90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
SOBRE J. M. SVERDLOV
SEMEN
I. KANATCHIKOV[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução
Asturig Emil von München, Junho de 2003
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Pela primeira vez, encontrei-me com Jakob Mikhailovitch Sverdlov, em 1906, nos Urais, região para a
qual o Comitê Central do Partido (TsK) enviou-me,
a fim de que impulsionasse trabalho ilegal.
Já então, Jakob
Mikhailovitch produziu em mim a
impressão de ser uma pessoa extraordinariamente dinâmica, dotada de entusiasmo
de viver e temperamento muito revolucionário.
Apesar de sua
baixa estatura e de seu corpo descarnado, possuía uma voz poderosa e, por todos os lados nos Urais, ouvia-se falar dele com fascinação, sendo considerado
um dos melhores agitadores.
Em decorrência de
uma divisão de trabalho, existente desde longa data em nosso Partido,
julgava-se, costumeiramente, que os agitadores e os propagandistas eram quase
sempre maus organizadores.
Jakob Mikhailovitch constituía uma feliz exceção a essa regra, pois unificava em si mesmo,
de maneira estupenda, capacidades de agitação extraordinárias com habilidades
organizativas muito excelentes.
Tendo em conta o
seu próprio caráter, o comportamento espiritual de Sverdlov era tipicamente bolchevique : ousado, decidido,
desconhecedor de dúvidas e hesitações, na execução de resoluções e
determinações do Partido.
Durante todo o
tempo em que trabalhamos juntos, jamais vi o companheiro Andrei - esse era o nome de guerra de Jakob
Mikhailovitch – em estado de
abatimento, desorientação ou ocupando-se com “auto-análises interiores”, tal como muito freqüentemente aconteceu com alguns
dos nossos companheiros, no período da Derrota da Revolução de 1905.
Nos momentos mais
dificultosos da vida de nosso Partido, o companheiro Andrei
encontrou, em si mesmo, coragem para troçar, sorrir e encorajar as almas
arruinadas.
Naqueles dias, a
organização dos Urais era
considerada o sustentáculo do bolchevismo.
Nela, Sverdlov
não desempenhava um papel secundário.
Seu lugar de
moradia permanente era, então, a cidade de Ekaterinburgo, porém muito raramente resultava ser possível
encontrá-lo por lá.
Circulava,
incessantemente, pelas fábricas uralianas, intervindo nos atos públicos,
realizando conversações com trabalhadores, ajudando as organizações locais,
através de conselhos e ações, a executarem seus trabalhos revolucionários.
Em uma segunda
oportunidade, encontrei Jakob Mikhailovitch Sverdlov no Presídio da Província de Perm, no fim daquele mesmo ano de 1906.
Fui preso em um
navio por portar passaporte falso, contendo o nome de um suposto estudante de
tecnologia, Yargin.
Conduziram-me para
o Presídio
de Perm, onde acabei encontrando
muitos de meus companheiros de Partido.
Entre eles,
encontravam-se : K. T. Novgorodtseva-Sverdlova, K. I. Kirsanov, E. A.
Preobrajensky, G. Miasnikov e
outros.
O presídio em tela
encontrava-se repleto de prisioneiros políticos, encarcerados por estarem
envolvidos com atos de luta, deflagrados contra o esmagamento da Revolução
de 1905.
Muitos
trabalhadores de Motovilikh,
presos em virtude da Insurreição Armada,
contavam-se entre tais prisioneiros.
Aguardavam que seu
destino fosse decidido pelo Tribunal Czarista.
No Presídio de Perm, alimentavam-nos de modo extremamente ruim.
Entretanto, nele
preservavam-se os resquícios do Regime de Liberdade de 1905, de modo que todos nós, prisioneiros políticos,
podíamos livremente transitar, no interior de nossos próprios corredores, de
cela para cela.
Mais do que isso :
freqüentemente, reuníamo-nos em uma cela qualquer das maiores e realizávamos
palestras ou contendas contra os socialistas-revolucionários (SRs.) sobre
questões que, então, agitava-nos.
Jakob Mikhailovitch encontrava-se preso no outro pavilhão do presídio.
Tendo tomado
conhecimento de minha chegada, irrompeu no interior de minha cela e saudou-me,
alegremente, na qualidade de novo “encarcerado”.
Com vivacidade,
indagou-me o que estava sendo feito “no Volga”, quais as novidades existentes em nosso Partido, as perspectivas da
revolução e o que Ilitch pensava
relativamente à luta contra os mencheviques etc.
Ao recordar do
fato de que eu havia sido delegado junto ao IV Congresso
da Unificação do POSDR, realizado em Estocolmo,
entre 10 e 25 de abril de 1906, Jakob Mikhailovitch organizou, rapidamente, os jovens e exigiu que lhes prestasse um
informe acerca desse evento internacional.
Depois disso, fez
vir a mim trabalhadores de Motovilikh, sendo que comecei a ministrar-lhes cursos sobre a questão agrária.
Desta feita, não
tive de permanecer encarcerado por muito tempo no Presídio de Perm.
Em meio à confusão
dos policiais, não foi desvendado o meu verdadeiro nome de família, ao mesmo
tempo em que não existiam quaisquer provas dispostas contra mim.
Assim - parece-me
que “sob fiança” de
baixo valor -, fui colocado em liberdade.
Após minha saída
do presídio, parti, imediatamente, de Perm para Moscou.
Daquele momento
até a Revolução Russa de Fevereiro de 1917, não mais vim a encontrar-me com Jakob
Mikhailovitch.
A seguir, em Outubro de 1917, fui encarregado do Comando da Organização de
Tomsk, na cidade de Petrogrado.
Por força do meu
primeiro dever a ser cumprido depois de minha chegada em Petrogrado, fui procurar Jakob Mikhailovitch Sverdlov, que, desde logo, colocou-me a par do curso dos
acontecimentos partidários.
Nosso Partido
prepara-se para as Batalhas de Outubro.
Sverdlov não
possuía qualquer tipo de dúvida ou hesitação quanto ao fato de que era
imprescindível passar para ofensiva: firmemente e impertubadamente, conduzia a
linha de Vladimir llitch Lenin e toda resistência a ela oposta servia apenas para investir-lhe ainda
mais coragem e infundir-lhe ainda mais energia.
Em uma daquelas
noites, Jakob Mikhailovitch propôs-me ir a uma assembléia do Partido a ser realizada no Smolny, onde
haveria de ser analisada a questão da passagem à ofensiva.
Havia muita gente,
no quinto andar do Smolny, onde
transcorreu a assembléia em referência.
Ali,
encontravam-se presentes trabalhadores, representantes de bairros e, também, o
estamento superior dos dirigentes do Partido.
Sverdlov presidia
essa assembléia.
Após dar-lhe
abertura com sua voz possante, Sverdlov
propôs aos companheiros que não analisassem, em essência, a questão em pauta,
visto que já existia decisão do Comitê Central do Partido (TsK) sobre a passagem à ofensiva, mas sim que se
pronunciassem apenas acerca das formas de avançar, informando sobre qual era o
clima existente nas diversas localidades ...
Contundo, apesar
dessa advertência, os oradores que intervinham, manifestavam-se,
sucessivamente, sobre a própria essência da questão.
Exprimindo-se com
toda a tranqüilidade, G. I. Tchudnovsky propôs postergar a investida até a convocação da Assembléia
Constituinte, posto que,
segundo seu entendimento, no fronte da guerra – onde havia estado fazia pouco
tempo –, a massa de soldados acreditava no Poder da Assembléia
Constituinte e não permitiria a
sua dissolução.
Precisamente no
mesmo espírito, expressaram-se os companheiros Y. Larin e D. Riazanov.
N. Podvoisky advertiu os presentes de que o inimigo estava bem organizado, possuía
tropas de guarnição e, além disso, as Escolas dos
Junkers-Latifundiários encontravam-se
confiantes e dispostas a combaterem, ao mesmo tempo que todas as nossas forças
revelavam-se fracamente organizadas, ainda que possuíssem ímpeto de luta.
“- Um assalto precipitado”, declarou o companheiro Podvoisky, “conduziria ao nosso esmagamento !”
Chamando, de tempo
em tempo, os oradores à ordem, J. M. Sverdlov golpeou, por fim, a mesa com o punho e, com sua voz de trovão, bradou:
“- Há uma decisão do Comitê Central acerca da
passagem à ofensiva !
Eu, aqui presente em nome do Comitê Central do
Partido, não permitirei que essa decisão seja cancelada.”
Essa formidável
declaração, efetuada com singular resolução, produziu impressão suficientemente
forte.
Depois disso, Jakob
Mikhailovitch conseguiu facilmente
orientar os debates, segundo o curso necessário.
Uns após outros,
começaram a intervir, então, os trabalhadores dos bairros locais.
Seus pronunciamentos
foram mais resolutos e determinados.
Afirmavam que o
clima nos bairros estaria a favor da investida.
Os trabalhadores
já se encontrariam prontos para esse assalto, sendo que toda e qualquer
postergação ou adiamento serviria apenas para decepcioná-los e arrefecer os
ânimos.
Sendo assim, as
oscilações arruinariam a autoridade de nosso Partido frente às massas etc.
Em novembro de
1918, por meio de um telegrama de Jakob Mikhailovitch Sverdlov, fui convocado, em Perm, onde me encontrava militando, para ir realizar
trabalho revolucionário no centro.
Por ocasião de
minha chegada a Moscou,
permaneci em estreito contato com Jakob Mikhailovitch, no Kremlin, e tive de alojar-me
em sua habitação por três dias.
Já tarde da noite,
quando Jakob Mikhailovitch regressava do trabalho, sentávamo-nos, durante longo tempo, e
conversávamos sobre o destino do nosso Partido e da nossa Revolução etc.
Recordo-me de que,
nessas conversações, mesmo naquele tempo, ficávamos já petrificados com a seguinte
questão que nos atormentava :
“- E o que há de acontecer com
nosso Partido, se algo se passar com Lenin. Quem o poderá substituir ?”
“- Essa questão é extremamente
complicada.
Ilitch pode apenas ser
substituído por um coletivo do nosso Partido.
Uma pessoa que a ele possa
equiparar-se, não vamos poder encontrar”, dizia Jakob Mikhailovitch.
“Presentemente, a questão toda
consiste em que o Partido permaneça unido.
Está claro que o núcleo duro
que possuímos há de dirigir.”
No período a
seguir, encontrei-me, freqüentemente, com Jakob Mikhailovitch e, animando-me com a sua figura enérgica e
confiante, ocupada permanentemente com o trabalho, pensava de mim para comigo :
“Com pessoas como essas, não
temos de temer absolutamente o futuro.
Nosso Partido vencerá !”
Desgraçadamente,
então, a morte carregou, de inopino, J. M. Sverdlov, subtraindo-nos, assim, o nosso poderoso organizador combatente.
Ao lado do nome de
V. I.
Lenin, o de J. M.
Sverdlov, permanecerá, porém, perpetuamente
vivo, tal qual um símbolo de luta em prol da emancipação de todos os
trabalhadores.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. KANATCHIKOV, SEMEN IVANOVITCH. O Y. M. Sverdlov (Sobre
J. M. Sverdlov)(19.06.1925), in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik
Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e
Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii
Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo
Leningrad, 1926, pp. 79 e s.