Texto de Autoria
de
Portau Schmidt
von Köln
A
Enfermidade Gramsciana
no
Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas
Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica
Trotsky e Gramsci : Gramsci e
Trotsky
O SU-QI e a
Corrente Franco-Gramsciana
de Atualização,
Correção
e Superação do
Marxismo
(O Meta-Marxismo
de Actuel Marx)
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Geral
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De início, chamo a
atenção do leitor para o fato de que a irrupção da Revolução de Outubro de 1917 foi
qualificada por Gramsci, a essa altura atuando como jornalista do Partido
Socialista Italiano em “Il Grido del Popolo” e “Avanti
!”, da seguinte forma:
“A revolução dos bolcheviques é materializada com mais
ideologia do que com fatos (por isso, no fundo, pouco nos importa saber mais do
que dela já sabemos.)
Essa é a revolução contra o Capital de Karl Marx. ....
O Capital de
Marx era, na Rússia, muito mais o livro dos burgueses do que o dos proletários.
Era a demonstração crítica da necessidade fatal de que na
Rússia se formasse uma burguesia, se iniciasse uma era capitalista, se
instaurasse uma civilização de tipo ocidental, antes de que o proletariado
pudesse mesmo pensar em sua revanche, nas reivindicações de classe, na sua
revolução.
Os fatos superaram as ideologias.
Os fatos fizeram explodir os esquemas críticos entre os
quais a história da Rússia teria podido desenvolver-se segundo os métodos do
materialismo histórico.
Os bolcheviques renegam Karl Marx, afirmam com o
testemunho da ação explicada, das conquistas realizadas, que os cânones do
materialismo histórico não são assim tão férreos como se poderia pensar e se
pensou.
E existe uma fatalidade também nesses acontecimentos.
Se os bolcheviques renegam algumas afirmações do Capital, não renegam seu pensamento
imanente, vivificador.
Eles não são “marxistas”, eis tudo.
Não redigiram, sobre a obra do mestre, uma doutrina
exterior, de afirmações dogmáticas e indiscutíveis.
Vivem o pensamento marxista, aquele não morre mais, o
qual é a continuação do pensamento idealista alemão e italiano e do qual Marx
se havia contaminado com incrustrações positivistas e naturalistas. ...”[1]
Eis como, fundado
em seu primeiro exame acerca do evento histórico da Revolução de Outubro, Gramsci nos
demonstra, muito inédita e criativamente – i.e. à maneira gramsciana -, que o pensamento de Marx, por haver-se
contaminado com o pensamento idealista alemão e italiano, aprodreceu-se por força de incrustrações positivistas e
naturalistas ...
Com efeito, é
necessário aprender-se com Gramsci, de uma vez por todas, que
os pensadores idealistas alemães e italianos devem ser considerados como os
mais profundos difusores do positivismo e do naturalismo que incustraram o
pensamento de Marx ..., tal como os pensadores franceses e ingleses foram os
verdadeiros intelectuais materialistas do kategorischen Imperativs e da Ding
an sich.
Na medida em que Marx encontrava-se,
irremediavelmente, contaminado por incrustrações positivistas e naturalistas
tedesco-romanas - tal como acabamos de efetivamente (des-)aprender -, Gramsci
sustenta que os bolcheviques, comandados por Lenin, renegaram-no, demonstrando
que os cânones e os métodos do materialismo histórico não são tão férreos, como
podia se pensar e se pensou ...
Um salto
histórico-revolucionário por cima do desenvolvimento do capitalismo na Rússia
tornara-se, assim, inteiramente possível, na medida em que a Revolução
de Outubro foi a revolução dos bolcheviques-leninistas contra o Capital
de Karl Marx[2].
Essa primeira
apreciação notoriamente anti-marxista de Gramsci acerca da Revolução
de Outubro - a qual foi, entretanto, defendida e fundamentada por Lenin,
no contexto cientificamente rigoroso de toda doutrina
marxista-engelsiana e das suas necessárias implicações sócio-políticas -, é, portanto, inteiramente coerente e
compatível não com a doutrina de Marx, Engels, Lenin e Trotsky, mas
sim com os dois principais cânones, originalíssimos da sabedoria científica
gramsciana, legados para a eternidade até o dia do juizo final ..., o primeiro:
“Quando
surge um enigma, não se trata de uma coisa “incogniscível, porém apenas de algo
desconhecido” e o segundo,
mais realista e dotado de efeito potencialmente reversivo contra o seu próprio
autor : ”Saber é Poder”[3].
Em suma : Gramsci e o gramiscismo são coerentes
e compatíveis não apenas com os posicionamentos político-partidários
fundamentais do stalinismo, senão ainda coerentes e compatíveis consigo mesmos.
Muitos são os
intelectuais contemporâneos, inspirados na doutrina gramsciana – não apenas os
mais consagrados pensadores do antigo PCI, migrados para o PSD ou
para Rifondazione
Comunista, como também os mais renomados ideólogos do meta-marxismo
franco-gramsciano -, que, entrevendo a gravidade das implicações de tal
posicionamento de Gramsci em face de Karl Marx, procuram diminuir ou relativizar
a importância cardeal desse artigo de Gramsci, intitulado ostensivamente “A
Revolução Contra o ‘Capital’ ”, publicado nas colunas de ”Avanti
!”, em 24 de novembro de 1918, i.e. há um ano depois da eclosão da Revolução
de Outubro[4].
Nada obstante, é
importante acentuar que, a despeito das inúmeras referências formais de Gramsci
permeadas de superticiosa reverência ao pensamento de Karl Marx e Friedrich Engels[5] - tais
como “Marx
significa ingresso de inteligência na humanidade, reino da consciência”[6] -,
a doutrina gramsciana caracteriza-se, precisamente, por conceber o marxismo
efetivamente como “contaminato di incrostazioni
positivistiche e naturalistiche” e, pelo contrário, o bolchevismo como ”il
pensiero marxista ... che non muore mai, che è la continuazione del pensiero
idealistico italiano e tedesco ... ”.
Eis aqui um ponto
chave decisivo para a compreensão da posição lógico-filosófica de Gramsci,
que se projetará em toda sua falaciosa concepção de estratégia política
de luta pelo socialismo.
A alquimia
epistemológica, desenvolvida por Gramsci, visa a expurgar da doutrina
de Marx
e Engels suas supostas incrustrações positivistas, naturalistas,
mecanicistas, fatalistas, necessitaristas, de tal modo a transportar para o
horizonte italiano aquilo que os bolcheviques lograram sedimentar na Rússia
Soviética, i.e. a concepção de que “i canoni del materialismo storico non sono
così ferrei como si potrebbe pensare e si è pensato ... “.
Genialíssimo,
atualizador, simplesmente criativo e inovador, uma verdadeira conquista para a
construção do socialismo ..., tal como mais um dos cânones vivificadores da
sabedoria gramsciana científico-imanente : “Quem não é capaz de levantar hipóteses, não
será jamais um cientista.”[7]
A resposta a esse
enigma – que não se trata de uma coisa
“incogniscível”, porém apenas de algo desconhecido, tal como já nos
instruiu um dos cânones da epistemologia de Gramsci pode ser
sintetizada da seguinte forma :
Na sede reservada
por excelência ao desenvolvimento mais próprio de seus pensamentos
especulativos – i.e. em seus Cadernos do Cárcere -, Gramsci
procura demonstrar como tornou-se indispensável reformular fundamentalmente o materialismo
histórico -, eivado, no
pensamento de Marx, de positivismo e naturalismo.
Tal reformulação
do materialismo
histórico por Gramsci processou-se, então, a
partir da intepretação idealista da doutrina de Marx e Engels elaborada
pelo célebre autor liberal italiano Benedetto Croce[8], de
modo a tornar-se possível o elevar-se às alturas culturais-espirituais da reconstrução
histórico-materialista da cultura e das super-estruturas(sic)[9].
Como se isso não
bastasse, cumpria ainda, aos olhos de Gramsci, proceder-se à substituição
do materialismo
dialético pelo que haveria de ser a mais renovada e enriquecida filosofia
da práxis, de Marx e Engels, vislumbrada, agora,
entretanto, enquanto teoria histórico-linguística das contradições objetivas
sócio-econômicas e ético-políticas inter-traductíveis[10].
Para tanto, Gramsci
utilizou, como ponto de partida, a leitura crítica do atualismo
italiano, corrente filosófica também de matiz idealista, protagonizada
pelo renomado pensador fascista, Giovanni Gentile[11], por
quem Gramsci
se considerava profundamente inspirado[12].
O método de
trabalho intelectual utilizado por Gramsci nessa reconfiguração das
bases fundamentais do socialismo científico de Marx e Engels, contido em
seus principais artigos jornalísticos e em seus Cadernos do Cárcere, foi,
então, o da retradução, em linguagem marxista-labrioliana[13] -
i.e. no idioma do que considerava ser o marxismo anti-positivista - da crítica
de Benedetto
Croce e Giovanni Gentile ao pensamento de Marx e Engels, de maneira
a purificar esse último de sua forma dialético-mecanicista e naturalista, a fim
de supostamente fortalecê-lo com meios téoricos novos, mediante a
reconstituição do percurso filosófico-idealista de Hegel à
Croce-Gentile[14].
No preciso quadro
do contexto filosófico de seu artigo “A Revolução Contra o ‘Capital’”, torna-se
possível compreender-se, plenamente, aquilo que Gramsci proclamou, nas
páginas de “Il Grido del Popolo”, em 12 de janeiro de 1918, em defesa da
assim-denominada “nova geração” de defensores do marxismo :
“A nova geração parece querer retonar à genuína doutrina
de Marx para a qual o homem e a realidade, o instrumento de trabalho e a
vontade, não estão despregados, mas se identificam no ato histórico.
Acreditam, portanto, que os cânones do materialismo
histórico valham apenas post factum, para
estudar e compreender os eventos do passado e não devam hipotecar nem seu
presente nem seu futuro.”[15]
Tendo reconstruído
o materialismo histórico com base em uma concepção idealista-subjetivista da
realidade, de modo a expressar agora antes de tudo a historicidade da cultura e das
super-estruturas(sic), tendo
substituído o materialismo dialético pela sua filosofia da práxis,
consagradora agora do suposto liberalismo revolucionário de iniciativa coletiva
no ato histórico[16]
- supostamente despido de elementos ideológicos considerados como unilaterais e
deterministas acerca da dimensão ético-política nas transformações técnicas do
processo de produção do capitalismo -, Gramsci pretendeu demonstrar, em
seus Cadernos
do Cárcere, como se tornava indispensável e possível a formação de um novo
senso comum[17], permeado,
porém, pela consagração da trans-individualidade social,
irredutível aos dois males extremos e antagônicos do mecanicismo filosófico : o
individualismo capitalista e o organicismo comunista.
Em sua defesa dos
posicionamos lógico-filosóficos de Gramsci, um dos mais renomados
expoentes do gramscismo mundial a partir dos anos 80, Etienne Balibar, Mestre de
Conferência da Universidade Panthéon-Sorbonne(Paris) e dirigente teórico
do Rethinking
Marxism da University of Massachusetts, destaca, precisamente, esse
aspecto de superação das implicações da “unilateralidade do economismo marxista(ou
de sua antropologia subjacente)”[18] nas
obras de seu mentor intelectual, o “Lenin Democrático” :
“Notemo-lo aqui : essas análises são exatamente o que
Engels desconheceu, dissolvendo a dialética trans-individual da relação de
produção em benefício de uma superposição mecânica da ‘contradição entre forças
produtivas e relações de produção’ (as primeiras, ‘sociais’, as outras fundadas
sobre a apropriação ‘privada’) e do antagonismo político das classes.
Foi necessário esperar os anos 60 e os 70 do século XX
para que, cada qual à sua maneira, os “operalistas” italianos, Braverman,
Bahro, certos ‘althusserianos’ (Linhart), etc. reencontrassem nesse ponto o objeto da análise de Marx. ...
Se existe a tentativa de recomeço do marxismo, é,
notadamente, parece-me, porque Gramsci, para além de todo um ciclo de
ortodoxias e de revisionismos reabre, efetivamente, a questão da relação
trans-individual [apenas o freud-marxismo com seus “excessos”(Wilhem Reich)
pode ser comparado a Gramsci nesse respeito, na mesma conjuntura], sem, contudo,
a designar com um conceito teórico ou, ao menos, com um conceito único.”[19]
Com efeito, o que Engels
desconheceu acerca da ”dialética trans-individual da relação de
produção” - descoberta pelos operalistas italianos e alhusserianos
franceses, entre eles o próprio althusseriano-gramscista Etienne Balibar -, havia
sido já tentado por Gramsci, superando todo um ciclo de dogmatismos e revisionismo,
sem haver apontado contudo para o belíssimo e altissonante conceito da ... –
repitamo-lo mais uma vez com Balibar – conceito da ”dialética
trans-individual da relação de produção” !
Balibar prossegue, porém, em – ou insiste em ..., visto que aqui
é extremamente dificultoso conceber-se precisamente a dialética trans-vocabular da relação de idéias desse Mestre
de Conferências da Sorbonne -, ou digamos, mais escorreitamente, Balibar
destaca, porém, adicionalmente, seu louvor ao que denomina, entre
aspas, o “leninismo democrático”[20] de Gramsci,
destacando, literalmente, o seguinte, contra o suposto mecanicismo de Marx e
Engels :
O ponto essencial, cuja originalidade (i.e. a
originalidade de Gramsci) se impõe não apenas em relação ao marxismo mecanista,
mas em relação às sociologias de inspiração durkheimiana ou weberiana(fundadas
nas idéias de legitimação do poder, de distribuição do “capital simbólico” ou
de divisão do trabalho), e mesmo habermasianas(fundada sobre o dualismo da
produção e da comunicação), é o fato de que a questão da intelectualidade, ou
do pensamento individual e coletivo, e aquela dos antagonismos sociais
(exploração, conformismo subalterno ou hegemônico, revolução ‘ativa’ e
‘passiva’) sejam tendecialmente tornadas co-extensivas.
Cada qual torna-se, assim, o correlato do outro. ...
Seríamos tentados a dizer que existe algo de Foucault
nesse Gramsci aí, se não fosse mais justo destacar que existiria de Gramsci
(conscientemente ou não) no Foucalt das “redes de poder-saber”[21].
Pontificando seus
ensinamentos, então, conclusivamente, desde as elevadas cátedras da Sorbonne
de Paris, escreve esse renomado Mestre de Conferências :
“Para concluir essas esquemáticas reflexões, eu diria que
Gramsci permanece um marxista clássico
no sentido de que todas suas análises são comandadas por um fio condutor
histórico que é o do antagonismo de classe e pela perspectiva de sua resolução
....”[22]
Há, entretanto, um
pequeno pormenor a ser observado acerca do marxista clássico, Antonio
Gramsci,
no que concernente à consagração vitoriosa – à maneira das Teses
de Lyon – de seu novo senso comum, definitivamente enriquecedor
da doutrina socialista de Marx e Engels, em conformidade com a
mais nova versão atualista-gentiliana:
Gramsci elaborou, ainda, criativa
e inovadoramente, a relevantíssima teoria do bloco histórico, fundada
no processo
de catársis, como forma de eliminar o suposto mecanicismo, determinismo
e fatalismo existente na exposição de Karl Marx, contida no Prefácio
à Crítica da Economia Política, de janeiro de 1859, quando afirma esse
último que o modo de produção da vida material condiciona (i.e. bedingt) o processo de vida social, político e espiritual em
geral[23].
Na medida em que o
processo
de catársis possibilitaria, segundo Gramsci, realizar a
passagem do momento meramente econômico-estrutural da sociedade, i.e. do
momento da necessidade objetiva, para aquele ético-político super-estrutural,
i.e. da liberdade subjetiva, permitindo, efetivamente, a elaboração superior da
estrutura na super-estrutura da consciência dos homens, o bloco histórico, sendo o
resultado desse processo de catársis, ou, digamos assim, processo catártico – para
prestar-se assim homenagem ao ensinamento contido no cânone de sabedoria
gramsciana relativo a Saber é Poder ... -, o bloco
histórico, repito, seria, por assim dizer, algo como a ...., algo como
o ..., permitamos, entretanto, afinal de
contas, que Gramsci, ele mesmo, com seu brilhantismo e
argúcia filosófico-lexical, descreva-o por si mesmo ao leitor.
Com efeito, Gramsci
:
“A estrutura e as super-estruturas formam um bloco
histórico e o conjunto complexo e discordante das super-estruturas são o
reflexo de conjunto das relações sociais de produção.
Disso resulta que apenas um sistema de ideologia
totalitário reflete racionalmente a contradição da estrutura e representa a
existência das condições objectivas para a transformação da práxis”[24].
Informo ao leitor
que chegamos à cumeeira do pensamento lógico-filosófico de Gramsci.
Nada há de mais
elevado, sublime e profundo em sua doutrina lógico-filosófica, além de suas
penetrantes reflexões acerca do bloco histórico e do processo de catársis ou
catártico.
Pois, a essa
altura, as contaminações incrustadoras, mecanicistas e deterministas, positivas
e naturalistas, da doutrina de Marx e Engels, contidas no Prefácio
à Crítica, já puderam ser completamente superadas, corrigidas,
atualizadas e, finalmente, expurgadas, em sentido gramsciano.
Baldado
procurar-se por algo mais criativo e inovador nos Cadernos do Cárcere ...
Baldado.
E, com efeito : é
sobre a base da teoria do bloco histórico e do processo
catártico que se regozijam os mais destacados franco-gramscianos
meta-marxistas de Actuel Marx e dos Espaces Marx Reséau International. Pour Une
Construction Citoyenne du Monde, entre eles um dos mais festejados professores de
filosofia da Sorbonne(Paris) e da Sophia Antipolis(Nice), André
Tosel.
Sendo assim,
assinala, expressamente, Tosel, valendo-se de sua perspicácia
analítica costumeira, de quem sabe, conscientemente, de que vertente filosófica
está-se, de fato, tratando :
“Gramsci irá bem longe nessa via :
Pois, então, ele não declara que o materialismo não deve
ser considerado como a base filosófica da nova concepção da história e que, na
fórmula “materialismo histórico” o adjetivo transvaloriza o substantivo ?
Gramsci não afirma que essa transvalorização exige, para
ser pensada, a admissão da “concepção subjetiva da realidade”, a única
verdadeiramente moderna, e que o materialismo é uma filosofia inadequada para
acolher a descoberta teórica de Marx e sua aplicação por Lenin ?
‘A teoria das super-estruturas é a tradução em termos de
historicismo realista da concepção subjetiva da realidade’.
Certamente, Labriola é invocado,
porém a concepção gramsciana da práxis não se identifica apenas ao ‘trabalho’,
posto que os resultados desse último são constantemente reelaborados no
processo catártico que é o ato histórico da formação de uma vontade coletiva.
É precisamente a propósito do bloco histórico que Gramsci
retoma, por sua conta, a interpretação de Giovanni Gentile da terceira tese
sobre Feuerbach e confere à ideologia – tornada concepção do mundo – a função
de condição de rovesciamento della prassi (i.e. transformação da práxis)
necessária à construção do novo bloco histórico.”[25]
“o qual não é nem materialista e nem idealista, mas o da
identidade dos contrários no ato histórico concreto, i.e. aquele de uma
atividade humana...
Filosofia do ato (práxis,
desenvolvimento), não contudo do ato “puro”, mas precisamente do ato “impuro”,
real no sentido mais profano e mundano da palavra.”[26],
tal como magnífica e prodigiosamente
frizou Gramsci, de modo
criativo e inovador !
Sim, porque, nesse
caso, em termos rigorosamente lógico-epistêmicos, se o monismo de Marx e de Engels não pode ser nem
materialista e nem idealista, o que há de ser?
Ora, ... há de
ser, logicamente, o monismo da identidade dos contrários do ato histórico
concreto ..., i.e. ... esse ato histórico concreto, bem a posteriori, bem
impuro, tal como no sentido mais profano e mundano da palavra – ou para economizarmos nosso latim -,
tal como no sentido único e incomparável do gramscismo.
Teríamos, ainda,
mais êxito na resposta a tais indagações lógico-filosóficas se afirmassemos que
o essencial de Lenin e de sua filosofia, no quadro da doutrina de seu sósia
do ocidente :
“não reside no materialismo afirmado (i.e. afirmado pelo
Lenin do Oriente...) no curso da controvérsia com o empirocriticismo, já que
seu terreno não é o da teoria tradicional do conhecimento, mas sim aquele da
política.
Sua política contém, pois, aqui uma lição decisiva para a
própria teoria do conhecimento.
Ela tem uma palavra : a hegemonia !”[27]
Para sermos
justos, então, com os direitos das criações intelectuais inovadoras, cumpriria
acrescentar, conclusivamente, que tal “palavra”
: a hegemonia foi empregada pelo
Lenin
do Ocidente em um sentido totalmente diverso daquele veiculado pelo Lenin
do Oriente, já que o primeiro, i.e. o Lenin do Ocidente,
distintamente do segundo, i.e. o Lenin do Oriente, tomou-a,
politicamente – como veremos -, no quadro de suas atualizações, correções e
superações de Marx e Engels concernentes à reconstrução
histórico-materialista da cultura e das super-estruturas(sic), referentes
à
filosofia da práxis, no sentido mais profano e mundano da palavra e,
por fim, à doutrina do bloco histórico, resultado do processo
catártico.
Esse renitente sic indica
que já aí existe uma grande inovação linguístico-estética do sósia
do Ocidente, a qual lhe valeria, desde logo, Direito de Patente
Intelectual, na medida em que o vocábulo alemão Überbau(super-estrutura), empregado
por Marx
e Engels em suas obras, converte-se, ainda no idioma alemão,
nesse mais ressonante, abrangente e quadriloqüente Überbauten(super-estruturas), em
língua italiana : le superstruture, na língua da última flor de Roma :
as
super-estruturas.
Destaque-se aqui
como Gramsci
opera mais uma vez, nesse domínio, seu método de correção, atualização
e superação das incrustações pretensamente fatalistas e deterministas,
positivistas e naturalistas, dos posicionamentos teórico-doutrinários mais
fundamentais de Marx e Engels, no sentido do mais pleno idealismo-subjetivista
:
“A relação entre os intelectuais e o mundo da
produção(sic) não é imediato, como ocorre com os grupos sociais fundamentais,
mas é “mediado”, em grau diverso, por todo o tecido social, pelo complexo das
super-estruturas, das quais os intelectuais são os “funcionários”.
Poder-se-ia mensurar a “organicidade” dos diversos
estratos intelectuais, sua conexão, mais ou menos estreita, com um grupo social
fundamental, estabelecendo uma graduação das funções e das super-estruturas de
baixo para cima (da base estrutural para cima).
Por ora, podem ser fixados dois grandes “planos”
super-estruturais, aquele que pode ser chamado o da “sociedade civil”, i.e. do
conjunto dos organismos vulgarmente ditos “privados”, e o da “sociedade
política ou Estado”, e que correspondem à função de “hegemonia”, que o grupo
dominante exerce em toda a sociedade, e à função de “domínio direto” ou de
comando, expressado no Estado e no governo “jurídico”.
Essas funções são precisamente de organização e de
conexão.
Os intelectuais são os “encarregados” do grupo dominante
para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo
político, i.e. :
1.
do consenso “espontâneo” dado pelas grandes massas da
população à direção, imprimida à vida
social pelo grupo fundamental dominante, consenso esse que nasce
“historicamente” do prestígio (e, pois, da confiança) em relação ao grupo
dominante, derivante de sua posição e de sua função no mundo da produção;
2.
do aparato de coerção estatal, que assegura “legalmente”
a disciplina daqueles grupos que não “consentem” nem ativamente nem
passivamente, constituído, porém, para toda a sociedade na previsão de momentos
de crise no comando e na direção em que o consenso espontâneo deixa de
existir.”[28]
Enquanto Karl
Marx concebe a sociedade civil enquanto constituída pelas relações
materiais de capital, propriedade fundiária e trabalho assalariado e pelas
condições econômicas de vida das classes sociais[29],
enquanto para Karl Marx surge a sociedade civil como o conjunto das relações
materiais de vida em cujo quadro torna-se possível compreender as relações
jurídicas e formas de Estado, devendo ser a anatomia da sociedade civil
esclarecida com os meios da economia política[30],
enquanto para Karl Marx o conjunto das
relações de produção social da vida humana forma a estrutura econômica da
sociedade, base real sobre a qual erige-se uma super-estrutura jurídica e
política e à qual correspondem certas formas de consciência social[31], enquanto para Karl Marx, enfim, as
forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade civil produzem, ao
mesmo tempo, as condições materiais para a solução do antagonismo das relações
burguesas de produção[32], Gramsci,
através da criação de um léxico filosófico-analítico particularmente
seu, de matiz plenamente idealista-subjetivista, em que as diversas
catergorias, conceitos e termos lógico-políticos assumem sentidos e
significados inteiramente discrepantes em relação ao socialismo científico de Marx
e Engels, transforma o conceito epistemológico de sociedade civil em um “plano”
super-estrutural “privado”, i.e. em um nível dos complexos de super-estruturas.
Anote-se, de
passagem, que a mesma revira-volta léxico-filosófica idealista-subjetivista de Gramsci
aplica-se também no domínio da questão dos intelectuais, cujo conceito Gramsci
pretende ver ampliado para muito mais além da própria dimensão
concebida por Lenin.
Esse último,
fundando sua análise desde uma perspectiva histórico-materialista,
classista-revolucionária, em plena consonância com a doutrina
proletário-socialista de Marx e Engels, assinala,
nitidamente, como que prevendo o destino que essa temática adquiriria, anos
depois, nos Cadernos do Cárcere do „Lenin do Ocidente“ :
„Contra a doutrina marxista da única classe realmente
revolucionária da moderna sociedade, os sociais-revolucionários introduzem em
campo a trindade «Inteligência,
Proletariado e Campesinato», com o que revelam sua desesperançada confusão
conceitual.
Colocar-se a inteligência diante do proletariado e do
campesinato, significa concebê-la enquanto uma camada social determinada,
enquanto um grupo de pessoas que assumem uma posição social que é igualmente
determinada, tal como a posição social dos trabalhadores assalariados e dos
camponeses.
Enquanto uma tal camada, a inteligência russa é,
precisamente, uma inteligência burguesa e pequeno-burguesa.
No que concerne a essa camada, o Sr. Struve tem
inteiramente razão quando designa seu jornal de órgão da inteligência russa.
Querendo-se referir, porém, aqueles intelectuais que ainda não assumiram nenhuma posição social
determinada ou que, porém, pela própria vida, estão já rechaçados de sua posição normal e passam para o lado do
proletariado, torna-se, então, um absurdo confrontar essa inteligência com o
proletariado.
Tal como qualquer outra classe da sociedade moderna, o
proletariado produz não apenas sua própria inteligência : ele conquista também
adeptos de todos os círculos de intelectuais.“[33]
Gramsci utiliza, em seus escritos, um conceito de intelectual
pretensiosamente mais amplo e abstrato, não evidentemente formulado a partir do
ponto de vista classista-revolucionário das lutas de emancipação do
proletariado, considerando-o como expressador de todo um grupo social de
funcionários não apenas das atividades teórico-intelectuais, senão ainda da
organização da produção econômica, da cultura, da política e da administração
do Estado em geral.
Nesse sentido,
assinala Gramsci :
„Por intelectuais deve-se entender não apenas aqueles
estratos comumente entendidos com essa denominação, porém, em geral, todo o
outro estrato social que exerce funções organizativas, em sentido lato, seja no
campo da produção, seja no da cultura, seja naquele político-administrativo : correspondem
aos sub-oficiais e oficiais subalternos no exército e também, em parte, aos
oficiais superiores de origem subalterna.“[34]
Se o leitor
deconfiado levantasse ainda qualquer indigação acerca de como Gramsci
corrigiu e superou o suposto mecanicismo de Karl Marx, contido no Prefácio
à Crítica da Economia Política, de janeiro de 1859, quando afirma que o
modo de produção da vida material condiciona (i.e. bedingt) o processo de vida social, político e espiritual em
geral, seria imprescindível informar-lhe que nos Cadernos do Cárcere é
possível identificar-se um sistema organizado em torno de quatro pólos, de
igual valor, a saber : o pólo linguístico, o pólo econômico-produtivo, o pólo
ético-político e o pólo antropológico-cultural.
Tais pólos
representariam, por assim dizer, coordenadas de um espaço de tensão que se
abriria para três abordagens complementares, a saber : a abordagem operativa, a
abordagem filosófica e a abordagem histórica.
Se um desses pólos
pode tornar-se dominante em certo momento histórico, isso não implica em
afirmar, nos termos da doutrina de Gramsci, que essa dominação acarrete
um determinismo estrito, no estilo supostamente daquele contido no Prefácio
à Crítica da Economia Política, de Karl Marx.
Gramsci rejeitou, assim, a postulação marxista consistente na
relação condicionante entre a base da vida material e a super-estrutura do
processo de vida social, político e espiritual em geral, a fim de poder
substituí-la por uma rede polar horizontal, em que se confere a cada um dos
pólos acima citados um valor igual, incapaz de conduzir o condicionamento dos
demais.
O pólo linguístico
forneceria, porém, a coordenação e a articulação, operativa, filosófica e
histórica das lógicas específicas de todos os demais pólos, mediante a
possibilidade de efetuar a tradução ou a conversibilidade de um no outro,
propiciando a emergência de uma nova cultura popular-nacional, unificadora dos
grupos sociais, sujeitos à direção moral-intelectual e à opressão política do
grupo fundamental dominante, em sua luta pela formação de um novo
consenso social[35].
Nesse sentido,
observa Gramsci :
“Se essas três atividades (i.e. a econômia, a filosofia,
a política) são os elementos constitutivos de uma mesma concepção do mundo, deve
existir necessariamente em seus princípios teóricos conversibilidade de um no
outro, tradução recíproca na linguagem específica de cada elemento : um está
implícito no outro e todos juntos formam um círculo homogêneo(p. 1.471)....
A unidade (i.e desses elementos) é dada pelo
desenvolvimento dialético das contradições entre o homem e a matéria ( natureza
e forças materiais de produção ).
Na economia, o centro unitário é o valor, enquanto
relação entre o trabalhador e as forças materiais de produção.
Na filosofia, a práxis, relação entre a vontade humana
(super-estrutura) e a estrutura econômica.
Na política, a relação entre o Estado e a sociedade
civil(p.1476).”[36]
Eis, portanto,
aqui mais uma insuperável inovação do gramscismo, essa última definitivamente
superadora daquilo que Gramsci denomina “incrostazioni
positivistiche e naturalistiche” da doutrina de Karl Marx : o
determinismo e o mecanicismo marxista pode ser atualizado, corrigido e,
finalmente, superado através do fenômeno linguístico, consagrador da conversibilidade
dos princípios teóricos dos elementos constitutivos da concepção do mundo, já
que cada elemento está implícito no outro
e todos juntos formam um círculo homogêneo.
Diante de todo o
exposto, é possível verificar-se como, de fato, no quadro do pensamento de Gramsci, ”il pensiero marxista ... che non muore mai,
che è la continuazione del pensiero idealistico italiano e tedesco ... ” está,
autentica e profundamente, permeado por verdadeiros cânones do materialismo
histórico, sendo que os “canoni del materialismo storico non sono
così ferrei como si potrebbe pensare e si è pensato ... “.
Em seu desesperado
anseio de subtrair ao marxismo seu suposto positivismo e naturalismo, Gramsci
logrou - cabe plenamente afirmar -, realizar a façanha de privar o
pensamento de Marx e Engels não propriamente de seu alegado mecanicismo e
fatalismo ..., mas sim de seu próprio materialismo histórico e dialético.
Nesse quadrante, James Petras, Professor de Sociologia da
Universidade de Birghampton, de Nova York, não poupa argumentos
até mesmo para destacar que a razão segundo a qual resultaria justificado
empreender-se um ecletismo doutrinário em face do marxismo revolucionário de Marx e Engels, Lenin e Trotsky,
tange à própria imprescindibilidade de distinguir-se entre ”marxismo
vulgar” e ”marxismo consciente”, esse último articulado
por “Lenin e Gramsci”, esposado por “Guevara e Castro” :
“É necessário
entender a existência de um marxismo vulgar que antecipava determinadas
condutas a partir da posição de classe das pessoas.
Segundo essa
teoria, se alguém era operário, ia automaticamente tomar consciência de sua
condição, entrar na luta, organizar-se e combater.
Porém, na prática,
não era isso o que sempre ocorria.
Alguns setores,
sim, adquiriram consciência. Outros, não.
Essa forma
mecânica de ver as coisas perdeu vigência com a Revolução Cubana, particularmente
com os posicionamentos críticos de Che Guevara e de Fidel Castro, precedidos
dos de Lenin e Gramsci que falaram da importância das influências
culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da História, do
que ocorre ao redor.”[37]
Eis aí como é possível superar-se o “marxismo vulgar ou mecânico” rumo
a um “marxismo consciente ou das influências culturais e do
entendimento”, através de “Lenin e Gramsci”,
em
conformidade com o qual torna-se possível contemplar a “importância das influências culturais e do entendimento
por parte das forças atuantes da História, do que ocorre ao redor...”.
O gramscismo,
sob seu ângulo lógico-filosófico, é, pois, o pensamento de Marx e Engels desprovido
de materialismo histórico-dialético, o que é mais uma vez inteiramente
compatível com o seguinte cânone de sabedoria da própria ciência gramsciana : “Para
o proletariado, não ser ignorante é um dever.”[38]
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS
[1] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24
de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio
Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e s.
[2] A improcedência de uma
tal interpretação histórica acerca do transcurso dos processos revolucionários
na Rússia, surge já devidamente analisada e constestada em LENIN, VLADIMIR I. Die Entwicklung des Kapitalismus in Rußland. Der
Prozeß der Bildung des inneren Marktes für die Großindustrie(O Desenvolvimento
do Capitalismo na Rússia. O Processo de Formação do Mercado Interno para a
Grande Indústria(1899), in : W. I. Lenin Werke, Vol. III, Berlim, 1959, p. 17 e
s.
[3] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken
Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 45.
[4] Nesse sentido, vide, p.
ex., antes de tudo, de maneira mais teoricamente refinada, TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, pp. 106 e
107. De modo mais jornalisticamente popular, igualmente, CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken
Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, pp. 16 e
17.
[5] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. Lotta di Classe e
Guerra, (Avanti !, 19 de Agosto de 1916), in : Antonio Gramsci. Scritti
Politici, Roma, 1967, pp. 23 e s.; IDEM.
La Critica Critica, (Il Grido del Popolo, 12 de Janeiro de 1918), in: ibidem,
pp. 94 e s.; IDEM. La Conquista
dello Stato, (L’Ordine Nuovo, de 12 de Julho de 1919), in: ibidem, pp. 218 e
s.; IDEM. Superstizione e
Realtà(L’Ordine Nuovo, de 8 de Maio de 1920), in : ibidem, pp. 322 e s.; IDEM. Il Partito Comunista, (L’Ordine
Nuovo, de 4 de Setembro de 1920), in : ibidem, pp. 361 e s.; IDEM. L’Ordine Nuovo a Mosca (L’Ordine
Nuovo, de 9 de Outubro de 1920), in : ibidem, pp. 375 e s.; IDEM. Bergsoniano !(L’Ordine Nuovo, 2
de Janeiro de 1921, in : ibidem, pp. 393 e s. ; IDEM. Le Masse e i Capi, (L’Ordine Nuovo, de 30 de Outubro de
1921), in : ibidem, pp. 501 e s.; IDEM.
Sí, l’Ora della Coerenza, (L’Unità, de 22 de Agosto de 1924), in : ibidem, pp.
568 e s.; IDEM. Necessità di una
Preparazione Ideologica di Massa (Lo Stato Operaio, Maio 1925), in : ibidem,
pp. 598 e s.; IDEM. Il Significato e
i Risultati del III Congresso del PCd’I (L’Unità, de 24 Fevereiro de 1926), in
: ibidem, pp. 651 e s.; IDEM. In Che
Direzione si Sviluppa l’Unione Soviettista ? (L’Unità, de 10 de Setembro de
1926), in : ibidem, pp. 690 e s.; IDEM.
Russia, Italia e Altri Paesi, (L’Unità, de 26 de Setembro de 1926), in :
ibidem, pp. 700 e s.
[6] Cf. IDEM. Il Nostro Marx(Il Grido del Popolo, 4 de Maio de 1918), in :
ibidem, pp. 120 e s.
[7] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken Gramsci
(Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 62.
[8] Anote-se que Benedetto
Croce(1865-1952) foi, por breve período de tempo, um dos discípulos
mais engajados do pensador marxista italiano Antonio Labriola. Já por
volta de 1886, Croce rompeu, entretanto, com Labriola, precisamente
por não admitir os fundamentos do materialismo histórico e a perspectiva da
luta de classes, a qual julgava ser devido substituir com o princípio ético da
colaboração das classes sociais. A partir de então, vemos Croce defendendo,
abertamente, posições neo-hegelianas, em sua luta contra o positivismo de Comte
e Taine e o materialismo histórico de Marx e Engels. Em 1910, Croce
tornou-se senador, posicionando-se de modo pacifista-neutralista relativamente
à participação da Itália na I Guerra Mundial. Entre 1920 e 1921,
tornou-se Croce Ministro da Educação do governo liberal de Giovanni
Giolitti, acreditando que o ascenso do fascismo conduziria à
consagração do sistema liberal, democrático-parlamentar. Em 1925, entretanto,
quando Giovanni Gentile fez publicar “O Manifesto dos Intelectuais
Fascistas”, Croce decidiu-se pela oposição a Mussolini. A partir de
1944, Croce emergiu na qualidade de Ministro Sem Pasta e membro da
assembléia constituinte, sendo que, em 1948, foi eleito senador da República
Italiana. Acerca do tema, vide CROCE,
BENEDETTO. Filosofia dello Spirito, Vol. 1-4, Roma-Napoli, 1902-1915, pp. 7
e s. ; IDEM. Edizione Nazionale
delle Opere di Benedetto Croce, Napoli, 1991, p. 5 e s.
[9] Nesse sentido, vide,
antes de tudo, GRAMSCI, ANTONIO.
Quaderni del Carcere, Nr. 12 (1928-1937) – La Formazione degli Intellettuali,
in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 830, 836 e s. No mesmo sentido, vide, ainda, CERRONI, UMBERTO. ibidem, p. 61.
[10] Nesse sentido, vide, p.
ex. TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques,
Paris : Mauvezin, 1991, p. 167.
[11] Em 9 de fevereiro de
1918, Gramsci escreveu, nas colunas de Il Grido del Popolo, que
considerava extremamente positivo que os discípulos do atualismo italiano,
comandado por Giovanni Gentile, viessem enriquecer “a literatura do socialismo com boas obras que serviram para infundir
um pensamento vivificador, mais lúcido e mais preciso, em nosso campo”. Cf.
GRAMSCI, ANTONIO. Il Socialismo e la
Filosofia Attuale (Il Grido del Popolo, de 9 de Fevereiro de 1918), in :
Antonio Gramsci, Scritti 1913-1926, especialmente : La Città Futura
(1917-1918), Tomo II, Torino : Einaudi, 1982, p. 650. Cumpre observar que o pensador de matiz idealista-subjetivista
Giovanni
Gentile (1875-1944), um dos mais célebres discípulos de Benedetto
Croce, emergiu, no cenário da luta de classes da Itália, nos anos de
1922 e 1924, na qualidade de Ministro da Educação de Mussolini, tendo sido o
autor, em 1925, de “O Manifesto dos Intelectuais Fascistas”. Entre 1925 e 1929, Gentile
integrou o Gran Consiglio del Fascismo e, em 1931, comandou o juramento de
lealdade dos professores universitários italianos ao reinado e ao fascismo.
Ainda em 1943, Gentile foi um árduo defensor da República de Marionetes,
tendo sido, afinal, liquidado pelos partisãos anti-fascistas. Acerca do tema,
vide GENTILE, GIOVANNI / MUSSOLINI,
BENITO. Fascismo(1921), in : Enciclopedia Italiana, Roma : Istituti della
Encicopledia Italiana, pp. 17 e s.; GENTILE,
GIOVANNI. Dottrina del Fascismo(1932), in : ibidem, pp. 11 e s.; IDEM. La Filosofia della Storia,
Firenze : Le Lettere, 1996, pp. III e s.; IDEM.
Opere Filosofiche, Milano : Garzanti, 1991, pp. 11 e s.
[12] Acerca do tema, vide SANTUCCI, ANTONIO. Un Classico di
Oggi, in : Cominform, Nr. 71 , de 28 de
Janeiro a 4 de Fevereiro de 1997.; TOSEL,
ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, pp. 106 e 107.; DEL NOCE, AUGUSTO. Il Suicidio della
Rivoluzione, especificamente Cap.: Gentile e Gramsci, Milano : Garzanti, 1978,
pp. 121 e s.; DE GIOVANNI, BIAGIO.
Sulle le Vie di Marx Filosofo in Italia, in : Il Centauro, Nr. 9, Napoli :
Guida Editori, 1983, pp. 5 e s.
[13] Observe-se que Antonio
Labriola (1848-1904) surge, no cenário mundial, como sendo um dos mais
brilhantes filósofos, defensores da doutrina de Marx e Engels. Professor
da Universidade de Roma e publicista de grande porte, advindo da corrente
neo-hegeliana de Betrando Spaventa, Labriola acolheu, progressivamente, as
idéias socialistas na segunda metade dos anos de 1880. Em 1890, Labriola
comunicou-se, freqüentemente, por cartas, com Friedrich Engels, vindo a
publicar, logo a seguir, sua mais famosa obra acerca da concepção materialista
da história, editada por seu discípulo Benedetto Croce. Sua concepção
relativa ao método genético de abordagem analítica das transformações
históricas representam, entretanto, já uma tentativa de formulação de uma certa
variante heterodoxa em relação ao método rigorosamente dialético do
materialismo histórico de Marx e Engels. Acerca do tema, vide
LABRIOLA, ANTONIO. La Concezione
Materialistica della Storia(1896), Bari : Laterza, 1965, pp. 17 e s.; IDEM. I Problemi della Filosofia della
Storia(1897), Napoli, Marano, 1976, pp. 11 e s.
[14] Coteje-se, nesse
sentido, os próprios argumentos de um dos mais notáveis franco-gramscianos da
atualidade TOSEL, ANDRÉ. Marx en
Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, pp. 105 e s.
[15] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Critica Critica (Il Grido del Popolo, de 12 de
Janeiro de 1918), in: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 95 e
96.
[16] Acerca das mutações do
pensamento de Gramsci a partir do liberalismo revolucionário de Giovanni
Gentile, liberalismo esse dotado de matiz fichteniano – e, por
consegüinte, de natureza idealista liberal-individualista – vide TOGLIATTI, PALMIRO. Che Cos’è il
Liberalismo (L’Ordine Nuovo, de 20 a 27 de Setembro de 1919), in: Palmiro
Togliatti. Opere, Vol. I, Roma : Editora Riuniti, 1974, pp. 63 e s.
[17] Nesse sentido, vide,
sobretudo, GRAMSCI. ANTONIO.
Quaderni del Carcere, Nr. 13 (1928-1937) – Noterelle sulla Politica del
Machiavelli, in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo
Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 3 e s.
[18] Cf. BALIBAR, ETIENNE. Gramsci, Marx et le Rapport Social, in :
Modernité de Gramsci, Actes du Colloque Franco-Italien de Bensançon (23-25
novembre 1989), Annales Littéraires de l’Université de Besançon, Série Agon Nr.
4, Besançon : Paris IV, 1992, p. 265.
[19] Cf. IDEM. ibidem, pp. 263 e 264.
[20] Cf. IDEM. ibidem, p. 265.
[21] Cf. IDEM. ibidem, pp. 268 e 269.
[22] Cf. IDEM. ibidem, p. 269.
[23] Vide MARX, KARL. Vorwort zur Kritik der
Politischen Ökonomie (Prefácio à Crítica da Economia Política) (Janeiro de
1859), in : Marx & Engels Werke, Vol. XIII, Berlim, 1962, pp. 7 e s.
[24] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino :
Einaudi, 1965, pp. 1.051 e s.
[25] Cf. TOSEL,
ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, p. 110. Acerca da
terceira tese sobre Feuerbach, aqui referida, vide MARX, KARL. Thesen über Feuerbach (Teses sobre Feuerbach)(1845), in
: Marx & Engels Werke, Vol. III, Berlim, 1962, pp. 553 e s.
[26] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino :
Einaudi, 1965, pp. 1.492.
[27] Cf. TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, p. 120.
[28] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 12 (1928-1937) – La
Formazione degli Intellettuali, in: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma,
1967, p. 836.
[29] Acerca do tema, Marx assinalou,
claramente : „Concebo o sistema da economia burguesa nessa ordem : capital,
propriedade fundiária, trabalho assalariado; Estado, comércio exterior, mercado
mundial. Sob as três primeiras rubricas, investigo as condições econômicas de
vida das três grandes classes, em que se decompõe a moderna sociedade burguesa.
O contexto das três outras rubricas salta aos olhos. ...“ Cf. MARX, KARL. Vorwort zur Kritik der
Politischen Ökonomie (Prefácio à Crítica da Economia Política)(Janeiro de
1859), in : Marx & Engels Werke, Vol. XIII, Berlim, 1962, pp. 7 e s.
[30] Segundo Marx
: „Minha investigação desemboca na conclusão de que as relações jurídicas, tal
como as formas de Estado, não podem ser compreendidas a partir de si mesmas nem
a partir do assim-chamado desenvolvimento geral do espírito humano, senão,
muito mais, assentam-se nas relações materiais de vida, cujo conjunto Hegel,
segundo o procedimento dos ingleses e franceses do século XVIII, sintetiza sob
o nome de „sociedade civil“, que, porém, a anatomia da sociedade burguesa deve
ser procurada na economia política.“ Cf. IDEM.
ibidem.
[31] Conforme Marx
: „O resultado geral que me resultou e, uma vez adquirido, serviu de diretriz
aos meus estudos, pode ser formulado, brevemente, assim : Na produção social de
sua vida, os seres humanos entram em relações determinadas, necessárias,
independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um
determinado nível de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O
conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade,
a base real, sobre a qual erige-se uma super-estrutura jurídica e política e à
qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material
condiciona o processo de vida social, político e espiritual em geral.“ Cf. IDEM. ibidem.
[32] Em consonância com Marx
: „As relações burguesas de produção são a última forma antagônica do processo
de produção social, antagônica não no sentido de um antagonismo individual, mas
sim de um antagonismo emergente das condições sociais de vida dos indivíduos.
Porém as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa
criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para resolução desse
antagonismo.“ Cf. IDEM. ibidem.
[33] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Revolutionäres Abenteuertum(Aventura
Revolucionária)(Agosto 1902), in : W. I. Lenin Werke, Vol. VI, Berlim, 1959, p.
190.
[34] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 19 (1928-1937) – Il
Rapporto Città-Campagna nel Risorgimento e nella Struttura Nazionale Italiana,
in : Antonio Gramsci. Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul
Mezzogiono, Napoli : Liguori Editore, 1996, p. 226.
[35] Acerca do tema, vide tb.
IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 6
(1928-1937) – Arme e Religione, in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla
Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp. 153 e s.
[36] Cf. IDEM. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino : Einaudi, 1965, pp.
1.471 e 1476.
[37] Cf. IDEM. Lo Que
Empezó Como un Movimento Antiglobalización, Ahora Está Incluyendo La Lucha
Anticapital, Anticapitalista, Antiguerrerista, Entrevista de Alina Perera
Robbio de Juventude Rebelde (Cuba), in : Rebelion. Periódico Electrónico de
Información Alternativa, 2 de Fevereiro de 2003.
[38] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken
Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 44.