90 ANOS DA REVOLUÇÃO
SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
J. M. SVERDLOV
KARL
RADEK[1]
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München,
Junho de 2003 emilvonmuenchen@web.de
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Quando cheguei a Petrogrado, em novembro de 1917, e conversei com Vladimir
Ilitch Lenin sobre a situação internacional, perguntei-lhe com quem haveria de tratar
todas as tarefas a serem doravante realizadas.
Lenin respondeu-me, pura e simplesmente :
“- Com Sverdlov.”
Antes, já haviam chegado aos meus ouvidos comentários feitos sobre o companheiro
Sverdlov, que indicavam ser ele um dos melhores organizadores clandestinos do
Partido.
Nada obstante, considerando que as tarefas, analizadas em minha
conversação com Lenin, respeitavam à organização de
nossos contatos estrangeiros, fiquei, efetivamente, surpreso, em certa medida,
por ter de ir tratá-las com Sverdlov.
De toda sorte, todas as dúvidas que possuía acabaram desaparecendo, após
alguns poucos minutos de conversação que mantive diretamente com Sverdlov.
Este dirigiu-me, desde logo, uma bateria de questões claras e precisas :
·
Em primeiro lugar, sobre as dimensões de nossos contatos, havidos a
partir de Estocolmo com a Alemanha, a França e a Inglaterra;
·
Em segundo lugar, sobre os aspectos técnico-operacionais das ligações
mantidas ;
·
Em terceiro lugar, sobre as minhas observações pessoais atinentes à
fronteira sueco-finlandesa.
Coçando a barba e refletindo um pouco, Sverdlov apresentou-me, então, um
rádio campestre, de estilo czarista, tal como se fosse algo de novo, visto que,
até então, não se encontravam nas mãos dos revolucionários meios de serviço de
telecomunicação.
“- Seja como for, o mais
importante agora”, disse-me Sverdlov, com naturalidade, “será as conexões que teremos de manter no interior do fronte alemão.”
Pediu-me também para entrar em contato com o Comitê
de Petrogrado, a fim de tratar das relações a serem estabelecidas com os prisioneiros
de guerra e refletir sobre todo o resto.
Propôs que o centro de todo o trabalho internacional adquirisse a forma
de um Departamento de Relações Externas, adjunto ao Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK).
Perguntei-lhe sobre pessoas que pudessem ser colocadas à minha
disposição.
Não me fornecendo, novamente, uma decisão concreta, indicou o caminho
para alcançá-la :
“- É necessário que você mesmo
procure as pessoas, oriundas da emigração, que conheçam bem o estrangeiro e o
fronte.
Você receberá dinheiro e tudo o
mais, conforme a necessidade.
Um conselho, porém : não fique
povoando o departamento.
Construa um aparato proporcional
ao crescimento do trabalho.”
Sverdlov provocou em mim a impressão de
ser uma pessoa muito claramente orientada, desprovida de toda e qualquer sede
de dominação, baseando-se sempre nas condições concretas de trabalho.
Um organizador do centro que esboçava o caminho,
formulava as tarefas, sem acreditar que poderia ele próprio tomar todas as
coisas em suas mãos.
Não havia ainda seguer conseguido colocar algo do meu trabalho em
movimento, apenas me localizara um pouco, quando recebi de Lenin uma
nova instrução para voltar a Estocolmo, com vistas a participar das
tratativas preliminares a serem entabuladas com o representante do Governo Alemão, o Conselheiro-Chefe Bethmann Hollweg.
Possuíamos informações de que a camarilha militar de Berlim
posicionava-se contra as negociações de paz e intimidava o Governo
Sueco,
alegando que os bolcheviques iriam à conferência apenas para fazer agitação.
A mim cumpriria a missão de dissipar-lhes essa impressão.
Antes de minha partida, tive uma longa conversação com Sverdlov, o qual, de bom humor, alegrava-se com o fato de que recaía justamente
sobre mim a responsabilidade da tarefa de argumentar que não éramos pessoas
empenhadas em impulsionar agitação contra as tratativas de paz.
Sorrindo, Sverdlov disse-me, na despedida :
“- É interessante verificar como
você consegue ter uma concepção tão ingênua sobre o que é agitação.
Gostaria de ter o prazer de
observar você, no cumprimento dessa sua tarefa.”
Quando retornei de Estocolmo, Sverdlov chamou-me para ir ter com ele
e, dando a entender que não me considerava um organizador de primeiro escalão,
encetou um diálogo sobre os prisioneiros de guerra.
“O que quer dizer fazer agitação
através de brochuras ?
Uma brochura reflete um esquema
de revolução, porém não retrata a sua respiração.
A principal função da difusão de
idéias acerca da Rússia Soviética é desempenhada, de início, pelos próprios
prisioneiros de guerra, na medida em que retornem a seus países de origem.
Até mesmo aquelas pessoas cujo espírito
se posiciona contra nós, ao defrontarem-se cara a cara com a atividade real de
suas burguesias, emprenderão a disseminação das nossas idéias.
É indispensável selecionar, no
seio de cada grupo nacional de prisioneiros de guerra, o cerne agressivo dos
agitadores, existente entre eles.
Se isso for conseguido,
conseguiremos tudo.
Nisso, é necessário lançarmo-nos,
não poupando nada e ninguém.”
Projetada para ocorrer no futuro, a predição de Sverdlov demonstrou-se inteiramente
justificada.
O organizador acostumado a trabalhar com pessoas vivas – e não entre folhas mortas –
havia, por seu instinto, agarrado estupendamente bem a essência da questão.
O papel de Bela Kun, Tibor Samuel e outros prisioneiros de
guerra da Hungria, o papel de Mun e outros companheiros, na Tchecoslováquia, mostraram qual era o significado que a iniciativa de Sverdlov possuía.
Depois da Paz de Brest-Litovsk, durante os duros meses de luta
do Poder Soviético contra o jugo de Brest, Sverdlov permaneceu mantendo contato, ao
longo de todo o tempo, com o trabalho realizado em meio aos prisioneiros de
guerra.
Interessava-se não apenas pela organização geral desse trabalho, senão
ainda determinava que a ele fossem
enviadas pessoas com quem haveria de conversar, a fim de que - tal como
expressava-se – os bem pudesse “cheirar”.
Tal se sabe, Sverdlov possuía em sua cabeça uma mapoteca do Partido, composta de todos os
militantes ativos, vivos e mortos.
Isso ficou evidente quando, antes mesmo da conversação mantida acerca dos
prisioneiros de guerra e de outros companheiros por nós conhecidos e situados
no exterior, que passavam progressivamente para o nosso lado, Sverdlov já havia elaborado, em seu cérebro, uma nova mapoteca internacional,
para o caso da vitória da revolução, nesse ou naquele país.
Depois da Paz de Brest, centralizei o trabalho de direção do Departamento da Europa Central, adjunto ao Comissariado do Povo para Relações
Exteriores (NKID), com o do Departamento de Relações Exteriores, adjunto ao Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK).
Tanto em razão do trabalho realizado no primeiro caso como no segundo,
cumpria-me, freqüentemente, ter de relacionar-me com Sverdlov.
No presente momento, recordo-me, claramente, de dois momentos :
Junto ao Conselho de Comissários do Povo
(Sovnarkom) foi criado uma comissão para o cumprimento do Tratado
de Brest.
Nomearam-me Presidente dessa comissão.
A comissão estava encarregada da centralização da supervisão do trabalho
realizado por diversos departamentos, tendo como base a execução do Tratado de Brest.
Coligía os dados e as informações inter-departamentais.
Clarificando junto aos membros da comissão as tarefas a serem realizadas,
pedi-lhes, então, para indicarem, aproximadamente, que volume de créditos seria
indispensável para o cumprimento das atividades em foco.
Segundo os cálculos das exigências registradas, o orçamento haveria de
ser sustentado, se não me engano, com 5 ou 6 milhões de rublos ao mês, a serem
destinados às despesas organizativas dos escritórios.
Eu mesmo – um ser humano que jamais havia despendido antes mais do que
100 rublos ao mês – horrorizei-me com o montante da soma proposta e declarei
aos representantes, que participavam dos departamentos em causa, não ser necessário
formular, previamente, nenhum orçamento, visto que isso constituiria apenas um
estímulo à criação de novos escritórios esparsos, dedicados à questão de Brest, junto a cada um dos departamentos.
Propûs, então, que fosse destacada, em cada um dos departamentos, uma
pessoa encarregada, com a qual eu permaneceria em contato.
Posteriormente, verificaríamos em quais despesas havíamos incorrido.
Sverdlov riu intensamente, quando
narrei-lhe esses fatos :
“Se você não tivesse rejeitado a
proposta deles, provavelmente pagaríamos mais aos comissariados do que aos
alemães, visando à execução do Tratado de Paz.
Porém, quanto é que vocês
efetivamente precisam para o funcionamento do aparato central ?”, perguntou-me.
Pedi-lhe, então, 100.000 rublos.
Sverdlov e Lenin, ali também presente, deram
terríveis gargalhadas.
Pode-se imaginar qual foi o meu orgulho quando, no Dia da
anulação do Tratado de Brest, fiz retornar à caixa do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK) a quantia de 93.000 rublos,
advindos dos 100.000 rublos destinados.
Na realidade, não demos, muito precisamente, cumprimento aos inúmeros
pontos do Tratado de Brest.
Porém não há dúvida de que, caso eu não houvesse recebido o conselho de Sverdlov quanto a não ficar expandindo e povoando os ofícios departamentais, os
comissariados produziriam tanto trabalho de papel que nele consumiríamos muito
mais do que 1 milhão de rublos.
Quando o Conde Mirbach, embaixador alemão em Moscou, foi assassinado, em 7 de julho de 1918, e começaram a reunir informações
acerca do anel de guerra, com o qual a Alemanha nos cercava, Sverdlov chamou-me para dizer que, em caso de uma ofensiva alemã - em face da
qual seria necessário evacuar rumo ao leste europeu –, cumpria a mim e ao
companheiro Bela Kun deslocarmo-nos, pelo contrário,
rumo ao oeste europeu.
Assinalou que os alemães procurariam os bolcheviques na Rússia Central.
Por isso, nossa base de agitação deveria estar instaurada na cidade de Smolensk, em meio às tropas alemães.
Sverdlov daria instruções para que lá
já fosse efetivamente encontrado um quarto, onde se montasse uma tipografia
ilegal, dando-se início ao transporte de materiais impressos.
Entretanto, ainda não deveríamos imediatamente dirigir-nos a Smolensk, a fim de não perdermos, antecipadamente, a possibilidade de conspirar,
em outras localidades, na qualidade de bolcheviques.
Porém, importava estarmos prontos, para o caso de perigo.
Sverdlov colheu as informações que possuíamos
acerca do tema referente aos locais de onde cumpria receber materiais impressos
vindos do exterior e, com simplicidade, claridade e tranqüilidade,
esclareceu-me as tarefas que estavam sendo colocadas diante de nós.
Nessa conversação, senti emanar de sua energia pessoal, confiança e
serenidade de revolucionário, pronto e disposto a executar o seu dever, em
todos os postos e circunstâncias, reivindicando que essas mesmas exigências
fossem observadas por cada um de seus companheiros.
A despeito do fato de que Sverdlov era sucinto em palavras e
cuidadoso acobertador de seus sentimentos, tudo permitia perceber em sua pessoa
não apenas um militante de calculação política e um organizador que dinamizada
figuras matemáticas no tabuleiro do Partido, senão ainda um revolucionário,
conectado através de alguns fios invisíveis de sentimento, com cada um dos
outros revolucionários queincluía em sua mapoteca do ativo partidário.
Por isso, existia tanta alegria de trabalhar com ele.
No momento em que eclodiu a Revolução Alemã de 1918 e 1919, possuíamos apenas vagas
informações acerca dos acontecimentos transcorridos.
Eu havia intentado obter, através de um sistema de telefonia microfônica
– batizado com o nome de seu inventor David Hughes - uma ligação com o Ministério das Relações Exteriores de Berlim.
Porém, em Kovna, cidade situada na Lituânia, onde se
encontrava estacionado o General Hoffman, havia sido interceptada essa
nossa chamada. [2]
Por fim, quando conseguimos estabelecê-la, foi colocado junto ao aparelho,
instalado em Berlim, um certo funcionário do Ministério das Relações Exteriores que a todas as perguntas
respondia :
“- Não conheço absolutamente
ninguém.
Não sei de absolutamente nada.”
Sverdlov que se encontrava ao meu lado, disse-me,
durante essa conversação telefônica :
“- Em nome do Presidente do
Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia(VTsIK), ordene-lhe para
responder.
Diga-lhe que ficará responsável
perante o Presidente do Conselho de Deputados Trabalhadores e Camponeses de
Berlim.”
Evidentemente, isso não era nenhuma manobra.
Nas palavras e nos olhos de Sverdlov sentia-se toda a dignidade do Presidente da Grande Revolução Russa e a certeza de que, eclodida a Revolução na Alemanha, um certo funcionariozinho do Ministério das Relações
Exteriores não
podia gracejar, deixando de obedecer, no caso de a ele ter-se firmemente
determinado que fizesse algo.
E, o funcionariozinho prestou, de fato, obediência.[3]
A partir de todos os lados, éramos pressionados por missões adicionais a
serem realizadas em face das potências neutras.
A Alemanha havia sofrido uma derrota avassaladora.
A seguir, tornou-se claro, porém, que os aliados agitavam-se ardentemente
em prol de um subseqüente empreendimento militar.
Pretendiam saquear a Rússia Soviética.
Enviaram-nos uma nota e uma declaração de protesto, tendo como pretexto o
Terror Vermelho.
Lenin encarregou-me de elaborar uma
nota de resposta.
Sverdlov, presente em nossa conversação,
dirigiu-se a mim, dizendo :
“- Abandone o tom de gabinete.
Escreva de modo que sintam.”
Redigi, então, o projeto da conhecida Nota
sobre o Terror Branco e o Terror Vermelho, formulada em tom inteiramente
despido de diplomacia.
O companheiro G. B. Tchitcherin aterrorizou-se um pouco com a
comparação feita entre potências estrangeiras e chacais, insistindo na
eliminação da passagem em questão.
Apelei, então, a Sverdlov.
Dando boas gargalhadas no telefone, este propôs, como compromisso,
substituir o vocábulo “chacais” por “hienas” – o que acabou sendo
efetuado.
Na ocasião em que tive de redigir, com base em uma determinação do Comitê Central (TsK), um certa nota a ser endereçada ao então Presidente dos EUA, Woodrow
Wilson, li-a,
posteriormente, a Lenin e Sverdlov.
Esse último lançou no ar as palavras de caraterização “carta de golpear até morte”, as quais foram, a seguir, eternizadas, por meio de conhecidas
caricaturas.
Em seguida, obtivemos um convite para participar do Congresso de Deputados Trabalhadores e Soldados da Alemanha.
A delegação que Sverdlov institui para ser enviada ao
congresso era composta por N. I. Bukharin,
C. G. Rakovsky, A. Ioffe, V. N. Ignatov e por mim.
Observe-se que Bukharin equivoca-se, em suas memórias,
no que respeita ao companheiro J. Markhlevsky, pois este não se encontrava em
nossa delegação : dirigiu-se à Alemanha apenas em janeiro de 1919.
D’outra parte, nós, membros da delegação em realce, reunimo-nos, então,
visando à determinação da linha de intervenção.
Pelo telefone, Sverdlov deu as instruções relativas ao
nosso aprovisionamento.
Vestido em sua tradicional calça de couro, entregou-nos pessoalmente um
pacote de dinheiro e distribui os papéis, plenamente bem humorado.
Posso, agora, revelar o segredo acerca de que “monte
de ouro” transportava
essa comissão, revestida da autoridade do Governo
Soviético :
haviamos recebido de Sverdlov 200.000 marcos alemães.
Em uma hora, chegou o caminhão de carga pesada, contendo os meios
alimentícios, destinados a nós viajantes e a todos os demais companheiros, Karl Liebknecht, Franz Mehring, Rosa Luxemburg e tantos outros que agonizavam
nas prisões.
Qual não foi a minha surpresa ao verificar que o que existia, de fato, no
interior do caminhão, eram apenas tonéis de mel e papa !
Parece que algo havia sido confundido lá nos armazéns do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK) e nós – tais quais judeus da Antigüidade, no caminho do Egito para a Palestina
– deveríamos
sobreviver, durante todo o trajeto, alimentando-nos apenas com papa feita de
sêmola.
A propósito, foi precisamente com essa papa de sêmola, misturada com mel,
que demos de comer aos soldados alemães, quando o General
Falkenhein
prendeu-nos, na cidade de Vilna e enviou-nos para Minsk, em um vagão de carga mercantil.
Para dizer a verdade, logo de início, havia odiado esses dois tonéis de
mel e papa e ordenara que fossem descarregados.
Porém, havia sido o próprio Sverdlov que, ingenuamente, me dissera:
“A papa, enquanto papa, pode-lhes
ser útil.
Levem-na, tranqüilamente, com
vocês.”
Despedimo-nos, então.
Essa foi a última vez em que vi Sverdlov.
Ocorreu-me falar com ele apenas mais uma vez, através do sistema de
telefonia microfônica Hughes de então, a
partir de Minsk, cidade em que viemos a ter depois de nosso trem haver sido detido pelos alemães.
Havíamos sido enviados de volta para a Rússia
Soviética,
havendo de percorrer a região de Litva, situada na Rússia Branca.
Por meio do referido sistema de comunicação, dirigi-me a Sverdlov, perguntando-lhe se, a partir de Minsk, não deveria eu tentar
ingressar, ilegalmente, em Berlim, passando através das tropas
alemães que embargavam o caminho.
Sem hesitar nem sequer por um único minuto, deu-me a seguinte resposta :
“Seguir viagem.”
Adicionalmente, instruiu-me apenas para que esperasse o mensageiro
expresso que me traria uma procuração, concedendo-me plenos poderes, assinada
pelo Presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de
Toda a Rússia(VTsIK), Jakob Mikhailovitch Sverdlov.
Em março de 1919, quando me encontrava em uma prisão da Alemanha, vim a ler, na “Gazeta de Frankfurt”, uma notícia acerca da morte de Jakob Mikhailovitch.
Não acreditei.
Por não relacionar tanto o desaparecimento da personalidade vivaz de Sverdlov com a perda de um importante
ativo da Revolução Russa, considerei a informação contida na notícia como sendo uma
manobra golpista, que não provocou em mim nenhum tipo de sentimento de
angústia.
Apenas no mês de maio, recebi uma carta de minha esposa, intermediada
diretamente pela Cruz Vermelha Dinamarquesa.
É compreensível o fato de minha esposa ter estado persuadida da
possibilidade de eu já possuir, naquela altura, conhecimento da morte de Sverdlov, razão porque nada de específico referiu sobre esse tema.
Foi apenas ao descrever o Congresso do Partido, aludindo ao momento em que, do
seu lado, passara um companheiro qualquer, dotado da estatura de Sverdlov, trajando aquela sua típica roupa de couro, que seu coração se
enterneceu e expressou, de passagem, a idéia de, doravante, não me ser mais
possível avistar-me com Sverdlov, na hipótese de o destino
permitir-me regressar mais uma vez à Rússia.
Com efeito, ao retornar à Rússia, tive apenas a ocasião de visitar
o sepúlcro situado junto à Muralha Vermelha, em que Sverdlov
encontrava-se
sepultado.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. RADEK, KARL. Y. M. Sverdlov, in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov.
Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de
Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu
Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe
Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 106 e s.
[2] Importa observar ao
leitor que, já em maio de 1878, David Hughes, havia inventado um
microfone formado de lapiz de carvões cilíndricos. No período iminentemente
posterior à Revolução Socialista de Outubro, o sistema de
telefonia microfônica de Hughes encontrava-se em funcionamento
tanto na Alemanha como na Rússia Soviética, tal
como é possível depreender-se do texto de Karl Radek.
[3] Anotação de Emil Asturig von München : Acerca do
tema, permito-me remeter o leitor ao estudo dos textos que traduzi acerca de
sua intervenção no contexto da Revolução Alemã de 1918 e 1919. Vide,
em particular, os materiais contidos em http://www.scientific-socialism.de/SverdParteIV.htm