90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E
DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE EMANCIPAÇÃO
PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE CÉLEBRES
DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
SOBRE
A UNIVERSIDADE COMUNISTA
J. M. SVERDLOV
DAVID
BORISSOVITCH RIAZANOV[1]
(tb.
DAVID B. RYAZANOV)
Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München
Dezembro de 2002 emilvonmuenchen@web.de
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Companheiros !
Em meio a todas as
tolices que existem na Rússia
Soviética – sobre isso já falou o companheiro Bukharin –, uma das mais irritantes,
entre tantas outras, é aquela constituída pela incomensurável veneração aos
heróis e dirigentes.
Trata-se de um fenômeno
extremamente enervante, com o qual vocês têm de se confrontar permanentemente,
em todas as cidades e em todos os assentamentos da Rússia, ao encontrarem, a passo e passo, casas, ostentando nomes de pessoas,
cujas mãos apenas há poucos minutos acabaram de apertar, e ao toparem com
instituições, dedicadas a uma certa pessoa que apenas há poucos instantes
acabaram de deparar nas ruas.
Diante de tudo isso, a Rússia Soviética poderia
ter feito, apenas com muita dificuldade, uma melhor escolha, ao batizar nossa Universidade Comunista
precisamente com o nome de Jakob
Mikhailovitch Sverdlov.
Estou ciente do fato de
que isso é o que possuiam exatamente em vista aqueles que denominaram nossa Universidade Comunista com o
nome de Sverdlov.
Creio que, com esse ato,
pretenderam acentuar os serviços prestados por J. M. Sverdlov, no domínio da construção do comunismo.
Contudo, é a própria
edificação do comunismo que resulta ser impossível sem a criação de uma
organização partidária, sem a geração de uma organização de pessoas,
conscientes do cumprimento de sua missão histórica.
Tais pessoas são
recrutadas, principalmente, a partir das fileiras da classe trabalhadora.
Vivem e atuam, às vezes,
sob as condições mais desfavoráveis possíveis, desenvolvendo, a partir de si
mesmas, lutas conscientes, na medida em que permanecem bem familiarizadas com
os fundamentos programáticos, táticos e práticos do Partido mais teórico e, ao
mesmo tempo, mais ativo, isto é : o nosso Partido Comunista Bolchevique.
Companheiros !
Em J. M. Sverdlov, possuimos
o tipo clássico de membro padrão do nosso Partido que não estudou em nenhuma Universidade Burguesa.
Sem embargo, Sverdlov concentrou, em si mesmo,
todos os conhecimentos, sem os quais revela-se inteiramente impossível que
alguém possa ocupar-se da construção do comunismo.
Enquanto exemplo clássico
de membro padrão do nosso Partido, Sverdlov
empreendeu,
com garra e por sua própria iniciativa, o caminho do trabalho incessante e
obstinado da autoformação, tal
como praticado nos pequenos e imperceptíveis círculos partidários, a partir dos
quais se formou o núcleo do Partido
Comunista Bolchevique.
Acentuo, ainda mais uma
vez, que o companheiro J. M. Sverdlov
personificou o próprio tipo clássico de companheiro padrão do nosso Partido,
que unifica o mínimo necessário de conhecimentos teóricos com todas as
habilidades práticas indispensáveis a produzir, como resultado final, um
autêntico revolucionário.
Os franceses designam
esse fenômeno, de modo muito emblemático, com uma de suas palavras para a qual
não possuimos designação correspondente.
Denominam-no de “militant”, i.e. um voinstvuiusch[2].
Esse termo é também
tomado emprestado da antiga linguagem da Igreja e designa o pregador que, com a cruz em uma mão e a espada na outra,
dirige-se ao campo de batalha, a fim de conquistar a terra prometida.
Companheiros !
Se afirmo que Sverdlov deu-se a conhecer como o
tipo clássico de membro padrão do nosso Partido, não me esqueço absolutamente
do fato de que ele se distinguia, ao mesmo tempo, da grande massa dos nossos
companheiros de Partido.
Bukharin e Muranov já
falaram sobre a capacidade que distingüia, agudamente, Sverdlov dos demais companheiros
padrões do nosso Partido.
Referida capacidade
manifestava-se no talento organizativo incomum de Sverdlov, talento de organizador que consistia não apenas
em encontrar para cada companheiro o seu
lugar correspondente, colocando cada macaco no seu galho, cada
sapateiro na sua devida função (possadit
kajdovo svertchka na evo shestok), senão ainda, principalmente, em fundir, em
um único inteiro, os esforços fragmentados de diferentes grupos e organizações
singulares, direcionando esse inteiro unificado através do caminho apropriado,
rumo ao objetivo adequado.
Foi precisamente esse
talento organizativo que Sverdlov
demonstrou possuir, em dimensão descomunal,
nos Dias de Julho de
1917, quando se tornou necessário reunir, novamente, nossas fileiras,
desarranjadas e em plena confusão, por haverem perdido a ligação entre si
mesmas e com os seus diversos agrupamentos.
Não tive o prazer de
conhecer Sverdlov pessoalmente,
senão no advento desses dias.
Por outras pessoas,
fiquei sabendo, então, do trabalho que havia realizado nos Urais. Entretanto,
outrora, não me fora proporcionada a ocasião de o conhecer.
Tão somente nos Dias de Julho de 1917, quando, depois da derrota sofrida pelo
proletariado entre 3 e 5 de julho, começou a reunir-se novamente, diante dos
meus olhos, o exército proletário, formando-se, mais uma vez, em fileiras,
solidificando-se a si mesmo e a sua própria organização, encontrei Jakob Mikhailovitch Sverdlov,
situado na base, nos lugares mais perigosos, em meio às massas trabalhadoras.
Naqueles dias em que os
mais rijos companheiros haviam-se precipitado em um profundo desânimo e
lutadores muito destemidos aparentavam ter perdido seu espírito de
inflexibilidade, Sverdlov demonstrou
a sua firmeza.
Não hesitou, nem por um minuto,
nem por um momento sequer, acerca da vitória segura de nossa causa e, desde
logo, dedicou-se ao trabalho organizativo, ao agrupamento das colunas
dispersadas, realinhando-as corajosamente, unificando-as em um único inteiro,
criando a partir delas e juntamente com outros companheiros, as forças armadas
dos lutadores em prol da causa do comunismo.
Companheiros !
Devo ainda ressaltar uma
qualidade que em J. M. Sverdlov me
surpreendeu, provocando em mim um grande respeito em relação à sua pessoa.
Em nosso Partido, há
muitas pessoas ousadas.
Em nosso Partido, cujo
fundamento assenta-se, profundamente, na classe trabalhadora, há, até mesmo,
pessoas por demais corajosas e audazes.
Porém, em nosso Partido,
onde se possui também intelectuais, quer advindos das fileiras da burguesia,
quer egressos das filerias da classe trabalhadora, encontram-se diferentes
modelos de ousadia.
Há tanto a bela ousadia
quanto a ousadia honrada, ainda que não despidas de uma certa mistura de poses
e de frases.
Há também a ousadia que
se auto-reconhece e que a si mesma se louva.
Porém, sabemos que, das
fileiras da classe trabalhadora, assim como dos meios do velho e robusto
campesinato, emergem pessoas que desconhecem essa auto-veneração do
temperamento ousado, pessoas que são ousadas, de modo precisamente simples e
natural, tais quais naturais e simples se revelam em tudo o que fazem.
Exatamente essa mesma
qualidade saltava aos olhos nesse homem que sou, provindo dos estamentos da
burguesia, provocando em mim grande admiração por Jakob Mikhailovitch
Sverdlov.
Esse destemor natural,
essa coragem não fingida, esse heroísmo simples, cujo equivalente não pode ser
encontrado alhures, essa audácia que considera seus próprios grandes atos de
heroísmo como algo por demais evidente, sobre os quais não fala e dos quais
quase nunca deixa de se envergonhar, quando outros deles se gabam: precisamente
essa ousadia era o traço distintivo de Sverdlov.
Essa qualidade que deve
distingüir todo lutador do nosso Partido alcançou o seu ponto culminante em Sverdlov, relevando, assim, sua
particularidade individualíssima.
Companheiros !
Devo indicar, agora,
ainda mais um traço característico de
Sverdlov.
Em nosso Partido, há os
assim-chamados intelectuais.
Em verdade, em seu seio
há, freqüentemente, aqueles que apenas possuem alguns anos de acesso à Ciência Burguesa, nos Ginásios, dos quis foram, a
seguir, expulsos.
Há, também, porém mais
raramente, aqueles que conseguiram concluir a Universidade e, durante toda a sua vida, alimentaram seu ódio à Ciência Burguesa.
No quadro de uma luta
extensamente revolucionária, a esmagadora maioria desses intelectuais colheram,
já há muito tempo, por sua própria iniciativa, a sórdida maçã de Adão.
Com muitas dificuldades,
ligaram-se ao Partido
Comunista Bolchevique.
Esse Partido,
acolhendo-os em suas fileiras, transforma-os precisamente em lutadores
comunistas, do mesmo modo que também o faz com seus membros, provenientes dos
meios da classe trabalhadora.
Lamentavelmente, também em
nosso Partido, de tempos em tempos, surge uma certa tendência – e ela está se
fortalecendo, nos últimos tempos – que se limita à declaração de que basta
possuir pai e avô em uma certa atividade laboral, para que, por força dessa
origem distingüida, possa-se gozar de privilégios especiais em nosso Partido.
Os defensores dessa
tendência esqueçem-se de que nosso Partido desconhece e não pode vir a
conhecer, em seu meio, em suas fileiras, nenhuma diferenciação, senão aquelas
relacionadas com o grau de dedicação ao Partido, com o grau de disposição de
serví-lo, com todas as suas forças, e, se necessário, com sua própria vida.
Em um companheiro do
Partido, as diferenças havidas entre “intelectuais”
e trabalhadores desaparece.
Pois
bem : J. M. Sverdlov foi, também, um dos melhores representantes desse
tipo.
E, até mesmo, o
representante mais acabado das assim chamadas impetuosidades, em sua mais
inteira inclinação à violência, não poderia afirmar em que categoria cumpriria
encaixar Sverdlov : se
na dos trabalhadores ou na dos intelectuais.
J. M. Sverdlov exsurgiu,
nesse contexto, como o tipo clássico de companheiro padrão do Partido, o tipo
clássico de comunista, junto ao qual apagaram-se e desapareceram todas as
diferenciações de origem, de educação, de costumes e de todos os sistemas de
vida existentes entre o intelectual
comunista e o trabalhador comunista.
Precisamente, por essa
razão – e apesar de seu acanhamento intelectual, que tão freqüentemente o
envolveu – J. M. Sverdlov comportou-se em seu trabalho tal como pertencendo a nós,
membros da intelectualidade.
Com grande prazer,
reportavam-se a ele, porém, todos os membros do Partido.
Estes percebiam que,
nesse ser humano, não havia restado nenhum resquício de sua origem de classe,
que havia rasgado todos os fios que o ligavam à camada social da qual adviu,
que se dissolvera, completamente, no Partido que reconhecia apenas uma
diferenciação : a de constatar quem é que serve, com maior energia e com maior
capacidade, à causa da Revolução
Comunista.
É, portanto, desse modo
que todos vocês, jovens companheiros, reconhecendo na designação da Universidade Comunista o nome de Jakob
Mikhailovitch Sverdlov, estão aprendendo
e apropriando-se dos conhecimentos elementares da ciência e, em primeira linha,
elaborando-a, a partir do trabalho realizado com os próprios companheiros do
Partido.
Tanto vocês como todos
nós devemos honrar, altaneiramente, a memória de Sverdlov, esse ideólogo e lutador, personificado cavaleiro das cruzadas : esse
combatente em prol da terra louvada do comunismo, na qual viveu, durante toda a
sua curta existência, e morreu, com toda a sua grande ousadia.
EDITORA
DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS
[1] Cf. RIAZANOV, DAVID BORISSOVITCH. Pamiati Y. M. Sverdlova (Recordações de J. M. Sverdlov), in : Yakov
Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch
Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel
TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.),
Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 83 e s. O presente
texto de Riazanov representa uma transcrição literal de seu
discurso, pronunciado, em 16 de março de 1920, na Universidade Comunista
Sverlov, precisamente à época da comemoração do primeiro ano da morte
de J. M. Sverdlov.
[2]
Poderíamos ainda destacar, no sentido do texto de Riazanov, que a palavra latina miles
(militis) significa soldado, componente
de uma tropa militar, membro de uma milícia ou de um serviço militar. Com
efeito, militia (militiae) significa,
precisamente, serviço militar.