III.D.

A VIA AO SOCIALISMO DEMOCRÁTICO-PACIFISTA

DA „GUERRA DE POSIÇÃO“ DE GRAMSCI

EM FACE DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA

DE MARX E ENGELS, LENIN, SVERDLOV E TROTSKY,

PARA DESTRUIÇÃO DO ESTADO BURGUÊS

E EDIFICAÇÃO DA DITADURA DO PROLETARIADO,

INCORPORADORA DA SOBERANIA PROLETÁRIA

 

Texto de Autoria de

Portau Schmidt von Köln

 

A Enfermidade Gramsciana

no Movimento Trotskysta Contemporâneo

e nas Lutas de Emancipação do Proletariado

Polêmica Trotsky e Gramsci  : Gramsci e Trotsky 

O SU-QI e a Corrente Franco-Gramsciana

de Atualização, Correção

e Superação do Marxismo

(O Meta-Marxismo de Actuel Marx)

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http://www.scientific-socialism.de/SUCapa.htm 

 

O Capítulo III em destaque é composto pela presente página de Internet e pelas seguintes subdivisões :

Capítulo III. Introdução : Qual a Compatibilidade entre os Posicionamentos de Gramsci e de Trotsky

Capítulo III.A. : O Stalinismo de Gramsci no Campo Político-Partidário

Capítulo III.B. : Gramsci contra Trotsky no Campo Teórico-Doutrinário

Capítulo III.C. : A Lógica Filosófica de Gramsci contra o Socialismo Científico de Marx e Engels    

 

Porém, aqui deve-se perguntar, efetivamente : quais os elementos fundamentais da doutrina político-estratégica socialista de Antonio Gramsci ?

É, realmente, razoável falar-se de gramscismo, tal como se o referiu ao longo de todo o presente texto – diversamente de um simples neo-stalinismo nello stilo italiano ?

A melhor forma de posicionar-se cientificamente frente a esse enigma, pouco clarificado para muitos teóricos e dirigentes de partidos e grupos do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI), que abandonam, presentemente, o trotskysmo, em favor de posicionamentos impregnados pelo gramiscismo, é prosseguir com a instrutiva citação de Gramsci acerca da fábula da menina de quatro anos que pretendiam estuprar, como forma que utilizou para referir-se à concepção de Revolução Permanente, tal como defendida por Trotsky.

Com efeito, Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere, depois de impugnar, à maneira burocrático-stalinista, as elaborações de Trotsky acerca da Revolução Permanente, apresenta sua segunda – não menos criativa e inovadora - caracterização acerca da Revolução de Outubro, valendo-se, agora, de seus dois mais originais conceitos teóricos, coroadores de sua doutrina profundamente inédita: “guerra de manobra e guerra de posição”.[1]

 

 

Pretendendo demonstrar que Lenin possuia um posicionamento efetivamente peculiar e radicalmente distinto daquele defendido por Trotsky acerca da análise do processo de desenvolvimento da Revolução de Outubro e dos subseqüentes processos revolucionários que haveriam de ter lugar particularmente nos países da Europa Ocidental, ao longo do século XX, escreveu Gramsci, em sua obra maior, Cadernos do Cárcere :

 

“Parece-me que Ilitch (i.e. Lenin) tinha compreendido que era necessário uma transformação da guerra de manobra, aplicada vitoriosamente no Oriente, em 1917, em guerra de posição que era a única possível no Ocidente, onde, como observa  Krassnov (i.e. Piotr Nikolaievich Krassnov, um dos generais dos cossacos), em breve espaço de tempo, os exércitos podiam acumular intermináveis quantidades de munição, onde os quadros sociais eram, por si mesmo, ainda capazes de tornar-se trincheiras municiadíssimas.

Isso me parece significar a fórmula do “fronte único” que corresponde à concepção de um só fronte da Entente, sob o comando único de Foch.

Apenas que Ilitch (i.e. Lenin) não teve tempo para aprofundar a sua fórmula, embora tendo em conta que ele a podia aprofundar apenas teoricamente, dado que a tarefa fundamental era nacional, i.e. exigia um reconhecimento do terreno e uma fixação dos elementos de trincheira e de fortaleza, representados através dos elementos da sociedade civil etc.

No Oriente, o Estado era tudo, a sociedade civil era ancestral e gelatinosa.

No Ocidente, entre Estado e sociedade civil exitia uma relação justa e, no tremor do Estado, avistava-se logo uma trincheira avançada, atrás da qual se encontrava uma cadeia robusta de fortalezas e de casamatas.

Mais ou menos, de Estado a Estado, entende-se que isso exigia, porém, precisamente, um detalhado reconhecimento do caráter nacional.”[2]

 

 

 

Eis aqui a pedra de toque, a concepção teórica mais significativa do pensamento de Gramsci, reivindicada, expressa ou veladamente, não apenas por dirigentes e intelectuais de diversos partidos comunistas e sociais-reformistas de todo mundo, senão ainda pelos ideólogos meta-marxistas franco-gramscianos, que prosseguem empreendendo, presentemente, da maneira mais saliente, a atualização, correção e superação da doutrina de Marx e Engels.

No mesmo sentido, essa chave de abóbada da doutrina de Gramsci, consistente na teoria relativa à estratégia política rumo ao socialismo, perpassa, cada vez mais intensamente, os corolários da lógica política impulsionada pela direção do Secretariado Unificado da IV Internacional (SU-QI), que colabora, doutrinária e politicamente, com as referidas forças intelectuais franco-gramiscianas do meta-marxismo de Actuel Marx.  

Com efeito, a presente investigação já apresentou mais acima a passagem em que Gramsci qualifica Trotsky como um cosmopolita, i.e. um pensador superficialmente nacional e, ao mesmo tempo, superficialmente europeu ou ocidentalista.

Em conformidade com o léxico político-estratégico gramsciano, a incapacidade de um intelectual expressar a cultura nacional-popular e as contradições sócio-institucionais mais próprias de um dado país, torna-o cosmopolita, i.e. um intelectual não atido, profunda e minuciosamente, à situação concreta de uma certa realidade objetiva nacional, onde tem lugar, em um primeiro nível e preponderantemente, as combinações regionais das forças de produção econômicas e se desenrola, em um primeiro momento, as lutas dos proletários, camponeses e demais socialmente oprimidos contra o capitalismo, em favor da edificação do socialismo.

Por essa razão, Trotsky, com sua defesa da Revolução Permanente e impugnação da doutrina stalinista da construção do socialismo em um só país, torna-se, aos olhos de Gramsci, um pensador superficial, vago, prenhe de ideologismos, incapaz de compreender, precisamente, a problemática da relação existente entre política nacional e internacionalismo.

Segundo Gramsci, a direção burocrático-centralista do Komintern, na medida em que haveria de dirigir os estratos sociais não apenas nacionais, como também regionais, provinciais e municipais, seja da União Soviética, seja de diversos outros países do mundo, visando ao impulsionamento de processos de passagem ao socialismo, haveria de se nacionalizar, i.e. posicionar-se, diversificada e especificamente, segundo à realidade de cada país, para daí avançar rumo à estratégia de construção do socialismo em nível nacional.

Tal orientação burocrático-stalinista deveria pressupor, segundo as posições idealístico-subjetivistas de Gramsci, partidos nacionais que soubessem formular políticas autônomas e criativas, porém automaticamente centralizadas, correspondentes aos planos gerais de ação, esboçados nos Congressos do Komintern.[3]

 

 

 

Isso significaria elevar ao primeiro plano de análise a questão da “nacionalização do bolchevismo (leia-se : stalinização) nos partidos comunistas”, priorizando-a, constantemente, a partir de onde seria possível projetar-se, estrategicamente, o exame das questões relativas à possível edificação do socialismo em nível nacional e internacional.  

Por outro lado, segundo Gramsci, Trotsky, sendo um cosmopolita, não era, igualmente, um ocidentalista, na medida em que não lograva conceber, especificamente, as implicações que perpassavam, em sua concreteza e efetividade, a dinâmica da luta de classes na Europa Ocidental.

Nada obstante, Gramsci, na passagem acima, corrompendo e desnaturando essencialmente não apenas a doutrina de Lenin, contida em O Estado e a Revolução, senão ainda a de Marx e Engels, contida em Guerra Civil na França, pretende reduzir o tipo característico de ocorrência fenomênica da Revolução de Outubro - i.e. uma revolução socialista, proletária e camponesa, fundada no emprego de violência revolucionária voltada ao integral despedaçamento do Estado Burguês e dedicada à edificação da Ditadura do Proletariado, enquanto incorporadora da mais ampla e historicamente superior Soberania proletária, fase transitória para consolidação do socialismo -, ao regionalizado cenário continental do que concebe como sendo o Oriente, i.e. a Europa Oriental.[4]

 

 

 

 

Assim, para Gramsci, a estratégia típica das Revoluções de Outubro, i.e. das revoluções violentas das massas exploradas e oprimidas sob o despotismo capitalista voltadas à impiedosa e completa demolição do Estado Burguês não poderiam ter lugar na Europa Ocidental, caracterização político-estratética essa que, segundo Gramsci, até mesmo Lenin houvera devidamente entrevisto, sem ter tido tempo, entretanto, de aprofundar sua nova fórmula.   

Lenin surge, então, messiânica e visionariamente, perante aos olhos de Gramsci como um verdadeiro protagonista apenas de um marxismo oriental, i.e. aquele dirigente bolchevique verdadeiramente não cosmopolita, como Trotsky, mas sim efetivamente inserido no contexto específico da realidade histórico-social do Oriente, i.e. da Rússia de seu tempo, consagrador exitoso exclusivamente ”da guerra de manobra, da guerra de movimento, ou ainda, da guerra frontal do proletariado”, i.e. em linguagem científico-marxista-engelsiana, da guerra civil do proletariado contra o capital. 

Segundo as semi-fantásticas alegativas de Gramsci, a genialidade de Lenin residiria no haver compreendido, porém, que o processamento das revoluções na Europa Ocidental deveria trilhar o caminho não mais das guerras civis proletárias, mas sim o único sendeiro possível da estratégia da ”guerra de posição”, i.e. em linguagem propriamente acessível aos revolucionários marxistas, a estratégia da via ao socialismo democrático-pacificista, sem ataques frontais para a destruição do Estado Burguês e edificação da Ditadura do Proletariado, incorporadora da mais ampla e historicamente mais avançada Soberania proletária. 

Interpretando, mais uma vez, à sua própria maneira idealista-subjetivista, os posicionamentos de Lenin, contidos em O Estado e a Revolução e em centenas de artigos de Lenin posteriores à Revolução de Outubro – os quais defendem, também nos países da Europa Ocidental, a preparação e impulsionamento de revoluções proletárias violentas de massas para o despedaçamento do Estado Burguês, precisamente sobre o fundamento da doutrina de Marx e Engels, a exemplo do ocidentalismo da Comuna de Paris -, Gramsci lança no ar o argumento completamente infundado de que Lenin haveria, com efeito, entendido que a ”guerra de posição”, conduzida essencialmente não para a demolição do Estado Burguês, mas para a transformação pacífica de sociedades industriais, altamente complexas e avançadas em sentido capitalista, seria a única possível no Ocidente, i.e. na Europa Ocidental.[5]

 

 

 

Segundo Gramsci, Lenin apenas não tivera tempo de aprofundar essa sua nova concepção, com mais profundidade teórica.

Dessa forma, apoiando-se em Lenin para aniquilar a tese estratégica da violência proletária aniquiladora nas revoluções socialistas, Gramsci pretende, em verdade, fundamentar sua própria concepção de que tais revoluções seriam possíveis apenas no quadro do “marxismo oriental”, enquanto que a via democrático-pacifista de conquista do Estado, mediante substituição do Estado Burguês pelo “Estado Socialista”, seria o único método válido e possível a ser aplicado pelo “marxismo ocidental.

Já em seu artigo „A Conquista do Estado“, Gramsci teve a oportunidade de assinalar, nitidamente :

 

„Os socialistas aceitaram, excessivamente, de modo freqüente, a realidade histórica, produto da iniciativa capitalista.

Caíram no erro da psicologia dos economistas liberais : acreditar na perpetuidade das instituições do Estado Democrático, em sua perfeição fundamental. ...

Dessa concepção errada acerca da transformação histórica, da prática repugnante do compromisso e da tática „cretinamente“ parlamentarista, nasce a fórmula atual sobre a „conquista do Estado“.

Depois das experiências revolucionárias da Rússia, da Hungria e da Alemanha, estamos persuadidos de que o Estado Socialista não se pode encarnar nas instituições do Estado Capitalista, na medida em que é uma criação fundalmentalmente nova em relação a esse, se não em relação à história do proletariado. ..

O Estado Socialista ainda não é o comunismo, i.e. a instauração de uma prática e de um costume econômico solidário, mas é o Estado de transição que conseguiu suprimir a concorrência com a supressão da propriedade privada, das classes, das economias nacionais : essa tarefa não pode ser cumprida pela democracia parlamentar.

A fórmula „conquista do Estado“ deve ser entendida nesse sentido : criação de um novo tipo de Estado, gerado pela experiência associativa da classe proletária e substituição desse ao Estado democrático-parlamentar(p. 221).[6]

 

 

 

Eis aqui o nascimento do “Lenin do Ocidente”, i.e. do “Lenin Democrático”, tal como o denominam certos intelectuais gramscianos do meta-marxismo, vindo ao mundo após o trabalho de parto de desorientalização do autêntico e verdadeiro Lenin, i.e. de Wladimir Ilitch  ...[7] 

 

 

Após ter concebido essencialmente esse último Lenin como um orientalista - i.e. não como um dirigente cosmopolita, superficialmente nacional e superficialmente ocidentalista, à la Trotsky, porém extremamente sagaz e realisticamente prático, a ponto de ter sido capaz de revisar, estritamente, seu orientalismo revolucionário quando se tratava de examinar as novas e possíveis transformações socialistas a terem lugar na Europa Ocidental depois da irrupção da Revolução Russa -, o “Lenin do Ocidente” situa, em sua doutrina, todos os seus demais conceitos téorico-políticos com vistas a consagrar, explicitamente, a ”guerra de posição”, i.e. a ”guerra de assédio”, cumpre dizer, a via democrático-pacifista, ou ainda, segundo o peculiar léxico-linguístico do gramscismo contemporâneo, a via democrática ao socialismo, enquanto única estratégia ou única política possível para a edificação do socialismo no Ocidente.

Mais uma vez nesse domínio, seu principal antagonista político é o suposto cosmopolitanismo de Léon Trotsky, considerado por Antonio Gramsci, i.e. o “Lenin Democrático”, como o mais importante baluarte personificado da revolução violenta mundial das massas exploradas e oprimidas contra a tirania capitalista, protagonizador, em nível internacional, em todos os países do globo, da extensão da “guerra de manobra, da guerra de movimento, da guerra de ataque frontal”, i.e. da guerra civil do proletariado contra o capital, em favor de sua emancipação ou libertação de classe, voltada à implosão do Estado Burguês e a edificação da Ditadura do Proletariado, enquanto incorporadora da mais ampla e historicamente mais avançada Soberania proletária, enquanto pressuposto transitório para o atingimento da primeira fase do comunismo e da abolição da sociedade de classes.

No entender de Gramsci, se necessário é considerar como péssima a teoria da Revolução Permanente, tal como defendida por Trotsky, na medida em que nada mais fez senão predizer vir a menina se tornar mãe aos seus vinte anos - não se recordando que, quando caminhava sobre os seus quatro, queriam-na brutalmente violar -, haver-se-ia de se concluir necessariamente – i.e. à maneira da alegoria do estrupo gramsciano - que a teoria política do ataque frontal, de que Trotsky foi um dos maiores representantes em escala mundial, responde pelo período dos fiascos revolucionários do período posterior à I Guerra Mundial.

Tal raciocínio resume excelente e estupendamente o fato de que os posicionamentos de Gramsci, não sendo absolutamente compatíveis com os ensinamentos de Marx e Engels, Lenin e Trotsky, revelam-se, porém, plenamente coerente com mais dois de seus principais cânones sintetizadores da sabedoria gramsciana : o primeiro “Na política, dizer a verdade às massas é uma necessidade política ... ” e o segundo “E errar não é humano ?”[8]

 

 

Sim, errar há de ser considerado como um fenômeno humano. Porém, no que concerne às questões político-estratégicas, é indispensável constatar-se a existência de certos intelectuais idealistas-subjetivistas, de linhagem burocrático-stalinista, que acreditam poder ser mais humanos do que muitos dos mortais por recorrerem, mais freqüente e ardilosamente, à prerrogativa do erro, valendo-se de conceitos subreptícios para dizer a sua pretendida verdade às massas, desconsiderando que também a séria e honesta apreciação dos fatos e das concepções revolucionárias há de ser concebida como uma das mais exigentes e leais qualidades de todos os seres racionais.

E, com efeito : do cânone criativamente gramisciano concernente à ”guerra de posição ou de assédio”, decorrem muitos outros corolários empregados adrede por Gramsci, procurando pavimentar a via pacifista, i.e. a via democrática, segundo Gramsci, “a via mais sacrificante para a vitória do socialismo”, enquanto única estratégia ou único sendeiro possível para o atingimento do socialismo no Ocidente.

Entre tais corolários conceituais utilizados por Gramsci – os quais não podem ser compreendidos em seu significado teórico original se apartados do contexto de sua própria doutrina da via ao socialismo através da “guerra de posição” nos países da Europa Ocidental – destaca-se sua renomadíssima concepção relacionada com a conquista da concentração inaudita da hegemonia pelas classes dominadas e dirigidas, plenamente coerente com a passagem da “guerra de manobra ou de ataque frontal”, de matiz eminentemente trotskysta, à ”guerra de posição ou de assédio, também no campo político”, de índole inconfundivelmente gramsciana.[9]

 

 

Acerca dessa temática, escreve Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere, referindo-se, mais uma vez, criticamente aos posicionamentos de Trotsky :

 

Passagem da guerra de manobra ( e do ataque frontal ) à guerra de posição também no campo político.

Essa me parece ser a questão de teoria política mais importante, colocada pelo período do após-guerra, e mais difícil de ser resolvida justamente.

Ela está ligada às questões levantadas por Bronstein (i.e. por Trotsky), o qual, de um modo ou de outro, pode ser considerado o teórico político do ataque frontal, em um período em que esse é apenas causa de fiascos.

Apenas indiretamente (mediatamente), essa passagem na ciência política está ligada àquela ocorrida no campo militar, ainda que exista um laço essencial.

A guerra de posição exige enorme sacrifícios de massas ilimitadas da população..

Por isso, é necessária uma concentração inaudita da hegemonia e, pois, uma forma de governo “intervencionista”, que mais abertamente assuma a ofensiva contra os opositores e organize, permanentemente, a “impossibilidade” de desagregação interna : controles de todo gênero, políticos, administrativos etc., reforçando as posições hegemônicas do grupo dominante, etc.

Tudo isso indica que se entrou em uma fase culminante da situação político-histórica, posto que na política da “guerra de posição”, uma vez vencida essa, torna-se ela definitivamente decisiva.

Na política, subsiste a guerra de movimento até quando se trate de conquistar posições não decisivas, não sendo, pois, mobilizados todos os recursos da hegemonia do Estado.

Mas, quando por uma razão ou por outra, essas posições perderam o seu valor e apenas as posições decisivas têm importância, passa-se à guerra de assédio, comprimida, difícil, em que se exige qualidade excepcional de paciência e de espírito inventivo.

Na política, o assédio é recíproco, apesar de todas as aparências, e apenas o fato de que o dominador deva fazer uso de todas as suas reservas demonstra qual seja o cálculo que ele faz acerca do adversário.”[10]

 

 

 

Com efeito, não poderia ser diferente : se se admite, teoricamente, como  única possibilidade de perpectiva revolucionária aquela de que, nos países do Ocidente, o socialismo pode ser alcançado através da ”guerra de posição”, i.e via democrático-pacifista, “sem ataque frontal” de despedaçamento do Estado Burguês, “via mais sacrificante de atingimento do socialismo”, por exigir uma “concentração inaudita de hegemonia”, no particular léxico-político de Gramsci – perspectiva essa oposta diamentralmente à doutrina de Marx, Engels, Lenin e Trotsky -, então é necessário resituar todos os conceitos relativos à luta de classes do proletariado, a fim de que os termos linguístico-significantes se refiram a outros objetos, fatos e circurstâncias significadas, pressupostamente de natureza social-relacional concreta.

Coerente com seus objetivos de legitimação da passagem à ”guerra de posição”, i.e. à via democrático-pacifista ao socialismo, travada preponderantemente mediante conquistas de “trincheiras, fortalezas e casamatas”, Gramsci defende que tal objetivo deve ser alcançado, em primeiro lugar, através da conquista dos aparelhos sociais de direção moral-intelectual da burguesia dominante – i.e. conquista da direção de associações político-educadoras e ético-culturais, escolas e universidades, fábricas e sindicatos, como também de parlamentos, tribunais, instituições político-administrativas etc.

Para tanto, Gramsci afirma conceber o Estado, de maneira inovadora e criativa, sem qualquer critério efetivamente classista, “não apenas como aparelho de governo, senão ainda como aparelho “privado” de hegemonia ou sociedade civil”, i.e. como “sociedade política + sociedade civil” ou ainda como hegemonia encouraçada pela coerção” [11][12].

 

 

Nesse contexto de reformulação idealista-subjetivista de inúmeros conceitos decisivos, desenvolvidos de modo científico-socialista por Marx e Engels, Lenin e Trotsky, Gramsci postula que os grupos oprimidos sob o capitalismo podem e devem conquistar tais aparelhos sociais de direção moral-intelectual, antes mesmo da tomada do poder de coerção do “Estado”, no quadro de uma ampla reforma cultural e política, impulsionada ainda no interior dos “regimes democrático-parlamentaristas”, que se pretenderia, então, democratizar ao extremo[13][14].

 

 

Nesse sentido, a concepção de Gramsci sobre o Estado é, notoriamente, antagônica daquela elaborada e aperfeiçoada por Marx, Engels, Lenin e Trotsky, ao longo praticamente de um século de experiências revolucionárias efetivas voltadas à luta de classes de emancipação do proletariado.

No contexto do pensamento de Gramsci, como também no gramscismo contemporâneo, a conquista do momento de coerção estatal, no percurso da luta pelo poder dos grupos sociais “dominados e dirigidos” sob o capitalismo, pressuporia sua transformação em grupos “dominados-dirigentes”, propiciada pela condução vitoriosa de uma ”guerra de posição” no terreno da sociedade civil e política, extremamente complexa dos países industrializados do Ocidente, habilitando-os, sólida e seguramente, para o exercício de sua dominação hegêmonica, de seu “domínio-dirigente”, i.e. de uma coerção ético-política sobre a sociedade considerada como um todo, a qual lhes permetiria produzir um novo consenso social e um novo senso comum, compatível com atuação de um “Estado Socialista”.

Dessa forma, o Estado é conquistado, após ser alcançada a direção moral-intelectual, i.e. a hegemonia cultural sobre a sociedade civil e política – o que, no quadro da doutrina de Gramsci vale dizer : o Estado não é destruído, não é despedaçado, não é demolido pela violência revolucionária do proletariado, visando à edificação da Ditadura do Proletariado, implacável repressora das forças contra-revolucionárias e incorporadora soberana da mais ampla e historicamente mais avançada Soberania proletária.

Segundo Gramsci, a conquista do Estado seria possível mediante uma máxima ampliação da democracia das instituições civis e políticas, públicas e privadas, mediante “guerra de posição ou de assédio”, no estilo da tomada de “trincheiras, fortalezas e casamatas”, de modo a conduzir, seguramente, à vitória do socialismo.

Essa perspectiva político-estratégica haveria de suscitar a gradativa, incessante e progressiva erosão dos fundamentos de dominação e direção do capitalismo, permitindo, em um primeiro momento, a conquista pelos grupos oprimidos de sua hegemonia ético-política sobre o conjunto das instituições sociais. 

Da lógica político–etratégica de Gramsci resulta que o partido marxista-revolucionário não tendo mais como objetivo central a promoção e o impulsionamento das lutas sociais – econômicas, políticas e ideológicas – visando à preparação das forças do proletariado hegemônico, no sentido dialético do materialismo-histórico, e de seus aliados políticos, para a destruição violenta do Estado Burguês e edificação da Ditadura do Proletariado, incorporadora da mais ampla Soberania proletária, haveria de, nos países do Ocidente, lutar, antes de e sobretudo, pela conquista da hegemonia moral-intelectual, i.e. da direção ético-política, de matiz idealista-subjetivista, ampliando, sistemática e incessantemente, os espaços democráticos das instituições sociais, civis e políticas, como forma de ascender ao socialismo, ”sem ataque frontal, sem guerra de movimento, sem guerra de manobra”.

O socialismo venceria se tanto a democracia parlamentar como a experiência democrático-associativa dos trabalhadores fossem desenvolvidas ao extremo, de modo a substituir, dissolutivamente, as instituições do “Estado Capitalista-Democrático”, e, sobretudo, se o socialismo, por essa via hipoteticamente atingido, as desenvolvesse.[15]

 

 

Impulsionando-se através da ”guerra de posição” essa via democrático-pacifista ao socialismo, os grupos dominados e dirigidos, devendo se tornar hegemônicos, i.e. moral e espiritualmente dirigentes, sobre a “sociedade civil e política”, antes mesmo da tomada do poder de coerção do Estado, haveriam de, em conformidade com a estratégia política de Gramsci, ampliar ao máximo os espaços democráticos, sendo que tal ampliação dar-se-ia, decisivamente, através da conquista de seu maior peso representantivo nas instituições estatais conformadoras da forma democrático-representativa do Estado Burguês.

Nesse sentido, Gramsci anota acerca da teoria da divisão de poderes, de autoria de Montesquieu, opondo-se mais uma vez radicalmente aos ensinamentos legados por Marx, Engels e Lenin ao trotskysmo acerca da matéria :

 

“Hegemonia (sociedade civil) e divisão dos poderes.

 A divisão dos poderes e toda a discussão ocorrida para a sua realização e a dogmática jurídica nascida do seu advento são o resultado da luta entre a sociedade civil e a sociedade política de um determinado período histórico, com um certo equilíbrio instável das classes, determinado pelo fato de que certas categorias dos intelectuais (a serviço direto do Estado, especialmente burocracia civil e militar) encontram-se ainda excessivamente ligados às velhas classes dominantes. ...

Importância essencial da divisão dos poderes para o liberalismo político e econômico : toda a ideologia liberal, com suas forças e suas fraquezas, pode ser resumida no princípio da divisão dos poderes e transparece qual seja a fonte da fraqueza do liberalismo : é a burocracia, i.e. a cristalização do pessoal dirigente que exercita o poder coercitivo e que, em um certo ponto, se torna uma casta.

Daí a reivindicação popular da elegibilidade de todos os cargos, reivindicação que é liberalismo extremo e, ao mesmo tempo, sua dissolução (princípio da Constituinte em permanência etc.; nas Repúblicas, a eleição a prazo do chefe do Estado dá uma satisfação ilusória a essa reivindicação popular elementar.)

Unidade do Estado na distinção dos poderes : o Parlamento mais ligado à sociedade civil, o Poder Judiciário entre Governo e Parlamento, representa a continuidade da lei escrita (também contra o Governo).

Naturalmente, todos os três poderes são também órgãos da hegemonia política, porém em diversa medida : 1) Parlamento; 2)Magistratura; 3)Governo.

Deve-se anotar como, junto ao público, produzem impressão desastrosa as injustiças da administração da justiça : o aparelho hegemônico é mais sensível nesse setor, ao qual podem ser reconduzidos também os árbitros da polícia e da administração política.”[16]

 

 

 

Eis um texto luminoso da estratégia política da “guerra de posição” e de conquista da hegemonia, protagonizada por Gramsci não apenas contra Trotsky, senão contra toda a tradição teórico-doutrinária de Marx, Engels e Lenin.

Segundo Gramsci, na medida em que os órgãos jurídico-estatais dos três poderes do Estado Burguês  - o Parlamento, o Poder Judiciário, o Governo -, são também, “naturalmente”, órgãos da hegemonia política, cumpre aos grupos dominados e dirigidos democratizá-los ao máximo.  

Pois bem, Gramsci apresenta-nos aqui sua receita de como avançar-se para o socialismo : mediante a conquista da reivindicação popular - extremamente liberal (!) - concernente à elegibilidade de todos os cargos, as classes oprimidas logram alcançar a “dissolução” do liberalismo, i.e. a “dissolução” de seu máximo princípio, consistente na divisão dos poderes de Montesquieu, i.e. a “dissolução” da unidade do Estado Burguês, na distinção dos poderes, rumando, assim, para um socialismo “democrático-popular”, emergente “sem guerra de movimento, sem guerra de manobra,  sem ataque frontal, protagonizado por Trotsky, em um período em que esse é apenas causa de fiascos”.[17]

 

 

Gramsci, escorado em sua formulação político-estratégica acerca da dissolução do princípio máximo do liberalismo, mediante liberalismo extremo – caracterizadora de sua semi-fantástica via democrático-pacifista ao socialismo - ainda possui a ambição de demonstrar que essa é a via dos maiores sacrifícios das massas, mesmo menosprezando no  programa político do proletariado a inevitável tarefa de destruição, despedaçamento, demolição ou quebra violenta das máquinas coercitivas dos Estados Burgueses do “Ocidente”.

Com efeito, a conquista supostamente possível da reivindicação extremamente liberal da eligibilidade de todos os cargos do Parlamento, dos Tribunais e do Governo já conduziria, mesmo no contexto da exploração e opressão do despotismo da classe capitalista-burguesa, à “dissolução” da unidade do Estado, “na distinção dos poderes” ...

Tal como é possível verificar-se, entre o trotskysmo e o gramiscismo existe um abismo intransponível no que concerne a tarefa do partido revolucionário do proletariado, consistente no formar, em sentido dialético histórico-materialista, o proletariado hegemônico e seus aliados políticos para a revolução socialista que faça saltar pelos ares a máquina estatal de violência física e ideológica da burguesia, permitindo, então, proceder, sem entraves, à edificação do Estado Proletariado, i.e. da Ditadura Revolucionária do Proletariado, enquanto instrumento estatal transitório para o atingimento do socialismo.

Apenas esse Estado Proletário é capaz de promover a dissolução do liberalismo presente na doutrina dos três poderes de Montesquieu, introduzindo não apenas a eligibilidade de todos os cargos públicos, senão ainda sua remuneração por salários médios de trabalhadores de indústria, bem como a consagração do princípio jurídico-público de revogabilidade de mandatos eletivos a qualquer tempo pelos organismo de poder do proletariado.[18]

 

 

O pressuposto gramsciano de que o socialismo pode vencer, substituindo dissolutivamente o Estado Burguês, desenvolvendo ampla e ilimitadamente a democracia burguesa, converte-se em fundamento cardeal de toda a lógica política da “cidadania hiperbólica” ou do “excesso de cidadania”, da via democrática e pacifista ao socialismo, da transformação democrática do Direito e do Estado Burgueses, muito fomentada contemporâneamente, entre partidos sociais-reformistas e stalinistas-reciclados de todos os matizes, com também entre os ideólogos meta-marxistas franco-gramscianos, que incidem, intelectual e politicamente, sobre os principais dirigentes e teóricos do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-QI).   

Inversamente, torna-se praticamente impossível conceber-se profundamente o sentido adquirido pela consigna de ampliação máxima da cidadania nos dias de hoje senão concebendo-o em face da problemática de fundo, traçada pelo gramiscismo, no concernente à passagem à ”guerra de posição”, à via democrático-pacifista ao socialismo, à conquista da hegemonia dos grupos dominados e dirigidos, à produção de um novo consenso social e de um novo senso comum.

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS

 



[1] Acerca da primeira caracterização, não menos criativa e inovadora, de Gramsci acerca da Revolução Outubro, permito-me a remeter o leitor a GRAMSCI, ANTONIO. La Rivoluzione contro il „Capitale“ (Avanti!, 24 de Novembro de 1917, Il Grido del Popolo, 5 de Janeiro de 1918), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 80 e s. Quanto a essa temática, vide ainda as considerações elaboradas no item III. C. da presente investigação.    

[2] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere, Nr. 7 (1928-1937) - Guerra di Posizione e Guerra Manovrata o Frontale, in: Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, pp.  84 e s.

[3] Acerca do tema, Gramsci assinala, explicitamente : „Escreveram-se artigos teóricos em favor da frente única em geral e do governo operário-camponês em geral, porém essas palavras de ordem não foram jamais incorporadas às situações que se sucediam rapidamente. Parece-me ser esse um defeito geral de todos os nossos partidos e seria necessário procurar-se as causas para combatê-las. Uma causa é, sem dúvida, o modo com é entendido o assim-denominado centralismo do Komintern : até agora não se chegou a alcançar a existência de partidos que saibam fazer uma política autônoma, criativa, que seja automaticamente centralizada, enquanto correspondente aos planos gerais de ação, esboçados nos congressos.“ Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Lettera a Terracini(27 de Março de 1924), in : Palmiro Togliatti. La Formazione del Gruppo Dirigente del Partito Comunista Italiano nel 1923-1924, Roma : Editori Riuniti, p. 261.       

[4] Acerca do tema, vide LENIN, VLADIMIR I., Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (O Estado e a Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução) (1917), Moscou, 1989, pp. 3 e s.; MARX, KARL. Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França)(1871), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XVII, pp. 336 e s.

[5] Cumpre destacar que Lenin, em O Estado e a Revolução, escrito em agosto de 1917, assinalou, expressamente, que, com a deflagração da I Guerra Mundial Imperialista, a reserva de Marx, contida no 18 Brumário de Luis Napoleão, concernente à necessidade de despedaçamento da máquina militar e burocrática do Estado Burguês apenas no quadro das revoluções proletárias do continente Europeu, também estava, essencialmente, envelhecida. Na Inglaterra e nos EUA, últimos representantes da liberdade anglo-saxônica - consagradora da ausência de um militarismo e de uma burocracia administrativa existente nos Estados Burgueses da Europa Continental -, haviam emergido as mesmas instituições militaristas e burocráticas características da violenta dominação burguesa, existentes nos países europeus-continentais. A partir de então, a condição preliminar de toda e qualquer revolução proletária nesses dois países passava a ser, igualmente, a quebra e a destruição de suas máquinas estatais burguesas engendradas para reprimir violentamente as classes subalternas. Tal contexto, colocou, em escala incomparavelmente mais ampla, a tarefa contemporânea de concentração de todas as forças da revolução proletária para a destruição dos Estados Burgueses Imperialistas da atualidade. Acerca do tema, vide LENIN, VLADIMIR I., Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (O Estado e a Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. III.1 : O Estado e a Revolução. A Experiência da Comuna de Paris(1871). A Análise de MarxEm que consiste o Heroísmo da Tentativa dos Communards, pp. 36 e s.

[6] Nesse sentido particular, vide GRAMSCI, ANTONIO. La Conquista dello Stato(L’Ordine Nuovo, 12 de Julho de 1919), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 221. Mesmo em seus célebres artigos, intitulados „Socialistas e Anarquistase „O Estado e o Socialismo“, Gramsci, situado no quadro de sua penosa teoria acerca da „conquista do Estado e do „Estado Socialista“, não formula uma palavra ou uma idéia sequer no sentido de indicar que o Estado Capitalista-Burguês deve ser destruído, despedaçado, implodido, pela violência revolucionária do proletariado, como forma de pavimentar-se a construção da Ditadura do Proletariado, incorporadora da mais avançada Soberania proletária, enquanto Estado de transição para o atingimento do socialismo, em que não subsistirá nem divisão de classes, nem poder de Estado. Nesse sentido, vide IDEM. Lo Stato e il Socialismo(L’Ordine Nuovo, 28 de Junho-5 de Julho de 1919), in : ibidem, pp. 210 e s.; IDEM. Socialisti e Anarchici(L’Ordine Nuovo, 20-27 de Setembro de 1919), in : ibidem, pp. 237 e s.

[7] Nesse sentido, vide ADLER, A. Gramsci : Lénine en Occident, in : La Nouvelle Critique, Paris, 1978, Nr. 115 pp. 13 e s.; BALIBAR, ETIENNE. Gramsci, Marx et le Rapport Social, in : Modernité de Gramsci, Actes du Colloque Franco-Italien de Bensançon (23-25 Novembre 1989), Annales Littéraires de l’Université de Besançon, Série Agon Nr. 4, Besançon : Paris IV, 1992, p. 265.

[8] Cf. CERRONI, UMBERTO. Gramsci-Lexikon (Léxico – Gramsci) : Gedanken Gramsci (Pensamentos de Gramsci), Hamburg-Roma : VSA-Riuniti, 1978, p. 44.

[9] Também nesse sentido, parece-me, mais uma vez, substancialmente equivocado o parecer defendido por Franco Grisolia, da Associazzione Marxista Rivoluzionaria Proposta, quando escreve : “Na Itália, encontra-se difundido um mito segundo o qual o conceito de hegemonia é uma inovação teórica peculiar do pensamento de Antonio Gramsci, que o haveria destacado do rígido “dogmatismo” da III Internacional leninista. Na realidade, o grande revolucionário italiano, não fez senão retomar um conceito próprio dos decênios do marxismo revolucionário russo (“Os promotores da idéia da hegemonia do proletariado na revolução são Plechanov e Lenin” : assim Zinoviev, em sua História, 1923). Gramsci, com grande brilhantismo, repropõe essa temática central na Itália. Além disso, a utilização do termo “hegemonia” – mais vago, à primeira vista, que os outros  - no período do cárcere – constituía para Gramsci também um elemento de prudência em relação às medidas repressivas ulteriores de seus carcereiros fascistas”. GRISOLIA, FRANCO. La Natura ed il Ruolo del Partito Leninista, in : Ottobre 1917. L’Assalto al Cielo : La Rivoluzione Russa e le Sue Prospettive Internazionali, in: I Dossier di Proposta, 30 maggio 1999.

[10] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderni del Carcere (1928-1937) – Passagio dalla Guerra Manovrata (e dall’Attacco Frontale) alla Guerra di Posizione anche nel Campo Politico, in: : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 821 e s.

[11] Cf. IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 6 (1928-1937) – Concetto di Stato, in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, p. 164. Nessa sede, Gramsci assevera, o seguinte : “Per Havély, « Estado » é o aparelho representativo, sendo que ele descobre que os fatos mais importantes da história francesa, de 1870 até hoje, não são devidos a iniciativas dos organismos políticos derivantes do sufrágio universal, mas sim derivantes ou dos organismos privados (sociedade capitalista, Estado-Maior etc.) ou dos grandes funcionários desconhecidos do país etc. Porém, o que significa isso, senão que por Estado deve ser entendido como sendo, além do aparelho de governo, também o aparelho “privado” da hegemonia ou da sociedade civil(p. 164)”. 

[12] Cf. IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 6 (1928-1937) – Stato Gendarme-Guardiano Notturno, ecc., in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, p. 166. Nesse sítio, Gramsci escreve da forma seguinte : “ ... é de assinalar-se que na noção geral de Estado entram elementos que devem ser reportados à noção de sociedade civil (no sentido de que, poder-se-ia dizer, Estado = sociedade política + sociedade civil, i.e. hegemonia encouraçada de coerção)(p. 166).“

[13] Acerca da doutrina marxista do Estado, vide, antes de tudo, MARX, KARL. Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França)(1871), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XVII, pp. 336 e s.; ENGELS, FRIEDRICH. Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staates(A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado)(1884), in : ibidem, Vol. XXI, pp. 27 e s.; LENIN, VLADIMIR I., Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (O Estado e a Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução) (1917), Moscou, 1989, pp. 3 e s.; TROTSKY, LÉON. Terrorismus und Kommunismus. Anti-Kautsky, (Terrorismo e Comunismo. Anti-Kautsky)(1920), Berlim : Dietz, 1990, pp. 9 e s.; IDEM. Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV Internatsionala. Mobilizatsia Mass Vokruk Pererrodnyrr Trebovanii kak  Podgotovka k Zavoievanniu Vlasti (A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da IV Internacional. A Mobilização das Massas em torno de Consignas Transitórias para Preparar a Conquista do Poder ), in : Biulietien Opozitsi Bolschevikov-Lenintsev (Boletim de Oposição Bolchevique-Leninista),  Nr. 66/67, Paris, 1938, pp. 14 e s.; IDEM. Predanaia Revoliutsia (A Revolução Traída) (1936), Ch. 3.3. Capitalismo e Estado - O Duplo Caráter do Estado dos Trabalhadores, Moscou, 1991, p. 44.

[14] Cf. GRAMSCI, ANTONIO. Quaderno del Carcere Nr. 19 (1928-1937) - Il Problema della Direzione Politica nella Formazione e nello Sviluppo della Nazione e dello Stato Moderno in Italia, in : Antonio Gramsci. Disgregazione Sociale e Rivoluzione. Scritti sul Mezzogiono, Napoli : Liguori Editore, 1996, p. 188.

[15] Nesse sentido, vide, particularmente, IDEM. La Conquista dello Stato(L’Ordine Nuovo, 12 de Julho de 1919), in : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, p. 221 e s.; IDEM. Lo Stato e il Socialismo(L’Ordine Nuovo, 28 de Junho-5 de Julho de 1919), in : ibidem, pp. 210 e s.; IDEM. Socialisti e Anarchici(L’Ordine Nuovo, 20-27 de Setembro de 1919), in : ibidem, pp. 237 e s.

[16] Cf. IDEM. Quaderni del Carcere, Nr. 6 (1928-1937) – Egemonia (Società Civile) e Divisione dei Poteri, in : Antonio Gramsci. Note sul Machiavelli sulla Politica e sullo Stato Moderno, Torino : Editori Riuniti, 1991, p. 107.

[17] [17] Cf. IDEM, Quaderni del Carcere (1928-1937) – Passagio dalla Guerra Manovrata (e dall’Attacco Frontale) alla Guerra di Posizione anche nel Campo Politico, in: : Antonio Gramsci. Scritti Politici, Roma, 1967, pp. 821 e s.

[18] Acerca do tema, vide, especificamente, STUTCHKA, PIOTR. “Staryi i Novyi Sud(Tribunal Velho e Novo)”(3, 4 e 5 de Janeiro de 1918, Tradução em Língua Portuguesa de Emil von München), in: Textos Jurídicos de Formação dos Juristas Socialistas da Classe Trabalhadora. Instituto Luís e Rosa Sunderman : Ed. Jurídica Socialista dos Trabalhadores, São Paulo-Munique-Paris, 2000. Vide ainda MARX, KARL. Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França)(1871), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XVII, pp. 336 e s.; LENIN, VLADIMIR I. Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (O Estado e a Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. III.1 : O Estado e a Revolução. A Experiência da Comuna de Paris(1871). A Análise de MarxEm que consiste o Heroísmo da Tentativa dos Communards, pp. 36 e s.