90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917

MORAL E CONSCIÊNCIA, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS

DE EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA

TEXTOS DE CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV

 

O REGRESSO DE J. M. SVERDLOV

DO EXÍLIO EM MARÇO DE 1917

PELA CIDADE DE KRASNOIARSK :

Sua Luta em Defesa da Revolução Permanente

contra a Tática de Frente Popular da Direção Stalin - Kamenev   

 

BORIS Z. SHUMIATSKY[1]

 

Concepção e Organização, Compilação e Tradução Asturig Emil von München

Outubro de 2003  emilvonmuenchen@web.de

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“Tratava-se de uma poderosa virada na história da Rússia

e de um giro jamais existente na história do nosso Partido.(...)

Era necessário uma nova orientação do Partido, nas novas condições de luta.

O Partido (sua maioria) procurou, tateando, alcançar essa nova orientação.

Adotou uma política de pressão dos Sovietes sobre o Governo Provisório

na questão da paz e não se pôde decidir a marchar imediatamente para diante,

saindo da velha consigna, Ditadura do Proletariado e do Campesinato,

rumo à nova consigna Poder dos Sovietes.

Essa política do meio termo havia sido calculada para dar oportunidade

aos Sovietes de contemplarem, através das questões concretas da paz,

a verdadeira essência imperialista do Governo Provisório, dela, assim, afastando-se.

Porém, foi uma posição profundamente errada, pois fazia proliferar ilusões pacifistas,

entornava água no moinho dos “defensistas da pátria”,

dificultando a educação revolucionária das massas.

Essa posição equivocada compartilhei, então, com outros companheiros do Partido,

dela afastando-me inteiramente ao aderir às Teses de Lenin.”

Iossip V. D. Stalin[2]

 

UM ENCONTRO EM UMA REUNIÃO DE FRAÇÃO

Recordo-me de tudo isto como se fosse hoje :

Em 21 de março de 1917, por volta do meio-dia, os companheiros Andrei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov) e Felipe – também chamado de Jorge (Filipp Isaievitch Goloschekin), vieram até nós.

Sua chegada ocorreu durante uma reunião do grupo dos pravdistas, tal como nós, bolcheviques da cidade de Krasnoiarsk, então nos denominávamos.

Essa reunião estava tendo lugar na sala dos paletós da Casa da Cultura.

Debatíamos, então, a questão referente à linha tática de nosso Partido. Sverdlov entrou na sala durante o discurso do companheiro I. Belopolsky[3].

 

Belopolsky, na condição de co-relator da matéria, havia completado, em alguns aspectos, o informe apresentado por mim acerca da necessidade de os Sovietes tomarem o poder em suas mãos.

Sendo um companheiro de bons dotes oratórios, desenvolveu, em seu co-informe, com seu modo tipicamente apaixonado de pronunciar-se, as teses fundamentais, contidas no meu informe, fornecendo-lhe justificativas práticas.

Belopolsky demonstrou que apenas a Guerra Civil bastaria para o atingimento da tomada do poder e, ademais, agregou o seguinte :

 

“- A República, a Assembléia Constituinte, constituem um engodo, desejado veementemente pela burguesia e pelos latifundiários, enquanto forma de ganharem tempo.”    

 

Naquele então, em meados de março de 1917, tudo isso parecia evidente para nós, poucos bolcheviques, negligenciados em meio àquele distante cantinho da Sibéria.

Porém, as palavras de Belopolsky caíam como golpes pesadíssimos sobre o solo cultivado em grande medida pelos velhos bolcheviques e, por essa razão, produziram ondas de exaltações, sacudindo, na consciência de todos, ecos de compreensão ativa.

Eis que, então, durante o discurso em tela, rebombou, repentinamente, uma voz  compacta e grave :

 

“- Peço a palavra !”

 

Todos se voltaram para o lado daquele que pronunciara esses vocábulos e, naquela pessoa, reconhecemos o companheiro Sverdlov.

Vestido com seu costumeiro casaco marron avermelhado, Sverdlov achava-se calçando botas e ostentando uma pequena barba, em forma oval.

  

Concedida a palavra a Sverdlov, nossa reunião foi forçosamente interrompida, dando-se início, então, à sessão dedicada à formulação de perguntas.

Sverdlov e seu parceiro de viagem, o companheiro Goloschekin,  mal havendo chegado à Krasnoiarsk, com procedência de seu exílio em Enissei, perguntaram-nos, com avidez, quais eram as novidades que possuíamos do centro.

Repassamo-lhes, com excitação, todas as informações sobre o curso da Revolução em Petrogrado e sobre a luta impiedosa que estávamos travando contra a política menchevique.

A seguir, contamo-lhes nossos aborrecimentos locais, queixando-nos daqueles companheiros da organização social-democrática de nossa localidade que, a despeito de seu glorioso passado bolchevique, impulsionavam, em Krasnoiarsk, uma linha de conciliação, ao levantarem a “consigna de apoio ao Governo Provisório «conforme o caso»”.

Esses compaheiros combatiam o nosso grupo dos pravdistas e nossa consigna fundamental : “Abaixo a Guerra Imperialista !”, qualificando-a de “delírio revolucionário” e, pior ainda, de “pacifismo burguês”.

 

Cerca de uma hora se passou no quadro dessa nossa exposição.

Pedimos, então, a Sverdlov que participasse da apreciação da questão relativa à tomada do poder pelos Sovietes, apreciação essa interrompida por causa de sua chegada.

Sverdlov expôs, então, seu ponto de vista, com palavras simples, lapidares e claramente marcantes.

Cautelosamente, afirmou que ainda não lhe estava claro o panorama da luta da classe trabalhadora russa e do campesinato pelo poder dos Sovietes, i.e., mais precisamente, que não lhe estava clara a dimensão dessa luta.

Porém, destacou que a necessidade inexorável dessa peleja era, a seus olhos, indubitável.   

Para tanto, assinalou que bastaria contemplar o curso dos acontecimentos internacionais, bem como a correlação das forças em luta em todas as partes do mundo.

Os imperialistas mundiais - mais fortes do que os nossos capitalistas nacionais -, os magnatas do capital mundial, aqueles que na linguagem do quotidiano político eram chamados de “aliados” da Rússia na Guerra Mundial, não nos permitiram continuar e, tão pouco, conduzir até o fim nossa revolução, acrescentou.

Disso, Sverdlov sacou a inapelável conclusão de que, mesmo que não pretendêssemos aprofundar a revolução que se iniciara, resultaria tão evidente a inevitabilidade do aguçamento do antagonismo por ela provocado que ninguém, nenhuma força e nem mesmo as organizações dos sociais-conciliadores e dos sociais-patriotas defensistas seriam capazes de impedir o retumbante desate da luta já desencadeada.

Nosso Partido, enquanto Partido da classe trabalhadora, dirigente da luta do campesinato revolucionário, estando organizado, naquele momento, como um exército de muitos milhares de lutadores, deveria ingressar na via do aprofundamento, cada vez mais intenso, da revolução.

Por isso, a consigna de “Passagem do Poder para as Mãos dos Sovietes !” surgia como sendo a consigna necessária dos dias correntes e futuros.

E isso seria assim não porque nós o teríamos conjecturado, mas sim em virtude de emergir, diretamente, da essência das condições mundiais, visto que ninguém nos haveria de permitir, voluntariamente e sem luta, promover o encerramento da conflagração mundial.

Jamais viríamos a conseguí-lo sem intentarmos executá-lo através do caminho da violência, através da via da tomada do poder da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário.

 

“- Eis a razão,” afirmou o companheiro Sverdlov, concluindo seu discurso, “por que mesmo tendo estado distante do centro dos acontecimentos, nos últimos dias, acredito e desejo que nossa próxima luta seja desenvolvida sob a consigna da passagem do poder para as mãos do proletariado e do campesinato revolucionário.

Os órgãos desse poder serão os Sovietes de Deputados dos Trabalhadores, Soldados e Camponeses.”

 

Depois da intervenção de Sverdlov, todos os companheiros que se pronunciaram acerca dessa questão - Goloschekin, Belopolsky, Rogov, Djorov, Tchernykh e outros -, postularam, já com mais claridade, a necessidade de levantarmos perante os trabalhadores e a Guarnição de Krasnoiarsk a consigna de :

 

“Todo o Poder aos Sovietes !”

 

Eis aí por que nós, pravdistas de Krasnoiarsk, conduzíamos, já a esse tempo, i.e. já em março de 1917, uma luta generalizada em defesa propriamente dessa consigna, no quadro da organização social-democrática de Krasnoiarsk, em cujo interior ainda então nos localizávamos.

Sverdlov recomendou-nos, então, não romper, porém, radicalmente, com os líderes da organização social-democrática de Krasnoiarsk e com o comitê dessa organização, em cuja composição encontravam-se muitíssimos membros extraordinários de nosso Partido Bolchevique.

 

“- O fato de eles estarem vacilando, temporariamente, nada significa”, afirmou Sverdlov.  

 

“- Nada significa o fato de que eles se equivoquem, transitoriamente, com a consigna de apoio ao Governo Provisório « conforme o caso »”, acentuou.

 

“- O seu oportunismo é produzido pelas condições nas quais viveram, nos últimos anos, e, presentemente, intervêm: distantes do centro, distantes do nosso Comitê Central, são influenciados, automaticamente, pelas circunstâncias nas quais transcorre o seu próprio trabalho.

Não há problema nisso. Quando necessário, nós os sacudiremos. Por isso, o grupo de vocês não deve romper radicalmente com eles.”   

 

O conselho de Sverdlov foi seguido por nós tal como se fosse uma regra de direção.

Mesmo conduzindo uma luta impiedosa contra as tendências conciliacionistas e social-patriótico-defensistas da organização social-democrática de Krasnoiarsk, decidimos, apesar de tudo, não romper com seus dirigentes, tendo em consideração a possibilidade de que, mais cedo ou mais tarde, todos eles regressariam, igualmente, às fileiras revolucionárias.

 

Aí mesmo, nessa reunião, foi elaborada, apressadamente, uma resolução sobre o objeto de nossa discussão relativa à questão do poder dos Sovietes.

Os companheiros Sverdlov e Goloschekin participaram ativamente de sua formulação.

O sentido dessa última reproduzo, aqui, de memória.

Nela, nós, pravdistas, desenvolvemos os pensamentos que descrevi acima e – tal como me recordo presentemente – foi a resolução em questão encerrada com as seguintes palavras :

 

“Em oposição ao conciliacionismo e ao patriotismo social, opinamos que nossa revolução ou triunfará, enquanto revolução proletária, através dos métodos próprios da impiedosa luta de classes e da Guerra Civil, concretizando, então, a Ditadura do Proletariado, ou, sob as consignas dos conciliadores e dos sociais-patriotas defensistas, triunfará a burguesia, sendo esmagada nossa revolução.” 

 

Nessa mesmíssima reunião, cumpriu-nos apreciar a questão acerca de como nós, pravdistas, haveríamos de nos comportar na Plenária do Soviete de Krasnoiarsk, convocada para o dia seguinte, i.e. para 22 de março de 1917.

Nessa plenária, caberia apreciar a questão do poder, i.e. da relação a ser mantida seja em face do Governo Provisório seja em face dos Sovietes.

Nela, realizar-se-ia também a eleição dos delegados representantes do Soviete dos Deputados Trabalhadores e Soldados de Krasnoiarsk, a serem enviados à I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia (Conferência de Abril), a ter lugar em Petrogrado.

Juntamente com os companheiros Goloschekin, Rogov e Djorov, defendi, ainda na reunião de nosso grupo, posição favorável a uma intervenção autônoma do grupo dos pravdistas, no quadro da Plenária do Soviete que surgia pela frente.

Essa nossa autonomia de intervenção haveria de estar munida seja do nosso próprio informe, seja da nossa própria resolução, apresentando nossos próprios candidatos à I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia.    

 

Já não me recordo mais do significado da posição, defendida pelas pessoas elencadas acima relativamente à questão de nossa intervenção autônoma : “enfermidade de esquerda” ou correta compreensão da tática de nosso Partido.

O próprio autor dessas linhas poderia, indubitavelmente, ser considerado como parcial na definição desse mérito.

Em todo o caso, Sverdlov não compartilhou, então, desse nosso ponto de vista.

Recomendou ao nosso grupo intervir, na sessão vindoura do Soviete de Krasnoiarsk, não com um informe autônomo, mas sim apenas com um co-informe, devendo a questão relativa à resolução autônoma ser apenas eventualmente postulada, em dependência do curso dos debates que haveriam de ser travados na Plenária do Soviete. 

Além disso, por proposta de Sverdlov, a questão relativa aos candidatos autônomos foi resolvida de tal sorte que o grupo dos pravdistas incumbiu-se de apresentar, de antemão, em seu próprio nome, um único candidato dentre os dois deputados que seriam enviados a Petrogrado.

Quanto ao segundo candidato – também em conformidade com o conselho formulado por Sverdlov -, seria este por nós eventualmente apresentado apenas no momento da sessão do Soviete, analisando-se efetivamente a correlação de forças existentes no momento.

As propostas do companheiro Sverdlov foram acolhidas, unanimemente, por nosso grupo e, enquanto candidato do grupo dos pravdistas, foi eleito o próprio autor dessas linhas.

 

NA SESSÃO DO SOVIETE DE KRASNOIARSK

 

A sessão do Soviete de Krasnoiarsk de 22 de março de 1917 ocorreu no auditório da Casa da Cultura dessa cidade.

Sabíamos que, para essa sessão, os socialistas-revolucionários (SRs) e os adeptos da política menchevique estavam preparando a deflagração de uma luta decisiva contra nós, internacionalistas do grupo dos pravdistas.

Estávamos cientes do fato de que haviam mobilizado na cidade todas as forças de seus membros “martovistas” : oficiais militares e intelectuais.

Nós, pravdistas, respondemos a essa mobilização de forças conciliacionistas e patriótico-defensistas da mesmíssima forma : na noite de 21 de março, espalhamo-nos pelas oficinas, pelos principais galpões das ferrovias, pelas fábricas, por todos os ramos das indústrias, pelas tropas militares, propagandeando, nessas localidades, a idéia do poder dos Sovietes e nossa plataforma tática.

 

Eis por que quando, em 22 de março, reuniu-se a Plenária do Soviete, encontrava-se esta mais numerosa do que todas as precedentes.

Ali, estavam presentes cerca de 300 deputados dos trabalhadores e soldados de Krasnoiarsk.

Segundo, porém, as estatísticas da edição Nr. 13 do jornal “Krasnoiarsky Rabotchy (O Trabalhador de Krasnoiarsk)”, de 24 de março de 1917, tratavam-se de 256 deputados.

Nessa plenária, contrastavam, nitidamente, os segmentos partidários daqueles que nela intervinham: o espaço da esquerda foi ocupado por nós, pravdistas, o centro, pelos deputados membros da organização dos social-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) e o flanco direito, pela intelectualidade, pelos sociais-patriotas defensistas e conciliadores, caçadores de ouro.

Todos os líderes de correntes estavam presentes.

No flanco da extrema direita, destacavam-se as figuras dirigentes dos socialistas-revolucionários (SRs) : E. Kolosov, E. Kazantsev, V. Gurevitch e outros. Todos estes tornaram-se, posteriormente, dirigentes anti-bolcheviques do “Zemgor Tchecoslovaco (Comitê Rural e Municipal Tchecoslovaco dos Exilados Russos)”.

No centro, emergiam as figuras dos dirigentes da organização social-democática de Krasnoiarsk : Y. Dubrovinsky. A. Okulov. I. Teodorovitch, M. Frumkin e outros.

Encabeçando os deputatos da esquerda emergiam as figuras de J. M. Sverdlov, F. I. Goloschekin e demais dirigentes locais desse agrupamento bolchevique.

 

A presidência do Soviete de Krasnoiarsk, em cujo seio dominava, então, a corrente dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), colocou na ordem do dia, visando à abertura da sessão, uma questão de ordem geral, a fim de que – tal como ficou esclarecido depois - resultasse demonstrada a unidade do Soviete de Krasnoiarsk.

Essa questão de índole geral estava relacionada com a introdução obrigatória da jornada de trabalho de 8 (oito) horas, mediante recurso à violência, não se esperando por um decreto governamental do centro e, até mesmo, posicionando-se em oposição a ele.

Os socialistas-revolucionários (SRs) e os adeptos do menchevismo - que, até então, haviam permanecido muito melindrosos quanto a todas e quaisquer ocorrências que apontassem para a “tomada do poder” - não intervieram, desta feita, nem mesmo contra a introdução dessa importante medida através da via revolucionária.

Acumulavam, visivelmente, todas as suas forças e todos os seus golpes para a principal questão, i.e. para a questão sobre do poder, para a questão da relação a ser mantida em face do Governo Provisório e dos Sovietes.

 

Os debates travados a propósito dessa última questão foram iniciados, então, com a apresentação do informe do companheiro A. Okulov, que se situava, nessa época, defendendo as posições da organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) da cidade de Krasnoiarsk.     

Em conformidade com as palavras do jornal “Krasnoiarsky Rabotchy (O Trabalhador de Krasnoiarsk)” que era, então, porta-voz da corrente centrista :

 

“O orador A. Okulov forneceu, em seu informe, uma caracterização circunstanciada do Governo Provisório, o qual representaria, segundo sua composição, os interesses da burguesia imperialista e, por esse motivo, seria incapaz de promover o impulsionamento da revolução até a satisfação das reivindicações fundamentais do proletariado e do campesinato revolucionário.

O orador ilustrou essa situação mediante fatos extraídos das atividades atuais do Governo Provisório, acentuando que, no futuro, seria inevitável uma confrontação da burguesia com a classe trabalhadora, sobre o terreno da luta em prol de reivindicações sócio-econômicas fundamentais.

Enquanto medidas asseguradoras do desenvolvimento da revolução e relacionadas com suas reivindicações, o orador recomendou a realização de um rigoroso controle por parte do povo revolucionário sobre os trabalhos do Governo Provisório, bem como o exercício de uma incessante pressão sobre ele por parte das forças organizadas do proletariado, do campesinato e das forças armadas revolucionárias.”

 

Em sua conclusão, Okulov indicou a indispensabilidade do apoio ao Governo Provisório, porém apenas nos casos em que este caminhasse no mesmo sentido das reivindicações revolucionárias estabelecidas :

 

“O orador A. Okulov conclamou os presentes à organização das forças revolucionárias na luta em prol da concretização das grandes e importantes tarefas implementadoras da revolução.”

 

Depois do informe do companheiro Okulov, a palavra foi concedida ao co-relator, dirigente socialista-revolucionário E. Kolosov que interviu em nome da fração dos socialistas-revolucionários(SRs) e dos mencheviques.

Com efeito, durante cerca de meia-hora, o informe de Kolosov desenvolveu, de modo formalmente brilhante e com extrema agudeza, os pontos de vista dos socialistas-revolucionários (SRs) e dos seguidores da orientação menchevique.

Kolosov debruçou-se, antes de tudo, sobre o tema do trabalho “traiçoeiro” praticado pelos bolcheviques.

Segundo suas palavras, os bolcheviques traíam a revolução e a democracia em benefício do imperialismo alemão.

Eles – os bolcheviques – estariam servindo, voluntaria ou involuntariamente, a esse imperialismo.

Eles – os bolcheviques – apunhalavam as costas de “nossas Forças Armadas Democráticas” ... – que, eram, em verdade, porém, czaristas !!!

Eles – os bolcheviques – estariam instigando-nos, i.e. a “Rússia”, a romper com os “aliados”, sendo que, sem as relações mantidas com estes resultariam aniquiladas tanto a ”Democracia Revolucionária” quanto as suas “conquistas”, seja por obra do imperialismo alemão, seja por força da reação, considerada em geral. Estes estariam transitando para dentro dos portões dos próprios bolcheviques ...

Excelente orador e não menos hábil demagogo, Kolosov pretendia, por meio psicológicos, tornar-se estimado junto às tropas militares do Soviete de Krasnoiarsk.

Aspirava por “abrir fontes para a derrota bolchevique”, ao qualificar a aversão da massa de soldados de se dirigir à guerra como sendo uma simples expressão do próprio egoísmo destes.

Além disso, na parte substancial de seu discurso, Kolosov demonstrou que “a Democracia Revolucionária deve cumprir o seu dever até o fim”, i.e. não romper com os “aliados”, senão ajudá-los a concluir vitoriosamente essa guerra, de modo a que recebêssemos, então, por Direito, das mãos dos “aliados”, tudo aquilo que “recai sobre nosso dever, sobre o dever da Democracia Russa.”

Conclusivamente, Kolosov conclamou o Soviete de Krasnoiarsk a :

 

“... apoiar unanimemente os representantes das necessidades e dos interesses da Revolução Democrática, i.e. o Governo Provisório, em cuja composição encontravam-se não apenas capitalistas, mas também socialistas.”

 

Depois do informe de Okulov e do co-informe de Kolosov, abriram-se os debates.

Primeiramente, a palavra foi concedida ao representante do grupo dos pravdistas, i.e. o companheiro Jakob Mikhailovitch Sverdlov.

Com toda a força de sua argumentação bolchevique, Sverdlov fulminou as teses levantadas no discurso social-patriótico-defensista de Kolosov.

Passo a passo, decifrando todas as vestimentas multicoloridas e toda a miséria ideológico-revolucionária daquele discurso patriótico-defensista, Sverdlov destacou o fato de que o povo, em nome do qual os socialistas-revolucionários (SRs) adoravam pronunciar-se, não havia recebido, desde o início da revolução, absolutamente nada além dos discursos melífluos de Kerensky e Kolosov.

Os adeptos do menchevismo e os socialistas-revolucionários (SRs) cevavam os trabalhadores e os soldados com “promessas vazias”, rebaixando, desse modo, até ao chão, o nível dos interesses das amplas massas populares, situadas no curso da luta revolucionária que, naquele momento, desenvolvia-se entre nós.

Além disso, afirmou o companheiro Sverdlov :

 

“- A revolução é o momento mais agudo da luta de classes, no curso da qual as classes socialmente oprimidas querem receber e, se não recebem, desenterram as suas forças e arrancam concessões da classe opressora.”

 

“- E, caso essas concessões não sejam obtidas, não resultando, por sua vez, inteiramente derrotada a classe opressora”, acrescentou, “será a própria revolução que resultará despedaçada.”

 

“Eis por que nós, bolcheviques, somos contra a consigna de « Paz Civil » da Democracia Revolucionária e levantamos, pelo contrário, a palavra de ordem de luta de classes irreconciliável.

Nesse processo que conduz à revolução, aderem aqueles grupos e classes sociais que estão interessados na vitória até o seu final.

Contra a revolução, porém, encontram-se muitos dentre os quais o orador dos socialistas-revolucionários (SRs) e dos seguidores do menchevismo denominou de « os melhores representantes da Democracia Revolucionária ».”

 

Paralelamente, Sverdlov salientou que a melhor forma e o modo mais unificado de organização para a luta vitoriosa da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário – tal como havia demonstrado a experiência prática – são os Sovietes:

 

“- Os Sovietes constituem os corpos de comando das forças armadas da revolução proletária,  ao passo que essa idéia de «Paz Civil» nada mais é senão uma tentativa de reconstituir, por meio enganoso as forças enfraquecidas da burguesia e, desse modo, fortalecê-las”, exclamou Sverdlov.

 

“- Por essa razão, nós, bolcheviques, somos contra toda e qualquer coalizão.

Somos a favor da passagem do poder para as mãos da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário, cujos órgãos são os Sovietes !”

 

O discurso apaixonado de Sverdlov foi brindado com fervorosos aplausos.

A partir daí, tornou-se claro que o Soviete da nossa Kraisnoiarsk revolucionária, o mais antigo centro do bolchevismo siberiano, havia concedido, indubitavelmente, sua simpatia à posição dos bolcheviques revolucionários.

 

Depois do discurso em realce, os socialistas-revolucionários (SRs) e os adeptos da política menchevique - sem margem de dúvida com o objetivo de arrefecer a temperatura que havia sido produzida pelo discurso claro, conseqüente e convincente de Sverdlov – acionaram mais um de seus lábios de ouro : Kazantsev, cujo discurso não cabe reproduzir aqui.

Sem embargo, a idéia geral de sua elocução era a de que :

 

“... os bolcheviques estão afundando a revolução.

Conseguiram transformar-se em coveiros do movimento revolucionário.

Apenas a Democracia Revolucionária e a coalizão de todos as forças vivas do país hão de conseguir salvá-la.”

 

No mesmíssimo tom emitido pelas glotes cintilantes dos socialistas-revolucionários (SRs), foi também pronunciado o discurso de um dos seus veneradores mencheviques, A. Schebunin, o qual, ao concluir, propôs ao Soviete de Krasnoiarsk a seguinte resolução, a ser adotada em nome da fração dos mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs) :

 

“Tendo em conta que :

 

1)          o Governo Provisório constitui o governo da revolução, formado com base no resultado do acordo estabelecido entre o Comitê Executivo da Duma do Estado e o Soviete de Petrogrado dos Deputados Trabalhadores e Soldados ;

 

2)          a fonte do poder do Governo Provisório é a vontade do povo, organizado nos Sovietes de Deputados Trabalhadores e Soldados ;

 

3)          a convocação da Assembléia Constituinte, a ser realizada com base em votação geral, direta, igual e secreta, bem como proclamada pelo Governo Provisório, constitui a reivindicação mais imediata das massas trabalhadoras ;

 

Considera o Soviete de Deputados Trabalhadores e Soldados de Krasnoiarsk como imprescindível seja expressado seu apoio efetivo ao Governo Provisório, na medida em que concretize, na prática, o programa por ele promulgado, não sendo suas medidas dirigidas contra a vontade do povo que se organiza nos Sovietes de Deputados Trabalhadores e Camponeses.

   

A seguir, uma plêiade de oradores intervieram com críticas formuladas contra essa resolução em destaque, seja em nome de nosso grupo dos pravdistas, seja em nome da organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), de orientação centrista.

 

Desenvolvendo os pontos contidos no discurso do companheiro Sverdlov, os oradores do grupo dos pravdistas demonstraram que, se o objetivo da luta revolucionária, i.e. o objetivo da luta da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário, constituía, em dado momento, o poder dos Sovietes, o instrumento para atingí-lo era o da Guerra Civil - tal como precisamente expressado nos discursos dos companheiros I. Belopolsky, A. Rogov, B. Shumiatsky e F. Goloschekin.

 

Também os oradores centristas da organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk – entre eles, em especial, um de seus porta-vozes, I. Teodorovitch -, submeteram a posição social-patriótico-defensista dos socialistas-revolucionários (SRs) e dos mencheviques a uma crítica aguda, porém sem serem capazes eles mesmos de superar nitidamente a consigna de “apoio ao Governo Provisório « conforme o caso »” ...

 

Em suas palavras finais, o relator centrista da Presidência do Soviete, o companheiro A. Okulov propôs ao Soviete fosse acolhida a seguinte resolução :

 

“Tendo em conta que :

 

1) a transformação revolucionária é efetuada pela classe trabalhadora e pelas forças armadas que representam o campesinato revolucionário ;

 

2) é inevitável o embate das reivindicações da burguesia imperialista com as reivindicações da classe trabalhadora e do campesinato, uma vez que a burguesia procura defender os seus interesses contra os interesses da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário ;

 

Resolve o Soviete de Deputados Trabalhadores e Camponeses de Krasnoiarsk :

 

A) declarar como indispensáveis as clarificações a serem dirigidas às mais amplas camadas da classe trabalhadora, das forças armadas e do campesinato, no sentido de que o Governo Provisório expressa, por sua composição, os interesses da burguesia imperialista e não do povo, que é incapaz de promover o impulsionamento da revolução em curso até a satisfação das reivindicações fundamentais do proletariado e do campesinato revolucionário, expressadas através das consignas de República Democrática, jornada de trabalho de 8 (oito) horas e confiscação das terras dos latifundiários ;

 

B) esclarecer, com toda a plenitude, que a fonte unitária de poder e autoridade do Governo Provisório é a vontade do povo que executou essa revolução e à qual o Governo Provisório está obrigado a inteiramente submeter-se ;

 

C) clarificar, outrossim, que  a submissão do Governo Provisório às reivindicações da revolução pode ser assegurada apenas mediante a ininterrupta pressão do proletariado, do campesinato e das forças armadas revolucionárias, atores estes que, com energia incessante, devem continuar impulsionando sua organização em torno dos Sovietes de Deputados Trabalhadores e Soldados, criados na revolução, visando à nossa transformação em força ameaçadora do povo revolucionário ;

    

D) apoiar necessariamente o Governo Provisório em suas atividades, tão somente nos casos em que caminhe no sentido da satisfação das reivindicações da classe trabalhadora e do campesinato revolucionário, no quadro da revolução em curso.”

 

Nós, pravdistas-bolcheviques, sujeitamos ambas essas resoluções retro-apresentadas a uma crítica implacável.

Em seguida, propusemos à Plenária do Soviete de Krasnoiarsk que elucidasse seu posicionamento tanto sobre as questões a serem decididas quanto sobre as resoluções requeridas por meio de votação das plataformas políticas defendidas pelos candidatos que cada um dos agrupamentos estava lançando, para serem enviados à I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia.   

As três plataformas em referência eram as seguintes : 

 

1)       em favor do apoio incondicional ao Governo Provisório (plataforma dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques) ;

 

2)       em favor do apoio condicional ao Governo Provisório (plataforma dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), de orientação centrista);

 

3)       em favor da passagem do poder para as mãos dos Sovietes (plataforma dos pravdistas-bolcheviques de Krasnoiarsk).

 

Essa nossa proposta foi rejeitada pelos votos dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs) que, nesse momento, ainda dominavam a sessão.

O resultado final da votação de resoluções foi o de que a resolução defendida por A. Okulov foi aprovada com 138 votos, enquanto que aquela proposta por A. Schebunin, em nome dos mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs), alcançou, ao todo, nada mais além do que 104 votos.

 

Depois de rejeitada nossa proposta em tela, ao percebermos que os representantes da organização dos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk abstinham-se de uma aguda colocação principista da questão e verificarmos que, naquele momento, não se encontravam distantes dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques, nós, pravdistas, propusemos, através de Sverdlov, que a Plenária do Soviete tomasse uma decisão sobre a necessidade de serem eleitos os deputados da I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia por todo o Soviete em seu conjunto – e não precisamente segundo o modo proposto pelos mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs) para a realização de tal ato, i.e. eleitos com base no número de participantes presentes em cada uma das correntes.

Sverdlov apresentou essa nossa nova proposta porque, na hipótese de ser aprovada essa última forma de eleição referida, não ficariam os bolcheviques representados entre os deputados eleitos, já que não haviam apresentado à Plenária nem sequer uma resolução de sua própria autoria.

O outro motivo por que Sverdlov apresentou essa nova proposta deveu-se ao fato de que tanto ele como todos nós, pravdistas, sabíamos que, a despeito de todas as artimanhas havidas nos debates, o conjunto dos adeptos de nosso ponto de vista já possuía, inquestionalmente, a maioria, na composição da Plenária do Soviete de Krasnoiarsk.

No momento decisivo das eleições de candidatos, nossa plataforma bolchevique e nossos candidatos reuniriam, inconstestavelmente, a maioria dos votos.

 

A nova proposta formulada por Sverdlov foi colocada, então, em votação e, para desgraça dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques, veio ela a ser acolhida por maioria absoluta de votos.

Dando-se conta do fiasco sofrido, mencheviques e socialistas-revolucionários (SRs) declararam, por meio de Kolosov, Kazantsev, Gurevitch, Kozlov, Schebunin, Baikalov e tantos outros, o seu abandono da sessão do Soviete, onde:

 

“... havia sido reprimida a voz de considerável minoria de representantes da Democracia Revolucionária.”

 

Por não desejarem avançar rumo a um escândalo - tal como então afirmaram -, os sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk, de linhagem centrista, propuseram aos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques que não abandonassem a sessão, no mesmo passo em que declararam haver de ser realizada uma pausa, a fim de serem formadas sessões por frações.

 

Posteriormente, estas sessões foram constituídas da seguinte forma:

 

·         os socialistas-revolucionários (SRs) e os mencheviques reuniram-se em uma única grande sala;

·         nós, pravdistas, e os sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital), i.e. os centristas, em uma outra.

 

Em nossa sala de sessão, declaramos aos sociais-democratas unidos que, se votassem a favor dos candidatos do grupo dos pravdistas, estes,  que mesmo sem os votos centristas possuíam a chance de serem eleitos por maioria de votos, reuniriam uma maioria verdadeiramente esmagadora.

Porém, para a realização de uma semelhante votação, os centristas exigiram de nós, pravdistas, a renúncia a que ambos os deputados fossem eleitos a partir da maioria do Soviete e, além disso, nossa concordância em que um candidato fosse indicado a partir da maioria e outro, a partir da minoria, i.e. das fileiras dos socialistas-revolucionários (SRs) e mencheviques.

 

Depois disso, nós, pravdistas, juntamente com o companheiro Sverdlov, reunimos nossa própria fração, em sessão específica.

Nessa instância, decidimos acolher a proposta dos centristas relativa ao envio de deputados : um destes seria, portanto, representativo da maioria e o outro, da minoria.

Acolhemo-la, porém, sob a condição de que nosso candidato bolchevique pudesse retirar sua candidatura, no momento subseqüente à sua eleição, a fim de não ter de defender a resolução centrista, apresentada e aprovada pelos sociais-democratas unidos (Comissão Inter-Distrital) de Krasnoiarsk, consistente na defesa do “apoio ao Governo Provisório « conforme o caso »”.

Nosso grupo, repassaria, assim, a votação que haveria de obter com seu próprio candidato ao candidato dos sociais-democratas unidos, i.e. aos centristas, no caso em foco, o companheiro I. Teodorovitch.

 

Depois de realizada a pausa referida, abriram-se, novamente, os trabalhos da Plenária do Soviete de Krasnoiarsk, quando, então, foram aprovadas as decisões das frações e eleitos os deputados da I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia : I. Teodorovitch, representando a maioria, e A. Schebunin, representando a minoria.

De modo característico, importa assinalar aqui que a candidatura mais insuportavelmente odiosa para os bolcheviques, i.e. a de Kolosov, recebeu, ao todo, apenas 14 votos.

 

Assim, foi encerrada, em 22 de março de 1917, na cidade de Krasnoiarsk, uma das mais precoces discussões acerca da questão do poder.

Tanto o êxito dessa discussão quanto o fato de ter ela desvendado, de modo inteiramente nítido, a posição que viriam a assumir a seguir os bolcheviques foram condicionados, indubitavelmente, pela circunstância de que nela interveio, enquanto nosso dirigente, um líder tão provado do nosso Partido como o foi Jakob Mikhailovitch Sverdlov.       

 

A PARTIDA DO COMPANHEIRO SVERDLOV

 

Em 23 de março de 1917, nós, membros do grupo pravdista de Krasnoiarsk, reunimo-nos na estação ferroviária da cidade, a fim de despedirmo-nos seja de J. M. Sverdlov, que se encontrava de partida para Petrogrado, seja de seus parceiros de viagem, companheiros de exílio e de Partido.

Com eles, partiram, igualmente, os deputados eleitos para a I Conferência dos Sovietes de Toda a Rússia.

Em sua despedida, Sverdlov dirigiu-se, porém, a nós com um discurso, no qual transmitiu-nos sua orientação a respeito de como nosso grupo deveria intervir :

 

“- Lancem todas as forças”, afirmou Sverdlov, “no trabalho de massas e nas unidades da guarnição.”

 

“- Não pretendam ainda conquistar, formalmente, a maioria no Soviete, pois a força do nosso Partido situa-se junto às massas.

Em verdade, a força do nosso Partido reside faticamente junto às massas e não em maiorias parlamentares nominais.”

 

“Não apenas pelas informações dos jornais, mas também por minha própria sensação, creio que, em Petrogrado, a luta não deve estar sendo presentemente conduzida pela simples conquista da maioria nos Sovietes, senão pela conquista de influência junto às massas.

O resultado dessa luta será que os Sovietes, enquanto órgãos da luta revolucionária, tornar-se-ão nossos”, acrescentou.

 

Por isso, em resposta a uma questão, que lhe foi formulada por um dos militantes do nosso grupo, relativa à necessidade ou não de nós, pravdistas-bolcheviques, tomarmos parte nas eleições municipais vindouras, Sverdlov ressaltou que não convinha, necessariamente, ingressarmos na via do boicotismo, visto que, para o cumprimento da tarefa de arrastarmos as massas e organizarmos suas forças, era indispensável percorrer todos os caminhos que a prática revolucionária nos propiciasse, nas localidades :

 

“- Se as eleições municipais prestarem-se ao atingimento desse objetivo, vocês deverão evidentemente participar delas”, “ afirmou.     

 

Logo após a sua partida, mantendo-nos fiéis à instrução do companheiro Sverdlov, todos nós, agindo enquanto grupo então ainda pequeno dos pravdistas de Krasnoiarsk, começamos nosso trabalho, em consonância com esse espírito de intervenção.

E, dentro de pouco tempo, conquistamos, efetiva e concretamente, incontestável influência preponderante junto aos trabalhadores da cidade e soldados da guarnição de Krasnoiarsk.   

 

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Julguei que essas linhas de recordação, versando sobre os primeiros dias da primeira Revolução de 1917, na Sibéria, e a participação em seu seio de Jakob Mikhailovitch Sverdlov, deviam ser imprescindivelmente submetidas à redação.

Elas constituem um memorial de reconhecimento, dedicado a um dos melhores filhos e líderes de nossa geração bolchevique.

 

 

 

EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES

“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”

PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA

DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS

MOSCOU - SÃO PAULO - MUNIQUE – PARIS

 



[1] Cf. SHUMIATSKY, BORIS Z. Vosvraschenie Tcherez G. Krasnoiarsk iz Ssylki t. Y. M. Sverdlov (O Regresso do Companheiro J. M. Sverdlov do Exílio pela Cidade de Krasnoiarsk), in : Yakov Mikhailovitch Sverdlov. Sbornik Vospominanii i Statei (Jakob Mikhailovitch Sverdlov. Coletânea de Recordações e Ensaios), ed. ISTPART : Otdel TS.K.R.K.P.(b.) po Izutcheniiu Istorii Oktiabrskoi Revoliutsii i R.K.P.(b.), Leningrad : Gosudarstvennoe Izdatelstvo Leningrad, 1926, pp. 115 e s.

[2] Cf. STALIN, IOSSIP VISSARIANOVITCH DJUGASHVILI. Trotskizm ili Leninizm? Retch na Plenume Kommunistitcheskoi Fraktsii VTsIK (Trotskysmo ou Leninismo? Discurso no Plenário da Fração Comunista do Comitê Executivo Central de Toda a Rússia)(19.11.1924), Parte 2: Partia  i Podgotovka Oktiabria(O Partido e a Preparação do Outubro), in: I.V. Stalin, Polnoe Sobranie Sotchinenia (Obras Completas), Moscou : GIPL, Vol. 6, pp. 333 e s

[3] Nessa altura de sua exposição Boris Shumiatsky assinala o seguinte : “O companheiro I. Belopolsky foi assassinado pelas mãos dos carrascos de Koltchak, em 1918, na cidade de Krasnoiarsk.”