90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
J. M. SVERDLOV
NO PERÍODO DA REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO A OUTUBRO
DE 1917 :
O VI CONGRESSO DO POSDR (BOLCHEVIQUE)
LARISSA
R. MENJINSKAYA[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München,
Junho de 2003 emilvonmuenchen@web.de
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Minhas
recordações de Jakob
Mikhailovitch Sverdlov concernem, principalmente, ao período da Revolução de Fevereiro de 1917.
Nesse contexto, ocorreu-me avistá-lo, em junho de 1917, por
algumas vezes, quando freqüentei a Secretaria
do Comitê Central e executei diversas ordens.
Aqui, terei de utilizar, em grande parte,
também as recordações de minha irmã, Vera Rudolfovna Menjinskaya, uma das secretárias do Comitê Central, naquele tempo.
Em fins de junho, iniciou-se meu trabalho
realizado diretamente na Secretaria.
O tempo apagou muito das minhas recordações
que, em parte, perderam o seu brilho.
O presente artigo constitui, assim, um
fragmento das memórias que me assaltam a recordação.
INÍCIO
DE JUNHO DE 1917 – O PALÁCIO KSHESSINSKAYA
A Secretaria
trabalhava tranqüila e regularmente, das 10 horas da manhã até às 9 horas da
noite, caso não existissem assembléias a serem realizadas ali mesmo, no Palácio Kshessinskaya, em que devessem intervir companheiros que a
integravam.
Em comparação com os meses precedentes, nos
quais o traballho prolongava-se ao longo de dias e noites, tudo parecia estar
transcorrendo em boa ordem.
A sala de refeições encontrava-se situada no
térreo e havia efetiva possibilidade de fazermos pausas para alimentações.
Porém, isso tudo apenas em comparação com o
período anterior.
Pois, na realidade, ali surgia um ininterrupto
caleidoscópio de fisionomias, dotadas de suas próprias perguntas e
reivindicações das mais variadas espécies.
O Comitê Central dirigia o trabalho da Secretaria
através de três companheiros, membros daquele organismo : os companheiros Stalin, Sverdlov e Smilga.
Porém, era Sverdlov quem penetrava mais profundamente em todas as
questões.
O traço fundamental de seu trabalho era o de
concluir, rápida e resolutamente, todos os problemas.
Jamais deixava para o dia seguinte a decisão
que havia de ser tomada, na hipótese de esta depender exclusivamente da Secretaria.
Acerca das cartas e perguntas que
chegavam das províncias, Sverdlov sempre redigia uma pequena resolução,
transformada, então, pela Secretaria em
carta a ser enderaçada às
organizações.
Do mesmo modo, transcorria rapidamente o
atendimento dos companheiros, provenientes das localidades.
Se Sverdlov se encontrava
presente, impulsionava ele mesmo todas as conversações, nas quais,
inicialmente, formulavam-se perguntas
aos companheiros recém-chegados, concedendo-se-lhes, às vezes,
a possibilidade de se desviarem da conversa, procurando, no quadro de evasivas
inoficiosas, colher aspectos fortes e fracos da organização em causa.
Além disso, sacavam-se rápidas conclusões.
Estas resultavam em conselhos.
A seguir, Sverdlov passava ao próximo atendimento.
Demonstrava-se preocupação histórica com a
preservação de todos os fatos ocorridos na Secretaria.
Durante o atendimento, era realizada uma ata de tudo o que era comunicado precedentemente
pelo companheiro e formulavam-se conclusões,
elaborando-se a partir daí um “informe”, sendo que apenas essa
expressão era empregada naquele tempo.
As cartas
recebidas e os esboços
de respostas eram colocados em uma pasta, sendo que o
companheiro Vesselovsky
possuía a tarefa especial de manter
o arquivo em ordem e registrar, em um grande livro, o balanço das nossas conquistas,
ocorridas nas localidades.
Nada obstante, essas condições satisfatórias
eram freqüentemente perturbadas pela pressão da vida que não levava em conta a
pequena quantidade de colaboradores da secretaria e, por inúmeras vezes, nem
mesmo o próprio Sverdlov,
embora fosse ele mesmo o que estabelecia a maioria das regras de funcionamento
daquele organismo.
Assim, p.ex., estava estabelecido que Sverdlov
deveria conduzir o atendimento dos companheiros em presença das secretárias, o
que nos concederia a possibilidade de elaborar a ata e estar a par de todas as conversações.
Porém, costumava ocorrer de Sverdlov recepcionar sozinho o companheiro recém-chegado,
esquecendo-se do que havia sido estabelecido antes, e dele se despedir, já
depois de anotar seu endereço ou alguns detalhes da conversação.
“- Jakob Mikhailovitch, por que é que você está violando então as nossas
regras ?”, perguntávamos.
Em face disso, Sverdlov transmitia, então, em duas palavras, o
conteúdo da conversação e passava ao atendimento do próximo companheiro.
Sua vivacidade, despida de inquietação,
conferia-lhe a possibilidade de distribuir-nos a massa de assuntos a partir do
minuto em que surgia no Palácio Kshessinskaya, processar o material da Secretaria, com grande
interesse e facilidade, e, além disso, dirigir-se à reunião vespertina, a qual
haveria de presidir ou nela intervir.
Naquele tempo, a atmosfera encontrada junto aos bolcheviques era muito
positiva, favorecendo, assim, a intensidade do trabalho, fato esse que podia
ser atestado por qualquer um.
Bastava surgir Jakob Mikhailovitch e todos ficavam entusiasmados.
Tudo realizava tão facilmente, tão
rapidamente, distinguindo-se por sua ausência de detalhes, que também às outras
pessoas resultava fácil e animado trabalhar nesse extraordinário desembaraço e
completa imparcialidade, desenvolvidos entre os seus colaboradores.
Naquele então, toda a secretaria era composta,
em seu conjunto, por duas secretárias
do Comitê
Central, a saber : as companheiras Helena D. Stassova e Vera R. Menjinskaya.
Além disso, ali também atuava o companheiro Vesselovsky na qualidade de secretário.
Evidentemente, existia a possibilidade de
cometer erros, tanto mais porque, em uma série de questões, era necessário
recorrer a companheiros que trabalhavam no Comitê de Imprensa – valiamo-nos
do fato de que o Comitê
Central e o Comitê de Imprensa situavam-se um ao lado do outro.
Assim, encarregávamo-los com essa ou aquela
tarefa, colocada, então, sob sua direta responsabilidade ou, ainda,
dirigiamo-nos a qualquer companheiro que chegava até nós para transmitir-lhes
tarefas da localidade.
Sverdlov não se detinha na atividade de ficar
clarificando quem havia sido o culpado por alguma coisa.
Quando possível, os erros eram corrigidos e o
trabalho seguia adiante.
O primeiro sinal de que o trabalho havia de
ser restruturado, de que havia de buscar-se novas formas e, até mesmo, um novo
local de sede, foi o cancelamento da Manifestação de 10 de Junho de 1917.
Essa manifestação - e, em particular, a
questão do seu direcionamento rumo ao prédio em que se reunia o I Congresso dos Sovietes
(antigo 1°
Corpo de Cadetes Militares) - provocou uma disputa entre os bolcheviques.
Porém, decidiu-se impulsioná-la ao longo do
itinerário fixado.
Ao saberem dessa manifestação, os mencheviques
e os socialistas-revolucionários (SRs) promoveram uma terrível gritaria no
congresso.
Os bolcheviques reuniram-se nas proximidades
do salão das classes.
Ocorreu, a seguir, um forte enfrentamento
entre os adeptos do cancelamento e
os adeptos da realização da
manifestação em tela.
No final das contas, decidiram, já por volta
das 3 (três) horas da madrugada, cancelá-la, depois de que, tendo chegado tarde
da noite, Vladimir
Ilitch concordou com o cancelamento.
Muitos estavam seguros de que os Cem-Negros
seriam lançados contra nossa manifestação e ocorreria um combate, em meio às
ruas.
Sverdlov comportou-se, naquela ocasião, de modo inteiramente
tranqüilo : era favorável ao
cancelamento.
Sentia-se claramente que desempenharia um
papel revolucionário, na hipótese de ser determinado o avanço dos
manifestantes, posicionando-se à frente da manifestação.
Sverdlov exigia disciplina dos militantes. Ele mesmo
era um membro inteiramente disciplinado do nosso Partido.
Nesse contexto, o Dia 10 de Junho não
ofereceu nenhum panorama da influência bolchevique.
Na semana seguinte, houve, então, bastante
tempo para a preparação da Manifestação de 18 de Junho de 1917.
O Comitê Central Bolchevique haveria de partir do Distrito de Vyborg,
outrora a fortaleza do bolchevismo.
Uma concentração foi convocada para ocorrer na
Rua Nijn Gorod.
Representando o Comitê Central, para
lá se dirigiram os companheiros Sverdlov, Stalin, Tomsky, i.e. o Bureau do CC de então.
Os bolcheviques do Distrito de Vyborg marcharam,
então, em massa compacta, sob as consignas de luta do 18 de Junho.
Pelo caminho, ultrapassaram uma lânguida
coluna de mencheviques que levantavam consignas de conciliação do estilo “Ensino Geral para Todos !”, “A
Revolução Acabou – Passemos à Construção Pacífica !”
Os bolcheviques – em particular, o companheiro
Tomsky –
puderam assaltá-los, com nossos militantes que se metiam entre eles.
No Distrito de Vyborg, existia, sem dúvida, uma supremacia da
influência bolchevique.
A despeito disso, em outros bairros da cidade,
aquelas mesmíssimas consignas atraíam para si grandes massas.
Porém, em 18 de Junho, a vitória da idéias do bolchevismo revelou-se
claramente.
Cada vez mais aguçavam-se as relações mantidas
com as esferas governamentais e, em função disso, estas passaram a exigir,
insistentemente, a saída dos bolcheviques do Palácio Kshessinskaya.
O Comitê Central resolveu, então, tranferir imediatamente o
seu local de funcionamento, ao passo que o Comitê de Imprensa e a Organização Militar
abandonaram esse prédio apenas depos dos Dias de Julho de 1917.
A secretaria do Comitê Central mudou-se, a seguir, para a habitação da
companheira E. D.
Stassova, onde passamos a trabalhar, de manhã, à tarde e à
noite.
Tendo em conta que, nesse período, a questão
da alimentação havia-se complicado muito, Stassova assumiu a organização dos almoços para todos
os companheiros funcionários da Secretaria.
Isso nos concedeu a possibilidade de não nos
virmos forçados a abandonar sua habitação, durante o transcurso da jornada de
trabalho.
Porém, não foi possível permanecermos por
muito tempo nessa localidade e, há poucos dias do início do mês de julho, foi
necessário transferir novamente a Secretaria
do Comitê
Central para o prédio do Ginásio Municipal Masculino,
situado na esquina da Rua Kolomen com a Rua Raziezja.
O diretor desse ginásio - um homem sem
filiação partidária de nome A. D. Sokolov - concedeu-o,
durante o verão, à utilização de nossa Organização Partidária do 1° Distrito Municipal.
Ali, encontrava-se sediado nosso Clube do Partido da III
Internacional, nossa Organização Militar Distrital,
nosso organismo de ferroviários.
Ali, também ocorreram as assembléias inter-distritais
do Partido.
Para lá, foi assentar-se também a Secretaria do Comitê Central e,
seguidamente, a Redação
do “Pravda (A Verdade)”.
Nas portas das salas, pendurou-se um cartaz de
papel com os seguintes dizeres : “Secretaria do Comitê Central dos Bolcheviques.”
Nos Dias de Julho, esse cartaz foi arrancado pelos arruaceiros.
Não o recolocamos em seu lugar, ainda que a Secretaria
houvesse permanido naquela mesma sede.
COMO SE
PROCESSAVA O TRABALHO NA RUA KOLOMEN
Na Rua Kolomen, a própria secretaria compunha-se de duas
secretárias, a saber : E. D. Stassova – eleita posteriormente membro do Comitê Central, no VI Congresso do Partido, - e V. R. Menjinskaya.
Além disso, ali passaram a trabalhar ainda
alguns outros companheiros funcionários : Bronislav (Vesselovsky), V. L. Mekhonoschin, a
datilógrafa Gani e eu mesma.
Ao todo, éramos seis pessoas.
O dia de trabalho começava, tal como antes, às
9 horas da manhã.
Primeiramente, eram respondidas as cartas, os pedidos
de esclarecimento, preparados os materiais para o jornal e, a
partir das 14 horas, começavam a chegar os companheiros da Província,
do Comitê de Imprensa e,
às vezes, também dos Distritos.
Por essas horas, chegava ainda também alguém
do Bureau do Comitê Central.
Na maioria das vezes, tratava-se, tal como
antes, de
Sverdlov.
De ordinário, vinha, diariamente, para
avistar-se com os companheiros que chegavam de viagens, examinar o que de novo
havia sido enviado a partir da Província, conversar com algumas pessoas, com as
secretárias e transmitir as novas tarefas à Secretaria.
Permanecia, por via de regra, até por volta
das 16 ou 17 horas.
Uma grande sala - uma sala de aula – foi
colocada foi colocada à disposição do trabalho da Secretaria, porém, considerando-se que, de manhã, todos
os recintos permaneciam vazios, nossos companheiros, funcionários da
secretaria, espalhavam-se pelas salas de aula, onde faziam impressões no
mimeógrafo, colavam faixas, elaboravam protocolos etc.
As conferências ocorriam na grande sala de
aula.
Por volta das 16 horas, traziam um grande samovar e servia-se chá.
Tudo o que trazíamos de casa era colocado
sobre a mesa.
Tinha lugar, então, o momento de tomarmos chá
e conversarmos sobre os acontecimentos do dia.
Sverdlov esforçava-se por manter a Secretaria bem
informada sobre as coisas.
A inundação de notícias frescas vindas da Província
contribuía para isso.
Graças à ampla informação, resultante da
natureza do trabalho técnico que se impulsionava na Secretaria, resultavam evidentes a necessidade, a
importância e a urgência deste organismo para todos nós, companheiros
funcionários, dotados de plena consciência.
O dia de trabalho prolongava-se até as 20 ou
21 horas e, em caso de trabalhos marcados com prazo, até tarde da noite.
Feriados não existiam, porém, aos domingos,
trabalhava apenas uma composição incompleta da Secretaria.
De modo geral, não me recordo de reclamações e
insatisfações.
Depois da partida dos companheiros que apenas
haviam chegado de viagem, colocavam-se os jornais em pacotes, contava-se o
dinheiro, pagavam-se os trabalhadores do jornal (essa era a atividade mais
demorada, visto que os valores a serem pagos eram literalmente contados até os
centavos de copeques), transcreviam-se os endereços, imprimia-se no mimeógrafo
aquilo que devia ser submetido à impressão.
Ao sairmos da Secretaria, cumpria arrumar e levar conosco todos os
documentos, bem como carregar os pacotes preparados e também a nossa caixa
postal.
No melhor dos casos, éramos poupados pelas
reuniões distritais que transcorriam aqui mesmo, na grande sala : os
companheiros levavam consigo os pacotes e, com isso, facilitavam nosso
trabalho.
A presença animada e permanente da Organização Distrital do Partido
tornava extremamente confortável nosso trabalho.
Era sempre possível encontrar entre seus
membros ajudantes para organizar os trabalhos dotados de prazo, preparar
comunicações para os encontros mais clandestinos, trocar de salas para a
ocultação de documentos.
Por outro lado, também a Organização Distrital
encontrava-se em permanente conexão com o Comitê Central e lançava mão de todas as ocasiões para
incorporar-se nos informes prestados por Sverdlov ou por qualquer outro dos companheiros profissionais
que chegavam, clarificando, ali mesmo no local, a utilidade de um passo
qualquer a ser dado.
E, em tudo, sentia-se precisamente o pulsar de
toda a vida do Partido de Petersburgo, sonhando-se
com o regresso ao Palácio
Kshessinskaya.
Os Dias de Julho de 1917 surpreenderam-nos em meio ao trabalho
costumeiro.
Sua primeira notícia foi dirigida ao palácio
e, no entanto, desencontrou-se de Sverdlov.
Este não se encontrara na reunião dos
representantes distritais da noite de 3 de Julho.
Com efeito, naquele mesmo dia, sua família
havia regressado da Sibéria, tendo-se dirigido à Secretaria.
Apenas com dificuldade foi possível, então,
localizarmos Sverdlov, pois, antes mesmo das assembléias, deixara a Secretaria para
descontrair-se com suas crianças e buscar um lugar para alojar toda a sua
família. Retornara e, novamente, saira.
De todo modo, em 4 de Julho pela
manhã, foi possível a Sverdlov
pronunciar um importante discurso, logo depois de Lenin e Lunatcharsky, a partir da sacada diante da qual desfilavam
as colunas de lutadores.
Posteriormente, já na tarde de 4 de Julho, colunas
escarsas de marinheiros e outros destacamentos militares voltaram a
aproximar-se do Palácio
Kshessinskaya.
Visando à defesa da manisfestação, trafegaram
blindados de escolta bolcheviques pela Ponte Troitsk.
Pouco a pouco, a presença dos lutadores
tornou-se cada vez menor.
Começava a anoitecer.
Surgiram, então, boatos sobre a possibilidade
de um assalto a ser desferido contra o palácio.
Alguns companheiros do Comitê Central foram
designados para a guarda noturna e
propôs-se aos restantes que disperssassem, dirigindo-se às suas casas, evitando
passar pelos piquetes de cossacos.
Bem me recordo dessa ocorrência.
Rumávamos para a casa de minha irmã pela Ponte Troitsk, protegida,
de início, pela proximidade dos blindados de escolta bolcheviques.
Estava cinzento e anoitecia.
Descemos pelo passeio da margem do rio.
Por detrás da esquina, avistava-se um piquete
de cossacos.
Repentinamente, estes irromperam em galope
contra os transeuntes, sacudindo no ar seus chicotes.
O público esgueirou-se para o lado.
Começou-se, então, a correr para todos os
lados, de qualquer maneira, aos berros de salve-se quem puder.
Quanto a nós, metemo-nos por um calçadão,
seguidas por cavalos que saltavam impetuosamente.
Porém, o perigo veio, em verdade, a partir do
outro lado.
Os destacamentos bolcheviques, visíveis
através do Rio
Neva, saltaram sobre os cossacos, entrando em cena.
Diversos disparos zuniram, em torno de meus
próprios ouvidos.
De seus cavalos feridos, dois ou três cossacos
foram lançados ao chão.
O pânico aumentou e o piquete de cossacos
desapareceu de vista.
Na manhã seguinte, teve lugar a repressão de
todo o movimento, bem como a prisão de vários bolcheviques, tornando necessária
a fuga dos companheiros Lenin e Zinoviev.
As organizações bolcheviques foram decepadas.
Porém, na Secretaria do Comitê Central,
em três ou quatro dias, as coisas retomaram o seu curso normal.
A mão firme de Sverdlov voltava a direcionar
todo o trabalho, seja no campo da sustentação das relações mantidas com as
organizações locais - provendo-as com materiais do novo jornal bolchevique -,
seja ainda no domínio da preparação do VI Congresso do Partido, o que
era o principal.
As organizações bolcheviques começaram,
rapidamente, a recuperar-se do esmagamento sofrido.
Os diversos anos de experiência com o trabalho clandestino, a
capacidade de unificar
formas ilegais com formas legais de trabalho revolucionário
contribuíram, extraordinariamente, para a reconstrução da organização.
Lamentavelmente, em alguns lugares não puderam
ser recuperados os livros retorcidos, preenchidos com as anotações dos
companheiros dos distritos, versando sobre as condições das atividades do mês
de Julho de 1917,
quando se procurava não apenas restaurar as ruínas das “Liberdades de Fevereiro”.
A partir de meados de julho, cada nova carta
alertava e despertava confiança em nossas próprias forças.
O temor de que o VI Congresso do POSDR (Bolchevique)
não se reunisse dissipava-se, a cada dia.
Os sociais-democratas unidos da Organização Inter-Distrital
que não haviam ingressado, desde o início da Revolução de Fevereiro de 1917,
em uma única organização com os bolcheviques decidiram, após algumas
conversações preliminares, fundirem-se conosco, no quadro do VI Congresso.[2]
No Bureau de Organização (Orgbureau) do Partido, encarregado
da convocação do congresso, ingressaram também os representantes dos sociais-democratas unidos
inter-distritais.[3]
Depois do I Congresso do Partido, esse VI Congresso foi
o primeiro a ocorrer em território da Rússia.
Porém, se comparado com o nosso congresso de
1898 que ocorreu em um momento de relativa margem de liberdade sob o Czarismo, o VI Congresso,
convocado para ocorrer na Rússia “Livre e Democrática”, teve de ser realizado clandestinamente.
O Partido sofreu uma grande perda com o fato
de que, nesse VI
Congresso, Lenin não pôde estar presente.
Apesar disso, tudo foi realizado de modo que
ele mesmo pudesse dirigí-lo através dos mais confiáveis companheiros
profissionais e membros do Comitê Central.
De início, o congresso em tela transcorreu no Prédio da Igreja, situado
na Avenida B. Sampson do
distrito vermelho de
Vyborg.
Sob a proteção da mais forte organização
bolchevique de Petersburgo,
i.e. a organização de Vyborg, o VI Congresso assumiu forma semi-clandestina.
A sala em que ocorreu encontrava-se repleta.
Nas pausas, comia-se em uma mesa comum,
colocada sob céu aberto.
Porém, esse contexto perdurou apenas por dois
dias.
Difundiram-se, então, boatos renitentes de que
o congresso seria dispersado.
Em meio aos trabalhos congressuais, resultou,
assim, ser necessário realizar uma reunião extremamente fechada, com vistas a
efetuar a eleição dos novos membros do Comitê Central.
A característica dos candidatos apresentados
foi a de que haviam sido apresentados ou como membros do antigo Comitê Central Bolchevique ou
como membros lançados por suas próprias organizações.
De todo modo, teve lugar uma eleição secreta,
realizada por meio de cédulas eleitorais.
As reuniões subseqüentes transcorreram, no Distrito de Narva,
já sem a presença dos convidados, havendo sido necessário, também nesse caso,
mudar, por duas vezes, o local de reunião.
As condições conspirativas nas quais ocorreu o
VI Congresso
dificultaram extremamente a elaboração
de protocolos.
Nós, funcionários da Secretaria do Comitê Central, e
o companheiro Moskvin
estávamos encarregados de formular curtos registros protocolares e responder
por todo o Setor
de Protocolos.
Nessa atividade foram incorporados também
alguns outros companheiros, provenientes tanto dos sociais-democratas unidos inter-distritais quanto
de nossa organização bolchevique, todos ocupados com a elaboração de registros
literalmente rigorosos.
Porém, nem todos esses companheiros
demonstravam possuir experiência suficiente nesse domínio.
Além disso, o companheiro Moskvin
incluiu também na atividade em realce uma estenografista e um protocolista
muito experimentado, que assumiram, naquele momento, a realização dos
registros.
Estes encontravam-se próximos do nosso
Partido, porém não eram, de fato, pessoas militantes de nossa organização.
Sua presença não foi admitida nas reuniões
secretas do Comitê
Central e, a partir da realização destas, não mais
permaneceram no congresso.
No final das atividades congressuais, o
companheiro Moskvin e
eu realizamos um grande trabalho para compilar todos os registros efetuados e
produzir os protocolos congressuais.
As questões fundamentais do congresso foram as
seguintes :
·
Balanço dos resultados do trabalho “legal” do
Partido ;
·
Apresentação da situação atual ;
·
Determinação das tarefas políticas e
econômicas do presente momento.
Em conexão com esses temas, levantou-se e
debateu-se, fervorosamente, a questão dos Sovietes.
Questionava-se se depois dos Dias de Julho de 1917,
poderiam ainda apresentar-se os Sovietes
como “orgãos
da insurreição” ou seria necessário substituí-los por outras
organizações, tais quais os comitês
fabris-industriais ou comitês
partidários.
Um papel maior nesse VI Congresso foi
desempenhado pelos companheiros Stalin e Sverdlov.
Através de seus informes, o congresso aprovou
a linha do Comitê
Central do POSDR (Bolchevique), formulada no período da Revolução de Fevereiro.
O companheiro Sverdlov presidiu muitas das sessões congressuais,
aplainou discussões e conferiu aplicação às diretivas centrais do Comitê Central.[4]
O Partido deve a ele o mérito de, no momento
de uma provável ruptura do congresso, ter sabido dirigir, cuidadosamente,
graças à sua energia e habilidade, o fechamento das sessões, assegurando a
eleição do novo Comitê
Central, o Glorioso Comitê Central da Revolução de Outubro.[5]
Ao fazermos, hoje, a leitura dos protocolos do
VI Congresso,
torna-se até mesmo interessante observar que toda uma série de medidas,
adotadas durante o período do Comunismo de Guerra, possuem o seu embrião, o seu paradigma,
precisamente nas resoluções
desse congresso, ocorrido de maneira semi-clandestina.
Visando a construir uma vida autêntica no
presente, o Partido
Bolchevique sempre direcionou, no passado, sua visão para
o futuro.
Esse fato expressa-se não apenas na
circunstância de que, no quadro da definição das tarefas do momento atual, foi
adotada também uma série de resoluções
que indicavam, efetivamente, o desenvolvimento de medidas econômicas, a serem
implementadas já “no dia
subseqüente à Revolução Socialista”.
Expressa-se também no aspecto de que, já nos
dias de julho e agosto do IV
Congresso, havia-se contemplado, adequadamente, o trabalho a
ser impulsionado pela Organização da
Juventude, conferindo-se-lhe instruções apropriadas, no
estilo de como realizar atividades, com vistas à preparação de uma nova
geração.
É desnecessário repetir que todas as
resoluções adotadas pelo congresso em foco, todos os seus registros
protocolares, precisaram ser, imediatamente, transportados para um local
seguro.
Nesse tempo, exigia-se uma multiplicação muito
rápida de resoluções,
tendo em conta a partida dos delegados em viagens.
Recordo-me do fechamento festivo do VI Congresso do POSDR
(Bolchevique) e do discurso de Sverdlov, apresentado naquela ocasião.
Logo depois de seu rápido pronunciamento,
dirigiu-se a mim com as seguintes palavras :
“ – Então ! Não percam tempo ! Necessitamos das resoluções para amanhã de manhã
!”
Assim que minha irmã, Vera Rudolfovna Menjinskaya,
concluiu todas as suas tarefas congressuais - destaque-se que era a secretária
do congresso -, fomos apanhar os materiais e dirigimo-nos à Secretaria do Comitê Central.
Durante toda a noite, cumpriu-nos transcrever
para o mimeógrafo dezenas de resoluções e
imprimí-las, em centenas de exemplares.
No Ginásio Municipal Masculino da Rua Kolomen com a Rua Raziezja, não se encontrava ninguém.
Vera
Menjinskaya e eu, nós duas, já havíamos dado início à
realização da nossa tarefa e trabalhávamos, a todo vapor.
Já havíamos chegado à Resolução sobre o Momento
Político, considerada particularmente conspirativa.
Era cerca de meia-noite.
Subitamente, pelo ginásio soou a campainha :
uma primeira vez, uma segunda vez.
Na sala ao lado, já era possível ouvir passos,
muitos passos.
“- Provavelmente, é a polícia !”, veio-nos
imediatamente à cabeça.
Em nossa sala, não era possível inutilizar os
exemplares já preparados.
Os passos não cessavam, mas haviam-se tornado
mais silenciosos.
Estrondeou, então, quando bateram na porta de
nossa sala.
Não podíamos esperar mais : bem devagar, fui
abrir a porta, deslizando os olhos para a sala ao lado.
O que foi que encontrei ?
Em meio às luzes todas ascesas,
encontravam-se, agora, em plena noite, as crianças que haviam retornado da
excursão ao campo, construindo um palco de teatro para o espetáculo da escola.
Utilizando, então, essa cobertura, viemos a
concluir todo o trabalho, quando já era tarde da noite.
No outro dia, Sverdlov chegara desde cedo à secretaria e, com
impaciência, perguntou sobre as resoluções.
Já se encontravam distribuídas aos delegados.
Apenas a última delas estava um pouco confusa.
Porém, os delegados, ao saberem que essa
última fora produzida com parágrafos mal-impressos, apenas riram e apanharam
exemplares bem mais nítidos.
Depois do VI Congresso do POSDR (Bolchevique), o
trabalho fluiu de modo ainda mais vivo.
Os Dias de Kornilov aglutinaram em torno dos bolcheviques todas
as forças revolucionárias do país.
À secretaria, vieram ter Spiridonova e
outros socialistas-revolucionários (SRs), a fim de estabelecerem conversações
sobre contatos.
Sverdlov rejeitou,
vigorosamente, todo e qualquer tipo de subordinação dos bolcheviques aos outros
partidos e elucidou-lhes a linha
bolchevique relativa à resistência contra o Golpe de Kornilov.
Começava o outono.
Aproximava-se o fim das férias escolares.
Voltava a ser necessário tranferirmos nossa
sede, ainda situada no ginásio da Rua Kolomen com a Rua Raziezja.
Uma nova habitação foi então encontrada na Rua Furshtadts, localizada
perto daquela casa em que vivia E. D. Stassova.
Tratava-se de uma casa de uma dessas
comunidades eclesiásticas.
As portas de entrada e as escadas estavam
todas decoradas em estilo de cruzes.
Para uma maior segurança, a sede da Secretaria do Comitê Central
situava-se atrás de uma livraria.
Naturalmente, essa dissimulação era, ainda
assim, insegura, porquanto todos sabiam que a livraria pertencia ao Partido.
A habitação em referência, tomada em aluguel,
não possuía móveis e, além disso, no caixa do Comitê Central, existia muito pouco dinheiro disponível.
Sem embargo, levantaram-se cerca de 200 rublos
e, juntamente com minha irmã, Sverdlov dirigiu-se ao negociante de móveis usados
mais próximo.
Compraram, então, diversas peças, ali mesmo
reparadas e polidas.
Depois de muito tempo transcorrido, tive de
comparecer, certa vez, em uma das atividades do Partido, ocorrida na Rua Furshtadts, e
ali reencontrei nossa velha escrivaninha, com sua cadeira talhada e
giratória.
Logo depois da mudança para a Rua Furshtadts, parei
de trabalhar na Secretaria do Comitê Central, por
proposta de
Sverdlov.
Ele aconselhou-me, insistentemente, a mais uma
vez, voltar a trabalhar no distrito.
Dali a pouco tempo, fui eleita, de início,
membro do Comitê
do I Distrito Municipal e, a seguir, também do Comitê Central do Partido.
Posteriormente, vim a rencontrar-me com Sverdlov, de
modo extremamente raro.
De meus ulteriores encontros com ele, dois
deles permaneceram de modo particularmente nítido em minha recordação.
Aproximavamo-nos de Outubro.
A questão concernente à Insurreição Armada
tornava-se, visivelmente, uma realidade.
Convocou-se, então, uma assembléia de
militantes ativos, visando à apreciação da questão relativa à sublevação.
De início, expressaram-se os adversários da
imediata deflagração insurrecional.
Reportavam-se às relações hesitantes
existentes entre as tropas, à insuficiência de armamento dos trabalhadores, ao
risco de perdermos importantes das massas, ao sermos aniquilados em meio à
batalha etc. etc.
Existiram também intervenções, destacando que,
embora a insurreição não tivesse a mínima esperança de triunfar, a única saída
existente seria a de morrermos nas barricadas a permanecermos inativos.
No justo momento, interviram, então, alguns
defensores da imprescindibilidade e adequabilidade da Insurreição Armada.
Discussões não houve. Foram postergadas para o
dia seguinte.
No entanto, parecia que o resultado já havia
sido tomado de antemão : o repúdio da Insurreição Armada.
Na tarde seguinte, o clima dos militantes
havia aparentemente melhorado, porém ouviram-se, novamente, as prédicas
pessimistas.
Nessa assembléia, encontrava-se, entretanto, Sverdlov.
Valendo-se de sua poderosa tonalidade vocal,
comunicou aos companheiros que o Comitê Central do POSDR (Bolchevique) já
havia apreciado a questão, quando ponderara todos os fatores pró e contra,
estabelecendo que a deflagração da Insurreição Armada haveria de ocorrer
nos próximos dias.
Segundo Sverdlov, essa decisão do Comitê Central seria vinculante para toda a organização.
Os discursos a serem pronunciados pelos
companheiros na assembléia poderiam versar, agora, apenas sobre os detalhes.
Essa intervenção de Sverdlov foi decisiva : a voz dos adeptos da Insurreição Armada ressoou mais firmemente.
A votação concedeu, então, maioria à imediata
deflagração da sublevação.
Muitos companheiros, que haviam votado contra
tal decisão ou mesmo se abstido de nela votar, usaram, então, da palavra para
declarar que, a despeito de suas dúvidas, lutariam de armas na mão, até o
verter da última gota de sangue.
Honraram a sua palavra.
A subseqüente recordação de reencontro com Sverdlov de que disponho refere-se ao Dia da Assembléia Constituinte, o
dia 5 de
Janeiro de 1918.
A abertura dos trabalhos havia sido declarada
para ocorrer às 12 horas.
O público aglomerava-se com suas identidades,
desde de manhã cedo.
Os delegados encontravam-se reunidos.
Ocorriam conferências por frações políticas.
Às doze horas e quarenta e cinco minutos, os
delegados começaram a concentrar-se no grande salão e a ocupar seus lugares.
Pouco a pouco, o salão tornava-se repleto,
permanecendo vazias apenas as cadeiras dos deputados bolcheviques.
Nossa fração continuava em meio à sua
conferência, na qual encontravam-se presentes os representantes do Comitê Central.
Era preciso decidir a questão
extraordinariamente complicada relativa à dissolução da Assembléia Constituinte.
Entrementes, um grande desassossego percorreu
o salão e havia sinais de impaciência.
Seria possível que os bolcheviques não dariam
abertura à assembléia ?
Os grupos populistas decidiram, então,
iniciar, imediatamente, a assembléia e exigiram que o seu decano, de nome S. P. Shvetsov,
desse abertura à sessão.
Este subiu lentamente à tribuna e, com voz de
ancião, começou a discursar.
Disso deram-nos notícia, em nossa fração.
No intervalo de um minuto, os bolcheviques
apareceram no salão e Sverdlov, na qualidade de Presidente do Comitê Executivo Central dos
Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponêses de Toda a Rússia
(VTsIK), movimentou-se,
a passos largos, em direção à tribuna.
Com uma das mãos, afastou, de improviso, o decano que pronunciava seu
discurso e, em nome do Comitê Executivo Central, proclamou, com voz
poderosamente metálica, aberta a Assembléia Constituinte.
O primeiro corpo de comando dos
socialistas-revolucionários (SRs) revelou-se destroçado.
Até mesmo esses acontecimentos
desenvolveram-se de tal sorte que anteciparam a tática dos bolcheviques, i.e.
a tática do destacamento avançado
do proletariado mundial.
__________________
Agora, depois da morte de Jakob Mikhailovitch Sverdlov,
recordo-me freqüentemente de sua imagem, da maneira como interviu nos Dias da Assembléia Constituinte.
Aquele leve movimento de mãos que eliminava
barreiras aparentemente inexpugnáveis, aquela voz firme e confiante que lograva
impor-se à audição das massas enfurecidas, tais como se incorporassem o traço
fundamental de sua personalidade : sua
vontade inquebrantável de luta.
Essa vontade inabalável, porque não conhecia
concessões, fez de Sverdlov um
dos mais importantes participantes da Revolução de Outubro : ela
mesma conduziu-o à morte precoce por faina desumana, encontrando-o no posto de
concretrização das medidas fundamentais da Revolução Proletária.
Vida maravilhosa, maravilhosa morte !
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. MENJINSKAYA, LARISSA RUDOLFOVNA. Yakov Mikhailovitch
Sverdlov v Period Febralskoi Revolutsii (Jakob Mikhailovitch Sverdlov no
Período da Revolução de Fevereiro), in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik
Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e
Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii
Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo
Leningrad, 1926, pp. 87 e s.
[2] Anotação de Emil
Asturig von München : Observo, por oportuno, que Trotsky e seus
colaboradores abandonaram, em 1912, o Bloco de Agosto, por este haver-se convertido em um instrumento
do menchevismo liquidacionista. Deslocaram-se, então, rumo à fundação, em
novembro de 1913, da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas
Unidos de Petersburgo (Comissão Inter-Distrital) que haveria de
conformar-se, a seguir, em centro aglutinador fundamental no interior do POSDR
de
reagrupamento geral em toda a Rússia dos militantes advindos seja
da antiga fração pública unionista “não-fracionalista” de Trotsky
– composta por Antonov-Ovseienko, Ioffe, Riazanov e
outros -, seja da fração pública avanteísta (vperiodista) de Lunatcharsky,
Pokrovsky e Manuilsky, seja ainda do restante da fração interna
dos bolcheviques conciliadores-virtuosos “não-fracionalistas”, encabeçados
por Iurenev e Sokolnikov, que não se haviam realinhado no POSDR(Bolchevique),
por ocasião da VI Conferência de Praga de 1912.
Acerca do tema, permito-me remeter o leitor
interessado ao estudo de IURENEV, CONSTANTIN. Bor’ba za Edinstvo
Partii. Otcherk’ Vozniknovenia i Deiatel’nosti Petrogradskavo Mejduraionnavo
Komiteta. C Prilojeniem Rezoliutsii Obschegorodskoi Konferentsii Petrogradskavo
Mejduraionnavo Komiteta Ob’edinennykh S.-D. Sostoiavsheitsia 7-11 Maia
1917(Luta pela Unidade do Partido. Quadro da Origem e das Atividades do Comitê
Inter-Distriral de Petrogrado. Com Apenso da Resolução da Conferência do Comitê
Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos de Toda a Cidade de Petrogrado,
Realizada de 7 a 11 de Maio de 1917), Petrogrado : Sklad’ Izdania, 1917, pp. 3
e s.
De toda sorte,
cumpre destacar que tanto o Bloco de Agosto quanto a Organização
Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comissão Inter-Distrital) surgiram em um
quadro de integral dissolução do sistema de frações do POSDR, confrontaram-se,
efetivamente, com o movimento de integral ruptura promovido pelo POSDR
(Bolchevique), dirigido por Lenin e pelos principais
dirigentes bolcheviques.
Os clamores
inteiramente serôdios da Organização Inter-Distrital dos
Sociais-Democratas Unidos (Comissão Inter-Distrital), levantados em
prol da unidade do Partido, a ser assegurada mediante a unificação
de todas as diversas frações públicas e agrupamentos ideológicos de caráter
fracional, atuantes no interior do POSDR, já não contaram mais,
absolutamente, com a simpatia seja dos antigos bolcheviques da fração
oficial-ortodoxa de Lenin, seja da parte daqueles bolcheviques
que haviam composto anteriormente a fração conciliadora-virtuosa, sob a direção
de Rykov,
Dubrovinsky e Noguin.
Cabe destacar que, já no período posterior
à Revolução
Democrático-Burguesa de 1917, a Organização Inter-Distrital dos
Sociais-Democratas Unidos (Comitê Inter-Distrital), por defender
caracterizações políticas mais alinhadas aos novos posicionamentos de Lenin,
contidos nas Teses de Abril de 1917, propiciou ao POSDR
(Bolchevique) o lançamento de um novo chamado em prol de um processo de
reunificação de todas forças proletário-internacionalistas, tal como aprovado
pela VII Conferência de Toda a Rússia (Conferência de Abril).
Com base na nova política bolchevique de
reunificação de todas as forças proletárias internacionalistas, verificou-se, a
partir de maio de 1917, a formação de duas tendências no interior da Organização
Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comitê Inter-Distrital):
uma delas a de Trotsky - mais disposta a ingressar, sem mais
demora, no POSDR (Bolchevique) -, sendo a outra,
encabeçada por Iurenev – mais recalcitrante em relação à decisão
de ingresso.
Com base em acordo selado com Lenin,
coube a Trotsky permanecer, de maio a julho de 1917, no interior
da Organização Inter-Distrital dos Sociais-Democratas Unidos (Comitê
Inter-Distrital), com o objetivo de conquistar todos os seus militantes
para o ingresso no POSDR (Bolchevique).
Acerca do tema,
vide TROTSKY, LÉON D. Vokrug Oktiabria (Em
Torno de Outubro)(06.04.1924), Parte 1: Pered Oktiabriem (Antes de Outubro),
in: L.D. Trotsky. Iz Arkhivov Russkoi Revoliutsii 1917-1937 (Dos Arquivos da
Revolução Russa. 1917-1937) Moscou :
Biblioteca Magister-MSK, pp. 1 e s.
[3] Anotação
de Emil Asturig von
München : Destaco que os membros do Bureau de Organização
(Orgbureau), encarregado da convocação do VI Congresso do POSDR
(Bolchevique), eram Sverdlov, Smilga, Vera
Menjinskaya, Ioffe e Uritsky. Vide a
respeito SVERDLOV, JAKOB MIKHAILOVITCH. Izbrannye Proizvedenia v Trekh Tomakh (Obras Escolhidas em
Três Volumes), Vol. 2, Moscou : Gosud. Izd-vo – Pol. Literatury, 1957, p. 14.
[4] Anotação de Emil
Asturig von München : Entre
os dias 26 de julho (8 de agosto) e 3 de agosto (16 de agosto) de 1917
ocorreu o IV Congresso do POSDR (Bolchevique) de Toda a Rússia, também
denominado de “Congresso da Unificação”. Apenas então, pela primeira vez em
toda a sua vida, Sverdlov participou de um congresso do POSDR (Bolchevique) de Toda a
Rússia. Representando cerca de 200.000 militantes, reunidos em 162
organismos partidários, em contraste com os 80.000 militantes, reunidos em 78
organismos partidários, do mês de abril de 1917 -, cerca de 300 delegados reuniram-se no Distrito de Vyborg, em Petrogrado,
para a abertura do congresso semi-clandestino em destaque. Em primeiro lugar, Sverdlov, dando início aos
trabalhos, foi eleito membro da presidência congressual, seguido por Olminsky, Lomov, Iurenev e Stalin.
Imediatamente após a eleição da presidência, Sverdlov propôs fossem Zinoviev,
Kamenev, Trotsky e Lunatcharky eleitos presidentes honorários. Anunciou
as regras que disciplinariam os trabalhos congressuais e a lista dos informes
locais a serem apresentados, propondo a formação de uma Comissão de Verificação de Credenciais. Nesse congresso, Sverdlov interveio com a
apresentação de um documento, formulado em nome do Bureau de Organização (Orgbureau), sobre a convocação do
congresso, assinalando que Trotsky e
Lunatcharky passavam a integrar esse organismo, com vistas a fortalecer
os esforços de unificação de bolcheviques e sociais-democratas unidos
interdistritais. Pronunciou-se sobre a associação de Trotsky com os bolcheviques e apresentou um pequeno resumo
sobre o trabalho de convocação do congresso, agradecendo ao proletariado de Vyborg por tornar possível a
ocorrência daquele evento naquele distrito.
Encontrando-se Lenin
provisoriamente refugiado na Finlândia, Sverdlov presidiu o VI
Congresso do POSDR (Bolchevique), seguindo a orientação estratégica
prédefinida e formalizando solenemente a incorporação nas fileiras bolcheviques
dos sociais-democratas unidos interdistritais – sem prejuízo do fato de Trotsky
e Lunatcharky encontrarem-se, então, nos cárceres do Governo
Provisório Burguês-Latifundiário, integrado, agora, também por
mencheviques sociais-chauvinistas.
Tendo
em conta os rumores de que este governo dissolveria pela força o congresso em
andamento, prendendo todos os seus participantes, providenciou exitosamente,
sob a proteção da Guarda Vermelha,
a transferência parcialmente clandestina, do local dos trabalhos congressuais
para o Distrito de Narva.
Na sessão secreta que
elegeu o novo Comitê Central Bolchevique Unificado – da qual não se dispõe de
minutas históricas -, foi eleito entre os 5 mais bem votados, em meio aos 22
novos membros e candidatos.
Vide,
acerca do tema, PROTOKOLY S’EZDOV I KONFERENTSII VSESSOIUZNOI
KOMMUNISTITCHESKOI PARTII : SHESTOI S’EZD RSDPR(b) AVGUST 1917 G.
(Protocolos dos Congressos e Conferências do Partido Comunista de Toda a Rússia
: VI Congresso do POSDR(b) Agosto de 1917), Moscou : A. S. Bubnov et al., 1934,
p. 36.
[5] Anotação de Emil Asturig von München
: Assinalo que, em 27 de julho (9 de
agosto) de 1917, Sverdlov interveio no VI Congresso do POSDR (Bolchevique),
apresentando o relatório organizativo do Comitê Central, após assinalar que o
informe político prestado por Stalin e elaborado sob a direção
imediata de Lenin, a partir do exílio, refletia inteiramente a atividade
desempenhada pelo Comitê Central no último período, de tal sorte que o informe
de organização incumbiria, agora, a ele – Sverdlov, apresentar.
Destacando a duplicação
das forças bolcheviques em toda a Rússia, registrada a partir de abril
de 1917 e fornecendo bases objetivas para o desenvolvimento dos debates, Sverdlov
formulou uma análise de todas as principais regiões e referiu os esforços de
coordenação do trabalho revolucionário das províncias, empreendidos pelo Secretariado
Bolchevique, nos meses precedentes. Segundo Sverdlov : “O
Comitê Central – através do Pravda – executou tanto a direção ideológica como
organizativa de todo o Partido.” Com efeito, presidiu, firme e
eficientemente, a maioria das sessões do congresso em tela. Cf. PROTOKOLY S’EZDOV I KONFERENTSII
VSESSOIUZNOI KOMMUNISTITCHESKOI PARTII : SHESTOI S’EZD RSDPR(b) AVGUST 1917 G.
(Protocolos dos Congressos e Conferências do Partido Comunista de Toda a Rússia
: VI Congresso do POSDR(b) Agosto de 1917), Moscou : A. S. Bubnov et al., 1934,
p. 36.