do Gruppe Internationale(Grupo Internacional), que,
desde logo, em razão de seu órgão político, denominado Spartakusbriefe(As Cartas de
Spartakus), passou a ser denominado de Spartakusbund(Liga Spartakus).
Esse agrupamento, encabeçado por Luxemburg e Liebknecht, tendo-se aproximado
da Esquerda
de Zimmerwald, a partir de setembro de 1915, porém não a ela
expressamente aderindo, optou por ingressar, então, no primeiro semestre de
1917, no Partido Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD), fundado a essa época como fruto tardio da
ruptura de março de 1916, encabeçada pelos agora sociais-pacifistas Kautsky,
Haase e Bernstein, contra os novos dirigentes sociais-chauvinistas da Social-Democracia,
reunidos em torno de Ebert, Scheidemann e Noske.
Nada obstante, já em 30 de dezembro de 1918, reuniu-se, na Sala
de Festas da Câmara dos Deputados de Berlim, o Congresso de Fundação do Partido
Comunista da Alemanha(KPD – Liga Spartakus).
Em uma sessão fechada, ocorrida nas vésperas, a Liga Spartakus posicionara-se
apenas com três votos contra a saída do Partido Social-Democrático
Independente(USPD), resolvendo-se em prol da fundação de um partido
próprio.
A esse projeto associou-se também o grupo dos Radicais de Brêmen, denominado
Comunistas
Internacionais da Alemanha, encabeçado por Paul Fröhlich e Johan Knief, redatores
do jornal Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores).
Esse último agrupamento encontrava-se, em verdade, muito mais próximo do Partido
Bolchevique de Lenin do que a Liga Spartakus, à época ainda
dirigida pela orientação política de Rosa Luxemburg, apesar da grande
simpatia que Karl Liebknecht, Clara Zetkin e Franz Mehring, desde a Revolução
de Outubro de 1917, nutriram pelo bolchevismo.
Um terceiro grupo de pequena dimensão, encabeçado por Julian Borchard, denominado
Socialistas
Internacionais da Alemanha, igualmente próximos ao bolchevismo, já não
possuiam praticamente qualquer significado existencial à época do Congresso
de Fundação.
Acerca do tema, Hermann Weber assinalou o seguinte, destacando a influência de Karl
Radek sobre o movimento marxista-revolucionário alemão dessa época :
“No interior da esquerda radical alemã formou-se, durante a guerra três
grupos.
O mais expressivo (e propriamente precursor do PCA(KPD)) foi o Grupo
Internacional(p. 11). ...
O segundo grupo radical, os radicais de esquerda de Brêmen, posicionavam-se
muito mais próximos do que a Liga Spartakus.
Além de seu centro em Brêmen, possuíam pontos de sustentação, no norte, na
Saxônia e no Reno.
Sob a direção de Johann Knief e Paul Fröhlich, editavam o
Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores), um semanário legal, e concordavam
com a Liga Spartakus nas questões fundamentais.
Colaboradores de Arbeiterpolitik(Política dos Trabalhadores) eram também os
dirigentes bolcheviques Lenin, Radek, Zinoviev e Bronski(p. 12).
O representante do grupo, Paul Fröhlich, aderiu, em Kienthal, à Esqueda de
Zimmerwald (leninista) – diferentemente dos representantes da Liga Spartakus.
Plenamente no sentido leninista, os radicais de esquerda de Brêmen também
não entraram no USPD, mas sim lutaram pela fundação de uma partido próprio da
esquerda radical.
Esse grupo chamava-se, desde 1918, “Comunistas Internacionais da Alemanha”.
Um terceiro grupo da radical de esquerda situava-se, sob a direção de
Julian Borchardt, um grande amigo de Radek, igualmente bem próximo dos
bolcheviques.
Esses “Socialistas Internacionais da Alemanha”, como seu órgão
“Lichtstrahlen(O Brilho da Luz)” não possuíam, entretanto, nenhuma influência
sobre as massas digna de menção.
O próprio Borchadt já havia aderido, na Primeira Conferência de Zimmerwald,
a todas as teses leninistas e recusou-se, também, a ingressar no USPD.
A influência de Karl Radek, que já havia atuado na Alemanha antes da
guerra, foi decisiva para o
posicionamento pró-leninista de ambos os grupos mencionados por último.
Apesar de todas as reservas de Rosa Luxemburg, a Liga Spartakus fez, a todo
tempo, propaganda para os bolcheviques, após a Revolução Russa, pois essa liga
situava-se, fundamentalmente, sobre o terreno da Revolução de Outubro(p.13).”[79]
No Congresso Fundacional do Partido Comunista da Alemanha(KPD – Liga
Spartakus) tomaram parte 100 participantes, dentro os quais 83
delegados eleitos por de 43 localidades.
Na ordem do dia, apresentavam informes Karl Liebknecht, acerca da crise do USPD,
Paul Levi, sobre a Assembléia Nacional da República, Rosa
Luxemburg, discorrendo sobre o programa e situação política, Hugo
Eberlein, sobre a organização do partido, Paul Lange, acerca das
lutas econômicas e Hermann Dubcker, tratando das conferências internacionais.
Wilhelm Pieck e Jacob Walcher foram indicados
para a Presidência do Congresso.
No quadro de uma missão clandestina em Berlim, Radek veio a tomar parte, em
dezembro de 1918, do Congresso de Fundação do Partido Comunista
da Alemanha(KPD – Liga Spartakus), sendo que contribui, ativamente,
para o aceleramento da decisão fundacional[80].
Com grande entusiasmo, o Congresso Fundacional saudou Karl
Radek, que interviu na qualidade de representante do Governo
Revolucionário Bolchevique, provocando tempestuosos aplausos.
Radek assinalou, nessa oportunidade, que o novo PCA(KPD)
surgiria como um partido débil, porém não mais débil do que o Partido
Bolchevique, em abril de 1917.
“Para o vosso Congresso, olhamos com grande esperança(p. 18).
Não como se a Revolução Russa se permitisse a ser copiada ...
O caminho da classe trabalhadora será distinto em cada um dos diferentes
países(p.31).”[81]
Em seu discurso proferido nesse Congresso Fundacional é plenamente
possível identificar-se argumentos sibilinos de Radek no sentido de que
um processo revolucionário do proletariado alemão já não se apresentava como
iminente, apesar de a revolução mundial caminhar a passos rápidos. Com efeito :
“Nada mais provoca um tal entusiasmo junto aos trabalhadores russos do que
quando lhe dizemos que o tempo poderá vir em que os trabalhadores alemães serão
chamados para ajudá-los e em que vocês terão de lutar com eles no Vale do Ruhr,
tal como eles, de nosso lado, nos Urais.
Estamos convencidos de que a revolução mundial virá em passo acelerado, que
é mentira ser o bolchevismo a enfermidade dos povos vencidos.
Isso significaria que a classe trabalhadora das nações vitoriosas teria de
permanecer escrava para sempre.
Estamos convencidos que a guerra civil internacional libertar-nos-á da luta
entre os povos.
Porém, ninguém pode calcular a dinâmica de desenvolvimento.”[82]
Desvendando praticamente o significado enigmático
de seu discurso retro-mencionado, Radek opôs-se, logo no mês seguinte,
à iniciativa de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg de apoiar a Greve
Geral de Janeiro de 1919, com ocupação de prédios (Vorwärts – órgão do SPD -,
Diário de Berlim, os conglomerados mediáticos Scherl, Ullstein e Mosse, a Tipografia Büxenstein e o Escritório de Telégrafo Wolff)
e armamento das massas, objetivando à recondução de Emil
Eichhorn ao cargo de Presidente do Comissariado de Polícia de
Berlim, qualificando-a de putschismo blanquista, por
supostamente pretender derrubar imediatamente o Governo de Ebert, Scheidemann e Noske,
sustentado pelos Generais Groener, Lequis e von Lüttwitz, destruindo, de um
golpe, o Estado Burguês Alemão e edificando uma República Socialista Livre dos
Conselhos dos Trabalhadores, mesmo contando com a minoria da classe
trabalhadora.
Com efeito, nos primeiros dias desse novo ano, foram os sociais-democratas
independentes Bretscheid, Rosenfeld e Hoffman, excluídos, sumariamente, do Governo
Imperial Prussiano, comandado pela Social-Democracia Alemã.
Juntamente com esse ato de exclusão, Emil Eichhorn, Presidente do Comissariado de
Polícia de Berlim, igualmente adepto dos independentes, foi
imediatamente deposto.
Logo a seguir, o Partido Social-Democrático
Independente(USPD) e os principais dirigentes do PCA(KPD) conclamaram os
trabalhadores berlinenses a mobilizaram-se e deflagarem greve.
Dos protestos operários surgiram embates armados que, embora
desaconselhados pelos principais dirigentes do PCA(KPD), não vieram a
ser por eles resolutamente condenados e desconvocados.
Acerca desse evento histórico, Radek assinalou, então, com base em
sua acusação de putschismo dirigida não apenas contra Karl Liebknecht, senão
apenas contra Rosa Luxemburg :
“Em sua Brochura de Programa “O Que Quer a Liga Spartakus ?”, vocês
declaram quererem apenas assumir o governo se tiverem atrás de si a maioria da
classe trabalhadora.
Esse ponto de vista inteiramente correto encontra sua fundamentação no
simples fato de que o Governo dos Trabalhadores sem organização de massas do
proletariado é inconcebível. ...
Nessa situação, não se pode pensar absolutamente na tomada do poder pelo
proletariado. Se ele caisse nas mãos de vocês, mediante um golpe de Estado, tal
governo seria estrangulado e esmagado em alguns dias a partir da província.
...
A única força de freio que pode impedir essa infelicidade são vocês, o
Partido Comunista. Vocês possuem suficientemente visão para saber que a luta
não tem perspectiva. Que vocês sabem disso, já me disseram os vossos membros,
os companheiros Levi e Dunckers ...
Nada impede o mais fraco de recuar diante de poder superior.
Detivemos, em julho de 1917, as massas com todas as forças, apesar de
sermos então mais fortes do que vocês e, onde isso não foi possível,
retiramo-las, mediante intervenção abusiva, de uma batalha vindoura sem
perspectiva.”[83]
A seguir, Karl Radek procurou formular suas acusações de putschismo
contra Karl Liebknecht da seguinte forma, mesmo já diante da
impossibilidade desse último esclarecer suas
decisões político-revolucionárias[84] :
“O Distúrbio de Janeiro foi, sem dúvida, um putsch, uma tentativa de
atropelar a burguesia.
A desculpa – não das massas que não precisam se desculpar, pois elas no
início da revolução tinham de estar confusas, mas sim a desculpa de dirigentes,
como Lebedour e Liebknecht – reside em que o poder da burguesia era ainda
extraordinariamente débil, que ela provocava diretamente para um assalto.”[85]
Comentando as posições políticas de Karl Radek, transmitidas apressuradamente
a seus mais diversos simpatizantes por meio de cartas, Alfons Paquet, um dos
mais renomados poetas alemães, permeado nitidamente pelo espírito
democráta-burguês, assinalou acerca da missiva de Radek, que lhe havia sido
endereçada em 20 de março de 1919 :
“Radek acentuou mais uma vez que, tal como todos os outros, ele esteve
contra os Putsches de Janeiro(nos quais ele não desempenhou nenhum papel),
pois, segundo ele, “a conquista do poder político é apenas possível, de nosso
ponto de vista, se temos a maioria da classe trabalhadora atrás de nós. Isso
não tínhamos em janeiro e ainda hoje não o temos.” ...
Recordo-me bem das conversações em Moscou e das declarações da Radek acerca
do caráter da Guerra Civil na Alemanha.
Com coração constrito, também eu era da opinião que, na Alemanha, podia
chegaria tão longe que regimentos de trabalhadores industriais e regimentos das
ligas rurais se entregassem a combates de uns contra os outros. ...
Ao mesmo tempo, em oposição às expectativas sangüinárias produzidas em
Moscou, no outono de 1918 e, particularmente, no quadro da irrupção da
Revolução Alemã, também eu era da
opinião que a dinâmica da revolução na Alemanha não poderia nem ser acelerada
nem atrasada desde fora, sem colocá-la ao máximo em perigo. ...
É possível que também Radek tenha estado contra o ataque, porém vejo nos
lutadores implacáveis o precursor natural de uma tática russa não apenas
nervosa como também brutal.
Rejeito-a, tal como repudio toda violência e vingança em geral, sendo que
não gostaria de ver substituído um militarismo por um outro.”[86]
Impactado pela brutal repressão da Greve Geral de Janeiro de 1919, em
que os Freikorps ceifaram, sumariamente, as vidas de Karl
Liebknecht e Rosa Luxemburg, bem como impressionado pelo Fevereiro
da Covardia, em que Leo Jogiches foi assassinado pelas
costas sob o pretexto que pretendia escapar de sua prisão, Karl Radek, pretendendo
preencher, logo a seguir, o vazio de direção que se produzira no seio do
recém-nascido Partido Comunista da Alemanha(KPD), passou a intervir,
literariamente, nas discussões sindicais alemães, já mesmo do verão de 1919,
quando ainda encontrava-se na prisão de Moabit, em Berlim, gozando de
tratamento privilegiado decorrente de seu status de diplomata soviético
ucraniano.
Tendo sido preso em fevereiro de 1919, Radek gozou do benefício de um
tratamento privilegiado, por ser considerado pelas autoridades militares
alemães como um representante do Estado Soviético Russo.
A partir da prisão de Moabit, Radek logrou tomar parte
ativa na reconformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD) recentemente
decapitado, postulando-se como o melhor especialista bolchevique em matérias
concernentes à luta de classes na Alemanha, em um momento inicial em
que inexistia um contato direto, regular e orgânico entre os organismos
dirigentes revolucionários da URSS e da Alemanha.
Contando com o beneplácito dos Generais Alemães Staff e Ludendorff, de
grandes empresários e políticos, como Felix Deutsch e Walther Rathenau, que
decidiram poupar-lhe a vida a fim de utilizá-lo como contato entre os
interesses do capitalismo alemão e o jovem governo revolucionário de Lenin,
Radek
entrevistava-se não apenas com esses representantes do imperialismo da Alemanha,
senão ainda instruía, em sua vasta e agradável cela de prisão, os principais
dirigentes do comunismo alemão, tais como Paul Levi, August Thalheimer e Ruth
Fischer.[87]
Desfrutando de sua qualidade de membro do Comitê Central do PC da URSS e,
ao mesmo tempo, de representante do Estado Soviético Russo em uma missão
militar e diplomática junto ao Governo Alemão, e, posteriormente,
como membro da Presidência do Komintern, ainda que sem exerçer permanentemente
as funções de membro do Politburo da PC da URSS, Radek logrou
desempenhar um papel de primeiríssima relevância para a definição da nova
orientação política a ser observada pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD) no
ínicio dos anos 20.
Acerca do tema, Trotsky forneceu, precisamente, as seguintes valiosas
observações :
“Por um certo tempo, Radek foi membro do Comitê Central e, nessa condição,
possuiu o Direito de estar presente nas sessões do Politburo.
Por iniciativa de Lenin, as questões sigilosas eram examinadas
invariavelmente na ausência de Radek.
Lenin considerava Radek como jornalista, porém, ao mesmo tempo, não
suportava sua impulsividade, seu comportamento risível em face de questões
sérias, seu cinismo.
É necessário referir aqui a apreciação de Radek, fornecida por Lenin, no
VII Congresso do Partido(em 1918), à época das divergências sobre a Paz de
Brest-Litovsk.
Por ocasião das palavras de Radek : “Lenin abandona a sala, a fim de ganhar
tempo”.
Lenin observou : “- Dirijo-me ao camarada Radek e, aqui, quero registrar
que ele consegue dizer, por acaso,
uma frase séria.” ...
E depois, novamente : “Dessa vez, resultou que se recebeu do camarada Radek
uma frase inteiramente séria.”
Essas observações repetidas por duas vezes expressam a própria essência da
relação para com Radek não apenas por parte do próprio Lenin, senão ainda de
seus colaboradores mais próximos.”[88]
Quando Radek foi liberado de sua detenção, no fim de 1919, tornou-se Secretário
Executivo da Internacional Comunista, de cuja função veio a ser,
posteriormente, afastado por defender, no caso do tratamento do Partido
Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), a orientação política de Paul
Levi e do Partido Comunista da Alemanha(KPD), contra o PC da
URSS, comandado por Lenin.
É certo que as limitações intelectuais, a típica abordagem jornalística das
questões políticas, bem como o método de apreciação impressionista de Karl
Radek, eram já bastante conhecidas por Lenin, Sverdlov e Trotsky.
Ainda que as caracterizações formuladas pelo Politburo da PC da URSS acerca
da luta de classe na Alemanha não viessem a se fundar
preponderantemente nos relatórios e informes a ele fornecido por Radek,
sendo que muitas vezes as propostas desse último não eram aceitas ou
substancialmente modificadas, era notório o fato de que Radek lograva,
paulatinamente, construir-se como um dos mais importantes dirigentes dos
comunistas alemães do início dos anos 20.
Todos os principais dirigentes bolcheviques de então velavam por suas
conexões com grupos de comunistas estrangeiros.
Lenin e Zinoviev eram, particularmente, interessados
pela Alemanha.
Trotsky era um dos principais especialistas do
Politburo da PC da URSS e do Komintern para questões relacionadas com a
luta de classes da França e da Espanha.
Rykov, Bukharin e Zinoviev dedicavam-se, além disso, às
questões italianas.
A predisposição de Radek em envolver-se nas questões
relativas à construção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e
dedicar-se à análise da dinâmica da luta de classes revolucionárias da Alemanha,
situada no quadro de sua pretensão de ingressar em um importante Politburo
a fim de desempenhar um papel de primeira importância na definição dos
planos partidários mais decisivos, fazia com que Radek fosse considerado,
no início dos anos 20, o membro do Comitê Central do PC da URSS mais
profundamente conhecedor do movimento revolucionário da Alemanha e mais bem
informado de todos os detalhes da vida política comunista e
contra-revolucionária desse país.
Com efeito, fundado na experiência de sua militância na Social-Democracia
Alemã, entre os anos de 1908 e 1913, esse último ano em que foi expulso
de suas fileiras no quadro de um processo escandaloso, orquestrado por Rosa
Luxemburg e Leo Jogiches desde a Social-Democracia Polonesa, Radek voltou
a intensificar suas viagens à Alemanha, entre os anos de 1918 e
1921.
Como saldo dessa atividade, resultou que conhecia centenas de militantes
alemães pessoalmente, inúmeras cidades e províncias, bem como dispunha do saber
relacionado com a elaboração de diversos documentos partidários muito
condizentes com a realidade político-institucional desse país.
Aliado desde 1908 com os agrupamentos sociais-democráticos de August
Thalheimer, de Göppingen, e de Anton Pannekoek, de Brêmen,
Radek
possuía, além disso, um núcleo militantes alemães sempre dispostos a
fazer publicar suas concepções políticas acerca da dinâmica da revolução
socialista internacional, seja nas colunas do Freie Volkszeitung(Gazeta Livre
do Povo), de Thalheimer, seja nas páginas do Arbeiterpolitik(Política dos
Trabalhadores), de Pannekoek, seja ainda na editora
comunista Carl Hoym, de Hamburg.
Muitos dos trabalhos de Radek, produzidos diretamente em
língua alemã, no início dos anos 20, haviam se convertido em manuais para a
militância, sendo estudados intensamente e tomados como orientação verdadeiramente
bolchevique, em sua direta aplicação na realidade objetiva da luta de classes
da Alemanha,
como o que adquiriam mais relevância do que os textos produzidos pelos
dirigentes alemães de então, como Paul Levi, August Thalheimer, Clara Zetkin,
Jacob Walcher, Wilhelm Pieck e Heinrich Brandler.
Depois da morte da velha direção revolucionária alemã de Karl
Liebknecht, Rosa Luxemburg e Leo
Jogiches, apesar de suas expressivas diferenças políticas com esses
últimos e, no caso de Luxemburg e Jogiches, apesar de suas
marcadas disputas pessoais de intrigas e perseguições, Radek conseguiu atrair
para sua influência a grande maioria dos dirigentes alemães sobreviventes.
Todos os principais dirigentes do Partido Comunista da Alemanha(KPD) passaram, em fins de 1919 e início dos anos
20, a sustentar a direção política de Karl Radek, considerado como o mais
legítimo representante do bolchevismo leninista em solo alemão.
Nada obstante, a orientação política de Radek, formulada segundo sua
metodologia e concepção próprias, primava, constantemente, por uma tonalidade
pessimística, hesitante e cética acerca da possibilidade de desenvolvimento das
lutas revolucionárias na Alemanha e, nesse sentido, da
capacidade de construção politicamente independente do Partido Comunista da
Alemanha(KPD).
Em um primeiro momento, Radek ligou-se, intensamente, a Paul
Levi, que assumiu a função de Presidente do PCA(KPD) desde os
mêses subseqüentes a morte de Liebknecht e Luxemburg, ocorrida em
janeiro de 1919, até fevereiro de 1921, pretendendo persuadí-lo acerca da
necessidade de conquistar as massas para a revolução proletária socialista
alemã, renunciar às tendências esquerdistas de Liebknecht e seus
admiradores, trabalhar mais intensamente nos sindicatos e prestigiar
grandiosamente as tribunas eleitorais e parlamentares.
Já no início de outubro de 1919, em uma sua famosa carta ao II
Congresso de Heidelberg e Mannheim, do Partido Comunista da Alemanha(KPD),
Radek pronunciava-se da seguinte forma :
“Porém, se é uma ilusão oportunista procurar tranqüilamente por vitórias,
então é uma ilusão revolucionária pensar em um ascenso linear, em um avanço
ininterrupto da revolução.
A revolução mundial é um processo muito lento, durante o qual existirá mais
do que uma derrota.
Com efeito, não tenho dúvida de que em todos os países (obs. por
consegüinte também na Rússia Soviética
!), o proletariado será forçado a, por diversas vezes, construir sua ditadura e
vê-la desabar, até que vença definitivamente.”[89]
Além disso, em sua renomadíssima broschura, redigida especialmente para o
congresso em destaque, denominada O Desenvolvimento da Revolução Alemã e as
Tarefas do Partido Comunista, Radek assinalou, expressamente, após
destacar que o “Distúrbio de Janeiro” havia sido, sem dúvida, um Putsch,
i.e. um Golpe de Estado, ou ainda “uma tentativa de atropelar a burguesia” :
“Entendemos que o Partido Comunista pode fazer como ponto de partida de sua
política a perspectiva de uma próxima onda ascendente da revolução, de um
alargamento da revolução mundial. ...
Não existe a menor dúvida para nós que a burguesia não será capaz de
estabilizar sua dominação, por isso rejeitamos a adaptação oportunista ao
período de empantanamento.
Porém, é muito provável que a luta revolucionária de massas pela Ditadura
Proletária requeira muito tempo.
É preciso investigar os motivos disso, bem como as questões de tática na
luta econômica e política que daí decorrem.
A investigação da mecânica dessa luta dará, por si mesmo, a resposta às
nossas controvérsias táticas.”[90]
Em sentido lógico-político, Radek estava, já em 1919,
profundamente convencido de que, durante um longo período, o
Partido Comunista da Alemanha(KPD) não mais poderia fazer senão
organizar a vanguarda de lutadores proletários e impulsionar atividades de
propaganda, impedindo confrontações das massas sublevadas contra o poder do Estado
Burguês Alemão.
Quando essa sua orientação manifestamente cético-pessimística reavivou a
defesa de posições abertamente oportunistas por Paul Levi, discípulo
inseparavelmente fiel à doutrina teórico-política e partidário-organizativa de Rosa
Luxemburg, Radek lançou mão de apreciações entusiasticamente
combativas, fundadas nas posições bolcheviques de Lenin, Sverdlov e Trotsky, para
polemizar contra Paul Levi acerca do caráter, sentido e significado das Revoluções Bávara e Húngara,
de 1919.
Isso não impediu, entretanto, que Radek e Levi continuassem
compartindo a direção do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e
já em seu balanço histórico acerca dos anos de 1918 e 1919, Radek
formulou a seguinte caracterização, formulada em seu discurso proferido
junto ao III Congresso Mundial do Komintern, entre 22 de junho e 12 de
julho de 1921, sugido sob o título “O Caminho
da Internacional Comunista” :
“Em 1918-1919, o partido consistia de diversos milhares de trabalhadores,
sendo que o Liga Spartakus tinha o papel de segurar a classe trabalhadora e
evitar choques desnecessários.”[91]
De maneira cético-jornalística, Radek procurou, em suas publicações
e discursos do início dos primeiros anos do anos 20, fundar sua orientação
política central para o desenvolvimento das lutas revolucionárias de classes na
Alemanha,
consistente em demonstrar a impossibilidade de desenvolverem-se as
forças do Partido Comunista da Alemanha(KPD) no campo das lutas, dos
embates e dos conflitos abertos de classes contra as instituições de exploração
e dominação do Estado Burguês, conquistando crescentemente a confiança da
classe trabalhadora, hegemônica sobre todas demais massas socialmente oprimidas
sob sua direção social e política.
Com efeito, no fundamento de seu marcado tom pessimista, Radek
admitia abertamente a possibilidade de a Ditadura Revolucionária do
Proletariado, instaurada pela Rússia Soviética, não ser capaz de
resistir à ofensiva do capitalismo imperialista mundial.
Em função dessa premissa originária, competiria ao Partido Comunista da
Alemanha(KPD), dedicando-se preponderantemente a atividades
propagandísticas, atrelar-se, mediado por críticas e denúncias, à dinâmica de
luta da Social-Democracia Alemã, como forma de, através de cooperação,
infiltração, desintegração e reconsolidação,
arrebatar-lhe a influência sobre as grandes massas proletárias alemães.
Dessa forma, a minoria comunista revolucionária haveria de ser educada de
maneira a poder intervir sobre a maioria dos quadros da Social-Democracia, sob
pena de permanecer inteiramente isolado no quadro dos eventos políticos
subseqüentes.
As atividades dos comunistas haveriam, assim, segundo Radek, de concentrarem-se
em uma luta propagandista de defesa do socialismo revolucionário e da Rússia
Soviética.
Nesse contexto, os diversos eventos da luta de classes mundial surgiam
interpretados como expressões cabais e confirmatórias dessa abordagem hesitante
e pessimista, sendo que a proposta de Radek de luta comum do
Partido Comunista da Alemanha(KPD) com o Partido Social-Democrático
Alemão(SPD) e as organizações sindicais situadas sob sua órbita de
influência, haveria de ser enfocada e compreendida nos termos daquele seu
enfoque fundamental, permeado de críticas e denúncias elucidadoras.
No quadro do II Congresso Mundial do Komintern, ocorrido entre 19 de julho e
7 de agosto de 1920, Radek seria, entretanto, afastado de
sua função de Secretário Executivo do Komintern, em decorrência de seu
posicionamento solidário a Paul Levi, em sua luta contra a
admissão do Partido Comunista dos Trabalhadores Alemães(KAPD), de Hermann Goerter,
Anton Pannekoek e Marx Hoelz, de linha comunista-esquerdista, como
partido simpatizante do Komintern.
Nesse congresso, Karl Radek demonstrava, claramente,
sua pretensão de consolidar-se, prioritariamente, junto aos principais
dirigentes do Partido Comunista da Alemanha(KPD), votando contra a posição
estabelecida forrmalmente pelo PC da URSS, comandado por
Lenin.
Entretanto, tal como bem assinalou Clara Zetkin, quando no quadro da Campanha
Polonesa de Setembro de 1920, Karl Radek e Paul Levi opuseram-se, decididamente,
ao otimismo bolchevique acerca das perspectivas das lutas revolucionárias da Polônia,
Lenin foi o primeiro a reconhecer o acerto de caracterização de Radek,
qualificado, então, por Lenin, antecipadamente, como “derrotista”[92].
Nesse sentido, Radek observou, por diversas vezes, valendo-se desse seu acerto
de caracterização, para fortalecer suas futuras posições políticas :
“Podem surgir também situações nas quais o Comitê Central do Partido tenha
de dizer que, no momento, nenhuma crítica é permitida.
Quando sofremos a derrota na Campanha Polonesa, ocorreram, junto à nós,
divergências de opiniões muito duras e, apesar disso, nenhum de nós escreveu um
artigo acerca do tema.
Aqueles companheiros em posição dirigente que, durante a Campanha, assumiram
uma posição crítica – eu estava entre eles – diziam depois da derrota : o mais
importante não é, de maneira nenhuma, atestar para a história que eu me
encontrava correto em face de outros companheiros.
E, pudemos abrir mão de uma crítica pública, porque todos entendemos os
motivos e as causas dos erros, sabendo-os poderá-los.”[93]
Essa ocorrência fortaleceu, inquestionavelmente, os posicionamentos de Radek
no interior do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e
do Komintern,
abrindo-lhe caminho para seguir defendo suas concepções fundamentais,
de matiz jornalístico-cético.
Segundo Radek, mesmo o poderoso despregar da energia do proletariado
alemão expressado, a seguir, em sua inconstestável vitória sobre o Golpe
Militar Contra-Revolucionário de Kapp-von Lüttwitz e as forças dos
Freikorps, em março de 1920, forçando um dos mais representativos
políticos reformistas do sindicalismo alemão, Carl Legien, a exigir a
constituição de um “Governo dos Partidos e dos Sindicatos Operários”, integrado
por sociais-democratas independentes e comunistas revolucionários, não
modificariam o fato de o Partido Comunista da Alemanha(KPD) sofrer
de insuficiência existencial para construir-se independentemente, mesmo
tendo-se em conta a circunstância de que tais métodos combativos de rua eram
totalmente estranhos à política da Social-Democracia Alemã da época.
A partir dessa premissa político-analítica, Radek opôs-se,
acerbamente, a Declaração Oficial de 23 de Março de 1920 do PCA(KPD), firmada
pela maioria de seu Comitê Central, que, rejeitando ingressar na formação do Governo
de Coalizão dos Trabalhadores, proposto por Carl Legien, assegurava-lhe
a prática de uma oposição leal a esse governo, que não culminaria na deflaração
de um levante armado para derrubá-lo.
De início, hostil à fusão do Partido Comunista da Alemanha(KPD) com
a maioria dos sociais-democratas independentes de esquerda, comandados por Ernst
Däumig, Radek passou a apoiá-la, inesperadamente, ao verificar que
tanto a maioria da direção do PCA(KPD) quanto a do Komintern
sufragavam-na inteiramente[94].
Com efeito, a ala esquerda social-democrática independente, opondo-se
abertamente às posições de Karl Kautsky, Rudolf Hilferding, Wilhelm
Dittmann e Artur Crispien, passou, nessa época, a sufragar os 21
Pontos estabelecidos pelo Komintern para ingresso em suas
fileiras, entre os quais constatavam a aceitação do princípio do centralismo
democrático, a promoção do apoio incondicional a toda e qualquer República
dos Conselhos, o acatamento das resoluções dos Congressos e do
Executivo do Komintern.
No Congresso Extraordinário dos Sociais-Democratas Independentes, ocorrido
de dezembro de 1920, operou-se a já esperada ruptura entre a ala majoritária de
esquerda de Däumig(237 delegados) e ala de direita de Hilferding(156
delegados), sob o impacto da intervenção oral de Grigori Zinoviev que
dizia : “Vocês têm de decidir claramente em prol do menchevismo ou do
bolchevismo !”[95]
Sendo assim, logo após a fusão da ala esquerda do Partido Social-Democrático
Independente da Alemanha(USPD) com o Partido Comunista da
Alemanha(KPD), operada entre os dias 4 e 7 do mesmo mês de dezembro de
1920, no quadro do Congresso de Halle, dando nascimento ao Partido Comunista Unificado da
Alemanha(VKPD), sob a Presidência de Paul Levi e Ernst Däumig, Radek apreciou
a situação política da Alemanha, em seu renomadíssimo livro
“Deve
o Partido Comunista Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação
Revolucionária ou Partido Centrista do Ficar Esperando ?”, lançando mão dos seguintes termos :
“A grande maioria dos trabalhadores alemães encontra-se ainda à direita do
Partido Comunista.
É evidente que ela está profundamente insatisfeita com sua situação.
Os trabalhadores dos sociais-democráticos expressam sua disposição nas
colunas do “Vorwärts!(Avante!, i.e. o órgão da Social-Democracia Alemã) de modo
não diferente que os trabalhadores comunistas fazem-no em sua imprensa.
Porém, essas massas estão convencidas de que a conquista do poder político
pela classe trabalhadora é, no momento, impossível, que os proletários são
muito fracos para manter o poder conquistado e temem as privações da luta.
Consideram o objetivo comunista, a tomada do poder político, uma utopia e
estão dispostas a ingressar na luta apenas em prol dos objetivos mais próximos.
Elas estão repletas de ilusões democráticas.
Eles ainda esperam poder melhorar sua situação sem derrubar a dominação
capitalista.
Ao mesmo tempo, entrevêem os comunistas enquanto os rupturistas conscientes
do movimento proletário.
Se os comunistas não tivessem rompido o proletariado, se os trabalhadores
estivessem de acordo, teriam conquistado a maioria no Governo e tudo estaria
bem.
Assim, a insatisfação das massas trabalhadoras situadas à direita volta-se
não tanto contra o Governo Capitalista, contra os Independentes, que se
esquivam a toda e qualquer luta séria, quanto contra o Partido Comunista, o
único representante conseqüente dos interesses de classe do proletariado(p.
21).
Nessa situação, é claro que não
podemos contar com movimentos espontâneos desorganizados na Alemanha, a
menos que essas massas sejam colocadas em movimento por alguns eventos
externos, que as sacudam inteiramente.
Dez milhões de trabalhadores são membros das organizações sindicais livres.
Eles atentam para seus dirigentes, ouvem suas consignas.
A estratégia comunista tem de ser a de convencer essas amplas massas de
trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não
apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não
lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora(p. 22).
Como poder ser levada essa consciência aos trabalhadores ?
Através do caminho da propaganda.
A propaganda e a agitação devem vincular-se aos processos que se desenrolam
diariamente diante dos olhos da massa de trabalhadores(p. 23)”[96]
Procurando atenuar o impacto de sua orientação política eminentemente propagandístico-agitativista,
cético-jornalística, Radek assinala, imediatamente a seguir, nessa mesma sede, de maneira
deslocada, secundarizada, enfraquecida, obscurecida, procurando reequilibrar
sua argumentação precendente :
“A principal tarefa dos comunistas consiste, portanto, em conduzir nos
sindicatos não apenas propaganda comunista, senão também em demonstrar-se como
os mais enérgicos e prudentes lutadores em favor dos interesses diários dos
trabalhadores.”[97]
De acordo com sua orientação política hesitante-pessimista,
lânguido-insegura, tíbia-vacilante, legitimando, implicitamente, até mesmo a
possibilidade de a luta dos comunistas revolucionários voltar-se também contra
setores burocrático-reformistas e contra-revolucionários que se fundam no proletariado
e falam em seu nome, Radek pronunciou-se da seguinte
forma acerca de sua Carta Aberta, de 8 de Janeiro de 1921, redigida conjuntamente
com Paul
Levi, acerca do conteúdo e forma da tática de Frente Única a ser
desenvolvida na Alemanha :
“Esses movimentos de pensamento formam o fundamento da posição dos
comunistas alemães, desde o momento em que, no verão de 1919, opuseram-se à
idéia de sair dos sindicatos.
Essa idéia encontrou sua expressão na tática da Carta Aberta, de janeiro de
1921.
O Comitê Central do Partido Comunista dirige-se, abertamente, a ambos os
partidos sociais-democráticos, ao Partido Comunista dos Trabalhadores da
Alemanha (KAPD), à Central Sindical, aos Sindicalistas e aos sindicatos de
trabalhadores, com a proposta da luta comum por uma série de necessidades mais
candentes e inadiáveis da massa trabalhadora. ...(p. 24)
Nós elaboramos essas táticas no
interior de fábricas, sindicatos e cidades singulares, ao longo dos últimos
dois anos(p. 25). ...
A tática da Carta Aberta tem por objetivo conduzir a vanguarda do
proletariado alemão, os comunistas, a uma ligação mais viva com as massas
trabalhadoras atrasadas.
Porém, com isso foi colocada também a questão da relação da vanguarda
comunista com as massas trabalhadoras que se movem em direção do comunismo.
Uma vez que a ação, iniciadora da Carta Aberta de 8 de janeiro, precisou de
um longo período até que pudesse produzir efeitos, esse problema, situado
diante dos olhos, permaneceu em segundo
plano, i.e não foi colocado conscientemente.
Que ele existia, que uma parte dos companheiros dirigentes ou dele tinha
desconhecimento ou o resolvia de maneira equivocada, demonstra-o já o artigo,
surgido na “Rote Fahne(Bandeira Vermelha)”, em 8 de janeiro, visando à
fundamentação da ação impulsionada.
Esse artigo motivou a ação iniciada de um modo a provocar imediatamente
dúvidas em uma série de companheiros mais atentos.
O autor do artigo do artigo (i.e. Paul Levi, em estreita colaboração
intelectual com Karl Radek) escreveu :
« A luta dos comunistas contra
outros partidos não deve se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado
contra outra. »(p. 33).”[98]
Procurando, então, enfraquecer, a dimensão dessa sua orientação política
acerca da Frente Única, formulada originalmente em conjunto com Paul
Levi, Radek procura esclarecer, a seguir, nessa sua mesma
renomadíssima obra em destaque, intitulada “Deve o Partido Comunista Unificado da
Alemanha ser um Partido de Massas da Ação Revolucionária ou Partido Centrista
do Ficar Esperando ?” :
“Na Carta Aberta, impressa ao lado do artigo, os sociais-democratas e os
independentes não são referidos, de nenhuma forma, como partidos proletários.
Eles são mencionados enquanto partidos “que se apóiam sobre o proletariado”.
Com isso marca-se, de antemão, a distância entre o partido comunista,
proletário, e os partidos que organizam o proletariado, com vistas a
desorganizá-lo.
Na Carta Aberta, preserva-se não apenas o ponto de vista principista do
partido comunista, senão ainda – apesar de a Carta procurar promover a ação
comum – abre, em seus parágrafos finais a perspectiva para lutas que serão
iniciadas contra seus destinatários no caso eles pertubarem a Frente Comum do
proletariado.
No artigo, que naturalmente era
muito mais livre do que a própria Carta, não se tocou nessa motivação em
nenhuma palavra.
Pelo contrário, esclareceu-se,
pela primeira vez, que a vanguarda comunista não conduz nunca lutas contra as
massas atrasadas e declarou-se, em segundo lugar, que, no interior do
proletariado, nunca se conduz lutas “pela vontade do partido.”[99]
Enquanto um dos protagonistas intelectuais da Carta Aberta de 8 de Janeiro de
1921, Radek haveria de surgir no quadro do Komitern – ao lado de Paul
Levi -, como um dos primeiros e principais estrategistas da tática de Frente
Única, apesar de ser essa última consideravelmente reinterpretada pelos
bolcheviques, a partir do III Congresso Mundial do Komintern,
como um autêntico instrumento de luta revolucionária para a emancipação do proletariado.
Acerca da gênese histórica da tática de Frente Única, Zinoviev escreveu,
por exemplo, o seguinte :
“Em que consiste, então, a tática da Frente Única ?
Em que consiste o novo, que começamos a preparar, mais ou menos, desde
1921, formulamos em 1922, e, agora, em 1923, executamos a todo vapor ? ...
Em curtas palavras, trata-se do seguinte : até inclusive o II Congresso
estávamos todos nós repletos de esperança de que a revolução proletária
transcorreria de modo significativamente mais rápido, que a decomposição da
sociedade burguesa provocada pela guerra seria muito mais forte, que seu rancor
nos daria a possibilidade de apelar diretamente às massas por cima das cabeças
dos dirigentes sociais-democratas, aproximando-as de nós, conduzindo-as em luta contra a burguesia.
Essa era nossa esperança.
Através disso era também determinada a linha da Internacional Comunista até
o II Congresso.
Não se tratava apenas de nosso desejoso piedoso : nossa esperança assentava
em muitos fatos daquele tempo.
Passou-se, entretanto, coisa diferente.
Desde o II Congresso começou a tomar assento em nossas fileiras uma outra
convicção.
O rancor das massas era grande, porém a disposição declinava.
Constatou-se que a burguesia senta-se ainda firmemente sobre a sela.
Constatou-se que a Social-Democracia apóia-se sobre massas ainda maiores do
que supúnhamos.
Em uma palavra : constatou-se que a revolução mundial se desenvolve muito
mais lentamente do que esperávamos e, em face de tudo isso, tivemos de
abandonar a esperança de puxar para nós as massas trabalharas
sociais-democráticas por cima da cabeça de seus dirigentes.
Dissemo-nos : uma coisa permanece como antes. Temos de conquistar, a todo
custo, um estreito contato com os trabalhadores sociais-democráticos, porém os meios
para conquista desse objetivo há de ser modificado.
Agora não conseguiremos puxar para nós as massas sociais-democráticas por
cima da cabeça dos dirigentes.
Precisamos, por isso, tentar desmascarar esses dirigentes perante os olhos
das massas.
Temos de avançar, passo a passo,
contra esses dirigentes, talvez ao longo de anos, e, então,
conseguiremos que uma grande parte dos trabalhadores sociais-democráticos vejam
finalmente aquilo que se esconde por detrás dos dirigentes
sociais-democráticos.
E isso deu impulso à nova tática de Frente Única.”[100]
Acerca de seu próprio posicionamento sobre a tática de Frente Única, destacou o
então Presidente do Komintern, conhecido, no quadro dos II e
III Congressos Mundiais do Komintern, por seus posicionamentos esquerdistas-oposicionistas
:
“Confesso-lhes, companheiros, um pequeno segredo.
Muitos de nossos bons amigos, mesmo aqueles do partido alemão, suspeitam de
meus pequenos pecados já que falo apenas tanto do lado estratégico da coisa,
sendo eu propriamente um adversário disfarçado da tática de Frente Única.
Isso é evidente ridículo. Sou absolutamente a favor da tática de Frente
Única.
Remeto-lhes às minhas teses de 1921.
No entanto, também eu tive, outrora, algumas objeções. Em 1921, muitas
coisas não me estavam claras. Esses períodos de transição do II para o III e do
III para o IV Congresso não foram fáceis.
De início, todos tínhamos a esperança de que derrotaríamos imediatamente a
burguesia e puxaríamos para nós os trabalhadores sociais-democráticos por cima
da cabeça de seus dirigentes. A transição foi, de fato, difícil.
Porém, já ao tempo do III Congresso a questão já estava decidida.
Agora, não pode mais existir nenhuma oscilação na questão da adequabilidade
da tática de Frente Única.”[101]
Se Radek haveria de surgir como o principal autor intelectual da Carta
Aberta de 8 de Janeiro de 1921, isso não o impediu de combater Paul
Levi, logo a seguir, quando o Politburo do Komintern deflagrou
luta implacável contra esse último, co-autor do documento da carta aberta em
destaque.
Abrindo-se a luta fracional contra o oportunismo de Paul Levi, impulsionada
pelo Komintern
desde o Congresso de Livorno de ruptura com o Partido Socialista de Serrati e
fundação do Partido Comunista Italiano, sob a direção de Amadeo
Bordiga, na segunda metade de janeiro de 1921, Radek, aderindo,
posteriormente, a essa luta, apoiou a oposição de esquerda à
Levi, da qual ele erá até então adversário, em todo período que
conduziu até a realização do III Congresso da Internacional Comunista,
ocorrido entre 22 de junho e 12 de julho de 1921.
Com efeito, Levi opôs-se severamente à política do Komintern na Itália,
acusando-o de impedir a construção de partido de massas em favor da
formação de seitas esquerdistas.
Depois da demissão de Paul Levi, Ernst Däumig, Clara Zetkin e
outros do Comitê Central do PCA(KPD), Radek, encontrando no novo
presidente do partido, i.e. em Heinrich Brandler, bem como em seus
antigos fiéis aliados desde do período anterior à guerra, August Thalheimer e Paul Fröhlich,
verdadeiras expressões para sua pretendida concepção de revolução
proletária para a Alemanha, aprofundou, cada vez mais salientemente, sua
perspectiva de atrelamento do comunismo revolucionário alemão aos interesses
reformistas-economicistas e centristas-oportunistas das variadas formas de Social-Democracia
desse país.
Nesse contexto político-histórico, Karl Radek destacou aos defensores
de sua orientação política na Alemanha :
“Valiosos companheiros
1.A situação aqui é a seguinte : necessidade de grandes concessões aos
camponeses, o que significa fortalecimento momentâneo dos elementos
capitalistas.
Para o exterior, concessões. Grande trabalho, para manter o exército capaz
de combater. Igualmente grande o trabalho de empregar a guarda ariana dos
proletários fatigados, dando-lhes estímulos de coragem e de luta. A primavera e
o verão serão muito difíceis. Aqui, torna-se muito necessária a ajuda do
exterior para a elevação da confiança nas massas.
2. A situação junto a vocês é clara para mim. Levi procura construir uma
fração com a consigna : Partido de Massa ou Seita.
Isso é um engodo, pois ele dispersa o partido com sua política, enquanto
nós, mediante a ativação de nossa
política, queremos arregimentar novas massas.
Ninguém pensa aqui em ruptura mecânica ou qualquer ruptura em geral na
Alemanha.
É necessário elaborar claramente os antagonismos e tornar dirigente a ala
esquerda, intelectualmente.
Levi vai arruinar-se rapidamente. É indispensável fazer tudo para
permitir-se que Däumig e Zetkin se arruinem com ele.
3. Tudo depende da situação política. Se aumentar a fratura entre a Entente
e a Alemanha, surgir talvez guerra na Polônia, conversaremos. Precisamente
porque essa possibilidade existe, vocês têm de fazer tudo para mobilizar o
partido.
Não se pode disparar nenhuma ação pelo revólver.
Se vocês não fizerem tudo agora para, mediante a pressão interrompida por
ação da massa comunista, incitar o
sentimento de sua necessidade, vocês fracassarão novamente em um grande
momento.
Nas decisões político-mundiais, pensem menos na fórmula “radical” do que na
ação, no meter as massas em movimento.
Se ocorrer guerra, não pensem na paz ou apenas em protesto, senão nas
guerras armadas.
Isso tudo às pressas, no congresso do partido(i.e. no quadro do X Congresso
do PC da URSS).
Tudo o demais, fa-lo-ei em artigos.” [102]
Entrementes, oscilando estratigicamente para a esquerda, pretendendo
claramente se diferenciar do legado de Paul Levi, com quem até então dividia
a direção do PCA(KPD), Radek aliou-se à tese de Ativação Revolucionária do
Partido, havendo de criticar, porém, posteriormente, a forma segundo a
qual se a impulsionava.
Nessa sua errática e efêmera simpatia para com as fileiras do Comunismo
Esquerdista e pela Teoria da Ofensiva, i.e. a Teoria
do Ataque Revolucionário Tempestuoso, equacionada ideologicamente por Nikolai
Bukharin e Grigori Zinoviev, exaltada, teoricamente, em solo alemão,
antes de tudo, por August Thalheimer e Paul Fröhlich, bem como impulsionada,
praticamente, pela intervenção política de Bela Kun e Alexander Guralsky[103], é
possível reconhecer-se, mais uma vez, um dos traços plenamente conformadores
dos posicionamentos hesitantes, multiformes, oscilantes, reticentes, versáteis
de Radek.
Sobretudo ao ter-se em conta o fato de que, mesmo nessa ocasião, Radek
não se afastou perspectivisticamente de sua tradicional postura
cético-pessimística relativamente à dinâmica das ações revolucionárias
independentes da classe trabalhadora da Alemanha.
Nada obstante, a Ativação Revolucionária do Partido encontrou
na Alemanha
uma aplicação meridianamente clara e manifestamente falida na Ação
de Março de 1921[104].
Nesse episódio histórico, os trabalhadores das minas de carvão de coque,
carvão poroso obtido como resíduo da destilação da hulha, da região da Alemanha
Central, ao redor de Mansfeld, manifestaram uma
disposição revolucionária de luta nitidamente superior àquela de outras
localidades da Alemanha.
Quando o governo da República Imperial de Weimar iniciou
com represálias contra esses mineiros, o Comitê Central do Partido Comunista da
Alemanha(KPD) conclamou as massas trabalhadoras da Alemanha Central a
decretarem greve geral, a qual deveria ser, logo a seguir, radicalizada rumo à
deflagração de um levante armado e à constituição de um Governo dos Trabalhadores.
Abandonando, inopinadamente, as caracterizações prevalentes no Komintern
de que, desde as derrotas revolucionárias de 1919, em parte recobradas
com as lutas de Março de 1920, ocasião da enérgica reação contra o Golpe
Contra-Revolucionário Kapp-von Lüttwitz, o movimento revolucionário do
proletariado alemão encontrava-se, de conjunto, em uma situação defensiva, sem
revestir-se de imediata dinâmica de preparação de uma insurreição armada para
resolução da consigna do poder do Estado, tal Comitê Central decidiu
transitar, precipitadamente, para ações ofensivas de provocação de luta, como
forma de Ativação Revolucionária do Partido.
Desencadeados movimentos grevísticos em algumas partes restritas do Ruhr,
de Berlim, da Saxônia e da Turíngea, espocou com
força a greve geral e o levante armado dos mineiros em Mansfeld, impulsionado,
antes de tudo, pelo PCA(KPD) e e uma reduzida parcela da classe trabalhadora alemã[105].
Os destacamentos de combate operários de Mansfeld lutaram
aguerrida e corajosamente por cerca de uma semana, impedindo que o
Exército Imperial Alemão ingressasse na região, sendo que vilas e
cidades mudavam de mãos freqüentemente.
Como o proletariado em todas as demais partes da Alemanha não sustentasse
ativamente o movimento grevístico dos mineiros e não constituisse mais
numerosos focos insurrecionais de vanguarda, a Ação de Março conheceu
uma fragorosa derrota em face do impiedoso ataque do Exército Imperial Alemão.
Um magnífico exemplo plenamente negativo para a determinação do momento de
um levante armado do proletariado revolucionário há de ser, pois, estudado na Ação
de Março de 1921[106].
Os resultados decorrentes da repressão das forças burguesas-capitalistas
alemães a essa Ataque Revolucionário Tempestuoso foram sumariados,
numericamente, da seguinte forma :
“Durante as razzias nos bairros operários, cerca de 50 a 60 trabalhadores
foram assassinados.
Alguns dos prisioneiros foram espancados por soldados do Exército Imperial
e forçados a gritar nas ruas “Vida Longa ao
Exército do Império!”(p. 176).
Em conexão com a Ação de Março, cerca de 6.000 companheiros foram presos,
sendo que cerca de 1.500 foram detidos por uma semana ou duas e, depois,
liberados sem processo.
Dos 4.500 processados, 500 foram absolvidos e os 4.000 restantes foram
sentenciados a total de 3.000 anos de prisão.
Assistência legal para tais casos era prestada pela Departamento Jurídico
Central (Juristische Zentralstelle) e apoio para suas famílias, organizado pela
Ajuda Vermelha (Rote Hilfe)(p. 220).”[107]
A luta de Radek contra as posições de Paul Levi intensificou-se,
então, exponencialmente quando esse último, desde
um ponto de vista luxemburguista, condenou, publica e ostensivamente, em seus
artigos surgidos nos jornais ”Nosso Caminho” ou “Soviet”,
em 12 de abril de 1921, o Ação de Março de 1921, qualificando-a
como um simples Putsch, rompendo inteiramente com a disciplina interna do
partido.
Apoiando em grande parte as críticas de Paul Levi, surgiam não
apenas alguns velhos dirigentes do PCA(KPD), como Ernst Däumig, senão ainda
os deputados comunistas Clara Zetkin, Adolph Hoffmann, Kurt Geyer e
Wilhelm Düwell.
Apesar disso, Karl Radek aguçou ainda mais seu criticismo contra Paul
Levi, a partir do momento em que esse veio a ser expulso, em 15 de
abril de 1921, do Partido Comunista da Alemanha(KPD), fundando, transitoriamente,
a Comunidade
dos Trabalhadores Comunistas(KAG) e dirigindo-se, a seguir, para o Partido
Social-Democrático Independente da Alemanha (USPD), de Karl
Kautsky e Rudolf Hilferding.
Nada obstante, imediatamente depois do fracasso da Ação de Março de 1921 e
meses antes da realização do III Congresso da Internacional Comunista de
1921, i.e. precisamente no mês de abril de 1921, Radek reorientou, rapida
e prontamente, o Comitê Central do PCA(KPD) para o retorno à aplicação da tática
de Frente
Única, equacionada por ele e Paul Levi na Carta Aberta de 8 de Janeiro de
1921 :
“Não resta dúvida que entramos novamente em um período em que serão
decisivos a construção da organização (legal e ilegal), o avivamento da vida
política nas organizações, a aplicação subseqüente da tática da Carta Aberta –
talvez em forma modificada (agora voltando-se não mais às direções partidárias
e à burocracia, mas sim diretamente às massas sindicais).
O fortalecimento do centro sindical é da maior importância.
Pensem talvez na seguinte história : não se permitam a ganhar um qualquer
grupo de Independentes de Direita que trabalhariam sob a consigna : unidade dos
sindicatos classistas-combativos contra os rupturistas sindicais reformistas.
Temo que a derrota dificulte, momentaneamente, minar o adversário.
A aproximação de um grupo não abertamente comunista seria muito útil.
Sublinho : esses são apenas pensamentos não fermentados.
Gostaria apenas que vocês os aprimorassem.
A idéia fundamental é a de que reunamos agora em torno do cerne comunista
mais facilmente a periferia, se tivermos impulsionadores que não trabalhem
abertamente como comunistas.
Vocês mesmos têm de examinar se isso é possível.
Repito, tratam-se apenas de sugestões puramente pessoais que faço, partindo
do pressuposto que uma derrota clama sempre pela aplicação de novas armas e
métodos. Aconselho muito sejam eles utilizados.”[108]
No quadro desse seu maleável e desembaraçado retorno à defesa da tática da Frente
Única, imediatamente depois de sua defesa da estratégia de Ativação
Revolucionária do Partido, Radek surgia, na qualidade de Secretário
do Comitê Executivo do Komintern, como responsável, junto ao III
Congresso Mundial da Internacional Comunista, pela elaboração e
apresentação do informe internacional acerca de tática revolucionária, no qual
procurou expressar seu relativo acordo com as posições de Lenin e Trotsky acerca da
Ação
de Março de 1921, agora apoiados também, mais uma vez e de maneira
surpreendente, por Zinoniev.
Já havia transcorrido, então, a derrota dos Levantes de Krönstadt e de
Mansfeld, ingressando a Rússia Soviética no período da Nova
Política Econômica(NEP).
Nesse contexto, procurando dissipar sua precedente de posição de
capitulação ao Comunismo de Esquerda e a Teoria da Ofensiva, Radek não poupou
argumentos para, no seu informe mencionado, falar até mesmo de “dinâmica
arrastada” da revolução mundial, em benefício de sua versão de Frente
Única, fundamentalmente ancorada na orientação da Carta Aberta de 8 de Janeiro de
1921, apesar de pequenas modificações :
“Companheiros,
Não vou lhes fatigar com uma série de citações que poderia ser trazida aos
montes, tal como já foi indicado na imprensa comunista da Rússia, referindo que
a correlação de forças na Europa Ocidental, que as forças da burguesia de lá
torna improvável um assalto à burguesia através de uma sublevação das massas
populares.
Não preciso recordar os delegados alemães de que nós, na Alemanha, desde
1919, adquirimos, enquanto ponto de partida de nossa tática, a convicção de que
a dinâmica de desenvolvimento da revolução mundial será mais arrastada, sendo
que deveríamos lutar, precisamente por isso, com toda energia, contra a
impaciência revolucionária de esquerda. ...
Todos nós admiramos a genialidade de Lenin na questão tática.
Não digo isso como membro do partido russo.
Digo-o como um dos que encontrou o caminho de reconhecimento incondicional
da genialidade tática de Lenin com relativa dificuldade.
Tomem, p.ex., os antagonismos dessa tática, Brest-Litovsk e o Avanço de
Varsóvia.
Ali onde o partido viu grande perigos, ele procedeu tão cuidadosamente como
um burro de cargo junto ao precipício.
Tateou com os pés, pois encontrava-se fraco.
Tendo, porém, chance de vitória, atacava para diante na luta.
Desencadeou um ataque em Varsóvia para expandir a revolução. Foi derrotado.
Porém, essa derrota é para um revolucionário de tão grande importância
quanto a vitória de Brest-Litovsk.
Pois, ela demonstra que a elasticidade tática não conduz a que o partido do
proletariado revolucionário se torne uma minhoca ou bola de borracha.
Ele pode cometer erros, porém demonstra sempre grande cuidado.”[109]
Condenando, resolutamente, a Teoria da Ofensiva, Trotsky teve a
oportunidade de assinalar, em comentário ao informe sobre tática
revolucionária, apresentado por Radek no III Congresso Mundial da
Internacional Comunista :
“Não se inicia uma ação, entretanto, para que da ação tornem-se visíveis
quais os erros que nela estão sendo cometidos, pretendendo-se, então,
eliminá-los(p.641).
Essa famosa Filosofia da Ofensiva, que é absolutamente não marxista, surgiu
do seguinte raro espírito : constrói-se, gradativamente, um muro de passividade
e é uma infelicidade que o movimento torne-se pamtanoso.
Então, adiante, para romper esse muro !
Quero dizer, nesse espírito, educou-se toda uma camada de companheiros
dirigentes e semi-dirigentes do Partido Alemão, no curso de um certo período,
sendo que esperam agora o que o Congresso dirá acerca disso.
E se dissermos, agora, joguemos Paul Levi pela janela, falando sobre a Ação
de Março, apenas em formas de discurso inteiramente confusas, no sentido de que
ela foi a primeira tentativa de dar uma passo adiante, em suma, dizendo
acobertando fraseologicamente a crítica, então não teremos cumprido nosso
dever.
Somos obrigados a dizer, clara e cristalinamente, à classe trabalhadora que
concebemos a Filosofia da Ofensiva, em sua aplicação prática, como o maior
perigo e o maior crime político(p. 646). ...
Temos aqui no Congresso três tendências em certa medida declaradas, três
grupos, que, transitoriamente, tornaram-se tendências e sem cuja apreciação não
se pode julgar corretamente o jogo de forças desse Congresso.
Em primeira linha, aí está a delegação alemã, saída do fogo da Ação de
Março, expressando sua concepção, da maneira mais aguçada, na Filosofia da
Ofensiva, a qual evidentemente foi abandonada por muitos companheiros alemães.
Então, os companheiros italianos que se encontram no mesmo caminho,
obviamente porque o partido foi abandonado pelos centristas.
Os companheiros italianos dizem : agora temos finalmente as mãos livres e
podemos cumprir nosso dever, ingressando em ações revolucionárias de massas,
vingando-nos da traição de Serrati(p. 647). ...
Essas duas vozes existem aqui, como também uma terceira, que esperamos ter
exprimido em nossas teses.
Ela afirma que seria evidentemente um absurdo se o Executivo quisesse
insistir nessa filosofia tática de fazer escalar as lutas mediante ações de
massas mais ou menos artificiais, enviando ordens para diversos países.
Pelo contrário ! Porque tornamo-nos fortes e, por isso, fomos colocados
diante da tarefa de dirigir as massas enquanto partido centralizado e
independente, possuímos, antes de tudo, a obrigação de analizar precisamente a
situação em cada país e, se possível e necessário, proceder e intervir com todo
fervor(p. 648).”[110]
Diante desse contexto, Radek destacou em suas palavras de
fechamento dos debates relativos ao seu informe sobre tática revolucionária do III
Congresso Mundial da Internacional Comunista :
“Já disse em meu informe que sem ofensiva, sem ataque às bastilhas do
capitalismo, não podemos vencer.
Um partido que não carrega no peito o espírito do ataque contra o
capitalismo, que não é capaz de conduzir todo e qualquer proletário à
consciência de que o proletariado pode apenas libertar-se na luta direta,
travada frontalmente, que essa luta pode existir apenas sob a tensão de todas
as forças, um tal partido não merece levar o nome de partido comunista.
Aqui, vocês escutaram da boca de nosso dirigente indubitavelmente mais
sóbrio, o camarada Lenin, que todo aquele que rejeita a ofensiva, por
princípio, não pertence à Internacional Comunista.
Além disso, constatamos aqui, companheiros, que essa teoria é falsa porque
não apreciou suficientemente, na situação dada, as condições objetivas de modo
agudo e frio, porque, precipitando os
acontecimentos, não foi capaz de, na situação em causa, reunir em torno de si
as grandes massas do proletariado, situadas fora do Partido Comunista.
Porém, companheiros, já dissemos, ao mesmo tempo, em nossa resolução, em
nossas teses, em nossa proposta sobre a Ação de Março, que o partido alemão
começou, ele mesmo, a reconhecer esses erros.
Por que dizemos isso ? Apenas para facilitar a transição do Partido Alemão
?
Não ! Temos motivos fundamentais para isso.
Esses motivos são os seguintes : basta comparar a Resolução de 7 de Maio
com a Resolução de 7 de Abril, a Resolução sobre a Ação de Março e as Teses que
o partido adotou, na Secretaria Central para o Congresso Internacional, para
perceber que o Partido começou a entender o erro mais importante, o perigo de
afrouxamento de seu contato com as massas.
O mesmo demonstra a brochura de Brandler e as cartas de Stöcker, o segundo
Presidente do Partido, que nos foram dirigidas(p. 659). ...
Estou convencido de que Thälmann e outros companheiros irão acatar nossa
tática não apenas pelo sentimento da disciplina internacional, mas que se
apoiarão na experiência da luta e entenderão como transfundir a energia revolucionária
dessa parte dos trabalhadores em luta calculada, tranqüila, proletariamente
fria e, se necessário e possível for, atacando.
E, porque isso é assim, defendemos aqui a Luta de Março, apesar de seu
erro.
Afirma-se que não se entra na luta para comprovar-se os erros, porém
respondo : “Se é necessário entrar na luta, deve-se examinar os erros depois,
para vencer-se, exitosamente, as lutas vindouras, cujo tempo e momento talvez
não poderemos também escolher(p. 660).””[111]
De toda sorte, sendo irretorquível e notório o fato de ter Radek
gozado de evanescente entusiasmo pela Ação de Março de 1921, tornou-se
ele, novamente e rigorosamente, identificado, aos olhos de Lenin, com os adeptos dos
Comunistas
Esquerdistas e os Teóricos da Ofensiva.
Inversamente, Zinoviev e Bukharin, a essa altura protagonistas do lado
radical esquerdista, criticavam Karl Radek por ter pendido muito à
direita de suas posições de luta, traindo a tendência de esquerda do Partido
Comunista da Alemanha(KPD), comandada por Rutsch Fischer e Arkadi Maslow.
No quadro do III Congresso Mundial do Komintern, Lenin teve a ocasião de
fazer a seguinte referência à sua interpretação acerca do posicionamento de Radek
:
“«Tendências Dinâmicas » e « Transição da Passividade para a Atividade » -
tudo isso são frases que os sociais-revolucionários de esquerda lançaram contra
nós.
Agora, eles estão na cadeia e lá defendem os “objetivos comunistas” e
refletem sobre a« Transição da Passividade para a Atividade ».
Argumentar assim, tal como ocorre nos requerimentos de emenda, é
impossível, pois não se encontra aí nem marxismo nem experiência política nem
argumentos.
Por acaso, desenvolvemos em nossas teses uma teoria geral da ofensiva
revolucionária ?
Cometeu, por acaso, Radek ou qualquer outro uma tal estupidez ?
Falámos de Teoria da Ofensiva em relação a um país bem determinado e um
período bem determinado. ...
Pode, então, o partido discutir se, em geral, uma ofensiva revolucionária é
admissível ?”[112]
Nesse seu ataque desesperado contra seu próprio e antigo colaboracionismo
com Paul
Levi, desenvolvido entre os anos de 1919 e 1921, Radek, podendo ser
efetivamente confundido com um dos representantes do Ataque Revolucionário Tempestuoso
do PCA(KPD), não poupou assaltos desferidos contra as posições
políticas defendidas então por Clara Zetkin.
Precisamente nesse contexto, Lenin pronunciou-se, da seguinte
forma, em sua Carta aos Comunistas Alemães, de 14 de agosto de 1921, logo
após a realização do III Congresso Mundial do Komintern, ocorrido
entre 22 de junho e 12 de julho de 1921 :
“O agendamento do Congresso de seu partido, o “Partido Comunista Unificado
da Alemanha”(VKPD), para 22 de agosto próximo, fez com que eu tivesse de apressar-me
com essa carta que devo concluir em algumas horas para não me atrasar com o seu
envio para a Alemanha.
Tão quanto posso julgar, a situação do Partido Comunista na Alemanha é
particularmente complicada. Isso é compreensível.
Em primeiro lugar – e isso é o principal -, a situação internacional da
Alemanha aguçou, desde o fim de 1918, sua crise revolucionária interna, de modo
extraordinariamente rápido e árduo, empurrando a vanguarda do proletariado para
a tomada imediata do poder(p. 537). ...
Os trabalhadores alemães não tinham um partido verdadeiramente
revolucionário no momento da crise, em decorrência da ruptura ocorrida muito
tardiamente (i.e. em relação à Social-Democracia), em decorrência da pressão da
maldita tradição da “unidade” com os bandos corruptos (os Scheidemanns,
Legiens, Davids e cia.) e sem caráter (os Kautskys, os Hilferdings e cia.),
bandos dos lacaios do capital.
Em todo trabalhador honrado, com consciência de classe, que considerou o
Manifesto da Basiléia de 1912 como ilusão vazia e não apoiou as
“tergiversações” dos canalhas do tipo “da segunda” e da “segunda e meia”,
despertou-se, com inacreditável aguçamento, o ódio contra o oportunismo da
velha Social-Democracia Alemã.
Esse ódio – o sentimento mais nobre e elevado dos melhores das massas
exploradas e oprimidas – tornou os homens cegos, retirou-lhes a possibilidade
de refletir com sangue frio e elaborar uma própria estratégia correta enquanto
resposta à esplêndida estratégia dos capitalistas armados, organizados,
traquejados pela “experiência russa”, pela Entente, da França, da Inglaterra e
da América.
Esse ódio levou-os a levantes precipitados.
Essa é a razão porque o desenvolvimento do movimento revolucionário dos
trabalhadores na Alemanha percorreu, desde o fim de 1918, um caminho
particularmente difícil e doloroso.
Porém, ele caminhou e caminha, indetenivelmente, para adiante. ...
Mantenham o sangue frio e a firmeza.
Corrijam, sistematicamente, os erros do passado.
Atentem, ininterruptamente, para a conquista da maioria das massas dos
trabalhadores, seja nos sindicatos, seja fora dos sindicatos.
Construam um partido comunista forte e inteligente, capaz de dirigir as
massas, em todas e quaisquer guinadas dos acontecimentos.(p. 538)
Elaborem uma estratégia que seja superior à melhor estratégia internacional
da burguesia avançada e “mais esclarecida” (através da experiência secular, em
geral, e através da “experiência russa”, em particular) – isto é o que deve-se
fazer e o que o proletariado alemão fará, é o que lhe garantirá a vitória(p.539).”[113]
Nessa mesma carta, Lenin teve ainda a oportunidade de
alertar, implacavelmente, aos dirigentes do já unificado PCA(KPD) acerca das
concepções e estratégias políticas articuladas e impulsionadas por Karl
Radek :
“Por outro lado, a complicada situação do Partido Comunista da Alemanha
torna-se ainda mais dificultosa com a ruptura dos impotentes comunistas de
esquerda (Partido Comunista dos Trabalhadores da Alemanha) e direita (Paul Levi com seu jornalzinho
“Nosso Caminho” ou “Soviet”)(p. 539). ...
Agora, devemos dar menos atenção aos esquerdistas do KAPD.
Através de nossa polêmica contra eles, fazemos para eles apenas mais
reclame.
Eles são por demais insensatos. Levá-los a sério seria errado. Aborrecer-se
com eles, inútil. Influência sobre as massas, eles não possuem e não a
alcançarão, se nós mesmos não cometermos nenhum erro.
Deixemos que essa corrente ínfima morra uma morte natural. ...
A enfermidade infantil do radicalismo de esquerda está passando e passará,
completamente, com o crescimento do movimento.
Da mesma maneira, ajudamos, agora, desnecessariamente, Paul Levi, fazendo
para ele reclame desnecessário mediante nossa polêmica contra ele dirigida.
Depois da resolução do III Congresso do Komintern, há de se o esquecer e
concentrar toda a atenção, todas as forças, para o trabalho positivo, objetivo,
pacífico (sem intriguismos, sem polêmica, reviramento das discussões do
passado), no espírito das resoluções de nosso III Congresso.
Contra essa resolução geral, aprovada unanimemente, no III Congresso, peca,
na minha opinião, não pouco o artigo do Comp. Karl Radek : “O III Congresso
Mundial sobre a Ação de Março e a Tática Subseqüente” (publicado pelo órgão
central do Partido Comunista Unificado da Alemanha “Die Rote Fahne(Bandeira
Vermelha)”, em 14 e 15 de julho de 1921).
Esse artigo, que me foi enviado por um companheiro das células dos
comunistas poloneses, é, sem nenhuma necessidade – e para direto prejuízo da
causa -, aceirado não apenas contra Paul Levi (o que seria já inteiramente
irrelevante), senão ainda contra Clara Zetkin.
A própria Clara Zetkin conclui, em Moscou, durante o III Congresso, o
“Tratado de Paz” com a central do Partido Comunista Unificado da Alemanha
acerca de um trabalho comunitário e não fracional !(p. 540)
Esse tratado foi aprovado por todos nós.
O comp. Karl Radek foi tão longe, em sua excitação polêmica inadequada, a
ponto de dizer uma mentira direta ao presumir que Clara Zetkin quisesse “adiar
toda e qualquer ação do partido ... para o dia em que as grandes massas se
levantassem.
Evdentemente, o comp. Karl Radek presta, com tais métodos, um serviço a
Paul Levi que esse jamais poderia desejar melhor.
Paul Levi quer precisamente que as brigas se prolonguem infinitamente, que
o máximo possível de pessoas seja nelas
envolvido, que se procure empurrar Clara Zetkin para fora do partido mediante
ferimentos polêmicos acerca do “Tratado de Paz”, que ela mesma concluiu e que
foi convalidado por todo o Komintern.
O comp. Karl Radek forneceu com seu artigo um excelente exemplo de como
auxilia-se Paul Levi “pela esquerda(p. 541). ...
Companheiros comunistas alemães !
Permitam-me finalizar com o desejo de que seu Congresso, de 22 de agosto,
encerre, com mão firme e para sempre, com a guerrilha contra os rompidos da
esquerda e da direita.
Chega de luta interna partidária.
Abaixo com todo aquele que, direta ou indiretamente, queira arrastá-la
longe.
Conhecemos agora nossas tarefas de modo mais claro, concreto e visível do
que ontem.
Não tememos apontar abertamente nossos erros e corrigí-los.
Empregaremos todas as forças do partido para sua melhor organização, para a
elevação da qualidade e do conteúdo do trabalho, para a produção de uma ligação
mais estreita com as massas, para a elaboração de uma tática e de uma
estratégia cada vez mais precisa e correta da classe trabalhadora(p.548).”[114]
Apesar de tais argumentos categóricos de Lenin, fato é que o
grande dirigente dos bolcheviques viu-se forçado a, na mesma carta em
referência, traçar muitas considerações, justificadoras de sua longa defesa de Paul
Levi, no curso do III Congresso Mundial do Komintern, após
ter sido esse último expulso das fileiras do Partido Comunista da
Alemanha(KPD), por decisão de seu Comitê Central[115].
Por sua vez, Levi e seus apoiadores do sindicato de metalúrgicos de Berlim,
entre eles os dirigentes Paul Neumann e Paul Malzahn, eram
acusados pelo conjunto dos dirigentes do PCA(KPD) de não apenas terem
qualificado de Putsch a Ação de Março de 1921, senão ainda
de conclamarem os trabalhadores em greve dessa cidade a suspender sua
paralisação em apoio aos trabalhadores sublevados de Mansfeld[116].
Acerca do tema, até mesmo Ruth Fischer, situada desde um
ângulo zinovievista, assinalou :
“Lenin incluiu nas teses do congresso largas porções das críticas de Levi,
porém, ao descartar todas as ilusões acerca da possibilidade de um
desenvolvimento pacífico da República de Weimar, conferiu a elas uma ênfase
diferente.
No relatório do Congresso sobre questões mundiais, Trotsky apresentou a
nova orientação do Bureau Político acerca da perspectiva para a revolução
mundial. A crise do após-guerra havia sido dominada pelos poderes capitalistas,
que haviam sido aptos a reestabelecer um equilíbrio político e econômico.
Partindo dessa premissa, Trotsky defendeu uma aguda mudança da política
comunista para aprofundar-se e concentrar-se na construção de partidos de
massas. ....
Eu estive presente em diversas reuniões fechadas do partido em que a defesa
de Levi feita por Lenin foi amargamente ressentida. Ele foi chamado de
oportunista, um membro da ala de direita. As medidas disciplinares esperadas
contra Bela Kun e seu grupo foram consideradas como injustas.
Nesse fervor de indignação emocional contra si, a sóbria apreciação das
conseqüências políticas das novas táticas que ele propunha acabou se perdendo.
A ala esquerda do partido tornou-se cada vez mais indignada com essa proteção
de Levi.”[117]
De toda sorte, é necessário constatar que, situada em minoria a corrente
zinovievista de esquerda de Ruth Fischer e Arkadi Maslow, Radek logrou
tornar-se, a partir do III Congresso da Internacional Comunista de
1921 e do VII Congresso de Jena, do Partido Comunista da Alemanha(KPD), o
principal mentor do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e seu principal dirigente
político, coadjuvado por agora por Heinrich Brandler, Ernst Meyer e,
transitoriamente, também por Ernst Friesland, continuando a exercer,
ao mesmo tempo, na Alemanha, a função de diplomata soviético oficioso, com bom
trânsito nos meios dirigentes do Estado Burguês Alemão.
A conquista e a consolidação de posições chaves nos sindicatos alemães, bem
como uma colaboração estratégica com os mais expressivos dirigentes da Social-Democracia
Alemã, permeada, porém, de críticas e denúncias, poderiam assegurar,
segundo Radek, a transformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD), já
unificado, em dezembro de 1920, em “um partido de massas da ação
revolucionária”.
Assim, no mesmo mês de agosto, em que Lenin elaborava sua Carta
aos Comunistas Alemães, Radek encontrava meios para recomendar,
paralela e resolutamente aos principais
dirigentes alemães, situados às vésperas de seu VII Congresso, realizado entre 22 e 26
de agosto de 1921, em Jena :
“O presente Congresso tem lugar em um momento em que surge relativa
claridade sobre o terreno no qual temos de lutar, bem como sobre as forças e
métodos de nossa luta. ...
Para essa clarificação quero, de minha parte, colaborar com essa carta,
ainda que me dê conta perfeitamente do fato de que vejo as coisas de uma certa
distância, i.e. não de modo suficientemente concreto.
Porém, esse distanciamento, que seria uma desvantagem se se tratasse de um
plano tático para uma batalha, converte-se em uma vantagem, porque não se trata
de uma batalha, senão de uma campanha para cujo plano são decisivas os
lineamentos gerais, muito mais claramente visualizáveis à distância do que da
proximidade imediata. ...
As próximas tarefas do partido consistem em uma ampla campanha organizativa
e agitativa contra o ataque do governo capitalista que está sendo preparado
visando a jogar todo o fardo criado pela guerra nas costas das amplas massas do
proletariado e da pequena-burguesia em processo de proletarização.
A segunda tarefa, na aglutinação organizativa dessas massas, seja através
de nossa organização partidáriam de nossas frações nos sindicatos, seja através
de amplas organizações sem partido, que abarcam as massas, que não são em
verdade comunistas, estando, porém, dispostas a lutar, com todos os meios, da luta de classes proletária, contra a
crescente pauperização.
Essas tarefas podem apenas ser executadas se o partido posicionar-se como
um todo unificado, dedicado à ação com vontade apaixonada. ...“[118]
Um primeiro sinal fixado por Karl Radek no sentido de sua
orientação política ser capaz de conciliar-se com uma perspectiva
democrático-burguesa de impulsionamento da tática de Frente Única e de
aplicação da consigna de Governo dos Trabalhadores, surgiria,
a seguir, de maneira nítida e inequívoca, já em seu artigo intitulado Tarefas
da Secretaria do Comitê Central do Partido, redigido logo após o VII
de Congresso do PCA(KPD), de Jena, retro-mencionado.
Nessa sede, é possível encontrar-se a seguinte argumentação profundamente
ardilosa do antigo Secretário do Executivo do Komintern :
“Um Governo dos Trabalhadores é alcançável na trilha de uma revolução
vitoriosa que despedaça os órgãos do Estado Burguês e outorga a Ditadura do
Proletariado.
Os Srs. Sociais-Democratas e os funcionários dos sindicatos rejeitam a
Ditadura do Proletariado.
Não podemos deles exigir aquilo que eles rejeitam.
Bem. Então, eles devem perseguir o caminho que consideram ser o único, o
caminho democrático da luta pelo seu próprio programa, em prol da conquista da
maioria no Parlamento do Império, em prol da formação do Governo dos
Trabalhadores, pela via democrática.
Estamos convencidos que, por essa via, o socialismo não pode ser
conquistado.
Porém, não está, de nenhuma forma, descartado que por essa via seja dado um
passo adiante.
Seria já um grande passo adiante se se conseguisse fundir todos os
trabalhadores para a luta em torno de seus próximos interesses e impor esses
próximos interesses contra o mundo burguês, no qual o Estado se tornasse
co-possuidor da indústria e seu controlador.
Se os sociais-democratas independentes e da maioria, se os dirigentes
sindicais, quiserem perseguir esse caminho, podem eles estar certos de que os apoiaremos
nisso da maneira mais enérgica, sem abandonarmos por um momento nossos
objetivos mais progressivos.
O plano aqui desenvolvido da campanha que o Partido Comunista da Alemanha
terá de dirigir constitui a concretização da tática da “Carta Aberta” (i.e. a
Carta Aberta de 8 de Janeiro de 1921) na situação em concreto, constitui a
implementação da consigna do III Congresso : “Em Direção das Massas” ...
Também nessa campanha estarão presentes os perigos de sublinharmos muito
pouco a essência do comunismo ...
Esses perigos, tem o partigo de encará-los e, de antemão, combatê-los
mediante posições claras, seguras, principistas e táticas.
Tendo o partido assumido uma tal posição clara, tendo compreendido como
introduzir seu ponto de vista a seus aderentes, poderá ele concluir amplos
compromissos ..”[119]
Ao longo de 1921, tendo sido colocadas em minoria os posicionamentos do
comunismo de esquerda alemão, bem como duramente golpeadas as posições de Paul
Levi, consideradas por Radek como profundamente
oportunistas, sem que não se tivesse abalado ele mesmo pelo seu profundo
compromentimento com aquelas, retomou ativamente Radek seu intento de
comandar o Partido Comunista da Alemanha(KPD) segundo sua orientação
política fundamentalmente cético-jornalística,
revolucionário-administrativista, estratégico-diplomática, de matiz
pessimístico, acerca do desenvolvimento das lutas revolucionárias na Alemanha
:
·
“a revolução mundial é um processo muito lento, no qual deve-se contar com
mais do que uma derrota” ;
·
“o papel é o de segurar a classe trabalhadora e evitar choques
desnecessários” ;
·
“a estratégia comunista tem de ser a de convencer essas amplas massas de
trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido Social-Democrático não
apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos Trabalhadores, como também não
lutam pelos interesses diários mais básicos da classe trabalhadora” ;
·
“a luta dos comunistas contra outros partidos não deve se tornar jamais uma
luta de uma seção do proletariado contra outra” .
Tais formulações de Radek, já formuladas ao longo do
período posterior à celebração da Paz de Brest-Livotsk e o mês de
janeiro de 1921, perfeitamente de acordo com sua concepção, externada já em
1914, em suas conversações diante de Trotsky, no sentido de que “não acreditava na possibilidade de uma
revolução proletária em conexão com a guerra nem, em geral, em época próxima”, pois
“para isso as forças produtivas da
humanidade, consideradas em seu conjunto, ainda não se encontram suficientemente
desenvolvidas”, passaram, então, a serem obnubiladas e pouco claramente
discerníveis em face do teor das resoluções dos III e IV Congressos do Komintern, que Radek
alegava defender agüerridamente, bem como diante do períodico e
sistemático ascenso da Troika Stalinista na URSS.
Com efeito, o III Congresso Mundial do Komintern, ocorrido entre 22 de junho
e 12 de julho de 1921, sacando as conseqüências da mudança
do ritmo das lutas revolucionárias do proletariado em todo mundo e refluxo da
onda revolucionária das massas oprimidas, que desde o início da I
Guerra Mundial percorria a Europa, estabeleceu, em plena
conformidade com as posições à época postuladas por Lenin e Trotsky :
“A tomada do poder já não se situa imediatamente na ordem do dia.
A época das vitórias fáceis e dos êxitos irresistíveis passou.
Antes de que se possa pensar, seja onde for, acerca da conquista do poder,
há de se, em primeiro lugar, conquistar as massas através de um trabalho
paciente e obstinado, duplicando, em particular, os esforços para a conquista
dos sindicatos.”[120]
No mesmo sentido, Lenin destacou, claramente, para os
dirigentes do já unificado Partido Comunista da Alemanha(KPD), em
14 de agosto de 1921 :
“ « ... O Partido Comunista Unificado da Alemanha será tanto mais capaz
de ser exitoso na execução de ações de massas quanto mais adeque, no futuro,
suas consignas de luta à situação real, quanto mais estude, cuidadosamente,
essa situação e quanto mais execute suas ações de modo unitário e
disciplinado. »
Esses são os mais importantes excertos da resolução sobre tática do III
Congresso. A conquista por nós da
maioria do proletariado : essa é “a tarefa mais importante”(título do Capítulo
3 da Resolução sobre Tática).
A conquista da maioria não a entendemos, naturalmente, de modo formal, tal
como o fazem os cavaleiros da “democracia” pequeno-burguesa da II ½
Internacional. Quando, em Roma, em julho de 1921, o proletariado inteiro, tanto
o proletariado reformista dos sindicatos, como também o proletariado centrista
do Partido de Serrati, marcharam juntos com os comunistas contra os fascistas,
isso representou a conquista por nós da maioria da classe trabalhadora.
De longe não foi ainda a conquista decisiva, senão apenas um conquista
parcial, passageira, local, porém foi uma conquista da maioria.
Uma tal conquista é possível até mesmo quando a maioria do proletariado
segue, formalmente, aos dirigentes da burguesia ou aos dirigentes que praticam
um política burguesa (como fazem-no todos os dirigentes da II e da II ½
Internacionais), ou mesmo se a maioria do proletariado oscila.
Uma tal conquista marcha adiante ininterruptamente, no mundo inteiro, por
todos os lados e dos modos mais distintos possíveis.
Preparemo-la mais profunda e cuiudadosamente. Não deixemos nenhuma única
séria oportunidade sem atenção, em que a burguesia force o proletariado a se
levantar para a luta. Aprendamos
corretamente a determinar o momento, uma vez que as massas do proletariado não
podem senão se levantar conjuntamente conosco. Então, a vitória nos pertencerá,
quão duras possam ser derrotas isoladas e etapas individuadas em nossa grande
campanha.”[121]
O IV Congresso Mundial do Komintern, realizado, então, a seguir,
entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, haveria de confirmar, em essência,
as resoluções do III Congresso, dedicando-se ainda mais minunciosamente sua
atenção para o desenvolvimento da tática de Frente Única e de Governo
dos Trabalhadores, visando à conquista das massas e à tomada do poder
pelo proletariado[122].
Na Alemanha, os debates acerca das consignas de Frente
Única e de Governo dos Trabalhadores, interpretada e defendida, a seguir,
em conformidade com a versão peculiaríssima de Karl Radel e Heinrich Brandler, encontrou,
entretanto, à época, desde logo, severos críticos nas fileiras dos comunistas
esquerdistas e defensores da Teoria da Ofensiva, encabeçados por Ruth
Fischer, Arkadi Maslow e Hugo Urbahns, alinhados, em nível
internacional, com as posições de Zinoviev e Bukharin[123].
Não obstante, visando ao atingimento do objetivo de construção de uma Frente
Única com as organizações da Social-Democracia Alemã, Radek
viajou, durante todo o ano de 1922, entre Berlim e Moscou, pretendendo
consolidá-la em nível internacional.
Respondendo à proposta política lançada por Radek, o socialista
austríaco Fritz Adler, encabeçador da II½ Internacional, que
reunía o Partido Social-Democrático Austríaco e o Partido Trabalhista Independente
da Gra-Bretanha, trabalhou
no sentido da convocação de uma Conferência das Três Internacionais, a
ser realizada em Berlim.
Na trilha de sua concepção de que ”a luta dos comunistas contra outros
partidos não deve se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra
outra”, Radek pretendia, mediante a Conferência das Três
Internacionais e as
capacidades de conciliador de Fritz Adler, alcançar a reunificação
da classe trabalhadora de todo o mundo em uma única organização de massas.
Para essa conferência, que teve início em 2 de abril de 1922, o Komintern
enviou, como delegados, além de Radek, Bukharin, enquanto
representante do PC da URSS, Clara Zetkin, do PCA(KPD), Frossard e Rosmer, do
PCFrancês,
Warski, do PC Polonês, Stoianovits, do PC da Iugoslávia, Bohumil-Smeral,
do PC
da Tchecoslováquia, e Katayama, do PC Japonês[124].
Essa tentativa de reaproximação dos sociais-democrátas da Europa Ocidental
com os socialistas-revolucionários bolcheviques nada mais produziu além de
discussões acaloradas, sendo que o Comitê dos Nove, nascido nessa
conferência, composto de três representantes de cada internacional, desapareceu
a seguir, quando teve início, em Moscou, em junho de 1922, o processo
judicial contra os Sociais-Revolucionários de Esquerda, articuladores do Putsch
para a derrubada, em 1918, do governo revolucionário de Lenin,
e da contra-revolução imperialista, no quadro da Guerra Civil.
Lenin criticou, consciamente, em seu artigo “Pagamos
Caro Demais”, as posições de puro oportunismo radekista, tal como o
fizera durante todo o período de luta contra a fração de Radek no interior da Esquerda
de Zimmerwald, alegando, desta feita, que a Conferência das Três
Internacionais havia-se convertido em um palanque público para fazer-se
propaganda contra a Rússia Soviética, sem que o Komintern em troca nada
recebesse efetivamente das negociações.
Nessa oportunidade, Lenin assinalou com sua habitual
precisão, destacando o significado e o sentido das ligações dos representantes
da Social-Democracia
com os interesses materiais da burguesa internacional :
“Se esse ou aquele representante da II ou da II½ Internacionais estiveram
direta ou indiretamente em ligação com a burguesia, trata-se, no caso em
questão, de uma questão inteiramente secundária.
Não os culpamos por uma ligação direta.
Não importa saber no caso se aqui existia uma ligação direta ou uma ligação
indireta, bastante confusa.
O que importa no caso é o fato de que o Komintern fez uma concessão
política, sob a pressão dos mandatários
da II e da II ½ Internacionais da burguesia internacional, sem recebermos,
em troca, nenhuma concessão.
Que tipo de conclusão disso se retira ?
Sobretudo a de que Radek, Bukharin e os outros companheiros que
representaram a Internacional Comunista agiram erroneamente.
Além disso.
Significa que devemos rasgar o acordo por eles firmado ? Não.
Acredito que uma tal conclusão seria equivocada e que não necessitamos
rasgar o acordo assinado.
Precisamos apenas sacar a conclusão de que os diplomatas burgueses
demonstraram-se, dessa vez, mais habilidosos do que os nossos, sendo que, da
próxima vez – se o pagamento para admissão no salão não for estabelecido de
antemão – devemos barganhar e manobrar
mais habilmente.
Temos de tornar uma regra para nós o não fazer nenhuma concessão política à
burguesia internacional (tão hábilmente quanto essas concessões possam ser disfarçadas
por qualquer representante intermediário), caso não recebemos, em troca, da
burguesia internacional concessões, mais ou menos equivalentes, em favor da
Rússia Soviética ou em favor de outras tropas de luta do proletariado
internacional em luta contra o capitalismo.”[125]
Nesse contexto, Lenin conclui, em um de seus últimos textos redigidos acerca do
Komintern,
assinalando acerca da Conferência das Três Internacionais, ao
mesmo tempo contra as autênticas forças sectárias no movimento proletário
internacional da época :
“O erro de Radek, Bukharin e dos outros companheiros não é tão grande
...
De toda forma, abrimos uma certa brecha no espaço fechado.
De toda forma, o comp. Radek conseguiu, como mínimo, desmascarar diante de
uma parte dos trabalhadores o fato de que a II Internacional negou-se a aceitar
a consigna de anulação do Tratado de Versalhes entre as consignas de
manifestações.
O grande erro dos comunistas italianos e de uma parte dos comunistas
franceses e sindicalistas consiste em contentar-se com o saber que possuem.
Contentam-se por saber exatamente que os representantes da II e da II ½
Internacionais, tal como os Srs. Paul Levi, Serrati etc., são encarregados altamente
habilidosos da burguesia e precursores de sua influência.
Porém, as pessoas e os trabalhadores, que disso sabem realmente com
segurança e compreendem efetivamente o significado desse fato, são, na Itália,
na Inglaterra, na América e na França, sem qualquer dúvida, uma minoria.
Os comunistas não podem ficar cozinhando o seu próprio suco, mas tem de
aprender a agir, sem deter-se diante de certas vítimas, sem assustar-se com
erros inevitáveis, no início de cada obra nova e complicada, de tal modo a penetrar
em espaços fechados, nos quais os representantes da burguesia atuam sobre os
trabalhadores.”[126]
A despeito do criticismo de Lenin, Radek considerou a
realização de tal conferência de reaproximação como um passo extraordinário
adiante na transformação do Partido Comunista da Alemanha(KPD) em
um “um
partido de massas da ação revolucionária”.
Segundo Radek, a possibilidade de unificação imediata estava
evidentemente descartada, porém um programa de Frente Única Internacional haveria
de ser indispensavelmente considerado como um pré-requisito para o
fortalecimento e consolidação dos partidos comunistas na Europa Ocidental.
Nessa perspectiva, Radek e o Comitê Central do PCA(KPD) assumiram,
já no final de 1922, a campanha ordenada em torno da consigna “Convocar
um Congresso Mundial Internacional”, sem entretanto procurar precisar o
fato de dever tratar-se esse congresso de um novo trampolim para ampliação de
discussões acaloradas acerca do caráter da Rússia Soviética ou propriamente um
instrumento de aglutinação dos diversos sindicatos sociais-democráticos e
comunistas no quadro de uma nova organização que seria a defensora de um
conceito mundial da NEP e reformas políticas democráticas, marcadas pelos métodos
de luta do proletariado revolucionário.
Em torno dessa consigna, propagandeou-se intensamente na Alemanha,
no fim de 1922 e início de 1923. Companheiros comunistas da França,
da Gra-Bretanha, da Suécia, da Polônia e da
Rússia contribuíram para sua popularização, atendendo ao seu
lançamento, ecoado a partir das fileiras alemães.
Acerca do tema, relevando o estratagema político contido nessa campanha,
encabeçada pelo PCA(KPD), Radek, assinalou :
“O avanço comum põe-nos em contato com as massas trabalhadoras que
estiveram de nós isoladas, sendo que falaremos a essas massas com já estamos de
saco cheio.
Do ponto de vista alemão, há de observar-se ainda que, caso os Scheidemanns
não se pode isolar internacionalmente – eles necessitam da ajuda contra a
França -, será-lhes, então, muito mais difícil isolar vocês na Alemanha.
Discutam a coisa toda e escrevam-me sua opinião acerca do tema.
O perigo de todas essas coisas consiste em que nosso pessoal mantem,
firmemente, em vista : mediante a ruptura, formamos a vanguarda,
fortalecêmo-la.
Agora, procuramos, mediante a consigna de Frente Geral, atrair as reservas.
Conseguiremos dirigí-las se entendermos claramente que temos de permanecer,
em sentido político, espiritual e organizativo, uma força independente que
possui a vontade de conquistar a maioria da classe trabalhadora ...”[127]
A orientação política Radek-Brandler assumindo, na Alemanha,
uma posição dirigente, após o IV Congresso Mundial do Komintern, ocorrido
entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, seguiu considerando, durante todo
o primeiro semestre de 1923, o Partido Comunista da Alemanha(KPD) como
uma organização débil e vanguardista, fadada ao impulsionamento de atividades
propagandistas, condenada perspectivamente a um crescimento lento, devendo
empenhar-se em seu papel decisivo de ”segurar a classe trabalhadora e evitar
choques desnecessários”.
Nesse contexto, explosões espontâneas, manifestações violentas e protestos
armados das massas trabalhadoras e dos demais segmentos socialmente oprimidos
deveriam ser severamente condenados pelo Partido Comunista da Alemanha(KPD), ou,
dado caso, reduzidos a pequenos choques, lançando a base para forças a abertura
de espaços da Social-Democracia Alemã, rumo
à consolidação de uma Frente Única e de um
Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituindo-se esse último como
um centro de legalidade em si mesmo.
Segundo Radek e Brandler, esse último agora presidente do
PCA(KPD), era manifestamente impossível desenvolver-se as forças do
partido no campo das lutas, dos embates e dos conflitos abertos de classes
contra as instituições de exploração e dominação do Estado Burguês Alemão, dotado
de um potencial de desenvolver-se exponencialmente no curso das futuras crises
econômicas e políticas mundias vindouras.
Sendo assim, a estratégia comunista revolucionária deveria consistir em ”convencer
essas amplas massas de trabalhadores de que a burocracia sindical e do Partido
Social-Democrático não apenas se recusam a lutar pela Ditadura dos
Trabalhadores, como também não lutam pelos interesses diários mais básicos da
classe trabalhadora.”
Nesse sentido, aos olhos de Radek e Brandler, a luta dos
revolucionários proletários alemães contra a Social-Democracia Alemã não
deveria ”se tornar jamais uma luta de uma seção do proletariado contra outra”.
Apenas assim, em conformidade com a orientação política Radek-Brandler,
estaria pavimentado o caminho para a construção de uma estratégia de Frente
Única, não apenas do contexto das lutas de classes, senão ainda para o
objetivo maior das eleições e do Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído
por comunistas e sociais-democratas.
Apenas assim, no entender de Radek e Brandler, o proletariado
alemão seria capaz de dar uma resposta efetiva às forças nazistas em gestação e
suas conspirações contra-revolucionárias.
Ora. É evidente que as diretivas estabelecidas pelo IV Congresso Mundial do
Komintern, realizado entre novembro e dezembro de 1922, não
vedava a possibilidade de os comunistas revolucionários alemães levarem adiante
uma tática de Frente Única.
Mais do que isso : o IV Congresso Mundial do Komintern admitia,
até mesmo, experimentalmente, a possibilidade de formar-se um
Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por comunistas e
sociais-democratas, desde que, porém, tal governo fosse instaurado como um
instrumento para o impulsionamento das lutas proletárias de massas voltadas à
destruição do Estado Burguês Alemão e instituição da Ditadura Revolucionária do
Proleteriado, i.e. desde que fosse formado sob o pressuposto de
assegurar o imediato e massivo armamento das centúrias proletárias, para
imediata deflagração de um levante militar proletário contra todo as forças
contra-revolucionárias comandadas pelo Governo Federal Social-Democrático de Ebert
e seus aliados, garantindo-se, transitoriamente, o fechamento das Assembléias
Legislativas dos Estados Federados conquistados eleitoralmente e a
conversão do Congresso das Comissões de Fábricas em Poder Legislativo.
Com efeito, a política stalinista de qualificação da Social-Democracia como
expressão de um “Social-Fascismo” haveria de surgir apenas em 1928 e 1929.
De toda sorte, o IV Congresso Mundial do Komintern
jamais poderia imaginar que sua admissão da tática de Frente Única, bem como de
Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por comunistas e sociais-democratas,
fosse interpretada, fomentada e aplicada à maneira Radek-Brandler como forma
de prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na capitulação
diante da Social-Democracia Alemã.
Pelo contrário, a orientação política Radek-Brandler, em frontal ofensa
aos critérios estabelecidos pelo IV Congresso Mundial do Komintern, postulava
a defesa da tática de Frente Única e o ingresso do Partido
Comunista da Alemanha(KPD) em um governo de coalizão com a Social-Democracia,
não para armar militarmente, como pressuposto de ingresso em tal
governo, centúrias proletárias, fechar órgãos parlamentares burgueses e
constituir em Poder Legislativo congressos dos comitês de fábrica dos
trabalhadores alemães.
O radekismo-brandlerista interpretava tais consignas de
mobilização das massas trabalhadoras sob o signo de uma Frente Única e de um Governo
de Coalizão dos Trabalhadores voltado à contemporização com as forças
reformistas, precursoras dos interesses capitalistas internacionais e das
ilusões jurídico-burguesas no seio da classe trabalhadora.
Prentendendo entreter a Social-Democracia Alemã para ganhar
tempo, Radek e Brandler buscavam por meio da Frente
Única e do Governo de Coalizão dos Trabalhadores lograr “penetrar
em espaços fechados, nos quais os representantes da burguesia atuam sobre os
trabalhadores”, com vistas a alcançar, em troca, a conquista das massas
proletárias através do fomento e intensificação de atividade
jornalístico-propagandística, fundadas em críticas e denúncias parlamentares e
governamentais de popularização e consagração dos méritos do socialismo
revolucionário e impiedoso desmascaramento literário das ilusões e dos
habilidosos encarregados sociais-democráticos entre os trabalhadores explorados
e demais socialmente oprimidos.
Em setembro de 1922, quando a corrente de direita de Karl Kautsky e Rudolf Hilferding,
restante da ruptura do Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha(USPD) retornaram às fileiras da Social-Democracia Alemã, Radek
interpretou nesse fenômeno a abertura de mais um canal de ingresso no
centro do partido de massa do proletariado alemão, com vistas ao
desenvolvimento de sua política propagandística de censuras e denúncias.
No último mês de 1922, quando Karl Radek e Ernst Meyer regressaram a
Berlim,
vindos do IV Congresso Mundial do Komintern, reiniciaram as intrigas de Radek
visando a combater as concepções de Ernst Meyer, de modo a
abrir caminho para a aplicação de sua interpretação política das consignas de Frente
Única e Governo dos Trabalhadores, visando à complacência eleitoral e
governamental do Partido Comunista da Alemanha(KPD) com a Social-Democracia Alemã, no marco do
objetivo de suposta conquista das grandes massas proletárias para o socialismo
revolucionário.
Ernst Meyer, fundando-se nos debates plasmados
nos Protocolos
do IV Congresso Mundial do Komintern, bem como nas Resoluções Congressuais acerca
do tema, mesmo tendo pertencido tradicionalmente ao bloco de Paul
Levi e de Karl Radek, negava-se, peremptoriamente, a admitir a forma de
abordagem versatilista e complacente de Karl Radek acerca da perspectiva de
desenvolvimento da luta de classes na Alemanha.
Alegando ser imperioso travar uma luta contra o sectarismo esquerdista
(representado, então, pelas posições Ruth Fischer, Arkadi Maslow e Hugo Urbahns),
bem como contra o ultra-esquerdismo insurrecional (representado pelos
seguidores insurrecionais de Karl Liebknecht, Erich Wollenberg e Hans
Kippenberger), golpeando, ainda, a um só tempo, o oportunismo do
momento (consubstanciado fantasiosamente a essa altura nas reminescências das
posições de Paul Levi, incorporadas por Ernst Meyer), Radek,
valendo-se de sua grande autoridade junto ao PC da URSS e ao Komintern,
logrou arquitetar com Heinrich Brandler uma tendência
partidária majoritária, fundada solidamente no movimento sindical e
reputadamente defensora da revolução socialista internacionalista.
Tal tendência haveria de servir de estrado de madeira para assegurar a
aplicação de sua concepção de prostração frentista, disfarçada com críticas e
denúncias, na capitulação diante da Social-Democracia Alemã.
Com efeito, Radek encontrou em Brandler um pulso muito mais
enérgico e representativo do que sua aliança anterior com Ernst Meyer e Paul Levi.
Heinrich Brandler, nascido em 1881, em Warnsdorf,
nos sudetos da Áustria, desprovido, portanto, de nacionalidade alemã – razão
pela qual não podia ser eleito regularmente para o Parlamento Alemão -,
trabalhador da construção civil, de longa experiência sindical, iniciada em
1897, havia participado, desde seu ingresso no Partido Social-Democrático
Alemão(SPD), em 1901, da fração de oposição à direção reformista de Kautsky
e Ebert.
Tendo atuado, a partir de 1914, na Secretaria do Sindicato de Construção Civil
de Chemnitz, Brandler foi expulso das fileiras da Social-Democracia Alemã,
em 1915, passando a ser um dos mais entusiásticos animadores da Liga
Spartakus, ainda que viesse a aderir, em 1917, ao Partido Social-Democrático
Independente da Alemanha(USPD).
Adquirindo, posteriormente, sua nacionalidade alemã por decisão do governo
revolucionário social-democrático da Baviera, encabeçado por Kurt
Eisner, Brandler logra fundar, em Chemnitz, em 1918, o agrupamento Der
Kämpfer(O Lutador), que incorporando-se ao Partido Comunista da Alemanha(KPD),
passou a representar a sua mais expressiva organização regional.
Apoiando, agora, Paul Levi contra os supostos
sectários ultra-esquerdistas de Hermann Gorter, Anton Pannekoek e Max Hoelz,
inspiradores da ruptura do Partido Comunista dos Trabalhadores da
Alemanha(VKPD), Brandler tornou-se, em março de 1920, apesar de sua
passividade nas lutas contra o Golpe Militar Contra-Revolucionário de
Kapp-von Lüttwitz, o principal organizador das eleições subseqüentes
dos conselhos de trabalhadores na Saxônia, sendo eleito Presidente
do Conselho Operário de Chemnitz, quando já então colocava em questão,
pioneiramente, a problemática concernente à aplicação da tática de Frente
Única e Governo de Coalizão dos Trabalhadores[128].
Tendo sido eleito para o Comitê Central do PCA(KPD), em abril
de 1920, Brandler ascendeu, vertiginosamente, na vida do comunismo
revolucionário alemão da época, no quadro da organização do processo de
unificação com setores de esquerda do Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha(USPD).
Possuindo uma experiência de lutas revolucionárias excessivamente restrita
aos limites territorias da Saxônia, desprezando, em grande
parte, todos aqueles companheiros revolucionários que não haviam adquirido suas
bases socialistas em tarefas rotineiras no quadro do velho movimento
social-democrático anterior à I Guerra Mundial, Brandler encontrou
em Radek
a sua contra-parte, necessária para atingir o exercício das funções
revolucionárias de maior envergadura que almejava.
Junto a Radek, Brandler encontrou eco para suas crenças de que os
bolcheviques eram, em última instância, incapazes para entender, propriamente,
as particulariedades concretas da luta de classes da Alemanha.
Uma revolução socialista proletária em seu país marcadamente
industrializado, haveria de, necessariamente, coibir os atos de violência e de
terror cometidos pela Revolução de Outubro de 1917, assegurando
o respeito das liberdades e direitos fundamentais do homem e do cidadão[129].
Demitido Paul Levi, em fevereiro de 1921, Brandler assumiu a função
de Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD), recentemente unificado,
tendo sido, logo a seguir, condenado, por ocasião do Ação de Março de 1921, a
cinco anos de prisão em fortaleza.
Liberado em novembro do mesmo ano, com base em sua defesa estritamente
legalista em seu processo de Alta Traição[130],
Brandler foi indicado como membro da Presidência do Komintern, indo
viver durante vários meses em Moscou.
Após o IV Congresso Mundial do Komintern, Radek e Brandler uniam-se em
um sólido bloco com a perspectiva de dirigirem conjuntamente o próximo período
de lutas do Partido Comunista da Alemanha(KPD).
Com Brandler, Radek contava com a possibilidade de dirigir
diretamente um importante grupo de sindicalistas do Partido Comunista da
Alemanha(KPD).
No quadro do bloco sustentador da orientação política Radek-Brandler, surgia,
ainda, de maneira notável, August Thalheimer, renomado
intelectual de Göppingen, aliado de Radek desde 1908 e mentor politico
das atividades sindicais de Brandler.
Quando Clara Zetkin, Fritz Heckert e Jacob Walcher, esses dois
últimos prestigiados sindicalistas alemães da época, sedimientou-se,
estruturalmente, o bloco político comandado por Radek-Brandler, de tal
modo a ser capaz a intervir decisivamente no contexto da luta de classes do ano
de 1923.
CAPÍTULO III
FRENTE ÚNICA E GOVERNOS DOS
TRABALHADORES
NA VERSÃO RADEK-BRANDLER :
SEU SENTIDO E SIGNIFICADO
HISTÓRICO NA GRANDE DERROTA
DO PROLETARIADO INTERNACIONAL DE
1923
“O Partido
Comunista da Alemão é um grande partido que, seguramente,
conta com mais
de 250.000 membros.
Esse partido,
que cresce a todo dia e se torna, cada vez mais, um fator político de primeira
classe não apenas na Alemanha, senão ainda em toda a Europa, esse partido, que
foi fundado por lutadores extraordinários tais como Karl Liebknecht e Rosa
Luxemburg, esse partido, que possui uma tradição heróica da qual pode ser
orgulhar perante toda Internacional – esse partido não considera para si como
sendo humilhante enviar seus representantes ao Executivo do Komintern em todos
os casos de graves conflitos internos, solicitando desse último uma resolução
última.”[131]
Com tais palavras solenes Grigori Zinoviev, Presidente do Komintern durante
os anos de seus primeiros quatro grandiosos Congressos Mundiais, caracterizou,
no Relatório
do Executivo Ampliado, celebrado em junho de 1923, a dimensão, o
perfil, o significado e a integração alcançada pela sua segunda mais numerosa
seção componente ou seu mais numeroso partido situado sobre a dominação de um
Estado Burguês, i.e. o Partido Comunista da Alemanha(KPD), no
seio do movimento socialista internacional do proletariado revolucionário.
Com efeito, durante a última parte de 1922, o Partido Comunista da
Alemanha(KPD) adquiriu influência cada vez mais crescente na vida
poítica desse país.
Ao final de 1922, esse partido contava com 218.555 membros, contrastando
visivelmente com a cifra de 180.443 militantes que integravam suas fileiras um
ano antes, logo após a deflagração da Ação de Março de 1921.
Considerando-se o número de 218.555 membros, importa assinalar que desse
montante 191.845 militantes eram homens, 26.710, mulheres, cerca de 6.000,
vereadores e apenas 400, diretores de sindicatos.
Essas cifras haviam sido computadas após ter-se verificado o rigoroso
pagamento das cotizações da militância, que, em um período de inflação
galopante, era efetivamente dificultoso de aferir-se.
Entretanto, de maneira mais lassa, indicava-se um número referencial de
cerca de 356.000 membros do partido, sem qualquer margem de dúvida a soma mais
elevada conhecida pelo PCA(KPD) durante todo período da República
Imperial de Weimar.
Diante desses números, assinalou o historiador alemão Hermann Weber :
“Nada obstante, o partido tinha com isso reunido apenas escarsos 5% dos
trabalhadores organizados nos sindicatos livres, sendo que, nas eleições
estaduais prussianas de fevereiro de 1921, apenas 5,5% dos eleitores (e com
isso escarsos 20% dos trabalhadores) votaram Partido Comunista.” [132]
Em setembro de 1922, eram as seguintes as mais importantes regionais do
Partido Comunista da Alemanha(KPD) :
Berlim-Brandenburg
................. 220 sedes .................................. 24.908 membros
Halle-Merseburg
....................... 235 sedes ................................... 23.374
membros
Wasserkante (Hamburg)
.......... 90 sedes
.................................... 23.206 membros
Renânia do Sul
......................... 138 sedes ................................... 19.309
membros
Renânia do Norte .....................
159 sedes ................................... 18.525 membros
Turíngea
.................................... 243 sedes
..................................
15.147 membros
Saxônia Ocidental
.................... 73 sedes
...................................
11.610 membros
Saxônia Oriental
...................... 73 sedes
..................................
3.580 membros[133]
Diante desse quadro, é possível, desde logo, verificar-se o peso mais
significativo da militância das regionais de Berlim, Hamburg e Renânia(Vale do
Ruhr), localidades em que o clima de grandes confrontações e de Guerra
Civil contra os representantes burgueses e sociais-democratas ainda
persistia intensamente vivo.
Nas regiões da Saxônia e da Turíngea, o contexto político da
luta de classes na Alemanha era então significativamente distinto.
Nesses Estados da República Imperial de Weimar,
células inteiras do antigo Partido Social-Democrático Independente da
Alemanha(USPD) haviam ingressado massivamente no Partido Comunista da
Alemanha(KPD), logo após a fusão operada no V Congresso de Berlim, de
4 a 7 de dezembro de 1920.
Esse processo de fusão arrastou consigo formas de organização operária
existentes em pequenas fábricas, distribuídas ao longo de inúmeras cidadelas ou
vilarejos[134].
Em muitos casos, os novos comunistas revolucionários da Saxônia e da Turíngea,
precedentes do USPD, possuíam penetrantes e íntimos vínculos existenciais
mantidos com as administrações e vereanças da Social-Democracia Alemã,
decorrentes da quotidiana convivência em pequenas municipalidades[135].
Esse clima de colaboração e convivência política, espraiava-se ainda para o
domínio sindical, para as associações esportivas de trabalhadores e comitês
locais de diversa natureza.
Acerca do tema, Ruth Fischer, dirigente da minoria zinovievista do PCA(KPD),
declarou :
“Em 80 câmaras municipais ao longo de toda Alemanha, os comunistas possuíam
maiorias absolutas. Em 170 outras, possuíam pluralidade. Mais de 6.000
vereadores estavam registrados como membros do Partido Comunista.
Uma secretaria especial do partido para negócios municipais
(Kommunalpolitische Abteilung) coordenava essas atividades.
Os sucessos locais pareciam até mesmo mais importante quando contrastados
com o Reichstag (Assembléia Legislativa Federal do Império), onde, depois da
ruptura de Paul Levi e seus associados, a bancada oficial do partido deixou de
ter 15 deputados necessários para propositura de medidas legislativas. ...
Nos sindicatos, o Partido Comunista tinha 997 grupos organizados, sendo que
400 diretores sindicais eram membros do partido e 60 diretorias de sindicatos
locais tinham maiorias comunistas.
Porém, nacionalmente, a influência comunista era relativamente baixa.
No Congresso Sindical de Leipzig, de junho de 1922, apenas 90 delegados
entre 694 eram comunistas.”[136]
Além disso, cabe anotar que o ano de 1922 já viria a revelar a intenção do
PCA(KPD) cobrir a mesma dimensão de atividades impulsionada pelo PC da
URSS.
A essa época, organizavam-se departamentos especiais nas cidades e
cooperativas, sob a direção do PCA(KPD), entre mulheres, jovens e
crianças, trabalhadores do campo e da cidade, camponeses e intelectuais,
visando à educação, à cultura e à recreação, ao recolhimento de auxílios para a
URSS,
promovendo a assistência jurídica e material de prisioneiros políticos
comunistas e suas famílias.
O Partido Comunista da Alemanha(KPD) possui, então, 34 jornais
diários, incluindo 50 edições especiais, entre os quais se destavam : Die
Internationale(A Internacional), Die Kommunistische Parteikorrespondenz(A
Correspondência Comunista do Partido), Die Kommunistiche Gewerkschafter(Os
Sindicalistas Comunistas), Der Kommunistische Genossenschafter(O Comunista das
Cooperativas), Der Kommunistische Landarbeiter(O Trabalhador Rural Comunista),
Der Pflug(O Cultivador) e Die Kommunistin(A Comunista)[137].
Os panfletos eram editados ou em grande tiragem, i.e. com 4 milhões de
cópias (reduzidas em setembro de 1922 para 1,8 milhão), ou pequena tiragem,
i.e. 1.4 milhão de cópias(reduzida respectivamente para 0,5 milhão).
O PCA(KPD) era particularmente ativo entre professores, junto aos
quais organizava um sindicato independente dessa categoria profissional, bem
como entre estudantes, que tomavam parte nas Kosufras(Frações Estudantis
Comunistas).
O Comitê Central do PCA(KPD) organizava escolas de
formação, em que se instruía companheiros no domínio da teoria econômica,
história das revoluções russas e alemães, programa agrário, marxismo-leninismo
etc.
Nesse contexto, atuavam 4 professores itinerantes do partido que percorriam
7 escolas distritais permanentes e 78 regionais.
Tendo acumulado um imenso patrimônio intelectual-ideológico no quadro de
sua direta convivência com os mais expressivos dirigentes bolcheviques que
impulsionaram e dirigiram a Revolução Russa de Outubro de 1917, Karl
Radek possuía plena clareza acerca do fato de que, na Alemanha
do início dos anos 20, a consigna Governo dos Trabalhadores representava
uma palavra de ordem marcadamente ordenadora, que conferia um direcionamento
político para a tática de Frente Única Proletária.
Para Radek, tal como para seu à época mais representativo discípulo
alemão, Heinrich Brandler, Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD),
o chamado à Frente Única de luta contra os governos democrático-burgueses
de Wilhelm
Cuno e Gustav Stresemann, defensores intransigentes do despotismo
capitalista comandado por Krupp, Stinnes, Klöckner e von Westarp, não
poderia ser conseqüentemente concebido sem o levantamento de uma consigna para
resolução da questão do poder do Estado.
Tal consigna, representada pela palavra de ordem Governo dos Trabalhadores,
surgia, porém, aos olhos de K. Radek, como o coroamento político
da tática de Frente Única, no quadro estrito da ordem democrático-burguesa,
permanecendo, porém, mantido, distintamente, para o futuro incerto e não
sabido, o objetivo final de instauração da Ditadura Revolucionária do Proletariado, com
o que a consigna Governo dos Trabalhadores surgia formulada por K.
Radek na medida em que a opunha absolutamente à Ditadura do Proletariado.
A despeito disso, o IV Congresso Mundial do Komintern,
realizado entre 5 de novembro e 5 de dezembro de 1922, parecia já haver
clarificado sobejamente a matéria acerca da tática revolucionária do
proletariado quando estabeleceu, de maneira nítida e pormenorizada, em suas Resoluções
o seguinte :
“Acerca da Tática do Komintern
1. Confirmação das
Resoluções do III Congresso ; ...
2. O Período de Decadência
do Capitalismo ; ...
3. A Situação Política
Internacional ;
4. Ofensiva do Capital ; ...
5. O Fascismo Internacional
; ...
6. A Possibilidade de Novas
Ilusões Pacifístas ; ...
7. A Situação no interior do
Movimento dos Trabalhadores ; ...
8.
A Ruptura dos Sindicatos e a
Preparação do Terror Branco contra os
Comunistas ; ...
9. As Tarefas de Conquista
da Maioria
Nessas circunstâncias, permanece sendo inteiramente válida a orientação
fundamental do III Congresso sobre “conquistar uma influência comunista sobre a
maioria da classe trabalhadora e a conduzir uma parte decisiva dessa classe à
luta”.
Ainda mais do que à época do III Congresso, possui validade a concepção de
que, no quadro do débil equílibrio atual da sociedade burguesa, a crise mais
aguda pode ser desencadeada, de modo totalmente repentino, em decorrência de
uma grande greve, de um levante colonial, de uma nova guerra ou mesmo de uma
crise parlamentar.
Porém, precisamente por isso adquire significado extraordinário o fator
“subjetivo”, i.e. o grau da consciência subjetiva, da vontade de luta e da
organização da classe trabalhadora e sua vanguarda.
Conquistar a maioria da classe trabalhadora da América e da Europa – essa
continua a ser a tarefa cardeal do Komintern.
Nos países coloniais e semi-coloniais, o Komintern possui dois tipos de
tarefas:
1.
criar um núcleo de partidos de comunistas que representem os interesses
comuns do proletariado, e
2.
apoiar, com todas as forças, o movimento nacional-revolucionário que se
direciona contra o imperialismo, tornar-se a vanguarda desse movimento e
destacar, bem como aumentar, o movimento social no interior do movimento
nacional.
10. Tática de Frente Única
Disso tudo, resulta a necessidade da tática de Frente Única.
A consigna do III Congresso “Rumo às Massas” possui validade muito mais
agora do que antes.
Apenas agora, inicia-se a luta pela formação da Frente Única Proletária em
um grande número de países.
Apenas agora, começa-se a superar também as dificuldades da tática de
Frente Única.
Como melhor exemplo disso, pode servir a França, onde a dinâmica dos
acontecimentos convence também os que eram, até há pouco tempo, adversários
principistas dessa tática, acerca da necessidade de sua aplicação.
O Komintern exige que todos os partidos e grupos comunistas executem a
tática de Frente Única, da maneira mais rigorosa, pois apenas ela aponta aos
comunistas, no período atual, o caminho seguro para a conquista da maioria dos
trabalhadores.
Os reformistas necessitam, agora, da cissão.
Os comunistas estão interessados no ajuntamento de todas as forças da
classe trabalhadora contra o capitalismo.
A tática de Frente Única significa o avanço da vanguarda comunista nas lutas
diárias das amplas massas trabalhadoras por seus mais imprescindíveis
interesses vitais.
Nessa luta, os comunistas encontram-se até mesmo dispostos a tratar com os
dirigentes traidores da Social-Democracia e de Amsterdã.
As tentativas da II Internacional de colocar a Frente Única enquanto fusão
organizativa de todos os “Partidos de Trabalhadores” devem ser evidemente
rechaçadas, da maneira mais categórica.
As tentativas da II Internacional de absorver, sob o manto da Frente Única,
as organizações de trabalhadores que se posicionam mais à esquerda (unificação
da Social-Democracia com a Social-Democracia Independente, na Alemanha), nada
mais significam senão a possibilidade para os dirigentes sociais-democratas de
entregar novas partes das massas trabalhadoras à burguesia.
A existência de partidos comunistas autônomos e de sua completa liberdade
de ação em face da burguesia e da Social-Democracia contra-revolucionária é a
mais importante conquista histórica do proletariado, a qual os comunistas não
devem renunciar, em nenhuma hipótese.
Apenas os partidos comunistas combatem pelos interesses do proletariado de
conjunto.
A tática de Frente Única não significa também, de nenhuma maneira, as assim
chamadas “Combinações Eleitorais” das direções que perseguem esse ou aquele
objetivo parlamentar.
A tática de Frente Única é a proposta da luta comum dos comunistas com
todos os trabalhadores que pertencem a outros partidos ou grupos e com todos
trabalhadores sem partido, com o objetivo de defender os interesses vitais mais
elementares da classe trabalhadora contra a burguesia.
Toda e qualquer luta em favor das reivindicações quotidianas mais ínfimas
forma uma fonte de escolarização revolucionária, pois as experiências da luta
convencerão os trabalhadores acerca da inevitabilidade da revolução e do
significado do comunismo.
Uma tarefa particularmente importante na execução da Frente Única é o
atingimento não apenas de resultados de agitação, como também de organização.
Nenhuma oportunidade pode ser perdida para criar, nas próprias massas
trabalhadoras, pontos de apoio organizativos (conselhos de fábrica, comissões
de controle de trabalhadores de todos os partidos e sem partido, comitês de
ação etc.).
O mais importante na tática de Frente Única é, e segue sendo, a
centralização agitadora e organizativa das massas trabalhadoras.
O êxito real da tática de Frente Única cresce de “baixo”, das profundezas
da própria massa trabalhadora.
Nisso, os comunistas não podem nisso renunciar também, em dadas
circunstâncias, a tratar com as direções dos partidos dos trabalhadores
adversários.
Acerca da dinâmica dessa tratativa, devem as massas, porém, estar plena e
duradouramente informadas.
A autonomia da agitação do partido comunista não pode, em nenhuma hipótese,
ser limitada, durante as tratativas com as direções.
É evidente que, de acordo com as condições concretas, a tática de Frente
Única deve ser aplicada nos diversos países em forma distinta.
Porém, nos mais importantes países capitalistas, onde as relações objetivas
para a transformação socialista estão maduras e onde – conduzidos por
dirigentes contra-revolucionários – os partidos sociais-democráticos trabalham,
conscientemente, para a cissão dos trabalhadores, será a tática de Frente Única
decisiva, para uma nova época.
11. Governo dos
Trabalhadores.
Enquanto consigna propagandística geral, deve ser utilizado o Governo dos
Trabalhadores (respectivamente Governo dos Trabalhadores e Camponeses), quase
que por todos os lados.
Porém, como consigna política atual , o Governo dos Trabalhadores possui
maior significado naqueles países onde a situação da sociedade burguesa é
bastante insegura, onde a relação de classes entre os partidos de trabalhadores
e a burguesia coloca, na ordem do dia, a decisão da questão de governo enquanto
necessidade prática.
Nesses países, surge a consigna do Governo dos Trabalhadores como sendo
conclusão inevitável a partir de toda a tática da Frente Única.
Os partidos da II Internacional procuram, nesses países, “salvar” a
situação mediante a propagação e concretização de uma coalizão dos burgueses
com os sociais-democratas.
As tentativas mais recentes de alguns partidos da II Internacional (p.ex.
na Alemanha) de rejeitar uma participação aberta em tal governo de coalizão,
executando-a, ao mesmo tempo, de maneira acobertada, não significam senão uma
manobra de pacificação em face das massas que protestam, tal como uma fraude
refinada das massas trabalhadoras.
Contra uma coalizão burguesa-social-democrática, aberta ou mascarada, os
comunistas postulam uma Frente Única de todos os trabalhadores e uma coalizão
de todos os partidos de trabalhadores, nos domínios econômico e político, para
a luta contra o poder burguês e para sua derrubada final.
Em luta unificada de todos os trabalhadores contra a burguesia, todo o
aparelho de Estado deve chegar às mãos do Governo dos Trabalhadores e, através
disso, devem ser fortalecidas as posições de poder da classe trabalhadora.
As tarefas mais elementares de um Governo dos Trabalhadores devem consistir
em armar o proletariado, desarmar as organizações burguesas e
contra-revolucionárias, introduzir o controle da produção, lançar o ônus
principal dos impostos sobre os ombros do ricos e quebrar a resistência da
burguesia contra-revolucionária.
Um tal Governo é apenas possível se nascer a partir da luta das próprias
massas, apoiando-se em órgãos combativos dos trabalhadores que são criados a
partir das mais baixas camadas das massas trabalhadoras oprimidas.
Também um Governo dos Trabalhadores que decorra de uma constelação
parlamentar, i.e. que seja de origem puramente parlamentar, pode dar ocasião ao
avivamento do movimento revolucionário dos trabalhadores.
É óbvio que o nascimento de um verdadeiro Governo dos Trabalhadores e a
subseqüente manutenção de um Governo que impulsiona política revolucionária há
de conduzir à luta mais encarniçada, eventualmente à Guerra Civil, contra a
burguesia.
Já mesmo a tentativa do proletariado de construir um tal Governo dos
Trabalhadores colidirá, de antemão, com a resistência mais aguda da burguesia.
A consigna de Governo dos Trabalhadores é , por isso, adequada para reunir
o proletariado e desencadear lutas revolucionárias.
Os comunistas devem declarar-se dispostos, em certas circunstâncias, a
formar um Governo dos Trabalhadores juntamente com partidos dos trabalhadores e
organizações dos trabalhadores não comunistas.
Ele poderão, entretanto, apenas fazê-lo se existirem garantias de que o
Governo dos Trabalhadores realmente conduzirá uma luta contra a burguesia no
sentido acima indicado.
Para isso, as evidentes condições de participação dos comunistas em um tal
Governo consistem em :
1.
a participação em um Governo dos Trabalhadores ocorrerá apenas com a
aprovação do Komintern ;
2.
os participantes comunistas em um tal Governo permanecerão sob o mais
rigoroso controle de seu partido ;
3.
os participantes comunistas em questão desse Governo dos Trabalhadores
ficarão em estreito contato com as organizações revolucionárias das massas ;
4.
o partido comunista conservará sua própria fisionomia e a plena autonomia
de sua agitação.
No marco de todas as grandes vantagens, a consigna Governo dos
Trabalhadores possui também seus perigos, tal como também os alberga toda
tática de Frente Única.
Para prevenir esses perigos, os partidos comunistas devem ter em
consideração o seguinte :
Todo Governo Burguês é, ao mesmo tempo, um Governo Capitalista. Porém, nem todo Governo dos Trabalhadores é
um instrumento de poder do proletariado, um instrumento de poder realmente
proletário, i.e. revolucionário.
A Internacional Comunista deve considerar as seguintes possibilidades :
I. Governos Aparentes dos Trabalhadores
1. Governo Liberal dos Trabalhadores : um tal Governo existiu na Austrália.
Um tal Governo tornar-se-á também possível, no futuro breve, na Inglaterra.
2. Governo Social-Democrático dos Trabalhadores (Alemanha).
II. Governos Autênticos dos Trabalhadores
3. Governo dos Trabalhadores e Camponeses Pobres : uma tal possibilidade
existe nos Balcães, na Tchecoslováquia etc.
4. Governo dos Trabalhadores com Participação dos Comunistas.
5. Governo Autenticamente Revolucionário dos Trabalhadores, o qual, em sua forma
pura, pode apenas ser incorporado através do partido comunista.
Os comunistas estão dispostos a marchar também com aqueles trabalhadores
que ainda não reconheceram a necessidade da Ditadura do Proletariado.
Os comunistas estão, assim, também dispostos a apoiar, sob certas
condições, sob certas garantias, um Governo dos Trabalhadores em verdade tão
somente aparente, não comunista, evidentemente apenas na medida em que
represente os interesses dos trabalhadores.
Os comunistas declaram, igualmente, aos trabalhadores, de maneira aberta,
que, sem uma luta revolucionária contra a burguesia, um Governo Autêntico dos
Trabalhadores não pode ser alcançado nem mesmo mantido.
Enquanto Governo Autêntico dos Trabalhadores, pode-se conceber apenas um
Governo que esteja resolvido a admitir, no mínimo, a luta séria para satisfação
das mais importantes reivindicações diárias dos trabalhadores contra a
burguesia.
Apenas de um tal Governo podem participar os comunistas.
Os dois primeiros tipos de Governo Aparente dos Trabalhadores (tipos
liberal e social-democrático) não são Governos revolucionários, podem, porém,
sob certas circunstâncias, acelerar o processo de decomposição do poder
burguês.
Os dois outros tipos de Governo dos Trabalhadores (Governo dos
Trabalhadores e Camponeses, Governo Comunista-Social-Democrático) não
significam ainda a Ditadura do Proletariado.
Eles não representam nem sequer um estágio de transição historicamente
inevitável para a Ditadura, porém são, se surgirem em algum lugar, um ponto de
partida importante para a conquista dessa Ditadura.
A perfeita Ditadura do Proletariado é apenas aquele Governo Autêntico dos
Trabalhadores (cifra 5) que é composto por comunistas.
12. Movimento dos Conselhos
de Fábrica ;
................................................................................
13. O Komintern enquanto
Partido Mundial ;
................................................................................
14. A Disciplina Internacional
;
................................................................................
O Congresso decide apensar a essa Resolução, enquanto anexo, o texto das
Teses de Dezembro (de 1921) do Executivo acerca da Frente Única, de vez que
essas teses clarificam, de modo detalhado e correto, a tática da Frente Única.”[138]
Na Alemanha do início dos anos 20, a problemática relacionada com
a formulação da tática de Frente Única e da consigna de Governo
de Trabalhadores surgia enfeixada com a perpectiva de conquista de
maiorias parlamentares absolutas, conformadas com deputados e governantes
saídos das fileiras reformistas da Social-Democracia e do Partido
Comunista Alemão(KPD), em diversas esferas de governo estadual da República
de Weimar, com especial para os Estados da Saxônia, da Turíngea
e de Mecklenburg-Strelitz..
Além disso, é mister assinalar que, imediatamente após o assassinato de 24
de junho de 1922, perpetrado contra o Ministro do Exterior da Alemanha, responsável
pela assinatura do Tratado de Rapallo com a Rússia Soviética, antigo membro do Partido
Democrático, o empresário industrial Walther Rathenau,
alvejado por grupos nacionalistas-reacionários e anti-semitas, começaram a
surgir, na Alemanha, diversas marchas massivas de trabalhadores e
populares na luta contra o ascenso das organizações de extrema-direita, em prol
da assim chamada “Defesa da República”.
Tais marchas, impulsionadas em Frente Única dos principais
sindicatos e partidos apoiados sobre a classe trabalhadora, deram nascimento às
primeiras Centúrias Proletárias, situadas majoritariamente sob a direção
dos sociais-democratas e sociais-democratas independentes.
No quadro do Acordo de Berlim de 1922 cerraram fileiras os representantes da
classe trabalhadora alemã, juntamente com o Partido Comunista da
Alemanha(KPD), em favor da luta pela promulgação de uma Lei
de Proteção da República, reguladora da dissolução das organizações
militares secretas de extrema-direita, bem como depuração democrática da
administração pública, das forças armadas e do Poder Judiciário.
O órgão jornalístico do PCA(KPD), a Rote Fahne(Bandeira Vermelha) declarara,
à época, sob a direção política Radek-Brandler, que a classe
trabalhadora alemã possuía o direito e o dever de defender a República
Imperial Alemã[139].
Nada obstante, o efeito mais próximo surgido com a subseqüente promulgação
da
Lei de Proteção da República resultou ser a produção de um instrumento
normativo para a perseguição também das atividades das organizações assim
qualificadas de extrema-esquerda, entre elas o próprio PCA(KPD), excluído, além
disso, das mais significativas negociações jurídico-políticas encabeçadas pela Social-Democracia
Alemã.
Esse contexto político colocava para os comunistas revolucionários de então
o desafio de efetivamente conceber o debate travado acerca da Frente
Única e dos Governo dos Trabalhadores no quadro de uma situação histórica
reputadamente muitíssimo distinta daquela da Revolução Russa de 1917.
Sendo assim, a versão política de K. Radek, sua abordagem analítica,
seu método de postulação das tarefas revolucionárias decorrentes da tática de Frente
Única e dos Governo de Trabalhadores pautaram-se por conduzir,
inevitavelmente, tal como Trotsky assinala brilhantemente no Programa
de Transição, citado na introdução do presente trabalho, à reprodução
dessas consignas em sua versão democrático-burguesa, i.e. plenamente
aprisionada nos limites da ordem legal-constitucional burguesa-capitalista.
Visando à adicional elucidação dessa afirmação, importa à presente
investigação apresentar ao leitor, ainda, as seguintes intervenções de K.
Radek acerca da presente temática introdutória, formuladas junto ao IV
Congresso Mundial do Komintern, realizado entre 5 de novembro e 5 de
dezembro de 1922 - i.e. no quadro preambular do surgimento da mais poderosa
situação revolucionária que a Alemanha do século XX conheceu. Tais
intervenções haverão de iluminar, indubitavelmente, todo o curso subseqüente do
presente trabalho :
“A companheira Fischer mencionou, em seu discurso, um grande número de
deficiências na Ação-Rathenau que nós, aqui em Moscou, no Executivo, quando
recebemos as informações detalhadas acerca do curso dos acontecimentos, também
concebemos como tais. Se, no partido, vozes se levantam, elas afirmam : “Em uma
ação que deve ser ação de massa – nenhum segredo diante das massas ! Não há de
se permitir receber ordens da Social-Democracia, em nenhuma circunstância, no
sentido de que, se mantemos negociações com eles, nossos companheiros não podem
ser informados publicamente, em todos os detalhes, sobre essas negociações.”
Se, no partido, vozes se levantam, elas afirmam : “A imprensa comunista deve
tomar posição comunista em face de todo e qualquer acontecimento e não correr
atrás do cadáver de Rathenau, gritando República, Repúiblica !”
Se isso assim se diz, podemos apenas responder que desejamos essa seja não
apenas a voz da oposição, mas do partido em seu conjunto.
Apenas quem pretende ser um por assim dizer advogado jurado da Presidência
do Partido pode negar que o partido alemão, no início da Ação-Rathenau, tenha
cometido erros .
Quando recebemos aqui para ler a “Rote Fahne”, o companheiro Zinoviev disse
diversas vezes : “Ao diabo com eles ! O que eles tem a ver com essa República,
o que eles tem a ver com esses Rathenau ! Nenhuma palavra crítica acerca dessas
coisas !” Esse foi nosso sentimento comum.
O partido atrelou-se demais aos sociais-democratas por medo de isolamento.
Se a crítica da companheira Fischer consistisse apenas nisso, ela teria
total razão, porém, na sua crítica, surgem ainda outros momentos.
A companheira Fischer disse, entre outras coisas, que ela não está, em
princípio, contra as negociações com as direções, mas que ela também não está,
em princípio, em favor dessas negociações, porém que as coisas deveriam ser
provadas com cuidado. ....
No que concerne à questão do Governo dos Trabalhadores, gostaria de
sublinhar uma palavra muito feliz na intervenção da companheira Fischer.
Ela disse que existiria o perigo de envenenamento do comunismo no Ocidente[140].
Acerca desse perigo gostaria de dizer algumas palavras.
Quando o companheiro Zinoviev disse no Executivo Ampliado que o Governo dos Trabalhadores seria para
nós um pseudônimo para a Ditadura do Proletariado, ... essa definição que, em
meu entendimento, não é correta, surgiu
de uma preocupação, precisamente da preocupação que foi descrita aqui pela
companheira Fischer com suas palavras sobre o “envenamento no Ocidente”. Para
muitos companheiros, a idéia de Governo dos Trabalhadores é um tipo assim de
travesseiro de dormir confortável.
Eles dizem : “- Ditadura, o diabo lá sabe quando virá. De toda forma, a
agitação com a consigna de Ditadura é muito difícil de ser executada. Então,
digo, preferentemente, Governo dos Trabalhadores. Isso soa bem suave e inocente.
Ninguém sabe o que é que é isso. Talvez, isso seja, então, alguma coisa. Em
todo caso, não surge como sendo tão perigoso.”
Esse perigo deve ser eliminado através do tipo da nossa agitação.
O Governo dos Trabalhadores não é a Ditadura do Proletariado, isso está
claro. Ele é um dos pontos possíveis de transição para a Ditadura do
Proletariado. Esse ponto possível de transição consiste em as massas
trabalhadoras no Ocidente não eram politicamente amorfas, não desarticuladas,
como no Oriente.
Elas estão articuladas em partidos e encontram-se aderidas aos partidos.
No Oriente, na Rússia, quando começou a tempestade revolucionária, foi mais
fácil de trazê-las diretamente para o campo do comunismo.
Junto a vocês (i.e. no Ocidente), isso é muito mais complicado.
Os trabalhadores alemães, noruegueses, tchecolosvacos, vão se declarar
muito mais facilmente em favor do seguinte : “- Sim, nenhuma coalizão com a
burguesia, melhor uma coalizão com os partidos de trabalhadores, que nos
assegurem 8 horas por dia, nos dão mais um pedaço de pão etc. etc.”
Então, surgirá um tal Governo dos Trabalhadores, seja em lutas precursoras,
seja sobre a base de uma combinação parlamentar, sendo que é um absurdo
rejeitar a possibilidade de uma tal situação. É um absurdo rejeitá-la
doutrinariamente. Nessa altura, a pergunta será a seguinte : “- Deitemo-nos
sobre esse travesseiro do sossêgo e descansemos ou procuremos trazer as
próprias massas, sobre a base de suas ilusões, para a luta em favor do programa
do Governo dos Trabalhadores ?”
Se concebermos o Governo dos Trabalhadores como um travesseiro do sossêgo,
falirá não apenas o Governo dos Trabalhadores, senão ainda seremos derrotados
politicamente. Surgiremos, juntamente com os Sociais-Democratas, como um novo
tipo de enganadores. Mantendo nas massas a consciência de que o Governo dos
Trabalhadores é uma sujeira se atrás dele não se posicionam trabalhadores que
tomem as armas, construam os Conselhos de Fábrica, derrubem esse Governo, não
lhe permitindo concluir compromissos à direita, tornar-se-á o Governo dos
Trabalhadores um ponto de partida para a luta pela Ditadura do Proletariado.
Tal Governo dará lugar a um futuro Governo Soviético. Ele não será um
travesseiro do sossêgo, mas sim introduzirá um período de luta pelo poder com
meios revolucionários.”[141]
Rejeitando rigorosamente, nessa sede, a perspectiva de a consigna de Governo
dos Trabalhadores, coroadora política da tática de Frente Única, poder ser
admitida como uma designação popular da Ditadura Revolucionária do Proletariado, como
um pseudônimo da luta revolucionária em prol da aliança firmada entre o
proletariado e o campesinato para o embasamento de um Poder Soviético, K.
Radek postulou-a, então, dentro de uma concepção essencialmente
democrático-burguesa, reduzindo-a à condição de um dos possíveis pontos de
transição para a Ditadura do Proletariado no Ocidente, sendo
impulsionada mediante lutas precursoras ou sobre a base de uma combinação
parlamentar.
Nesse último sentido, o Governo dos Trabalhadores, concebido
enquanto instrumento de facilitação e aceleração da edificação Ditadura
da Revolucionária do Proletariado, ao qual seria admissível aderirem os
marxistas revolucionários teria não como pré-condição de sua eventual
composição com forças sociais-democráticas, rompidas com a burguesia, a
intensificação inadiável e exponencial do armamento das massas proletárias, a
imediata supressão dos órgãos parlamentares do Estado Burguês e a
elevação do congresso dos conselhos de trabalhadores à condição de poder do Estado
Proletário.
Pelo contrário, segundo K. Radek, o Governo dos Trabalhadores, contando
com a participação de representantes do comunismo revolucionário e da Social-Democracia,
cujos com a burguesia estariam rompidos, seria um ponto de partida
contemporizador para o impulsionamento da luta pela Ditadura do Proletariado, mediante
a possibilidade de implementação de uma política operária, asseguradora de
conquistas básicas de conteúdo econômico-proletário, tal como jornada de
trabalho de 8 horas, bem como conclamadora de sua sustentação pelos
trabalhadores.
Segundo a lógica radekista, esses últimos deveriam, a partir da instituição
desse Governo dos Trabalhadores, na base de uma atividade
propagandística de persuasão consciente,
decidirem-se por tomar as armas e construir seus conselhos de fábrica,
embriões do novo órgão legislativo do Estado, agindo por, no final das contas,
derrubar esse mesmo governo, tornando-se assim um ponto de transição para a Ditadura
do Proletariado.
Estremando, assim, claramente entre os conceitos políticos de Governo
dos Trabalhadores e Ditadura do Proletariado, tal como
se tratasse esses ambos conceitos de duas etapas plenamente distintas e
inconfundíveis da luta de massas proletárias pelo socialismo, K.
Radek assinalou, ainda, claramente, em sua contribuição à discussão do IV
Congresso Mundial do Komintern :
“Acho que um dos companheiros disse : o Governo dos Trabalhadores não é uma
necessidade histórica, mas sim uma possibilidade histórica.
Essa é, na minha opinião, uma fórmula correta.
Seria inteiramente errado apresentar as coisas assim como se o
desenvolvimento do macaco em Comissário do Povo tivesse de passar
obrigatoriamente pela fase do Governo dos Trabalhadores.
Porém, essa variante é possível na história e ela é possível em uma série
de países onde existem movimentos camponeses, ao lado de fortes movimentos
proletários, ou onde a classe trabalhadora é tão grande como na Inglaterra, em
que a a burguesia não possui nenhum grande meio direto de poder contra a classe
trabalhadora ...
Portanto, companheiros, nessa questão, acredito que o Executivo tem, no
geral, na colocação do problema, na medida em que, de um lado, adverte contra
uma total intransigência que afirma : ou Governo Soviético ou nada, e, por
outro lado, alerta contra a ilusão que se poderia fazer um para-quedas do
Governo dos Trabalhadores ...
O caminho da Frente Única é muito mais difícil do que afirmamos taticamente
em 1919 : Arrebentem com tudo !
É muito mais fácil e agradável arrebentar com tudo.
Porém, quando não se a força para fazê-lo e esse caminho é necessário,
torna-se preciso caminhar com a consciência de que os perigos que através dele
perpassam ameaçam a partir da direita e, ao mesmo tempo, caminhar com a firme
confiança de que esse caminho provoca danos não para nós, mas sim para a
Social-Democracia.
Não fosse assim, a II Internacional não tentaria, tão histerica e
convulsivamente, desabar a ponte que existe entre nós.
Isso nós não fazemos e não o fazemos, em verdade, pela vontade de fusão com
os Scheidemanns, mas sim em virtude da convicção de que os destroçaremos ao
abraçá-los.”[142]
Sendo-lhe, a seguir, conferida a palavra para seu célebre informe acerca da
Ofensiva
do Capital Mundial e a Tática da Internacional Comunista, proferido no IV
Congresso Mundial do Komintern, K. Radek teve a possibilidade de
discorrer ainda mais detalhadamente acerca de sua concepção sobre Frente
Única e Governo de Coalizão dos Trabalhadores, constituído por
representantes da Social-Democracia Alemã e do Partido Comunista Alemão(KPD), sem
que seus argumentos viessem a ser, ao final, sufragados rigorosamente pelas
resoluções adotadas pelos delegados presentes nesse congresso :
Plano de Exposição
“I. Ofensiva do Proletariado
........................................... ;
II. A Contra-Ofensiva do Capital
........................................... ;
III. A Vitória do Fascismo
........................................... ;
IV. A Luta contra a Contra-Ofensiva do Capital ;
........................................... ;
V. As Consignas de Luta
........................................... ;
VI. Governo dos Trabalhadores
E agora passo para a questão que cumpre um grande papel em nossa luta
contra a ofensiva do capital, um grande papel nas realizações práticas do
companheiro Zinoviev acerca da questão do Governo dos Trabalhadores que não
podemos desconectar do debate sobre a luta contra a ofensiva do capital...
Nos países de desagregação do capital, essa idéia encontra-se muito
vivamente ligada com a de Frente Única e, tal como dizem os trabalhadores,
Frente Única significa que os comunistas e os sociais-democrátas não se
combatem nas fábricas, durante as greves, mas sim caminham juntos.
Assim, a idéia do Governo dos Trabalhadores para as massas trabalhadoras
assume o mesmo significado : elas pensam no governo de todos os partidos dos
trabalhadores.
Que quer dizer isso prática e politicamente para as massas ?
Essa pergunta, já a respondemos.
E como nos posicionamos diante dessa pergunta ?
Se se investiga a questão acerca de em que medida é praticamente provável
chegar-se a esses Governos de Coalizão de Trabalhadores, pode-se encontrar
milhares de respostas engenhosas. ...
A questão decidir-se-á através do fato de saber se os sociais-democrátas
seguirão juntos, até a sua morte, com a burguesia.
Se esse for o caso, o Governo dos Trabalhadores é apenas possível enquanto
Ditadura do Proletariado Comunista.
Não podemos decidir acerca da política da Social-Democracia.
O que temos de decidir é se surgimos diante das massas, em nossa luta
contra a ofensiva do capital, se lhes podemos dizer que estamos dispostos a
lutar por um Governo de Coalizão dos Trabalhadores, a criar as pré-condições
para ele ou não ?
Essa é a questão que se pode apenas confundir mediante calculações
supostamente teóricas.
No meu entender, se a luta pela Frente Única segue adiante, teríamos de
dizer, pura e simplesmente, que, se as massas trabalhadoras
sociais-democráticas forçarem seus líderes a romper com a burguesia, estamos
dispostos a participar de um Governo dos Trabalhadores, na medida em que esse
Governo venha a ser um órgão da luta de classes.
Digo : se ele estiver disposto a lutar juntamente conosco.
Se a situação fosse assim de modo que um frango assado nos caisse do céu,
de modo que não se modificasse no Império Alemão, o carvão permanecesse com
Stinnes, as forças armadas na mão dos monarquistas, tendo Scheidemann apenas a
Rua de Wilhelm (i.e. a rua da sede do Governo) e para essa Rua de Wilhelm
fossemos convidados ; se nosso companheiro Meyer vestisse um fraque e levasse
debaixo do braço a companheira Ruth Fischer, que está relutante, conduzindo-a
ao Palácio da Chancelaria Imperial – se existissem essas perspectivas
históricas haveria de se opor o seguinte contra uma tal idéia :
Em primeiro lugar, viria um tenente com 10 homens e deporia os companheiros
Meyer, Scheidemann e Ruth Fischer, sendo que, então, se colocaria um fim no Governo
dos Trabalhadores.
Porém, na luta contra a ofensiva do capital não se trata de uma combinação
parlamentar, mas sim de uma plataforma para a mobilização das massas, uma
plataforma para a luta.”[143]
Admitindo, embora restritivamente, nessa outra sede, a perspectiva de a
consigna de Governo dos Trabalhadores, coroadora política da tática de Frente
Única, poder ser admitida enquanto expressão da ”Ditadura do Proletariado
Comunista”, K. Radek postulou, então, dentro de uma concepção essencialmente
democrático-burguesa, uma segunda versão de Governo dos Trabalhadores, desta
feita resultante não mais de uma combinação parlamentar, mas sim estritamente
como uma plataforma para a mobilização das massas, um ponto de início para o
desferimento contra a ofensiva contra o capital, i.e. como suposto ponto de
lutas precursoras em favor da Ditadura Revolucionária do Proletariado.
Mais uma vez nessa sede, resulta claro que a participação dos marxistas
revolucionários em um Governo de Coalizão dos Trabalhadores, composto
conjuntamente com os representantes pequeno-burgueses dos trabalhadores e
camponeses não teria como pressuposto a execução inadiável das medidas de
intensificação exponencial do armamento das massas proletárias, imediata
abolição dos órgãos parlamentares do Estado Burguês, elevação do
congresso dos conselhos de trabalhadores à condição de poder do Estado
Proletário etc., todas essas conseqüentemente compatíveis com a
edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado. Segundo K.
Radek, o Governo de Coalizão dos Trabalhadores, formado por comunistas
revolucionários e sociais-democráticos, rompidos com a burguesia, poderia ser
entendido como uma ante-sala para ingressar-se na Ditadura Revolucionária do
Proletariado.
Porém, tal concepção de K. Radek jamais o entreviu o fato de
que o ingresso dos comunistas revolucionários em tal ante-sala seria apenas
admissível de realizar-se mediante o atendimento da pré-condição desse Governo
de Coalizão dos Trabalhadores dedicar-se, incansavelmente, à imediata
intensificação do armamento do proletariado, ao impostergável fechamento dos
órgãos burgueses parlamentares e constituição dos conselhos de trabalhadores
como órgãos legislativos, como meio conseqüente para o impulsionamento da
tarefa de destruição violenta do Estado Burguês, no quadro da
abertura de uma Guerra Civil Revolucionária.
Todos esses atos revolucionários havendo, pois, de serem concebidos como
imprescindíveis para a edificação do Estado Proletário de transição, rumo
à fase inferior do comunismo, i.e. o socialismo :
“A questão coloca-se assim : serão os sociais-democratas botados para fora
da coalizão pela burguesia, posicionando-se em um canto tranqüilo para
protestar, apodrecerão no interior da coalizão ?
Ou ajudamos as massas a os forçar a dar início à luta ?
Poder-se-ia dizer : porque precisamos quebrar a cabeça com o que eles
farão?
Se se tratasse dos dirigentes da Social-Democracia, nós iríamos preferir,
com toda a certeza, que eles apodrecessem.
Porém, como se trata da mobilização das massas trabalhadoras
sociais-democratas, temos de intervir com um programa positivo.
Em que medida isso situa-se em contradição com a Ditadura do Proletariado,
com a Guerra Civil ?
Situa-se em uma tal contradição tal como a de uma ante-sala para uma sala.
Pode-se entrar em um quarto através da parede, se esse estiver trancado.
Até mesmo é possível entrar no quarto pela chaminé. ...
Se iremos ao Governo através da Guerra Civil, se a ele iremos através da
falência da burguesia, a Guerra Civil é o resultado do Governo dos
Trabalhadores.
A classe trabalhadora não será capaz de manter o poder sem a Guerra Civil.
Não é como se nós, comunistas, dissessemos para nós mesmos : sem Guerra
Civil não posso viver, tal como Tom Sawyer acreditava ter de libertar o Negro
através de um acesso subterrâneo, apesar de as portas estarem abertas.
Não é como se dissessemos : sem a Guerra Civil não aceito o poder, sem a
Guerra Civil eu sou infeliz, senão é-o pelo simples motivo ... : a burguesia
pode falir nesse ou naquele caso, porém ela não cederá definitivamente o poder
sem uma luta encarnecida.
Se os sociais-democratas não são capazes de lutar, iremos, então, tirá-los
para fora do caminho.
Onde surgir o Governo dos Trabalhadores, ele será apenas o ponto de partida
da luta pela Ditadura do Proletariado, pois a burguesia não tolerará um Governo
de Trabalhadores fundado até mesmo sobre uma base democrática ...
O trabalhador social-democrata tem de se tornar comunista, tem de travar a
Guerra Civil para defesa de sua dominação.
Por essa razão, entendo que, na prática, no desenvolvimento das coisas, não
nos ameaça nenhum grande perigo de empantanar-nos, na medida em que se tratade
autênticas lutas de classe e não de questões parlamentares de governo em ninhos
pequenos, situados em Braunschweig ou na Turíngea, onde se pode chegar-se ao
Governo sem Guerra Civil.
Com isso não quero dizer que essa questão deve ser tratada como
inexistente.
A consigna de Governo dos Trabalhadores é uma consigna necessariamente
orientadora, uma consigna que coloca um objetivo político unificado para a
Frente Única.
No momento em que os trabalhadores se juntem para a luta em favor do
Governo dos Trabalhadores, do controle da produção, significará o início de
nossa contra-ofensiva, pois a ofensiva começará quando defendermos não apenas
aquilo que desaparece, mas sim também quando lutarmos por novas posições.”[144]
Dando fiel expressão à versão radekista-brandleriana de
conteúdo puramente democrático-burguês da consigna de Governo dos Trabalhadores, opondo-a,
decisivamente, à Ditadura do Proletariado, o VIII Congresso do Partido
Comunista da Alemanha(KPD), realizado em Leipzig, em janeiro de
1923, adotou, diretamente sobre a influência de K. Radek, a seguinte
caracterização em seu programa :
“A luta pela Frenta Única conduz à conquista das velhas organizações de
massas proletárias, tais como sindicatos e cooperativas.
Esses instrumentos da classe trabalhadora, que as táticas dos reformistas
transformaram em ferramentas da burguesia, tornam-se, novamente, mediante essa
luta, instrumentos do proletariado (p. 417).
O Governo dos Trabalhadores não é nem a Ditadura do Proletariado nem um
ascenso pacífico e parlamentar rumo a ela.
Ele é uma tentativa da classe trabalhadora de, no quadro da e
antecipadamente com os meios da democracia burguesa, praticar política
operária, apoiando-se em órgãos proletários e nos movimentos proletários de
massas.
Por outro lado, a Ditadura do Proletariado é uma explosão consciente do
contexto democrático.
Ela explode o aparato do Estado Democrático e substitui-o completamente com
organizações da classe proletária(p. 420).”[145]
O bloco Radek-Brandler, enquanto tendência majoritária entre os 219
delegados presentes no VIII Congresso de Leipizig, dirigia,
inconstestavelmente, as regionais da Saxônia, Turíngea, Halle-Merseburg, Renânia
do Sul, Baden e Württemberg.
A minoria oposicionista estava construída nos grandes centros industriais,
abarcados pelas regionais de Berlim-Brandenburg, Wasserkante(Hamburg), Hessen-Frankfurt
e Renânia Norte e do Centro.
Acerca dos mecanismos estratégicos de aprovação dessa orientação política Radek-Brandler
relativa à aplicação da tática de Frente Única e da consigna do Governo
dos Trabalhadores, no quadro da e antecipadamente com os meios da democracia
burguesa, relatou-nos Ruth Fischer, dirigente da minoria
zinovievista, junto ao congresso em evidência :
“A intenção dos dirigentes do partido era desenvolver os êxitos locais, a
partir da cidade para os governos estaduais e, em janeiro de 1923, convocou-se,
para Leipzig, um congresso visando a discutir-se essa política.
Paul Böttcher, editor do jornal comunista, esboçou as vantagens da política
do ano anterior.
Sob sua direção, o partido de Leipzig dedicou-se a criar uma atmosfera
apropriada para o Congresso : delegações de trabalhadores deviam comparecer e
exigir que o partido ingressasse nos governos estaduais.
Todas novas vitórias eleitorais deveriam ser anunciadas. Os êxitos nos
sindicatos locais haveriam de ser contrastados com a falta de influência do
partido nos grandes centros industriais.
Em Berlim, Radek, com Heinrich Brandler e August Thalheimer, prepararam a
declaração política para o Congresso.”[146]
Com efeito, em 11 de janeiro de 1923, começou a esboçar-se uma profunda
transformação na situação da luta de classes da Alemanha : tropas
francesas e belgas marcharam para o Vale do Ruhr, em razão do Não-Pagamento
Alemão da Dívida concernente aos prejuízos produzidos pela I
Guerra Imperialista Mundial[147].
Em 13 de feveiro, erigiram tais tropas uma fronteira aduaneira entre as
áreas que haviam ocupado no Ruhr e as demais áreas do território
alemão.
A conclamação à „Resistência Passiva“, de conotação nacional-chauvinista,
formulada pelo governo federal alemão de direita, comandado por Cuno,
Ebert e Stinnes, contra a
ocupação do Vale do Ruhr pelas tropas francesas e belgas de Poincaré,
culminou, rapidamente, na deflagração de greves nessa região, conducentes à
eclosão de uma crise de natureza sócio-econômica e político-institucional em
todo país.
Esses eventos aceleraram exponencialmente o processo de inflação da moeda
alemã, conduzindo, em poucas semanas, à sua mais expressiva ruína.
Acerca do tema, Trotsky teve a oportunidade
de escrever, expressamente, já mesmo, no final do ano anterior, em 13 de
dezembro de 1922 :
„A ameaça de uma ocupação militar por parte dos Estados ocidentais terá por
resultado o freio do desenvolvimento da Revolução Alemã, até o ponto em que o
Partido Comunista Francês demonstrar que é capaz de paralisar esse perigo e
estar disposto a fazê-lo. ...
Não existe quase nenhuma razão para afirmar categoricamente que a revolução
proletária triunfará na Alemanha, antes que as dificuldades externas e internas
da França não conduzam a uma crise governamental e parlamentar nesse país. ...
A burguesia não é, para nós, uma pedra que rola em direção do precipício,
mas sim uma força histórica viva que manobra, avança tanto para a sua direita
quanto para a sua esquerda.
Apenas se aprendemos todos os meios e métodos políticos da sociedade
burguesa, para reagir, a cada vez, sem hesitação nem atraso, conseguiremos
acelerar o momento em que, em um movimento preciso e seguro, projetaremos,
definitivamente, a burguesia no abismo.“[148]
Em maio de 1923, Erich Wollenberg, cujo nome de
guerra era Walter, membro do Partido Comunista Alemão(KPD), dirigiu um „levante armado espontâneo“, em Bochum.
Nessa ocasião, registraram-se confraternizações entre soldados franceses do
exército de ocupação e milícias proletárias alemães, ao som das palavras de
ordem „Abaixo Poincaré! Abaixo Stinnes!“[149]
A direção do PCA(KPD), sob Karl
Radek, Heinrich Brandler e Ruth Fischer, essa última representante da
minoria zinovievista de oposição, bem como a direção do Komintern, presidida por Grigori
Zinoviev, decidiu condenar, resolutamente, já nessa primeira
oportunidade, o impulsionamento por militantes comunistas revolucionários do Levante
de Bochum de 23, considerando-o como
„uma provocação da burguesia alemã“, e determinou o desarmamento dos
trabalhadores sublevados.
Já então havia surgido e amadurecido, inconfundivelmente, uma situação
revolucionária, contraditada pela progressiva estruturação de forças
nacionalistas-reacionárias, expressada essa última, paradigmaticamente, no
fuzilamento executado pelas autoridades francesas, em 26 de maio de 1923, do
oficial dos Freikorps, Albert Leo Schlageter, empenhado na luta de “Resistência
Passiva”[150].
Com efeito, já no início da Crise do Vale do Ruhr, Karl Radek declarara ao
Governo
Alemão de Cuno, Ebert e Stinnes, sua intenção de pretender afastar os
comunistas revolucionários de toda atividade naquela região[151].
Fundado em sua perspectiva lançada pela conclusão do Tratado de Rapallo, de 16 de abril
de 1922, entre a Rússia Soviética e a
República Imperial de Weimar, Karl Radek conferia, assim, nítido
aprofundamento, à sua própria orientação revolucionário-administrativista,
estratégico-diplomática, jornalístico-irresoluta, postulando um posicionamento
político nitidamente estatal-colaboracionista, de caráter russo-germânico e
franco-britanofóbico, relegador da perpectiva da luta de classes internacional
do proletariado revolucionário em favor de uma suposta e quimética Comunidade
de Destino da Alemanha com a Rússia [152] :
“... o destino da Alemanha – se tivermos de falar segundo os conceitos da
antiga tragédia – é o de ser uma nação devedora e sua comunidade de destino com
a Rússia reside nesse domínio.”[153]
Nesse preciso contexto histórico-político, Karl Radek elevou ao ápex
sua doutrina de conversão da Alemanha em “colônia industrial”, parceira
de luta da Rússia Soviética, contra o imperialismo franco-britânico,
valendo-se para tanto das especulações teorizadas habilmente por Eugen
Varga(Evgenii Pavlovski) e Nikolai Bukharin[154].
Em comentário acerca do tema, Ruth Fischer, dirigente da minoria
zinovievista do PCA(KPD), observou :
“No principal, a teoria da transformação da Alemanha em um colonia
industrial do Oeste foi fabricada para implementar o Tratado de Rapallo.
Em 1922-1923, Varga, Bukharin e Radek estavam descobrindo um novo papel
para a burguesia alemã, a qual foi por eles convertida de inimiga de classe em
vítima, sofrendo quase tanto quanto os trabalhadores alemães.
Uma frente nacional de todas as classes contra Entente tornara-se
imperativa.
Os teóricos da “Alemanha como colonia industrial” tentaram dirigir o
movimento operário alemão, em todas as suas alas – de direita, esquerda e
centro, sindical e comunista – para novos canais. ... Deslocando a ênfase do
ódio de classe de seu objetivo histórico – a burguesia alemã em todas as suas
personificações – para a Entente, os teóricos perverteram o movimento operário
da Alemanha e, conseqüentemente, da Europa. Eles agravaram a confusão
intelectual e psicológica, a qual era a condição primordial para o crescimento
das ideologias e das organizações totalitárias.
Essa revisão da política de classes de Lenin foi além dos problemas
limitados alemães. ... A aliança entre a Rússia e a burguesia alemã foi exortada
como necessária para a defesa da Rússia contra invasões futuras do Oeste.
No caso de guerra, tal aliança foi considerada mais realista do que aquela
entre a Rússia e os trabalhadores alemães.
Pois, o abandono do conceito de uma revolução dos trabalhadores na Alemanha
– não apenas no presente, senão ainda, de fato, para todo o período
pós-Versalhes – foi uma revisão fundamental da análise de Lenin acerca do
balanço das forças de classe na Alemanha.
A base do partido alemão entendia a implicação dessa política apenas
vagamente.”[155]
De sua parte, porém, sacando um balanço político desse perído, Karl
Radek assinalaria, então, que graças ao sangue frio dos comunistas
revolucionários havia falhado o plano da burguesia alemã de acusá-los de
abrirem as postas para a França Imperialista :
“Companheiros !
O que ocorreu no Ruhr, nesses últimos seis mêses, exige a maior atenção do
conjunto da classe trabalhadora mundial.
Verifica-se que a burguesia internacional não apenas não é capaz de construir
novamente a economia mundial capitalista, como também que até mesmo a burguesia
de todo e qualquer país não é capaz de subordinar os interesses particulares de
seus grupos individuais aos interesses comuns.
A burguesia alemã é, agora, um bando de hienas que luta entre si por um
pedaço de carniça. ....
A burguesia alemã não é sequer capaz de capitular.
Ela soltou todos os caes do nacionalismo contra os franceses e agora ela
encontra-se despida de todos eles.
Ela queria capitular, tentando provocar um levante dos comunistas no Vale
do Ruhr, e, depois, gritando : “Os comunistas abriram o fronte para a França”,
derrotar os comunistas, lançando contra a classe trabalhadora os fascistas e os
nacionalistas – dos quais uma parte poderia ser voltar-se contra o governo.
Graças ao sangue frio do Partido Comunista da Alemanha esse plano falhou e
a burguesia alemã não sabe como as coisas podem seguir adiante. ...
Se a luta no Ruhr assumirá formas revolucionárias, se o cadáver da
Resistência Passiva empesteará o ar ou se disso resultará um acordo, de tudo
isso uma coisa é clara : os seis mêses da Guerra do Ruhr arremesaram para trás
em anos a economia alemã ....”[156]
De modo semelhante, o Presidente do Komintern, Grigori
Zinoviev assinalou :
„Na Alemanha, marchamos poderosamente para adiante. Isso é um fato. A
decomposição da burguesia alemã cresce a cada dia e cria uma nova e grande zona
de perigo. A burguesia alemã procurou converter, mentirosamente, a greve do
Ruhr em um levante do Ruhr, procurou derrotar, com sangue, a classe
trabalhadora alemã, antes que pudesse ser por ela golpeada.
O partido alemão manobrou corretamente. Porém, a necessidade da classe
trabalhadora é tão grande que o partido não conseguirá dirigir com a consigna :
“Não vos permitis provocar !” Ele terá de lutar. E, aqui, reside o grande
perigo.”[157]
A seguir, registraram-se na Alemanha inúmeras rebeliões de fome,
com saques de locais de abastecimento e de venda de produtos alimentícios[158].
No Executivo Ampliado do Komintern, realizado sob a presidência de Grigori Zinoviev, entre
os dias 12 e 23 de junho de 1923, nem K. Radek, enquanto especialista do Komintern para a Alemanha, nem qualquer dos demais participantes
dessa sessão (como por exemplo Gramsci) – sessão em que não se
encontrava Lenin e Trotsky – considerou,
em qualquer momento de suas intervenções políticas, o fato de encontrar-se a Alemanha
no quadro de um progressivo desenrolar de uma tempestuosa situação
revolucionária que exigia, desde há meses, a sistemática preparação de um
levante armado, capaz de desencadear, em nível nacional, a Guerra Civil Revolucionária,
hábil a colocar na ordem do dia a questão da destruição do Estado Burguês Alemão e
da edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado, expressando-se a
tática de Frente Única e a cosigna de Governo dos Trabalhadores precisamente
nesse contexto.
K. Radek seguia, a essa altura, pleiteando pela busca dos mais diversos aliados
políticos para o impulsionamento de sua versão da tática de Frente
Única, bem como da consigna
dela decorrente, firmada por esse Executivo Ampliado, de Governo
de Trabalhadores e Camponeses, como forma de transferir-se
dogmaticamente para a Alemanha o modelo seguido pela Revolução
de Outubro de 1917.
Nessa ocasião, Karl Radek chegou até mesmo a clamar pelo frentismo com as
forças da pequena-burguesia alemã, ultra-conservadoras e nacional-fascistas, em
defesa dos interesses de todo o povo alemão contra o julgo do capital
imperialista.
Essa orientação política de Radek foi ornada, de forma
extraordinariamente dramática, com o seu discurso apologético pronunciado,
diante Executivo Ampliado do Komintern, de junho de 1923, em louvor de Albert Leo Schlageter, oficial
dos Freikorps,
empenhado na luta de “Resistência Passiva” contra a ocupação
francesa.
“Ouvimos a exposição largamente abrangente e profundamente penetrante da
companheira Zetkin acerca do fascismo internacional, essa desgraça, que, com
determinação, cairá esmagadoramente sobre a cabeça do proletariado, que
afetará, em primeira linha, as camadas pequeno-burguesas que o fazem vibrar no
interesse do grande capital.
Não posso nem ampliar esse discurso de nossa velha dirigente nem
completá-lo.
Não o pude sequer seguí-lo, porque, diante dos meus olhos, encontrava-se,
permanentemente, o cadáver do fascista alemão, nosso adversário de classe,
condenado à morte e fuzilado pelos esquadrões do imperialismo francês, essa
forte organização de uma outra parte de nossos inimigos de classe.
Durante todo o discurso da companheira Clara Zetkin acerca das contradições
do fascismo vibrava na minha cabeça o nome Schlageter e seu trágico destino.
Devemos aqui recordar dele, quando tomarmos politicamente posição acerca do
fascismo.
As habilidades desse mártir do nacionalismo alemão não devem ficar em
segredo e serem reduzidas a uma frase de desdém.
Ela possuem muito a dizer a nós, muito a dizer ao povo alemão.
Não somos românticos sentimentais que esquecemos a animosidade em face do cadáver,
não somos diplomatas que dizem : “Junto à cova, discursar-se bem ou calar-se.”
Schlageter, o corajoso soldado da contra-revolução merece ser por nós,
soldados da revolução, considerado, virilmente, com honrarias. ...
Schlageter lutou no Freikops Medem, que atacou a cidade de Riga (i.e. a
capital da Letônia, dirigida pelos bolcheviques sob Stutchka). ...
Schalegeter foi do Báltico para o Vale do Ruhr. Não já em 1923, mas sim em
1920.
Sabeis vós o que isso significa ?
Ele tomou parte no assalto do capital alemão aos trabalhadores do Ruhr,
lutou nas fileiras das tropas que tinham subjulgado os mineiros do Ruhr aos
reis do carvão e do aço.
O caminho do perigo da morte que ele escolheu afirma e comprova que ele
estava convencido de servir o povo alemão.
Porém, Schlageter acreditava poder servir ao povo da melhor maneira
possível ajudando a consolidar a dominação das classes que, até então, dirigiam
o povo alemão, levando-o a essa inaudita desgraça.
Schlageter via na classe trabalhadora a plebe que precisa ser governada.
E ele era, certamente, da mesma opinião defendida pelo Conde Raventlov que
dizia, sem pertubação : “toda luta contra a Entente é impossível até que o
inimigo interno esteja derrotado.”
O inimigo interno era para Schlageter a classe trabalhadora
revolucionária.”[159]
Concluindo, então, seu célebre panegírico de Schlageter, Radek propôs
:
“Os companheiros de Schlageter falam de luta junto à sua cova.
Eles juram continuar sua luta. A luta volta-se contra o inimigo que está
armado até os dentes, enquanto a Alemanha está desarmada, enquanto a Alemanha
está desmoralizada.
Isso exige a ruptura com as pessoas e os partidos cujas fisionomias, tais
como cara de medusas, agem sobre outros povos, mobilizando-os contra o povo
alemão.
Apenas se a causa alemã, que é a causa do povo alemão, apenas se a causa
alemã consistir na luta pelos Direitos do povo alemão, conseguirá ela obter
amigos ativos para o povo alemão.
O povo mais forte não pode existir sem amigos, tanto menos um povo abatido,
cercado de inimigos.
Se a Alemanha quiser ser capaz de lutar, terá de surgir uma Frente Única de
todos os que trabalham, terão de se unificar trabalhadores intelectuais e
trabalhadores manuais em uma falânge. ...
A situação dos trabalhadores intelectuais exige essa unificação.
Apenas os velhos preconceitos estão colocados no caminho.
Unida como povo vitorioso e trabalhador, a Alemanha será capaz de descobrir
grandes fontes de energia e de resistência que superarão aquele obstáculo.
Da causa do povo faz-se a causa da nação, da causa da nação faz-se a causa
do povo.
Adequada como povo do trabalho lutador, encontrará o auxílio de outros
povos que lutam por sua existência.
Quem não prepara a luta nesse sentido, é capaz de realizar atos de
desespero, não porém uma luta efetiva.
Isso deve dizer o Partido Comunista da Alemanha (KPD), isso deve dizer a
Internacional Comunista, junto à sepultura de Schlageter”[160].
Como conclusão dos debates travados nesse Executivo Ampliado do Komintern, resultou, entretanto, consagrada a
orientação de que o Partido Comunista da Alemanha(KPD) haveria, a partir de então,
levantar a consigna não mais restrita de Governo dos Trabalhadores, senão ampliada de Governo dos Trabalhadores e
Camponeses, pretendendo, assim,
indicar que o modelo da Revolução de Outubro de 1917 deveria ser fiel e rigorosamente levado
adiante em solo alemão.
Nesse sentido, Zinoviev assinalou :
“Por tudo isso, companheiros, tiro a conclusão de que o melhor meio para
eliminar essas reminescências consiste em expandir, agora, a consigna de
Governo dos Trabalhadores para “Governo dos Trabalhadores e Camponeses”. Vocês
se recordam como a questão desenrolou-se cronologicamente.
Em primeiro lugar, a tática de Frente Única e, então, Governo dos Trabalhadores.
Agora, acredito que essa fórmula deva ser expandida e, em verdade, de modo
geral.”[161]
Desde logo, é imperioso, porém, assinalar que tal decisão manifestada pela
direção do Komintern, já crescentemente exposta à dominação da burocracia
stalinista, não possuiu, entretanto, o condão de impedir fosse a consigna do Governo
dos Trabalhadores e Camponeses reinvidicada, pelos mais prestigiados
dirigentes do PCA(KPD), de maneira puramente legal-constitucional, i.e. em
sua versão eminentemente democrático-burguesa – quando não, transitoriamente,
de maneira abertamente colaboracionista em relação às forças da
contra-revolução fascista.
Em comentário ao presente tema, Dietrich Möller, intelectual alemão
de inclinação stalinista-reciclada, assinalou :
“Na Europa, estão, porém, os
camponeses com os elementos mais conservadores.
Radek continua a tentar atrair mais os pequeno-burgueses nacionalistas (na
Alemanha, surgem, nos cartazes, ao lado da estrela soviética, a suástica
nazista).
Quem se submete aos comunistas é bem-vindo, depois poder-se-á, dado o caso,
sempre “prostrá-los”(Radek).”[162]
Acerca do Executivo Ampliado do Komintern, de junho de 1923, assinalou a historiadora alemã, de linhagem
trotskysta, Annegret Schülle :
„Porém, nem a direção do PCA(KPD) nem a direção do Komintern conceberam,
tempestivamente, o significado da situação.
Na Conferência do Comitê Executivo da Internacional Comunista, de junho de 1923,
a direção do Komintern, sob Zinoviev, discutiu com a direção alemã acerca da
situação.
No entanto, quase nenhum dos participantes concebeu a necessidade de
preparação do levante.
Como paradigma da posição do Komintern podem ser consideradas as posições
de Radek, que se encontrava na Alemanha, na qualidade de conselheiro russo.
Ainda em 2 de agosto, Radek insistiu para que, em „Bandeira Vermelha“,
órgão do PCA(KPD), devia-se, então, não apenas não travar-se batalhas gerais,
como também até mesmo evitá-las, de modo a não possibilitar-se ao inimigo
esmagá-las parcialmente.“[163]
Nesse meio tempo, precisamente em 30 de junho, o Tribunal de Guerra Francês,
estabelecido na cidade alemã de Mainz, condenou à morte mais 7
protestantes franceses por sabotagem.
A partir de julho e agosto, elevou-se, drasticamente, o número de
trabalhadores desempregados na Alemanha.
Em 23 de julho, registraram-se distúrbios sangrentos de rua causados pela
abrupta elevação dos meios de consumo, ao mesmo que o governo da República
Imperial de Weimar suspendia, sine die, o Direito democrático de
reunião dos trabalhadores e populares em praça pública.
A inflação progredia, ao longo de todo o ano de 1923, assustadora,
incontida e exponencialmente.
Ao mesmo tempo, as greves contra o governo federal de Cuno-Stinnes atingiam o
seu ápice.
Entretanto, ainda em agosto de 1923, Stalin condenou, resolutamente, a
tentativa de preparar-se um levante na Alemanha.
Em 7 de agosto, escreveu Stalin da seguinte forma :
“Se na Alemanha de hoje o poder, por assim dizer, cair e os comunistas
alemães agarrarem-no, fracassarão até a médula.
Isso, no „melhor“ dos casos.
No pior dos casos, serão quebrados em pedaços e lançados para trás.
A questão toda não é a de que Brandler queira „educar as massas“, o
essencial é que a burguesia, muito mais que os sociais-democratas de direita,
tranformarão, seguramente, o curso da manifestação em batalha geral – nesse
momento, todas as chances estarão do seu lado – e as destruirão.
Certamente, os fascistas não dormem, porém temos o interesse de que eles
ataquem primeiro : isso reagrupará toda a classe trabalhadora em torno dos
comunistas – a Alemanha não é a Bulgária. Além disso, segundo todas as
informações, os fascistas são débeis na Alemanha. Entendo que devemos segurar
os alemães e não os estimular.“[164]
Em 11 de agosto, para grande surpresa da direção do Partido Comunista da
Alemanha(KPD) e da orientação política Radek-Brandler, bem como
para o espanto da direção do Komintern, encabeçada por Zinoviev,
já no contexto de um amplo funcionamento da Troika Stalinista, os Conselhos
de Fábrica da Alemanha conclamaram
os trabalhadores à greve geral.
No dia seguinte, processou-se a derrubada do chanceler burguês-liberal Wilhelm
Cuno, instaurando-se, a
seguir, um novo governo de coalizão, integrado pelos sociais-democrátas Schmidt,
Hilferding, Radbruch e Sollmann, sob a direção do populista-liberal de Gustav
Sresemann.
A presença e a influência do PCA(KPD) assumia, já a essa altura, consideráveis proporções.
Sob a pressão da tempestade grevística de agosto, a derrubada do chanceler Cuno e
as marcantes caracterizações de Trotsky, o Komintern, presidido por Zinoviev,
resolveu-se por rever, no fim do mês de agosto de 1923, radical e inopinadamente,
sua orientação política referentemente à luta de classes na Alemanha,
apoiando-se, porém, na orientação política formulada por Radek e Brandler, a quem
decidiu confiar a preparação e direção do Outubro Alemão de 23, nele impedindo
ostensivamente, porém, a intervenção direta de Trotsky[165].
Esses últimos atos foram levados à prática, em seguida, ainda segundo a
execução político-estratégica geral comandada por Radek-Brandler de Frente
Única e Governo dos Trabalhadores, restringida aos limites jurídico-constitucionais,
contrária a deflagração de um levante com data marcada ou prazo estabelecido :
„No quadro da Constituição de Weimar, avançando rumo ao Governo de
Trabalhadores em toda a Alemanha!, o armamento das milícias proletárias podia
consistir apenas em bastões e porretes.
A „formação“ limitava-se a exercícios de marcha no interior das fábricas e
em lugares abertos.“[166]
Acerca do tema, Trotsky observou, detalhadamente :
“« A revolução não é feita com data marcada » retorquiam os de direita e de
esquerda, confundindo a revolução em seu conjunto com uma de suas etapas
específicas, i.e. o levante para a tomada do poder. Meu artigo “Pode a
Revolução ser Feita com Data Marcada ?” foi dedicato a essa questão.
Esse artigo resume as discussões e polêmicas intermináveis que ocorreram
então.”[167]
Discorrendo analiticamente acerca da organização das forças do proletariado
alemão, no quadro da Revolução de Outubro de 1923, Josef
Unschlicht, um dos instrutores do Komintern, assinalou,
retrospectivamente, o seguinte :
“A estrutura organizativa das organizações de luta do proletariado é
diferente em cada um dos países em específico.
Porém, uma coisa está claro : a base dos setores das organizações de luta
do proletariado deve assentar nas massas (fábricas, oficinas, empresas etc.) e
esses setores tem de ser fortes numericamente.
Sua estrutura organizativa será, mais ou menos, semelhante à Guarda
Vermelha, na Rússia, às Centúrias Proletárias, na Alemanha, em 1923, as
Centúrias de Luta, na China, etc. ...
As experiências de Petrogrado, Moscou, Alemanha, de 1923, Canton, Shangai e
de outros lugares demonstra que, em uma situação agudamente revolucionária,
pode formar-se uma ampla organização de luta de modo relativamente rápido.
De regra, para isso são necessários alguns meses.
Porém, uma rápida criação dessa maneira é apenas possível se encontra-se
disponível um número suficiente de quadros formados correspondentemente, em
sentido político e militar.
Sem a existência de tais quadros - que surgiriam enquanto aparelho dessas
organizações de luta, enquanto sua composição de comando -, não possuirá a
organização de luta nenhum grande significado, no sentido de sua capacidade de
luta.
Em Petrogrado, em Moscou e outras cidades da Rússia, as coisas estavam, em
1917, favoráveis por todos os lados, nesse sentido.
Os dirigentes e os instrutores da Guarda Vermelha eram soldados comunistas
e, não raramente, também oficiais.
Esses instrutores que, durante as lutas de Outubro, dirigiram enquanto
comandantes as ações de combate das seções da Guarda Vermelha, formaram os
guardas vermelhos, no período de criação dessa Guarda, familiarizando-os com o
armamento e fornecendo-lhes os fundamentos da tática e do sistema militar.
Um quadro inteiramente diferente observamos em 1923, na Alemanha.
Aqui, junto a nós, foram organizados, no curso de poucos meses, cerca de
250.000 guardas vermelhos em Centúrias Proletárias.
Faltava, entretanto, quadros formados militarmente (na massa dos guardas
vermelhos existia entre os comunistas apenas um antigo oficial), sendo que os
então dirigentes das Centúrias Proletárias não estavam familiarizados com os
fundamentos da tática das lutas de rua como também, de modo geral, com a tática
do levante, não tendo nenhuma noção da organização e da tática das forças
armadas estatais-militares.
Razão pela qual a qualidade da luta e o valor da luta dessas Centúrias
deixaram muitíssimo a desejar.
Tanto mais porque encontrava-se à disposição dessas Centúrias um número
extraordinariamente limitado de armas.”[168]
Em 9 de setembro, a direção Radek-Brandler passou a impulsionar
mais, entretanto de modo formal e já tardiamente, a formação de Centúrias
Proletárias, na Saxônia, com o objetivo declarado de
proteger o regime republicano das tropas de choque do Partido Nazista.
Trotsky fornece-nos também as seguintes considerações
acerca desse momento histórico da luta de classes na Alemanha de 1923 :
“Em verdade, no mês de outubro, processou-se uma aguda ruptura na política
do partido. Porém, já era tarde.
No curso de 1923, as massas trabalhadoras perceberam ou sentiram que o
momento da luta decisiva estava aproximando-se.
Contudo, não entreviram a necessária resolução e a auto-confiança da parte
do Partido Comunista.
E quando esse último iniciou sua febril preparação do levante, lançou-se
imediatamente ao chão e perdeu seus laços com as massas.
O mesmo aconteceria no caso de um cavaleiro que, depois de aproximar-se
lentamente de uma alta barreira, afundasse, como movimentos convulsivos, no
último momento, suas esporas nos flancos do cavalo.
Se o cavalo fosse saltar por cima da barreira, quebraria, muito
possivelmente, suas pernas.
Tal como as coisas aconteceram na realidade, o Partido deteve-se diante do
obstáculo e, então, lançou-se para o lado.
Esses são os mecanismos da mais cruel derrota do Partido Comunista Alemão e
de toda a Internacional Comunista, em novembro do ano passado(i.e. 1923).”[169]
No quadro das medidas do novo governo de Gustav Stresemann, teve
lugar, então, a declaração de suspensão da estratégia de “Resistência Passiva”, no
Vale
do Ruhr, ao mesmo tempo que o Parlamento Alemão promulgava, a 26
de setembro, uma Lei de Exceção, conferindo o exercício do Poder Executivo ao
Ministro do Exército, Otto Geßler, bem como, em 13 de outubro, uma
inovadora lei autorizativa para que promulgasse ele mesmo decretos-leis
econômicos, sem qualquer consulta parlamentar[170].
Em 10 de outubro de 1923, os membros da direção do PCA(KPD) da Saxônia, Heirich
Brandler, Paul Hebert Böttcher e Fritz Heckert, bem como os da direção do PCA(KPD) da Turíngea, Karl Korsch, Albin
Tenner e Helmut Neubauer ingressaram,
com base em promissores resultados eleitorais, enquanto Ministros do Interior, da
Economia e das Finaças, nos „Governos de Coalizão dos Trabalhadores
Comunistas-Sociais-Democráticos” desses
Estados Federados da República Imperial de Weimar, encabeçados
respectivamente pelos sociais-democratas de esquerda, Erich Zeigner und August
Fröhlich.
Nessa ocasião, Josef Stalin escreveu,
entusiásticamente, a August Thalheimer, que fez publicar
o teor de sua carta nas páginas do „Die Rote Fahne(A Bandeira Vermelha)”,
órgão do PCA(KPD) :
„A revolução que se aproxima na Alemanha é o evento mundial mais importante
de nosso tempo.
A vitória da Revolução Alemã terá mais importância ainda para o
proletariado da Europa e da América que a vitória da Revolução Russa de seis
anos atrás. A vitória da Revolução Alemã fará passar, de Moscou à Berlim, o
centro da Revolução Alemã(sic)(i.e. o centro da revolução mundial).“[171]
Acerca do tema, a historiadora Annegret Schüle observou o seguinte
:
„Já era praticamente tarde, pois o estímulo das massas radicalizadas
ameaçava transformar-se, então, de orgulho em decepção e fatalismo.
Em 20 de outubro, o governo federal decidiu acionar tropas imperiais contra
os governos da Saxônia e da Turíngea, compostos por comunistas e
sociais-democrátas, a fim de derrubá-los.
Disso o PCA(KPD) sacou a conseqüencia de antecipar o levante planejado para
ocorrer no dia 9 de novembro.
Porém, quis esperar ainda a decisão de uma conferência de conselhos de
fábricas, em Chemnitz, a realizar-se em 21 de outubro.
Os sociais-democratas nela presentes rejeitaram, porém, o plano.
Em seguida, a direção do KPD, nela igualmente presente, e a delegação do
Komintern desconvocaram o levante.
Essa política de hesitações e de esquivas diante da decisão conduziu o
PCA(KPD) à uma „pesada derrota“.“[172]
Anote-se, adicionalmente, que, em 21 de outubro de 1923, na cidade de Chemnitz,
na Saxônia, a Conferência dos Conselhos de Fábrica, que
contou com a presença de Radek, enquanto dirigente da
delegação do Komintern, e Brandler, esse último intervindo na
qualidade de Presidente do Partido Comunista da Alemanha(KPD) e
Ministro
do Interior do Governo de Coalizão Comunista-Social-Democrático dos
Trabalhadores da Saxônia, requereram dos dirigentes sindicais e
governamentais da Social-Democracia Alemã aí presentes já não a decidida
intensificação do armamento do proletariado para um inadiável levante, o
imediato fechamento da Assembléia Estadual e a pronta
conversão da Conferência em Poder Legislativo e Executivo do Estado da
Saxônia, senão apenas uma simples decisão acerca da deflagração de Greve
Geral.
Entretanto, essa decisão acerca de Greve Geral encontrava-se revestida
de um significado transcedental : ela representaria a transmissão de uma senha
indicativa para que todos os organismos do PCA(KPD), a essa altura apoiados in
loco, clandestinamente, por diversos especialistas de levantes
diretamente enviados por Moscou, desencadeassem levantes
armados em diversas cidades da República Imperial de Weimar, capazes
de arrastar, no ímpeto da luta, a militância social-democrática às fileiras da
revolução socialista alemã.
Ernst Graupe, tal como Brandler integrante desse
mesmo Governo da Saxônia, falando em nome da ala esquerda da Social-Democracia
Alemã, discursou, efusivamente, contra qualquer iniciativa de conclamar
os trabalhadores alemães a desencadearem uma Greve Geral.
O requerimento de Greve
Geral, formulado pelos representantes do Komintern e do PCA(KPD),
foi transferido, então, para futura apreciação uma comissão dos
conselhos de fábrica, resultando, praticamente, rechaçado.
Constatada a indisposição de os representantes da Social-Democracia Alemã da
Saxônia em levar adiante a Greve Geral, a delegação do Komintern
e a direção do PCA(KPD) decidiram recuar, sem confrontação, deconvocando a
deflagração do levante armado previamente planejado, a fim de constituir-se um Comitê
de Ação para o exame do que poderia ser feito a seguir.
Diante desse quadro de mais profunda hesitação política do Governo
de Coalizão dos Trabalhadores, encabeçado pelos comunistas e
sociais-democratas de esquerda, marchou, em 22 de outubro, para a Saxônia.
Após a desconvocação do levante armado e, apesar disso, da inteiramente
improvisada, isolada, desorientada e descoordenada deflagração do Levante de Hamburgo da Terça-Feira, 23 de
Outubro de 1923, desaconselhado tardia e inesperadamente por Radek
e Brandler, comandado, porém, corajosamente por Hans Kippenberger[173] –
contando com a participação heróica de algumas centenas de trabalhadores e com
a inexpressiva atuação política de Ernst Thälmann -, foram, em 29 de
outubro de 1923, impiedosamente derrubados, pelas tropas de Ebert
e Stresemman, comandadas pelos Generais Müller e von Seeckt, os „Governos de Coalizão dos
Trabalhadores Comunistas-Sociais-Democráticos da Saxônia e da Turíngea“[174].
Em seguida, em 23 de novembro de 1923, foi decretada a proibição legal do
PCA(KPD)[175].
Em um artigo jornalístico, publicado na Alemanha, em 29 de
outubro, consta, expressamente, o seguinte acerca da fugaz experiência de Governo
de Trabalhadores, entretida pelo PCA(KPD) nessa ocasião :
“Os regimentos do Exército Imperial, que marcharam, em 22 de outubro, na
Saxônia, sob ordem do Ministro do Império, Otto Geßler, ocuparam os Ministérios
de Dresden e forçaram o saxão Erich Zeugner(SPD, i.e. social-democrata) a
renunciar.
O conflito entre o Governo Imperial – representado, depois da imposição da
Lei de Exceção, em 26 de Setembro de 1923, por Otto Geßler, confiado com o
exercício do Poder Executivo – e a Saxônia foi desencadeado pela formação de um
Governo –SPD-KPD, em 10 de outubro de 1923.
A entrada do KPD no Gabinete foi interpretado como um primeiro passo de uma
futura tentativa de golpe de Estado comunista.
Por isso, o General Müller, Comandante das Tropas Imperiais na Saxônia,
ordenou, em 13 de outubro, a dissolução das Centúrias Proletárias que, o KPD,
desde o assassinato de Walther Ratenau (em 26 de junho de 1922), havia criado
para defesa de um temido Putsch de Direita.
A direção do KPD contava, em verdade, para o final de outubro, com um
aguçamento da situação revolucionária na Alemanha e aspirava, tendo em vista
suas forças (esse partido possui quase 300.000 militantes) e sua grande
influência, poder converter o sistema parlamentar finalmente em uma República
Socialista dos Conselhos.
A esses planos antecipou-se o Ministro do Exército Imperial mediante
intervenção militar.
Enquanto os eventos na Baviera permaneceram sem reação efetiva de Berlim,
Geßler ordenou para a Saxônia e a Turíngea (onde igualmente constitui-se um Governo
de Frente Popular(sic)) a execução imperial quando os governos desses Estados
opuseram-se às instruções do Comandante das Tropas Imperiais.
Em uma Conferência dos Conselhos de Fábrica do Império, realizada em
Chemnitz, o Presidente do KPD, Heinrich Brandler, exigiu debalde a proclamação
de Greve Geral, à qual o SPD resolutamente opôs-se.
Assim, as Centúrias Proletárias apenas mal armadas tiveram de aceitar a
invasão das tropas imperiais sem resistência.”[176]
Examinando a derrota da Revolução de Outubro de 1923 desde a
perspectiva do trabalho do PCA(KPD) no interior das forças
armadas da burguesia alemã, Josef Unschlicht assinalou,
retrospectivamente, o seguinte :
“Certamente, não existe a mínima dúvida que, em tempos de crise, se existe
uma aguda situação revolucionária em um país, o exército e a polícia não podem
permanecer não influenciados pela situação revolucionária geral.
A composição de classe do exército torna inevitável o abarcamento das
massas de soldados pela fermentação revolucionária, em maior ou menor grau.
Entretanto, seria ingênuo admitir que seria possível uma passagem aberta
das tropas ou uma passagem de suas partes específicas para o lado da revolução,
sem sua respectiva exposição à influência por parte do partido revolucionário,
ou mesmo aceitar que o processo de transformação revolucionária do exército e
da polícia surgisse por si mesmo, desenvolvendo-se suplementarmente.
A fermentação revolucionária entre as tropas, sua oscilação entre revolução
e contra-revolução torna-se cada vez mais forte, a passagem de partes
específicas de tropa para o lado do proletariado revolucionário torna-se cada
vez mais freqüente, quanto mais intensivamente o partido revolucionário
impulsiona o trabalho político e organizativo entre elas, tanto antes da
irrupção da situação diretamente revolucionária, como também, particularmente,
durante essa última.
No levante, os métodos do trabalho político e organizativo no exército
devem ser adaptados aos métodos de luta física pelo exército.
E, na realidade, tivesse sido realizado, entre nós, na Alemanha, um
trabalho revolucionário correspondente entre os segmentos de tropas do Exército
Imperial e a Polícia – sendo que um tal trabalho era inteiramente possível
apesar da isolação do Exército Imperial -, conseguiriam seus comandantes talvez
apenas com dificuldade fazer marchar, de modo tão irrestrito, as tropas do
Exército Imperial na Saxônia e na Turígea revolucionárias, por ordem do
Executivo Imperial, tal como ocorreu em setembro-outubro de 1923.”[177]
Como é possível atestar-se os Governos dos Trabalhadores, aqui em
análise, haviam sido idelizados ilusoriamente por Radek e Brandler
enquanto passo intermediário para a conquista das massas rumo à Ditadura
Revolucionária do Proletariado, mediante sustentação sobre os conselhos
de fábrica revolucionários, com vistas apenas a contemporizar e não tomar parte
em lutas isoladas, acreditando serem
capazes de opor-se, porém, à perspectiva de sabotagem da social-democracia de
esquerda alemã consistente em governar com os comunistas sem renunciar à
constitucionalidade, sem armamento dos trabalhadores e sem se submeter à
autoridade dos conselhos de fábrica revolucionários.
Acerca aplicação prático-concreta da orientação política Radek-Brandler
acerca dos Governos de Coalizão dos Trabalhadores enquanto ponto de
partida para a Ditadura Revolucionária do Proletariado, pronunciou-se,
elucidativamente, Heinrich Brandler quando escreveu, em 12 de outubro de 1923 :
“Os sociais-democratas da Saxônia decidiram, sob a pressão das massas,
formar um Governo de Coalizão conosco.
Nossa entrada no Governo da Saxão permite-nos nos reagrupar, de nos
preparar para a Guerra Civil. ...
As tarefas militares e a organização fixadas por nosso programa estão
realizadas. ...
(Porém,) a questão do armamento é catastrófica.
Nosso dever é contemporizar e não tomar parte em lutas isoladas.”[178]
Ouçamos, porém, os próprios argumentos de Karl Radek acerca da
grande derrota da Revolução de Outubro de 1923, esgrimados diante da Presidência
do Comitê Executivo do Komintern, em 11 de janeiro de 1924, ainda que
deles não existam qualquer balanço relativo à sua orientação política de
prostração frentista, disfarçada com críticas e denúncias, na capitulação
diante das forças reformistas da Social-Democracia Alemã :
“Em primeiro lugar, quero dizer algumas palavras acerca das questões
formais.
A delegação do Executivo do Komintern era composta de 4 membros(i.e. era
composta por Karl Radek, August Kleine(Guralski), Alexei Skoblevski e Vassili
Schmidt) .
Ela dirigiu, durante todo o tempo, o trabalho em absoluta concordância. ...
O que a delegação encontrou no local ? O despedaçamento do plano de guerra,
que foi decidido pelo Executivo.
O plano de avanço do partido, tal como foi fixado aqui nas sessões de
setembro e outubro, partia dos seguintes pensamentos fundamentais : o
proletariado marcha na Saxônia, partindo da defesa do Governo dos Trabalhadores
em que ingressamos.
Ele tentará utilizar o poder de Estado na Saxônia para se armar, a fim de
construir nesse distrito proletário estreitamente interpenetrado da Alemanha
Central uma muralha entre a contra-revolução sulista da Baviera e o fascismo
nortista.
Ao mesmo tempo, o Partido intervirá, em todo o Império, mobilizando as
massas.
Esse plano falhou pela seguinte razão :
Em primeiro lugar, quando nossos companheiros ingressaram no Governo não
foram capazes de realizar o armamento do proletariado.
O Partido possuía na Saxônia, tal como fomos informados, 800 fuzis.
Em Chemnitz, na Conferência, demonstrou-se despedaçada a segunda parte do
plano, nomeadamente o avanço comum das massas trabalhadoras
sociais-democráticas e comunistas.
O requerimento de proclamação da Greve Geral e do Levante Armando em
Chemnitz não foi colocado, tendo em vista a resistência da esquerda da
Social-Democracia.
Nosso partido recuou, cobrindo esse recuo com a fórmula : dinamização de um
Comitê de Ação que deve decidir o que pode ser feito adicionalmente.
O Comitê Central decidiu evitar toda e qualquer luta a partir da
consideração de que a Frente Única do proletariado, nessa luta, não podia ser
mais reconstituída, que seria impossível constituí-la, sendo o levante, nessa
situação, ao mesmo tempo, impossível, em face das forças dividas do
proletariado e do estado da preparação técnica.
Nessa situação, eu tinha de tomar um posicionamento.
Na conversação com os companheiros, aprovei o fato de que eles, depois de
não terem sido eles capazes de constituir a Frente Única com os trabalhadores
sociais-democratas, tinha de abandonar o plano do levante na Saxônia.
Reclamei, porém, ao mesmo tempo, dos companheiros que proclamassem a greve.
Fundamentei isso dizendo que se nós ainda não éramos tão fortes para
sozinhos, enquanto Partido Comunista, executar o levante contra os fascistas,
éramos, porém, fortes o suficiente para nos defender e não ceder a posição sem
luta.
Eles disseram :
« - Não existe nenhuma possibilidade de ingressar nessa luta, pois se
proclamos a greve, temos o levante armado. Se não quisermos o levante, temos de
renunciar à greve. »
No dia seguinte, quando o Comitê Central se reuniu em Berlim, chegou a
notícia de Berlim.
Teve lugar uma nova sessão do Comitê Central, na qual foram apresentadas
três propostas.
Uma, da companheira Ruth Fischer, requeria para chamar para quinta-feira
uma greve de massas, em Berlim, com o objetivo de que ela confluisse, em 2 ou 3
dias, no levante armado.
Ao mesmo tempo, dever-se-ia colocar em movimento a cidade de Kiel e outras.
A segunda proposta ía no sentido de rejeitar a primeira.
Minha proposta ía adiante na mesma questão : greve, sem luta armada ...
Essa proposta foi novamente rejeitada ... por todos os companheiros com a
mesma fundamentação :
« - Greve signifiva levante. Se vocês não quiserem nenhum levante, torna-se
a greve impossível. »[179]
Apresentando sua derradeira reformulação da tática de Frente Única que, segundo
seu entendimento, haveria de ser implementada na Alemanha, após a fragorosa
derrota da Revolução de Outubro de 23, Karl Radek, dando seguimento ao seu
espetacular estilo intelectual de matiz cético-jornalístico, lançou as bases
para a futura política stalinista do Terceiro Período, tragicamente
levada a termo no “Referendo Vermelho da Prússia”.
Nesse referendo, realizado em 21 de julho de 1931, os dirigentes do Partido
Comunista da Alemanha(KPD), após apresentarem um ultimato à Social-Democracia
Alemã visando à construção de uma Frente Única e de um futuro Governo
dos Trabalhadores, vendo sua proposta rejeitada, decidiram cerrar
fileiras com o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhores(Nazista), de
Adolf Hitler, com a finalidade de derrubar o Governo Social-Faschista da
Social-Democracia Alemã, na Prússia[180].
Os fundamentos teórico-especulativos dessa aliança espúria surgem
articulados, embrionariamente, por Karl Radek, pela primeira vez, de
maneira plenamente contraditória, já em 11 janeiro de 1924, diante da Presidência
do Comitê Executivo do Komintern, quando, no quadro de suas análises
acerca do fracasso da tática de Frente Única e da fórmula Governo
dos Trabalhadores na Revolução Alemã de 1923, entendia
que as forças do fascismo já haviam tomado o poder na Alemanha :
Se não, vejamos :
“Companheiros,
Contemplamos a tarefa da delegação do Komintern e do Comitê Central no
seguinte :
Está claro que temos de arrastar uma grande derrota – uma derrota decisiva
talvez por um longo tempo.
Impende o grande perigo do pânico, bem como a grande decepção nas massas.
Uma derrota em si e por si mesmo não seria tão perigosa quanto esse fato.
...
Se queríamos a luta, não podíamos colocar-nos como objetivo a defesa da
República de Novembro(i.e. a República Imperial de Weimar).
A diferença entre a República de Kerensky e a de Novembro era a de que sob
Kerensky os trabalhadores tinham os Soviets, tinham algo a defender, na
Alemanha, porém, a República de Novembro estava morta nos corações dos
trabalhadores.
Nenhum cão iria se coçar para defendê-la. ...
Por essa razão, depois de ter-me dedicado a essa concepção acerca dos
motivos de nossa derrota etc., a questão mais importante para mim é agora : O
que fazer-se mais?
Para esse “o que fazer-se mais ?” seria necessário, em primeiro lugar,
averiguar os seguintes pontos.
De início, há de se procurar saber quem domina na Alemanha.
Em cada situação, o político que dirige ações de massas deve avaliar, de
antemão, contra qual adversário ele tem de lutar, qual é a estrutura e a
essência desse adversário.
A polêmica sobre se o fascismo venceu ou não é resolvida, não por palavras,
mas por fatos.
Foi resolvida pelo fato de que a burguesia derrotou as massas trabalhadoras
com meios militares e impôs-lhe o Programa de Stinnes, sendo que a classe
trabalhadora está no refluxo. ...
O fascismo venceu sobre o que ?
O período precendente na Alemanha foi o período da democracia burguesa, tal
como ela se encontra nos livros.
Não existe nenhum país do mundo em que o proletariado, apesar de periódicos
retornos das opressões, tivesse uma tal liberdade de movimento.
E que grande influência tinha a aristocracia na República de Novembro(i.e.
a República de Weimar) !
Quem isso ignora, não entende o Alfa e o Ômega do porquê de as massas
sociais-democráticas pendurarem-se em sua República.
A polêmica entre nós não consistiu em saber se a Social-Democracia foi
violentada ou era uma prostituta. Não era essa a polêmica.
A causa de eu ter achado absolutamente necessário afirmar que o fascismo é
outra.
Se o fascismo venceu e a a Social-Democracia é sua aliada : Nenhuma Aliança
Mais com a Social-Democracia !”[181]
E, arrematando seus sempre surpreendentes raciocínios, Karl Radek clamou por
novos aliados para a tática de Frente Única e a consigna política
dela decorrente de Governo dos Trabalhadores a ser impulsionada pelo PCA(KPD),
fundando-se em sua Política Schlageter, consistente na
conquista de elementos pequeno-burgueses saídos das fileiras das organizações
nazistas e dos Freikorps, na luta pela libertação do povo alemão em face do
julgo do capital imperialista[182] :
“Ao lado da questão da modificação da tática de Frente Única, i.e. da
rejeição dos dirigentes da Social-Democracia ..., entendo como sendo a segunda
questão decisiva da Revolução Alemã a aproximação das massas pequeno-burguesas.
...
Companheiros,
Na primavera, aqui em Moscou, tomamos a resolução acerca da questão
nacional, durante as discussões com os comps. alemães, quando dissemos : o
partido encontra-se diante de uma nova tarefa qual seja a conquista da
pequena-burguesia que está sendo proletarizada, enquanto aliada que temos de
ganhar, em parte, antes da tomada do poder na Alemanha.
Por isso, a participação do partido nas questões da classe média e sua
aproximação à questão nacional.
Nós tomamos posição acerca disso no Executivo Ampliado.
O discurso sobre Schlageter foi aprovado unanimemente.
Na Alemanha, temos uma pequena-burguesia em proletarização que caminha sob
as bandeiras fascistas, sendo que a vitória do fascismo significa sua ruína.
Por essa razão, as diferenças no campo do fascismo desempenham para nós um
papel político decisivo.
Apenas se pudermos ganhar as massas pequeno-burguesas, ao menos uma parte
delas, não como membros, mas como aliadas ainda que oscilantes, separando-as de
Stinnes e Westarp, mediante o aprimoramento dessas contradições e seu fomento,
teremos dado um importante passo adiante ...”[183]
Conclusiva e derradeiramente, após todas as suas engenhosas construções de
sistemática deformação do marxismo revolucionário, Karl Radek constatou,
então, pessimisticamente, a imprestabilidade histórica da consigna de Governo
dos Trabalhadores para as subseqüentes lutas revolucionárias do anos 20
do proletariado continental-europeu, considerado em geral :
“Ou tornar-nos-emos, na Europa Ocidental, partidos comunistas de discussão
ou partidos combativos, sendo que os últimos devem deixar em aberto todas as
possíveis possibilidades práticas.
Para mim, não resta a menor dúvida de que noventa e nove porcento dessas
possibilidades depõem em favor do fato de que, na Europa Continental, a questão
do Governo dos Trabalhadores não desempenhará um papel decisivo, tal como pode
desempenhar na Inglaterra. ...
Nós somos o partido da Ditadura, porém se não irrompe nenhuma onda
revolucionária, pode-se impulsionar apenas propaganda e agitação pela Ditadura.
Porém, as massas vivem não apenas de propaganda e agitação.
Diante dos partidos comunistas estão colocadas tarefas práticas, nas quais
é muito difícil implementar o ponto de vista do comunismo, dado que reina uma
discrepância entre nosso querer e nosso poder.
Se não virmos isso e em razão dessa mesma discrepância selarmos nossas
direções como o reformismo, então companheiros iremos decompor-nos ...
Com uma linha puramente de agitação do comunismo, teremos maravilhosos
partidos comunistas em miniatura.
Novamente surgirá a questão : Seita ou Massas ...”[184]
Diante desse contexto, Trotsky viria a sumariar seu balanço e perpectivas relativamente às lutas
de classe do proletariado alemão, após a sua mais cruel derrota dos anos 20,
assinalando, de maneira nitidamente perspicaz, o seguinte :
“Quando delineou-se um giro agudo na correlação de forças, quando as forças
facistas legalizadas moveram-se para a linha de frente, enquanto os comunistas
encontraram-se a si mesmos mergulhados na clandestinidade, alguns camaradas
apressaram-se em anunciar : “nós havíamos superestimado a situação, a revolução
não havia ainda amadurecido.”
Naturalmente, nada é mais simples do que esse tipo de estratégia : em primeiro
lugar, deixar mofar a revolução e, então, proclamá-la como imatura.
Na realidade, contudo, a revolução não conduziu à vitória não porque “não
tinha amadurecido”, em geral, mas porque, no momento decisivo, o vínculo
essencial – a direção – rompeu a corrente.
“Nosso” equívoco não reside no fato de que “nós” superestimamos as
condições da revolução, mas no “nosso” ter subestimado-as.
“Nós” não fomos capazes de entender, tempestivamente, a necessidade de um
giro tático, abrupto e ousado : da luta pelas massas - para a luta pelo poder.
Nosso erro reside em que “nós” repetimos, no espaço de diversas semanas, as
velhas banalidades acerca de que “a revolução não é feita com data marcada” e,
desse modo, perdermos todos os prazos.
O Partido Comunista tinha a maioria dos trabalhadores atrás de si, na
última parte do ano passado ?
É difícil dizer qual teria sido o resultado caso, para essa contagem,
realizássemos uma pesquisa de opinião, àquela época.
Tais questões não são decididas por pesquisas de opinião. São decididas
pela dinâmica do movimento.
Independentemente do fato de que um número muito considerável de
trabalhadores ainda permaneciam nas fileiras da Social-Democracia, apenas uma
minoria insignificante esteve disposta a assumir uma posição hostil, i.e. uma
posição mais ligeiramente hostil-passiva, em relação à derrubada.
A maioria dos trabalhadores sociais-democratas, tal como os trabalhadores
sem partido, perceberam, aguçadamente, o opressivo impasse do regime
democrático-burguês e aguardavam a derrubada.
Sua confiança e simpatia, completa e definitiva, poderia ter sido
conquistada apenas no curso da própria derrubada.
Os discursos sobre a força extraordinária da reação, as diversas centenas
de milhares do Exército Imperial Negro etc., revelaram-se um exagero
monstruoso, acerca do qual as pessoas dotadas de senso revolucionário não
possuíam dúvida, desde o início.
Apenas o Exército Imperial oficial representava uma força genuína.
Porém, ele era numericamente muito pequeno e teria sido, inevitavelmente,
varrido pelo ataque de milhões.
Lado a lado com as massas já firmemente conquistadas pelo Partido
Comunista, massas muito maiores encontravam-se gravitando em sua direção,
durante os meses de crise, dele aguardando um sinal para a batalha e uma
direção na batalha.
Deixando de recebê-los, começaram, depois disso, a distanciar-se dos
comunistas tão espontaneamente como haviam, precedentemente, fluído rumo a
eles.
Através disso explica-se, precisamente, a aguda modificação na relação de
forças que permitiu a Seeckt assenhorar-se do campo da luta política quase sem
resistência.
Nesse meio tempo, os políticos, fatalisticamente predispostos, observando o
rápido sucesso de Seeckt, proclamaram : “Está vendo, o proletariado não quer
lutar”.
Na realidade, depois da experiência do lustro revolucionário, o
proletariado alemão não queria apenas uma luta, senão queria aquela luta que
poderia proporcionar, definitivamente, a vitória.
Não encontrando a direção necessária, esquivaram-se da luta.
Com isso, mostraram apenas que as lições de 1918 a 1921 haviam-se tornado
profundamente arraigadas em sua memória.
O Partido Comunista Alemão conduziu 3.600.000 trabalhadores às urnas
eleitorais.
Quantos ele perdeu no caminho ? É difícil responder a essa questão.
Porém, os dados de inúmeras eleições parciais nos Estados Federados, nas
municipalidades etc., atestam que o Partido Comunista participou nas últimas
eleições do Parlamento Imperial já extremamente enfraquecido.
E, apesar de tudo isso, obteve
3.600.000 votos !
“Olhe só”, dizem-nos, “o Partido Comunista Alemão está sendo criticado
severamente, sendo que, entrementes, ainda representa um força imensa !”
Porém, nisso reside precisamente toda a essência da questão no sentido de
que 3.600.000 votos, em maio de 1924, i.e. depois da vazante espontânea das
massas, depois da consolidação do regime burguês, atestam ter sido o Partido
Comunista a força decisiva, na segunda metade do ano passado, porém também que,
infelizmente, isso não foi compreendido e utilizado a tempo.
Aqueles que, ainda hoje, recusam-se a entender que a derrota decorreu
diretamente de uma subestimação, mais precisamente, de uma apreciação tardia da
situação excepcionalmente revolucionária do ano passado, incorrem no risco de
nada aprender e, portanto, de não reconhecer a revolução em um segundo momento,
quando novamente bater à porta.”[185]
Apresentando suas caracterizações acerca da corrente minoritária
oposicionista, de orientação zinovievista, comandada por Ruth Fischer e Arkadi Maslow, tornada
dirigente após a colossal derrota de 1923, Trotsky assinalou, adicionalmente,
clarificando seus posicionamentos acerca dos pressupostos de reconstrução do Partido
Comunista da Alemanha (KPD) e do
movimento proletário-revolucionário desse país :
“A circunstância de que o Partido Comunista Alemão renovou radicalmente
seus órgãos dirigentes situa-se nessa ordem de coisas.
O Partido, juntamente com a classe trabalhadora, esperou e desejou a luta,
aspirando a vitória, porém, obteve uma derrota sem batalha.
É simplesmente natural que o Partido virasse suas costas à velha direção.
Hoje, pode existir apenas limitado significado na questão de saber se a ala
de esquerda poderia ter cumprido sua tarefa, caso estivesse no poder, no ano
passado.
Dizendo francamente, não acreditamos nisso.
Já observamos acima que, a despeito de sua luta fracional aguda, a ala de
esquerda, no que concerne à questão básica da tomada do poder, compartiu a
política indolente, semi-fantástica, dilatória do Comitê Central de então.
Porém, o simples fato de que a ala de esquerda estava na oposição,
transforma-a em herdeira natural do poder do Partido, depois de ter esse último
virado suas costas ao velho Comitê Central.
No momento, a direção encontra-se nas mãos da ala de esquerda.
Esse é um novo fato no desenvolvimento do Partido Alemão.
É necessário levar esse fato em conta, tomá-lo como ponto de partida.
É necessário fazer todo o possível para ajudar o novo órgão dirigente do
Partido a cumprir com suas tarefas.
Porém, para isso, é acima de tudo necessário visualizar claramente os
perigos.
O primeiro perigo possível poderia surgir da atitude insuficientemente
séria em relação à derrota do ano passado : uma atitude no sentido de que nada
ocorreu fora do normal, senão apenas um pequeno atraso.
“A situação revolucionária irá repeterir-se brevemente. Nós procederemos,
tal como antes, rumo ao assalto decisivo.”
Isso é um erro.
A crise do ano passado significou para o proletariado um gasto colossal de
energia revolucionária.
O proletariado necessita de tempo para digerir a trágica derrota do ano
passado, uma derrota sem uma batalha decisiva, uma derrota sem mesmo uma
tentativa de batalha decisiva. O proletariado necessita de tempo.
Ele necessita de tempo para reorientar-se, de modo revolucionário, em uma
situação objetiva.
Isso não significa, evidentemente, que ele necessita de uma longa série de
anos.
Porém, semanas não bastarão para isso.
Seria um grande perigo se a linha estratégica do nosso Partido Alemão fosse
a de cortar, impacientemente, de modo transversal, os processos em ocorrência
no presente momento junto ao proletariado alemão, enquanto resultado da derrota
do ano passado.(p. IX)...
Duas grandes lições marcam a história do Partido Comunista Alemão : a de
Março de 1921 e a de Novembro de 1923.
No primeiro caso, o Partido foi pego por sua própria impaciência para com
uma situação revolucionária madura.
No segundo caso, não reconheceu uma situação revolucionária madura e
deixou-a escapar.
Esses são os perigos limites da “esquerda” e da “direita”, entre os quais a
política do partido proletário, em geral, percorre em nossa época.
Devemos continuar a firmemente desejar que, enriquecido por batalhas,
derrotas e experiência, o Partido Comunista Alemão conseguirá guiar seu navio,
em um futuro não tão distante, entre o Março de Scylla e o Novembro de
Charybdis, assegurando ao proletariado alemão aquilo que tão honestamente
mereceu : a vitória !(p. XI)”[186]
CONCLUSÃO
O desenrolar condenado ao fracasso da Revolução Alemã de 1923 produziu
conseqüências extraordinárias não apenas para a dinâmica das lutas proletárias
em todo mundo, senão ainda para o desenvolvimento das disputas fracionais no
interior do Partido Comunista da URSS e de todos os partidos integrantes da
III
Internacional.
Os enérgicos embates armados de 1917, conduzidos pelo proletariado russo
visando à destruição do Estado Buguês na Rússia
e à edificação da Ditadura Revolucionária do Proletariado, incorporadora
da mais ampla e historicamente mais avançada Democracia Proletária, combinada
com a encarneçida Guerra Civil, iniciada no ano imediatamente subseqüente, haviam
conduzido as forças econômicas e militares dos proletários e camponeses pobres
à beira do esgotamento.
Acreditava-se na expansão e consolidação da revolução socialista
internacional advinda possivelmente do levante armado vitorioso a ser, corajosa
e ousadamente, desencadeado, antes de tudo e em primeira linha, sobre o solo
alemão.
Uma revolução vitoriosa na Alemanha seria até mesmo mais
promissora do que a Revolução de Outubro de 1917 para a perspectiva de expansão das
forças revolucionárias socialistas proletárias em todo mundo e construção do
socialismo mundial.
Além disso, já a partir dos últimos meses de 1922, ascendia à direção do
aparato do Partido Comunista e do Estado Soviético da URSS, bem como do Komintern,
uma densa burocracia operária, encabeçada por Stalin, Zinoviev e Kamenev, coadjuvada
por seus mais próximos correligionários políticos, muitos deles inteiramente
ausentes das lutas revolucionárias de 1905 e 1917.
Proletários revolucionários internacionalistas russos e alemães, bem como
muitos outros de diversos países europeus, depositavam, precisavamente por
isso, grandiosas esperanças nas expectativas relacionadas com uma revolução
triunfante na Alemanha, a qual, deflagrada já nesse contexto histórico,
possuria o condão de deter o processo de consolidação do crescente burocratismo
stalinista na Rússia, rompendo com o intenso isolamento desse país do
contexto internacional dirigido pelas forças do capitalismo imperialista.
Com efeito, já ao longo de 1923, Lenin havia advertido contra as
ameaças decorrentes da “burocratização do aparato”[187], ao
mesmo tempo em que Trotsky e seus aliados no PC da URSS surgiam, na arena pública
soviética de então, como os mais agüerridos defensores da Democracia Proletária e
do internacionalismo
proletário-revolucionário.
A derrota da Revolução Alemã de 1923 e a grande desilusão dela decorrente que
se alargou entre largas camadas do proletariado russo em relação às perpectivas
de triumfo da revolução socialista mundial e à atuação revolucionária da III
Internacional, viriam a ser utilizadas por Stalin, Zinoviev e Kamenev para,
após a morte de Lenin, em 21 de janeiro de 1924, intensificarem a luta contra Trotsky
e a Oposição de Esquerda, formada
sobre sua direção intelectual e política.
Tal como se alardeou à época, em tom de vulgata jornalistíca, por todos os
rincões do movimento socialista internacional, Trotsky e Radek, Brandler e
Thalheimer haveriam de ser impiedosamente condenados, segundo a versão
estabelecida pela Troika Stalinista, por terem sido os principais responsáveis
pelo ”Golpe
de Estado na Alemanha”, uma vez que “os companheiros russos, i.e.
Radek e Trotsky, cometeram o erro de acreditar nas bravatas, i.e. credere alle
vendite di fumo, de Brandler e de seus companheiros... ”[188]
A partir desse momento, colocava-se em circulação a moeda falsa relativa à
dissimulação da inteira imperícia de Zinoviev, à época Presidente do Komintern[189] – e, adicionalmente, o decidido posicionamento contrário de Stalin – relativamente à inafastável
necessidade tomar medidas no sentido de preparar e organizar, perspicaz,
rigorosa, inteligente e dialeticamente, um levante na Alemanha, já mesmo a
partir dos primeiros mêses de 1923 - e não no apagar das luzes desse mesmo ano,
fazendo-no, então, de maneira serôdia e sonolenta, visionária e fatalista.
Por exemplo, o resultado extraído cuidadosamente por Antonio Gramsci a partir
do balanço político da Revolução Alemã de 1923 surge
elaborado no sentido de reforçar a tese arquitetada pela Troika, consistente na
imputação de pretensa culpabilidade de Trotsky pelo fracasso da empresa,
bem como relativa à suposta mais plena inocência de Zinoviev e de
Stalin, esses últimos, até fins de agosto de 23, plenamente reticentes
à e, até mesmo, antagonistas da efetiva deflagração, a partir de então,
alucinados entusiastas do levante alemão[190].
A causa do debacle do Outubro de 23 haveria de ser
interpretada, assim, em sentido burocrático-stalinista, como sendo decorrente
da insuficiente “bolchevização” do Partido Comunista Alemão(KPD), estimulada
pelo tão decantado “liquidacionismo e o capitulacionismo menchevique-trotskysta”, tal
como Gramsci
admite serem esses últimos plenamente “acobertados de linguagem revolucionária, na medida em que são
incapazes de avaliar as relações reais das forças efetivas.”[191]
Contra, entretanto, a tão decantada “bolchevização” ou mais propriamente, stalinização
dos partidos comunistas, iniciada logo após a derrota da Revolução
Alemão de 1923, Lenin já havia tido a oportunidade de advertir, com nitidez e clareza, os companheiros
russos e estrangeiros acerca do perigo de adotarem, mecanica e dogmaticamente,
os mesmos métodos de tratamento das questões organizativo-partidárias que havia
se desenvolvido na URSS ao longo dos
últimos anos :
“No III Congresso, de 1921, adotamos uma Resolução acerca da construção
organizativa dos partidos comunistas e sobre os métodos e conteúdo de seus
trabalhos.
Essa Resolução é excelente. Porém, a Resolução é quase manifestamente
russa, i.e. tudo é retirado do desenvolvimento russo.
Isso é o bom da Resolução, porém também é o seu mau.
O mau é que quase nenhum estrangeiro a pode ler - essa é minha convicção, li essa Resolução
mais uma vez ainda, antes de dizer isso.
Em primeiro lugar, ela é muito longa, possui 50 parágrafos ou mais.
Uma coisa assim os estrangeiros não podem normalmente ler.
Em segundo lugar, se ela for, porém, lida, os estrangeiros não a
entenderão, precisamente porque ela é por demasiado russa.
Não se trata do fato de que ela teria sido redigida em russo, pois ela está
excepcionalmente bem traduzida em todas as línguas, mas sim porque ela está
penetrada, inteiramente, pelo espírito russo.
E, em terceiro lugar, se um estrangeiro entende-a excepcionalmente, não a
pode cumprir.
Esse é o terceiro inconveniente. ...
Minha impressão é a de que cometemos um grande erro com essa Resolução,
nomeadamente por termos vedado, a nós mesmos, o caminho para um progresso
adicional.
Tal como dito : a Resolução é excelente, subscrevo todos os 50 ou mais parágrafos.
Porém, não compreendemos como nos dirigirmos aos estrangeiros, com nossa
experiência russa.
Tudo nessa Resolução permaneceu palavras mortas e, caso não entermos isso,
não seguiremos adiante. ...
Certo é que : devemos primeiro ler e escrever e aprender a entender também
aquilo que foi escrito. Os estrangeiros precisam disso ainda em maior escala.
Em primeiro lugar, entender-se nomeadamente isso também que escrevemos
acerca da construção organizativa dos partidos comunistas e que os estrangeiros
assinaram, sem ter lido, sem ter entendido.
Essa Resolução deve ser executada. Não se pode fazê-lo de um momento para o
outro. Isso é absolutamente impossível. Ela é por demasiado russa. Ela reflete
a experiência russa.
Por isso, ela não é entendida pelos estrangeiros.
Os estrangeiros não podem contentar-se em pregar na parede e louvar essa
Resolução enquanto imagem sagrada. Com isso, não se conseguirá nada.
Eles tem de admitir para si uma parcela da experiência russa.
O modo como isso se dará, isso não sei dizer.” [192]
A falsificação quanto à culpabilidade de Trotsky pelo fracasso do Outubro
de 23 repercutiu, também, profundamente, em toda a Alemanha, sendo ela
apregoada, em um primeiro momento, de maneira desbragada, pelos novos
dirigentes zinovievistas do PCA(KPD), Ruth Fischer e
Arkadi Maslow, que substituíram, em abril de 1924, os postos dirigentes
de Radek,
Brandler e Thalheimer.
“Todos os homens dirigentes do Politbureau Russo velavam por suas conexões
pessoais com grupos seletos dos comunistas estrangeiros. ...
Radek, ele mesmo situado externamente ao íntimo círculo dos bolcheviques,
admirava fervorosamente a personalidade brilhante de Trotsky e seu gênio
militar.
Em 1923, na confusão que durou ao longo do último ano de vida de Lenin,
quando a luta pedente entre Trotsky e a Troika de Stalin, Zinoviev e Kamenev
estava sendo preparada, Radek alinhou-se com Trotsky.
Ele tentou trazer o grupo de Brandler para sua órbita, uma vínculo maior na
cadeia dos fortes pontos trotskystas por toda a Europa.
Trotsky e radek esperavam que um Partido Comunista Alemão moderado ajudaria
a contrabalançar a crescente influência do centro bolchevique, dando apoio ao
elementos não bolcheviques integrados no Partido Russo, a partir de 1917.
O fortalecimento do status de Trotsky devia ser coordenado com política alemã de Radek.
O acesso às posições chaves nos sindicatos de velho tipo e a cooperação com
os Sociais-Democratas reforçariam a posição de Trotsky e, com isso, a posição
de Radek, no Politburo Russo.”[193]
Tendo devidamente em conta essas bravatas de Ruth Fischer, a
historiadora alemã Annegret Schüle teve a oportunidade de assinalar, com precisão
:
„Ainda em 1928, Trotsky via-se obrigado a justificar-se.
Ele comprovou, com base no Protocolo da Plenária do Comitê Central do
Partido Comunista da URSS, de setembro de 1923, que ele havia advertido acerca
da „sonolência“ e o „fatalismo“ da direção Brandler, sendo que a maioria dos
membros do Comitê Central de então o contradisseram.“[194]
Em 1923, Radek solidarizou-se com o afastamento de Brandler, em outubro de
1923, formando as bases da Oposição Comunista de Direita, na Alemanha,
ao mesmo tempo em que, integrando a Oposição de Esquerda, na Rússia,
foi apontado pela Troika Stalinista como culpado, ao
lado de Trotsky, pela derrota de 1923. Assumindo as funções de Reitor
da Universidade dos Povos do Oriente, em Moscou, Radek
desempenhou importante papel no quadro da Oposição Unificada, em 1926 e
1927. Após ter sido excluído das fileiras partidárias do stalinismo e
deportado, Radek capitulou em 1929.
No Segundo Grande Processo de Moscou, de 1937, Radek
foi condenado a uma pena de reclusão de 10 anos. Haveria de morrer, porém, a
seguir, possivelmente em 1939, em um campo de concentração.
Dedicando todo um capítulo de sua grandiosa obra intitulada Os
Crimes de Stalin à análise do perfil político de Karl Radek, Trotsky teve
a oportunidade de dar ao público, já no mês de julho de 1937, no contexto
histórico do Segundo Grande Processo de Moscou, onde Radek e Piatakov
figuravam como réus, as seguintes rigorosas reflexões :
“Em seu primeiro discurso de acusação (em 28 janeiro), o Procurador do
Estado (i.e. Vyshinskii) afirmou :
« Radek é um dos mais extraordinários e, há de se lhe fazer justiça, talentosos,
bem como obstinados “trotskystas” ... Radek não é corrigível ... Ele é um dos
mais confiáveis e mais próximos do principal líder desse bando de pessoas, ,
i.e. Trotsky. »
Todos os elementos contidos nessa caracterização são mentirosos, com
exceção talvez da referência à qualidade talentosa de Radek. Porém, é
necessário aqui acrescentar : como jornalista. Apenas como jornalista !
Falar acerca da “obstinação” de Radek, sobre sua “incorrigibilidade”
enquanto oposicionista e sobre sua proximidade a mim, pode-se apenas fazê-lo
talvez mentindo à maneira de anedotas despropositadas.
Radek caracteriza-se, em essência, por sua impulsividade, hesitação,
impossibilidade de ser confiável, pela predisposição de entrar em pânico com o
surgimento do primeiro perigo e pela extraordinária loquacidade nos minutos
favoráreis. Essas qualidades fazem-no dotado de elevadas qualificações para um
jornal como Fígaro, inestimável informador para jornalistas e turistas
estrangeiros, porém inteiramente inadequado para o papel de conspirador.
No círculo das pessoas revestidas de informação, é simplesmente impensável
falar-se de Radek como inspirador de atentados terroristas e organizador de
conspiração internacional!” [195]
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(Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De
12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923.
EDITORA DA UNIVERSIDADE COMUNISTA SVERDLOV
PARA ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA DO PROLETARIADO
MOSCOU – SÃO PAULO – MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. RADEK, KARL. Referat zur Taktik
der Kommunistischen Internationale auf dem Dritten Kongreß der Kommunistischen
Internationale (Informe acerca da Tática da Internacional Comunista no III
Congresso da Internacional Comunista), in: Protokoll des Dritten Kongresses der
Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional
Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg: Carl Hoym, 1921, p.
775.
[2] Cf. Lenin, Vladimir I. Der „linke Radikalismus“, die Kinderkrankheit im Kommunismus (O „Radicalismo de Esquerda“ : Enfermidade Infantil no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in : W. I. Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXI, pp. 20 e s.
[3] Cf. Lenin, Vladimir I. Brief
an die Arbeiter Europas und Amerikas (Carta aos Trabalhadores da Europa e da
América), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXIII, Berlim, 1959, p. 384.
[4] vide LIEBKNECHT, KARL. Was Will der Spartakusbund? (O Que Quer a Liga Spartakus), 23 de Dezembro de 1918, p. 519.
[5]
Vide LIEBKNECHT, KARL. Grundzüge
einer Marxkritik (Traços Fundamentais de uma Crítica de Marx), in: Studien über die
Bewegungsgesetze der Gesellschaftlichen Entwicklung (Estudos sobre as Leis de
Movimento do Desenvolvimento Social), Kurt Wolff Verlag, Munique,
1922, pp. 247 e s.
[6] Nesse sentido, em 15 de junho de
1923, na Conferência do Executivo Ampliado da Internacional
Comunista(Komintern), o seu então Presidente, Grigori Zinoviev, apresentou seus
argumentos acerca da nova situação política efervescente da luta de classes da
Alemanha, em face do imperialismo francês, da seguinte forma : “A Alemanha é uma
grande colônia da França. Não é possível explorar-se essa
colônia se nela reina a revolução. Por isso, a França tem o interesse de
esmagar a Revolução Alemã ... A classe trabalhadora alemã encontra-se entre
dois fogos cruzados : entre a burguesia alemã, o fascismo, e o imperialismo
francês. Aqui, deve-se dizer aos companheiros franceses : o partido francês é
ainda muito débil, é ainda muito jovem, porém possui grandes deveres
internacionais a serem cumpridos.” Cf. ZINOVIEV, GRIGORI. citado in : Protokoll der Konferenz
der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da
Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de
Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 127 e 128. Caracterizações
acerca da redução da Alemanha à condição de uma “colônia industrial”, foram
teorizadas, também, nesse mesmo Executivo Ampliado, por Varga, Bukharin e
Radek. Vide DEBATE ÜBER DEN BERICHT DER EXEKUTIVE(Debate
sobre o Informe do Executivo), especialmente Redner(Oradores) Varga, Radek,
Bukharin, in: ibidem, pp. 44 e s. Nos escritos de Karl Radek, é possível
encontrar-se, já no início de 1922, a seguinte análise, publicada no Pravda de
Moscou, acerca das condições impostas pelo Tratado de Versalhes : “O
imperialismo inglês acredita ... ter encontrado um novo método. Esse novo
método que a imprensa liberal inglesa considera “humanitário” em comparação com
o método de Versalhes consiste, na realidade, em regredir dos métodos de
exploração feudais das vitórias até aqueles do tempo da escravidão assíria e
babilônica. ... A Alemanha transformar-se-á em uma colônia industrial, uma
colônia de categoria superior que deve consolidar a dominação dos poderes da
Entente nas colônias agrárias, colônias de hierarquia inferior. ...” Cf. RADEK, KARL. Die Entente,
Sowjetrußland und Deutschland(A Entente, a Rússia Soviética e a Alemanha), in :
Pravda, 3 de Janeiro de 1922, tb. Die Rote Fahne, 29 de Janeiro de 1922, 2°
Caderno.
[7] vide TROTSKY, LÉON. Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV
Internatsionala. Mobilizatsia Mass Vokruk Pererrodnyrr Trebovanii kak
Podgotovka k Zavoievanniu Vlasti (A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da IV
Internacional. A Mobilização das Massas em torno de Consignas
Transitórias para Preparar a Conquista do Poder), especialmente Pravitel’stvo
Rabotchirr i Krest’ian (Governo dos Trabalhadores e Camponeses), in :
Biulietien Opozitsi Bolschevikov-Lenintsev (Boletim de Oposição
Bolchevique-Leninista), Nr. 66/67,
Paris, 1938, pp. 10 e s.
[8] Cf. IDEM. Gegen den
Nationalkommunismus. Lehren des „roten“ Volksentscheids(Contra o
Nacional-Komunismo. Lições do Referendo Vermelho), Berlim-Neuköln : A.
Grylewicz, 1931, pp. 5 e s.
[9] Cf. IDEM. Aufmerksamkeit für die
Fragen der Theorie(Atenção para com as Questões da Teoria) , passim : Grigori
Zinoviev, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der
Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale
(Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De
12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 12. Imediatamente
após citar essas palavras do artigo jornalístico de Trotsky, Zinoviev destacou,
em seu relatório do Executivo Ampliado :
“Isso é inteiramente correto. Subscrevo cada palavra desse parágrafo. Os
perigos vinculados com a tática de Frente Única são realmente grandes e
tornam-se-ão tanto maior quanto mais exitosamente avancemos.”
[10]
Cf. IDEM. Novyi Kurs(Novo Curso)(Dezembro de 1923), especialmente Capítulo V :
Tradição e Política Revolucionária, Moscou : Izdat. Krasnaia Nov, 1924, pp. 41
e s.
[11]
Destaque-se que o Executivo Ampliado do Komintern, realizado entre os dias 12 e
23 de junho de 1923, sob a presidência de Grigori Zinoviev, decidiu recomendar
ao Partido Comunista da Alemanha(KPD), a partir desses dias, o levantamento da
consigna não mais restrita de Governo dos Trabalhadores, senão ampliada de
Governo dos Trabalhadores e Camponeses, pretendendo, assim, indicar que o
modelo da Revolução de Outubro de 1917 deveria ser fiel e rigorosamente levado
adiante em solo alemão. Nesse sentido, Zinoviev assinalou : “Por tudo isso,
companheiros, tiro a conclusão de que o melhor meio para eliminar essas
reminescências consiste em expandir, agora, a consigna de Governo dos
Trabalhadores para “Governo dos Trabalhadores e Camponeses”. Vocês se recordam
como a questão desenrolou-se cronologicamente. Em primeiro lugar, a tática de
Frente Única e, então, Governo dos Trabalhadores. Agora, acredito que essa
fórmula deva ser expandida e, em verdade, de modo geral.” Cf. ZINOVIEV,
GRIGORI, Bericht der Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der
Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Internationale
(Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De
12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e s. No mesmo
sentido, tb. RADEK,
KARL. Referat über die weltpolitische
Lage auf der Konferenz der Erweiterten Executive der Kommunistischen
Internationale (Informe sobre a Situação Política Mundial na Conferência do
Executivo Ampliado da Internacional Comunista)(15 de Junho de 1923), in :
ibidem, pp. 103 e s.
[12]
Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva :
Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 152.
[13]
Essa porcentagem de aproximadamente 30 % deve ter correspondido a algo
equivalente a 200.000 membros, tendo-se em consideração o fato de que
aproximadamente 730.000 militantes fizeram-se representar no X Congresso do
Partido Comunista Russo. Acerca do tema, vide POPOV, NIKOLAI Outline History of
the Communist Party of Soviet Union, Vol. II, New York : International
Publishers, 1946, p. 150.
[14]
Referentemente a essa temática, vide, sobretudo, TROTSKY, LÉON. Moia Jizn. Opyt
Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia), especialmente
Glava XXXIX : Bolezn Lenina (Capítulo XXXIX : A Doença de Lenin), Glava XL :
Zagovor Epigonov (A Conspiração dos Epígonos), Berlim : Granit, 1930,
repectivamente pp. 205 e s. e pp. 227 e s.
[15]
Cf. IDEM. On the Suppressed Testament of Lenin (Sobre o Testamento Suprimido de
Lenin) (18 de Outubro de 1926), in : http://www.marxists. org.uk/
archive/trotsky/works/ 1926/1926-len.htm
[16]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, especialmente Chapter 11 : Struggle for Sucession in the Russian
Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 234.
[17]
Acerca do tema, vide, exemplificativamente, RUBEL, MAXIMILIEN. Josef W. Stalin, especialmente Capítulo
: Ein Multiplizierter Komissar (Um Comissário Multiplicado) e Die Letzte Metamorphose (A Última
Metamorfose), Reinbeck bei Hamburg : Rowohlt, 1975, pp. 44 e s.
[18] Acerca do tema, vide LENIN, WLADIMIR
I. Fünf Jahre Russische Revolution und die Perspektiven der
Weltrevolution(Cinco Anos de Revolução Russa e as Perspectivas da Revolução
Mundial), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen
International (Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista) (De 5 de
Novembro a 5 de Dezembro de 1922), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 229 e
230.
[19]
Acerca do tema, compare-se, mais pormenorizadamente, os argumentos apresentados
no Capítulo III do presente estudo.
[20] Cf. BERICHT ÜBER DIE VERHANDLUNGEN
DES III(VIII) PARTEITAGES DER KOMMUNISTISCHEN PARTEI DEUTSCHLANDS(Relatório
sobre as Tratativas do III(VIII) Congresso do Partido Comunista da Alemanha),
Abgehalten in Leipzig vom 28. Januar bis 1. Februar 1923, Berlim, 1923, pp.
retro-mencionadas. Extratos reproduzidos igualmente em FLECHTHEIM, OSSIP K. Die
KPD in der Weimarer Republik (O KPD na República de Weimar), Frankfurt a.M.,
1969, p. 175.; tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär,
Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante,
Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 237.; FISCHER,
RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of
the State Party, especialmente Chapter 10 : Communist Convention at Leipzig,
Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 231.
[21] Cf. TROTSKY, LÉON. Stalins
Verbrechen(Os Crimes de Stalin), especialmente : Vor dem neuen Prozeß(Antes do
Novo Processo), Zurique : Jean Christophe Verlag, 1937, p. 133.
[22] Cf. IDEM. Piat Liet Kominterna
(Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio de 1924),
Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, pp. VI e s.
[23]
Essa perspectiva refletia-se, nitidamente, nas caracterizações elaboradas por
Zinoviev, em seu relatório apresentado no Executivo Ampliado do Komintern,
realizado entre os dias 12 e 23 de junho de 1923, quando assinalou, de maneira
curta e breve : “Desde o último congresso, meio ano se passou. Hoje, vemos
muitas coisas muito mais claramente. Surgiram novas questões políticas. Devemos
examinar em que medida as Resoluções do IV Congresso foram corretas e como
foram executadas. A situação econômica desenvolveu-se, em muitos países, em
favor dos capitalistas. A América vive um boom. Na Inglaterra e na França,
surgiu uma melhora. Na Europa Central, ainda existe a mesma situação de
corrosão. No Japão, começa a crise. A situação internacional está
caracterizada, momentaneamente, pela tensão anglo-russa.” Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der
Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten
Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do
Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923),
Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 4.
[24]
Cf. TROTSKY, LÉON. Novyi Kurs(Novo Curso)(Dezembro de 1923), especialmente Capítulo
V : Tradição e Política Revolucionária, Moscou : Izdat. Krasnaia Nov, 1924, pp. 42 e 43.; Cf.
IDEM. De la Révolution(Acerca da Revolução), Pravda, 28 e 29 de dezembro de
1923, p. 58, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les
Éditions de Minuit, 1971, p. 783.
[25] Cf. NEUBERG, A. Der bewaffnete
Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa
de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. VII.
[26] Cf. TROTSKY, LÉON. Uroki Oktiabria
(As Lições de Outubro)(1924), especialmente : Vokruk Oktiabrskovo Perevorota
(Acerca da Revolução de Outubro), Sankt-Peterburg : Lenizdat, 1991, pp. 97 e 98.
[27]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, especialmente Chapter 10 : Communist Convention at Leipzig,
Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 229.
[28] Cf. RADEK, KARL. Referat zur Taktik
der Kommunistischen Internationale auf dem Dritten Kongreß der Kommunistischen
Internationale (Informe acerca da Tática da Internacional Comunista no III
Congresso da Internacional Comunista) , in : Protokoll des Dritten Kongresses
der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da
Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl
Hoym, 1921, pp. 435 e s.
[29]
Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva :
Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 155. Acerca da citação em
destaque, cumpre observar que o Art. 58, do Código Penal da URSS,
prescrevia, a esse tempo, o Direito de
exclusão sumária de militantes das fileiras do PC da URSS, bem como o seu
banimento enquanto contra-revolucionários, por violação da disciplina
partidária. Quanto à sigla OGPU, essa última significa Obyedinyonnie Gosudarstvennoie
Polititcheskoie Upravlenye, no vernáculo : Diretoria Política Unificada do
Estado. A OGPU assumiu as funções de inteligência e contra-inteligência
exercidas, outrora, pela Tcheka (Tchrezvychainaia Komissia, i.e. Comissão
Extraodinária), fundada em 20 de dezembro de 1917 e, a seguir,
transitoriamente, convertida em GPU(Gosudarstvennoie Polititcheskoie
Upravlenye, i.e. Diretoria Política do Estado). Posteriormente, a OGPU foi
redesignada com o nome de NKVD (NarKomVnuDel, i.e. Narodnyi Komissariat
Vnutrnnirr Del, em português : Comissariado do Povo para Negócios Internos). Em
1946, as funções jurídico-estatais dessa última foram repartidas entre o
MVD(Ministerstvo Vnutrenirr Del, i.e. Ministério dos Negócios Internos), e o
MGB(Miniterstvo Gosudarstvennoi Bezopasnosti, i.e. Ministério de Segurança do
Estado), em cujo seio foi instituída a KGB(Komitet Gosudarstvennoi
Bezopasnosti, i.e. o Comitê de Segurança do Estado). Acerca das atividades da
GPU – e, por consegüinte, também sobre a OGPU, sua sucessora institucional -
Trotsky observou, claramente : “A GPU é a polícia política soviética que, a seu
tempo, era um órgão de defesa da Revolução Popular. Porém, ela converteu-se em
órgão de defesa da burocracia soviética contra o povo.” Cf. IDEM, ibidem, p.
31.
[30]
Acerca do tema, vide TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de
Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, pp. 151 e
s. No Berliner Zeitung(O Jornal de Berlin), Hermann Weber publicou, ainda
recentemente, uma matéria sobre o percurso político de Karl Radek, onde se
assinala : “Em 1935, ainda antes do Primeiro Grande Processo de Moscou, ele
(i.e. Radek) denunciou, no órgão “Bolchevique”, Zinoviev, Kamenev e outros
antigos adversários por terem-se tornado “chefes do bloco
trotskysta-zinovievista”, “espiões”, “larvas e perniciosos”. Em 1936,
designou-os de “bandos de fascistas com seu comandante Trotsky” e exigiu :
“Aniquilai esses arremêdos !” Ele concorreu com o principal acusador
Vyschinskii em suas difamações maldosas. Por que ? Tratava-se de cinismo vazio
e premunição de que o mesmo sucederia com ele em breve ? Ou tentativa baldada de ainda se
salvar ? Cf. WEBER, HERMANN. Er war Opfer und Täter gleichermaßen. Der
Revolutionär Karl Radek : Intelligenter Kopf und wackerer Kämper, aber auch
schlimmer Zyniker und gefährlicher Intrigant (Ele foi Vítima e Agente em Igual
Medida. O Revolucionário Karl Radek : Cabeça Inteligente e Lutador Excêntrico,
porém também Cínico Maudoso), in : Berliner Zeitung, 13 de Janeiro de 1995,
Seção Cultural.
[31] Enquanto seus produtos literários
mais marcantes desse período, vide, sobretudo, RADEK, KARL. Die Revision des
Versailler Vertrages(A Revisão do Tratado de Versalhes)(Pravda, 10 de Maio de
1933), in : Dietrich Möller, Karl Radek in Deutschland. Revolutionär,
Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante,
Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, pp. 269 e s.; IDEM.
Die deutsch-sowjetischen Beziehungen(As Relações Germano-Soviéticas)(Izvestia,
6 de Agosto de 1933), in : ibidem, pp. 273 e s.: IDEM. Bismarck – Liebling der
Konterrevolutionäre(Bismarck – O Adorado dos Contra-Revolucionários)(Bolshaia
Sovietskaia Enziklopedia, 1927), in : ibidem, pp. 275 e s.
[32] Acerca do tema, Hermann Weber anotou : De 23 a 30 de janeiro de
1937, ele mesmo (i.e. Radek) surgiu diante do Tribunal. Contra Piatakov, Radek,
Sokolnikov e outros 14 teve lugar o Segundo Grande Processo de Moscou. As
autoridades da investigação criminal conseguiram quebrá-lo, enquanto último dos
17 acusados, sendo que também Radek confessou tudo, então, na desejada
proporção : espionagem, sabotagem, preparações de assassinatos. Radek
incriminou seu amigo, Bukharin, publicamente – e esse último foi, em seguida,
condenado e executado, em março de 1938. Parece ironia que Radek “saiu dessa”
com 10 anos, ainda que Vyshinskii tivesse exigido para todos os acusados “o
fuzilamento, a morte”. Talvez, possa-se encontrar nos arquivos o porquê de
Stalin assim ter ordenado. Radek não permaneceu, porém, poupado. Dois anos mais
tarde, foi arrancado do Gulag e executado. O PC da URSS reabilitou-o apenas em
1989, sob a égide de Gorbatchov. “ Cf. IDEM. ibidem, in : Berliner Zeitung, 13 de Janeiro de
1995, Seção Cultural.
[33] Nesse sentido, vide MÖLLER,
DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl
Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag
Wissenschaft und Politik, 1976, p. 25 e s..; FISCHER, RUTH. Stalin
and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, especialmente
Chapter 9 : Karl Radek, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 217 e s.
[34] Cf. RADEK, KARL. Der Baumeister der
sozialistischen Geselschaft. IX Vorlesung aus der Vortragsreihe “Geschichte des
Sieges des Sozialismus”(O Mestre de Construção da Sociedade Socialista. IX Aula
da Série de Palestras “História da Vitória do Socialismo”), Moskau-Leningrad :
Genossensch. Ausländ. Arbeiter in der UdSSR, 1934, pp. 1 e s.
[35] Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia
Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi
Litieratury, 1994, pp. retro-mencionadas.
[36] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an Karl
Radek(Carta à Karl Radek)(30 de Setembro de 1910), in : W. I. Lenin Werke,
Berlim, 1962, Vol. XXXVI, pp. 146 e 147.
[37] Cf. IDEM. Brief an Karl Radek (Carta
à Karl Radek) (9 de Outubro de 1910), in : ibidem, pp. 148 e 149.
[38] Cf. tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek
in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha.
Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik,
1976, p. 20.
[39]
Acerca do tema, vide, especialmente, BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne
1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 47 e 847. Nessa sede,
assinala Broué : “Esse homem bem jovem é um daqueles que ataca a Kautsky e à
sua análise de imperialismo, nas próprias colunas do Die Neue Zeit, em maio de
1912(p. 47).” No que
concerne às produções literárias de Radek desses anos, vide, sobretudo, RADEK,
KARL. Die auswärtige Politik der deutschen Sozialdemokratie. Es lebe den Krieg
!(A Política Externa da Social-Democracia Alemã. Viva a Guerra !)(1909), in :
In den Reihen der deutschen Revolution 1909-1919. Gesammelte Aufsätze und
Abhandlungen, München : Kurt Wolff, 1921, pp. 17 e s.; IDEM. Der deutsche
Imperialismus und die Arbeiterklasse. Im Zeitalter der akuten Kriegsgefahr(O
Imperialismo Alemão e a Classe Trabalhadora. Na Idade do Perigo Agudo de
Guerra)(1911), in : ibidem, pp. 48 e s.; IDEM. Unser Kampf gegen den Imperialismus
(Nossa Luta contra o Imperialismo)(Maio de 1912), in : ibidem, pp. 156 e s.;
IDEM. Wege und Mittel im Kampfe gegen den Imperialismus. Zwei Methoden der
Untersuchung des Imperialismus(Caminhos e Meios na Luta contra o Imperialismo. Dois
Métodos de Investigação do Imperialismo)(Setembro de 1912), in : ibidem, pp.
177 e s.
[40]
Cf. FEL’SCHTINSKII, IURI. Primetchania (Notas), in: Léon Trotsky, Prestuplienia
Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi
Litieratury, 1994, p. 277.
[41]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 201 e 202.
[42]
Cf. SCHORSKE, CARL E. The German Social-Democracy 1905-1917. The Development of
the Great Schism, Cambridge, 1955, p. 255.
[43] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an D.
Wijnkoop(Carta à D. Wijnkoop)(12 de Janeiro de 1914), in : W. I. Lenin Werke,
Berlim, 1962, Vol. XXXV, pp. 108 e 109.
[44]
Acerca do tema de recrutamento de Radek, Lenin observou : ”Não lhe aconselho tornar-se
soldado. Não se deve
ajudar os inimigos. Você vai prestar um auxílio aos Scheidemanns. De
preferência, emigre. Isso é realmente melhor. De forças de esquerda
necessita-se agora urgentemente.” Cf. IDEM. Brief an Karl Radek(Carta à Karl Radek)(4 de Agosto
de 1915), in : ibidem, Vol. XXXVI, p. 317
[45] Cf. TROTSKY, LÉON. Moia Jizn. Opyt
Avtobiografii (Minha Vida. Uma Tentativa de Auto-Biografia), especialmente
Glava XVIII : Natchalo Voiny (Capítulo XVIII : O Início da Guerra), Berlim :
Granit, 1930, pp. 273 e 274.
[46]
Nesse sentido, Lenin dirigiu-se a Radek, da seguinte maneira, já em julho de
1915 : “É-me inconcebível como possa você ter perdido a Pré-Conferência de
Berna !?! E você ainda tinha-me advertido acerca dela !?” Cf. LENIN, VLADIMIR
I. Brief an Karl Radek (Carta à Karl Radek)(15 de Julho de 1915), in : W. I.
Lenin Werke, Berlim, 1962, Vol. XXXVI, p. 314. No mesmo sentido, Lenin anotou,
a seguir, em uma carta dirigida a Schlovski : “Não entendo absolutamente o que
aconteceu com Radek. Por diversas vezes, pedi-lhe : 1. Uma cópia de nosso
Projeto de Resolução (em alemão) ... 2. Uma cópia de nossa Declaração sobre a
votação ... 3. Uma cópia de nossa declaração de protesto contra o ultimato de
Lebedour. Radek não responde nada. Pelo amor de Deus, vá até lá e clarifique as
coisas. (Se Radek não as possui, se Grimm não as entrega realmente para cópia ?
Esse é o cúmulo da falta
de vergonha !) Cf. IDEM. Brief an G. L. Schlovski (Carta à G.L. Schlovski)(11
de Outubro de 1915), in: ibidem, Vol. XXXVI, p. 340. Desenvolvendo
sua postura de relacionamento com Radek, Lenin ainda escreveu a Schliapnikov,
nesses anos da I Guerra Mundial Imperialista
: “Então, os poloneses (a Oposição). No Nr. 25 de sua “Gazeta
Robotnicza”, encontra-se uma Resolução : novamente por tergiversações, tal como
em Bruxelas, em 3-6 de julho de 1914. É necessário, incondicionalmente,
inflexibilidade em relação a eles. Radek é o melhor deles. Ele foi útil. Com
ele, colaborámos(além disso, também para a Esquerda de Zimmerwald) e trabalhámos.
Porém, Radek igualmente oscila. Nossa tática é aqui bilateral ... : de uma
lado, ajudar Radek a ir para a esquerda, unificando-se todos que forem
possíveis para a Esquerda de Zimmerwald, de outro lado, não admitir, nem em uma
vírgula, oscilações em questões fundamentais.” Cf. IDEM. Brief an A. Schliapnikov (Carta à A.
Schliapnikov)(Fim de 1915), in : ibidem, Vol. XXXV, pp. 188
e 189. E, no mesmo sentido, a Zinoviev : “Você sabe que Radek está, em primeiro
lugar, de tal forma “ofendido” (porque insistimos na publicação de nossas teses
na revista de Pannekoek) que não empreende “nenhum tipo de trabalho conjunto”
com eles – tal como você mesmo que havia escrito, em março de 1916.” Cf. IDEM. Brief an G. Zinoviev (Carta
à G. Zinoviev)(21 de Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 194.
Destacando, por fim, o caráter manifestamente intriguista de Radek, Lenin
assinalou a Schliapnikov : “O caso é evidente. Esses Senhores (i.e. Radek e Bronski) teceram, de
início, intrigas na Esquerda de Zimmerwald. ... Eles querem apostar em
Tscheidze e Trotsky.” Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov (Carta à
Schliapnikov)(Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, p.
389. E, ainda, no mesmo sentido : “Precisamente a fim de que não rompamos com
Radek & Co. (e, por meio deles, também com outros, se se tornar
necessário), é necessário impedir-se o “jogo” e as intrigas em nossa revista.
... Com um tal comportamento, Radek e Co. podem-se esforçar e não serão
absolutamente capazes de meter-nos em discórdia com os militantes de esquerda de
Zimmerwald (tal como Radek, em Kienthal, não conseguiu – apesar de seus
esforços – provocar discórdia nem com Platten nem com os da Esquerda Alemã).” Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov
(Carta à Schliapnikov)(17 de Junho de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, pp. 391 e
392. Mais especificamente quanto ao baixo caráter de Radek, Lenin observou, no
quadro desse período histórico : “O número da “Gazeta Robotnicza”, de fevereiro
de 1916, é um exemplo clássico de um tal “jogo” lacaio-infâme, à la Tyska,
Radek segue suas pegadas). Quem perdoa tais coisas na política,
considero um palhaço ou um canalha. Não a perdorei jamais. Por tal coisa, dá-se
uma na cara ou se distancia. Naturalmente, agi dessa última forma.” Cf. IDEM.
Brief an Inès Armand (Carta à Inès Armand)(30 de Novembro de 1916), in :
ibidem, Vol. XXXV, p. 229.
[47]
Cf. IDEM. Brief an K. Radek (Carta à K. Radek) (Agosto de 1915), in : ibidem,
Vol. XXXV, p. 179.
[48]
Cf. IDEM. Das
revolutionäre Proletariat und das Selbstbestimmungsrecht der Nationen (O
Proletariado Revolucionário e o Direito de Auto-Determinação das Nações) (16 de
Outubro de 1915), in : ibidem, Vol. XXI, pp. 412 e s.
[49] Cf. IDEM. Brief an A. M. Kollontai
(Carta à A. M. Kollontai)(Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, p. 387.
[50] Cf. IDEM. Die Ergebnisse der
Diskussion über die Selbstbestimmung(Os Resultados da Discussão sobre a
Auto-Determinação)(Julho de 1916), in : ibidem, Vol. XXII, pp.
retro-mencionadas.
[51] Cf. IDEM. Brief an A. G. Schliapnikov
(Carta à A. G. Schliapnikov)(Maio de 1916), in : ibidem, Vol. XXXVI, pp. 383 e
384.
[52] Cf. IDEM. Brief an A. G.
Schliapnikov (Carta à A. G. Schliapnikov)(Junho de 1916), in : ibidem, Vol.
XXXV, p. 198.
[53] Cf. IDEM. Brief an N. D. Kiknadze
(Carta à N. D. Kiknadze)(25 de novembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p.
219.
[54] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand
(Carta à Inès Armand)(30 de Novembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 232.
[55] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand
(Carta à Inès Armand)(18 de Dezembro de 1916), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 238.
[56] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand
(Carta à Inès Armand)(19 de Janeiro de 1917), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 250.
[57] Cf. IDEM. Brief an Inès Armand
(Carta à Inès Armand)(30 de Janeiro de 1917), in : ibidem, Vol. XXXV, p. 257.
[58] Cf. IDEM. Verachtenswerte Methoden
(Métodos Infâmes)(29 de Maio de 1917), in : ibidem, Vol. XXIV, p. 421.
[59] Acerca do tema, vide IDEM.
Äußerungen Lenins in der Sitzung des ZK der SDAPR(B). Protokollarische
Niederschrift (Posicionamentos de Lenin na Reuniao do CC do POSDR(B).
Assentamento Protocolar) (24 de Fevereiro de 1918), in : ibidem, Vol. XXVII, p.
38.
[60] Cf. IDEM. Eine erste Lehre und eine
ernste Verantwortung (Uma Séria Lição e uma Séria Responsabilidade) (5 de Março
de 1918), in : ibidem, pp. retro-mencionadas.
[61] Cf. IDEM. Der „linke Radikalismus“,
die Kinderkrankheit im Kommunismus (O „Radicalismo de Esquerda“ : Enfermidade
Infantil no Comunismo)(Abril-Maio de 1920), in : ibidem, Vol. XXXI, pp. 20, 21
e 22.
[62] Cf. IDEM. Schlußwort zum Bericht des
ZK(Palavras de Fechamento acerca do Relatório do CC)(30 de Março de 1920), in :
ibidem, Vol. XXX, p. 462.
[63]
Importa destacar que o Tratado de Rapallo, celebrado em 16 de abril de 1922,
entre a Russia Soviética e a Alemanha, visto desde uma perspectiva
eminentemente jurídico-contratual, logrou normalizar as relações diplomáticas
entre esses ambos países e estabeleceu sua renúncia recíproca ao pagamento de
reparações financeiras emergentes do fim da I Guerra Mundial Imperialista.
Mediante esse instrumento jurídico, ambas as partes renunciaram a ressarcir os
prejuízos civis e militares que reciprocamente provocaram, sendo que a Alemanha
abriu mão, além disso, de sua pretensão relativa ao seu antigo patrimônio
nacionalizado pela Revolução de Outubro de 1917. Esse tratado surgiu como pano
de fundo em relação à Conferência Econômica de Genua, ocorrida entre 10 de
abril e 19 de maio de 1922, entre a Inglaterra e a França, contando com a
participação enquanto convidadas da Alemanha e da Rússia Soviética. Nessa
conferência, os países da Entente pressionaram abertamente o governo de Lenin a
realizar o pagamento da divida externa czarista, contraída no período anterior
à eclosão da conflagração bélica mundial.
[64] A respeito desses dados empíricos,
vide, sobretudo, WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht.
Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa Luxemburgo a Walter Ulbricht.
Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und Zeitgeschehen, 1961,
pp. 7 e s.
[65]
Acerca do tema, vide tb. MÖLLER,
DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl
Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag
Wissenschaft und Politik, 1976, p. 18 e s.
[66]
Nesse sentido, vide p.ex. DETLEF, JOSEPH. Rechtsstaat und Klassenjustiz. Texte aus der
sozialdemokratischen “Neue Zeit” 1883-1914(Estado de Direito e Justiça de
Classe. Textos do “Neue Zeit(Novo Tempo) Social-Democrático), Freiburg-Berlim :
Rudolf Haufe, 1996, p. 402.
[67] Nesse sentido, vide sobretudo MARK,
KARL. Kritik des Gothaer Programms(Crítica ao Programa de Gotha) (Abril e
Início de Maio de 1875), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels),
Vol. XIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 13 e s.
[68]
Recentemente, em 20 de maio de 2000, o Chanceler Federal da Alemanha, Gerhard
Schröder, Presidente da Social-Democracia Alemã, exaltou, efusivamente, os
méritos do Programa de Gotha, no quadro
das Festividades dos 125 Anos do “Congresso da Unificação” dos Lassalleanos e
Eisenachianos, ocorridas na cidade de Gotha, não deixando, porém, de assinalar,
com sagacidade burguesa-imperialista : “Mais uma vez em sua longa história, a
Social-Democracia Alemã situa-se diante da tarefa de votar sua questão
programática, o que é denominado de “realidade social”. ... Em 22 de maio de
1875, começou aqui em Gotha, em Tivoli, o “Congresso da Unificação da
Social-Democracia da Alemanha”. Nele, fundiram-se o Partido dos Trabalhadores
Social-Democrático (SDAP), fundado por August Bebel e Wilhelm Liebknecht, os
assim-chamados “eisenachianos”, e a “Associação Geral dos Trabalhadores
Alemães”, criada por Ferdinand Lassalle. Na história da teoria da esquerda
alemã, essa data encontra-se, sobretudo, em mente em virtude da crítica mordaz
de Karl Marx ao “Programa de Gotha” aqui firmado. Além disso, por causa de uma parte corrupta
da literatura – totalmente independente daquilo tudo que foi produzido em nome
da doutrina marxista, nesse século - que ainda hoje vale a leitura. Retornarei
mais tarde a isso, porque no que concerne ao teor do programa absolutamente
nada surgia, em primeira linha, em diferenciação da programática
social-democrática. O significado
histórico do Congresso de Unificação de Gotha reside no poderoso passo rumo à
unificação e unidade do movimento social-democrático dos trabalhadores. Apenas
através dessa unificação a Social-Democracia, cujas raízes remontam até o
ante-março e os anos da Revolução de 1848/49, tornou-se um partido relevante
para toda a Nação. ... A sociedade civil burguesa que queremos criar é uma
sociedade da liberdade e da auto-determinação, da solidariedade e da justiça.
Uma sociedade que não seja dominada por uma classe, senão que conceda aos
cidadãos soberanos sua independência e responsabilidade própria. Nisso –
dizemo-lo com a mesma responsabilidade histórica – não permitimos que ninguém
fique de lado. A Social-Democracia permanece sendo o poder de defesa dos
fracos. Porém, ela permanece sendo a única força política em nosso país que é
favorável a renovação de parte de sua tradição. Uma densa renovação tornou-se,
em nossa sociedade, apenas sempre possível quando a Social-Democracia logrou
impor o princípio da participação : participação no bem-estar, porém também nas
decisões políticas da sociedade. E precisamente esse princípio abrir-nos-á o
caminho para o futuro. Por isso, somos um partido forte que é consciente de seu
passado e permanece vinculado às suas tarefas do futuro.” Cf. SCHRÖDER, GERHARD. Rede des
SPD-Parteivorsitzenden, Bundeskanzler Gerhard Schröder, anlässlich der
Festveranstaltung 125 Jahre
"Vereinigungs-Congress" der
Lassalleaner und der Eisenacher (Discurso do Presidente do Partido
Social-Democrático da Alemanha, Chanceler Federal Gerhard Schröder, por ocasiao
do Ato de Festejo de 125 Anos do “Congresso da Unificação” dos Lassaleanos e
dos Eisenachianos), in : http://www.spd.de/events/congress/schroeder.htmlGotha,
20 de maio de 2000.
[69] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an
August Bebel (Carta à August Bebel) (18 – 28 de março de 1875), in : Marx und
Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961,
p. 6.
[70] Cf. MARX, KARL. Brief an Ferdinand
Domela Nieuwenhuis (Carta à Ferdinand Domela Nieuwenhuis)(22 de Fevereiro de
1881), in : ibidem, Vol. XXXV, pp. 160 e 161.
[71] Cf. KAUTSKY, KARL. Das Erfurter
Programm(O Programa de Erfurt)(1892), Berlim : Dietz Verlag, 1919, p. 102.
[72] Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Protokoll
des Erfurter Parteitages (Protocolo do Congresso de Erfurt), Berlim, 1891, p.
206.
[73] Nesse sentido, vide IDEM.
Zukunftstaatlisches (Coisas do Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898,
pp. 218 e 219.
[74] Cf. BEBEL, AUGUST. in : Protokoll
des Erfurter Parteitages (Protocolo do Congresso de Erfurt), Berlim : Dietz
Verlag, 1891, p. 172.
[75] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Paul
Lafargue(Carta a Paul Lafargue)(3 de Abril de 1895), in : Marx und Engels Werke
(Obras de Marx e Engels), Vol. XXXIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, p. 458.
[76] Acerca do tema, vide MARX UND ENGELS
WERKE(Obras de Marx e Engels), Vol. XXXIX, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 605
e 606.
[77] Cf. LUXEMBURG, ROSA. Dem Andenken
des „Proletariat“ (Em Lembrança do „Proletariado“)(1903), in : Rosa Luxemburg
Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 317.
[78]
Continua sempre sendo muito importante estudar e desvendar-se, detidamente, o
lassalleismo pacifista de Eduard Bernstein. No presente trabalho, limito-me a
salientar que Bernstein surge, na história do movimento proletário
internacional, como o principal editor e defensor da doutrina de matiz
idealista-oportunista e reformista-colaboracionista de Ferdinand Lassalle. Nesse sentido, vide as introduções,
elaboradas por Bernstein, aos volumes de LASSALLE, FERDINAND. Gesammelte Reden
und Schriften. Herausgegeben und Eingeleitet von Eduard Bernstein(Discursos e
Escritos Reunidos. Editados e Prefaciados por Eduard Bernstein), Berlim : Paul
Cassirer, 1919, Vol. I e s. Em seu prefácio Vol. II das obras em tela,
Bernstein assinala acerca do discurso de Lassalle, intitulado Sobre o Sistema
Constitucional, de 1862 : “Na realidade, pode-se dizer que, no que concerne à
aplicação da concepção materialista da história às questões do desenvolvimento
político dos povos, não existe nenhum escrito que demonstre aquela relação de
dependência em ilustração mais clara do que esse discurso. Ele
encontra seu eqüivalente apenas nos capítulos “A Teoria do Poder” de Friedrich
Engels, contida no Anti-Dühring.” Cf. BERNSTEIN, EDUARD. Vorbermekung(Nota Preliminar), in :
Ferdinand Lassalle, ibidem, Vol. II : Discursos Constitucionais. O Programa dos
Trabalhadores e os Subseqüentes Discursos de Defesa, Berlim : Paul Cassirer,
1919, p. 12. No que concerne à obra-prima econômica de Ferdinand Lassalle,
denominada O Sr. Bastiat-Schulze von Delitzsch, dedicada por Lassalle
expressamente Dem Deutschen Arbeiterstande und der Deutschen Bourgeoisie, i.e.
ao “Estamento dos Trabalhadores Alemães e à Burguesia Alemã”, Eduard Bernstein
anota o seguinte : “Em “Bastiat-Schulze” temos diante de nós o principal
trabalho sócio-econômico de Lassalle. O “Sistema dos Direitos Adquiridos”
foi, em seu último objetivo, a tentativa de uma fundamentação
jurídico-científica das idéias socialistas. Lassalle pretendeu, então,
ingressar na fundamentação econômica do socialismo, para o que realizou estudos
antecipatórios, por todos os lados, no curso dos anos, quando, de início, o
conflito constitucional-prussiano lançaram-no no movimento político e, a
seguir, no movimento ascendente dos trabalhadores, bem como na agitação prática
socialista.” Cf. IDEM.
Vorbermekung(Nota Preliminar), in : Ferdinand Lassalle, ibidem, Vol. V
: Principal Obra Econômica de Lassalle, Berlim : Paul Cassirer, 1919, p.
9.
[79] Cf. WEBER, HERMANN. Von Rosa
Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus (De Rosa
Luxemburgo a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover :
Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp. retro-mencionadas.
[80] Nesse sentido, vide RADEK, KARL.
Unterm eigenen Banner(Debaixo de Bandeiras Próprias)(Fevereiro-Março de 1918),
in : Karl Radek. In den Reihein der deutschen Revolution 1909-1919. Gesammelte
Aufsätze und Abhandlungen (Karl Radek. Nas Fileiras da Revolução Alemã de 1909
a 1919. Ensaios e Dissertações Escolhidas), München : Kurt Wolff, 1921, pp. 406
e s.
[81] Cf. IDEM. Die russische Revolution,
die deutsche Revolution und die Weltlage. Begrüßungsrede auf dem
Gründungsparteitag der KPD(A Revolução Russa, a Revolução Alemã e a Situação
Mundial. Discurso de Saudação no Congresso de Fundação do PCA(KPD))(30 de
Dezembro de 1918), Berlim : Druck Chemnitz, 1919, pp. retro-mencionadas.
[82] Cf. IDEM. ibidem, p. 32.
[83] Cf. IDEM. Brief an das
Zentralkomitee der KPD (Carta ao Comitê do PCA(KPD))(9 de Janeiro de 1919), in
: Illustrierte Geschichte der Deutschen Revolution (História Ilustrada da
Revolução Alemã), Berlim, 1929, p. 282.
[84] É imprescindível, porém, resgatar e defender, devidamente, a
tradição essencialmente marxista-revolucionária de Karl Liebknecht e Rosa
Luxemburg, comprometida, antes e acima de tudo, com a perspectiva de
organização da revolução violenta do proletariado para a edificação de sua
Ditadura Revolucionária. Esse posicionamento foi, precisamente, reconhecido e
postulado por Lenin no contexto de seu Discurso de Abertura do I Congresso do
Komintern, quando se referiu a Liebknecht e Luxemburg, enquanto os melhores representantes
da Internacional Comunista. Vide LENIN, VLADIMIR I. Rede bei der Eröffnung des Kongresses
2. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Discurso na Abertura do Congresso
de 2 de Março. I Congresso da Internacional Comunista), in : W. I. Lenin Werke,
Vol. XXVIII (De Julho de 1918 à Março de 1919), Berlim, 1959, p. 469. Destaque-se,
entretanto, à guisa de exemplo, entre os diversos e renomados textos de Rosa
Luxemburg, aquele intitulado E Pela Terceira Vez o Experimento Belga, vindo à
luz já em 4 de junho de 1902, quando essa autora teve a oportunidade de
escrever, de modo incorrumptivelmente claro, contra os legalistas belgas, i.e.
Émile Vandervelde e outros : „Entretanto, não por predileção às ações violentas
ou ao romantismo revolucionário devem os partidos socialistas, mais cedo ou
mais tarde, estar preparados também para embates violentos com a sociedade
burguesa, em casos em que nossas aspirações se direcionem contra os interesses
vitais das classes dominantes, senão em razão também da amarga necessidade
histórica. O parlamentarismo enquanto meio de luta político da classe
trabalhadora, individualizador do espírito, é tão fantástico e, em primeira
linha, reacionário, como o é a greve geral, individualizadora do espírito, ou a
barricada, individualizadora do espírito. Evidentemente, a revolução violenta
é, nas condições atuais, um meio de dupla-face, aplicável de modo extremamente
difícil. E podemos esperar que o proletariado apenas fará uso desse meio quando
se apresentar o único caminho adequado para sua implementação e, evidentemente,
apenas em condições em que a situação política de conjunto e a relação de
forças assegurem, mais ou menos, a probabilidade de êxito. Porém, a concepção
clara da necessidade da aplicação da violência, seja nos episódios individuais
da luta de classes seja para a conquista definitiva do poder de Estado é nisso,
de antemão, imprescindível. Ela representa aquilo que consegue conferir também
à nossa atividade legal, pacífica, a apropriada ênfase e efetividade.“ Cf. LUXEMBURG, ROSA. Und Zum Dritten Male das Belgische Experiment
(E Pela Terceira Vez o Experimento Belga)(4 de Junho de 1902) , in : Rosa
Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 247.
[85] Cf. RADEK, KARL. Die Entwicklung der
deutschen Revolution und die Aufgaben der Kommunistischen Partei (O
Desenvolvimento da Revolução Alemã e as Tarefas do Partido Comunista), Berlim :
Rote Fahne, 1919, pp. 32 e s.
[86] Cf. PAQUET, ALFONS. Der Geist der
russischen Revolution(O Espírito da Revolução Russa), Leipzig : Nyland, 1919,
pp. VII e s.
[87]
Nesse sentido, desde a perspectiva da minoria zinovievista do Partido Comunista
da Alemanha(KPD), Ruth Fischer assinala : “O Comitê Central do Partido
Comunista da Alemanha novamente formado não estava oficialmente informado acerca
desses contatos entre Radek e o General Staff, porém dois ou três de suas
pessoas íntimas, tal como Paul Levi e August Thalheimer, sabiam,
inquestionavelmente, sobre eles. Muitas figuras políticas da República de
Weimar ficavam contentes de ter a oportunidade de ver Radek e com ele discutir
acerca de política alemã. Ele desempenhava seu duplo papel habilmente – ele
era, de um lado, o representante do Politburo Russo, e, de outro, fez-se como o
enviado do Estado Russo em uma missão militar e diplomática semi-oficial junto
ao Governo Alemão.” Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in
the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp.
207 e 208.
[88]
Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva :
Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 152.
[89] Cf. RADEK, KARL. Zur Taktik des
Kommunismus : Ein Schreiben an den Oktoberparteitag der KPD(Acerca da Tática do
Comunismo : Uma Carta ao Congresso de Outubro do PCA(KPD)), Berlim : Editora do
KPD-Spartakusbund, 1919, p. 5.
[90] Cf. IDEM. Die Entwicklung der
deutschen Revolution und die Aufgaben der Kommunistischen Partei (O Desenvolvimento
da Revolução Alemã e as Tarefas do Partido Comunista), Berlim : Rote Fahne,
1919, pp. 36 e s.
[91] Cf. IDEM. Der Weg der
Kommunistischen Internationale. Rede auf dem III. Weltkongress der
Kommunistischen Internationale(O Caminho da Intenacional Comunista. Discurso no
III Congresso Mundial da Internacional Comunista), in : Bibliothek der
Kommunistischen Internationale, Hamburg : Carl Hoym, 1921, p.34.
[92] Cf. ZETKIN, CLARA. Erinnerungen an
Lenin (Recordações de Lenin), Berlim : Dietz, 1957, p. 22 e s.
[93] Cf. RADEK, KARL. Schlußwort zum
Referat (Fechamento do Informe), in : Protokoll des Dritten Kongresses der
Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional
Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, p.
663.
[94] Nesse sentido, vide, sobretudo,
IDEM. Die Masken sind gefallen. Eine Antwort an Crispien, Dittmann und
Hilferding(Caíram-se as Máscaras. Uma Resposta a Crispien, Dittmann e
Hilferding), Berlim : Verlag der Komintern, 1920, pp. 1 e s.
[95] Cf. WEBER, HERMANN. Die Wandlungen
des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der Weimarer
Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A
Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar), Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926,
p. 24.
[96] Cf. RADEK, KARL. Soll die Vereinigte
Kommunistische Partei Deutschlands eine Massenpartei der revolutionären Aktion
oder eine zentristische Partei des Wartens sein ?(Deve o Partido Comunista
Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação Revolucionária ou
Partido Centrista do Ficar Esperando ?), especialmente Kapitel III : Der Kampf
um die rechtsstehenden Arbeitermassen(Capítulo III : A Luta pelas Massas
Trabalhadoras Situadas à Direita), Hamburg : Carl Hoym, 1921, pp. 21 e 22.
[97] Cf. IDEM. ibidem, p. 23.
[98] Cf. IDEM. ibidem, pp.
retro-mencionadas.
[99] Cf. IDEM. ibidem, pp. 33 e 34.
[100] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI. Bericht der
Exekutive(Relatório do Executivo), in :
Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen
Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional
Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 9 e
10.
[101]
Cf. IDEM. ibidem, p. 12.
[102]
Acerca do tema, vide RADEK, KARL. Brief an Heinrich Brandler, August Thalheimer, Paul Fröhlich
und andere Mitglieder der KPD-Zentrale(Carta à Heinrich Brandler, August
Thalheimer, Paul Fröhlich e a outros membros do Comitê Central do PCA(KPD))(14
de março de 1921), in : Unser Weg. Zeitschrift für kommunistiche Politik, hrsg.
Paul Levi, Ano III, Caderno 8-9, Agosto de 1921, pp. 248 e s.
[103]
Anote-se que a Teoria da Ofensiva, protagonizadas sobretudo por Bukharin e
Zinoviev, partia da premissa de que tendo a Guerra Imperialista de 1914 a 1918,
bem como a eclosão da Revolução de Outubro, aberto insofreavelmente a época das
revoluções proletárias, a tática única e invariávelmente correta a ser adotada
pelo Komintern haveria de ser a do Ataque Revolucionário Tempestuoso para a
derrubada da burguesia. Os teóricos da Ofensiva recusavam qualquer possibilidade
de, no quadro da época da agonia mortal do capitalismo imperialista, ser
possível resurgirem, esporádica e efemeramente, situações de recuperação das
economias e das instituições burguesas, em cujo contexto a tática dos ataques
tempestuosos revolucionários houvesse de ser devidamente substituída por uma
outra mais adequada a responder às condições objetivas materiais e políticas de
dado momento histórico. Acerca
do tema, vide, mais detalhadamente, TROTSKY, LÉON. Fortsetzung der Diskussion
zum Referat Radek(Continuação da Discussão acerca do Informe de Radek), in :
Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen Internationale (Protocolo
dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de
1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, respectivamente pp. 637 e s.; PYATNITSKY, OSSIP A. Der Bolschewismus und
der Aufstand(O Bolchevismo e o Levante)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete
Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa
de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. 28.
[104]
Acerca do tema, vide, p. ex., FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A
Study in the Origins of the State Party, especialmente Chapter 1.7 : The March
Action, Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 174 e s.; tb. BROUÉ,
PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, especialmente Chapitre XXV :
L’Action de Mars, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 474 e s.
[105]
Acerca do tema, Fischer assinala : “Os novos grupos M e T estavam encarregados
de provocar os Freikorps, a fim de colocar em movimento os sindicatos. Diversas
bombas explodiram em Breslau e Halle. Diversas outros bombardeamentos,
planejados para Berlim, não ocorreram. ... A greve foi completa apenas em
Mansfeld e partes da Turíngea e da Saxônia. Por poucos dias, Mansfeld pareceu o
Ruhr durante o Golpe de Kapp. Max Hoelz abandonou Vogtland e juntou-se às
guerrilhas de Mansfeld, organizando as Guardas Hoelz. As forças dispersas dos
trabalhadores não puderam se fundir em uma unidade, principalmente porque os
trabalhadores de Leuna, armados e aptos a organizar uma divisão completa,
trancaram-se no interior de sua fábrica e esperaram a ofensiva do Exército
Imperial. Havia greves parciais no Ruhr e em Berlim. Independentemente da ação
de Mansfeld, existiam greves locais e distúrbios por todos os lados da Alemanha
alarmada. Contudo, o levante de Mansfeld foi por demais localizado para
cristalizar essas diversas atividades em uma greve geral em todo o país.
Comparada com o Golpe de Kapp, a Ação de Março converteu-se em um menor
episódio.” Cf. FISCHER, RUTH. ibidem, p. 175
[106] Nesse sentido, vide, sobretudo,
PYATNITSKY, OSSIP A. Der Bolschewismus und der Aufstand(O Bolchevismo e o
Levante)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer
theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação
Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. 29.
[107] Cf. FISCHER, RUTH. ibidem, pp.
retro-mencionadas.
[108] Cf. RADEK, KARL. Brief an die
Zentrale der KPD(Carta ao Comitê Central do PCA(KPD))(7 de abril de 1921), in :
Unser Weg. Zeitschrift für kommunistiche Politik, hrsg. Paul Levi, Ano III,
Caderno 8-9, Agosto de 1921, pp. 255 e s.
[109] Cf. IDEM. Referat zur Taktik der
Kommunistischen Internationale auf dem Dritten Kongreß der Kommunistischen
Internationale (Informe acerca da Tática da Internacional Comunista no III
Congresso da Internacional Comunista) , in : Protokoll des Dritten Kongresses
der Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional
Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, respectivamente pp. 434 e s. e 771 e s.
[110] Cf. TROTSKY, LÉON. Fortsetzung der
Diskussion zum Referat Radek(Continuação da Discussão acerca do Informe de
Radek), in : Protokoll des Dritten Kongresses der Kommunistischen
Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional Comunista)(De 22
de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, pp.
retro-indicadas.
[111] Cf. RADEK, KARL. Schlußwort zum
Referat (Fechamento do Informe), in : Protokoll des Dritten Kongresses der
Kommunistischen Internationale (Protocolo dos III Congresso da Internacional
Comunista)(De 22 de Junho a 12 de Julho de 1921), Hamburg : Carl Hoym, 1921, pp. retro-mencionadas.
[112] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Rede zur
internationalen Frage. III Kongreß der Kommunistischen Internationale(Discurso
acerca da Questão Internacional. III Congresso da Internacional Comunista)(De
22 de Junho a 12 de Julho de 1921), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXXII, p. 495.
[113] Cf. IDEM. Brief an die deutschen
Kommunisten (Carta aos Comunistas Alemães) (14 de Agosto de 1921), in: ibidem,
Vol. XXXII, pp. retro-mencionadas.
[114] Cf. IDEM. ibidem, pp.
retro-mencionadas.
[115]
Nesse sentido, Lenin assinalou, com grande visão estratégico-revolucionária :
“Aqui, devo esclarecer aos companheiros alemães o porquê de ter eu, tão
longamente, defendido Paul Levi, no III Congresso. Em primeiro lugar, porque
conheci Levi através de Radek, na Suíça, em 1915 ou 1916. Levi já era, então,
um bolchevique, sendo que eu não posso resistir a uma certa desconfiaça em face
dos que apenas depois da vitória do bolchevismo na Rússia e de uma série de
vitórias na arena internacional dele se aproximaram. Porém, evidentemente, essa
razão é, relativamente, irrelevante, pois ainda assim conheço Paul Levi
pessoalmente muito pouco. ...
Incomparavelmente mais importante, foi o segundo fato de que Levi tem em
muito razão, na essência das coisas, em sua crítica à Ação de Março de 1921, na
Alemanha (naturalmente não no sentido de que a Ação de Março teria sido um
Putsch : essa afirmação de Paul Levi é um absurdo)(p. 541). .... Levi quebrou a
disciplina do partido. Através de uma série de erros incrivelmente estúpidos
Levi dificultou a concentração da atenção sobre a essência das coisas. Porém, a
essência das coisas, i.e. a apreciação e correção dos inúmeros erros cometidos
pelo Partido Comunista Unificado da Alemanha, durante a Ação de Março, de 1921,
era e é de importância extraordinária. Para clarificar e corrigir esses erros (que
por muitos são louvados como pérola da tática marxista), era necessário
posicionar-se na ala direita do III Congresso do Komintern(p. 542).” Cf. IDEM,
ibidem, pp. retro-indicadas.
[116]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, especialmente Chapter 1.7 : The March Action, Cambridge: Harvard
University Press, 1948, p. 176.
[117]
Cf. IDEM, ibidem, p. 177. Anote-se que, a partir do III Congresso Mundial do
Komintern, Paul Levi, aprofundando seu curso de rejeição ao putschismo da Ação
de Março de 1921, passou a defender abertamente posições de oposição ao
marxismo revolucionário de Lenin e Trotsky, acentuando a diferença entre a
“Rússia Asiática” e o “Ocidente Europeu”. Quando em janeiro de 1922, 28 altos
profissionais do PCA(KPD) foram expulsos por decisão do Comitê Central por
repassarem internamente o jornal de Levi, denominado Unser Weg(Nosso Caminho),
Levi, atraindo-os para suas fileiras, efetuou, pela primeira vez, a publicação
da renomadíssima obra de Rosa Luxemburg, intitulada Acerca da Revolução Russa,
tornando-a a pedra de toque de sua propaganda contra os bolqueviques.Ainda no
mesmo ano de 1922, Levi e seus seguidores ingressaram no Partido
Social-Democrático Independente da Alemanha(USPD), então dirigido por Rudolf
Hilferding, o qual, por sua vez, regressou, em setembro de 1922, para o Partido
Social-Democrático da Alemanha(SPD). Com base nesse curso, Paul Levi foi
eleito, a seguir, mais uma vez, Deputado da Social-Democracia Alemã, por
Chemnitz, coordenando, a partir de seu posto, de maneira bastante lassa e
fluída, a ala esquerda social-democrática. Levi suicidou-se em 9 de fevereiro
de 1930, atirando-se de uma janela, durante um ataque de febre. Acerca do tema,
vide BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, especialmente Chapitre
XXV : L’Action de Mars, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 916. ;
BERLINER ZEITUNG(Jornal de Berlim), Hellersdorf. Platz Erinnert an Paul Levi. Namensgebung am 17.
August(Hellersdorf. Praça Relembra Paul Levi. Atribuição de
Nome em 17 de Agosto), 11 de Agosto de 1980, Seção Local.
[118] Cf. RADEK, KARL. Brief an den
Parteitag der KPD in Jena (Carta ao Congresso do PCA(KPD) em Jena)(Agosto de
1921), in : Bericht über die Verhandlungen des VII (II) Parteitages der
Kommunistischen Partei Deutschlands (Sektion der Kommunistischen
Internationale)(Relatório sobre as Tratativas do VII (II) Congresso do Partido
Comunista do Partido Alemão (Seção da Internacional Comunista), Berlim, 1922,
respectivamente pp. 174 e 183 e ss.
[119] Cf. RADEK, KARL. Die Aufgaben des Zentralausschusses der
Partei (As Tarefas da Secretaria do Comitê Central do Partido), in : Die Rote
Fahne(A Bandeira Vermelha), 16 de Novembro 1921, pp. 1 e s.
[120] Cf. DIE KOMMUNISTISCHE INTERNATIONALE.
3. UND 4. WELTKONGRESSE 1921/1922. (A INTERNACIONAL COMUNISTA III E IV
CONGRESSOS MUNDIAIS DE 1921/1922), Vol. 2, Parte IV : Thesen und Resolutionen
(Teses e Resoluções), Dortmund : Vollständige Ausgabe, 1978, p. XIV.
[121] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Brief an die
deutschen Kommunisten (Carta aos Comunistas Alemães) (14 de Agosto de 1921), in
: W. I. Lenin Werke, Vol. XXXII, p. 547.
[122] Cf. DIE KOMMUNISTISCHE
INTERNATIONALE. 3. UND 4. WELTKONGRESSE 1921/1922. (A INTERNACIONAL COMUNISTA
III E IV CONGRESSOS MUNDIAIS DE 1921/1922), Vol. 2, Parte IV : Thesen und
Resolutionen (Teses e Resoluções), Dortmund : Vollständige Ausgabe, 1978, p.
18.
[123]
Acerca do tema, vide SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die
Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até
1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“),
Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 41 e s.; tb. BROUÉ, PIERRE. Kurzer Abriß der
Geschichte der Kommunistischen Internationale(Curto Esboço sobre a História da
Internacional Comunista), in : Die Kommunistische Internationale, Bd. I,
Köln : 1984, pp. XIV e s.
[124]
Acerca do tema, vide, p.ex., THE SECOND AND THIRD INTERNATIONAL AND THE VIENNA
UNION. Official Report of the Conference between the Executives Held at the
Reichstag, Berlin, on the 2nd April 1922 and the Following Days, London, 1922,
pp. 5 e s.
[125] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Wir Haben zu
Teuer Bezahlt (Pagamos Caro Demais) (9 de Abril de 1922), in : W. I. Lenin
Werke, Vol. XXXIII, p. 318.
[126] Cf. IDEM. ibidem, p. 319.
[127] Cf. RADEK, KARL. Brief an die
Zentrale der KPD(Carta ao Comitê Central do PCA(KPD))(6 de Dezembro de 1922),
in .Unser Weg. Zeitschrift für kommunistiche Politik, hrsg. Paul Levi, Ano IV,
Caderno 1-2, Janeiro de 1922, pp. 46 e s.
[128] Acerca dos posicionamentos
defendidos por Brandler nesse contexto histórico, vide BRANDLER, HEINRICH. Die
Aktion gegen den Kapp-Putsch in Westsachsen(A Ação contra o Putsch-Kapp na
Saxônia Ocidental), Berlim, 1920, pp. 17 e s.
[129]
Nesse sentido, sob o ângulo da minoria zinovievista do Partido Comunista da
Alemanha(KPD), Ruth Fischer observa : “Um comunista sem anos de treinamento no
Partido Social-Democrático antes de 1914 era sem valor, aos olhos de Brandler,
não devendo ser confiado. A tendência destrutiva da jovem geração do
após-guerra era, para ele, um fenômeno incompreensível e inquietante. Brandler
tinha um orgulho imenso da classe trabalhadora alemã tal como a havia conhecido
e possuía auto-respeito enquanto um de seus líderes. O poder da nova Rússia o
impressionava, porém ele estava convencido de que os russos eram inaptos para
entender seja o trabalhador alemão seja os fatores peculiares da política
alemã. A revolução alemã impediria certas características da revolução russa.
Ela não seria violenta, sem terror, destruição e caos, os quais eram devidos ao
atraso do trabalho na Rússia. A economia socialista alemã funcionaria,
imediatamente, de modo suave, seria altamente produtiva. A nova massa de
ativistas, blanquistas, bakuninistas, putschistas, nada faziam senão destruir o
trabalho lentamente permanente dos organizadores do partido e havia de ser
eliminado, a todo custo, do movimento.” Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German
Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge: Harvard
University Press, 1948, pp. 215 e 216.
[130] Acerca do tema, vide BRANDLER,
HEINRICH. Der Hochverratsprozeß gegen Heinrich Brandler vor dem
außerordentlichen Gericht am 6. Juli 1921 in Berlin, Berlim, 1921, pp. 7 e s.
[131] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der
Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten
Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do
Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923),
Hamburg : Carl Hoym, 1923, p. 17.
[132] Cf. WEBER, HERMANN. Die Wandlungen
des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung der KPD in der Weimarer
Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A
Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar), Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926,
p. 25.
[133]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 222.
[134] A esse respeito, vide RADEK, KARL.
Soll die Vereinigte Kommunistische Partei Deutschlands eine Massenpartei der
revolutionären Aktion oder eine zentristische Partei des Wartens sein ?(Deve o
Partido Comunista Unificado da Alemanha ser um Partido de Massas da Ação
Revolucionária ou Partido Centrista do Ficar Esperando ?), especialmente
Kapitel I : Der Vereinigunsparteitag(Capítulo I : O Congresso da Unificação) e
Kapitel VII : Die Lage in der VKPD(Capítulo VII : A Situação no PCA
Unificado(VKPD)), Hamburg : Carl Hoym, 1921, respectivamente pp. 5 s. e 76 e s.
[135]
Acerca do tema, vide a mais nova obra de SCHWARZ, JOSEF. Die linkssozialistische Regierung
Frölich in Thüringen 1923. Hoffnung und Scheitern (O Governo Socialista de
Esquerda de Frölich na Turíngea de 1923. Esperança e Fracasso), Schkeuditz : GNN Verlag, 2000, pp. 12 e s.
[136] Cf. FISCHER, RUTH. Stalin
and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge:
Harvard University Press, 1948, p. 223.
[137] Cf. IDEM. ibidem, p. 220.
[138] Cf. PROTOKOLL DES VIERTEN KONGRESSES
DER KOMMUNISTISCHEN INTERNATIONALE (Protocolo do IV Comgresso da Internacional
Comunista)(De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), especialmente : Aufrufe,
Thesen, Resolutionen. Beilage VII. Thesen über die Taktik der Komintern
(Conclamações, Teses, Resoluções. Anexo VII. Teses acerca da Tática do Komintern) Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 1.007 e
s.
[139] Cf. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in
Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha.
Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik,
1976, p. 219.
[140] Assinalo que, no texto original, do
Protocolo do IV Congresso do Komintern, Ruth Fischer, principal representante
da tendência zinovievista da minoria do Partido Comunista Alemão(KPD), em sua
luta contra a tendência radekista da maioria, encabeçada por Heinrich Brandler,
utiliza os termos “die Gefahr der Frisierung des Kommunismus ins Westliche”,
i.e. o perigo de envenenamento do comunismo no Ocidente. Em verdade, o vocábulo
Frisierung des Kommunismus é de difícil tradução, significando, porém, sempre
uma forma de manipulação. Em alemão, emprega-se, entretanto, comumente, o
vocábulo “frisieren” para referir que o motor de um carro foi manipulado. Daí,
é possível lançar-se mão em português da palavra “envenenar”, tal como quando
de diz que o motor de um carro foi envenenado.
[141] Cf. RADEK, KARL. Diskussionsbeitrag
auf dem IV Kongreß der Kommunistischen Internationale (Contribuição à Discussão
no IV Congresso da Internacional Comunista)(De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de
1922), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen Internationale
(Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista), Hamburg : Carl Hoym,
1923, p. 96 e s.
[142] Cf. IDEM. ibidem, p. 103.
[143] Cf. IDEM. Referat über die
„Offensive des Kapitals und die Taktik der Kommunistischen Internationale” auf
dem IV Kongreß der Kommunistischen Internationale (Informe sobre a „Ofensiva do
Capital e a Tática da Internacional Comunista“ no IV Congresso da Internacional
Comunista) (De 5 de Novembro a 5 de Dezembro de 1922), in : ibidem, pp. 325 e
s.
[144] Cf. IDEM. ibidem, p. 328 e 329.
[145] Cf. BERICHT ÜBER DIE VERHANDLUNGEN
DES III(VIII) PARTEITAGES DER KOMMUNISTISCHEN PARTEI DEUTSCHLANDS(Relatório
sobre as Tratativas do III(VIII) Congresso do Partido Comunista da Alemanha),
Abgehalten in Leipzig vom 28. Januar bis 1. Februar 1923, Berlim, 1923, pp.
retro-mencionadas. Extratos reproduzidos igualmente em FLECHTHEIM, OSSIP K. Die
KPD in der Weimarer Republik (O KPD na República de Weimar), Frankfurt a.M.,
1969, p. 175.; tb. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär,
Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante,
Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 237.
[146] FISCHER, RUTH. Stalin
and German Communism. A Study in the Origins of the State Party, Cambridge:
Harvard University Press, 1948, p. 225. De maneira, entretanto, manifestamente
equivocada, Fischer assinalou imediatamente a seguir, no extrato em destaque :
“Ela (i.e. a declaração política para o Congresso) tinha de ser cuidadosamente
traçada, pois a participação de comunistas como ministros em governos estaduais
conflitava com toda a teoria e a política da Internacional Comunista, tal como
desenvolvida até então. Radek tinha de evitar uma comparação com a discussão do
início do século, quando a entrada do socialista francês, Alexandre Millerand,
em um gabinete burguês, tinha sido debatida por toda a Internacional(p. 225).”
[147]
Anoto, de passagem, que a ocupação em tela foi concluída em 30 de junho de
1930, i.e. cinco anos antes ao previsto no Tratado de Versalhes. A decisão do
imperialismo francês apoiou-se, à época, no argumento de que a política de
revisão pacífica do tratado havia produzido resultados satisfatórios,
justificando a remoção antecipada das tropas. Acerca do tema, vide CHRONIK DER DEUTSCHEN(Crônica dos
Alemães), Dortmund : Chronik Verlag, 1983, p. 806.
[148]
Cf. TROTSKY, LÉON. „Demain“. Correspondance Friedländer-Trotsky. Corr. Int. Nr. 96, 13 de Dezembro de 1922,
p. 735, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les
Éditions de Minuit, 1971, p. 632.
[149] Acerca do tema, vide NEUBERG, A. Der
bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa
de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. VI e s.
[150]
Nesse sentido, Pyatnitsky admitiu, de conjunto, peremptoriamente, já mesmo em
1929, a correção da análise de Trotsky acerca do tema, tendo em conta
especialmente momentos de caráter técnico-militar : “Uma das causas das
derrotas da Revolução Alemã de 1923 reside em que o Partido Comunista Alemão
assumiu o curso de preparação direta do levante armado muito tardiamente. O
aproximar-se de uma situação diretamente revolucionária na Alemanha devia ser,
indubitavelmente, prevista – caso houvesse uma direção bolchevique de nosso
partido – já no momento da ocupação do Vale do Ruhr e do Estado da Renânia
pelas tropas francesas ou, imediatamente, após ela. Precisamente a partir desse
momento, declinou, na Alemanha, a crise econômica decisiva e a crise política
por ela provocada. Precisamente outrora, já havia começado em diversos
distritos da Alemanha (Saxônia, Halle-Merseburg etc.) a organização das
centúrias proletárias, por iniciativa dos próprios trabalhadores. Em face
disso, o CC do Partido Comunista assumiu a dinâmica de armamento dos
trabalhadores, de levante armado, apenas durante os três dias de Greve Geral do
início de agosto, que varreu o Governo Nacional-Alemão de Cuno. Permitiu-se,
então, transcorrer consideravelmente muito tempo : as centúrias proletárias
foram construídas precipitadamente, sem quadros e direção suficiente. Elas não
sabiam levantar armas suficientemente. O trabalho no Exército e na Polícia
conseguiu-se realizar apenas em medida extremamente insuficiente. Tudo isso,
juntamente com as outras causas, não
pôde deixar de influir, no outono de 1923, no resultado da crise revolucionária
enquanto um todo. Nosso Partido Comunista – mais corretamente, nossa direção –
não reconheceu oportunamente o significado da ocupação do Vale do Ruhr e do
Estado da Renânia pela França. Ele não compreendeu o significado da perda
surgida com isso para a economia alemã de 80% da produção de ferro e aço e 71%
do carvão, assim como o significado da política da “Resistência Passiva” do
Governo Alemão contra os poderes de ocupação. Em decorrência disso, não
conseguiu prever oportunamente o aproximar-se da crise econômica no país que
provocou, como sua conseqüência, a crise revolucionária.” Cf. PYATNITSKY, OSSIP A. Der
Bolschewismus und der Aufstand(O Bolchevismo e o Levante)(1928), in : A.
Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O
Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg
Wagner, 1971, p. 35.
[151] Nesse sentido, vide, precisamente,
WEBER, HERMANN. Die Wandlungen des deutschen Kommunismus. Die Stalinisierung
der KPD in der Weimarer Republik(As Modificações do Comunismo Alemão. A
Stalinização do PCA(KPD) na República de Weimar), Vol. 1, Frankfurt a.M., 1926,
p. 48.
[152] A respeito das primeiras posições de
Radek postuladas nesse sentido, vide RADEK, KARL. Deutschland und Rußland. Ein
in der Moabiter Schutzhaft geschriebener Artikel für “richtiggehende”
Bourgeois(Alemanha e Rússia. Um Artigo Redigido na Prisão de Custódia em Moabit
para Burgueses “Corretos” ), in : Die Zukunft, hrsg. Maximilian Harden, Ano
XXVII, Nr. 19, Berlim, 1920, pp. 178 e s.; IDEM. Die Deutsch-Russischen
Beziehungen(As Relações Germano-Russas)(15 de Outubro de 1921), in : Dietrich
Möller, Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl
Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag
Wissenschaft und Politik, 1976, pp. 209 e s.
[153] Cf. IDEM. Deutschland, Sowjet
Rußland und die Entente(A Alemanha, a Rússia Soviética e a Entente), in : Die
Rote Fahne, 3 de Dezembro de 1921, Editorial.
[154]
Acerca do tema, vide, ainda, IDEM. Die Entente, Sowjetrußland und Deutschland(A Entente, a
Rússia Soviética e a Alemanha), in : Pravda, 3 de Janeiro de 1922, tb. Die Rote
Fahne, 29 de Janeiro de 1922, 2° Caderno.; DEBATE ÜBER DEN BERICHT DER
EXEKUTIVE(Debate sobre o Informe do Executivo), especialmente Redner(Oradores)
Varga, Radek, Bukharin, in: Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der
Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado
da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym,
1923, pp. 44 e s.
[155]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, especialmente Chapter 2.8 : Germany, an Industrial Colony,
Cambridge: Harvard University Press, 1948, pp. 199 e 200.
[156] Cf. RADEK, KARL. Referat über die
weltpolitische Lage auf der Konferenz der Erweiterten Executive der
Kommunistischen Internationale (Informe sobre a Situação Política Mundial na
Conmferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista) ) (15 de junho
de 1923), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der
Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado
da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym,
1923, pp. 103 e s.
[157] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI. in :
Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen
Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado da Internacional
Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 8 e s.
[158] Nesse sentido, vide especificamente SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e s.
[159] Nesse sentido, vide especificamente
RADEK, KARL. Schlageter. Eine Auseinandersetzung (Schlageter. Uma Polêmica) (21
de Junho de 1923) in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der
Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado
da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym,
1923, pp. 240 e s.
[160] Cf. IDEM. ibidem, pp. 244 e 245.
Acerca do discurso de Radek dedicado a Schlageter, até mesmo Dietrich Möller,
historiador alemão de inclinação stalinista reciclada, entusiasta da obra de
Karl Radek anotou : “Albert Leo Schlageter não foi o herói que dele foi feito. Na
audiência contra ele, Schlageter confessou relativamente à questão acerca do
objetivo e motivos de seu modo de agir, entre outras coisas : « O que fiz,
fí-lo porque tive grande prejuízo em meus negócios. De uma vez, perdi cinco
milhões. Então, disse a mim mesmo : “Ah ! Abandone os negócios e procure alguma
coisa diferente para você mesmo. »” Cf. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland.
Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha. Revolucionário,
Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik, 1976, p. 245.
Acerca do mesmo tema, vide ainda RADEK, KARL. Das Abflauen der Offensive des
Kapitals und die Aufgaben der Kommunistischen Internationale. Rede in der Sitzung
der Erweiterten Exekutive der Kommunistischen Jugendinternationale (O Refluxo
da Ofensiva do Capital e as Tarefas da Internacional Comunista. Discurso na
Sessão do Executivo Ampliado da Internacional Comunista da Juventude) (13 de
Julho de 1923), in : Der Kampf der Kommunistischen Internationale gegen
Versailles und gegen die Offensive des Kapitals (A Luta da Internacional
Comunista contra Versalhes e contra a Ofensiva do Capital), Hamburg : Carl
Hoym, 1923, pp. 33 e s.
[161] Cf. ZINOVIEV, GRIGORI, Bericht der
Exekutive(Relatório do Executivo), in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten
Exekutive der Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do
Executivo Ampliado da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923),
Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e s. No mesmo sentido, tb. RADEK, KARL.
Referat über die weltpolitische Lage auf der Konferenz der Erweiterten
Executive der Kommunistischen Internationale (Informe sobre a Situação Política
Mundial na Conferência do Executivo Ampliado da Internacional Comunista)(15 de
Junho de 1923), in : ibidem, pp. 103 e s.
[162] Cf. MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in
Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat (Karl Radek na Alemanha.
Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag Wissenschaft und Politik,
1976, p. 245.
[163] Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in
Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des
Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos
Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp.
42 e 43.
[164] Cf. TROTSKY, LÉON. Stalin. Eine
Biographie(Stalin. Uma Biografia)(1931), Köln-Berlim : Intarlit, 1952, p. 469.
[165] Com efeito, visando à direção e
organização do Outubro Alemão de 23, foi encarregada enquanto representante do Komintern
na Alemanha, uma delegação comandada por Karl Radek e integrada por August
Kleine(Guralski), Alexei Skoblevski e Vassili Schmdt. Nesse senrtido, vide
MÖLLER, DIETRICH. Karl Radek in Deutschland. Revolutionär, Intrigant, Diplomat
(Karl Radek na Alemanha. Revolucionário, Intrigante, Diplomata), Köln : Verlag
Wissenschaft und Politik, 1976, p. 258. Acerca do tema, vide ainda BROUÉ,
PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit,
1971, pp. 752 e s.
[166] Cf. NEUBERG, A. Der bewaffnete
Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa
de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. VII.
[167] Cf. TROTSKY, LÉON. Piat Liet
Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio
de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, p. VII.
[168] Cf. UNSCHLICHT, JOSEF. Die
Organisierung der Kräfte des Proletariats(A Organização das Forças do
Proletariado)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen
Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt
a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 176 e 177.
[169] Cf. TROTSKY, LÉON. Piat Liet
Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio
de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, p. VII.
[170]
Acerca do tema, vide SCHMITT, CARL. Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), München-Leipzig :
Duncker & Humbolt, 1928, pp. 138 e s.; IDEM. Die Lage der Europäischen
Rechtswissenschaft(A Situação da Ciência Jurídica Européia)(1943-1944), in :
Verfassungsrechtluche Aufsätze aus den Jahren 1924-1954, Berlim : Duncker und
Humbolt, 1928, pp. 397 e s.
[171] Citado por BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 757 e 758.
[172] Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in
Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des
Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos
Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp.
42 e 43.
[173] Acerca do tema, vide, sobretudo,
KIPPENBERGER, HANS. Der Aufstand in Hamburg(O Levante em Hamburgo)(Maio de
1924), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen
Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt
a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 66 e s.
[174] Sobre o Levante de Hamburgo, vide
ainda, especialmente, as referências de WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu
Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus(De Rosa Luxemburg a
Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und
Zeitgeschehen, 1961, pp. 28 e s.; NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch
einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação
Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. III e s.; BROUÉ, PIERRE. Die
Deutsche Linke und die Russische Opposition 1926-1928(A Esquerda Alemã e a
Oposição Russa de 1926 a 1928), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 8 e s.; IDEM.
Kurzer Abriß der Geschichte der Kommunistischen Internationale(Curto Esboço
sobre a História da Internacional Comunista), in : Die Kommunistische
Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. V e s.; IDEM. Révolution en Allemagne
1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 653, 686, 777 e s., sem
qualquer referência, porém, ao papel de Wollenberg, no Levante de Bochum de 23,
e com formulações semi-visionárias acerca da formação e ascensão do nazismo na
Alemanha.; WINKLER, HEINRICH. Von der Revolution zur Stabilisierung. Arbeiter
und Arbeiterbewegung in der Weimar Republik 1918-1924, Berlim, 1984, pp. 594 e
s.; STOBNICER, MAURICE. Le Mouvement Trotskyste Allemand sous la République de
Weimar, Dissertation, Paris : 1980, pp. 7 e s.; DANNER, LOTHAR. Ordnungspolizei
Hamburg. Betrachtungen zu ihrer Geschichte 1918 bis 1933(Polícia da Ordem de
Hamburg. Considerações acerca de sua História, de 1918 a 1933), Hamburg :
Verlag Deutsche Polizei, 1958, pp 63 e s.
[175] Nesse sentido, KAUFMANN, BERND. Der
Nachrichtendienst der KPD 1919-1937(O Serviço Secreto do KPD entre 1919 e
1937), Berlim : Dietz, 1993, pp. 57 e s.
[176] Cf. CHRONIK DER DEUTSCHEN(Crônica
dos Alemães), Dortmund : Chronik Verlag, 1983, p. 805.
[177] Cf. UNSCHLICHT, JOSEF. Die Arbeit unter
den Streitkräften der Bourgeoisie(O Trabalho entre as Forças Armadas da
Burguesia)(1928), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer
theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação
Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 150 e 151.
[178] Citado em BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p.758.
[179] Cf. RADEK. KARL. Referat vor dem
Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale (Informe na
Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista) (11 de Janeiro de
1924), in : Die Lehren der deutschen Ereignisse. Das Präsidium des
Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale zur deutschen Frage (As
Lições dos Acontecimentos Alemães. A Presidência do Comitê
Executivo da Internacional Comunista acerca da Questão Alemã), Hamburg : Carl
Hoym, 1924, pp. 5 e s.
[180]
Acerca de sua orientação política essencialmente distinta para a luta contra o
ascenso nazista na Alemanha, Trotsky assinalou, precisamente, em 11 de dezembro
de 1936, no contexto de seu depoimento prestrado diante do Tribunal
Norueguês : “Dando início desde os
primeiros anos de meu banimento, demonstrei, repetidamente, em brochuras e
artigos, que a política do Komintern, na Alemanha, prepara a vitória dos
nazistas. Outrora, reinava a infâme teoria do Terceiro Período. Stalin deu
nascimento a um aforismo : « A Social-Democracia e o Fascismo são irmãos gêmeos
e não antípodas. » Enquanto inimigo principal desses ambos « gêmeos » era considerada
a Social-Democracia. Na luta contra ela, os stalinistas alemães chegavam ao
ponto de apoiar Hitler (o famoso Referendo Prussiano). Toda a política do
Komintern era um cadeia de crimes. Eu exigia a Frente Única com a
Social-Democracia, criando-se uma milícia de trabalhadores, e uma luta séria,
não teatral, contra os bandos armados da reação. No período de 1929 a 1932,
existia totalmente a possibilidade de acertar as contas com o movimento de
Hitler. Porém, para isso era necessária a política da defesa revolucionária e
não da estupidez e da fanfarronada burocrática. Os nazistas seguiram muito
atentamente a luta interna nas fileiras da classe trabalhadora e deram-se conta
claramente do perigo que para eles significava uma política corajosa de Frente
Única.” Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937),
Moskva : Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 33. Para uma análise mais aprofundada
acerca desse tema, vide IDEM. Gegen den Nationalkommunismus. Die Lehren des
roten Volksentscheids (Contra o Nacional-Comunismo. As Lições do Referendo
Vermelho), Berlim : A. Grylewicz, 1931, pp. 1 e s.
[181] Cf. RADEK, KARL. Referat vor dem
Präsidium des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale (Informe na
Presidência do Comitê Executivo da Internacional Comunista) (11 de Janeiro de
1924), in : Die Lehren der deutschen Ereignisse. Das Präsidium des
Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale zur deutschen Frage (As
Lições dos Acontecimentos Alemães. A Presidência do Comitê
Executivo da Internacional Comunista acerca da Questão Alemã), Hamburg : Carl
Hoym, 1924, pp. 11 e s.
[182]
Acerca do tema, vide IDEM. Schlageter. Eine Auseinandersetzung (Schlageter. Uma Polêmica) (21 de
Junho de 1923) in : Protokoll der Konferenz der Erweiterten Exekutive der
Kommunistischen Internationale (Protocolo da Conferência do Executivo Ampliado
da Internacional Comunista) (De 12 a 23 de Junho de 1923), Hamburg : Carl Hoym,
1923, pp. 240 e s.; IDEM. Das Abflauen der Offensive des Kapitals und die Aufgaben
der Kommunistischen Internationale. Rede in der Sitzung der Erweiterten
Exekutive der Kommunistischen Jugendinternationale (O Refluxo da Ofensiva do
Capital e as Tarefas da Internacional Comunista. Discurso na Sessão do
Executivo Ampliado da Internacional Comunista da Juventude) (13 de Julho de
1923), in : Der Kampf der Kommunistischen Internationale gegen Versailles und
gegen die Offensive des Kapitals (A Luta da Internacional Comunista contra
Versalhes e contra a Ofensiva do Capital), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 33 e
s.
[183] Cf. IDEM. Referat vor dem Präsidium
des Exekutivkomitees der Kommunistischen Internationale (Informe na Presidência
do Comitê Executivo da Internacional Comunista) (11 de Janeiro de 1924), in :
Die Lehren der deutschen Ereignisse. Das Präsidium des Exekutivkomitees der
Kommunistischen Internationale zur deutschen Frage (As Lições dos
Acontecimentos Alemães. A Presidência do Comitê Executivo da
Internacional Comunista acerca da Questão Alemã), Hamburg : Carl Hoym, 1924,
pp. 17 e s.
[184] Cf. IDEM. ibidem, pp. 22 e s.
[185] Cf. TROTSKY, LÉON. Piat Liet
Kominterna (Cinco Anos de Internacional Comunista), (Introdução de 20 de Maio
de 1924), Moskva : Gosudarstvennoe Izdatel’stvo, 1924, pp. VII
e s.
[186]
Cf. IDEM. ibidem, pp. retro-indicadas.
[187] Acerca do tema, vide, sobretudo, TROTSKY, LÉON. Novyi Kurs(Novo
Curso)(Dezembro de 1923), especialmente Apenso : Carta à Assembléia do Partido
de 8 de Dezembro de 1923), Moscou : Izdat. Krasnaia Nov, 1924, pp. 77 e s.
[188]
De maneira cabal e cristalina, Gramsci já escrevia, nessa época, com sua
particular genialidade para exercícios de confusionismo e embaralhamento de
categoriais político-conceituais, dando, porém, fiel expressão à orientação
política defensista de Stalin, cética em relação à possibilidade de qualquer
atuação revolucionária, consciente, sistemática e programada, do proletariado
alemão e de seu partido comunista no ano de 1923 : “ É natural que Zinoviev,
que não possa atacar Brandler e Thalheimer como incapazes e nulidades
individuais, pondo a questão no plano político e procurando, em seus erros, as
idéias para acusá-los de direitismo. A questão complica-se, além disso,
desgraçadamente. Em certos aspectos, Brandler é um putschista, muito mais do
que um membro da ala de direita e pode-se também dizer que é um putschista
porque é da ala de direita. Ele havia assegurado ser possível, no outubro
passado, dar um golpe de Estado na Alemanha e que o partido estava tecnicamente
pronto para tanto. Zinoviev estava, pelo contrário, muito pessimista e não
considerava que a situação estivesse madura politicamente. Nas discussões
ocorridas no centro russo, Zinoviev foi colocado em minoria e apareceu, ao
invés disso, o artigo de Trotsky : “Se a Revolução Pode Ser Feita com Data
Marcada”. Em uma discussão ocorrida na Presidência, isso foi dito bem
claramente por Zinoviev Ora, em que consiste o cerne da questão ? A partir do
mês de julho, depois da Conferência da Paz de Haia, Radek, retornando a Moscou,
depois de uma tournée, fez um relatório catastrófico sobre a situação alemã. ..
É evidente que, depois desse relatório de Radek, o grupo Brandler colocou-se em
movimento e, para evitar o ascenso da minoria (i.e. da minoria alemã de
Fischer-Maslov), preparou um novo março de 1921. Se existiram erros, esses foram
cometidos pelos alemães. Os companheiros russos, i.e. Radek e Trotsky,
cometeram o erro de acreditar nas bravatas(no original em italiano : nos
leilões de fumaças) de Brandler e de seus companheiros, porém, de fato, também
nesse caso, a posição deles não era de direita, senão muito mais de esquerda, a
ponto de poderem incorrer na acusação de putschismo.” Cf. GRAMSCI, ANTONIO.
Lettera a Togliatti e C.(9 de Fevereiro de 1924) , in : Palmiro Togliatti. La
Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924,
Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 189 e 190.
[189] Acerca do tema, anota a historiadora Annegret Schülle : „Porém, nem a direção do PCA(KPD) nem a direção do Komintern conceberam, tempestivamente, o significado da situação. Na Conferência do Comitê Executivo da Internacional Comunista, de junho de 1923, a direção do Komintern, sob Zinoviev, discutiu com a direção alemã acerca da situação. No entanto, quase nenhum dos participantes concebeu a necessidade de preparação do levante. Como paradigma da posição do Komintern podem ser consideradas as posições de Radek, que se encontrava na Alemanha, na qualidade de conselheiro russo. Ainda em 2 de agosto, Radek insistiu para que, em „Bandeira Vermelha“, órgão do PCA(KPD), devia-se, então, não apenas não travar-se batalhas gerais, como também até mesmo evitá-las, de modo a não possibilitar-se ao inimigo esmagá-las parcialmente“. Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e 43.
[190] Vide, mais detalhadamente, GRAMSCI,
ANTONIO. Lettera a Togliatti e C.(9 de Fevereiro de 1924) , in
: Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista
Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 186 e s.
[191]
Vide IDEM, ibidem, pp. 186, 187 e 188.
[192] Acerca do tema, vide LENIN, WLADIMIR
I. Fünf Jahre Russische Revolution und die Perspektiven der
Weltrevolution(Cinco Anos de Revolução Russa e as Perspectivas da Revolução
Mundial), in : Protokoll des Vierten Kongresses der Kommunistischen
International (Protocolo do IV Congresso da Internacional Comunista) (De 5 de
Novembro a 5 de Dezembro de 1922), Hamburg : Carl Hoym, 1923, pp. 229 e 230.
[193]
Cf. FISCHER, RUTH. Stalin and German Communism. A Study in the Origins of the
State Party, Cambridge: Harvard University Press, 1948, p. 211.
[194] Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in
Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des
Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente
Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag,
1986, p. 47. Acerca do
tema, vide, mais detalhadamente, TROTSKY, LÉON. Die III. Internationale nach
Lenin. Das Programm der internationalen Revolution und die Ideologie des
Sozialismus in einem Land 1928/29 (A III Internacional após Lenin. O Programa
da Revolução Internacional e a Ideologia do Socialismo em um Só País 1928/29),
Berlim : Dröge, 1993, pp. VIII e s.
[195]
Cf. TROTSKY, LÉON. Prestuplienia Stalina (Os Crimes de Stalin)(1937), Moskva :
Izdatel’stvo Humanitarnoi Litieratury, 1994, p. 151.