90 ANOS DA REVOLUÇÃO SOCIALISTA
PROLETÁRIA RUSSA DE OUTUBRO DE 1917
MORAL E CONSCIÊNCIA,
ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO DAS LUTAS REVOLUCIONÁRIAS
DE
EMANCIPAÇÃO PROLETÁRIO-SOCIALISTA
TEXTOS DE
CÉLEBRES DIRIGENTES BOLCHEVIQUES SOBRE J. M. SVERDLOV
J. M. SVERDLOV :
UM OBITUÁRIO À GUISA DE PREFÁCIO
EM
CUMPRIMENTO DE UMA TAREFA HISTÓRICA
LEÓN D. B. TROTSKY
TEXTO DATADO DE 17 DE
MARÇO DE 1919[1]
Concepção e Organização,
Compilação e Tradução Asturig Emil von München
Janeiro 2001 emilvonmuenchen@web.de
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A morte de Jakob Mikhailovitch Sverdlov foi um desses golpes cruéis
e insidiosos que o destino muito freqüentemente nos provoca.
Enquanto indobrável revolucionário, detendo uma das mais responsáveis
posições na Rússia
Soviética, Sverdlov possuía todas as razões para esperar um ataque traiçoeiro, desferido
por um contra-revolucionário.
Porém, ninguém suspeitava que esse homem de energia e força de vontade
inexauríveis acabasse sendo vítima de uma prolongada luta, travada, ao longo de
uma semana, contra a enfermidade extenuante para a qual perplexos doutores
inventaram o epíteto de “febre
espanhola”[2].
Hoje, no dia seguinte a essa dolorosa perda que estamos sofremos, é
impossível fornecer uma biografia desse lutador ou mesmo qualquer
caracterização sobre ele, ainda que mais ou menos incompleta.
Sua biografia será para nós relatada, passo a passo, por companheiros
que o observaram de perto, que bem o conheceram no período pré-revolucionário,
que com ele trabalharam, lado a lado, na clandestinidade e com ele
compartilharam encarceramento e exílio.
A vida desse homem notável deve permanecer, em todos os seus detalhes,
de posse de todo trabalhador e camponês russo consciente, porém não apenas dos
russos.
Aqui, direi apenas que o Companheiro Sverdlov veio de família do povo trabalhador e foi, ele mesmo, um trabalhador,
em sua juventude.
Ele construiu seu caminho rumo à sua conscientização e conhecimento,
bem como rumo aos postos mais responsáveis no movimento dos trabalhadores e na Rússia Soviética, através de trabalho inflexível e intensa força de vontade.
Enquanto quase todos os demais companheiros que executam hoje trabalhos
muito responsáveis na direção do país dos Sovietes (Conselhos) despenderam longos anos na
emigração, vivendo na Europa, tomando parte em suas lutas
políticas e nutrindo-se dessa experiência, o Companheiro Sverdlov viveu e trabalhou,
ininterruptamente, no interior da Rússia,
durante os anos mais opressivos da contra-revolução.
Nesse sentido, ele foi o “mais enraizado no solo” entre os nossos dirigentes
executivos.
Justamente porque não emigrou, seu nome, obnubilado pelas condições do
trabalho clandestino, permaneceu, antes da revolução, completamente
desconhecido em diversos círculos.
Porém, tão logo as cadeias do czarismo foram quebradas e o movimento
operário intumesceu como um vasto rio, Sverdlov, imediata e naturalmente, sem desprender qualquer esforço, emergiu à
cumeeira e foi considerado por todos como uma das figuras mais valorosas e
sólidas de nossa revolução.
Pode-se dizer que ele conhecia o Partido, sua organização, seu pessoal,
melhor do que qualquer outra pessoa.
Todos os fios vermelhos encontravam-se concentrados em suas mãos. Ele
mantinha arquivos de todos os trabalhadores do Partido.
Quando foi colocado à cabeça do Comitê Executivo Central, tornou-se seu líder
insubstituível.
Sverdlov combinava, permanentemente, seu trabalho de organizador do Partido com
o de dirigente da suprema instituição da Rússia Soviética.
As habilidades originais de Sverdlov eram verdadeiramente incomparáveis.
Em particular, Sverdlov conhecia o aparato militar em todas as suas ramificações melhor do que
qualquer dos dirigentes do Departamento da Guerra.
Em todos os casos em que se tornou necessário encontrar novos
executivos ou transferir os antigos, recorremos a um único e mesmo endereço :
através do telefone do Kremlin, ao Companheiro Sverdlov.
Ele oferecia o nome de um indivíduo que, em nove casos entre dez, havia
provado ser o melhor candidato, o mais apropriado às circunstâncias do trabalho
a ser realizado.
Sverdlov não precisava revirar papéis e listas ou fazer investigações – ele o sacava
de sua memória surpreendente, enquanto organizador e dirigente.
Quando ocorria um atrito, um bloqueio, no trabalho de um ou outro
departamento, algum conflito ou embate com certa repartição, a inevitável
chamada telefônica soava no gabinete do Companheiro Sverdlov.
Em poucas palavras, Jakob Mikhailovitch colocava a situação em ordem, prestando seu auxílio.
Tendo recebido o impulso necessário, o maquinário voltava a funcionar
novamente.
Poucas pessoas viam esse trabalho ser executado.
Porém, foi esse trabalho decisivo do Companheiro Sverdlov que o Partido e o Poder Soviético não será agora capaz de
realizar senão através de intensos esforços coletivos, prestados por uma série
de pessoas.
Entretanto, até mesmo aquela parte mais ínfima do trabalho de Mikhailovitch por todos visível,
foi suficiente para tornar seu nome um dos mais populares do país.
Sverdlov foi um excelente orador : claro, calmo, lógico, dotado de uma voz
poderosa. Essa voz retumbava com confiança e força de vontade. Confiança e
força de vontade irradiavam de sua inteira pessoa e de sua face escura.
Sverdlov manteve-se sempre fiel a si mesmo.
Durante os dois anos de nossa revolução, conhecemos tanto dias difíceis
de desastres, dias de derrotas parciais, quanto dias de grande vitórias.
O Companheiro Sverdlov sempre manteve seu equilíbrio espiritual, jamais ficando intoxicado
pelos êxitos ou com o coração perdido, sob os golpes da derrota.
Recordo-me dos Dias de Julho de 1917, quando o Partido parecia
haver sido esmagado,
Lenin e Zinoviev encontravam-se em um esconderijo, o terror branco grassava,
febrilmente, nas ruas de Petrogrado, a imprensa burguesa caricaturava os bolcheviques como uma organização
de espiões, movida a soldo do Imperador Alemão, e nossa imprensa havia sido estrangulada.
Recordo-me dos Dias da Insurreição de Outubro e o trabalho do Comitê Militar Revolucionário, em uma pequena sala do segundo andar do Smolny.
Recordo-me dos dias em que foram interrompidas as negociações de Brest-Litovsk – a ofensiva alemã, o caso de Dvinsk, Narva, Pskov ...
As semanas e meses das conspirações da Guarda Branca, o levante tchecoslovaco, a
queda das cidades do Volga, o assassinato de Uritsky, o atentado contra a vida de Lenin.
Em todas essas
ocasiões, Jakob
Mikhailovitch sempre permaneceu fiel a si mesmo.
Em tempos de êxito, esse organizador consolidava a vitória e, em tempos
de derrota, preparava o retorno. O gigantesco trabalho executado pelo Partido
na criação do Exército
Vermelho –
especialmente a partir de agosto do ano passado – teve lugar contando com sua
decisiva participação.
Sverdlov mobilizou trabalhadores do
Partido, destacou-os de uma série de postos, encontrando-os aqui, ali e em
todos os lugares, selecionando o homem certo para o trabalho certo.
A Sverdlov pertence inquestionavelmente
a parte de leão no mérito devido aos nossos sucessos militares, durante os
últimos seis meses.
Delegações de trabalhadores e camponeses vinham a Moscou de todos os cantos de nosso
país empobrecido, exausto, arruinado, e bateram à porta do Companheiro
Sverdlov.
Sverdlov colocava-se, assim, a passo e
passo, renovadamente, em contato com o solo do qual ele fora menos cortado do
que o foram outros dentre nós. Questionando os delegados, Sverdlov checava o trabalho das
autoridades locais e o modo segundo o qual a legislação soviética estava sendo
aplicada.
Mais uma vez, surgiriam chamadas telefônicas – agora realizadas a
partir do gabinete do Companheiro Sverdlov para vários departamentos: Jakob Mikhailovitch haveria de propor uma série de medidas práticas, fazer correções em
decretos que haviam sido editados ou assumir a iniciativa na promoção de uma
nova legislação.
Um certo jornal burguês deu um tipo de descrição da aparência de Sverdlov : seu rosto escuro, concentrado
para dentro, sua vestimenta de couro – e, a seguir, conclui com palavras
respeitosas de semi-contragosto :
“... Provavelmente, Sverdlov
possui aparência muito semelhante a como serão aqueles monumentos, construídos
no novo estilo proletário.”
Sim ! Sverdlov, um homem todo composto de
uma única peça, encontrará, finalmente, sua configuração na arte.
Do aço, a vontade proletária construirá um monumento a esse dirigente
feito de aço.
Léon D. Trotsky,
Sassovo, 17 de Março de 1919
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE
COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA JAKOB M. SVERDLOV”
PARA A
FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTA-REVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS
OPRIMIDOS
[1] Cf. TROTSKY, LÉON DAVIDOVITCH BRONSTEIN. Kak Voorujalas’ Revoliutsia.
Na Voennoi Rabotie. Materialy i Dokumenty Po Istorii Krasnoi Armii(Como a
Revolução se Armou. No Trabalho Militar. Materiais e Documentos sobre a
História do Exército Vermelho), Vol. 2 Caderno 2: Tysiatsa Deviat’ Sot
Dvadsatyi God(O Ano de 1920), especialmente : Y. M. Sverdlov. Nekrolog
(Obituário de J. M. Sverdlov)(17.03.1919), Moscou : Vyssh. Voennyi Red. Soviet,
1923-1925, pp. 236 e s.
[2]
Com efeito, observe-se que Sverdlov foi vítima de epidemia
provocada por um tipo de febre, proliferada por todo o mundo, durante os anos
de 1918 e 1919 e que teria supostamente encontrado sua origem na Espanha. Afirma-se que essa epidemia
acabou por provocar mais mortes do que a carnificina imperialista ocorrida no
quadro da I Guerra Mundial Imperialista, entre 1914 e 1918.