90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
J. M. SVERDLOV
e o
Grupo de Luta Bolchevique de Ekaterinburgo
KLAVDIA
T. N. SVERDLOVA[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München
Janeiro de 2002 emilvonmuenchen@web.de
Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/SverdParteIVolI-A.htm
„ - Além disso “,
sorriu Andrei, “os espiões de
polícia estão aí
para que nós os
façamos rodar pelo nariz.
Quanto mais você estiver convencida da existência de uma
espionagem,
mais você agirá com inteligência e cautela,
mais você enganará os espiões.
E quem, senão você, nascida e crescida aqui,
em Ekaterinburgo,
e que conhece cada
pátio e cada esquina,
para melhor poder
fazê-los passar por idiotas !
Jakob M. Sverdlov“[2]
Onde se encontrasse Jakob Mikhailovitch,
agrupavam-se, constantemente, pessoas à sua volta.
Apesar de todas as suas exigências e de sua seriedade
profissional, dava prazer e era fácil trabalhar com ele.
Outrora, não sabíamos, naturalmente, como cada
bolchevique, considerado singularmente, era analisado pelos policiais
czaristas, que não descolavam dos calcanhares dos ativos trabalhadores do Partido
Bolchevique.
Apenas depois da Revolução de Outubro,
tornaram-se-nos conhecidos os documentos da Okhrana (i.e. a Polícia
Secreta Czarista).
O Chefe do Departamento da Okhrana da
Província de Perm escreveu, certa vez, à Administração de Polícia
dessa mesma província:
“O companheiro Andrei ou Mikhailovitch”
(obs. : J. M. Sverdlov foi conhecido
em Perm sob o nome de guerra “Mikhailovitch”) “dirigiu, depois da
promulgação do Decreto Geral de Anistia,
de 17 de outubro de 1905, todas as desordens ocorridas em Ekaterinburgo, presidiu sistematicamente e interviu oralmente em
todos aqueles atos, ali ocorridos, dotados de caráter revolucionário ...”
Entrementes, porém, os acontecimentos se avolumavam. Os
jornais e os companheiros, advindos das regiões centrais do país, traziam-nos
todas as novas notícias.
“ - O barômetro está indicando
tempestade ! ...”, escreveu Lenin, em 18 de outubro de 1905, em “Proletari(O Proletário)”.
“ - E, não apenas o barômetro indica
tempestade, senão ainda tudo e todos os lugares já se encontram arrastados pela
turbulência gigantesca do impacto proletário de solidariedade.
A revolução segue adiante com
inacreditável velocidade ... ”
No início de outubro, a greve política geral envolveu
todo o país, alargando-se também até os Urais.
Diante da nossa organização partidária, como também
diante do Partido como um todo, emergíam novas tarefas.
A greve geral assestou um golpe aniquilador na autocracia
czarista.
O czarismo russo havia entrado em colapso.
O Governo Czarista horrorizado até a
morte com a dimensão da luta revolucionária do proletariado, viu-se forçado a
realizar algumas concessões.
Em 17 de outubro de 1905, surgiu o célebre Manifesto
Czarista, proclamando liberdades de opinião, de reunião e de
associação.
Foi promulgada também uma anistia, dirigida aos presos
políticos.
Porém, esse manifesto provocou euforia tão somente junto
à burguesia liberal e aos mencheviques, que sonhavam com mandatos de deputados,
mesmo que fossem apenas os de uma Duma Consultiva.
Os bolcheviques e os trabalhadores avançados compreenderam,
magistralmente, o modo segundo o qual havia sido publicado esse manifesto,
efetivamente adaptado à situação, bem como quais objetivos eram por ele
perseguidos.
Não foram em vão aqueles versos ousados e apropriados,
que, então, conquistaram popularidade :
“O Czar ,
assustado, editou um manifesto :
aos mortos,
a liberdade,
aos vivos, a
prisão !”
Era necessário abrir os olhos das massas operárias e de
todos os trabalhadores relativamente à mentira e à falsidade das promessas
czaristas.
Na noite posterior à publicação do manifesto em questão,
o Comitê
de Ekaterinburgo do Partido imprimiu uma proclamação, desvendando o seu
verdadeiro caráter, enviou agitadores às fábricas, formulou palavras-de-ordem
para as faixas e conclamou toda a população de Ekaterinburgo a
participar de um ato público de toda a cidade.
Na manhã de 19 de outubro, a cidade de Ekaterinburgo
foi envolvida por um movimento incomum. As ruas principais encontravam-se
repletas de massas populares agitadas.
Em nenhum lugar, podia-se ver a polícia, porém a ordem
seguia sendo preservada, de modo exemplar.
Na praça central da cidade, situavam-se, em particular,
muitas pessoas.
Baseando-se na convocação do comitê municipal do Partido,
reuniram-se, ali, operários das fábricas de Ekaterinburgo, muitos
jovens estudantes, não poucos empregados e, até mesmo, auxiliares do comércio.
Membros do comitê e ativistas do Partido haviam trazido
caixas vazias e com elas levantaram uma modesta tribuna.
Entre eles, encontrava-se, naturalmente, também Andrei.
Ele inflamava os companheiros, formulava jocosamente
ironias, conferia as últimas instruções.
O grupo de luta, criado, em Ekaterinburgo, já mesmo
no verão de 1905, havia recebido instruções do comitê para garantir a segurança
no ato público, bem como a proteção dos oradores.
Porém, seria necessário ocupar-se muito energicamente com
essa segurança.
Eu não me encontrava, naquelas horas, na praça e
tornei-me, involuntariamente, testemunha de como, nas ruelas adjacentes, os Cem-Negros
prepararam-se para o ataque.
Valendo-se das “liberdades” e da anistia,
declaradas no manifesto, o comitê decidiu acelerar a libertação de nossos
companheiros que se encontravam nas prisões.
No Presídio de Nikolaiev, em Tura,
na cidade de Nijn Novgorod, encontravam-se encarcerados membros ativos do
comitê : Vilonov, Baturin e uma série de outros.
Tendo em vista que conhecíamos os costumes da “Companhia
de Nikolaiev” (assim se chamava esse presídio), temíamos pela vida de
nossos companheiros.
Sendo assim, o comitê encarregou-me de ir ao Procurador
do Estado, chamado Kazitsyn e, baseado no manifesto
promulgado, obter a libertação deles.
Inicialmente, fui ao tribunal da circunscrição local,
porém, lá não se encontrando o procurador, desloquei-me para ir encontrá-lo em
sua casa.
Depois de um vai-e-vem prolongado, consegui chegar à
residência de Kazitsyn, com a intenção de que ele expedisse um telegrama
especial à chefia do Presídio de Nikolaiev, tratando dos
nossos companheiros.
Peguei uma cópia desse telegrama, com vistas a repassá-la
a Mikhail
Vilonov.
Já no caminho da residência do Procurador Kazitsyn, a
qual se situava ali onde atualmente localiza-se a casa Nr. 3 da Rua 8
de Março, diversas pessoas se encontravam sentadas sobre os bancos, ao
lado das casas, ou então, simplesmente, sobre as calçadas, bem como outras iam
para lá e para cá, sendo que sua aparência denunciava inteiramente o fato de
serem instigadores de assaltos de surpresa, i.e. progroms.
A maioria deles vestiam jaquetas, sendo que muitos
possuíam nas mãos pesados bastões e grossos porretes.
Nesses dias, os excessos dos Cem-Negros transbordavam,
através de toda a Rússia, tal como ondas imundas de sangue.
Todos aqueles que tiveram em suas mãos, mesmo que apenas
por uma vez, até mesmo um jornal burguês liberal, tinham conhecimento disso.
Avistando essas pessoas nas proximidades da praça onde
haveria de realizar-se o ato público, compreendi que os Cem-Negros haviam reunido
suas forças e preparavam-se para atacar.
Após ter recebido a cópia do telegrama, pedi,
urgentemente, ao Procurador Kazitsyn que fosse até a janela e, ali, mostrei-lhe
aqueles bandidos armados que se aglomeravam logo debaixo das sacadas da casa do
Procurador
do Estado.
O Sr. Procurador do Estado encolheu,
então, os ombros, com menosprezo, dizendo :
“ - Pois
então! Esses homens estão indo dar um passeio.
Hoje, é
domingo. O tempo está agradável.
Também seus
companheiros irão hoje igualmente passear pelas ruas. E se as pessoas vão
passear, por que não devem levar consigo bengalinhas de passeio ?”
Aparentemente, o Procurador do Estado julgara ser
plenamente natural que cada uma dessas “bengalinhas de passeio” pesasse não
menos do que 7 ou 9 quilos e trouxesse à lembrança, antes de tudo, a imagem de
uma barra de ferro !
A “ingenuidade” do Sr. Procurador era compreensível.
Os Cem-Negros agiam sob a direta
complacência do poder do Estado e da polícia.
Mais ainda : precisamente o poder do Estado e a polícia
eram os organizadores e os inspiradores dos progroms.
Quando os Cem-Negros encontravam séria
resistência, os cossacos corriam, habitualmente, para socorrê-los.
Posteriormente, soubemos que o próprio arcebispo havia
concedido aos Cem-Negros de Ekaterinburgo bendição por suas “ações
combativas”.
Enquanto eu me encontrava na casa do Procurador do
Estado, enquanto transmitia a cópia do telegrama à prisão, o ato se iniciava.
Sua abertura postergou-se longamente, pois esperava-se
pela chegada dos trabalhadores da fábrica Verkh-Isset, propriamente a maior fábrica
de Ekaterinburgo.
Porém, com o atraso dos trabalhadores da Verkh-Isset,
o povo começou a ficar impaciente, tornando-se necessário dar início ao ato,
não sendo possível esperar mais.
O companheiro Andrei foi o primeiro a subir à
tribuna.
Não havia conseguido falar nem algumas poucas palavras
quando um bando dos Cem-Negros atacou a praça a partir das ruas das proximidades,
sacudindo seus porretes e gritando injúrias repugnantes.
Eles lançaram-se em direção da tribuna, projetando-se
sobre Andrei.
Entretanto, não foi tão fácil abrir caminho de passagem.
Em torno da tribuna, encontravam-se companheiros do grupo
de luta firmemente concentrados, sendo que alguns deles estavam armados com
pistolas. Alguns tiros foram disparados.
Os Cem-Negros entraram em desordem,
recuaram, ao mesmo tempo em que alguns deles apressaram-se em fugir.
Com efeito, eram valentes apenas quando não encontravam
resistência alguma.
Em face da mais ínfima reação, perdiam imediatamente a
orientação.
Porém, também nossos lutadores agiram tímida e
irresolutamente.
Faltou-lhes a experiênca de luta.
Eles não estavam preparados para sérios embates, como
efetivamente cumpria-o estar.
Os Cem-Negros reuniram-se mais uma vez
e retomaram à ofensiva, ao mesmo tempo em que os cossacos apressaram-se em vir
auxiliá-los.
Aproveitando-se da confusão passageira dos agressores,
nossos companheiros bateram em retirada, em direção do prédio do Banco
Kamsk do Volga que se situava na praça.
A partir desse banco, saíram, em pequenos grupos de duas
ou três pessoas, pelas portas dos fundos que davam para um pátio, e, daí por
diante, penetraram nas ruas contígüas.
Naquela mesma noite, foi convocada uma plenária do Comitê
de Ekaterinburgo com o conjunto partidário da organização.
Muitos dos nossos dirigiram-se, de cabeças baixas, para a
fábrica Verkh-Isset, onde teve lugar a plenária.
Após a pesada derrota que os Cem-Negros nos haviam
inflingido tornara-se difícil encararmos uns nos olhos dos outros e alguns
acreditavam que tudo já se encontrava perdido.
Pela primeira vez, vi, então, o companheiro Jakob
Mikhailovitch em um momento de derrota, em um minuto de fracasso.
E eis que, naquela ocasião, tornou-se-me definitivamente
claro o porquê de os companheiros dos Urais terem-no reconhecido tão
rapidamente.
Jakob Mikhailovitch dirigiu a plenária, sendo que nenhuma
de suas palavras e nenhum de seus gestos revelavam qualquer indício de
desespero. Ele se encontrava tranqüilo e seguro.
Jakob Mikhailovitch começou esclarecendo-nos ser
inadequado baixarmos as cabeças em razão de uma derrota isolada. A revolução
encontrava-se em ascenso, assinalou ele.
A revolução conquistava terreno e, assim, o esmagamento
de um ato público isolado não podia modificar absolutamente nada.
Com objetividade bolchevique, Jakob Mikhailovitch desvendou
as causas da nossa derrota.
Ele afirmou que não se devia lançar a culpa pelo ocorrido
sobre ninguém, a não ser sobre nós mesmos.
Quem seria essencialmente culpado pelo fato de que o
coletivo mais poderoso de trabalhadores de Ekaterinburgo, i.e. a fábrica Verkh-Isset,
capaz de desbaratar os Cem-Negros, chegou apenas muito
tardiamente ao ato, por causa da má organização do trabalho ?
Jakob Mikhailovitch destacou, particularmente, a
insuficiente preparação, a irresolução e a debilidade do grupo de luta.
Com sarcasmo mordaz, repreendeu um dos membros do grupo
de luta, de nome Ivan Bushen, que se encontrava abalado porque havia com uma de
suas balas ferido um dos Cem-Negros, tendo provocado, por
isso, um autêntica histeria, no início da plenária.
“ - O que é que você está pensando, Vaniusha”, disse Jakob Mikhailovitch, “você pretende fazer uma revolução com luvas
brancas?
Sem derramamento de sangue, sem tiros,
sem derrotas?
Se é assim, meu querido, você deve passar
para as fileiras dos liberais. Junto aos trabalhadores, nada há que você possa
procurar!”
A plenária transcorreu tranqüilamente, segundo a ordem
dos trabalhos.
Resolveu-se destacar as melhores forças para o grupo de
luta.
Como dirigente desse grupo, foi nomeado Fiedor
Fiedorovitch Syromolotov.
No dia do progrom, Jakob Mikhailovitch demonstrou-se
tão tranqüilo e resoluto como nunca.
Em todo nosso trabalho, proporcionava uma atmosfera de
tranqüilidade e segurança.
Ele não permitia que os companheiros entrassem em pânico,
sendo que se esforçou por extrair lições das derrotas passageiras.
O assalto dos Cem-Negros sobre a manifestação
pacífica abriu os olhos de muitas pessoas.
A conspiração orquestrada pelos progromistas, policiais e
sacerdotes religiosos provocou revolta não apenas entre os trabalhadores, senão
ainda em amplos círculos sociais, na intelectualidade e, até mesmo, junto à
parcela da burguesia liberal.
Mesmo as camadas sociais, situadas até então à parte do
movimento social, dinamizaram-se.
O desejo de orientar-se em todos os aspectos, de
compreender o sentido dos eventos em curso, era imenso.
A situação favorecia, cada vez mais, o desenvolvimento do
trabalho junto às massas. Assim, ocorria em toda a Rússia.
Assim, passava-se também entre nós, nos Urais.
“ - As
condições para a atividade de nosso Partido modificaram-se de modo essencial”, escreveu Lenin, nesses dias.
“ - A
liberdade de reunião, de associação, de imprensa, encontra-se conquistada...,
sendo que é imprescindível explorarmos, da maneira mais ampla, o espaço atual,
relativamente mais dilatado.”
Em Ekaterinburgo, iniciou-se, então, um
período de realização de atos e assembléias públicas, freqüentadas por grande
número de pessoas, que para elas acorriam massivamente.
O Comitê de Ekaterinburgo apreciava a
situação, dirigindo-se pelas instruções formuladas por Lenin, desenvolvendo um
trabalho cada vez mais abrangente.
Dois dos grandes teatros da cidade encontravam-se,
faticamente, nas mãos do Comitê do Partido Operário
Social-Democrático Russo (POSDR).
O primeiro fracasso com o ato público ensinou-nos a
sermos precavidos e induziu-nos a preparar, melhor e mais cuidadosamente, cada
uma de nossas intervenções.
A partir de então, antes de cada ato, eram antecipadamente
indicados os oradores, divididos os temas de discurso e organizada a segurança.
Os salões ficavam sempre lotados até explodir, sendo
freqüentados preponderantemente por trabalhadores e camponeses.
Jakob Mikhailovitch não perdia nenhuma oportunidade de
intervir em grandes assembléias.
Ele intervia quase diariamente e, não raramente, por
diversas vezes em um mesmo dia.
Intervia não apenas junto aos trabalhadores, senão ainda
em assembléias de pequenos-burgueses da cidade, como também naquelas dos
auxiliares do comércio, com vistas a incorporar as mais amplas camadas da
população na luta em favor de transformações democráticas.
Porém, no primeiro plano, situava-se, evidentemente,
sempre o proletariado.
Ao falar sobre a luta quotidiana dos trabalhadores em
prol da melhoria de sua situação econômica, Jakob Mikhailovitch
esclarecia o programa social-democrático, conclamando todos, calorosamente,
para a luta decisiva contra a autocracia.
Enquanto um legítimo discípulo de Lenin, Andrei
desenvolvia diante dos ouvintes as perspectivas da passagem ascendente da
revolução burguesa para a revolução socialista, afirmando que a República
Democrática constituía :
“ ... apenas
um estágio no caminho da concretização dos objetivos finais da
Social-Democracia : a conversão das relações capitalistas de produção em
relações socialistas.”
Enquanto que Baturin, Tcherepanov, Aveide
e outros bolcheviques eram escutados, Andrei era ouvido com a respiração
presa.
Nesses dias, dezenas de milhares de trabalhadores e
camponeses dos Urais escutaram, pela primeira vez, o autêntico discurso
bolchevique.
Para muitos deles, a vida adquiria um novo sentido.
Os jovens que, precedentemente, haviam-se empolgado pelas
frases grandiloqüentes dos socialistas-revolucionários (SRs) e
dos anarquistas,
lançavam-se agora sobre a literatura social-democrática, após haverem
participado de atos públicos sociais-democráticos e darem as costas aos socialistas-revolucionários
(SRs) e anarquistas.
Valendo-se das “liberdades” concedidas, o Comitê
Bolchevique de Ekaterinburgo, dirigido por J. M. Sverdlov, reuniu
milhares de trabalhadores e camponeses dos Urais sob a bandeira de luta
leninista.
A influência dos bolcheviques crescia, visivelmente.
Jakob Mikhailovitch encontrava-se, freqüentemente, nas
fábricas e falava diretamente aos trabalhadores, nos galpões das oficinas.
Eis como P. Z.
Ermakov, um velho bolchevique, antigo trabalhador da fábrica Verkh-Isset,
descreveu uma daquelas intervenções :
“Na fábrica Verch-Isset, debaixo dos galpões, reuniram-se mais de duzentas
pessoas para uma assembléia. O salão era espaçoso. Todo o pessoal da fábrica
poderia ser ali abrigado.
Não existiam muitas máquinas. Apenas
ligas de ferro encontravam-se empilhadas. O prédio era iluminado, sendo que um de
seus lados compunha-se, praticamente, apenas por janelas.
Reunimo-nos logo depois de terminado o
trabalhado.
A assembléia teve início.
Concederam a palavra a Andrei.
Ele era escutado atentamente. Andrei era muito respeitado.
Anteriormente, eu havia distribuido
patrulhas por todos os acessos, a fim de que a polícia não nos apanhasse de
surpresa.
Os trabalhadores haviam-se armado com
algumas barras de ferro, com algumas pedras e com outras coisas.
Alguns dos membros do grupo de luta
possuíam pistolas brownings.
Eu possuía uma mauser.
Repentinamente, vieram pessoas correndo
e gritando : “ polícia !”
Meu irmão, Aleksei Zakharovitch, pegou um macacão e uma boina de operário e
ajudou Andrei a mudar de roupa e a
passar graxa no rosto, conduzindo-lhe, através da calderaria, pelo pátio
traseiro e pelas casinhas de acesso traseiro, à Montanha Kitaiskaia.”
A popularidade de Andrei junto aos trabalhadores
crescia a cada dia.
Ele tornou-se não apenas um orador admirado, senão ainda
um reconhecido dirigente de todos os grandes atos públicos e assembléias.
Com efeito, ele presidia magnificamente atos e
assembléias.
Com algumas palavras tranqüilas, Andrei acalmava, de um só
golpe, as paixões incandescentes.
Com sua poderosa voz, sobrepujava toda e qualquer gritaria
e todo e qualquer barulho, provocados por nossos adversários que procuravam
implodir as assembléias.
Por volta do fim de novembro de 1905, os socialistas-revolucionários
(SRs) conseguiram obter para si o Teatro Municipal de Ekaterinburgo.
Divulgaram, então, amplamente a realização de seu ato
público.
Os trabalhadores vieram voluntariamente e, com rapidez,
lotaram o salão, até o último lugar.
O “líder” local dos socialistas-revolucionários
(SRs), ostentanto uma camisa de seda vermelha, caminhava sobre a
tribuna, para cá e para lá, com grande satisfação, ao mesmo tempo em que
esfregava as mãos, saboreando antecipadamente o êxito a ser colhido.
Tão logo se impôs o silêncio, deu início à assembléia e
propôs eleger como seu presidente um dos “mais valorosos”
socialistas-revolucionários (SRs) de Ekaterinburgo.
Porém, as coisas passaram-se de modo diferente :
“ - Renuncie
!“, bradava o salão.
“ - O
companheiro Andrei é que deve
presidir, Andrei, Andrei !”
“ –
Desculpem-me”, murmurou o social-revolucionário atordoado. “Mas, esse é o nosso ato político. Nós, socialistas-revolucionários
(SRs) ...”
Sua voz afundava em meio ao barulho crescente.
“ - Andrei, como presidente”, ecoava por todos os lados.
Sverdlov surgiu na tribuna e, no salão, irromperam os aplausos.
Jakob Mikhailovitch dirigiu o ato como se nada tivesse
acontecido, tal como um anfitrião, e, ao final, foi adotada, unanimemente, uma
resolução bolchevique. Tais casos ocorreram, não poucas vezes.
A segurança dos atos públicos e a manutenção da
disciplina era da competência do grupo de luta.
Depois da deplorável lição que nos foi ministrada, em 19
de outubro, pelos Cem-Negros, o trabalho do grupo de luta foi reestruturado.
Fundando-se nas Resoluções do III Congresso do Partido,
que havia obrigado todas as organizações partidárias a “adotar as medidas mais enérgicas
para o armamento do proletariado”, o Comitê de Ekaterinburgo
passou a dirigir todas as atividades do grupo de luta.
O trabalho de armamento dos trabalhadores foi
desenvolvido em toda a amplitude.
Para esse setor, foram enviados os mais firmes e
confiáveis trabalhadores do Partido.
Jakob Mikhailovitch supervisionava cuidadosamente a
organização e a instrução do grupo de luta, assim como a escolha dos quadros
bolcheviques.
Os membros do grupo de luta não se limitavam mais apenas
aos treinamentos de tiro, tal como ocorrera anteriormente, mas passaram a
estudar tática de combate de rua e técnica da luta armada.
Todas as mulheres, membros do Partido, participavam de
cursos de primeiro socorro medicinal e praticavam seus conhecimentos em
hospitais.
O III Congresso do Partido havia
conclamado as organizações partidárias a iniciarem “a elaboração de um plano para a
Insurreição Armada.”
Um plano insurrecional foi preparado também entre nós, em
Ekaterinburgo.
Com a ajuda de engenheiros da fábrica de armamentos de Yjevsk,
que simpativam com a nossa causa, foram obtidos armamentos.
Seu transporte processava-se de modo tão conspirativo que
não existiu nem um único caso em que viesse a cair em mãos da polícia.
Os companheiros mais ousados e engenhosos foram
encarregados de providenciar grandes lotes de armas.
Certa feita, um determinado companheiro teve de
transportar um cesto grande e pesado, repleto de armas.
Esse cesto era tão pesado que nenhum ser humano conseguia
levantá-lo.
Sendo assim, nosso lutador trajou-se de rico comerciante
e providenciou um vestido de casamento para uma das mulheres – uma militante de
nossa organização partidária -, a qual haveria de desempenhar o papel de noiva.
Os “recém-casados” armazenaram as armas em um imenso baú,
no qual filhas de comerciantes costumavam, de fato, colocar seus presentes de
casamento.
Na estação ferroviária, o “comerciante” chamou alguns
carregadores de bagagens e prometeu-lhes pagar uma gorda gratificação.
Pediu-lhes que fossem extremamente cuidadosos, tendo em
vista que no baú encontravam-se cristais, pratas e outros objetos de valor.
De braços dados, sorrindo alegremente, caminhavam os
companheiros, bem polidos, atrás dos carregadores de bagagens.
Os policiais dirigiram-lhes cumprimentos.
Não passava pela cabeça de ninguém que tipos de
“presentes de casamento” encontravam-se naquele precioso baú de comerciante.
O resultado da reestruturação do trabalho do grupo de
luta floresceu rapidamente.
Os membro do grupo de luta interceptaram tão
resolutamente todas as tentativas de implosão de nossas assembléias que os Cem-Negros
começaram, rapidamente, a temer, com seriedade, os membros desse grupo.
A disciplina de seus membros e o armamento que
possuíam - vários membros do grupo de
luta vieram a possuir até mesmo fuzis – provocavam viva impressão até mesmo na
polícia.
Certa vez, um grupo de bêbados progromistas tentou
invadir o Teatro Verkh-Isset, onde trancorria um ato público dos
bolcheviques.
Os membros do grupo de luta estavam, porém, atentos.
Cercaram, imediatamente, os Cem-Negros, ameaçando-os
com armas.
Esses últimos foram empurrados, então, para dentro de uma
sala vazia e fria e ali foram mantidos, durante várias horas.
Daquela sala, foram apenas liberados quando o ato já
havia sido encerrado e o teatro encontrava-se vazio.
Durante todo o mês de outubro e novembro de 1905, Jakob
Mikhailovitch trabalhou quase ininterrumptamente, em Ekaterinburgo.
Nesse tempo, o Comitê de Ekaterinburgo realizou um
grande trabalho relacionado com a formação de quadros propagandistas e
agitadores, saídos das fileiras dos trabalhadores e dos jovens estudantes,
criou um sólido grupo de luta, desenvolveu o trabalho sindical e organizou um Soviete
de Deputados Trabalhadores.
O número de membros do Partido crescia, diariamente.
Os trabalhadores sentiam a força da organização.
Os melhores e mais avançados entre eles ingressaram no
Partido.
Na cidade, havia existido uma rede de células de diversos
tipos.
A seguir, todas as células de tipo superior unificaram-se
e, sob iniciativa de Jakob Mikhailovitch, fundaram uma Universidade
de Trabalhadores, i.e. uma Escola do Partido, tal como outrora
também a denominávamos.
Cerca de trinta e cinco pessoas, selecionadas a partir
das células de trabalhadores e entre os estudantes da Escola de Mineração dos Urais,
vieram a estudar em nossa escola Programa e Tática do Partido, Economia
Política, História do Movimento Operário do Ocidente.
Um dos mais importantes professores dessa universidade
foi N.
N. Baturin[3].
Baturin lecionava história do movimento operário.
Jakob Mikhailovitch deu aulas sobre tática e programa do
Partido.
Toda a formação teórica dos propagandistas era repleta de
ativo conteúdo político.
Entre os trabalhadores e artesãos da cidade crescia o
interesse pelos sindicatos, os quais haviam sido muito escassos nos Urais,
até 1905.
O comitê apoiava com todos os meios esse interesse,
ajudando na organização de novas associações sindicais.
Jakob Mikhailovitch esclarecia, incansavelmente, aos
trabalhadores que a sua unidade nas associações sindicais representava uma arma
poderosa na luta contra os capalistas.
Dizia :
“Os trabalhadores precisam organizar-se
em associações, com vistas a defenderem seus interesses profissionais.
Essas associações devem postular,
enquanto seu interesse, a luta contra o capital, em favor da melhoria das
condições de trabalho.”
Nos dias de outubro, no clímax da luta contra o czarismo,
começaram a ser criados, por todos os lados, Sovietes de Deputados
Trabalhadores.
O Soviete de Ekaterinburgo foi, então,
fundado e iniciou seu trabalho, sob a direção de Jakob Mikhailovitch.
Em um ato público gigantesco, Sverdlov conclamou
os trabalhadores de todas as fábricas de Ekaterinburgo a enviarem seus
representantes ao Soviete :
“ - Um
deputado deve ser eleito entre cada 50 e 100 pessoas. Esses deputados devem
formular um plano de luta”, escreveu Jakob Mikhailovitch em uma
conclamação do Comitê de Ekaterinburgo do Partido Operário Social-Democrático
Russo(POSDR), dirigida aos trabalhadores.
“ - Nossa
força encontra-se na unidade. Criemos um Soviete
de Deputados Trabalhadores e encarreguemo-lo da direção de nossa
luta.”
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU -
______________________________________
BREVES REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS DE
SVERDLOVA, KLAVDIA TIMOFEIEVNA
NOVGORODTSEVA
por Rochel von
Gennevilliers
Klavdia Timofeievna Novgorodtseva Sverdlova foi
uma ativa participante do movimento proletário-revolucionário da Rússia
Czarista e uma desvelada lutadora em prol da Grande Revolução
Socialista de Outubro.
Klavdia Sverdlova nasceu em 1876
e, entre 1894 e 1897, trabalhou como professora na Escola da Fábrica Sycert,
nos Urais.
De 1897 a 1899, estudou em Petersburgo, em
cursos de Educação e Pedagogia para Formação Física.
Retornando aos Urais, tomou parte ativa em
atividades clandestinas-revolucionárias de círculos marxistas.
Em 1904, filiou-se ao Partido Operário
Social-Democrático Russo(POSDR), aderindo, desde logo, ao bolchevismo.
No verão de 1904, foi eleita membro do Comitê de
Ekaterinburgo do POSDR, tornando-se, então, esposa e companheira de
vida de Jakob Mikhailovitch Sverdlov, máximo organizador revolucionário
político-prático bolchevique e Presidente da Primeira República
Socialista dos Conselhos de Trabalhadores, Soldados e Camponeses do
mundo contemporâneo.
Em 1906, foi eleita membro do Comitê de Perm do
POSDR.
Na qualidade de delegada eleita pelos bolcheviques dessa
cidade e sob o pseudônimo de “Yakovlev”, participou, ainda no
mesmo ano, dos trabalhos do IV Congresso da Unificação do POSDR.
Em razão de sua atividade revolucionária, foi, por
diversas vezes, submetida a prisões e exílios.
Entre 1906 e 1908, cumpriu pena de prisão em fortaleza.
Entre 1915 e 1917, juntamente com J. M. Sverdlov
– que havia sido exilado pelo czarismo na aldeia siberiana de Monastyrskoe
-, permaneceu na região de Turukhansk.
Regressando a Petrogrado, depois da Revolução
Democrático-Burguesa de Fevereiro de 1917, dirigiu, em 1917 e 1918, a
editora de livros “Priboi (O Incêndio)”, do Comitê Central
do POSDR (Bolchevique).
Em 1918, foi eleita membro do Comitê Executivo
Central do Partido Comunista Russo (Bolchevique).
Em 1924, ingressou na composição do Comitê de
Moscou do PCR (Bolchevique).
Entre 1920 e 1925, trabalhou em instituições de formação
educacional popular.
Capitulou, então, ao stalinismo contra-revolucionário e,
após a morte de Stalin, à burocracia soviética dos epígonos.
Sob a égide do regime stalinista, dirigiu, entre 1925 e
1931, o Departamento de Literatura Infantil e de Manuais da
União das Editoras Estatais da URSS (OGIZ) e, entre 1931 e 1944,
trabalhou como organizadora da renomada editora “Glavlit (Principais
Literaturas)”.
Sverdlova foi autora de diversos livros,
dedicados ao estudo da vida e obra do grande revolucionário bolchevique J.
M. Sverdlov, editados em 1939, 1945 – segundo as exigências e censuras de Stalin
- , e, com mais objetividade e precisão de dados, em 1957, 1960 e 1976, no
quadro da tímida reabilitação de vários revolucionários soviéticos, liquidados
pelo stalinismo contra-revolucionário e, no entanto, consagrados por sua
atuação na Revolução Proletária de Outubro e na Guerra
Civil Russa contra o Capital, o Latifúndio e a Intervenção Imperialista.
Permanecendo fiel, no ocaso de sua vida, à burocracia
soviética reciclada de Moscou e a seus representantes, foi
condecorada com a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho,
em 1954 – por ocasião de seus 50 anos de atividades políticas.
Faleceu, em 1957.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. NOVGORODTSEVA SVERDLOVA, KLADVIA TIMOFEIEVNA. Yakov Mikhailovitch Sverdlov, Cap.
V : Turukhansky Krai. Perepolokh v Okhrane (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. A
Região de Turukhansk. O Pânico da Polícia Secreta Czarista)(1957), Moscou :
Molodaia Gvardia, 3a. Edição, 1976, pp. 171 e s.
[2] Cf. IDEM. ibidem,
Cap. I : Tovarisch Andrei. Pervaia Vstretcha (O Companheiro Andrei. Primeiro
Encontro)(1957), Moscou : Molodaia Gvardia, 3a. Edição, 1976, p. 10.
[3] Cumpre anotar que Nikolai
Nikolaievitch Samiatin, nome de guerra N.N. Baturin, foi um
bolchevique da velha guarda e revolucionário profissional, bem como expressivo
escritor e historiador do Partido Comunista da União Soviética (Bolchevique).
Depois da Revolução de Outubro, realizou trabalhos científicos. Foi
reitor e professor da Universidade Comunista Revolucionária J. M.
Sverdlov, de Moscou, e membro do Colégio do ISTPART, Comissão de
Coletânea e Estudo dos Materiais acerca da História da Revolução de Outubro e
do Partido, junto ao Partido Comunista da União Soviética
(Bolchevique). Ao final de sua vida, capitulou ao stalinismo burocrático-operário
contra-revolucionário, sendo, entretanto, a seguir, eliminado por Stalin e
seus sequazes.