MARXISMO REVOLUCIONÁRIO, TROTSKYSMO,
E QUESTÕES ATUAIS
DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA INTERNACIONALISTA
DEFESA
DO CARÁTER E DO SIGNIFICADO DA REVOLUÇÃO PERMANENTE DO PROLETARIADO
NAS
CONCEPÇÕES MATERIALISTAS HISTÓRICO-DIALÉTICAS DE MARX, ENGELS, LENIN, SVERDLOV
E TROTSKY :
EDIÇÃO
SIMULTÂNEA ELABORADA LITTERATIM DO
RUSSO PARA O PORTUGUÊS,
ESPECIALMENTE
DIRIGIDA CONTRA O SOCIAL-REFORMISMO, O STALINISMO,
O
GRAMSCISMO, O LUCÁKSIANISMO, O KORSCHISMO APÓSTATAS
NOS
PARTIDOS MARXISTAS, SINDICATOS OPERÁRIOS E MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS URBI ET ORBI
Sverdlov
e sua Luta em Defesa da Revolução Permanente
contra
a Tática de Frente Popular da Direção Stalin – Kamenev :
O
Regresso de J. M. Sverdlov Pela Cidade de Krasnoiarsk
BORIS
Z. SHUMIATSKY[1]
Concepção e Organização Portau Schmidt von Köln
Compilação e Tradução Asturig Emil von München,
Outubro de 2003 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/RevPermanenteCapa.htm
“Tratava-se
de uma poderosa virada na história da Rússia
e
de um giro jamais existente na história do nosso Partido.(...)
Era
necessário uma nova orientação do Partido, nas novas condições de luta.
O
Partido (sua maioria) procurou, tateando, alcançar essa nova orientação.
Adotou uma política de pressão dos Sovietes
sobre o Governo Provisório
na questão da paz e não se pôde decidir a
marchar imediatamente para diante,
saindo da velha consigna, Ditadura do
Proletariado e do Campesinato,
rumo à nova consigna Poder dos Sovietes.
Essa
política do meio termo havia sido
calculada para dar oportunidade
aos
Sovietes de contemplarem, através das questões concretas da paz,
a
verdadeira essência imperialista do Governo Provisório, dela, assim,
afastando-se.
Porém, foi uma posição profundamente errada,
pois fazia proliferar ilusões pacifistas,
entornava
água no moinho dos “defensistas da
pátria”,
dificultando
a educação revolucionária das massas.
Essa posição equivocada compartilhei, então, com
outros companheiros do Partido,
dela afastando-me inteiramente ao aderir às
Teses de Lenin.”
Iossip V. D. Stalin[2]
UM
ENCONTRO EM UMA REUNIÃO DE FRAÇÃO
Recordo-me
de tudo isto como se fosse hoje :
Em 21 de março de
1917, por volta do meio-dia, os companheiros Andrei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov) e Felipe – também chamado de Jorge (Filipp Isaievitch Goloschekin), vieram até
nós.
Sua chegada
ocorreu durante uma reunião do grupo dos pravdistas, tal como nós,
bolcheviques da cidade de Krasnoiarsk,
então nos denominávamos.
Essa reunião
estava tendo lugar na sala dos paletós da Casa da Cultura.
Debatíamos, então,
a questão referente à linha tática de nosso Partido. Sverdlov entrou na sala durante o discurso do companheiro I. Belopolsky[3].
Belopolsky, na condição de
co-relator da matéria, havia completado, em alguns aspectos, o informe
apresentado por mim acerca da necessidade de os Sovietes
tomarem o poder em suas mãos.
Sendo um companheiro de bons dotes oratórios, desenvolveu, em seu co-informe, com seu modo tipicamente apaixonado de
pronunciar-se, as teses fundamentais, contidas no meu informe, fornecendo-lhe
justificativas práticas.
Belopolsky demonstrou
que apenas a Guerra Civil bastaria para o
atingimento da tomada do poder e, ademais, agregou o seguinte :
“- A República, a Assembléia Constituinte, constituem um
engodo, desejado veementemente pela burguesia e pelos latifundiários, enquanto
forma de ganharem tempo.”
Naquele então, em
meados de março de 1917, tudo isso parecia evidente para nós, poucos
bolcheviques, negligenciados em meio àquele distante cantinho da Sibéria.
Porém, as palavras
de
Belopolsky caíam como golpes pesadíssimos sobre o solo cultivado
em grande medida pelos velhos bolcheviques e, por essa razão, produziram ondas
de exaltações, sacudindo, na consciência de todos, ecos de compreensão ativa.
Eis que, então,
durante o discurso em tela, rebombou, repentinamente, uma voz compacta e grave :
“- Peço a palavra !”
Todos se voltaram
para o lado daquele que pronunciara esses vocábulos e, naquela pessoa,
reconhecemos o companheiro Sverdlov.
Vestido com seu
costumeiro casaco marron avermelhado, Sverdlov
achava-se calçando botas e ostentando uma pequena barba, em forma oval.
Concedida a
palavra a Sverdlov, nossa reunião foi forçosamente interrompida, dando-se início, então, à
sessão dedicada à formulação de perguntas.
Sverdlov e seu parceiro de
viagem, o companheiro Goloschekin, mal havendo chegado à Krasnoiarsk, com procedência de seu exílio em Enissei,
perguntaram-nos, com avidez, quais eram as novidades que possuíamos do centro.
Repassamo-lhes,
com excitação, todas as informações sobre o curso da Revolução em Petrogrado e sobre a luta
impiedosa que estávamos travando contra a política menchevique.
A seguir,
contamo-lhes nossos aborrecimentos locais, queixando-nos daqueles companheiros
da organização social-democrática de nossa localidade que, a despeito de seu
glorioso passado bolchevique, impulsionavam, em Krasnoiarsk,
uma linha de conciliação, ao levantarem a “consigna de apoio ao
Governo Provisório «conforme o caso»”.
Esses compaheiros
combatiam o nosso grupo dos pravdistas e nossa consigna
fundamental : “Abaixo a Guerra Imperialista !”, qualificando-a
de “delírio
revolucionário” e, pior ainda, de “pacifismo
burguês”.
Cerca de uma hora
se passou no quadro dessa nossa exposição.
Pedimos, então, a Sverdlov que participasse da apreciação da questão relativa à tomada do poder
pelos Sovietes, apreciação essa interrompida por causa de sua chegada.
Sverdlov expôs, então, seu
ponto de vista, com palavras simples, lapidares e claramente marcantes.
Cautelosamente,
afirmou que ainda não lhe estava claro o panorama da luta da classe trabalhadora
russa e do campesinato pelo poder dos Sovietes,
i.e., mais precisamente, que não lhe estava clara a dimensão dessa luta.
Porém, destacou
que a necessidade inexorável dessa peleja era, a seus olhos, indubitável.
Para tanto,
assinalou que bastaria contemplar o curso dos acontecimentos internacionais,
bem como a correlação das forças em luta em todas as partes do mundo.
Os imperialistas
mundiais - mais fortes do que os nossos capitalistas nacionais -, os magnatas
do capital mundial, aqueles que na linguagem do quotidiano político eram
chamados de “aliados” da Rússia na Guerra Mundial, não nos permitiram continuar e, tão pouco, conduzir até o fim nossa
revolução, acrescentou.
Disso, Sverdlov sacou a inapelável conclusão de que, mesmo que não pretendêssemos
aprofundar a revolução que se iniciara, resultaria tão evidente a
inevitabilidade do aguçamento do antagonismo por ela provocado que ninguém,
nenhuma força e nem mesmo as organizações dos sociais-conciliadores e dos
sociais-patriotas defensistas seriam capazes de impedir o retumbante desate da
luta já desencadeada.
Nosso Partido,
enquanto Partido da classe trabalhadora, dirigente da luta do campesinato
revolucionário, estando organizado, naquele momento, como um exército de muitos
milhares de lutadores, deveria ingressar na via do aprofundamento, cada vez
mais intenso, da revolução.
Por isso, a
consigna de “Passagem do Poder para as Mãos dos Sovietes !” surgia
como sendo a consigna necessária dos dias correntes e futuros.
E isso seria assim
não porque nós o teríamos conjecturado, mas sim em virtude de emergir,
diretamente, da essência das condições mundiais, visto que ninguém nos haveria
de permitir, voluntariamente e sem luta, promover o encerramento da
conflagração mundial.
Jamais viríamos a
conseguí-lo sem intentarmos executá-lo através do caminho da violência, através
da via da tomada do poder da classe trabalhadora e do campesinato
revolucionário.
“- Eis a razão,” afirmou
o companheiro Sverdlov, concluindo seu discurso, “por que
mesmo tendo estado distante do centro dos acontecimentos, nos últimos dias,
acredito e desejo que nossa próxima luta seja desenvolvida sob a consigna da
passagem do poder para as mãos do proletariado e do campesinato revolucionário.
Os órgãos desse poder serão os Sovietes de Deputados dos
Trabalhadores, Soldados e Camponeses.”
Depois da
intervenção de Sverdlov, todos os companheiros que
se pronunciaram acerca dessa questão - Goloschekin, Belopolsky, Rogov, Djorov, Tchernykh e outros -, postularam, já com mais claridade, a necessidade de
levantarmos perante os trabalhadores e a Guarnição de Krasnoiarsk a
consigna de :
“Todo o Poder aos Sovietes !”
Eis aí por que
nós, pravdistas
de Krasnoiarsk,
conduzíamos, já a esse tempo, i.e. já em março de 1917, uma luta generalizada
em defesa propriamente dessa consigna, no quadro da organização
social-democrática de Krasnoiarsk, em
cujo interior ainda então nos localizávamos.
Sverdlov recomendou-nos,
então, não romper, porém, radicalmente, com os líderes da organização social-democrática
de Krasnoiarsk e com o comitê dessa organização, em cuja composição encontravam-se
muitíssimos membros extraordinários de nosso Partido Bolchevique.
“- O fato de eles estarem vacilando, temporariamente,
nada significa”, afirmou Sverdlov.
“- Nada significa o fato de que eles se equivoquem,
transitoriamente, com a consigna de apoio ao Governo Provisório « conforme o
caso »”, acentuou.
“- O seu oportunismo é produzido pelas condições nas
quais viveram, nos últimos anos, e, presentemente, intervêm: distantes do
centro, distantes do nosso Comitê Central, são influenciados, automaticamente,
pelas circunstâncias nas quais transcorre o seu próprio trabalho.
Não há problema nisso. Quando necessário, nós os
sacudiremos. Por isso, o grupo de vocês não deve romper radicalmente com
eles.”
O conselho de Sverdlov foi seguido por nós tal como se fosse uma regra de direção.
Mesmo conduzindo
uma luta impiedosa contra as tendências conciliacionistas e
social-patriótico-defensistas da organização social-democrática de Krasnoiarsk, decidimos, apesar
de tudo, não romper com seus dirigentes, tendo em consideração a possibilidade
de que, mais cedo ou mais tarde, todos eles regressariam, igualmente, às
fileiras revolucionárias.
Aí mesmo, nessa
reunião, foi elaborada, apressadamente, uma resolução sobre o objeto de nossa
discussão relativa à questão do poder dos Sovietes.
Os companheiros Sverdlov e
Goloschekin participaram ativamente de sua formulação.
O sentido dessa
última reproduzo, aqui, de memória.
Nela, nós, pravdistas, desenvolvemos os pensamentos que descrevi acima e – tal como me
recordo presentemente – foi a resolução em questão encerrada com as seguintes
palavras :
“Em oposição ao conciliacionismo e ao patriotismo social,
opinamos que nossa revolução ou triunfará, enquanto revolução proletária,
através dos métodos próprios da impiedosa luta de classes e da Guerra Civil,
concretizando, então, a Ditadura do Proletariado, ou, sob as consignas dos
conciliadores e dos sociais-patriotas defensistas, triunfará a burguesia, sendo
esmagada nossa revolução.”
Nessa mesmíssima
reunião, cumpriu-nos apreciar a questão acerca de como nós, pravdistas, haveríamos de nos comportar na Plenária do Soviete de Krasnoiarsk, convocada para o dia seguinte, i.e. para 22 de
março de 1917.
Nessa plenária,
caberia apreciar a questão do poder, i.e. da relação a ser mantida seja em face
do Governo
Provisório seja em face dos Sovietes.
Nela,
realizar-se-ia também a eleição dos delegados representantes do Soviete dos
Deputados Trabalhadores e Soldados de Krasnoiarsk, a serem enviados à
I
Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia (Conferência de Abril), a ter lugar em Petrogrado.
Juntamente com os
companheiros Goloschekin, Rogov e Djorov, defendi,
ainda na reunião de nosso grupo, posição favorável a uma intervenção autônoma
do grupo
dos pravdistas, no quadro da Plenária do
Soviete que surgia pela frente.
Essa nossa
autonomia de intervenção haveria de estar munida seja do nosso próprio informe,
seja da nossa própria resolução, apresentando nossos próprios candidatos à I Conferência
dos Sovietes de Toda a Rússia.
Já não me recordo
mais do significado da posição, defendida pelas pessoas elencadas acima
relativamente à questão de nossa intervenção autônoma : “enfermidade
de esquerda” ou correta compreensão da tática de nosso
Partido.
O próprio autor
dessas linhas poderia, indubitavelmente, ser considerado como parcial na
definição desse mérito.
Em todo o caso, Sverdlov não compartilhou, então, desse nosso ponto de vista.
Recomendou ao
nosso grupo intervir, na sessão vindoura do Soviete de Krasnoiarsk,
não com um informe autônomo, mas sim apenas com um co-informe, devendo a
questão relativa à resolução autônoma ser apenas eventualmente postulada, em
dependência do curso dos debates que haveriam de ser travados na Plenária do
Soviete.
Além disso, por
proposta de Sverdlov, a questão relativa aos candidatos autônomos foi resolvida de tal sorte
que o grupo dos pravdistas incumbiu-se de
apresentar, de antemão, em seu próprio nome, um único candidato dentre os dois
deputados que seriam enviados a Petrogrado.
Quanto ao segundo
candidato – também em conformidade com o conselho formulado por Sverdlov -, seria este por nós eventualmente apresentado apenas no momento da
sessão do Soviete, analisando-se efetivamente a correlação de
forças existentes no momento.
As propostas do
companheiro Sverdlov foram acolhidas, unanimemente, por nosso
grupo e, enquanto candidato do grupo dos pravdistas, foi eleito o
próprio autor dessas linhas.
NA SESSÃO DO SOVIETE DE KRASNOIARSK
A sessão do Soviete de
Krasnoiarsk de 22 de março de 1917 ocorreu no auditório
da Casa
da Cultura dessa cidade.
Sabíamos que, para
essa sessão, os socialistas-revolucionários (SRs) e os adeptos da política menchevique
estavam preparando a deflagração de uma luta decisiva contra nós,
internacionalistas do grupo dos pravdistas.
Estávamos cientes
do fato de que haviam mobilizado na cidade todas as forças de seus membros “martovistas” : oficiais militares e intelectuais.
Nós, pravdistas, respondemos a essa mobilização de forças conciliacionistas e
patriótico-defensistas da mesmíssima forma : na noite de 21 de março,
espalhamo-nos pelas oficinas, pelos principais galpões das ferrovias, pelas
fábricas, por todos os ramos das indústrias, pelas tropas militares,
propagandeando, nessas localidades, a idéia do poder dos Sovietes e nossa plataforma tática.
Eis por que
quando, em 22 de março, reuniu-se a Plenária do Soviete, encontrava-se esta mais numerosa do
que todas as precedentes.
Ali, estavam
presentes cerca de 300 deputados dos trabalhadores e soldados de Krasnoiarsk.
Segundo, porém, as estatísticas da edição Nr.
13 do jornal “Krasnoiarsky Rabotchy (O Trabalhador de Krasnoiarsk)”, de 24 de março de 1917, tratavam-se de 256 deputados.
Nessa plenária,
contrastavam, nitidamente, os segmentos partidários daqueles que nela
intervinham: o espaço da esquerda foi ocupado por nós, pravdistas, o centro, pelos deputados membros da organização dos social-democratas
unidos (Comissão Inter-Distrital) e
o flanco direito, pela intelectualidade, pelos sociais-patriotas defensistas e
conciliadores, caçadores de ouro.
Todos os líderes
de correntes estavam presentes.
No flanco da
extrema direita, destacavam-se as figuras dirigentes dos
socialistas-revolucionários (SRs) : E. Kolosov, E. Kazantsev, V.
Gurevitch e outros.
Todos estes tornaram-se, posteriormente,
dirigentes anti-bolcheviques do “Zemgor Tchecoslovaco (Comitê Rural e Municipal
Tchecoslovaco dos Exilados Russos)”.
No centro, emergiam
as figuras dos dirigentes da organização social-democática de Krasnoiarsk : Y. Dubrovinsky. A. Okulov. I. Teodorovitch, M. Frumkin e outros.
Encabeçando os
deputatos da esquerda emergiam as figuras de J. M. Sverdlov, F. I. Goloschekin e demais dirigentes locais desse agrupamento bolchevique.
A presidência do Soviete de
Krasnoiarsk, em cujo seio dominava, então, a corrente dos
sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), colocou na ordem
do dia, visando à abertura da sessão, uma questão de ordem geral, a fim de que
– tal como ficou esclarecido depois - resultasse demonstrada a unidade do Soviete de
Krasnoiarsk.
Essa questão de
índole geral estava relacionada com a introdução obrigatória da jornada de
trabalho de 8 (oito) horas, mediante recurso à violência, não se esperando por
um decreto governamental do centro e, até mesmo, posicionando-se em oposição a
ele.
Os
socialistas-revolucionários (SRs) e os adeptos do menchevismo - que, até então,
haviam permanecido muito melindrosos quanto a todas e quaisquer ocorrências que
apontassem para a “tomada do poder” - não intervieram,
desta feita, nem mesmo contra a introdução dessa importante medida através da
via revolucionária.
Acumulavam,
visivelmente, todas as suas forças e todos os seus golpes para a principal
questão, i.e. para a questão sobre do poder, para a questão da relação a ser
mantida em face do Governo Provisório e dos Sovietes.
Os debates
travados a propósito dessa última questão foram iniciados, então, com a
apresentação do informe do companheiro A. Okulov, que
se situava, nessa época, defendendo as posições da organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) da cidade de Krasnoiarsk.
Em conformidade
com as palavras do jornal “Krasnoiarsky Rabotchy (O Trabalhador de Krasnoiarsk)” que era, então, porta-voz da corrente centrista :
“O orador A. Okulov forneceu, em seu informe, uma caracterização
circunstanciada do Governo Provisório, o
qual representaria, segundo sua composição, os interesses da burguesia imperialista
e, por esse motivo, seria incapaz de promover o impulsionamento da revolução
até a satisfação das reivindicações fundamentais do proletariado e do
campesinato revolucionário.
O orador
ilustrou essa situação mediante fatos extraídos das atividades atuais do Governo
Provisório, acentuando que, no futuro,
seria inevitável uma confrontação da burguesia com a classe trabalhadora, sobre
o terreno da luta em prol de reivindicações sócio-econômicas fundamentais.
Enquanto
medidas asseguradoras do desenvolvimento da revolução e relacionadas com suas
reivindicações, o orador recomendou a realização de um rigoroso controle por
parte do povo revolucionário sobre os trabalhos do Governo
Provisório, bem como o exercício de uma
incessante pressão sobre ele por parte das forças organizadas do proletariado,
do campesinato e das forças armadas revolucionárias.”
Em sua conclusão, Okulov indicou a indispensabilidade do apoio ao Governo Provisório, porém apenas nos casos
em que este caminhasse no mesmo sentido das reivindicações revolucionárias
estabelecidas :
“O
orador A. Okulov conclamou os presentes à
organização das forças revolucionárias na luta em prol da concretização das
grandes e importantes tarefas implementadoras da revolução.”
Depois do informe do
companheiro Okulov, a palavra foi concedida ao co-relator, dirigente
socialista-revolucionário E. Kolosov que interviu em
nome da fração dos socialistas-revolucionários(SRs) e dos mencheviques.
Com efeito,
durante cerca de meia-hora, o informe de Kolosov
desenvolveu, de modo formalmente brilhante e com extrema agudeza, os pontos de
vista dos socialistas-revolucionários (SRs) e dos seguidores da orientação
menchevique.
Kolosov debruçou-se, antes de tudo, sobre o tema do trabalho
“traiçoeiro”
praticado pelos bolcheviques.
Segundo suas
palavras, os bolcheviques traíam a revolução e a democracia em benefício do
imperialismo alemão.
Eles – os
bolcheviques – estariam servindo, voluntaria ou involuntariamente, a esse
imperialismo.
Eles – os
bolcheviques – apunhalavam as costas de “nossas Forças Armadas Democráticas” ... – que, eram, em verdade, porém, czaristas !!!
Eles – os
bolcheviques – estariam instigando-nos, i.e. a “Rússia”, a
romper com os “aliados”, sendo que, sem as relações mantidas com estes resultariam aniquiladas
tanto a ”Democracia
Revolucionária” quanto as suas “conquistas”, seja por obra do
imperialismo alemão, seja por força da reação, considerada em geral. Estes
estariam transitando para dentro dos portões dos próprios bolcheviques ...
Excelente orador e
não menos hábil demagogo, Kolosov pretendia, por
meio psicológicos, tornar-se estimado junto às tropas militares do Soviete de
Krasnoiarsk.
Aspirava por “abrir fontes
para a derrota bolchevique”, ao qualificar a aversão da massa de soldados
de se dirigir à guerra como sendo uma simples expressão do próprio egoísmo
destes.
Além disso, na
parte substancial de seu discurso, Kolosov demonstrou que “a Democracia
Revolucionária deve cumprir o seu dever até o fim”, i.e. não romper
com os “aliados”, senão ajudá-los a concluir vitoriosamente
essa guerra, de modo a que recebêssemos, então, por Direito, das mãos dos “aliados”,
tudo aquilo que “recai sobre nosso dever, sobre o dever da Democracia Russa.”
Conclusivamente, Kolosov conclamou o Soviete de Krasnoiarsk a :
“... apoiar unanimemente os representantes das
necessidades e dos interesses da Revolução Democrática, i.e. o Governo
Provisório, em cuja composição encontravam-se não apenas capitalistas, mas
também socialistas.”
Depois do informe
de Okulov e do co-informe de Kolosov, abriram-se os debates.
Primeiramente, a
palavra foi concedida ao representante do grupo dos pravdistas,
i.e. o companheiro Jakob Mikhailovitch Sverdlov.
Com toda a força
de sua argumentação bolchevique, Sverdlov fulminou as teses
levantadas no discurso social-patriótico-defensista de Kolosov.
Passo a passo,
decifrando todas as vestimentas multicoloridas e toda a miséria
ideológico-revolucionária daquele discurso patriótico-defensista, Sverdlov destacou o fato de que o povo, em nome do qual os
socialistas-revolucionários (SRs) adoravam pronunciar-se, não havia recebido,
desde o início da revolução, absolutamente nada além dos discursos melífluos de
Kerensky
e Kolosov.
Os adeptos do
menchevismo e os socialistas-revolucionários (SRs) cevavam os trabalhadores e
os soldados com “promessas vazias”, rebaixando,
desse modo, até ao chão, o nível dos interesses das amplas massas populares,
situadas no curso da luta revolucionária que, naquele momento, desenvolvia-se
entre nós.
Além disso, afirmou
o companheiro Sverdlov
:
“- A revolução é o momento mais agudo da luta de classes,
no curso da qual as classes socialmente oprimidas querem receber e, se não
recebem, desenterram as suas forças e arrancam concessões da classe opressora.”
“- E, caso essas concessões não sejam obtidas, não
resultando, por sua vez, inteiramente derrotada a classe opressora”, acrescentou, “será a
própria revolução que resultará despedaçada.”
“Eis por que nós, bolcheviques, somos contra a consigna
de « Paz Civil » da Democracia Revolucionária e levantamos, pelo contrário, a
palavra de ordem de luta de classes irreconciliável.
Nesse processo que conduz à revolução, aderem aqueles
grupos e classes sociais que estão interessados na vitória até o seu final.
Contra a revolução, porém, encontram-se muitos dentre os
quais o orador dos socialistas-revolucionários (SRs) e dos seguidores do
menchevismo denominou de « os melhores representantes da Democracia
Revolucionária ».”
Paralelamente, Sverdlov salientou que a melhor forma e o modo mais unificado de organização
para a luta vitoriosa da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário –
tal como havia demonstrado a experiência prática – são os Sovietes:
“- Os Sovietes constituem os corpos de comando das
forças armadas da revolução proletária, ao passo que essa idéia de «Paz Civil» nada mais é senão
uma tentativa de reconstituir, por meio enganoso as forças enfraquecidas da
burguesia e, desse modo, fortalecê-las”, exclamou
Sverdlov.
“- Por essa razão, nós, bolcheviques, somos contra
toda e qualquer coalizão.
Somos a favor da passagem do poder para as mãos da
classe trabalhadora e do campesinato revolucionário, cujos órgãos são os
Sovietes !”
O discurso
apaixonado de Sverdlov foi brindado com fervorosos aplausos.
A partir daí,
tornou-se claro que o Soviete da nossa Kraisnoiarsk revolucionária, o mais antigo centro do bolchevismo siberiano, havia concedido,
indubitavelmente, sua simpatia à posição dos bolcheviques revolucionários.
Depois do discurso
em realce, os socialistas-revolucionários (SRs) e os adeptos da política
menchevique - sem margem de dúvida com o objetivo de arrefecer a temperatura
que havia sido produzida pelo discurso claro, conseqüente e convincente de Sverdlov – acionaram mais um de seus lábios de ouro : Kazantsev, cujo discurso não
cabe reproduzir aqui.
Sem embargo, a
idéia geral de sua elocução era a de que :
“... os bolcheviques estão afundando a revolução.
Conseguiram transformar-se em coveiros do movimento
revolucionário.
Apenas a Democracia Revolucionária e a coalizão de
todos as forças vivas do país hão de conseguir salvá-la.”
No mesmíssimo tom
emitido pelas glotes cintilantes dos socialistas-revolucionários (SRs), foi
também pronunciado o discurso de um dos seus veneradores mencheviques, A. Schebunin, o qual, ao
concluir, propôs ao Soviete de Krasnoiarsk a seguinte
resolução, a ser adotada em nome da fração dos mencheviques e
socialistas-revolucionários (SRs) :
“Tendo
em conta que :
1)
o Governo Provisório constitui o
governo da revolução, formado com base no resultado do acordo estabelecido
entre o Comitê Executivo da Duma do Estado e o Soviete de Petrogrado dos
Deputados Trabalhadores e Soldados ;
2)
a fonte do
poder do Governo Provisório é a
vontade do povo, organizado nos Sovietes de Deputados
Trabalhadores e Soldados ;
3)
a convocação
da Assembléia Constituinte, a ser realizada com base em votação geral,
direta, igual e secreta, bem como proclamada pelo Governo Provisório, constitui
a reivindicação mais imediata das massas trabalhadoras ;
Considera
o Soviete de Deputados Trabalhadores e Soldados de
Krasnoiarsk como imprescindível seja
expressado seu apoio efetivo ao Governo Provisório, na medida em que
concretize, na prática, o programa por ele promulgado, não sendo suas medidas
dirigidas contra a vontade do povo que se organiza nos Sovietes de Deputados Trabalhadores e Camponeses.”
A seguir, uma
plêiade de oradores intervieram com críticas formuladas contra essa resolução
em destaque, seja em nome de nosso grupo dos pravdistas, seja em nome da
organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), de
orientação centrista.
Desenvolvendo os
pontos contidos no discurso do companheiro Sverdlov, os
oradores do grupo dos pravdistas demonstraram que,
se o objetivo da luta revolucionária, i.e. o objetivo da luta da classe
trabalhadora e do campesinato revolucionário, constituía, em dado momento, o
poder dos Sovietes, o instrumento para atingí-lo era o da Guerra Civil - tal
como precisamente expressado nos discursos dos companheiros I.
Belopolsky, A. Rogov, B. Shumiatsky e F.
Goloschekin.
Também os oradores
centristas da organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk –
entre eles, em especial, um de seus porta-vozes, I. Teodorovitch
-, submeteram
a posição social-patriótico-defensista dos socialistas-revolucionários (SRs) e
dos mencheviques a uma crítica aguda, porém sem serem capazes eles mesmos de
superar nitidamente a consigna de “apoio ao Governo Provisório « conforme o caso »” ...
Em suas palavras
finais, o relator centrista da Presidência do Soviete, o
companheiro A. Okulov propôs ao Soviete fosse
acolhida a seguinte resolução :
“Tendo
em conta que :
1) a transformação
revolucionária é efetuada pela classe trabalhadora e pelas forças armadas que
representam o campesinato revolucionário ;
2) é inevitável o embate das reivindicações da burguesia imperialista
com as reivindicações da classe trabalhadora e do campesinato, uma vez que a
burguesia procura defender os seus interesses contra os interesses da classe
trabalhadora e do campesinato revolucionário ;
Resolve
o Soviete de Deputados Trabalhadores e Camponeses
de Krasnoiarsk :
A) declarar
como indispensáveis as clarificações a serem dirigidas às mais amplas camadas
da classe trabalhadora, das forças armadas e do campesinato, no sentido de que
o Governo Provisório expressa,
por sua composição, os interesses da burguesia imperialista e não do povo, que
é incapaz de promover o impulsionamento da revolução em curso até a satisfação
das reivindicações fundamentais do proletariado e do campesinato
revolucionário, expressadas através das consignas de República
Democrática, jornada de trabalho de 8 (oito) horas e confiscação das terras dos latifundiários ;
B) esclarecer,
com toda a plenitude, que a fonte unitária de poder e autoridade do Governo
Provisório é a vontade do povo que
executou essa revolução e à qual o Governo Provisório está
obrigado a inteiramente submeter-se ;
C) clarificar,
outrossim, que a
submissão do Governo Provisório às
reivindicações da revolução pode ser assegurada apenas mediante a ininterrupta
pressão do proletariado, do campesinato e das forças armadas revolucionárias,
atores estes que, com energia incessante, devem continuar impulsionando sua
organização em torno dos Sovietes de Deputados
Trabalhadores e Soldados, criados na
revolução, visando à nossa transformação em força ameaçadora do povo
revolucionário ;
D) apoiar
necessariamente o Governo Provisório em
suas atividades, tão somente nos casos em que caminhe no sentido da satisfação das
reivindicações da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário, no
quadro da revolução em curso.”
Nós,
pravdistas-bolcheviques, sujeitamos ambas essas resoluções retro-apresentadas a uma crítica
implacável.
Em
seguida, propusemos à Plenária do Soviete de Krasnoiarsk que
elucidasse seu posicionamento tanto sobre as questões a serem decididas quanto
sobre as resoluções requeridas por meio de votação das plataformas políticas
defendidas pelos candidatos que cada um dos agrupamentos estava lançando, para
serem enviados à I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia.
As
três plataformas em referência eram as seguintes :
1)
em favor do apoio incondicional ao Governo Provisório
(plataforma dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques) ;
2)
em favor do apoio condicional ao Governo Provisório (plataforma
dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), de orientação centrista);
3)
em favor da passagem do poder para as mãos dos Sovietes
(plataforma dos pravdistas-bolcheviques de Krasnoiarsk).
Essa nossa
proposta foi rejeitada pelos votos dos sociais-democratas unidos (Comissão
Inter-Distrital), mencheviques
e socialistas-revolucionários (SRs) que, nesse
momento, ainda dominavam a sessão.
O resultado final
da votação de resoluções foi o de que a resolução defendida por A. Okulov foi aprovada com 138 votos, enquanto que aquela proposta por A. Schebunin, em nome dos mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs),
alcançou, ao todo, nada mais além do que 104 votos.
Depois de
rejeitada nossa proposta em tela, ao percebermos que os representantes da
organização dos sociais-democratas
unidos (Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk
abstinham-se de uma aguda colocação principista da questão e verificarmos que,
naquele momento, não se encontravam distantes dos socialistas-revolucionários
(SRs) e mencheviques, nós, pravdistas, propusemos, através de Sverdlov, que a Plenária do Soviete tomasse uma
decisão sobre a necessidade de serem eleitos os deputados da I Conferência
dos Sovietes de Toda a Rússia por todo o Soviete em seu conjunto – e não precisamente segundo o modo proposto pelos
mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs) para a realização de tal ato,
i.e. eleitos com base no número de participantes presentes em cada uma das
correntes.
Sverdlov apresentou essa
nossa nova proposta porque, na hipótese de ser aprovada essa última forma de
eleição referida, não ficariam os bolcheviques representados entre os deputados
eleitos, já que não haviam apresentado à Plenária nem
sequer uma resolução de sua própria autoria.
O outro motivo por
que Sverdlov
apresentou essa nova proposta deveu-se ao fato de
que tanto ele como todos nós, pravdistas, sabíamos que, a
despeito de todas as artimanhas havidas nos debates, o conjunto dos adeptos de
nosso ponto de vista já possuía, inquestionalmente, a maioria, na composição da
Plenária
do Soviete de Krasnoiarsk.
No momento
decisivo das eleições de candidatos, nossa plataforma bolchevique e nossos
candidatos reuniriam, inconstestavelmente, a maioria dos votos.
A nova proposta
formulada por Sverdlov foi colocada, então, em votação e, para
desgraça dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques, veio ela a ser
acolhida por maioria absoluta de votos.
Dando-se conta do
fiasco sofrido, mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs) declararam,
por meio de Kolosov, Kazantsev, Gurevitch, Kozlov, Schebunin, Baikalov e tantos outros, o seu abandono da sessão do Soviete, onde:
“... havia sido reprimida a voz de considerável
minoria de representantes da Democracia Revolucionária.”
Por
não desejarem avançar rumo a um escândalo - tal como então afirmaram -, os
sociais-democratas unidos
(Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk, de
linhagem centrista, propuseram aos socialistas-revolucionários (SRs) e
mencheviques que não abandonassem a sessão, no mesmo passo em que declararam
haver de ser realizada uma pausa, a fim de serem formadas sessões por frações.
Posteriormente,
estas sessões foram constituídas da seguinte forma:
·
os
socialistas-revolucionários (SRs) e os mencheviques reuniram-se em uma única
grande sala;
·
nós, pravdistas, e
os sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), i.e. os centristas, em
uma outra.
Em nossa sala de
sessão, declaramos aos sociais-democratas unidos que, se votassem a favor dos
candidatos do grupo dos pravdistas, estes, que mesmo sem os votos
centristas possuíam a chance de serem eleitos por maioria de votos, reuniriam
uma maioria verdadeiramente esmagadora.
Porém, para a
realização de uma semelhante votação, os centristas exigiram de nós, pravdistas, a renúncia a que ambos os deputados fossem eleitos a partir da
maioria do Soviete e, além disso, nossa concordância em que um
candidato fosse indicado a partir da maioria e outro, a partir da minoria, i.e.
das fileiras dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques.
Depois disso, nós,
pravdistas, juntamente com o companheiro Sverdlov, reunimos nossa própria fração, em sessão específica.
Nessa instância,
decidimos acolher a proposta dos centristas relativa ao envio de deputados : um
destes seria, portanto, representativo da maioria e o outro, da minoria.
Acolhemo-la,
porém, sob a condição de que nosso candidato bolchevique pudesse retirar sua
candidatura, no momento subseqüente à sua eleição, a fim de não ter de defender
a resolução centrista, apresentada e aprovada pelos sociais-democratas unidos
(Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk, consistente na defesa
do “apoio
ao Governo Provisório « conforme o caso »”.
Nosso grupo,
repassaria, assim, a votação que haveria de obter com seu próprio candidato ao
candidato dos sociais-democratas
unidos, i.e. aos centristas, no caso em foco,
o companheiro I. Teodorovitch.
Depois de
realizada a pausa referida, abriram-se, novamente, os trabalhos da Plenária do Soviete de Krasnoiarsk, quando, então, foram aprovadas as decisões
das frações e eleitos os deputados da I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia : I. Teodorovitch, representando
a maioria, e A. Schebunin, representando a
minoria.
De modo
característico, importa assinalar aqui que a candidatura mais insuportavelmente
odiosa para os bolcheviques, i.e. a de Kolosov,
recebeu, ao todo, apenas 14 votos.
Assim, foi
encerrada, em 22 de março de 1917, na cidade de Krasnoiarsk,
uma das mais precoces discussões acerca da questão do poder.
Tanto o êxito
dessa discussão quanto o fato de ter ela desvendado, de modo inteiramente
nítido, a posição que viriam a assumir a seguir os bolcheviques foram
condicionados, indubitavelmente, pela circunstância de que nela interveio,
enquanto nosso dirigente, um líder tão provado do nosso Partido como o foi Jakob
Mikhailovitch Sverdlov.
A PARTIDA DO COMPANHEIRO SVERDLOV
Em 23 de março de
1917, nós, membros do grupo pravdista de Krasnoiarsk, reunimo-nos
na estação ferroviária da cidade, a fim de despedirmo-nos seja de J. M.
Sverdlov, que se encontrava de partida para Petrogrado, seja de seus parceiros de viagem, companheiros de exílio e de
Partido.
Com eles,
partiram, igualmente, os deputados eleitos para a I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia.
Em sua despedida, Sverdlov dirigiu-se, porém, a nós com um discurso, no qual transmitiu-nos sua
orientação a respeito de como nosso grupo deveria intervir :
“- Lancem todas as forças”, afirmou Sverdlov, “no trabalho de massas e nas unidades da
guarnição.”
“- Não
pretendam ainda conquistar, formalmente, a maioria no Soviete, pois a força do
nosso Partido situa-se junto às massas.
Em verdade, a
força do nosso Partido reside faticamente junto às massas e não em maiorias
parlamentares nominais.”
“Não apenas pelas informações dos jornais, mas também por
minha própria sensação, creio que, em Petrogrado, a luta não deve estar sendo
presentemente conduzida pela simples conquista da maioria nos Sovietes, senão
pela conquista de influência junto às massas.
O resultado dessa luta será que os Sovietes, enquanto
órgãos da luta revolucionária, tornar-se-ão nossos”, acrescentou.
Por isso, em
resposta a uma questão, que lhe foi formulada por um dos militantes do nosso
grupo, relativa à necessidade ou não de nós, pravdistas-bolcheviques,
tomarmos parte nas eleições municipais vindouras, Sverdlov
ressaltou que não convinha, necessariamente, ingressarmos na via do boicotismo,
visto que, para o cumprimento da tarefa de arrastarmos as massas e organizarmos
suas forças, era indispensável percorrer todos os caminhos que a prática
revolucionária nos propiciasse, nas localidades :
“- Se as eleições municipais prestarem-se ao
atingimento desse objetivo, vocês deverão evidentemente participar delas”, “ afirmou.
Logo após a sua
partida, mantendo-nos fiéis à instrução do companheiro Sverdlov, todos nós, agindo enquanto grupo então ainda pequeno dos pravdistas de
Krasnoiarsk, começamos nosso trabalho, em consonância com esse espírito de
intervenção.
E, dentro de pouco
tempo, conquistamos, efetiva e concretamente, incontestável influência
preponderante junto aos trabalhadores da cidade e soldados da guarnição de Krasnoiarsk.
__________________
Julguei que essas
linhas de recordação, versando sobre os primeiros dias da primeira Revolução de 1917, na Sibéria, e a participação em seu seio de Jakob
Mikhailovitch Sverdlov, deviam ser imprescindivelmente submetidas à redação.
Elas constituem um
memorial de reconhecimento, dedicado a um dos melhores filhos e líderes de
nossa geração bolchevique.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. SHUMIATSKY, BORIS Z. Vosvraschenie
Tcherez G. Krasnoiarsk iz Ssylki t. Y. M. Sverdlov (O Regresso do Companheiro
J. M. Sverdlov do Exílio pela Cidade de Krasnoiarsk), in : Yakov
Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch
Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel
TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.),
Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 115 e s.
[2] Cf. STALIN,
IOSSIP VISSARIANOVITCH DJUGASHVILI. Trotskizm ili Leninizm? (Trotskysmo ou
Leninismo?)(19.11.1924), in : J. V. Stalin Werke (Obras de J. V. Stalin),
Dortmund, 1976, Parte 2: Partia i
Podgotovka Oktiabria(O Partido e a Preparação do Outubro), Vol. 6, pp. 333 e s
[3] Nessa altura de sua
exposição Boris Shumiatsky assinala o seguinte : “O companheiro I.
Belopolsky foi assassinado pelas mãos dos carrascos de Koltchak, em
1918, na cidade de Krasnoiarsk.”