JACQUES BIDET & MICHAEL LÖWY,
DOIS LEAIS EPÍGONOS DE GRAMSCI E LUKÁCS
NA CONSTRUÇÃO DO META - MARXISMO:
DOUTRINA METAFÍSICA DO “MARXISMO DO ALÉM”
SUA
DEFESA DA SUBVERSÃO GRAMSCIANA NA QUESTÃO “QUE FAZER DO CAPITAL?”,
SUA
FARSANTE JUSTIFICAÇÃO DO IDEALISMO VOLUNTARISTA-SUBJETIVISTA DE GRAMSCI
COMO
FORMA DE APOIO AO GRITO DE GUERRA LUKÁCSIANO : “GRAMSCI ERA O MELHOR ENTRE NÓS”
Texto de
Autoria de
Portau Schmidt
von Köln
Extraído
de
A
Enfermidade Gramsciana
no Movimento
Trotskysta Contemporâneo
e nas
Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica
Trotsky e Gramsci : Gramsci e Trotsky
O SU-QI e a
Corrente Franco-Gramsciana
de Atualização,
Correção
e Superação do
Marxismo
(O Meta-Marxismo
de Actuel Marx)
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Anexo
Dedicado à Compreensão do Presente Capítulo III :
Em sua Luta sem Quartel contra Trotsky e a Revolução Permanente
“No Nr. 6 de 1° de março de 1920
da revista “Comunismo”,
encontra-se um artigo do comp.
György Lukács,
intitulado: “Sobre a Questão do
Parlamentarismo”...
O artigo de Lukács é uma artigo
muito radical e muito ruim.
O marxismo nele contido é o
marxismo de palavras vazias.
A diferenciação entre tática
“defensiva” e tática “ofensiva” é puramente sofística.
Falta uma análise concreta de situações
históricas inteiramente determinadas.
O mais essencial, i.e. a
necessidade de conquistar e aprender a conquistar
todos os domínios de trabalho e
instituições,
através das quais a burguesia
exerce sua influência sobre as massas etc.,
permanece desconsiderado.”
Cf. LENIN, VLADIMIR
ILICHT ULIANOV[1]
“Qua ratione vhiskeum tam copiose
bibere assuefactus est?
De que modo você se acostumou a beber whisky tão amplamente assim?
Explicabo tibi: imprimis cum aqua,
postea sine aqua, denique sicut aquam.
Vou-lhe explicar: de início, com água, a seguir, sem água e, por fim, como
água.”
Cf. VITA LATINA[2]
O surgimento da corrente doutrinária meta-marxista franco-gramsciana de Actuel
Marx é um fenomêno originariamente relacionado com a produção teórica
de certos intelectuais catedráticos franceses, vinculados, antes de tudo, à Universidade
Sorbonne de Paris e ao Conselho Nacional da Pesquisa Científica da
França (CNRS), advindos do Partido Comunista Francês (PCF).
Essa é a razão pela qual é devido afirmar tratar-se tal corrente de um
fênomeno intelectual característico da intelligentsia marxiste
académico-sorbonnarde da França de nossos dias.
Para o fomento e a propagação mundial do meta-marxismo franco-gramsciano,
i.e. da ambição de correção, completação, atualização, e, finalmente, superação
do marxismo, através do meta-marxismo ou marxismo-do-além, criou-se,
nesse contexto, a Revista Actuel Marx, em 1986, por iniciativa
de Jacques
Texier e Jacques Bidet, contando seu Comitê de Redação com os
membros do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI), Michael
Löwy e Catherine Samary.
Sob a direção de Jacques Texier e Jacques
Bidet (literalmente : sous la direction de Jacques Texier et
Jacques Bidet), passou a ser editada a coleção de livros Actuel
Marx Confrontation, em concurso com a Universidade de Paris X –
Nanterre (Sorbonne) e o Istituto Italiano per gli Studi Filosofici.
A estruturação ideológica da corrente doutrinária em exame, impulsionadora da
mais profunda desnaturação do marxismo, sob a máscara de uma interpretação
científico-catedrática atualizadora da doutrina de Marx e Engels,
respalda-se, historicamente, nas principais publicações de Jacques Texier acerca de Antonio
Gramsci, dadas ao público já a partir dos anos 60, intituladas “Antonio
Gramsci”, de 1966, “Gramsci,
o Teórico das Super-Estruturas”, de 1968[3], bem como nos livros de Jacques
Bidet, intitulados "Que Fazer do Capital ? Materiais
para uma Refundação", de 1985, e "Teoria da Modernidade, Seguida de Marx e o Mercado",
de 1990[4].
O meta-marxismo franco-gramsciano de Actuel Marx, fundado, em sentido
lógico-doutrinário, no revisionismo gramsciano do marxismo, iria ao longo de
toda a década de 90, aproximar, influenciar, envolver e corromper, teórica e
politicamente, marcada e progressivamente, os mais expressivos teóricos
trotskystas da Ligue Communiste Révolutionnaire (LCR), seção francesa do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional,
e, finalmente, a própria direção do SU-QI.
Assim, é correto afirmar que os mais pronunciados ideólogos meta-marxistas
franco-gramscianos de Actuel Marx, i.e. os mais
representativos atualizadores meta-marxistas, em sentido do franco-gramscismo, Jacques
Texier e Jacques Bidet, cristalizam, presentemente, em seus textos as
idéias essenciais, estruturadoras de todo o movimento político-intelectual,
impulsionado ao longo dos últimos anos e ainda nos dias de hoje, que conduziu e
conduz à crescente capitulação da direção do SU-QI à ideologia de
correção e superação gramsciana do marxismo, i.e. à sua atualização em sentido
meta-marxista ou pós-moderno, tal como os próprios ideólogos dessa corrente
doutrinária peremptoriamente a afirmam e publicamente a reivindicam.
Sobre a vertente temática, verifiquemos, pois, como Michael Löwy, um dos
mais acreditados dirigentes “trotskystas” do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional (SU-QI), inteiramente prostado
perante o meta-marxismo franco-gramiscista de Jacques Texier e Jacques Bidet, pronuncia-se,
de modo inteiramente apologético, adulador, místico, desonesto, infundado,
estapafúrdio e lisonjeador, sobre “Antonio Gramsci : O Pensador Heterodoxo”,
propalando, assim, inauditamente, o carbúnculo gramsciano no seio das lutas
contemporâneas de emancipação do proletariado, dissimulando, feito uma doença
secreta idealista-subjetivista, metafísica-voluntarista, o repúdio implacável
de Gramsci
ao materialismo histórico-dialético, tal como defendidos por Marx,
Engels, Lenin e Trotsky, para destacar, de modo deslocado, retorcido,
embrulhão e unilateral, simplesmente os contrastes existentes entre as posições
inteiramente falsas de Gramsci e um suposto, fantástico,
aleatório e genérico-abstrato “marxismo
positivista-estruturalista-cientifista-naturalista-determinista-mecanicista”, reivindicado,
a uma só vez e a uma só voz, tanto por Plekhanov e Kautsky, como por Bukharin
e Stalin, tanto por Treves e Turati, como igualmente por
Togliatti
e Althusser ... no quadro de uma polêmica aporética, travada exclusivamente
entre decaídos revisionistas do marxismo revolucionário.
Sob a pena reputadamente doutoral de Löwy, o fiel apologista de Stalin,
Antonio
Gramsci, surge mesclado com o stalinista reciclado, György
Lukács e indiferentemente embaralhado com o ultra-esquerdista
incorrigivelmente sectário – porém rompido não apenas com o stalinismo, senão
também com o trotskysmo – Karl Korsch, em um único balaio de
gatos. Se não vejamos :
”Entre as várias razões que estimularam a recepção de Gramsci no Brasil a partir dos anos 60, uma das mais importantes
foi sem dúvida o desejo de levantar a chapa de chumbo do positivismo, que
pesava com várias toneladas não só sobre a cultura "republicana"
brasileira desde o fim do século 19, mas também sobre a cultura política da
esquerda marxista.
Mais conjunturalmente, se tratava de encontrar pontos de apoio
político-filosóficos para resistir à
onda de marxo-positivismo estruturalista promovida por Althusser e seus discípulos, que vinha tendo grande impacto na
França e no Brasil. É nesse contexto que vários pensadores marxistas
brasileiros -- entre os quais Carlos
Nelson Coutinho tem um papel pioneiro -- vão começar a introduzir o
pensamento de Gramsci no Brasil,
traduzindo suas obras e utilizando seus conceitos para interpretar a realidade
brasileira.
A obra de Antonio Gramsci
representa, com efeito, uma das tentativas mais radicais de libertar o marxismo da herança
cientificista e positivista que predominou na versão "ortodoxa", tanto da Segunda Internacional (Plekhanov,
Kautsky) como da Terceira (Bukharin, Stalin).
Na obra de juventude de Gramsci
(1916-19) a referência ao idealismo
hegeliano de Croce e Labriola ou ao voluntarismo ético de Bergson e Sorel é
essencialmente um meio para lutar contra a ortodoxia "científica" e o
determinismo economicista dos representantes oficiais do marxismo à cabeça do
movimento socialista italiano: Claudio
Treves e Filippo Turati.
Esse "bergsonismo" de Gramsci,
para citar um termo ambíguo utilizado com frequência por seus adversários positivistas,
será progressivamente superado ("aufgehoben") no curso de sua
evolução política e filosófica como dirigente comunista italiano.
O famoso artigo de 1917, celebrando a insurreição de outubro como "uma Revolução contra O
Capital", deve também ser visto nesse contexto, isto é, como uma
tentativa de romper com o que Gramsci
chamava "as escórias positivistas e
naturalistas" do marxismo.
Encarcerado pela polícia fascista em 1926, Gramsci
vai redigir na prisão, no curso dos anos 1929-35, uma série de notas sobre
temas filosóficos, políticos e culturais que constituem um dos pontos altos na história do pensamento crítico no século 20.
Ao definir o marxismo
como filosofia da práxis e como um método ao mesmo tempo radicalmente humanista
e radicalmente historicista, ele se situa num plano infinitamente superior ao "diamat" (materialismo
dialético) soviético e suas inúmeras tentativas de "aplicação".
Isso também se
traduz, no plano político, por um "esfriamento", no curso dos anos
30, das relações entre Gramsci
encarcerado e a direção do Partido
Comunista Italiano (Palmiro Togliatti).
O historicismo radical implica, antes de tudo, a negação de qualquer tentativa de interpretar a realidade social
segundo o método materialista científico-natural, buscando descobrir
"leis naturais" da sociedade que permitam "prever
cientificamente" o curso dos acontecimentos.
Ele exige também que
o materialismo histórico seja aplicado a si mesmo, definindo assim seus
próprios limites histórico-sociais. Segundo Gramsci, compreender a historicidade do marxismo significa
reconhecer que ele pode -- ou melhor, deve -- ser superado pelo desenvolvimento
histórico, com a passagem do reino da necessidade ao reino da liberdade, da
sociedade divida em classes à sociedade (comunista) sem classes. Evidentemente,
não é possível dizer, sem cair no utopismo, qual será o conteúdo dessa nova
forma de pensamento.
Isso também
significa, inversamente, que, enquanto vivemos num mundo dominado pelo
capitalismo e pelas classes exploradoras, o marxismo continua sendo a forma
mais avançada de ação/interpretação social.
Polemizando contra o historicismo, Louis
Althusser insistia que Marx era "um homem de ciência como os
outros", comparável, em seu terreno, a Lavoisier ou Galileu. Sem o dizer
de forma explícita, ele se opunha diretamente a uma tese de Gramsci, que escrevia: "Graziadei
[...] coloca Marx como unidade em uma série de grandes cientistas. Erro
fundamental: nenhum dos outros produziu uma concepção original e integral do
mundo".
Essa visão do mundo,
a filosofia da práxis, não pode ser decomposta em uma ciência positiva de um
lado e uma ética do outro: ela supera, em uma síntese dialética, a oposição
tradicional entre "fatos" e "valores", ser e dever-ser,
conhecimento e ação, teoria e prática.
Na sua tentativa de reconstrução do marxismo e do comunismo, Gramsci submete a uma crítica radical a
doutrina predominante na Terceira Internacional, que tem uma de suas
manifestações mais inteligentes no livro de Nikolai Bukharin sobre o materialismo histórico, o Manual Popular de Sociologia Marxista
(1922).
Trata-se, para o
autor dos Cadernos, de uma obra totalmente prisioneira de um conceito de
ciência copiado das ciências naturais -- segundo o princípio fixado pelo
positivismo de que estas são a única forma possível de ciência. O resultado é
que a compreensão de Bukharin da
história não é dialética, mas inspirada por um "chato e vulgar
evolucionismo" que pretende fazer "previsões científicas"
análogas às que buscam as "ciências exatas".
É interessante observar que alguns anos antes Georg Lukács havia criticado o manual de Bukharin em termos bastante semelhantes na revista Archiv für die Geschichte des Sozialismus
und der Arbeiterbewegung (1925).
É muito pouco
provável que Gramsci tivesse lido
esse ensaio: simplesmente os dois partilhavam uma mesma orientação filosófica,
historicista/dialética, humanista revolucionária e antipositivista, da qual
participavam também outros pensadores marxistas como Karl Korsch ou -- desconhecido na Europa -- o peruano José Carlos Mariátegui.
Gramsci praticamente não conhecia os
trabalhos de Lukács; e este último
só descobriu o marxista italiano a partir dos anos 60.
Mas, numa entrevista
de julho de 1971 -- pouco antes de sua morte -- para a revista inglesa New Left Review, o filósofo húngaro
reconhece que ele, Karl Korsch e Antonio Gramsci haviam tentado lutar,
cada um à sua maneira, contra o positivismo e o mecanicismo que o movimento
comunista havia herdado da Segunda Internacional.
Lukács acrescenta o
seguinte comentário retrospectivo: "Gramsci
era o melhor entre nós".”[5]
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A
FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO
PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU –
BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS
[1] Vgl. LENIN,
VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Kommunism. Jurnal Kommunistitcheskovo
Internatsionala dlia Stran Iugo-Vosstotchnoi Evropy na Nemetskom Iazyke. (Comunismo.
Jornal da Internacional Comunista para os Países da Europa do Sudeste em Língua
Alemã), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou
: GIPL, 1961, Vol. 41, p. 135.
[2] VITA
[3] Acerca do tema, vide, mais precisamente, TEXIER, JACQUES. Antonio Gramsci, Paris : Seghers, 1966, pp. 187 e
s.; IDEM. Sur le Concept de la
Société Civile. Gramsci Théoricien des Superstructures, in : La Pensée, Paris,
1968, Nr. 139, pp. 35 e s.; IDEM.
Gramsci : Nécessité et Créativité Historique, in : La Nouvelle Critique, Paris,
1973, Nr. 69, pp. 61 e s.; IDEM.
Gramsci Sort-Il du Purgatoire ou Va-t-il en Enfer ?, in : ibidem, 1974, Nr. 76,
pp. 33 e s.; IDEM. La Grande
Défiguration d’Antonio Gramsci, in : La France Nouvelle, Paris, 1.484, pp. 27 e
s.; IDEM. Gramsci. La Philosophie et
la Politique dans le Texte, in : La Pensée, Paris, 1975, Nr. 181, pp. 116 e s.;
IDEM. Gramsci, Togliatti et
d’Iguanodon. A Propos du Tome I des Ecrits Politiques d’A. Gramsci, in :La
Nouvelle Critique, Paris, 1975, Nr. 81, pp. 13 e s.; IDEM. La Spécificité du Matérialisme de Marx et la Critique du
Communisme Réformateur in: Materialismes. Raison Présente, Paris, 1978, Nr. 47,
pp. 85 e s.; IDEM. Rationalité selon
la Fin et Rationalité selon la Valeur dans Les Cahiers de la Prison, in :
Actuel Marx, Paris, 1988, Nr. 4, pp. 97 e s.; IDEM. Sur le Sens de „Société Civile“ chez Gramsci, in : Actuel
Marx, Paris, 1989, Nr. 5, pp. 50 e s.
[4] Nesse sentido, vide BIDET, JACQUES. Que Faire du Capital ? Matériaux pour une Refondation, Paris : Klincksieck, 1985, pp. 7 e s.; IDEM. Théorie de la Modernité. Suivi de Marx et le Marché, Paris : PUF, 1990, pp. 15 e s. No ano passado, surgiu, ainda, o seguinte livro de BIDET, JACQUES. Théorie Générale du Droit, de L’Economie et de la Politique. Actuel Marx Confrontation, Paris : PUF, 1999, pp. 15 e s.
[5] Cf. LÖWY, MICHAEL. Antonio
Gramsci : O Pensador Heterodoxo, in : Centro de Mídia Independente Brasil, http://www.midiaindependente.org/pt/blue//2003/05/255549.shtml,
29 de Maio de 2003.