CAPÍTULO II.
OS DIRIGENTES DO SU-QI EM SUA
COLABORAÇÃO COM O META-MARXISMO
FRANCO-GRAMSCIANO DE ACTUEL
MARX
Texto de Autoria de
Portau Schmidt von
Köln
Emil Asturig von
München
A Enfermidade Gramsciana
no Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica Trotsky e Gramsci :
Gramsci e Trotsky
de Atualização, Correção
e Superação do Marxismo
(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)
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As bases do colaboracionismo da direção do SU-QI com o meta-marxismo
franco-gramsciano de Actuel Marx encontra suas raízes
histórico-originais mais profundas nos idos dos últimos dos anos da década de
80.
Com efeito, no quadro do XII Congresso Mundial do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional, celebrado em 1985, resultou,
definitivamente, confirmada uma nova interpretação, essencialmente revisionista,
formulada pelos principais dirigentes e intelectuais do SU-QI, acerca da
caracterização de León Trotsky, contida nas linhas finais da abertura do Programa
de Transição para a Revolução Socialista, de que a crise histórica da
humanidade se reduz à (no original russo : svoditsia
k) crise da direção revolucionária.[1]
Nos documentos do XII Congresso Mundial do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional estabeleceu-se que tal caracterização
fundamental de León Trotsky já não poderia ser colocada da mesma forma como o
foi, no curso dos anos 30.
Conceda-se aqui, pois, a palavra ao fundador da Ligue Communiste Révolutionnaire
(LCR), e mais consagrado intelectual do Secretariado Unificado
Internacional da Quarta Internacional (SU-QI) da atualidade,
Daniel Bensaïd - a quem se aludiu no presente trabalho em virtude de
seu ”pequeno
escorregão” no domínio do conceito marxista-leninista do Estado, a fim
de que esclareça ao leitor ele mesmo, com suas próprias palavras, em que medida
efetivamente tal caracterização de Trotsky haveria de ser colocada de
maneira distinta.
Acerca do tema, Bensaïd escreve da seguinte forma em seu artigo intitulado 60
Anos de IV Internacional, publicado nas colunas da Revista INPREKORR, órgão
oficial do SU-QI, em janeiro-fevereiro de 1999 :
„A IV
Internacional foi construída com base na idéia de que a crise da humanidade se
reduziria à crise da direção revolucionária.
Essa idéia era
correta, em certo sentido e em um certo contexto(p. 19)...
Uma questão
coloca-se, tanto antes como depois e de maneira urgente :
Se a crise da
humanidade desde meio-século se reduz à crise da direção, porque não foi
possível resolvê-la, apesar de toda a nossa boa vontade ?
Nos documentos
de preparação do XII Congresso Mundial de 1985, sublinhou-se que essa questão
não pode ser mais colocada da mesma forma, como o foi no curso da década de 30.
Ela não se
reduz à uma crise da vanguarda, não se reduz à substituição necessária das
direções tradicionais falidas, por um fresco substituto.
Na ordem do
dia, está colocada uma reorganização social, sindical, política do movimento
dos trabalhadores e de seus aliados, em nível planetário. ...
A IV
Internacional pode representar um instrumento útil, sem que ela possa se
considerar, futuramente, a alternativa natural para o stalinismo falido e para
a social-democracia(p.20)“[2]
Sem saber dizer ao que se reduz a crise da humanidade, nos dias que correm,
Daniel
Bensaïd declara, peremptoriamente, uma coisa que a direção do SU-QI
reputa saber ao certo : „Ela (i.e. a crise da humanidade) não se
reduz à uma crise da vanguarda, não se reduz à substituição necessária das
direções tradicionais falidas, por um fresco substituto.“
Apesar dessa crassa insuficiência - tal como diria Michaël
Löwy em um caso desses – de não se informar o leitor ao que se reduz,
então, a crise da humanidade nos dias de hoje -, não há, de maneira alguma,
porque esmorecer, pois o preclaro professor sorbonnard, conhecido por seu pequeno
escorregão e pelo seu deslocamento de sentidos (glissements de
mot, deplacement de sens), assinala, explicitamente : „na ordem do dia, está colocada uma
reorganização social, sindical e política do movimento dos trabalhadores e de
seus aliados, em nível planetário“ !
De toda sorte, cumpre precisar, literalmente, o que a direção do SU-QI
proclamou, solenemente, em seu XII Congresso Mundial do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional acerca desse tema, a fim de evitar-se
novos escorregões de palavras, muito caros ao método teórico-operacional de Daniel
Bensaïd :
„Enquanto
eventos de dimensão internacional permanecerem ausentes, eventos que possam reverter,
essencialmente, as relações de forças entre as classes e determinar uma nova
conformação geral das forças, a recomposição (no original alemão :
Neuzusammensetzung) do movimento internacional dos trabalhadores continuará
ainda lenta, desigual e profundamente diferenciada.
Agora, não é
nem o momento para uma proclamação abstrata de uma internacional de massas nem
para uma tentativa de encurtamento qualquer do caminho nessa direção.
Situamo-nos
apenas no início de profundas e duradouras transformações no movimento
operário.
Temos de
circundá-las, na medida em que combinamos a construção da IV Internacional, tal
como ela existe, com a colaboração (no original alemão : Zusammenarbeit)
realizada juntamente com as forças de vanguarda, que se encontram em desenvolvimento
em diversos países e continentes.“[3]
Na medida em que, no XII Congresso Mundial do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional, declarou-se, abertamente, a condição
de que, permanecendo ausentes eventos que pudessem reverter as relações de
forças entre as classes, determinando uma reconformação de forças entre as
classes, a recomposição do movimento internacional dos trabalhadores
permaneceria lenta, desigual e profundamente diferenciada - devendo o SU-QI,
diante desse cenário, passar a combinar a construção da IV
Internacional com a cooperação realizada com as forças de vanguarda, em
diversos países e continentes -, sua abertura para o processo de „reorganização social, sindical, política do
movimento dos trabalhadores e de seus aliados, em nível planetário“, tal
como assinala Bensaïd, tornara-se, solenemente, legitimado.
Desde então, o SU-QI contemplando a possibilidade de intervir na recomposição
do movimento dos trabalhadores e de seus aliados passou a combinar as tarefas
de construção
da IV Internacional com as de co-laboração – literalmente em
alemão Zusammen-arbeit – com as forças por ele consideradas de
vanguarda, em desenvolvimento em diversos países, a saber : trotskystas não
sectários e anarquistas, gramscianos, socialistas de esquerda e comunistas
desestalinizados, feministas, ecologistas, lutadores do movimento anti-racistas
e do movimento sem-terra, organizações não-governamentais (ONGs) que lutam
pelos direitos humanos ou pela solidariedade com o Terceiro Mundo.
Desse processo de combinação de construção da IV Internacional com colaboração
com as forças de vanguarda, surgiu, da maneira mais relevante e
incontrastável, o colaboracionismo do SU-QI com o meta-marxismo
franco-gramsciano de Actuel Marx, cuja intensificação
culminou, no ano 2000, com a fundação dos Espaces Marx e Espaces Marx Réseau
International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde.
A crítica teórico-doutrinária, a análise político-prática, o exame
estratégico-programático, da ideologia gramsciana surgiu, em
verdade, complacentemente recepcionada e crescentemente admitida entre os mais
expressivos doutrinadores do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI), já a partir da inauguração da trajetória do “caminho
simétrico” ao Euro-Comunismo, nos anos 70, sendo,
a seguir, progressivamente consagrada, de maneira coniventemente crítica,
devido ao colaboracionismo “trotskysta-gramsciano”, empreendido
pelos principais dirigentes da Ligue Communiste Révolutionnaire (LCR), seção
francesa do SU-QI com os expoentes do meta-marxismo franco-gramsciano de Actuel
Marx, a partir de 1986.[4][5]
Esse processo de colaboracionismo “trotskysta-gramsciano” contou, além
disso, com o mais efusivo apoio dos mais renomados intelectuais de Bandiera
Rossa, seção italiana do SU-QI, aduladores da ideologia
gramsciana no quadro do movimento trotskystas e das lutas de
emancipação do proletariado, nos dias de hoje.[6]
O surgimento da corrente doutrinária meta-marxista franco-gramsciana de
Actuel Marx é, por sua vez, antes de tudo, um fenomêno originariamente
relacionado com a produção teórica de certos intelectuais catedráticos
franceses, vinculados, antes de tudo, à Universidade Sorbonne de Paris e ao Conselho
Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), advindos do Partido
Comunista Francês (PCF).
Portanto, trata-se de um fênomeno intelectual característico de l’ntelligence marxiste
académico-sorbonnarde da França de nossos dias.
Para o fomento e a propagação mundial do meta-marxismo, i.e. da ambição
de atualização, correção e, finalmente, superação do marxismo, em sentido
franco-gramsciano, criou-se, nesse contexto, a Revista Actuel Marx, em 1986, por iniciativa de Jacques Texier e Jacques Bidet, contando seu Comitê
de Redação, desde logo, com os membros Michaël Löwy e Catherine
Samary.
Sob a direção de Jacques
Texier e Jacques Bidet (literalmente : sous la direction de Jacques Texier
et Jacques Bidet), passou a ser editado a coleção
de livros Actuel Marx
Confrontation, em concurso com a Universidade de Paris X – Nanterre
(Sorbonne) e o Istituto Italiano per gli Studi Filosofici.
A estruturação ideológica da corrente em exame, impulsionadora da mais
profunda desnaturação do marxismo, sob a máscara de uma interpretação
científico-catedrática atualizadora da doutrina de Marx e Engels, respalda-se,
historicamente, nas principais publicações de Jacques Texier acerca de Antonio Gramsci, dadas ao público já a partir dos anos 60, intituladas “Antonio Gramsci”, de 1966, “Gramsci, o Teórico das Super-Estruturas”, de 1968, bem como nos livros de Jacques Bidet, intitulados "Que Fazer do Capital ?
Materiais para uma Refundação", de 1985,
e "Teoria da Modernidade,
Seguida de Marx e o Mercado", de 1990.[7][8]
Mais recentemente, i.e. em 1998, Jacques Texier publicou
sua obra maior de inspiração franco-gramsciana, dotada de largo fôlego,
intitulada “Revolução
e Democracia em Marx e Engels”, já referida ao
longo do presente trabalho.[9]
No Colóquio
Internacional de 17 de maio de 1990, realizado
na Universidade de Paris X –
Nanterre (Sorbonne), sob a direção de
Jacques Texier e Jacques
Bidet e a
organização de Actuel Marx
e do Istituto Italiano per gli Studi Filosofici, Jacques Bidet proclamou, solene e claramente, os princípios norteadores e
as premissas ideológicas de Actuel
Marx a serem perseguidos por todos os que
pretendessem colaborar com o impulsionamento do meta-marxismo
franco-gramscista.
Respondendo acerca da indagação O QUE É O MARXISMO ?, assinalou Jacques
Bidet, impudentemente :
“Mesmo se ele trabalhou no terreno da
filosofia e aí produziu coisas novas, notadamente no domínio da antropologia,
Marx não criou filosofia. E o marxismo não pode substituir a filosofia :
O que ele
produziu foi uma teoria, mais ou menos geral, da história.
Teoria que
atravessa linhas filosóficas diferentes que foi, a seguir, encontrada exprimida
em línguas filosóficas diversas.
Eu permaneceria
aqui no quadro da peça maior dessa enorme empresa, sua concepção de
capitalismo.
Eu tentei
mostrar que se tratava de uma teoria “parcial” da modernidade.
E, nesse
sentido, o marxismo tem, de início, a necessidade, posso dizer, de ser completado.
Quero dizer com
isso : inscrevê-lo em um meta-marxismo, no sentido de uma teoria mais larga.
É Marx mesmo que
fornece a via dessa superação quando, no início de O Capital, antes de
descrever as relações propriamente capitalistas, define as relações mais gerais
que caracterizam o mundo moderno, a saber as relações mercantis que são, como
ele o diz, os “pressupostos” do capitalismo.
Basta aqui
completar a análise.
Essas relações
mercantis supõem, com efeito, um centro,
o qual não pode ser vinculado à única lei mercantil da contratualidade
individual.
Porque no centro
do sistema contratual pode afirmar-se, contratualmente, uma vontade “substancial”,
tal como o diz Hegel.
Uma
vontade-projeto-concreto, uma vontade-plano.
Tal se
apresenta, em sua complexidade, como “o pressuposto” do sistema moderno, na
medida em que esse sistema se caracteriza pelo fato de a dominação realizar-se
através da forma contratual.
Esse pressuposto
apresenta, assim, uma dupla face e constitui o princípio de um duplo sistema de
classe.
Eis porque o
marxismo deve ser superado pelo meta-marxismo.”[10]
O professor sorbonnard da Paris
X - Nanterre, mestre especializado nos ardis,
solércias e contornos da ideologia
idealista-subjetivista gramsciana(-crociana), prossegue revelando em seu O
QUE É O MARXISMO ?, como, afinal de contas, é possível e
indispensável completar-se
e superar-se o marxismo com o meta-marxismo, sobretudo naqueles domínios em que O Capital “fracassou regularmente
em suas pretensões dialéticas”.
Conceda-se à palavra ao Monsieur
le Professeur Jacques Bidet :
“Passando da
parte ao todo, obtem-se uma visão dialética do mundo moderno.
Mostrei em um
livro precedente, de maneira bastante técnica, que O Capital de Marx
fracassou regularmente em suas pretensões dialéticas( Bidet refere-se aqui a
seu livro de 1985, intitulado "Que
Fazer do Capital ?").
Agora posso
dizer o porquê.”[11]
Profundo suspense entre os seres humanos mortais, pois será revelado o
arcano milenar que permite desvendar, à maneira gramsciana, porque, Santa
Cleopatra! - para usar-se uma expressão de Roberto Benigni -, O Capital
“fracassou regularmente em suas pretensões dialéticas”!
Monsieur le Professeur Bidet, professor sorbonnard de meta-marxismo e ciências
ocultas-gramscianas, novamente com a palavra :
“É que O Capital excluía, de
conjunto, o universal.
Ele rejeitava,
como quimera social-democráta, a universalização pela instância estatal
proposta por Hegel, a humanização das relações mercantis.
Ele permanecia
agrilhoado ao estudo da sociedade civil (no sentido hegeliano das relações
mercantis capitalistas), acerca das quais ele mostrava as contradições
insuperáveis, redobradas por um Estado à sua imagem e semelhança.
E ele reenviava
a conciliação universal para um mundo ulterior pós-mercantil.
Ora, vimos que
esse último, que é ordenado segundo um plano, incorporava um princípio de
dominação semelhante.”[12]
Jacques Bidet – e com ele seu inseparável companheiro escudeiro
meta-marxista franco-gramsciano Jacques
Texier -, situados esses ambos teóricos
defensores da „face
democrática“ de Marx contra o “marxismo de Lenin e Trotsky”, decididos opositores da planificação integral e
centralizada da vida econômico-social, efetuada pela Ditadura Revolucionária do
Proletariado, incorporadora da mais ampla e
historicamente superior Soberania
proletária, na fase de transição ao socialismo,
por considerarem essa planificação como hipoteticamente mais fetichisante do
que as relações capitalistas de mercado, Bidet e Texier, pregoeiros
ambos de uma “representação
do socialismo” enquanto sociedade mercantil-humanizada,
dotada de uma contratualidade estatal dirigente, ou seja de um Socialismo
Mercantil-Humanizado, i.e. não como uma sociedade
pós-mercantil deshumana..., informam,
então, concludentemente, quais seriam as missões teórico-doutrinárias
idealistas-subjetivistas e as tarefas político-práticas
classista-colaboracionistas do meta-marxismo
franco-gramsciano, realizadas através da “completação, correção, atualização
e superação” da doutrina de Marx e Engels:
“O meta-marxismo
é, portanto, em um sentido, um retorno a Hegel, porém, com toda a carga crítica
marxista que destruiu as ilusões hegelianas.
Trata-se de um
retôrno a uma construção dialética da modernidade, aquela que mostra como o
universal encontra-se à disposição na própria sociedade civil – e não apenas na
ameaça que sobre ela pesa.
Trata-se de uma
recusa da historicização marxista da dialética.
É a aceitação da
modernidade como coexistência da sociedade civil e do Estado, porém com o
reconhecimento, devido notadamente à obra crítica de Marx, dos princípios de
alienação, de estruturação de classes, que tanto um como outro incorporam.
O meta-marxismo
se propõe não apenas a completar o marxismo (de o integrar em um espaço teórico
mais vasto), porém também a corrigí-lo.
Ele não é
certamente um pós-marxismo, porém, seguramente, uma crítica do marxismo.”[13]
Deturpando, deformando, desnaturando, corrompendo, sistemática e
ostensivamente, o sentido e o significado da doutrina de Marx e Engels, a pretexto de completá-la, corrigí-la, atualizá-la e
superá-la, em sentido idealista-subjetivista
gramsciano, i.e. no sentido revisionista e
parasitário da tradição proletário-revolucionária marxista, essencialmente
hostil ao trotskysmo e mais refinadamente adaptada aos preconceitos
democrático-burgueses e constitucionais-parlamentares que dominam e oprimem
intensamente as massas proletárias dos países capitalistas-imperialistas, bem
como, adicionalmente, aquelas dos principais países situados na periferia do
processo de remundialização capitalista-imperialista, Jacques Bidet continua a citação em destaque, proclamando, em tom
professoral jurídico-político especializado, axiologicamente “neutro”, sem critério de classes, “em
si e por si mesmo” democrático, a partir das
prominentes cátedras da Sorbonne :
„Com efeito,
Marx, desde A Questão Judía (1843) renuncia à teoria política. Sua obra inteira
está, manifestamente, voltada em direção das perspectivas democráticas.
Ela sofre aqui,
contudo, de uma imprecisão inquietante, ou ainda, de um ponto cego.
A crítica
marxista do Estado não é apenas aquela do boa constrictor (i.e. da grande
jibóia estranguladora).
É a crítica da
própria idéia de um laço onde se arbitrem os interesses singulares, onde se
realise um acordo jurídico.
Eis porque, de
resto, são rejeitadas, todas de conjunto, enquanto pontos de localização
última, as categorias da justiça, do Direito e da política.
O comunismo do
famoso texto de Marx sobre o Programa de Gotha é uma idéia reguladora para além
de tudo isso.
Ele supõe, é
verdade, em boa lógica, uma humanidade que teria atingido o lado de lá da
raridade.
Não se pode
analisar esse comportamento conceitual de outra forma senão como uma
desconstrução imaginária da filosofia política clássica, tal como ela se
exprime com claridade em Kant.
Esse último
distingue a ordem da moral, segundo a qual os homens reconhecem mutuamente, no
infinito, sua liberdade e a ordem do Direito, que é aquela da coexistência
possível das boas vontades, dos projetos, em um mundo marcado pelo fato de que,
ao mesmo tempo em que se estimulam, limitam-se também uns ao outros.
Convém bem
reconhecer que Marx não faz senão supor o problema do Direito como resolvido.
O universo
último que ele invoca, aquele do „comunismo“, é, com efeito, caracterizado com
uma ordem da coexistência das liberdades para além de todo limite, para além
dessa raridade dos meios que comportam sempre o perigo da promoção de um
interesse contra o outro e a exigência de uma „justa“ repartição dos bens e
poderes.
Porém,
superando, assim, o Direito não somos reconduzidos à ordem kantiana da moral ?
Tudo se passa
como se o pensamento de Marx, que tanto militou pelo estabelecimento da
democracia e contribuído para a crítica da opressão política, permanecesse
suspenso nesse ponto cego, o que o torna inapto a produzir uma teoria da política.
E isso me parece
ter profundamente marcado uma certa cultura comunista indiferente à questão do
fundamento e das formas de uma ordem jurídica justa(obs.: Em primeiro lugar e
antes de tudo, Bidet – tal como Texier – refere-se aqui ao “marxismo de Lenin e
Trotsky”, tal como se pode verificar no presente trabalho a partir da citação
desses dois máximos meta-marxistas franco-gramscianos.)[14]
Apresentados ao leitor esses tesouros crítico-reflexivos do
meta-marxismo franco-gramsciano de Jacques
Bidet e Jacques Texier, cumpre destacar,
nesse passo, como esses ambos professores sorbonnards abordam a problemática da
“representação do
socialismo” enquanto sociedade mercantil-humanizada,
dotada de uma contratualidade estatal dirigente, ou seja de um Socialismo
Mercantil-Humanizado, i.e. não como uma sociedade
pós-mercantil deshumana: rubi egípcio
entre os diamantes valiosíssimos da mais desbragada defesa do conciliacionismo
de classes, postulada por Actuel
Marx, em profícua e enriquecedora colaboração
teórico-doutrinária com os expoentes doutrinários do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI), com especial
destaque para Michaël
Lowy e Daniel Bensaïd :
„Compreender-se-à
que é por um mesmo movimento que o meta-marxismo completa e corrige o marxismo,
porque é a atenção dedicada ao conceito da contratualidade que, uma vez por
todas, insere a teoria do capitalismo no conjunto mais vasto da modernidade e
restitui ao elemento político toda a sua consistência.
Chegamos assim à
questão do socialismo.
Existe aí ainda,
bem entendido, uma escolha de vocabulário que se pode discutir(obs. : Perfeito
! E, para toda boa compreensão desse aspecto léxico-semântico tocado aqui pelo professor
sorbonnard Jacques Bidet, à maneira dos Atos dos Apóstolos, remetemos o leitor
à instrutiva problemática concernente ao “pequeno escorregão” de Daniel Bensaïd
da Ditadura do Proletariado à Democracia Socialista, Cap. I do presente texto).
Porém, como o
socialismo não foi jamais realizado em lugar nenhum, o termo socialismo se
encontra disponível para designar a sociedade que queremos.
Eu não poderia
aqui enunciar senão o princípio de um procedimento.
A fraqueza de
Marx está, parece-me, em ter pensado o socialismo como um outro mundo, como um
mundo pós-mercantil.
O verdadeiro
problema, para a humanidade moderna, parece-me ser o de chegar à realização
mais alta de sua liberdade nas condições-limites que são aquelas desse mundo, marcado
por aquilo que designei como antinomia da modernidade.
A teoria
política do socialismo não tem por objeto desenhar as formas sociais de um
mundo totalmente outro, mas sim de enunciar princípios concernentes à realização humana mais alta nas formas
incontornáveis, que são aquelas do plano e do mercado.
Pois, é a partir
daí que poderão ser pensadas e realizadas as instituições da associação, os espaços de
cooperação igualitária e comunitária para além de toda contratualidade, que
serão os carros-chefes da nossa humanidade.
A teoria dos
princípios renasce atualmente, porém no quadro do pensamento liberal como
aquele de Rawls que não afronta a antinomia da modernidade, senão separa entre
uma ordem política aparentemente remetida à contratualidade central e uma ordem
econômica que se definiria pela lei natural do mercado.
Porém, a teoria
dos princípios, longe de estar ligada a essa opção liberal ou social-democráta,
tem por terreno legítimo a forma geral antinômica da modernidade que cruza o
plano e o mercado sem prioridade de um sobre o outro, nem distribuição natural
de tarefas entre um e outro.
Ele tem por
objetivo o domínio humano, livre e igual, pela multitude dos homens, sobre suas
condições de existência.
A elevação de
cada um à liberdade mais alta.
A separação
entre reformistas e revolucionários existia entre os que queriam mudar
decididamente o mundo e os que se propunham apenas melhorá-lo progressivamente.
Parece-me que a
teoria dos princípios é de natureza a renová-la, posto que ela visa a
determinar o inaceitável, o intolerável.
Ela suscita
constantemente os justos motivos da reivindicação e da revolta e, longe de
estar voltada a justificar a todo preço o consenso e a busca do consenso,
ensina, ao contrário, a discernir os limites do discurso consensual, a
discernir o momento em que o discurso se transforma em exercício de poder
através da palavra, em violência discursiva, em princípio de violência, pura e
simplesmente...
E existe
seguramente continuidade entre a abordagem marxista, fixada sobre a apropriação
social dos meios industriais de existencial e a reflexão ecológica, centrada
sobre as condições materiais últimas da vida na época moderna.
Não se trata
mais apenas da apropriação por alguns do patrimônio produtivo produzido por
todos.
Trata-se,
doravante – essa questão é, porém, inseparável da precedente – do domínio
humano sobre as próprias condições da (re)produção da vida e da sobrevida do
espaço humano.
A relação de
classes se inscreve na relação ecológica que constitui doravante o horizonte do
socialismo.
Vermelho e verde
vão juntos adiante.”[15]
Eis o prometido rubi egípcio do meta-marxismo franco-gramsciano !
Com as elocubrações do Monsieur
le Professeur Bidet, a doutrina de Marx e Engels já encontra-se servida, com uma sopa de letras ao leitor,
devidamente completada e corrigida : em vermelho, nas proposições de Marx e Engels que se demonstravam erradas, em verde, naquelas que se
demonstraram aceitáveis em face do “conceito
da contratualidade que, uma vez por todas, insere a teoria do capitalismo no
conjunto mais vasto da modernidade e restitui ao elemento político toda a sua
consistência. Chegamos assim à questão do socialismo.”
Conforme Bidet, como o socialismo
não foi jamais realizado em lugar nenhum –
sendo que o venerando mestre meta-marxista não considera como, academicamente,
válidos os, aos seus olhos, praticamente insignificantes e historicamente
imperceptíveis eventos da Commune
de Paris e da Revolução de Outubro como experiências proletárias-revolucionárias de construção
efetivamente materiais do socialismo, que instauraram fases transitórias de Ditadura Revolucionária do
Proletariado, incorporadora da mais ampla Soberania proletária – o termo socialismo
encontra-se disponível, purificado,
asseado, limpo, como a virgindade de um cálice sagrado, como a pureza da
brancura das neves, para designar a sociedade que ele e seus seguidores
aspiram.
Pergunta-se então : que socialismo é esse de que falam os
meta-marxistas franco-gramscianos de Actuel
Marx, Jacques Bidet e Jacques Texier ?
Resposta :
Baseando-se na lógica-epistêmica liberal de Immanuel Kant, John Rawls, bem como – convém acrescentar – fundando-se na lógica
discursivo-comunicacional de Jürgen
Habermas, esse seria o socialismo dos “princípios
concernentes à realização humana mais alta nas formas incontornáveis,
que são aquelas do plano e do mercado”, “sem prioridade de um sobre o outro,
nem distribuição natural de tarefas entre um e outro”, dado que ”a fraqueza
de Marx está em ter pensado o socialismo como um outro mundo, como um
mundo pós-mercantil.” [16][17][18]
Acerca dos autênticos fundamentos teóricos do meta-marxismo
franco-gramsciano de Actuel
Marx, Jacques Bidet assinala,
claramente :
“É necessário
pensar na unidade do mesmo paradigma, porém sem confusão, o sistema social real
(com as relações de dominação e os mecanismos de sua reprodução, as tendências
e as dinâmicas que o caracterizam), bem como o projeto democrático.
Diversas obras
importantes inscrevem-se, hoje, em um tal imperativo teórico. No primeiro posto
hierárquico dessas, eu situaria a magistral Teoria do Agir Comunicacional de
Habermas.
Outras são
principalmente utilizáveis para uma dessas dimensões, tal como a obra de J.
Rawls para as tarefas de um pensamento normativo, e diversos trabalhos
produzidos por Marx ou Weber para as tarefas “analíticas” (e críticas)(p. 84).
...
O
desenvolvimento efetivo e quotidiano da contratualidade pode ser definido como
uma relação “comunicacional”, no sentido pleno que lhe atribui Habermas.
A forma da
comunicação, na medida em que ela incorpora, ao mesmo tempo, fins, valores que
não são apenas para dividir, porém oferecidos à crítica pública, é a forma
mesma da existência do pressuposto, sua posição concreta.
Toda a filosofia
política pode ser definida com um esforço para daí desprender as condições. ...
Minha teoria
difere daquela de Habermas dado que eu não concebo o mercado e a organização
(burocrática) como “meios da mídia”, que configuram a razão instrumental em uma
relação de exterioridade relativamente a um terceiro termo, o mundo vivido,
porém, tal como me expliquei, como as formas mesmas da razão prática, enquanto
razão contratual, e como formas de retôrno a ela...
É por isso que
uma “teoria dos princípios” é, por si, uma coisa necessária :
a forma correta
da teoria do contrato social é aquela de uma teoria dos princípios
universalizáveis, i.e. sobre os quais se pode fundar uma ordem social legítima.
A teoria do
Estado legítimo é, assim, ao mesmo tempo, aquela também da luta legítima contra
a injustiça, no sentido da teoria ético-política da revolução.
Decorre da
grandeza de Rawls ter retomado a teoria do contrato em termos de um teoria dos
princípios, ter concebido esses princípios como aqueles da cooperação social (o
que integra a economia ao contrato) e de os ter colocado, de início, princípios
da igualdade, sendo a questão da diferença de ordem segunda, destacando que a
justiça inclui o momento da eficácia, da efetividade da vontade.
Sua fraqueza
deve-se ao imaginar-se que ele constrói aí uma simples utopia, que realizaria
de modo coerente os ideais implícitos na nossa cultura.
Na realidade –
essa é a minha tese – o discurso moderno da igualdade e da liberdade não trata
de opinião, mas de posição.
Posição pública
da medida de toda coisa social. ...
Posição
“constitucional”, no sentido forte em que a constituição (mesmo quando não tem
existência empírica explícita) é instituição(p. 97). ...
O socialismo,
vê-lo-ia, assim, definido como a instauração de uma ordem justa nos limites das
necessidades modernas da produção, compreendidas como formas de
coordenação-apropriação específica da época moderna, mercado, plano e
associação – essa última não podendo fornecer por ela mesma uma alternativa(p.
99).”[19]
Esse socialismo da
ordem justa, dos princípios do plano e do mercado, da associação e do contrato,
da igualdade e da liberdade, declara,
portanto, pretender renovar e superar, em sentido meta-marxista
franco-gramsciano, “a separação entre
reformistas e revolucionários”, dado que “a relação de classes se inscreve na relação ecológica que constitui
doravante o horizonte do socialismo”, razão pela qual erige-se, finalmente,
em Socialismo
Mercantil-Humanizado Ecológico, dotado de uma Contratualidade Estatal
Dirigente, e, portanto, não como uma sociedade
pós-mercantil deshumana – fraqueza de Marx e Engeks, Lenin e Trotsky.
Como bem pode perceber o leitor, trata-se de um projeto clara e
autenticamente idealista-subjetivista
gramsciano, equacionado agora tendo como
referência o pensamento de Immanuel
Kant, John Rawls e Jürgen Habermas, bem como
uma leitura de Georg W. F.
Hegel de péssima qualidade, semelhante aquela
empreendida pelo pensador liberal italiano idealista Benedetto Croce, inspirador do pensamento de Antonio Gramsci.
É nesse preciso sentido de profunda desnaturação, descaracterização e
corrupção da doutrina de Marx
e Engels, em sentido idealista-subjetivista gramsciano, tendo como aspiração a superação do capitalismo na forma
de um Socialismo
Mercantil-Humanizado Ecológico, dotado de uma Contratualidade Estatal
Dirigente, que Jacques Texier proclama,
com aparências de “radicalismo
democrático”, situado acima das classes sociais
em luta, de tal modo a lograr subjulgar as abordagens teóricas e políticas
empreendidas pelos dirigentes e ideólogos do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI) da atualidade :
“Minha conclusão
é a de que não se pode defender a atualidade do projeto marxista de emancipação
senão ao preço de uma radical correção que concerne à funcionalidade das
relações mercantis na fase pós-capitalista e uma revalorização que concerne à
teoria da democracia(p. 60). ...
A fim de poder
repropor um projeto socialista convincente, parece-me necessário afrontar um
problema fundamental, que é aquele relativo às formas possíveis e às condições
de realização de uma apropriação social verdadeira.
Um projeto socialista é, com efeito,
necessariamente o de uma apropriação, pelos indivíduos e grupos, das condições
materiais, culturais e políticas de sua existência social.
E a apropriação
é a desalienação de uma vida social tornada estranha aos indivíduos.
Ela deve ser
pensada como democratização radical de todos os aspectos da vida social, sendo
que essa democratização radical implica a superação do capitalismo existente e
das formas de democracia limitada que se pode tolerar.
Isso não
representa senão uma indicação geral que exige muitos aprofundamentos, mas já
se trata da indicação de uma via
alternativa que nos permite pensar e agir para além do “ou isso ... ou aquilo ...
“, em que nos querem aprisionar”(p. 62).[20]
O meta-marxismo franco-gramsciano de Actuel Marx, fundado, em
sentido lógico-doutrinário, no revisionismo gramsciano do marxismo, iria ao
longo de toda a década de 90, aproximar, influenciar, envolver e corromper,
teórica e politicamente, marcada e progressivamente, os mais expressivos
teóricos trotskystas, da Ligue
Communiste Révolutionnaire (LCR), seção
francesa do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional, e, finalmente, a própria direção do SU-QI.
Assim, é correto afirmar que os mais pronunciados ideólogos
meta-marxistas franco-gramscianos de Actuel
Marx, i.e. os mais representativos
atualizadores meta-marxistas, em estilo franco-gramsciano, Jacques Texier e Jacques
Bidet, cristalizam, presentemente, em seus
textos as idéias essenciais, estruturadoras de todo o movimento
intelectual-político, impulsionado ao longo dos últimos anos e ainda nos dias
de hoje, que conduziu e conduz à crescente capitulação da direção do SU-QI à ideologia de correção e superação gramsciana do marxismo, i.e. à sua
atualização em sentido meta-marxista ou pós-moderno, tal como os próprios
ideólogos dessa corrente doutrinária peremptoriamente a afirmam e publicamente
a reivindicam.
Cumpre verificar, adicionalmente, se é, real e doculmentalmente, justo
afirmar que os principais teóricos de Actuel Marx, e, por consegüinte,
também dos Espaces Marx e Espaces Marx
Réseau International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde –
espaços esses em que atualmente participa ativamente a direção do SU-QI
e da LCR – corrompem, desfiguram, desnaturam, vergonhosamente, a
herança revolucionária que Marx e Engels, de Lenin,
Sverdlov e Trotsky, legaram ao proletariado, ao invés de supostamente,
como sustentam falaciosamente, corrigí-la, atualizá-la, superá-la etc.
Às páginas 362 de sua mais expressiva e recente obra dedicada ao estudo da Revolução
e Democracia em Marx e Engels, o expoente do franco-gramscismo
meta-marxista de Actuel Marx, Jacques Texier, ressalta, de modo
meridianamente claro :
“Estamos no
fim do século XX e o ciclo histórico aberto pela Revolução de Outubro está
acabado.
Contudo, mesmo
em 1998, não nos acreditamos autorizados a decretar, no lugar dos povos, se
eles devem ou não recorrer à revolução violenta e, em particular, à fórmula da
revolução permanente.
Tratando-se da
Revolução Russa, pelo contrário, um elemento novo ocorreu acerca do qual
Gramsci, tal como muitos outros, jamais concebeu a existência : a bancarrota
generalizada do sistema socialista.
O evento é tão
colossal que somos obrigados a recolocar as questões que pareceriam, desde há
longo-tempo, estarem resolvidas : aquela, p.ex., da racionalidade da Revolução
de Outubro enquanto revolução socialista”.
Em nota a esse parágrafo, o principal mentor intelectual de Actuel
Marx e dos Espaces Marx assinala, então, despudoradamente, procurando
posicionar, em um primeiro momento Lenin e Gramsci contra Trotsky
:
”Encontramos nos
Cadernos do Cárcere alguns elementos que podem dar a pensar que Gramsci não se
situa longe de colocar em causa a escolha feita por Lenin e Trotsky, em outubro
de 1917 de começar na Rússia a revolução socialista. Porém, seu ataque –
extremamente violento – é dirigido contra Trotsky e a teoria da “revolução
permanente”.[21]
Depois daqui, Texier é, manifestamente, claro para não deixar dúvidas acerca
do campo teórico em que se coloca. Se não, verifique-se :
“Sem querer
sair do quadro de nossa exposição que é consagrada a Marx e Engels, e não a
Lenin e Trotsky, gostaria, contudo, de sublinhar que existe um ponto no
pensamento político de Marx e Engels que me pareceu problemático, a saber :
aquele das relações entre a fase democrática e a fase socialista na “revolução
permanente”.
Digo-o porque
considero que o socialismo é privado de sentido fora de uma expansão da
democracia, em todos os domínios da vida social e não vejo como poderia existir
um “trans-cruzamento” da democracia no socialismo nas condições de Outubro de
1917, tendo em vista as idéias defendidas por Lenin e Trotsky sobre a ditadura
do proletariado.
É o que
afirmava Rosa de Luxemburgo nas notas sobre a Revolução Russa escritas durante
o verão de 1918 e publicadas mais tarde por Paul Levi, onde ela crítica a
“teoria de Lenin-Trotsky”(ROSA LUXEMBOURG, La révolution russe, Paris,
Spartacus, s.d.)
Disso concluo,
que a Revolução de Outubro não coloca em causa a idéia de socialismo, mas sim o
marxismo de Lenin e Trotsky.”[22]
Eis aí, portanto, com quais „forças
de vanguarda, que se encontram em desenvolvimento em diversos países e
continentes“ , referidas nas declarações do XII Congresso Mundial do
Secretariado Unificado da Quarta Internacional, de 1985, decidiu-se a
direção do SU-QI empreender „colaboração“
(no original alemão : Zusammenarbeit), que combinasse „construção da IV Internacional, tal como ela existe“.[23]
Tal como é possível (des-)aprender-se com as conclusões do mais pronunciado
preceptor do franco-gramscismo meta-marxista de Actuel Marx e dos Espaces
Marx, aquilo que surge colocado em causa na idéia do socialismo é o „marxismo
de Lenin e Trotsky“, i.e. a defesa teórica e a implementação
prática da Ditadura Revolucionária do Proletariado, na forma e no conteúdo
políticos concebidos por Marx e Engels, sendo que para Jacques
Texier seria, por isso mesmo, indispensável dar-se início ao debate
acerca da racionalidade e, por consegüinte, igualmente, sobre a possível
irracionalidade da Revolução de Outubro enquanto revolução socialista.
É óbvio e ululante que Jacques Texier, em sua perspectiva
idealista-subjetivista gramsciana, rejeita, claramente, à concepção de Marx
e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky, que afirma incorporar a Ditadura
Revolucionária do Proletariado a mais ampla e incomparávelmente
superior Soberania proletária.
Nisso entretanto, procurando ludibriar, mitrar e, finalmente, empandeirar o
leitor incauto e desavisado, Jacques Texier intenta lançar Rosa
Luxemburg contra Lenin e Trotsky, em sua funesta
empresa de desnaturação, descaracterização e deformação do marxismo, bem como
da revolução proletário-socialista russa : Luxemburg surge, assim, sem qualquer
traço autenticamente marxista-engelsiano, inteiramente descomprometida com a
deflagração de revoluções violentas para a derrubada do capitalismo, bem como
plenamente desvinculada da defesa agüerrida da Ditadura Revolucionária do
Proletariado, incorporadora da mais ampla Soberania proletária.
Luxemburg é
desenhada pelo franco-gramsciano Jacques Texier, deformadamente, em
preto e branco, tal como uma social-oportunista vulgar que carrega,
eternamente, consigo, no caminho da luta pelo socialismo, a auréola santificada
da defesa de preconceitos e fórmulas de liberdade essencialmente
democrático-burguesas.
Cumpre, nesse passo, verificar, documentalmente, se Ernst Mandel e François Vercammen
– esse último o mais importante representante do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI) na atualidade -, levantam-se contra as
estapafúrdias concepções retro-elencadas de Jacques Texier, protestando,
firme e decididamente, contra a tentativa de vulgar falsificação ideológica do
papel revolucionário assumido historicamente por Rosa Luxemburg.
Como se sabe,
torna-se, nos dias de hoje, cada vez mais necessário, resgatar e defender, devidamente,
a tradição essencialmente marxista de Karl Liebknecht e Rosa Luxemburg,
comprometida, antes e acima de tudo, com a perspectiva de organização da
revolução violenta do proletariado para a edificação de sua Ditadura
Revolucionária. Esse posicionamento foi, precisamente, reconhecido e
postulado por Lenin no contexto de seu Discurso de Abertura do I Congresso do
Komintern, quando se referiu a Liebknecht e Luxemburg, enquanto os
melhores representantes da Internacional Comunista, tal como já
assinalado no presente texto.[24]
Em sua luta
contra a falsificação política da consigna contida no Programa de Erfurt relativa
à „conquista
do poder político“, falsificação essa empreendida pelos
marxistas-reviosinistas e sociais-reformistas do Partido Social-Democrático dos
Trabalhadores Alemães(SDAP), representados, antes de tudo, por Eduard
Bernstein, Conrad Schmidt e Karl Kautsky – e, em parte, também
por Wilhelm
Liebknecht que renegava a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do
Proletariado para o atingimento do socialismo – admitindo-a apenas como
medida excepcional em caso de guerras – escreveu Luxemburg, já em 1903, de
modo claro e preciso:
“Partindo do fundamento do socialismo
científico de que „a libertação da classe trabalhadora pode ser apenas obra da
classe trabalhadora“, a Social-Democracia reconhece que subversão, i.e. a
revolução para concretização da reconformação socialista, pode ser realizada
apenas pela classe trabalhadora enquanto tal, e, em verdade, enquanto
propriamente a ampla massa, sobretudo a massa do proletariado industrial. A
primeira ação da transformação socialista tem de ser, portanto, a conquista do poder político através da
classe trabalhadora e a edificação
da Ditadura do Proletariado, necessária incondicionalmente à materialização
das medidas de transição.“[25]
A afirmação aqui
formulada não pretende ocultar ao leitor a autêntica e histórica polêmica
travada entre Luxemburg, Lenin e Trotsky, enquanto revolucionários
proletários marxistas, acerca não apenas da natureza, extensão e limites da Soberania
proletária, no quadro da Revolução de Outubro, senão ainda
quanto à questão do Direito de Auto-Determinação da Nações Oprimidas e a Questão
Agrária Russa.[26]
Adstringindo-nos
aqui à questão da Soberania proletária na Ditadura Revolucionária do Proletariado, cumpre
assinalar que Rosa Luxemburg abandona notoriamente, na passagem de sua
crítica em destaque, o critério de classe revolucionário-proletário, ao
empreender sua defesa „em geral“ da Assembléia Constituinte,
do Direito
Geral Eleitoral, da Liberdade de Reunião e de Imprensa, em suma, de
todo o aparato das supostas liberdades fundamentais democráticas das
massas populares.
Em verdade, Luxemburg
omite o fato fundamental e decisivo de que a Assembléia Constituinte
de que fala negou-se, expressamente, em 5 de janeiro de 1918, a sufragar a Declaração
dos Direitos do Povo Trabalhador e Oprimido e o Programa do Poder Soviético, e,
em 6 de janeiro de 1918, a aprovar a Política de Paz do Governo Soviético.
Fosse essa Assembléia
Constituinte realmente representativa das „massas populares“(no
original alemão : Volksmassen), não teria, de nenhuma forma, embargado a votação
da Declaração
dos Direitos do Povo Trabalhador e Oprimido, justamente em sua sessão
de abertura.[27]
De toda sorte,
seria pretender reduzir Rosa Luxemburg à condição de uma
social-oportunista vulgar – como o fazem os meta-marxistas franco-gramscianos e
os principais ideólogos do SU-QI – caso não destacassemos, em
letras garrafais, que Luxemburg, mais uma vez no texto
intitulado „Acerca da Revolução Russa“, de junho de 1918, colocou-se,
às escâncaras e magistralmente, em defesa da Ditadura Revolucionária do
Proletariado, quando assinalou, enfaticamente:
„Os bolcheviques colocaram, imediatamente, enquanto objetivo dessa tomada do
poder, todo o programa revolucionário mais amplo: não, por ex., a garantia da
Democracia Burguesa, mas a Ditadura do Proletariado, com o objetivo de
concretização do socialismo.
Com isso, conquistaram o mérito
histórico imortal de proclamar, pela primeira vez, os objetivos finais do
socialismo, enquanto programa imediato da prática política(p. 341). ...
Isso é o essencial o remanescente da
política bolchevique. Nesse sentido, cabe-lhes o mérito histórico imortal por
terem se adiantado ao proletariado internacional com a conquista do poder
político e da colocação prática da concretização do socialismo, bem como por
terem impulsionado, poderosamente, a disputa entre capital e trabalho no mundo
inteiro. Na Rússia, o problema pode ser apenas colocado.
Na Rússia, não pôde, porém, ser
resolvido. Esse problema pode apenas ser resolvido em escala internacional. E,
nesse sentido, o futuro pertence, em todas as partes, ao „bolchevismo“(p. 365).“[28]
Pronunciando-se,
sumariamente, acerca de Rosa Luxemburg, Lenin teve
a oportunidade de evidenciar, nítida e ponderadamente, os seus diversos
equívocos, porém destacando, justamente, que, apesar de todos os seus erros, Rosa foi
e permanece sendo uma águia do marxismo revolucionário :
“Paul Levi quer agora cair nas graças da
burguesia – e, conseqüentemente, de
seus agentes, a II Internacional e II ½ Internacional – através da republicação
precisamente daqueles escritos de Rosa
Luxemburg em que ela se encontrava equivocada.
Devemos
responder a isso, citando duas linhas de uma boa velha fábula russa: “As águias
podem, às vezes, voar mais baixo do que as galinhas, porém as galinhas não
podem jamais subir às alturas das águias.”(EvM.: a fábula em referência é de
autoria de Ivan Krylov).
Rosa Luxemburg equivocou-se na questão da independência da Polônia.
Equivocou-se,
em 1903, em sua apreciação do menchevismo.
Equivocou-se na teoria da acumulação do capital.
Equivocou-se
quando, em julho de 1914, juntamente com Plekhanov, Vandervelde, Kautsky e
outros, defendeu a
unificação dos bolcheviques com os mencheviques.
Equivocou-se
em suas anotações redigidas no cárcere de 1918 (nesse sentido, corrigiu a
maioria de seus erros, depois de abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no
início de 1919).
Porém,
apesar de todos os seus erros, Rosa foi e permanece sendo uma águia.
E
não apenas os comunistas de todo o mundo irão velar pela sua memória, porém sua
biografia e suas obras completas (a
publicação das quais está sendo incomensuravelmente retardada pelos comunistas
alemães que podem apenas ser em parte desculpados por conta das tremendas
perdas que estão sofrendo em sua severa luta) servirão como úteis manuais para
o treinamento de muitas gerações de comunistas em todo o mundo.
«Desde
4 de agosto de 1914, a Social-Democracia Alemã tornou-se um cadáver fedorento
», essa declaração há de tornar famoso o
nome de Rosa Luxemburg na história do movimento da classe operária
internacional.
E,
naturalmente, no pátio traseiro do movimento da classe operária, entre os
montes de esterco, galinhas como Paul
Levi, Scheidemann, Kautsky e toda aquela sua fraternidade, vão piar sobre
os erros cometidos pela grande comunista.
A
cada pessoa deve-se dar o que lhe pertence.”[29]
Visto isso,
cumpre destacar que, “piando entre os montes de esterco”,
encontram-se os dois principais dirigentes do Secretariado Unificado (SU-QI),
Ernst Mandel, François Vercammen.
Ignorando
inteiramente a referência de Lenin acerca dos equívocos de Rosa
Luxemburg e, ao mesmo tempo, o fato de que Rosa corrigiu, no fim de
1918 e no início de 1919, a maioria de seus erros contidos em suas anotações
redigidas no cárcere de 1918 sobre a Revolução Russa, Ernst
Mandel, alegando infundadamente, em seu livro “Outubro de 1917 – Golpe de
Estado ou Revolução Social. Em Defesa da Revolução de Outubro - que a
criação da Tcheka houvera sido necessariamente um erro cometido por Lenin,
Sverdlov, Trotsky e os bolcheviques, desenvolve uma defesa renitente e
desavergonhada das teses de Rosa Luxemburg contidas no livro
dessa última, intitulado “A Revolução Russa”, redigido no
cárcere de 1918, ocultando ao leitor que Rosa, ela mesma, “corrigiu a maioria de seus erros, depois de
abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919)”.[30]
Para Ernst Mandel - que
pia como uma galinha - as teses do cárcere de 1918 de Rosa
Luxemburg teriam-se demonstrado válidas não, porém, para 1918 – como
haveria pretendido sua própria autora -, mas sim perfeitamente para os anos a
partir de 1920 e 1921 da Revolução Proletária Russa.
Como se vê, mais
uma brilhante falsificação histórica e extraordinária embrulhada analítica de Ernst
Mandel e de seu conivente seguidor François Vercammen.
Mais ainda : é de se perguntar ao leitor se François Vercammen, enquanto
um dos atuais dirigentes políticos máximos do SU-QI, entenderia, tal como o expoente
máximo do franco-gramscismo meta-marxista de Actuel Marx, Jacques Texier, que
essa degenerescência burocrática seria devida ao “marxismo de Lenin
e Trotsky“, o qual colocaria em causa a idéia do socialismo.
François Vercammen escreve acerca dessa temática, em sua obra mais célebre, realizada em
colaboração com Alain Tondeur, intitulada Reinventar a Esperança. Um Socialismo da
Libertação para o Século XXI, da seguinte forma :
„ « A
revolução operária é, de início, a conquista da democracia. »
Essa pequena
frase do Manifesto Comunista é de uma grande profundidade.
É justamente
contra essa „conquista da democracia“, do poder pelo povo, que o sistema
capitalista emprega todos os meios à sua disposição.
Cada vez que o
povo conseguiu „conquistar a democracia“, ou a tentou realizar, o imperialismo
respondeu da mesma maneira como o fez em face da Revolução Russa : bloqueio,
intervenção militar, sabotagem econômica.
Cada vez que
essa política não apenas submeteu a revolução vitoriosa a uma terrível pressão
: ele a forçou, além disso, a sobreviver, a se mutilar ela mesma, a recorrer
ela também a meios autoritários.
Cada vez mais,
esse recurso a meios autoritários criou um clima favorável à degeneração
burocrática(p. 67).
Na época, essa
degenerescência não foi percebida senão por uma ínfima minoria.
Minoritária na
denunciação da burocracia no seio da social-democracia alemã, Rosa Luxemburgo
lançou aos bolcheviques advertências, extremamente úteis, para recordar que
elas emanavam de uma revolucionária totalmente engajada no apoio a Outubro.
« A massa
popular deve participar em seu conjunto », escreve ela em 1917.
« Caso
contrário, o socialismo é decretado, outorgado por uma dúzia de intelectuais,
reunidos em torno de uma tapete verde.
Lenin e
Trotsky impuseram os soviets como a única representação verdadadeira das massas
laboriosas.
Porém, se
abafamos a vida política em todo o país, a paralisia ganha, obrigatoriamente, a
vida nos soviets.
Sem eleições
gerais, sem uma liberdade de imprensa e de reunião ilimitada, sem uma luta de
opinião livre, a vida se estiola em todas as instituições públicas, vegeta, e a
burocracia permanece o único elemento ativo (ROSA LUXEMBOURG, La révolution
russe, in : Oeuvres II Maspéro, Paris, 1971). »(p.67)“ “[31]
Evidentemente, tais posicionamentos causticamente críticos do principal
representante político do SU-QI em relação à degenerescência
burocrática, provocada pelo « marxismo de Lenin e Trotsky », para
recordar aqui as palavras lapidares de seu amigo de armas franco-gramsciano, Jacques
Texier, não hão de ser considerados excepcionalmente – senão apenas, em
sentido nímiamente extraordinário, quanto ao caso cubano, pois como bem
salienta François Vercammen, em se tratando dessa temática :
„O caso cubano
deve ser distinguido dos outros.
Nesse país,
uma burocracia existe, mas não se pode dizer que teria monopolizado o poder,
nem que ela teria matado o Partido, nem que a sociedade não dispõe de nenhum
meio de a combater em nome do socialismo.
Na pátria de
adoção de Che Guevara, a histórica permanece aberta ...“[32]
Na base dessas interpretações teóricas acerca do „marxismo de Lenin
e Trotsky“ e do papel vulgarmente falsificado, em sentido social-oportunista
e democrático-burguês, de Rosa Luxemburg tornou-se, possível,
precisamente a partir de 1986, um amplo e magnificente trabalho de colaboração
política e intelectual dos principais dirigentes do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional(SU-QI) com o franco-gramscismo meta-marxista de Actuel
de Marx, de Jacques Texier e Jacques Bidet. [33]
Sob a direção de Jacques Texier e Jacques Bidet, cumpre destacar mais uma vez sous
la direction de Jacques Texier et Jacques Bidet, os mais renomados dirigentes
intelectuais do SU-QI e da LCR iniciaram sua vasta colaboração literária e
política, participando ativa e fraternalmente – i.e. sem choques, sem críticas,
sem atritos, sem repreensão das idéias e dos posicionamentos de Texier
e Bidet – nos Colóquios Internacionais de Actuel Marx, a
partir de 1990, bem como nos Congrès Marx International I, de
1995, e Congrès Marx International II, de 1998.
Os principais artigos teóricos dos mais expressivos intelectuais do SU-QI
e da LCR, plenamente compatíveis com a direction de Jacques Texier et
Jacques Bidet, encontram-se
editados na coleção de livros Actuel Marx Confrontation, publicada em concurso com a Universidade
de Paris X – Nanterre (Sorbonne) e
o Istituto
Italiano per gli Studi Filosofici.
Alguns exemplos concretos desse processo de colaboracionismo do SU-QI
com o franco-gramscismo :
1.
No Colóquio
Internacional Fim do Comunismo ? Atualidade do Marxismo ?, organizado
por Actuel
Marx, sous la direction de Jacques
Texier et Jacques Bidet, realizado na Sorbonne, nos dias 17, 18
e 19 de maio de 1990, é possível encontrar-se Daniel Bensaïd empreendendo
seu já retro-referido pequeno escorregão da Ditadura
do Proletariado à Democracia Socialista, juntamente com as teses de Jacques
Texier e Jacques Bidet relacionadas com a correção, atualização e
superação de Marx e Engels, Lenin e Trotsky no domínio dos seguintes temas
tradicionais como : capitalismo, comunismo, marxismo, socialismo, bem como
sobre outros temas, tipicamente, esotérico-gramscianos como: „comunismo histórico e marxismo“, „releitura
de Marx“, „morte do marxismo-leninismo“, „morte de Lenin, vida de Marx“ entre
outros;[34]
2.
No Colóquio
do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França,
intitulado Os Paradigmas da Democracia, organizado por Actuel
Marx, sous la direction de Jacques
Bidet, realizado na Sorbonne, nos dias 29 e 30 de maio
de 1990, é possível encontrar-se Catherine Samary desenvolvendo sua
aborgagem mercantil-socialista a ser referida, ladeando – sem choques, críticas
ou notas de ressalva - as teses de Jacques Texier e Jacques Bidet relacionadas
com a correção, atualização e superação de Marx e Engels, Lenin e Trotsky no
domínio dos seguintes temas tradicionais como : poder e soberania, justiça,
Estado, liberdade, bem como sobre outros temas, propriamente,
especulativo-gramscianos como : „antinomia
da democracia“, „democracia pelo mercado“, „cidadania e representação“,
„liberdade dos antigos, liberdade dos modernos“ entre outros;[35]
3.
No Colóquio
Internacional O Novo Sistema do Mundo, organizado por Actuel
Marx, sous la direction de Jacques
Texier et Jacques Bidet, realizado na Sorbonne, nos dias 29 e
30 de maio de 1992, é possível encontrar-se Michaël Löwy aplicando
seu já retro-referido método crítico-desconstrutivo do marxismo, coadjuvando as
teses de Jacques Texier e Jacques Bidet relacionadas com a correção,
atualização e superação de Marx e Engels, Lenin e Trotsky no
domínio dos seguintes temas tradicionais como : a dissolução da URSS, a nova
divisão do mundo, relações de dominação, bem como sobre outros temas,
tipicamente, lexicográfico-gramscianos como: „misérias e grandezas do marxismo no Leste“, „espaços-mundo“, „o melhor
dos mundos possíveis“, „auto-consciência, falsa consciência e auto-crítica no
Ocidente“ entre outros.[36]
A seguir, o colaboracionismo dos principais dirigentes teóricos e políticos
do SU-QI
e da LCR Francesa com o franco-gramscismo meta-marxista de Actuel
Marx passou, então, a ter lugar no quadro dos Congrès Marx International.
Em setembro de 1995, teve lugar o Congrès Marx International I : Marx Atual, e,
em setembro/outubro de 1998, o Congrès Marx International II : O
Capitalismo, Críticas, Resistências, Alternativas.
De 26 a 29 de setembro de 2001, deverá ter lugar, então, o Congrès
Marx International III : O Capital e a Humanidade, na Universidade
de Paris X Nanterre (Sorbonne).
Os Congrès Marx International são, propriamente, encontros
realizados nas sedes das Universidades de Paris I (Panthéon-Sorbonne)
e Paris
X – Nanterre, tendo duração de cerca de 4 a 5 dias.
Tais congressos são convocados e realizados por iniciativa de Actuel
Marx, i.e. sous la direction de Jacques Texier et Jacques Bidet, com o
apoio do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França e do Istituto
Italiano per gli Studi Filosofici.
Diversas organizações e revistas francesas juntam-se, costumeiramente, a
esse empreendimento, a saber : Critique communiste (Revista Teórica da LCR
Francesa), Ecologie Politique,
L’Homme et la Société, Futur Antérieur, La Pensée, Issues, Nouvelles questions féministes, Revue M, Politique la Revue, Le Ressy,
Appel des économistes pour sortir de la
pensée unique.
Os Congrès Marx International contam, em média, com a presença de
500 participantes ativos, entre professores de universidades, pesquisadores,
doutorandos e estudantes, vindos das mais diversas partes do mundo, com
destaque para Europa ocidental e oriental, Américas e países árabes e africanos
francófonos.
A entrada é, porém, gratuita para os assalariados e para os participantes
de países de „monnaie faible“.
Em sentido organizativo-interno, os Congrès Marx International estruturam-se
em „ateliers“,
„pólos científicos“ e „plenárias gerais do Congresso“.
Os Congrès Marx International dividem-se, nesse quadro, em cerca
de 50 a 100 „ateliers“, em cujo âmbito se processam as apresentações de „proposições“
dos intelectuais solidários, coniventes ou colaboradores com o projeto
franco-gramsciano meta-marxista de Actuel Marx, de correção,
atualização e superação do pensamento de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, no
sentido de sua desnaturação meta-marxista.
As „proposições“ são textos analíticos situados nos domínios de 8
„pólos científicos“, a saber : Filosofia, Economia, Direito,
Sociologia, História, Ciências Políticas, Estudos Marxistas e Cultura, desde
uma perspectiva, em princípio pluridisciplinar.
Cada um dos „pólos científicos“ é dirigido por uma personalidade
responsável e moderadora, em regra, firme e historicamente vinculada à
perspectiva teórico-doutrinária do franco-gramscismo meta-marxista de Actuel
Marx.
Tomando-se, como exemplo, o mais recente Congrès Marx International, i.e.
o Congrès
Marx International II : O Capitalismo, Críticas, Resistências, Alternativas., que
teve lugar entre 30 de setembro e 3 de outubro de 1998, é mister constatar-se a
indicação dos seguintes pensadores, que se ocuparam da direção dos pólos
científicos e ateliers.
1.
Responsável e
Moderador do Pólo de Filosofia „A Questão da Razão e a Filosofia Política :
Marxismo e Pós-Marxismo.“ : André Tosel.
Atelier 1
Ciências e Dialéticas : Lucien Sève e
Patrick Tort.
Atelier 2
Fenomenologia, Linguagem e Marxismo :
Jocelyn Benoist, Domenico Jervolino, Jean-Renè Ladmiral.
Atelier 3
Historicidade e Evento : Daniel Bensaϊd, Henri Maler, Catherine
Colliot-Thelene.
Atelier 4
Liberalismo e Socialismo : Domenico Losurdo, Alberto Burgio, Isabelle Garo.
Atelier 5 A
Moral e a Ética : Yvon Quiniou, Tony Andrèani, Enrique Dussel.
Atelier 6 A
Democracia na América : David Lapoujade, Edgardo Logiudice.
Atelier 7
Hanna Arendt : Anne Amiel, Denis Collin, Montserrat Galgeran.
Atelier 8
Jürgen Habermas : Gabriel Vargas-Lozano, Arno Munster.
2.
Responsáveis e
Moderadores do Pólo de Economia „Crítica do Neoliberalismo. O Futuro do
Capitalismo.“ : Gérard Dumenil e Dominique Levy.
Atelier 1
Tendências Longas : Isaac Johsua, Louis Fontvieille, Sandrine Michel.
Atelier 2 As
Transformações do Capitalismo e as Perspectivas Socialistas : Paresh Chattopadhyay,
Alin Cottrel, Paul Cockshott.
Atelier 3
Mudança Técnica e Inovações : Sophie Boutillier, Edouard Cipolla, Paulani
Serge.
Atelier 4
Mundialização. Figuras Contemporâneas do Imperialismo : François Chesnais,
Claude Serfati, Louis Gill.
Atelier 5
Mundialização-Globalização : Kostas Vergopoulos, Claude Pottier, Sam Noumoff.
Atelier 6 Marx
e a Mundialização : Rolande Borrelly, Ramine Motamed-Nejad.
Atelier 7
Crise e Desemprego : Francis Bismans, Peter Skott.
Atelier 8 A
Crise Financeira no Sudeste Asiático : Suzanne de Brunhoff, Patrice Geoffron.
Atelier 9
Papel do Estado e Políticas : Frédéric Lordon, David Leadbeater.
Atelier 10
Estudos Empíricos : Christophe Darmangeat, Pierre Le Masne.
Atelier
11Trabalho, Renda e Exploração : Stéphanie Treillet, Patrick Dieuaide.
Atelier 12
Status do Trabalho : Guy Caire, Edouard Poulain.
Atelier 13
Valor e Preço : Alan Freeman, Jean-Guy Loranger.
Atelier 14
Lucro, Salário e Renda : Edith Klimosky, Emilio Chaves.
Atelier 15
Macroeconomia e Finança : Catherine Martin, Alain Herscovici.
Atelier 16
Teoria da Empresa. Economistas contra o Pensamento Único : Hubert Gabrie, Jean
Netter.
Atelier
Ensinar Marx : Marie Cohen, Thierry Pouch
3.
Responsáveis e
Moderadores do Pólo de Direito „A Humanidade e o Direito“ : Monique
Chemilier-Gendreau, Y. Moulier-Boutang
Atelier 1
Novos Territórios do Direito : Monique Chemilier-Gendreau, Gérard Soulier,
Gérard Marcou, Robert Charvin.
Atelier 2
Pluralismo Jurídico : Geneviève Koubi, Oscar Correais, Michel Miaille
Atelier 3
Direitos de Propriedade e Apropriação : Françoise Dreyfus, Chistain Barrère.
Atelier 4
Poder do Direito e Direito do Poder : Carlos Herrera, Betrand Mertz, Mikhaël Xifaras.
Atelier 5
Mutações da Relação Salarial e Direito do Trabalho : Antoine Jeammaud, Gérard Farjat,
Alain Supiot, Giuseppe Bronzini.
4. Responsáveis e Moderadores do Pólo de Sociologia „As
Lutas Sociais e Políticas Perderam Toda Referência de Classe.“ : Jean Lojkine,
D. Linhart e Cl. Leneveu.
Atelier 1 Ética e Política : Mateo Alaluf, Ph. Corcuff, Nicole
Laurin.
Atelier 2 Eficácia Econômica e Justiça Social : Catherine
Didry, D. Bachet, Claude Didry.
Atelier 3 Sociologia Desencantada dos Novos Movimentos
Sociais : Pierre Turpin, Sylvie Contrepois.
Atelier 4 Divisão do Trabalho, Dominação, Cooperação na
Empresa – Quais Mecanismos ? : D.
Linhart, JP. Durand.
Atelier 5 Que Classes Sociais Hoje : Marco Oberti, Fr.
Dubet, Michel Pinson.
Atelier 6 Relações de Classe e Relações de Geração :
Bruno Lefebvre, Stéphane Beaud, Gérard Mauger, Louis Chauvel.
5. Responsáveis e Moderadores do Pólo de História „História
dos Movimentos Sociais.“ : Serge Wolikow.
Atelier 1 História Econômica : Jean Guarrigues, Alexandre
Fernandez.
Atelier 2 História Antiga e Medieval : Guislain Chevrier,
Patrick Boucheron.
Atelier 3 Leituras e Historiografia da Revolução Francesa
: Claudine Wolikow, Florence Gauthier.
Atelier 4 História Crítica e Histórias de Representações
: Frédéric Genevée, Patrick Garcia.
Atelier 5 História do Comunismo e do Movimento Operário :
Pierre Broué, Bernard Pudal, Claude Pennetier, Michel Dreyfus.
Atelier 6 Socialismo : Roland Lew, Bernard Chavance.
Atelier 7 Rússia e China : Alexander Buzgalin, Li Qi
Qing.
6. Responsáveis e Moderadores do Pólo de Ciências Políticas
„Movimento Sindical e Sindicalismo Assalariado“: René Mouriaux e Michel
Vakaloulis.
Atelier 1 Para Onde Vão as Relações Salariais : Bernard
Friot, Jean-Pierre Durand.
Atelier 2 Formas de Mobilização Coletiva na Crise
Contemporânea : Jacques Capdevielle, J.R. Pendaries.
Ateliers 3 e 4 Relação Política e Horizonte de
Emancipação : Sophie Beroud, René Mouriaux, Chistophe Aguitton, Michel
Deschamps.
7. Responsáveis e Moderadores do Pólo de Estudos Marxistas :
Valérie Seroussi, Eustache Kouvelakis.
Atelier 1 Traduções e Edições de Marx e Engels : Dieter Deichsel,
Wolfgang Haug.
Atelier 2 Enraizamentos : Nicolas Fevrier, Emmanuel
Renault.
Atelier 3 Marxismo e Filosofia : Michaël Löwy, Yves
Sintomer.
Atelier 4 Marxismo e Política : Emmanuel Barot, Samuel
Dantzig.
Atelier 5 O Capital Hoje : Jacques Bidet, Bertell Ollman.
Atelier 6 O Marxismo Hoje : Alex Callinicos, Franco
Soldani.
Atelier 7 A Política nas Tradições Marxistas : Jacques
Texier, Jean-Claude Bourdin, Gilbert Achcar.
8. Responsáveis e Moderadores do Pólo de Cultura : J.M.
Lachaud, Véronique Goutheyron.
Atelier 1 Arte e Política 1 : Jean-Marc Lachaud, Algis
Uzdavinys.
Atelier 2 Arte e Política 2 : Bernard Sobel, Michelle
Raoul-Davis.
Atelier 3 Instituições Culturais em Questão : Etienne
Balibar, Robert Abirached.
Atelier 4 Cultura Mestiça e Cosmopolitismo : Françoise
Gaillard.
Atelier 5 Dimensão Política da Arte Hoje 1 : Jean-Marc
Adolphe, Christian Ruby.
Atelier 6 Dimensão Política da Arte Hoje 2 : Martine Maleval.
Ateliers 7 e 8 Brecht e o Marxismo : Philippe Ivernel,
Wolfgang Haug, Nicolas Tertulian.
As „proposições“ são redigidas pelos intelectuais solidários,
coniventes ou colaboradores com o projeto franco-gramsciano meta-marxista de Actuel
Marx e, eventualmente, por certos participantes pesquisadores,
doutorandos e estudantes, voluntariamente, segundo sua própria escolha e seu
próprio arbítrio.
Tais „proposições“ são enviadas, de antemão, à secretaria
congressual e, posteriormente, colocadas à disposição dos participantes para
fotocópias.
Na medida em que o número de proposições enviadas é elevado – cerca de 200
ou mais por congresso -, cumpre à secretaria incluí-los no livreto-programa e
comunicar aos expositores que apresentarão suas „proposições“ nos „ateliers“
acerca dos textos disponíveis, visando eventual abordagem e comentário.
Nos „ateliers“, existe certa possibilidade limitada de debate ou
intercâmbio de opiniões entre expositores e participantes, sendo que nessa
sede, entretanto, nada se delibera.
A possibilidade de intercâmbio de materiais, contatos e concepções entre
expositores e participantes fica, entretanto, a critério e iniciativa desses
últimos, nos ateliers ou junto às salas de consulta, ao longo dos dias de
apresentação das proposições.
Os Congrès Marx International possuem o seu centro de
funcionamento nervoso nas „plenárias gerais do Congresso“.
Nessas plenárias, realizam exposições apenas os professores ou pensadores
escalados, antecipadamente, por Actuel Marx, e ferreamente
solidários com os fundamentos do franco-gramscismo e com a perspectiva de correção,
atualização e superação da doutrina de Marx e Engels, Lenin e Trotsky de Jacques
Texier e Jacques Bidet.
Nos „plenárias gerais do Congresso“ falam os expositores escalados
previamente por Actuel Marx e ninguém mais.
Nas „plenárias gerais do Congresso“ não há debates, não se formula
indagações aos expositores, não se requer ou se toma quaisquer decisões, não se
faz apartes : ocorrem apenas exposições unilaterais, monólogos de esputação,
dos professores ou pensadores oradores, em tom manifestamente professoral, à
guisa de comunicações de supostas grandes descobertas científicas, pretendidas
novas concepções ou lançamento de inéditas produções literárias, realizadas em
virtude de longos meses ou anos de pesquisa.
O encerramento do Congrès Marx International também
possui esse mesmo feitio : não há deliberações adotadas, senão apenas um
conjunto de exposições dos oradores escolhidos para o encerramento.
A coleção Actuel Marx Confrontation realiza, após o término dos
congressos, a publicação em livro das Atas do Congresso Marx International, i.e.
dos artigos de seus principais aliados intelectuais, sustentadores das
premissas franco-gramscianas.
Abertura e encerramento dos Congrès Marx International são
realizadas, em regra, por Jacques Bidet e seus coadjuvantes de
maior renome, sendo que Etienne Balibar, Michaël Löwy ou Catherine
Samary são, em regra, cogitados pela direção de Actuel Marx para
intervirem nesses dois grandes momentos congressuais.
Tome-se, como exemplo, o mais recente Congrès Marx International, i.e. o Congrès
Marx International II : O Capitalismo, Críticas, Resistências, Alternativas., que
teve lugar entre 30 de setembro e 3 de outubro de 1998.
Nesse congresso, a „Abertura : É Possível Fazer Face ao
Capitalismo?“, foi realizada por Jacques Bidet, no dia 30 de setembro
de 1998, às 19 hs., na Sala Richelieu.
A „Presidência do Congrès Marx International II : O Capitalismo,
Críticas, Resistências, Alternativas.“ – como não poderia deixar de ser
– coube a Jacques Texier, o maior expoente da ideologia gramsciana na
França de hoje, ideologia essa consistente na correção, atualização e superação
do marxismo, na forma do meta-marxismo.
A condução dos trabalhos da „Plenária Geral do Congrès Marx
International II“ do dia 3 de
outubro de 1998, intitulado Alternativas ao Capitalismo, coube a
Catherine
Samary, Etienne Balibar e Robin Blackburn.
A „Presidência“ desse Plenário Geral coube a Michaël
Löwy, o mais célebre intelectual do SU-QI e da LCR
Francesa na atualidade, prefessor sorbonnard crítico-descontrutivo do Manifesto
do Partido Comunista e entusiástico colaborador dos preceptores do
franco-gramscismo meta-marxista de Actuel Marx.
No quadro desse largo e profundo processo de colaboracionismo doutrinário
eclético “trotskysta-gramsciano” em território francês, decidiram, em 2
de dezembro de 1995, os mais célebres teóricos e líderes franceses da Liga
Comunista Revolucionária (LCR)
e, consegüintemente, também do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI), em confraternização e comum acordo com os
expoentes do franco-gramscismo meta-marxista de Actuel Marx - todos eles partisãos ativos, nos dias de hoje,
no seio da intelectualidade acadêmica da Universidade Sorbonne de Paris -,
estreitar esforços para, juntamente com velhos e novos teóricos do Partido
Comunista Francês (PCF), tais como Lucien Sève, Georges Labica, Etienne Balibar
e André Tosel, fundarem um imponente projeto teórico-doutrinário e
político-ideológico comum, de caráter nacional-francês denominado, nos termos
de seus estatutos, Associação Nacional Espaces Marx.
Os Espaces Marx nasceram, em verdade, a partir da dissolução do Institut
de Recherches Marxistes(IRM), i.e. Instituto
de Pesquisas Marxistas, criado, outrora, pelo PCF visando a prestar-lhe
assistência intelectual e doutrinária em questões concernentes à deturpação e à
desnaturação refinada e aparentemente científico-analítica da doutrina de Marx
e Engels, manifestando-se, durante décadas de colaboracionismo de
classe, em publicações e colóquios, nos mais diversos matizes
burocrático-contra-revolucionários e oportunistas, desde o stalinismo de Thorez e Politzer ao
chauvisnimo
ocidental euro-comunista de Georges Marchais.
Assim, os Espaces Marx surgiram após a afirmação da pretensão dos intelectuais
do PCF
no sentido de ser necessário inovar doutrinariamente no domínio do
marxismo, mediante uma confrontação pluralista com correntes políticas
susceptíveis e abertas à sua perspectiva teórico-revisionista.
Em 18 de junho de 1994, no quadro de uma assembléia largamente
eclético-pluralista, selou-se um compromisso de criação de um espaço de debates
e de produção literária de matiz colaboracionista „marxista-mao-stalinista-reciclado-democrático-humanista-gramsciano-trotskysta-mandelista“,
visando à renovação, à correção, à atualização e à superação dos
princípios de Marx e Engels, em uma “nova
marcha de criatividade política“.[37]
Na assembléia em referência de 1994, os Espaces Marx, em processo
de gestação existencial, declararam, expressamente :
„Novas
relações com o PCF, fundadas na parceria, repousando em um contrato explícito,
revelaram-se possíveis, assegurando, sem equívoco, a autonomia da Associação a
ser criada(i.e. a Associação Nacional Espaços Marx).
A plena
soberania dos Espaços Marx decorre de seus objetivos, democraticamente
elaborados, e ela lhe confere a completa responsabilidade por seus atos.
Ela não
implica a renúncia a uma ligação fecunda com o PCF nas condições previstas na
Carta de Estatutos.
Na mesma base,
a Associação procurará, igualmente, outros parceiros e deseja estabelecer
relações com outros agrupamentos, centros de reflexão, revistas etc.
Nos trabalhos
preparatórios à criação da Associação, uma questão de primeira importância foi
a de estabelecer sua relação com o pensamento de Marx.
A Carta de
Estatutos, que foi proposta e adotada, traduz, claramente, essa relação,
inscrevendo-o em uma assimilação crítica e aberta de um pensamento cuja
fecundidade, dado que não se enrijece em um dogmatismo estéril, é própria a
estimular elaborações novas.
Essa
referência exprime muito bem uma vontade de cooperação específica com os que se
reclamam igualmente defensores do pensamento de Marx.
A formulação
traduz, explicitamente também, uma preocupação de pluralismo e abertura a outros
pensamentos inovadores e progressistas, incluindo aqueles que não reivindicam
Marx.
A denominação
da nova estrutura não constitui uma mudança formal, mas a afirmação da
diferença de concepção em relação ao IRM e a nova identidade da Associação.“[38]
A partir desse momento, constituiu-se um Comitê Provisório incumbido
de assegurar a transição organizativa do IRM aos Espaces Marx.
Tal Comitê Provisório foi encabeçado, então, desde logo, pelos
seguintes doutrinadores franceses, que se reclamam defensores do pensamento de Marx
e Engels : Jacques Texier e Tony Andréani, em representação dos
franco-gramscianos meta-marxistas de Actuel Marx, Francette Lazard, Lucien Sève e
Georges
Labica, em representação respectivamente da intelectualidade
mao-stalinista reciclada, democrático-humanista e gramsciana do PCF,
Michaël Löwy, Catherine Samary e Daniel Bensaϊd, enquanto
máximos expoentes teóricos da LCR Francesa e do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional(SU-QI).
Uma monumental iniciativa empreendida pelos Espaces Marx, dirigidos a
partir de então por essas forças políticas retro-mencionadas, reunidas em um
assim-denominado Comitê de Direção, foi a organização, em maio de 1998, do Encontro
Internacional : o Manifesto Comunista 150 Anos Depois : Qual Alternativa para o
Capitalismo ? Qual Emancipação Humana ?, realizado em Paris.[39]
Em um artigo de preparação e convocação desse Encontro Internacional de Maio de
1998, Francette Lazard, um dos mais expressivos membros da atual
direção do Partido Comunista Francês(PCF), assinalou o caráter que,
posteriormente, haveria de revestir a pespectiva de trabalhos dos Espaces
Marx, no curso dos últimos dois anos :
„Mais vale não
participar. Contudo, ....
Já a dinâmica de preparação do Encontro
Internacional previsto para maio próximo em Paris, por ocasião do 150°
Aniversário do Manifesto do Partido Comunista, constitui, em si mesmo, uma
experiência repleta de interesse.
„Tantos velhos
amigos e antigos inimigos“ ...
Não é, em si,
o número de personalidades reunidas, na França e em mais de sessenta países,
que cria o evento, mas sim o fato de que 150 anos após a publicação do
Manifesto, pela primeira vez desde as grandes fraturas de 1914/1917, todas as
correntes de pensamento que, de um modo ou de outro, enraizam-se na história
secular dos movimentos de emancipação propoem-se juntas a confrontar suas
análises, suas reflexões críticas e suas visões.
Nós somos os
antípodas de uma comemoração acadêmica ou emblemática.
As
personalidades associadas no patrocínio do projeto vêm de todos os continentes,
dos mais diversos horizontes progressistas.
Elas diferem
por suas trajetórias e por suas motivações, seja no campo da pesquisa
universitária, seja no engajamento social e político.
Elas são
comunistas, socialistas ou sociais-democrátas, personalidades de esquerda ou de
extrema-esquerda, do movimento social, sindicalistas, ecologistas, teólogos da
libertação etc.
De um país a
outro, na diversidade de situações, o projeto do Encontro Inrternacional, de
maio de 1998, suscita ecos múltiplos, em ressonância com as iniciativas que
marcarão, um pouco em todos os lugares, esse 150° Aniversário na próxima
primavera.“[40]
No contexto dessa efusiva, expansiva e crescente colaboração dos dirigentes
da LCR
Francesa e do SU-QI com téoricos franco-gramscianos
meta-marxistas de Actuel Marx, neo-stalinistas e democrático-humanistas do PCF,
tais forças políticas e intelectuais reunidas, agora, nos Espaces Marx deram
criação à sua contra-parte de dimensão mundial, os Espaces Marx Réseau International.
Pour Une Construction Citoyenne du Monde, i.e. os Espaços Marx e os Espaços
Marx Rede Internacional. Em favor da Construção de uma Cidadania do Mundo.
Os Espaces Marx Réseau International. Pour Une Construction Citoyenne du
Monde conformam-se, presentemente, com uma autêntica organização
político-doutrinária internacional, destinada a intervir, em escala mundial, a
fim de perpetuar suas pretensões de inovação, correção, atualização e superação
do pensamento de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, consubstanciados nas lições da Revolução
de Outubro e nos documentos leninistas-trotskystas da III e
IV Internacionais.
Seu órgão jornalístico chama-se „Bulletin Réseau International“, i.e.
Boletim Rede Internacional.[41]
Nos dias de hoje, os Espaces Marx Réseau International. Pour Une
Construction Citoyenne du Monde participam ativamente, mediante o envio
de seus teóricos, requisitados formalmente sobre a base de convites, nos
colóquios realizados na Festa de l’Humanité, do PCF, nos encontros do Foro Marxista, do Partido da Democracia Socialista(PDS) da Alemanha, nos
debates do Forum Europa Social de Frankfurt a.M., de Élisabeth Gauthier, nas
conferências do Coletivo Rosa Luxemburg de Berlim, nas produções intelectuais
realizadas pelos economistas alemães da Revista „Sozialismus“ e do jornal Junge
Welt, assim como, em todo mundo, onde palestras e eventos de
universidades, livrarias, organizações políticas, associações de trabalhadores,
são organizados, com a pretensão de debaterem a perspectiva de um futuro
socialista para a humanidade, com base em uma fundamentação doutrinária no
pensamento original de Marx.
Seja sob o feitio mais formalmente estruturado do Comitê Israeliense Espaces Marx, dos
Espaços
Marx Brasil, dos Espaces Marx International Quebec, dos
Espaces
Marx Hungria, dos Espai Marx, da Catalunha etc. etc., ou
mesmo sob a forma de revistas, jornais e intelectuais universitários presentes
em inúmeros países do mundo, colaboradores de seu projeto doutrinário, tal
como, exemplificativamente, o Correio da Cidadania, o Deputado
Milton
Temer, do PT, os professores universitários Ricardo Antunes, Osvaldo
L. A. Coggiola(PO de Altamira), Frei Betto, Leonardo Boff, Oscar Niemeyer, João
Machado(DS do SU-QI), no Brasil, o Rethinking Marxism da University
of Massachusetts, nos EUA, comandado por Antonio
Callari, Stephen Cullenberg, Jack Amariglio, David Ruccio e Etienne
Balibar, ou ainda o grupo de
iniciativa de B. Kagarltsky, T. Timofeev e A. Galkin, na Rússia,
os Espaces
Marx Réseau International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde divulgam
sua doutrina preponderamentem franco-gramsciana de desnaturação e deformação do
marxismo, em nome do marxismo, tal como a veicula, presentemente, da maneira
mais cabal, os principais dirigentes políticos e intelectuais do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional (SU-QI), em sua trilha de crescente
abandono das tradições proletárias-revolucionárias de Lenin, Sverdlov e Trotsky.
Sob a iniciativa dos Espaces Marx realizar-se-á, entre os
dias 30 de novembro e 2 de dezembro de 2000, um Encontro Internacional em Paris, na
Grande
Halle de la Villette, sob a consigna „Por uma Construção Cidadã do
Mundo. Um Ano após Seattle.“
O Comitê de Prepação desse Encontro Internacional é composto
por : Jacques Texier e Tony Andréani, em representação dos
franco-gramscianos meta-marxistas de Actuel Marx, Lucien Sève e Georges
Labica, em representação da intelectualidade mao-stalinista reciclada e
democrático-humanista do PCF, Michaël Löwy e Daniel
Bensaϊd, enquanto máximos expoentes teóricos da LCR
Francesa e do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional(SU-QI).[42]
Na convocatória do Encontro Internacional em destaque,
pode-se ler, precisamente, o seguinte :
„O vértice de
Seattle, há um ano atrás, constitui um giro e um trampolim.
Giro para a
nova capacidade de, em nível planetário, opor-se a um processo que muitos
pensavam ser inevitável.
Trampolim,
para a construção de outras lógicas.
Engajados
nessa via, na diversidade de nossas convicções e de nossas mobilizações, o que
nos motiva é a importância do trabalho necessário para inventar as alternativas
à atual mundialização neo-liberal e as traduzir em proposições concretas.
Porque há
urgência : a mercantilização de todos os domínios da vida, em cada rincão do
planeta, provoca devastações que nós não aceitamos.
Reunidos em
coletivo constituído de 10 organizações, fundações, associações, revistas,
jornais, tomamos a iniciativa de convidar a vir a Paris, nos dias 30 de
novembro, 1° e 2° de dezembro de 2000, todos aqueles e aquelas que, no mundo,
descontentes, indignados, revoltados, procuram outras possibilidades para o
desenvolvimento humano, seja qual for sua própria perspectiva : regulação,
humanização, superação do capitalismo.
Em uma palavra
: todas aquelas, todos aqueles que através de engajamentos filosóficos,
políticos e cívicos, evidemente pluralistas, procuram inventar um outro futuro.
Essa
diversidade de abordagens de cada um permitirá a esse encontro ser fecundo,
constituindo-se em um momento decisivo depois de Seattle, dinamizando, pelos
laços tecidos e riqueza dos debates e contribuições sobre as alternativas
possíveis, a contra-ofensiva dos povos contra o neoliberalismo.
O
desenvolvimento das mobilizações incita, agora, a tomar iniciativa sobre o
terreno das proposições.
Venha a Paris,
a fim de inter-cambiarmos nossas experiências e nossas idéias, em favor da
construção democrática e cidadã do mundo.“[43]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS
[1] Acerca do tema, vide TROTSKY, LÉON. Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV
Internatsionala. Mobilizatsia Mass Vokruk Pererrodnyrr Trebovanii kak Podgotovka k Zavoievanniu Vlasti (A Agonia do
Capitalismo e as Tarefas da IV Internacional. A Mobilização das Massas em torno
de Consignas Transitórias para Preparar a Conquista do Poder), especialmente
Pressupostos Objetivos da Revolução Socialista, in : Biulietien Opozitsi
Bolschevikov-Lenintsev (Boletim de Oposição Bolchevique-Leninista), Nr. 66/67, Paris, 1938, pp. 14 e s.
[2]
Cf. BENSAÏD, DANIEL. 60 Jahre IV. Internationale (60 Anos da IV.
Internacional), in : INPREKORR. Internationale
Pressekorrespondenz, Nr. 327/328, Juli/August 1999, pp. supra-referidas.
[3]
Cf. IDEM. ibidem, pp. 20 e 21.
[4]
Nesse sentido, vide, sobretudo, MANDEL,
ERNST. L’Eurocommunisme
est-il l’Exécuteur Testamentaire d’Antonio Gramsci, in: Critique de
l’Eurocommunisme. Petite Collection
Maspero, Paris : Maspero, 1978, pp. 210 e s.; LÖWY, MICHAËL. La Théorie de la Révolution chez le Jeune Marx, in :
Bibliothèque Socialiste, Paris : Maspero, 1970, pp. 224 e s.; IDEM. Notes sur Lukács et Gramsci, in :
L’Homme et la Société, Nr. 35/36, Paris, 1974, pp. 79 e s.
[5] A esse respeito, vide,
precisamente, BENSAÏD, DANIEL &
ARTOUS, ANTOINE. A L’Ouest Questions de
Stratégie, in : Critique Communiste, Nr. 65, Paris : Ligue Communiste
Révolutionnaire, 1987, pp. 15 e s.; LÖWY,
MICHAËL. Gramsci et Lukács, in : ibidem, pp. 33 e s.; LIGUE COMMUNISTE REVOLUTIONNAIRE. Gramsci : Questions Pour Notre
Epoque, in : Critique Communiste, Nr. 65, Paris : Ligue Communiste
Révolutionnaire, 1987, pp. 3 e s.
[6] Sobre esse tema, vide,
detalhadamente, MAITAN. LIVIO. Le
Marxisme d’Antonio Gramsci, in : Revue Quatrième Internationale, Nr. 24, Paris,
1987, pp. 5 e s.
[7] Acerca do tema, vide,
precisamente, TEXIER, JACQUES.
Antonio Gramsci, Paris : Seghers, 1966, pp. 187 e s.; IDEM. Sur le Concept de la
Société Civile. Gramsci Théoricien des Superstructures, in : La Pensée, Nr.
139, Paris, 1968, pp. 35 e s.; IDEM.
Gramsci : Nécessité et Créativité Historique, in : La Nouvelle Critique, Nr.
69, Paris, 1973, pp. 61 e s.; IDEM.
Gramsci Sort-Il du Purgatoire ou Va-t-il en Enfer ?, in : ibidem, Nr. 76, 1974,
pp. 33 e s.; IDEM. La Grande
Défiguration d’Antonio Gramsci, in : La France Nouvelle, Nr. 1.484, Paris,
1974, pp. 27 e s.; IDEM. Gramsci. La
Philosophie et la Politique dans le Texte, in : La Pensée, Paris, Nr. 181,
1975, pp. 116 e s.; IDEM. Gramsci, Togliatti et
d’Iguanodon. A Propos du Tome I des
Ecrits Politiques d’A. Gramsci, in :La Nouvelle Critique, Paris, Nr. 81, 1975,
pp. 13 e s.; IDEM. La Spécificité du
Matérialisme de Marx et la Critique du Communisme Réformateur in:
Materialismes. Raison Présente, Nr. 47, Paris, 1978, pp. 85 e s.; IDEM. Rationalité selon la Fin et
Rationalité selon la Valeur dans Les Cahiers de la Prison, in : Actuel Marx,
Nr. 4, Paris, 1988, pp. 97 e s.; IDEM.
Sur le Sens de „Société Civile“ chez Gramsci, in : Actuel Marx, Nr. 5, Paris,
1989, pp. 50 e s.
[8] Nesse sentido, vide BIDET, JACQUES. Que Faire du Capital ?
Matériaux pour une Refondation, Paris : Klincksieck, 1985, pp. 7 e s.; IDEM.
Théorie de la Modernité. Suivi de Marx et le Marché, Paris : PUF, 1990, pp. 15
e s. No ano passado, surgiu, ainda, o seguinte livro de BIDET, JACQUES. Théorie Générale du Droit, de L’Economie et de la
Politique. Actuel Marx Confrontation, Paris : PUF, 1999, pp. 15 e s.
[9] Vide Cf. TEXIER, JACQUES. Révolution et
Démocratie chez Marx et Engels, Paris : Actuel Marx Confrontation – PUF, 1998, p. 362.
[10] Cf. BIDET, JACQUES. Capitalisme, Communisme,
Marxisme, Socialisme, in : Actuel Marx Confrontation. Colloque International
Sorbonne, 17-18-19 Mai 1990, organisé par la Revue Actuel Marx et l’Istituto
Italiano per gli Studi Filosofici, sous la direction de Jacques Bidet et
Jacques Texier, Paris : PUF, 1991, p. 24.
[11]
Cf. IDEM. ibidem, p. 24.
[12]
Cf. IDEM. ibidem, p. 24.
[13]
Cf. IDEM. ibidem, p. 25.
[14]
Cf. IDEM. ibidem, pp. 25 e 26.
[15]
Cf. IDEM. ibidem, pp. 26 e 27.
[16] No que concerne à
doutrina idealista-subjetivista, de linhagem sofística, de Kant, acerca da Ética e
do Direito, vide, sobretudo, KANT,
IMMANUEL. Grundlegung der Metaphysik der Sitten (Fundamentos da Metafísica dos Costumes),
Riga : Hartknoch, 1785, pp. 3 e s.; IDEM.
Critik der practischen Vernunft (Crítica da Razão Prática), Riga : Hartknoch,
1788, pp. 7 e s.; IDEM. Metaphisische
Anfangsgründe der Rechtslehre (Fundamentos Metafísicos Iniciais da Doutrina do
Direito) (1797), in : Immanuel Kant. Metaphysik der Sitten, Hamburg : Felix
Meiner, 1922, pp. 5 e s.
[17] Acerca da doutrina
filosófico-política social-liberal e idealista-subjetivista de John
Rawls, vide, sobretudo, RAWLS,
JOHN. A Theory of Justice,
Cambridge-Massaschussetts : Belknap,
1971, pp. 21 e s.; IDEM. Liberty,
Equality and Law (Liberdade, Eqüidade e Direito), Salt Lake City : Univ. Of
Utah Press, 1987, pp. 5 e s.
[18] Observo ao leitor
que a Alemanha de hoje recebe, em
verdade, todos os impactos da doutrina francesa democrático-socialista-ecológica-mercantil-humanizada
dos ideólogos sorbonnards, devolvendo-lhes uma contribuição metodológica de
grande importância epistemológica, fundada na perspectiva político-prática da social-democracia-ecológica-chauvinista.
Tal fenômeno pode ser constatado pela inquestionável influência do pensamento
de Jürgen
Habermas nas universidades e junto aos intelectuais franceses. Na França,
esse impacto habermasiano repercute, decisivamente, entre os
professores dos mais diferentes matizes teóricos da Universidade de Paris - Sorbonne,
bem como entre os mais renomados ideólogos dos partidos e agrupamentos de
esquerda. Na Alemanha, a primazia do tema de defesa da „cidadania“ ou da „justiça
social“ contra os ataques do neo-liberalismo do capitalismo
imperialista remundializante assume particular forma, presentemente, no debate
em torno da “democracia” e da “legitimidade do poder e da soberania”,
enquanto valores universais. No contexto dessa última temática, os argumentos
gravitam, sobretudo, em torno do ”consenso político dos agentes sociais“
- i.e. da colaboração político-prática dos representantes políticos alemães,
burgueses-imperialistas, neoliberais e sociais-liberais-verdes, com os
dirigentes sindicais, provenientes preponderantemente da aristocracia da classe
trabalhadora alemã -, visando ao
represamento das ações das massas exploradas e oprimidas da Alemanha
no campo da legalidade democrático-constitucional das instituições
sócio-estatais burguesas. O caráter específico da sociologia e da filosofia
alemã da atualidade resplandece, nesse terreno, e faz com que, claramente, o
papel político-especulativo de Jürgen Habermas adquira uma
amplitude significatica muito atual. Isso possui, evidentemente, o seu
fundamento : Habermas é o intelectual mais logicamente preciso e acabado,
dos dias de hoje, no que tange à questão da perspectiva de colaboração de classes em uma
„sociedade global“, ao ponto de poder irradiar luzes de sua doutrina
teórica não apenas ao cenário da luta de classes da Alemanha, senão ainda para
todos os países do mundo. Precisamente por isso, Habermas segue sendo
muito requisitado e ouvido por grandes políticos burgueses-europeus da atual
coalizão alemã “Vermelha-Verde”, tal como designada pelo público alemão.
Afirma-se que nenhum grande e significativo debate, existente desde os anos 60,
ocorreu sem a participação e a influência ativa desse „republicano liberal de esquerda“,
tal como se costuma qualificá-lo na Alemanha. Mais recentemente, Habermas
tornou-se um dos principais entusiastas e defensores teóricos do bombardeamento
da OTAN
na Iugoslávia
e do emprego das tropas imperialistas alemães no conflito, mesmo continuando a
ser, paradoxalmente, membro da Academia Sérvia de Ciências. A
seguir, quando começaram a se desenhar os protestos contra a guerra, entre
setores da população alemã, Habermas optou, intermediariamente,
pela defesa de uma declaração unilateral de paz, dando suporte racionalístico à
política chauvinista dos Verdes da Alemanha. O Ministro
Verde das Relações Externas da Alemanha, Joschka Fischer, baseando-se
nos posicionamentos de Habermas, fundamentou, então, a
participação da Alemanha na Guerra de Kosovo referindo-se à
fórmula habermasiana do “trauma de Auschwitz”. Tal fórmula
serve, presentemente, de legitimação teórico-racionalística para toda agressão
imperialística alemã contra tentativas de governos de identidade nacionalístico-totalitária
dos países atrasados e recolonizados. Presentemente, tal teoria foi
redimensionada por Habermas como parte de seu conceito de „Verfassungspatriotismus(i.e.
patriotismo constitucional, em língua dos seres humanos mortais chauvinismo
burguês-imperialista, veiculado sob a forma da socia-democracia-ecológica)“ em contraste com o conceito de „nacionalismo
popular“. Esse „patriotismo constitucional“,
segundo Habermas, incorpora um posicionamento ”liberal-social” que deve
defender o “Estado Social, moralmente fundado e esclarecido”, em face das
agressividades do “nacionalismo obscuro” e da “anarquia das leis selvagens do
capitalismo”. Tal „patriotismo constitucional“ é a
defesa, também, segundo Habermas, da fusão da democracia com
o ideal de socialismo, i.e. de um socialismo democrático... A lógica
de Habermas
é, entretanto, perfeitamente compatível com entrecortes supra-partidários
ecléticos e conciliacionistas. Seu único grande embate histórico deu-se com o
dirigente estudantil do Maio Alemão de 1968, Rudi
Dutschke, a quem designou, caluniosamente, de „fascista de esquerda“, por
pretender esse último, baseado em uma orientação política
marcusiana-anarquista, conduzir um levante anti-autoritário, anti-repressivo e
libertário contra as universidades e o Estado Alemão, fundando-se em
mobilizações de massas e ações diretas de luta. O movimento estudantil e a
oposição extra-parlamentar da Alemanha de 68 viu, assim, em Habermas,
de início, um aliado sedutor, porém, a seguir, um grande inimigo. Em virtude de
seu distanciamento de toda perspectiva de ruptura da ordem jurídico-democrática
e liberal burguesa da Constituição Alemã de Bonn e
rejeição de toda violência revolucionária, produziu-se uma cisão entre o
movimento de massas encabeçado por Dutschke e os posicionamentos do
célebre Professor de Frankfurt, dotado de renome mundial. A subseqüente
consagração mundial de Habermas operou-se, a seguir, à
custa sobretudo do chauvinismo burguês-imperialista, veiculado sob a forma da
social-democracia-ecológica. Acerca do tema, vide, antes de tudo, HABERMAS, JÜRGEN. Die postnationale
Konstellation und die Zukunft der Demokratie (A Constelação Pós-Nacional e o
Futuro da Democracia), Frankfurt a.M. : Suhrkamp, 1998, pp. 15 e s.; IDEM. Der philosophische Dirkurs der
Moderne (O Discurso Filosófico do Moderno), Frankfurt a.M. : W.G.
Uni-Buchdruck., 1985, pp. 21 e s.; HABERMAS,
JÜRGEN & LUHMANN, NIKLAS. Theorie der Gesellschaft oder
Sozialtechnologie – Was leistet die Systemforschung ? (Teoria da Sociedade ou
Tecnologia Social – O que a Investigação Sistêmica proporciona ?), Frankfurt
a.M. : Suhrkamp, 1971, pp. 114 e s.; HABERMAS,
JÜRGEN. Technik und Wissenschaft als Ideologie (Técnica e Ciência como
Ideologia), Frankfurt a.M. : Suhrkamp, 1968, pp. 17 e s. Acerca da qualificação
habermasiana de Rudi Dutschke enquanto um „fascista de esquerda“, vide,
precisamente, DUTSCHKE, RUDI.
Geschichte ist Machbar. Texte über das herrschende Falsche und die Radikalität
des Friedens (A História é Passível de Ser Feita. Textos sobre o Falso
Dominante e a Radicalidade da Paz), Berlim : Wagenbach, 1980, pp. 9 e s.
[19] Cf. BIDET, JACQUES. Démocratie et
Modernité. Jalons pour une Théorie Générale, in : Les Paradigmes de la
Démocratie. Actuel Marx Confrontation. Colloque du CNRS, 29-30 Mai 1990,
organisé par la Revue Actuel Marx et l’Université de Paris X - Nanterre, sous
la direction de Jacques Bidet, Paris : PUF, 1994, pp. retro-citadas. No que concerne à
lógica discursivo-comunicacional de Habermas, idolatrada pelos
meta-marxistas franco-gramscianos, Jacques Bidet e Jacques Texier, cabe
observar que essa última coincide, em grande parte, com aquelas de Karl-Otto
Apel e Lawrence Kohlberg, no que concerne à idéia da teoria
idealista-subjetivista dialógica do consenso da verdade, do correto e da ordem
social. Porém, Habermas ataca o posicionamento de Apel de defesa de uma
pragmática transcedental, precisamente por apoiar-se Apel em figuras de
pensamento superadas : defesas de verdades declaradas e de experiências que
atestam a certeza dos fatos. Contra o sentido apriorístico de uma dedução
transcendental, Habermas apoia-se na hipótese de que para uma argumentação
teórico-discursiva não subjaz nenhuma alternativa previamente reconhecível.
Nesse sentido, Lawrence Kohlberg teria, segundo Habermas, plena razão em
abrir a perpectiva de construção de uma moral pós-convencional. Assim, o
principal e mais conseqüente suporte lógico-epistêmico da corrente
internacional colaboracionista da atualidade – aquilo que está na base da
lógica de Stanley Fisher que, presentemente, convoca os sindicatos de
todo mundo a colaborarem com os planos do FMI em defesa da luta contra o
desemprego – é o pensamento de Jürgen Habermas de disposição
permanente ao diálogo e à colaboração de classes, em busca do consenso. Nesse
quadro, a conformação de uma certa “cidadania” e de uma certa “democracia”,
cujo conteúdo é apriori indefinido ou apenas pós-convencional, dependeria
sempre de um processo dialógico mantido entre os sujeitos sociais, fundado não
em uma ética de convencimento, mas sim de responsabilidade, i.e. na qual os
negociadores devem ceder cada qual um tanto para que seja possível o pacto e o
entendimento social. Destarte, os pensadores franceses e alemães modernos e
contemporâneos, desde Kant à Durkheim, desde Rousseau
à Max
Weber, parecem, nesse sentido, petrificados, inflexíveis e
dogmatizantes diante de Habermas, particularmente por terem
utilizado um método fenomenológico subjetivo essencialmente monológico. Também Marx
e Engels, são, aos olhos de Habermas, vítimas de um objetivismo
monológico, ainda que seu materialismo histórico possa ser reaproveitado, desde
que ... reconstruído. Habermas, entre os últimos herdeiros
do “marxismo
culturalista de Lukács”, do “fenomenologismo de Husserl” e do “existencialismo
de Heidegger”, formou-se no âmbito da ascensão e crise da Escola
Frankfurt, mantendo-se dessa última prudentemente distante. Assim, Habermas
produziu um método de abordagem téorica que, se, em verdade, partiu de uma base
subjetivista neo-kantista, não aponta para uma mera perspectiva de
subjetividade solipsista, típica dos pensadores da filosofia clássica alemã e
dos iluministas e enciclopedistas franceses. Habermas filiou-se a uma
concepção que, além de todo seu idealismo-subjetivista dialógico, utiliza,
amplamente, a teoria dos jogos de linguagem de Ludwig Wittgenstein,
contidos no livro desse último intitulado „Investigações Filosóficas“, onde a
assim-chamada “tábua de verdades” não é positiva ou objetivamente
(cientificamente) verificada, mas sim inter-subjetivamente construída,
dependendo da comunicação dos representantes dos agentes, classes e grupos
sociais. A presente consagração mundial
de teorias tais como a de Habermas é, entretanto, a
comprovação histórica mais patente da atual agonia do capitalismo e da crise
histórica da direção revolucionária do proletariado. Isso é correto afirmar-se
porque a filosofia fenomenológica idealista-subjetivista de Edmund
Husserl, da qual Habermas é também um direto
dependente e à qual está umbilicalmente ligado, é produto de uma situação de
crise extrema das relações sociais do capitalismo em decomposição. Por um lado,
as forças ideológicas do imperialismo capitalista, representadas,
presentemente, na voz de Stanley Fisher(FMI), Gerhard Schröder(Social-Democracia
Alemã) e Joschka Fischer(Verdes Alemães), não recorrem, atualmente, à
lógica da teoria habermasiana por sincero reconhecimento científico de uma
corrente histórica sócio-filosófica. Essas forças governam, antes de tudo e
privilegiadamente, com base em suas verdades e concepções teóricas, com base em
sua racionalidade intrumental monológica, que procuram incutir nas consciências
das massas trabalhadoras exploradas e oprimidas como verdades universais,
através de um processo de dominação cultural-ideológica. Elas governam,
prioritariamente, com os instrumentos lógicos do positivismo e do
funcionalismo. Por outro lado, é mister destacar que o método fenomenológico
husserliano teve seu momento histórico de nascimento no quadro da instável República
de Weimar, precisamente quando disputavam os poderes stalinistas e
nazistas, em face do esgotamento político das forças sociais-democráticas e
liberais. Uma atmosfera de situação revolucionária, de conflito social acirrado
acerca do desenlace futuro, conduzia aos mais expressivos intelectuais alemães
à elaboração de teorias que fundamentassem a esperança de um procedimento de
negociação dialógico entre os diversos representantes da burguesia e os da
classe operária revolucionária, de modo a permitir a constituição de governos
de coalizão e frentes populares, visando a uma transição pactuada à democracia
burguesa que impedisse a eclosão de um desate dialético-materialista. Nesse
quadro, as verdades universais haviam de deixar de ser positivamente determinadas,
para dependerem exclusivamente da interação de uma comunidade dos sujeitos
sociais hostis em luta aberta. Visto em perspectiva histórica, porém, já por
sua essência eminentemente idealista – formulada com base na análise
formalística da geometria -, o método fenomenológico husserliano – de que se
vale Habermas
presentemente - não conseguiu, entretanto, impedir polarizações, quando
a possibilidade de comportamento comunicacional rompeu-se, no quadro das
irrupções revolucionárias e contra-revolucionárias européias. Na história da
filosofia alemã dos anos 20 e 30, Martin Heidegger, enquanto sucessor
de Edmund
Husserl, e Carl Schmitt, enquanto herdeiro do decisionismo heideggeriano,
representaram a ruptura pela extrema direita e a tentativa de legimitação
razoável e racional da irracionalidade e da irrazoabilidade do
nacional-socialismo, em plena ascensão e fortalecimento. A ruptura pela
esquerda da colaboração de classes desse processo comunicacional, entretanto,
foi se produzindo, inconseqüentemente, na Alemanha, através da obra de György
Lukács, que, levando os elementos da metodologia husserliana e do
culturalismo neokantista para o interior da doutrina revolucionária marxista,
debilitaram-no, desacreditando a política de Lenin e Trotsky sob o
rótulo de „positivismo marxista“, i.e. anti-culturalista e
anti-fenomenológico, tal como resulta da principal obra política de Lukács
„História
e Consciência de Classes“. O renascimento atual da lógica
fenomenológica na abordagem de Jürgen Habermas presta-se, assim, a
servir de elemento teórico-racional ao colaboracionismo de classes em nível
nacional, supranacional europeu e internacional e, em um estágio social
crescentemente polarizado, ao apoio das políticas de conformação das frentes
populares, que detenham o ascenso das revoluções dos trabalhadores e demais
proletários, bem como à consagração de sua ditadura de classe sobre as forças
capitalistas. Acerca do tema, vide, sobretudo, HABERMAS, JÜRGEN. Theorie des kommunikativen Handels (Teoria do
Agir Comunicativo), Frankfurt a.M. : Suhrkamp, 1981, pp. 7 e s.; IDEM. Zur Rekonstruktion des
Historischen Materialismus (Acerca da Reconstrução do Materialismo Histórico),
Frankfurt a.M. : Suhrkamp, 1976, pp. 11 e s.; WITTGENSTEIN, LUDWIG. Philosophische Untersuchungen (Investigações
Filosóficas), Oxford : Blackwell, 1953, pp. 11 e s.; HUSSERL, EDMUND. Die Phänomenologie und die Fundamente der
Wissenschaften (A Fenomenologia e os Fundamentos das Ciências), Hamburg :
Meiner, 1986, p. III e s.; APEL,
KARL-OTTO. Dirkurs und Verantwortung. Das Problem des Übergangs zur
postkonventionellen Moral (Discurso e Responsabilidade. O Problema da Transição
para uma Moral Pós-Convencional), Frankfurt. a.M.: Suhrkamp, 1988, pp. 19 e s.;
KOHLBERG, LAWRENCE. Die Psychologie der Moralentwicklung (A
Psicologia do Desenvolvimento Moral), Frankfurt a.M., 1995, pp. 13 e s.; LUKÁCS, GYÖRGY. Geschichte und
Klassenbewußtsein (História e Consciência de Classes), in : Georg Lukacs Werke, Vol. 1, Berlim-Spandau : Benseler, 1974, pp. 15 e s.
[20] Cf. TEXIER, JACQUES. Le Monde Moderne et
l’Idée du Communisme, in : Actuel
Marx Confrontation. Colloque International Sorbonne, 17-18-19 Mai 1990,
organisé par la Revue Actuel Marx et l’Istituto Italiano per gli Studi
Filosofici, sous la direction de Jacques Bidet et Jacques Texier, Paris : PUF,
1991, pp. retro-mencionadas.
[21] Cf. IDEM. Révolution et Démocratie chez
Marx et Engels, Paris : Actuel Marx Confrontation – PUF, 1998, p. 362.
[22] Cf. IDEM. ibidem, p. 363.
[23] Cf. BENSAÏD, DANIEL. 60 Jahre IV. Internationale(60 Anos de IV Internacional),
in : INPREKORR. Internationale Pressekorrespondenz, Nr. 327/328,
Juli/August 1999, pp. 20 e 21.
[24] Vide LENIN, VLADIMIR I. Rede bei der
Eröffnung des Kongresses 2. März. I Kongreß der Komm. Internationale (Discurso
na Abertura do Congresso de 2 de Março. I Congresso da Internacional
Comunista), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII (De Julho de 1918 à Março de
1919), Berlim, 1959, p. 469. Destaque-se, entretanto, à guisa de exemplo, entre
os diversos e renomados textos de Rosa Luxemburg, aquele intitulado E
Pela Terceira Vez o Experimento Belga, vindo à luz já em 4 de junho de 1902, quando essa autora
teve a oportunidade de escrever, de modo incorrumptivelmente claro, contra os
legalistas belgas, i.e. Émile Vandervelde e outros :
„Entretanto, não por predileção às ações violentas ou ao romantismo
revolucionário devem os partidos socialistas, mais cedo ou mais tarde, estar
preparados também para embates violentos com a sociedade burguesa, em casos em
que nossas aspirações se direcionem contra os interesses vitais das classes
dominantes, senão em razão também da amarga necessidade histórica. O parlamentarismo
enquanto meio de luta político da classe trabalhadora, individualizador do
espírito, é tão fantástico e, em primeira linha, reacionário, como o é a greve
geral, individualizadora do espírito, ou a barricada, individualizadora do
espírito. Evidentemente, a revolução violenta é, nas condições atuais, um meio
de dupla-face, aplicável de modo extremamente difícil. E podemos esperar que o
proletariado apenas fará uso desse meio quando se apresentar o único caminho
adequado para sua implementação e, evidentemente, apenas em condições em que a
situação política de conjunto e a relação de forças assegurem, mais ou menos, a
probabilidade de êxito. Porém, a concepção clara da necessidade da aplicação da violência, seja nos episódios
individuais da luta de classes seja para a conquista definitiva do poder de
Estado é nisso, de antemão, imprescindível.
Ela representa aquilo que consegue conferir também à nossa atividade legal,
pacífica, a apropriada ênfase e efetividade.“ Cf. LUXEMBURG, ROSA. Und Zum Dritten Male das Belgische Experiment
(E Pela Terceira Vez o Experimento Belga)(4 de Junho de 1902) , in : Rosa
Luxemburg Gesammelte Werke, Vol. ½, Berlim, 1972, p. 247.
[25] Cf.
IDEM. Dem Andenken des „Proletariat“ (Em Lembrança do
„Proletariado“)(1903), in: ibidem, p. 317. Acerca de W. Liebkencht, vide LIEBKNECHT, WILHELM. Zukunftstaatlisches
(Coisas do Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898, pp. 218 e 219.
[26] Com efeito, acerca do tema, Luxemburg teve a
oportunidade de escrever, criticamente, contra Lenin, Trotsky e os bolcheviques,
em sua celebrizada Acerca da Revolução Russa, de Junho
de 1918 : „A consigna sacada pelos
bolcheviques : imediato apossamento e repartição do solo e da terra pelos
camponeses teve, precisamente, de atuar em sentido oposto. Ela não representa
não apenas nenhuma medida socialista, senão ainda corta o caminho para uma tal
medida, ela produz em face da transformação das relações agrárias, em sentido
socialista, dificuldades insuperáveis(p. 343). ... A Reforma Agrária de Lenin
criou para o socialismo no campo uma nova camada popular poderosa de inimigos.
Nisso, os bolcheviques possuem parte de culpa. Essas dificuldades objetivas da
situação, os próprios bolcheviques aguçaram, em grande medida, através de uma
consigna, que lançaram no primeiro plano de sua política : o assim-chamado
Direito de Auto-Determinação das Nações ou, o que se esconde debaixo dessa frase
na realidade : a decomposição estatal da Rússia. ... De início, embate-se
contra a estultice e a rígida conseqüencia com que Lenin e seus companheiros
atrelaram a essa palavra de ordem o fato de que se situam tanto em crassa
contradição com o seu centralismo da política, apregoado em outros momentos,
quanto em relação à posição que assumiram em face dos demais fundamentos
democráticos. Enquanto demonstram um
desprêzo frio relativamente à Assembléia Constituinte, ao Direito Geral
Eleitoral, à Liberdade de Reunião e de Imprensa, em suma, relativamente a todo
o aparato das liberdades fundamentais democráticas das massas populares (p.
346) que formam, todas juntas, o „Direito de Auto-Determinação“ na própria
Rússia, tratam o Direito de Auto-Determinação das Nações enquanto um nó górgio
da política democrática, em amor ao qual todos os pontos de vista práticos da
crítica real deveriam silenciar. Enquanto eles não se permitiram minimamente
influenciar pelo plebiscito da Assembléia Constituinte na Rússia – um plebiscito
conduzido na base do Direito Eleitoral Geral e em total liberdade de uma
República Popular -, e, dirigidos por ponderações críticas insensatas,
declararam, simplesmente, ser nulo e anulado seus resultados, combateram eles,
em Brest, pelo „plebiscito“ das nações estrangeiras da Rússia acerca de sua
apartenência estatal, enquanto verdadeiro guardião de toda liberdade e
democracia, enquanto quintessência inadulterada da vontade popular e a
instância máxima decisiva na questão do destino político das nações.(p. 347)“
Cf. LUXEMBURG, ROSA. Zur Russischen
Revolution (Acerca da Revolução Russa) (Junho de 1918), in : Rosa Luxemburg
Gesammelte Werke, Vol. 4, Berlim, 1972, pp. retro-mencionadas.
[27]
Acerca do tema, vide,
p.ex., LENIN, VLADIMIR I.
Außerordentlicher Gesamtrussischer Eisenbahnerkongreß (Congresso Extraordinário
de Toda Rússia dos Ferroviários)(13 de Janeiro de 1918), in : W. I. Lenin
Werke, Vol. XXVI, Berlim, 1962, p. 489 e s.; IDEM. Die Dritte Internationale und ihr
Platz in der Geschichte(A III Internacional e Seu Lugar na História)(15 de
Agosto de 1919), in : ibidem, Vol. XXIX, pp. 299 e s.; LUNATSCHARKY,
ANATOLY. Jakov Michailovitch Sverdlov(Tradução para a Língua Portuguesa de
Emil von München), in : Textos sobre a Moral Revolucionária de J. M. Sverdlov,
Grande Organizador da Revolução Proletária Russa e Representante da Primeira
República Soviética Socialista, São Paulo-Munique-Paris: Editora Sverdlov para
a Organização Socialista-Revolucionária dos Trabalhadores, 4 de Agosto de 1999.
[28]
Cf. LUXEMBURG, ROSA. Zur Russischen
Revolution (Acerca da Revolução Russa) (Junho de 1918), in : Rosa Luxemburg
Gesammelte Werke, Vol. 4, Berlim, 1972, pp. retro-mencionadas.
[29] Cf. LENIN, VLADIMIR
I. Zametki Publitsista. O Voskhojdenii na Vysokie Gory, O Vrede Unynia, o
Pol’zie Torgovli, Ob Otnoshenii k Men’shevikam i.t.p. (Anotações de um
Publicista. Sobre a Subida de uma Alta Montanha, a Desgraça do Esmorecimento, a
Utilidade do Comércio, a Atitude em face dos Mencheviques etc)(Fevereiro de
1922), Parte 3: Ob Oxote na Lis – O Levi, O Serrati (Agarrando Raposas – Levi e
Serrati), in: ibidem, Vol. 44, pp. 419 e s.
[30]
Vide MANDEL, ERNST & VERCAMMEN, FRANÇOIS. Oktober 1917 -
Staatsreich oder Soziale Revolution? Zur Verteidigung der Oktoberrevolution
(Outubro de 1917 – Golpe de Estado ou Revolução Social. Em Defesa da Revolução
de Outubro), Karlsruhe: Neuer ISP Verlag, Agosto de 1993, pp. 7 e s.
[31] Cf. TONDEUR, ALAIN & VERCAMMEN, FRANÇOIS. Réinventer
l’Espoir. Un Socialisme de la Libération pour le XXème Siècle, Bruxelles :
Fondation Léon Lesoil, 1993, p. 67.
[32] Cf. IDEM. ibidem, p. 69.
[33] Vide ainda contra a
falsificação empreendida pelo SU-QI e de Actuel Marx no tocante ao
perfil revolucionário de Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht, esses
últimos defensores implacáveis da derrubada violenta da burguesia e edificação
da Ditadura
do Proletariado, sobretudo, LENIN,
VLADIMIR I. Rede Anläßlich der Ermordung Luxemburgs und Liebknechts
(Discurso Por Ocasião do Assassinato de Luxemburg e Liebknecht)(19 de Janeiro
de 1919), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXVIII,
Berlim, 1962, p. 422.; IDEM. Brief
an die Arbeiter Europas und Amerikas (Carta aos Trabalhadores da Europa e da
América)(21 de Janeiro de 1919), in : ibidem, Vol. XXVIII, p. 446 e s. O
assassinato de Luxemburg e Liebknecht, em 1919, pela Social-Democracia
Alemã e seus aliados políticos e militares burgueses representou um
evento de significado histórico-mundial não apenas porque, segundo Lenin,
„os melhores dirigentes da Internacional Comunista foram exterminados,
senão ainda por ter-se revelado, definitivamente, o caráter de classe de um
Estado Europeu desenvolvido, podendo-se dizer mesmo, sem exagero, o caráter de
classe de um Estado desenvolvido em escala mundial. ... „Liberdade“ significa em uma das repúblicas mais
livres e desenvolvidas do mundo, na República Alemã, a liberdade para
assassinar impunemente os dirigentes presos do proletariado.“ Cf.
IDEM. I. Kongreß der Kommunistischen
Internationale (I Congresso da Internacional Comunista)(2 de Março de 1919), in
: ibidem, Vol. XXVIII, p. 477. No mesmo sentido, vide IDEM. Über die Gründung der Komintern (Acerca da
Fundação da Internacional Comunista) (6 de Março de 1919), in : ibidem, Vol.
XVIII, p. 499.; IDEM. Erfolge und
Schwierigkeiten der Sowjetmacht (Sucessos e Dificuldades do Poder Soviético)
(17 de Abril de 1919), in : ibidem, Vol. XXIX, p. 56.; IDEM. Plenum des Gesamtrussischen Zentralrats der Gewerkschaften
(Plenária do Conselho Central de Toda Rússia dos Sindicatos) (11 de Abril de
1919), in : ibidem, Vol. XXIX, p. 283.; IDEM.
Über die Aufgaben der III. Internationale (Sobre as Tarefas da III
Internacional)(14 de Julho de 1919), in : ibidem, Vol. XXIX, p. 501.; IDEM. Wie die Bougeoisie die Renegaten
Ausnutzt (Como a Burguesia Usa os Renegados) (Setembro de 1919), in : ibidem,
Vol. XXX, pp. 9 e s.; IDEM. Rede auf
dem I. Gesamtrussischen Verbandstag der Bergarbeiter (Discurso na I Conferência
de Toda a Rússia da Associação dos Mineiros) (5 de Abril de 1920), in : ibidem,
Vol. XXX, pp. 490 e s.
[34] Vide, mais
detalhadamente, BIDET, JACQUES &
TEXIER, JACQUES. Fin du Communisme ? Actualité du Marxisme ?, in : Actuel
Marx Confrontation. Colloque International Sorbonne, 17-18-19 Mai 1990,
organisé par la Revue Actuel Marx et l’Istituto Italiano per gli Studi
Filosofici, sous la direction de Jacques Bidet et Jacques Texier, Paris : PUF,
1991, pp. 5 e s. Nessa publicação, cumpre examinar, mais pormenorizadamente, as
afirmações revisionistas e desnaturadoras do marxismo, no sentido da direção
dos franco-gramscianos, apresentadas, sobretudo, por BENSAÏD, DANIEL. “Rentrons Dans La Rue”
– Remettre Marx sur ses Pieds ?, in : ibidem, pp. 207 e s.; TEXIER, JACQUES. Ouverture du Colloque. Quelques Rendez-Vous Urgents avec
la Chouette de Minerve, in : ibidem, pp. 5 e s. ; IDEM. Le Monde Moderne et l’Idée du Communisme, in : ibidem, pp.
43 e s.; BIDET, JACQUES. Capitalisme,
Communisme, Marxisme, Socialisme, in : ibidem, pp. 17 e s.; LABICA, GEORGES. Pour une Alternative Démocratique, in: ibidem, pp. 241 e
s.; SÈVE, LUCIEN. Fin du Communisme
?, in : ibidem, pp. 139 e s.; LOSURDO,
DOMENICO. Marx et l’Historie du Totalitarisme, in : ibidem, pp. 75 e s.
[35] Vide, mais
detalhadamente, BIDET, JACQUES. Les
Paradigmes de la Démocratie, in : Actuel Marx Confrontation. Colloque du CNRS,
29-30 Mai 1990, organisé par la Revue Actuel Marx et l’Université de Paris X -
Nanterre, sous la direction de Jacques Bidet, Paris : PUF, 1994, pp. 5 e s.
Nessa publicação, cumpre comprovar, mais pormenorizadamente, as teses
revisionistas e parasitárias do marxismo, no sentido da direção dos
franco-gramscianos, apresentadas, sobretudo, por SAMARY, CATHERINE. La Démocratie par le Marché ?, in: ibidem, pp.
251.; TEXIER, JACQUES. Les Concepts
de Liberté „Négative“ et de Liberté „Positive“ chez Isaiah Berlin, in : ibidem,
pp. 149 e s.; BIDET, JACQUES. Présentation
: Démocratie et Modernité. Jalons pour une Théorie Générale, in : ibidem, pp. 5
e 83 e s.; LABICA, GEORGES. Adresse Inaugurale, in
: ibidem, pp. 13 e s.; TOSEL, ANDRÉ. L’Antinomie de la
Démocratie, in : ibidem, pp. 137 e s.; ANDRÉANI,
TONY. Démocratie Représentative, Démocratie Délégative, Démocratie Directe,
in : ibidem, pp. 181 e s.; ROBELIN,
JEAN. Les Nouvelles Figures Mondiales de la Politique, in : ibidem, pp. 225
e s.
[36] Vide, mais
detalhadamente, BIDET, JACQUES &
TEXIER, JACQUES. Le Nouveau Système du Monde, in: Actuel Marx
Confrontation. Colloque International Sorbonne, 29 et 30 Mai 1992, organisé par
la Revue Actuel Marx et l’Istituto Italiano per gli Studi Filosofici, sous la
direction de Jacques Bidet et Jacques Texier, Paris : PUF, 1994, pp. 5 e s. Nessa publicação, cumpre atestar,
mais pormenorizadamente, as teses revisionistas e parasitárias do marxismo, no
sentido da direção dos franco-gramscianos, apresentadas, sobretudo, por LÖWY, MICHAËL. Patries ou Planète ? La
Montée des Nationalismes dans le Monde, in : ibidem, pp. 199 e s.; BIDET, JACQUES & TEXIER, JACQUES. Le
Nouveau Système du Monde, in : ibidem, pp. 5 e s.; BALIBAR, ETIENNE. „Le Monde“ a-t-il changé, in: ibidem, pp. 125 e
s.; LABICA, GEORGES. La Croix de la
Double Transition, in: ibidem, pp. 37 e s.; LOSURDO, DOMENICO. Autoconscience, Fausse Conscience, Autocritique
de l’Occident, in : ibidem, pp. 155 e s.
[37] Cf. ESPACES MARX. Explorer, Confronter,
Innover : Historique, in : Espaces Marx, Paris, http:/ /www.internatif.org
/EspMarx/adm/index.html.
[38]
Cf. IDEM. ibidem.
[39] Cf. IDEM. Explorer, Confronter, Innover :
Les Membres du Comité de Direction, in : Espaces Marx, Paris, http:/
/www.internatif.org /EspMarx/adm/index.html. ibidem.
[40] Cf. LAZARD, FRANCETTE. Un Monde à Gagner, in : Le Manifeste
Communiste 150 Ans Après : Quelle Alternative au Capitalisme ? Quelle
Émancipation Humaine ?, Paris, http:// www. Internatif.org /EspMarx/Marx_98/index.html
[41] Acerca do tema, vide ESPACES MARX. Explorer, Confronter,
Innover : Bulletin Réseau International, in: Espaces Marx, Paris, http://www.
internatif.org /EspMarx/Reseau/index2.html
[42] Cf. IDEM. Pour une Construction Citoyenne
du Monde. Un An Après Seattle, Les Organisateurs du Colloque 2000, Collectif de
Préparation du Colloque 2000, Paris, http://www. internatif.org
/EspMarx/Reseau/index2.html
[43] Cf. ESPACES MARX. Rencontre International à
Paris : „Pour une Construction Citoyenne du Monde. Un An Après Seattle“, in :
Actuel Marx. Revue Internationale : PUF-CNRS, Paris, http:// www.
u-paris10.fr/ActuelMarx/indexa.htm.