90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
JAKOB M. SVERDLOV NO EXÍLIO :
Recordações
BORIS
I. KRAEVSKY[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München
Julho de 2003 emilvonmuenchen@web.de
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No
curso dos longos anos de luta ininterrupta contra a autocracia, contra seu
arbítrio reacionário, nosso Partido forjou e solidificou suas fileiras e, em
seu interior, muitos líderes surgiram, sob cuja direção o proletariado
conseguiu não somente derrubar o trono czarista, senão ainda, durante o período
da Guerra Civil, acertar
contas com sua própria burguesia nacional e externar furioso ataque contra a
burguesia mundial.
Um desses líderes que bastante cedo avultou
perante nossos olhos, foi o nosso companheiro, fervorosamente amado, Jakob Mikhailovitch Sverdlov, i.e.
“Andrei”, conforme o chamávamos, nos anos de clandestinidade.
Esse pequenino homem, imperceptível a um
primeiro olhar, era vigoroso e forte como uma rocha de granito.
Seus longos anos de encarceramento nas redomas
czaristas, as chicanas dos carcereiros a que foi exposto, seus inúmeros exílios
na Sibéria, suas
fugas fracassadas, empreendidas a partir daquela região, em suma : todos os
sofrimentos, havidos em sua luta revolucionária, não exterminaram e nem
debilitaram seu encorajamento e sua energia, contidas em seu saudável espírito
revolucionário.
Pelo contrário : precisamente como havia de
ser, esses sacrifícios fortaleceram-no ainda mais, tornando-no ainda mais rijo,
ainda mais inflexível.
Desse modo,
forjou-se essa grandiosa figura, tão próxima de nós e por nós tão
apreciada : o nosso “Andrei”.
Em 1909, a Okhrana (i.e. a Polícia Secreta Czarista) exilou Jakob
Mikhailovitch na Sibéria distante, marcada pela penúria, onde
agonizavam milhares de prisioneiros revolucionários.
As condições do exílio eram tais que, em determinados
casos, os que a ele eram submetidos, desesperavam-se e perdiam toda a crença no
futuro.
Uma vez perdidas as esperanças, enclausuraram
a si mesmos, entre as paredes do filistinismo, mesmo ante a maré
revolucionária.
Isso não ocorreu com Jakob Mikhailovitch Sverdlov.
Desterrando-o para a Sibéria, a Okhrana
pretendia erradicar de “Andrei” seu entusiasmo revolucionário e, precisamente
por esse meio, torná-lo inofensivo.
Porém, prontamente a seguir, a Polícia
Secreta Czarista foi
forçada a reconhecer amargamente que suas expectativas haviam malogrado.
Tão logo Jakob Mikhailovitch chegou
à região de Narym, localidade
de sua proscrição, começou a tomar parte da organização de círculos formados
autonomamente e dedicados à arregimentação de exilados.
Em 1910, conseguiu fugir para Petersburgo,
onde novamente dedicou-se ao trabalho clandestino.
Naqueles anos, fugir da Sibéria ainda
era relativamente fácil.
Sem embargo, a despeito da facilidade de sua
fuga, teve logo de abandonar o seu passeio de “liberdadezinha clandestina” :
pouco tempo depois, foi novamente preso e, na primavera de 1910, todos nós,
situados no exílio, já sabíamos de sua captura.
Algumas semanas depois, recebemos informações
sobre seu reenvio ao exílio, na região siberiana de Narym, Provícia de Tomsk.
Ao longo de todo o seu percurso rumo ao
degredo, recebíamos, ininterruptamente, as mais precisas informações sobre “Andrei”.
Tanto assim que nem sequer havia ainda sido
encarcerado no Presídio
de Tomsk e já tinhamos conhecimento de que para lá estava
sendo conduzido.
Esperávamos com impaciência.
Recordo-me com clareza do momento em que nós
todos, exilados, aguardávamos pelo navio em que deveria chegar “Andrei”.
Mesmo que Jakob Mikhailovitch surgisse
apenas por tão pouco tempo diante dos nossos olhos, sabíamos que haveria de
conquistar, de imediato, a mais ampla popularidade e nosso mais profundo
apreço.
E eis que, ao receber a notícia sobre sua
imediata chegada, toda a colônia de exilados de Kolpashevo dirigiu-se, efusivamente, às margens do rio, a
fim de recepcionar o seu amado companheiro.
Porém, qual não foi a alegria – e, ao mesmo
tempo, decepção – que se apossou de todos os que fomos ao seu encontro, quando
ficamos sabendo, por meio de outros exilados, vindos naquele navio (parece que
por meio do companheiro Schischkov), que “Andrei” lograra escapar
da embarcação, na cidade de Tomsk, havendo restado tão somente alguns trapinhos de
sua vestimenta sovada, para serem contemplados.
Vem a pêlo observar que, naquele tempo,
existia um certo regulamento de exílio, segundo o qual os exilados que chegavam
a Tomsk podiam usufrir de diversas liberdades de locomoção pela
cidade, até longínquas localidades, situadas bem distantes de suas designações
de assentamento penal.
A bem da verdade, essas liberdades não eram
concedida a todos os exilados.
Mesmo sem delas gozar, Jakob Mikhailovitch
conseguiu, apesar de tudo, escapar de bem debaixo do nariz dos policiais.
Enfurecida com o descarado empreendimento de “Andrei”, a Admnistração da Polícia de Tomsk colocou todos e todo o possível em movimento,
a fim de agarrá-lo.
Baldados foram, porém, os esforços policiais.
Apesar de tudo isso, “Andrei” teve de retornar ao seu encarceramento prisional,
porquanto o Comitê
do Partido de Tomsk e a Cruz Vermelha consideraram sua fuga despropositada.
Temiam a idéia de que pudesse ela refletir-se
negativamente nas condições dos exilados, acarrentado o seu substancial
pioramento.
Jakob Mikhailovitch concordou, obviamente, com as ponderações
apresentadas para o seu retorno e, imediatamente, apareceu diante da polícia
que o procurava, declarando que seu desaparecimento havia sido causal : “Andrei” teria
descido do navio, com o objetivo de comprar alguma coisa para si mesmo e,
perdendo-se, atrasou-se para o reembarque.
Sem detença, já no navio seguinte, a Okhrana reconduzido-o
à aldeia de Kolpashevo,
desta feita mediante escolta, realizada por duas sentinelas.
Os exilados que lá se achavam receberam,
então, entusiasticamente Jakob Mikhailovitch.
Por insistência de nossa “comuna” -
composta por Ivan
Nikititch Smirnov, Vladimir Kosarev, Ivan Aborin, Medvedkov e
por mim -, Jakob
Mikhailovitch começou a esforçar-se por obter autorização de
permanência na aldeia de Kolpashevo, o que lhe foi, entretanto, resolutamente
denegado.
Assim sendo, foi obrigado a dirigir-se à
região siberiana de Narym e,
apenas depois de algumas semanas inteiras, conseguiu retornar à aldeia de Kolpashevo,
onde veio, então, a alojar-se junto a nós.
Jakob Mikhailovitch foi não apenas um extraordinário
revolucionário e um excelente organizador, senão também um companheiro
maravilhoso, seja no trabalho, seja na vida pessoal.
Essa sua última característica constituía uma
raridade entre os exilados.
Era muito atraído pelos esportes e ele mesmo,
enquanto esportista, foi excepcional.
Amava, particularmente, realizar competições a
cavalo, corridas com esquis e com saltos de cavalo.
Recordo-me de como nos vencia a todos nesses
jogos que organizávamos.
Na caça, era também o primeiro entre os nossos
melhores franco-atiradores, a despeito de sua miopia desesperadora.
Possuía uma certa capacidade especial de
aglutinar as pessoas.
Com a sua chegada, nosso quarto convertia-se
em um estado-maior e nele reuniam-se todos os exilados.
Por sua iniciativa e sob sua direção, começou
a ser empreendida uma forte campanha em prol da unificação e da organização dos
exilados, então dispersos e atomizados, por toda a região siberiana de Narym.
Constituiram-se conexões entre as colônias,
distanciadas umas das outras por diversas centenas de quilômetros.
Em cada ponto isolado, foram organizados
comitês que, por sua vez, surgiam unificados junto ao “Comitê dos Exilados da Região de
Narym”.
Jakob Mikhailovitch dedicava grande atenção ao desenvolvimento
autônomo e à melhoria das condições políticas dos exilados.
Desenvolveu uma rede inteira de círculos, no
qual inúmeras aulas e palestras foram ministradas, efetuando-se,
concomitantemente, a preparação de propagandistas e agitadores, dedicados ao
impulsionamento de ativo trabalho revolucionário.
A maioria das aulas-palestras era apresentada
por ele mesmo.
Jakob Mikhailovitch recebia inúmeras cartas e comunicações de
todos os cantos da Rússia.
Com ela, mantinha uma boa ligação,
modificando, assim, o fato de que houvéramos estado, até então, muito
debilmente conectados.
Passamos, então, a receber jornais, revistas e
uma quantidade regular de livros, de modo que pudemos criar, rapidamente, junto
a nós, uma sólida biblioteca.
Ao dinamizar uma ininterrupta correspondência
com toda a Rússia,
Jakob Mikhailovitch tinha em vista clarificar o estado das
organizações partidárias, nas quais percebiam-se certas insuficiências nos
quadros militantes.
Empreendendo o trabalho de localização de
pessoas adequadas, direcionava a atividade de deslocamento destas para as
organizações deficientes, a fim de que impulsionassem mais firmemente o
trabalho clandestino.
Todo essa tarefa de Jakob Mikhailovitch
não se processava bem ao agrado do serviço secreto czarista.
Além disso, propagaram-se informes escritos
que íam da aldeia de Kolpashevo para a cidade de Narym e da cidade de Narym para a cidade de Tomsk, nos quais referia-se, de todas as formas e
maneiras, o nome de “Andrei”,
até que, em um belo dia, sem qualquer tipo de pretexto, prenderam-no e
transferiram-no para o Presídio de Tomsk.
Depois de manter Jakob Mikhailovitch nessa
prisão durante vários meses, os membros da Polícia Secreta Czarista decidiram transportá-lo para
Maksimkin
Yar, ponto mais distante e sombrio da região siberiana de
Narym.
A esse tempo, em toda a cidade de Narym, difundiram-se
boatos de que já estavam tomando medidas e se reunindo para libertar “Andrei” do
cativeiro.
O Comissário de Polícia de Narym, chamado Ovsianikov, a cujos ouvidos tais boatos haviam chegado
agiu também prontamente, convocando os representantes da colônia de exilados de Narym para
prestarem esclarecimentos.
Declarou-lhes que uma semelhante tentativa de
libertação forçada não levaria a nada, a não ser à piora das condições dos
exilados e, igualmente, do próprio Jakob Mikhailovitch.
Os representantes da colônia fizeram cessar
tais boatos, demonstrando a sua mais inteira falsidade.
Em verdade, entre nós, a cicatriz já estava
intumescendo.
Nossa colônia, encabeçada por Ivan Nikititch Smirnov
estava prestes a empreender um assalto contra o “katalajk“ (i.e. o quarto de prisioneiro), em que haviam,
a título temporário, enclausurado, Jakob Mikhailovitch, antes de efetuarem sua tranferência para Maksimkin
Yar [2].
Durante a permanência de Jakob Mikhailovitch
nesse “katalajk”,
Ivan Nikititch Smirnov e eu visitávamo-lo, diariamente, e
desfrutávamos todos juntos as horas do dia, tratando de diversas questões.
Pensamos, então, colocá-lo já a par do nosso
plano de repentina investida contra seu “katalajk”.
Jakob Mikhailovitch ouviu, atenciosa e rigorosamente, a exposição
de Smirnov e,
quando esse último concluiu sua argumentação, deu uma sacudida em sua cabeça
posta em desordem e, como se despertasse de um sono, ajeitou seus óculos
caídos, abraçou-nos pela nuca e pela cabeça, apontando-nos, sem palavras, os
sentinelas de escolta, postados por detrás da porta e, em voz baixa, murmurou :
“- Nisso, consumiríamos muito sangue e o resultado seria duvidoso.
Para os exilados que permanecessem, tal ato não se revelaria importante.”
Anoto, porém, de passagem, que, entre outras
coisas, segundo o nosso plano, os organizadores da fuga deveriam fugir
juntamente com “Andrei”.
Seja como for, nosso plano acabou sendo,
porém, abandonado.
Parece-me que Jakob Mikhailovitch permaneceu
nesse “katalajk”, situado na localidade de Togur, por cerca de 4 ou 5 meses.
Durante todo esse período, conseguimos com ele
conversar sobre muitas e muitas coisas.
Repassou-nos inúmeros contatos com a Rússia, exigiu
que os apoiássemos constantemente e informássemos a ele próprio, havendo a mais
ínfima possibilidade, todas as ocorrências havidas.
Ali mesmo, elencou uma série inteira de companheiros que,
segundo sua opinião, deveriam ser enviados para impulsionamento de trabalho
clandestino.
Nesse quadro, recomendou-nos quem deveria ser
enviado para onde, de quem receber dinheiro para a organização de fugas etc.
Jakob Mikhailovitch possuía uma memória incrível.
Recordo-me do modo como nos surpreendeu ao
elencar uma série inteira de nomes, sobrenomes, nomes de guerra e também
endereços de companheiros, dispersos por todos os rincões da Rússia, tendo em conta o fato de que
jamais mantinha anotações escritas sobre eles.
Em nossas visitas a Jakob Mikhailovitch, levantamos,
por diversas vezes, a questão referente à sua futura fuga.
Porém, na medida em que desconhecíamos a
situação existente em sua futura localidade de exílio, i.e. em
Maksimkin Yar, tornava-se-nos dificultoso adotar qualquer decisão definitiva que
fosse, antes de sua chegada ao local designado.
De modo inteiramente provisório, estabelecemos com “Andrei” códigos a serem repassados
mediante alguns livros, fornecemos-lhe limões e diversos ácidos para as cartas,
a serem elaboradas com produtos químicos, e combinamos que iríamos preparar,
gradativamente, a sua fuga.
Por ocasião de sua chegada em Maksimkin Yar, haveria ele mesmo de elaborar
um plano, o qual nos seria enviado, a seguir, para execução.
Repassamos-lhe também parte de nossa biblioteca e, por fim, em um belo
e autêntico dia de outono siberiano, despedimo-nos de “Andrei”, que zarpou rumo a um lugar
distante e desconhecido.
Com efeito, a expedição que o levava para Maksimkin Yar compunha-se de duas grandes
embarcações à vela.
Uma delas encontrava-se carregada com todos os utensílios domésticos
necessários.
Nela, viajavam também as mulheres dos sentinelas que escoltavam Jakob
Mikhailovitch.
A segunda embarcação transportava o próprio Jakob Mikhailovitch e três sentinelas bem
armados.
Além disso, em cada uma das embarcações, encontrava-se ainda dois pares
de remos suplementares.
Toda a colônia de exilados de Togur e parte da de Kolpashevo, independentemente de
afiliações partidárias, foram até às margens do rio, para assistirem à partida
da expedição e despedirem-se de “Andrei”.
Destaque-se que, entre a aldeia de Kolpashevo e Togur, havia nada menos do que 13 ou
14 quilômetros.
Os sentinelas de escolta, que ali estavam presentes, logo demonstraram
seus rostos irritados e aborrecidos.
O próprio Jakob Mikhailovitch, seguindo seu costume de
sempre, achava-se tranqüilo, sorria e fazia ironias sobre o destino da “expedição
festiva”.
Tão somente após alguns meses posteriores à sua transferência de Togur, recebemos de “Andrei”
uma carta,
pelas mãos dos navegadores que haviam tomado parte na expedição.
Já haviam regressado pela rota terrestre de inverno, com os cães de
trenó.
Em sua carta, Jakob Mikhailovitch descrevia, detalhadamente, o
roteiro que percorrera em Maksimkin Yar, com o objetivo de
familiarizar-nos com o sendeiro ao longo do qual teríamos de realizar nossa “expedição”, rumo ao seu encontro.
Julgando-se pela sua carta, toda população de
Maksimkin Yar era constituída por duas ou três dezenas de humildes ostiakovs, duas dezenas de samoiedovs, dois kuitsovs russos (i.e. dois mercadores
caucasianos convidados), que negociavam peles, um padre ortodoxo muito
primitivo, acompanhado de sua esposa e - tal como de costume – toda uma “coleção”
de crianças[3].
Jakob Mikhailovitch alojou-se na casa do padre, onde
também residia um velho sentinela de escolta.
Quando deciframos sua carta à luz de uma lâmpada, conseguimos
contemplar uma exposição detalhada de suas reflexões sobre a futura fuga.
Assinalava que não caberia especular com a organização de uma fuga no
inverno.
Em primeiro lugar, porque agora, giravam em torno dele, durante dia e
noite, um dos três sentinelas de escolta, e, em segundo lugar, porque uma fuga
de inverno poderia ser empreendida apenas com a utilização de esquis.
Sem treinamentos práticos rotineiros, tentar escapar sobre esquis, ao
longo de centenas e centenas de quilômetros, implicaria correr um risco muito
grande de morrermos congelado, no meio da floresta siberiana, ou sermos
assassinados.
Por essa razão, propôs-nos que nos preparássemos para uma fuga no
verão, utilizando barcos.
Em conformidade com esse plano, deveríamos obter uma embarcação para
oito ou dez pessoas, adquirir armamentos e munições de combate - mesmo porque a
viagem envolveria perigos -, de modo que pudéssemos defrontar-nos com grandes
animais selvagens.
De resto, cumpriria providenciar suficiente número de lutadores
implacáveis e, então, metermo-nos a caminho, por ocasião do recebimento de suas
mais precisas instruções.
Nas cartas subseqüentes, Jakob Mikhailovitch remeteu-nos um plano mais bem
elaborado e, até mesmo, um mapa bosquejado pela sua própria mão, estampando o Rio Ket com seus afluentes
enfileirados, assim como um plano sobre a situação geográfica de Maksimkin
Yar, dotado
de observações marginais referentes à casa do padre e à janela, do lado da qual
dormía.
Quanto a nós, deveríamos desembarcar, tendo-nos aproximado a 5 ou 8
quilômetros de distância do local, camuflarmo-nos no meio da floresta siberiana
e, durante a noite, estabelecer contato com Jakob Mikhailovitch, em um momento noturno
previamente convencionado, para então, secretamente, empreendermos a fuga.
Na hipótese de as sentinelas adormecidas investirem, repentinamente,
contra nós, movendo-se em nosso encalço, haveríamos de recorrer às armas.
A direção da organização da fuga foi assumida por Ivan Nikititch Smirnov.
Dinheiro era a primeira coisa que nos faltava.
Evidentemente, nenhum de nós o possuía.
Não era possível obtê-lo de nenhum lugar.
Assim sendo, Smirnov passou a reunir o grupo de companheiros que
deveria participar da fuga (Smirnov, Aborin, Ivan, Medvedkov, Boshvinov, mais
dois companheiros - de cujo nome não me recordo - e eu) e, assim, tão logo escurecia,
dirigíamo-nos à floresta siberiana, a fim de recolhermos “ossokops” - i.e. álamos negros, crostas de choupo, utilizado para
fazer flutuar redes de pesca – que, a seguir, seriam vendidos.
O trabalho era diabolicamente pesado, de modo
que tivemos de trabalhar como bois, apressando-nos para terminar tudo até o
início da reabertura do período de navegação.
De posse do dinheiro auferido com o produto de
nosso trabalho, conseguimos adquirir todas as coisas necessárias para a
execução da fuga, conforme o plano traçado por Jakob Mikhailovitch.
Passamos, então, a embrenhar-nos pela floresta
siberiana duas vezes por semana, de tal sorte que nossos sentinelas viessem a
se acostumar com a nossa relativa ausência.
Concomitantemente, treinávamo-nos, intensamente,
nos remos, ao longo de várias horas, uns após os outros.
Segundo nossos cálculos, haveríamos de
realizar o caminho de regresso de Maksimkin Yar a bordo de um barco, navegando
dia e noite, percorrendo rio abaixo, em média, 16 a 18 quilômetros por hora, sempre
a favor da correnteza.
Desse modo, deveríamos navegar até a aldeia de Kolpashevo e, a partir daí,
movimentarmo-nos, então, já mesmo embarcados em um navio.
A despeito de todas as dificuldades existentes no caminho durante o
inverno, conseguimos, plena e inteiramente, manter permanente conexão com Jakob
Mikhailovitch.
Todas as cartas vindas da Rússia e a ele dirigidas – assim como as dele provenientes e endereçadas à Rússia -, circulavam através de nós, de
sorte que encontrávamo-nos sempre a par de todas as suas questões.
Em julho de 1911, há poucos dias de nossa pretendida partida para Maksimkin
Yar,
recebemos, porém, de Jakob Mikhailovitch um curto manuscrito com o pedido
de não irmos ao seu encontro.
Informou-nos que ficara doente e sentia-se extremamente fraco.
Em Maksimkin Yar, ninguém podia prestar-lhe
auxílio médico, visto que ali não existia nem mesmo uma enfermeira.
Assim, receava que não se encontraria em condições de fugir.
Por esse meio, acrescentou também que, dia-a-dia, aguardava-se a chegada
de uma navio que, uma vez ao ano, aportava em Maksimkin Yar, trazendo provisões para a
população local.
Nesse navio, Jakob Mikhailovitch pretendia fugir.
Tendo recebido essa carta, os companheiros de Narym passaram a pressionar ainda
mais o Comissário
de Polícia, Ovsianikov, desejando
dele obter uma decisão permissiva do regresso de Jakob Mikhailovitch para
a cidade de Narym.
As tratativas desse tema foram conduzidas ao
longo de todos os meses subseqüentes do ano.
O Comissário Ovsianikov não concordava, porém, em nenhuma hipótese,
com o retorno de Jakob
Mikhailovitch, apesar de ter-lhe sido expressamente formulada
a promessa de que “Andrei”
não voltaria a fugir.
Graças à grande pressão da colônia de exilados
de Narym,
exercida sobre Ovsianikov, Jakob Mikhailovitch veio
a ser entregue, em agosto de 1911, novamente à cidade de Narym.
Transcorrido um certo tempo, eu mesmo consegui
fugir e, mais uma vez, depois do desmantelamento da organização de Samara, no
início de 1912, tive de regressar ao exílio.
Já então, foram desterrados, juntamente
comigo, Isaak
Zelensky e Leonid Serebriakov.
No fim de 1912 e início de 1913, eu já havia
chegado ao meu exílio, em Kolpashevo.
Cumpre observar, porém, que, no curso desses
anos, ocorrera uma grande modificação na composição qualitativa dos exilados.
Os exilados que haviam sido desterrados após
1905 e 1906, já haviam conseguido partir, devido ao encerramento do tempo
cominado para seus respectivos banimentos.
O clima de liquidacionismo, que teve lugar nos
anos de 1909 e 1910, havia já inteiramente desaparecido,
Nesse novo momento, Jakob Mikhailovitch vivia
já em Parabel, a
30 quilômetros da cidade de Narym, e possuía a possibilidade de viajar, livremente,
pela colônia, dar aulas, proferir palestras, organizar círculos.
Por diversas vezes, durante o inverno,
dirigiu-se até nós, em Kolpashevo, onde se alojava na habitação de Olga Dilevska.
Da nossa antiga “comuna”, havia
apenas restado Ivan
Aborin e eu.
Smirnov havia fugido, Kosarev encontrava-se vivendo em Narym, outros companheiros também haviam partido.
Nesses dias, em torno de Olga Dilevska
reunia-se um círculo inteiro de valorosos companheiros (Olga Dilevska,
p.ex., foi fuzilada por Koltchak).
Vindo a Kolpashevo, Jakob Mikhailovitch mantinha
conosco longas conversações.
Naquele então, nutriu a idéia de criação de
uma organização especial para articulação de fugas, mesmo porque, até esse
momento, as fugas haviam adquirido um caráter não propriamente organizado e,
por esse motivo, fracassaram, na maioria dos casos.
Com base em proposta sua, fui
eleito organizador dessas fugas, tanto para aquelas a serem realizadas na rota
de inverno, quanto para as outras, relacionadas com a rota de verão.
A nova organização contribuiu para a fuga de
muitos companheiros.
Então, já emergira a idéia de planejamento de
uma nova fuga de Jakob
Mikhailovitch, porém, em virtude de não havermos ainda
experimentado suficientemente a rota de inverno, decidimos postergar sua fuga
até o verão vindouro.
Contudo, Jakob Mikhailovitch decidira-se
por fugir e nós, com muitas dificuldades, detivemo-lo, até o início de junho de
1913.
Depois da fuga de diversos companheiros pela
rota de verão, fortaleceu-se, novamente, a vigilância sobre os exilados e, em
particular, sobre Jakob
Mikhailovitch.
Parece-me que, em fins de junho, recebemos um
carta do companheiro Leonid Serebriakov, o qual vivia em companhia de Jakob Mikhailovitch,
em Parabel,
informando-nos que esse último teria de embarcar no navio “Kolpashevets”,
indo da cidade de Narym a
cidade de Tomsk.
Sua fuga foi, então, detalhadamente conspirada
e organizada por Leonid
Serebriakov e, pelo que sei,
também com a participação do companheiro Ivan Tchugurin.
Não existiam contatos com o interior do navio
referido.
Jakob Mikhailovitch haveria de ser colocado em uma cabine de
primeira classe e dela não sair, até a sua chegada a Tomsk.
Porém, quando o navio atracou nas margens de Kolpashevo,
foi recepcioná-lo um grande destacamento de sentinelas que entabulou uma
conversação qualquer com o capitão da embarcação.
Tornou-se-me imediatamente claro que alguma
coisa não estava em ordem.
Três sentinelas postaram-se junto à entrada do
navio.
Depois do terceiro sinal de partida, teve início
uma busca no interior do “Kolpashevets”.
Sem embargo, eu e Olga Dilevska conseguimos, lançando mão de todos os meios
justos e injustos, penetrar dentro do navio precisamente no momento em que
haviam iniciado uma busca na cabine de primeira classe.
Nas primeiras duas cabines, a perseguição
permaneceu sem produzir resultado algum, apesar do rigoroso procedimento de
procura.
Precisamente na terceira cabine, encontraram Jakob Mikhailovitch,
deitado debaixo de um banco.
Era manifesto o fato de que fora o capitão do
navio quem denunciara “Andrei”, dado que os sentinelas não se surpreenderam
minimamente ao tê-lo finalmente localizado e aprisionado.
Quando saiu da cabine, Jakob Mikhailovitch
avistou-nos, logo de imediato.
Dirigiu-se até nós, saudou-nos e, sorrindo
amavelmente, exclamou, de modo plenamente audível :
“ - Mas, imaginem vocês ! Eu quase que fiquei para
dormir, aqui em Kolpashevo.”
Depois disso, desembarcou, relaxadamente,
acompanhado por nós, em face de não pouco espanto de todos os presentes.
Dirigimo-nos, então, à habitação de Dilevska, onde
ingressamos, imediatamente, na análise de um novo plano de fuga.
Recordo-me de que propûs, então, um plano, a
seguir sufragado por Ivan Aborin.
Referido plano consistia no seguinte :
Jakob Mikhailovitch deveria navegar com um “barquinho”
até Novalinsk,
situada a 28 ou 30 quilômetros da aldeia de Kolpashevo.
Lá em Novalinsk, embarcaria no navio “Tiumen”, no
qual existiriam contatos confiáveis, a serem mantidos com a equipe de máquinas.
Segundo os nossos cálculos, o “Tiumen” ancoraria
no início de agosto, em conformidade com o velho calendário juliano.
Seria o companheiro Kapiton, de
cujo sobrenome não me recordo, excelente remador, quem dirigiria o tal “barquinho”.
Entrementes, a espionagem realizada sobre os
exilados tornara-se cada vez mais forte.
A cada dia que passava, revelava-se cada vez
mais complicado empreender uma fuga, cada vez mais perigosa, efetuar a “expedição” em tela, tanto mais porque o clima começava a piorar.
Porém, Jakob Mikhailovitch não
esperou um só minuto : ardia-lhe impertubavelmente o desejo de por mãos à obra.
Detê-lo, havia-se tornado impossível.
E, com efeito, ”Andrei” tinha razão : o “Tiumen” era o último navio daquele ano.
Na hipótese de não o utilizarmos naquele
momento, resultaria inevitável determo-nos novamente diante do período de mau
tempo do outono, até o fim do inverno, permanecendo, assim, mais uma vez, por
meses e meses a fio, sem correio e jornais, apartando-nos, renovadamente, do
movimento revolucionário.
Concordamos, então, com Jakob Mikhailovitch,
com sua frenética perseverança, e, em uma certa noite, Ivan Aborin e
eu arrastamos um “barquinho” para o local combinado.
Lá, já esperávamos por ”Andrei” e
pelo companheiro Kapiton.
A noite revelava-se assustadora, flatulenta e
tenebrosa.
Não se podia ver absolutamente nada.
Já resultava até mesmo desagradável permanecer
junto às margens do rio, para nem falar em sair navegando em um “barquinho”.
Com isso, haveria de concordar, a meu ver, até
mesmo o mais ousado esportista do mundo.
A despeito de tudo isso, Jakob Mikhailovitch não suspendeu, porém, absolutamente sua
viagem.
Despedindo-se de nós, sentou-se no “barquinho”,
juntamente com Kapiton, e
empurramo-lo das margens do rio para o mar aberto.
Passados alguns momentos, desapareceram em
meio à escuridão.
Depois de três dias, fundeou, em Kolpashevo, o
“Tiumen”, i.e.
aquele mesmo navio em que Jakob Mikhailovitch haveria de fugir, ao vir de Novalinsk.
Imediatamente, dirigi-me, então, à casa de
máquinas e imaginem vocês qual não foi a minha angústia, ao me informarem que,
naquele navio, não se encontrava nenhum Jakob Mikhailovitch.
Tornou-se claro o fato de que o “barquinho” havia
sofrido uma avaria.
Vivemos alguns dias lancinantes, até que
ficamos sabendo por Leonid
Serebriakov, escrevendo-nos da aldeia de Parabel, que
Sverdlov encontrava-se
vivo.
Com efeito, havia naufrago a três quilômetros
da aldeia de Parabel.
A questão toda havia sido que, tão logo o “barquinho” distanciou-se
das margens do rio, resultara evidente para Sverdlov e Kapiton que
navegar correnteza acima era mesmo impossível.
Decidiram, então, mudar o itinerário e navegar
correnteza abaixo, acreditando que, pelo caminho, cruzariam com o “Tiumen”.
Logrando alcançá-lo, nele embarcariam e
seguiriam, no curso ascendente da correnteza.
Assim, deslocaram-se até Parabel.
Nessa localidade, ocorreu-lhes, porém, uma
desgraça : sob o ímpeto de ondas tempestuosas, seu “barquinho” virou.
Com isso, tiveram de nadar cerca de três
quilômetros, na tentativa de aproximarem-se da margem, até que alguns
pescadores os observaram e os arrastaram para junto da orla.
Logo após o fracasso dessa última fuga, Klavdia Timofeievna
Novgorodtseva-Sverdlova, esposa do companheiro Sverdlov, bem
como seu filhinho – o “Andreizinho”, tal como o chamávamos – vieram ao encontro de Jakob Mikhailovitch.
A chegada de ambos foi muito oportuna, visto
que, desde essa última tentativa de fuga malograda, a vigilância czarista sobre
Sverdlov havia
novamente sido fortalecida, em muitos aspectos.
A presença de sua família veio a proporcionar,
então, mais tranqüilidade às autoridades policiais.
Entretanto, já nessa época, estávamos
organizando uma fuga de inverno.
Assim, acertamos com os companheiros
revolucionários de Parabel
que, tão logo se estabelecesse o tempo invernal, trouxessem-nos Sverdlov para Kolpashevo, após o que nos incumbiria transportá-lo para a cidade de
Tomsk.
Já no primeiro correio do inverno, informaram-nos,
a partir de Parabel,
que já se encontrava predeterminado o dia da partida e, até mesmo, alugados
alguns cavalos.
Em consonância com a própria ordem das datas
estipuladas, colocamos nossos charreteiros postais em prontidão, a fim de que
preparassem as necessárias trocas de cavalos, ao longo de todo o percurso que
ía de Kolpashevo a Tomsk.
Para a fuga em tela, utilizamos charreteiros
postais oficiais, i.e. aqueles que se ocupavam do transporte de
correspondências.
As autoridades policiais czaristas
aperceberam-se dessa fuga de Sverdlov apenas no
segundo dia após a sua ocorrência, quando então partiram, de imediato, no seu
encalço.
Os sentinelas de escolta largaram em galope,
como verdadeiros loucos, aspirando a que “Andrei” não conseguisse nem sequer atingir a aldeia de
Kolpashevo.
Acossavam a sua pegada, irascivelmente.
E, eis que, na tarde daquele mesmo dia,
sucedeu-nos algo curioso : uma dessas curiosidades de que recordamos depois com
muitas gargalhadas, mas que, no momento de seu acontecimento, ficamos muito
longe de ao menos pretender gracejar.
Encontrávamos juntos com Jakob Mikhailovitch na
habitação dos Dilevsks e,
com todo a serenidade do mundo, sorvíamos lentamente o nosso chá, conversando,
com muita animação.
De repente, foi a nossa porta escancarada e,
por ela, entrou correndo nosso companheiro encarredao da guarda, avisando-nos
da chegada da polícia.
Desaparecer daquela habitação já se tornara
inteiramente impossível, porquanto a noite estava muito límpida e
encontravam-se, ao nosso redor, acumulações profundas de neve.
Ademais disso, a polícia já havia chegado à
casa em que estávamos.
O que se haveria de fazer em tal caso ?
Em um piscar de olhos, levantamos, então, um
colchão de palha, situado sobre uma cama de madeira, e Jakob Mikhailovitch esgueirou-se
para debaixo dele.
A seguir, Olga Dilevska ajeitou o estrado, rapidamente, e deitou-se
sobre a cama, cobrindo-se compactamente com cobertores.
Todos os demais presentes – i.e. a mãe de Olga, Ivan Aborin, Kosarev e
eu (parece-me que lá se encontrava também Zakhar Volfson) permanecemos sentados à mesa, continuando a
beber o nosso chá.
Em poucos minutos, entraram os sentinelas.
Revoltados, saltamos de nossas cadeiras e
desfraldamos uma barulhada :
“ - Mas, que falta de respeito !
Até durante a noite, vocês não nos dão sossego !
Nessa casa, temos uma pessoa doente e vocês não ligam nem mesmo para isso !
”
Os policiais invasores limitaram-se, então,
tão somente a uma busca superficial, executada no interior da habitação e na
adega, depois do que logo se retiraram para longe.
Após essa ocorrência, decidimos manter Jakob Mikhailovitch
conosco ainda por mais dois dias, a fim de dissiparmos os vestígios : os
sentinelas de escolta seguiram a sua pista, ainda durante todo o tempo em que
permaneceu, calmamente, na aldeia de Kolpashevo.
A tarefa de deslocamento de Jakob Mikhailovitch da
aldeia de Kolpashevo
para a cidade de Tomsk foi assumida por nosso charreteiro postal de Novalinsk, de nome Alesch.
Foi desse modo que enganamos os sentinelas de
escolta e Jakob
Mikhailovitch atingiu, em boas condições de saúde, a cidade
de Tomsk.
A fuga demonstrara-se inteiramente exitosa.
A partir de Tomsk, “Andrei” alcançou, então, a cidade de Petersburgo,
sem qualquer tipo de incidente adicional.
Logo depois da fuga em realce,
transferiram-me, por motivo de doença, para Tomsk.
Para lá, dirigiram-se também Kladvia Timofeievna
Novgorodtseva-Sverdlova, acompanhada sempre do “Andreizinho”.
A seguir, decidiu partir para Petersburgo.
Fui acompanhá-la, então, até à estação
ferroviária.
Ali, fervilhavam espiões, agitando-se feito
uma casa de maribondos.
No vagão, em que Kladvia Timofeievna
embarcou, irromperam diversos espiões.
Transcorridas algumas semanas após a partida da
esposa de Sverdlov,
recebemos a notícia de que ele havia sido novamente capturado.
Dessa vez, tudo ocorrera na casa do deputado
bolchevique Gregory
I. Petrovsky.
Malinovsky, um agente secreto de espionagem e também
deputado bolchevique na Duma do Estado,
coordenou a prisão de Jakob Mikhailovitch, tal como viemos a elucidar posteriormente.
Já me encontrando em fuga, vim a saber que Jakob Mikhailovitch
havia sido transferido para a Região de Turukhansk, depois de diversos meses de
reclusão carcerária.
À época de minha chegada ao exterior da Rússia, recebi algumas cartas de Olga
Dilevska, nas
quais descrevia a penosa situação em que se encontrava Jakob
Mikhailovitch.
Dele mesmo, recebi apenas duas cartas.
Porém, ainda mais uma vez, vim a encontrá-lo depois de meu regresso à Rússia, na virada de junho para
julho de 1917.
Eis aqui, pois, umas poucas páginas, dedicadas à vida de nosso querido
companheiro Jakob Mikhailovitch Sverdlov.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. KRAEVSKY, BORIS IZRAILEVITCH. Yakov Mikhailovitch v Ssylkie (Jakob Mikhailovitch
no Exílio), in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei
(Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART
: Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i
R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 57 e
s.
[2] Cumpre anotar que o
antigo vocábulo “katalajk”, uitilizado no léxico da Rússia
Oriental, deve ser traduzido, no presente caso, como “quarto de
prisioneiro”. Nesse sentido, vide, mais precisamente, PAVLOVSKY, I.
J. Russko-Nemetskii Slovar (Dicionário Russo-Alemão), 3a. edição,
inteiramente reelaborada, corrigida e completada, Riga-Leipzig : N. Kimmelia –
Carl Friedrich Fleischer, 1900-1902, p.536.
[3] Cumpre observar que com
a expressão ”ostiakovs” eram designados, então, os membros
componententes de um determinado povo ugro-finlandês que habitava o noroeste da
Sibéria. Posteriormente, no quadro do surgimento da União
Soviética, vieram eles a ser denominados de “khanty”. Vide
BLATTNER, KARL / ORSCHEL, HANS. Izdanie Langenscheidta Karmanyi Slovar.
Russkovo i Nemetskovo Iazykov (Dicionário de Bolso Langenscheidt das Línguas
Russa e Alemã), 4a. Edição, Berlim – Munique – Viena – Zurique : 1960, pp. 288
e 521. No momento histórico em questão, eram designados ”samoiedovs” os
membros componententes também de um certo povo situado no noroeste da Sibéria.
Posteriormente, no quadro da União Soviética, os “samoiedovs”
passaram a ser denominados “nientsa”, tendo sua
localização na região siberiana de Taimy. Vide IDEM. ibidem,
p. 257 e 419.