II.A.

ATUAL LINHA POLÍTICO-PROGRAMÁTICA DO SU-QI

SOB O IMPACTO DO GRAMSCISMO EM 

CINCO CASOS ESPECÍFICOS

 

II.A.1.

OS GOVERNOS  DE PORTO ALEGRE

E DO RIO GRANDE DO SUL

SOB A MARCA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

E DA TRANSFORMAÇÃO DO ESTADO BURGUÊS

EM PROL DA DEMOCRACIA SOCIALISTA 

 

Texto de Autoria de

Portau Schmidt von Köln

Emil Asturig von München

 

A Enfermidade Gramsciana

no Movimento Trotskysta Contemporâneo

e nas Lutas de Emancipação do Proletariado

Polêmica Trotsky e Gramsci  : Gramsci e Trotsky 

O SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana

de Atualização, Correção

e Superação do Marxismo

(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)

 

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http://www.scientific-socialism.de/SUCapa.htm 

 

No quadro de sua V. Conferência Nacional, realizada em junho de 1999, em Cajamar, Estado de São Paulo, contando com a participação de 80 delegados, a Tendência Democracia Socialista(DS), seção brasileira do SU-QI, que intervém no interior do Partido dos Trabalhadores do Brasil (PT), teve a oportunidade de fundamentar, acuradamente, seus posicionamentos acerca da situação político-nacional brasileira, bem como sobre questões programáticas e tarefas de construção partidária.

Essa V. Conferência Nacional da Tendência Democracia Socialista(DS), seção brasileira do SU-QI - considerada por seus membros como o evento de maior envergadura, organizado em seus 20 anos de existência– colocou, igualmente, na ordem-do-dia de seus debates o balanço das atividades do Partido dos Trabalhadores do Brasil (PT) nas esferas governamentais-municipais e estaduais, tendo como centro de gravidade analítica a temática relacionada com as políticas de governo do Estado Federado Brasileiro do Rio Grande do Sul e do município de Porto Alegre.[1][2]

 

 

No quadro dessa conferência, a direção política e intelectual da Tendência Democracia Socialista(DS) demonstrou estar cada vez mais profundamente marcada pela capitulação à ideologia gramsciana, refletida em nível extremo pela direção internacional do SU-QI, no quadro de seu colaboracionismo aberto e ostensivo com os meta-marxistas franco-gramscianos de Actuel Marx, Espaces Marx da França e Espaces Marx Réseau International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde, visando à correção, atualização e superação do marxismo, no sentido da mais total desnaturação e abandono das tradições revolucionárias consubstanciadas nos pensamentos de Marx e Engels, Lenin e Trotsky.

Cumpre documentar, entretanto, a seguir, os elementos teóricos que permitem atestar a afirmação aqui formulada, recorrendo às citações dos próprios argumentos firmados na V. Conferência Nacional de Cajamar de 1999, por Democracia Socialista(DS).

Quanto ao contexto da conferência em exame, Democracia Socialista(DS) escreve da seguinte forma :

 

„Vivemos em um período do neo-liberalismo mundial, ainda que seu fracasso histórico se torne cada vez mais clarevidente e desencadeie crescentes reações. ...

Em tal situação, uma grande responsabilidade advém a uma corrente como a DS, que participa na construção do PT.

Ela deve engajar-se intensivamente na elaboração de uma política que tenha por objetivo preparar uma derrota para o neo-liberalismo e substituí-lo por um outro projeto, i.e. um projeto popular e democrático. ...

A experiência demonstra atualmente que a esquerda pode-se fortalecer, também em nível das instituições, caso consiga dirigir conjuntamente um conjunto de forças alternativas, políticas e sociais, que se opõem ao campo, que formam a direita e o centro.

Essa é uma das principais lições que é necessário extrair da experiência que a esquerda do PT, nela incluída a DS, no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre, desenvolveu exitosamente.“[3]  

 

 

 

 

Salientando acima o perfil característico de seu „outro projeto, i.e um projeto popular e democrático“, a ser oposto ao neoliberalismo, como forma de lograr derrotá-lo, i.e. o projeto de Democracia Socialista(DS), ou seja um projeto não essencial ou primacialmente proletário-revolucionário, voltado à destruição do Estado Burguês e à construção de um Estado Proletário, que seja a expressão da Ditadura Revolucionária do Proletariado Brasileiro, incorporadora da mais ampla Democracia das Massas Proletárias Brasileiras, segue a direção de Democracia Socialista(DS) sua exposição assinalando o seguinte acerca de sua perpectiva em relação às tarefas a serem empreendidas pelo PT no próximo período histórico e sobre sua orientação para a possível construção do que denomina de „projeto popular e democrático“ nos dias de hoje, em particular em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul :

 

„A Conferência discutiu, detalhadamente, esses temas (i.e. esses temas relacionados com o contexto da conferência), sem que fosse tomada acerca disso uma resolução especial até agora.

Na realidade, trata-se de uma questão estratégica para o Partido que deve fazer face a um desafio duplo : aproveitar as possibilidades de construção de um projeto alternativo ao neoliberalismo e, ao mesmo tempo, enfrentar a grande pressão de adaptação à ordem existente.

Alguns pontos, referidos no curso dos debates, devem ser destacados : 

 

·         Vemo-nos diante de um processo que poderia conduzir a notáveis experiências na construção do poder popular e da democracia direta(p. 37). Tal possibilidade assume forma concreta sobretudo em Porto Alegre e é fortalecido, agora, em uma base mais ampla, com a conquista do governo do Estado do Rio Grande do Sul. É necessário posicionar-se, ao mesmo tempo, em face dos enormes desafios que poderiam resultar das resistências das elites, das restrições legais e tributárias existentes em todos os níveis, dos perigos também decorrentes da separação de um impacto nas instituições e dos impactos sociais dos militantes de esquerda. Alguns setores desses últimos – não apenas no Brasil – possuem uma outra postura em relação aos governos regionais e municipais. Eles consideram uma participação em tais postos públicos como uma legitimação para a participação no governo nacional, sem que isso conduza a grandes rupturas. Expresso de outra forma : consideram isso como uma oportunidade de demonstrar claramente à burguesia que se pode governar com os setores de esquerda.

 

·         Em que medida somos capazes para, partindo dos governos conquistados, reverter processos destrutivos que já foram dinamizados pelos neoliberais, em diferentes níveis ? De que maneira isso influencia nossa capacidade de elaborar um programa alternativo ao neoliberalismo ?

 

·         Não existe nenhum „Modelo-PT de exercício dos postos públicos“. As experiências, que tem sido feitas desde 1988 em Porto Alegre, diferenciam-se fortemente daquelas, por exemplo, verificadas em São Paulo e é impossível formular um claro balanço. ...

 

·         Partindo da experiência no Rio Grande do Sul pode-se clarificar no que o PT deve se diferenciar, no quadro de sua participação em governos regionais, de outros partidos : nomeadamente em sua capacidade de fazer valer sua própria postura em relação às questões democráticas e de promover tranformações transitórias na sociedade, i.e. ultrapassar os limites da ordem burguesa existente.

 

·         Em inúmeros governos e nas campanhas eleitorais do PT procura-se afirmar a idéia de que nossa diferença estaria na „moral“ combinada com a „eficiência“. Essa não basta. Um governo do PT deve assumir iniciativas que se tornem ponto de apoio para as modificação das relações de forças sociais ( em nível municipal ou estadual ) no quadro de um programa antagônico àquele neoliberal. Nisso reside o sentido da participação popular, tal como é promovida pelo „Orçamento Participativo“ e outras instâncias em Porto Alegre.

 

·         A concepção de uma democracia popular-participativa deve estimular a direta ação dos cidadãos e cidadãs, bem como sua crítica, sua desconfiança, em face da democracia representativa, aproximar-se de uma cultura que levem as pessoas a não delegar o poder e, se uma não delegação se tornar impossível, a não renunciar sua soberania (p.ex. através do recurso a revogabilidade de mandatos, se os eleitos não respeitam os princípios). Isso significa que a atual concepção da direção do PT deve ser modificada, a qual se posiciona por demais benevolentemente em relação à democracia representativa. Nosso objetivo consiste não tanto em aumentar o número dos deputados, senadores, prefeitos governadores etc., senão em modificar as normas políticas de comportamento do povo. ...

Como próxima tarefa política imediata, a Conferência estabeleceu o engajamento do PT, da CUT e do CMP e de todo campo conjunto das forças populares e democráticas em uma campanha política em favor do fim do governo Cardoso e sua substituição por um governo democrático-popular.

Nas crises nacionais despedaça-se o projeto hegemônico.

Essa é uma oportunidade favorável para impulsionar uma alternativa de esquerda. Um aspecto essencial de nossa atividade atual consiste, pois, no desenvolvimento de uma alternativa programática diante do pano de fundo da crise no Brasil(p. 38).

A história do PT propicia-nos elementos para tal alternativa, pela qual devemos lutar :

 

·         Grandes reformas de redistribuição, tais como contidas nos programas de 1989 e 1994 ;

 

·         Democracia radical e participação direta da população, partindo das experiências do Rio Grande do Sul ;

 

·         Defesa da soberania nacional e da solidariedade internacional ;

 

·         Redifinição das decisões econômicas do país, partindo dessas grandes linhas;

 

·         Construção da hegemonia dos trabalhadores e da maioria do povo em favor de um governo de esquerda, em nível nacional(p.39).“[4]

 

 

 

Aportar ao leitor mais provas dessa estratégia gramsciana, renegadora do trotskysmo, revisionista e parasitária da tradição classista proletário-revolucionária da III e IV Internacionais e mais sensivelmente adaptada aos preconceitos democrático-burgueses que dominam e oprimem também as massas proletárias dos principais países situados na periferia da remundialização capitalista-imperialista, estratégia adotada, presentemente, de modo claro, pela direção da Tendência Democracia Socialista(DS), sob o impacto do estreito colaboracionismo intelectual e político do Secretariado Unificado da Quarta Internacional(SU-QI) com o franco-gramscismo meta-marxista de Actuel Marx e dos Espaces Marx Réseau International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde,  torna-se, no presente trabalho, portanto, um dever.

Sendo assim, é de anotar-se, nesse passo, que em sua V. Conferência Nacional, realizada em junho de 1999, a Tendência Democracia Socialista(DS) elaborou o que julga dever ser, nos dias que correm, o „projeto socialista“, a ser assumido pelo PT e pelas massas exploradas e oprimidas brasileiras, ansiosas por mudanças socialistas.

Tal „projeto socialista“, formulado por Democracia Socialista(DS) sob o título de Teses para uma Atualização do Programa do Partido dos Trabalhadores, assumiu tanta importância teórica para as demais seções nacionais do SU-QI, no que tange às suas discussões programáticas, que se as fez publicar, muito recentemente, em abril de 2000, nas colunas do órgão político oficial dessa organização internacional, i.e. a Revista INPREKORR.

Nessas Teses da Tendência Democracia Socialista(DS) pode-se ler o seguinte :

 

„TESE 1 : O PT E A DISCUSSÃO PROGRAMÁTICA

 

Durante alguns anos, particularmente entre 1987 e 1991 (entre o V Encontro Nacional, de 1987, e o I Congresso do Partido) existiu uma ampla discussão no PT acerca do programa.

Nesse quadro, surgiram progressos tanto quanto à apresentação da concepção de socialismo como relativamente ao caminho a percorrer-se para nele chegar.

Nos últimos tempos, particularmente durante a campanha eleitoral de 1998, reduziu-se a discussão sobre o programa às propostas sobre medidas de governo, pensadas no contexto de transformações limiitadas que seriam aplicáveis „no quadro de uma sociedade capitalista“(Resolução do Encontro Extraordinário de 1998).

Um aprofundamento da compreensão do socialismo é urgente não apenas enquanto tarefa estratégica – o que é importante para o fortalecimento da identidade do Partido – mas também representa um desafio conjuntural, a fim de que a credibilidade do Partido dos Trabalhadores enquanto lutador de vanguarda em prol de uma alternativa global ao neoliberalismo seja fortalecida.

Uma de nossas dificuldades dos últimos anos, residiu no descrédito do socialismo, que nos abandonou à crise do capitalismo, sem alternativa global e popular, e com isso também em uma má posição, para repelir os ataques dos neoliberais.

O PT continua a se definir socialista, porém fez pouco nos últimos tempos para precisar sua compreensão do socialismo e da transição rumo a ele(p. 7) ...

 

TESE 6 : O SOCIALISMO ENQUANTO AUTO-GOVERNO SOLIDÁRIO DO POVO ORGANIZADO

 

Nosso programa democrático para o povo simples deve orientar-se em uma concepção de socialismo que tenha por objetivo a apropriação do controle dos mecanismos da direção econômica e política da sociedade pela população organizada(p. 10).  

 

 

Como perspectiva para a época atual e enquanto eixo para um programa democrático do povo simples, nossas propostas devem nitidamente ser mais limitadas : todas as formas de auto-administração e de controle social do Estado e do mercado devem ser desenvolvidas.

Enquanto perspectiva de curto-prazo, não defendemos nem o desaparecimento do Estado (no original alemão : Verschwinden des Staates) – o que é notório – nem sua redução.

Defendemos sua transformação : ele deve ser controlado, cada vez mais intensamente, por uma população organizada e consciente, que se constitua, mais e mais, como público real. Nesse sentido, defendemos um enfraquecimento do Estado (no original alemão: Schwächung des Staates), i.e. seu enfraquecimento enquanto aparato politicamente autônomo.

Nossa experiência dos últimos anos são extremamente valiosas para uma concretização dessa perspectiva, porque existiram progressos na participação do povo em diversas administrações municipais, em particular em Porto Alegre, e devido a que esse processo pode ser agora expandido em nível do governo do Estado do Rio Grande do Sul. Essas experiências demonstraram que essa forma de tratamento da questão do Estado é tanto democrática como eficiente. ...

Afirmamos que, sob o ponto de vista democrático, uma redução do Estado (no original alemão : Reduzierung des Staates) e com isso uma expansão dos mercados capitalistas não faz nenhum sentido.

Na realidade, isso conduziria a uma perda de possibilidades de decisão para o povo, i.e. a uma perda de democracia.

Afirmamos, porém, também, que, sob o ponto de vista democrático, um fortalecimento do Estado não faz nenhum sentido, se não se fortalecerem os mecanismos de controle da sociedade sobre o Estado. 

Se a expansão da atividade do Estado (no original alemão : Ausweitung der Staatstätigkeit) ocorrer em combinação com um controle social sobre suas atividades, desenvolveremos as formas que possibilitam aos cidadãos e cidadãs alcançar mais controle sobre suas condições de vida ou, em outras palavras, expandiremos a democracia.

Nesse sentido, a „expansão“ da atividade do Estado contribui para o processo de seu desaparecimento (no original alemão : seines Verschwindens), no longo prazo, i.e. para sua retração na sociedade organizada  ...

No quadro de um governo democrático do povo e no curso do processo de transformação, surgirão as condições a fim de que possa ser resolvido um grande problema ( se não o maior deles ) no qual esbarram as iniciativas dos trabalhadores no domínio econômico regularmente, a saber : a pressão de se adaptar aos dados do mercado, i.e. de fazer seu o modo de ver das empresas(p.11). ... As decisões acerca da política de desenvolvimento (regional, industrial etc.) devem ser subordinadas a um modo de ver geral, que apenas pode ser elaborado em espaços democráticos da participação do povo, tal como ocorre no Orçamento Participativo(p.12)“[5]

 

 

 

Eis aí, portanto, o „projeto socialista“, formulado sob forma de Teses para uma Atualização do Programa do Partido dos Trabalhadores, que a Tendência Democracia Socialista(DS) julga dever ser assumido pelo PT e pelas massas exploradas e oprimidas brasileiras, ansiosas por mudanças socialistas.

Com a reprodução das citações acimas, deve resultar claro para o leitor o fato de que a Tendência Democracia Socialista(DS) deturpou e abandonou, resoluta e inteiramente, as concepções norteadoras e os vocábulos linguísticos essencialmente socialistas-revolucionários classistas que conferem expressão inconfundível à doutrina fundamental do socialismo científico de Marx e Engels acerca do Estado.

Pelo contrário, dando fiel e sistemática aplicação à metodologia semântico-vernacular desenvolvida, aprimorada e consagrada por um dos mais pronunciados intelectuais do SU-QI da atualidade, identificado, no presente texto, por seu “pequeno escorregão” da Ditadura do Proletariado à Democracia Socialista, professor sorbonnard Daniel Bensaïd, a Tendência Democracia Socialista(DS) demonstra, cabalmente, como, no caso brasileiro, há de ser aplicado o procedimento franco-gramsciano dos “glissements de mots, déplacements de sens”, i.e. dos “escorregões de palavras, deslocamentos de sentidos”, como forma de alcançar-se a „hegemonia dos trabalhadores e da maioria do povo em favor de um governo de esquerda, em nível nacional“, „no quadro de um governo democrático do povo e no curso do processo de transformação”.

No caminho a percorrer-se para chegar-se à Democracia Socialista, seria, então, necessário lutar-se por um “programa democrático para o povo simples”, que tenha por objetivo “a apropriação do controle dos mecanismos da direção econômica e política da sociedade pela população organizada”, sendo que a perspectiva de curto-prazo seria precisamente : a transformação do Estado Burguês Brasileiro, de modo a que ele “seja controlado, cada vez mais intensamente, por uma população organizada e consciente, que se constitua, mais e mais, como público real”.

No quadro da transformação do Estado Buguês Brasileiro – pois aqui é necessário pressupor-se que Democracia Socialista(DS) pretende chamar o PT e o povo simples a transformar algo que efetivamente existe institucionalmente sobre o solo de tal país – haver-se-ia de defender um enfraquecimento desse Estado, i.e. seu enfraquecimento enquanto aparato politicamente autônomo.

A experiência dos últimos anos de Democracia Socialista (DS), em particular em Porto Alegre, e no Estado do Rio Grande do Sul, seriam, então, extremamente valiosas para uma concretização dessa perspectiva de enfraquecimento do Estado Burguês Brasileiro, i.e. seu enfraquecimento enquanto aparato politicamente autônomo, posto que existiram progressos na participação do povo gaúcho em diversas administrações municipais, demonstrando que essa forma de tratamento da questão do Estado é tanto democrática como eficiente.

Portanto : “programa democrático para o povo simples” realizado através da transformação e enfraquecimento do Estado Burguês Brasileiro. 

Por outro lado – e esse por outro lado é decisivo para a compreensão de toda a questão -, por outro lado, haveria a expansão democrática da atividade do Estado Burguês Brasileiro, a qual ocorrendo em combinação com um controle social sobre suas atividades, contribuiria para o processo de seu desaparecimento, i.e. de sua retração na sociedade organizada.

Assim : “programa democrático para o povo simples” protagonizado por Democracia Socialista(DS), realizado através da transformação e enfraquecimento, mas com expansão democrática da atividade, contribuiria para o desaparecimento  do Estado Burguês Brasileiro, i.e. sua retração na sociedade organizada.

No contexto dessa mais total e insofreável capitulação da direção de Democracia Socialista à ideologia gramsciana, projetada no domínio político em torno de consignas estratégicas relacionadas com a supostamente sempre progressiva, ilimitada e possível democratização da sociedade civil burguesa e do Estado Burguês, como forma de, através de um „ poder popular“ e da „democracia direta e popular-participativa“, ultrapassar os limites da ordem burguesa e aceder ao socialismo, resulta clarevidente o próprio significado de sua defesa da perspectiva de participação em postos públicos governamentais, estímulo da moralidade e da eficiência, sim, complementada porém com uma maior participação popular, tal como promovida pelo Orçamento Participativo e outras instâncias em Porto Alegre.

Vê-se, pois, que Democracia Socialista(DS), abandonando integralmente a doutrina proletário-revolucionária classista de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, não aspira, absolutamente, de forma alguma, de maneira nenhuma, no quadro de seu projeto „projeto popular e democrático“, estimular intensamente a participação das massas proletárias para, valendo-se de sua utilização dos espaços políticos limitados, arrancados, sob a pressão de suas lutas violentas e sangrentas, ao despotismo do capitalismo brasileiro, presentemente dominante sob sua forma burguesa político-democrática e jurídico-constitucional – mesmo inclusive no âmbito do espaço surgido em virtude da instituição dos Orçamentos Participativos – fortalecer e organizar as forças de violência destrutora das classes exploradas e oprimidas brasileiras, a fim de voltá-las para a tarefa de implosão, despedaçamento, destruição, do Estado Burguês Brasileiro opressor, aí contidas todas suas instituições estatais fundamentais do domínio burguês-capitalista, tais como o Poder Judiciário, o Congresso Nacional e o Poder Executivo, concebido esse último enquanto governos nacional, estaduais e municipais, administrações público-burguesas (forças armadas e polícias militares), como forma de viabilização da construção de um Estado Proletário Internacionalista no Brasil, expressão da Ditadura Revolucionária do Proletariado Brasileiro, incorporadora da mais ampla e, em sentido histórico, largamente mais avançada Democracia dos Proletários do Brasil.    

A “construção da hegemonia dos trabalhadores e da maioria do povo em favor de um governo de esquerda, em nível nacional“, tal como a direção da Tendência Democracia Socialista a propaga entre seus militantes e delegados congressuais, sob a forma da oportunista e aparentemente revolucionária terminologia vocabular e doutrina ideológica gramsciana, está preocupada, sobretudo, em saber „em que medida somos capazes para, partindo dos governos conquistados, reverter processos destrutivos que já foram dinamizados pelos neoliberais, em diferentes níveis ?“, como se possível reverter tais processos, já dinamizados pelo neoliberalismo mediante a mais ampla democratização da sociedade civil burguesa e do Estado Burguês Brasileiro, partindo das experiências de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul de Orçamento Participativo, avançando, nesse preciso e específico contexto, no sentido da partipação popular. 

Em verdade, o fundamento existencial do Orçamento Participativo, em si mesmo, está relacionado com a crescente crise econômico-financeira das administrações público-burguesas brasileiras, bem como associado à falência histórica da perspectiva ditatorial-militar, oligárquico-clientelista, de autonomia, em nível municipal e estadual, relacionada com a contratação de créditos junto às organizações financeiras internacionais do capitalismo-imperialista, visando supostamente ao financiamento de obras de infra-estrutura e saneamento, voltadas ao fomento do projeto de desenvolvimento capitalista nacional no Brasil.

Quando o governo federal burguês brasileiro, no quadro do Plano Real, pressionado pelas ambições do imperialismo capitalista remundializante concernente ao repagamento das dívidas externa e interna brasileiras, foi forçado a assumir e a centralizar, rigorosamente, o gerenciamento das dívidas municipais e estaduais, estrangulando a antiga autonomia das demais esferas de governo na contração de créditos internacionais, produziu-se a virtual insolvência contábil que hoje assola a grande maioria das administrações político-administrativas público-burguesas brasileiras.    

Nesse sentido, um dos mais importantes objetivos apriorísticos do Orçamento Participativo é o de conformar-se em amplo instrumento político-público social-reformista voltado a um impossível gerenciamento da crise capitalista econômico-financeira brasileira, em nível municipal e regional, marcada pelo processo de remundialização colonizadora do Brasil, impulsionado pelo capitalismo imperialista da atualidade, bem como pelas políticas público-burguesas de estabilização fiscal-federal, altas taxas de juros e subsídios de exportações que isentam empresários exportadores do pagamento de ICMS – principal imposto instituído e arrecado na esfera estadual  etc.

O Conselho do Orçamento Participativo surge, assim, nas mãos do social-reformismo brasileiro, como um mecanismo governamental criado, original e aprioristicamente, para a colaboração de classes, em cujo quadro trabalhadores e demais socialmente oprimidos são chamados a participar em um espaço comum juntamente com representantes de toda sociedade civil burguesa e do Estado Burguês, inclusive agentes da burguesia brasileira, a fim de opinar e, eventualmente, deliberar acerca das finanças municipais ou, dado caso, estaduais, em situação de virtual bancarrota, de modo a tornarem-se, assim, co-responsáveis pelas subseqüentes medidas de fomento da miséria, reduções arrochantes das poucas conquistas sociais e demissões crescentes de funcionários e trabalhadores, empreendidas pelos governos sociais-reformistas, em nome do conceito jurídico-burguês relacionado com o „bem público“.

O posicionamento de Arno Augustin, membro da direção da Tendência Democracia Socialista(DS) e Secretário da Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul, aponta, necessariamente, nesse sentido quando afirma :

 

"As experiências de democratização existentes no país, como é o caso do orçamento participativo, demonstram melhoria da eficiência e resultados fiscais animadores.

A Prefeitura de Porto Alegre, por exemplo, saiu de um déficit de mais de 35% e de um gasto com pessoal de 98% para uma situação de equilíbrio fiscal, alcançado por meio do aumento da receita própria.

Este, por sua vez, possibilitou uma redução do gasto com pessoal de mais de 30 pontos percentuais, após dez anos de participação popular.

Graças a experiências como essa, há um reconhecimento internacional de que o gasto público é mais eficiente quando feito nas esferas mais próximas da população."[6]

 

 

 

Entretanto, é importante assinalar que não apenas a Tendência Democracia Socialista(DS), seção brasileira do SU-QI, e mesmo diversas correntes notoriamente sociais-reformistas do Partido dos Trabalhadores(PT) – que pouco ou nada tem a ver com o trotskysmo no Brasil – são as únicas protagonistas e defensoras históricas do Orçamento Participativo.

Nas fileiras do social-reformismo dos partidos operários, também o Partido Comunista do Brasil(PcdoB) defende a instituição do Orçamento Participativo em um seu futuro possível governo da cidade de Olinda, em Pernambuco, como forma de „abrir espaço democrático para que, de fato, Olinda possa se desenvolver“, fortalecendo „linhas que têm funcionado nas prefeituras de esquerda de todo o País, que é o fortalecimento da saúde preventiva e de investimentos em controle epidemiológico e sanemento básico." [7]  

 

 

Além disso, certas forças políticas representantes de diferentes setores sociais-reformistas da burguesia brasileira são também favoráveis à instituição do Orçamento Participativo, ainda que não o concebam, estritamente, à maneira gramsciana de Democracia Socialista(DS) e do SU-QI - enquanto suposto mecanismo de fortalecimento da participação popular e instrumento de fomento democracia direta visando à transformação democrática do Estado Burguês Brasileiro.

Os governadores burgueses-oposicionistas do Estado de Minas Gerais, Itamar Franco, representante do antigo PMDB, e aquele do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, um dos dirigentes do PDT, também são eminentemente favoráveis à perspectiva financeiro-administrativa social-reformista do Orçamento Participativo.

Acerca da instituição de Orçamentos Participativos no Brasil, os jornalistas da Folha de São Paulo, um dos maiores e mais vendidos jornais burgueses do Brasil, escrevem da seguinte forma :   

 

"Até mesmo governantes do PFL aderiram à idéia.

Atualmente, cerca de 70 municípios adotam o mecanismo, pelo qual a população elege suas obras prioritárias que devem ser incluídas na proposta orçamentária.

Há dez anos, quando a Prefeitura de Porto Alegre resolveu implantar o sistema, só 20 cidades seguiram esse caminho.

Na safra de prefeitos eleitos em 92, que ficaram no poder até 96, cerca de 40 municípios implementaram a experiência...

em Recife, Jarbas Vasconcelos (PMDB) tinha desde 86 um programa chamado "Prefeitura nos Bairros" que limitava-se a coletar reivindicações da população, mas não tinha o compromisso de incluí-las no Orçamento, mas em 93, a experiência foi implantada nos moldes da de Porto Alegre, quando a população de Recife passou a eleger as obras e elas começaram a ser colocadas na proposta orçamentária.

E o atual prefeito, Roberto Magalhães (PFL), que assumiu em 97, deu continuidade ao projeto iniciado na segunda gestão de Jarbas Vasconcelos (PMDB), em 93.“[8]

 

 

 

Nesse contexto, Democracia Socialista(DS) concebe o estreito e limitado espaço político-público surgido em decorrência da instituição de Orçamentos Participativos, no quadro da ideologia gramsciana, como um mecanismo para a ampla e ilimitada transformação democrática do Estado Burguês Brasileiro, contemplada essa última como forma de aceder ao socialismo.

Dessa forma, Democracia Socialista(DS) não o contempla, precisamente, como um restrito espaço político-público, instituído pelo social-reformismo a priori para fomentar a conciliação de classes, em relação ao qual é, entretanto, indispensável intervir para desmascarar seu caráter de colaboracionismo, fomentando o movimento das massas oprimidas e avançando no cumprimento da tarefa de organização e de mobilização das forças proletárias brasileiras, visando ao impulsionamento da revolução socialista que despedaçe, violentamente, o despotismo capitalista e o Estado Burguês Brasileiro, abrindo a via para a edificação de um Estado Proletário Internacionalista no Brasil.[9]

 

 

Nesse contexto de prostração política diante de uma suposta via democrático-pacifista ao socialismo e de conquista das instituições burguesas e, particularmente, do Estado Burguês, mediante uma fictícia construção da hegemonia dos trabalhadores e da maioria do povo em favor de um governo de esquerda, a direção política e intelectual de Democracia Socialista, enferma de gramscismo, injetado em suas veias diretamente pelos principais expoentes teóricos do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI), não poderia senão proclamar, cega e alucinadamente :

 

„Enquanto receptor da grande maioria dos votos de oposição e Partido com grande influência nos movimentos sociais, que possui em suas fileiras os setores mais avançados das esquerdas brasileiras, o PT tem uma grande responsabilidade de apresentar um fundamento para uma alternativa de esquerda.

Fora do PT não existe, de nenhuma forma, qualque possibilidade de desenvolvimento de uma tal perspectiva.“[10]      

 

 

 

O que Democracia Socialista(DS) não logra ou não quer ver, nos dias de hoje, acerca da crescente e cada vez mais irreversível adaptação social-reformista do Partido dos Trabalhadores(PT) aos interesses de exploração e dominação da burguesia-capitalista brasileira em face dos trabalhadores e demais socialmente oprimidos, alguns (ex-)militantes alemães do SU-QI já conseguiram, resolutamente, entrever mesmo nos idos de 1995, a milhões de quilômetros de distância da realidade do Brasil, tendo em conta apenas os depoimentos dos principais dirigentes e representantes políticos do PT. 

Quando no Congresso Internacional „Em Igual Medida“, realizado em Munique, em 12 de novembro de 1995, com o objetivo de dar uma resposta à globalização do comércio mundial e a ofensiva do neoliberalismo, Nick Brauns, então antigo militante da Liga Revolucionária Socialista da Alemanha(RSB), uma das seções alemãs do SU-QI, foi encarregado de relatar a intervenção aí proferida por Luís Ignácio da Silva, Lula, observou, cautiscamente, em uma das raras colunas que podem ser lidas, em tempos recentes, na Revista INPREKORR, órgão oficial do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI) :

 

„No discurso de abertura Lula acentuou a importância de um trabalho sindical internacional :

« Se as empresas se globalizam, o trabalho deve fazer o mesmo, para poder reagir efetivamente. Aqui, arrastamo-nos atrás das empresas freqüentemente em 50 anos ».

Lula descreveu como os sindicalistas brasileiros sozinhos, a partir das experiências de duras greves, não puderam bater os empresários, reconhecendo, porém, a necessidade de uma organização política.

Assim, foi fundado em 1980 o Partido dos Trabalhadores(PT) e Lula tornou-se seu presidente. Através do apoio dos sindicatos e organizações eclesiásticas de base, o PT pôde tornar-se o maior partido dos trabalhadores do Brasil, com ampla sustentação de massas. ....

Contra o modelo do neoliberalismo, i.e. desmonte do Estado, desmonte social, privatização e integração em zonas de livre comércio, o PT exige um modelo de desenvolvimento alternativo.

O Brasil não deve ser desenvolvido à custa do povo, senão com a incorporação dos brasileiros e brasileiras. Lula não exige, porém, desde há muito tempo, a superação do capitalismo.

« O PT é a favor do livre-comércio, porém queremos igualdade nas relações comerciais entre o Primeiro e o Terceiro Mundo. Não queremos nos tornar satélites da União Européia, dos EUA e do Japão, mas sim participar da globalização com um modelo próprio de desenvolvimento. »

Segundo Lula, no Brasil, seria necessário primeiro criar-se um verdadeiro mercado interno, no qual os 170 milhões de pobres do país possam participar como consumidores e consumidoras.

Para tanto, Lula propõe um clássico modelo social-democrático : o papel social do Estado e da empresa deveria ser colocado em primeiro plano, novas tecnologias e postos de trabalho deveriam ser fomentados e « o trabalho doméstico brasileiro protegido ».

Nessa passagem do discurso de Lula, não consegui me livrar da desconfiança de que o antigo socialista radical, Lula, agora haveria capitulado à lógica do neoliberalismo. Seguramente, ele pretende modelar socialmente o sistema capitalista, tal como os sociais-democrátas procuraram fazê-lo em nível mundial e fracassaram.

Porém, em seu discurso soa nitidamente a lógica capitalista da proteção das condições de mercado da economia do Brasil. Pergunto-me qual Estado Lula pretende socialmente obrigar.

O Estado Burguês Brasileiro, cujos esquadrões da morte, nos últimos anos, reiteradamente, assassinam sindicalistas impunemente e cuja polícia militar conduz uma implacável guerra contra os favelados ?

E quais empresas devem cumprir sua função social ?

Os trustes alemães, cujas filiais brasileiras demitiram esse ano toda uma comissão de fábrica, porque ela deu expressão às necessidades dos empregados trabalhadores ? ...

Os revolucionários e as correntes de esquerda do PT, tal como os nossos companheiros da Tendência de « Democracia Socialista » devem romper com o programa de Lula e oferecer alternativas revolucionárias anti-capitalistas.“[11]      

 

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS

 



[1] Acerca de sua origem e identidade política, a Tendência Democracia Socialista escreve, da seguinte forma, em seu órgão político oficial Em Tempo : „A atual Tendência Democracia Socialista emergiu de um desenvolvimento, que começou há 20 anos atrás. Em 1979, nós, representantes de grupos regionalmente ativos da esquerda revolucionária, decidimos construir uma organização nacional, que assumiu o nome „Organização Revolucionária-Marxista Democracia Socialista“. Outrora, o PT existia apenas como projeto, porém em 1980, ele foi fundado. O que possibilitou a unificação e, depois, a integração, no curso do tempo, de outros grupos na DS, foram algumas características de nossa identidade, às quais nos vinculamos, em particular : - Engajamento no PT. Desde o início, entedemos a construção do PT como via para a construção do partido revolucionário no Brasil, partindo da defesa da independência de classe dos trabalhadores. Não contemplamos isso jamais como um processo espontâneo, livre de diferenças de opiniões das massas, pelo contrário : esse processo carece de um trabalho organizativo dos marxistas revolucionários no interior do partido, para, lado a lado com outros, lutar pela orientação socialista. Isso nos distinguiu de outras correntes da esquerda revolucionária que pretendiam construir o partido revolucionário, na medida em que se construiam a si mesmas. Nesse sentido, é devido à nossa iniciativa que o direito de tendência foi reconhecido no interior do PT e, em nosso caso, tornou-se evidente que, em 1987, tranformamo-nos em uma tendência partidária interna ; - Uma crítica das estratégias reformistas, nas suas versões stalinistas, sociais-democrátas ou nacionalistas, tal como do „marxismo“ dos manuais soviéticos. Nós lutamos por um marxismo aberto que se relaciona com as concepções e os debates da IV Internacional fundada por Trotsky (e, em particular, no caminho que ela trilhou sob a direção de Ernt Mandel), no diálogo com outras tradições e experiências, tal como a herança de Rosa Luxemburg, Antonio Gramsci, a obra de Che Guevara e a Revolução Cubana, as contribuições das comunidades religiosas de base e a Teoria da Libertação, o movimento ecológico, a luta dos negros, as novas dimensões abertas pelo movimento feminista e o movimento dos gays e das lésbicas.; - O valor central da democracia. Já o nome „Democracia Socialista“ relaciona-se, expressamente, com a crítica das visões de um socialismo autoritário e burocrático, tais como divulgadas há vinte anos entre os ativistas de esquerda; - Também uma crítica das visões que até hoje persistem e cuja influência ainda cresceram que reduzem o projeto dos militantes de esquerda tendencialmente para a continuidade da democracia burguesa-liberal. No campo programático, desenvolvemos uma compreensão para o potencial político das aspirações democráticas que, partindo dos problemas mais urgentes da população, colocam em questão a ordem existente e aguçam a luta pelo Socialismo.“ Cf. EM TEMPO. 20 JAHRE „DEMOCRACIA SOCIALISTA“. DELEGIERTEN-KONFERENZ VON „DEMOCRACIA SOCIALISTA“(Em Tempo. 20 Anos de „Democracia Socialista. Conferência de Delegados de „Democracia Socialista“), in : INPREKORR. Internationale Pressekorrespondenz, Nr. 337/338, November/Dezember 1999, p. 39.

[2] É importante assinalar que a presente temática, abordada pela Tendência Democracia Socialista(DS) em sua V. Conferência Nacional, adquire crescente importância nos dias de hoje, dado o fato de que o Partido dos Trabalhadores(PT) ter logrado eleger, nas eleições municipais brasileiras de Outubro de 2000, inúmeros prefeitos e vereadores. Como balanço preambular e mais geral dessas eleições, cumpre afirmar que o PT venceu nas urnas de 6 importantes municípios, dotados da qualidade de capitais de Estados Federados. São eles : Porto Alegre – capital do Estado do Rio Grande do Sul -, São Paulo – capital do Estado de São Paulo -, Recife – capital do Estado de Pernambuco -, Goiânia – capital do Estado de Goiás -, Belém – capital do Estado do Pará – e Aracajú – capital do Estado de Sergipe. Acerca do tema, vide SINGER, ANDRÉ, Segundo Turno Fortalece PT e Enfraquece PFL, in: Folha de São Paulo, 31 de Outubro de 2000.

[3] Cf. IDEM. ibidem, p. 37.

[4] Cf. IDEM. ibidem, pp. retro-mencionadas.

[5] Cf. TENDENZ SOZIALISTISCHE DEMOCRATIE. These für eine Aktualisierung des Programms der Arbeiterpartei(Tese para uma Atualização do Programa do Partido dos Trabalhadores), in : INPREKORR. Internationale Pressekorrespondenz, Nr. 342, April 2000, pp. retro-referidas.

[6] Acerca do tema, vide FOLHA DE SÃO PAULO, 26 de Junho de 1999.

[7] Cf. IDEM. 17 de Outubro de 2000.

[8] Cf. IDEM. 1° de Março de 1999.

[9] Desde seu ponto de vista eminentemente estático-sectário, abstencionista e radical de esquerda, em sentido político, a Liga Bolchevique Internacionalista(LBI) escreve, lamentavelmente, da seguinte forma, acerca do tema, em acusação ao PSTU do Brasil : „O PSTU participa deste engôdo de "participação popular no Estado" capitalista pensando em usufruir do guarda-chuva eleitoral da frente popular. Ressalta as "limitações" do Orçamento Popular pura e simplesmente para disfarçar sua adesão completa ao frentepopulismo. Ou seja "fazem uma ‘crítica aparente’, que serve de cobertura para um bloco 100% reacionário" (Uma vez mais sobre o centrismo, Leon Trotsky, 23/03/1934). A crítica aparente do PSTU serve de camuflagem para a sua desavergonhada participação nos organismos da Frente Popular. Opondo-se a dizer a verdade para as massas, a CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores/UIT) e o PSTU teimam em encobrir com sua política de "exigências" a conduta antioperária do governo Olívio já desnudada por reiteradas vezes frente as massas. Neste caso, a política de "exigências" deixa de ser uma tática acertada usada para desmascarar a frente popular perante os trabalhadores e se transforma numa cobertura para suas traições de classe quando estas exigências continuam sendo repetidas ad infinitum, mesmo após os acontecimentos da luta de classes já terem arrancado a máscara da frente popular. Para os pseudo-trotskistas apegados às saias da frente popular, esta tática tornou-se uma estratégia oportunista de alentar ilusões nas direções traidoras. Após o governo Olívio se comprometer e cumprir religiosamente o pagamento da dívida para FHC, após confiscar as aposentadorias, tentar instituir o pacote tarifaço, e ameaçar de cortar o ponto dos servidores que participaram da paralisação nacional do dia 10 de novembro que tinha como slogan o Fora FHC e o FMI, que mais falta para demonstrar perante as massas o comprometimento de Olívio com a governabi-lidade e com a política econômica de FHC e do FMI? Propor "que o governo assuma categoricamente: a luta para derrubar FHC, suspenda o pagamento da dívida do Estado com FHC, os banqueiros e o FMI" (Opinião Socialista, nº91) como faz o PSTU é levar uma política criminosa de segurar a folha de parreira da política desavergonhadamente pró-FHC e FMI da frente popular gaúcha, ficando na contramão dos trabalhadores que saem as ruas contra esta mesma política. As correntes centristas apóiam a greve dos professores nos estreitos marcos do sindicalismo de resultados, sem tirar nenhuma conclusão de porque o governo não quer, nem pode "gastar mais de R$ 210 milhões com o funcionalismo enquanto presenteia os capitalistas com R$8,8 bilhões (dívida interna, isenções fiscais, vista grossa para os sonegadores). Porque é um governo antioperário e pró-imperialista. Combinam o economicismo com uma política de pressão sobre o governo Olívio para que suspenda o pagamento da dívida interna e, pelo menos, incliná-lo" a adotar a moratória como Itamar, CST e PSTU jogam contra a evolução da consciência de classe dos trabalhadores e a superaração de suas ilusões nas direções tradicionais frente populistas. Como dizia o velho Trotsky, é "lei que os que temem em romper com os social-patriotas se transformam inevitavelmente em seus agentes"(Escritos, Lições de Outubro, 04/11/1935).“ Cf. LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA DO BRASIL. Orçamento Participativo. Instrumento de Frente Popular para Gerenciar a Crise do Estado Capitalista,  in : Tribuna de Debates. Orgão da Jornada Internacional pela Reconstrução da IV Internacional, Junho de 2000, pp. 4 e s. Trata-se efetivamente de um „radicalismo sectário de esquerda“, digno dos labor lieutenants of the capitalist class, para usar a expressão de Daniel de Léon, consagrada por Lenin. A LBI não entrevê que o espaço aberto com a instituição dos Orçamentos Participativos pode  e deve ser utilizado pelos revolucionários para lutar pelo avanço da conscientização dos trabalhadores proletários e não-proletários brasileiros, organizar e impulsionar suas mobilizações, preparando a deflagração da revolução socialista violenta, arrancando do debate em torno do fato de que o combate à corrupção nas prefeituras, nas administrações municipais e câmaras de vereadores exige, urgente e inafastavelmente, a construção de conselhos de trabalhadores e dos demais socialmente oprimidos pelo capitalismo no Brasil, revestidos de todos os poderes para deliberar e fiscalizar sobre a mais integral execução do orçamento, determinando e supervisionando as prioridades de governo municipal, bem como no sentido de alertar que a aplicação de medidas como renda mínima e bolsa-trabalho não podem ser asseguradas se não for declarada, inflexivelmente, o não pagamento das dívidas dos municípios.

[10] Cf. EM TEMPO. 20 JAHRE „DEMOCRACIA SOCIALISTA“. DELEGIERTEN-KONFERENZ VON „DEMOCRACIA SOCIALISTA“(Em Tempo. 20 Anos de „Democracia Socialista. Conferência de Delegados de „Democracia Socialista“), in : INPREKORR. Internationale Pressekorrespondenz, Nr. 337/338, November/Dezember 1999, p. 39.

[11] Cf. BRAUNS, NICK. Internationale Solidarität gegen den Neoliberalismus(Solidariedade Internacional contra o Neoliberalismo), in : INPREKORR. Internationale Pressekorrespondenz, Nr. 290, November 1995, p. 17.