90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS

DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA

TEXTOS DE CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV

 

 

J. M. SVERDLOV

NA ASSEMBLÉIA CONSTITUINTE 

 

FIEDOR F. RASKOLNIKOV[1]

 

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München,

Junho de 2002  emilvonmuenchen@web.de

Voltar ao Índice Geral http://www.scientific-socialism.de/SverdParteIVolI-A.htm  

 

 

 

A Assembléia Constituinte da República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR) foi um dos mais curtos Parlamentos, em toda a história do mundo.

Subsistiu por apenas 12 horas e 40 minutos.

Abertos seus trabalhos por volta das 16 horas do dia 5 de janeiro de 1918, foram encerradas sua primeira e sua última sessão às 4 horas e 40 minutos da manhã do dia 6 de janeiro de 1918.

 

A sessão plenária da Assembléia Constituinte foi precedida por reuniões de frações.

Nossa fração bolchevique iniciou sua conferência deliberativa já após o meio dia.

Ao lado dos petersburguenses – Lenin e Sverdlov -, a posição dominante em nossa fração foi ocupada, também, pelos moscovitas – Bukharin e Skvortsov-Stepanov.

 

A primeira questão, colocada perante nós, reduzia-se ao tema da ordem de abertura da Assembléia Constituinte.

Quanto a esse tema, adotamos uma resolução, sem debates, no sentido de que o companheiro Jakob Mikhailovitch Sverdlov, em nome do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK) abriria a Assembléia Constituinte.

 

Relativamente à questão das eleições para Presidente da Assembléia, deliberou-se, sem debates, que nossa fração bolchevique não apresentaria um candidato próprio e autônomo, senão que apoiaria a candidata Maria Spiridonova, indicada para a Presidência da Assembléia Constituinte pela fração dos socialistas-revolucionários  (SRs) de esquerda.

 

Os debates no interior de nossa fração versaram, a seguir, principalmente, sobre a questão da ordem do dia e o caráter dos trabalhos da Assembléia Constituinte, em geral.

Quando um dos companheiros deixou escapar uma palavra acerca da possibilidade de prolongada subsistência da Assembléia Constituinte, o companheiro Bukharin declarou :

 

“- Com efeito, aqui não vamos desperdiçar uma semana inteira.

No máximo, deliberaremos durante três dias.”    

 

O curso subseqüente dos acontecimentos demonstrou que até mesmo esse intervalo de tempo revelou-se como sendo um prognóstico exagerado.

 

Ficou decidido colocarmos à prova o caráter revolucionário da Assembléia Constituinte mediante a proposição de aprovação de uma Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, a qual confirmava a ação do Poder Soviético relativamente à paz, à terra e ao controle operário sobre as empresas.

Sverdlov leu, solenemente e em alta voz, o texto dessa declaração.

Lido o material em apreço, todos os companheiros bolcheviques de nossa fração posicionaram-se, unanimemente, no sentido de que não prosseguiríamos adiante no caminho da Assembléia Constituinte, caso a maioria socialista-revolucionária (SRs) de esquerda repudiasse referida declaração do Governo Soviético Revolucionário.

 

No que concerne aos passos subseqüentes, registraram-se algumas divergências.

A maioria dos nossos companheiros de Partido posicionaram-se em prol de uma imediata ruptura com a Assembléia Constituinte - o que significaria, na prática, sua dissolução - no caso de resultar repudiada a declaração em realce.

Riazanov propôs, pelo contrário, postergar o desmembramento da Assembléia Constituinte até o III Congresso dos Sovietes (Conselhos), a ser subseqüentemente realizado, com toda a brevidade, a fim de fosse decretada a “dissolução” da Assembléia Constituinte.   

Porém, fato é que não se podia perder mais tempo.

Riazanov permaneceu isolado, na defesa de seu voto venerável.

 

Durante os momentos de reunião de nossa fração bolchevique, tornou-se claro que os dirigentes dos socialistas-revolucionários (SRs) de direita, já presentes no Palácio Tauride, seriam, efetivamente, Tchernov, Bunakov-Fundaminskii e Gots.

Em seguida, foi-nos comunicado que todos os deputados já se encontravam reunidos no salão da Assembléia, em estado de excessiva exaltação, pretendendo dar imediatamente abertura à sessão inaugural.

Sendo assim, interrompemos abruptamente nossa reunião de fração e dirigímo-nos ao salão de sessões parlamentares.

 

O grande anfiteatro já se encontrava lotado.

Vazios estavam, porém, apenas os lugares situados na ala da esquerda, predestinados aos bolcheviques.

Nossa fração representava um terço de toda a Assembléia Constituinte.   

As galerias encontravam-se plenamente repletas de trabalhadores.

Mal nos havíamos sentado – tais quais, no centro, sentaram-se os socialistas-revolucionários (SRs) -, quando alguém se levantou, com toda prepotência e, com voz publica e plenamente audível, declarou :

 

“- Companheiros !

Agora são quatro horas da tarde.

Propomos ao mais velho de nossos membros abrir a sessão da presente Assembléia Constituinte.”       

 

Evidentemente, os socialistas-revolucionários (SRs) haviam-se minuciosamente preparado para a celebração de um majestoso dia festivo de abertura da Assembléia Constituinte.

Em consonância com o sinal prestado por seu quartel-general e em resposta à sua conclamação, subiu ao púlpito o representante daquele estamento, o antigo membro dos populistas (Vontade do Povo – Narodnia Volia), Tchernov, que, tomando em suas mãos a sineta, preparou-se para dar início à abertura da sessão inaugural.

 

Desgraçadamente, Sverdlov havia-se atrasado e, nesse momento, não se encontrava no salão.

Nossa tarefa resumiu-se, então, em desfazer o plano dos socialistas-revolucionários (SRs), evitando a ocorrência de um parto prematuro da Assembléia Constituinte.  

Era-nos importante destacar a prioridade do supremo órgão soviético, assinalando que a Assembléia Constituinte iniciava-se não por si mesma, mas sim devido à vontade do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Toda a Rússia (VTsIK).

Este não possuía, de modo algum, a intenção de transferir à Assembléia Constituinte o seu Direito de Dominação sobre o País dos Sovietes.

Por essa razão, tão logo surgiu na tribuna presidencial a majestosa figura de Tchernov, nós, membros da fração bolchevique, organizamos, imediatamente, uma obstrução.

Saltamos de nossos lugares e, aos gritos de “Fora ! Fora ! Fora ! ”, projetamo-nos sobre o púlpito.

Ao mesmo tempo, os socialistas-revolucionários (SRs) de direita lançaram-se na defesa de seu “decano”.

Um dos nossos agarrou Tchernov pelas mãos, pretendendo arrastá-lo para fora da tribuna.

No intervalo de alguns escassos minutos, marcados por toda aquela nossa barulhada, sufocamos, literalmente, a voz de Tchernov que, tocando, desesperadamente, o seu sininho e movimentando, desvalidamente, os lábios, exibia sua figura, extremamente flácida.

 

Não sei quanto tempo haveria prosseguido esse tumulto, caso não tivesse emergido, no momento mais crítico, sobre o púlpito da Presidência, ao lado de Tchernov, a figura repleta de energia de Jakob Mikhailovitch Sverdlov.

Dominando-se de maneira irrepreensível, Sverdlov subtraiu a sineta das mãos de Tchernov e, com poderosa segurança, afastou-o para o lado.

Em seguida, sobrevindo o silêncio, proclamou, estupendamente, com seu barítono imponente que ressoou por todo o salão:

 

“- O Comitê Executivo Central dos Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses de Toda a Rússia (VTsIK) conferiu-me a determinação de dar abertura à sessão inaugural da Assembléia Constituinte.”

 

Os socialistas-revolucionários (SRs) e os mencheviques procuraram abafar Sverdlov por meio de suas exclamações ameaçadoras :

 

“- Mãos sanguinárias !”

 

“- Basta de derramamento de sangue !”      

 

Nada obstante, seus gritos esparsos acabaram sendo inteiramente sufocados pelos candentes aplausos, produzidos em nossas bancadas :

 

“- O Comitê Executivo Central dos Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses (VTsIK) ... – ribombaram, clara e pungentemente, cada uma dessa palavras pronunciadas novamente por Sverdlov ...

 

“- Falsificações !”, vociferaram, novamente, alguns dos socialistas-revolucionários (SRs), ao tentarem interrompê-lo,

 

“- ... expressa a esperança de que ...”, prosseguiu Sverdlov, com firme tonalidade,

 

“- ... todos os decretos e resoluções do Conselho de Comissários do Povo serão inteiramente reconhecidos pela Assembléia Constituinte. A Revolução de Outubro de 1917 desencadeou o incêndio da Revolução Socialista não apenas na Rússia Soviética, senão ainda em todos os países do globo.”

 

Em face dessas palavras, alguma voz, vinda das bancadas da direita, insinuou alguns gracejos.

Sverdlov extinguiu-os com um olhar depreciativo e, erguendo a voz, pontificou :

 

“- Não temos dúvida de que a centelha de nosso incêndio alarga-se por todo o mundo, não se situando distante o dia em que a classe trabalhadora de todos os países se levantará contra os exploradores tal como, em Outubro, levantou-se a classe trabalhadora russa e, seguindo-a de perto, o campesinato russo.” 

 

Também sua alusão à classe trabalhadora e ao campesinato foi coroada pelos ruídos de nossos estrondosos aplausos.

Isso conferiu ainda maior segurança a Sverdlov :

 

“- Não temos dúvida”, prosseguiu, “de que os autênticos representantes do povo trabalhador que se reúnem nessa Assembléia Constituinte devem auxiliar os Sovietes (Conselhos) a acabar com todos os privilégios de classes.

Os representantes dos trabalhadores e camponeses reconheceram, nas jornadas de Outubro, os Direitos do Povo Trabalhador e Explorado sobre os meios e instrumentos de produção, cuja propriedade conferia às classes dominantes, até então, a possibilidade de explorar, de todas as maneiras, o povo trabalhador.

Tal como, a seu tempo, a Revolução Burguesa da França proclamou, no período da Grande Revolução de 1789, a Declaração dos Direitos de Livre Exploração das pessoas desprovidas de meios e instrumentos de produção, deve agora a Revolução Socialista Russa promulgar, da mesma forma, solenemente, sua própria declaração.”

 

Aqui, mais uma vez, esfuziaram os nossos aplausos.

As demais frações, entretanto, promoveram, então, um silêncio sepulcral.

A seguir, Sverdlov declarou :

 

“- O Comitê Executivo Central (VTiSK) expressa a esperança de que a Assembléia Constituinte, na medida em que expresse, devidamente, os interesses do povo, aprovará a declaração que possuirei a honra de agora tornar pública.”

 

Dito isso, Sverdlov passou à leitura, com tranqüila perseverança, de todo os parágrafos da Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, concluindo seu discurso com as seguintes palavras :

 

“- Por deliberação do Comitê Executivo Central dos Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses de Toda a Rússia (VTsIK), declaro aberta a presente Assembléia Constituinte.”

 

Em face dessas palavras, entoamos o canto da “Internacional”.

 

Todos os membros da Assembléia Constituinte levantaram-se de seus lugares e, na sala, retumbou a poderosa harmonia do hino mundial do proletariado.

Recordo-me de quando o canto atingiu o conhecido estrofe :

 

“Porém, quando o grandioso trovão estrepitar

sobre a corja dos abutres e carrascos ...

 

No iesli grom vielikii grianiet

Nad svoroi psov i nalatchei ...“

 

Tchernov, que se encontrava na primeira fileira dos socialistas-revolucionários (SRs), ergueu, soberbamente, a cabeça e com um sorriso, complacente e intimidado, no rosto, fez, com o braço direito, um amplo gesto impetuoso, dirigido-o para o nosso lado.

Na conclusão do canto, nós, bolcheviques, exclamamos, sonoramente :

 

“- Viva o Soviete de Deputados Trabalhadores, Camponeses e Soldados !

 

- Todo Poder aos Sovietes !”

 

Em resposta a isso, o socialista-revolucionário (SRs) de direita de nome Bychovskii bradou, demonstrativamente :

 

“- Todo Poder à Assembléia Constituinte !”

 

Sverdlov restituiu, novamente, o silêncio, prosseguindo, então, com o seguinte pronunciamento :

 

“Permitam-me desejar que os fundamentos da nova sociedade, previstos nessa Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, mantenham-se inabalados e, tendo envolvido toda a Rússia, abarquem, cada vez mais, o mundo inteiro.”

 

Essas palavras de Sverdlov foram recobertas de exclamações entusiásticas, irradiadas a partir das nossas fileiras que gritavam :

 

“Salve a República Socialista !”

 

Depois disso, concedeu a palavra, pela ordem, ao socialista-revolucionário Lordkipanidze que, irrompendo em direção ao púlpito, declarou :

 

“A fração dos socialistas-revolucionários (SRs) gostaria de frisar que, já desde muito tempo, tornou-se necessário dar início aos trabalhos da Assembléia Constituinte.

Consideramos que esta Assembléia pode apenas ser aberta por si mesma.

Nenhum outro poder, exceto o poder da própria Assembléia Constituinte, pode dar-lhe abertura.”

 

Essa intervenção anti-soviética do rasteiro orador socialista-revolucionário foi assaltada pelo barulho e pelas vaias, provenientes do nosso lado.

Atrás de Lordkipanidze, lá na tribuna presidencial, emergiu, inquebrantavelmente, a figura quase obstrutora de Sverdlov, interrompendo-o com a sineta, do modo mais severo, tal como se trouxesse à lembrança dos presentes a existência do Poder Supremo que estava verdadeiramente autorizado a abrir e fechar a Assembléia Constituinte.              

 

Em seguida, em movimento dirigido para o nosso lado, mal conseguindo deter o sorriso, exclamou Sverdlov :

 

“- Requeiro que a tranqüilidade seja mantida.”

 

Reiniciada a calma, surgiu a possibilidade de Lordkipanidze continuar com seu discurso.

Então, declarou ser adequado promover-se a expulsão de Sverdlov daquela sessão :

 

“Em vista do fato“, asseverou Lordkipanidze, “ de que o cidadão que se situa atrás de mim dirige ...”

 

Esse tom inteiramente depreciativo, empregado no trato com o Presidente do Comitê Executivo Central (VTsIK), levou-nos a que nos manisfestássemos novamente, do modo mais acalorado.

As palavras de encerramento de Lordkipanidze afundaram-se em meio a uma grande tempestade ruidosa e a uma estrepitante salva de vaias.

 

Não demonstrando excitação alguma, dando provas de surpreendente autocontrole, Sverdlov dirigiu-se à Assembléia, com plena dignidade :

 

“- Requeiro, da maneira mais devotada, que a calma seja mantida.

Se necessário for, posso, eu próprio, fundado em meu próprio poder, concedido-me pelos Sovietes (Conselhos) dos Trabalhadores, Soldados e Camponeses, chamar à ordem o orador.

Tenham a bondade, portanto, de não fazer barulho.”

 

Apenas depois disso, Lordkipanidze logrou prosseguir com a leitura da Declaração dos Socialistas-Revolucionários (SRs).

 

“Consideramos justo”, concluiu, então, Lordkipanidze, “que as eleições para Presidente da Assembléia Constituinte devam transcorrer sob a Presidência do membro mais velho.

Entretanto, nesse campo, não deflagaremos contra vocês, Senhores, a batalha definita – tal como ansiosamente a desejam –, não cairemos nessa armadilha, nesse pretexto formal, que visa a romper os trabalhos da presente Assembléia Constituinte.

Não lhes daremos, pois, essa oportunidade.”     

 

Depois dessa embaraçada intervenção do orador oficial da fração dos socialistas-revolucionários (SRs) de direita, subiu à tribuna o companheiro bolchevique Skvortsov-Stepanov que, aguçadamente, chicoteou os socialistas-revolucionários (SRs), ao declarar :

 

“- Companheiros e cidadãos !

Devo, antes de tudo, expressar minha surpresa quanto ao fato de o cidadão orador que me precedeu ter-nos ameaçado de pretender romper conosco, na hipotése de virmos a empreender determinadas ações.

Cidadãos da direita !

A ruptura entre nós já ocorreu há muito tempo.

Vocês se situaram de um lado das barricadas, juntamente com os guardas-brancos e latifundiários da nobreza.

Nós, do outro lado das barricadas, posicionamo-nos juntamente com os soldados, trabalhadores e camponeses.

Entre nós, encontra-se tudo encerrado.

O companheiro Sverdlov resumiu o discurso de vocês.

Vocês se posicionam em um certo mundo, em companhia dos cadetes (constitucionais-democratas) e dos burgueses.

Nós, em um outro mundo, situamo-nos em companhia dos camponeses e trabalhadores.”

 

Proferido com grande entusiasmo, o discurso de Skvortsov-Stepanov provocou grande entusiasmo entre todos os presentes, produzindo uma belíssima impressão.

 

Logo a seguir, Sverdlov propôs fossem iniciadas, introdutoriamente, as eleições para Presidente da Assembléia Constituinte.

Passamos, então, à colheta dos votos, a serem expendidos em favor dos representantes de cada fração.

Com base em proposta formulada por N. I. Bukharin, membro de nossa fração bolchevique, nosso companheiro I. G. Smidovitch e eu fomos escolhidos para dar procedimento à coleta mencionada.

Subimos, imediatamente, à tribuna presidencial, para onde trouxeram, a seguir, duas urnas eletorais.

Em uma delas, escreveu-se o nome “Tchernov” e, na outra, o nome “Spiridonova”.

Competiam ao todo dois candidatos : Maria Spiridonova, desempenhando o papel de representante do “Bloco de Esquerda”, e Tchernov, sustentado por todos os partidos anti-soviéticos, i.e. os socialistas-revolucionários (SRs), os mencheviques e os cadetes.

Cada membro da Assembléia Constituinte recebeu duas cédulas : uma branca (eletiva) e uma vermelha (não-eletiva).

A seguir, todos os votantes formaram um fila e subiram à tribuna, onde, em uma urna, lançavam a cédula branca e, na outra, a cédula vermelha.

Esse procedimento consumiu um longo tempo.

Os representantes das frações em pugna encontravam-se postados, atentamente, junto às urnas.

Terminado finalmente esse estafante procedimento de votação, passamos à apuração dos sufrágios e comunicamos os resultados eleitorais ao companheiro Sverdlov.

 

Feito isso, Sverdlov, lançando mão do sininho presidencial, conclamou todos os presentes a ocuparem os seus respectivos assentos e, em alto e bom tom, por todos plenamente compreensível, declarou, solenemente :

 

“- Permitam-me proclamar os resultados da votação para o cargo de Presidente da Assembléia Constituinte.

Tchernov recebeu 244 votos a favor e 151 contra.

Spiridonova, 151 votos a favor e 244 contra.

Sendo assim, considere-se eleito Presidente o membro da Assembléia Constituinte que responde ao nome de Tchernov.

Peço-lhe que assuma, pois, o seu lugar.”

 

Nesse momento, Sverdlov desceu da tribuna presidencial, concluindo, porém, de maneira brilhante, o difícil desempenho de seu papel que, com plena justiça,  poderia ser qualificado como sendo de importância histórica.

 

O ato da transferência do cargo presidencial de Sverdlov a Tchernov concluiu, em essência, o primeiro ato da Assembléia Constituinte.

 

O segundo abrangeu o intervalo de tempo que se estendeu do discurso inaugural de Tchernov até à promulgaçao de nossa declaração de ruptura com a Assembléia Constituinte.

 

Finalmente, o terceiro ato – marcado pela agonia da Assembléia Constituinte, no sentido mais pleno dessa expressão – prolongou-se do momento de nossa ruptura até à dissolução da sessão, por exigência do Comandante da Guarda, o marinheiro Anatoli Jelezniakov.

Nesses dois últimos atos da Assembléia Constituinte, a participação de Sverdlov já não foi tão dominante quanto o fora na fase inicial da existência de nosso curto parlamento.   

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE - PARIS



[1] Cf. RASKOLNIKOV, FIEDOR FIEDOROVITCH. Y. M. Sverdlov v Utchreditelnoi Sobranii (J. M. Sverdlov na Assembléia Constituinte), in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 152 e s.