Texto de Autoria de
Portau Schmidt von
Köln
A
Enfermidade Gramsciana
no
Movimento Trotskysta Contemporâneo
e nas
Lutas de Emancipação do Proletariado
Polêmica
Trotsky e Gramsci : Gramsci e
Trotsky
O SU-QI e a Corrente
Franco-Gramsciana
de Atualização,
Correção
e Superação do
Marxismo
(O Meta-Marxismo de
Actuel Marx)
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Geral
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Diante de todo o
exposto no presente trabalho, importa esboçar, conclusivamente, uma
caracterização analítica, ainda que breve, de índole precisamente marxista,
acerca do presente perfil teórico-doutrinário, político-prático e
estratégico-programático da direção do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI), no presente
contexto que antecede, por poucos meses, a realização de seu XV
Congresso Mundial.
Tal esboço de
caracterização analítica, tal desenho de apreciação funcional, não ambiciona o
presente texto desenvolver, nesta sede conclusiva, de maneira descritiva,
declaratória, expositiva, na forma de um
delineamento algébrico de diagnóstico.
Pelo contrário,
pretende-se aqui fornecer ao leitor instrumentos teóricos de valoração que lhe
permita, segura e firmemente, formular seu próprio parecer acerca do SU-QI
que, nas últimas décadas, percorrendo, regressivamente, um “caminho
simétrico” àquele do Euro-Comunismo, já no curso dos anos
70, veio a desembocar, cada vez mais irreversivelmente, no caminho da capitulação
à ideologia original que inspirou o próprio Euro-Comunismo, i.e. o
caminho de capitulação ao gramiscismo, concebido esse último enquanto
doutrina essencialmente renegadora do trotskysmo, revisionista e parasitária da
tradição proletário-revolucionária marxista-leninista e mais sensivelmente
adaptada aos preconceitos democrático-burgueses que dominam e oprimem as massas
proletárias dos países capitalitas-imperialistas, e, adicionalmente, aquelas
dos principais países situados na periferia da remundialização
capitalista-imperialista.
Porém, uma questão
impõe-se, desde logo : qual deve ser o justo padrão, a precisa medida, o
rigoroso critério, a ser, validamente, utilizado por um lutador trotskysta para
formular seu próprio parecer acerca do pefil político atual do SU-QI,
fundando-se em uma base efetivamente marxista ?
Um referencial
precisamente sólido para a elaboração de tal juízo analítico é suscetível de
ser encontrado em posicionamentos apresentados precisamente por Marx
e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky.
Com efeito, Franz
Mering publicou, pela primeira vez, em 1907, nas colunas do órgão
oficial do Partido dos Trabalhadores Social-Democrático da Alemanha(SDAP), i.e.
o Neue
Zeit(Novo Tempo), uma importante carta de Karl
Marx, datada de 5 de março de 1852, dirigida a Joseph Weydemeyer, esse
último membro das Ligas dos Comunistas, participante da Revolução Alemã de 1848-49 e
da
Guerra da Secessão Norte-Americana de 1861-1865, bem como redator do Neue
Deutsche Zeitung.
Na carta em
referência, Marx formulou, precisamente, as seguintes extraordinárias
caracterizações :
“No que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter
descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna nem sua luta
travada entre si.
Historiadores burgueses tinham, muito antes de mim,
apresentado o desenvolvimento histórico dessa luta de classes e economistas
burgueses, a anatomia econômica das classes.
O que eu fiz de novo foi :
1.
provar que a existência das classes está vinculada apenas
a fases históricas determinadas ;
2.
que a luta de classes conduz necessariamente à Ditadura
do Proletariado (i.e. no original alemão : Diktatur des Proletariats) ;
3. que essa mesma
Ditadura forma apenas a transição rumo à abolição de todas as classes e à
sociedade sem classes (i.e. no original alemão : Übergang zur Aufhebung aller
Klassen und zu einer klassenlosen Gesellschaft).”[1]
Em valioso
comentário a esse posicionamento retro-citado de Karl Marx, Lenin destacou,
nitidamente, com grande perpicácia teórico-doutrinária :
“Com essas palavras(obs.: com as palavras de sua carta de
5 de março de 1852 a Weydemeyer, retro-referida), Marx logrou expressar, com
extraordinário relevo, em primeiro lugar, a principal e fundamental diferença
de sua doutrina em face da doutrina dos pensadores dominantes e mais profundos
da burguesia e, em segundo lugar, a essência de sua doutrina acerca do Estado.
O essecial da doutrina de Marx seria a luta de classes.
Isso é dito e escrito muito freqüentemente.
Porém, isso é incorreto e, dessa incorreção, resulta, a
todo momento, uma deturpação oportunista do marxismo, sua falsificação em um
sentido que o torna aceitável para a burguesia.
Pois, a doutrina da luta de classes não é de Marx, mas sim foi
antes dele criada pela burguesia e é, dizendo-se em geral, aceitável para a burguesia.
Quem apenas reconhece
a luta de classes não é marxista, podendo ainda permanecer nos limites do
pensamento burguês e da política burguesa.
Limitar o marxismo à doutrina da luta de classes
significa truncar o marxismo, deformá-lo, reduzí-lo àquilo que é aceitável para
a burguesia.
Um marxista é apenas aquele que estende o reconhecimento da luta de classes ao reconhecimento da Ditadura do Proletariado.
Nisso, reside a mais profunda diferença do marxista em
face do pequeno (e também do grande) burguês médio.
Essa tem de ser a prova de fogo para a verdadeira compreensão e reconhecimento
do marxismo.
E não é de surpreender-se que, quando a história da
Europa colocou a classe trabalhadora praticamente
diante dessa questão, não apenas todos os oportunistas e reformistas, senão
ainda todos os “kautskyanos” (gente que oscila entre o reformismo e o marxismo)
demonstraram-se como implacáveis filisteus e democrátas pequeno-burgueses, que rejeitam a Ditadura do Proletariado.
A brochura “A Ditadura do Proletariado”, que surgiu em
agosto de 1918, i.e. muito depois da primeira edição do presente livro(obs.:
Lenin refere-se aqui à primeira publicação de “O Estado e A Revolução”, de
agosto de 1917) é uma obra de arte de deturpação pequeno-burguesa do marxismo,
com reconhecimento hipócrita do marxismo em
palavras (vide minha brochura “A Revolução Proletária e o Renegado
Kautsky”, Petrogrado e Moscou, 1918). ...
O oportunismo detém-se
no reconhecimento da luta de classes precisamente diante do mais
importante, diante do período de transição
do capitalismo para o comunismo, diante do período de derrubada da burguesia e de sua total aniquilação.
Na realidade, esse período é inevitavelmente um período
de luta de classes, incomensuravelmente amargas, com formas dessa luta
inauditamente agudas e, conseqüentemente, também o Estado desse período tem de
ser, inevitavelmente, democraticamente de
novo tipo, ditatorialmente de novo
tipo(contra a burguesia).
Mais ainda : a essência da doutrina marxista do Estado
entendeu apenas quem logrou compreender que a Ditadura de uma classe é necessária não apenas para a sociedade de classes,
não apenas para o proletariado, que derrubou
a burguesia, senão também para todo um período
histórico, que separa o capitalismo da “sociedade sem classes”, do
comunismo.
As formas dos Estados Burgueses são extraordinariamente
variadas, sua essência é, porém, uma e a mesma : todos esses Estados podem ser
desse ou daquele jeito, porém, em última instância, são, incondicionalmente,
uma Ditadura da Burguesia.
A transição do capitalismo para o comunismo deve,
naturalmente, produzir uma série e uma variedade monstruosa de formas
políticas, porém o essencial nisso será, irrestritamente : a Ditadura do Proletariado.”[2]
Eis, portanto,
nessas citações de Marx e de Lenin
o justo padrão, a precisa medida, o rigoroso critério, a ser,
validamente, utilizado por um lutador trotskysta para formular seu próprio
parecer acerca do pefil político atual do SU-QI, fundando-se em uma base
efetivamente marxista.
No quadro da
presente investigação, foram apresentadas ao leitor, crítica e expositivamente,
as premissas lógicas e as expressões políticas mais salientes, segundo as quais
as principais forças dirigentes do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI), desnaturam e refutam, nos dias de hoje,
ostensivamente, as experiências histórico-revolucionárias mais sólidas da
classe trabalhadora e as concepções socialistas-revolucionárias proletárias
mais basilares que dão sustentação às posições doutrinárias de Marx
e Engels, Lenin, Sverdlov e Trotsky, mediante alegações falaciosas de que o socialismo poder ser alcançado
através da fase transitória da Democracia Socialista, e não da Ditadura
Revolucionária do Proletariado.
Assim, cumpre
indagar : seguiria sendo correto qualificar, em sentido teórico-político, a
direção do SU-QI da atualidade como essencialmente marxista ou, mais
apropriadamente, para dar-se aplicação ao seguro parâmetro de análise de Marx
e Lenin, retro-apresentado, considerá-la, em verdade, como protagonista
da deturpação e da falsificação pequeno-burguesa-oportunista do marxismo nos
dias de hoje, em virtude de, seguir reconhecendo, em palavras, às lutas de
emancipação dos trabalhadores e demais socialmente oprimidos, renegando, porém,
a Ditadura
Revolucionária do Proletariado, incorporadora da mais ampla e
historicamente superior Soberania proletária, enquanto
período indispensável de transição do capitalismo para a sociedade sem classes
e sem Estado ?
Cabe ao leitor
elaborar seu parecer acerca dessa indagação com isenção de ânimos.
No que lhe diz respeito, o presente texto esforçou-se por demonstrar que o SU-QI, em seu atual momento
histórico-existencial, encontra-se inconfundivelmente marcado por sua
expressiva decomposição em face da enfermidade gramsciana, transmitida
às suas abordagens lógico-políticas, sobretudo, por sua desbragada e impudente
colaboração intelectual-doutrinária, político-organizativa e
estratégico-programática com os mais renomados e expressivos ideólogos do
meta-marxismo franco-gramsciano de Actuel Marx, do Partido Comunista Francês(PCF) e
dos Espaces
Marx Réseau International. Pour Une Construction Citoyenne du Monde.
Tal como
assinalado, os ideólogos do SU-QI, entre eles, em primeira
linha, Michaël Löwy, Daniel Bensaïd, Catherine Samary, François Vercammen e
Lívio Maitan, fundados em seu amplo e descomedido colaboracionismo „trotskysta-gramsciano“,
com os mais expressivos doutrinadores franco-gramscianos meta-marxistas
de Actuel
Marx, do Partido Comunista Francês(PCF) e dos Espaces Marx Réseau International
Pour Une Construction Citoyenne du Monde, afirmam estar traçando o
sendeiro da luta em prol da “Democracia Socialista enquanto pressuposto
e condição para a transição rumo a uma sociedade realmente comunista”.
Com efeito, o
leitor foi informado acerca da maneira segundo a qual a direção do SU-QI,
através de „um pequeno escorregão“, abandonou, a defesa da Ditadura
Revolucionária do Proletariado em troca das vicissitudes da luta em
favor da Democracia Socialista.
Os resultados do
atual perfil político do Secretariado Unificado da Quarta
Internacional (SU-QI) já se fazem sentir na prática das lutas objetivas
de libertação do proletariado, travadas nos mais diversos países do mundo.
É, nesse quadro, que
o presente trabalho se despede do leitor, reproduzindo-lhe os elementos mais
comprobatórios da temática concernente à intrigante questão : Para
onde foi e para onde vai a atual direção do SU-QI : um pequeno “escorregão” da
Ditadura do Proletariado à Democracia Socialista.
Schmidt von Köln
Emil
Asturig von München
Novembro de 2000
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO
MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU – BUENOS AIRES - SÃO PAULO – PARIS
[1] Cf. MARX, KARL Brief an J. Weydemeyer (Carta à J. Weydemeyer)(5 de
Março de 1852), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962,
Vol. XXVIII, pp. 507 e 508.
[2] Cf. LENIN, VLADIMIR I. Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o
Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolução. A
Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução)
(1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. 2.3 : A Colocação do Problema por Marx
no Ano de 1852, pp. 34, 35 e 36.