JAMES PETRAS

SOBRE O MANIFESTO COMUNISTA

 

MARÇO DE 1998

Texto de Autoria de James Petras extraído de

"The Manifesto's Strength and Flaws," que foi parte do

“Simpósio sobre a Relevância do Marxismo no 150° aniversário do Manifesto Comunista”,

tendo sido publicado, pela primeira vez, em New Politics,

no inverno de 1998 : Louis Proyect,

disponível publicamente, no original em língua inglesa, em

http://www.rebelion.org/petras/english/cm170102.htm

 

Compilação e tradução em língua portuguesa

de Portau Schmidt von Köln

 

Para uma Crítica ao Presente Texto Dirigido

« Contra o Manifesto Comunista de Marx e Engels »

Remeto o leitor à leitura de meu  

“A Enfermidade Gramsciana

no Movimento Trotskysta Contemporâneo

e nas Lutas de Emancipação do Proletariado

Polêmica Trotsky e Gramsci – Gramsci e Trotsky

O SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana de

Atualização, Correção e Superação do Marxismo

(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)”

http://www.scientific-socialism.de/SUCAPIII.htm

 

 

“A seqüência da expansão capitalista, a destruição dos vínculos tradicionais e a integração global foi, segundo Marx, o processo de criação de uma classe trabalhadora unificada, consciente de seus interesses de classe e ligada através de fronteiras nacionais. Sua cadeia de raciocínio carece de um entendimento claro acerca da importância das tradições e dos vínculos sociais que precedem o capitalismo, desempenhada na criação de solidariedade social para confrontar o capitalismo e sustentar a consciência de classe.

 

Quando Marx descreve a burguesia enquanto redutora das relações humanas a “nexos de pagamento à vista”, tal qual um prelúdio ao desenvolvimento da consciência de classe, ele encontra-se essencialmente descrevendo a condição da classe trabalhadora dos EUA – provavelmente a menos desejosa e hábil a identificar sua fonte de exploração quanto mais a luta contra essa última. O despir das velhas crenças – que Marx e Engels denominaram, lamentavelmente, de “sentimentalismo filistino” – inclui o sentido de comunidade e não necessariamente a crença em um “superior natural”.

 

Assim, a admissão de que “a insegurança e a agitação duradouras” que os autores do Manifesto associam ao “revolucionamento dos meios de produção” do capital não necessariamente “obriga (o homem) a afrontar com sentidos sóbrios suas condições reais de vida e suas relações com sua espécie.” Na realidade, os processos econômicos estão tendo os efeitos opostos no aprofundamento da reação, atomizando o trabalho, estimulando a guerra étnica e alimentando um vasto vapor de produção econômica através da América Latina, da África e da Ex-URSS, bem como em outros lugares.

 

Assim, a centralidade da “tradição”, da cultura e da comunidade no definir a formação da consciência de classe encontra-se perdida diante da verve de Marx e Engels e de sua celebração acrítica do potencial revolucionário do desenvolvimento das forças de produção.

 

Similarmente, o asselvajamento da força de trabalho do Terceiro Mundo, processando-se sob a égide da internacionalização do capital, não conduziu a maior consciência de classe ou a comportamento “civilizado”.

Um olhar para as zonas livres de comércio haveria de dissuadir qualquer um dessa noção. Pelo contrário, isso rompeu laços de classe e promoveu maior reverência e servilidade.

 

A globalização burguesa não criou “um mundo segundo a sua imagem”, tal como Marx e Engels alegaram. Hoje, essas coisas são “pietismos sentimentais”, impressos nos folhetos de propaganda das relações públicas do Banco Mundial, trompeteando a “modernização” do Terceiro Mundo.

 

Sua falta de um sentido de consciência de classe diretamente relacionada com os produtores e não derivada do processo capitalista de produção esclarece as dificuldades que muitos “marxistas” possuem de criar uma alternativa ao capitalismo. Hoje, os capitalistas não “conclamam à existência os homens que manejarão as armas” para assestarem um golpe mortal ao capitalismo. Criam milhões de trabalhadores atemorizados, incertos e temporários, ligados ao nexo do pagamento à vista. Para tornar-se marxista, no sentido da realização dos objetivos do Manifesto Comunista, é necessário rejeitar as falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia. Para mover-se rumo à ação da classe trabalhadora, a concepção de Marx e Engels tem de ser sujeitada à crítica mais ácida.

 

Onde Marx e Engels dizem que “a consciência do homem modifica-se com cada uma das modificações havidas nas condições de sua material existência, em suas relações sociais em sua vida social”, as mudanças que o capitalismo produziu minaram a construção de uma consciência revolucionária, em todos os pontos. A noção de que a burguesia revoluciona a produção através da competição e, no curso, “força” os trabalhadores a “confrontarem” suas condições e, subseqüentemente, a agregarem-se conjuntamente, é falsa, em todas as contas.

 

A mudança mais importante não é o revolucionamento da produção, mas sim a transformação das relações políticas e sociais, por todas as partes do mundo, de um modo em que se mina a possibilidade de “reconhecimento material de proletários.”

 

Para falar do Manifesto hoje, é preciso mover-se da brilhante análise econômica para as conclusões revolucionárias, construindo uma nova teoria da ação revolucionária.”

 

ORIGINAL EM LÍNGUA INGLESA

 

JAMES PETRAS ON THE COMMUNIST MANIFESTO

 

MARCH 1998

 

http://www.rebelion.org/petras/english/cm170102.htm

 

The sequence of capitalist expansion, destruction of traditional bonds and global integration was, according to Marx, the process of creating a unified working class, conscious of its class interests and linked across national boundaries. His chain of reasoning lacks a clear understanding of the importance traditions and social bonds preceding capitalism played in creating social solidarity for confronting capitalism and sustaining class consciousness.

 

When Marx describes the bourgeoisie as reducing human relations to the "cash nexus" as a prelude to the development of class consciousness, he is essentially describing the condition of the U.S. working class--probably the least willing and able to identify its source of exploitation let alone struggle against it. The stripping of older beliefs--what Marx and Engels unfortunately called "philistine sentimentalism"--includes the sense of community and not necessarily belief in a "natural superior."

 

Thus the assumption that the "everlasting insecurity and agitation" that the Manifesto's authors associate with capital's "revolutionizing of the means of production" does not necessarily "compel [man] to face with sober senses, his real conditions of life and his relations with his kind." In fact, economic processes are having the opposite effects in deepening reaction, atomizing labor, stimulating ethnic warfare and undermining a vast swath of economic production throughout Latin America, Africa, the ex-USSR and elsewhere.

 

Thus the centrality of "tradition" and culture and community in defining the formation of class consciousness is lost before Marx and Engels' sweeping and uncritical celebration of the revolutionary potential of the development of the forces of production.

 

Similarly, the savaging of the Third World labor force occurring under the aegis of the internationalization of capital has not led to greater class consciousness or "civilized" behavior. One look at free trade zones should dissuade anyone of that notion. Instead, it has broken class ties and fostered greater deference and servility.

 

Bourgeois globalization has not created "a world in its own image" as Marx and Engels argued. Today these are the "sentimental pieties" printed out in World Bank public relations handouts trumpeting the "modernization" of the Third World.

 

Their lack of a sense of class consciousness directly related to the producers and not derived from the capitalist process of production explains the difficulties many "Marxists" have in creating an alternative to capitalism. Today capitalists don't "call into existence the men who will wield the weapons" to deal a death blow to capitalism. They create millions of frightened, uncertain, temporary workers, tied to the cash nexus. To become a Marxist in the sense of realizing the goals of the Manifesto, one must reject Marx and Engels' false assumptions about the "revolutionary role" of the bourgeoisie. To move toward working class action, their conception of the transformation of workers into a revolutionary class must be subjected to

the harshest criticism.

 

Where Marx and Engels say that "man's consciousness changes with every change in the conditions of his material existence, in his social relations and in his social life" the changes that capitalism has wrought have undermined the construction of a revolutionary consciousness at every point. The notion that the bourgeoisie revolutionizes production through competition and in the course "forces" workers to "confront" their conditions and subsequently join together is false on all counts. The most important change is not the revolutionizing of production, but the transformation of political and social relations throughout the world in a fashion that undermines the possibility of "material recognition of proletarians."

 

To speak of the Manifesto today, one must move from the brilliant economic analysis to the revolutionary conclusions by constructing a new theory of revolutionary action.

 

The passage above appears in James Petras' article "The Manifesto's Strength and Flaws," which is part of a symposium on the relevance of Marxism on the 150th anniversary of the Communist Manifesto published in New Politics, Winter 1998 Louis Proyect

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

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