III.A.

O STALINISMO DE GRAMSCI

NO CAMPO POLÍTICO-PARTIDÁRIO

 

Texto de Autoria de

Portau Schmidt von Köln

 

A Enfermidade Gramsciana

no Movimento Trotskysta Contemporâneo

e nas Lutas de Emancipação do Proletariado

Polêmica Trotsky e Gramsci  : Gramsci e Trotsky  

O SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana

de Atualização, Correção

e Superação do Marxismo

(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)

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O Capítulo III em destaque é composto pela presente página de Internet e pelas seguintes subdivisões :

Capítulo III. Introdução : Qual a Compatibilidade entre os Posicionamentos de Gramsci e de Trotsky

Capítulo III.B. : Gramsci contra Trotsky no Campo Teórico-Doutrinário

Capítulo III.C. : A Lógica Filosófica de Gramsci contra o Socialismo Científico de Marx e Engels

Capítulo III.D. : A Via ao Socialismo Democrático-Pacifista da “Guerra de Posição” de Gramsci    

 

Com efeito, um primeiro Gramsci em face de Trotsky é o que redige as páginas jornalísticas de “Il Grido del Popolo” e “Avanti !”, entre 1917 e 1918, venerando entusiasticamente a atuação dos bolcheviques e de seus dirigentes, no quadro das revoluções russas, criticando, porém, acerbamente, a doutrina histórico-materialista de Marx e Engels, desde um ponto de vista idealista-subjetivista, neo-hegeliano, gentilista-crociano[1]. 

Um primeiro Gramsci em face de Trotsky é ainda o redator, em colaboração com Palmiro Togliatti, Umberto Terracini e Angelo Tasca, do semanário “L’Ordine Nuovo” e “Avanti !”, entre 1919 e 1920[2], anos de suas melhores produções literárias, em essência mais próximas da linha prático-política dos bocheviques, sob a direção de Lenin, e enriquecidas, objetivamente, com o ascenso dos Conselhos de Fábrica e dos Comissários de Repartição de Turim[3], ainda que, no domínio teórico-doutrinário, revelem-se, mesmo nesses anos, consideráveis equívocos de Gramsci, em particular no que concerne à doutrina de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, acerca do Estado[4].

Sem embargo, o II Congresso do Komintern achou devido, diante desse quadro multiforme, considerar, em essência, como correta e coerente com todos os princípios da III Internacional a crítica dirigida ao social-reformismo do Partido Socialista Italiano, bem como as propostas práticas, formuladas especificamente pela seção turinesa desse partido, na revista “L’Ordine Nuovo”, de 8 de maio de 1920[5].

Com efeito :

 

„TESES SOBRE AS PRINCIPAIS TAREFAS DO II CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA

...........................

III.  A CORREÇÃO DA LINHA E, EM PARTE, TAMBÉM DA COMPOSIÇÃO DOS PARTIDOS QUE ADERIRAM À INTERNACIONAL COMUNISTA OU QUEREM A ELA ADERIR

............................

No que concerne ao Partido Socialista Italiano, o II Congresso da III. Internacional considera como sendo essencialmente corretas e concordantes com todos os princípios fundamentais da III Internacional a crítica a esse partido e as propostas práticas formuladas à direção regional do Partido Socialista Italiano pela Seção de Turim desse partido, na revista „A Nova Ordem“(L’Ordine Nuovo), de 8 de maio de 1920.“[6]  

 

Referentemente ao tema, cumpre observar que, nessa ocasião, Lenin e Bukharin declararam, entretanto, formalmente, não possuir a intenção de expressar um juízo acerca da orientação geral de „L’Ordine Nuovo“, acerca da qual não possuíam documentos suficientes para a formulação de um julgamento, senão apenas indicar que conferiam sua aprovação a uma crítica e a certas propostas dirigidas à direção do PSI, contidas em um determinado documento em específico, intitulado „Pela Renovação do Partido Socialista“, publicado em 8 de maio de 1920, nas colunas de „L’Ordine Nuovo[7]. 

Por fim, um primeiro Gramsci em face de Trotsky surge como sendo o membro representante do setor da minoria ordinovista do Comitê Central do Partido Comunista Italiano(PCI), fundado, em Livorno, em 21 de janeiro de 1921[8], bem como aquele da carta de resposta a ele solicitada pelo próprio Trotsky, acerca do movimento literário futurista na Itália dos anos 20, intitulada “Uma Carta a Trotsky sobre o Futurismo”, datada de 8 de setembro de 1922[9], e em sua atividade de militância enquanto representante do PCI junto ao Komintern, que se projeta ao longo dos anos de 1922 e 1923.

Ainda nesse mesmo contexto, localiza-se a afirmação de Trotsky, manifestada em 1932, de que companheiros italianos teriam-lhe dito (possivelmente, a referência em tela está relacionada com informações prestadas por Pietro Tresso (Basco) - esse último um convicto gramscista que, após ter sido expulso do PCI, adere temporariamente às fileiras trotskystas) que Gramsci havia sido o único membro da direção do PCI a considerar a possibilidade de os fascistas tomarem o poder.[10]

Para o exame da temática em referência, relativa à eventual compatibilidade entre os posicionamentos de Gramsci e de Trotsky, resulta imperioso frizar, entretanto, que um segundo e último Gramsci diante de Trotsky emergiu, a seguir, enquanto um dos principais dirigentes do Partido Comunista Italiano(PCI), intervindo, doutrinária e politicamente, logo nos mêses subsequentes à morte de Lenin, ocorrida em janeiro de 1924, e do V Congresso do Komintern, realizado entre 17 de junho e 8 de julho desse mesmo ano, escrevendo, a partir de então, nas colunas de “L’Ordine Nuovo”, “Lo Stato Operaio” e “l’Unità”[11], elaborando, intelectualmente, as Teses de Lyon do PCI, juntamente com Palmiro Togliatti (Ercoli), em janeiro de 1926[12], cristalizando seus pensamentos doutrinários, por fim, em seus Cadernos do Cárcere, redigidos preponderantemente entre 1928 e 1933, porém ainda, de maneira esparsa e intermitente, até 1937, ano de sua morte[13].

Nessa sua segunda e última fase, é possível verificar-se em Gramsci seu gradativo amadurecimento teórico, até a sua mais plena desenvoltura, plasmada em seus Cadernos do Cárcere, enriquecidos com sua experiência conjunta de 5 anos, de 1921 à 1926, enquanto dirigente do Partido Comunista Italiano, e de dois anos, entre 1922 e 1923, junto à direção do Komintern[14].

Nesse mesmo sentido, Gramsci participou ainda, ativamente, entre 21 de março e 6 de abril de 1925, da V. Conferência Ampliada do Comitê Executivo do Komintern, que tratou das questões teóricas e práticas relacionadas com a stalinização dos partidos comunistas, sob a alcunha nominal de “Teses sobre a Bolchevização dos Partidos Comunistas[15].

No início dessa sua segunda e última fase, seria de difícil persuasão afirmar-se, entretanto, dando por líquido e certo, que Gramsci, por ocasião de sua estadia em Moscou, onde se encontrou nos anos de 1922 e 1923, na qualidade de delegado do PCI junto ao Comitê Executivo do Komintern, amadureceu sua distância em relação às posições abstencionistas ultra-esquerdistas de Amadeo Bordiga, à época secretário geral do PCI, “graças sobretudo à influência de Trotsky”[16].

O exame detido de seus escritos, produzidos até o V Congresso do Komintern, realizado entre 17 de julho e 8 de julho de 1924, bem como a análise demorada de todo o complexo de sua obra, conduzem, mais propriamente, ao convencimento de que Gramsci fundava seus próprios posicionamentos políticos não na defesa coerente de sólidas concepções teórico-doutrinárias, prático-políticas e estratético-programáticas, próprias à dialética histórico-materialista do marxismo revolucionário, mas sim assentava-os nas orientações e nos giros políticos circunstanciais impulsionados por grupos e personalidades dirigentes da Internacional Comunista, dos quais dependia para travar suas próprias lutas políticas, no seio das organizações partidárias e dos órgãos publicísticos do movimento proletário e camponês italiano.

Precisamente esse enfoque permite afirmar que Gramsci amadureceu sua distância em face de Bordiga escorando-se, formalmente, de início, “sobretudo”, nas críticas de Lenin dirigidas a esse último, formuladas no seio do Komintern, já a partir dos primeiros anos de sua fundação, em 1919, – reconhecendo, por consegüinte, nesse contexto, as contribuições de Trotsky e de outros dirigentes bolcheviques acerca do tema.

Posteriormente, após a progressiva ausência de Lenin, apoiou-se, porém, ainda que, de início, de maneira mais velada, devido à indefinição momentânea da luta fracional no seio do PC da URSS, nos posicionamentos firmados pela burocracia encabeçada por Stálin, em sua luta contra Trotsky e seus defensores.  

Nesse contexto, já mesmo a carta de Gramsci, dirigida a Togliatti e Terracini, em 9 de feveiro de 1924, i.e. dias após a morte de Lenin, não permite, efetivamente, entrever, de nenhuma maneira, o fato de que “traços da influência de Trotsky” perpassaram, outrora, ainda que transitoriamente, as concepções de Gramsci, ou ainda que Gramsci, nessa ocasião, defendeu, de início, “substancialmente, as posições trotskystas contra a troika”, apesar de ser, em verdade, a esse tempo, sua apreciação a respeito de Trotsky, bem como acerca da disputa sobre o Outubro de 1917 e a Revolução Permanente, ainda consideravelmente diferente daquela que se encontra em seus Cadernos do Cárcere, em cujas páginas Gramsci ataca, hostil, desbragada e ostensivamente – e não apenas velada, disfarçada e moderadamente –, os principais posicionamentos e concepções de Trotsky.

A referida carta de Gramsci, datada de 9 de fevereiro de 1924, ao conter considerações cuidadosamente formuladas, de modo eminentemente factual-constatatório, e esclarecimentos descritivos, metodologicamente analítico-atestatórios, visando a combater, antes de tudo, as posições de Amadeo Bordiga, voltadas ao impulsionamento de uma ruptura abstencionista em relação da Internacional Comunista, fornece, além disso, elementos para seguramente afirmar que Gramsci, estando plenamente consciente das diversas posições existentes no interior do PC da URSS e do Kominern, agiria à maneira de um trânsfuga, em face dos resultados da luta fracional entre Trotsky e Stálin, tal como descreve haveriam de posicionar-se Zinoviev e Kamenev, na hipótese de demonstrar-se falido o Levante de Petrogado, de Outubro (Novembro) de 1917, levante esse que Gramsci, tal qual o pensador neo-kantista, idealista-subjetivista alemão, Max Weber, qualifica, indevida e equivocadamente, como um “golpe de Estado”[17]. 

Examine-se, pois, os argumentos de Gramsci, contidos em sua carta de 9 de fevereiro de 1924, dirigida a Togliatti e Terracini :

 

“No que concerne à Rússia, sempre soube que na topografia das frações e das tendências Radek, Trotsky e Bukharin ocupam uma posição de esquerda, Zinoviev, Kamenev, Stálin, uma posição de direita, enquanto Lenin posicionava-se no centro e funcionava de árbitro, em todas as situações. Isso, naturalmente, na linguagem corrente política.

O núcleo assim-chamado leninista, como é sabido, sustenta que essas posições “topográficas” são absolutamente ilusórias e falaciosas, sendo que, nas suas polêmicas, demonstrou, continuamente, que os assim-denominados de esquerda nada são senão mencheviques, acobertados de linguagem revolucionária, na medida em que são incapazes de avaliar as relações reais das forças efetivas.

É sabido, de fato, que, em toda a história do movimento revolucionário russo, Trotsky estava politicamente mais a esquerda do que os bolcheviques, enquanto nas questões de organização fazia bloco freqüentemente ou, até mesmo, confundia-se com os mencheviques.

É sabido que, em 1905, Trotsky já considerava que, na Rússia, pudesse verificar-se uma revolução socialista e operária, enquanto os bolcheviques pretendiam estabelecer apenas uma ditadura política do proletariado aliado aos camponeses, que servisse de invólucro ao desenvolvimento do capitalismo, não agredido em sua estrutura econômica.

É sabido que, em novembro de 1917, enquanto Lenin e a maioria do partido passou para as concepções de Trotsky e pretendeu implodir não apenas o governo político, mas também o governo industrial, Zinoviev e Kamenev permaneceram com a opinião tradicional do partido, quiseram o governo de coalizão revolucionária com os mencheviques e com os sociais-revolucionários, sairam, por isso, do CC do partido, publicaram declarações e artigos em jornais não bolcheviquese e, por pouco, não chegaram até à cisão.

É certo que se, em novembro de 1917, o golpe de Estado falisse, como faliu em outubro passado o movimento alemão, Zinoviev e Kamenev teriam se afastado do partido bolchevique e, provavelmente, adeririam aos mencheviques.

Na recente polêmica, ocorrida na Rússia, revela-se como Trotsky e a oposição, em geral, tendo em conta a ausência prolongada de Lenin da direção do partido, preocupam-se, intensamente, com um retorno da velha mentalidade, que seria prejudicial para a revolução.

Exigindo uma maior intervenção do elemento operário na vida do partido e uma diminuição dos poderes da burocracia, querem assegurar, com profundidade, um caráter socialista e operário à revolução, impedindo que lentamente chegue àquela ditadura democrática, invólucro de um capitalismo em desenvolvimento, que era o programa de Zinoviev e seus companheiros, ainda em novembro de 1917.

Essa me parece ser a situação no partido russo, a qual é muito mais complicada e mais substancial do que entrevê Urbani(i.e. Umberto Terracini, à época um dos principais dirigentes do PCI, ainda solidário às posições dirigentes de Bordiga. Esse último se encontrava aprisionado pelo fascismo, desde 3 de fevereiro de 1923).

A única novidade é a passagem de Bukharin para o grupo de Zinoviev, Kamenev e Stálin.”[18] 

 

No que concerne à interpretação de Gramsci acerca do fracasso da Revolução Alemã de 1923, o enfoque apresentado pela presente investigação torna-se ainda mais claro :

 

“É natural que Zinoviev, que não pode atacar Brandler e Thalheimer como incapazes e nulidades individuais, ponha a questão no plano político e procure, em seus erros, as idéias para acusá-los de direitismo.

A questão complica-se, além disso, desgraçadamente.

Em certos aspectos, Brandler é um putchista, muito mais do que um membro da ala de direita e pode-se também dizer que é um putchista porque é da ala de direita.

Ele havia assegurado ser possível, no outubro passado, dar um golpe de Estado na Alemanha e que o partido estava tecnicamente pronto para tanto.

Zinoviev estava, pelo contrário, muito pessimista e não considerava que a situação estivesse madura politicamente.

Nas discussões ocorridas no centro russo, Zinoviev foi colocado em minoria e apareceu, ao invés disso, o artigo de Trotsky : “Se a Revolução Pode Ser Feita com Data Marcada”. Em uma discussão ocorrida na Presidência, isso foi dito bem claramente por Zinoviev.

Ora, em que consiste o cerne da questão ?

A partir do mês de julho, depois da Conferência da Paz de Haia, Radek, retornando a Moscou, depois de uma tournée, fez um relatório catastrófico sobre a situação alemã. ...

É evidente que, depois desse relatório de Radek, o grupo Brandler colocou-se em movimento e, para evitar o ascenso da minoria (i.e. da minoria alemã de Fischer-Maslov), preparou um novo março de 1921.

Se existiram erros, esses foram cometidos pelos alemães.

Os companheiros russos, i.e. Radek e Trotsky, cometeram o erro de acreditar nas bravatas(no original em italiano : nos leilões de fumaças) de Brandler e de seus companheiros, porém, de fato, também nesse caso, a posição deles não era de direita, senão muito mais de esquerda, a ponto de poderem incorrer na acusação de putchismo.”[19]   

 

Já com base nos excertos retro-apresentados, é possível entrever, nitidamente, que, a despeito de ter plena consciência do fato de que Trotsky e a Oposição de Esquerda, preocupavam-se, intensamente, com um retorno da velha mentalidade, que seria prejudicial para a revolução“, e exigiam „uma maior intervenção do elemento operário na vida do partido e uma diminuição dos poderes da burocracia”, querendo “assegurar, com profundidade, um caráter socialista e operário à revolução”, com eles Gramsci de nenhuma maneira se identifica, defendendo, pelo contrário, no segundo excerto de sua carta em destaque, ardilosa e sibilinamente, a mesmíssima caracterização, elaborada  pela Troika, em relação a Trotsky, por ter esse último, supostamente, cometido, no contexto da Revolução Alemã de 1923[20], “o erro de acreditar nas bravatas(no original em italiano : credere alle vendite di fumo, acreditar nos leilões de fumaças) de Brandler e de seus companheiros”[21].

No segundo excerto acima reproduzido, Gramsci cria, em verdade, argumentos de logro, voltados a pretendidamente dissimular a inteira imperícia de Zinoviev, à época Presidente do Komintern[22] – e, adicionalmente, o decidido posicionamento contrário de Stálin[23] – relativamente à inafastável necessidade tomar medidas no sentido de preparar e organizar, perspicaz, rigorosa, inteligente e dialeticamente, um levante na Alemanha, já mesmo a partir dos primeiros mêses de 1923[24] - e não no apagar das luzes desse mesmo ano, fazendo-no, então, de maneira serôdia e sonolenta, visionária e fatalista[25].

O resultado extraído cuidadosamente por Gramsci a partir do balanço político da Revolução Alemã de 1923 surge elaborado no sentido de reforçar a tese arquitetada pela Troika, consistente na imputação de pretensa culpabilidade de Trotsky pelo fracasso da empresa, bem como relativa à suposta mais plena inocência de Zinoviev e de Stálin, esses últimos, até fins de agosto de 23, plenamente reticentes à e, até mesmo, antagonistas da efetiva deflagração, a partir de então, alucinados entusiastas do levante alemão.

A causa do debacle do Outubro de 23 haveria de ser interpretada, assim, em sentido burocrático-stalinista, como sendo decorrente da insuficiente “bolchevização” do Partido Comunista Alemão(KPD), estimulada pelo “liquidacionismo e o capitulacionismo mencheviques trotskystas”[26], tal como Gramsci admite serem esses últimos plenamente “acobertados de linguagem revolucionária, na medida em que são incapazes de avaliar as relações reais das forças efetivas.”

Em um raciocínio conclusivo e enfático, contido nessa mesma carta de 9 de fevereiro de 1924, é possível entrever-se, por fim, que Gramsci colocava-se em favor, nessa ocasião, não das posições trotskystas minoritárias contra a Troika de Stálin, Zinoviev e Kamenev, senão precisamente em prol da corrente burocraticamente majoritária da Internacional Comunista, em processo de solidificação após a morte de Lenin: 

 

„Amadeo (i.e. Amadeo Bordiga) coloca-se do ponto de vista de uma minoria internacional.

Nós nos devemos colocar do ponto de vista de uma maioria nacional.

Não podemos, por isso, querer que a direção do partido seja dada a representantes da minoria porque estes estão de acordo com a Internacional, mesmo se depois da discussão do manifesto (i.e. do manifesto da esquerda comunista de Amadeo Bordiga) a maioria do partido permanecer com os atuais dirigentes.

Em meu parecer, é esse o ponto central que deve determinar politicamente o nosso posicionamento.

Se estivéssemos de acordo com as teses de Amadeo, deveríamos naturalmente colocar-nos o problema de, tendo conosco a maioria do partido, convir permanecer na Internacional, dirigidos nacionalmente pela minoria, a fim de dar tempo ao tempo, e chegar até uma reversão da situação que nos desse razão teoricamente, ou de convir rompê-la.

Porém, se não estamos de acordo com as teses, firmar o manifesto (i.e. o manifesto de Amadeo Bordiga) significa assumir toda a responsabilidade pelo equívoco.

Se se obtem a maioria com base nas teses de Amadeo, (devemos problematizar) acerca de aceitar a direção da minoria, nós que não estamos de acordo com essas teses, e que poderíamos, assim, resolver a situação organicamente ou permanecer na minoria, quando, por nossas concepções, estamos de acordo com a maioria que se perfilaria em torno da Internacional.

Isso significaria a nossa liquidação política e a separação em relação a Amadeo. A seguir, um tal estado de coisas assumiria o aspecto mais antipático e odioso.“[27]     

 

A partir desse primeiro mês subseqüente à morte de Lenin, quando viria a se aguçar, exponencialmente, a mais impiedosa luta de Trotsky contra o ascenso da burocracia stalinista, é possível encontrar-se, então, Gramsci, no âmbito de sua luta político-partidária já deflagrada precedentemente contra a tendência de Amadeo Bordiga[28], acusando esse último de inclinações (semi-)trotskystas e defendendo as posições téoricas e práticas de Stálin, a esse tempo aliado de Zinoviev e Kamenev, contra Trotsky[29].

Em virtude de sua posições cada vez mais resolutas contra o trotskysmo e seus potenciais defensores em solo italiano, Gramsci assumiu, já a partir de fins de fevereiro de 1924, a função de principal dirigente político-estratégico do PCI, em processo acelerado de stalinização[30].

Com base nas resoluções do V. Congresso do Komintern, realizado entre 17 de junho e 8 de julho de 1924, o Comitê Central do PCI foi reorganizado, passando, então, a compor-se de 17(dezessete) membros.

Seu secretariado passou a ser encabeçado por Gramsci e Togliatti, sua ala de direita, por Angelo Tasca – que pessoalmente, entretanto, não integrava esse comitê central -, sua ala de centro, integrada pelos terceiro-internacionalistas, advindos da mais recente ruptura com o Partido Socialista Italiano, por Giacinto Serrati.

A ala de esquerda, encabeçada por Amadeo Bordiga, já havia sido, a essa altura, excluída do Comitê Central do PCI[31].    

Quando, em novembro de 1924, contando o PCI com cerca de 25.000 a 30.000 militantes[32], Gramsci elaborou sua introdução a um artigo publicado no Pravda sem firma - porém muito provavelmente de autoria de Bukharin -, dedicado exclusivamente à impugnação das lições de Trotsky acerca da Revolução de Outubro, colheu tal oportunidade para registrar publicisticamente :  

 

“No terceiro volume de suas obras (1917), publicado recentemente, existe um prefácio de 60 páginas.

Tal como outrora, os epígonos de Marx procuraram realizar, sob sua bandeira, a revisão do marxismo, da mesma forma, hoje, Trotsky, em nome do bolchevismo, pretende revisar o bolchevismo.”[33]

 

No quadro da acirrada disputa política voltada a implantar, nas mais diversas seções nacionais do Komintern, direções estrita e dogmaticamente leais aos posicionamentos político-burocráticos do stalinismo, contra as orientações de Trotsky, destacou-se Gramsci, já em fins de 1924, na qualidade de um dos mais exaltados e candentes antagonistas do trotskysmo. Se não, vejamos :

 

“Não basta declarar sermos disciplinados.

É necessário engajar-se no plano de trabalho indicado pela Internacional. ...

Trotsky, embora participando “disciplinadamente” dos trabalhos do partido tinha, com sua postura de oposição passiva – similar àquela de Bordiga – criado um estado de mal-estar em todo o partido, o qual não podia ter um presságio acerca dessa situação.”[34] 

 

Em seu relatório ao Comitê Central do PCI, datado de 6 de fevereiro de 1925, Gramsci exprimiu da seguinte forma seus posicionamentos na luta contra Trotsky, posicionando-se resolutamente em favor do então chamado “processo de bolchevização (leia-se de stalinização) dos partidos comunistas”  :

 

“Na moção, dever-se-ia, além disso, dizer como as concepções de Trotsky e, sobretudo, o seu posicionamento representam um perigo, na medida em que a falta de unidade do partido, em um país no qual existe um único partido, cinde o Estado.

Isso produz um movimento contra-revolucionário.

Tal afirmação não significa, porém, que Trotsky seja um contra-revolucionário : significa que, nesse caso, devemos exigir sua expulsão.”[35]  

 

É mister referir-se, ainda, a intervenção decisiva de Gramsci no processo preparatório do III Congresso do PCI, ocorrido entre agosto de 1925 e janeiro de 1926, que levou, finalmente, entre os dias 20 e 26 de janeiro de 1926, em Lyon, na França, à consagração inconstrastável da doutrina dogmático-messiânica e da política burocrático-visionária do stalinismo na seção italiana do Komintern[36].

Com efeito, tal congresso - cuja realização se tornou quase impossível em virtude da intensa perseguição do fascismo contra as organizações de esquerda - foi orquestrado pelos principais dirigentes do PCI – entre eles, antes de tudo, Gramsci, Togliatti e Scoccimarro - de modo a consagrar uma vitória aplastante e inimpugnável da linha stalinista-gramsciana-togliattiana sobre o agrupamento de esquerda de Amadeo Bordiga.

Tais dirigentes do PCI conferiram aplicação sistemática, nessa oportunidade, às mesmas manobras organizativas que propiciaram a vitória da ala comanda por Stálin no PC da URSS, a partir de 1923 e 1924 : organização de plenárias e pronunciamento, em primeiro lugar, das regionais e das federações que tinham acordo com a política stalinista do CC, publicação antecipada dos votos das células das grandes fábricas em que a política stalinista adquiria maioria considerável, atuação em sistema disciplinado de fração secreta, em compasso com a direção do Komintern, dirigido por Stálin e seus aliados, proibição formal e oficial de todas e quaisquer outras frações no interior do partido, atribuição à linha stalinista do CC de todos os votos não expedidos por escrito à fração de oposição bordiguista, mudança das regras de tirada de delegados para os congressos etc[37].

O resultado impactante de 90,2 % dos votos atribuídos à corrente de Gramsci e Togliatti contra 9,2 % à corrente de Amadeo Bordiga permite já entrever com se procedeu estritamente, seguindo o figurino das mais autênticas manipulações stalinistas, contra a corrente encabeçada por um dos principais fundadores históricos do PCI, o qual comandara, há não mais de cinco atrás, a ruptura da ala comunista no XVII Congresso do Partido Socialista Italiano de Livorno, em 1921, i.e. Amadeo Bordiga[38].                

Não é demasiado recordar que as Teses de Lyon, redigidas nesse mesmo janeiro de 1926, obra intelectual conjunta de Antonio Gramsci e Palmiro Togliatti (Ercoli) são as que nada mais fizeram senão ratificar -  criativa e inovadoramente, à maneira gramsciana ! - a validade da famosa palavra de ordem anti-monárquica, de natureza supostamente democrático-intermediária, que já ordenava toda a intervenção do PCI, desde o assassinato do deputado socialista-unitário Giacomo Matteotti, em 1924[39] : “Assembléia Republicana Constituinte, apoiada nos Comitês de Operários e Camponeses”, alegando-se conceber tal consigna como instrumento de mobilização das massas e formação de embriões de soviets em face da ditatura fascista de Benito Mussolini[40].

Na “Carta ao Comitê Central do Partido Comunista Soviético”, sem data e sem firma, porém indiscutivelmente redigida por Antonio Gramsci, em nome do Comitê Político do PCI, em outubro de 1926, na cidade de Roma, enviada, a seguir, à Moscou, para as mãos de Palmiro Togliatti, esse último representante agora da seção italiana no Comitê Executivo do Komintern, atesta-se o posicionamento totalmente favorável da ala partidária comandada por Gramsci à política stalinista, no momento mais polarizado dos choques do Bloco das Oposições, a essa altura encabeçado por Trotsky, Zinoviev e Kamenev, contra o stalinismo, no domínio das temáticas relativas à construção do “Socialismo Em Um Só País”, ao Internacionalismo, à Revolução Permanente, às lições da Revolução de Outubro, enfim.

Nessa carta, escreve Gramsci, expressamente :

 

“Caros companheiros, os comunistas italianos e todos os trabalhadores conscientes do nosso país sempre seguiram com a máxima atenção as vossas discussões. ....

 Hoje, às vésperas da vossa XV Conferência, não temos mais a segurança do passado, sentimo-nos irresistivelmente angustiados.

Parece-nos que a atual postura do Bloco das Oposições e a agudeza das polêmicas do PC da URSS exijem a intervenção dos partidos irmãos. ...

O Comitê Político do PCI estudou, com a maior diligência e atenção que lhe eram permitidas, todos os problemas que hoje estão em discussão no Partido Comunista da URSS. ...

Nós, até aqui, exprimimos uma opinião de Partido apenas sobre a questão estritamente disciplinar das frações, querendo ater-nos à vossa orientação, após o XIV Congresso, de não transpostar a discussão russa nas seções da Internacional.

Declaramos, agora, que consideramos fundamentalmente justa a linha política da maioria do CC do Partido Comunista da URSS (i.e. a linha que era, então, formulada por Stálin e Bukharin) e que nesse sentido pronunciar-se-á, certamente, a maioria do Partido Italiano, se necessário for colocar toda a questão em seu seio. ...

Repetimos que nos impressiona o fato de que a postura da oposição atropele toda a linha política do CC, tocando o próprio coração da doutrina leninista e da ação política do nosso Partido da União. ...

Na ideologia e na prática do Bloco das Oposições renasce, plenamente, toda a tradição da social-democracia e do sindicalismo que impediu, até agora, o proletariado ocidental de organizar-se como classe dirigente. ...

Os companheiros Zinoviev, Trotsky, Kamenev, contribuiram, poderosamente, para nos educar para a revolução.

Algumas vezes, corrigiram-nos, muito enérgica e severamente.

Foram os nossos mestres.

Voltamo-nos especialmente a eles, enquanto os maiores responsáveis da atual situação, pois queremos estar seguros que a maioria do CC da URSS não pretenda vencer, arrasadoramente (no original : stravincere), e esteja disposta a evitar medidas excessivas.”[41]

    

Eis, portanto, os posicionamentos de Gramsci, à frente do PCI, em face da luta de Trotsky e do Bloco de Oposições contra a burocratização stalinista do Estado Soviético e do Komintern.

Gramsci, em defesa da política stalinista, qualifica os posicionamentos defendidos conjuntamente por Trotsky, Zinoviev e Kamenev, em face de Stálin e Bukharin, como sendo ameaçadores do próprio coração da doutrina leninista, como estando essencialmente impregnados pela ideologia e prática do social-reformismo e do sindicalismo, responsabilizando-os, por isso, pela crise do PC da URSS.

A alegação de que Gramsci, à distância, i.e. desde Roma, pouco conhecimento possuia acerca do contexto das disputas travadas entre o stalinismo e o Bloco de Oposições não há como proceder absolutamente, já porque ele mesmo indica na introdução de sua carta que os comunistas italianos seguiam com a máxima atenção as discussões soviéticas, já porque possuia uma considerável experiência de dois anos, de 1922 a 1923, como representante italiano junto ao Komintern, já, por fim, porque Palmiro Togliatti, seu companheiro de armas stalinistas, encontrava-se, efetivamente, em Moscou, informando-lhe detalhadamente acerca do que aí se passava[42].

Tal efetiva defesa dos posicionamentos de Stálin por Gramsci, na luta contra o Bloco de Oposições de Trotsky, Zinoviev e Kamenev, é reconhecida, presentemente, até mesmo pelo renomado Professor da Universidade de Urbino e membro do Comitê Direitor da International Gramsci Society, Giorgio Baratta, considerado, presentemente, como uma das mais pronunciadas autoridades em estudos gramscianos da Itália de hoje e um dos mais profundos inspiradores dos meta-marxistas franco-gramscianos.

Sem embargo, Giorgio Baratta, efetuando um exercício de malabarismo hermenêutico sobre o texto vocabular dessa última carta de Gramsci que indico acima, dedica, em seu artigo intitulado “Socialismo, Americanismo e Modernidade de Gramsci”, todo um capítulo procurando provar, por A mais B, que Gramsci se posicionava com “Com Lenin, além de Lenin, contra Stálin” ..., de modo a pretender construir em torno da imagem fúnebre de Gramsci uma bela auréola de anti-stalinismo radical[43], método esse plenamente louvado não apenas entre os mais dogmáticos ideólogos do meta-marxismo franco-gramsciano de Actuel Marx e dos Espaces Marx, senão ainda entre os mais atuais idealistas-gramscianos de todas estirpes teóricas e de todos os continentes do mundo.

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS

 

 

 

 

 



[1] Nesse sentido, vide, sobretudo, GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 80 e s.; IDEM. I Massimalisti Russi(Il Grido del Popolo, 28 de Julho de 1917), in : ibidem, pp. 65 e s.; IDEM. Wilson e I Massimalisti Russi(Il Grido del Popolo, 2 de Março de 1918), in : ibidem, pp. 106 e s.; IDEM. Un Anno di Storia(Il Grido del Popolo, 16 de Março de 1918), in : ibidem, pp. 113 e s.; IDEM. Il Nostro Marx(Il Grido del Popolo, 4 de Maio de 1918), in : ibidem, pp. 120 e s.; IDEM. Superstizione e Realtà(L’Ordine Nuovo, 8 de Maio de 1920), in : ibidem, pp. 322 e s.; IDEM. Astrattismo e Intransigenza(Il Grido del Popolo, de 11 de Maio de 1918), in : ibidem, pp. 124 e s.; IDEM. Utopia(Avanti !, 25 de Julho de 1918), in : ibidem, pp. 152 e s.; IDEM. L’Opera di Lenin(Il Grido del Popolo, 14 de Setembro de 1918), in : ibidem, pp. 159 e s.   

[2] Em 1° de maio de 1919, Gramsci, Togliatti, Tasca e Terracini deram vida ao órgão publicístico „L’Ordine Nuovo“, no contexto de sua militância em Turim, no interior do Partido Socialista Italiano(PSI). A seguir, no quadro das mobilizações dos trabalhadores turineses de fins de 1919 e da greve geral de 1920, com tomada e ocupação de fábricas, Togliatti logrou assumir a direção do secretariado da seção socialista turinesa. Em um primeiro momento, Gramsci, afastando-se de Togliatti, procurou criar seu „Gruppo di Educazione Comunista“, mais próximo das posições abstensionistas de Amadeo Bordiga. Sendo esse episódio, entretanto, de breve duração, Gramsci e Togliatti voltaram a se reunir, logo depois, em torno das publicações de „L’Ordine Nuovo“.  Esse órgão de imprensa, dirigido por Togliatti e Gramsci, empreendeu a condenação do modo estreito e regionalizado segundo o qual os sindicalistas italianos haviam preparado e deflagrado o movimento de tomada e ocupação das fábricas, bem como censurou a postura, eminentemente social-reformista da direção do Partido Socialista Italiano, que se negou a colocar na ordem-do-dia da agenda revolucionária a questão da conquista do poder de Estado e impulsionar o processo de transformação das Comissões Internas de Fábrica em Conselhos de Fábrica. L“Ordine Nuovo“ surgiu, assim, de início, enquanto órgão da tendência política da seção socialista turinense de Togliatti e Gramsci. Nesse primeiro momento, foi publicado de 1°. de maio de 1919 a 11 de dezembro de 1920, na forma de semanário de debate e elaboração teórica. De 1° de janeiro de 1921 a 25 de novembro de 1922, tornou-se, a seguir, o órgão do Partido Comunista Italiano, adquirindo edição quotidiana. Finalmente, de março de 1924 a abril de 1925, nos momentos decisivos da luta de Gramsci e Togliatti em defesa do stalinismo contra seus opositores, L“Ordine Nuovo“ foi publicado quinzenalmente. Acerca do tema, vide subsídios em GRAMSCI, ANTONIO. Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Appendice, Napoli : Liguori Editore, 1996, pp. 232 e s.; TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 63 e s.; BRÜTTING, RICHARD. Italien-Lexikon(Léxico-Itália), Berlim : Erich Schmidt, 1997, pp. 387 e s.           

[3] Acerca do tema, vide, em particular, p. ex., GRAMSCI, ANTONIO. La Russia e l’Europa (L’Ordine Nuovo, 1° de Novembro de 1919) , in: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 249 e s.; IDEM. L’Internazionale Comunista(L’Ordine Nuovo, 24 de Maio de 1919), in : ibidem, pp. 193 e s.; IDEM. La Taglia della Storia(L’Ordine Nuovo, 7 de Junho de 1919), in : ibidem, pp. 199 e s.; IDEM. Democrazia Operaia(L’Ordine Nuovo, 21 de Junho de 1919, escrito em colaboração com Palmiro Togliatti), in : ibidem, pp. 206 e s.; IDEM. Sindacati e Consigli(L’Ordine Nuovo, de 11 de Outubro de 1919), in : ibidem, pp. 246 e s.; IDEM. Sindicalismo e Consigli(L’Ordine Nuovo, 8 de Novembro de 1919), in : ibidem, pp. 260 e s.; IDEM. Partito di Governo e Classe di Governo(L’Ordine Nuovo, 28 de Fevereiro – 6 de Março de 1920), in : ibidem, pp. 306 e s.; IDEM. Superstizione e Realtà(L’Ordine Nuovo, de 8 de Maio de 1920), in : ibidem, pp. 322 e s.; IDEM. Il Consiglio di Fabbrica(L’Ordine Nuovo, 5 de Junho de 1920), in : ibidem, pp. 333 e s.; IDEM. Sindicati e Consigli(L’Ordine Nuovo, 12 de Junho de 1920), in : ibidem, pp. 338 e s. ; IDEM. Operai e Contadini(Avanti !, 20 de Fevereiro de 1920), in : Antonio Gramsci. Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Napoli : Liguori Editore, 1996, pp. 108 e s.

[4] Nesse sentido particular, vide GRAMSCI, ANTONIO. La Conquista dello Stato(L’Ordine Nuovo, 12 de Julho de 1919), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 218 e s.; IDEM. Lo Stato e il Socialismo(L’Ordine Nuovo, 28 de Junho-5 de Julho de 1919), in : ibidem, pp. 210 e s.; IDEM. Socialisti e Anarchici(L’Ordine Nuovo, 20-27 de Setembro de 1919), in : ibidem, pp. 237 e s. Em seu artigo „A Conquista do Estado“, Gramsci assinala, nitidamente : „Os socialistas aceitaram, excessivamente, de modo freqüente, a realidade histórica, produto da iniciativa capitalista. Caíram no erro da psicologia dos economistas liberais : acreditar na perpetuidade das instituições do Estado Democrático, em sua perfeição fundamental. ... Dessa concepção errada acerca da transformação histórica, da prática repugnante do compromisso e da tática „cretinamente“ parlamentarista, nasce a fórmula atual sobre a „conquista do Estado“. Depois das experiências revolucionárias da Rússia, da Hungria e da Alemanha, estamos persuadidos de que o Estado Socialista não se pode encarnar nas instituições do Estado Capitalista, na medida em que é uma criação fundalmentalmente nova em relação a esse, se não em relação à história do proletariado. .. O Estado Socialista ainda não é o comunismo, i.e. a instauração de uma prática e de um costume econômico solidário, mas é o Estado de transição que conseguiu suprimir a concorrência com a supressão da propriedade privada, das classes, das economias nacionais: essa tarefa não pode ser cumprida pela democracia parlamentar. A fórmula „conquista do Estado“ deve ser entendida nesse sentido : criação de um novo tipo de Estado, gerado pela experiência associativa da classe proletária e substituição desse ao Estado democrático-parlamentar(p. 221).“ Em sua polêmica contra os anarquistas, Gramsci afirma, ainda, em „O Estado e o Socialismo“ : „A idéia socialista permaneceu um mito, uma quimera evanescente, um mero arbítrio da fantasia individual até quando não se encarnou no movimento socialista e proletário, nas instituições de defesa e de ataque do proletariado organizado : nesse e mediante esse, assumiu forma histórica e progrediu; a partir desse, gerou o Estado Socialista Nacional, disposto e organizado em modo a ser capaz de engrenar-se com outros Estados Socialistas : condicionado muito mais de modo tal a ser capaz de viver e desenvolver-se apenas quando venha a aderir aos outros Estados Socialistas para realizar a Internacional Comunista, na qual todo Estado, toda instituição, todo indivíduo, encontrará sua plenitude de vida e de liberdade. Nesse sentido, o comunismo não é contra o „Estado“, antes se opõe, implacavelmente, aos inimigos do Estado, aos anarquistas e aos sindicalistas anarquistas, denunciando sua propaganda como utópica e perigosa para a revolução proletária(p. 212).“ Ainda em seu artigo „Socialistas e Anarquistas“, Gramsci, situado no quadro de sua penosa teoria acerca da „conquista do Estado“ e do „Estado Socialista“, não formula uma palavra ou uma idéia sequer no sentido de indicar que o Estado Capitalista deve ser destruído, despedaçado, implodido, pela violência revolucionária do proletariado, como forma de pavimentar-se a construção da Ditadura do Proletariado, incorporadora da mais avançada Soberania proletária, enquanto Estado de transição para o atingimento do socialismo, em que não subsistirá nem divisão de classes, nem poder de Estado. Tal fato pode ser constatado, uma vez mais, em 28 de agosto de 1924, quando Gramsci teve a ocasião de, então, atestar, em seu artigo intitulado „O Destino de Matteotti“, em um momento em que já se havia incorporado, inteiramente, nas fileiras do stalinismo, algo que jamais admitiu conseqüentemente e em toda a sua extensão, algo, porém, rapidamente compreendido pelos „operários reformistas“ italianos, que pretendiam ingressar no PCI, movidos pelo brutal assassinato do Deputado Socialista Unitário, Giacomo Matteotti, perpetrado pelas falanges fascistas de Mussolini : „As sementes lançadas por quem trabalhou para o despertar da classe trabalhadora italiana não podem ser perdidas. ... É necessário uma organização na qual o propósito de reconquista de direitos e de libertação das massas torne-se qualquer coisa de concreto e definido, capacidade de trabalho político ordenado, metódico, seguro, capacidade não apenas de conquista imediata e parcial, mas de defesa de cada conquista realizada e de passagem a conquistas sempre mais elevadas e àquela que deve garantir todas, a conquista do poder, a destruição do Estado dos burgueses e dos parasitários, a substituição desse por um Estado de camponeses e operários. Essas coisas entenderam os operários reformistas que, ao recordar seu dirigente caído, pediram para entrar no nosso partido. O sacrifício de Matteotti – dizem eles aos seus companheiros – é celebrado trabalhando para que a criação do único instrumento para cuja idéia através da qual Ele era movido, a idéia da redenção completa dos trabalhadores, possa receber execução e realidade : o partido da classe dos trabalhadores, o partido da revolução proletária.“ Cf. IDEM. Il Destino di Matteotti(Lo Stato Operaio, 28 Agosto 1924), in : ibidem, p. 574.            

[5] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. Per un Rinnovamento del Partito Socialista(L’Ordine Nuovo, 8 de Maio de 1920), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 315 e s.; IDEM. Il Giudizio di Lenin(L’Ordine Nuovo, 21 de Agosto de 1921), in : ibidem, pp. 359 e s. Em seu „Para uma Renovação do Partido Socialista“, Gramsci elabora sua exposição em linguagem porosamente flexível e diafásicamente marginal, porém, em essência e em largos traços, de maneira hábil a poder de ter sido considerada correta e corente com todos os princípios da III Internacional: „A direção deve imediatamente estudar, compilar e difundir um programa de governo revolucionário do Partido Socialista, no qual sejam projetadas as soluções reais que o proletariado, tornado classe dominante, dará a todos os problemas essenciais – econômicos, políticos, religiosos, escolares etc. – que oprimem os diversos estratos da população trabalhadora italiana. Baseando-se na concepção de que o Partido funda sua força e sua ação apenas sobre a classe dos operários industriais e agrícolas que não possuem nenhuma propriedade privada e considera os outros estratos do povo trabalhador como auxiliários da classe puramente proletária, o Partido deve lançar um manifesto no qual a conquista revolucionária do poder político seja posta de modo explícito, no qual o proletariado industrial e agrícola seja convidado a preparar-se e a armar-se e no qual sejam indicados os elementos das soluções comunistas para os problemas atuais : controle proletário sobre a produção e sobre a distribuição, desarmamento dos corpos armados mercenários, controle dos municípios, exercido pelas organizações operárias(p. 321).“  

[6] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Thesen des Zweiten Kongresses der Komm. Internationale(Teses do II Congresso da Internacional Comunista)(4 de Julho de 1920), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXXI (De Abril a Dezembro de 1920), Berlim, 1959, p. 479.

[7] Acerca do tema, vide, entre outras fontes literárias, os argumentos formulados até mesmo por GRAMSCI, ANTONIO. L“Ordine Nuovo“ a Mosca(L’Ordine Nuovo, 9 de Outubro de 1920), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 375 e s. 

[8] Acerca do tema, Palmiro Togliatti escreve, explicitamente : „No congresso de fundação do partido, em Livorno, em 21 de janeiro de 1921, foi eleito um comitê central de 15 companheiros ... Esse comitê central resultou eleito sem dar lugar a contrastes. Alguns delegados pretendiam opor-se à inclusão de Gramsci, referindo-se à imbecil acusação, colocada em circulação pelos reformistas e maximalistas durante as ásperas polêmicas pré-congressuais, de que ele havia sido „intervencionista“ e, até mesmo, „ardente“ do fronte, porém a questão não chegou até a tribuna do congresso. Os homens mais responsáveis da nova direção pensavam, justamente, que a campanha feita no seio do partido socialista contra quem tivesse tido hesitações em face da questão da intervenção na Guerra de 1914-15 tinha sido um erro e devia ser suspensa. Pedra paradigmática para os militantes devia ser apenas a conduta havida durante a própria guerra e, sobretudo, depois dessa, na grave crise política e social, aberta com o armistício. A Gramsci, não se podia radicalmente criticar, além disso, senão um artigo escrito em 1914, hoje republicado entre os seus escritos da juventude. Cf. TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 13 e 14. Cumpre destacar, adicionalmente, que, de 21 de janeiro de 1921 a 3 de feveiro de 1923, essa última data a de seu encarceramento pelas forças do fascismo italiano, Amadeo Bordiga exerceu o cargo de 1° Secretário do Partido Comunista Italiano, sendo a corrente bordiguista, reunida em torno do órgão Il Soviet, amplamente majoritária em face dos maximalistas, encabeçados por Gennari e Bombacci, e dos ordinovistas, dirigidos por Gramsci e Togliatti. Observe-se que Pierre Broué apresenta suas considerações históricas sobre a cisão do PSI e a fundação do PCI, ocorrida em Livorno, em 1921, colocando em destaque, de maneira semi-fantástica, as posições políticas de Gramsci e de seu jornal „L’Ordine Nuovo“, chegando ao ponto de formular e concluir, inteiramente, seu balanço histórico com as idéias e as palavras do pensador gramsciano Robert Paris : „um Caporetto a mais em face da ascensão do fascismo“. Vide BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 461.; tb. PARIS, ROBERT. Histoire du Fascisme en Italie, Vol. I : Des Origines à la Prise du Pouvoir, Paris : Maspero, 1962, pp. 197 e s.         

[9] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. Una Lettera a Trotskij sul Futurismo (8 de Setembro de 1922), in : ibidem, pp. 529 e s.

[10] Vgl. TROTSKY, LÉON. How Mussolini Triumphed. What Next? Vital Question for the German Proletariat (Como Mussolini Triunfou. O Que Virá A Seguir? Questão Vital do Proletariado Alemão)(1932), in: Fascism. What It Is and to Fight It (Fascismo. O Que é Isso e Como o Combater), London : Pioneer Publishers, 1944, p. 13. Se Trotsky afirmou, em 1932, que companheiros italianos lhe disseram que Gramsci foi o único no PCI a considerar a possibilidade de os fascistas tomarem o poder, fato é que, certamente, Gramsci não foi o único que, anos a seguir, em 1932 e 1934, considerou a tendência de Trotsky como uma forma de “bonapartismo”, alegando que, por isso, tinha de ser “despedaçada inexoravelmente”. O mérito de Gramsci ter previsto a ascensão do fascismo não o torna menos venerador das principais teses do stalinismo do que o foram os demais ideológos da III caída sob a direção de Stálin que também achavam que os trotskystas eram a incarnação do totalitarismo bonapartista e que, por isso, era necessário despedaçá-los.  Se Gramsci acertou na possibilidade do fascismo – tal como diz Trotsky -, errou redondamente na perspectiva do stalinismo. E errou mesmo até os últimos momentos de sua vida. A correspondência de Gramsci demonstra que, durante muito tempo, Gramsci acreditou e exigiu que as negociações para sua libertação dos cárceres de Mussolini se dessem apenas superestruturalmente por meio de Stálin e do PCURSS – i.e. sem qualquer notícia a seus companheiros de base e sem qualquer movimento de base -, porque tinha plena confiança em Stálin, enquanto autêntica expressão do comunismo mundial.  Evidentemente, isso não podia dar certo mesmo. Gramsci errou mais uma vez na sua caracterização: Stálin descartou Gramsci, no final, como também tantos outros seguidores seus que o bajularam abertamente, no estilo e no modo praticado por Gramsci.

[11] Nesse sentido, vide, sobretudo, IDEM. Il Programma de “L’Ordine Nuovo”(L’Ordine Nuovo, 1° de Abril de 1924), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 553 e s.; IDEM. Il Destino di Matteotti(Lo Stato Operaio, 28 de Agosto de 1924), in : ibidem, pp. 572 e s.; IDEM. La Crisi Italiana(L’Ordine Nuovo, 1° de Setembro de 1924), in: ibidem, pp. 576 e s.; IDEM. La Situazione Interna del Nostro Partito ed i Compiti del Prossimo Congresso (L’Unità, 3 de Julho de 1925), in : ibidem, pp. 625 e s.; IDEM. L’Organizzazione per Cellule e il II Congresso Mondiale (L’Unità, 29 de Julho de 1925), in: ibidem, pp. 638 e s.; IDEM. Lettera al Comitato Centrale del Partito Comunista Sovietico (meados de Outubro de 1926), in : ibidem, pp. 713 e s.

[12] Vide GRAMSCI, ANTONIO. Il Significato e i Risultati del III Congresso del Partito Comunista d’Italia (L’Unità, 24 de Fevereiro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 651 e s.

[13] Vide IDEM. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino : Einaudi, 1965, pp. 5 e s.; IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 1 e s. (1928-1937), in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 7 e s.; IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 1 e s. (1928-1937), in : Antonio Gramsci. Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Napoli : Liguori Editore, 1996, pp. 11 e s.; IDEM. Dai “Quaderni del Carcere”(1928-1937), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 744 e s. 

[14] Acerca do tema, vide, exemplificadamente, antes de tudo, GRAMSCI, ANTONIO. La Costruzione del Partito Comunista, Torino(1923-1926) Torino : Einaudi, 1978, pp. 5 e s.; TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 11 e s.        

[15] A esse respeito, vide, em particular, GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 361.

[16] Porém, segundo os estudos críticos, sopesados e perspicazes de Luigi Candreva : „Em Moscou, onde se encontrava nos anos de 1922-23 a cargo do PCI, Gramsci tinha amadurecido sua distância em relação ao extremismo de Bordiga, graças sobretudo à influência de Trotsky : traços dessa influência encontram-se na carta de fevereiro de 1924, dirigida ao CC do PCI. Nessa carta, verifica-se uma apreciação de Trotsky totalmente diferente daquela dos Cadernos. Explicando a luta no interior do Partido Russo, nas duas questões fundamentais da democracia interna no Partido e da Revolução Alemã, Gramsci defende, substancialmente, as posições trotskystas contra a „troika“, conferindo também ao passado (a disputa sobre o Outubro de 17) e à revolução permanente uma apreciação bastante semelhante àquela trotskysta.“ Cf. CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la ‘Bolscevizzazione’ del Pci : 1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/ gramsci. htm, 2 de Junho de 1996.

[17] Nesse sentido, Lenin assinalou, precisamente : „A burguesia adora designar e escarnear o Levante de Dezembro de Moscou como sendo algo „artificial“. Na literatura alemã, assim-chamada „científica“, o Sr. Professor Max Weber, p.ex., em uma grande obra acerca do desenvolvimento político da Rússia, designou o Levante de Moscou como um „Golpe de Estado“. „ ... O grupo leninista“, escreve esse „sábio“ Sr. Professor, „e uma parte dos sociais-revolucionários prepararam o estapafúrdio levante desde há longo tempo. ... „. Para poder-se apreciar essa sabedoria professoral da burguesia amedrontada, basta recordar os números frios da estatística das greves.“ Cf. LENIN, VLADIMIR I. Ein Vortrag über die Revolution von 1905 (Uma Palestra sobre a Revolução de 1905)(9 de Janeiro de 1917), in : W. I. Lenin Werke, Vol. XXIII, Berlim, 1962, p. 259.

[18] Cf. GRAMSCI, ANTONIO, Lettera a Togliatti, Terracini e C.(9 de Fevereiro de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, pp. 186, 187 e 188.    

[19] Cf. IDEM. ibidem, pp. 189 e 190.

[20] Cumpre assinalar, porém, que, já em janeiro de 1923, começou a esboçar-se uma profunda transformação na situação da luta de classes da Alemanha. A conclamação à „Resistência Passiva“, de conotação nacional-chauvinista, formulada pelo governo federal alemão de direita, comandado por Cuno, Ebert e Stinnes, contra a ocupação do Vale do Ruhr pelas tropas francesas e belgas de Poincaré, culminou, rapidamente, na deflagração de greves nessa região, conducentes à eclosão de uma crise de natureza sócio-econômica e político-institucional em todo país. Em maio de 1923, Erich Wollenberg(Walter), membro do Partido Comunista Alemão(KPD), dirigiu um „levante armado espontâneo“, em Bochum. Nessa ocasião, registraram-se confraternizações entre soldados franceses do exército de ocupação e milícias proletárias alemães, ao som das palavras de ordem „Abaixo Poincaré! Abaixo Stinnes!“. A direção do PCA(KPD), sob Brandler e Fischer, condenou, resolutamente, já nessa primeira oportunidade, o impulsionamento do Levante de Bochum de 23, considerando-o como „uma provocação da burguesia alemã“, e determinou o desarmamento dos trabalhadores sublevados. A seguir, registraram-se inúmeras rebeliões de fome, com saques de locais de abastecimento e de venda de produtos alimentícios. A partir de julho e agosto, elevou-se, drasticamente, o número de trabalhadores desempregados. A inflação progredia, ao longo de todo o ano de 1923, assustadora e incontidamente. Ao mesmo tempo, as greves contra o governo federal de Cuno-Stinnes atingiam o seu ápice. Em 11 de agosto, os Conselhos de Fábrica da Alemanha conclamaram os trabalhadores à greve geral. No dia seguinte, processou-se a derrubada do chanceler Cuno, instaurando-se um novo governo de coalizão, integrado pelos sociais-democrátas Schmidt, Hilferding, Radbruch e Sollmann, sob a direção do populista-liberal Stresemann. A presença e a influência do PCA(KPD) assumia, já a essa altura, consideráveis proporções. Já então havia surgido e amadurecido, inconfundivelmente, uma situação revolucionária, contraditada pela estruturação de forças nazistas. Acerca do tema, vide NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. VI e s.; SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e s.; BROUÉ, PIERRE. Die Deutsche Linke und die Russische Opposition 1926-1928(A Esquerda Alemã e a Oposição Russa de 1926 a 1928), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 8 e s.; IDEM. Kurzer Abriß der Geschichte der Kommunistischen Internationale(Curto Esboço sobre a História da Internacional Comunista), in : Die Kommunistische Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. V e s.; IDEM. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 653, 686, 777 e s., sem qualquer referência, porém, ao papel de Wollenberg, no Levante de Bochum de 23, e com formulações semi-visionárias acerca da formação e ascensão do nazismo na Alemanha.; WINKLER, HEINRICH. Von der Revolution zur Stabilisierung. Arbeiter und Arbeiterbewegung in der Weimar Republik 1918-1924, Berlim, 1984, pp. 594 e s. ; STOBNICER, MAURICE. Le Mouvement Trotskyste Allemand sous la République de Weimar, Dissertation, Paris : 1980, pp. 7 e s.; KAUFMANN, BERND. Der Nachrichtendienst der KPD 1919-1937(O Serviço Secreto do KPD entre 1919 e 1937), Berlim : Dietz, 1993, pp. 57 e s.

[21] Acerca do tema, Trotsky assinalou, precisa e abertamente, em dezembro de 1923, no Pravda(A Verdade), seu posicionamento em face da direção do PCA(KPD) e, por consegüinte, também em relação ao Komintern, comandado pela Troika : „Se o partido comunista tivesse modificado bruscamente o comportamento de seu trabalho e consagrado os cinco ou seis mêses que a história lhe acordava para a preparação direta, política, orgânica, técnica da tomada do poder, o desate poderia ter sido totalmente diferente daquele que assistimos em novembro. (...) É apenas em outubro que ele adota uma nova orientação. Porém, restava-lhe, então, muito pouco tempo para desenvolver seu impulso. Ele conferiu à sua preparação uma aparência febril, a massa não pôde o seguir, a falta de segurança do partido comunicou-se ao proletariado e, no momento decisivo, o proletariado recusou o combate. Se o partido cedeu, sem resistência, posições excepcionais, a razão principal é a de que não soube, no início da nova fase (maio-julho 1923), libertar-se do automatismo de sua política anterior, estabelecida como que para durar anos, e colocar, diretamente, na agitação, a ação, a organização, a técnica, a questão da tomada do poder.“ Cf. TROTSKY, LÉON. De la Révolution(Acerca da Revolução), Pravda, 28 e 29 de Dezembro de 1923, p. 58, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 783. No mesmo sentido, pronunciou-se Trotsky em IDEM. Leçons d’Octobre(As Lições de Outubro), especialmente : Autour de la Révolution d’Octobre(Acerca da Revolução de Outubro), in : Cahiers du Bolchevisme, Nr. 5, 19 de Dezembro de 1924, pp. 313 e s.

[22] Acerca do tema, anota a historiadora Annegret Schülle : „Porém, nem a direção do PCA(KPD) nem a direção do Komintern conceberam, tempestivamente, o significado da situação. Na Conferência do Comitê Executivo da Internacional Comunista, de junho de 1923, a direção do Komintern, sob Zinoviev, discutiu com a direção alemã acerca da situação. No entanto, quase nenhum dos participantes concebeu a necessidade de preparação do levante. Como paradigma da posição do Komintern podem ser consideradas as posições de Radek, que se encontrava na Alemanha, na qualidade de conselheiro russo. Ainda em 2 de agosto, Radek insistiu para que, em „Bandeira Vermelha“, órgão do PCA(KPD), devia-se, então, não apenas não travar-se batalhas gerais, como também até mesmo evitá-las, de modo a não possibilitar-se ao inimigo esmagá-las parcialmente“. Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e 43.

[23] Ainda em agosto de 1923, Stálin condenou, resolutamente, a tentativa de preparar-se um levante na Alemanha. Em 7 de agosto, escreveu Stálin da seguinte forma : „Se na Alemanha de hoje o poder, por assim dizer, cair e os comunistas alemães agarrarem-no, fracassarão até a médula. Isso, no „melhor“ dos casos. No pior dos casos, serão quebrados em pedaços e lançados para trás. A questão toda não é a de que Brandler queira „educar as massas“, o essencial é que a burguesia, muito mais que os sociais-democrátas de direita, tranformarão, seguramente, o curso da manifestação em batalha geral – nesse momento, todas as chances estarão do seu lado – e as destruirão. Certamente, os fascistas não dormem, porém temos o interesse de que eles ataquem primeiro : isso reagrupará toda a classe trabalhadora em torno dos comunistas – a Alemanha não é a Bulgária. Além disso, segundo todas as informações, os fascistas são débeis na Alemanha. Entendo que devemos segurar os alemaes e não os estimular.“ Cf. TROTSKY, LÉON. Stalin. Eine Biographie(Stálin. Uma Biografia)(1931), Köln-Berlim : Intarlit, 1952, p. 469. Apenas na primeira metade de outubro de 1923, quando Brandler, Bottcher e Heckert, Korsch, Tenner e Neubauer ingressaram nos „governos de trabalhadores comunistas-sociais-democráticos da Saxônia e da Turíngea“, Stálin escreveu, entusiásticamente, a Thalheimer, que fez publicar o teor de sua carta nas páginas do „Die Rote Fahne“(i.e.“A Bandeira Vermelha), órgão do PCA(KPD) : „A revolução que se aproxima na Alemanha é o evento mundial mais importante de nosso tempo. A vitória da Revolução Alemã terá mais importância ainda para o proletariado da Europa e da América que a vitória da Revolução Russa de seis anos atrás. A vitória da Revolução Alemã fará passar, de Moscou à Berlim, o centro da Revolução Alemã(sic)(i.e. o centro da revolução mundial).“ Cf. BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 757 e 758.

[24] Acerca do tema, Trotsky teve a oportunidade de escrever, expressamente, já mesmo em 13 de dezembro de 1922 : „A ameaça de uma ocupação militar por parte dos Estados ocidentais terá por resultado o freio do desenvolvimento da Revolução Alemã, até o ponto em que o Partido Comunista Francês demonstrar que é capaz de paralisar esse perigo e estar disposto a fazê-lo. ... Não existe quase nenhuma razão para afirmar categoricamente que a revolução proletária triunfará na Alemanha, antes que as dificuldades externas e internas da França não conduzam a uma crise governamental e parlamentar nesse país. ... A burguesia não é, para nós, uma pedra que rola em direção do precipício, mas sim uma força histórica viva que manobra, avança tanto para a sua direita quanto para a sua esquerda. Apenas se aprendemos todos os meios e métodos políticos da sociedade burguesa, para reagir, a cada vez, sem hesitação nem atraso, conseguiremos acelerar o momento em que, em um movimento preciso e seguro, projetaremos, definitivamente, a burguesia no abismo.“ Cf. TROTSKY, LÉON. „Demain“. Correspondance Friedländer-Trotsky. Corr. Int. Nr. 96, 13 de Dezembro de 1922, p. 735, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p. 632.          

[25] Sob a pressão da tempestade grevística de agosto, a derrubada do chanceler Cuno e as marcantes caracterizações de Trotsky, o Komintern, presidido por Zinoviev, resolveu-se por rever, no fim do mês de agosto de 1923, radical e inopinadamente, sua orientação política referentemente à luta de classes na Alemanha, apoiando-se, porém, nas versões formuladas por Brandler e Radek, a quem decidiu confiar a preparação e direção do Outubro Alemão de 23, nele impedindo ostensivamente, porém, a intervenção direta de Trotsky. Esses últimos atos foram levados à prática, em seguida, ainda segundo a execução político-estratégica geral de Brandler, contrária a deflagração de um levante com data marcada ou prazo estabelecido : „No quadro da Constituição de Weimar, avançando rumo ao governo de trabalhadores em toda a Alemanha!, o armamento das milícias proletárias podia consistir apenas em bastões e porretes. A „formação“ limitava-se a exercícios de marcha no interior das fábricas e em lugares abertos“. Cf. NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. VII. Acerca do tema, Annegret Schüle observa o seguinte : „Já era praticamente tarde, pois o estímulo das massas radicalizadas ameaçava transformar-se, então, de orgulho em decepção e fatalismo. Em 20 de outubro, o governo federal decidiu acionar tropas imperiais contra os governos da Saxônia e da Turíngea, compostos por comunistas e sociais-democrátas, a fim de derrubá-los. Disso o PCA(KPD) sacou a conseqüencia de antecipar o levante planejado para ocorrer no dia 9 de novembro. Porém, quis esperar ainda a decisão de uma conferência de conselhos de fábricas, em Chemnitz, a realizar-se em 21 de outubro. Os sociais-democrátas nela presentes rejeitaram, porém, o plano. Em seguida, a direção do KPD, nela igualmente presente, e a delegação do Komintern desconvocaram o levante. Essa política de hesitações e de esquivas diante da decisão conduziu o PCA(KPD) à uma „pesada derrota“.“ Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. ibidem, pp. 42 e 43. No mesmo sentido, BROUÉ, PIERRE. Kurzer Abriß der Geschichte der Kommunistischen Internationale(Curto Esboço sobre a História da Internacional Comunista), in : Die Kommunistische Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. XVII e s. Anote-se, adicionalmente, que, após a deflagração do inteiramente isolado, desorientado e descoordenado Levante de Hamburgo da Terça-Feira, 23 de Outubro de 1923, desaconselhado tardia e inesperadamente por Brandler e Radek, comandado, porém, corajosamente por Hans Kippenberger – contando com a participação heróica de algumas centenas de trabalhadores e com a inexpressiva atuação política de Ernst Thälmann -, foram, em 29 de outubro de 1923, impiedosamente derrubados, pelas tropas de Ebert, Stresemman e von Seeckt, os „governos de trabalhadores comunistas-sociais-democráticos da Saxônia e da Turíngea“, idelizados ilusoriamente por Brandler e por Radek enquanto „passo intermediário para a conquista das massas rumo à Ditadura do Proletariado, mediante sustentação sobre os conselhos de fábrica revolucionários“, com vistas a „contemporizar e não tomar parte em lutas isoladas“, acreditando serem capazes de opor-se, porém, à perspectiva de sabotagem da social-democracia de esquerda alemã consistente em governar com os comunistas „sem renunciar à constitucionalidade, sem armamento dos trabalhadores e sem se submeter à autoridade dos conselhos de fábrica revolucionários“... Em seguida, em 23 de novembro de 1923, foi decretada a proibição legal do PCA(KPD). Acerca do tema, vide, sobretudo, KIPPENBERGER, HANS. Der Aufstand in Hamburg(O Levante em Hamburgo), in : A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, pp. 66 e s.; BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 618 e s., especialmente pp. 758 e 768 e s.; KAUFMANN, BERND. Der Nachrichtendienst der KPD 1919-1937(O Serviço Secreto do KPD entre 1919 e 1937), Berlim : Dietz, 1993, pp. 57 e s.; WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus(De Rosa Luxemburg a Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und Zeitgeschehen, 1961, pp. 28 e s.  

[26] Essa falsificação quanto à culpabilidade de Trotsky pelo fracasso do Outubro de 23 repercutiu, também, profundamente, em toda a Alemanha, sendo ela apregoada, em um primeiro momento, de maneira desbragada, pelos novos dirigentes zinovievistas do PCA(KPD), Ruth Fischer e Arkadi Maslow, que substituíram, em abril de 1924, os postos de Brandler e Thalheimer. Nesse sentido, Annegret Schüle assinala, com precisão : „Ainda em 1928, Trotsky via-se obrigado a justificar-se. Ele comprovou, com base no Protocolo da Plenária do Comitê Central do Partido Comunista da URSS, de setembro de 1923, que ele havia advertido acerca da „sonolência“ e o „fatalismo“ da direção Brandler, sendo que a maioria dos membros do Comitê Central de então o contradisseram.“ Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, p. 47. Acerca do tema, vide, mais detalhadamente, TROTSKY, LÉON. Die III. Internationale nach Lenin. Das Programm der internationalen Revolution und die Ideologie des Sozialismus in einem Land 1928/29 (A III Internacional após Lenin. O Programa da Revolução Internacional e a Ideologia do Socialismo em um Só País 1928/29), Berlim : Dröge, 1993, pp. VIII e s.  

[27] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Lettera a Togliatti, Terracini e C.(9 de Fevereiro de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, pp. 197 e 198.

[28] Acerca dos elementos essenciais da luta política de Gramsci contra o Manifesto da Esquerda Comunista, elaborado por Bordiga, em março de 1923, no quadro de seu aprisionamento pelas forças do fascismo, vide, sobretudo, GRAMSCI, ANTONIO. Lettera a Scoccimarro(5 de Janeiro de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, pp. 148 e s.  

[29] Com efeito, já em 8 de fevereiro de 1924, Amadeo Bordiga havia enviado à redação de L‘Unità seu artigo, intitulado „La Quistione Trotsky“, em que tomava posição aberta em defesa de Trotsky, em face da luta desse último contra a Troika. Seu artigo foi repassado, a seguir, pelo Comitê Executivo do PCI à direção do Comitê Executivo do Komintern, a fim de que esse último opinasse sobre seu conteúdo. O artigo de Bordiga foi, então, decididamente condenado não apenas pelos representantes da Troika, senão ainda pelos dirigentes do PCI,  reunidos em torno de Gramsci e Togliatti. Na V. Conferência Ampliada do Comitê Executivo do Komintern, que teve lugar entre 21 de março e 6 de abril de 1925, uma resolução conclamou o PCI a deflagrar, ostensivamente, „uma luta decidida contra a ideologia de Bordiga, considerada enquanto o principal obstáculo para a bolchevização do partido“. Acerca do tema, vide GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 362.; IDEM. La Situazione Interna del Nostro Partito ed i Compiti del Prossimo Congresso(L’Unità, 3 de Julho de 1925), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 629.; IDEM. L’Organizzazione per Cellule e il II Congresso Mondiale(L’Unità, 29 de Julho de 1925), in : ibidem, p. 640.     

[30] Segundo Guido Zamis e Karin Gurst, Gramsci tornou-se, a partir de abril de 1924, Secretário Geral do PCI. Nesse sentido, vide ZAMIS, GUIDO & GURST, KARIN.  Anmerkungen der Herausgeber(Observações dos Editores), in : Antonio Gramsci. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 364. Acerca do tema, escreve Luigi Candreva, criticamente : “O que mais assombra é a interpretação dos vários grupos que, na Itália, se reclamam (ou se reclamaram) do trotskysmo : em substância, não se separam da vulgata togliattiana, segundo a qual o processo de formação de um novo grupo dirigente do PCI, de 1923-26, explica-se com o distanciamento de Gramsci do extremismo bordiguista e a reapropriação do método e do programa leninista, que seria, em última instância, codificado nas Teses de Lyon... Pelo contrário, ocorreu o inverso : Gramsci, depois de sua adesão inicial aos argumentos da crítica de Trotsky à nascente burocracia soviética, move-se, gradualmente, em direção do grupo dirigente stalinista, convicto de que sem a sustentação da Internacional não poderia obter razão em face da esquerda bordiguista. Os pontos de partida e de chegada dessa evolução são as cartas de 9 de fevereiro de 1924 e a carta de outubro de 1926.” Cf. CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la ‘Bolscevizzazione’ del Pci : 1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/ gramsci. htm, 2 de Junho de 1996. Sobre esse tema, vide ainda o próprio GRAMSCI, ANTONIO, Lettera a Terracini(24 de Fevereiro de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, pp. 217 e s.; IDEM. Schema di Tesi sulla Tattica e sulla Situazione Interna del Pci”, in : Lo Stato Operaio, 15 de Maio de 1924.   

[31] Anote-se, de passagem,  que a decisão do Komintern de dever Bordiga permanecer no Comitê Executivo do PCI, realizada em consonância com a proposição de Bordiga assumir o posto de Vice-Presidente do Komintern, havia sido, porém, por ele mesmo rejeitada, em 22 de dezembro de 1923, sob a alegação de que não condividia, absolutamente, o direcionamento político imprimido por Zinoviev, Stálin e Kamenev a esses organismos. Após esse episódio histórico, Bordiga seguiu sendo, entretanto, membro do Comitê Central do PCI. Em 24 de fevereiro de 1924, Bordiga recusou-se, claramente, a prestar qualquer colaboração ao Comitê Executivo do PCI. Finalmente, em 8 de maio de 1924, Zinoviev, pretendendo conduzir pressupostamente, mais uma vez, as posições bordiguistas ao descrédito, reformulou sua proposta de dever Bordiga integrar o Comitê Executivo do PCI e assumir a vice-presidência do Komintern. Tal proposta foi, novamente, rejeitada por Bordiga. Por ocasião do V Congresso do Komintern, os representantes de Bordiga foram excluídos, então, do Comitê Central do PCI. Acerca dessa temática, vide GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 364.; TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 133, 337 e s.   

[32] Nesse sentido, vide TOGLIATTI, PALMIRO. ibidem, pp. 374 e s.    

[33] Cf. GRAMSCI, ANTONIO,  Introduzione a un Articolo della Pravda (Novembro de 1924), in : Antonio Gramsci. La Costruzione del Partito Comunista, Torino : Einaudi, 1978, pp. 211.

[34] Cf. IDEM.  Intervento alla Conferenza di Como (1924), in : ibidem, p. 461.

[35] Cf. IDEM. Relazione al CC del 6 febbraio 1925 (1925), in : ibidem, p. 473. Acerca do tema, observa Candreva : “Segundo um testemunho de Leonetti a F. Ormea, Gramsci considerava Stálin, em 1925, “o melhor entre os companheiros russos” (citado em F. Ormea : Le Origini dello Stalinismo nel Pci, Feltrinelli, p. 85)”. Cf. CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la ‘Bolscevizzazione’ del Pci : 1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/ gramsci. htm, 2 de Junho de 1996.

[36] Acerca dos métodos de luta fracional, utilizados por Gramsci e Togliatti, visando a „mettere a disagio“(i.e. colocar em embaraço) as alas oposicionistas de Angelo Tasca e Amadeo Bordiga, já a partir de inícios de 1924, vide os próprios argumentos, insolentes e despurdorados, de TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 230, 233, 241e s.     

[37] Acerca do tema, vide os próprios depoimentos do pensador gramsciano SPRIANO, PAOLO. Storia del Partito Comunista Italiano, Vol. I, Torino : Einaudi, 1967, pp. 465 e s.

[38] Acerca desses resultados congressuais de 1926, vide GRAMSCI, ANTONIO, Il Significato e i Risultati del III Congresso del Partito Comunista d’Italia (L’Unità, 24 de Fevereiro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 651 e s.

[39] O Deputado Giacomo Matteotti foi assassinado em 10 de junho de 1924, a mando de Benito Mussolini. Desde 1922, Matteotti era secretário do Partido Socialista Unitário(PSU), encabeçado por Filippo Turati, principal representante das concepções sociais-reformistas de Eduard Bernstein, em território italiano. Após a expulsão de ambos do Partido Socialista Italiano(PSI) no quadro de seu XIX Congresso, em outubro de 1922, Turati e Matteotti fundaram o Partido Socialista Unitário(PSU), de matiz pura e abertamente social-democrático reformista, procurando através dessa nova denominação partidária semear confusões de identidade política e atrair rapidamente novos adeptos. Com o assassinato de Matteotti, os principais partidos oposicionistas da Itália, incluindo o PCI, abandonaram a câmara de deputados do regime fascista, formando a frente oposicionista AVENTINO, assim denominada em alusão ao monte para o qual se retirou a plebe da antiga Roma, em 494 a.C., visando a protestar contra a política opressiva dos patrícios romanos. Apenas poucos parlamentares liberais-giolittianos permaneceram na câmara fascista, acreditando que Mussolini regressaria ao regime burguês de respeito à constitucionalidade e ao Estado de Direito. Quando o parlamento fascista foi reconvocado por Mussolini, para reunir-se a partir de novembro de 1924, o PCI, não logrando orientar a AVENTINO para uma política de formação de um „Anti-Parlamento“, decidiu-se por fazer retornar seus parlamentares à câmara fascista anteriormente abandonada. Diante desse quadro, o PCI foi o primeiro partido a abandonar a AVENTINO. Em junho de 1925, Gramsci e Togliatti propuseram aos partidos da esquerda da AVENTINO(Partido Republicano, Partido Socialista Unitário, Partido Socialista Italiano) a formação de uma „assembléia republicana sobre a base dos Comitês Operários e Camponeses“, visando à suposta criação de um dualismo de poderes no país, servindo hipoteticamente para a organização das massas em sentido „sovietista“. Tal proposta foi, em seguida, rejeitada pela esquerda da AVENTINO. No final de 1925, foram os demais parlamentares da AVENTINO impedidos pelos deputados fascistas de reingressar na câmara que boicotaram precedentemente. Dessa maneira, essa frente oposicionista foi esmagada, sendo, finalmente, dissolvida no fim de 1926, precisamente no momento em que o totalitarismo de Mussolini extinguiu a possibilidade de existência de toda e qualquer oposição legal em solo italiano. Acerca do tema, vide os argumentos pretensamente justificadores de GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, pp. 362, 364 e s. ; IDEM. Opportunismo e Fronte Unico(L’Unità, 29 de Outubro de 1925), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 648 e s.; IDEM. Il Significato e i Risultati del III Congresso del PCd’I (L’Unità, de 24 Fevereiro de 1926), in : ibidem, especialmente Tática do Partido, pp. 664 e s.            

[40] Acerca do tema, Trotsky assinalou, em novembro de 1929, em sua Carta aos Bordiguistas : “No que concerne à direção oficial do Partido Italiano, não tive a oportunidade de observá-la senão a partir do Executivo da Internacional, na pessoa de Ercoli (i.e. Palmiro Togliatti). Dotado de uma espírito de adaptação e de um bom palavreado, Ercoli é adequado (não se poderia dizer melhor) para os discursos de um procurador ou de um advogado, acerca de um tema de encomenda e, de modo geral, para executar ordens. A casuística estéril dos seus discursos, sempre tendentes, em última instância, ao oportunismo, é o oposto muito claro do pensamento revolucionário vivo, musculoso, abundante de Amadeo Bordiga. A propósito, não é Ercoli que tenta adaptar à Itália a idéia de “ditadura democrática do proletariado e dos camponeses”, sob a forma de uma palavra de ordem de assembléia constituinte, apoiada sobre uma assembléia operária e camponesa. Nas questões acerca da URSS, da Revolução Chinesa, da Greve Geral da Inglaterra, da Revolução da Polônia e da luta contra o fascismo italiano, Ercoli, como também outros dirigentes de formação burocrática, adota, inevitavelmente, uma posição oportunista para, depois, eventualmente, a seguir, retificá-la, mediante aventuras de ultra-esquerda. Parece que, atualmente, trata-se precisamente da estação do ano dessas aventuras. Tendo assim, de um lado os centristas do tipo de Ercoli e, do outro, confusionistas ultra-esquerdistas, vocês são chamados, companheiros, a defender, sob as duras condições da ditadura fascista, os interesses históricos do proletariado italiano e do proletariado internacional.” Cf. TROTSKY, LEÓN. Lettera ai Bordighisti (Constantinopla, 25 de Novembro de 1929). Scritti sull’Italia (1921-1938), a cura di Dario Romero, in : http:// www. marxists.org /archive /noneng /trotsky, 1999. Em maio de 1930, observou, então, Trotsky : “A Assembléia Republicana constitui, inegavelmente, um organismo do Estado Burguês. O que são, pelo contrário, os Comitês Operários e Camponeses ? É evidente que, de alguma forma, são um equivalente dos Sovietes de Operários e Camponeses ... Como é possível, nessas condições, que uma assembléia republicana – órgão supremo do Estado Burguês – tenha como base organismos do Estado Proletário”. Cf. TROTSKY, LEÓN.  Scritti sull’Italia (1921-1938), Roma : Controcorrente, 1999, p. 184. No que concerne ao início do crescente distanciamento do trotskysmo em face dos subseqüentes posicionamentos sectários do bordiguismo, impulsionados pelo grupo Prometeo, sobretudo no tocante à questão da Revolução Espanhola, cumpre destacar as seguintes palavras de Trotsky : “Sobre o problema dos objetivos democráticos, esse grupo (i.e. o grupo bordiguista Prometeo) desenvolveu algumas teses que o remetem para trás da época do socialismo pré-marxista. Na Espanha, no momento atual, os comunistas possuem a tarefa de desenvolver uma campanha muito decidida sobre os objetivos democráticos, para vencer a influência dos republicanos e dos socialistas sobre a classe operária. Se os companheiros espanhóis tivessem adotado uma posição bordiguista, teria sido um desastre para a Revolução Espanhola.. Devemos rejeitar, com toda firmeza essa linha. Não devemos ter nem a mínima sombra de responsabilidade por essa reação sectária e semi-anárquica. Seríamos traidores se concedessemos o mais mínimo apoio a esses erros.” Cf. TROTSKY, LEÓN. Kurt Landau e il Gruppo Prometeo ( 5 de Junho de 1931 ). Scritti sull’Italia (1921-1938), in: ibidem. E, a seguir, Trotsky confirmou : “O grupo italiano Prometeo nega a priori as palavras de ordem democrático-revolucionárias para todos os países e todos os povos. Esse sectarismo doutrinário, que coincide politicamente com as posições dos stalinistas, não tem nada de comum com a posição dos bolcheviques-leninistas. ... A experiência da Espanha mostra como as palavras de ordem da democracia jogam um papel extremamente importante no processo que levará à queda do regime da ditadura fascista na Itália. Entrar na Revolução Espanhola ou Italiana com o programa de Prometeo seria o mesmo que se lançar a nadar com as mãos arramadas nas costas. Semelhante nadar possui todos os requisitos para o afogamento.” Cf. IDEM.  Prometeo e Questione Spagnola (19 de Julho de 1931). Scritti sull’Italia (1921-1938), in : ibidem. Acerca do desenvolvimento subseqüente dos posicionamentos de Trotsky em face do bordiguismo, vide IDEM. Prometeo e Opposizione di Sinistra (1932-1934). Scritti sull’Italia (1921-1938), in: ibidem. Nessa última sede, observa Trotsky, conclusivamente : “No curso da conferência, o problema do grupo italiano Prometeo (bordiguista) foi objeto de uma acurada discussão... A experiência de muitos anos demonstrou que as divergências entre o grupo Prometeo e a Oposição de Esquerda Internacional são completamente inconciliáveis. Sobre uma questão como aquela da aplicação revolucionária do slogan democrático ou da política de frente único, os bordiguistas estão de acordo não conosco, mas sim com os stalinistas ( a partir do momento em que os stalinistas atravessam uma fase extremista e não oportunista )”.

[41] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Lettera al Comitato Centrale del Partito Comunista Sovietico (meados de Outubro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 713 e s.

[42] Observo, de passagem, que a resposta, datada de 18 de outubro de 1926, de Palmiro Togliatti, desde Moscou, a essa carta de Gramsci comprova que havia, entretanto, milimétricas diferenças entre esses dois dirigentes stalinistas do PCI na apreciação da luta política travada entre Trotsky e Stálin. Togliatti criticou, nessa ocasião, a tonalidade escolhida por Gramsci para a redação dessa carta, afirmando que haveriam de ser ainda mais resolutos na condenação das posições de Trotsky, Zinoviev e Kamenev, a fim de poderem sustentar ainda mais aberta e despudoramente a linha stalinista. Acerca do tema, vide BERTI, GIUSEPPI. Introduzione all’Archivio Tasca, in : Annali Feltrinelli, Milano, 1966, pp. 299 e s.

[43] Vide GIORGIO BARATTA, Socialisme, Americanisme et Modernité chez Gramsci in: Modernité de Gramsci, Actes du Colloque Franco-Italien de Bensançon (23-25 novembre 1989), Annales Littéraires de l’Université de Besançon, Série Agon Nr. 4, Besançon : Paris IV, 1992, pp. 147 e s. Acerca do tema, escreve Baratta : “Julgando fundamentalmente justa a linha política da maioria do Comitê Central do Partido Comunista da URSS’ (Bukharin-Stálin), Gramsci censura essa última por querer “destruir” as oposições (Trotsky e Zinoviev-Kamenev), recordando que ‘uma firme unidade e uma firma disciplina no Partido que governa o Estado Operário, podem assegurar a hegemonia proletária (...) porém (...) não podem ser mecânicas e impostas(p. 150)”. Vergonhoso argumento para pretender-se legimitar a tese que defende o professor Giorgio Baratta acerca de Gramsci : “Com Lenin, além de Lenin e Contra Stálin”. Estranha hermenêutica essa de extrair-se de um texto a idéia de “censurar” quando o que mais se vê é prostração e legitimação mais completa e apologética de Gramsci em face da política stalinista de construção do socialismo em um só país e de burocratização do Estado Soviético e do Komintern, em nome da unidade partidária. Em verdade, examinado-se efetivamente o conjunto das obras de Gramsci, verifica-se que esse último jamais atacou ou criticou, repreensivamente, a política de Stálin. Pelo contrário, na mais célebre de suas referências à Stálin, contida em seus Cadernos do Cárcere, Gramsci refere-se a esse último como “o maior teórico recente” em matéria de internacionalismo e política nacional. Nada obstante, o professor Giorgio Baratta prossegue em seu intento frustado de querer fundamentar a tese acerca de Gramsci “Com Lenin, além de Lenin e Contra Stálin”, assinalando a seguir : “ O laço ‘orgânico’ entre a crítica filosófica endereçada ao mecanismo do Manual Popular de sociologia de Bukharin (que, durante o período trágico do fim dos anos 20, tentava, desesperadamente e em vão, fazer sua auto-crítica) e a crítica política do que será mais tarde definido como o stalinismo é aqui evidente : são os dois alvos ‘orientais’ da polêmica prático-teórica de Gramsci nos “Cadernos do Cárcere”, aos quais corresponde em contra-ponto dois outros alvos, ‘ocidentais’, a saber : a filosofia de Croce com seu idealismo e o americanismo, doravante hegemônico no mundo capitalista”. No texto de Giogio Baratta, aqui reproduzido, é, verdadeiramente, impossível determinar-se, logicamente, o que ele considera, efetivamente, como evidente ! Ora, Gramsci jamais ousou atacar, em seus escritos, o stalinismo, ainda que alguns intelectuais gramscianos aleguem que ele o teria feito. Se eventualmente algum leitor alegue que realmente o fez, valeu-se dos métodos das metáforas bíblicas ou do alcorão, a partir das quais se deve extrair, hermeneuticamente, que das montanhas paradas, essas mesmas encontram-se em movimento ... Aqui, entretanto, não se pode, absolutamente, alegar que não o fez por “um elemento de prudência em relação às medidas repressivas ulteriores de seus carcereiros fascistas”, dado que a idolatria stalinista representava, sob o fascismo e o nazismo de fins dos anos 20 e início dos anos 30, um perigo potencialmente mais real do que a defesa do trotskysmo, desprovido oficialmente de posições oficiais no seio do Estado Soviético. Pelo contrário, é certo que Gramsci opôs-se, ostensivamente – e não em linguagem biblíco-metafórica – também às concepções de Bukharin. Porém, fê-lo não contra aquele Bukharin, aliado de Stálin, nos anos de 1924 a 1928. Sua positiva apreciação de Bukharin, encontra-se, p.ex., em GRAMSCI, ANTONIO. L’URSS verso il Comunismo (L’Unità, 7 de Setembro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 686 e s., como tb. alhures. Gramsci opôs-se, sim, àquele outro Bukharin, acusando-o de mecanicismo e determinismo em virtude de sua elaboração do Manual de Sociologia Popular, precisamente no momento em que esse último, enfraquecido, usado, descartado e perseguido pelo stalinismo, procurava, ao final dos anos 20, realizar sua auto-crítica que Stálin lhe exigia para que sobrevivesse. Também a partir desse raciocínio é movediça e pueril a tese de Giorgio Baratta relativa a um Gramsci “Com Lenin, além de Lenin e Contra Stálin”. Vide acerca dessa temática, IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 15 (1928-1937) – Sociologia e Scienza Politica, in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 98 e s. Acerca de Bukharin, vide BUKHARIN, NIKOLAI. Theorie des historischen Materialismus. Gemeinverständliches Lehrbuch der marxistischen Soziologie(Teoria do Materialismo Histórico. Manual Popular da Sociologia Marxista), Hamburg, 1922, pp. 5 e s.