Texto de Autoria de
Portau Schmidt von
Köln
Emil Asturig von
München
A Enfermidade Gramsciana
no Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica Trotsky e Gramsci :
Gramsci e Trotsky
de Atualização, Correção
e Superação do Marxismo
(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)
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Anexo
Dedicado à Compreensão do Presente Capítulo III :
Em sua Luta sem Quartel contra Trotsky e a Revolução Permanente
“Certe edepol,
quom illum contemplo, et formam agnosco meam,
Certamente, por Zeus, quando o contemplo, também a minha
forma nele entrevejo,
quemadmodum ego
saepe in speculum inspexi, nimis similis est mei.
então, quando freqüentemente me examino no espelho, ele
me é por demais semelhante.
Itidem habet
petasum ac vestitum: tam consimile’st atque ego.
Porta o mesmo chapéu e o mesmo traje: tão exatamente é
parecido comigo.
sura, pes,
statura, tonsus, oculi, nasum, dens, labra, malae, mentum, barba, collum:
totus, quid verbis opu’st?
barriga, pé, estatura, cabelos, olhos, nariz, dente,
lábios, bochecha, queixo, barba, pescoço: tudo, para que mais uma palavra?
Si tergum
cicatricosum, nihil hoc simil est similius.
Se, nas costas, traz as cicatrizes, nada é mais parecido
com nada.
Sed quom cogito,
equidem certo sum ac semper fui.
Porém, quando eu penso, trata-se de mim seguramente e
sempre se tratou de mim.
Cf. PLAUTUS,
TITUS MACCIUS. Amphitrvo( por volta de 180 a.C.), Actus I,
ed. F. Leo, Berlim : Weidmann, 1895-1896,
Versos 441 -447.
“Porém, um
inimigo – seja ele sincero ou desonesto, seja ele vivo ou morto –
permanece sendo
um inimigo, máxime tratando-se
de um escritor, o
qual vive em suas obras, mesmo depois de sua morte.
Calando-nos a seu
respeito, cometemos um crime social.”
Cf. TROTSKY,
LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. In : Sotchinenia (Obras), Vol. XX : Kultura
Starovo Mira
(Cultura do Velho Mundo)(23 de Dezembro de 1900),
Moscou-Leningrado : Gosud. Izd-vo, 1926, pp. 7 e s
“Criou-se um hábito, um mal hábito,
de se separar um autor das bases teóricas que lhes serviram de suporte; separá-lo
dos seus pressupostos teóricos e históricos imediatos. Esta separação levou que
alguns conferissem os louros de pensamento original, no sentido de
exclusividade, a autores cujo o grande
mérito foi justamente desenvolver teses elaboradas por outros, ainda que
enriquecendo-as.
Nos trabalhos acadêmicos sobre Gramsci parece ser bastante comum este
procedimento. Estudou-se, e escreveu-se, sobre o pensamento de Gramsci desvinculando-o de seus pressupostos teóricos e políticos
imediatos, que foi o pensamento e a ação política de Lenin.
E Gramsci foi, na minha opinião, acima de tudo, um leninista.
Muito do que foi-lhe atribuído como
contribuição exclusiva não é nada mais - e isto é muito - que a aplicação original das teses defendidas
por Lenin.”[1]
Eis aí como um incorrigível stalinista reciclado assimila
e dissemina o laxante idealista-subjetivista de Gramsci ao longo de sua
desnorteada peregrinação publicística : o mérito de Gramsci teria sido o de “justamente
desenvolver teses elaboradas por outros, ainda que enriquecendo-as”, pois, na opinião de Buonicore,
“Gramsci foi, acima de tudo, um leninista.”
Como prova de sua argumentação, Buonicore assinala, logo
a seguir, buscando encontrar desesperadamente o traço específico, supostamente
enriquecedor do pensamento de Gramsci em face das reflexões de Lenin
:
“Gramsci buscou, justamente, resgatar as contribuições de Lenin e
aprofundá-las; para ele o problema do Estado era mais complexo.
Sem discordar que o Estado era
fundamentalmente um instrumento de coerção, estendeu o seu estudo a um outro
aspecto: o Estado enquanto dirigente e educador, buscando compreender o papel
que as ideologias desempenhavam neste processo.
Ele compreendeu que a produção e a
reprodução das relações sociais - e políticas - não podiam se dar,
exclusivamente, através da coerção; elas se davam de múltiplas (e complexas)
formas, nas quais as ideologias jogavam um papel decisivo.
Para Gramsci o Estado seria "hegemonia encouraçada de coerção".
Era preciso superar as teses simplistas imperantes no seio da III
Internacional e ele, com a ajuda de Lenin, em certo sentido, as superou.”[2]
Buonicore, stalinista disfarçado,
verdadeiramente arrebatado pelo desvio mórbido gramscista, indica-nos, à guisa
de esconder suas feridas secretas, que Gramsci..., “em certo sentido”,
superou as teses simplistas da III Internacional que precisavam ser
superadas ...
Fê-lo com a ajuda de Lenin que, embora já falecido em
1924, socorreu espiritualmente as elaborações de Gramsci, intervindo, ao
que parece, como médium, pois, segundo, Buonicore :
“ ... e ele (i.e. Gramsci), com a ajuda de Lenin, em certo sentido, as
superou.”
1. “Para Gramsci o Estado seria "hegemonia encouraçada de
coerção".
2. “Gramsci foi, acima de tudo, um leninista.”
Não é absolutamente intenção do
presente trabalho pretender limitar o campo de estudo investigatório do impacto
do gramiscismo tão somente às posições dos principais dirigentes e mais
expressivos intelectuais do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI), borbotadas de suas ligações orgânicas com os
ideólogos meta-marxistas franco-gramscianos, de modo a dar nascimento ao
fenômeno do gramscismo meta-marxista.
No presente texto, assinalo, porém, que
o traço mais significativo e mais repleto de conseqüencias políticas para o
movimento trotskysta mundial, no atual momento histórico, relaciona-se com esse
fenômeno em particular, que toca o destino dos próximos anos do SU-QI,
enquanto uma das mais importantes organizações mundiais do trotskysmo
de nossos dias.
A presença do pensamento doutrinário
de Antonio
Gramsci paira, entretanto, igualmente, sobre as correntes trotskystas
do mundo que se consideram “trotskystas-ortodoxas” ou
“trotskystas-consistentes”.
Estas caracterizam-se por manter com
o gramiscismo uma relação centrista e irresolvida, fetichista e plenamente
contraditória.
No que concerne à postura
teórico-doutrinária em específico da Associazzione Marxista Rivoluzionaria
Proposta(AMRP), encabeçada por Franco Grisolia, Marco Ferrando, Tiziano
Bagarolo e Francesco Ricci, cumpre assinalar que essa organização
trotskysta italiana encontra-se exposta, apologeticamente, ao gramscismo.
Em uma nota de seu recente artigo,
intitulado ”La Natura ed Il Ruolo del Partito Leninista(A Natureza e o Papel do
Partido Leninista)”, Grisolia observa,
claramente :
“Na Itália, encontra-se difundido um
mito segundo o qual o conceito de hegemonia é uma inovação teórica peculiar do
pensamento de Antonio Gramsci, que o
haveria separado do rígido “dogmatismo” da III Internacional leninista.
Na realidade, o grande
revolucionário italiano, não fez senão retomar um conceito próprio dos decênios
do marxismo revolucionário russo (“Os promotores da idéia da hegemonia do proletariado
na revolução são Plechanov e Lenin” : assim Zinoviev, em sua História, 1923).
Gramsci, com grande
brilhantismo, repropõe essa temática central na Itália. Além disso, a
utilização do termo “hegemonia” – mais vago, à primeira vista, que outros - constituía
para Gramsci, no período do cárcere, também um elemento de prudência em relação
às medidas repressivas ulteriores de seus carcereiros fascistas.”[3]
É de realçar, ainda, que tal
panegírico gramscista não constitui posição isolada de Grisolia, acolhida no
seio de Proposta, pois também Bagarolo e Ricci, bem como outros
membros dessa secção italiana da Oposição Trotskysta Internacional (OTI), dão
provas de uma postura reverencial, supersticiosa e acrítica em face da doutrina
e da política de Antonio Gramsci, tal como veremos mais adiante.[4]
Quanto aos grupos e partidos
trotskystas, defensores da tese do Capitalismo de Estado(SWP – Tony Cliff), importa observar
que o texto mais representativo do elogio gramscista dessa formação política, intitulado Gramsci
versus Reformismo, foi redigido por Chris Harman, editor de Socialist
Worker e um dos principais dirigentes atuais do Partido
Socialista dos Trabalhadores da Grã-Bretanha (SWP – GB).
Nesse texto, argumenta Chris
Harman, de maneira plenamente encomiástica e embaralhadora de fatos
históricos efetivos :
„Antonio Gramsci morreu há mais de 40 anos atrás, em 27 de abril de
1937. Sua morte foi provocada por mal-tratamento nos cárceres de Mussolini. Entretanto, em muitos
sentidos, desde sua morte, vem sofrendo ainda mais injúrias, devido às
distorções de suas idéias por aqueles que nada têm em comum com seus princípios
socialistas-revolucionários.
Gramsci foi um profissional
revolucionário desde 1916 até a sua morte.
Através desse período, insistiu na
necessidade relativa à transformação revolucionária da sociedade através da
derrubada do Estado Capitalista.
Foi isso que o colocou como
jornalista de várias edições socialistas na linha de frente daqueles que
exigiam ação revolucionária do Partido
Socialista Italiano, na luta contra o capitalismo e a guerra, nos anos de
1916-1918.
Foi isso que o levou ao centro do
movimento dos Conselhos de Fábrica de
Turim, em 1919 e 1920.
Foi isso que o conduziu a tomar
parte na ruptura com o Partido Socialista reformista, em 1921, a fim de
construir um Partido Comunista
genuinamente revolucionário.
Foi isso que o levou a assumir a direção do Partido Comunista de 1924 a
1926.
Foi isso, finalmente, que o levou às
prisões de Mussolini, onde procurou em forma de anotações – os famosos Cadernos do Cárcere – desenvolver suas
próprias idéias acerca da sociedade italiana, estratégia e tática da luta pelo
poder de Estado, construção do partido revolucionário, imprensa revolucionária.
Esperava que essas anotações
fornecessem algum auxílio a outros que tivessem o mesmo objetivo revolucionário
que o seu.
Entretanto, seus escritos têm sido
tomados por aqueles que querem converter o marxismo em uma área de estudo
acadêmica e não revolucionária. Isso foi tornado possível, inicialmente, pelo
Partido Comunista Italiano(PCI).”[5]
Também David North, dirigente do Comitê
Internacional da Quarta Internacional (CI – QI), Presidente do Conselho
Editorial Internacional da Rede Socialista Mundial e Secretário
Nacional do Partido Igualitário Socialista (SEP-US), da Austrália
e dos EUA, fundou-se decisivamente, em sua palestra
intitulada “Marxismo e Sindicatos”, pronunciada em 10 de janeiro
de 1998, nas concepções de Gramsci sobre os sindicatos, para
desvendar as contradições e insuficiências teóricas das posições de Peter
Taaffe, Secretário Geral do Partido Socialista Britânico (Socialist Party- The
Militants - GB) e principal dirigente do Comitê por uma
Internacional dos Trabalhadores (CWI – The Militants) sobre o tema,
contribuindo, assim, para doutrinar acerca da verdadeira essência dos
sindicatos, segundo Gramsci …
Nesse sentido, argumenta North,
desde uma perspectiva apaixonadamente trotskysta-gramsciana
:
« As tentativa do Sr. Taaffe de decorar sua subserviência à burocracia operária com uma
fraseologia radical produz um efeito que é mais cômico do que convincente.
Começa oferecendo uma breve lista
dos países em que os diretores sindicais foram envolvidos em traições
particularmente monstruosas, perpetradas contra a classe trabalhadora.
Tal como o Chefe de Polícia Louis,
em Casablanca, Taaffe revela-se muito profundamente chocado mesmo com a corrupção
que constata existir em relação a eles, até mesmo na medida em que subornos
políticos da burocracia escorregam para dentro do seu bolso.
O papel dos dirigentes do sindicato
sueco – tal como Taaffe nos informa
– tem sido “escandaloso”.
O comportamento dos burocratas
belgas é “desavergonhado e aberto”.
Os dirigentes iranianos também estão
engajados em um „espetáculo escandaloso“ de traição.
Na Grã-Bretanha, Taaffe declara que os trabalhadores
“pagaram um pesado preço pela impotência dos dirigentes da ala de direita.”
Também refere, tristemente, a
capitulação dos dirigentes sindicais do Brasil, da Grécia e dos EUA.
Mas, no que diz respeito a Taaffe, o problema dos sindicatos
envolve, essencialmente, líderes inadequados que sofrem de falsa ideologia :
aceitação do mercado capitalista.
As organizações por si mesmas são
basicamente sadias.
Com base nessa apreciação subjetiva,
Taaffe critica os “pequenos grupos
de esquerda”, com o que quer referir as Seções
do Comitê Internacional que, fundando-se em Trotsky, insistem que as traições dos sindicatos são a expressão de
uma tendência objetivamente fundamental do desenvolvivmento.
Essa análise “unilateral – segundo Taaffe – erra em reconhecer a
possibilidade de os líderes sindicais da ala direita, “sob a pressão da base,
uma classe trabalhadora sublevada e combativa”, poderem “ser forçados a
separar-se do Estado e encabeçar um movimento de oposição da classe
trabalhadora.
Portanto, escreve Taaffe, a “principal tendência do
próximo período”, na Grã-Bretanha e em outros lugares, será a de os
trabalhadores “compelirem os sindicatos a lutar, em seu nome.”
O destino classe trabalhadora
depende da “regeneração dos sindicatos”» [6]
E, exultante, conclama David
North, em tom professoral de descoberta da pedra filosofal trotskysta-gramsciana
:
“Posicionando-se sobre a base das
relações capitalistas de produção, os sindicatos são, por sua natureza,
obrigados a adotar uma atitude essencialmente hostil em relação à classe
trabalhadora.
Dirigindo seus esforços para
assegurar contratos com empregados que fixam o preço do poder de trabalho e
determinam as condições gerais em que a mais-valia será bombeada para fora dos
trabalhadores, os sindicatos são obrigados a garantir que seus membros forneçam
seu poder de trabalho, de acordo com os termos dos contratos negociados.
Tal como Gramsci observou :
“ « O sindicato representa a
legalidade e deve velar para que seus membros respeitem a legalidade »”[7]
Em vista de tais reflexões
gramscistas de David North, efetivamente marcadas por uma lógica
conceitual subjetivista-idealista, resulta ser surpreendente o fato de ser possível
verificar-se que as publicações northianas do Partido Igualitário
Socialista (SEP-US), da Austrália e dos EUA, sustentam
o argumento de que o resultado de sua luta rupturista, deflagrada contra as
incontáveis e intoleráveis degenerações de Gerry Healy, Mike Banda e
Chris Slaughter, teria sido “a cumeeira da longa luta do
movimento trotskysta contra o pablismo oportunista, desde a fundação do Comitê
Internacional de 1953”.[8]
Onde David North contempla
a degeneração pablista, não avista, absolutamente, a incidência da lógica
epistemológica do transcendentalismo metafísico-gramscista na luta de classes
da atualidade.
No que concerne ao perfil gramscista
de Socialismo Rivoluzionario, permito-me remeter o leitor pura e
simplesmente à leitura da obra “Direções e Quadros na Construção de SR”, cujo teor já é
deveras suficiente para atestar o alastramento do antraz gramsciano também
naquela organização declaradamente trotskysta-luxemburguista.[9]
Relativamente a enfermidade
gramsciana semeada mormente por Jorge Altamira e Osvaldo Coggiola
no seio do Partido Obrero da Argentina, cumpre assinalar,
de antemão, que um exemplo categórico desse fenômeno foi a publicação, em julho
de 1996, no Nr. 13 da Revista Teórica do Partido
Obrero, intitulada En Defensa del Marxismo, de extenso
artigo de autoria de um intelectual do PO, de nome Roberto Massari, cujo
título é, precisamente, ”Trotsky y Gramsci”.[10]
Tal artigo de Massari, marcado por sua
abordagem de complementaridade coerente entre o gramiscismo e o pensamento de Trotsky,
divulgado nos quatros cantos do globo, mediante Internet, com a
chancela política do Partido Obrero, surgiu, nessa mesma
sede jornalística, ao lado daquele, também de matiz gramscista, de autoria de Pablo
Rieznik, aparecido no mesmo número da supra-mencionada revista teórica
do Partido
Obrero, sob o título ”Los Intelectuales ante la Crisis(sobre la
‘Intelligentsia’ Latinoamericana).[11]
Em ambos esses artigos - porém sobretudo
no de Massari – o Partido Obrero homologou,
coniventemente, uma versão comprobatória do intento de compatibilização
doutrinária do gramiscismo com o trotskysmo, não esboçando nem mesmo a mais
leve disposição crítico-contudente em face da doutrina de Antonio Gramsci.
Nesse clima de laudatória aceitação
do gramiscismo, segundo aquilo que o Partido Obrero e a
Associazzione Marxista Rivoluzionaria Proposta(AMRP) denominam de “trotskysmo
ortodoxo”, Aníbal Romero, em algumas páginas a seguir dessa mesma revista
teórica, intitulada En Defensa del Marxismo, não poupou vocábulos incendiadores
para criticar, despudorada e caudalosamente, as posições de Nahuel
Moreno, não alinhadas com o gramscismo, no quadro do artigo que batizou de ”La
Dictatura del Proletariado, según Nahuel Moreno”.[12]
Em suma : En Defesa del
Marxismo de Altamira e Coggiola prostra-se teoricamente diante do
suposto revolucionarismo de Gramsci, porém crítica impiedosamente a suposta
teratologia teórico-intelectual de Moreno.
Todos esses fatos poderiam ter
passado plenamente desapercebidos ou mesmo sem merecerem tão grande atenção por
parte da vanguarda trotskysta de todo o mundo – tal como se fossem mais uma das
costumeiras deformações marxistas do Partido Obrero, dessa vez no sentido
das tendências legitimadoras de seu oportunismo eleiçoeiro através do
gramscismo -, caso o “Foro de Debates” do próprio
Partido Obrero – instância
organizativamente separada e dotada de importância muito mais secundária em
relação a En Defesa del Marxismo - não lançasse, em seu editorial, o
convite cortês – naturalmente de índole essencialmente formal e
descompromissado -, a todos os ativistas do mundo, interessados em questões do
trotskysmo, para colaborarem no intercâmbio de opiniões acerca de seus artigos
formalmente publicados, “al modo de lo
que seria una habitual sección de ‘Correo de Lectores’”.
Por uma dessas ironias do destino,
justamente da Itália, onde a intelectualidade gramsciana
alienígena acredita ser o gramiscismo incontestavelmente “hegemônico”, levantou-se a voz
incômoda de um militante trotskysta – não essencialmente bordiguista, frize-se
de passagem, - chamado Luigi Candreva, que julgou por bem
enviar à redação do Partido Obrero um artigo intitulado “Gramsci e la ‘Bolscevizzazione
del PCI 1924-1926. Respuesta al Artículo “Trotsky y Gramsci” de Roberto Massari
Publicado en el Número 13 de la Revista ‘EN DEFESA DEL MARXISMO ’”.
Na parte introdutória de seu artigo,
Candreva
escreve, explicitamente :
“Querido camaradas, escuche mi pobre
espanol.
Yo soy un militante trotskista in
Italia y hay tomado hoy (via www.) el numero 13 de EDM con el articulo de
Roberto Massari sobre Gramsci.
En quanto estudioso de Gramsci
raramente yo hay encuentrado un articulo mas inexacto, anti-scientifico y
superficial come ello.
Aqui' encluyo un articulo que yo
escribio para el periodico trotskista (mensuel) italiano "Voce
operaia" sobre Gramsci, con una valutacion my diferente de ella de
Massari.
El articulo es muy breve por rasones
de espacio editorial.
Si quieres abrir un debate sobra
esta question puede transformarlo en una carta a EDM o yo puedo trabayar sobre
un articulo mas longo (ahora yo stoy estudiando para un secundo articulo sobre
Gramsci).
Si quiere me contactar, yo
compriendo bien el espanol, pero no puedo lo escribir (y hablar), y puedo
escribir en Italiano, Ingles y Frances. My mejores saludos comunistas. Luigi.
Milano, 2 giugno 1996 (sic).”[13]
Naturalmente, o Partido Obrero jamais se
interessou em “abrir um debate sobre essa questão”, mesmo depois de Candreva
ter qualificado, ostensivamente, o artigo Roberto Massari como “inexacto,
anti-científico e superficial”...
Partindo, ele sim, de um
posicionamento, em linhas gerais, essencialmente correto - ainda que, sob o
ângulo da necessária posição que o trotskysmo deve manter em face de Antonio
Gramsci,
revela-se doutrinariamente incompleto (observe-se que Candreva faz referência,
entretanto, ao fato de que estava trabalhando em um segundo artigo mais longo),
o material de Candreva sobre Gramsci, jamais foi publicado nas
páginas de En Defesa del Marxismo, tendo permanecido, até o presente
momento, relegado a um pequeno espaço do ”Foro de Debates”, apartado e
esquecido, ao lado de outros artigos de menor importância polêmico-doutrinária.
Evidentemente, a revista teórica do Partido
Obrero teve e tem suas razões para não divulgar, contestar e replicar
abertamente, em suas colunas, o artigo de Candreva, formulado em amplo
contraste com a conquista do espaço gramsciano, protagonizado e estimulado, de
maneira sibilina, por sua redação.
Tal como já destacamos, Altamira não se encontra
interessado em denunciar a capitulação, cada vez mais saliente, da direção do Secretariado
Unificado da Quarta Internacional (SU-QI) à ideologia gramsciana, assim
como não possui qualquer interesse em denuciar o caráter histórico-político do gramscismo
em face do trotskysmo, no passado e no presente.
Deixa-o de fazer não apenas em virtude do fato de que os órgãos
oficiais do Partido Obrero, i.e. Prensa Obrera e En Defesa del Marxismo, permanecem
receptivos, dando acolhimento e publicação, sem a menor crítica política, de Altamira
ou de outros quadros dirigentes
e mentores intelectuais do Partido Obrero, a artigos de
louvores da doutrina gramsciana.
Com efeito, nesse cenário, é o Professor da Universidade de São Paulo
(USP), o historiador trotskysta-gramsciano Osvaldo Coggiola que, exsurgindo
como um dos mais espetaculares e insubstituíveis mentores ideológicos do Partido
Obrero de Altamira, já se encontra celebrizado por suas tantas e inúmeras malfadadas e
espúrias investigações místicas acerca de “Gramsci, o revolucionário
italiano”.
É seguro que Osvaldo Coggiola difunde,
desavergonhada e descaradamente, entre seus discípulos e por todas as brechas
das universidades brasileiras e argentinas, mediante livros e palestras, a
enfermidade epistemológica, a peste bubônica político-burocrática, o cheiro
repugnante e asqueroso do gramscismo,
procurando demonstrar e legitimar, “cientificamente,
em sentido histórico”, o fato de que esse surto infeccioso
compatibilizar-se-ia de algum modo com e
seria absorvível de alguma maneira pelos posicionamentos “também” revolucionários de Trotsky e
todo o legado dos marxistas-revolucionários, bolcheviques-leninistas, tais como
os de Sverdlov, por exemplo.
É visível que Coggiola não se enfastia de verter, repetida e
renitentemente, rios de tinta acerca de : “Gramsci :
História e Revolução. 50 Anos da Morte do Revolucionário Italiano nas Prisões
do Fascismo” (eis aí cerca de 10 páginas fastidiosas e inteiramente mal-enfocadas
sobre o tema), “Gramsci : História e Revolução”, (novamente 10 páginas sofrivelmente paridas), “Bolchevismo, Gramsci, Conselhos” (cerca
de 200 páginas longas, cansativas, aborrecidas e sonolentas, produzidas em conjunto
com o intelectual não menos filisteu trotskysta- gramsciano, de matiz
altamirista, Roberto Massari). [14][15][16]
Porém, além de tudo isso : cala-se Altamira em face da enfermidade
gramsciana precisamente porque a Convenção de Gênova, de 1997, i.e. o
projeto de Fundação ou Refundação da IV Internacional, sufragrado pelo Partido
Obrero, tem como único e exclusivo sustentáculo vital e sentido
existencial sua aliança política estreita com a seção italiana da Oposição
Trotskysta Internacional(OTI), i.e.
a Associazzione Marxista Rivoluzionaria Proposta (AMR-Proposta), encabeçada pelos mais árduos defensores
da mitologia gramsciana entre os militantes e ativistas
trotskystas de todo mundo : Franco Grisolia, Marco Ferrando e
Francesco Ricci.
Como agrupamento do Partido
Refundação Comunista da Itália, a AMR-Proposta de Grisolia, Ferrando e Ricci já defendeu que deve ser implementado o conceito gramsciano de partido, como forma de solução para os
problemas pratidários da classe trabalhadora :
“ 4.1. Construindo o Partido
Refundação Comunista como Fórum Intelectual. Na base da análise prévia, o giro
político e estratégico que o IV Congresso proporcionou necessita uma nova
concepção de partido e de sua estrutura.
A nova resposta aos problemas do PRC
não está na solução do “Partido Comunidade”, i.e. um partido que se proponha
enquanto contra-parte à desagregação e ao “deserto exterior”, tornando-se um
centro social para organizações de
mútuo, de escolas, de cultura.
O tipo de solução, que não parece muito sensível, não põe o partido na
realidade do trabalho, porém arrisca a fortalecer a auto-absorção.
Isso não apenas não rompe o círculo
auto-referencial, senão agrava-o na nova forma do sectarismo, erradicação
social, destacamento dos movimentos, para vantagem dos democratas de esquerda e
sindicatos.
Pelo contrário, é necessário
readquirir e renovar o conceito
gramsciano de partido enquanto uma
convenção intelectual, engajada na
luta de classes pela direção entre as massas : um partido que orienta sua
cultura política, sua estrutura organizativa e suas funções para a conquista de
um projeto anti-capitalista.” [17]
Nesse sentido, Jorge Altamira cumpre um papel nefando quando, reivindicando
representar o trotskysmo ortodoxo ou consistente, isento de supostas
capitulações ao frente-populismo - tal qual, segundo ele, reputadamente
dinamizadas pelo PSTU Brasileiro e pela LIT-QI -, impulsiona um trabalho
em comum com a militância de Associazzione Marxista Rivoluzionaria
Proposta (AMR-Proposta) e da Oposição Trotskysta Internacional(OTI) sem
procurar arrancá-la, no quadro de uma disputa política leal e fraternal, do “vale
de lama pútrida“, imunizando-a contra os sintomas epidêmicos,
produzidos inevitavelmente pela propagação da ideologia gramsciana no
âmbito do movimento trotskysta dos dias de hoje.
Procurando sedimentar as bases místicas do trotsysmo-gramscista, lançadas
pelo Partido
Obrero (PO) e pela Associazzione Marxista Rivoluzionaria Proposta
(AMR-Proposta), cumpriu, mais recentemente, a Manolo Romano e Emilio Albamonte, membros dirigentes
do Partido de Trabajadores por el Socialismo (PTS – Fração
Trotskysta – Estratégia Internacional) exercer o papel de “intelectuais orgânicos” do projeto
absurdamente eclético de complementarização, compatibilização, harmonização,
conciliação, solidarização da doutrina materialisticamente histórico-dialética
de Trotsky com os derrames cerebrais
metafísico-subjetivistas de Gramsci, introduzindo-o
na interpretação dos principais
eventos de luta dos explorados e oprimidos da América Latina e
de todo o mundo.[18]
Alegando rechaçar o “dogmatismo sectário”, Manolo Romano e Emilio Albamonte dedicam-se,
longamente, à infeliz tentativa de integração dialógica das abordangens
teóricas do trotskysmo com as do gramscismo,
com vistas a, em particular, desferir cáusticos ataques filistinos e
subreptícios contra o pensamento de Nahuel Moreno, procurando
justificar, assim, a necessidade de construir-se uma “melhor compreensão do complexo cenário mundial que
assumiu forma no período posterior à II Guerra Mundial – o período assim
denominado de “Ordem de Yalta”.”[19]
Nesse sentido,
assinalam Romano e Albamonte, expressamente, em
seu sugestivo artigo intitulado “Trotsky e Gramsci
: Um Diálogo Póstumo” :
“O dirigente trotskysta, Nahuel Moreno, fundador da corrente de que
viemos, tentou tratar dessa situação contraditória (obs.: aborda-se aqui a
assim considerada situação de bloqueio da dinâmica da revolução permanente e do
congelamento dos eventos revolucionários do após-guerra, no interior de
fronteiras nacionais, por força da atuação da burocracia soviética de Moscou)
alegando que « a realidade havia-se tornado até mesmo mais trotskysta do que o
próprio Trotsky.»
Ele queria dizer que a dinâmica
permanente da revolução resultava manifesta no fato de que até mesmo os
partidos stalinistas ou movimentos guerrilheiros haviam sido forçados a tomar o
poder e expropriar a burguesia, em um grande número de países, devido às
pressões dos próprios fatores objetivos.
A revolução tornara-se, assim,
«objetivamente socialista».
Já acertamos nossas contas com
essa declaração em “Estratégia
Internacional Nr. 3”. Nessa sede, dissemos que Moreno estendeu o período excepcional
de 1943-1949 para todo o período do após-guerra, transformando-o em uma norma.
Dessa forma, não apenas
distorceu os fundamentos da teoria da revolução permanente, senão, pior ainda,
também a própria realidade.
Essa nova visão rompeu os
vínculos entre as tarefas a serem cumpridas pela revolução, de um lado, e os
sujeitos – a classe e o partido – que haveriam de conduzí-las à sua conclusão.
Existem precisamente aspectos
da teoria da revolução permanente que não podem ser considerados isoladamente,
em relação a outros. Se esse não fosse o caso, o que de bom representou a
rejeição da Oposição Internacional de Esquerda ao impulso forçado de Stálin à
agricultura coletiva ?
A « tarefa socialista » de
abolir a propriedade no interior do país não pode ser assumida em isolação
frente aos métodos da revolução proletária. Elas também não podem ser
consideradas separadamente em relação à classe que deve cumprir tal tarefa. Trotsky respondeu a esses tipos de
argumentos, em seu tempo : « Não apenas o “o quê” é o que importa, mas também
contam o “como” e o “quem” faz alguma coisa : se é a burocracia ou os
sovietes.” »[20]
Ora, tendo-se em conta
que, segundo Romano e Albamonte, o “dirigente trotskysta” Nahuel Moreno estendeu,
indevida e revisionistamente, o período excepcional de 1943-1949 para todo o
período do após-guerra, transformando-o em norma, distorcendo, assim, não
somente os fundamentos da teoria da revolução permanente, senão, pior ainda,
também a própria realidade, decorreria, pois, a imperiosidade de fazer-se
alguma coisa contra isso : i.e. corrigir-se Moreno, com
o que obter-se-ia uma mais perfeita compreensão do período do após-guerra.[21]
Como, porém, Romano e Albamonte
candidatam-se à execução desse mister ?
A resposta é-nos
fornecida, de bom grado, pelos próprios dirigentes
trotskystas-gramscianos Romano e Albamonte, ao
aconselharem toda a vanguarda dos lutadores proletários revolucionários a
precisamente atentar para o seguinte :
“Não somos, de nenhuma forma,
os primeiros a tentar sacar um paralelo crítico entre os pensamentos de Trotsky e os de Gramsci.
Perry Anderson, partindo do ponto de vista do marxismo acadêmico, abriu um debate acerca
das ambigüidades registradas no conceito chave de hegemonia, postulado por Gramsci. Esse foi um trabalho pioneiro,
em que as concepções de Trotsky foram tratadas. Porém os trotskystas falharam, lamentavelmente, em
elaborar sobre esse tema.
O principal impulso de nossa
abordagem é o de tratar ambos os sistemas teóricos considerados em seu
conjunto, constrastando seus conceitos particulares em processo, i.e. o
conceito de equilíbrio capitalista e a teoria da revolução permanente no caso
de Trotsky; a relação entre guerra de
posição e guerra de manobra de Gramsci, bem como os usos de sua noção de revolução passiva.
Essa última, acreditamos, tem
sida sobretudo subestimada pelos marxistas revolucionários.
O primeiro
resultado de contrastar-se essas perspectivas teóricas é a emergência de novos
conceitos, enquanto outros ganham em riqueza dialética, permitindo uma melhor compreensão do complexo cenário mundial que assumiu forma no período posterior à II
Guerra Mundial – o período assim denominado de a “Ordem de Yalta”.”[22]
Eis o resultado
primordial dos intentos de Romano e Albamonte, contidos em seus trabalhos dedicados a Trotsky e Gramsci, voltados a abordar
ambos os sistemas teóricos em pauta e a constrastar seus conceitos particulares
em processo, i.e. as análises de Trotsky sobre
o equilíbrio capitalista e a revolução permanente em
face dos conceitos de Gramsci de guerra de posição - guerra de manobra e de revolução passiva: mediante essa operação intelectual de matiz
ostensivamente eclética seria possível obter-se “novos conceitos,
enquanto outros ganham em riqueza dialética.”
Por ocasião de sua
ruptura com a Liga Internacional
dos Trabalhadores (LIT), em fins dos anos 80, Romano e sua corrente política declaravam ser
imprescindível seguir novos caminhos, delimitando-se do movimento trotskysta do
qual procediam, como forma de poder retomar “o método e a
teoria de Trotsky”.
Assim, ainda em 1993,
o hoje dirigente eclético trotskysta-gramsciano,
Romano, assinalava, expressamente, o seguinte :
“É por isso que toda a possível
regeneração revolucionária da LIT (e de suas secções) só pode surgir de uma volta, sem titubeios, às bases teóricas e ao método,
concebidos pelo fundador da IV Internacional.”[23]
Presentemente, é
possível depreender que Romano pretendia
efetivamente defender, à época, não propriamente “uma volta, sem
titubeios, às bases teóricas e ao método, concebidos pelo fundador da IV
Internacional, Trotsky” mas sim um retorno àqueles postulados,
burilados pelo sagaz venerador das políticas e dos métodos do stalinismo, Gramsci.
Se os leitores ainda
prosseguirem com suas dúvidas acerca das maravilhas ideológicas, obtidas pela
aliança eclética Trotsky e Gramsci,
promovida
por Romano e Albamonte, cabe destacar que esses dois trotskystas gramscianos brindaram-nos, ainda, com um trabalho
adicional, intitulado “Trotsky e
Gramsci. Revolução Permanente e Guerra de Posição. A Teoria da Revolução em
Gramsci e Trotsky”, no qual pretendem
conciliar, desveladamente, fundamentos lógicos do materialismo
histórico-dialético com axiomas supersticiosos do curandeirismo
idealista-subjetivista gramsciano, visando a obterem “novos
conceitos, enquanto outros ganham em riqueza dialética.”[24]
A essa cruzada do “Bloco Histórico Trotskysta-Gramsciano”,
encabeçada pelos mentores ideológicos do Partido Obrero e do
Partido de Trabalhadores por el Socialismo (PTS – Fração
Trotskysta – Estratégia Internacional) – coadjuvada por Convergencia Socialista (CS) e
pelo Movimiento Socialista de los Trabahadores (MST) -
soma-se ainda, escolasticamente, o Movimento ao
Socialismo (MAS).
Essa última
organização decidiu-se a difundir, ostensiva e diretamente, escolástica e
acriticamente, em seus “Cuadernos de
Formación”, textos decisivos do “Lenin do
Ocidente”, dedicados à temática “Estado e
Socialismo” e à questão da “Necessidade de
uma Preparação Ideológica das Massas”.[25]
No que
concerne ao comparecimento e ao porte do trotskysmo gramscista lamentavelmente também no interior das fileiras do Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU do Brasil), cuja
difusão faz-se, presentemente, de modo ainda periférico e fragmentário e,
ditosamente, não de maneira diretiva e preponderante, - apesar de ganhar
espaços a cada dia, com base no método gramscista da Guerra de Posição ou de Assédio,
a qual pode ser magnificamente sintetizada no provérbio Gutta cavat lapidem non vi sed
saepe cadendo, tantas vezes referido por Giordano Bruno, traduzido,
no vernáculo, mais comumente com o brocardo “água mole em pedra dura, tanto
bate até que fura” -, limito-me a remeter o leitor, em primeiro lugar,
à vastíssima página de Internet do Professor da Universidade de Campinas e
Metodista de São Paulo, membro do conselho editorial e secretário de
redação da Revista Outubro, Álvaro Bianchi.
Tal página de Bianchi, intitulada Politikon,
fala
por si mesma acerca das tendências e das inclinações especulativas desse
pensador brasileiro, empenhado em veicular não somente suposta
complementaridade eclético-intelectual, existente entre Trotsky e
Gramsci, senão também suas próprias considerações principais,
inequivocamente sufragadoras do gramiscismo epitemologicamente
subjetivista-apriorístico e frontalmente avessas ao materialismo
histórico-dialético de Marx e Engels.
À guisa de prova, permito-me remeter
o leitor ao estudo, exempli gratia, do texto “Hegemonia em
Construção” de Bianchi e do seu mais recente grito de guerra de “Retorno
a Gramsci”, i.e. uma apologia “reflexiva
e crítica” que, poupando o leitor de tantos argumentos ecléticos
vazios, não se prolonga mais do que ao longo de duas páginas repletas de letras
e sentenças, revivificadoras do non sense gramsciano.[26]
A Revista Outubro, dirigida
por Álvaro Bianchi adota como título um nome inquestionavelmente
imponente, diretamente associado à herança proletário-revolucionária gerada
pelo Outubro
Vermelho, dirigido por Lenin, Trotsky, Sverdlov e por
muitos outros bolcheviques que consagraram suas vidas através da edificação,
em Outubro
de 1917, de uma autêntica Ditadura Revolucionária do Proletariado,
rigorosamente estruturada sobre os fundamentos mais essenciais da doutrina
dialética histórico-materialista de Marx e Engels.
Destacando que o grande mérito histórico de Marx
e Engels foi o de terem indicado aos trabalhadores de todo o mundo sua
tarefa de serem os primeiros a levantarem-se na luta revolucionária contra o
capital e reunirem, em torno de si, nessa luta, todo o povo trabalhador e
explorado, Lenin foi capaz de retomar a questão da hegemonia do proletariado, desde
um ângulo dialético-materista, situando-se, assim, em diametral
oposição ao que viria a ser a versão idealista-subjetivista da hegemonia
de Gramsci, para quem a estratégia revolucionária do “ataque
frontal”, da “guerra de movimento” do
proletariado revolucionário, subsistiria apenas “até quando se trate de
conquistar posições não decisivas, não sendo, pois, mobilizados todos os
recursos da hegemonia do Estado.”[27]
Com efeito, na
história da humanidade de todos os tempos, a Grande Revolução Russa de Outubro de 1917, enquanto prólogo da
revolução socialista mundial, tornou-se o marco real e triunfante de maior
relevância na longa luta de classes internacionalista, travada pelos
trabalhadores e todos os seus aliados oprimidos por Pão, Paz e Terra, rumo à edificação de um novo mundo : um mundo
sem fronteiras, autenticamente humanizado, imune a todas as formas de
exploração do homem pelo homem e de nações por nações, livre de toda a opressão dos Estados e das dilacerações sociais
sangrentas, emergentes das sociedades cindidas em classes irrenconciliavelmente
hostis.
Entretanto, apesar de seu nome eminentemente sedutor, não
se extrai, quase nunca, da Revista Outubro em referência
contribuições que apontem para a necessidade de retomada inadiável do legado de
luta dos bolcheviques, encabeçados por Lenin, senão, maximamente,
elaborações intelectuais das mais diversas procedências ecléticas que tendem
essencialmente à difusão e consolidação do gramscismo meta-marxista e de toda
sua «
tradição », fundada gnosiologicamente no subjetivismo idealista,
inteiramente avesso à dialética histórico-materialista de Marx e Engels, Lenin e Trotsky.
Permanecendo como porta voz ideológico do gramscismo,
a Revista
Outubro haveria de adotar um outro título que bem mais correspondesse
às suas aspirações histórico-epistemológicas.
Mesmo porque não passou pela cabeça de nenhum
revolucionário bolchevique ou mesmo – antes do VI Congresso de Unificação do
POSDR (Bolchevique), ocorrido entre 26 de julho e 3 de agosto de 1917 –
não transitou na mente de nenhum militante do Comitê Interdistrital de
Petrogrado, encabeçado por Trotsky e Lunatcharsky, Iurenev e Volodarsky
– defender a idéia de que lutavam, com o fito de deflagar “A Revolução contra o
Capital”, i.e. contra o Capital de Karl Marx, por acreditarem, como o faz declaradamente
Gramsci,
que “os
cânones do materialismo histórico não são assim tão férreos como se poderia
pensar e se pensou”, na medida em que “Marx se havia contaminado com incrustrações positivistas
e naturalistas.“ [28]
Procedendo desse modo, a Revista
Outubro não se dedica à abordagem do Outubro, pois que não se
dispõe a tratar do Outubro – ainda que o pudesse fazer, se se valesse de artigos
vertidos da pena de inúmeros trotskystas revolucionários que vicejaram e
vicejam seja no Brasil seja em todo mundo - : dispõe-se a tratar das leituras
gramscianas e gramsciófilas, i.e. das supostas incrustrações, dos alegados
entalhamentos, das presumidas tauxias, das imaginárias ensambladuras “positivas
e naturalistas” contidas na obra de Marx, já que “os cânones do materialismo histórico não
são assim tão férreos como se poderia pensar e se pensou ...”(sic)
Na base de uma suposta defesa da
mais ampla
liberdade de consciência filosófica e religiosa, fundada na parêmia De
gustibus et coloribus non est disputandum, a Revista Outubro de Álvaro
Bianchi e colaboradores procura servir de trampolim conseqüente e
sistemático à publicação, sem críticas e sem restrições, de artigos dos maiores
diretores espirituais do mandelismo, dirigentes supremos do Secretariado
Internacional da Quarta Internacional (SU – QI) – sustentadores diretos
ou indiretos no Brasil seja, por um lado, da Frente Popular,
encabeçada por Lula e integrada pelo Ministro do (contra) o Desenvolvimento
Agrário, Miguel Rossetto (SU – QI), seja, por outro lado, do Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), como Michael Löwy e Daniel
Bensaïd, remixes do incorrígivel franco-maoísta Louis Althusser
– outrora contudentemente e à saciedade criticado por Nahuel Moreno –, análises
de “luxemburguistas”
no estilo de Ricardo Antunes, convicto protagonista do gramscismo
ideológico, propalado pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) .[29][30][31][32]
Mais do que isso : a
Revista Outubro dedica-se também à publicação de ensaios muito “profundos
e abrangentes” acerca da seguinte temática :
“Gramsci, mais um
antitrotskista ?”[33]
Diante do corpo de articulistas
supra-citados que configuram o ecletismo gnoseológico patente da Revista
Outubro de Álvaro Bianchi, adivinhe o leitor dessas linhas, se puder – mesmo
sem ter jamais lido o ensaio cujo título ficou acima referido -, qual seja a
resposta conferida por Bianchi e Sena à desafiadora
indagação formulada insinuadamente :
“Gramsci, mais um
antitrotskista ?”
Evidentemente que não,
não, não, quatro vezes não : Gramsci não foi um antitrotkista, apesar de ... apesar de ... apesar de ...
apesar de ... Gramsci ter
enaltecido, escancaradamente, Stalin enquanto “o Grande Teórico Mais Recente”
em matéria de “internacionalismo e política nacional”, apesar
de ... apesar de ... apesar de ... apesar de ... Gramsci declarar que a teoria da Revolução Permanente de Trotsky nada
mais é senão uma “tentativa de estupro de uma menina de 4 (quatro), 4 (quatro), 4
(quatro), 4 (quatro) anos”, apesar
de ... apesar de ... apesar de ... apesar de ... Gramsci opor-se, abertamente, à concepção de Revolução
Permanente de Trotsky, na medida em que defendeu ser inteiramente
correto compará-la, vulgarmente, com a teoria dos “sindicalistas franceses sobre a
greve geral e, também, parcialmente, com a teoria do espontaneísmo de Rosa
Luxemburgo (sic)”, apesar de ...
apesar de ... apesar de ... apesar de ...[34]
Apesar de tudo isso, Gramsci
não foi um antitrotskysta !, apesar
de ... apesar de ... apesar de ... apesar de ... poder ter tido algumas
diferenças políticas em relação a Trotsky, evidentemente de dimensão
“irrelevante”.
Imaginemos, porém, por um instante,
se Gramsci
tivesse sido um antitrotskysta.
Que pérolas não verteriam de sua
pena para atacar a Revolução Permanente de Trotsky e prantear o “Grande
Teórico Mais Recente, em Matéria de Internacionalismo e Política Nacional”,
Iossif Vissarianovitch Djugaschvili Stalin !
Se acompanharmos as próximas edições
da Revista
Outubro de Álvaro Bianchi, verificaremos que, em breve, poderão ser
lançados os seguintes ensaios, ainda mais cativantes :
“Gramsci, mais um
antiluxemburguista?”
“Gramsci, mais um
antiliebknechtiano?
“Gramsci, mais um
antiengelsiano?”
“Gramsci, mais um
antimarxista?”
Em todos esses casos, a resposta
será não,
não, não, 4 (quatro) vezes não !, apesar
de ... apesar de ... apesar de ... apesar de ...
E as comoções cerebrinas de Gramsci
e do gramiscismo
das Universidades
Burguesas latinae linguae continuarão a ser vendidas, em massa, aos consumidores
desgraçadamente pouco informados, a título de ... “Outubro” (!)
Não se surpreenda o leitor, se os
articulistas desses artigos vindouros forem até mesmo os seguintes expoentes
internacionais do mundo gramsciano-meta-marxista e do atual mandelismo
gramscista do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI) :
·
Daniel Bensaïd ;
·
Jacques Bidet ;
·
François Chesnais ;
·
Domenico Losurdo.
Com efeito, os quatro mosqueteiros
mundialmente renomados do gramscismo meta-marxista estarão no Brasil,
de 8
a 11 de novembro de 2005, adivinhem onde e para palestrarem sobre o
quê, a convite de quem?
Se a resposta do leitor à pergunta
acerca do “onde” foi : Universidade de Campinas, em São
Paulo, a resposta está certa.
Se a resposta do leitor à pergunta
sobre o “para palestrarem sobre o quê” foi : sobre a obra de Karl
Marx e Friedrich Engels, acertou novamente.
Se a resposta do leitor à pergunta
acerca do “convite de quem” foi : Revista Outubro de Álvaro
Bianchi, acertou apenas de modo parcial.
Pois, o evento para o qual forão
convidados Bensaïd, Bidet, Chesnais, Losurdo, todos eles meta-marxistas
gramscianos ou sinceros colaboradores desses, intitulado, enquanto
chamariz, 4° Colóquio Marx e Engels, foi organizado pelo Centro
de Estudos Marxistas (CEMARX) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH) da Unicamp, cujos professores ativos são todos gramscianos
ou gramsciófilos, tais quais João Quartim de Moraes, ideólogo do
neo-stalinilismo do PCdoB frente-populista, Armando Boito Jr., epígono do
neo-stalinismo de Quartim de Moraes e do PCdoB frente-populista e prócere do stalinismo
maoísta-brasileiro, Augusto Buonicore, epígono do
neo-stalinismo de Quartim de Moraes e de Armando Boito Jr. e mentor
ideológico do PCdoB frente-populista, e
Álvaro
Bianchi, o editor trotskysta- gramsciano da Revista
Outubro.
Essa fraternidade eclética há de nos
falar logo de quem ..., logo de quem ..., logo de quem ..., logo de quem ...
: de Karl Marx e Friedrich Engels !
Perante os professores neo-stalinistas-gramscianos,
stalinistas-maoístas-gramscianos e trotskystas-gramscianos, o próprio Marx responderia,
certamente, com suas palavras de odi profanum vulgus et arceo, favete linguis,
i.e. odeio o vulgo ordinário e afasto-o, favorecei-me, pois, com a língua,
calando-vos:[35]
“ Abgesehen davon,
gefällt mir sehr die öffentliche, authentische Isolation, worin wir zwei, Du
und ich, uns jetzt befinden.
Sie entpricht ganz
unsrer Stellung und unsern Prinzipien.
Das System wechselseitiger
Concessionen, aus Anstand geduldeter Halbheiten und die Pflicht vor dem
Publicum seinen Theil Lächerlichkeit in der Parthei mit all diesen Eseln zu
nehmen, das hat jetz aufgehört.”
No vernáculo :
“ À parte isso,
agrada-me muito essa isolação pública e autêntica, na qual nós dois, tu (Engels) e eu,
encontramo-nos atualmente.
Ela corresponde
inteiramente ao nosso posicionamento e aos nossos princípios.
O sistema de concessões
recíprocas, de respeito a medianidades toleradas e o dever de assumir diante do
público sua parte de ridículo, no Partido com todos esses burros, isso agora
deixou de existir.”[36]
Eis aí o De cujus sucessione agitur
sobre quem desejam falar os meta-marxistas gramscianos, os neo-stalinistas
gramscianos, stalinistas-maoístas gramscianos e os trotskystas gramscianos que
também serão expositores no 4° Colóquio Marx e Engels, organizado
pelo Centro
de Estudos Marxistas (CEMARX) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH) da Unicamp.
Todos esses intelectuais – a maioria
deles professores universitários - entendem ser o marxismo aquilo que eles
mesmos apreciam ler no marxismo, na medida em que agem
rigorosamente segundo a lógica da gnoma Quod volumus, facile credemus, i.e.
aquilo que queremos, acreditamo-lo facilmente.
Agindo, desse modo, o gramscismo
cuja natureza essencial é o meta-marxismo transforma a ciência do socialismo ou o socialismo
científico de Marx e Engels em uma ciência alegórica : melhor dito em
uma αλληγορία (alegoria), i.e. uma ficção
meta-marxista, composta por uma série de metáforas que tratam do marxismo,
dando a idéia de outra coisa, nele não expressada : por isso, άλλος
(outro), αγορεύειν (dizer).
O gramscismo não procede examinando o marxismo, com vistas a dele
extrair resultados dialético-revolucionários, tal
como um guia para a ação (Anleitung zum Handeln), orientação
para o agir, instrução para a prática, não de colaboração de classes - no estilo
stalinista, stalinista-gramsciano ou gramsciano-meta-marxista - , mas
de organização, mobilização e luta permanente, independente e implacável das
mais amplas massas revolucionárias, sob a direção hegemônica do proletariado, em busca da construção de uma humanidade socializada ou
ainda de uma sociedade humanizada, senão procede
reconstruindo-o de modo idealista-subjetivo, segundo os interesses e as
conveniências particulares do gramscista meta-marxista em causa,
sejam aqueles velados ou ostensivos[37].
O modus agendi et faciendi,
o método do socialismo alegórico gramsciano-meta-marxista, por usurpar a
dialética de Marx e Engels, não se desenvolve, gnosiologicamente, por meio
de tese
(θέσις), antítese
(αντιθέσις) e síntese
(σινθέσις), fundadas em sentido
histórico-materialista.
Pelo contrário, dedica-se
interminavelmente à produção alegórica de hipó-teses
(ιποθέσις),
pró-teses(προθέσις) e diá-teses
(διαθέσις), i.e. ocupa-se, em
um primeiro passo, com suposições admissíveis sobre o sentido e significado das
concepções de Marx e Engels, tornando-as carentes, porém, de toda comprovação,
em um segundo passo, com substituições artificiais do sentido e significado das
concepções de Marx e Engels o que leva a que adrede decaia e, em um terceiro
passo, com firmes disposições de reconstrução ordenatória
idealista-subjetivista, promovida por meio de suas próprias operações
intelectuais arbitrárias, dos elementos múltiplos, fornecidos pela dialética
histórico-materialista de Marx e Engels.
Fundado nesse método de proceder, o socialismo
alegórico gramsciano-meta-marxista – ao invés de científico – perpetra
diversos equívocos não apenas de compreensão do significado literário das
concepções e princípios, método e lógica, propugnados por Karl Marx e Friedrich Engels, senão
ainda, inevitavelmente, quando aplicado à direta análise dos fatos que permeiam
a realidade corrente da luta de classes e às respectivas medidas estratéticas e
táticas revolucionárias a serem adotadas, produz distorções, deformações,
acomodações, sectárias e oportunistas, que, em princípio, poderiam não ser tão
graves, se porventura houvesse disposição e consciência para corrigí-las
prontamente e no mais rápido espaço de tempo, em conformidade com o modo de
enfoque e de transformação materialista histórico-dialético do mundo.
Errare humanum est,
perservare autem ...
Impulsionado pelo gramiscismo
meta-marxista de nossos dias, verifica-se o surgimento do socialismo
alegórico, cuja essência reduz-se a referências feitas a pensamentos,
obras, cartas, discursos, documentos de Marx e Engels, para, a seguir,
fornecer um sentido e um significado essencialmente subjetivo e distinto,
particular e estranho, alheio e recôndito, alienado e alienante daquilo que Marx
e Engels quiseram efetivamente expressar.
Vejamos, por um minuto, a gênese e a
natureza do socialismo alegórico, cuja força propulsora decisiva de nossos
dias é o gramscismo meta-marxista.
O filistinismo do “livre pensar”
é o pai da ideologia essencialmente stalinista-meta-marxista de Gramsci
que gerou os neo-stalinistas gramscianos-reciclados, dos
quais nasceram os stalinistas-maoístas-gramscianos que procriaram os meta-marxistas
gramscianos que são os genitores dos trotskystas-gramscianos e
gramsciófilos
que, finalmente, unius sunt substantiae et virtutis ac potestatis, i.e. são de uma única substância, força e poder, conformadora
do socialismo
alegórico gramsciano-meta-marxista de nosso corrente século XXI.
Apoiando-se nos fundamentos do socialismo
científico de Marx e Engels, o socialismo alegórico pretende
daquele retirar a legitimação para as suas próprias elocubrações figuradas,
enigmáticas, embrulhonas e falsas, formuladas com base no seguinte epifonema :
“Nullius addictus jurare
in verba magistri,
Não estando obrigado a jurar pelas palavras de mestre
algum,
quo me cunque rapit
tempestas,
para onde me arrasta a tempestade
defereor hospes.
deixo-me levar de bom grado.”[38]
Se, outrora, as lutas de emancipação
do proletariado internacional e seu produto mais legítimo e avançado, i.e. o socialismo
científico de Marx e Engels, foi
capaz de reconhecer e lutar, em todos os domínios, contra os resultados,
ostensivos e velados, das concepções, lógica e metodologia de trabalho dos
assim denominados “socialismo utópico”, “socialismo religioso-cristão”, “socialismo dos
juristas”, “socialismo de cátedra” et caetera, nosso corrente século
coloca-nos diante da tarefa de, estribando-nos – ainda que como modestos
pigmeus – sobre o terreno do socialismo científico de Marx e Engels, combatermos
as formulações, a epistemologia e o modus agendi et faciendi do socialismo
alegórico gramsciano-meta-marxista, expressão do moderno ecletismo
intelectual dito marxista que enferma a luta de emancipação do proletariado e
que possui como elemento central de refundição, refinamento, reciclagem e
retratamento, o gramscismo, novo
freio ideológico de matiz originariamente stalinista, destinado a impedir que a
eclosão de processos efetivamente proletário-internacionalistas, inspirados por
posições marxistas revolucionárias, i.e. leninistas-trotskystas, conduzam à
consolidação da Ditadura Revolucionária do Proletariado,
incorporadora da mais ampla Soberania proletária, enquanto forma de transição para uma
sociedade sem classes e sem Estado.
Em vista da imensa importância da
genial e originalíssima doutrina de Marx e Engels para as lutas das
amplas massas exploradas e confrangidas, em razão das produções de Marx
e Engels constituirem um arcabouço de concepções indeléveis, profundamente abrangente, procura o socialismo
alegórico gramsciano-meta-marxista erigir enquanto seu método de
trabalho o procedimento de referir-se, sempre à distância e esporadicamente, a Marx
e Engels – folheando, ocasionalmente, até mesmo suas obras, citando, às
vezes, até mesmo pedacinhos dela -, a fim de atribuir um sentido e um
significado inteiramente distorcido, surpreendente, e, por isso mesmo, não
apenas falso, mas antes de tudo embusteiro, enganador, sedutor (no dizer de Engels
: befremdend) àquilo que foi efetivamente preconizado pelos fundadores
do socialismo
científico.
O socialismo alegórico gramsciano-meta-marxista
tão cultivado pelos rabinos neo-stalinistas-gramscianos, stalinistas-maoístas-gramscianos,
trotskystas-gramscianos, trotskystas-gramsciófilos et reliqua agem tal
qual o faz um mal intérprete de um idioma que o considera covinctamente como
sendo naturalmente seu, ao construir, criar, elaborar um sentido aproximado,
figurado e aparentemente evidente de uma determinada proposição lançada por Marx
e Engels.
P.ex.: admitindo-se que um meta-marxista
gramsciano – seja ele da vertente eclética que lhe aprouver, i.e. neo-stalinista
gramsciano, stalinista-maoísta gramsciano ou mesmo trotskysta gramsciano ou
trotskysta gramsciófilo, porém sempre defensor do pensamento de Gramsci
enquanto leitura retratada, refinada, reciclada, idealista-subjetiva de tudo
aquilo que Marx ou mesmo Engels ou mesmo Lenin ou mesmo Trotsky
produziram – encontrasse, hipoteticamente, em algum texto desses
pensadores a seguinte sentença :
“Cor quo vado ?”
Diria, sem grande meditação, em tom
inquestionavelmente alegórico, usando de sua mais ampla liberdade de
consciência, em defesa de um suposto “marxismo critativo” :
“Essa sentença quer
dizer « exatamente » que Marx
tinha conhecimento não apenas do Brasil
e do Rio de Janeiro, mas também que
ouvira falar do Corcovado, se é que
lá mesmo não esteve !”
Posicionado diante da conhecida
expressão :
“Nomen est omen !”
Não tituberaria o meta-marxista
gramsciano em formular, de modo inovador, a seguinte pró-tese
:
“Eis aí que o nome
é o homem, i.e. a simples menção do nome de Marx concede-lhe perante auditórios repletos todos os louros que
seus ensinamentos merecem.”
Se deparasse, então, com a sentença
:
“Caritas in omnibus.”
Diria o meta-marxista gramsciano, criativa
e alegoricamente, em tom trocista, arrancando até mesmo a concordância de
incautos auditórios inteiros :
“Certo! Com toda a sua monumental compreensão das
relações sociais circunjacentes, Marx
queria, na realidade, nos alertar, em tom de previsão, para o fato de que está caro nos ônibus, a despeito do
fato de que, na época de Marx, não
existisse, como sabemos, ônibus algum.”
Entrevendo a mensagem :
“De motu proprio.”
O intelectual meta-marxista gramsciano, fundando-se
no axioma de que cada um dever escolher livremente no que acredita, diria :
“Aqui, Marx
pretende dizer que certamente cada qual deve ir com sua moto própria.”
Se avistasse, a seguir, a sentença :
“No vi oras.”
Segunda a mesma lógica, afirmaria o meta-marxista
gramsciano, figurativamente, recorrendo a toda sua concepção de
liberdade no “marxismo criativo” :
“Bem. Eram, efetivamente, nove horas, quando Marx redigiu
essas linhas, pois, em outra passagem, afirma, ao dirigir-se a Engels, «iterum crispinus»!”[39]
Confrontado com a pergunta :
“Maria, an tu nes ?”
O meta-marxista gramsciano não
titubearia em criar marxisticamente, alegorizar, no terreno da obra de Marx
e Engels, dar asas ao seu espírito amplamente livre e desbragadamente
autônomo, proclamando :
“Aqui, Marx
remete-nos « exatamente » ao estudo
de Maria Antunes, mãe da grande protagonista da Revolução Farroupilha da qual ele
certamente deve ter tomado ciência por meio de Giuseppe Garibaldi !”
Assaltado pela sentença :
“Tua neta Maria rosa.”
O professor do meta-marxismo gramsciano
esclareceria, alegoricamente, demonstrando seu infinito conhecimento da
história de todos os tempos :
“Aqui, já se trata de algo inteiramente distinto. Marx pretende dizer « exatamente » que
... que ... que ... que ... alguém se dirigia a avó de Maria, a Louca – “Maria, la Pazza” -, mulher guerreira, que sempre
levava uma rosa consigo. Ela foi
descrita magistralmente pelo escritor italiano Francesco Petrarca.”
No mesmo passo, o meta-marxismo
gramsciano – sempre muito adepto do “marxismo criativo” –
surpreender-se-ia se tomasse conhecimento de fórmulas imprecatórias, formuladas
por Marx, e
acharia melhor, por cautela, não alegorizar meta-marxisticamente em casos
semelhantes aos seguintes, reputadamente difamatórios e insultosos :
“Tua mater mala est
burra !”
“Mando navem prora
puppique carente !”
“Pica fodet conum !”
“... et quisbundam aliis
!”
“Da mihi tua buceta
dicta baccho !”
“Quod abundat non nocet
!”
“Omnibus rebus cognitis
!”
„Nihil est miserum nisi cum putes.“
Por sua origem essencialmente
acadêmico-professoral, imersa em ambiente de Universidades do Estado Burguês, o
gramscismo
meta-marxista prefere dedicar-se às coisas mais orgânicas, intelectuais
e especulativas, procurando revelar em Marx o sentido mais profundo de seus
estudos histórico-analíticos, tal como Gramsci o fez ao redigir seu
lendário “A Revolução contra o Capital” - segundo Gramsci : “Revolução contra o
Capital de Karl Marx”, pois ..., pois ..., pois ..., pois ... “os
bocheviques renegam Karl Marx”, afirmando que “os cânones do materialismo
histórico não são assim tão férreos como se poderia pensar e se pensou”, na
medida em que “Marx se havia
contaminado com incrustrações positivistas e naturalistas.“[40]
“Hannibal ante portas !”
Na alegoria linguística dos gramscianos
meta-marxistas :
“Aníbal que antes foi
porteiro !”
E, então :
“Libertas quae sera
tamen respexit inertem !”
Meta-marxisticamente, na dicção dos gramscianos
dos mais diversos matizes há de soar de modo parecido com :
“Liberta, que serás
também, respeitando a inércia !”
Ou ainda :
“Ruere in servitium.”
Na diátese gramisciana meta-marxista,
constituida por meio de hipótese e prótese :
“Ruir no serviço.“
Com efeito, Marx, Engels, Lenin e
mesmo Trotsky – que nos refere entusiastamente a
obra de Juvenal – muito utilizaram a língua latina, seja em pequenas
dimensões – referindo-nos brilhantes epifonemas -, seja em ensaios mais largos,
demonstrando que sabiam, efetivamente, com que importantíssimo instrumento
cultural estavam manejando.
Assim, não se trataria de um caso
fantástico se um gramsciano meta-marxista qualquer, confrontado com um
parágrafo de História da Antigüidade como esse :
“Omnibus completis,
Caesar, summa diligentia, fuit profectus Romam.”
formulasse a seguinte alegoria :
“Aqui, Marx que dizer « exatamente » que : estando os ônibus completos, César subiu na
diligência, i.e. na carruagem, e foi prefeito de Roma.”
Suponha, agora, o leitor, por um
breve lapso de tempo, qual não há de ser
a alegoria produzida pelo meta-marxismo dos gramscianos
e gramsciófilos
ejusdem farinae, exercitados no domínio do “marxismo criativo”, quando
passam a se ocupar efetivamente das lições acuradamente redigidas por Marx
e Engels, Lenin e Trotsky !
Vejamos um exemplo concreto sobre o
que aqui versamos :
Marx expressou, efetivamente,
a seguinte importantíssima noção sobre o exercício da hegemonia no contexto do Principado
de Augusto e do Estado Romano, ao redigir em língua
latina o seguinte :
“Sed omnino et Romana civitate, quam singulis
Augustus praebuit, et armis, quae duces periti gessere, et inimicitia, inter
eos ipsos excitata, multuorum Germaniae populorum vis frangebatur.”[41]
Em sentido meta-marxista-gramsciano,
i.e. no quadro do “marxismo do além mundo”, no
âmbito do “marxismo criativo”, praticado pelos próceres espirituais do gramscismo
ejusdem furfuris, haveria de emergir todo o parágrafo
linguístico-declaratório em tela, da seguinte forma :
“Como sabemos, Marx
escreve certo por linhas tortas, quando se refere a questões históricas ...
No texto em destaque, Marx quer dizer « exatamente
» que : a sêde, o menino e a cidade
romana que, de modo singular, Augusto meteu em pré-ebulição, e as armas que os
doces peritos engessaram, e a inimizade entre os pisos, excitou muito tumultos
germanos populares, de modo vil flagelados. “
Tal como acima ficou dito, o socialismo
alegórico do corrente século XXI que defluiu, mais diretamente, da versão
moderna do gramscismo meta-marxista - inimigo visceral e sibilino da Revolução
Permanente, defendida inflexivelmente já por Marx, já por Engels,
já por Lenin, já por Sverdlov, já por Trotsky
- possui suas mais tenras origens no filistinismo
do “livre pensar”.
Este último manifestou-se,
densamente, no quadro das lutas de emancipação do proletariado alemão, em
verdade, muito antes de que Gramsci pudesse formular sua idéia
cerebrina de que a teoria da Revolução Permanente de Trotsky não
havia sido boa nem quinze anos antes nem quinze anos depois, pois “quando aveva
quattro anni si voleva stuprare la bambina sicuri che sarebbe diventata madre“,
i.e. quando a menina tinha quatro (4) ... quatro (4) ...
quatro (4) ... quatro (4) ... anos queriam-na estuprar, seguros que haveria de
se tornar mãe.[42]
O filistinismo do “livre pensar” exprimiu-se
já, embrionariamente, nas fileiras dos revolucionários proletários, durante o
processo de fusão que pariu – como diz Engels - o Programa Podre de
Gotha de 1875, adotado no Congresso
Fundacional que
selou a aliança ideológico-programática entre os então existentes Partido
Social-Democrático dos Trabalhadores (SDAP), dirigido pelos
declaradamente “marxistas”, encabeçados por August Bebel e Wilhelm Liebknecht
– contando com 9.121 militantes - e a Associação Geral dos
Trabalhadores Alemães (ADAV), encabeçada pelos convictos lassalleanos Wilhelm
Hasselmann e Jean Baptist Schweitzer – dispondo de 15.322 militantes.
A seguir, foi aperfeiçoado gradativamente por Karl Kautsky, Eduard Bernstein,
Georg von Vollmar, Konrad Schmidt e seus colaboradores intelectuais ejusdem
generis a partir da década de 90 daquele mesmo século, surgindo como
fenômeno consolidado teórica, política, estratégica e taticamente nos primeiros
anos do século XX.
De todo modo, já na metade da década de 70 do século XIX
e em face das ciftras numérico-partidárias supra-indicadas, os declaradamente “marxistas”
August
Bebel e Wilhelm Liebknecht, nada mais faziam senão acalentar, piamente,
em seus corações “marxistas” o desejo de fusão, unificação, coalizão de toda a
classe trabalhadora alemã, sob a bandeira de um único só Partido, seja lá da
natureza que fosse, na medida em que a unidade, a todo transe, seria, custe o
que custasse, o fator mais importante.
Para o atingimento de tal aspiração de fundição de todas
as forças do proletariado alemão, os declaradamente “marxistas”, capitaneados
por
A. Bebel e W. Liebknecht, estavam dispostos a fazer concessões aos
lassalleanos – como efetivamente acabaram por fazê-las no quadro do Programa
Podre, redigido na cidade de Gotha - recebendo
em troca ... recebendo em troca ... recebendo em troca ... recebendo em troca “um monte de reivindicações puramente
democráticas, bastantes confusas, entre as quais muitas eram coisas
genuinamente da moda...“[43]
O método de atuação ideológico-programática dos
declaradamente “marxistas” A. Bebel e W. Liebknecht – agora convertidos, em
verdade, sob o impacto do lassalleanismo, em fiéis defensores
do filistinismo
do “livre pensar” - era, sem qualquer margem de dúvida, já naquela
época, i.e. em 1875 – portanto muito antes que os gramscianos meta-marxistas pensassem
em vir ao mundo – o método meta-marxista alegórico-socialista.
Vejamos, pois, disso um exemplo fático :
Diante da aparentemente inequívoca crítica de Karl
Marx relativa ao ponto relativo à Questão da Religião, contido no
esboço do Programa Podre que os declaradamente “marxistas” pretendiam, a
todo custo, fazer aprovar juntamente com os lassalleanos em Gotha,
diziam A. Bebel e W. Liebknecht que a questão da religião surgia, em
suma, para os “marxistas”, como uma questão privada, em cujo contexto
cumpriria defender, « exatamente », a ampla liberdade de consciência, i.e.
a permissão de cada um escolher livremente e particularmente no que quer acreditar.
Uma maior claridade sobre essa matéria, pode ser atingida
através da referência das seguintes fontes
:
Formulação contida no Programa Podre :
“ « PROGRAMA DE
GOTHA DO PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES DA ALEMANHA »
(...)
O Partido
Socialista dos Trabalhadores da Alemanha reivindica enquanto fundamentos do
Estado :
(...)
6. Declaração da
religião enquanto questão particular de cada um.”[44]
Palavras do comentário crítico redigido pela pena do
próprio Marx ao ponto 6 em destaque :
„Liberdade
de Consciência !“
Se se pretendeu com isso, nesse momento de Guerra Cultural, levar à mente do
liberalismo sua velha palavra chave, então isso poderia ter ocorrido apenas da
seguinte forma : Todos podem satisfazer
tanto sua necessidade religiosa como sua necessidade corporal sem que a Polícia
meta o nariz no meio.
Porém, o Partido
dos Trabalhadores deveria, pelo contrário, declarar, nessa ocasião, sua
convicção de que a “liberdade de
consciência” burguesa nada é
senão a tolerância de todas as espécies
possíveis de liberdade de
consciência religiosa, sendo que ele se esforça, muito mais, por libertar as consciências do fantasma
religioso.
Prefere-se, porém, não ultrapassar o nível “burguês”.[45]
Traduzida, meta-marxisticamente,
i.e. em sentido meta-marxista, a idéia acima formulada por Marx, i.e. expondo-a na
linguagem e concepção dos declaradamente “marxistas” A. Bebel e W. Liebknecht, pais
do filistinismo
do “livre pensar”, teríamos, porém, o seguinte :
“Como já é sabido, Marx
escreve certo por linhas tortas, ao referir-se a questões filósificas e históricas ..., valendo-se, até mesmo, em
alguns casos, do idioma latino.
Daí, a necessidade da aplicação de anexim para a
compreensão de sua formulação acima : obscurum per obscuris, i.e. há que
explicar o obscuro pelo mais obscuro ainda.
Sabemos que Marx defende,
há muito tempo, o refrão que se tornou famoso : “A religião é o ópio do povo”.
Portanto ... portanto ..., portanto ..., portanto ..., no
texto de Marx, contido em sua crítica ao nosso Programa
de Unificação, quis ele dizer «
exatamente » que... que ... que ... que ... : devemos defender a mais ampla liberdade de ciência e consciência e que
cada um escolha acreditar no que bem lhe aprouver, sem que a Polícia meta o
nariz no meio.”
Algumas retraduções dessa linguagem meta-marxista
do filistinismo
do “livre pensar” feita por marxistas não meta-marxistas que
entenderam o excerto redigido por Marx de maneira distinta, i.e. em conformidade
com o socialismo científico, apresentam-se, porém, da seguinte
forma :
“Eu nem quero seguir falando que tais reivindicações como
: liberdade de ciência - liberdade de consciência figuram em todo e
qualquer programa burguês-liberal e aqui produzem o clima de alguma coisa
embusteira.”[46]
“(Wilhelm) Liebknecht está, naturalmente, furioso,
posto que toda a crítica foi cunhada, especialmente,
contra ele.
Ele é o pai que, juntamente com o veado do Hasselmann,
pariu esse programa podre ...”[47]
“Em relação ao Partido Socialista do Proletariado, a religião não é uma questão particular. ...
Essa associação não pode e não deve posicionar-se de
maneira indiferente frente à falta de
consciência, frente às trevas ou frente ao obscurantismo, expressados no modo
das crenças religiosas.
Exigimos a plena separação entre o Estado e a Igreja, a fim
de que possamos lutar contra o nevoeiro religioso, com armas puramente
ideológicas e exclusivamente com armas
ideológicas, com a nossa impresa e com as nossas palavras.
Porém, fundamos
nossa associação, entre outras coisas, precisamente para travar essa luta contra a estupidificação dos
trabalhadores.
Para nós, a luta
ideológica não é uma questão particular,
mas sim de todo o Partido, de todo o proletariado.”[48]
Eis aí porque o “marxismo criativo”, enquanto
rótulo do meta-marxismo gramsciano não pode ser considerado, a bem da
verdade, como propriamente original.
Preocupado em estudar as raízes do filistinismo
do “livre pensar” – fonte de todo o meta-marxismo gramsciano
contemporâneo, produzido pelos declaradamente “marxistas” -, Lenin recomenda-nos
examinar detidamente a história do Partido Social-Democrático Alemão,
começando com as declarações evasivas, contidas nos artigos de seus líderes
ideológicos, terminando com a postura do Partido frente ao “Los-von-Kirche-Bewegung(Movimento
de Abandono da Igreja)”.[49]
Nesse sentido,
esclarece Lenin, com sua costumeira precisão e nitidez :
“Outra observação incidental de Engels, também relacionada com a questão do Estado, trata da religião.
É sabido que a Social-Democracia
Alemã na medida em que se degenerava, tornando-se cada vez mais
oportunista, descambava, mais e mais, para o diz-que-diz filistino da célebre
fórmula : « Declaração da Religião como
Questão Privada. »
Isso significa que : essa fórmula foi interpretada de tal
modo que também para o Partido do Proletariado Revolucionário a
questão da religião haveria de ser uma questão
privada !
Contra essa mais
completa traição do programa revolucionário do proletariado, levantou-se Engels em 1891, contemplando, então,
apenas os mais poucos perceptíveis
rudimentos do oportunismo no interior de seu próprio Partido,
expressando-se, por essa razão, com grande cautela :
“Tendo em conta que, na Comuna de Paris, sessionavam
quase apenas trabalhadores ou reconhecidos representantes dos trabalhadores,
suas resoluções revestiam-se de caráter decididamente proletário.
Ou decretavam reformas que a burguesia republicana,
apenas devido à sua covardia, havia deixado de aprovar que constituíam, porém,
um fundamento necessário para a livre ação da classe trabalhadora – tal como a
execução do princípio de que a religião
é pura questão particular em relação
ao Estado ; ou, então, promulgavam resoluções que correspondiam diretamente
ao interesse da classe trabalhadora e, em parte, dilaceravam, profundamente, a
velha ordem social.”[50]
Engels enfatizou deliberadamente as palavras “em relação ao Estado” de modo a dar um empurrão direto no oportunismo alemão que declarara a
religião como uma questão particular em
relação ao Partido, degradando, assim, o Partido do Proletariado Revolucionário até ao nível mais vulgar do filistinismo do “livre pensar” que se
encontra preparado a admitir um status não-religioso, recusando-se, porém, a
travar a luta do Partido contra o ópio da religião que estupidifica o povo.”[51]
Eis aí como Lenin
revela, de modo não meta-marxista, o sentido e
significado do pensamento de Marx, destacando que,
particularmente no domínio da Questão da Religião, o filistinismo do
“livre pensar” encontra-se preparado a admitir um status não religioso, i.e.
uma posição liberal em relação à religião, uma postura de defesa da liberdade de
religião, tanto em relação ao Estado, quanto em relação Partido
marxista-revolucionário.
O filistinismo
do “livre pensar” – desenvolvido, na Alemanha,
embrionariamente, por A. Bebel e W. Liebknecht, em meados
da década de 70 do século XIX e aperfeiçoado por K. Kautsky et alii, a
partir da década de 90 daquele mesmo século, sob a designação de “marxismo”,
negou-se, por outro lado, a considerar a religião muito mais como uma questão não-privada dos indivíduos em
face do Partido marxista-revolucionário, desarmando, assim, a luta em prol da
mais importante defesa da liberdade da religião – i.e. a
liberdade de consciência frente à religião -, i.e. da luta a
ser travada em prol da libertação das consciências frente ao fantasma
religioso, frente à estupidificação dos trabalhadores, frente às
trevas ou, ainda, frente ao obscurantismo, expressados no modo das
crenças religiosas.
Acreditavam,
assim, em estilo meta-marxista, que Marx, entrevendo a necessidade
histórica de superar-se o princípio ainda feudal do cujus regio, ejus religio, i.e.
a religião é de quem é a região, houvera propugnado, incondicionalmente, muito
mais - tal como Descartes, Spinoza, Hobbes, Kant et alii -,
a liberdade de religião, a liberdade de cada um satisfazer tanto sua
necessidade religiosa como sua necessidade fisiológica, sem que a Polícia meta
o seu bedelho no meio, a tolerância de todas as espécies possíveis de liberdade de
consciência religiosa, o que surge mais bem expressado, sinteticamente, na
fórmula meta-marxista : os “marxistas” defendem ..., defendem ..., defendem ..., defendem a mais integral
separação entre o Estado e a Igreja, pois isso é o mais importante, sendo que o
resto é que cada um deve ter a liberdade de escolher aquilo em que bem quiser
acreditar.
Na Rússia
Czarista, até mesmo os adeptos de Plekhanov e de Martov, i.e. os mencheviques - i.e. não apenas os bolcheviques - que acolheram o Programa do Partido
Social-Democrático Russo (POSDR) de 1903, julgavam ser correto defender,
pública
e programaticamente, não apenas a mais total separação entre o Estado e
a Igreja, senão também a “confiscação da propriedade e da posse dos
mosteiros e da Igreja”.[52]
E, apesar de tudo isso, Lenin possuiu a perspicácia
necessária para destacar, em seu Socialismo
e Religião, redigido em 1905 – quando
o Estado
Czarista ainda era essencialmente religioso e nem sequer essencialmente
burguês-liberal o seguinte :
“Em relação ao Partido Socialista do Proletariado, a religião não é uma questão particular. ...
Essa associação não pode e não deve posicionar-se de
maneira indiferente frente à falta
de consciência, frente às trevas ou frente ao obscurantismo, expressados no
modo das crenças religiosas.
Exigimos a plena separação entre o Estado e a Igreja, a fim
de que possamos lutar contra o nevoeiro religioso, com armas puramente
ideológicas e exclusivamente com armas ideológicas, com a nossa impresa e com
as nossas palavras.”[53]
Defendendo posição
diametralmente oposta a de Marx, Engels e Lenin, o filistinismo
do “livre pensar” defendera, invariavelmente, desde a década de 70 do
século XIX, que os verdadeiros “marxistas”,
no estilo de A. Bebel e W. Liebknecht, haveriam de declarar, pelo contrário,
em face da religião, em “rigorosa conformidade” com o
pensamento de Marx, muito mais, o seguinte :
“Non olet religio
quae est tamen opiu populi !”
Assim procedendo,
limitavam a propaganda marxista anti-religiosa unicamente a declaração de que a
religião
é o ópio do povo, mas que não cheira à retrete pública do
Imperador Vespasiano, não avançando, portanto, além das concepções
propugnadas primitivamente já nos tempos longínguos de Seneca, para quem post
mortem nihil est, i.e. depois da morte não nada, ou mesmo nos de Statius
- para quem já estava
inteiramente claro que primus in orbe deos fecit timor, i.e.
foi o temor que primeiro fez os deuses.[54]
A defesa da liberdade de religião teve uma
tonalidade mais significativa na luta contra os Estados Religiosos - como
foi a Rússia Czarista até 1917 - ou, tem ainda, no curso dos nossos
dias, na luta pela laicização de Estados, tais quais os da África do Norte e do
Oriente Médio.
Mas, no quadro da maioria dos Estados Burgueses “de Direito” ocidentais,
desde o século XIX, mais precisamente desde Marx, esse não é o ponto
absolutamente central para o marxismo revolucionário, apesar dos resquícios que
ficaram aqui e ali da velha fusão existente entre Igreja e Estado, seja na
Europa, sejam nas Américas, seja na maioria dos países capitalistas de todo o
mundo.
A consigna de defesa da separação entre Estado e Igreja e da
“confiscação da propriedade e da posse dos mosteiros e da Igreja” não colocou absolutamente um ponto final no posicionamento de Marx
sobre o tema, sendo indevido, pois, acreditar que, a partir de suas obras, seja
possível, de alguma forma, extrair alguma declaração de defesa de ampla
liberdade de consciência e que cada um escolha no que quiser acreditar ou não,
seja na religião, seja na areligiosidade, seja no ocultismo, seja no ateísmo.
Em particular no que tange aos partidos marxistas-revolucionários
que travam sua luta contra a dominação capitalista burguesa-latifundiária,
assegurada pelos Estados burgueses monárquicos ou republicanos, liberais, sociais e
neo-liberais, devem fazê-lo não apenas nos domínios econômico e
político, senão também no ideológico e no organizativo, programático e
estatutário.
Sobretudo para esses partidos, a questão da democracia burguesa tem
como calcanhar
de Aquiles, pedra de toque,
ponto essencial, as tão veneradas “liberdade de consciência”, “liberdade
religiosa”, “liberdade de ciência” e outras tantas liberdades
ancoradas, nos dias de hoje, em praticamente todos os programas e constituições
burguesas-liberais.
Sem compreender a precisa posição de Karl Marx acima enunciada
relativamente à questão religiosa um partido marxista-revolucionário moderno
possui poucas chances de superar os limites democrático-burgueses.
Esse foi mais um dos grandes méritos do Partido Bolchevique,
encabeçado por Lenin, Sverdlov e Trotsky, qual seja o de travar uma luta
rigorosamente marxista seja no domínio ideológico e seja no domínio
programático, razão pela qual Lenin, precisamente em agosto
de 1917, i.e. sob os auspícios de uma forma política democrática
de um Estado Burguês-Latifundiário Republicano destacou, precisamente
:
“Em relação ao Partido Socialista do Proletariado, a religião não é uma questão particular. ...
Essa associação não pode e não deve posicionar-se de maneira
indiferente frente à falta de
consciência, frente às trevas ou frente ao obscurantismo, expressados no modo
das crenças religiosas.
Exigimos a plena separação entre o Estado e a Igreja, a fim
de que possamos lutar contra o nevoeiro religioso, com armas puramente
ideológicas e exclusivamente com armas ideológicas, com a nossa impresa e com
as nossas palavras.”[55]
Sem essa última - tal como o passado demonstra – máxime no caso dos “marxistas”
da Social-Democracia Alemã –
a tendência é a de os Partidos Revolucionários do Proletariado crescerem,
sobejarem, incharem, medrarem, na mesma medida em que vão se degenerando,
decompondo, estragando, cadaverizando, se nada for feito evidentemente para a
correção de simples erros que, de início, surgem como equívocos e
mal-entendidos.
Com efeito, os marxistas revolucionários não são os que projetam seus
próprios conceitos subjetivos e valores ideológicos no trato das concepções
redigidas e defendidas por Marx e Engels, declarando-as, após
interpretação efetuada segundo a conveniência particular de seu “livre
pensar”, como se expressões do marxismo ou de “marxismos” fossem, no
estilo quisquis amat cervam, cervam putat esse Minervam, i.e. quem uma
cerva ama, julga que essa cerva seja Minerva, deusa das ciências e da
artes.
Marxistas revolucionários são esses que, através do atento estudo das obras
de Marx
e Engels, nelas refletem, com adequatio intellectus et rei, dispondo-se
a operar de modo histórico-dialético na realidade de seu tempo com o método de Marx
e Engels, tal como um guia para a ação (Anleitung
zum Handeln), orientação para o agir, instrução para a prática não de
colaboração de classes no estilo stalinista, stalinista-gramsciano ou
gramsciano-meta-marxista, com prostração diante da dominação burguesa e
latifundiária, mas de organização, mobilização e luta permanente, independente
e implacável das mais amplas massas revolucionárias, sob a direção hegemônica
do proletariado.[56]
Assim,
a compreensão do marxismo pelos marxistas revolucionários de um determinado
tempo em causa implica, pois – em inteira divergência relativamente ao modo de
enfoque e de proceder dos adeptos do gramscismo meta-marxista - ,
elaboração de intervenção militante-revolucionária nas lutas de emancipação do
proletariado, fundada não apenas nas próprias lições obtidas por meio de
experiências multifacetadas, obtidas a partir de suas próprias experiências
práticas do dia a dia corrente, senão ainda fundamentada nas posições teóricas,
no programa político e no método de atividade revolucionária daqueles que
lançaram as bases do socialismo científico, i.e. Marx
e Engels, e dos que foram os seus melhores representantes nos grandes
processos revolucionários de libertação de toda a classe trabalhadora e seus
aliados políticos, tais quais Lenin, Sverdlov, Trotsky, Liebknecht e
Luxemburgo, rumo à construção de uma sociedade sem classes e sem
Estado, i.e. do comunismo, fase superior do socialismo.
Eis aí um traço diferenciador claro e marcante que serve ao
reconhecimento de Partidos marxistas-revolucionários, i.e. defensores da herança
de luta proletária e do método revolucionário mais legítimo dos fundadores do socialismo
científico, em contraste com os Partidos prosélitos, com os
Partidos apóstatas, desafeitos aberta ou veladamente ao rigor disciplinar da dialética
histórico-materialista e as precisas exigências do socialismo científico.
O socialismo alegórico
gramsciano-meta-marxista de nosso corrente século XXI é um renovo dos trotskystas-gramscianos
e gramsciófilos que foram procriados pelos meta-marxistas gramscianos que
nasceram dos stalinistas-maoístas gramscianos, gerados pelos neo-stalinistas
gramscianos-reciclados cuja origem é a ideologia essencialmente stalinista-meta-marxista
de Gramsci,
que dimanou das diversas mutações histórico-ideológicas do filistinismo
do “livre pensar”.
Não constituem todas essas
vertentes, defluentes do filistinismo do “livre pensar”, absolutamente,
uma corrente gnoseológica única e solitária, mas sim são distintas correntes
que conformam uma única
substância, força e poder, i.e. sed unius sunt substantiae et virtutis ac potestatis.
Dessa sorte, muitos anos cumpriu
esperar para que viessem ao mundo as seguintes frases manifestamente meta-marxistas
de Gramsci, expressões do processo de refundição, reciclagem,
refinamento e retratamento pelo qual passou a obra de Marx, Engels e Lenin, com
objetivo de produzir, adrede, um freio ideológico inteiramente renovado,
destinado a impedir que a eclosão de processos efetivamente proletários
internacionalistas, inspirados por posições marxistas revolucionárias, i.e.
leninistas-trotskystas, conduzam à consolidação da Ditadura
Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla Soberania proletária, enquanto
forma de transição a uma sociedade sem classes e sem Estado :
“[Internazionalismo
e Politica Nazionale.] …
Sobre esse ponto,
parece-me assentar o dissídio fundamental entre León Davidovitch (i.e. Trotsky) e Vessarione (i.e. Stalin), como intérprete do movimento majoritário.
As acusações de
nacionalismo (i.e. formuladas por Trotsky
contra Stalin) são ociosas, se se
referem ao núcleo da questão. (...)
O conceito de
hegemonia é aquele no qual se enfeixam as exigências de caráter nacional e se
compreende o modo segundo o qual certas tendências de tal conceito não falam ou
apenas o desfloram.
Uma classe de
caráter internacional, enquanto dirige estratos sociais estreitamente nacionais
(intelectuais) e, freqüentemente, até menos ainda do que nacionais,
particularistas e municipalistas (os camponeses), deve “nacionalizar-se”, em um
certo sentido, e esse sentido não é, entretanto, mais estreito porque, antes de
que se formem as condições de uma economia segundo um plano mundial, é
necessário atravessar múltiplas fases, nas quais as combinações regionais (de
grupos de nações) possam ser variadas.
Contudo, não se
deve jamais esquecer que o desenvolvimento histórico segue as leis da necessidade
até que a iniciativa não tenha claramente passado da parte das forças que
tensionam à construção segundo um plano de divisão pacífica e solidária do
trabalho.
Que os conceitos
não nacionais (i.e. não referíveis a nenhum país singular) sejam errôneos vê-se
pelo seguinte absurdo : eles conduziram à passividade e à inércia, em duas
fases bem distintas : 1) na primeira fase, ninguém acreditava ter de começar,
i.e. considerava que começando encontrar-se-ia isolado; 2) a segunda fase é
talvez pior, porque se espera uma forma de “napoleonismo” anacrônico e
anti-natural (posto que nem todas as fases históricas se repetem da mesma
forma).
As fraquezas
teóricas dessa forma moderna do velho mecanicismo encontram-se mascaradas pela teoria geral da revolução
permanente que outra coisa não é senão uma previsão genérica, apresentada
como dogma e que se destrói por si mesma pelo fato de que não se manifesta
efetivamente.”[57]
Ignorando, consciente ou
inconscientemente, a gênese, o significado e o sentido mais essenciais do gramscismo
meta-marxista - sendo que, tal como Tácito assinala, omne
ignotum pro magnifico est, i.e. tudo o que se ignora é tido por
magnífico -, emerge estreitamente aliado às posições trotskystas-gramscianas
de Álvaro Bianchi, também Ruy Braga, membro do
conselho editorial e secretário de redação da Revista Outubro, pesquisador
do “Centro de Estudos Marxistas (CEMARX)” da Universidade de Campinas, no
Brasil, e Professor da Universidade de São Paulo.
Em obra cujo lançamento foi
organizado por Osvaldo Coggiola, Papa insuperável do “trotskysmo
gramsciano” da América Latina, Braga contempla, no conceito de “Revolução
Passiva” de Gramsci uma verdadeira maravilha teórica e
dedica-se a explorar sua validade interpretativa não apenas para o caso do “capitalismo,
em seu período contra-revolucionário (sic)”, senão ainda para a análise
da degeneração da Revolução Bolchevique.
Aproximando-se, então, dos
posicionamentos teóricos, esposados pelo mencionado koryphaios trotskysta-gramsciano
utriusque, Ruy Braga, em seu artigo intitulado “Risorgimento,
Fascismo e Americanismo : a Dialética da Passivização”, assinala, de
modo inteiramente embriagado pelo fascínio incorrompidamente
idealista-subjetivista gramsciano :
“A revolução passiva seria, também, uma resposta
precisa às questões ligadas aos grandes materiais históricos representados pela
Revolução Bolchevique, assim como, a derrota do movimento revolucionário nos
países imperialistas e a afirmação de uma solução organicamente capitalista
para a crise gerada pelos grandes embates entre as classes nas primeiras
décadas do século.”[58]
Braga devota-se, então, à
questão da “Revolução Passiva” de Gramsci procurando
demonstrar ao leitor o que é possível obter-se de positivo com o reconhecimento
histórico generalizado desse conceito surpreendemente metafísico e
fantasmagórico, onde, simplesmente enquanto “critério de interpretação
histórica (conteúdo universal) (sic)”, Gramsci pretende
alucinadamente demonstrar como, em processos dialético-restauracionistas, a
tese envolveria, incorporaria, engajaria a antítese, i.e. o governo
conservador-moderado envolveria as forças antitéticas radicais-revolucionárias,
impedindo rupturas espetaculares e traumas históricos.
Assim, conclui Ruy Braga,
já plenamente rendido à lógica dialética essencialmente idealista-subjetivista
de Gramsci :
“De modo como encontra-se
desenvolvido ao longo dos Cadernos, o conceito de
revolução passiva, além de expressar um programa
de ação política das classes dominantes, criticado por Gramsci, constitui-se em critério de interpretação totalizante e
repleto de possibilidades enquanto busca dar conta dos mais variados aspectos
de investigação da realidade, unificando análise histórica e política.
Em Gramsci, temos que a leitura croceana da dialética como relação entre distintos
e não entre contrários, supõe que, no
movimento histórico, a tese, longe de ser superada, é conservada por uma
antítese fragmentada, dando lugar a um movimento
previsível nos termos de uma repetição mecânica e pré-fixada.
A antítese não é
mais antagônica, visto que surge através de
uma evolução da tese, mas sim o conjunto desconexo de acontecimentos moleculares
múltiplos.
O presente passa a ser visto, segundo a concepção
pós-hegeliana de Croce, como uma determinada repetição
ampliada do passado, a inovação não é algo além do que um tipo de conservação
reformista.” [59]
Eis, portanto, como a
lógica dialética de Gramsci, projetada
em seu conceito de “Revolução
Passiva” superou a dialética histórico-marxista de Marx e Engels, constituindo-se
em “critério de interpretação totalizante e repleto de possibilidades
enquanto busca dar conta dos mais variados aspectos de investigação da
realidade, unificando análise histórica e política.”
E, com razão, dirão os
Sträublinge em sinfonia : tendo
obtido um novo “critério de interpretação totalizante e repleto
de possibilidades”, Gramsci concebeu, nos Cadernos -
ora, pois ! – que, no movimento histórico, a tese, longe de ser superada, pode
ser conservada por uma antítese fragmentada, de tal sorte que a antítese pode
deixar de ser antagônica – apesar de não deixar de ser antitética -, se surgir
precisamente de um processo evolutivo, não rupturista, quando passa a ser,
então, um conjunto desconexo de acontecimentos moleculares múltiplos.
É isso mesmo ... ! Em
todos esses casos gerais, o que vai ser superado não é a tese ...,
não é a tese ..., não é a tese ... Não, não é a tese ... : o que
vai resultar superado é efetivamente o marxismo revolucionário ..., com essa
sua dialética histórico-materialista das antíteses não-fragmentárias,
juntamente com a dialética dos antagonismos conexos de acontecimentos
moleculares unificados ...
Como se vê, Gramsci superou tudo isso e descobriu que a antítese
pode ser um conjunto desconexo, deixando de ser antagônica, para ser
molecularmente múltipla.
E isso pode ser historicamente
comprovado ... , historicamente comprovado ..., historicamente comprovado...,
historicamente comprovado ..., se ... se
... se ... se analisarmos justamente os casos da “Revolução Passiva” Gramsciana...
Pois, nos casos em que
empregamos o “critério de interpretação histórica (conteúdo universal) (sic)” da “Revolução Passiva” Gramsciana, o resultado
é o de que a tese não é superada pela antítese antagônica, mas sim que o
marxismo revolucionário com essa sua dialética histórico-materialista da
antítese antagônico-conexa, molecularmente única, é que é superado.
Se quisermos dizer
isso, na leitura croceana pós-hegeliana da coisa toda, diremos
que, na “Dialética da Passivização” – sim, pois a
dialética aqui é evidentemente uma outra, i.e. a dialética de o “Outro Gramsci” – tese insuperada e
antítese molecular fragmentariamente desconexa
não são contrárias : são distintas, por não serem nem antagônicas, nem
contraditórias, nem de fato historicamente materialistas.
Sufragando as posições do trotskysmo
gramscista-luckásiano – como se possível fosse coerentemente conciliar a
perspectiva
revolucionária trotskysta com o stalinismo reciclado de Gramsci e Lukács -
encontraremos, no interior do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado do Brasil), ainda a figura de relevo de um dos principais
porta-vozes dessa organização partidária, Valerio Arcary, publicamente
anunciado como Historiador, Professor do Centro Federal de Educação
Tecnológica de São Paulo, Doutor em História pela Universidade de São Paulo e
assíduo membro colaborador da Revista Outubro.
Urdida, no domínio intelectual universitário-burguês, a
estranha simbiose de raízes trotskystas, vindas de meios
extra-escolásticos, com as premissas intelectuais escolásticas do gramscismo
stalinista-reciclado, sob a batuta da professora livre-docente Zilda
Iokoi, especialista em elaborações ideológicas referentes à perspectiva
de um socialismo cristão – inspirados por José Carlos Mariátegui, o assim
denominado ”Gramsci latino-americano”, e pela suposta “ação
libertária das Pastorais da Terra e do Movimento Sem Terra” -, penetrou
o projeto de um novo trotskysmo gramscista-luckásiano,
pela destacada capacidade retórico-sofística de Arcary, nas fileiras das
organizações jornalísticas, partidárias e sindicais, dirigidas pelo PSTU,
de modo a praticamente a neutralizar o potencial de produção
intelectual-revolucionário, de matiz essencialmente trotskysta, que possuía
toda uma geração de revolucionários, no curso dos anos 80 e 90.[60]
Cumpre registrar a absorção das posições gramscianas e
luckásianas por Arcary, em sentido lógico-doutrinário, de
maneira mais ostensiva, apenas a partir de 2000, como decorrência de sua
recepção – ocorrida em meios essencialmente acadêmico-universitários - de
posicionamentos especulativamente semi-fantasmagóricos, defendidos por intelectuais
de renome do stalinismo reciclado europeu, na forma moderna do gramscismo
korsch-luckásiano cuja linha diretriz paradigmática pode ser entrevista
nas produções do historiador e sociólogo Perry Anderson, editor da New Left Review (Revista da Nova Esquerda).
Anderson é
também reconhecido por Arcary, em diversos de seus raciocínios,
como referência de ideologia significativamente revolucionária.
Como
é bem sabido, Perry Anderson é conhecido mundialmente pela
difusão, desde longa data, do gramscismo luckásiano, energicamente
hostil ao trotskysmo revolucionário.
Nas
páginas da New Left Review
(Revista da Nova Esquerda) de Perry Anderson, encontraremos o próprio cinismo de Luckács,
inimigo visceral do trotskysmo revolucionário, sendo interrogado
hipocritamente por Perry Anderson, sobre suas visões de
reciclagem do stalinismo, na pespectiva korsch-gramsciana[61] :
“Nos anos 20, Korsch,
Gramsci e eu tentamos agarrar, segundo os nossos modos distintos, o
problema da necessidade social e sua interpretação mecanicista, herança da II
Internacional.
Herdamos esse problema, porém
nenhum de nós – nem mesmo Gramsci que foi talvez o melhor de nós todos –
pôde o resolver ...
Estou trabalhando agora em meu
livro “Ontologia do Ser Social” que espero poderá resolver os
problemas que foram postulados, de modo inteiramente errado, em um de meus
primeiros trabalhos, em particular “História e Consciência de Classe”.
(p. 51) ....
Fui, porém, introduzido a Lenin
por Lunatcharsky.
Lenin encantou-me por completo.
Também tive, naturalmente, a
possibilidade de vê-lo trabalhar nas comissões do Congresso (SvK.: III
Congresso da Internacional Comunista, em Moscou).
Devo dizer que achei os outros
líderes bolcheviques antipáticos.
Trotsky, repudiei imediatamente.
Entendi que era um fanfarrão
exibicionista.
Sabe, existe uma passagem de Lenin
nas memórias de Gorki
onde Lenin, após a Revolução, embora reconhecendo
as realizações organizativas de Trotsky, no curso da Guerra
Civil, afirma que Trotsky possuía algo de Ferdinand
Lassalle. ...
Não posso me recordar
absolutamente do próprio Stalin, no Congresso.
Como muitos outros comunistas
estrangeiros, não possuía nenhuma consciência sobre a sua importância no
interior do Partido Russo.(pp. 54 e 55).”[62]
É precisamente
a esses ídolos decaídos do stalinismo reciclado, Gramsci,
Lukács et alii, defensores de uma forma de reciclagem de
stalinismo, abertamente hostil ao trotskysmo revolucionário,
que Arcary se prosta, lamentavelmente, em tom de reverência
espiritual-ideológica.
Não
satisfeito com o fato de o próprio Lukács ter afirmado – como
vimos acima – que, em sua própria obra “História e Consciência de
Classe”, os problemas concernentes à necessidade social e sua
interpretação mecanicista “foram postulados de modo inteiramente errado” –
pois Lukács, nessa obra, atinge as raias de um subjetivismo
idealista-voluntarista na abordagem dessa questão -, procura
Arcary, em seu afã de conciliar trotskysmo com gramscismo
lukácsiano, salvar Lukács, naquilo que o próprio Lukács
condenou em si próprio, como erros por ele mesmo perpetrados :
“Sobre o tema da desumanização
e consciência de classe, uma das obras de referência no marxismo clássico foi História
e Consciência de Classe, hoje muito desvalorizada pelo entusiasmo com
que defende o protagonismo do proletariado.
Ocorre que, nesse texto, Lukács
sistematiza de forma irretocável, algumas conclusões teóricas
sobre as contradições entre a existência enquanto classe, e a formação da
consciência de classe que permanecem até hoje, para o fundamental
insuperáveis.”[63]
No
mesmo diapasão, ressalta Arcary:
“Se o paradigma lukácsiano
do marxismo como método e não como dogma continua de pé (ou deveria), as
possibilidades teóricas, de uma visão do ângulo de “totalidade”, são certamente
menores que o entusiasmo político dos anos imediatamente posteriores à
revolução russa, apoiado nas premissas de um crescente protagonismo proletário,
nos países centrais faziam supor. Mas sempre vale a pena renovar o desafio.”[64]
E,
adverte, em tom de filiação ideológica :
“A referência clássica para
a discussão sobre ideologia e consciência de classe é o trabalho de Lukács de
1922, que mais pelas suas virtudes do que pelas suas limitações, foi
severamente criticado, até por ele mesmo, com amargura, como se pode
conferir nesta passagem do prefácio de 1967, como sendo uma ideologização
hegeliana do proletariado, e portanto uma concessão a uma visão “finalista” da
História.
Quarenta e cinco anos depois,
sob o impacto de mais de duas décadas de relativa passividade e pacto social no
Ocidente, o velho Lukács iria admitir que talvez a sua obra de maior
significado teórico, estivesse prenhe de uma visão teleológica do
protagonismo do proletariado.
Talvez, por outro lado, o intervalo histórico, para uma
avaliação definitiva, ainda seja demasiadamente curto.”[65]
E
clamando pelos “grandes” ensinamentos ideologizantes de Lukács
- esse velho stalinista reciclado, inimigo irreconciliável do
trotskysmo revolucionário -, arremata Arcary, apologeticamente,
em tom de censura a supostas “fortes propensões objetivistas” dos
marxistas revolucionários :
“Resumo da ópera: o
impressionismo em relação às derrotas, é, em geral, fruto de uma análise pouco
dialética. A seguir, o trecho de Lukács:
“Não pode haver marxistas no
sentido da objetividade do laboratório, do mesmo modo que tampouco pode
existir uma seguraça da vitória da revolução mundial com a garantia das “leis
naturais”.”[66]
Arcary esforça-se
por construir uma combinação eclética e nauseabunda de trotskysmo e
gramscismo, tolerante, compreensivo e até mesmo solidário, seja com as
posições inteiramente stalisnistas-recicladas de Lukács, seja com
as posições de outros paredros do reformismo social e da traição à causa
da emancipação do proletariado.
Todos
estes surgem indevidamente nivelados nas mãos de Arcary - que os trata, em sentido retórico-literário,
como se simples “interlocutores mútuos” fossem, por seus supostos
“talentos e dons extraordinários”, superiores ao “horizonte
mais imediato de sua geração” - a autênticos revolucionários marxistas
que deram suas vidas à causa da Revolução Proletária Mundial :
“Os homens pensam e agem dentro
de uma totalidade, que é o meio e o tempo histórico em que vivem e atuam, mas
alguns, pelos seus talentos e dons extraordinários, se elevam acima
do horizonte mais imediato de sua geração, e portanto, das pressões mais
imediatas nas quais estão inseridos.
Esses homens e mulheres, Bernstein,
Kautsky, Rosa, Lenin, Trotsky, Bukharin, Paul Levy, Lukács e Gramsci, entre
outros, foram gigantes do seu tempo, foram interlocutores mútuos e se
influenciaram reciprocamente, mesmo quando se afastavam e polemizavam
duramente entre si.”[67]
Ignorando,
essencialmente, o sentido e significado revolucionários do socialismo
científico de Marx e Engels e depreciando-o até mesmo em
sua importância histórico-revolucionária, Arcary cerra fileiras
com os habitantes do pântano gramsciano e luckásiano que
desprezam as palavras de Marx de que o socialismo
científico é uma expressão por ele perfeitamente utilizada “em
oposição ao socialismo utópico que pretende impingir novas quimeras ao povo, em
vez de limitar sua ciência ao conhecimento do movimento social, realizado pelo
próprio povo.”[68]
Nesse
sentido, argumenta Arcary, da seguinte forma, inteiramente
solerte:
“A
fórmula do socialismo científico soa, no entanto, envelhecida ou até irritativa
nesse final de século.
Essa discussão
tem uma história, também no interior do marxismo, que remonta aos esforços de Engels,
depois da morte de Marx, de demonstrar que a dialética materialista
seria o instrumento teórico-lógico, que permitiria explicar, de forma mais
apropriada, os fenômenos que governam, tanto as transformações da natureza,
quanto na sociedade, e, por essa via, afirmar a condição científica do
marxismo.
A crítica
aos esforços de Engels, uma velha discussão filosófico-histórica, afirma
que ele teria diminuido a especificidade da operação da dialética na história,
no seu esforço de defesa do materialismo. E teria, assim, escorregado para excessos
deterministas, e para uma leitura evolucionista do progresso.
Se a
diferença metodológica entre essas obras filosóficas de Engels e a
aproximação de Marx à questão são somente matizes ou não, é uma questão
muito discutida.
A esse
propósito, transcrevemos um fragmento de Ricardo Musse, que relocaliza
bem o marco da preocupação de Engels, e explica as razões dos seus “excessos”
cientificistas :
“A adoção,
por Engels, de uma dialética uniforme, abrange o suficiente para
compreender seja o andamento histórico seja o processo natural, não
chamou tanto a atenção quanto a novidade da atribuição da natureza como “pedra
de toque” da dialética, em torno da qual concentrou-se, em grande parte, o
debate na geração de Korsch e Lukács. ...
O
prestígio, crescente e incontestado, dessas ciências prestava-se tanto a
reativações da insepulta filosofia da natureza, à maneira do sistema
filosófico de Dühring, quanto à disseminação de variantes do materialismo
francês do século XVIII, tarefa empreendida na Alemanha por Büchner,
Voigt, Moleschott & Cia. ...
Para demonstrar a veracidade e a
universalidade de tais “leis”, Engels, dado o caráter indutivo-dedutivo do seu
empreendimento, optou pela via de um acompanhamento exaustivo, isto é, pelo
procedimento infindável de decifração caso a caso das mais importantes
descobertas da ciência em seu tempo.(Musse, Ricardo).”[69]
Salta
aos olhos como, em todo esse debate, sobre o “envelhecimento e
irritabilidade” da fórmula do socialismo científico por causa dos “esforços
de Engels, depois da morte de Marx”, de demonstrar a
dialética materialista tanto nas transformações da natureza quanto na
sociedade, afirmando, assim, a condição científica do marxismo, Arcary
não encontre palavras para destacar que Marx – antes mesmo de sua própria
morte - , dirigindo-se Moritz Kaufmann, não poupou seu
latim para destacar que :
“Por correio, enviar-lhe-ei igualmente - caso o Sr. dele já
não disponha - um novo escrito de meu
amigo Engels, intitulado "A
Subversão da Ciência do Sr. Eugen Dühring", escrito
esse muito importante para a uma correta apreciação do socialismo
alemão.”[70]
Para
Marx, toda a leitura da dialética da natureza de Engels e
de sua polêmica contra a filosofia da natureza de Dühring era “muito
importante para a correta apreciação do socialismo alemão”.
Para
os gramscianos, para os luckásianos e para Arcary, “a fórmula
do socialismo científico soa envelhecida ou até irritativa”, pelo que
procura, sofregamente, à maneira gramsciano-luckásiana, encontrar as razões
históricas desse fênomeno senil-irritativo.
Provas adicionais do surgimento desse seu perfil gnosiologicamente
eclético, são-nos apresentadas por Arcary, em seu artigo,
intitulado “A Polêmica sobre a « Ausência » do Proletariado e a
Atualidade da Estratégia Revolucionária », de fevereiro de 2002.
Aqui, assinala, em aberta tentativa de tornar discretamente
admissível o perfil subjetivista-idealista de Gramsci, no seio
das concepções marxistas-engelsianas, rigorosamente dialético-materialistas, o
seguinte :
“Quanto à
possibilidade histórica de que se desenvolvam nos porões do capitalismo elementos
de um modo de produção socialista, e as correspondentes hipóteses gradualistas
de uma transição sem ruptura e luta armada, a tradição marxista se dividiu no
último século em distintas opiniões. Acerca deste tema compartilhamos a
mesma tradição que Anderson reivindica no fragmento a seguir, colocando a
polêmica sob uma óptica histórica:
« O advento político de uma situação de duplo poder, acompanhada pelo início de
uma crise econômica, não permite uma resolução gradual. Quando a unidade do
Estado Burguês e a reprodução da economia capitalista se quebram, o tremor
social subseqüente deve opor, rápida e fatalmente, revolução e contra-revolução
em uma violenta convulsão. Em um tal conflito, o capital sempre disporá de uma
base de massas, maior do que um punhado de monopolistas (...). O capitalismo
não triunfou em nenhum país avançado do mundo atual (Inglaterra, França,
Alemanha, Itália, Japão ou Estados Unidos), sem um conflito armado ou uma
guerra civil. A transição econômica do feudalismo ao capitalismo é, sem
embargo, a transição de uma forma de propriedade privada a outra. É imaginável
que uma mudança histórica muito maior, implícita na transição da propriedade
privada à coletiva, que precisa de medidas mais drásticas para a expropriação
do poder e da riqueza, assuma formas políticas menos duras? (...) A tradição
a que pertencem essas concepções é, falando em termos gerais, a de Lenin e
Trotsky, Luxemburgo e Gramsci. (grifo do próprio Arcary.)”[71]
Com base em tal declaração grifada, pode o leitor
certificar-se de que Valerio Arcary inscreve-se
nas fileiras ecléticas e semi-fantásticas do troskysmo
gramscista-luckásiano.
Como forma de
insuflar, lentamente, o gramscismo e o lukácsianismo
idealista-subjetivista nas fileiras do marxismo revolucionário moderno,
i.e. o trotskysmo revolucionário, de modo a corromper a cientificidade
dialética-materialista deste, a fim de torná-lo susceptível e moldável às
necessidades políticas, sindicais e eleitoral-parlamentares das forças
socialistas pequeno-burguesas do Brasil e da América Latina –
subjulgando -o às forças intelectuais de conciliação de classes, representadas
por pensadores como Carlos Nelson Coutinho, Milton Temer, Chico Alencar, Leandro Konder
etc., Arcary, sempre se ocultando por detrás de referências e
supostos exemplos históricos, seguidos por Marx e Engels, apresenta Gramsci
como dotado de uma hipotética “honestidade intelectual inflexível”. Com
efeito, segundo a sua ótica, quer Valerio que seja o seguinte :
“Gramsci
entre os marxistas de sua geração, é sempre uma referência nas questões
metodológicas mais complexas, pela sua honestidade intelectual inflexível ...”[72]
Até mesmo para
impulsionar sua polêmica de conteúdo essencialmente teórico-abstrato contra Jacob
Gorender em torno de pontos que envolvem primordialmente o
trotskysmo, Arcary não pode abrir mão de referências dramáticas a Gramsci
- tomado como paradigma histórico-revolucionário, ao lado de Karl
Marx e Rosa Luxemburgo – como forma de supostamente produzir uma “explicação
marxista rigorosa e até impiedosa, se necessária” :
“Que os trabalhadores foram (e são) sindical e
politicamente reformistas em condições não revolucionárias, e com mais razão em
situações contra-revolucionárias, não é uma descoberta que impressione. Na
verdade, as amplas massas proletárias são até hostis às idéias revolucionárias
nessas circunstâncias.
A esse propósito, Gorender
usa a imagem de “amor não correspondido” para definir com humor cáustico as relações dos trotskystas e o proletariado.
O relativo isolamento dos trotskystas certamente merece uma explicação marxista
rigorosa, e até impiedosa, se necessária.
E é certo que a marginalidade
das organizações da Quarta Internacional teve como sequela uma crise
crônica, que se manifestou tanto em adaptações às pressões das correntes
majoritárias, quanto no enrijecimento sectário em torno de diferenças que podem
parecer minúcias talmúdicas.
Não parece todavia que seja um privilégio dos trotskystas terem sido desprezados, em algum momento,
pelos trabalhadores que pretendiam representar: Marx, Rosa e Gramsci e muitos outros tiveram, no seu tempo, em
grande medida, as mesmas vicissitudes.”[73]
Elencando,
equivocadamente, Gramsci, pensador supostamente equipado “com honestidade intelectual
inflexível”, entre os “herdeiros da tradição identificada com o
marxismo revolucionário” – pois que Gramsci era eminentemente hostil não apenas ao
materialismo histórico-dialético de Marx e Engels, senão ainda à concepção de revolução permanente
e de conquista da hegemonia do proletariado nas versões materialistas
elaboradas por Marx, Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky – ao passo que
prestava louvores a Stalin, por considerá-lo o “grande teórico mais recente” - Arcary eleva Gramsci, de modo inteiramente
indevido, às alturas do trotskymo, ao clamar [74]:
“Neste campo estão a maioria dos herdeiros da tradição
identificada como o marxismo revolucionário: entre outros, uma parte da
literatura inspirada na herança de Antonio
Gramsci, que coloca o eixo dos processos históricos nos desenlaces das
lutas políticas, mas, sem dúvida, se destaca, como tendência organizada, a
corrente histórica (divida em muitas frações)
que se reclama de Leon Trotsky e da Quarta Internacional.”[75]
O próprio Arcary,
dando-se conta do patente desequilíbrio analítico de sua colocação
retórico-sofística, procura, ao menos, imediatamente, moderá-lo, justificando a
sua “utilidade
por razões didáticas de ênfase”(!), no que, porém, não se pode sair
melhor:
“Na verdade, é só por
razões didáticas de ênfase, que se pode trabalhar com esta esquemática
classificação: qualquer marxista recusaria uma absolutização tão simplista. Mas
ainda assim, com os devidos descontos, ela
é útil.”[76]
Arcary compartilha,
juntamente com Perry Anderson, não
apenas a mesma tradição de Lenin, Trotsky e
Luxemburgo – tradição legitimamente fundada na formulação científica do socialismo
de Marx e Engels de luta pela
libertação das massas proletárias, visando à edificação de uma sociedade
socialista-humanizada -, senão ainda a “tradição” metafísico-stalinista
do demiourgós subjetivista-idealista Gramsci, posicionamento híbrido, dualista e dicotômico,
este esgrimido também por todos os Pontífices
Trotskystas-Gramscistas, entre os quais, no Brasil, destacam-se,
insuperavelmente, Carlos Nelson Coutinho, Chico Alencar, Osvaldo Coggiola e a Trombeta de Jericó que, em meio ao
proletariado brasileiro, é, presentemente, a Revista Outubro,
orquestrada por Álvaro Bianchi e
Ruy Braga.
É também esse mesmo trotskysmo gramscista-luckásiano
que, em um amplo leque de variantes, estende-se amplamente a ponto de – tal
como veremos a seguir - incorporar adicionalmente, de maneira complacente, a
defesa da “tradição” que também fora exortada por Ernst Mandel e, presentemente, o é por inúmeros mentores ideológicos do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU – QI), sejam os que, por um lado, sustentam direta ou
indiretamente a Frente Popular, encabeçada por Lula
e integrada pelo ex-Ministro do (contra) o Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto (SU
– QI), sejam os que, por outro,
protagonizam e reivindicam a orientação ideológica e política do Partido
Socialismo e Liberdade (PSOL), tais quais Carlos Coutinho, Milton Temer,
Chico Alencar, Leandro Konder e che più ne ha, più ne metta.[77]
Em apologia à “tradição”
precisamente marxista-leninista-trotskysta-luxemburguista-gramsciana,
prossegue
Arcary, no artigo supra-citado :
“Não
parece todavia que seja um privilégio dos trotskistas terem sido desprezados, em
algum momento, pelos trabalhadores que pretendiam representar: Outras correntes revolucionárias da história tiveram,
fora de situações revolucionárias, melhor sorte?
Marx,
Rosa, Gramsci e muitos outros não tiveram, no seu tempo, em grande medida, as mesmas
vicissitudes? Combateram em situações em que o isolamento
político demonstrou-se inevitável. Por outro lado, quis a ironia da
história que, energúmenos incorrigíveis, mas favorecidos pelas circunstâncias
dos tempos políticos que são, em grande medida, acidentais, já que as
oportunidades são ingratas, fossem carregados pela força de ventos históricos
que estavam longe de compreender, se vissem à cabeça de gigantescas
mobilizações que nem sequer suspeitavam serem possíveis, porque eram o material
humano disponível. (...)”[78]
Já em seu artigo Reforma e Revolução no
Brasil de Lula, Arcary, defendendo, sem estorvo, referida
“tradição” eclética, concomitantemente dialético-materialista e
idealista-subjetivista, ao buscar clarificar importante polêmica com a esquerda
do Partido dos Trabalhadores de Lula da Silva,
relativa ao título em realce, não sente qualquer embaraço intelectual ao citar,
já na abertura de seu artigo, reflexão redondamente equivocada de Antonio
Gramsci, encadeando-a com um brilhante apotegma de Rosa
Luxemburgo, de modo a torná-lo caput mortuum.
Se não, vejamos :
“Reforma &
Revolução no Brasil de Lula : uma polêmica com a esquerda petista ou a invenção de uma esquerda
internacionalista para o novo século, à luz dos dilemas alemão e russo de há
cem anos atrás.
« Estamos de
punhos fechados, mas com as mãos nos bolsos. » Rosa Luxemburgo
« Fala-se de
capitães sem exército, mas, na realidade, é mais fácil formar um exército do
que formar capitães. Tanto isto é verdade que um exército já existente é
destruído se faltam os capitães, ao passo que a existência de um grupo de
capitães, harmonizados, de acordo entre si, com objetivos comuns, não demora a
formar um exército, até mesmo onde ele não existe. » Antonio Gramsci.”[79]
Seria exorbitante esperarmos de Gramsci
algum raciocínio materialisticamente fundado no domínio da arte militar, onde
sabidamente jamais atuou diretamente, para daí revestir suas posições no
domínio da política.
Não obstante,
o voluntarismo sofômano idealista-subjetivista de Gramsci jamais o inibiu
de pronunciar-se também nesse campo.
O
resultado não poderia ser outro, senão o produto de uma visão inteiramente
falaciosa e desprovida de qualquer conhecimento prático efetivamente
verificado.
E assim
: camelus
desiderans cornua etiam aures perdidit, i.e. quem tudo quer tudo perde.
Extasiado
por seu radical anti-trotskysmo e sem contar com suficiente bagagem
prático-revolucionária para versar sobre tema dessa envergadura, também aqui,
no domínio das questões militares, Gramsci defende uma abordagem
inteiramente idealista, no que tange à formação de exércitos e capitães.
Bastar-nos-á
referir aqui a concepção coerentemente dialético-materialista de Trotsky,
que, além de avaliar justamente o processo de formação de sua própria
experiência militar-revolucionária dirigente, aborda o exemplo da formação do “capitão”
Frunze, o « motor da máquina das Forças Armadas Vermelhas e da
Revolução Proletária Mundial»[80]:
“Antes do fim de
1917, nunca esperei ocupar-me com assuntos militares.
Lia livros sobre
questões militares do mesmo modo que lia livros – digamos assim – sobre
astronomia ou sobre outros temas.
Lia-os na prisão.
Porém, tornei-me mais interessado por questões militares durante a Guerra
Imperialista, quando vivi na França.
Não possuía nenhum
conhecimento militar.
Em
minha opinião, existem certos métodos gerais que são aplicáveis a todas as
esferas da vida e da atividade criativa.
As
pessoas falam, por exemplo, de lógica jurídica.
Na
realidade, trata-se aí de lógica humana, aplicada às questões jurídicas.
De modo semelhante, na esfera da administração, um
bom administrador de fábrica será, assim, um bom administrador militar.
Os métodos
de administração são, em grande linhas, precisamente os mesmos.
A
lógica humana encontra a mesma aplicação, seja na esfera militar seja em outras
esferas : precisão, perseverança. Todas essas qualidades são necessárias, em
todos os domínios em que as pessoas querem construir, criar e aprender.
Adquirimos conhecimento técnico elementar através da experiência : estivemos sob
fogo cruzado durante todo o tempo.
Cometemos
muitos erros e sustentamos vários frontes de combate.
Fizemos
muitas observações e, assim, fomos capazes de aprender.
Frontes inteiros foram comandados por homens que
jamais haviam estado no exército, tal como, p.ex., o companheiro Frunze.
Para ser um bom soldado artilheiro – e,
particularmente, para ser um soldado artilheiro competente – é necessário que
se tenha freqüentado uma academia de artilharia, porém, para desempenhar um
papel dirigente na formação de um exército, não é necessário que se tenha tido
nenhuma educação especial como artilheiro ou de qualquer outro gênero: há de se
possuir apenas certas qualidades políticas e administrativas.”[81]
Em seu artigo intitulado Ir ou não ir
além da CUT, Arcary recalca a mesmíssima falsa perspectiva apológética
da “tradição”, ao destacar que :
“Nunca
existiu, portanto, nem para Marx, nem para Lenin, nem para Rosa, Trotsky ou
Gramsci, um décimo primeiro mandamento que prescreve lealdade incondicional a
uma Central sindical.”[82]
Mas, porque precisamente tais asserções
exemplificativas envolvendo, justamente,
“Marx, Rosa, Gramsci e ... muitos outros”, poderia
indagar o leitor ressabiado, ao sobressaltar-se acerca do porquê de Gramsci haver de surgir ladeando Marx, Rosa e .... muitos outros ?
Se voltarmos nosso
olhar à História, a grande Professora da Humanidade (Wenden wir unseren Blick
der Geschichte, der großen Lehrerin der Menschheit zu ...), poderemos concluir, parafrastica e
precisamente, contemplando através das lentes de óculos
dialético-materialistas, que Rosa foi e permanece sendo uma águia
da revolução socialista, proletária internacionalista, ao passo que Gramsci
revelou-se
inteiramente como uma reciclagem de um “marxismo” de matiz
stalinista, i.e. uma atualização meta-marxista, teórico-pedagógica vulgarizadora,
que permitiu fosse expandida a lógica epistemológica do stanilismo
burocrático e anti-cosmopolita junto à civilização européia-ocidental.[83]
Submetendo o filistinismo do “livre pensar” e o stalinismo a um novo ciclo de
operações intelectuais de matiz idealista-subjetivista, Gramsci
propiciou
seu refinamento e sua refuncionalização, produzindo como resultado um novo
freio ideológico, destinado a impedir que a eclosão de processos efetivamente
proletário-internacionalistas, inspirados por posições marxistas
revolucionárias, leninistas-trotskystas, conduzam à consolidação da Ditadura
Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla Soberania
proletária, enquanto forma de transição ao socialismo e ao comunismo.
Cerrando seus olhos a uma análise
conseqüentemente histórico-materialista do fenômeno histórico do gramscismo, Arcary
pretende esclarecer o atraso da revolução socialista nos países centrais de
modo fundamentalmente eclético-visionário, i.e. inteiramente de acordo seja
como o método materialista de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, seja como o método
voluntarista idealista-subjetivista de Gramsci.
Compartilhando conseqüentemente a mesma “tradição” que Perry Anderson reinvidica
para si, Arcary encontra argumentos para defender o seguinte :
“Por quê o atraso da revolução socialista nos países centrais?
A segunda hipótese é aquela que insiste em explicações, em última análise,
subjetivas, ou seja, que reconhecem as mudanças materiais socioeconômicas, mas não
concluem que elas sejam a principal determinação e procuram, no curso da luta
de classes e, portanto, em fatores sociopolíticos, o atraso histórico do
processo de mobilização proletária no sentido de uma ruptura anticapitalista,
em particular, nos países imperialistas. Neste campo estão a maioria dos
herdeiros da tradição identificada como marxismo revolucionário: entre
outros, uma parte da literatura inspirada na herança de Antonio Gramsci,
que coloca o eixo dos processos
históricos nos desenlaces das lutas políticas; mas, sem dúvida, se destaca, como tendência organizada, a corrente
histórica (dividida em muitas frações) que se reclama de Leon Trotsky e da
Quarta Internacional. Evidentemente não seria razoável discutir o
crescimento prolongado da economia capitalista no pós-guerra, e o deslocamento
do centro da luta de classes para os países dependentes ou periféricos, sem
buscar a articulação entre causalidades objetivas e subjetivas. A Quarta
Internacional, antes da sua divisão em 1952/53, compreendia, entretanto, de
forma unânime que a participação dos PC’s em governos de união nacional no
pós-guerra, teria sido fundamental, para conter a onda revolucionária que se
abriu com a derrota do nazi-fascismo, e garantir a paz social.”[84]
As postulações levantadas por Gramsci veiculam, em versão teórico-refinada, o
subjetivismo idealista no retratamento do stalinismo contra-revolucionário e
não do marxismo revolucionário, bem como, em sentido político, a colaboração de
classes entre proletários e burgueses, e, em sentido partidário-organizativo, a
“bolchevização do Partido Comunista Italiano (PCI)”,
i.e. a sua stalinização, o que permitiu a mais absoluta erradicação dos
elementos trotskystas em seu interior, tal como veremos logo a seguir.
Com efeito, o stalinismo,
enquanto expressão ideológica e política de um “marxismo”
burocrático-proletário – auto-denominado “marxismo-leninismo” -
sistematicamente voltado a promover a colaboração de classes
proletário-burguesa em todos os domínios da luta de classes de emancipação do
proletariado, em nome da defesa de supostos valores proletários – do que
dão-nos nitidamente exemplo as posturas políticas de Stalin e seus aliados no período pós-revolucionário
de Fevereiro de 1917, na questão do Pré-Parlamento e do Conselho da República, na Insurreição de Outubro e, posteriormente, na
defesa e execução das políticas de Socialismo em um
Só País, submissão das lutas de emancipação do proletariado chinês ao Kuomintang, esquerdização das
lutas do comunismo alemão contra o Social-Fascismo
Social-Democrático, enfim, sua política de Frente-Popular ... – o stalinismo,
enquanto método de promoção dissimulada da complacência do proletariado com as
forças burguesas e pequeno-burguesas, em prejuízo dos valores proletários,
possui como fundamento epistemológico o racionalismo escolástico da colaboração
de classes.
Gramsci posiciona-se
em face das posturas stalinistas de modo a promover a sua absorção,
reciclando-a epistemologicamente, desde um ângulo subjetivista-idealista,
volutarista-metafísico, denunciando, para isso, o materialismo dialético de Marx e Engels por estar "contaminato di incrostazioni positivistiche e
naturalistiche" (contaminado de incrustrações positivistas e
naturalistas).
Gramsci
reatualiza, sofisticadamente,
o “marxismo”
burocrático-proletário stalinista, defendendo não apenas posições
organizativo-partidárias de índole manifestamente burocrática, senão também
teses políticas, tal como as famosas Teses de Lyon do Partido Comunista Italiano
(PCI), de janeiro de 1926, cuja
essência é a desbragada confirmação do conciliacionismo de classes
proletário-burguês, impulsionada, na Itália, por Gramsci e seus seguidores,
desde o assassinato do Deputado Socialista Giacomo
Matteotti, em 1924, e estendida para todas as questões
teórico-doutrinárias da luta de classes de emancipação do proletariado.
Gramsci
retifica, assim,
palavras de ordem de natureza supostamente democrático-intermediária,
readaptando-as à aspiração de Democratização do Estado, supostamente viabilizadora
de um Socialismo Democrático, no estilo: Assembléia
Republicana Constituinte, apoiada nos Comitês de Operários e Camponeses
ou, por assim dizer, em Assembléias
Operárias e Camponesas.
Extraordinariamente atento ao tema, Trotsky teve a oportunidade de assinalar, entretanto, já mesmo em novembro de
1929, que, na Itália, todos
!!! (grifo nosso), todos os
dirigentes de formação burocrático-stalinista adotavam uma posição oportunista,
para depois, eventualmente, a seguir, retificá-la mediante aventuras de
ultra-esquerda.
Isso se expressava, ao mesmo tempo, na tentativa de adaptar
à Itália a idéia de “ditadura democrática do
proletariado e dos camponeses”, sob a forma de uma palavra de ordem de
assembléia constituinte, apoiada sobre uma assembléia operária e camponesa.[85]
Em maio de 1930, regressando ao mesmo tema, Trotsky, então, observou, incisivamente, fornecendo um ensinamento histórico
inolvidável para as futuras gerações de marxistas revolucionários :
“A
Assembléia Republicana constitui, inegavelmente, um organismo do Estado
Burguês.
O que são,
pelo contrário, os Comitês Operários e Camponeses ?
É evidente que, de alguma forma, são um equivalente
dos Sovietes de Operários e Camponeses. ...
Como é possível,
nessas condições, que uma assembléia republicana – órgão supremo do Estado
Burguês – tenha como base organismos do Estado Proletário.”[86]
Em face dessa clara e cristalina citação de Trotsky que aferroa todos!!! os dirigentes de formação burocrático-stalinista
– entre eles, necessariamente, também Gramsci -, resulta,
verdadeiramente, surpreendente ouvir-se, então, dos tribunos da defesa da “tradição” – tal como o faz Arcary -,
os seguintes argumentos, esgrimidos, obviamente, em defesa da própria “tradição”, ao tratar da polêmica
sobre as aptidões revolucionárias do proletariado :
“Se o impressionismo de jovens é tanto explicável como
desculpável, porque lhes falta a perspectiva que somente os anos e a
experiência podem oferecer, o mesmo não se pode dizer da dedicação
incansável com que intelectuais torturam os clássicos da literatura marxista
para demonstrar qualquer coisa.
Não estamos, contudo, entre os que enxergam a tradição
socialista como as tábuas da lei.
Mas reivindicamos uma tradição.
Não vamos recorrer a citações de Marx, Lenin, Rosa
Luxemburgo, Gramsci, Trotsky ou Moreno.
Não se encontrará nas linhas que se seguem uma polêmica
fundamentada em argumentos de autoridade.
Nos apoiaremos somente em apreciações de processos históricos.”[87]
Perguntar-se-ia, então, de modo a
esclarecer-se a metodologia de trabalho da “tradição” : o que
seria da Revolução Socialista de Outubro de 1917, se intelectuais
de dedicação incansável – entre eles, com principal destaque Lenin,
em seu Estado e Revolução – não tivessem torturado os clássicos
da literatura marxista para demonstrar alguma coisa e recorrido a argumentos de
autoridade ?
Com efeito, o alvoroço do “bloco
histórico” trotskysta-gramsciano guarda, em si, também um
enigma profundo que há de permanecer indecifrável, na medida em que
intelectuais de dedicação incansável não torturem os clássicos da literatura
marxista para demonstrar qualquer coisa e não recorram a argumentos de
autoridade, visando a elucidar seus posicionamentos : um enigma, não porque
envolve uma forma ideológico-política requintada e translúcida de
defesa de uma das complexas variantes de sustentação dos governos
de colaboração de classes, seja em contexto de existência, seja de inexistência
de dualidade de poderes - e oportunismo relativamente às lutas de emancipação
do proletariado, o que, ademais, já bastaria para justificar, do modo mais
vulgar, o mais pleno repúdio da “tradição” que acalenta os
posicionamentos ideológicos de Gramsci.
Senão pelo contrário : o mistério do
“bloco histórico” trotskysta-gramsciano é o de
possuir uma lógica-epistemológica que, através de múltiplas
formas intrincadas, complexas, obscuras, fantásticas, objetivam desviar os
processos revolucionários da luta socialista do proletariado de seu rumo
conseqüentemente emancipatório – e, por conseguinte, de toda a humanidade –,
impedindo que assumam a genuína via materialista-dialética, consagrada por Marx
e Engels e consagradora da indispensabilidade da preparação permanente e
execução tecnicamente precisa das tarefas necessárias ao despedaçamento do Estado
Burguês.
Apenas
com a derrubada do capitalismo pela via revolucionária da luta de classes,
hegemonizada pelo proletariado no quadro de uma coalizão selada com seus mais
autênticos aliados históricos, explorados e oprimidos pelo capitalismo – entre
os quais, em particular, o campesinato pobre -, apenas com o despedaçamento do
aparelho do Estado colocado a serviço das ínfimas minorias exploradoras e
opressoras, autocráticas, latifundiárias e burguesas, resulta, pois, aberta a
via de transição da Ditadura Revolucionária do Proletariado, rumo
ao atingimento de uma sociedade socialista mundial humanizada, livre da
opressão de todo Estado e imune às dilacerações decorrentes dos embates
sangrentos, travados entre classes sociais irreconciliavelmente hostis :
primeiro estágio para o estabelecimento de relações sociais autenticamente
comunistas.
Essa
severa missão revolucionária encabeçada pelo proletariado pressupõe,
necessariamente, não apenas uma luta de cunho econômico e político, senão ainda
de natureza essencialmente ideológica, envolvendo, pois, uma defesa meticulosa
da mais legítima tradição emancipatória, fundada por Marx e Engels.
No quadro da tradição trotskysta-gramsciana,
encontramos, entretanto, por força de sua própria lógica intelectual,
um vínculo para recepcionarmos, refinadamente, o “marxismo” de matiz stalinista.
Sendo assim, a questão do inimigo
não se encontra apenas colocada relativamente à já difícil tarefa de sua
identificação, senão ainda concerne ao método acertado de como combatê-lo.
Nesse sentido, porém, o não
reconhecimento conseqüente da verdadeira tradição histórico-revolucionária
do proletariado e das tarefas impostas à defesa dessa tradição, como
forma de elevação da consciência e da disposição das massas trabalhadoras e
seus aliados às tarefas da revolução proletário-internacionalista, tornam a
derrota definitiva do inimigo, historicamente
identificado, inteiramente impossível, bem como o atingimento de uma
sociedade humanamente socializada, completamente inviável.
Não obstante, para Arcary,
toda a análise dos sujeitos sociais e dos fatores histórico-subjetivos, dos
conceitos de situação e de crise revolucionária, dos momentos em que a “humanidade”
se encontra com as suas “esquinas perigosas”, traduz-se em
uma versão
eclética, fundada, por conseqüência, no subjetivismo idealista,
inteiramente alheio ao marxismo revolucionário, solidária, porém, com as
necessidades do socialismo de matiz pequeno-burguês, alimentado pela intelectualidade
acadêmica, vinculada ao stalinismo reciclado.
Por isso, Arcary afirma, coroando o
método de seus empreendimentos literários:
“Ou
seja, (Perry) Anderson reconhece que
o lugar dos sujeitos sociais vêm se alterando ao longo do processo histórico, e
que uma nova articulação de causalidades
poderia se observar ao longo do século XX.
Essa
consideração é chave para a discussão dos conceitos de situação e crise
revolucionária e para a compreensão da releitura que Lenin, Trotsky e Gramsci farão do papel dos chamados fatores
subjetivos, na História, em particular nos momentos em que a humanidade se
encontra com as suas esquinas perigosas.”[88]
Com efeito, acolhendo acriticamente os
posicionamentos do ultra-gramiscista, stalinista-reciclado, aliado ao Actuel
Marx e ao Partido Comunista Francês, Jacques Texier, Arcary procura trabalhar
com uma nova tática política, uma nova hipótese política, que,
efetivamente, corresponde ao gramscismo, mas não às exigências do
marxismo
revolucionário.
A nova tática política é,
entretanto, muito antiga, pois trata de deturpar, descaradamente, o sentido e o
significado das formulações de Engels, constantes em sua célebre
texto, redigido entre 14 de fevereiro e 6
de março de 1895 e intitulado “Introdução à Luta de Classes na França de
1848 a 1850 de Karl Marx”.[89]
Legitimando, porém, o pensamento do
ultra-gramsciano – declaradamente anti-leninista - Jacques Texier, Arcary destaca,
abonando inteiramente a sua tão decantada “tradição” :
“Já no que diz respeito à necessidade de uma
nova tática política, quando se oferecem condições de disputa, na legalidade e acumulando posições que permitam um
processo de aprendizagem da classe, tanto no terreno eleitoral, quanto
sindical, as observações de (Jacques)
Texier procedem.
O
paralelo histórico com Gramsci
parece correto, e corresponde de fato às primeiras formulações em torno a uma nova hipótese estratégica, que
considera a importância de preservar e explorar as conquistas democráticas,no
marco de um pensamento que se complexifica com o estudo da correlação de forças
à escala nacional e internacional, e que deve responder ao problema do regime
democrático burguês.”[90]
Evidentemente, Arcary
cala-se sobre o sentido e o significado contextual das palavras de Jacques
Texier, procurando justificar seu suposto acerto em parte – “no
que diz respeito à necessidade de uma nova tática política” - e esconde ao leitor quais são os
verdadeiros propósitos desse velho stalinista reciclado, saído das filerias do Partido
Comunista Francês.
Vejamos como Texier
compreende a questão da “nova tática política” :
“Acredita-se conhecer o pensamento político de Marx e Engels, porém dele não se
conhece senão certos fragmentos que um
certo discípulo célebre isolou e integrou em um sistema (obs. Texier
refere-se aqui à Lenin).
É necessário,
portanto, retomar tudo do zero ou quase do zero.
O que é bem conhecido não é conhecido.
Daí a idéia de realizar uma investigação minuciosa,
segundo diferentes percursos, para retomar a questão central : Marx e Engels subestimaram a democracia
política como às vezes se diz ?
Não parece. Teóricos da revolução, eles, de início, foram
atraídos pelo problema das relações da revolução e da democracia.
Mas, existe um pensamento político de Marx e Engels e, se
existe, quais são suas categorias específicas ?
Revolução violenta e passagem pacífica, conquista da
democracia e ditadura do proletariado, revolução permanente e guerra de posição,
Estado instrumento de uma classe e relativa autonomia do Estado, revolução pela
base e revolução pelo ápice etc.
Os conceitos para pensar a política são numerosos e as
articulações, difíceis.
Primeira experiência decisiva : a revolução de 1848, com o pano de fundo do modelo da Revolução Francesa.
Marx e Engels são blanquistas?
Em caso positivo, permaneceram blanquistas?
Com efeito, seu pensamento político conheceu
transformações profundas no curso do século.
De 1885 a 1895, Engels
introduziu algumas inovações políticas nos quadros teórico-políticos
introduzidos pela Comuna ?
Ainda aí, a importância
das evoluções, se as tomamos em consideração, coloca em causa a idéia do
sistema.
Contrariamente a uma idéia fixa, trata-se de um
pensamento atento às instituições e às formas políticas. Essa riqueza foi
transmitida ?
Deploravelmente não.
Um livro célebre
de Lenin, o Estado e a Revolução, desempenha seu papel nesse empobrecimento.
Nele está ausente esse
pensamento móvel, complexo, contrastado, sensível às mutações históricas,
multidimensional.”[91]
Eis como Arcary ao declarar que “no
que diz respeito à necessidade de uma nova tática política ... as observações
de Texier procedem”, afasta-se inteiramente da tradição marxista-revolucionária,
cultivada por Marx e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky.
Repudiando-a, procura descobrir em Marx
e Engels – no estilo gramscista de Texier – o oportunismo da “importância
das evoluções”, pois o livro de célebre de Lenin, o Estado
e a Revolução, desempenharia um
papel de empobrecimento, por causa de pensamento supostamente sem mobilidade,
sem complexidade, sem contrastes, sem mutações históricas, sem multidimensão
....
Sem qualquer criatividade
intelectual, o próprio Arcary – seguindo ainda as pegadas
do ultra-gramsciano Jacques Texier – atribui, falsamente, a Rosa Luxemburgo apenas “fortes
propensões objetivistas”, e a Lenin e a Gramsci - esse último no extremo, o mérito de
destacarem o lugar da consciência de classe – tal como se Rosa simplesmente o
ignorasse ou o menosprezasse :
“Existiram
tanto objetivistas que retiraram como conclusão de suas análises, mais ou menos
fatalistas, uma estratégia política quietista, como Kautsky, quanto subjetivistas que chegaram, para o fundamental, ao
mesmo endereço partindo de premissas opostas, como Bernstein, que acreditava na possibilidade da escolha consciente da
opção pela democracia.
O mesmo
se pode dizer da corrente revolucionária, que reunia desde Rosa, com fortes propensões
objetivistas, até um Lênin, e no
extremo um Gramsci, que destacavam
acima das “férreas leis da necessidade”,
o lugar da consciência de classe e
da construção dos fatores de
subjetividade, isto é, da vontade
consciente.”[92]
Verifique o leitor que no texto
acima a expressão “férreas leis da necessidade”,
redigida entre aspas e postado em aparente contradição à expressão ”construção
dos fatores de subjetividade”, não se encontra aí presente por motivo
de somenos.
Pois, para Gramsci, Marx
havia-se contaminado com “incrustações positivistas e naturalistas”,
das quais os bolcheviques teriam supostamente se distanciado:
„Os bolcheviques renegam Karl Marx, afirmam com o testemunho da ação explicada, das
conquistas realizadas, que os cânones do
materialismo histórico não são assim tão férreos como se poderia pensar e se
pensou.“[93]
Enquanto palavra-de-ordem de seu
pensamento, Arcary formula, então, sua fórmula mágica para a construção de
seu socialismo
da “igualdade social” e da “liberdade humana” que do socialismo
científico de Marx e Engels afasta-se diametral e
substancialmente, por repudiar o fato de que o projeto de sociedade socialista
do marxismo
revolucionário opõe-se claramente à concepção de socialismo enquanto
reino do igualitarismo social[94] :
“No
século XX, o poder deve procurar legitimidade
no terreno da política:
em termos gramscianos, deve dirigir além de dominar.”[95]
A operação intelectual de Arcary
é, intrinsicamente, gramsciana, resguardando-se, porém, extrinsicamente, da autoridade
revolucionária de Marx, Engels, Lenin, Trotsky e Rosa Luxemburgo.
Nesse sentido, assinala,
depudoradamente, procurando salvar Kautsky e Gramsci, para o
refinamento de seu próprio projeto eclético-revisionista, como se simplesmente
não existissem as acirradas e duríssimas polêmicas travadas entre o marxismo
revolucionário, através da pena de Lenin, Rosa Luxemburgo e Trotsky, a
partir de 1909, contra Kautsky, o renegado da Ditadura
Revolucionária do Proletariado e mentor intelectual dos programas políticos
de colaboração de classes seja Social-Democracia Alemã Independente,
seja da Social-Democracia Alemã :
“Mas
trata-se de uma dupla injustiça: nem Gramsci
merece o papel de kautskista “après la lettre”, nem Kautsky merece o limbo ao qual foi condenado.”[96]
Vê-se, pois, que Arcary
anseia retirar Kautsky e Gramsci do lugar onde se deitam as coisas sem valor.
Ao menos no que tange a Gramsci,
Arcary
destaca a lucidez de Gramsci quanto à questão ideológica do castatrofismo,
argumento esse evindentemente contra o mito das “fortes propensões objetivistas”
de Rosa
Luxemburgo[97]:
“A lucidez de Gramsci sobre esta questão ideológica do catastrofismo
pode ser conferida (na passagem citada in loco)
: .... “[98]
Arcary procura reconstruir, “em termos gramscianos”,
i.e. de modo idealista subjetivista - à la Jacques Texier - toda a história da luta de classes, havida na
Alemanha
– onde atuaram revolucionariamente Marx e Engels, Karl Liebknecht e Rosa
Luxemburgo.
Dessa reconstrução gramsciana,
formulada segundo o próprio sabor e conveniência subjetivista de Arcary,
pretende encontrar pontos de apoio que possam servir de fôrro ideológicos para
seus próprios propósitos de conquista de influência ideológica, sindical e política-eleitoral
sobre o movimento de emancipação do proletariado, em aliança com outros
gramscianos, stalinistas reciclados, no estilo de Chico Alencar, Milton Temer,
Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder etc. que, em essência, conduzem
inexoravelmente a um refinado projeto de conciliação de classes.
E, sem dúvida, o mais impressionante
de toda essa tentativa essencialmente eclética de Arcary de reconstrução
idealista subjetiva da história da luta de classes da Alemanha, tendo como
centro Marx e Engels, as revoluções alemãs, a
Social-Democracia Alemã é, particularmente, o fato de que a reescreve
sem a utilização patente de nenhum documento importante, seja lá de que autor
se possa tratar, extraído da própria literatura produzida em língua alemã.
Por não versar o alemão, Arcary
comporta-se como o historiador que escreve sobre a luta de classes, travada na Grécia
Antiga ou em Roma, sem, porém, empreender a
leitura e o estudo detido dos próprios materiais literários, existentes em
grego clássico e latim, tais quais se apresentam efetivamente, desde décadas e
séculos, surgidos ao calor dos fatos e com suas contradições mais
inerentes.
Recorrendo sempre a materiais
produzidos de segunda mão por autores solidários com sua própria perspectiva de
ver o mundo, nos termos do gramscismo eclético – i.e. um modelo
mal acabado de “trotskysmo gramscista-lukácsiano” - , haurido a partir de
materiais gerados em língua espanhola, francesa, inglesa – por Jacques
Texier, Perry Anderson, Eric Hobsbawn e tantos outros -, Arcary
discorre, em tom parafrástico, sobre um tema histórico de extraordinária
importância, elaborando, às pressas, um esquema abstrato, moldado, acomodado e
adaptado aos seus próprios interesses de argumentação subjetiva, sem qualquer
efetiva fundamentação histórico-real.
Mais um desses exemplos de recriação
gramsciana da história a partir de sua príopria imaginação, é formado
por suas argumentações sobre “As Minorias e a Democracia : A Atualidade
do Marxismo e da Revolução Socialista.”
Aqui, suas reflexões são proferidas
em favor de um fantástico ingresso “incondicional” de Marx,
“com
suas forças” minoritárias, no Partido Socialista dos Tabalhadores da
Alemanha, comandado pelas forças da maioria de Ferdinand Lassalle, porque
... Marx
teria supostamente “acordo com o Programa(!)”, apesar de “não haver acordo sobre tudo com
a corrente majoritária de Lassalle.”
E proclama : “ ... os marxistas não tiveram
problemas de aceitar que eram minoria.”
Evidentemente, a conjectura
semi-fantástica da construção intelectual de Arcary é o de demonstrar
que até mesmo o revolucionário Karl Marx reduzia-se, na prática
política da vida das organizações dos trabalhadores, à figura insôssa de um pedante
defensor do democratismo, até mesmo quando a direção majoritária era exercida
por forças do socialismo pequeno-burguês, promotor da conciliação de classes
com o Governo de Otto von Bismarck e de um socialismo promovido de maneira
pacífica e gradual, no estilo de Ferdinand Lassalle, “porque havia acordo no
Programa”.[99]
Com efeito , Arcary apresenta-nos um
contexto histórico que, em verdade, jamais poderia ter existido de fato da
maneira como narra, seja na Alemanha, seja em nenhum outro lugar
ou momento da história do marxismo revolucionário, por inúmeros motivos.
Se não vejamos:
“Eu quero
dizer a vocês que o Manifesto (Comunista) nos ensina algo muito importante,
profundo sobre isso.
Marx estava tão convencido
de que a emancipação dos trabalhadores seria obra dos próprios trabalhadores,
tão convencido de que o futuro estava na mão da classe trabalhadora que não tinha medo de ser minoria dentro das
organizações dos trabalhadores.
E não
sei se sabem, quando Marx se uniu à
construção do primeiro grande partido operário de massas que foi o Partido
Operário Alemão, Marx era minoria.
E os marxistas não tiveram problemas de aceitar que eram
minoria no Partido Operário Alemão.
A maioria seguia um dirigente que chamava-se Lassalle, o primeiro e o mais influente dos dirigentes políticos
da história do movimento operário internacional.
Ninguém menos do que Marx, pela importância que tinha a construção do Partido
Operário Alemão, entrou com as suas
forças, incondicionalmente, na construção do Partido Operário Alemão porque havia acordo no Programa.
Não
havia acordo sobre tudo com a corrente majoritária de Lassalle.
Havia
muitas desconfianças da corrente majoritária de Lassalle.
Mas, Marx não teve problemas de ser minoria porque
Lassalle tinha a maioria.
Confiava
nos trabalhadores, em suas opiniões.
Eu
quero dizer a vocês que, para estarmos à altura, da herança do Manifesto (Comunista) e da experiência prática de Marx,
nós temos de dizer que a construção da unidade dos lutadores passa pela
construção de ferramentas unitárias, instrumentos de luta comuns, a Frente
Única de todos os lutadores.
E
dentro dessa organização deve haver democracia incondicional.
E quem
for maioria que seja maioria, e quem for minoria que seja minoria.
Os
marxistas revolucionários se forem minoria saberão disciplinadamente serem
minoria, como soubemos ser dentro da CUT.
Mas, as
minorias não podem se transformar em maiorias, sem contar os votos.
Não se
pode atrás da mesa substituir aquilo que tem de ser entregue, nas mãos dos
lutadores, nas vossas mãos. São vocês que têm de votar.
Não é
um acordo, não pode ser um conchavo, atrás das mesas, de costas para o
plenário, porque os novos instrumentos de luta não serão iguais da CUT nunca
mais, nunca mais, nunca mais, de costas, nunca mais, de frente.”[100]
É evidente que Arcary refere-se aqui ao
celebérrimo processo de construção do Partido Socialista dos Trabalhadores da
Alemanha (Sozialistische Arbeiterpartei Deutschlands – SAPD), mediante
fusão promovida entre marxistas-eisenachianos, agrupados
no
Partido Social-Democrático dos
Trabalhadores da Alemanha (SDAP), e lassalleanos, reunidos na Associação Geral
dos Trabalhadores da Alemanha (ADAV), ocorrida entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, no quadro
do Congresso
da Unificação (Vereinigungsparteitag) que teve lugar na cidade de Gotha,
na Alemanha.
Porém, Arcary ora descreve fatos
que nunca existiram, ora distorce posições, idéias e concepções, tudo isso com
o objetivo de legitimar “segundo a herança do Manifesto (Comunista)
e da experiência prática de Marx”, uma fantástica subordinação de
minorias às maiorias, enquanto critério autenticamente democrático, para a
construção da unidade dos lutadores, tudo isso com base na contagem de votos.
Elenquemos, porém, rapidamente, ao
menos cinco fatos concretamente históricos e passíveis de serem confirmados por
qualquer historiador seriamente interessado na história do marxismo
revolucionário na Alemanha:
I.
Arcary afirma claramente, em sua intervenção, que “Marx
... entrou com suas forças, incondicionalmente, na construção do Partido
Operário Alemão, porque havia acordo no Programa.”
Porém, o que afirma se encontra,
efetivamente, situado em contradição com a verdade histórica da luta de classe
da Alemanha.
Ora, esta é, em verdade,
diametralmente oposta àquilo que Arcary afirma, pois não
havia absolutamente acordo no Programa, no que diz respeito às posições de Marx
e de Engels.
Para Arcary, historiador de matiz
trotskysta, porém sob forte influência gramsciano-lukásiana - que
aceita, em parte, as observações de um stalinista reciclado, ultra-gramisciano
do calibre de Jacques Taxier -, uma
das mais importantes obras de Karl Marx, intitulada “Crítica
ao Programa de Gotha”, redigida em abril e maio de 1875, jamais
existiu na realidade.
Em sua intervenção, Arcary
nem sequer a refere.
Porém, é precisamente nessa sua obra
clássica de extraordinária importância para a compreensão do sentido e do
significado do marxismo revolucionário que Marx, a despeito de saudar a
perspectiva de unificação das forças proletárias da Alemanha, demonstra-nos,
detalhadamente, que não havia acordo no Programa.[101]
Seu desacordo com relação ao Programa,
é igualmente corroborado, nitidamente, em sua lendária carta, dirigida a Wilhelm
Bracke, datada de 5 de maio de 1875.[102]
Quanto a Engels, sua carta
dirigida a August Bebel e redigida entre 18 e 28 de março de 1875,
comprova-nos, além disso, que, de sua parte, não havia acordo no Programa, exatamente
porque, em essência, esposava as concepções defendidas por Marx em sua“Crítica
ao Programa de Gotha”.
Depois de elencar as razões de sua
oposição ao Programa em referência, Engels declara, expressamente:
„Paro por aqui, embora praticamente cada palavra desse programa, redigido,
além disso, de modo suave e astênico, merecesse
ser criticada.
Tanto é assim que, caso seja adotado, Marx e eu jamais nos poderemos declarar adeptos
desse novo Partido, instituído sobre essas bases, e teremos de muito
seriamente refletir que atitude assumiremos – também publicamente – em relação
a ele. …”[103]
Como
se vê, Marx e Engels, por não
possuírem acordo no Programa em referência, condicionavam sua
declaração de adesão a esse novo Partido ao fato de o Programa em questão não
ser adotado.
Anos
depois, ao enviar uma carta a Friedrich Sorge, em fevereiro de
1891, Engels teve ainda a oportunidade de retornar ao tema, para
acentuar, claramente:
„Naturalmente, Wilhelm
Liebknecht está furioso, pois que toda a crítica foi cunhada,
especialmente, contra ele.
Ele
é o pai que, juntamente com o veado do Hasselmann, pariu esse Programa Podre
(SvK.: o Programa de Gotha do Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha
)
Compreendo o espanto inicial daqueles que, até o presente
momento, haviam insistido em serem apenas tocados muito delicadamente pelos “companheiros” , ao serem, agora,
tratados assim sans façon (SvK.: sem
consideração), depois de seu Programa
haver sido desmacarado como pura imbecilidade. ”[104]
Daí, resulta ser um disparate gramsciano-lukácsiano, um
verdadeiro despautério histórico, afirmar que “Marx ... entrou com suas forças, incondicionalmente, na
construção do Partido Operário Alemão, porque havia acordo no Programa.”
Outra
questão é que o Programa em realce foi, finalmente, votado e aprovado pelo Congresso
de Gotha de 1875 – um congresso democrático teatral, elaborado para
legitimar a subodinação das forças proletárias alemãs lassalleanas e “marxistas-eisenachianas”
à dominação de uma elite aristocrática, saída de suas fileiras - com
pouquíssimas e inexpressivas modificações, em total desprezo às posições defendidas
por Marx
e Engels, o que os colocou diante de um fato consumado.
Apenas
em 12 de outubro de 1875, Engels escreveu, novamente, a Bebel,
assinalando que, por terem tanto os trabalhadores quanto seus adversários
políticos burgueses “interpretado comunistamente” o Programa em questão,
unicamente essa circunstância tornaria possível aos olhos de Marx
e dele mesmo não se separarem publicamente do Programa de Gotha de 1875.
Destacou
que, enquanto seus adversários políticos e os trabalhadores continuassem a ler
as posições de Marx e Engels no Programa em causa, estaria
justificado o fato de não atacarem, de público, os princípios e cláusulas nele
contido.[105]
A
seguir, Marx e Engels resistiram, abertamente, a cooperar integralmente,
durante alguns anos, com o novo Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha
(Sozialistische Arbeiterpartei Deutschlands – SAPD), exatamente em virtude de
não
haver acordo no Programa.
Inversamente às palavras de Arcary, cumpre dizer que Marx
e Engels tiveram muitos “problemas de ser minoria, porque os
lassalleanos tinham a maioria.”
Um clássico exemplo nesse sentido, foi a carta de Marx,
dirigida a Engels, em 1° de agosto de 1877.
Como se
sabe, o Congresso Geral Socialista do Partido Socialista dos Trabalhadores
(SAPD), ocorrido em Gotha, praticamente dois anos
depois, i.e entre 27 a 29 de maio de 1877, havia resolvido, na sessão de 29 de
maio, sob proposta de August Geib, editar “uma revista científica, em formato adequado,
a ser publicada bimensalmente, em Berlim, a partir de 1° de outubro desse ano.
Até essa data, haverá de apensar-se ao jornal “Vorwärts (Avante)”, a cada 14 dias, um suplemento, dotado,
essencialmente, de conteúdo científico”.
Desde
1° de outubro de 1877, surgiu, em Berlim, “Zukunft (O Futuro)” enquanto órgão
teórico oficial do SAPD.
Essa
revista foi financiada pelo social-filantropo Dr. Karl Höchberg e por
ele dirigida sob o pseudônimo R.F. Seifert, sob a orientação de
imprimir à Social-Democracia Alemã um curso abertamente reformista.
Em 20
de julho de 1877, a redação de “Zukunft (O Futuro)” dirigiu cartas
a Marx
e Engels, referindo-se expressamente à Resolução do Congresso de Gotha
de maio de 1877 sobre a edição de uma revista científica, para propor a ambos
contribuirem na produção da revista em causa.
Em 28
de julho de 1887, o próprio Wilhelm Liebknecht escreveu, então,
cinicamente, a Engels, assinalando, expressamente, o seguinte:
“Nossa revista (“Zukunft
<O Futuro> - o título não me agrada particularmente) terá seu início,
em 1° de outubro. A redação será comandada por Höchberg (que nos dará, anualmente, 10.000 marcos) e pelo Dr. Wiede – ambos jovens diligentes, em
particular o primeiro deles, e ambos opositores dos embustes de Dühring.
Sobre ela, organizou-se um controle tão rigoroso que não temos de temer o surgimento de nenhum
ovinho de pintinho.
Você está sendo requisitado para colaborar (evidentemente
também Marx) e será bom que o faça,
ainda que sua atividade principal continue sendo dedicada ao “Vorwärts (Avante)””.[106]
Pronunciando-se acerca da proposta, formulada por Wilhelm
Liebknecht, Marx afirmou, então, em sua carta dirigida a Engels, em 1° de agosto
de 1877 :
“Londres, 1° de agosto de
1877
Querido Fred,
Em anexo, segue carta de Höchberg, dirigida a Hirsch, o qual, no sábado, retornou à Paris. Mande-me de volta, por favor,
essa carta, depois de tê-la lido, pois eu mesmo tenho de entregá-la a Hirsch.
Creio que a carta de Höchberg caracteriza o homem melhor do
que tudo aquilo que Wilhelm Liebknecht
(este brilhou, novamente, por sua recomendação do confúcio Acollas e do faiseur
(EvM.: fanfarrão) Lacroix) disse ou
pode dizer sobre ele. (...)[107]
Há alguns dias, turned up (SvK.: apareceu) – para, logo
a seguir, novamente, desaparecer, rumo à Alemanha
– o alegre e pequeno cifótico, Wedde.
Possuía um pedido urgente
de August Geib para que você e eu
fossemos arregimentados para o “Zukunft
(O Futuro)”.
Para sua grande tristeza, não lhe fiz absolutamente nenhum segredo
sobre nossas pretensões abstencionistas e suas razões, ao mesmo tempo em que lhe expliquei que, quando o
tempo nos permita ou as circunstâncias o exijam, interviremos, novamente, de modo propagandista.
Nós, enquanto Internacional, não estamos, de nenhum modo, ligados ou
obrigados a aderir à Alemanha, à amada pátria.
Em Hamburg, Wedde havia
avistado o Dr. Höchberg e ditto (EvM.: o mesmo) avistou Wedde.
O primeiro estaria tingido
como algo de superficialidade e arrogância berlinense, porém o segundo gostou
do primeiro, apesar deste ainda sofrer muito de “mitologia moderna”.
Quando aquele sujeitinho do Wedde esteve
em Londres, pela primeira vez, usei
a expressão "mitologia
moderna" como designação das Deusas
da "Justiça, Liberdade, Igualdade etc.", as
quais voltaram a andar à solta por aí. Isso lhe provocou uma profunda
impressão, pois o próprio Wedde tem
feito muito a serviço dessas entidades
superiores.
Aos olhos de Wedde, Höchberg parecia um pouco verdühringt
(SvK.: dühringisado, absorvido pelas posições de Dühring) e Wedde possui
um nariz mais afiado que o de Wilhelm
Liebknecht. (...)
Saudações,
Do teu
Negro”[108]
Foi apenas a Sozialistengesetz (Lei contra os Socialistas), mais
precisamente Gesetz gegen die gemeingefährlichen Bestrebungen der Sozialdemokratie
(Lei contra as Pretensões da Social-Democracia Perigosas à Segurança Pública),
proposta por iniciativa de Otto von Bismarck, aprovada
pelo Parlamento
Alemão, em 19 de outubro de 1878, havendo entrado em vigor em 21 de
outubro do mesmo ano, que lançou novas bases políticas para a atuação de Marx
e Engels em socôrro das forças proletárias inteiramente em crise,
comandadas por lassalleanos e “marxistas-eisenachianos”.
Nos termos da lei em realce, foram proibidas todas as
organizações partidárias e todos os sindicatos que peseguissem objetivos
socialistas. Todos os órgãos socialistas de imprensa de maior relevância foram
reprimidos, todas as assembléias de caráter socialista, interditadas. Por meio
dessa lei de exceção, permitiu-se à Polícia Alemã banir,
arbitrariamente, trabalhadores e funcionários social-democráticos, porquanto
podia ser imposto sobre as cidades e distritos do país o assim denominado “Kleiner
Belagerungszustand (Pequeno Estado Sítio)”.
Segundo a lei em referência, também todo e qualquer movimento
democrático na Alemanha haveria de ser privado de suas direções, de modo a
torná-lo inofensivo.
O
primeiro Congresso do Partido Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (SAPD),
realizado em situação de plena ilegalidade, teve lugar, então, entre os dias 20
e 23 de agosto de 1880, no Palácio Wyden, situado no cantão de Zurique,
na Suíça.
Sob a
influência dos princípios do socialismo científico de Marx
e Engels, esse congresso colocou fim ao período de praticamente de dois
anos de oscilações e confusão nas fileiras no Partido, ocasionadas pelo
“Programa
Podre” e pela promulgação, em 19 de outubro de 1878, da Lei
contra os Socialistas, permitindo sacar um balanço sobre o resultado
das divergências, havidas relativamente à formulação da estratégia e tática de
luta do Partido, sob a vigência da lei de exceção em realce.
As
resoluções congressuais adotadas orientaram também o Partido em face de suas
frações oportunistas de direita e de esquerda, estabelecendo uma linha de
intervenção claramente revolucionária, na luta contra o despotismo do Estado
Militar Prussiano-Alemão.
Em
consonância com as novas condições da luta de classes na Alemanha, decidiu-se,
unanimemente, positivar, no Programa, o parágrafo de que,
doravante, o SAPD perseguiria seus objetivos “com todos os meios” – e
não mais apenas “com os todos os meios legais”, tal como estabelecido, até
então, pelo ”Programa Podre”.
Ademais
disso, resolveu-se que a revista “Sozialdemokrat (O Social-Democrata)”
tornar-se-ia o órgão oficial do Partido, havendo de se transformar em
ferramente de fortalecimento dos organismos partidários e de difusão das
concepções marxistas, no seio da classe trabalhadora.
Dest’arte,
o congresso em realce lançou os pressupostos para a posterior derrubada da Lei
contra os Socialistas, em 30 de setembro de 1890.
Nos
anos a seguir, sob a vigência da Lei contra os Socialistas, Marx
e Engels lutaram para imprimir um perfil revolucionário à estratégia e
tática de luta da Social-Democracia Alemã.
Após algumas oscilações iniciais, devidas à sua direção
partidária oportunista e opugnada por Marx e Engels, desde a cidade de Londres
-, o SAPD
foi capaz de organizar uma luta ilegal eficaz contra a Lei
contra os Socialistas.
Para isso, Marx e Engels tiveram de se opor,
aguerriedamente, às posições defendidas, no interior do partido, pelos
oportunistas de direita e de esquerda, bem como anarquistas.
Marx e Engels contribuíram para que o SAPD elaborasse e implementasse
políticas e estratégias proletário-revolucionárias, no quadro da nova situação
institucional. Devido a isso, foram concomitantemente combinadas entre si e
impulsionadas todas as formas de luta legais e ilegais, de modo que o SAPD
resultou ser capaz de superar sua prova de fogo, desenvolvendo-se rumo a um
partido de massas, no âmbito de sua luta contra a Lei contra os Socialistas.
Em 14 de janeiro de 1888, o Governo Bismarck
apresentou ao Parlamento Alemão mais um Projeto de Lei, exigindo a prorrogação
da vigência da lei em exame, até 30 de setembro de 1893, bem como o
encrudescimento das prescrições normativas, mediante a previsão de penas ainda
mais severas para a distribuição de materiais literários proibidos, adesão a
“associações secretas” e participação em assembléias ou reuniões de caráter
socialista, realizadas até mesmo no exterior, ficando esse último fato típico
sujeito à imposição de perda da própria nacionalidade alemã.
Apenas em 25 de janeiro de 1890, o Parlamento Alemão rejeitou,
sob a pressão das massas alemãs, uma nova prorrogação da Lei contra os Socialistas.
E, com efeito, sua inutilidade demonstrara-se no fato de que,
nas eleições de fevereiro de 1890 – i.e. praticamente 12 anos após a vigência
da lei em tela - , o SAPD logrou receber, até mesmo, 19,7
% de todos os votos, consagrando-se, então, como o maior partido da Alemanha.
Por fim, em 30 de setembro de 1890, a lei de exceção em
destaque foi derrogada.[109]
II.
Ao mesmo tempo, Arcary confunde,
claramente, a posição de Marx – visto que nem sequer cita a
de Engels
sobre o tema – com aquela defendida por aqueles que se reivindicavam “marxistas-eisenachianos”.
E conclui : “Mas, Marx não teve problemas de ser
minoria porque Lassalle tinha a maioria”.
Já entre os ”marxistas-eisenachianos”,
Arcary
nem ao menos refere as importantes diferenças havidas entre Wilhelm
Liebknecht, August Geib, August Bebel, Eduard Bernstein, Wilhelm Bracke.
Apenas, conclui : “E os
marxistas não tiveram problemas de aceitar que eram minoria no Partido Operário Alemão. ... Ninguém menos do que Marx ..., entrou com as suas forças,
incondicionalmente, na construção do Partido Operário Alemão porque havia acordo no Programa.”
Em
verdade, a luta contra a integração das
filerias das forças proletárias da Alemanha ao regime do Estado
Prussiano, mediante a política de colaboração de classes de Lassalle,
possui seu dealbar sob a inflexível batuta ideológica de Marx e Engels contra a
direção oportunista de Wilhelm Liebknecht e August Bebel,
já ao longo dos anos 70 do século XIX,
no quadro de suas contudentes críticas a todos os Programas do SDAP/SAPD/SPD.
O Programa
de que se trata aqui, que sedimentou a Coalizão de Gotha, de 1875 foi,
em verdade, intelectualmente elaborado, em grande parte, pelos lassalleanos Wilhelm Hasselmann e Wilhelm Hasenclever, negociado por Wilhelm Hasselmann, Wilhelm Liebknecht e August Geib, sustentado enfaticamente por Eduard Bernstein,
admitido politicamente, apesar de leves e ligeiras críticas, por August
Bebel – e rechaçado agudamente
por Marx
e Engels que contavam com o apoio de Wilhelm Bracke.
Quanto
a Bracke - este destacado quadro do marxismo
revolucionário alemão - dirigiu-se, em carta, a Engels, em 25 de março de
1875, alegando o seguinte:
“O programa apresentado para o Congresso de Unificação e firmado por Wilhelm Liebknecht e August Geib, forçou-me à redação destas
linhas.
Para mim, resulta impossível adotar esse programa e
também Bebel possui a mesma
opinião.”[110]
A Social-Democracia
Alemã rumou para a fusão dos ”marxistas-eisenachianos” e lassaleanos
não reivindicando absolutamente, em seu Congresso do Compromisso de Gotha,
ocorrido entre os dias 22 e 27 de maio de 1875, a consigna programática de Ditadura
Revolucionária do Proletariado, bem como a indispensabilidade de
destruição armada do aparelho de Estado Burguês pelo proletariado – apesar da
experiência da Comuna de Paris - , mas sim postulou, entre outras consignas
puramente lassalleanas, a edificação de um Estado Popular Livre, a ser
introduzido em substituição do então existente Estado Prussiano,
assentado este sobre a dominação de classe burguesa-capitalista.
Pois, em consonância com suas posições inteiramente oportunistas, Bebel
fez publicar, repetida e imodificadamente, em inúmeras edições, havidas até o
ano de sua morte, sua célebre concepção sobre a necessidade de transformação
do Estado de classe burguês em um Estado popular.
Nesse sentido, Bebel afirmou, pela primeira vez, em sua obra dada ao público
inicialmente em 1870, expressamente o seguinte :
“Demonstrei com o Estado da atualidade é um Estado de classe, situado,
especialmente, sob a dominação da burguesia, sendo que, portanto, não possui e
nem possuirá os meios para apoiar a produção cooperada, empreendida através da
organização de cooperativas de produção. Se a burguesia fizesse isso, se as
classes dominantes o fizessem, agiriam contra o seu próprio interesse.
Formariam na classe trabalhadora não apenas
um concorrente, senão ainda um fator que tornaria, de modo geral, a burguesia,
finalmente, impossível, deixando de existir sua dominação de classe. Isso
seria, naturalmente, suicídio que não cometerá, espontaneamente, de nenhuma
maneira.
Disso resulta que a classe trabalhadora tem
de conquistar o poder, o que seguramente pode fazer, porque a classe
trabalhadora constitui a grande maioria e sua consigna não é apenas de liberdade, mas também de igualdade de direitos,
incluindo, portanto, em si mesma a justiça. Nessa sede, quero, mais uma
vez, expressamente assinalar que, pelos motivos já expostos inicialmente, não
apenas entendo sob essa classe trabalhadora os trabalhadores assalariados, em
estrito senso, senão também os artesãos e pequeno-camponeses, os trabalhadores
intelectuais, os escritores, os professores das escolas populares, os
servidores públicos de grau inferior, todos os que, sofrendo sob as condições
atuais, possuem uma posição pouco - ou de nenhum modo – melhor do que a dos
trabalhadores assalariados e, estando, talvez, algo melhor do que estes – tais
qual o estamento dos artesãos e dos camponeses autônomos – tornam-se,
irresistivel e impiedosamente, vítimas do moderno desenvolvimento.
Assim, essas diversas classes formam, na
realidade, a maioria esmagadora do povo e, como
não se trata da repressão da minoria pela maioria, mas sim da igualdade de
direitos e igualdade de posição de todos, não se pode, portanto, falar da dominação de uma classe ou de um
estamento – seja mesmo da dominação da classe trabalhadora.
Trata-se, pelo contrário, de uma sociedade
tão democrática a que se aspira, tal qual jamais existiu sobre a face da terra.
Reproduzi, detalhadamente, esse último ponto, porque a “Demokratische
Korrespondenz (Correspondência Democrática” e todos os nossos inimigos referem
algo como a dominação de classe ou estamental e porque, em suas questões,
conseguem apenas imaginar, da maneira mais ingênua do mundo, a reorganização da
sociedade, exigida pela Social-Democracia, como uma colcha de retalhos, operada
sobre a sociedade burguesa de hoje.
O
Estado há de ser, portanto, transformado de um Estado, fundado sobre a
dominação de classe, em um Estado Popular, em um Estado que não haja nenhum
tipo de privilégios.
E esse Estado deverá, a partir daí, permitir, com todos
os meios e forças, colocados à sua disposição, o surgimento da produção
cooperativa, no lugar das empresas privadas isoladas.
Em um tal Estado, o ajudar a si mesmo é auxílio popular,
o auxílio popular é auxílio, prestado pelo Estado, o ajudar a si mesmo e o
auxílio do Estado são, portanto, idênticos. Um antagonismo não existe.”[111]
Diante
de todo o exposto, cumpre, então, perguntar como seria possível que Marx
e Engels manifestassem seu acordo com um Programa desse gênero, “parido
por Wilhelm Liebknecht com o veado do Hasselmann” - para usar o
vocabulário bastante expressivo de Engels -, havendo esse Programa de
ser, então, “desmascarado como pura imbecilidade”?
III.
Arcary afirma, além disso, que “Marx se uniu à construção do primeiro grande partido operário de massas que foi o
Partido Operário Alemão, Marx era
minoria. E os marxistas não tiveram
problemas de aceitar que eram minoria”.
Na
realidade, o oposto àquilo que Arcary diz é o que corresponde à
verdade histórica.
Engels, em sua carta dirigida a August Bebel, redigida entre
18 e 28 de março de 1875, declara que nem Marx nem Engels eram
responsáveis pela minoria alemã dos assim denominados ”marxistas-eisenachianos”, oriundos
do Partido
Socialista dos Trabalhadores da Alemanha (Sozialistische Arbeiterpartei
Deutschlands – SAPD), fundado entre os dias 7 e 9 de agosto de 1869.
„As
pessoas imaginam precisamente que somos nós
(SvK.: i.e. Marx e Engels) que comandamos, desde aqui (SvK.: da cidade
de Londres), a coisa toda, enquanto que o Sr.
e eu sabemos que nós nos imiscuimos, minimamente e quase nunca, nas questões
interno-partidárias e, quando o fazemos, apenas para, na medida do
possível, corrigir erros – e, em
verdade, apenas erros teóricos - que, em nosso entendimento, foram
cometidos
Porém, o Sr. há de reconhecer que esse programa constitui um ponto de virada que nos poderia forçar,
muito facilmente, a rejeitar toda e
qualquer responsabilidade em relação ao Partido que o adote.
Falando em geral, a questão depende menos do Programa
Oficial de um Partido do que daquilo que é realmente praticado por ele.
Porém, um novo programa é sempre e antes de tudo, uma
bandeira hasteada publicamente, segundo a qual o mundo exterior julga o
Partido.“ [112]
IV.
Tais negociações de Wilhelm
Liebknecht sobre a fusão, envolvendo questões de Programa, não servem, em verdade, como exemplo para a
apologia democrático-operária, tal qual pranteada por Arcary, pois foram, em
verdade, negociações burocráticas.
Tratou-se de um “conchavo”, realizado “atrás
das mesas”, “de costas para o plenário”, com total desinformação de
Marx, Engels e mesmo de Bebel, visando à celebração de uma
fusão a toque de caixa com os lassalleanos, fundada em um
“Programa Podre”, lograda com o método
do fato consumado.
Seu método foi a publicação, em 7 de março de 1875, nas
páginas do órgão do Partido Social-Democrático dos Trabalhadores da Alemanha (SDAP),
denominado „Der Volksstaat (O Estado Popular)“, e no órgão da Associação
Geral dos Trabalhadores da Alemanha
(ADAV), de nome “Neuer Socialdemokrat (Novo
Social-Democrata)”, de uma conclamação, intitulada “Aos Social-Democratas da
Alemanha!”, adotada pelos dirigentes de ambos os partidos em causa, na Pré-Conferência
de Gotha de 14 e 15 de Fevereiro de 1875, tornando pública a convocação
de um “Congresso dos Social-Democratas da Alemanha”.
Juntamente com essa conclamação, foi publicado ainda um Projeto
de Programa do Partido e um Estatuto que haviam sido debatidos,
no quadro da pré-conferência em tela.
Surpreendido com tal fato, até mesmo
Bebel
dirigiu-se por meio de carta, enviada de sua cela, a Engels para
perguntar-lhe:
“O que é, então, que o Sr. e Marx dizem acerca da questão da unificação? Não tenho nenhum julgamento completamente válido.
Pois,
encontro-me totalmente desinformado.
Sei apenas o que noticiam os jornais.
Estou ansioso por ver e ouvir como as coisas ficarão,
quando for libertado, em 1° de abril.”[113]
O resultado da negociação, promovida
“de
costas para o plenário”, por Wilhelm Liebknecht e August Geib – ”marxistas-eisenachianos”
–, de um lado, e Wilhelm Hasselmann e Wilhelm
Hasenclever, d’outro, foi o assim denominado “Programa Podre”, produzido
para criar a ilusão democrática de maiorias e minorias.
O “Programa
Podre” foi, finalmente, votado e aprovado pro forma pelo Congresso
de Gotha de 1875, com pouquíssimas e inexpressivas modificações, em
total desprezo às posições defendidas por Marx e Engels, o que os colocou
diante de um fato consumado.
Esse
congresso democrático foi inteiramente teatral, feito para criar a impressão de ampla
participação das bases, uma relação formal entre uma maioria adepta do socialismo
pequeno-burguês e uma minoria, encabeçada por Bebel, Liebknecht, Geib,
Bernstein, retoricamente protestatária.
Foi um mecanismo, criado para legitimar a subodinação das forças proletárias
alemãs lassalleanas e “marxistas-eisenachianas” à
dominação de uma elite aristocrática, saída de suas fileiras, gerando uma aparência
de unidade de luta, à revelia das verdadeiras necessidades do movimento
de emancipação do proletariado da Alemanha.
As negociações pré-congressuais
e o democratismo
congressual que aprovou o Programa Podre, foram, então,
esclarecidos, hipocritamente, da seguinte forma, pelo “marxista-eisenachiano” Hermann
Ramm, em carta de 24 de maio de 1875, endereçada a Engels :
“Sua carta dirigida a mim circulou,
tal como a carta de Marx dirigida a Bracke.
O Sr. verá, a partir das negociações
congressuais, que, de nossa parte, estivemos inclinados a ter em consideração
as suas intenções, bem como as de Marx,
o que, no congresso – sobre o qual Wilhelm
Liebknecht escreve, nesse momento, que tudo se passou de modo positivo -,
foi muito mais fácil do que há dois meses antes. ...
Pelo contrário, outra coisa se dá no
que concerne à nossa relação, em sentido tático.
Nesse domínio, não há nenhma dúvida
que, se não tivéssemos feito decisivas concessões, teria sido impossível aos Hasselmanns, mesmo com a melhor da boa
vontade, tornar agradável à sua associação o pensamento de unificação, em razão
de sua estreiteza intelectual que aqueles rapazes impulsionaram, durante meia
dúzia de anos.”[114]
E ainda Bebel, de modo centrista, asseverou:
“Concordo, inteiramente, com a apreciação que o Sr. formulou sobre o
Projeto de Programa, tal como também
o comprovam as cartas que diriga a Bracke.
Além disso, censurei, de modo
enérgico, Wilhelm Liebknecht por sua
complacência, porém, depois de ocorrida a infelicidade, cumpria arrancar o
melhor possível da situação.
O que decidiu o congresso foi o máximo que era possível alcançar.”[115]
V.
Por fim, cabe ressaltar que Arcary
não mede palavras para destacar: “Mas,
Marx não teve problemas de ser minoria porque Lassalle tinha a maioria.”
Em verdade, essa frase expressa um
grande absurdo, senão uma inteira possibilidade.
Pois, na ocasião descrita por Arcary,
Ferdinand
Lassalle já se encontrava morto, há mais de 10 anos, sendo, portanto,
impossível que a maioria seguisse esse dirigente.
A maioria referida seguia, sim, os epígonos
de Lassalle,
em particular Wilhelm Hasselmann e Wilhelm
Hasenclever, pois Johann Baptist von Schweizer já se
havia afastado da direção da Associação
Geral dos Trabalhadores da Alemanha
(ADAV)no sexto ano após a
morte de Lassalle.
Em verdade, a questão da morte de Lassalle
adquiria para a unificação crucial importância porque esse era precisamente o
principal argumento esgrimido por Wilhelm Liebnecht – que se
reivindicava ”marxista-eisenachiano” - para procurar convencer Marx
e Engels sobre a debilitação dos lassalleanos, decorrente da perda de
seu grande dirigente.
Wilhelm Liebknecht, em carta de 21 de abril de 1875,
dirigida a Engels, pronunciou-se da seguinte maneira:
“As deficiências do programa, para as quais o
Sr. nos chama a atenção, são indiscutivelmente existentes e delas estávamos
conscientes, desde o início. Entretanto, não puderam ser evitadas, na
conferência, se não devéssemos romper as
negociações de unificação.
Os lassalleanos haviam tido,
imediatamente antes, uma reunião de
dirigentes e vieram munidos com mandato
imperativo para o tratamento de certos pontos especificamente chocantes.
Tivemos de fazer-lhes concessões tanto mais porque para nenhum de
nós (como também para nenhum dos nossos outros) havia dúvida de que a unificação significa a morte do
lassalleanismo.”[116]
E, poderíamos acrescentar, hoje – à
luz da experiência haurida ao longo de mais de um século de luta de classes -,
as concessões
no Programa foram feitas por Wilhelm Liebknecht porque a
unificação significava, sim, “a morte do lassalleanismo”.
Porém, significava também – e isso Wilhelm
Liebknecht não tinha visão científico-socialista para compreender - o
início da “mais inteira falência da Social-Democracia Alemã, enquanto organização
revolucionária do proletariado.”
Derrubada a Lei contra os Socialistas, August
Bebel e Wilhelm Liebknecht passaram a demonstrar, já a partir do início
de 1890, tendências ostensivas de pretenderem voltar a intervir exclusivamente
no quadro da legalidade burguesa.
Engels combateu,
implacavelmente, até ao dia de sua morte, a direção alegadamente “marxista”
de August
Bebel, Wilhelm Liebknecht, Karl Kautsky, Eduard Bernstein e
colaboradores que, na década de 90 do século XIX, seguiram imprimindo, enquanto
“friedfertige
Anbeter der Gesetzlichkeit quand même (EvM.: veneradores pacifistas da
legalidade, sob todas as condições), uma orientação invarialvelmente
pacifista e reformista ao Partido da Social-Democrarcia da Alemanha.
Por isso, diversos artigos de Engels, produzidos nos
últimos anos de sua vida, foram censurados ou simplesmente não publicados.
Em outubro de 1891, foi adotado o Programa de Erfurt do SPD
o qual, apesar de representar um passo adiante em comparação com o Programa
de Gotha de 1875 – por assentar-se, então, em linhas gerais, sobre
concepções econômicas de Marx
-, consolidou importantes
concessões políticas, feitas pelos oportunistas, comandados por August
Bebel, Wilhelm Liebknecht e Karl Kautsky, aos reformistas, acaudilhados,
então, por Eduard Bernstein, um dos protagonistas do ”Revisionimus-Debatte(Debate
sobre o Revisionismo)”, iniciado em 1896. Engels também criticou,
detalhadamente, o Programa de Erfurt de 1891, destacando os principais aspectos
tanto do oportunismo quanto do reformismo, nele acolhido e
defendido pela II Internacional Socialista.
Em especial, o Programa de Erfurt de 1891 ignorava,
mais uma vez, inteiramente a reinvindicação de Ditadura Revolucionária do
Proletariado, enquanto forma de transição à sociedade socialista sem
classes.
Os principais dirigentes do SPD impediram que a base
do Partido e os trabalhadores alemães tivessem acesso à crítica formulada por Engels
a esse programa, desprezando, completamente, seu conteúdo na formulação
do texto programático final.[117]
Voltando sua atenção às resoluções do Programa
de Erfurt, Karl Kautsky, à época o principal mentor ideológico da Social-Democracia
Alemã e da II Internacional, assinalou, expressa e cabalmente, em 1892:
“Uma tal derrubada (i.e. a derrubada do poder político pelo proletariado)
pode assumir as formas mais variadas, conforme as relações sob as quais se
executar. De nenhuma maneira, tem de
necessariamente estar vinculada a atividades de violência e a derramento de
sangue.
Já existiram casos na história mundial em que as classes dominantes foram particulamente
compreensivas – ou particularmente fracas
e medrosas -, de modo que abdicaram voluntariamente em face de uma situação
de coação.”[118]
No mesmo sentido, Wilhelm Liebknecht, no quadro do Congresso
de Erfurt, realizado em 1891, pronunciou-se, categoricamente, da seguinte forma acerca da
temática em destaque:
“O elemento revolucionário não se
situa nos meios, mais sim no objetivo.
A violência é, desde há séculos, um fator reacionário.”[119]
Wilhelm Liebknecht negava,
além disso, a necessidade histórica da Ditadura Revolucionária do Proletariado para o atingimento do socialismo –
admitindo-a apenas como medida excepcional em caso de guerras.[120]
Impende anotar que, entre 14 de fevereiro e 6 de março de
1895, Engels redigiu sua “Introdução à Luta de Classes na França de
1848 a 1850 de Karl Marx”, a qual foi publicada no curso do mesmo ano,
na cidade de Berlim.
Depreende-se, entretanto, de uma carta de Richard
Fischer, dirigida a Engels, em 6 de março de 1895, que a
direção do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) exigiu de Engels
uma atenuação do tom linguístico-revolucionário, contido em sua referida “Introdução”.
Na carta de resposta de Engels a Fischer,
datada de 8 de março de 1895, verifica-se que Engels contestou,
detalhadamente, as preocupações que a direção do SPD levantava,
elucidando, inequivocamente, sua posição jurídico-político-revolucionária.
A crítica de Engels dirigia-se contra a atitude
irresoluta da direção do SPD, encabeçada, então, por August
Bebel, Wilhelm Liebknecht, Eduard Bernstein, Richard Fischer etc. – e
sua pretensão de intervir exclusivamente no quadro da legalidade burguesa.
Engels foi obrigado,
entretanto, a fazer certas alterações léxicas e gramaticais em seu texto
original, bem como eliminar, inteiramente, certas passagens, em que realçava a
necessidade da luta armada do proletariado vindoura contra a burguesia.
Baseados no texto dessa notável “Introdução”, alguns
célebres dirigentes do SPD empreenderam, a seguir, a
tentativa de deformar os posicionamentos de Engels, incluindo-o entre
os adeptos
da via pacífica “quand même (EvM.: custe o que custar)”, para a tomada
do poder pela classe trabalhadora.
Nesse sentido, em 30 de março de 1895, publicou-se, no “Vorwärts
(Avante)”, um artigo editorial, intitulado “Wie man heute Revolutionen macht
(Como se Fazem Revoluções Hoje)”, em que diversas citações, extraídas
aleatoriamente da “Introdução” de Engels, produziam a falsa impressão de que Engels
havia-se tornado “ein friedfertiger Anbeter der Gesetzlichkeit quand même(EVM.: um
venerador pacifista da legalidade, sob todas as condições)”.
Logo depois da reedição da obra de Marx em questão, Engels
exigiu, energicamente, que sua “Introdução” fosse publicada, na
íntegra, na revista “Die Neue Zeit (O Novo Tempo)”.
Sem embargo, o Nr. 27/28, 2 Vol. 13° Ano, 1894/95 dessa
revista decidiu-se por publicar apenas a “Introdução” com as alterações e as
supressões referidas que Engels fora forçado a efetuar, sob
pressão da direção do SPD.
Entretanto, a despeito destas, é efetivamente possível
verificar que a “Introdução” em causa preserva, ainda assim, seu caráter
revolucionário, pouco podendo prestar-se às degenerações de posições, contidas
no artigo editorial do “Vorwärts(Avante)”, intitulado “Wie
man heute Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”.
Neste comenos, uma publicação integral da “Introdução”
de Engels não teve em lugar, na Alemanha, antes de eliminado o
perigo de promulgação de uma nova Lei contra os Socialistas.[121]
Assim, é perfeitamente correto afirmar que a luta interna
contra a integração da Social-Democracia Alemã ao regime do
Estado Prussiano começou muito antes de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht,
possuindo o seu dealbar já sob a inflexível batuta ideológica de Marx
e Engels, seja no quadro de suas contudentes críticas a todos os Programas
do SDAP/SAPD/SPD, seja no contexto da luta revolucionária em face da Lei
contra os Socialistas de 1878 a 1890.
Engels combateu,
implacavelmente, até ao dia de sua morte, a direção alegadamente “marxista”
de Wilhelm
Liebknecht, August Bebel, Karl Kautsky, Eduard Bernstein e
colaboradores que, na década de 90 do século XIX, seguiram imprimindo, eles
sim, enquanto “friedfertige Anbeter der Gesetzlichkeit quand même (EvM.: veneradores
pacifistas da legalidade, sob todas as condições), uma orientação invarialvelmente pacifista e
reformista ao Partido da Social-Democrarcia da Alemanha.
Por isso, os artigos de Engels foram repetidamente censurados ou
simplesmente não publicados.
De todo modo, falar do SPD, pura e simplesmente,
como o “partido de Engels” - sem destacar a luta travada por esse
último contra o filistinismo do “livre pensar” -, constitui um equívoco patente : caberia falar
ou do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) com que Marx
e Engels colaboraram criticamente a partir da Inglaterra – pois, ambos
haviam sido expulsos da Alemanha, logo após a Revolução
de 1848 – 1849, tendo sido Marx forçado a tornar-se apátrida -
ou do Partido que se opunha à orientação de Marx e Engels, em vez de
falar, sem mais nem menos, do “Partido de Engels”.[122]
Cabe, em verdade, a Ernst Mandel e aos incorrigíveis
adeptos e colaboradores do mandelismo – no estilo de Daniel Bensaïd -
defenderem a tese arenosa de que o “Partido de Engels” se integrou ao
imperialismo alemão, por permanecer em sua “velha e preservada tática”,
finalmente antagonizada por Rosa Luxemburgo.[123]
Por outro lado, cumpre destacar que a grandiosa e
corajosa luta travada pela águia revolucionária do proletariado, Rosa
Luxemburgo contra a direção social-reformista do Partido Social-Democrático Alemão
(SPD), possuía como elementos de enfraquecimento a própria postura
equivocada de Rosa Luxemburgo. Defendendo, por um lado, a derrubada de Wilhelm
II, Rosa mantinha invariável sua posição que rejeitava abertamente o
Direito de auto-determinação das nações oprimidas – contra a orientação de Marx
e Engels -, propugnava uma teoria de acumulação do capital inteiramente
revisionista – contra os posicionamentos de Marx e Engels -,
postulava, nas lutas proletárias, uma defesa essencialmente democratista de
direitos e liberdades fundamentais para todos os indivíduos e organizações
sociais – contra a concepção de Marx e Engels -, repudiava a teoria de Partido
centralizado e clandestino – contra a concepção de Marx e Engels, Lenin e os
bolcheviques -, o que, sem dúvida, favorecia estrategicamente, em grande parte,
as posições do social-reformismo e do oportunismo organizativo da Social-Democracia
Alemã.
Entre os proletários revolucionários alemães desse
período histórico encontraremos também aqueles que, não apenas defendendo a
derrubada do Imperador Alemão, inclinavam-se também – ainda que
intermediados por Karl Radek - a favor da defesa do modo de funcionamento e da
linha geral internacionalista do Partido Bolchevique de Lenin.
Reuniam-se em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e
Julian Borchard e de seu trabalho surgiram também importantes
sustentáculos, indispensáveis à fundação do Partido Comunista da Alemanha
(Liga Spartakus), em fins de 1918 e início de 1919, à qual se somaram Rosa
Luxemburgo, Karl Liebknecht, Franz Mehring e seus adeptos.
Coroando os trabalhos ecléticos trotskystas-gramscianos
dos conselheiros editoriais e secretários de redação da Revista
Outubro, desenvolvidos no interior do Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado (PSTU do Brasil), há que ressaltar ainda a
inequívoca e marcante influência que James Petras assume no quadro
da crescente infecção provocada pela enfermidade gramsciana no movimento
trotskysta contemporâneo e nas lutas de emancipação do proletariado.
Com efeito, Petras declara-se,
publica e ostensivamente, autêntico “Jünger” do pensamento
idealista-subjetivista de Gramsci, procurando permanentemente
mesclá-lo com o método coerentemente dialético do materialismo histórico de Marx
e Engels, Lenin e Trotsky, diametralmente oposto ao controsenso
gramscista.
Acerca de sua filiação ideológica surpreendemente
eclética, de natureza idealista-materialista, e
de orienteção política manifestamente castrista, assinala o
tão pranteado Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton, de
Nova York:
“... Em 1960, em San
Francisco, foi quando e onde conheci grupos marxistas que me convenceram de
suas idéias – ou delas eu me convenci por mim mesmo –, lendo libros de Marx, Lenin, Trotsky e Gramsci.
A verdade é que também
tornei-me radical, acompanhando a Revolução Cubana, cada vez que os cubanos se iam mais e mais à esquerda, declarando um Revolução
Socialista.”[124]
Segundo James Petras, a razão segundo a qual
resultaria justificado empreender-se um ecletismo doutrinário em face do
marxismo revolucionário de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, tange
à própria imprescindibilidade de distinguir entre ”marxismo vulgar” e
”marxismo consciente”, esse último articulado por “Lenin e
Gramsci”, esposado por “Guevara e Castro” e defendido,
contemporaneamente, do modo mais ardente, por Petras, ele mesmo :
“É necessário
entender a existência de um marxismo vulgar que antecipava determinadas
condutas a partir da posição de classe das pessoas.
Segundo essa
teoria, se alguém era operário, ia automaticamente tomar consciência de sua
condição, entrar na luta, organizar-se e combater.
Porém, na prática,
não era isso o que sempre acontecia.
Alguns setores,
sim, adquiriram consciência. Outros, não.
Essa forma
mecânica de ver as coisas perdeu vigência com a Revolução Cubana, particularmente
com os posicionamentos críticos de Che Guevara e de Fidel Castro, precedidos
dos de Lenin e Gramsci que falaram sobre a importância das influências
culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da História, do
que ocorre ao redor.”[125]
Eis aí a grande descoberta
epistemológica de James Petras que
permite, por assim dizer, superar o “marxismo vulgar
ou mecânico” rumo a um “marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento”, através
de “Lenin e Gramsci”, de Guevara e Castro, em conformidade com o
que torna-se possível contemplar a “importância das
influências culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da
História, do que ocorre ao redor...”.
Encômios, pois, ao “marxismo de James Petras” !!!,
i.e. ao “marxismo das influências culturais e do entendimento” de
“Lenin e Gramsci”, inspirador dos posicionamentos de Guevara e Fidel ...
Com esse “marxismo petrasiano”, i.e. “marxismo idealista-materialista consciente”, há
de se conceder a Petras o
seu devido lugar no curso da história o qual, a bem da verdade, já foi
apregoado por Contrainformación en Red – Rebelión – veículo jornalístico
organizado pelo próprio Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton, de Nova York, da seguinte forma acalentadora
:
“O movimento comunista não
brotou de Marx, mas sim do movimento proletário do século XIX,
ainda que Marx chegou a liderá-lo em parte.
Marx morreu em plena atividade,
não pôde ter tempo de escrever tudo.
Isso quer dizer que devemos ter
em conta todos os demais autores que contribuíram para o marxismo :
Engels,
Lenin, Trotsky, Bukharin, Rosa Luxemburg, Ernesto Guevara, Antonio Gramsci,
Marcos, Petras, Harnecker e outros mil, sendo que, ademais disso, o
marxismo deve estar permanentemente vivo, não ser aceito como dogma inflexível,
mas sim ser usado para analizar a realidade cambiante.
O marxismo deverá ser ampliado
pelas conclusões de que a classe trabalhadora extráia de suas novas condições
materiais, em relação com os movimentos emancipatórios da mulher e das raças,
comunidades oprimidas, ecologismos políticos, movimentos anti-militaristas
etc., e todos e todas devemos contribuir para esse processo de estudo, crítica
e construção.”[126]
Porém, perguntar-se-ia
ao leitor : o que, afinal de contas, postula efetivamente o leninismo trotskysta-gramsciano de James Petras, vislumbrado da maneira
mais clarividente possível nos posicionamentos críticos político-práticos,
supostamente “comuns”, de Guevara e Fidel ?
James Petras teria,
de fato, com base em sua concepção eclética “idealista-materialista”,
contribuído
para “ampliar o marxismo” ou para propagar uma
ideologia voltada a confundir, entorpecer, embaçar, entibiar, embotar e
retardar a concepção proletária revolucionária dos lutadores dedicados à defesa
de todos e cada um dos fundamentos essenciais do socialismo científico de Marx e Engels ?[127]
Ao leitor, caberá
extrair, pois, suas próprias conclusões, com base nas afirmações do próprio James Petras, elaboradas acerca do Manifesto Comunista de Marx e Engels, as
quais demonstram qual o preciso significado e aspiração da corrente trotskysta-gramsciana, no interior das lutas
de emancipação do proletariado na atualidade :
“A seqüência da expansão capitalista, a
destruição dos vínculos tradicionais e a integração global foi, segundo Marx, o processo de criação de uma
classe trabalhadora unificada, consciente de seus interesses de classe e ligada
através de fronteiras nacionais. Sua
cadeia de raciocínio (SvK: i.e. a cadeia de raciocínio de Marx e Engels,
afirma Petras) possui falta de
entendimento claro acerca
da importância das tradições e dos vínculos sociais que precedem o capitalismo,
desempenhada na criação de solidariedade social para confrontar o capitalismo e
sustentar a consciência de classe.
Quando Marx descreve a burguesia enquanto redutora das relações humanas a
“nexos de pagamento à vista”, tal qual um prelúdio ao desenvolvimento da
consciência de classe, ele encontra-se essencialmente descrevendo a condição da
classe trabalhadora dos EUA – provavelmente a menos desejosa e hábil a
identificar sua fonte de exploração quanto mais a luta contra essa última. O
despir das velhas crenças – que Marx e
Engels denominaram, lamentavelmente, de “sentimentalismo filistino” –
inclui o sentido de comunidade e não necessariamente a crença em um “superior
natural”.
Assim, a admissão de que “a insegurança
e a agitação duradouras” que os autores do Manifesto associam ao
“revolucionamento dos meios de produção” do capital não necessariamente “obriga
(o homem) a afrontar com sentidos sóbrios suas condições reais de vida e suas
relações com sua espécie.” Na realidade, os processos econômicos estão tendo os
efeitos opostos no aprofundamento da reação, atomizando o trabalho, estimulando
a guerra étnica e alimentando um vasto vapor de produção econômica através da
América Latina, da África e da Ex-URSS, bem como em outros lugares.
Assim, a centralidade da “tradição”, da
cultura e da comunidade no definir a formação da consciência de classe
encontra-se perdida diante da verve de Marx e Engels e de sua celebração
acrítica do potencial revolucionário do desenvolvimento das forças de produção.
Similarmente, o asselvajamento da força de trabalho do Terceiro Mundo,
processando-se sob a égide da internacionalização do capital, não conduziu a
maior consciência de classe ou a comportamento “civilizado”.
Um olhar para as zonas livres de
comércio haveria de dissuadir qualquer um dessa noção. Pelo contrário, isso rompeu
laços de classe e promoveu maior reverência e servilidade.
A globalização burguesa não criou “um mundo segundo a sua imagem”, tal como
Marx e Engels alegaram. Hoje, essas coisas são “pietismos sentimentais”,
impressos nos folhetos de propaganda das relações públicas do Banco Mundial,
trompeteando a “modernização” do Terceiro Mundo.
Sua
falta de um sentido de consciência de classe diretamente relacionada com os
produtores e não derivada do processo capitalista de produção esclarece as
dificuldades que muitos “marxistas” possuem de criar uma alternativa ao
capitalismo. Hoje, os capitalistas não “conclamam à existência os homens que
manejarão as armas” para assestarem um golpe mortal ao capitalismo. Criam
milhões de trabalhadores atemorizados, incertos e temporários, ligados ao nexo
do pagamento à vista. Para tornar-se
marxista, no sentido da realização dos objetivos do Manifesto Comunista, é
necessário rejeitar as falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel
revolucionário” da burguesia. Para mover-se rumo à ação da classe trabalhadora,
a concepção de Marx e Engels tem de ser sujeitada à crítica mais ácida. (no
original : subjected to the harshest criticism)....
Onde Marx e Engels dizem que “a consciência do homem modifica-se com
cada uma das modificações havidas nas condições de sua material existência, em
suas relações sociais em sua vida social”, as mudanças que o capitalismo
produziu minaram a construção de uma consciência revolucionária, em todos os
pontos. A noção de que a burguesia revoluciona a produção através da competição
e, no curso, “força” os trabalhadores a “confrontarem” suas condições e,
subseqüentemente, a agregarem-se conjuntamente, é falsa, em todas as contas.
A
mudança mais importante não é o revolucionamento da produção, mas sim a
transformação das relações políticas e sociais, por todas as partes do mundo,
de um modo em que se mina a possibilidade de “reconhecimento material de
proletários.”
Para
falar do Manifesto hoje, é preciso mover-se da brilhante análise econômica para
as conclusões revolucionárias, construindo uma nova teoria da ação
revolucionária.”[128]
Em vista de tudo isso e desse
absurdo e descarado revisionismo petrástico da doutrina de Marx e Engels –
difundido, no quatro cantos do mundo, a título de “teoria da ação revolucionária” -
é tanto mais estarrecedor ouvir-se de Valério Arcary, em sua intervenção,
proferida no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005, as seguintes
palavras, em linguagem de epígono:
“Que o Estado burguês, como nos ensinou
Petras, existe como um aparato duro, cuja função é preservar a ordem e a
propriedade privada, que não hesitará em aplicar a violência mais implacável
sobre aqueles que ameaçarem a sua dominação.”[129]
Se, mesmo Nahuel Moreno, em vida,
não entreviu sentido fundado algum para enfeitar-se com e difundir o impacto do
revisionismo
marxista-engelsiano ácido-crítico, de matiz trotskysta-gramsciano de James
Petras, Arcary demonstra encontrar motivos de sobra para, no alvorecer
do século XXI, declarar até mesmo que James Petras “nos” ensinou que o Estado
Burguês existe como aparato duro, cuja função é preservar a ordem e a
propriedade privada ..., que não hesitará em aplicar a violência mais
implacável sobre aqueles que ameaçarem a sua dominação ...
O tempora, o mores !
Quae fuerunt vitia, mores sunt !
Isso “nos”
foi ensinado por Petras ! Por Petras ! Por Petras ! Por Petras !, tal
como disse Menandro « Θεòς
εχ μηχανής », aparecendo,
no quadrante da história universal, tal qual um Deus ex machina que
promulga o seu fiat lux !
Pereant qui ante nos
nostra dixerunt !
Pereçam os que disseram
as nossas coisas antes de nós !
Certamente, por isso, Marx formula,
precavidamente, o conselho que poderia também ser repetido por quatro vezes, sem
embargo de modo muito mais instrutivo e sabiamente : Se voltarmos nosso olhar à História, a grande Professora
da Humanidade (Wenden wir unseren Blick der Geschichte, der großen Lehrerin der
Menschheit zu ...)[130] ...
Referida lição sobre o Estado
burguês ensinou-“nos”, assim, Petras, o Professor de
Sociologia da Universidade de Birghampton, de Nova York, na
medida em que “foi capaz de criar a idéia” de criticar acerbamente a “cadeia
de raciocínio de Marx e Engels”, visto que para mover-se em direção da
ação da classe trabalhadora, “a concepção de Marx e Engels tem de ser sujeitada à mais ácida crítica, i.e. subjected to the harshest criticism)...”
Trabalhador ! Que fazer para tornar-te marxista ?
Lutador da cidade e do campo ! Como agir para mover-te rumo à
ação da classe trabalhadora ?
Eis o antídoto petrástico :
“Para
tornar-se marxista, no sentido da realização dos objetivos do Manifesto
Comunista, é necessário rejeitar as
falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel revolucionário” da
burguesia.
Para
mover-se rumo à ação da classe trabalhadora, a concepção de Marx e Engels tem de ser sujeitada à crítica mais
ácida. (no original : subjected to the harshest criticism)....” [131]
Assim :
Rejeitai as falsas premissas de Marx e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia, para que ... para que ... para que ... para
que vos torneis marxistas!
Sujeitai a concepção de Marx e Engels à
crítica mais ácida !
Tendo-vos tornado “marxistas” por meio da crítica mais
ácida a que haveis submetido a concepção de Marx e Engels, aprendei a
lição originalíssima acima referida sobre o Estado Burguês que Petras
“nos”
ensinou.
Uma vez rejeitada as falsas premissas de Marx
e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia, sujeitada
a concepção de Marx e Engels à crítica mais ácida e absorvida,
in
continenti, sem detença, a lição inatíssima sobre o Estado
Burguês que Petras “nos” ensinou, ... haveis de
transitar rumo ao ápice de todo o edifício, em verdade, rumo à doutrina
ontológica dos “marxismos” !
Esse fundamento ensinou-“nos” também
Petras, o Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton,
de Nova York, na medida em que previu, como acima ficou indicado,
a existência dicotômica dos “marxismos”, a saber :
a.
o “marxismo
vulgar ou mecânico”, forma petrificada de ver as coisas que perdeu a
vigência com a Revolução Cubana ;
b.
o ”marxismo
consciente ou das influências culturais e do entendimento”, esse último
o de “Lenin e Gramsci”, esposado por “Guevara e
Castro”.
Portanto :
E ... uma vez rejeitada as falsas premissas de Marx
e Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia, e
... sujeitada a concepção de Marx e Engels à crítica mais ácida, e
... absorvida, prontamente, a lição inatíssima sobre o Estado
Burguês que Petras “nos” ensinou e ... aprendida
a lição
sobre os “marxismos” vulgar/mecânico e
consciente-das-influências-culturais-do-entendimento, ... é
imprescindível que vos aprofundeis, ainda mais, nesse último domínio da doutrina
ontológica
dos “marxismos”, pois aí reside o punctum saliens, i.e. o
núcleo da coisa toda.
Esse punctum saliens ensinou-“nos”
também Petras, o Professor de Sociologia da Universidade de
Birghampton, de Nova York, na medida em que, mais recentemente, “foi capaz
de criar a idéia”, relacionada com a doutrina do ”marxismo com lado positivo ou
verdadeiro”, em relação antitética ao ”marxismo com lado
negativo”, ambos suplementados sinteticamente pelo “marxismo
acadêmico” e pelo “marxismo aplicado-criativamente, em sentido
histórico”.
Consolai-vos, pois, a doutrina ontológica dos “marxismos”,
expressada, de modo empírico, no fenômeno “dialético” dos ”marxismos” com
lados positivo/verdadeiro-negativo-acadêmico-aplicado-criativamente, foi
elaborada, por Petras, em sentido histórico, à maneira de teses ex
cathedra, o que facilita substancialmente seu aprendizado.
Sua doutrina sobre os “marxismos” encontra-se, assim,
plasmada em 5 Contribuições e 10 Razões de Difusão do MARXISMO (sic) !
Nisso, Petras não hesitou em pronunciar-se tal qual Giovanni
Pico, no século XV, quando em Roma, proclamou aos
presentes suas teses De omni re scibili et quibusdam aliis ...
Dai ouvido às Teses do Mestre, ó leitor de todo o mundo,
pois :
Por que estáis rindo? A
fábula refere-se a ti mesmo !
“Quid rides ? De te
fabula narratur !” :
“James Petras. A Difusão
do Marxismo e o Desenvolvimento do Movimento da Classe Trabalhadora
(Entra em cena a introdução, seguida por Cinco, Cinco, Cinco, Cinco Contribuições sob
o título O Que o MARXISMO (sic) ensina
aos trabalhadores?
Pergunta-se :
“Quais são as Maiores
Contribuições do MARXISMO (sic) para a Luta Operária? O Que o Marxismo ensina
aos trabalhadores :”
O Mestre elenca as
Cinco, Cinco, Cinco, Cinco Contribuições.
Saem as Cinco, Cinco,
Cinco, Cinco Contribuições de cena e entram, então:)
AS DEZ, DEZ, DEZ, DEZ
RAZÕES PARA DIFUNDIR O MARXISMO ENTRE OS TRABALHADORES – EXPLICAÇÃO ADICIONAL
(Elecam-se Nove,
Nove, Nove, Nove Razões.
Saem as Nove,
Nove, Nove, Nove Razões de cena.
Chegamos, então, à
cumeeira, ao clímax, ao cume, à conclusão das Dez, Dez, Dez, Dez Razões para
Difundir o Marxismo entre os Trabalhadores : )
(...)
DÉCIMA RAZÃO.
O marxismo tem tanto uma
história positiva como uma histórica negativa.
O lado negativo do “marxismo” encontra-se em sua sumária expressão metafísica “hegeliana”, que “nunca toca a terra” – que está
desprovida da análise concreta e divorciada da luta de classes.
O marxismo verdadeiro é histórico e empírico, relaciona a teoria com a
compreensão das experiências concretas, históricas e contemporâneas.
O marxismo
negativo é dogmático, imitativo e acadêmico e depende de uma “linguagem
exótica”.
Está fechado para as novas idéias, experiência e
realidades.
Todas as respostas encontram-se em um livro fechado,
mencionado por líderes ou regimes cujas experiências são copiadas, sem
considerar as especificidades históricas, culturais, políticas e de classe.
Os marxistas
acadêmicos (EvM.: ouçam bem : todos ..., todos ..., todos ..., todos ... os
que se enquadram na categoria “marxista”-petrástica dos «marxistas acadêmicos»)
falam entre si em um jargão muito técnico, divorciado das lutas práticas
dos trabalhadores e camponeses, são extensos nas críticas e curtos nas soluções
e alternativas práticas.
Os marxistas
positivos estão abertos a novos conceitos, examinando os fenômenos novos
(problemas da burocracia, intelectuais, destruição ecológica, Organizações não
governamentais etc.) e introduzindo conceitos novos que estendem a análise
Marxista a áreas novas.
Os marxistas
aplicam criativamente conceitos básicos a estruturas de classe específicas,
particulares, históricas e culturais.
Rechaçam o “copiado” mecânico de outros “modelos” de
revolução ou estratégia política.
Reconhecem as mudanças no tempo, lugar, estrutura de
classes e correlação de forças.
O marxismo
positivo não apenas “estuda” os problemas, senão ainda está orientado para
a ação.
Para relacionar sua análise com a prática emprega uma
linguagem compreensível para os trabalhadores.
Por todas essas razões, o progresso do movimento
operário, o desenvolvimento e a difusão das idéias marxistas entre a classe
operária e a luta de classes estão indissoluvelmente ligados.”[132]
Suplementando a dicotomia acima referida existente entre os “marxismos” vulgar/mecânico
e consciente-das-influências-culturais-do-entendimento, com estas dos “marxismos”
com lados positivo/verdadeiro
e negativo, tanto uns quanto
outros completados sinteticamente pelos “marxismos” acadêmico e aplicado
criativamente, em sentido histórico, alcançamos, então, o âmago da
doutrina ontológica dos “marxismos”.
Não podendo dividir fisicamente Karl Marx em pedacinhos, Petras
divide o marxismo em “marxismos”, dele construindo,
“criativamente”, uma doutrina fantástica e sobrenatural, formada
por diversas porções que compõem o pensamento do de cujus : uma
delas possui o braço ..., a segunda, os olhos ..., a terceira,
os pés ..., a quarta, os dedos ... , tais quais arrancadas por um mago de sua
cartola sem fundos.
E com efeito, diz-nos Horácio :
“Humano capiti cervicem
pictor equinam jungere si velit
Se a uma
cabeça humana um pintor quisesse juntar um pescoço de cavalo
et varias inducere
plumas undique collatis membris
e
acrescentar várias penas, apanhando membros por todos os lados
ut turpiter atrum
desinat in piscem mulier formosa superne
de modo
que, degraçadamente, terminasse em peixe tenebroso uma mulher de seios
formosos
spectatum admissi risum
teneatis, amici ?”
uma vez
admtidos a contemplá-la, amigos, haveis de conter o riso ? [133]
Recapitulemo-la, porém, a “criativa” doutrina
ontológico-petrástica dos “marxismos”, composta pelas seguintes
partes ou “lados” (sic) :
1 .o ”marxismo vulgar ou mecânico”, forma petrificada de
ver as coisas que perdeu a vigência com a Revolução Cubana ;
2. o ”marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, esse último o de “Lenin e Gramsci”, esposado
por “Guevara e Castro”.
3. o “marxismo positivo ou verdadeiro” que é histórico e empírico
e não possui linguagem exótica, em oposição ao “marxismo negativo”
;
4. o “marxismo negativo” de linguagem exótica e dogmático
que encontra sua sumária expressão metafísica
“hegeliana”, que “nunca toca a terra” – que está desprovido da análise concreta
e divorciado da luta de classes, permanecendo fechado para as novas idéias,
experiências e realidades, especificidades históricas, culturais, políticas e
de classe ;
5. o “marxismo acadêmico” falado entre os acadêmicos com
base em um jargão muito técnico, divorciado das lutas práticas dos
trabalhadores e camponeses, extensos nas críticas e curtos nas soluções
práticas;
6. o “marxismo aplicado
criativamente”, dotado de conceitos básicos aplicados a estruturas de
classe específicas, particulares, históricas e culturais, que rechaça o
“copiado” mecânico de outros “modelos” de revolução ou estratégia política,
reconhecendo as mudanças no tempo, lugar, estrutura de classes e correlação de
forças.
Não constitui verdadeiramente nenhum
assombro o fato de que os gramscistas monistas e seus
colaboradores dualistas ou trialistas – neo-stalinistas-gramscianos,
stalinistas-maoístas-gramscianos, trotskystas-gramscianos et caterva - fundam-se, prazeirosamente, na doutrina
ontológica dos “marxismos”, tão detalhadamente reciclada por James
Petras, que consagra, em seu zênite, o “marxismo aplicado
criativamente”.
Pois, também o “Grande Teórico Mais Recente” em
matéria de “Internacionalismo e Política Nacional” – segundo Gramsci
– foi um de seus mais insígnes adeptos, difundido-a, em escala nunca
d’antes conhecida, ao mesmo tempo em que combateu ferrenha e saguinolentamente
o “marxismo
dogmático”, i.e. na taxilogia petrástica : “o marxismo negativo”.
Ouçamos as contundentes e
instrutivas considerações de Iossif Vissarianovitch Djugaschvili Stalin sobre
o tema :
“Existe um marxismo dogmático
e um marxismo criativo.
Eu me situo sobre o terreno desse último.” [134]
Como vemos, o “marxismo criativo”, “dotado de conceitos básicos aplicados a estruturas
de classe específicas, particulares, históricas e culturais, que rechaça o
“copiado” mecânico de outros “modelos” de revolução ou estratégia política,
reconhecendo as mudanças no tempo, lugar, estrutura de classes e correlação de
forças (sic)” também foi defendido, abertamente, por Stalin, constituindo,
pois, um produto inevitável e necessário do filistinismo do “livre pensar”
que é pai da ideologia essencialmente stalinista-meta-marxista de Gramsci
que gerou os neo-stalinistas gramscianos-reciclados, dos
quais nasceram os stalinistas maoístas-gramscianos que procriaram os meta-marxistas
gramscianos que são os genitores dos trotskystas-gramscianos e
gramsciófilos
que, finalmente, unius sunt substantiae et virtutis ac potestatis, são de uma única substância, força
e poder, conformadora do socialismo alegórico gramsciano meta-marxista de nosso corrente
século XXI.
E, portanto, non nova, sed nove ..., i.e. não se trata de coisas novas,
mas de coisas apresentadas de outra maneira.
Se Stalin, ele mesmo,
perfilha-se, voluntariamente, entre as fileiras daqueles que defendem o “marxismo
criativo” – em contraste com os adeptos do “marxismo dogmático” –
cumpre verificar que, também os reputadamente perfilhados no terreno do “marxismo consciente
ou das influências culturais e do entendimento” – tal como Fidel
Castro, por Petras expressamente referido - perfilham-no no domínio do “marxismo
criativo”, na medida em que reconhecem os méritos daquele que, segundo Gramsci,
é “o Grande Teórico Mais Recente” em matéria de “internacionalismo e
política nacional”, i.e. o próprio Iossif Stalin.[135]
Cotejemos, assim, o latim da
ideologia de Castro :
“ENTREVISTA DE
TOMAS BORGE :
(...)
Pergunta de Borge : Fidel,
para a maioria dos dirigentes revolucionários latino-americanos, a crise atual
do socialismo possui um precursor : Josef
Stalin.
Resposta de Fidel
Castro : Eu acredito que Stalin cometeu grandes erros, porém, demonstrou,
possuir grande inteligência.
Na minha opinião, culpar Stalin por todas as coisas que ocorreram na União Soviética constituiria um simplismo histórico, porque ninguém
por si mesmo poderia ter criado certas condições.
Isso é impossível !
Creio que os esforços de milhões e milhões de pessoas
heróicas contribuíram para o desenvolvimento da União Soviética e para o seu
papel de relevo no mundo, em favor de centenas de milhões de pessoas. (...)
Pergunta de Borge : Na sua opinião, Fidel, quais foram os méritos de Stalin?
Resposta de Fidel
Castro : Stalin estabeleceu a unidade na União Soviética. (SvK.: ouça bem os argumentos de Castro, Sr. Professor Quartim de Moraes, que tanto se engaja
na busca de argumentos racionais e razoáveis para a defesa apologética da
mitologia stalinista, ouça bem os argumento de Castro!)
Ele consolidou o que Lenin
iniciou : a unidade do Partido.
Stalin conferiu ao movimento revolucionário internacional um
novo ímpeto.
A industrialização da
URSS foi uma das ações mais inteligentes de Stalin e acredito que isso foi um fator determinante para a
capacidade de resistência da URSS.
Um dos grandes méritos de Stalin – e sua equipe o apoiou – foi o plano de transferir a
indústria de guerra e as principais indústrias estratégicas para a Sibéria, bem
para dentro do território soviético.
Acredito que Stalin
dirigiu bem a URSS, durante a
guerra.
De acordo com muitos generais (SvK.: Castro refere-se aqui evidentemente aos generais soviéticos que
sobreviveram ao terror contra-revolucionário stalinista, i.e. àqueles não
exterminados sumariamente ou nas encenações dos Processos de Moscou por Stalin,
tal como Tukhatchevsky, Raskolnikov, Blüchner, Antonov-Ovseienko, Bubnov,
Dybenko, Yegorov, Gamarnik, Uborevitch e tantos outros, acusados de alta
traição à pátria socialista, trotskysmo, agentes nazistas etc.), Jukov e os
mais brilhantes generais soviéticos, Stalin
desempenhou um importante papel na defesa da URSS e na guerra contra o nazismo.
Todos eles reconhecem isso.
Acho que deveria existir uma análise imparcial de Stalin.
Culpá-lo por todas as coisas que aconteceram seria um
simplismo histórico.”[136]
Redendo-se irremediavelmente ao castrismo
stalinista, sob o disfarce gramsciano da defesa da doutrina de Marx
e Engels, Lenin e Trotsky, assevera, então, James Petras, patrono espiritual do “marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, seguidor do “marxismo criativo”, em entrevista
concedida a Pablo Scatizza, em 10 de julho de 2003 :
“ENTREVISTA DE PABLO SCATIZZA :
(...)
Pergunta
de Scatizza a Petras : Você não acredita
que a Argentina perdeu uma oportunidade histórica, depois das jornadas de 20 e
21 de dezembro (SvK.: de 2002) ?
Resposta
de James Petras : Sim .. bem, perdeu
e alguma coisa escapou, para dizê-lo melhor. Acredito que o levante de dezembro
foi uma sublevação espontânea, não uma revolução.
Uma
revolução implica uma organização política, um respaldo de massas, uma
liderança, um programa.
O levante popular de dezembro foi um grande ato de
repúdio de um regime, não do Estado.
Não há Sovietes, nem há Exército Vermelho, nem há Fidel
Castro.
As
experiências variam, porém em nenhuma das experiências podem ser localizadas os
fatores essenciais.”[137]
Sintetizando, nessa mesma ocasião, a
essência máxima de sua doutrina de como “mover-se em direção à classe trabalhadora”,
doutrina essa amargamente crítica das concepções insculpidas no Manifesto do Partido Comunista,
de Marx
e Engels, e repudiadora da “verve de Marx e Engels e de sua celebração
acrítica do potencial revolucionário do desenvolvimento das forças de produção”
–, James Petras, alegando que os movimentos adotam uma série de
reinvindicações e alternativas programáticas – o que é positivo e importante –
porém, “falta-lhes uma compreensão teórica da natureza da evolução do sistema
imperial(sic)” ..., necessária para solucionar “a desunião dos movimentos
urbanos e rurais ...”, posto que os movimentos existentes juntos, se
estivessem unificados em um só movimento coerente, estariam mais próximos de “disputar
o poder estatal” ...,[138] assinala, então :
Pergunta
de Scatizza a Petras : Em “Classe, Estado e Poder no Terceiro
Mundo”, onde você analisa as lutas de classe na América Latina, fala da
importância da organização para poder triunfar em uma revolução. Menciona a
necessidade de líderes, quadros, combatentes, militantes e simpatizantes,
organizados nessa ordem. Refere-se ao fato de que hoje não existe na esquerda
esse tipo de estrutura ?
Resposta
de James Petras : Não apenas estrutura,
senão também maneira de pensar. Se pensamos no êxito das revoluções que
existem, elas são uma grande extensão de poderes.
China, por exemplo, formando
centenas de milhares de quadros e milhões de simpatizantes, milhões.
Cuba avança da insurreição para conseguir apoio de
milhões.
Então,
você não pode construir uma formação revolucionária com simples quadros soltos.
Tem de ser uma organização ampla que inclua muitos
setores.
Fidel Castro disse que uma organização que se combina com
religiosos revolucionários, teologia da libertação, marxistas, nacionalistas
radicais, democratas avançados, pode e todos esses setores podem participar de
uma transformação.
Porém,
reduzir simplesmente a organização a uns quadros, a uns líderes, confundindo
isso com uma vanguarda, é uma exceção. ...
.”[139]
Inteiramente de acordo com a idéia de que “temos
um farol que ilumina tudo, desde a ilha de Cuba, como Fidel Castro”, idéia
essa estabelecida como parâmetro para a compreensão dos fenômenos
sócio-econômicos e cultural-ideológicos que se perpassam a América Latina, pontica,
então, James Petras, já inteiramente desvairado, alucinado, dominado pela paixão cega e arrebatadora pelo castrismo
stalinista do “marxismo criativo” e pelo “marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, que possuem em Fidel Castro seu grande
luminar na atualidade :
“A grande
confrontação entre o império militar dos EUA e o movimento
antiglobalizante fez-se presente em Monterrey, com Fidel Castro
falando pelos oprimidos e contra a globalização e Bush
defendendo o militarismo, oferecendo ao Terceiro Mundo menos ajuda anual
do que destina ao regime responsável pela invasão de Israel.”[140]
Vejamos, agora, como o ”marxismo consciente ou das
influências culturais e do entendimento” de Castro é defendido,
alienadamente e apologeticamente, por James Petras, de modo tanto
mais desequilibrado, delirante, absurdo, idólatra e criticamente impotente,
imediatamente após as burocráticas execuções sumárias de três cubanos
dissidentes, orquestradas arbitrariamente pelo chefe militar absoluto Fidel
Castro, bem ao sabor do ”marxismo criativo” de Stalin,
em abril de 2003, em nome de uma suposta legítima defesa da Revolução
Cubana.
Eis
como Petras pronuncia-se, de modo inteiramente leviano e
alucinado, sobre o tema, como forma de legitimar as posições
burocrático-tirânicas do castrismo stalinista :
“Novamente os intelectuais decidiram intervir em
um debate, desta vez sobre o imperialismo estadunidense e os direitos humanos
em Cuba.
« Que importância tem o papel dos intelectuais?
»
Perguntei a mim mesmo numa tarde ensolarada de
sábado (em 26 de abril de 2003), enquanto passeávamos pela madrilena Porta do
Sol e o eco dos gritos contra Castro de
várias centenas de manifestantes ressoava na praça quase vazia.
Apesar de uma dezena de artigos e colunas de
opinião de conhecidos intelectuais nos principais jornais de Madri, das horas
de propaganda no rádio e televisão e do apoio de burocratas sindicais e xerifes
de partidos, somente responderam à convocatória uns oitocentos manifestantes, a
maior parte deles exilados cubanos. "Está
claro", respondi, "que os intelectuais contrários a Cuba tem pouco ou
nenhum poder de convocação, pelo menos na Espanha" ...
O que os
"progressistas" não podem ou não querem reconhecer é que os detidos
eram funcionários a soldo do governo estadunidense. ...
Nenhum país do mundo tolera o
rótulo de "dissidentes" àqueles entre seus cidadãos que estão a soldo
e trabalham para promover os interesses imperiais de um poder estrangeiro. ...
Aos intelectuais críticos é fácil ser "amigos de Cuba" nos bons
tempos de celebrações, quando os convidam a dar conferências.
É muito difícil ser "amigo de Cuba"
quando um império ameaça a ilha heróica e coloca suas pesadas mãos sobre seus
defensores.
É em tempos como os atuais - com guerras
permanentes, genocídios e agressões militares - quando Cuba necessita a
solidariedade dos intelectuais críticos, solidariedade
que está recebendo de todas as partes da Europa e, em particular, da América
Latina.
Já está na hora de que nós, nos Estados Unidos, com nossos ilustres e
prestigiosos intelectuais progressistas, de sensibilidades morais majestosas,
reconheçamos que há uma revolução vital,
heróica, que luta para defender-se contra o gigante do norte e,
modestamente, deixemos de lado nossas importantes declarações, apoiemos esta revolução e nos unamos aos milhões de cubanos que
acabam de celebrar o primeiro de maio com seu líder, Fidel Castro.”[141]
Per Gramsci ad Petras !
Per Petras ad Castro !
Per Castro ad Stalin !
Per his omnibus ao
“marxismo criativo“, ao “marxismo consciente ou das influências culturais e do entendimento”, ao
socialismo alegórico gramsciano meta-marxista, ao filinismo do “livre pensar” !
Per angusta ad augusta, através de estreitos
caminhos até às regiões mais sublimes.
Per ardua ad astros, através de árduos
sendeiros até aos astros.
No quadro de sua concepção ácido-crítica, Petras
converte a necessária defesa que deve ser por todos empreendida em
favor da independência, da luta, da soberania e do socialismo, perseguidos pelo
povo cubano, em sua resistência contra o embargo e a invasão imperialistas,
orquestrados pelos EUA e aliados, em uma apologia do governo burocrático-despótico
de Fidel
Castro e seus asseclas filostalinistas.
Quereis, entretanto, disputar a
validade do “marxismo criativo” ?
Debalde.
Apesar de possuir linha certa de descendência
paterna – tal qual a indicamos – o “marxismo criativo” reivindica para
si, tal como um gerador poiético, status de Pallas Erichthonium, i.e.
o prolem
sine matre creatam de Ovídio, i.e. o status de ser filho
nascido sem mãe[142].
Se podemos gerar, criativamente, “marxismos”
ad libitum, ao nosso bel prazer, perfilhando-nos sob a divisa Quod
volumus, facile credemus, i.e. aquilo que queremos, acreditamo-lo
facilmente, para que, afinal de contas, desperdiçar-se tempo no estudo dos
fundamentos do socialismo científico de Marx e Engels, visto que, segundo Gramsci, “Marx se havia
contaminado com incrustrações positivistas e naturalistas. ...” ou, ainda, segundo Petras, “Para tornar-se marxista, no sentido
da realização dos objetivos do Manifesto Comunista, é necessário rejeitar as falsas premissas de Marx e
Engels acerca do “papel revolucionário” da burguesia”, já que o “marxismo tem tanto uma
história positiva como uma histórica negativa”, sendo que “o lado negativo do “marxismo” encontra-se em sua sumária expressão metafísica “hegeliana”, que “nunca
toca a terra” (sic).”[143]
Entretanto, se, por um acaso, depois
de toda essa nossa detalhada e minuciosa exposição teórica da doutrina
ontológica dos “marxismos”, tal como formulada no pensamento de Petras,
o leitor trabalhador sinta que não tenha absorvido ainda os fundamentos
mais essenciais da coisa toda, creio que não se deve absolutamente preocupar.
Tanto Lenin quanto Sverdlov,
tanto Trotsky quanto Karl Liebknecht
e outros inúmeros revolucionários proletários, infensos ao “marxismo aplicado criativamente”,
haveriam de ter obtido nota « zero » no aprendizado dos
ensinamentos de Petras, já porque ... não rejeitaram as supostas “falsas
premissas” de Marx e Engels acerca do “papel
revolucionário” da burguesia, já porque ... não sujeitaram a
concepção de Marx e Engels à crítica mais ácida, já porque ... absorveram
a lição sobre o Estado Burguês que Marx e Engels “lhes” ensinaram, já porque
... rechaçaram, abertamente, tudo aquilo que se asselhamasse a uma doutrina ontológica dos
“marxismos”, tauxiada em 5 Contribuições e 10 Razões de Difusão do MARXISMO (sic)
!
Eis aí um belo exemplo
de como não se deve difundir as idéias marxistas junto à classe
trabalhadora.
Como se tudo isso não bastasse, Petras
equivoca-se redondamente, pela enésima vez, ao abordar, de modo
depreciativo, o significado que a metafísica hegeliana adquiriu e
segue adquirindo para o marxismo revolucionário.
Pois, é o próprio Marx que
nos informa :
“Porém,
precisamente quando eu elaborava o primeiro volume de “O Capital”, os epígonos enervantes, prepotentes e medíocres, que
pronunciam, nos dias de hoje, as grandiosas palavras, na Alemanha culta,
pretenderam tratar Hegel tal como o
comportado Moses Mendelssohn, ao tempo de Lessing,
tratou Spinoza, i.e. nomeadamente como um “cachorro morto”.
Reivindiquei-me, por isso,
abertamente, como discípulo daquele grande pensador e cortejei, até mesmo, aqui e ali,
no capítulo acerca da teoria do valor, o modo de expressão próprio de Hegel.
A
mistificação que a dialética sofreu nas mãos de Hegel não lhe impediu, absolutamente, de ter apresentado, pela
primeira vez, suas formas gerais de movimento, de maneira mais abrangente e
mais consciente.
Em
Hegel,
a dialética encontra-se
de cabeça para baixo.
É
necessário virá-la, a fim de descobrir o cerne racional no envólucro místico.”[144]
Imaginemos, agora, por um único
momento, Marx, que se declarou expressamente díscipulo do grande pensador,
Hegel, dizendo o seguinte, em conformidade com o léxico petrástico
: como a metafísica “hegeliana” nunca toca a terra e está desprovida da análise
concreta e divorciada da luta de classes, devo dedicar-me ao “marxismo verdadeiro” que..., que..., que..., que ... é histórico e empírico, relacionando a
teoria com a compreensão das experiências concretas, históricas e
contemporâneas.
Além disso, a idéia de Petras
de que o marxismo possui uma história positiva e negativa nada
mais é senão mais uma idéia fantasmagórica, ácido-crítica, de linhagem
eclética, materialista-idealista, leninista-trotskysta-gramsciana-castrista,
voltada contra Marx e Engels, Lenin e Trotsky.
O marxismo não têm e não
podem ter história positiva e negativa, não pode ter lados, quais sejam o lado
positivo-verdadeiro – histórico-empírico e receptivo, despido de linguagem
extravagante - e o negativo
– hegeliano-metafísico, dogmático-imitativo, dotado de linguagem exótica.
Não há e não pode haver, em sentido
dialético-materialista, o marxismo positivo e o marxismo
negativo, o marxismo acadêmico e o marxismo criativo, tal como se
estivéssemos tratando de uma colcha de retalhos, tanto apreciada pelos
pensadores contaminados pelo gramscismo idealista-subjetivista.
Admitir uma tal formulação significa
projetar no marxismo valores axiológicos próprios do analista que o aborda,
segundo o ponto de vista que lhe convém, no contexto de sua investigação.
Visando efetivamente à “difusão
do
marxismo
e o desenvolvimento do movimento da classe trabalhadora”, Petras,
afastando-se de toda metafísica quimérica, deveria ter-“nos” ensinado algo no
seguinte sentido :
“O marxismo é um sistema
de concepções e ensinamentos de Marx.
Marx foi o gênio que continuou e consumou as três
principais correntes ideológicas do século XIX, tais como representadas pelos
três mais avançados países da humanidade : a filosofia clássica alemã, a
economia política clássica inglesa e o socialismo francês, combinado, em geral,
com as doutrinas revolucionárias francesas.
Reconhecido até mesmo por seus oponentes, a consistência
e a integridade notáveis das concepções de Marx
– cuja totalidade constitui o materialismo
moderno e o socialismo científico
moderno, enquanto teoria e programa do
movimento da classe trabalhadora em todos os países civilizados do mundo -, torna-se
para nós necessário apresentar em breves delineamentos sua concepção de mundo
em geral, fornecendo antecipadamente uma exposição do conteúdo principal do marxismo, nomeadamente a doutrina econômica de Marx.”[145]
Porém, James Petras cujo fundamento
epistemológico é o ecletismo analítico de matiz subjetivista-idealista e
meta-marxista leninista-gramsciano-castrista-et-reliqua rejeita abertamente a
existência de uma unidade sistêmica do marxismo, tal como precisamente
enunciada por Lenin, categoricamente avessa à doutrina ontológica dos
“marxismos”, pois : o marxismo é um sistema de concepções e
ensinamentos de Marx.
Proclamando que o “marxismo
negativo é dogmático, imitativo e acadêmico e depende de uma “linguagem
exótica””, Petras “situa-se sobre o terreno” não apenas do “marxismo
criativo” – i.e. alegadamente não imitativo, não acadêmico -, mas
também propugna um “marxismo que não dependa de linguagem exótica”.
Petras defende, assim, não um “marxismo
esotérico”, mas sim um “marxismo exotérico”, i.e. despido
de linguagem exótica e extravagante, isento de “jargão muito técnico”,
curto nas críticas e extensos nas soluções e alternativas práticas, in
nuce : um marxismo pouco crítico e muito prático, um marxismo popularmente acessível,
em sentido linguístico e operativo.
Sem embargo, assim procedendo, Petras
deixa, adrede, de salientar ao público leitor a inteira aversão que possuíam Marx
e Engels tanto à popularidade quanto aos Partidos prosélitos, Partidos
apóstatas, desafeitos ao rigor disciplinar da dialética histórico-materialista
e as precisas exigências do socialismo científico.
É possível demonstrar que Engels
pronuncia-se sobre o tema em destaque, i.e. sobre o marxismo que não depende de
linguagem exótica, sobre o marxismo sem “jargão muito técnico”, sobre
o marxismo
popular e popularmente acessível
da seguinte forma :
“Wir haben jetzt endlich
wieder einmal – seit langer Zeit zum ersten Mal – Gelegenheit zu zeigen, daß
wir keine Popularität, keinen Support von irgend einer Partei irgend welches
Land brauchen, und dass unsre Position von dergleichen Lumperei total
unabhängig ist. (...)”
No vernáculo :
“Temos agora, finalmente, mais uma vez – depois de muito
tempo, pela primeira vez – a oportunidade de mostrar que não precisamos de
nenhuma popularidade, de nenhum apoio de nenhum Partido de nenhum país e que
nossa posição é totalmente independente de semelhante dissimulações
esfarrapadas.”
“Wir können uns übrigens
im Grund nicht einmal sehr beklagen, daß die petits grands hommes uns scheuen;
haben wir nicht seit so und soviel Jahren gethan als wären crethi plethi unsre
Partei, wo wir gar keine Partei hatten, und wo die Leute, die wir als zu unsrer
Partei gehörig rechneten, wenigstens offiziell, sous réserve de les appeler des
bêtes incorrigibles entre nous, auch nicht die Anfangsgründe unsrer Sachen
verstanden ?”
“Aliás, no fundo, não podemos nem sequer deplorar muito o
fato de que os petits grands hommes (SvK.:
os grandes homenzinhos) nos evitam ;
Desde tantos e tantos anos, não agimos assim, como se crethi plethi (SvK.: os cretenses e os
filisteus, adeptos de diversos povos, na dição de Martinho Lutero) fossem o
nosso Partido onde não possuíamos Partido algum e onde as pessoas que
contávamos como adeptos do nosso Partido – no mínimo, oficialmente, sous réserve de les appeler des bêtes
incorrigibles entre nous (SvK.: sob a ressalva de os denominar de idiotas
incorrigíveis em nosso meio) – também não entendiam os fundamentos do beabá de
nossa causa ?”
“Wie passen Leute wie
wir, die offizielle Stellungen fliehen wie die Pest, in eine « Partei » ?
“Como é que pessoas como nós que fujimos de posições
oficiais como da peste cabemos dentro de um «Partido» ?
“Was soll uns, die wir auf
Popularität spucken, die wir an uns selbst irre werden, wenn wir populär zu
werden anfangen, eine «Partei», d.h. eine Bande von Eseln die auf uns schwört,
weil sie uns für ihres Gleichen hält?”
“Para nós que cuspimos na popularidade, que ficamos malucos
dentro de nós mesmos quando começamos a nos tornar popular, o que é nos rende
um «Partido», i.e. um bando de burros que juram em nosso nome porque nos
consideram como sendo um deles mesmos ?
“Wahrhaftig es ist kein
Verlust, wenn wir nicht mehr für den “richtigen und adäquaten Ausdruck” der
bornierten Hunde gelten, mit denen uns die letzten Jahren zusammengeworfen
hatten.”
“A bem da verdade, não se trata de perda alguma, se não
valemos mais para a « expressão correta e adequada » dos cães de visão
estreita, para junto dos quais os últimos anos nos lançou.”
“Eine Revolution ist ein
reines Naturphänomen, das mehr nach physikalischen Gesetzten geleitet wird als
nach den Regeln, die in ordinären Zeiten die Entwicklung der Gesellschaft
bestimmen.”
“Uma revolução é um puro fenômeno natural, dirigido mais
por leis naturais do que por regras que determinam, em tempos normais, o
desenvolvimento da sociedade.”
“Oder vielmehr, diese
Regeln nahmen in der Revolution einen viel physikalischeren Charakter an, die
materielle Gewalt der Nothwendigkeit tritt heftiger hervor.”
“Ou ainda mais : essas regras assumem um caráter muito
mais físico na revolução, sendo que o poder material da necessidade intervém de
modo mais mais impetuoso.”
“Und sowie man als der Repräsentant
einer Partei auftritt, wird man in diesen Strudel der unaufhaltsamen
Naturnothwendigkeit hereingerissen.”
“E tão logo se intervenha como o representante de um
Partido, vai-se arrastado para dentro do turbilhão da necessidade natural
inexorável.”
“Bloß dadurch, daß man
sich independent hält, indem man der Sache nach revolutionärer ist als
die Andern, kann man wenigstens eine Zeitlang seine Selbstständigkeit gegenüber
diesem Strudel behalten,
“Tão somente mantendo-se independente, na medida em que
se é mais revolucionário do que os outros, em conformidade com a matéria, pode-se, ao menos,
conservar, por um certo período, a própria autonomia em face do turbilhão,
“schließlich wird man
freilich auch hineingerissen.”
“no fim das contas, é-se também arrastado,
evidentemente.”[146]
Eis, portanto, alguns dos
fundamentos do beabá para aqueles que pretendem ocupar-se com a aura
popularis de Marx e Engels, com o desenvolvimento
do “marxismo
popular ou popularmente acessível” que “não depende de linguagem
exótica”, despido de “jargão muito técnico”.
Pontificando que o “marxismo
negativo é ... fechado para as novas idéias, experiências e realidades”,
pois ”todas as respostas encontram-se em
um livro fechado, mencionado por líderes ou regimes cujas experiências são
copiadas, sem considerar as especificidades históricas, culturais, políticas e
de classe”, Petras sugere-nos até mesmo a impressão de que
esse “marxismo
negativo” haveria sido gerado, senão diretamente, ao menos indiretamente,
pela doutrina de Marx e Engels.
Nisso, Petras permanece
inteiramente fiel à sua vertente ideológica leninista-gramiciana, posto
que, segundo Gramsci, “Marx se havia contaminado com incrustrações positivistas
e naturalistas. ...”[147]
Pelo contrário, é através do atento
estudo das próprias obras de Marx e Engels que tomamos ciência do
fato de que ambos propugnam suas concepções de
modo conseqüentemente dialético-revolucionário, tal como um guia para a ação (Anleitung
zum Handeln), orientação para o agir, instrução para a prática não de
colaboração de classes no estilo stalinista, stalinista-gramsciano ou
gramsciano-meta-marxista, com prostração diante da dominação burguesa e
latifundiária, mas de organização, mobilização e luta permanente, independente
e implacável das mais amplas massas revolucionárias, sob a direção hegemônica
do proletariado.[148]
Sem
pretender reduzir a dialética histórico-materialista a uma simples filosofia
da práxis – como faz Gramsci e seus sequazes
meta-marxistas - , Marx e Engels entenderam que a questão consistente
em saber se dadas posições subjetivas correspondem à verdade objetiva pode ser
apenas decidida enquanto questão prática, pois é na prática que se há de
demonstrar a verdade, i.e. a realidade e o poder de determinado
pensamento. Fora dela, a questão da
realidade ou irrealidade do pensamento é uma questão puramente escolástica e
acadêmica.[149]
Sendo
assim, tal como brilhantemente o próprio Engels assinala, pretender propagandear o marxismo revolucionário como doutrina
abstrata, deduzida a partir de uma fórmula lógico-imutável, como teoria da qual
emerge uma gama de corolários universalvemente válidos para ascender à verdade
a ser por todos finalmente admitida, significa sempre difundir metafísica entre
as massas exploradas e oprimidas, ignorando que também o socialismo científico
encontra-se exposto à dialética da mutação histórica, partindo não de
princípios, mas sim de fatos objetivos que avançam segundo processos vivos da
luta de classes e do mundo circundante.[150]
Se dermos atenção às próprias palavras de Marx,
constataremos que, em sua própria opinião, seu método
histórico-materialista haveria de converter-se em idealismo
subjetivista-voluntarista supra-histórico, chave universal de teoria geral
político-filosófica, molde doutrinário inteiramente oco e abstrato, se não
fosse abordado enquanto fio condutor da análise de períodos e situações
especificamente cambiantes no tempo e no espaço, fatos objetivos modificados e
em processo de mutação, realidade omnilateral e incomensuravelmente
multifacetada.[151]
Para
Marx
e Engels, o simples ato de conceber-se o socialismo científico
como um conjunto de axiomas imutáveis a ser apreendido de memória, conformador
de uma seita apriorista (pure Sekte), despojada de toda a realidade
da vida prática e cambiante da luta de classes, haveria de inexoravelmente
transformá-lo em um “fenômeno cômico (komische Erscheinung)”.[152]
Sendo
assim, como seria possível, mesmo que de modo puramente hipótetico, protético
ou diatético – para utilizarmos os axiomas familiares do socialismo alegórico gramsciano
meta-marxista – darmos razão a Petras quando, à sua maneira
ácido-crítica, propugna a existência de um “marxismo negativo ... fechado para as novas idéias,
experiências e realidades”, pois ”todas as
respostas encontram-se em um livro fechado, mencionado por líderes ou regimes
cujas experiências são copiadas, sem considerar as especificidades históricas,
culturais, políticas e de classe.” !!!
A descrição do “marxismo negativo” – tal
como formulada “criativamente” por Petras - nada mais representa senão a repetição
vulgar do apotegma secularmente conhecido de que malum est consilium quod maturi
non potest, i.e. o plano que não pode ser mudado não presta.
Porém, designar essa noção com o
epíteto “marxismo negativo” - na forma tal como Petras a postula, nada
mais pode constituir senão, verdadeiramente, um “fenômeno cômico
(komische Erscheinung)”.
De resto, é efetivamente evidente
que até mesmo o próprio Marx, se colocado diante do “marxismo
negativo” de Petras, haveria de repetir pura e simplemente, verbum
pro verbo, palavra por palavra, verbo ad verbum, o seguinte :
“Tout ce que je sais,
c’est que moi, je ne suis pas marxiste.”
No vernáculo :
Tudo o que sei, é que marxista eu não sou.”[153]
Com base nesse fato ainda
inteiramente periférico de incidência do gramscismo mais perverso no interior
das filerias do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU do
Brasil) - o qual ainda, porém, de
mogo algum, chega atingir a dimensão acolhida, deploravelmente, na propaganda
teórico-política do Partido da Causa Operária (PCO) que, fundando-se na orientação
doutrinária de Osvaldo Coggiola, Papa insuperável do “trotskysmo
gramscista” da América Latina, reproduz, em sua revista teórica, a
própria imagem artística deplorável, em que o busto de Gramsci surge, em relevo,
ao centro, ladeado por figuras como as de Trotsky, Luxemburgo, Mehring, Lenin, Engels
e Marx - é que Carlos Nelson Coutinho, o mais expressivo mentor intelectual do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), um
gramsciano honesta e desavergonhadamente “monista” – i.e. não
propriamente trotskysta-gramsciano, no estilo de Osvaldo
Coggiola, do Partido Obrero e de Bianchi, Arcary e
Braga, do PSTU, e de James Petras, de
Rebelion.Org., - pode prestar-se à desfaçatez de afirmar, sem
pejo e sem pundonor, com hipocrisia e cinismo, o seguinte, em meio à sua
entrevista concedida à Folha de São Paulo, órgão jornalístico do
capitalismo brasileiro, tomando o posicionamento ideológico do Partido
Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU do Brasil) como se fosse
aquele posicionamento isolado de Álvaro Bianchi e seus
colaboradores trotskystas-gramscianos mais frenéticos, defensores da “tradição”
:
“Folha - O Sr. foi um dos responsáveis pela divulgação de
Gramsci no Brasil, a partir dos anos 60. Considerando as grandes transformações
que ocorreram de lá para cá, não só no país, quais as suas expectativas quanto
à recepção dessa obra?
Coutinho - Gramsci é hoje uma referência essencial para boa parte da
esquerda e centro-esquerda brasileiras, do PSTU (Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado) ao PPS (Partido Popular Socialista), passando pelas
várias correntes do PT (Partido dos Trabalhadores).
Não só: até mesmo o presidente Cardoso, numa
entrevista à Veja, usou Gramsci para justificar suas posições políticas
neoliberais.
Embora os Cadernos
do Cárcere possuam uma articulação interna sistemática, a sua forma de apresentação
é claramente fragmentária: isso parece permitir interpretações ilimitadas, como
se a obra de Gramsci fosse uma
"obra aberta".
Não creio que o
seja: Gramsci era um comunista, refletiu sobre as condições da revolução
socialista no que ele chamou de "Ocidente", propondo uma estratégia
diversa daquela dos bolcheviques na Rússia de 1917.
Mas o fato de que sua interpretação provoque acesos
debates, que tanto o PSTU quanto o presidente Cardoso possam citá-lo com
aprovação, parece-me uma prova de que é preciso relê-lo com atenção.”[154]
No mesmo sentido, pronunciou-se,
efetivamente, da mesma forma, até mesmo um Ochsenkopf como Ademar
Xavier, “empresário, filósofo e associado do IEE”:
“Hoje
verificamos na mídia e no debate acadêmico, bem como na arena política, uma
certa gramscianização de boa parte da esquerda brasileira a
partir do início dos anos 80.
Neles constatamos o uso efusivo de expressões
como "intelectual orgânico", "bloco histórico",
"hegemonia", "consenso" e "filosofia da práxis".
Isto se deve ao fato de que a estratégia
revolucionária marxista-leninista se mostrou inadequada a países com
democracias-capitalistas efetivas.
E Gramsci é referência essencial (hoje) para
parte da esquerda e centro-esquerda brasileiras, do PSTU (trotskysta) , ao PPS (ex-PCB), passando pelas
correntes do PT.”[155]
O artigo de Mandel em destaque, um dos últimos legados de sua existência
política, dedicado preponderantemente à formulação de „uma agenda inicial“ para
o impulsionamento de uma prática teórica marxista, demonstra, cabal e
cristalinamente, como o lendário dirigente do Secretariado Unificado da IV
Internacional, em prol de sua clarividente aspiração de fomento de um
ecletismo doutrinário, sob o rótulo de “marxismo criativo e aberto”,
reputadamente de índole „trotskysta-luxemburguista-gramsciano“, legimitador
de uma „Democracia Direta e Representativa“, situada acima das
classes sociais em pugna, abnegou, integral e ostensivamente, a defesa dos
princípios e dos métodos revolucionários, autenticamente marxistas-engelsianos,
consubstanciados na Grande Revolução de Outubro de 1917, dirigida por Lenin,
Sverdlov, Trotsky e demais bolcheviques, enquanto paradigma
histórico-revolucionário para promoção da „radical
emancipação“ do proletariado.
Se não, vejamos :
„UMA AGENDA INICIAL PARA O NOVO FLORESCIMENTO DE UM MARXISMO CRIATIVO E ABERTO
Porém, o marxismo
pode permanecer vivo apenas se não se tornar dogmaticamente petrificado, i.e.
apenas se permanecer aberto e criativo.
A crise do stalinismo/pós-stalinismo já estimulou, desde
a Revolução Húngara de 1956, um primeiro florescimento de um marxismo criativo, longe de
escolasticismos estéreis, neo-positivismos e pragmatismos vulgares.
Hoje, as comportas podem ser abertas.
Os marxistas devem integrar em suas teorias básicas – que
são hipóteses de trabalho e não axiomas ou verdades definitivamente reveladas –
os resultados acumulados da pesquisa científica atual.
Eles devem examinar em que extensão esses resultados
podem ser integrados nas teorias, sem ameaçar sua coerência interna.
Os marxistas situam-se, especialmente, sobre a pressão de
novas realidades objetivas, que não existiam ou existiram apenas marginalmente
nas últimas décadas, bem como sobre a pressão de uma nova consciência subjetiva
acerca delas.
Sem pretender ser exaustivo, tentaria elencar a seguinte agenda de prioridades para uma „prática
teórica“ :
1.esclarecer as tendências básicas rumo à „globalização“
dos desenvolvimentos econômicos e sociais, obviamente ligadas com a
internacionalização crescente das forças produtivas do capital, sacando daí as
conclusões necessárias, concernentes à internacionalização crescente da luta de
classes ;
2.integrar na luta pelo socialismo e no nosso modelo de
socialismo os aspectos principais da crise ecológica, a fim de descobrir-se um
caminho de quantificação dos custos ecológicos e combiná-los com os custos do
trabalho ;
3.aprofundar nosso entendimento das dialéticas do trabalho,
do prazer e da (re)educação, combinando-as com uma compreensão ampla da
hierarquia das necessidades humanas. ... ;
4.desenvolver a
teoria das instituições políticas, necessária à emancipação radical, envolvendo
a democracia direta e representativa, utilizando como pedras de toque os
escritos de Marx e Engels acerca da Comuna de Paris, os escritos de Rosa
Luxemburg de 1918, os escritos de Gramsci de Ordine Nuovo, os escritos de
Trotsky dos anos 30 e as contribuições posteriores da IV Internacional ;
5.expandir nossa compreensão do impacto dialético da
revolução da mídia (a cultura das imagens enquanto elemento diferente em face
dos textos escritos) sobre o consumo cultural e a produção cultural. ... ;
6.desenvolver mais nossa compreensão das origens da
opressão da mulher, os meios de superá-la, as dialéticas das crises da família
de núcleos .. ;
7.aprofundar nossa compreensão das dialéticas da
emancipação e da liberdade social e individual.“[156]
Eis, portanto, a demonstração de como também Ernst
Mandel posiciona-se a favor do florescimento de um “marxisto criativo e aberto”.
Calando-se inteiramente sobre a utilização da “pedra
de toque” de todas as lições e experiências históricas proporcionadas
por Lenin
e a Grande Revolução Proletária de Outubro de 1917 enquanto elementos
indispensáveis a constarem necessariamente da « agenda de prioridades para uma „prática teórica“», Mandel demonstra aos revolucionários de todo o mundo que, em verdade, ao longo de
toda sua militância política - que culminou em sua função de direção da IV
Internacional, fundada por Trotsky - nada havia sido senão um “trotskysta-luxemburguista-gramsciano”,
igualável, em dimensão teórico-epistemológica, a “Paul Levi, Scheidemann, Kautsky
e toda aquela sua fraternidade”.
Constata-se que Mandel despreza, além disso,
inteiramente a referência de Lenin acerca dos equívocos de Rosa
Luxemburg e, concomitantemente, a indicação de que Rosa corrigiu, no fim de
1918 e no início de 1919, a maioria de seus erros contidos em suas anotações
sobre a Revolução Russa, redigidas no cárcere de Breslau.
Em seu escrito intitulado “Outubro de 1917 – Golpe de
Estado ou Revolução Social ? Em Defesa da Revolução de Outubro”, Mandel viria
alegar até mesmo, infundadamente, que a criação da Tcheka havia sido
necessariamente um erro cometido por Lenin, Sverdlov, Trotsky e os
bolcheviques, à medida que constrói uma defesa artificial, deslocalizada e
desavergonhada das teses de Rosa Luxemburg contidas no livro do
cárcere dessa última, intitulado “A Revolução Russa” de 1918, ocultando
adrede ao leitor o fato de que Rosa, ela mesma, “corrigiu a maioria de seus erros, depois de
abandonar o cárcere, no fim de 1918 e no início de 1919”. [157][158]
Para Mandel – que também “pia
como uma galinha entre os montes de esterco”, para dizê-lo com Lenin - as teses do cárcere de 1918 de Rosa Luxemburg teriam-se
demonstrado válidas não para o ano de 1918 – como haveria pretendido sua
própria autora -, mas sim para os anos a partir de 1920 e 1921 da Revolução
Proletária Russa !!!
À parte isso, o que dizer do posicionamento de Mandel
em face da “pedra de toque” constitutiva pelos escritos de Gramsci
?
Mandel, ao tratar de Gramsci,
limita-se, subrepticiamente, a considerar como “pedra de toque” apenas
seus escritos do semanário “L’Ordine Nuovo” e, com isso,
esquiva-se, de modo ladino, à denúncia categórica e implacável das concepções
gramscistas, contidas nos “Cadernos do Cárcere”.
Produz, desse modo, a impressão de que o método
idealista-subjetivista, voluntarista meta-marxista de Gramsci - que percorre
todo o pensamento desse autor, desde o mais tenro surgimento de
sua intervenção na luta de classes de seu tempo até à sua morte, - não se
haveria manifestado, como por milagre, também ao tempo de seus escritos de “L’Ordine
Nuovo”, surgidos apenas a partir de 1° de maio de 1919, no contexto de
sua militância no interior do Partido Socialista Italiano (PSI).[159]
Destaque-se, ademais, que, se, em um primeiro momento,
i.e. de 1° de maio de 1919 a 11 de dezembro de 1920, “L’Ordine Nuovo”, surgiu enquanto órgão da tendência política da seção socialista
turinense de Togliatti e Gramsci, tornou-se, em um segundo momento, i.e. de
1° de janeiro de 1921 a 25 de novembro de 1922, o órgão do Partido Comunista Italiano, e,
em um terceiro e último momento, de março de 1924 a abril de 1925,
converteu-se, sob a batuta de Gramsci e Togliatti, em instrumento
decisivo na luta em defesa do stalinismo na Itália contra seus
opositores de todos os matite.[160]
Mandel oculta, igualmente,
ao leitor interessado o fato de que, por ocasião do II Congresso da III Internacional
Comunista, em Moscou, Lenin e Bukharin declararam, formalmente, não possuirem a intenção de
expressar um juízo acerca da orientação geral de „L’Ordine Nuovo“, por não
possuírem documentos suficientes para a formulação de um julgamento, senão
apenas indicar que conferiam sua aprovação a uma crítica e a certas propostas
dirigidas à direção do PSI, contidas em um determinado
documento em específico, intitulado „Pela Renovação do Partido Socialista“, publicado
em 8 de maio de 1920, nas colunas de „L’Ordine Nuovo“.[161]
Como se vê, mais uma brilhante falsificação histórica e
extraordinária embrulhada analítica de Ernst Mandel, sufragada presentemente
por seus coniventes seguidores, Daniel Bensaïd, François Vercammen et alii, juntamente
com a esmagadora maioria dos principais dirigentes do SU-QI da atualidade.
EDITORA DA ESCOLA DE
AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA
J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
MOSCOU –
[1] Cf. BUONICORE, AUGUSTO C. Gramsci, Lenin e a Questão da Hegemonia, in:
Rebelion. Periódico Electrónico de Información Alternativa, 12 de Abril de
2003.
[2] Cf. IDEM. ibidem.
[3] Vide GRISOLIA, FRANCO. La Natura ed il Ruolo
del Partito Leninista(A Natureza e o Papel do Partido Leninista), in : Ottobre
1917. L’Assalto al Cielo : La Rivoluzione Russa e le Sue Prospettive
Internazionali (Outubro de 1917. O Assalto ao Céu : A Revolução Russa e Suas
Perspectivas Internacionais), in: I Dossier di Proposta, 30 maggio 1999.
[4] Quanto à defesa da
concepção gramsciana de partido por Associazzione Marxista Rivoluzionaria
Proposta(AMRP), vide GRISOLIA,
FRANCO / FERRANDO, MARCO / RICCI, FRANCESCO. Communist Refoundation Party.
For a Communist Project. Congress Document. 4Th National Congress of
PRC, in : International Trotskyst Oppositon Site, http://www.
gn.apc.org/ito/ito. html, 21 de Março de
1999.
[5] HARMAN, CHRIS. Gramsci versus Reformismus. A Socialist Workers
Party Pamphlet, London : Socialist Workers Party, 1 ed. 1977, 2e. ed. 1983,
3ed. 1986, pp. 5 e s.; IDEM. ibidem, in : Sozialismus von Unten,
http://www. sozialismus-von-unten.de /archiv/text/ gramsci_harman.htm
[6] Cf. NORTH, DAVID. Marxism
and the Trade Unions, International Summer School on Marxism and the
Fundamental Problems of the 20th Century, Sydney : Socialist
Equality Party, 10 de Janeiro de 1998.
[7] Cf. IDEM. ibidem.
[8] Acerca do tema, vide ARBEITERPRESSE
VERLAG. Die imperialistische Weltkrise und die Aufgaben der IV Internationale.
Perspektiven des Internationalen Komitees der IV Internationale (A Crise
Imperialista Mundial e as Tarefas da IV Internacional. Perspectivas do Comitê
Internacional da IV Internacional)(8 de Agosto de 1988), Essen, Outubro de
1988, p. 22.
[9] Nesse sentido, vide,
sobretudo, SOCIALISMO RIVOLUZIONARIO. Direzione
e Quadri nella Costruzione di Sr. Quaderni di Formazione Marxista
Rivoluzionaria, Firenze, Dezembro de 1992, pp. 15 e s.
[10] Acerca do tema, vide MASSARI, ROBERTO. Trotsky y Gramsci in
: En Defensa del Marxismo. Revista Teórica del Partido Obrero, Nr. 13, Julho de
1996, ou ainda in : http://www.geocities.com/
catedragramsci/textos/S_Trotsky_y_gramsci.htm
[11] Vide, nesse sentido, RIEZNIK, PABLO. Los Intelectuales ante
la Crisis (Sobre la Intelligentsia Latinoamericana), in: En Defensa del
Marxismo. Revista Teórica del Partido Obrero, Nr. 13, Julho de 1996.
[12] Vide, nesse sentido, ROMERO, ANÍBAL, La Dictatura del
Proletariado, Según Nahuel Moreno, in : En Defensa del Marxismo. Revista
Teórica del Partido Obrero, Nr. 13, Julho de 1996.
[13] Vide CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la
‘Bolscevizzazione’ del Pci : 1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/
gramsci. htm, 2 de Junho de 1996.
[14] Nesse sentido, vide COGGIOLA,
OSVALDO. Gramsci : História e Revolução. 50 Anos da Morte do Revolucionário
Italiano nas Prisões do Fascismo, São Paulo : Revista da Universidade de São
Paulo, Nr. 5, Janeiro de 1987, pp. 57 – 66.
[15] A esse respeito, vide IDEM.
Gramsci : História e Revolução, São Paulo : Xamã, 1996, pp. 97 – 104.
[16] Vide COGGIOLA,
OSVALDO / MASSARI, R. ET ALII. Bolchevismo, Gramsci, Conselhos, São Paulo :
Xamã, 1996, pp. 3 e s. Nessa obra – se é que assim podemos denominar essa
produção coggioliana - , o célebre Professor de História da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) reúne
outras cabeças filistinas, outros embrulhões intelectuais, para elaborar um
tratado científico acerca de “Ciência Histórica Bolchevique-Gramsciana”.
[17] Vide GRISOLIA, FRANCO / FERRANDO, MARCO / RICCI,
FRANCESCO. Communist Refoundation Party. For a Communist Project. Congress
Document. 4Th National Congress of PRC, in : International Trotskyst
Oppositon Site, http://www. gn.apc.org/ito/ito. html, 21 de Março de 1999.
[18] No que tange à difusão
da lógica epistemológica trotskysta-gramsciana de interpretação dos principais
eventos da luta de classes do mundo, o PTS – Fração Trotskysta tem
logrado impulsionar, em nível europeu, suas posições transcendental-alucinantes
através das iniciativas comuns que vem empreendendo com a Liga por uma
Internacional Comunista Revolucionária / Quinta Internacional – Workers Power (Poder dos Trabalhadores /
Quinta Internacional). Na medida em que a LICR – Workers Power /
Quinta Internacional não possui
uma preocupação mais fundanda com os problemas teóricos e políticos do
movimento trotskysta contemporâneo, rende-se ela mesma às análises
disparatadas, formuladas por Romano e Albamonte, sem opor
qualquer resistência à proliferação da enfermidade gramsciana em suas fileiras.
[19] Cf. ROMANO, MANOLO. Polemica
con la LIT y el Legado Teórico de Nahuel Moreno, in: Estrategia Internacional,
Nr. 3, Dezembro de 1993 / Janeiro de 1994, pp. 1 e s.
[20] Cf. ALBAMONTE, EMILIO
& ROMANO, MANOLO. Trotsky and Gramsci. A Posthumous Dialogue (Trotsky e
Gramsci. Um Diálogo Póstume), specificamente Nota 36, in: Estrategia
Internacional, Nr. 19, Janeiro de 2003, pp. 14 e 15.
[21] Já tive ocasião de
destacar que jamais se demonstrará excessivo realçar sempre os penetrantes
trabalhos de Nahuel Moreno, elaborados em meio à sua luta ideológica acesa,
deflagrada seja contra o euro-comunismo, seja contra o
mao-althusserianismo, seja contra o mandelismo, seja ainda
contra o lambertismo, em defesa do legado da Revolução Proletária de Outubro
de 1917 e, em particular, em prol dos princípios ético-organizativos do
partido marxista-revolucionário. Nada obstante, cumpre ressaltar que, entre
outros aspectos, seria efetivamente incorreto pretender apoiar, sem importantes
reparos, seus posicionamentos, quer no domínio da lógica marxista – onde Moreno
defende posições teóricas amplamente coniventes com o construtivismo
metodológico-radical de Piaget, incompatíveis essencialmente
com o socialismo científico de Marx e Engels -, quer no domínio da atualização
do programa de transição – onde Moreno propugna, abertamente,
posições idealistas-subjetivistas e democratistas, ao pretender inverter
infundadamente relações causais dos acontecimentos históricos, maximamente no
período posterior à I Guerra Mundial, afastando-se, assim, ostensivamente do método
materialista histórico-dialético, defendidos por Marx e Engels, Lenin, Sverdlov e
Trotsky -, quer ainda no domínio ontológico do ser trotskysta nos
dias de hoje - onde Moreno, em sua excessiva acentuação
da atividade criticista e ânsia de superação do próprio trotskysmo, deixa de
destacar que o marxismo, por ser científico, deve ser considerado como um guia
para a ação (Anleitung zum Handeln), orientação para o agir, instrução para
a prática de organização, mobilização e luta permanente, independente e
implacável das mais amplas massas revolucionárias, sob a direção hegemônica do
proletariado, em busca da construção de uma humanidade socializada ou ainda de
uma sociedade humanizada, o que
obsta, nos limites do marxismo revolucionário, qualquer tipo de criticismo
“criativo” e supostamente superador, elaborado em desconformidade e dissonância
com o rigoroso método do materialismo histórico-dialético. Acerca do tema, vide MORENO,
NAHUEL. Lógica Marxista y Ciencias Modernas, México-Colômbia :
Xólotl-Pluma, 1981, pp. 54 e 55.; IDEM. Actualización
del Programa de Transición, ed. CITO – Centro Internacional del Trotskysmo
Ortodoxo, 1980, pp. 7 e s.; IDEM. Ser
Trotskysta Hoy(1985), in: Cuadernos de Correo Internacional, 1988, pp. 3 e s.
[22] Cf. ALBAMONTE, EMILIO
& ROMANO, MANOLO. ibidem, p. 1.
[23] Cf. ROMANO, MANOLO. Polemica
con la LIT y el Legado Teórico de Nahuel Moreno, in: Estrategia Internacional,
Nr. 3, Dezembro de 1993 / Janeiro de 1994, p. 1.
[24] Cf. IDEM. Trotsky and Gramsci.
Permanent Revolution and the War of Position. The Theory of Revolution in
Gramsci and Trotsky (Trotsky e Gramsci. Revolução de Permanente e Guerra de
Posição. A Teoria da Revolução em Gramsci e Trotsky,) in: Estrategia
Internacional, Nr. 19, Janeiro de 2003, pp. 1 e s.
[25] Vide, nesse sentido, MOVIMIENTO
AL SOCIALISMO. Cuadernos de Formación, http://www.mas.org.ar
[26] Nesse sentido, vide BIANCHI,
ÁLVARO. Politikon, http://planeta.terra.com.br/educacao/politikon;
tb. IDEM. Hegemonia em Construção. A Trajetória do PNBE, São Paulo :
Xamã, 2001, pp. 3 e s. ; IDEM. Retorno a Gramsci: Para Uma
Crítica das Teorias Contemporâneas da Sociedade Civil, in: Anais do XII
Congresso Nacional dos Sociólogos. A Profissão do Sociólogo numa Era de
Incertezas, Curitiba, 2000, p. 10-11, entre outras preciosidades do gênero.
[27] Vide LENIN, VLADIMIR I. Retch Pri Otkrytii
Pamiatnika Marksu i Engel’su (Discurso na Inauguração de um Memorial a Marx e
Engels) (07.11.1918), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras
Completas), Moscou : GIPL, 1961, ibidem, Vol. 37, pp. 169 e s. Acerca da
concepção relativa à conquista da hegemonia na luta de classes em Marx
e Engels, Lenin e Trotsky, vide, no presente texto, sua Parte II.A.2.
Conquista da Hegemonia do Proletariado na Perspectiva do Idealismo Gramsciano
para a Colaboração de Classes e Capitulação Diante do Estado Burguês, in : http://www.scientific-socialism.de/SUCAPIIA2.htm
[28] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro
il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de
Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e
s.
[29] Nesse sentido, remeto o
leitor ao exame atento e crítico dos seguintes artigos da Revista Outubro : LÖWY, MICHAËL. A Teoria do
Desenvolvimento Desigual e Combinado, in:
Revista Outubro. Revista do Instituto de Estudos Socialistas, Nr. 1, 1998; IDEM. Léon Trotsky, Um Profeta da
Revolução de Outubro, in : ibidem, Nr. 3, 1999; BENSAÏD, DANIEL. O Domínio Público contra a Privatização do Mundo,
in: ibidem, Nr. 10, 2004.
[30] Nesse sentido,
vide ALTHUSSER, LOUIS. O Marxismo
[31] A esse respeito, vide ANTUNES, RICARDO. A
[32] De passagem, assinalo
que Ricardo
Antunes, também Professor da Universidade de Campinas de São
Paulo, resenhou, já mesmo em 1991, um livro – esse sim, extremamente
louvável -, compendiando traduções em língua portuguesa de três textos de
autoria de Rosa Luxemburgo, realizadas por Isabel M. Loureiro. Vide LUXEMBURGO, ROSA. A Revolução Russa,
trad. Isabel M. Loureiro, Petrópolis : Vozes, 1991, pp. 3 e s. Em sua resenha, Antunes
dedica-se, sobretudo, a traçar inúmeras considerações acerca de um dos
textos traduzidos de Rosa Luxemburgo, intitulado a
“Revolução Russa”, salientando, maximamente, aos leitores a
oposição que Luxemburgo despregou, nesse seu material, redigido na Prisão
de Breslau – i.e. inteiramente afastada do cenário da luta de classes –
contra as medidas governamentais, adotadas por Lenin e Trotsky, no
quadro da Revolução Russa de Outubro de 1917 – tal como o decidido
fechamento pelos bolcheviques da Assembléia Nacional Constituinte etc.
-, em que Rosa salienta, porém, - sem que Antunes o refira - que o futuro
haveria de pertencer ao bolchevismo de Lenin e Trotsky. A seguir, Antunes
sobrevoa, em sua resenha, o texto de Luxemburgo “Questões de
Organização da Social-Democracia Russa”, este produzido mais de uma
década antes da “Revolução Russa”, repetindo o bordão das críticas de Rosa desferidas
contra Lenin e as respostas desse último a Rosa. Ao longo de toda a
sua exposição – mesmo tendo o livro de Isabel M. Loureiro incluído a
tradução do importantíssimo texto, intitulado “O Que Quer a Liga Spartakus ?”
– Antunes
não manifestou, porém - evidentemente -, nenhum interesse em destacar o
fato de que Rosa Luxemburgo equivocou-se em suas anotações redigidas no
cárcere de 1918, sendo que, porém, corrigiu a maioria de seus erros depois de
abandoná-lo, no fim de 1918 e no início de 1919. Enquanto Luxemburgo superou, em grande parte,
os seus próprios erros, em um espaço relativamente curto de tempo, em 1918, Antunes
aspira a neles recalcitrar, transcorridos praticamente um século do
momento em que os erros foram originalmente cometidos pela águia da revolução proletária.
Agindo assim, Ricardo Antunes – tal como, outrora, Paul Levi – preferiu se
situar no “pátio traseiro do movimento da classe operária, entre os montes de
esterco, onde galinhas como Levi, Scheidemann, Kautsky e toda aquela sua
fraternidade, piam sobre os erros cometidos pela grande comunista”, a
fim de se credenciar perante as forças do “socialismo liberal” do Brasil.
Acerca dessa questão, vide LENIN, VLADIMIR I. Zametki
Publitsista. O Voskhojdenii na Vysokie Gory, O Vrede Unynia, o Pol’zie
Torgovli, Ob Otnoshenii k Men’shevikam i.t.p. (Anotações de um Publicista.
Sobre a Subida de uma Alta Montanha, a Desgraça do Esmorecimento, a Utilidade
do Comércio, a Atitude em face dos Mencheviques etc)(Fevereiro de 1922), Parte
3: Ob Oxote na Lis – O Levi, O Serrati (Agarrando Raposas – Levi e Serrati),
in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas), Moscou : GIPL,
1961, Vol. 44, pp. 419 e s.
[33] Nesse sentido, vide SENA JÚNIOR, CARLOS ZACARIAS. Gramsci,
Mais Um Antitrotskista?, in : ibidem, Nr. 10, 2004.
[34] Acerca do tema,
vide GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr.
14 (1928-1937) – Internazionalismo e Politica Nazionale (Internacionalismo e Política
Nacional), in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo
Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 144 e 145. tb. em http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP1.htm;
IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 7
(Cadernos do Cárcere, Nr. 7)(1928-1937) – Guerra di Posizione e Guerra
Manovrata o Frontale (Guerra de Posição e Guerra Manobrada ou Frontal), in :
Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno,
Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 83 e s. tb. em http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP2.htm;
IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 7
(Cadernos do Cárcere, Nr. 7)(1930-1931) – Guerra di Posizione e Guerra
Manovrata o Frontale (Guerra de Posição e Guerra Manobrada ou Frontal), in :
Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno,
Torino : Editori Riuniti, 1991, p. 85. tb. http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP3.htm
[35] Cf. HORATIUS FLACCUS, QUINTUS. Ode. Carmen Epodon et Seculare (65 – 8
a.C.), Parrhisiis : Antonio Mancinello – Badio Ascensio, 1503, pp. Livro III,
Ode I.
[36] Cf. MARX, KARL H. Brief an Friedrich Engels (Carta a F.
Engels)(11.02.1851), in : Marx und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt., Bd.
III/4, Berlim : Dietz, 1975, p. 37.
[37] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta a F. A. Sorge)(29.11.1886), in: Marx und
Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim : Dietz Verlag, 1962, Vol. 36, p.
578.
[38] Cf. HORATIUS FLACCUS, QUINTUS. Epistolae (65 – 8 a.C.), L. S. Obbarius
: Halberstadium, 1828, pp. Epistola Libri Primi Secunda.
[39] Cf. MARX, KARL H. Brief an Friedrich Engels (Carta a F.
Engels)(11.02.1851), in : Marx und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt., Bd.
III/4, Berlim : Dietz, 1975, p. 37.
[40] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro
il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de
Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 80 e
s.
[41] Cf. MARX, KARL H. An
Principatus Augusti Merito Inter Feliciores Reipublicae Romanae Aetates
Numeretur? (O Principado de Augusto é Enumerado, Merecidamente, entre as Épocas
mais Auspiciosas do Estado Romano? Redação em Língua Latina) (15 de Agosto de
1835), in : Marx und Engels Gesamtausgabe MEGA (Obras de Marx e Engels: Edição
Completa MEGA), Seção I, Vol. I, Berlim : Dietz Verlag, 1975, pp. 440 e s. Para
uma leitura em nosso vernáculo – possivelmente inédita - desse texto de Marx,
permito-me remeter o leitor ao exame da tradução de MARX, KARL H. O Principado de Augusto é Enumerado,
Merecidamente, entre as Épocas mais Auspiciosas do Estado Romano? (15 de Agosto
de 1835), in : http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoCAP1Port.htm,
Concepção e Organização, Compilação e Tradução de Emil Asturig von München,
Novembro de 2004.
[42] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 7 (Cadernos do Cárcere,
Nr. 7)(1928-1937) – Guerra di Posizione e Guerra Manovrata o Frontale (Guerra
de Posição e Guerra Manobrada ou Frontal), in : Antonio Gramsci. Note sul
Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti,
1991, pp. 83 e s. Vide tb. http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP2.htm
[43] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an August Bebel (Carta a August Bebel)(18 – 28 de Março de 1875),
in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 19, Berlim
: Dietz, 1962, p. 6.
[44] Cf. PROTOKOLL
DES VEREINIGUNGSKONGRESSES DER SOZIALDEMOKRATEN DEUTSCHLANDS. DAS GOTHAER PROGRAMM DER SOZIALISTISCHEN
ARBEITERPARTEI DEUTSCHLANDS. Beschlossen auf dem Gründungsparteitag der
Sozialistischen Arbeiterpartei Deutschlands in Gotha im Jahre 1875(Protocolo do Congresso
da Unificação dos Sociais-Democratas da Alemanha. O Programa de Gotha do Partido Socialista dos
Trabalhadores da Alemanha. Adotado no Congresso Fundacional do Partido
Socialista dos Trabalhadores da Alemanha, Realizado em Gotha, na Alemanha, em
1875), Leipzig, 1875, pp. 54 e s.
[45] Cf. MARX, KARL H. Kritik des Gothaer Programms (Crítica ao Programa de Gotha)(Início de
Maio de 1875), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e
Engels), Vol. 19, Berlim : Dietz, 1962, p. 31.
[46] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an August Bebel (Carta a August Bebel)(18 – 28 de Março de 1875),
in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 19, Berlim
: Dietz, 1962, p. 6.
[47] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta
à F. A. Sorge) (11 de Fevereiro de 1891), in : Marx und Engels Werke (Obras de
Marx e Engels), Vol. XXXVIII, Berlim : Dietz Verlag, 1961, pp. 30 e 31.
[48] Cf. LENIN, VLADIMIR
I. Sotsialism i Religia (Socialismo
e Religião) (03.12.1905), in : V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii
(Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 11, pp. 142 e s.
[49] O referido “Los-von-Kirche-Bewegung
(Movimento de Abandono da Igreja)”- também denominado de “Kirchenaustrittsbewegung
(Movimento de Saída da Igreja)“ foi um movimento que alcançou grande
influência em toda a Alemanha, no período que precedeu à
eclosão da I Grande Guerra Imperialista. Em janeiro de 1914, a Social-Democracia
Alemã, através de seu órgão denominado „Neue Zeit(Novo Tempo), começou
a ocupar-se com a discussão relativa à postura que deveria adotar em relação ao
movimento em referência, tendo como base o conteúdo do texto redigido por Paul
Göhre, intitulado “Kirchenaustrittbewegung und
Sozialdemokratie”. No vernáculo : “Movimento de Saída da Igreja e
Social-Democracia”. Ao longo dos meses da discussão em tela, os
dirigentes do Partido Social-Democrático Alemão recusaram-se a constituir
oposição às idéias de Göhre que afirmava dever o Partido permanecer
neutro em face do movimento referido. A seguir, os militantes da Social-Democracia
Alemã foram proibidos de impulsionar campanha contra a religião e a
Igreja, em nome do Partido. Lenin tomou conhecimento dessa
polêmica, em 1916, enquanto redigia seu livro, intitulado “Imperialismo, Enquanto Estágio
Mais Elevado do Capitalismo”. Acerca desse último tema, vide LENIN,
VLADIMIR I. Imperializm, Kak
Vysshaia Stadia Kapitalizma. Populiarnyi Otcherk (Imperialismo, Enquanto
Estágio Mais Elevado do Capitalismo. Ensaio Popular)(Janeiro – Junho de 1916),
in: ibidem, Vol. 27, pp. 299 e s.
[50] Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Einleitung zu „Der Bürgerkrieg in Frankreich“ von Karl Marx.
Ausgabe 1891 (Introdução À „Guerra Civil na França“ de Karl Marx. Edição de
1891), in : Marx und Engels Werke (Obras
de Marx e Engels), Vol. 22, Berlim : Dietz, 1962, p. 194.
[51] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Gosudarstvo
i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v
Revoliutsi (Estado e Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as
Tarefas do Proletariado na Revolução)(Agosto de 1917), especialmente Cap. 4.:
Prodoljenie. Dopolnitiel’nye Poiasnienia Engel’sa (Continuação. Clarificações
Adicionais de Engels), Nr. 5.: Predislovie 1891 Goda k “Grajdanskoi Voinie”
Marksa (Prefácio de 1891 à “Guerra Civil” de Marx), Vol. 33, pp. 75 e s.
[52] Vide, nesse sentido, Cf.
KPSS V RESOLIUTSIAKH I REZENIAKH SIEZDOV, KONFERENTSI I PLENUMOV SK (O
Partido Comunista da União Soviética em Deliberações e Resoluções dos
Congressos e Conferências Partidárias, bem como Plenárias do Comitê Central),
Vol. I, Moscou : Gosud. Izdatel-vo, 1954, pp. 37 e s. O mesmo programa em
destaque, traduzido aqui para o idioma português, pode ser também encontrado em
VTOROI SIEZD RSDRP. PROTOKOLY (II Congresso do POSDR. Protocolos),
Moscou : Gosud- Izdatel-vo, 1959, pp. 418 e s. tb. in : http://www.scientific-socialism.de/TextosdoPartidoMRPOSDR1903.htm
[53] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Sotsialism i Religia (Socialismo e Religião)
(03.12.1905), in : V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii
(Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 11, pp. 142 e s.
[54] Cf. tb. SENECA, LUCIUS ANNAEUS. Troades (3 A.C. –
65
[55] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Sotsialism i Religia (Socialismo e Religião)
(03.12.1905), in : V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii
(Obras Completas), Moscou : GIPL, 1961, Vol. 11, pp. 142 e s.
[56] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta a F. A. Sorge)(29.11.1886), in: Marx und
Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim : Dietz Verlag, 1962, Vol. 36, p.
578.
[57] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 14 (1928-1937) –
Internazionalismo e Politica Nazionale (Internacionalismo e Política Nacional),
in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato
Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 144 e 145.
[58] Cf. BRAGA, RUY Risorgimento,
Fascismo e Americanismo: a Dialitica da Passivização, in: Edmundo Dias /
Lincoln Secco/ Osvaldo Coggiola / Roberto Massari / Ruy Braga, O Outro
Gramsci, São Paulo : Xamã Editora, 1996,
p. 170.
[59] Cf. IDEM. ibidem,
p. 174.
[60] Assinale-se que a célebre tese de doutorado de Arcary,
defensora de um ecletismo trotskysta gramscista-luckásiano
– intitulada as Esquinas Perigosas da História - aprovada em 2000, foi orientada,
durante anos a fio, e, finalmente, defendida publicamente, sob a orientação da professora
Dra. Livre Docente, Chefe do Departamento de História da USP, Zilda
Iokoi, cujas produções intelectuais pretendem legitimar a segunite
vertente ideológica reciclada IOKOI,
ZILDA MARCIA GRICOLI. A Atualidade das Proposições de Mariátegui, Um Revolucionário
Latino-Americano, Projeto História (PUCSP), Vol. 1, pp. 147 e s.; IDEM ET ALII. A Universidade Pública e
a Reforma da Previdência, in: Gramsci e o Brasil, Junho de 2003, http://www.acessa.com/gramsci/?id=234&page=visualizar; IDEM. Igreja
e Camponeses : Teologia da Libertação
e Movimentos Sociais no Campo. Brasil/Perú 1964-1986, Tese de Doutorado – USP,
1990, pp. 3 e s. (tb. publicada em livro pela editora Hucitec : 1996, 250 pp.)
; IDEM. Igreja e Movimentos Sociais,
in: América 500 Anos : Uma Celebração, 1991, São Paulo; pp. 1 e s.; IDEM. O Papel das Igreja e as Lutas
Camponesas : Brasil e Perú (1960 – 1980), Apresentação de Trabalho USP, 1990.
Quanto à tese de Arcary, publicada posteriormente em livro de ampla tiragem,
vide ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: Um Estudo sobre
a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate
Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), pp. 5 e s.
[61]Sobre Lukács que afirmava ter Trotsky
“renegado
abertamente ao comunismo”, já que “sua atividade de provocação e propaganda
equipara-se à devassidão de instintos, ao gangsterismo e à corrupção
moral-espiritual”, vide, mais particularmente, minhas traduções de LUKÁCS, GYÖRGY SZEGREDI. in: http://www.scientific-socialism.de/LukacsStalinTrotskyCapa.htm
Sobre Korsch, seu anti-defensismo
soviético, sua “teoria da suposta deficiência fundamental
persistente da Revolução Permanente de Trotsky”, vide tb. minha
tradução de KORSCH, KARL. http://www.scientific-socialism.de/KorschTrotskyCapa.htm
[62] Cf. LUKÁCS,
GYÖRGY SZEGREDI. An Unofficial Interview. Lukács On His Life and Work
(Entrevista. Sobre sua Vida e Obra), in : New Left Review, Editor Perry
Anderson, Londres : Julho-Agosto de 1971, Nr. 68, páginas retro-citadas.
[63] vide ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre
a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista,
Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de
livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 139.
[64] Cf. IDEM, ibidem, p. 246.
[65] Cf. IDEM, ibidem, p. 247.
[66] Cf. IDEM, ibidem, p. 418.
[67] vide IDEM. ibidem, p. 24.
[68] Vide minha tradução de Vide MARX, KARL. Konspekt von Bakunins Buch “Staatlichkeit und Anarchie” (Comentários ao Livro de Bakunin “Estatalidade e Anarquia”)(1874 – Início 1875), in : ibidem, Vol. 18, Berlim : Dietz, 1962, pp. 597 e s. Vide tb. minha tradução desse texto de Marx, in : http://www.scientific-socialism.de/FundamentosMarxEngelsLuta1874.htm
[69]
vide ARCARY,
VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos
Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese
FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de livro
publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 29.
[70]
Cf. MARX,
KARL. Brief an
Moritz Kaufmann (Carta a Moritz Kaufmann)(3 de Outubro de 1878), in : Karl Marx
& Friedrich Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. 34,
Berlim : Dietz, 1961, p. 346. Vide tb. minha tradução dessa carta de Marx,
in: http://www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngels031078.htm
[71] Cf. ARCARY,
VALERIO. A Polêmica sobre a „Ausência” do Proletariado e a Atualidade da
Estratégia Revolucionária, in: http://www.pstu.org.br/ juventude/ mg/ txt/
proletariado_valerioarcary.htm, especialmente 2. Se o
Capitalismo só Triunfou depois de Revoluções e Guerras Civis, Por Quê a
Transição Socialista seria mais Indolor?, Fevereiro de 2002.
[72] Cf. IDEM.
ibidem, p. 35.
[73] Cf. ARCARY, VALERIO. ibidem, p. 155.
[74] Nesse sentido, GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 14 (1932-1935) – Internazionalismo e Politica
Nazionale (Internacionalismo e Política Nacional), in : Antonio Gramsci. Note
sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti,
1991, pp. 144 e 145; IDEM. Quaderni
del Carcere, Nr. 14 (1931-1935) – Machiavelli, in: Antonio Gramsci. Quaderni
del Carcere (Cadernos do Cárcere), Vol. 3, ed. V. Gerratana, Torino : Einaudi
Editore, 1975, pp. 1.728 e s. Vide minha tradução desse material em http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP1.htm
[75] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre
a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate
Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 160.
[76] Cf. IDEM. ibidem, p. 160.
[77] Cf.
MANDEL, ERNST. The Relevance of
Marxist Theory for Understanding the Present World Crisis, in : Marxism in the
Postmodern Age. Confronting the New World Order, Editors Antonio Callari,
Stephen Cullenberg, Carole Biewener, New York-London: The Guilford Press, 1995,
pp. 445 e 446.
[78] Cf. ARCARY, VALERIO. A Polêmica sobre a
„Ausência” do Proletariado e a Atualidade da Estratégia Revolucionária, in:
http://www.pstu.org.br/ juventude/ mg/ txt/ proletariado_valerioarcary.htm,
especialmente 11. O Proletariato contraiu Matrimônio Indissolúvel com os
Reformistas?, Fevereiro de 2002.
[79] Cf. IDEM. Reforma &
Revolução no Brasil de Lula : uma Polêmica com a Esquerda Petista ou a
Invenção de uma Esquerda Internacionalista para o Novo Século, à Luz dos
Dilemas Alemão e Russo de há Cem Anos Atrás, in: CMI Brasil,
http://www.midiaindependente. org/pt/blue/2004/06/283356.shtml., 15.06.2004;
tb. in : Boletim Eletrônico PSTU, Org. Álvaro Frota, Mensagem 338 – 340,
15.06.2004.
[80] Acerca do tema, permito-me remeter o leitor à leitura
do trabalho por mim organizado e intitulado TROTSKY, LÉON D. BRONSTEIN. Pamiati
M. V. Frunze(Recordações de M. V. Frunze)(02 de Novembro de 1925), in: Izvestia
(Notícias), Nr. 259, 13.11.1925. Referido texto foi recentemente compilado e
republicado em LUNATCHARSKY, ANATOLY /
RADEK, KARL / TROTSKY, LÉON. Siluety : Polititcheskie Portrety (Silhuetas.
Retratos Políticos), Moscou : Politizdat, 1991, pp. 360 e s.
[81] Cf. TROTSKY,
LÉON D. BRONSTEIN. Kak Voorujalas’ Revoliutsia (Como a Revolução se Armou),
Vol. 2, Cad. 2, especialmente : Iz Becedy c Predstaviteliem Amerikanskoi
Petchati (Entrevista Concedida a um Representante de um Jornal dos EUA), Moscou
: Vyssh. Voennyi Red. Soviet, 1923-1925, pp. 241 e s.
[82] Cf. ARCARY,
VALERIO. Ir ou Não Ir Além da CUT. Uma Polêmica Sindical em Perspectiva
Histórica, in: Opinião Socialista. Órgão do Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado, Teoria, 23.03.2005.
[83] Cf. MARX, KARL H. Die Vereinugung der
Gläubigen mit Christo nach Johannes 15, 1-14, in ihrem Grund und Wesen, in
ihrer unbedingten Notwendigkeit und in ihren Wirkungen dargestellt (A União dos
Crentes com Cristo segundo João 15, 1-14, em seu Fundamento e Essência,
apresentada em sua Incondicional Necessidade e seus Efeitos)(1835), in : Marx
und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt. - Werke, Artikel, Entwürfe, Bd.
I - Text. Literarische Versuche bis März
1843, Berlim : Dietz, 1975, p. 449.
[84] Cf. ARCARY, VALERIO. A Polêmica sobre a
„Ausência” do Proletariado e a Atualidade da Estratégia Revolucionária, in:
http://www.pstu.org.br/ juventude/ mg/ txt/ proletariado_valerioarcary.htm,
especialmente 8. Por Quê o Atraso da Revolução Socialista nos Países Centrais?,
Fevereiro de 2002.
[86] Cf. IDEM. Scritti sull’Italia (1921-1938),
Roma : Controcorrente, p. 184.
[87] Cf. ARCARY, VALERIO. A Polêmica sobre as
Aptidões Revolucionárias do Proletariato, in: http://www.marxismalive.org/
valerio5port.html, Abril de 2002.
[88] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre
a História dos Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate
Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 160.
[89] Impende anotar que, entre 14 de fevereiro e 6 de
março de 1895, Engels redigiu sua “Introdução à Luta de Classes na França de
1848 a 1850 de Karl Marx”, a qual foi publicada no curso do mesmo ano,
na cidade de Berlim. Depreende-se, entretanto, de uma carta de Richard
Fischer, dirigida a Engels, em 6 de março de 1895, que a
direção do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) exigiu de Engels
uma atenuação do tom linguístico-revolucionário, contido em sua referida “Introdução”.
Na carta de resposta de Engels a Fischer, datada de 8 de
março de 1895, verifica-se, além disso, que Engels contestou,
detalhadamente, as preocupações que a direção do SPD levantava,
elucidando, inequivocamente, sua posição jurídico-político-revolucionária. A
crítica de Engels dirigia-se contra a atitude irresoluta da direção do SPD,
encabeçada por August Bebel, Wilhelm Liebknecht, Karl Kautsky, Eduard Bernstein,
Richard Fischer etc. – e sua pretensão de intervir exclusivamente no
quadro da legalidade burguesa. Engels foi obrigado, entretanto, a
fazer certas alterações léxicas e gramaticais em seu texto original, bem como
eliminar, inteiramente, certas passagens, em que realçava a necessidade da luta
armada do proletariado vindoura contra a burguesia. Baseados no texto dessa
notável “Introdução”, alguns célebres dirigentes do SPD
empreenderam, a seguir, a tentativa de deformar os posicionamentos de Engels,
incluindo-o entre os adeptos da via pacífica “quand même (EvM.:
custe o que custar)”, para a tomada do poder pela classe trabalhadora.
Nesse sentido, em 30 de março de 1895, publicou-se, no “Vorwärts (Avante)”, um artigo
editorial, intitulado “Wie man heute Revolutionen macht (Como se
Fazem Revoluções Hoje)”, em que diversas citações, extraídas
aleatoriamente da “Introdução” de Engels, produziam a falsa impressão de que Engels
haver-se-ia tornado “ein friedfertiger Anbeter der Gesetzlichkeit quand même(EVM.: um
venerador pacifista da legalidade, sob todas as condições)”. Assim, o
texto de de Engels foi deformado, por ocasião de sua publicação
em 1895, realizada pela Social-Democracia Alemã e, então, por ela
interpretada enquanto rejeição expressa de Engels à insurreição armada e à luta
de barricadas. Apenas posteriormente, surgiu publicado, na URSS, o
texto integral da introdução em referência.
Logo depois
da reedição da obra de Marx em questão, Engels
exigiu, energicamente, que sua “Introdução” fosse publicada, na
íntegra, na revista “Neue Zeit (O Novo Tempo)”. Sem embargo, o Nr. 27/28, 2 Vol.
13° Ano, 1894/95 dessa revista decidiu-se por publicar apenas a “Introdução”
com as alterações e as supressões referidas que Engels fora forçado a
efetuar, sob pressão da direção do SPD. Entretanto, a despeito destas,
é efetivamente possível verificar que a “Introdução” em causa preserva,
ainda assim, seu caráter revolucionário, pouco podendo prestar-se às degenerações
de posições, contidas no artigo editorial do “Vorwärts(Avante)”,
intitulado “Wie man heute Revolutionen macht (Como se Fazem Revoluções Hoje)”.
Neste comenos, uma publicação integral da “Introdução” de Engels não teve em lugar,
na Alemanha, antes de eliminado o perigo de promulgação de uma nova Lei
contra os Socialistas. Para um exame integral do texto em apreço, vide ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl
Marx’ Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850(Introduçao à Luta de Classes na
França de 1848 a 1850)(1895), in : ibidem, Vol. 27, pp. 509-527. Sobre o pano
de fundo dos métodos utilizados pela corrente oportunista de Liebknecht,
Bebel e Kautsky, visando ao impulsionamento de suas disputas políticas
de outrora, dá-nos conta, precisamente, Engels, em 3 de abril de 1895,
poucos meses antes de sua morte, em uma de suas cartas enviadas a Paul
Lafargue, ao protestar contra as amputações literárias realizadas por Wilhelm
Liebknecht em sua “Introdução” referida: “Wilhelm
Liebknecht aplicou-me, agora mesmo, um golpe de mau gosto. Retirou de
minha introdução aos ensaios de Marx sobre a França, de 1848 a 1850,
tudo aquilo que lhe podia servir, para apoiar, a todo custo, a
tática pacífica e refutadora da violência. Essa tática, adora pregá-la,
desde algum tempo e particularmente nesse momento em que, em Berlim, estão
sendo preparadas Leis de Exceção. Recomendo uma tática do gênero apenas e tão
somente para a Alemanha de hoje, fazendo-o, ainda, com reservas consideráveis.
Para a França, a Bélgica, a Itália e a Áustria, essa tática não é adequada, em
seu conjunto, e, mesmo para a Alemanha, pode demonstrar-se inaplicável já no
dia de amanhã. Peço-lhe, portanto, que
espere pelo artigo completo, antes de julgar – provavelmente este aparecerá no “Neue
Zeit(Novo Tempo)”. Espero, de um dia para o outro, exemplares das
brochuras. É lamentável que Wilhelm Liebknecht veja apenas o
preto e o branco. Para ele, as nuances não existem. Além disso, as coisas estão
quentes na Alemanha, o que promete um fim de século grandioso. ...” Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Paul Lafargue in Le Perreux(Carta a P. Lafargue em Le
Perreux)(3 de Abril de 1895), in : ibidem, Vol. 39, p. 458.
Após a morte de Engels, os dirigentes oportunistas e
revisionistas do SPD propagandearam, de modo deformado, as posições engelsianas,
constantes em sua “Introdução”, como forma de reforçar, até a exaustão, sua tática
pacífica e refutadora da violência. Impediram, sistematicamente, que os
trabalhadores e militantes de base tivessem acesso ao texto original e integral
da “Introdução”.
Calaram-se sobre o fato de haverem forçado Engels a operar certas modificações
léxicas e gramaticais em seu texto, a fim de aliviar o seu tom revolucionário.
Alegaram que, em sua “Introdução” – apregoada como seu
definitivo “politiches Vermächtnis(legado político)” - Engels haveria aderido ao reformismo
e ao pacifismo, abdicando de suas posições revolucionárias precedentes.
[90] Cf. ARCARY,
VALERIO. As Esquinas Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos
Conceitos da Época, Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese
FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de livro publicado pela Editora
Xamã, 2004), p. 276.
[91] Cf. TEXIER, JACQUES. Révolution
et Démocratie chez Marx et Engels, Paris : Actuel Marx Confrontation –
PUF, 1998, contra-capa.
[92] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas
Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época, Situação
e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora Profa. Dra. ZildaGricoli Iokoi, (tb. na
forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004), p. 369.
[93] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La
Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido
del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici,
Roma, 1967, p. 80 e s., tb. minha tradução em http://www.scientific-socialism.de/SUCAPIIIC.htm
[94] Nesse sentido, vide o expressivo
texto de ARCARY, VALERIO. O
Socialismo Que Queremos, in: O Encontro da Revolução com a História, Editora
Sundermann : São Paulo, 2007, tb. http://www.pstu.org.br/ Acerca das posições de Marx e Engels sobre esse
tema, vide, p.ex. Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an August Bebel in Zwickau (Carta a A. Bebel em
Zwickau)(18 – 28 de Março de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke
(Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 125
e s.; Cf. MARX, KARL. Brief an Friedrich Engels in Ramsgate (Carta a
Friedrich Engels em Ramsgate)(1° de Agosto de 1877), in : Karl Marx und
Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim
: Dietz, 1966, pp. 65 e s.; Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Herrn Eugen Dühring's Umwälzung der Wissenschaft (A Subversao da
Ciência do Sr. Eugen Dühring) (Setembro 1876 – Junho 1878), in : ibidem, Vol.
20, pp. 1- 303.
[95] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas
Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época,
Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora
Profa. Dra.
ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004),
p. 521.
[96] Cf. IDEM. ibidem, p. 276.
[97] Já tive a oportunidade de destacar em debates
públicos que se trata, efetivamente, de um mito gerado pelos adeptos
do gramscismo o de acusar Rosa Luxemburgo de „fortes
propensões objetivistas” e outros
disparates do gênero. Fosse isso verdade, Lenin teria sido
seguramente um dos mais importantes marxistas revolucionários a destacar esse
fato, em suas inúmeras polêmicas, travadas contra a Rosa Vermelha. Cf. LENIN, VLADIMIR ILITCH ULIANOV. Retch Pri
Otkrytii Kongressa 2. Marta. I Kongress Kommunistitcheskovo Internatsionala
(Discurso de Abertura do Congresso de 2 der Março. I Congresso da Internacional
Comunista), in: V. I. Lenin. Polnoe Sobranie Sotchinenii (Obras Completas de V.
I. Lenin), Vol. 37, Moscou : GIPL, 1961, p. 489.
[98] Cf. ARCARY, VALERIO. As Esquinas
Perigosas da História: UmEstudo sobre a História dos Conceitos da Época,
Situação e Crise Revolucionária no Debate Marxista, Tese FFLCH USP, Orientadora
Profa. Dra.
ZildaGricoli Iokoi, (tb. na forma de livro publicado pela Editora Xamã, 2004),
p. 343.
[99] Assinalo que Ferdinand Lassalle (1825 – 1864) foi filósofo, economista, jornalista, escritor, bem como um dos mais importantes dirigentes da classe trabalhadora alemã, entre 1862 e 1864. No início de sua vida pública, defendeu posições democratas pequeno-burguesas. No quadro da Revolução de 1848 e 1849, interviu ativamente, tornando-se, desde então, amigo de Marx e Engels. Em 1862 e 1863, foi um dos principais dirigentes do movimento operário alemão que aspirava a alcançar sua independência de classe e um dos fundadores da Associação Geral dos Trabalhadores da Alemanha (ADAV). Em torno das idéias de Lassalle, surgiu, a partir de 1862, a corrente ideológico-política denominada lassalleanismo, propugnadora do socialismo reformista e pacifista alemão, em sua vertente específica de socialismo do Estado. Enquanto principais reinvidicações programáticas, Lassalle pregava, de modo praticamente exclusivo e infalível, o estabelecimento de cooperativas de produção dos trabalhadores, impulsionadas com auxílios, prestados pelo Estado, cujo poder passaria às mãos do povo trabalhador por meio de sufrágio direto, igual e universal, derrubando-se a eterna “lei de bronze dos salários”, alcançando-se o socialismo de maneira pacífica e gradual. O método de obter tal perspectiva, incluía estratégias e táticas de colaboração de classes, bem como a defesa da unificação da Alemanha sob o Governo de Otto von Bismarck e a hegemonia do Estado Imperial Prussiano. Para Lassalle, a sociedade burguesa asseguraria a todos os indivíduos desenvolvimento ilimitado de suas forças produtivas, sendo que, portanto, a idéia moral do proletariado haveria de ser apenas a obtenção da prestação de serviços úteis à comunidade e a promoção de solidariedade e reciprocidade de interesses. Lassalle – à semelhança de Hegel – era de opinião que o Estado – enquanto “união dos indivíduos que aumenta um milhão de vezes as forças individuais” – representava e incorporava toda a expressão de Direito e justiça, razão por que seu objetivo do Estado haveria de ser “a educação e o desenvolvimento da liberdade na raça humana”. Sendo assim, o Estado assimilaria, progressivamente, com seu desenvolvimento, a causa do proletariado, de modo que a Revolução Proletária Socialista seria inteiramente despicienda e desnecessária. Foi assassinado pelo Conde von Racowitza, em um duelo, travado em 31 de agosto de 1864. Acerca do tema, vide LASSALLE, FERDINAND. Das System der erworbenen Rechte. Eine Versöhnung des positives Rechts und der Rechtsphilosophie (O Sistema dos Direitos Adquiridos. Uma Conciliação do Direito Positivo com a Filosofia do Direito)(1861), Leipzig : Brockhaus, 1880, pp. 3 e s.; IDEM. Arbeiterprogramm. Über den besondern Zusammenhang der gegenwärtigen Geschichtsperiode mit der Idee des Arbeiterstandes (Programa dos Trabalhadores. Sobre o Contexto Especial do Período Histórico Atual ante a Idéia do Estamento dos Trabalhadores)(Discurso - 12 de Abril de 1862), Zürich : Meyer und Zeller, 1863, pp. 1 e s.; IDEM. Über das Verfassungswesen (Sobre o Sistema Constitucional)(Discurso – 16 de Abril de 1862), Hamburg : Europ. Verl. Anst., 1993, pp. III e s.; IDEM. Die Wissenschaft und die Arbeiter (A Ciência e os Trabalhadores)(16 de Janeiro de 1863), Zürich : Meyer und Zeller, 1863, pp. 3 e s.; IDEM. Offenes Antwortschreiben an das Central-Comité zur Berufung eines Allgemeinen Deutschen Arbeitercongresses zu Leipzig (Carta Aberta de Resposta ao Comitê Central para Convocação de um Congresso Geral dos Trabalhadores da Alemanha em Leipzig)(1° de Março de 1863), Zürich : Meyer und Zeller, 1863, pp. 1 e s.; IDEM. Zur Arbeiterfrage (Acerca da Questão dos Trabalhadores)(16 de Abril de 1863), Chicago : Ahrens, 1872, pp. 1 e s.; IDEM. Arbeiterlesebuch (Manual de Leitura dos Trabalhadores)(17/19 de Maio de 1863), Frankfurt a.M. : Baist, 1863, pp. 3 e s.
[100] Vide ARCARY, VALERIO. I Congresso da Conlutas. A Atualidade do Marxismo
e a Revolução Socialista Sobre as Minorias e a Democracia, Julho 2008.
[101]
MARX, KARL. Kritik des
Gothaer Programms. Randglossen zum Programm der deutschen Arbeiterpartei
(Crítica do Programa de Gotha. Glosas Marginais ao Programa do Partido Alemão
dos Trabalhadores) (Abril e Maio de 1875), in : ibidem, Vol. 19, Berlim: Dietz,
1962, pp. 15 e s. Anoto que o presente
texto de Marx foi publicado, pela primeira vez, em "Die Neue Zeit (O Novo
Tempo)", Caderno Nr. 18, Vol. 1, 1890 - 1891.
[102] Cf. MARX, KARL. Brief an Wilhelm Bracke (Carta a W. Bracke)(5 de Maio de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 19, Berlim : Dietz, 1966, pp. 13 e s.
[103] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an August Bebel in Zwickau (Carta a A. Bebel em Zwickau)(18 – 28 de Março de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 125 e s.
[104] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an Friedrich Adolph Sorge in Hoboken, New Jersey, USA (Carta a F. A. Sorge in Hoboken, Nova Jersey, EUA )(11 de Fevereiro de 1891), in : ibidem, Vol. 38, Berlim : Dietz, 1968, pp. 30 e 31.
[105] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an August Bebel (Carta a A. Bebel)(12 de Outubro de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, p. 159.
[106]
Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels),
passim : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich
Engels)(28 de Julho de 1887), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, p. 557. Em sua carta, datada de 23 de outubro de
1877, Wilhem Bracke forneceu, então, a Marx uma apreciação curta
e contundente do caráter político desse projeto editorial.
[107] Cumpre anotar que Émile Acollas (1820 –
1891) foi um professor francês de Direito, nascido em La Châtre, o qual
celebrizou-se por ter sido um dos fundadores da Liga pela Paz e pela Liberdade,
criada em 1867, com o apoio expresso de Victor Hugo, John Stuart Mill, Giuseppe
Garibaldi, Louis Blanc, Elisée Reclus, Mikhail Bakunin e tantos outros
mais 10.000 aderentes. Acollas postulava que as assembléias
da Liga
pela Paz e pela Liberdade seriam, em verdade, “conferências revolucionárias”.
Defendia como programa político um federalismo decentralizado, mandatos revogáveis
para representantes eleitos, direito de livre associação, distribuição equânime
de bens e rendas, direito internacional enquanto moralidade da consciência
individual e das nações. Marx posiciou-se, porém, contra
qualquer adesão a essa liga, conclamando, oficialmente, a Associação Internacional dos
Trabalhadores a com ela não involver-se. Entretanto, a eclosão da Guerra
Franco-Prussiana, em 1870, levou a que a liga se desaparecesse. Com a
instalação da Comuna de Paris, Acollas
foi nomeado decano da Faculdade de Direito da Universidade de
Paris. Sem embargo, jamais exerceu tal função, a fim de esquivar-se a
possíveis inculpações decorrentes da revolução. Retornou, então, a Paris,
apenas em 1871, quando organizou a Escola de Direito de Paris, cujos mais
ilustres alunos foram o republicano burguês-radical Georges Clemenceau, Presidente do
Conselho da República Francesa entre 1906-1909 e 1917-1920, denominado
o “Pai
da Vitória” na I Guerra Mundial, e Nakae Chomin, o “Rousseau do Oriente”, um
dos mais renomandos militantes do Movimento dos Direitos Populares Japoneses.
[108]
Cf. MARX, KARL. Brief an
Friedrich Engels in Ramsgate (Carta a Friedrich Engels em Ramsgate)(1° de
Agosto de 1877), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx
e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 65 e s. Vide tb. minha tradução a essa carta de Marx,
in: http://www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngels010877.htm
[109] Acerca da Lei
contra os Socialistas, Engels redigiu um grande número de
artigos de expressiva relevância jurídica e política, entre os quais se
destacam ENGELS, FRIEDRICH. Das Ausnahmegesetz
gegen die Sozialisten in Deutschland – Die Lage in Rußland (A Lei de Exceção
contra os Socialistas na Alemanha – A Situação na Rússia)(30 de março de 1879),
in: ibidem, Vol. 19, pp. 148 e s.; IDEM.
Bismarck und die deutsche Arbeiterpartei (Birmarck e o Partido dos
Trabalhadores da Alemanha)(Julho de 1881), in : ibidem, Vol. 19, pp. 280 e s.; IDEM. Die deutsche Wahlen 1890 (As
Eleições Alemãs de 1890)(21 de Fevereiro – 1° de Março de 1890), in : ibidem,
Vol. 22, pp. 3 e s.; IDEM. Was nun?
(E Agora?)( 21 de Fevereiro – 1° de Março de 1890), in : ibidem, pp. 7 e s.; IDEM. Abschiedsbrief an die Leser des
“Sozialdemokrats” (Carta de Despedida aos Leitores do “Social-Democrata”)(21 de
Fevereiro – 1° de Março de 1890), in : ibidem, pp. 7 e s.
[110]
Cf. BRACKE, WILHELM. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels)(25
de Março de 1875), passim: ibidem, Vol. 34, p. 571.
[111]
Cf. BEBEL, AUGUST. Unsere Ziele.
Ein Streit gegen die “Demokratische Korrespondenz” (Nossos Objetivos. Um
Litígio contra a “Correspondência Democrática”)(Leipzig : Thiele, 1870), 3a.
Ed., Leipzig : Verlag der Expedition d. Vollksstaat, 1872, pp. 14 e s. Vide, no
mesmíssimo sentido, as repetidas e inalteradas edições dessa clássica obra de
Bebel, ocorridas, como mínimo, repetidamente, em 1875 (Leipzig : Verlag
der Genossenschaftsbuchdruckerei) 1886 (Hottingen – Zürich :
Volksbuchhandlung), 1893 (Berlim : Vorwärts), 1906 (Berlim : Vorwärts), 1910
(Berlim : Vorwärts), 1913 (Belim : Buchhandlung Vorwärts).
[112] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an August Bebel in Zwickau (Carta a A. Bebel em Zwickau)(18 – 28 de Março de 1875), in : Karl Marx und Friedrich Engels Werke (Obras de Karl Marx e Friedrich Engels), Vol. 34, Berlim : Dietz, 1966, pp. 125 e s.
[113] Cf. BEBEL, AUGUST. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels)(1875), passim: ibidem, Vol. 34, p. 569.
[114]
Cf. RAMM, HERMANN. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels)(24 de
Maio de 1875), passim : ibidem, Vol. 34, pp. 571 e 572.
[115]
Cf. BEBEL, AUGUST. Brief an Friedrich Engels (Carta a F. Engels)(21 de
Setembro de 1875), in: A. Bebel. Aus
meinem Leben (Minha Vida)(1911), Vol. 2, 5. ed., Berlim : Dietz, 1978, p. 432.
[116]
Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. Brief an Friedrich Engels (Carta a F.
Engels)(21 de Abril de 1875), passim: ibidem, Vol. 34, p. 572.
[117] Acerca do tema, vide ENGELS, FRIEDRICH. Zur Kritik des sozialdemokratischen Programmentwurfs 1891 (Crítica do Projeto do Programa Social-Democrático de 1891)(18 – 29 de Junho de 1891), in : ibidem, Vol. 22, pp. 227 e s.
[118] Cf. KAUTSKY, KARL. Das Erfurter Programm(O Programa de Erfurt)(1892), Berlim : Dietz Verlag, 1919, p. 102.
[119]
Cf. LIEBKNECHT, WILHELM. in : Protokoll
des Erfurter Parteitages (Protocolo do Congresso de Erfurt), Berlim, 1891, p.
206.
[120]
Nesse sentido, vide IDEM. Zukunftstaatlisches (Coisas do
Estado Futuro), in : Cosmopolis, Berlim, 1898, pp. 218 e 219.
[121] Para um exame integral do texto em apreço, vide ENGELS, FRIEDRICH. Einleitung zu Karl Marx’ Klassenkämpfe in Frankreich 1848 bis 1850(Introduçao à Luta de Classes na França de 1848 a 1850)(1895), in : ibidem, Vol. 27, pp. 509-527.
[122] Cf. ARCARY, VALERIO. Leia a Intervenção no Debate da Revista Marxismo Vivo no Fórum Social Mundial. A Esquerda e o Conflito com a Democracia Burguesa na América Latina, in: Opinião Socialista. Órgão do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, Teoria, 06.04.2005. Anote-se, de passagem, que a seguinte formulação de Arcary é, além disso, muito mal-formulada e não possui qualquer fundamento histórico-efetivo : “Há 100 anos atrás, na Alemanha, a primeira experiência de um partido operário de massas, que tinha várias alas, não tinha somente uma corrente majoritária, o partido no qual havia uma tremenda luta interna encabeçada por Rosa Luxemburgo, aos poucos o partido de Engels foi se integrando ao regime da democracia prussiana, aceitando até o imperador, o Kaiser”. IDEM. ibidem, loc. cit.
[123] Vide MANDEL, ERNST. Rosa Luxemburg und die deutsche Sozialdemokratie (Rosa Luxemburgo e a Social-Democracia Alemã) (Março de 1971), in: Ernst Mandel – Karl Mandel. Rosa Luxemburg Leben – Kampf – Tod (Vida – Luta – Morte), Frankfurt a.M. : isp – Verlag, Mai 1986, pp. 46 e s.
[124] Cf. PETRAS, JAMES. Mano a Mano con un Grande de la Izquierda
Internacional (Primera Parte). Reportage a James Petras por Elio Brat desde
Neuquén, in : Encendiendo Entre Todos El Fuego de la Lucha Revolucionária,
La Fogata Digital, 29 de Maio de 2003.
[125] Cf. IDEM. Lo Que
Empezó Como un Movimento Antiglobalización, Ahora Está Incluyendo La Lucha Anticapital,
Anticapitalista, Antiguerrerista, Entrevista de Alina Perera Robbio de
Juventude Rebelde (Cuba), in : Rebelion. Periódico Electrónico de Información
Alternativa, 2 de Fevereiro de 2003.
[126] Cf. INTRODUCCIÓN AL
MARXISMO PARA JÓVENES „NO INICIAD@S“ / REBELIÓN, in: Contrainformación en
Red. Territorio Virtual Para los Movimientos Sociales y la Acción Política en
Internet, http:// www. nodo50. org/garibaldi/contenido/introducc.htm &
http:// www. rebelion. org/
[127] Acerca do tema, permito-me
remeter o leitor à leitura mais detalhada do trabalho de SCHMIDT VON KÖLN,
PORTAU. A Unidade Sistêmica do Marxismo e do Trotskysmo Contemporâneo sob o
Impacto (De)-Generativo Transformacional Chomsky-Petrasiano e o Alvoroço
Hegemônico (Sub-)jetivista Gramsci-Altamira-Coggioliano, Ed. Universidade Jakob M. Sverdlov,
Moscou-São Paulo-Munique-Paris, 2002, p. 3 e s.
[128]Cf. PETRAS, JAMES. On the Communist Manifesto. The Manifesto’s
Strength and Flaws. Symposium on the Relevance of Marxism on the 150th
Anniversary of the Communist Manifesto. Published in New Politics (O Manifesto
Comunista. Forças e Debilidades do Manifesto. Simpósio acerca da Relevância do
Marxismo no 150° Aniversário do Manifesto Comunista. Publicado em New
Politics), in: Rebelion. Periódico Electrónico de Información Alternativa. Petras Essays in English, http://www.
rebelion.org/ petras/english/ cm170102.htm, March 1998.
[129] Cf. ARCARY, VALÉRIO. Leia a Intervenção no Debate da Revista Marxismo
Vivo no Fórum Social Mundial. A Esquerda e o Conflito com a Democracia Burguesa
na América Latina, in: Opinião Socialista. Órgão do Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado, Teoria, 06.04.2005.
Anote-se, de passagem, que a seguinte formulação de Arcary é, além disso,
muito mal-formulada e não possui qualquer fundamento histórico-efetivo : “Há
100 anos atrás, na Alemanha, a primeira experiência de um partido operário de
massas, que tinha várias alas, não tinha somente uma corrente majoritária, o
partido no qual havia uma tremenda luta interna encabeçada por Rosa Luxemburgo,
aos poucos o partido de Engels foi se integrando ao regime da democracia
prussiana, aceitando até o imperador, o Kaiser”. IDEM. ibidem, loc. cit. Em verdade, cumpriria dizer e esclarecer
que a luta interna contra a integração da Social-Democracia Alemã à democracia
do Estado Prussiano começou muito antes de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht,
possuindo o seu dealbar já sob a inflexível batuta ideológica de Marx
e Engels, seja no quadro de suas contudentes críticas a todos os Programas
do SDAP/SAP/SPD, seja no contexto da luta revolucionária em face da Lei
contra os Socialistas de 1878 a 1890. A seguir, Engels seguiu combatendo
implacavelmente, até ao dia de sua morte, a direção alegadamente “marxista”
de Wilhelm
Liebknecht, August Bebel, Eduard Bernstein e colaboradores que, na
década de 90 do século XIX, seguiram imprimindo, enquanto friedfertige Anbeter der
Gesetzlichkeit quand même (veneradores pacifistas da legalidade, sob
todas as condições), uma orientação
invarialvelmente pacifista e reformista ao Partido Social-Democrático Alemão. Por
isso, os artigos de Engels foram
repetidamente censurados ou simplesmente não publicados. De todo modo,
falar-se, pura e simplesmente, em “partido de Engels” - sem destacar a
luta travada por esse último contra o filistinismo do “livre pensar” -, constitui um equívoco patente : caberia falar
ou do Partido Social-Democrático da Alemanha (SPD) com que Marx
e Engels colaboraram criticamente a partir da Inglaterra – pois, ambos haviam
sido expulsos da Alemanha, logo após a Revolução de 1848 – 1849, tendo sido
Marx
forçado a tornar-se apátrida - ou do Partido que se opunha à
orientação de Marx e Engels, em vez de falar, sem
mais nem menos, do “Partido de Engels”. Cabe, em verdade, a Ernst Mandel e aos
incorrigíveis adeptos e colaboradores do mandelismo – no estilo de Daniel
Bensaïd - defenderem a tese arenosa de que o “Partido de Engels” se
integrou ao imperialismo alemão, por permanecer em sua “velha e preservada tática”,
finalmente antagonizada por Rosa Luxemburgo. Vide MANDEL, ERNST. Rosa Luxemburg und die
deutsche Sozialdemokratie (Rosa Luxemburgo e a Social-Democracia Alemã) (Março
de 1971), in: Ernst Mandel – Karl Mandel. Rosa Luxemburg Leben – Kampf – Tod
(Vida – Luta – Morte), Frankfurt a.M. : isp – Verlag, Mai 1986, pp. 46 e
s. Por fim, cumpre destacar que a
grandiosa e corajosa luta travada pela águia revolucionária do proletariado, Rosa
Luxemburgo contra a direção social-reformista do Partido Social-Democrático Alemão
(SPD), possuía como elementos de enfraquecimento a própria postura
equivocada de Rosa Luxemburgo. Defendendo, por um lado, a derrubada de Wilhelm
II, Rosa mantinha invariável sua posição de rejeitar abertamente o
Direito de auto-determinação das nações oprimidas – contra a orientação de Marx
e Engels -, propugnar uma teoria de acumulação do capital inteiramente
revisionista – contra os posicionamentos de Marx e Engels -,
postular, nas lutas proletárias, uma defesa essencialmente democratista de direitos e liberdades
fundamentais para todos os indivíduos e organizações sociais – contra a
concepção de Marx e Engels -,
repudiar a teoria de Partido
centralizado e clandestino – contra a concepção de Marx, Engels, Lenin e os
bolcheviques -, o que, sem dúvida, favorecia estrategicamente, em grande parte,
as posições do social-reformismo e do oportunismo organizativo da Social-Democracia
Alemã. Entre os proletários
revolucionários alemães desse período histórico encontraremos também aqueles
que, não apenas defendendo a derrubada do Imperador Alemão, inclinavam-se
também – ainda que intermediados por Karl Radek - a favor da defesa do
modo de funcionamento e da linha geral internacionalista do Partido
Bolchevique de Lenin. Reuniam-se em torno de Paul Fröhlich, Johan Knief e
Julian Borchard e de seu trabalho surgiram também importantes
sustentáculos, indispensáveis para a fundação do Partido Comunista da Alemanha
(Liga Spartakus), em fins de 1918 e início de 1919.
[130] Cf. MARX, KARL H. Die
Vereinugung der Gläubigen mit Christo nach Johannes 15, 1-14, in ihrem Grund
und Wesen, in ihrer unbedingten Notwendigkeit und in ihren Wirkungen
dargestellt (A União dos Crentes com Cristo segundo João 15, 1-14, em seu
Fundamento e Essência, apresentada em sua Incondicional Necessidade e seus
Efeitos)(1835), in : Marx und Engels Gesamtausgabe (MEGA), Erste Abt. - Werke,
Artikel, Entwürfe, Bd. I - Text.
Literarische Versuche bis März 1843, Berlim : Dietz, 1975, p. 449.
[131]Cf. PETRAS, JAMES. On the Communist Manifesto. The Manifesto’s
Strength and Flaws. Symposium on the Relevance of Marxism on the 150th
Anniversary of the Communist Manifesto. Published in New Politics (O Manifesto
Comunista. Forças e Debilidades do Manifesto. Simpósio acerca da Relevância do
Marxismo no 150° Aniversário do Manifesto Comunista. Publicado em New
Politics), in: Rebelion. Periódico Electrónico de Información Alternativa. Petras Essays in English, http://www.
rebelion.org/ petras/english/ cm170102.htm, March 1998.
[132] Cf. IDEM. The Diffusion of
Marxism and the Development of the Working Class Movement (A Difusão do
Marxismo e o Desenvolvimento do Movimento da Classe Trabalhadora), in: Rebelion. Periódico Electrónico de Información Alternativa.
Petras Essays in English, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=13267,
31.03.2005. Existe tradução desse artigo em língua espanhola em IDEM. La Difusión del Marxismo y el
Desarollo del Movimiento de la Clase Obrera, in : Rebelion. Periódico Electrónico de
Información Alternativa. La Página de Petras, http://www.rebelion.org/noticia.php?id=13266,
31.03.2005.
[133] Cf. HORATIUS FLACCUS, QUINTUS. Ars Poetica, Ad Omne Genus Eloquentiae, Ligatae, Solutae
Etiam Sacrae, Accomodata & Exemplis Plurimis Illustrata(65 – 8 a.C.),
Augustae Vindelicorum : Ignatio Weitenauer, 1757, pp. Epistola ad Pisones.
[134] Cf. STALIN, IOSSIF VISSARIANOVITCH DJUGASCHVILI., Vystuplenia na VI
S’ezde RSDRP (Bol’shevikov) (Intervenção Pronunciada no VI Congresso do POSDR -
Bolchevique), especialmente 6.: Vozrajenie Preobrajenskomu Po Voprossu o 9-om
Punkte Resoliutsi “O Polititcheskom Polojenii”(Contestação a Preobrajensky
acerca da Questão do IX Ponto da Resolução “Acerca da Situação Política”), in :
Iossif Vissarianovitch Stalin. Sotchinienia (Obras de I. V. Stalin), Vol. 3,
Moscou : Gosud. Izd-vo, pp. 37 e s.; tb., em língua alemã, IDEM. Rede
auf dem VI. Parteitag der SDAPR (B) (Discurso Pronunciado no VI Congresso do
Partido Operário Social-Democrático Russo Bolchevique) (3 de Agosto de 1917),
especialmente Erwiderung an Preobrajensky zur Frage des 9. Punktes der
Resolution “Über die Politische Lage” (Contestação a Preobrajensky acerca da
Questão do IX Ponto da Resolução “Acerca da Situação Política”), in: J.W.
Stalin Werke, Vol. III, Dortmund : Roter Morgen, 1976, p. 173.
[135] Nesse sentido, vide precisamente GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 14 (1928-1937) –
Internazionalismo e Politica Nazionale (Internacionalismo e Política Nacional),
in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato
Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 144 e 145. tb. em http://www.scientific-socialism.de/GramsciStalinTrotskyCAP1.htm
[136] Cf. CASTRO, FIDEL. El Nuevo Diário. Interview with Fidel Castro : Blaming
Stalin for Everthing Would Be Historical Simplism (O Novo Diário. Entrevista
com Fidel Castro : Culpar Stalin por Todas as Coisas Seria um Simplismo
Histórico)(03.06.1992), in : El Nuevo Diário, Manágua, tb. in : Castro Internet
Archive, http://www.marxists.org/history/cuba/archive/castro/1992/06/03.htm
[137] Cf. PETRAS, JAMES. Entrevista a James
Petras, Realizada por Pablo Scatizza Por Ocasião da Passagem de Petras pela
Cerâmica Zanon, Comissão de Imprensa dos Trabalhadores da Cerâmica Zanoa, in :
Rebelion.org, 10.06.2003.
[138] Passim IDEM. La
Contraofensiva Imperial : Contradicciones, Desafíos y Oportunidades, in :
Marxismo Vivo. Revista del Koorkom, Nr. 4, Deciembre de 2001, p. 44.
[139] Cf. IDEM. Entrevista a James Petras, Realizada por Pablo Scatizza Por
Ocasião da Passagem de Petras pela Cerâmica Zanon, Comissão de Imprensa dos
Trabalhadores da Cerâmica Zanoa, in : Rebelion.org, 10.06.2003.
[140] Cf. IDEM. Antiglobalización, Militarismo y Lamebotismo, in: Rebelion.org, 28.03.2002.
[141] Cf. PETRAS, JAMES. Cuba, os Estados Unidos e os Direitos Humanos, Trad. em Língua Portuguesa de Vera L. C.
Vassouras, in : Centro de Mídia Independente (CMI) Brasil, 23.05.2003.; IDEM. De Cómo Algunos Intelectuales de
Occidente le Hacen el Juego al Imperialismo. La Responsabilidad de los Intelectuales : Cuba, los Estados Unidos
y los Derechos Humanos, in : Rebelion.org, 06.05.2003.
[142] Cf. OVIDIUS NASO, PUBLIUS. Metamorphoses
(43 AC. – 18
[143] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24
de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio
Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e s.
[144] Cf. MARX, KARL H.
Nachwort zur zweiten Auflage des “Das Kapital” (Posfácio à Segunda Ediçao de “O
Capital”)(24 de Janeiro de 1873), in : Marx & Engels Werke (Obras de Marx e
Engels), Vol. 23, pp. 18 - 28.
[145] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Karl Marx. Kratkii Biografitcheskii Otcherk s
Izlojeniem Marksizma (Karl Marx. Breve Quadro Biográfico com Exposição do
Marxismo) (Julho – Novembro de 1914), in: ibidem, Vol. 26, pp. 43 e s.
[146] Cf. ENGELS, FRIEDRICH. Brief an
Karl Marx(Carta a K. Marx)(13.02.1851), in : Marx und Engels Gesamtausgabe
(MEGA), Erste Abt., Bd. III/4, Berlim : Dietz, 1975, pp. 41 e 42.
[147] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24
de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio
Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e s.
[148] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta a F. A. Sorge)(29.11.1886), in: Marx und
Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim : Dietz Verlag, 1962, Vol. 36, p.
578.
[149] Acerca do tema, vide MARX,
KARL H. Thesen über Feuerbach (Teses sobre Feuerbach), in: Marx und Engels
Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim : Dietz Verlag, 1962, Vol. 3, p. 533. Sobre a vulgar conversão reducionista do marxismo revolucionário em filosofia da práxis, vide sobretudo GRAMSCI. ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 13
(1928-1937) – Noterelle sulla Politica del Machiavelli, in: Antonio Gramsci.
Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori
Riuniti, 1991, pp. 3 e s. ; tb. IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 12 (1928-1937) – La Formazione
degli Intellettuali, in: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 836.
[150] Vide ENGELS,
FRIEDRICH. Die Kommunisten und K. Heinzen (Os Comunistas e K.
Heinzen)(03.10.1847), in: ibidem, Vol. 4, pp. 321 e 322.; IDEM. Brief an Karl
Kautsky (Carta a Karl Kautsky)(09.01.1884), in: ibidem, Vol. 36, p. 81.
[151] Acerca do tema, vide MARX,
KARL H. Brief an F. Engels (Carta a F. Engels)(08.01.1868), in: ibidem,
Vol. 32, p. 9.; IDEM. Brief an F.
Engels (Carta a F. Engels)(12.12.1868), in: ibidem, Vol. 32, p. 229; IDEM. Brief an die Redaktion der
“Otetshestvennie Zapiski” (Carta à Redação de “Recordações da Pátria”)(Novembro
de 1877), in: ibidem, Vol. 19, pp. 108 e 112.; tb. ENGELS, F. Antwort an Herrn P. Ernst (Resposta ao Sr. P.
Ernst)(05.10.1890), in: ibidem, Vol. 22, p. 81.
[152] Cf. ENGELS,
FRIEDRICH. Brief an F. A. Sorge (Carta a F. A. Sorge)(10.06.1891), in:
ibidem, Vol. 38, p. 112.
[153] Passim ENGELS, F. Antwort an die Redaktion
der „Sächsischen Arbeiter-Zeitung“ (Resposta à Redação do „Jornal Operário
Saxão“ (13.09.1890), in: Marx & Engels Werke (Obras de Marx e Engels),
Berlim : Dietz Verlag, Vol. 22, p. 69.
[154] Cf. COUTINHO, CARLOS
NELSON. O Pensador Hegemônico, in : Caderno Mais, Folha de São Paulo,
Entrevista realizada por Maurício Santana Dias, 21 de Novembro de 1999.; IDEM. ibidem, in : Gramsci e o Brasil,
http://www .artnet.com.br/ gramsci/arquiv114.htm
[155] Cf. XAVIER, ADEMAR. Pode
um Comunista Ser Democrático ? Gramsci em Questão, in : Revista Leader, Nr. 31,
29 de Outubro de 2002.; IDEM. ibidem, in : http://orbita. starmedia.com/ ~varican/ Diversos/ Pumcserd.
htm
[156] Cf. MANDEL, ERNST. The
Relevance of Marxist Theory for Understanding the Present World Crisis, in :
Marxism in the Postmodern Age. Confronting the New World Order, Editors Antonio
Callari, Stephen Cullenberg, Carole Biewener, New York-London : The Guilford
Press, 1995, pp. 445 e 446.
[157] Acerca do tema, vide MANDEL, ERNST & VERCAMMEN, FRANÇOIS.
Oktober 1917 - Staatsreich oder Soziale Revolution? Zur Verteidigung der
Oktoberrevolution (Outubro de 1917 – Golpe de Estado ou Revolução Social. Em
Defesa da Revolução de Outubro), Karlsruhe: Neuer ISP Verlag, Agosto de 1993,
pp. 7 e s.
[158] Cf. LENIN, VLADIMIR
I. Zametki Publitsista. O Voskhojdenii na Vysokie Gory, O Vrede Unynia, o
Pol’zie Torgovli, Ob Otnoshenii k Men’shevikam i.t.p. (Anotações de um
Publicista. Sobre a Subida de uma Alta Montanha, a Desgraça do Esmorecimento, a
Utilidade do Comércio, a Atitude em face dos Mencheviques etc)(Fevereiro de
1922), Parte 3: Ob Oxote na Lis – O Levi, O Serrati (Agarrando Raposas – Levi e
Serrati), in: ibidem, Vol. 44, pp. 419 e s.
[159] Nesse sentido, vide especialmente
GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione
contro il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5
de Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80
e s.
[160] Acerca do tema, vide subsídios em
GRAMSCI, ANTONIO. Disgregazione
Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Appendice, Napoli : Liguori
Editore, 1996, pp. 232 e s.; TOGLIATTI,
PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano
nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 63 e s.; BRÜTTING, RICHARD. Italien-Lexikon(Léxico-Itália), Berlim : Erich
Schmidt, 1997, pp. 387 e s.
[161] Acerca do tema, vide, entre
outras fontes literárias, os argumentos formulados até mesmo por GRAMSCI, ANTONIO. L“Ordine Nuovo“ a Mosca(L’Ordine
Nuovo, 9 de Outubro de 1920), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 375 e s.