III.C.

A LÓGICA FILOSÓFICA DE GRAMSCI

CONTRA O SOCIALISMO CIENTÍFICO

DE MARX E ENGELS

Texto de Autoria de

Portau Schmidt von Köln

 

A Enfermidade Gramsciana

no Movimento Trotskysta Contemporâneo

e nas Lutas de Emancipação do Proletariado

Polêmica Trotsky e Gramsci  : Gramsci e Trotsky 

O SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana

de Atualização, Correção

e Superação do Marxismo

(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)

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O Capítulo III em destaque é composto pela presente página de Internet e pelas seguintes subdivisões :

Capítulo III. Introdução : Qual a Compatibilidade entre os Posicionamentos de Gramsci e de Trotsky

Capítulo III.A. : O Stalinismo de Gramsci no Campo Político-Partidário

Capítulo III.B. : Gramsci contra Trotsky no Campo Teórico-Doutrinário

Capítulo III.D. : A Via ao Socialismo Democrático-Pacifista da “Guerra de Posição” de Gramsci    

 

Seria inteiramente insuficiente, nesse passo, limitarmo-nos às referências retro-apresentadas de análise das divergências diametrais entre os posicionamentos de Gramsci e os de Trotsky tal como se pudesse o trotskysmo ser considerado, apenas e tão somente, como uma corrente revolucionária conformada exclusivamente,  no domínio teórico-doutrinário, político-prático e estratégico-programático pelas concepções defendidas e aprimoradas unicamente por Trotsky.

Assim procedendo, desprezar-se-ia o fato de que tal corrente proletário-revolucionária há de ser reivindicada, precisamente, por também incorporar e sintetizar em si mesma, ao longo do século XX, os principais fundamentos e a melhor herança das lutas socialistas-revolucionárias de emancipação dos proletários e demais socialmente oprimidos, protagonizadas por Marx, Engels e Lenin, no quadro das três primeiras internacionais socialistas dos trabalhadores.

Sendo assim, resulta devido levantar-se, adicionalmente, a seguinte indagação : qual a compatibilidade, qual a coerência, efetivamente existente entre os posicionamentos de Gramsci e os de Marx, Engels e Lenin ?

Julgo conveniente, mais uma vez, responder a tal indagação com as próprias palavras do autor de Cadernos do Cárcere, Antonio Gramsci.

De início, chamo a atenção do leitor para o fato de que a irrupção da Revolução de Outubro de 1917 foi qualificada por Gramsci, a essa altura atuando como jornalista do Partido Socialista Italiano em “Il Grido del Popolo” e “Avanti !”, da seguinte forma:

 

“A revolução dos bolcheviques é materializada com mais ideologia do que com fatos (por isso, no fundo, pouco nos importa saber mais do que dela já sabemos.)

Essa é a revolução contra o Capital de Karl Marx. ....

O Capital de Marx era, na Rússia, muito mais o livro dos burgueses do que o dos proletários.

Era a demonstração crítica da necessidade fatal de que na Rússia se formasse uma burguesia, se iniciasse uma era capitalista, se instaurasse uma civilização de tipo ocidental, antes de que o proletariado pudesse mesmo pensar em sua revanche, nas reivindicações de classe, na sua revolução.

Os fatos superaram as ideologias.

Os fatos fizeram explodir os esquemas críticos entre os quais a história da Rússia teria podido desenvolver-se segundo os métodos do materialismo histórico.

Os bolcheviques renegam Karl Marx, afirmam com o testemunho da ação explicada, das conquistas realizadas, que os cânones do materialismo histórico não são assim tão férreos como se poderia pensar e se pensou.

E existe uma fatalidade também nesses acontecimentos.

Se os bolcheviques renegam algumas afirmações do Capital, não renegam seu pensamento imanente, vivificador.

Eles não são “marxistas”, eis tudo.

Não redigiram, sobre a obra do mestre, uma doutrina exterior, de afirmações dogmáticas e indiscutíveis.

Vivem o pensamento marxista, aquele não morre mais, o qual é a continuação do pensamento idealista alemão e italiano e do qual Marx se havia contaminado com incrustrações positivistas e naturalistas. ...”[1] 

 

Eis como, fundado em seu primeiro exame acerca do evento histórico da Revolução de Outubro, Gramsci nos demonstra, muito inédita e criativamente – i.e. à maneira gramsciana -, que o pensamento de Marx, por haver-se contaminado com o pensamento idealista alemão e italiano, aprodreceu-se por força de incrustrações positivistas e naturalistas ...

Com efeito, é necessário aprender-se com Gramsci, de uma vez por todas, que os pensadores idealistas alemães e italianos devem ser considerados como os mais profundos difusores do positivismo e do naturalismo que incustraram o pensamento de Marx ..., tal como os pensadores franceses e ingleses foram os verdadeiros intelectuais materialistas do kategorischen Imperativs e da Ding an sich.

Na medida em que Marx encontrava-se, irremediavelmente, contaminado por incrustrações positivistas e naturalistas tedesco-romanas - tal como acabamos de efetivamente (des-)aprender -, Gramsci sustenta que os bolcheviques, comandados por Lenin, renegaram-no, demonstrando que os cânones e os métodos do materialismo histórico não são tão férreos, como podia se pensar e se pensou ...

Um salto histórico-revolucionário por cima do desenvolvimento do capitalismo na Rússia tornara-se, assim, inteiramente possível, na medida em que a Revolução de Outubro foi a revolução dos bolcheviques-leninistas contra o Capital de Karl Marx[2].  

Essa primeira apreciação notoriamente anti-marxista de Gramsci acerca da Revolução de Outubro - a qual foi, entretanto, defendida e fundamentada por Lenin, no contexto cientificamente rigoroso de toda doutrina marxista-engelsiana e das suas necessárias implicações sócio-políticas -, é, portanto, inteiramente coerente e compatível não com a doutrina de Marx, Engels, Lenin e Trotsky, mas sim com os dois principais cânones, originalíssimos da sabedoria científica gramsciana, legados para a eternidade até o dia do juizo final ..., o primeiro: “Quando surge um enigma, não se trata de uma coisa “incogniscível, porém apenas de algo desconhecido” e o segundo, mais realista e dotado de efeito potencialmente reversivo contra o seu próprio autor : ”Saber é Poder[3].

Em suma : Gramsci e o gramiscismo são coerentes e compatíveis não apenas com os posicionamentos político-partidários fundamentais do stalinismo, senão ainda coerentes e compatíveis consigo mesmos.

Muitos são os intelectuais contemporâneos, inspirados na doutrina gramsciana – não apenas os mais consagrados pensadores do antigo PCI, migrados para o PSD ou para Rifondazione Comunista, como também os mais renomados ideólogos do meta-marxismo franco-gramsciano -, que, entrevendo a gravidade das implicações de tal posicionamento de Gramsci em face de Karl Marx, procuram diminuir ou relativizar a importância cardeal desse artigo de Gramsci, intitulado ostensivamente “A Revolução Contra o ‘Capital’ ”, publicado nas colunas de ”Avanti !”, em 24 de novembro de 1918, i.e. há um ano depois da eclosão da Revolução de Outubro[4].

Nada obstante, é importante acentuar que, a despeito das inúmeras referências formais de Gramsci permeadas de superticiosa reverência ao pensamento de Karl Marx e Friedrich Engels[5] - tais como “Marx significa ingresso de inteligência na humanidade, reino da consciência”[6] -, a doutrina gramsciana caracteriza-se, precisamente, por conceber o marxismo efetivamente como “contaminato di  incrostazioni positivistiche e naturalistiche” e, pelo contrário, o bolchevismo como ”il pensiero marxista ... che non muore mai, che è la continuazione del pensiero idealistico italiano e tedesco ... ”.

Eis aqui um ponto chave decisivo para a compreensão da posição lógico-filosófica de Gramsci, que se projetará em toda sua falaciosa concepção de estratégia política de luta pelo socialismo.

A alquimia epistemológica, desenvolvida por Gramsci, visa a expurgar da doutrina de Marx e Engels suas supostas incrustrações positivistas, naturalistas, mecanicistas, fatalistas, necessitaristas, de tal modo a transportar para o horizonte italiano aquilo que os bolcheviques lograram sedimentar na Rússia Soviética, i.e. a concepção de que “i canoni del materialismo storico non sono così ferrei como si potrebbe pensare e si è pensato ... “.

Genialíssimo, atualizador, simplesmente criativo e inovador, uma verdadeira conquista para a construção do socialismo ..., tal como mais um dos cânones vivificadores da sabedoria gramsciana científico-imanente : “Quem não é capaz de levantar hipóteses, não será jamais um cientista.”[7]

Mas, como então, diante da realidade histórica da luta de classes da Itália, demonstrar-se, doutrinariamente, que os cânones do materialismo histórico de Marx e Engels não eram tão férreos como se poderia pensar e se pensou, à maneira do que os bolcheviques realizaram na Rússia ? 

A resposta a esse enigma – que não se trata de uma coisa “incogniscível”, porém apenas de algo desconhecido, tal como já nos instruiu um dos cânones da epistemologia de Gramsci pode ser sintetizada da seguinte forma :    

Na sede reservada por excelência ao desenvolvimento mais próprio de seus pensamentos especulativos – i.e. em seus Cadernos do Cárcere -, Gramsci procura demonstrar como tornou-se indispensável reformular fundamentalmente o materialismo histórico -, eivado, no pensamento de Marx, de positivismo e naturalismo.

Tal reformulação do materialismo histórico por Gramsci processou-se, então, a partir da intepretação idealista da doutrina de Marx e Engels elaborada pelo célebre autor liberal italiano Benedetto Croce[8], de modo a tornar-se possível o elevar-se às alturas culturais-espirituais da reconstrução histórico-materialista da cultura e das super-estruturas(sic)[9].

Como se isso não bastasse, cumpria ainda, aos olhos de Gramsci, proceder-se à substituição do materialismo dialético pelo que haveria de ser a mais renovada e enriquecida filosofia da práxis, de Marx e Engels, vislumbrada, agora, entretanto, enquanto teoria histórico-linguística das contradições objetivas sócio-econômicas e ético-políticas inter-traductíveis[10].

Para tanto, Gramsci utilizou, como ponto de partida, a leitura crítica do atualismo italiano, corrente filosófica também de matiz idealista, protagonizada pelo renomado pensador fascista, Giovanni Gentile[11], por quem Gramsci se considerava profundamente inspirado[12].

O método de trabalho intelectual utilizado por Gramsci nessa reconfiguração das bases fundamentais do socialismo científico de Marx e Engels, contido em seus principais artigos jornalísticos e em seus Cadernos do Cárcere, foi, então, o da retradução, em linguagem marxista-labrioliana[13] - i.e. no idioma do que considerava ser o marxismo anti-positivista - da crítica de Benedetto Croce e Giovanni Gentile ao pensamento de Marx e Engels, de maneira a purificar esse último de sua forma dialético-mecanicista e naturalista, a fim de supostamente fortalecê-lo com meios téoricos novos, mediante a reconstituição do percurso filosófico-idealista de Hegel à Croce-Gentile[14].  

No preciso quadro do contexto filosófico de seu artigo “A Revolução Contra o ‘Capital’”, torna-se possível compreender-se, plenamente, aquilo que Gramsci proclamou, nas páginas de “Il Grido del Popolo”, em 12 de janeiro de 1918, em defesa da assim-denominada “nova geração” de defensores do marxismo :

 

“A nova geração parece querer retonar à genuína doutrina de Marx para a qual o homem e a realidade, o instrumento de trabalho e a vontade, não estão despregados, mas se identificam no ato histórico.

Acreditam, portanto, que os cânones do materialismo histórico valham apenas post factum, para estudar e compreender os eventos do passado e não devam hipotecar nem seu presente nem seu futuro.”[15]

 

Tendo reconstruído o materialismo histórico com base em uma concepção idealista-subjetivista da realidade, de modo a expressar agora antes de tudo a historicidade da cultura e das super-estruturas(sic), tendo substituído o materialismo dialético pela sua filosofia da práxis, consagradora agora do suposto liberalismo revolucionário de iniciativa coletiva no ato histórico[16] - supostamente despido de elementos ideológicos considerados como unilaterais e deterministas acerca da dimensão ético-política nas transformações técnicas do processo de produção do capitalismo -, Gramsci pretendeu demonstrar, em seus Cadernos do Cárcere, como se tornava indispensável e possível a formação de um novo senso comum[17], permeado, porém, pela consagração da trans-individualidade social, irredutível aos dois males extremos e antagônicos do mecanicismo filosófico : o individualismo capitalista e o organicismo comunista.

Em sua defesa dos posicionamos lógico-filosóficos de Gramsci, um dos mais renomados expoentes do gramscismo mundial a partir dos anos 80, Etienne Balibar, Mestre de Conferência da Universidade Panthéon-Sorbonne(Paris) e dirigente teórico do Rethinking Marxism da University of Massachusetts, destaca, precisamente, esse aspecto de superação das implicações da “unilateralidade do economismo marxista(ou de sua antropologia subjacente)”[18] nas obras de seu mentor intelectual, o “Lenin Democrático” :

 

“Notemo-lo aqui : essas análises são exatamente o que Engels desconheceu, dissolvendo a dialética trans-individual da relação de produção em benefício de uma superposição mecânica da ‘contradição entre forças produtivas e relações de produção’ (as primeiras, ‘sociais’, as outras fundadas sobre a apropriação ‘privada’) e do antagonismo político das classes.

Foi necessário esperar os anos 60 e os 70 do século XX para que, cada qual à sua maneira, os “operalistas” italianos, Braverman, Bahro, certos ‘althusserianos’ (Linhart), etc. reencontrassem nesse ponto o objeto da análise de Marx. ...

Se existe a tentativa de recomeço do marxismo, é, notadamente, parece-me, porque Gramsci, para além de todo um ciclo de ortodoxias e de revisionismos reabre, efetivamente, a questão da relação trans-individual [apenas o freud-marxismo com seus “excessos”(Wilhem Reich) pode ser comparado a Gramsci nesse respeito, na mesma conjuntura], sem, contudo, a designar com um conceito teórico ou, ao menos, com um conceito único.”[19]

 

Com efeito, o que Engels desconheceu acerca da ”dialética trans-individual da relação de produção” - descoberta pelos operalistas italianos e alhusserianos franceses, entre eles o próprio althusseriano-gramscista Etienne Balibar -, havia sido já tentado por Gramsci, superando todo um ciclo de dogmatismos e revisionismo, sem haver apontado contudo para o belíssimo e altissonante conceito da ... – repitamo-lo mais uma vez com Balibar – conceito da ”dialética trans-individual da relação de produção” !

Balibar prossegue, porém, em – ou insiste em ..., visto que aqui é extremamente dificultoso conceber-se precisamente a dialética trans-vocabular da relação de idéias desse Mestre de Conferências da Sorbonne -, ou digamos, mais escorreitamente, Balibar destaca, porém, adicionalmente, seu louvor ao que denomina, entre aspas, o “leninismo democrático”[20] de Gramsci, destacando, literalmente, o seguinte, contra o suposto mecanicismo de Marx e Engels :

 

O ponto essencial, cuja originalidade (i.e. a originalidade de Gramsci) se impõe não apenas em relação ao marxismo mecanista, mas em relação às sociologias de inspiração durkheimiana ou weberiana(fundadas nas idéias de legitimação do poder, de distribuição do “capital simbólico” ou de divisão do trabalho), e mesmo habermasianas(fundada sobre o dualismo da produção e da comunicação), é o fato de que a questão da intelectualidade, ou do pensamento individual e coletivo, e aquela dos antagonismos sociais (exploração, conformismo subalterno ou hegemônico, revolução ‘ativa’ e ‘passiva’) sejam tendecialmente tornadas co-extensivas.

Cada qual torna-se, assim, o correlato do outro. ...

Seríamos tentados a dizer que existe algo de Foucault nesse Gramsci aí, se não fosse mais justo destacar que existiria de Gramsci (conscientemente ou não) no Foucalt das “redes de poder-saber”[21].

 

Pontificando seus ensinamentos, então, conclusivamente, desde as elevadas cátedras da Sorbonne de Paris, escreve esse renomado Mestre de Conferências :

 

“Para concluir essas esquemáticas reflexões, eu diria que Gramsci permanece um marxista clássico no sentido de que todas suas análises são comandadas por um fio condutor histórico que é o do antagonismo de classe e pela perspectiva de sua resolução ....”[22]

 

Há, entretanto, um pequeno pormenor a ser observado acerca do marxista clássico, Antonio Gramsci, no que concernente à consagração vitoriosa – à maneira das Teses de Lyon – de seu novo senso comum, definitivamente enriquecedor da doutrina socialista de Marx e Engels, em conformidade com a mais nova versão atualista-gentiliana:

Gramsci elaborou, ainda, criativa e inovadoramente, a relevantíssima teoria do bloco histórico, fundada no processo de catársis, como forma de eliminar o suposto mecanicismo, determinismo e fatalismo existente na exposição de Karl Marx, contida no Prefácio à Crítica da Economia Política, de janeiro de 1859, quando afirma esse último que o modo de produção da vida material condiciona (i.e. bedingt) o processo de vida social, político e espiritual em geral[23].   

Na medida em que o processo de catársis possibilitaria, segundo Gramsci, realizar a passagem do momento meramente econômico-estrutural da sociedade, i.e. do momento da necessidade objetiva, para aquele ético-político super-estrutural, i.e. da liberdade subjetiva, permitindo, efetivamente, a elaboração superior da estrutura na super-estrutura da consciência dos homens, o bloco histórico, sendo o resultado desse processo de catársis, ou, digamos assim, processo catártico – para prestar-se assim homenagem ao ensinamento contido no cânone de sabedoria gramsciana relativo a Saber é Poder ... -, o bloco histórico, repito, seria, por assim dizer, algo como a ...., algo como o ...,  permitamos, entretanto, afinal de contas, que Gramsci, ele mesmo, com seu brilhantismo e argúcia filosófico-lexical, descreva-o por si mesmo ao leitor.

Com efeito, Gramsci :

 

“A estrutura e as super-estruturas formam um bloco histórico e o conjunto complexo e discordante das super-estruturas são o reflexo de conjunto das relações sociais de produção.

Disso resulta que apenas um sistema de ideologia totalitário reflete racionalmente a contradição da estrutura e representa a existência das condições objectivas para a transformação da práxis”[24]. 

     

Informo ao leitor que chegamos à cumeeira do pensamento lógico-filosófico de Gramsci.

Nada há de mais elevado, sublime e profundo em sua doutrina lógico-filosófica, além de suas penetrantes reflexões acerca do bloco histórico e do processo de catársis ou catártico.

Pois, a essa altura, as contaminações incrustadoras, mecanicistas e deterministas, positivas e naturalistas, da doutrina de Marx e Engels, contidas no Prefácio à Crítica, já puderam ser completamente superadas, corrigidas, atualizadas e, finalmente, expurgadas, em sentido gramsciano.

Baldado procurar-se por algo mais criativo e inovador nos Cadernos do Cárcere ... Baldado.

E, com efeito : é sobre a base da teoria do bloco histórico e do processo catártico que se regozijam os mais destacados franco-gramscianos meta-marxistas de Actuel Marx e dos Espaces Marx Reséau International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde,  entre eles um dos mais festejados professores de filosofia da Sorbonne(Paris) e da Sophia Antipolis(Nice), André Tosel.

Sendo assim, assinala, expressamente, Tosel, valendo-se de sua perspicácia analítica costumeira, de quem sabe, conscientemente, de que vertente filosófica está-se, de fato, tratando :

 

“Gramsci irá bem longe nessa via :

Pois, então, ele não declara que o materialismo não deve ser considerado como a base filosófica da nova concepção da história e que, na fórmula “materialismo histórico” o adjetivo transvaloriza o substantivo ?

Gramsci não afirma que essa transvalorização exige, para ser pensada, a admissão da “concepção subjetiva da realidade”, a única verdadeiramente moderna, e que o materialismo é uma filosofia inadequada para acolher a descoberta teórica de Marx e sua aplicação por Lenin ?

‘A teoria das super-estruturas é a tradução em termos de historicismo realista da concepção subjetiva da realidade’.

Certamente, Labriola é invocado, porém a concepção gramsciana da práxis não se identifica apenas ao ‘trabalho’, posto que os resultados desse último são constantemente reelaborados no processo catártico que é o ato histórico da formação de uma vontade coletiva.

É precisamente a propósito do bloco histórico que Gramsci retoma, por sua conta, a interpretação de Giovanni Gentile da terceira tese sobre Feuerbach e confere à ideologia – tornada concepção do mundo – a função de condição de rovesciamento della prassi (i.e. transformação da práxis) necessária à construção do novo bloco histórico.”[25]

 

Resposta às duas indagações retro-formuladas por Tosel : claro que sim para ambas !

Justificação teórica da resposta positiva : Pois ... , pois ... , pois é na passagem do momento sócio-econômico ao ético-político (catársis) e na unidade do bloco histórico (i.e. do conjunto da estrutura e super-estruturas(sic) concebidos enquanto um bloco historicizado) que a filosofia da práxis de Marx e Engels pode reencontrar, efetivamente, seu significado monístico, o qual ..., o qual ...

 

“o qual não é nem materialista e nem idealista, mas o da identidade dos contrários no ato histórico concreto, i.e. aquele de uma atividade humana...

Filosofia do ato (práxis, desenvolvimento), não contudo do ato “puro”, mas precisamente do ato “impuro”, real no sentido mais profano e mundano da palavra.”[26],

 

tal como magnífica e prodigiosamente frizou Gramsci, de modo criativo e inovador ! 

Sim, porque, nesse caso, em termos rigorosamente lógico-epistêmicos, se o monismo de Marx e de Engels não pode ser nem materialista e nem idealista, o que há de ser?

Ora, ... há de ser, logicamente, o monismo da identidade dos contrários do ato histórico concreto ..., i.e. ... esse ato histórico concreto, bem a posteriori, bem impuro, tal como no sentido mais profano e mundano da palavra ou para economizarmos nosso latim -, tal como no sentido único e incomparável do gramscismo.

Teríamos, ainda, mais êxito na resposta a tais indagações lógico-filosóficas se afirmassemos que o essencial de Lenin e de sua filosofia, no quadro da doutrina de seu sósia do ocidente :

 

“não reside no materialismo afirmado (i.e. afirmado pelo Lenin do Oriente...) no curso da controvérsia com o empirocriticismo, já que seu terreno não é o da teoria tradicional do conhecimento, mas sim aquele da política.

Sua política contém, pois, aqui uma lição decisiva para a própria teoria do conhecimento.

Ela tem uma palavra : a hegemonia !”[27]

 

Para sermos justos, então, com os direitos das criações intelectuais inovadoras, cumpriria acrescentar, conclusivamente, que tal “palavra” : a hegemonia foi empregada pelo Lenin do Ocidente em um sentido totalmente diverso daquele veiculado pelo Lenin do Oriente, já que o primeiro, i.e. o Lenin do Ocidente, distintamente do segundo, i.e. o Lenin do Oriente, tomou-a, politicamente – como veremos -, no quadro de suas atualizações, correções e superações de Marx e Engels concernentes à reconstrução histórico-materialista da cultura e das super-estruturas(sic), referentes à filosofia da práxis, no sentido mais profano e mundano da palavra e, por fim, à doutrina do bloco histórico, resultado do processo catártico.

Esse renitente sic indica que já aí existe uma grande inovação linguístico-estética do sósia do Ocidente, a qual lhe valeria, desde logo, Direito de Patente Intelectual, na medida em que o vocábulo alemão Überbau(super-estrutura), empregado por Marx e Engels em suas obras, converte-se, ainda no idioma alemão, nesse mais ressonante, abrangente e quadriloqüente Überbauten(super-estruturas), em língua italiana : le superstruture, na língua da última flor de Roma : as super-estruturas.  

Destaque-se aqui como Gramsci opera mais uma vez, nesse domínio, seu método de correção, atualização e superação das incrustações pretensamente fatalistas e deterministas, positivistas e naturalistas, dos posicionamentos teórico-doutrinários mais fundamentais de Marx e Engels, no sentido do mais pleno idealismo-subjetivista :  

 

“A relação entre os intelectuais e o mundo da produção(sic) não é imediato, como ocorre com os grupos sociais fundamentais, mas é “mediado”, em grau diverso, por todo o tecido social, pelo complexo das super-estruturas, das quais os intelectuais são os “funcionários”.

Poder-se-ia mensurar a “organicidade” dos diversos estratos intelectuais, sua conexão, mais ou menos estreita, com um grupo social fundamental, estabelecendo uma graduação das funções e das super-estruturas de baixo para cima (da base estrutural para cima).

Por ora, podem ser fixados dois grandes “planos” super-estruturais, aquele que pode ser chamado o da “sociedade civil”, i.e. do conjunto dos organismos vulgarmente ditos “privados”, e o da “sociedade política ou Estado”, e que correspondem à função de “hegemonia”, que o grupo dominante exerce em toda a sociedade, e à função de “domínio direto” ou de comando, expressado no Estado e no governo “jurídico”.

Essas funções são precisamente de organização e de conexão.

Os intelectuais são os “encarregados” do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político, i.e. :

1.   do consenso “espontâneo” dado pelas grandes massas da população à direção,  imprimida à vida social pelo grupo fundamental dominante, consenso esse que nasce “historicamente” do prestígio (e, pois, da confiança) em relação ao grupo dominante, derivante de sua posição e de sua função no mundo da produção;

2.   do aparato de coerção estatal, que assegura “legalmente” a disciplina daqueles grupos que não “consentem” nem ativamente nem passivamente, constituído, porém, para toda a sociedade na previsão de momentos de crise no comando e na direção em que o consenso espontâneo deixa de existir.”[28]           

 

Enquanto Karl Marx concebe a sociedade civil enquanto constituída pelas relações materiais de capital, propriedade fundiária e trabalho assalariado e pelas condições econômicas de vida das classes sociais[29], enquanto para Karl Marx surge a sociedade civil como o conjunto das relações materiais de vida em cujo quadro torna-se possível compreender as relações jurídicas e formas de Estado, devendo ser a anatomia da sociedade civil esclarecida com os meios da economia política[30], enquanto para Karl Marx  o conjunto das relações de produção social da vida humana forma a estrutura econômica da sociedade, base real sobre a qual erige-se uma super-estrutura jurídica e política e à qual correspondem certas formas de consciência social[31],  enquanto para Karl Marx, enfim, as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade civil produzem, ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução do antagonismo das relações burguesas de produção[32], Gramsci, através da criação de um léxico filosófico-analítico particularmente seu, de matiz plenamente idealista-subjetivista, em que as diversas catergorias, conceitos e termos lógico-políticos assumem sentidos e significados inteiramente discrepantes em relação ao socialismo científico de Marx e Engels, transforma o conceito epistemológico de sociedade civil em um “plano” super-estrutural “privado”, i.e. em um nível dos complexos de super-estruturas.

Anote-se, de passagem, que a mesma revira-volta léxico-filosófica idealista-subjetivista de Gramsci aplica-se também no domínio da questão dos intelectuais, cujo conceito Gramsci pretende ver ampliado para muito mais além da própria dimensão concebida por Lenin.

Esse último, fundando sua análise desde uma perspectiva histórico-materialista, classista-revolucionária, em plena consonância com a doutrina proletário-socialista de Marx e Engels, assinala, nitidamente, como que prevendo o destino que essa temática adquiriria, anos depois, nos Cadernos do Cárcere do „Lenin do Ocidente“ :

 

„Contra a doutrina marxista da única classe realmente revolucionária da moderna sociedade, os sociais-revolucionários introduzem em campo a trindade «Inteligência, Proletariado e Campesinato», com o que revelam sua desesperançada confusão conceitual.

Colocar-se a inteligência diante do proletariado e do campesinato, significa concebê-la enquanto uma camada social determinada, enquanto um grupo de pessoas que assumem uma posição social que é igualmente determinada, tal como a posição social dos trabalhadores assalariados e dos camponeses.

Enquanto uma tal camada, a inteligência russa é, precisamente, uma inteligência burguesa e pequeno-burguesa.

No que concerne a essa camada, o Sr. Struve tem inteiramente razão quando designa seu jornal de órgão da inteligência russa.

Querendo-se referir, porém, aqueles intelectuais que ainda não assumiram nenhuma posição social determinada ou que, porém, pela própria vida, estão já rechaçados de sua posição normal e passam para o lado do proletariado, torna-se, então, um absurdo confrontar essa inteligência com o proletariado.

Tal como qualquer outra classe da sociedade moderna, o proletariado produz não apenas sua própria inteligência : ele conquista também adeptos de todos os círculos de intelectuais.“[33]

 

Gramsci utiliza, em seus escritos, um conceito de intelectual pretensiosamente mais amplo e abstrato, não evidentemente formulado a partir do ponto de vista classista-revolucionário das lutas de emancipação do proletariado, considerando-o como expressador de todo um grupo social de funcionários não apenas das atividades teórico-intelectuais, senão ainda da organização da produção econômica, da cultura, da política e da administração do Estado em geral.

Nesse sentido, assinala Gramsci :

 

„Por intelectuais deve-se entender não apenas aqueles estratos comumente entendidos com essa denominação, porém, em geral, todo o outro estrato social que exerce funções organizativas, em sentido lato, seja no campo da produção, seja no da cultura, seja naquele político-administrativo : correspondem aos sub-oficiais e oficiais subalternos no exército e também, em parte, aos oficiais superiores de origem subalterna.“[34]

 

Se o leitor deconfiado levantasse ainda qualquer indigação acerca de como Gramsci corrigiu e superou o suposto mecanicismo de Karl Marx, contido no Prefácio à Crítica da Economia Política, de janeiro de 1859, quando afirma que o modo de produção da vida material condiciona (i.e. bedingt) o processo de vida social, político e espiritual em geral, seria imprescindível informar-lhe que nos Cadernos do Cárcere é possível identificar-se um sistema organizado em torno de quatro pólos, de igual valor, a saber : o pólo linguístico, o pólo econômico-produtivo, o pólo ético-político e o pólo antropológico-cultural.

Tais pólos representariam, por assim dizer, coordenadas de um espaço de tensão que se abriria para três abordagens complementares, a saber : a abordagem operativa, a abordagem filosófica e a abordagem histórica.

Se um desses pólos pode tornar-se dominante em certo momento histórico, isso não implica em afirmar, nos termos da doutrina de Gramsci, que essa dominação acarrete um determinismo estrito, no estilo supostamente daquele contido no Prefácio à Crítica da Economia Política, de Karl Marx.

Gramsci rejeitou, assim, a postulação marxista consistente na relação condicionante entre a base da vida material e a super-estrutura do processo de vida social, político e espiritual em geral, a fim de poder substituí-la por uma rede polar horizontal, em que se confere a cada um dos pólos acima citados um valor igual, incapaz de conduzir o condicionamento dos demais.

O pólo linguístico forneceria, porém, a coordenação e a articulação, operativa, filosófica e histórica das lógicas específicas de todos os demais pólos, mediante a possibilidade de efetuar a tradução ou a conversibilidade de um no outro, propiciando a emergência de uma nova cultura popular-nacional, unificadora dos grupos sociais, sujeitos à direção moral-intelectual e à opressão política do grupo fundamental dominante, em sua luta pela formação de um novo consenso social[35].

Nesse sentido, observa Gramsci :

 

“Se essas três atividades (i.e. a econômia, a filosofia, a política) são os elementos constitutivos de uma mesma concepção do mundo, deve existir necessariamente em seus princípios teóricos conversibilidade de um no outro, tradução recíproca na linguagem específica de cada elemento : um está implícito no outro e todos juntos formam um círculo homogêneo(p. 1.471)....

A unidade (i.e desses elementos) é dada pelo desenvolvimento dialético das contradições entre o homem e a matéria ( natureza e forças materiais de produção ).

Na economia, o centro unitário é o valor, enquanto relação entre o trabalhador e as forças materiais de produção.

Na filosofia, a práxis, relação entre a vontade humana (super-estrutura) e a estrutura econômica.

Na política, a relação entre o Estado e a sociedade civil(p.1476).”[36]

 

Eis, portanto, aqui mais uma insuperável inovação do gramscismo, essa última definitivamente superadora daquilo que Gramsci denomina “incrostazioni positivistiche e naturalistiche” da doutrina de Karl Marx : o determinismo e o mecanicismo marxista pode ser atualizado, corrigido e, finalmente, superado através do fenômeno linguístico, consagrador da conversibilidade dos princípios teóricos dos elementos constitutivos da concepção do mundo, já que cada elemento está implícito no outro  e todos juntos formam um círculo homogêneo.

Diante de todo o exposto, é possível verificar-se como, de fato, no quadro do pensamento de Gramsci,  ”il pensiero marxista ... che non muore mai, che è la continuazione del pensiero idealistico italiano e tedesco ... ” está, autentica e profundamente, permeado por verdadeiros cânones do materialismo histórico, sendo que os “canoni del materialismo storico non sono così ferrei como si potrebbe pensare e si è pensato ... “.

Em seu desesperado anseio de subtrair ao marxismo seu suposto positivismo e naturalismo, Gramsci logrou - cabe plenamente afirmar -, realizar a façanha de privar o pensamento de Marx e Engels não propriamente de seu alegado mecanicismo e fatalismo ..., mas sim de seu próprio materialismo histórico e dialético.

Nesse quadrante, James Petras, Professor de Sociologia da Universidade de Birghampton, de Nova York, não poupa argumentos até mesmo para destacar que a razão segundo a qual resultaria justificado empreender-se um ecletismo doutrinário em face do marxismo revolucionário de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, tange à própria imprescindibilidade de distinguir-se entre ”marxismo vulgar” e ”marxismo consciente”, esse último articulado por “Lenin e Gramsci”, esposado por “Guevara e Castro” :

      

“É necessário entender a existência de um marxismo vulgar que antecipava determinadas condutas a partir da posição de classe das pessoas.

Segundo essa teoria, se alguém era operário, ia automaticamente tomar consciência de sua condição, entrar na luta, organizar-se e combater.

Porém, na prática, não era isso o que sempre ocorria.

Alguns setores, sim, adquiriram consciência. Outros, não.

Essa forma mecânica de ver as coisas perdeu vigência com a Revolução Cubana, particularmente com os posicionamentos críticos de Che Guevara e de Fidel Castro, precedidos dos de Lenin e Gramsci que falaram da importância das influências culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da História, do que ocorre ao redor.”[37] 

 

Eis aí como é possível superar-se o “marxismo vulgar ou mecânico” rumo a um “marxismo consciente ou das influências culturais e do entendimento”, através de “Lenin e Gramsci”, em conformidade com o qual torna-se possível contemplar a “importância das influências culturais e do entendimento por parte das forças atuantes da História, do que ocorre ao redor...”.

O gramscismo, sob seu ângulo lógico-filosófico, é, pois, o pensamento de Marx e Engels desprovido de materialismo histórico-dialético, o que é mais uma vez inteiramente compatível com o seguinte cânone de sabedoria da própria ciência gramsciana : “Para o proletariado, não ser ignorante é um dever.”[38]

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS

 



[1] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti !, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 80 e s.

[2] A improcedência de uma tal interpretação histórica acerca do transcurso dos processos revolucionários na Rússia, surge já devidamente analisada e constestada em LENIN, VLADIMIR I. Die Entwicklung des Kapitalismus in Rußland. Der Prozeß der Bildung des inneren Marktes für die Großindustrie(O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia. O Processo de Formação do Mercado Interno para a Grande Indústria(1899), in : W. I. Lenin Werke, Vol. III, Berlim, 1959, p. 17 e s.  

[3] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 45.

[4] Nesse sentido, vide, p. ex., antes de tudo, de maneira mais teoricamente refinada, TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, pp. 106 e 107. De modo mais jornalisticamente popular, igualmente, CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, pp. 16 e 17.

[5] Nesse sentido, vide GRAMSCI, ANTONIO. Lotta di Classe e Guerra, (Avanti !, 19 de Agosto de 1916), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 23 e s.; IDEM. La Critica Critica, (Il Grido del Popolo, 12 de Janeiro de 1918), in: ibidem, pp. 94 e s.; IDEM. La Conquista dello Stato, (L’Ordine Nuovo, de 12 de Julho de 1919), in: ibidem, pp. 218 e s.; IDEM. Superstizione e Realtà(L’Ordine Nuovo, de 8 de Maio de 1920), in : ibidem, pp. 322 e s.; IDEM. Il Partito Comunista, (L’Ordine Nuovo, de 4 de Setembro de 1920), in : ibidem, pp. 361 e s.; IDEM. L’Ordine Nuovo a Mosca (L’Ordine Nuovo, de 9 de Outubro de 1920), in : ibidem, pp. 375 e s.; IDEM. Bergsoniano !(L’Ordine Nuovo, 2 de Janeiro de 1921, in : ibidem, pp. 393 e s. ; IDEM. Le Masse e i Capi, (L’Ordine Nuovo, de 30 de Outubro de 1921), in : ibidem, pp. 501 e s.; IDEM. Sí, l’Ora della Coerenza, (L’Unità, de 22 de Agosto de 1924), in : ibidem, pp. 568 e s.; IDEM. Necessità di una Preparazione Ideologica di Massa (Lo Stato Operaio, Maio 1925), in : ibidem, pp. 598 e s.; IDEM. Il Significato e i Risultati del III Congresso del PCd’I (L’Unità, de 24 Fevereiro de 1926), in : ibidem, pp. 651 e s.; IDEM. In Che Direzione si Sviluppa l’Unione Soviettista ? (L’Unità, de 10 de Setembro de 1926), in : ibidem, pp. 690 e s.; IDEM. Russia, Italia e Altri Paesi, (L’Unità, de 26 de Setembro de 1926), in : ibidem, pp. 700 e s.

[6] Cf. IDEM. Il Nostro Marx(Il Grido del Popolo, 4 de Maio de 1918), in : ibidem, pp. 120 e s.

[7] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 62.

[8] Anote-se que Benedetto Croce(1865-1952) foi, por breve período de tempo, um dos discípulos mais engajados do pensador marxista italiano Antonio Labriola. Já por volta de 1886, Croce rompeu, entretanto, com Labriola, precisamente por não admitir os fundamentos do materialismo histórico e a perspectiva da luta de classes, a qual julgava ser devido substituir com o princípio ético da colaboração das classes sociais. A partir de então, vemos Croce defendendo, abertamente, posições neo-hegelianas, em sua luta contra o positivismo de Comte e Taine e o materialismo histórico de Marx e Engels. Em 1910, Croce tornou-se senador, posicionando-se de modo pacifista-neutralista relativamente à participação da Itália na I Guerra Mundial. Entre 1920 e 1921, tornou-se Croce Ministro da Educação do governo liberal de Giovanni Giolitti, acreditando que o ascenso do fascismo conduziria à consagração do sistema liberal, democrático-parlamentar. Em 1925, entretanto, quando Giovanni Gentile fez publicar “O Manifesto dos Intelectuais Fascistas”, Croce decidiu-se pela oposição a Mussolini. A partir de 1944, Croce emergiu na qualidade de Ministro Sem Pasta e membro da assembléia constituinte, sendo que, em 1948, foi eleito senador da República Italiana. Acerca do tema, vide CROCE, BENEDETTO. Filosofia dello Spirito, Vol. 1-4, Roma-Napoli, 1902-1915, pp. 7 e s. ; IDEM. Edizione Nazionale delle Opere di Benedetto Croce, Napoli, 1991, p. 5 e s.     

[9] Nesse sentido, vide, antes de tudo, GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 12 (1928-1937) – La Formazione degli Intellettuali, in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 830, 836 e s.  No mesmo sentido, vide, ainda, CERRONI, UMBERTO. ibidem, p. 61.

[10] Nesse sentido, vide, p. ex. TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, p. 167.

[11] Em 9 de fevereiro de 1918, Gramsci escreveu, nas colunas de Il Grido del Popolo, que considerava extremamente positivo que os discípulos do atualismo italiano, comandado por Giovanni Gentile, viessem enriquecer “a literatura do socialismo com boas obras que serviram para infundir um pensamento vivificador, mais lúcido e mais preciso, em nosso campo”. Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Il Socialismo e la Filosofia Attuale (Il Grido del Popolo, de 9 de Fevereiro de 1918), in : Antonio Gramsci, Scritti 1913-1926, especialmente : La Città Futura (1917-1918), Tomo II, Torino : Einaudi, 1982, p. 650.  Cumpre observar que o pensador de matiz idealista-subjetivista Giovanni Gentile (1875-1944), um dos mais célebres discípulos de Benedetto Croce, emergiu, no cenário da luta de classes da Itália, nos anos de 1922 e 1924, na qualidade de Ministro da Educação de Mussolini, tendo sido o autor, em 1925, de “O Manifesto dos Intelectuais Fascistas”. Entre 1925 e 1929, Gentile integrou o Gran Consiglio del Fascismo e, em 1931, comandou o juramento de lealdade dos professores universitários italianos ao reinado e ao fascismo. Ainda em 1943, Gentile foi um árduo defensor da República de Marionetes, tendo sido, afinal, liquidado pelos partisãos anti-fascistas. Acerca do tema, vide GENTILE, GIOVANNI / MUSSOLINI, BENITO. Fascismo(1921), in : Enciclopedia Italiana, Roma : Istituti della Encicopledia Italiana, pp. 17 e s.; GENTILE, GIOVANNI. Dottrina del Fascismo(1932), in : ibidem, pp. 11 e s.; IDEM. La Filosofia della Storia, Firenze : Le Lettere, 1996, pp. III e s.; IDEM. Opere Filosofiche, Milano : Garzanti, 1991, pp. 11 e s. 

[12] Acerca do tema, vide SANTUCCI, ANTONIO. Un Classico di Oggi,  in : Cominform, Nr. 71 , de 28 de Janeiro a 4 de Fevereiro de 1997.; TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, pp. 106 e 107.; DEL NOCE, AUGUSTO. Il Suicidio della Rivoluzione, especificamente Cap.: Gentile e Gramsci, Milano : Garzanti, 1978, pp. 121 e s.; DE GIOVANNI, BIAGIO. Sulle le Vie di Marx Filosofo in Italia, in : Il Centauro, Nr. 9, Napoli : Guida Editori, 1983, pp. 5 e s.

[13] Observe-se que Antonio Labriola (1848-1904) surge, no cenário mundial, como sendo um dos mais brilhantes filósofos, defensores da doutrina de Marx e Engels. Professor da Universidade de Roma e publicista de grande porte, advindo da corrente neo-hegeliana de Betrando Spaventa, Labriola acolheu, progressivamente, as idéias socialistas na segunda metade dos anos de 1880. Em 1890, Labriola comunicou-se, freqüentemente, por cartas, com Friedrich Engels, vindo a publicar, logo a seguir, sua mais famosa obra acerca da concepção materialista da história, editada por seu discípulo Benedetto Croce. Sua concepção relativa ao método genético de abordagem analítica das transformações históricas representam, entretanto, já uma tentativa de formulação de uma certa variante heterodoxa em relação ao método rigorosamente dialético do materialismo histórico de Marx e Engels. Acerca do tema, vide LABRIOLA, ANTONIO. La Concezione Materialistica della Storia(1896), Bari : Laterza, 1965, pp. 17 e s.; IDEM. I Problemi della Filosofia della Storia(1897), Napoli, Marano, 1976, pp. 11 e s.     

[14] Coteje-se, nesse sentido, os próprios argumentos de um dos mais notáveis franco-gramscianos da atualidade TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, pp. 105 e s.

[15] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. La Critica Critica (Il Grido del Popolo, de 12 de Janeiro de 1918), in: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 95 e 96.

[16] Acerca das mutações do pensamento de Gramsci a partir do liberalismo revolucionário de Giovanni Gentile, liberalismo esse dotado de matiz fichteniano – e, por consegüinte, de natureza idealista liberal-individualista – vide TOGLIATTI, PALMIRO. Che Cos’è il Liberalismo (L’Ordine Nuovo, de 20 a 27 de Setembro de 1919), in: Palmiro Togliatti. Opere, Vol. I, Roma : Editora Riuniti, 1974, pp. 63 e s.

[17] Nesse sentido, vide, sobretudo, GRAMSCI. ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 13 (1928-1937) – Noterelle sulla Politica del Machiavelli, in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp.  3 e s.

[18] Cf. BALIBAR, ETIENNE. Gramsci, Marx et le Rapport Social, in : Modernité de Gramsci, Actes du Colloque Franco-Italien de Bensançon (23-25 novembre 1989), Annales Littéraires de l’Université de Besançon, Série Agon Nr. 4, Besançon : Paris IV, 1992, p. 265.

[19] Cf. IDEM. ibidem, pp.  263 e 264.

[20] Cf. IDEM. ibidem, p. 265.

[21] Cf. IDEM. ibidem, pp. 268 e 269.

[22] Cf. IDEM. ibidem, p. 269.

[23] Vide MARX, KARL. Vorwort zur Kritik der Politischen Ökonomie (Prefácio à Crítica da Economia Política) (Janeiro de 1859), in : Marx & Engels Werke, Vol. XIII, Berlim, 1962, pp. 7 e s.

[24] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino : Einaudi, 1965, pp. 1.051 e s.

[25]  Cf. TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, p. 110. Acerca da terceira tese sobre Feuerbach, aqui referida, vide MARX, KARL. Thesen über Feuerbach (Teses sobre Feuerbach)(1845), in : Marx & Engels Werke, Vol. III, Berlim, 1962, pp. 553 e s.

[26] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino : Einaudi, 1965, pp. 1.492.

[27] Cf. TOSEL, ANDRÉ. Marx en Italiques, Paris : Mauvezin, 1991, p. 120.

[28] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 12 (1928-1937) – La Formazione degli Intellettuali, in: Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 836.

[29] Acerca do tema, Marx assinalou, claramente : „Concebo o sistema da economia burguesa nessa ordem : capital, propriedade fundiária, trabalho assalariado; Estado, comércio exterior, mercado mundial. Sob as três primeiras rubricas, investigo as condições econômicas de vida das três grandes classes, em que se decompõe a moderna sociedade burguesa. O contexto das três outras rubricas salta aos olhos. ...“ Cf. MARX, KARL. Vorwort zur Kritik der Politischen Ökonomie (Prefácio à Crítica da Economia Política)(Janeiro de 1859), in : Marx & Engels Werke, Vol. XIII, Berlim, 1962, pp. 7 e s.

[30] Segundo Marx : „Minha investigação desemboca na conclusão de que as relações jurídicas, tal como as formas de Estado, não podem ser compreendidas a partir de si mesmas nem a partir do assim-chamado desenvolvimento geral do espírito humano, senão, muito mais, assentam-se nas relações materiais de vida, cujo conjunto Hegel, segundo o procedimento dos ingleses e franceses do século XVIII, sintetiza sob o nome de „sociedade civil“, que, porém, a anatomia da sociedade burguesa deve ser procurada na economia política.“ Cf. IDEM. ibidem.

[31] Conforme Marx : „O resultado geral que me resultou e, uma vez adquirido, serviu de diretriz aos meus estudos, pode ser formulado, brevemente, assim : Na produção social de sua vida, os seres humanos entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado nível de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real, sobre a qual erige-se uma super-estrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social.  O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e espiritual em geral.“ Cf. IDEM. ibidem.    

[32] Em consonância com Marx : „As relações burguesas de produção são a última forma antagônica do processo de produção social, antagônica não no sentido de um antagonismo individual, mas sim de um antagonismo emergente das condições sociais de vida dos indivíduos. Porém as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para resolução desse antagonismo.“ Cf. IDEM. ibidem.

[33] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Revolutionäres Abenteuertum(Aventura Revolucionária)(Agosto 1902), in : W. I. Lenin Werke, Vol. VI, Berlim, 1959, p. 190.

[34] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 19 (1928-1937) – Il Rapporto Città-Campagna nel Risorgimento e nella Struttura Nazionale Italiana, in : Antonio Gramsci. Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Napoli : Liguori Editore, 1996, p. 226.

[35] Acerca do tema, vide tb. IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 6 (1928-1937) – Arme e Religione, in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp.  153 e s.

[36] Cf. IDEM. Quaderni del Carcere (1928-1937), Torino : Einaudi, 1965, pp. 1.471 e 1476.

[37] Cf. IDEM. Lo Que Empezó Como un Movimento Antiglobalización, Ahora Está Incluyendo La Lucha Anticapital, Anticapitalista, Antiguerrerista, Entrevista de Alina Perera Robbio de Juventude Rebelde (Cuba), in : Rebelion. Periódico Electrónico de Información Alternativa, 2 de Fevereiro de 2003.

[38] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico - Gramsci) : Gedanken Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 44.