Texto de Autoria de
Portau Schmidt von
Köln
A Enfermidade Gramsciana
no Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica
Trotsky e Gramsci : Gramsci e Trotsky
de Atualização, Correção
e Superação do Marxismo
(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)
http://www.scientific-socialism.de/SUCapa.htm
„TESES SOBRE AS PRINCIPAIS TAREFAS DO II CONGRESSO DA
INTERNACIONAL COMUNISTA
...........................
III.
A CORREÇÃO DA LINHA E, EM PARTE, TAMBÉM DA COMPOSIÇÃO DOS
PARTIDOS QUE ADERIRAM À INTERNACIONAL COMUNISTA OU QUEREM A ELA ADERIR
............................
No que concerne ao Partido Socialista Italiano, o II
Congresso da III. Internacional considera como sendo essencialmente corretas e
concordantes com todos os princípios fundamentais da III Internacional a
crítica a esse partido e as propostas práticas formuladas à direção regional do
Partido Socialista Italiano pela Seção de Turim desse partido, na revista „A
Nova Ordem“(L’Ordine Nuovo), de 8 de maio de 1920.“[6]
Referentemente ao
tema, cumpre observar que, nessa ocasião, Lenin e Bukharin declararam,
entretanto, formalmente, não possuir a intenção de expressar um juízo acerca da
orientação geral de „L’Ordine Nuovo“, acerca da qual não
possuíam documentos suficientes para a formulação de um julgamento, senão
apenas indicar que conferiam sua aprovação a uma crítica e a certas propostas
dirigidas à direção do PSI, contidas em um determinado
documento em específico, intitulado „Pela Renovação do Partido Socialista“, publicado
em 8 de maio de 1920, nas colunas de „L’Ordine Nuovo“[7].
Ainda
nesse mesmo contexto, localiza-se a afirmação de Trotsky, manifestada em
1932, de que companheiros italianos teriam-lhe dito (possivelmente, a
referência em tela está relacionada com informações prestadas por Pietro
Tresso (Basco) - esse último um convicto gramscista que, após ter sido
expulso do PCI, adere temporariamente às fileiras trotskystas) que Gramsci
havia sido o único membro da direção do PCI a considerar a
possibilidade de os fascistas tomarem o poder.[10]
Já com base nos
excertos retro-apresentados, é possível entrever, nitidamente, que, a despeito
de ter plena consciência do fato de que Trotsky e a Oposição de Esquerda, preocupavam-se, intensamente, com um retorno
da velha mentalidade, que seria prejudicial para a revolução“, e exigiam „uma maior intervenção do elemento operário
na vida do partido e uma diminuição dos poderes da burocracia”, querendo “assegurar, com profundidade, um caráter
socialista e operário à revolução”, com eles Gramsci de nenhuma maneira
se identifica, defendendo, pelo contrário, no segundo excerto de sua carta em
destaque, ardilosa e sibilinamente, a mesmíssima caracterização, elaborada pela Troika, em relação a Trotsky,
por ter esse último, supostamente, cometido, no contexto da Revolução
Alemã de 1923[20], “o erro de acreditar nas bravatas(no
original em italiano : credere alle vendite di fumo, acreditar nos leilões de
fumaças) de Brandler e de seus companheiros”[21].
No segundo excerto
acima reproduzido, Gramsci cria, em verdade, argumentos de logro, voltados a
pretendidamente dissimular a inteira imperícia de Zinoviev, à época Presidente
do Komintern[22] – e,
adicionalmente, o decidido posicionamento contrário de Stálin[23] –
relativamente à inafastável necessidade tomar medidas no sentido de preparar e
organizar, perspicaz, rigorosa, inteligente e dialeticamente, um levante na Alemanha,
já mesmo a partir dos primeiros mêses de 1923[24] - e
não no apagar das luzes desse mesmo ano, fazendo-no, então, de maneira serôdia
e sonolenta, visionária e fatalista[25].
O resultado
extraído cuidadosamente por Gramsci a partir do balanço político
da Revolução
Alemã de 1923 surge elaborado no sentido de reforçar a tese arquitetada
pela Troika,
consistente na imputação de pretensa culpabilidade de Trotsky
pelo fracasso da empresa, bem como relativa à suposta mais plena
inocência de Zinoviev e de Stálin, esses últimos, até fins de agosto de 23,
plenamente reticentes à e, até mesmo, antagonistas da efetiva deflagração, a
partir de então, alucinados entusiastas do levante alemão.
A causa do debacle
do Outubro
de 23 haveria de ser interpretada, assim, em sentido
burocrático-stalinista, como sendo decorrente da insuficiente “bolchevização”
do Partido
Comunista Alemão(KPD), estimulada pelo “liquidacionismo e o
capitulacionismo mencheviques trotskystas”[26], tal
como Gramsci
admite serem esses últimos plenamente “acobertados de linguagem revolucionária, na medida em que são
incapazes de avaliar as relações reais das forças efetivas.”
Em um raciocínio
conclusivo e enfático, contido nessa mesma carta de 9 de fevereiro de 1924, é
possível entrever-se, por fim, que Gramsci colocava-se em favor, nessa
ocasião, não das posições trotskystas minoritárias contra a Troika
de Stálin, Zinoviev e Kamenev, senão precisamente em prol da
corrente burocraticamente majoritária da Internacional Comunista, em processo
de solidificação após a morte de Lenin:
„Amadeo (i.e. Amadeo Bordiga) coloca-se do ponto de vista
de uma minoria internacional.
Nós nos devemos colocar do ponto de vista de uma maioria
nacional.
Não podemos, por isso, querer que a direção do partido
seja dada a representantes da minoria porque estes estão de acordo com a
Internacional, mesmo se depois da discussão do manifesto (i.e. do manifesto da
esquerda comunista de Amadeo Bordiga) a maioria do partido permanecer com os
atuais dirigentes.
Em meu parecer, é esse o ponto central que deve
determinar politicamente o nosso posicionamento.
Se estivéssemos de acordo com as teses de Amadeo,
deveríamos naturalmente colocar-nos o problema de, tendo conosco a maioria do
partido, convir permanecer na Internacional, dirigidos nacionalmente pela
minoria, a fim de dar tempo ao tempo, e chegar até uma reversão da situação que
nos desse razão teoricamente, ou de convir rompê-la.
Porém, se não estamos de acordo com as teses, firmar o
manifesto (i.e. o manifesto de Amadeo Bordiga) significa assumir toda a
responsabilidade pelo equívoco.
Se se obtem a maioria com base nas teses de Amadeo,
(devemos problematizar) acerca de aceitar a direção da minoria, nós que não
estamos de acordo com essas teses, e que poderíamos, assim, resolver a situação
organicamente ou permanecer na minoria, quando, por nossas concepções, estamos
de acordo com a maioria que se perfilaria em torno da Internacional.
Isso significaria a nossa liquidação política e a
separação em relação a Amadeo. A seguir, um tal estado de coisas assumiria o
aspecto mais antipático e odioso.“[27]
A partir desse
primeiro mês subseqüente à morte de Lenin, quando viria a se aguçar,
exponencialmente, a mais impiedosa luta de Trotsky contra o ascenso da
burocracia stalinista, é possível encontrar-se, então, Gramsci, no âmbito de sua
luta político-partidária já deflagrada precedentemente contra a tendência de Amadeo
Bordiga[28],
acusando esse último de inclinações (semi-)trotskystas e defendendo as posições
téoricas e práticas de Stálin, a esse tempo aliado de Zinoviev
e Kamenev, contra Trotsky[29].
Em virtude de sua
posições cada vez mais resolutas contra o trotskysmo e seus potenciais
defensores em solo italiano, Gramsci assumiu, já a partir de fins de fevereiro de 1924, a função de
principal dirigente político-estratégico do PCI, em processo acelerado de stalinização[30].
Com base nas
resoluções do V. Congresso do Komintern, realizado entre 17 de junho e 8 de
julho de 1924, o Comitê Central do PCI
foi reorganizado, passando, então, a compor-se de 17(dezessete) membros.
“No terceiro volume de suas obras (1917), publicado
recentemente, existe um prefácio de 60 páginas.
Tal como outrora, os epígonos de Marx procuraram
realizar, sob sua bandeira, a revisão do marxismo, da mesma forma, hoje,
Trotsky, em nome do bolchevismo, pretende revisar o bolchevismo.”[33]
“Não basta declarar sermos disciplinados.
É necessário engajar-se no plano de trabalho indicado
pela Internacional. ...
Trotsky, embora participando “disciplinadamente” dos
trabalhos do partido tinha, com sua postura de oposição passiva – similar
àquela de Bordiga – criado um estado de mal-estar em todo o partido, o qual não
podia ter um presságio acerca dessa situação.”[34]
Sem embargo, Giorgio Baratta, efetuando um exercício de malabarismo hermenêutico sobre o texto
vocabular dessa última carta de Gramsci que indico acima, dedica, em seu artigo intitulado “Socialismo,
Americanismo e Modernidade de Gramsci”, todo um capítulo procurando provar, por A mais B, que Gramsci se posicionava com “Com
Lenin, além de Lenin, contra Stálin” ..., de modo a pretender construir em torno da imagem fúnebre de Gramsci
uma bela auréola de anti-stalinismo radical[43],
método esse plenamente louvado não apenas entre os mais dogmáticos ideólogos do
meta-marxismo franco-gramsciano de Actuel Marx e dos Espaces Marx, senão
ainda entre os mais atuais idealistas-gramscianos de todas estirpes teóricas e
de todos os continentes do mundo.
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS
[1] Nesse sentido, vide, sobretudo, GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“
(Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918),
in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 80 e s.; IDEM. I Massimalisti Russi(Il Grido del
Popolo, 28 de Julho de 1917), in : ibidem, pp. 65 e s.; IDEM. Wilson e I Massimalisti Russi(Il Grido del Popolo, 2 de Março
de 1918), in : ibidem, pp. 106 e s.; IDEM.
Un Anno di Storia(Il Grido del Popolo, 16 de Março de 1918), in : ibidem,
pp. 113 e s.; IDEM. Il Nostro
Marx(Il Grido del Popolo, 4 de Maio de 1918), in : ibidem, pp. 120 e s.; IDEM. Superstizione e Realtà(L’Ordine
Nuovo, 8 de Maio de 1920), in : ibidem, pp. 322 e s.; IDEM. Astrattismo e Intransigenza(Il Grido del Popolo, de 11 de
Maio de 1918), in : ibidem, pp. 124 e s.; IDEM.
Utopia(Avanti !, 25 de Julho de 1918), in : ibidem, pp. 152 e s.; IDEM. L’Opera di Lenin(Il Grido del
Popolo, 14 de Setembro de 1918), in : ibidem, pp. 159 e s.
[2] Em 1° de maio de 1919, Gramsci,
Togliatti, Tasca e Terracini deram vida ao órgão publicístico „L’Ordine
Nuovo“, no contexto de sua militância em Turim, no interior do Partido
Socialista Italiano(PSI). A seguir, no quadro das mobilizações dos trabalhadores turineses de
fins de 1919 e da greve geral de 1920, com tomada e ocupação de fábricas, Togliatti
logrou assumir a direção do secretariado da seção socialista turinesa. Em um primeiro momento, Gramsci, afastando-se de Togliatti,
procurou criar seu „Gruppo di Educazione Comunista“,
mais próximo das posições abstensionistas de Amadeo Bordiga. Sendo esse episódio, entretanto, de breve duração, Gramsci
e Togliatti voltaram a se reunir, logo depois, em torno das publicações
de „L’Ordine
Nuovo“. Esse órgão de imprensa, dirigido por Togliatti
e Gramsci, empreendeu a condenação do modo estreito e regionalizado
segundo o qual os sindicalistas italianos haviam
preparado e deflagrado o movimento de tomada e ocupação das fábricas, bem como
censurou a postura, eminentemente social-reformista da direção do Partido
Socialista Italiano, que se negou a colocar na ordem-do-dia da agenda
revolucionária a questão da conquista do poder de Estado e impulsionar o
processo de transformação das Comissões Internas de Fábrica em Conselhos
de Fábrica. L“Ordine Nuovo“ surgiu, assim, de
início, enquanto órgão da tendência política da seção socialista turinense de Togliatti
e Gramsci. Nesse primeiro momento, foi publicado de 1°. de maio de 1919 a 11 de dezembro de 1920, na forma de
semanário de debate e elaboração teórica. De 1° de janeiro de 1921 a 25 de novembro de 1922, tornou-se, a seguir, o órgão do Partido
Comunista Italiano, adquirindo edição quotidiana. Finalmente, de março
de 1924 a abril de 1925, nos momentos decisivos da
luta de Gramsci e Togliatti em defesa do stalinismo contra seus
opositores, L“Ordine Nuovo“ foi publicado quinzenalmente. Acerca do tema,
vide subsídios em GRAMSCI, ANTONIO.
Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Appendice, Napoli : Liguori Editore, 1996, pp. 232 e s.; TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito
Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori
Riuniti, 1969, pp. 63 e s.; BRÜTTING,
RICHARD. Italien-Lexikon(Léxico-Itália), Berlim : Erich Schmidt, 1997, pp.
387 e s.
[3] Acerca do tema, vide, em
particular, p. ex., GRAMSCI, ANTONIO.
La Russia e l’Europa (L’Ordine Nuovo, 1° de Novembro de 1919) , in: Antonio
Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 249 e s.; IDEM. L’Internazionale Comunista(L’Ordine Nuovo, 24 de Maio de
1919), in : ibidem, pp. 193 e s.; IDEM.
La Taglia della Storia(L’Ordine Nuovo, 7 de Junho de 1919), in : ibidem, pp.
199 e s.; IDEM. Democrazia
Operaia(L’Ordine Nuovo, 21 de Junho de 1919, escrito em colaboração com Palmiro
Togliatti), in : ibidem, pp. 206 e s.; IDEM.
Sindacati e Consigli(L’Ordine Nuovo, de 11 de Outubro de 1919), in : ibidem,
pp. 246 e s.; IDEM. Sindicalismo e
Consigli(L’Ordine Nuovo, 8 de Novembro de 1919), in : ibidem, pp. 260 e s.; IDEM. Partito di Governo e Classe di
Governo(L’Ordine Nuovo, 28 de Fevereiro – 6 de Março de 1920), in : ibidem, pp.
306 e s.; IDEM. Superstizione e
Realtà(L’Ordine Nuovo, de 8 de Maio de 1920), in : ibidem, pp. 322 e s.; IDEM. Il Consiglio di Fabbrica(L’Ordine
Nuovo, 5 de Junho de 1920), in : ibidem, pp. 333 e s.; IDEM. Sindicati e Consigli(L’Ordine Nuovo, 12 de Junho de 1920), in
: ibidem, pp. 338 e s. ; IDEM.
Operai e Contadini(Avanti !, 20 de Fevereiro de 1920), in : Antonio Gramsci.
Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Napoli : Liguori
Editore, 1996, pp. 108 e s.
[4] Nesse sentido
particular, vide GRAMSCI, ANTONIO.
La Conquista dello Stato(L’Ordine Nuovo, 12 de Julho
de 1919), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 218 e s.; IDEM. Lo Stato e il Socialismo(L’Ordine Nuovo, 28 de Junho-5 de Julho de 1919), in :
ibidem, pp. 210 e s.; IDEM.
Socialisti e Anarchici(L’Ordine Nuovo, 20-27 de
Setembro de 1919), in : ibidem, pp. 237 e s. Em seu artigo „A Conquista do Estado“, Gramsci
assinala, nitidamente : „Os socialistas aceitaram, excessivamente, de
modo freqüente, a realidade histórica, produto da iniciativa capitalista.
Caíram no erro da psicologia dos economistas liberais
: acreditar na perpetuidade das instituições do Estado Democrático, em sua
perfeição fundamental. ... Dessa concepção errada acerca da transformação
histórica, da prática repugnante do compromisso e da tática „cretinamente“
parlamentarista, nasce a fórmula atual sobre a „conquista do Estado“. Depois
das experiências revolucionárias da Rússia, da Hungria e da Alemanha, estamos
persuadidos de que o Estado Socialista não se pode encarnar nas instituições do
Estado Capitalista, na medida em que é uma criação fundalmentalmente nova em
relação a esse, se não em relação à história do proletariado. .. O Estado
Socialista ainda não é o comunismo, i.e. a instauração de uma prática e de um
costume econômico solidário, mas é o Estado de transição que conseguiu suprimir
a concorrência com a supressão da propriedade privada, das classes, das
economias nacionais: essa tarefa não pode ser cumprida pela democracia
parlamentar. A fórmula „conquista do Estado“ deve ser entendida nesse sentido : criação de um novo tipo de Estado, gerado pela
experiência associativa da classe proletária e substituição desse ao Estado
democrático-parlamentar(p. 221).“ Em sua polêmica contra os anarquistas, Gramsci
afirma, ainda, em „O Estado e o Socialismo“ : „A idéia
socialista permaneceu um mito, uma quimera evanescente, um mero arbítrio da
fantasia individual até quando não se encarnou no movimento socialista e
proletário, nas instituições de defesa e de ataque do proletariado organizado :
nesse e mediante esse, assumiu forma histórica e progrediu; a partir desse,
gerou o Estado Socialista Nacional, disposto e organizado em modo a ser capaz
de engrenar-se com outros Estados Socialistas : condicionado muito mais de modo
tal a ser capaz de viver e desenvolver-se apenas quando venha a aderir aos
outros Estados Socialistas para realizar a Internacional Comunista, na qual
todo Estado, toda instituição, todo indivíduo, encontrará sua plenitude de vida
e de liberdade. Nesse sentido, o comunismo não é
contra o „Estado“, antes se opõe, implacavelmente, aos inimigos do Estado, aos
anarquistas e aos sindicalistas anarquistas, denunciando sua propaganda como
utópica e perigosa para a revolução proletária(p. 212).“ Ainda em seu artigo „Socialistas
e Anarquistas“, Gramsci, situado no quadro de sua
penosa teoria acerca da „conquista do Estado“ e do „Estado
Socialista“, não formula uma palavra ou uma idéia sequer no sentido de
indicar que o Estado Capitalista deve ser destruído,
despedaçado, implodido, pela violência revolucionária do proletariado, como
forma de pavimentar-se a construção da Ditadura do Proletariado,
incorporadora da mais avançada Soberania proletária, enquanto
Estado de transição para o atingimento do socialismo, em que não subsistirá nem
divisão de classes, nem poder de Estado. Tal fato pode ser constatado, uma vez
mais, em 28 de agosto de 1924, quando Gramsci
teve a ocasião de, então, atestar, em seu artigo intitulado „O Destino de Matteotti“, em um momento
em que já se havia incorporado, inteiramente, nas fileiras do stalinismo, algo
que jamais admitiu conseqüentemente e em toda a sua extensão, algo, porém,
rapidamente compreendido pelos „operários
reformistas“ italianos, que pretendiam ingressar no PCI, movidos pelo brutal
assassinato do Deputado Socialista Unitário, Giacomo Matteotti, perpetrado
pelas falanges fascistas de Mussolini : „As sementes lançadas
por quem trabalhou para o despertar da classe trabalhadora italiana não podem
ser perdidas. ... É necessário uma organização na qual
o propósito de reconquista de direitos e de libertação das massas torne-se
qualquer coisa de concreto e definido, capacidade de trabalho político
ordenado, metódico, seguro, capacidade não apenas de conquista imediata e
parcial, mas de defesa de cada conquista realizada e de passagem a conquistas
sempre mais elevadas e àquela que deve garantir todas, a conquista do poder, a
destruição do Estado dos burgueses e dos parasitários, a substituição desse por
um Estado de camponeses e operários. Essas coisas entenderam os operários
reformistas que, ao recordar seu dirigente caído, pediram para entrar no nosso partido. O sacrifício de Matteotti – dizem eles aos
seus companheiros – é celebrado trabalhando para que a criação do único
instrumento para cuja idéia através da qual Ele era movido, a idéia da redenção
completa dos trabalhadores, possa receber execução e realidade : o partido da
classe dos trabalhadores, o partido da revolução proletária.“ Cf. IDEM. Il Destino di Matteotti(Lo Stato Operaio, 28 Agosto 1924), in : ibidem, p.
574.
[5] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. Per un Rinnovamento
del Partito Socialista(L’Ordine Nuovo, 8 de Maio de
1920), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 315 e s.; IDEM. Il Giudizio di Lenin(L’Ordine Nuovo, 21 de Agosto de 1921), in : ibidem, pp. 359
e s. Em seu „Para uma Renovação do Partido Socialista“, Gramsci elabora sua
exposição em linguagem porosamente flexível e diafásicamente marginal, porém,
em essência e em largos traços, de maneira hábil a poder de ter sido
considerada correta e corente com todos os princípios da III Internacional: „A
direção deve imediatamente estudar, compilar e difundir um programa de governo
revolucionário do Partido Socialista, no qual sejam projetadas as soluções
reais que o proletariado, tornado classe dominante, dará a todos os problemas
essenciais – econômicos, políticos, religiosos, escolares etc. – que oprimem os
diversos estratos da população trabalhadora italiana. Baseando-se na concepção
de que o Partido funda sua força e sua ação apenas sobre a classe dos operários
industriais e agrícolas que não possuem nenhuma propriedade privada e considera
os outros estratos do povo trabalhador como auxiliários da classe puramente
proletária, o Partido deve lançar um manifesto no qual
a conquista revolucionária do poder político seja posta de modo explícito, no
qual o proletariado industrial e agrícola seja convidado a preparar-se e a
armar-se e no qual sejam indicados os elementos das soluções comunistas para os
problemas atuais : controle proletário sobre a produção e sobre a distribuição,
desarmamento dos corpos armados mercenários, controle dos municípios, exercido
pelas organizações operárias(p. 321).“
[6] Cf. LENIN,
VLADIMIR I. Thesen des Zweiten Kongresses der Komm. Internationale(Teses
do II Congresso da Internacional Comunista)(4 de Julho de 1920), in : W. I.
Lenin Werke, Vol. XXXI (De Abril a Dezembro de 1920), Berlim, 1959, p. 479.
[7] Acerca do tema, vide,
entre outras fontes literárias, os argumentos formulados até mesmo por GRAMSCI, ANTONIO. L“Ordine Nuovo“ a Mosca(L’Ordine Nuovo, 9 de Outubro de 1920), in : Antonio Gramsci. Scritti
Politici, Roma, 1967, pp. 375 e s.
[8] Acerca do tema, Palmiro
Togliatti escreve, explicitamente : „No
congresso de fundação do partido, em Livorno, em 21 de janeiro de 1921, foi
eleito um comitê central de 15 companheiros ... Esse comitê central resultou
eleito sem dar lugar a contrastes. Alguns delegados pretendiam opor-se à
inclusão de Gramsci, referindo-se à imbecil acusação, colocada em circulação
pelos reformistas e maximalistas durante as ásperas polêmicas pré-congressuais,
de que ele havia sido „intervencionista“ e, até mesmo, „ardente“ do fronte,
porém a questão não chegou até a tribuna do congresso. Os homens mais
responsáveis da nova direção pensavam, justamente, que a campanha feita no seio do partido socialista contra quem tivesse tido
hesitações em face da questão da intervenção na Guerra de 1914-15 tinha sido um
erro e devia ser suspensa. Pedra paradigmática para os militantes devia ser
apenas a conduta havida durante a própria guerra e,
sobretudo, depois dessa, na grave crise política e social, aberta com o
armistício. A Gramsci, não se podia radicalmente criticar, além disso, senão um
artigo escrito em 1914, hoje republicado entre os seus escritos da juventude.“ Cf. TOGLIATTI,
PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano
nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 13 e
14. Cumpre destacar, adicionalmente, que, de 21 de
janeiro de 1921 a 3 de feveiro de 1923, essa última data a de seu
encarceramento pelas forças do fascismo italiano, Amadeo Bordiga exerceu o
cargo de 1° Secretário do Partido Comunista Italiano, sendo a corrente
bordiguista, reunida em torno do órgão Il Soviet, amplamente majoritária em
face dos maximalistas, encabeçados por Gennari e Bombacci, e dos
ordinovistas, dirigidos por Gramsci e Togliatti. Observe-se que Pierre
Broué apresenta suas considerações históricas sobre a cisão do PSI
e a fundação do PCI, ocorrida em Livorno, em 1921, colocando em destaque, de
maneira semi-fantástica, as posições políticas de Gramsci e de seu jornal „L’Ordine Nuovo“,
chegando ao ponto de formular e concluir, inteiramente, seu balanço histórico
com as idéias e as palavras do pensador gramsciano Robert Paris :
„um Caporetto a mais em face da ascensão do fascismo“. Vide BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les
Éditions de Minuit, 1971, p. 461.; tb. PARIS, ROBERT. Histoire du Fascisme en
Italie, Vol. I : Des Origines à la Prise du Pouvoir, Paris : Maspero, 1962, pp.
197 e s.
[9] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. Una Lettera a
Trotskij sul Futurismo (8 de Setembro de 1922), in : ibidem, pp. 529 e s.
[10] Vgl. TROTSKY, LÉON. How Mussolini Triumphed. What Next? Vital Question
for the German Proletariat (Como Mussolini Triunfou. O Que Virá A Seguir?
Questão Vital do Proletariado Alemão)(1932), in: Fascism. What It Is and to
Fight It (Fascismo. O Que é Isso e Como o Combater), London : Pioneer
Publishers, 1944, p. 13. Se Trotsky afirmou, em 1932, que companheiros italianos lhe disseram que Gramsci
foi o único no PCI a considerar a possibilidade de os fascistas tomarem o
poder, fato é que, certamente, Gramsci não foi o único que, anos a
seguir, em 1932 e 1934, considerou a tendência de Trotsky como uma forma de
“bonapartismo”,
alegando que, por isso, tinha de ser “despedaçada inexoravelmente”. O
mérito de Gramsci ter previsto a ascensão do fascismo não o torna menos
venerador das principais teses do stalinismo do que o foram os demais ideológos
da III caída sob a direção de Stálin que também achavam que os
trotskystas eram a incarnação do totalitarismo bonapartista e que, por isso,
era necessário despedaçá-los. Se Gramsci
acertou na possibilidade do fascismo – tal
[11] Nesse sentido, vide,
sobretudo, IDEM. Il Programma de
“L’Ordine Nuovo”(L’Ordine Nuovo, 1° de Abril de 1924), in : Antonio Gramsci.
Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 553 e s.; IDEM. Il Destino di Matteotti(Lo Stato Operaio, 28 de Agosto de
1924), in : ibidem, pp. 572 e s.; IDEM.
La Crisi Italiana(L’Ordine Nuovo, 1° de Setembro de 1924), in: ibidem, pp. 576
e s.; IDEM. La Situazione Interna del
Nostro Partito ed i Compiti del Prossimo Congresso (L’Unità, 3 de Julho de
1925), in : ibidem, pp. 625 e s.; IDEM. L’Organizzazione
per Cellule e il II Congresso Mondiale (L’Unità, 29 de Julho de 1925), in:
ibidem, pp. 638 e s.; IDEM. Lettera
al Comitato Centrale del Partito Comunista Sovietico (meados de Outubro de
1926), in : ibidem, pp. 713 e s.
[12] Vide GRAMSCI,
ANTONIO. Il
Significato e i Risultati del III Congresso del Partito Comunista d’Italia
(L’Unità, 24 de Fevereiro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici,
Roma, 1967, pp. 651 e s.
[13] Vide IDEM. Quaderni del Carcere
(1928-1937), Torino : Einaudi, 1965, pp. 5 e s.; IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 1 e s. (1928-1937), in: Antonio
Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino :
Editori Riuniti, 1991, pp. 7 e s.; IDEM.
Quaderni del Carcere, Nr. 1 e s. (1928-1937), in : Antonio Gramsci. Disgregazione
Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Napoli : Liguori Editore, 1996, pp. 11 e s.; IDEM. Dai “Quaderni del Carcere”(1928-1937), in : Antonio Gramsci. Scritti
Politici, Roma, 1967, pp. 744 e s.
[14] Acerca do tema, vide,
exemplificadamente, antes de tudo, GRAMSCI,
ANTONIO. La Costruzione del Partito Comunista, Torino(1923-1926) Torino : Einaudi,
1978, pp. 5 e s.; TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo
Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti,
1969, pp. 11 e s.
[15] A esse respeito,
vide, em particular, GRAMSCI, ANTONIO.
Zu Politik, Geschichte und Kultur.
Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos
Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 361.
[16] Porém, segundo os estudos críticos, sopesados e perspicazes de Luigi
Candreva : „Em Moscou, onde se encontrava nos anos de 1922-23 a cargo
do PCI, Gramsci tinha amadurecido sua distância em relação ao extremismo de
Bordiga, graças sobretudo à influência de Trotsky : traços dessa influência
encontram-se na carta de fevereiro de 1924, dirigida ao CC do PCI. Nessa carta,
verifica-se uma apreciação de Trotsky totalmente diferente daquela dos
Cadernos. Explicando a luta no interior do Partido Russo, nas duas questões
fundamentais da democracia interna no Partido e da Revolução Alemã, Gramsci
defende, substancialmente, as posições trotskystas contra a „troika“,
conferindo também ao passado (a disputa sobre o Outubro de 17) e à revolução
permanente uma apreciação bastante semelhante àquela trotskysta.“ Cf. CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la
‘Bolscevizzazione’ del Pci : 1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/
gramsci. htm, 2 de Junho de 1996.
[17] Nesse sentido, Lenin
assinalou, precisamente : „A burguesia adora designar e escarnear o
Levante de Dezembro de Moscou como sendo algo „artificial“. Na literatura
alemã, assim-chamada „científica“, o Sr. Professor Max Weber, p.ex., em uma
grande obra acerca do desenvolvimento político da Rússia, designou o Levante de
Moscou como um „Golpe de Estado“. „ ... O grupo leninista“, escreve esse
„sábio“ Sr. Professor, „e uma parte dos sociais-revolucionários prepararam o estapafúrdio levante desde há longo tempo. ... „. Para poder-se
apreciar essa sabedoria professoral da burguesia amedrontada, basta recordar os
números frios da estatística das greves.“ Cf. LENIN, VLADIMIR I. Ein Vortrag über die Revolution von 1905 (Uma
Palestra sobre a Revolução de 1905)(9 de Janeiro de 1917), in : W. I. Lenin
Werke, Vol. XXIII, Berlim, 1962, p. 259.
[18] Cf. GRAMSCI, ANTONIO, Lettera a Togliatti, Terracini
e C.(9 de Fevereiro de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del
Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, pp. 186, 187
e 188.
[19] Cf. IDEM. ibidem, pp. 189 e 190.
[20] Cumpre assinalar, porém,
que, já em janeiro de 1923, começou a esboçar-se uma profunda transformação na
situação da luta de classes da Alemanha. A conclamação à „Resistência
Passiva“, de conotação nacional-chauvinista, formulada pelo governo
federal alemão de direita, comandado por Cuno, Ebert e Stinnes, contra
a ocupação do Vale do Ruhr pelas tropas francesas e belgas de Poincaré,
culminou, rapidamente, na deflagração de greves nessa região, conducentes à
eclosão de uma crise de natureza sócio-econômica e político-institucional em
todo país. Em
maio de 1923, Erich Wollenberg(Walter), membro do Partido Comunista Alemão(KPD), dirigiu
um „levante
armado espontâneo“, em Bochum. Nessa ocasião,
registraram-se confraternizações entre soldados franceses do exército de
ocupação e milícias proletárias alemães, ao som das palavras de ordem „Abaixo
Poincaré! Abaixo Stinnes!“. A direção do PCA(KPD), sob Brandler
e Fischer, condenou, resolutamente, já nessa primeira oportunidade, o
impulsionamento do Levante de Bochum de 23, considerando-o como „uma
provocação da burguesia alemã“, e determinou o desarmamento dos
trabalhadores sublevados. A seguir, registraram-se inúmeras rebeliões de fome, com
saques de locais de abastecimento e de venda de produtos alimentícios. A partir de julho e
agosto, elevou-se, drasticamente, o número de trabalhadores desempregados. A
inflação progredia, ao longo de todo o ano de 1923, assustadora e
incontidamente. Ao mesmo tempo, as greves contra o governo federal de Cuno-Stinnes
atingiam o seu ápice. Em 11 de agosto, os Conselhos de Fábrica da Alemanha conclamaram
os trabalhadores à greve geral. No dia seguinte, processou-se a derrubada do chanceler Cuno,
instaurando-se um novo governo de coalizão, integrado pelos
sociais-democrátas Schmidt, Hilferding, Radbruch e Sollmann, sob a direção do
populista-liberal Stresemann. A presença e a influência do PCA(KPD)
assumia, já a essa altura, consideráveis proporções. Já então havia
surgido e amadurecido, inconfundivelmente, uma situação revolucionária,
contraditada pela estruturação de forças nazistas. Acerca do tema, vide NEUBERG, A. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen
Darstellung(O Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. :
Georg Wagner, 1971, pp. VI e s.; SCHÜLE,
ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland
bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O
Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra
o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 42 e s.; BROUÉ, PIERRE. Die Deutsche
Linke und die Russische Opposition 1926-1928(A Esquerda Alemã e a Oposição
Russa de 1926 a 1928), Köln : Selbstverlag, 1986, pp. 8 e s.; IDEM. Kurzer Abriß der Geschichte der
Kommunistischen Internationale(Curto Esboço sobre a História da Internacional
Comunista), in : Die Kommunistische Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. V e s.; IDEM. Révolution en Allemagne
1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 653, 686, 777 e s., sem
qualquer referência, porém, ao papel de Wollenberg, no Levante de Bochum de 23,
e com formulações semi-visionárias acerca da formação e ascensão do nazismo na
Alemanha.; WINKLER, HEINRICH. Von der Revolution zur Stabilisierung. Arbeiter und
Arbeiterbewegung in der Weimar Republik 1918-1924, Berlim, 1984, pp. 594 e s. ;
STOBNICER, MAURICE. Le Mouvement Trotskyste
Allemand sous la République de Weimar, Dissertation, Paris : 1980, pp. 7 e s.; KAUFMANN, BERND. Der Nachrichtendienst der KPD 1919-1937(O Serviço
Secreto do KPD entre 1919 e 1937), Berlim : Dietz, 1993, pp. 57 e s.
[21] Acerca do tema, Trotsky
assinalou, precisa e abertamente, em dezembro de 1923, no Pravda(A Verdade), seu posicionamento em
face da direção do PCA(KPD) e, por consegüinte, também em relação ao Komintern,
comandado pela Troika : „Se o partido comunista tivesse modificado bruscamente o
comportamento de seu trabalho e consagrado os cinco ou seis mêses que a
história lhe acordava para a preparação direta, política, orgânica, técnica da
tomada do poder, o desate poderia ter sido totalmente diferente daquele que
assistimos em novembro. (...) É apenas em outubro que ele adota uma nova
orientação. Porém, restava-lhe, então, muito pouco tempo para desenvolver seu
impulso. Ele conferiu à sua preparação uma aparência febril, a massa não pôde o seguir, a falta de
segurança do partido comunicou-se ao proletariado e, no momento decisivo, o
proletariado recusou o combate. Se o partido cedeu, sem resistência,
posições excepcionais, a razão principal é a de que não soube, no início da
nova fase (maio-julho 1923), libertar-se do automatismo de sua política
anterior, estabelecida como que para durar anos, e colocar, diretamente, na
agitação, a ação, a organização, a técnica, a questão da tomada do poder.“ Cf. TROTSKY, LÉON. De la Révolution(Acerca da
Revolução), Pravda, 28 e 29 de Dezembro de 1923, p. 58, in : Pierre Broué.
Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, p.
783. No
mesmo sentido, pronunciou-se Trotsky em IDEM. Leçons d’Octobre(As Lições de Outubro), especialmente : Autour de la
Révolution d’Octobre(Acerca da Revolução de Outubro), in : Cahiers du
Bolchevisme, Nr. 5, 19 de Dezembro de 1924, pp. 313 e s.
[22] Acerca do tema, anota a
historiadora Annegret Schülle : „Porém, nem a direção do PCA(KPD) nem a
direção do Komintern conceberam, tempestivamente, o significado da situação. Na
Conferência do Comitê Executivo da Internacional Comunista, de junho de 1923, a
direção do Komintern, sob Zinoviev, discutiu com a direção alemã acerca da
situação. No entanto, quase nenhum dos participantes concebeu a necessidade de
preparação do levante. Como paradigma da posição do Komintern podem ser
consideradas as posições de Radek, que se encontrava na Alemanha, na qualidade
de conselheiro russo. Ainda em 2 de agosto, Radek insistiu para que, em
„Bandeira Vermelha“, órgão do PCA(KPD), devia-se, então, não apenas não
travar-se batalhas gerais, como também até mesmo evitá-las, de modo a não
possibilitar-se ao inimigo esmagá-las parcialmente“. Cf. SCHÜLE,
ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die Arbeitereinheitsfront
zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até 1933. „Pela Frente Única dos
Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln : Selbstverlag, 1986, pp.
42 e 43.
[23] Ainda em agosto de 1923,
Stálin
condenou, resolutamente, a tentativa de preparar-se um levante na Alemanha. Em
7 de agosto, escreveu Stálin da seguinte forma : „Se na
Alemanha de hoje o poder, por assim dizer, cair e os comunistas alemães
agarrarem-no, fracassarão até a médula. Isso, no „melhor“ dos casos. No pior
dos casos, serão quebrados em pedaços e lançados para trás. A questão toda não
é a de que Brandler queira „educar as massas“, o essencial é que a burguesia,
muito mais que os sociais-democrátas de direita, tranformarão, seguramente, o
curso da manifestação em batalha geral – nesse momento, todas as chances
estarão do seu lado – e as destruirão. Certamente, os fascistas não dormem,
porém temos o interesse de que eles ataquem primeiro : isso reagrupará toda a
classe trabalhadora em torno dos comunistas – a Alemanha não é a Bulgária. Além
disso, segundo todas as informações, os fascistas são débeis na Alemanha.
Entendo que devemos segurar os alemaes e não os estimular.“ Cf. TROTSKY, LÉON. Stalin. Eine
Biographie(Stálin. Uma Biografia)(1931), Köln-Berlim : Intarlit, 1952, p. 469.
Apenas na primeira metade de outubro de 1923, quando Brandler, Bottcher e Heckert,
Korsch, Tenner e Neubauer ingressaram nos „governos de trabalhadores
comunistas-sociais-democráticos da Saxônia e da Turíngea“, Stálin escreveu,
entusiásticamente, a Thalheimer, que fez publicar o teor
de sua carta nas páginas do „Die Rote
Fahne“(i.e.“A Bandeira Vermelha), órgão do PCA(KPD) : „A revolução
que se aproxima na Alemanha é o evento mundial mais importante de nosso tempo.
A vitória da Revolução Alemã terá mais importância ainda para o proletariado da
Europa e da América que a vitória da Revolução Russa de seis anos atrás. A
vitória da Revolução Alemã fará passar, de Moscou à Berlim, o centro da
Revolução Alemã(sic)(i.e. o centro da revolução mundial).“ Cf. BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les
Éditions de Minuit, 1971, pp. 757 e 758.
[24] Acerca do tema, Trotsky
teve a oportunidade de escrever, expressamente, já mesmo em 13 de dezembro
de 1922 : „A ameaça de uma ocupação militar por parte dos Estados ocidentais
terá por resultado o freio do desenvolvimento da Revolução Alemã, até o ponto
em que o Partido Comunista Francês demonstrar que é capaz de paralisar esse
perigo e estar disposto a fazê-lo. ... Não existe quase nenhuma razão para
afirmar categoricamente que a revolução proletária triunfará na Alemanha, antes
que as dificuldades externas e internas da França não conduzam a uma crise
governamental e parlamentar nesse país. ... A burguesia não é, para nós, uma
pedra que rola em direção do precipício, mas sim uma força histórica viva que
manobra, avança tanto para a sua direita quanto para a sua esquerda. Apenas se
aprendemos todos os meios e métodos políticos da sociedade burguesa, para
reagir, a cada vez, sem hesitação nem atraso, conseguiremos acelerar o momento
em que, em um movimento preciso e seguro, projetaremos, definitivamente, a
burguesia no abismo.“ Cf. TROTSKY, LÉON.
„Demain“.
Correspondance Friedländer-Trotsky. Corr. Int. Nr. 96, 13 de Dezembro de 1922,
p. 735, in : Pierre Broué. Révolution en Allemagne 1917-1923, Paris : Les
Éditions de Minuit, 1971, p. 632.
[25] Sob a pressão da
tempestade grevística de agosto, a derrubada do chanceler Cuno e as marcantes caracterizações
de Trotsky,
o Komintern, presidido por Zinoviev, resolveu-se por rever, no
fim do mês de agosto de 1923, radical e inopinadamente, sua orientação política
referentemente à luta de classes na Alemanha, apoiando-se, porém, nas versões
formuladas por Brandler e Radek, a quem decidiu confiar a preparação e direção
do Outubro
Alemão de 23, nele impedindo ostensivamente, porém, a intervenção
direta de Trotsky. Esses últimos atos foram levados à prática, em
seguida, ainda segundo a execução político-estratégica geral de Brandler,
contrária a deflagração de um levante com data marcada ou prazo
estabelecido : „No quadro da Constituição de Weimar, avançando rumo ao governo
de trabalhadores em toda a Alemanha!, o armamento das milícias proletárias
podia consistir apenas em bastões e porretes. A „formação“ limitava-se a
exercícios de marcha no interior das fábricas e em lugares abertos“. Cf. NEUBERG, A.
Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O Levante
Armado. Tentativa
de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner, 1971, p. VII.
Acerca do tema, Annegret Schüle observa o seguinte : „Já era praticamente
tarde, pois o estímulo das massas radicalizadas ameaçava transformar-se, então,
de orgulho em decepção e fatalismo. Em 20 de outubro, o governo federal decidiu
acionar tropas imperiais contra os governos da Saxônia e da Turíngea, compostos
por comunistas e sociais-democrátas, a fim de derrubá-los. Disso o PCA(KPD)
sacou a conseqüencia de antecipar o levante planejado para ocorrer no dia 9 de
novembro. Porém, quis esperar ainda a decisão de uma conferência de conselhos
de fábricas, em Chemnitz, a realizar-se em 21 de outubro. Os sociais-democrátas nela
presentes rejeitaram, porém, o plano. Em seguida, a direção do KPD, nela igualmente
presente, e a delegação do Komintern desconvocaram o levante. Essa política de
hesitações e de esquivas diante da decisão conduziu o PCA(KPD) à uma „pesada
derrota“.“ Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. ibidem,
pp. 42 e 43. No mesmo sentido, BROUÉ, PIERRE. Kurzer Abriß der Geschichte der Kommunistischen
Internationale(Curto Esboço sobre a História da Internacional Comunista), in :
Die Kommunistische Internationale, Bd. I, Köln : 1984, pp. XVII e s. Anote-se,
adicionalmente, que, após a deflagração do inteiramente isolado, desorientado e
descoordenado Levante de Hamburgo da Terça-Feira, 23 de Outubro de 1923,
desaconselhado tardia e inesperadamente por Brandler e Radek, comandado,
porém, corajosamente por Hans Kippenberger – contando com a
participação heróica de algumas centenas de trabalhadores e com a inexpressiva
atuação política de Ernst Thälmann -, foram, em 29 de outubro de 1923,
impiedosamente derrubados, pelas tropas de Ebert, Stresemman e von Seeckt, os „governos
de trabalhadores comunistas-sociais-democráticos da Saxônia e da Turíngea“,
idelizados ilusoriamente por Brandler e por Radek enquanto „passo intermediário para a conquista das
massas rumo à Ditadura do Proletariado, mediante sustentação sobre os conselhos
de fábrica revolucionários“, com vistas a „contemporizar e não tomar parte em lutas isoladas“, acreditando
serem capazes de opor-se, porém, à perspectiva de sabotagem da
social-democracia de esquerda alemã consistente em governar com os comunistas „sem renunciar à constitucionalidade, sem
armamento dos trabalhadores e sem se submeter à autoridade dos conselhos de
fábrica revolucionários“... Em seguida, em 23 de novembro de 1923, foi
decretada a proibição legal do PCA(KPD). Acerca do tema, vide,
sobretudo, KIPPENBERGER, HANS. Der Aufstand in Hamburg(O Levante em Hamburgo), in :
A. Neuberg. Der bewaffnete Aufstand. Versuch einer theoretischen Darstellung(O
Levante Armado. Tentativa de uma Apresentação Teórica), Frankfurt a. M. : Georg Wagner,
1971, pp. 66 e s.; BROUÉ, PIERRE. Révolution en Allemagne
1917-1923, Paris : Les Éditions de Minuit, 1971, pp. 618 e s., especialmente
pp. 758 e 768 e s.; KAUFMANN, BERND.
Der Nachrichtendienst der KPD 1919-1937(O
Serviço Secreto do KPD entre 1919 e 1937), Berlim : Dietz, 1993, pp. 57 e s.; WEBER, HERMANN. Von Rosa Luxemburg zu
Walter Ulbricht. Wandlungen des deutschen Kommunismus(De Rosa Luxemburg a
Walter Ulbricht. Mudanças do Comunismo Alemão), Hannover : Literatur und
Zeitgeschehen, 1961, pp. 28 e s.
[26] Essa falsificação quanto à culpabilidade de Trotsky
pelo fracasso do Outubro de 23 repercutiu, também,
profundamente, em toda a Alemanha, sendo ela apregoada, em um primeiro momento,
de maneira desbragada, pelos novos dirigentes zinovievistas do PCA(KPD),
Ruth
Fischer e Arkadi Maslow, que substituíram, em abril de 1924, os postos
de Brandler
e Thalheimer. Nesse sentido, Annegret Schüle assinala, com precisão : „Ainda em 1928,
Trotsky via-se obrigado a justificar-se. Ele comprovou, com base no Protocolo
da Plenária do Comitê Central do Partido Comunista da URSS, de setembro de
1923, que ele havia advertido acerca da „sonolência“ e o „fatalismo“ da direção
Brandler, sendo que a maioria dos membros do Comitê Central de então o
contradisseram.“ Cf. SCHÜLE, ANNEGRET. Trotzkismus in Deutschland bis 1933. „Für die
Arbeitereinheitsfront zur Abwehr des Faschismus“(O Trotskysmo na Alemanha até
1933. „Pela
Frente Única dos Trabalhadores para a Defesa contra o Fascismo“), Köln :
Selbstverlag, 1986, p. 47. Acerca do tema, vide, mais detalhadamente, TROTSKY, LÉON. Die III. Internationale nach Lenin. Das Programm der
internationalen Revolution und die Ideologie des Sozialismus in einem Land
1928/29 (A III Internacional após Lenin. O Programa da Revolução Internacional e a Ideologia
do Socialismo em um Só País 1928/29), Berlim : Dröge, 1993, pp. VIII e s.
[27] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Lettera a Togliatti, Terracini e C.(9 de Fevereiro de
1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista
Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, pp. 197 e 198.
[28] Acerca dos elementos
essenciais da luta política de Gramsci contra o Manifesto
da Esquerda Comunista, elaborado por Bordiga, em março de
1923, no quadro de seu aprisionamento pelas forças do fascismo, vide,
sobretudo, GRAMSCI, ANTONIO. Lettera
a Scoccimarro(5 de Janeiro de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del
Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori
Riuniti, pp. 148 e s.
[29] Com efeito, já em 8 de fevereiro
de 1924, Amadeo Bordiga havia enviado à redação de L‘Unità seu artigo,
intitulado „La Quistione Trotsky“, em que tomava posição aberta em defesa
de Trotsky,
em face da luta desse último contra a Troika. Seu artigo foi
repassado, a seguir, pelo Comitê Executivo do PCI à
direção do Comitê Executivo do Komintern, a fim de que esse último
opinasse sobre seu conteúdo. O artigo de Bordiga foi, então, decididamente
condenado não apenas pelos representantes da Troika, senão ainda pelos
dirigentes do PCI, reunidos em torno
de Gramsci
e Togliatti. Na V. Conferência Ampliada do Comitê Executivo
do Komintern, que teve lugar entre 21 de março e 6 de abril de 1925,
uma resolução conclamou o PCI a deflagrar, ostensivamente, „uma
luta decidida contra a ideologia de Bordiga, considerada enquanto o principal
obstáculo para a bolchevização do partido“. Acerca do tema, vide GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte
Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos),
Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 362.; IDEM.
La Situazione Interna del Nostro Partito ed i Compiti del Prossimo Congresso(L’Unità, 3 de Julho de
1925), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 629.; IDEM. L’Organizzazione per Cellule e il
II Congresso Mondiale(L’Unità, 29 de Julho de 1925), in : ibidem, p. 640.
[30] Segundo Guido
Zamis e Karin Gurst, Gramsci tornou-se, a partir de abril de 1924, Secretário
Geral do PCI. Nesse sentido, vide ZAMIS,
GUIDO & GURST, KARIN.
Anmerkungen der Herausgeber(Observações dos Editores), in : Antonio
Gramsci. Zu Politik, Geschichte und
Kultur. Ausgewählte
Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos),
Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 364. Acerca do tema, escreve Luigi Candreva,
criticamente : “O que mais assombra é a interpretação dos vários grupos
que, na Itália, se reclamam (ou se reclamaram) do trotskysmo : em substância,
não se separam da vulgata togliattiana, segundo a qual o processo de formação
de um novo grupo dirigente do PCI, de 1923-26, explica-se com o distanciamento
de Gramsci do extremismo bordiguista e a reapropriação do método e do programa
leninista, que seria, em última instância, codificado nas Teses de Lyon... Pelo
contrário, ocorreu o inverso : Gramsci, depois de sua adesão inicial aos
argumentos da crítica de Trotsky à nascente burocracia soviética, move-se,
gradualmente, em direção do grupo dirigente stalinista, convicto de que sem a
sustentação da Internacional não poderia obter razão em face da esquerda
bordiguista. Os pontos de partida e de chegada dessa evolução são as cartas de
9 de fevereiro de 1924 e a carta de outubro de 1926.” Cf. CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la ‘Bolscevizzazione’ del Pci :
1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/ gramsci. htm, 2 de Junho de 1996.
Sobre esse tema, vide ainda o próprio GRAMSCI,
ANTONIO, Lettera a Terracini(24 de Fevereiro de 1924), in : Palmiro
Togliatti. La
Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924,
Roma : Editori Riuniti, pp. 217 e s.; IDEM.
Schema di
Tesi sulla Tattica e sulla Situazione Interna del Pci”, in : Lo Stato Operaio,
15 de Maio de 1924.
[31] Anote-se, de
passagem, que a decisão do Komintern
de dever Bordiga permanecer no Comitê Executivo do PCI, realizada
em consonância com a proposição de Bordiga assumir o posto de Vice-Presidente
do Komintern, havia sido, porém, por ele mesmo rejeitada, em 22 de
dezembro de 1923, sob a alegação de que não condividia, absolutamente, o
direcionamento político imprimido por Zinoviev, Stálin e Kamenev a esses
organismos. Após esse episódio histórico, Bordiga seguiu sendo, entretanto,
membro do Comitê Central do PCI. Em 24 de fevereiro de 1924, Bordiga
recusou-se, claramente, a prestar qualquer colaboração ao Comitê
Executivo do PCI. Finalmente, em 8 de maio de 1924, Zinoviev,
pretendendo conduzir pressupostamente, mais uma vez, as posições
bordiguistas ao descrédito, reformulou sua proposta de dever Bordiga
integrar o Comitê Executivo do PCI e assumir a vice-presidência do Komintern.
Tal proposta foi, novamente, rejeitada por Bordiga. Por ocasião do V
Congresso do Komintern, os representantes de Bordiga foram excluídos,
então, do Comitê Central do PCI. Acerca dessa temática, vide GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik,
Geschichte und Kultur. Ausgewählte Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura.
Escritos Escolhidos), Leipzig : Philipp Reclam, 1980, p. 364.; TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del
Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori
Riuniti, 1969, pp. 133, 337 e s.
[32] Nesse sentido, vide TOGLIATTI, PALMIRO. ibidem, pp. 374 e
s.
[33] Cf. GRAMSCI, ANTONIO, Introduzione a un
Articolo della Pravda (Novembro de 1924), in : Antonio Gramsci. La Costruzione del
Partito Comunista, Torino : Einaudi, 1978, pp. 211.
[34] Cf. IDEM. Intervento alla Conferenza di
Como (1924), in : ibidem, p. 461.
[35] Cf. IDEM. Relazione al CC del 6 febbraio 1925 (1925), in : ibidem, p. 473. Acerca do
tema, observa Candreva : “Segundo um testemunho de Leonetti a F. Ormea, Gramsci
considerava Stálin, em 1925, “o melhor entre os companheiros russos” (citado em
F. Ormea : Le Origini dello Stalinismo nel Pci, Feltrinelli, p. 85)”. Cf. CANDREVA, LUIGI. Gramsci e la
‘Bolscevizzazione’ del Pci : 1924-1926, in: http:// www. po.org.ar/ foro/
gramsci. htm, 2 de Junho de 1996.
[36] Acerca dos métodos de
luta fracional, utilizados por Gramsci e Togliatti, visando a „mettere
a disagio“(i.e. colocar em embaraço) as alas oposicionistas de Angelo
Tasca e Amadeo Bordiga, já a partir de inícios de 1924, vide os
próprios argumentos, insolentes e despurdorados, de TOGLIATTI, PALMIRO. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito
Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, 1969, pp. 230, 233,
241e s.
[37] Acerca do tema, vide os próprios
depoimentos do pensador gramsciano SPRIANO, PAOLO. Storia del Partito
Comunista Italiano, Vol. I, Torino : Einaudi, 1967, pp. 465 e s.
[38] Acerca desses resultados
congressuais de 1926, vide GRAMSCI, ANTONIO, Il Significato e i Risultati del III
Congresso del Partito Comunista d’Italia (L’Unità, 24 de Fevereiro de 1926), in
: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 651 e s.
[39] O Deputado Giacomo
Matteotti foi assassinado em 10 de junho de 1924, a mando de Benito
Mussolini. Desde 1922, Matteotti era secretário do Partido
Socialista Unitário(PSU), encabeçado por Filippo Turati, principal
representante das concepções sociais-reformistas de Eduard Bernstein, em
território italiano. Após a expulsão de ambos do Partido Socialista Italiano(PSI) no
quadro de seu XIX Congresso, em outubro de 1922, Turati e Matteotti fundaram
o Partido
Socialista Unitário(PSU), de matiz pura e abertamente
social-democrático reformista, procurando através dessa nova denominação
partidária semear confusões de identidade política e atrair rapidamente novos
adeptos. Com o assassinato de Matteotti, os principais partidos
oposicionistas da Itália, incluindo o PCI, abandonaram a câmara de
deputados do regime fascista, formando a frente oposicionista AVENTINO,
assim denominada em alusão ao monte para o qual se retirou a plebe da antiga
Roma, em 494 a.C., visando a protestar contra a política opressiva dos
patrícios romanos. Apenas poucos parlamentares liberais-giolittianos
permaneceram na câmara fascista, acreditando que Mussolini regressaria ao
regime burguês de respeito à constitucionalidade e ao Estado de Direito. Quando
o parlamento fascista foi reconvocado por Mussolini, para reunir-se a partir
de novembro de 1924, o PCI, não logrando orientar a AVENTINO
para uma política de formação de um „Anti-Parlamento“,
decidiu-se por fazer retornar seus parlamentares à câmara fascista
anteriormente abandonada. Diante desse quadro, o PCI foi o primeiro
partido a abandonar a AVENTINO. Em junho de 1925, Gramsci
e Togliatti propuseram aos partidos da esquerda da AVENTINO(Partido
Republicano, Partido Socialista Unitário, Partido Socialista Italiano) a
formação de uma „assembléia republicana
sobre a base dos Comitês Operários e Camponeses“, visando à suposta criação
de um dualismo de poderes no país, servindo hipoteticamente para a organização
das massas em sentido „sovietista“. Tal proposta foi, em
seguida, rejeitada pela esquerda da AVENTINO. No final de 1925, foram os
demais parlamentares da AVENTINO impedidos pelos deputados
fascistas de reingressar na câmara que boicotaram precedentemente. Dessa
maneira, essa frente oposicionista foi esmagada, sendo, finalmente, dissolvida
no fim de 1926, precisamente no momento em que o totalitarismo de Mussolini
extinguiu a possibilidade de existência de toda e qualquer oposição
legal em solo italiano. Acerca do tema, vide os argumentos pretensamente
justificadores de GRAMSCI, ANTONIO. Zu Politik, Geschichte und Kultur. Ausgewählte
Schriften(Acerca da Política, da História e da Cultura. Escritos Escolhidos),
Leipzig : Philipp Reclam, 1980, pp. 362, 364 e s. ; IDEM. Opportunismo e Fronte Unico(L’Unità, 29 de Outubro de 1925), in : Antonio Gramsci. Scritti
Politici, Roma, 1967, pp. 648 e s.; IDEM.
Il Significato e i Risultati del III Congresso del PCd’I (L’Unità, de 24
Fevereiro de 1926), in : ibidem, especialmente Tática do Partido, pp. 664 e s.
[41] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Lettera al Comitato Centrale del Partito Comunista
Sovietico (meados de Outubro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici,
Roma, 1967, pp. 713 e s.
[42] Observo, de passagem,
que a resposta, datada de 18 de outubro de 1926, de Palmiro Togliatti, desde
Moscou, a essa carta de Gramsci comprova que havia,
entretanto, milimétricas diferenças entre esses dois dirigentes stalinistas do PCI
na apreciação da luta política travada entre Trotsky e Stálin.
Togliatti
criticou, nessa ocasião, a tonalidade escolhida por Gramsci para a redação
dessa carta, afirmando que haveriam de ser ainda mais resolutos na condenação
das posições de Trotsky, Zinoviev e Kamenev, a fim de poderem sustentar ainda
mais aberta e despudoramente a linha stalinista. Acerca do tema, vide BERTI, GIUSEPPI. Introduzione
all’Archivio Tasca, in : Annali Feltrinelli, Milano, 1966, pp. 299 e s.
[43] Vide GIORGIO BARATTA, Socialisme,
Americanisme et Modernité chez Gramsci in: Modernité de Gramsci, Actes du
Colloque Franco-Italien de Bensançon (23-25 novembre 1989), Annales Littéraires
de l’Université de Besançon, Série Agon Nr. 4, Besançon : Paris IV, 1992, pp.
147 e s. Acerca do tema, escreve Baratta : “Julgando ‘fundamentalmente justa a linha
política da maioria do Comitê Central do Partido Comunista da URSS’
(Bukharin-Stálin), Gramsci censura essa última por querer “destruir” as
oposições (Trotsky e Zinoviev-Kamenev), recordando que ‘uma firme unidade e uma
firma disciplina no Partido que governa o Estado Operário, podem assegurar a
hegemonia proletária (...) porém (...) não podem ser mecânicas e impostas(p.
150)”. Vergonhoso argumento para pretender-se legimitar a tese que defende o
professor Giorgio Baratta acerca de Gramsci : “Com Lenin, além de Lenin e
Contra Stálin”. Estranha hermenêutica essa de extrair-se de um texto a
idéia de “censurar” quando o que mais se vê é prostração e legitimação mais
completa e apologética de Gramsci em face da política
stalinista de construção do socialismo em um só país e de burocratização do Estado
Soviético e do Komintern, em nome da unidade
partidária. Em verdade, examinado-se efetivamente o conjunto das obras de Gramsci,
verifica-se que esse último jamais atacou ou criticou, repreensivamente, a
política de Stálin. Pelo contrário, na mais célebre de suas referências à Stálin,
contida em seus Cadernos do Cárcere, Gramsci
refere-se a esse último como “o maior
teórico recente” em matéria de internacionalismo e política nacional. Nada
obstante, o professor Giorgio Baratta prossegue em seu
intento frustado de querer fundamentar a tese acerca de Gramsci “Com
Lenin, além de Lenin e Contra Stálin”, assinalando a seguir : “ O laço ‘orgânico’ entre a
crítica filosófica endereçada ao mecanismo do Manual Popular de sociologia de Bukharin (que, durante o período
trágico do fim dos anos 20, tentava, desesperadamente e em vão, fazer sua
auto-crítica) e a crítica política do que será mais tarde definido como o
stalinismo é aqui evidente : são os dois alvos ‘orientais’ da polêmica
prático-teórica de Gramsci nos “Cadernos
do Cárcere”, aos quais corresponde em contra-ponto dois outros alvos,
‘ocidentais’, a saber : a filosofia de Croce com seu idealismo e o
americanismo, doravante hegemônico no mundo capitalista”. No texto de Giogio
Baratta, aqui reproduzido, é, verdadeiramente, impossível determinar-se,
logicamente, o que ele considera, efetivamente, como evidente ! Ora, Gramsci
jamais ousou atacar, em seus escritos, o stalinismo, ainda que alguns
intelectuais gramscianos aleguem que ele o teria feito. Se eventualmente algum
leitor alegue que realmente o fez, valeu-se dos métodos das metáforas bíblicas
ou do alcorão, a partir das quais se deve extrair, hermeneuticamente, que das
montanhas paradas, essas mesmas encontram-se em movimento ... Aqui, entretanto,
não se pode, absolutamente, alegar que não o fez por “um
elemento de prudência em relação às medidas
repressivas ulteriores de seus carcereiros fascistas”, dado que a idolatria stalinista
representava, sob o fascismo e o nazismo de fins dos anos 20 e início dos anos
30, um perigo potencialmente mais real do que a defesa do trotskysmo,
desprovido oficialmente de posições oficiais no seio do Estado Soviético. Pelo contrário, é certo
que Gramsci
opôs-se, ostensivamente – e não em linguagem biblíco-metafórica – também às
concepções de Bukharin. Porém, fê-lo não contra aquele Bukharin, aliado de
Stálin, nos anos de 1924 a 1928. Sua positiva apreciação de Bukharin,
encontra-se, p.ex., em GRAMSCI, ANTONIO.
L’URSS verso il Comunismo (L’Unità, 7 de Setembro de 1926), in : Antonio Gramsci. Scritti
Politici, Roma, 1967, pp. 686 e s., como tb. alhures. Gramsci opôs-se, sim, àquele
outro Bukharin, acusando-o de mecanicismo e determinismo em virtude
de sua elaboração do Manual de Sociologia
Popular, precisamente no momento em que esse último, enfraquecido, usado,
descartado e perseguido pelo stalinismo, procurava, ao final dos anos 20,
realizar sua auto-crítica que Stálin lhe exigia para que
sobrevivesse. Também a partir desse raciocínio é movediça e pueril a tese de
Giorgio Baratta relativa a um Gramsci “Com Lenin, além de Lenin e Contra Stálin”. Vide acerca dessa
temática, IDEM. Quaderni del
Carcere, Nr. 15 (1928-1937) – Sociologia e Scienza Politica, in: Antonio
Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino :
Editori Riuniti, 1991, pp. 98 e s. Acerca de Bukharin, vide BUKHARIN, NIKOLAI. Theorie des
historischen Materialismus. Gemeinverständliches Lehrbuch der marxistischen
Soziologie(Teoria do Materialismo Histórico. Manual Popular da Sociologia
Marxista), Hamburg, 1922, pp. 5 e s.