Texto de Autoria
de
Portau Schmidt
von Köln
Emil Asturig von
München
A Enfermidade Gramsciana
no Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica Trotsky e Gramsci : Gramsci e Trotsky
O
SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana
de
Atualização, Correção
e
Superação do Marxismo
(O
Meta-Marxismo de Actuel Marx)
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Como é
amplamente sabido, o Timor do Leste foi invadido, em fins de
1999, por tropas imperialistas sob o patrocínio da Organização da Nações
Unidas(ONU), a qual denomina aquelas, em sentido jurídico-internacional
ideológico-burguês-imperialista, com a grandiloqüente alcunha já por demais
vulgarizada pelos meios de difusão mediática : „tropas pacificadoras da
ONU“, i.e. „UN peacekeeping troops“.
Diversas
direções políticas de seções nacionais do SU-QI, abatidas e
enfermas pelo desbragado, descomedido e impudente colaboracionismo dos mais
célebres mentores ideológicos franceses da Ligue Communiste
Révolutionnaire(LCR) e do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional(SU-QI) com o franco-gramscismo meta-marxista de Actuel
Marx e dos Espaces Marx, passaram a reproduzir em seus
órgãos políticos oficiais, alucindamente, sem piscar pálpebras, a tese de que,
no caso do Timor do Leste, não seria possível falar-se de uma
invasão imperialista, acobertada pelo institucionalismo jurídico-político
burguês-imperialista da ONU, orquestrado, agora, mais uma vez, com
a intenção de fortalecer sua direta dominação político-militar sobre todo o
arquipélago da Indonésia.
Tendo
sido o povo do Timor do Leste massacrado, explorado e oprimido,
brutalmente, ao longo das últimas décadas, pelas tropas e milícias da Indonésia,
a intervenção das „forças pacificadoras da ONU“, voltada
para o específico objetivo de „fazer cessar a violência“, teria o
condão de representar, agora, uma tábua de salvação, ao invés da implantação
direta da dominação, exploração e opressão político-militar, sobretudo em
relação aos trabalhadores proletários, do campo e da cidade, bem como sobre os
camponeses pobres, timorenses orientais, por parte do imperialismo capitalista
remundializante.
Tal
caracterização estaria corroborada, aos olhos de diversas seções do SU-QI,
pelo fato de que a população do Timor Leste haveria
recepcionado, aparentemente, em um primeiro momento, de maneira muito calorosa,
a chegada das „tropas pacificadoras da ONU“ em seu país, assim
como os kosovares fizeram-no com as „tropas libertadoras da OTAN“.
„O
exército indonésio orquestra uma política de terror no Timor do Leste.
Uma
primeira manifestação de solidariedade foi organizada em Paris, em 8 de
setembro. É necessário agir urgentemente.
Em uma
semana, o drama do Timor do Leste assumiu toda a sua amplidão.
Depois
de ter pilotado as milícias pró-integração, os policiais e militares indonésios
intervêm hoje direta e abertamente.
Por
cima dos assassinatos seletivos de militantes, os massacres fazem-se cada vez
mais freqüentes.
Dili, a
capital está desertada, pilhada.
Igrejas,
abadias, missões da ONU foram, metodicamente, atacadas....
Uma
política de conjunto, uma política de terror foi colocada sistematicamente em
ação por forças armadas e o Estado Indonésio.
É a
esse mesmo exército, a esse mesmo Estado, que as potências ocidentais pedem,
ainda no momento mesmo em que essas linhas estão sendo escritas, seja garantida
a segurança do Timor do Leste !
A
existência do povo timorense e seu direito de viver em seu próprio país não são
os únicos fatores em causa.
Esse
exército que invadiu o Timor do Leste em 1975, impondo durante um quarto de
século um jugo sangrento em terra estrangeira, tinha já cometido, há dez anos,
na própria Indonésia, terríveis massacres sobre a bandeira do anti-comunismo
com a benção do Ocidente.
Ele
impôs sua ditadura durante 30 anos sobre o povo indonésio.
O peso
preponderante das forças armadas na vida econômica, social e política da
Indonésia foi colocado em causa com a derrubada da ditadura de Suharto.
Intervindo
hoje no Timor do Leste, elas procuram dar um golpe duplo, restabelecendo seu
poder em Jacarta.
Elas
jogam com a frouxidão de uma classe política que se recusa a reconhecer o
direito do timorenses orientais e alimentam uma campanha de mídia que, em nome
do nacionalismo indonésio, apresenta a organização do referendo sobre a
independência timorense como um complô, hurdido pelas antigas potências
coloniais.
Raros
são os que, na Indonésia, opõem-se a essa campanha.
Esse é
o caso de um certo número de organizações não-governamentais e do Partido
Democrático do Povo(PRD).
Esse
último vem publicando, desde 6 de setembro, uma declaração na qual saúda a
vontade de independência dos timorenses orientais e nega às instituições
indonésias o direito de colocar em questão os resultados do escrutínio, exige a
retirada das forças armadas do Timor do Leste e pede à ONU para enviar
imediatamente uma força de paz para garantir a segurança da população.
Porém,
os movimentos que afirmam, dessa maneira, corajosamente, na Indonésia, seu
apoio aos timorenses orientais correm o risco de ser logo reprimidos.“[1]
Formulando,
então, suas reivindicações políticas, a partir de tais caracterizações, Pierre
Rousset, dirigente da LCR Francesa e do SU-QI, clama,
explícita e despudoradamente, nas páginas de Rouge, pela urgente
invasão das forças capitalistas-imperialistas da ONU e por sua
inadiável permanência no Timor do Leste, da seguinte forma,
induzindo ao leitor a acreditar tratar-se esse seu clamor de um verdadeiro
grito de „solidariedade com o Timor do Leste“ :
„O
movimento de solidariedade com o Timor do Leste afirma-se sobre o plano
internacional, particularmente na Austrália, onde os sindicatos iniciaram uma
série de ações.
Na
França, uma primeira manifestação foi organizada em 8 de setembro, em Paris,
para exigir o desarmamento das milícias, a retirada das tropas indonésias e a
urgente intervenção de uma força de paz.
Com
França-Liberdades e os dois comitês de solidariedade com o Timor, essa
iniciativa reagrupa um largo espectro de organizações católicas, anti-racistas,
associações portuguesas, ONGs, sindicatos(a Confederação camponesa, o FSU, o
SU-PTT, provavelmente a CGT etc.) e os partidos (o Partido Socialista, o
Partido Comunista Francês, os Verdes, a Liga Comunista Revolucionária).
Nos
próximos dias outras iniciativas serão tomadas em Paris e em diversas outras
cidades.“[2]
Em outro
artigo de sua própria autoria, publicado em Rouge, sob o título O
Envio dos Capacetes Azuis. Intervir pela Independência do Timor do Leste,
Pierre Rousset assinala ainda, com mais ênfase, a posição política
oficial da LCR Francesa e do SU-QI acerca da questão em exame
:
„Em
face do desastre, o Conselho de Segurança da ONU decidiu, serodiamente, enviar
capacetes azuis.
O
movimento de solidariedade deve permanecer mobilizado, a fim de que a
independência do Timor do Leste seja assegurada e o regime assassino de
Jacarta, condenado. ...
A
situação não deixa de ser inquietante na Indonéisa.
O poder
do exército se situa por detrás das instituições.
Os
candidatos à presidência – incluídos Megawati Sukarnoputro – procuram o apoio
dos militares para assegurar sua eleição, em novembro próximo.
A ONU
não deve aceitar confortar esse poder, em contra-partida de sua intervenção no
Timor Oriental.“[3]
Se
submetidos à análise, então, a Declaração sobre o Timor do Leste de Solidarity
P.C., publicada em 12 de setembro de 1999, nas páginas de Against
the Current, é possível entrever que Steve Blum e seus
companheiros admitem, substancialmente, o raciocínio formulado por Pierre
Rousset, da direção da LCR Francesa e do SU-QI, quando
clamam, expressamente, nas consignas finais de tal documento político:
„Tropas
de Paz da ONU para o Timor do Leste !
Completa
Retirada do Exército e da Polícia Indonésia !
Desarmamento
das Milícias de Apoio Militar !
Suspensão
de todos os Auxílios Econômicos e Militares !“[4]
Acerca
do tema, Solidarity P.C. procura fundar sua primeira e principal
consigna acerca do Timor do Leste com a seguinte argumentação :
„Ainda
que o envio de tropas da ONU não seja uma solução de longo-prazo para a luta do
Timor do Leste pela liberdade, ele representa um primeiro passo necessário para
impedir a total despopulação do território pela Indonésia.
Isso
tem de ser feito já e não depois que se reúna a assembléia indonésia no final
do ano, visando a ratificar o voto. (Esse voto pode não ocorrer de fato se se
permitir prosseguir o terror militar).
Suspender
todos os auxílios econômicos – pelo FMI, pelo Banco Mundial – bem como os
contratos comerciais não é o bastante para forçar Jacarta a parar a violência.
A
resistência armada timorense oriental é excessivamente fraca.
A meta
principal deve ser expulsar os matadores do Timor do Leste.
As
relações futuras entre a força da ONU e o povo timorense oriental será decidida
mais tarde, no país.
O povo
norte-americano deve somar-se às nossas vozes para apoiar a auto-determinação
do Timor do Leste.
Temos
de pressionar Clinton e o Congresso a agir AGORA, para parar o genocídio.“[5]
A
intervenção de 1999 dos EUA no Timor do Leste foi uma intervenção imperialista,
destinada a estabilizar a situação que perigava sair fora de controle.
A
principal meta estratégica dos dois poderes imperialistas primacialmente
envolvidos, a Austrália e os EUA, foi a de garantir que o Timor do Leste, ainda
que se recebendo independência formal, permanecesse, apesar de tudo,
completamente dependente e subordinado aos interesses econômico-imperialistas
na região.
O uso
das tropas no Timor do Leste foi uma afirmação a mais das nações ricas do mundo
no sentido de que elas possuem o direito de disciplinar e controlar as pequenas
nações.
O fato
de que isso é, às vezes, realizado sob a bandeira da ONU e em nome do
„humanitarismo“ não muda a realidade do controle e da dominação.
Existiu,
naturalmente, direitos humanos genuínos que moveram a intervenção militar da
ONU, como também outras ações dos imperialistas(tal como o corte de auxílio
militar a Jacarta).
Porém,
os objetivos „humanitários“ não estavam em contradição com os interesses
imperialistas.
Aqueles
eram completamente concordantes com esses.
A Casa
Branca fez saber ao Presidente Habibie e ao General Wiranto que tais grandes
violações dos direitos humanos, realizadas às caras da publicidade
internacional, não podia ser tolerada.
Eles
quiseram deixar claro que as escolhas fundamentais acerca de como executar a
dominação política e econômica do Timor do Leste são realizadas em Washington,
e não em Jacarta.
Uma
coisa é certa acima de tudo : todo objetivo de longo-prazo de genuína
„auto-determinação“ no Timor do Leste não vai ser levado adiante pela
intervenção da ONU.
Esse
fato deveria ser óbvio a partir de seu resultado, simplesmente ao olhar-se o
papel histórico tanto dos EUA como da Austrália no apoio da dominação indonésia
do território, marcada por décadas de atrocidades, sendo que isso deveria ser
tanto mais óbvio hoje, a partir dos resultados da ocupação da ONU.
Mais de
100.000 refugiados permanecem reféns das forças e da „milícia“ indonésias no
Timor do Oeste.
De
acordo com o artigo da Rede de Ação do Timor do Leste, publicado na edição do
verão de 2000 : „Os problemas da distribuição de alimentos, cuidados médicos e
habitação representam nada menos do que uma crise humanitária“.
O único
caminho oferecido presentemente para os timorenses é o de superar essa crise,
indo através de tais infâmes instituições internacionais, como o Banco Mundial.
Essa
análise não implica endossar o chamado de „Fora Tropas da ONU“ que é a reação
de alguns na esquerda, no momento em que a intervenção ocorreu.
A ameaça
e a intervenção das tropas da ONU foi a forma primária através da qual os
poderes imperialistas fizeram saber ao governo indonésio que o massacre no
Timor do Leste não era aceitável e tinha de acabar.
Nessas
circunstâncias, as forças de esquerda e da classe trabalhadora não se
encontravam em posição de oferecer uma abordagem alternativa para acabar com o
massacre.
Além
disso, o chamado pela intervenção da ONU foi apoiado pela maioria esmagadora
dos próprios timorenses orientais, sendo que parte do nosso respeito ao direito
de auto-determinação significa respeitar o direito do povo de lutar pela
independência, fazer exigências e ter tais exigências cumpridas pela comunidade
internacional, seja lá qual for o julgamento político acerca de sua estrátegia.
Assim,
uma alternativa razoável para juntar-se ao côro de exigir a intervenção das
tropas da ONU teria sido simplesmente aceitar a ação das tropas da ONU
(esquivando-se de exigir sua retirada ou organizar-se politicamente contra
elas), sem explicitamente aprovar essa ação.
Esse
teria sido um curso mais prudente para o Comitê Político de Solidarity,
confrontado com a necessidade de sacar uma declaração e orientar politicamente
o grupo, no quadro de uma complexa situação.“[6]
Por
fim, cumpre destacar que apenas Socialist Action, de Gerry Foley, encabeçadora
da corrente de oposição ao SU-QI, nitidamente mais débil,
politica e organizativamente menos estruturada, devido sobretudo aos seus
posicionamentos claramente pró-crastristas, opôs-se, claramente, no quadro do SU-QI,
à intervenção das tropas imperialistas da ONU no Timor
do Leste, sem entretanto denunciar, ostensivamente, o grande erro
cometido por sua direção política internacional, enferma, presentemente, em
razão de seu colaboracionismo „trotskysta-gramsciano“ com os
ideólogos meta-marxista franco-gramscianos de Actuel Marx e Espaces Marx.
Com
efeito, em outubro de 1999, Socialist Action escrevia da seguinte
forma, em seu órgão oficial :
„CONTRA
A INTERVENÇÃO NO TIMOR DO LESTE
Apoio de
massas pela consigna do povo timorense oriental de independência da Indonésia
foi confirmada por um amplo voto majoritário no recente referendo.
O povo trabalhador
e outros oponentes da injustiça econonômica, social e política apoiam,
efusivamente, o direito de auto-determinação das massas oprimidas do Timor do
Leste.
Porém,
a decisão da ONU de enviar forças militares para supostamente „proteger“ os
advogados da independência das milícias indonésias assassínas trata-se de uma
questão diferente. ...
Infelizmente,
muitos apoiadores da luta em favor da auto-determinação do povo do Timor do
Leste exigiram a intervenção militar da ONU.
Isso é
um erro grave que resultará custar tanto a luta pela independência do povo do
Timor do Leste como a luta dos trabalhadores indonésios pela libertação da
super-exploração e opressão imperialistas.
Para o
Partido Socialista Democrático Australiano (DSP) que clama estar comprometido
com a classe trabalhadora e o socialismo, isso é mais do que um equívoco : é
uma grande violação do princípio de independência de classe...
Pela
Auto-Determinação do Povo do Timor do Leste !
Todas as Tropas Imperialistas e da ONU fora do Timor do
Leste!“[7]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS
[1] Cf. ROUSSET, PIERRE. Timor Oriental : La
Solidarité Dans l’Urgence, in : Rouge sur Internet, http://www. lcr-rouge. org/archives, 29 de Outubro de 1999.
[2] Cf. IDEM. ibidem.
[3] Cf. IDEM. L’Envoi
de Casques Bleus. Intervenir pour l’Indépendance du Timor Est, in : ibidem, 29
de Outubro de 1999.
[4] Cf. EAST TIMOR STATEMENT FROM SOLIDARITY PC, in : Against the Current, http://www.igc. org/solidarity/, 12 de Setembro de
1999.
[5] Cf. IDEM. ibidem.
[6] Cf. CONVENTION RESOLUTION ON THE UN AND
[7] Cf. SOCIALIST ACTION. Against UN Intervention
in